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Como referenciar este texto:

STORTO, Letícia Jovelina. SILVA, Marcio Renato Pinheiro da. O texto eletrônico. In:
SELISIGNO, V, E SIMPÓSIO DE LEITURA DA UEL, VI, 2006, Londrina. Anais...
Londrina: [s/n], 2006, p.01-04.

O TEXTO ELETRÔNICO
Letícia Jovelina STORTO (G-UEL)
Marcio Renato Pinheiro da SILVA (UEL)

Introdução

A sociedade tem vivenciado significativas transformações - principalmente, no


que se refere às noções de tempo, espaço e identidade - possibilitadas pelas tecnologias
de informação e de comunicação, nas quais o sujeito autor/leitor de textos, assim como
procede com sua linguagem, faz do ato de ler e de escrever uma dinâmica. Dinâmica,
essa, por meio da qual o autor/leitor deixa de estar submetido ao texto para tornar-se
coautor do mesmo.
Percebe-se, então, a necessidade de considerar, dentro dos ciberespaços, a
participação ativa do leitor na construção dos textos, conferindo-lhe autonomia para
alterá-los. Sendo assim, para maior compreensão do hipertexto como texto eletrônico,
faz-se necessário discutir questões como as concepções de texto e o papel
desempenhado não só pelos autores, como, também, pelos próprios leitores na
construção textual.

Do texto ao hipertexto

Atualmente, está sendo criando um novo mundo, o mundo dos Ciberespaços, no


qual a internet e seus recursos são propulsores de uma nova forma de comunicação que
está em evidência: a comunicação virtual em tempo real. Isso muda a maneira de ler e
escrever, pois a leitura já não é vista mais como exclusiva do livro impresso, mas ela se
estende à tela do computador. Assim, como afirmava Lévy, a leitura atualiza-se,
virtualiza-se. Para ele, “ler (...) é começar a negligenciar, a desler ou desligar o texto”
(LÉVY, 1996, p. 35). No momento em que o leitor lê, escuta, olha, ele constrói,
modifica o texto, “modernizando-o”.
Ler é, assim, “desdobrar o sentido” do texto, pois “o espaço do sentido não
preexiste à leitura. É ao percorrê-lo, ao cartografá-lo que o fabricamos, que o
atualizamos” (LÉVY, 1996, p. 36).
Enquanto lemos, “relacionamos (...) o texto a outros textos, a outros discursos, a
imagens, a afetos, a toda a imensa reserva flutuante de desejos e signos que nos
constitui” (LÉVY, 1996, p. 36).
Enfim, “pode-se dizer que um ato de leitura é uma atualização das significações
de um texto” (LÉVY, 1996, p. 41).
Sob esta perspectiva, o texto é visto como algo não finalizado, que está sempre
por se construir. Lévy argumenta que o texto é uma “construção sempre a refazer,
inacabada” (LÉVY, 1996, p. 36). Cabe, então, ao leitor, completá-lo, valendo-se, para
isso, de sua subjetividade, sua experiência, sua concepção de mundo e de suas leituras
anteriores. O leitor passa a ser parte ativa nesse fazer textual, e ler torna-se uma forma
de reescrever o texto. Assim, também, afirmou Clarice Lispector: “O personagem leitor
é um personagem curioso, estranho. Ao mesmo tempo que inteiramente individual e
com reações próprias, é tão terrivelmente ligado ao escritor que na verdade ele, o leitor,
é o escritor” (1999, p.78-79).
Barthes questiona o texto por meio de algumas proposições, nas quais ele afirma
que o texto “só existe tomado num discurso”, que ele não deve ser simplificado através
de gêneros, pois é “radicalmente simbólico, um sistema sem fim nem centro”
(BARTHES, 2004, p. 69-70). O autor declara, ainda, que o texto é plural, na acepção
que realiza o próprio plural do sentido.
Barthes apresenta, desse modo, o texto como um conjunto de significantes, não
como uma estrutura de significados. Conjunto que não tem início determinado, sem
hierarquias e com uma abertura para produção de sentido indeterminada por se basear
numa linguagem infinita. Os sistemas de sentido podem apoderar-se desse texto
inteiramente plural, mas o seu número nunca é fechado, tendo, por medida, o íntimo da
linguagem.
Como afirma Kristeva, não há “um conjunto conceitual (...) o qual acederia à
particularidade do texto, destacaria suas linhas de força de mutação, seu devir histórico
e seu impacto sobre o conjunto das práticas significantes” (KRISTEVA, 2005, p. 10).
Levy afirma:

Desde suas origens mesopotâmicas, o texto é um objeto virtual, abstrato,


independente de um suporte específico. Essa entidade virtual atualiza-se em
múltiplas versões, traduções e edições, exemplares e cópias. Ao interpretar, ao dar
sentido ao texto aqui e agora, o leitor leva adiante essa cascata de atualizações. (...)
atualização no que diz respeito à leitura, e não da realização, que seria uma seleção
de estímulos entre possibilidades preestabelecidas (1996, p. 35).

Para Marcio Silva (2003, p. 211), a resposta para questões como “o que é o
texto?” e “onde o texto começa e termina?” é a de que

Milhares de páginas foram escritas (...) e, provavelmente, tantas outras o serão. Em


que pese tal dimensão do problema, é notável que, atualmente, nas mais diversas
áreas, há uma forte tendência a conceber o texto não mais como sendo restrito a
um, por assim dizer, sistema semiótico particular, mas como algo comum a todo e
qualquer sistema, bem como às diversas práticas que promovem o entrecruzamento
entre diferentes sistemas. Por esse viés, uma poesia, um filme, um quarteto de
cordas, uma partida de futebol: tudo é texto.

Nos hipertextos ou, simplesmente, textos eletrônicos dos ciberespaços, ler é


sinônimo de navegar; a leitura passa, como afirma Lévy, a ser mais não linear. Ao ler,
tem-se a possibilidade de acessar, ao longo do texto, palavras com a função de
hiperlinks que dão acesso a outros textos situados no mesmo sítio ou em outra página,
podendo o leitor, então, escolher entre as várias possibilidades de leitura. O leitor
interage com o hipertexto de modo a saltar de um nó ao outro de acordo com sua
vontade.
Segundo Lévy, Theodore Nelson teria inventado o termo hipertexto “para
exprimir a idéia da escrita/leitura não-linear em um sistema de informática” (LÉVY,
1993, p. 29). Porque, para Nelson, o hipertexto possibilita novas formas de ler e
escrever, um estilo não linear e associativo, em que noções como “texto
primeiro/segundo” e “original/referência” caem por terra. Portanto, uma das
características da produção hipertextual é, precisamente, a sua natureza não linear, não
seqüencial, sem início nem fim, muitas vezes, comparada aos processos associativos do
pensamento — conceitos muitos próximos dos dados por Barthes para designar o que é
o texto.
O hipertexto é, assim, um texto construído por meio de uma linguagem digital e
veiculado entre micro-computadores, em geral, via internet. Em outras palavras, o
hipertexto é uma forma de produção textual viabilizada pelos avanços da
microinformática.
Suas características possibilitam uma leitura comparada, na qual o usuário
interliga informações intuitivamente, associativamente. O leitor assume, então, um
papel ativo, sendo, ao mesmo, tempo coautor do texto. O leitor, agora, escolhe o início e
o fim da leitura; elege links entre os vários disponíveis, decide o rumo de sua leitura.
O hipertexto gera associações com outras leituras, pois o leitor evoca, em sua
mente, suas diversas leituras, de modo a agir de forma intertextual, reconhecendo, no
hipertexto, outras obras ou textos, conectando-os, de maneira a não fechar o texto,
mantendo-o aberto para uma possível expansão. Além disso, ele possibilita a
presentificação da mensagem, pois não há limites de espaço físico e de margens. Além
disso, o leitor passa a visualizar outros textos, não mais a verificar notas de rodapé. O
texto está ali, à distância de um click, tudo o que o leitor precisa fazer é escolher onde
quer ir, o que deseja encontrar.
Para Lévy (1993, p. 33), o hipertexto é

Um conjunto de nós ligados por conexões. Os nós podem ser palavras, imagens,
gráficos ou parte de gráficos, seqüências sonoras, documentos complexos que
podem eles mesmos ser hipertextos. Os itens de informação não são ligados
linearmente, como em uma corda com nós, mas cada um deles, ou a maioria,
estende suas conexões em estrela, de modo reticular. Navegar em um hipertexto
significa, portanto, desenhar um percurso em uma rede que pode ser tão
complicada quanto possível. Porque cada nó pode, por sua vez, conter uma rede
inteira.

Landow (1995) definiu o hipertexto como sendo uma narrativa que elimina as
seqüências fixadas de começo, meio e fim definidos. Trata-se de uma narrativa
hipertextual em que o autor oferece múltiplas possibilidades por meio das quais os
próprios leitores constroem sucessões temporais e escolhem personagens, realizando
saltos com base em informações referenciais.
Lévy (1993) afirma que a grande novidade do hipertexto está no próprio suporte
e na velocidade com que os nós são acessados nos ciberespaços e que os hipertextos
são, sempre, textos, sejam eles verbais ou não, pois a imagem possibilita a
presentificação da mensagem, saindo da condição ilustrativa para outra, a de um signo
autônomo.

Conclusão
Não cessa, aqui, a discussão acerca do mundo virtual e da produção hipertextual.
Faz-se, apenas, uma breve explanação de alguns de seus conceitos sem aprofundar-se
em nenhum deles. Deixa-se a mensagem de que o mundo virtual fornece novos tipos de
interação lingüística, social e cultural.

Referências

BARTHES, Roland. O rumor da língua. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

______. O prazer do texto. São Paulo: Perspectiva, 1987.

ECO, Umberto. Obra aberta. São Paulo: Perspectiva, 1997.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2004.

KLEIMAN, Ângela. Texto e leitor: Aspectos cognitivos da leitura. Campinas/São


Paulo: Pontes, 2000.

KRISTEVA, Julia. Introdução à semanálise. 2. ed. São Paulo: Perspectiva, 2005.

LANDOW, George P. Hipertexto. Buenos Aires: Paidós, 1995.

LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência: O futuro do pensamento na era da


informática. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1993.

______. A máquina universo: criação, cognição e cultura informática. Porto Alegre:


ArtMed, 1998.

______. Cibercultura. São Paulo: 34, 1999.

______. O que é virtual. São Paulo: Ed. 34, 1996.

LISPECTOR, Clarice. A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

LYOTARD, Jean-François. A condição pós-moderna. Rio de Janeiro: José Olympio,


2004.

SILVA, Marcio Renato Pinheiro. Leitura, texto, intertextualidade e paródia. Acta


Scientiarum: Human and Social Sciences, Maringá, n. 25, v. 2, p. 211-220, 2003.

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