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Chão de Umbanda Casuá Data:

do Pai Francisco 13/05/2018


Revisão: 1
Artigo 09 – A Cerimonia do Lava Pés na Senzala Folha: 1

Estudando os ritos de passagem no livro de Victor Turner de 1969, “The Ritual Process –
Structure and Antistructure”, me deparei com o rito denominado A inversão de status nas
liturgias, dentro do capítulo Humildade e Hierarquia.

Quando fui avisado pelo Pai Francisco que seria realizado o rito do Lava Pés na Senzala, aqui
no Casuá. Confesso que fiquei atônito, porque só conhecia o rito e o significado da Igreja
Católica e que se realizava na Semana Santa. Explicou que era um rito antigo, trazido de
além-mar e que lá acontecia no mês de agosto.
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do Pai Francisco 13/05/2018


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Mas ele me disse que esse rito seria eventualmente realizado em agosto, mas que a data dele
seria em maio, mais especificamente na comemoração dos Pretos Velhos. Indaguei o porquê
e recebi a seguinte aula como resposta:

- Fio!!! Vocês encarnados insistem em comemorar datas e momentos que para nós não tem
importância. Mas aceitamos em virtude de devoção. Mas para tanto, devolvemos em forma
de ensinamento e aprendizado, carinho e humildade, amor e respeito para com todos vocês.

Se o Pai Oxalá foi capaz de executar tal ato, porque nós seríamos diferentes diante dos guias
e de seus médiuns? Pois me curvo diante de todos e lavo os pés como símbolo de minha
resiliência e minha igualdade aos vossos corações. Aqui também eu me ponho numa posição
de gratidão e num ato de perdão pelos momentos sofridos na Senzala. Ao lavar cada pé, levo
comigo suas mazelas e suas dores, suas incompreensões e suas soberbas, suas traições e
suas iras, seus comportamentos insanos de não umbandistas e seus pensamentos de más
vibrações.

Porque em tudo há momentos que não queremos ser o que fomos de forma errada. Também
já passei por tudo isso, quando encarnado, e sei o quanto dói. Mas aprendi que humildade
não expressa hierarquia, já que ela não existe entre Olorum e seus filhos e nem entre os
Orixás, guias e mentores. O que existe é simplesmente o Amor e o respeito.

Na verdade, a humildade não está em lavar os pés, mas sim em me afirmar que sou impuro
diante de tudo que proporcionei em minha vida de encarnado. A atitude é humilde? Não nego.
Mas tem muito mais Valor espiritual, emoção de luz, resignação de caminhada e
agradecimento por ser capaz de entender a evolução. Não estou imitando o Pai Oxalá, mas
executando seus ensinamentos e referendando a sua palavra e energia.

Confesso que quando encarnado me deparei com tal ato, achei estranho e revoltante. Porque
os brancos (como dizia na época) fazem isso em suas igrejas e quando voltam às suas
fazendas promovem os açoites? E um certo dia, quando os vi voltando de suas igrejas, rindo
e falando alto, perguntei ao Velho Pai Gusmão: “Preto Velho!!! Porque os Senhores e
Sinhás se sentem bem fazendo o que fazem e não seguindo os ensinamentos divinos
deles?”
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E ele me respondeu: “Misifi!!! Foi o jeito que o grande Zambi achou de ensinar o Amor
para quem não consegue entender o Amor em si mesmo”.

O Preto Velho Pai Gusmão, que já não desce mais ao nosso plano, pois é um espírito
ascencionados, na época era o escravo mais velho da Senzala, que não andava direito,
defecava involuntariamente e ao final da vida, foi escondido pelos outros escravos para que
não tivesse que trabalhar e para não ser morto por não produzir.

Segundo o Pai Francisco, na noite coincidente de 13 de maio de 1867, Pai Gusmão reclamava
de formigamento nos pés. O Pai Romão levantou-se de sua esteira, foi lá fora da Senzala e
voltou com uma tina de água e alguns farrapos de pano de vestes para lavar os pés daquele
velho para que se sentisse melhor e confortável e pudesse dormir mais tranquilo.

Todos na Senzala assistiam aquela atitude. Pai Romão se abaixou diante do Preto Velho,
tomou seu pé e banhou com todo carinho e zelo. Enxugou e fez o mesmo com o outro pé. Ao
final disse: “Meu Preto Velho!!! Muitas vezes me destes banho e me ensaboou para que
eu crescesse digno de ser um Banto. Hoje quero ser digno de te dar amor, de amenizar
as suas dores e de levar comigo os momentos de quem me tornou um guerreiro. Está
confortável? Podes se deitar e dormir o sono dos dignos. Velarei por seu descanso”.
Todos na Senzala viram aquele momento e as lágrimas e emoção tomaram conta daquele
lugar. A Preta Velha Vó Juventina, levantou-se e apagou os dois candeeiros, e acendeu uma
vela junto ao Congá da Senzala, firmando assim aquele momento na energia de Mãe Oxum.

Pai Romão se afastou e voltou para sua esteira, onde pairava uma nesga de luz da lua cheia
daquela noite. Vó Benedita logo disse: Que Ogum guarde seu valor meu fio e Oxalá vele teus
sonhos.

Pela manhã, antes de partirem para a lida do café e da cana, alguém notou que o Pai Gusmão
estava com um semblante alegre e que um raio de sol que teimava em rasgar as gretas do
casarão e incidir no rosto dele, como que mostrando um agradecimento. Quando se
achegaram, notaram que o Preto Velho havia passado e teve sua última noite neste plano
com o mais lindo gesto de amor e agradecido, deixou seu semblante sorrindo para todos.
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Vó Maria do Congo, vidente que era, viu ele em pé, ao lado de um Preto Velho chamado
Cipriano, com um sorriso de agradecimento e de luz. Depois que a Vó Maria me disse a visão,
disse a ela que todo ano, aquele rito seria realizado naquela data, para aliviar as dores dos
filhos da senzala.

Depois deste fato, no ano seguinte e todos os outros que se seguiram, exatamente naquele
dia, foi executado o mesmo rito com todos os pretos velhos pelo Preto Velho mais antigo da
Senzala. E assim se perpetuou o rito do Lava Pés da Senzala da Fazenda Santa Helena.

Mas na noite de 13 de maio de 1888, enquanto acontecia a cerimônia do Lava Pés, eu já


desencarnado, adentrou na Senzala o negro Inácio, que acabara de chegar da vila com o
boato de que a corte tinha decretado a Lei que acabava com a escravidão. Naquela hora, Pai
João se aproximou e disse:
“Que os Orixás governem os nossos caminhos, já que teremos que aprender a
caminhar por pedras e gravetos”.

E este é o sentido do rito do Lava Pés na Senzala para o Casuá do Pai Francisco.

Saravá os Pretos Velhos!!!


Sua benção meu Pai Francisco!
Adorei as almas!

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