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Dossiê especial Cadernos de Estudos Sociais e Políticos

clássicas
1

Editoras: Marcia Rangel Candido


e Verônica Toste Daflon
v.6, n.11, 2017 (IESP-UERJ)

ENSAIOS SOBRE A AMÉRICA LATINA

“As noivas de Satã”: misoginia e


bruxaria no Brasil colonial
Por Carolina Rocha

O grito de independência das


mulheres latino-americanas
Por Lília Macêdo

ENTREVISTAS

Bila Sorj
Socióloga e pioneira nos estudos de
gênero no Brasil

Hebe Vessuri
Antropóloga e especialista em estudos
sociais sobre a ciência na América Latina

RESENHAS E CRÍTICAS

“União Operária”, de Flora Tristán


Por Felipe da Silva Santos

“Calibã e a Bruxa”, de Silva Federici


Por Mariane Silva Reghim

AUTORAS CLÁSSICAS
Aleksandra Kollontai || Charllote Perkins Gilman || Clara Zetkin || Flora Tristán || Harriet Martineau
|| Harriet Taylor Mill || Mary Wollstonecraft || Nísia Floresta || Olympe de Gouges || Simone de
Beauvoir || Sojourner Trurh || Virgínia Woolf || e mais

TEXTOS POR
Anita Guerra || Lorena Marina dos Santos Miguel || Lolita Guerra || Luna Campos || Nicole Midori
Korus || Teresa Soter || Vaneza de Azevedo
clássicas

editoras autoras
Marcia Rangel Candido Anita Guerra
Verônica Toste Daflon Carolina Rocha Silva
Felipe da Silva Santos
Lília Maria Silva Macêdo
assistente editorial Lolita Guerra
Mariane Silva Reghim Lorena Miguel
Luna Campos
Mariane Silva Reghim
projeto gráfico Nicole Midori Korus
Ana Bolshaw Teresa Soter Henriques
Vaneza de Azevedo

ilustração de capa comitê editorial


Sophia Pinheiro Cadernos de Estudos Sociais e Políticos (IESP-UERJ)
Anna Carolin Venturini, IESP/UERJ
Cadernos de Estudos Sociais e Políticos Felipe Munhoz de Albuquerque, IESP/
Dossiê especial "Clássicas", v.6, n.11, 2017. UERJ
Leonardo Nóbrega da Silva, IIESP/UERJ
ISSN 2238-3425 Marcelo Borel, IESP/UERJ
Instituto de Estudos Sociais e Políticos Marcia Candido, IESP/UERJ
(IESP) Marina Rute Pacheco, IESP/UERJ
Universidade do Estado do Rio de Mariane Silva Reghim, IESP/UERJ
Janeiro (UERJ) Natália Leão, IESP/UERJ
Rua da Matriz 82, Rio de Janeiro - RJ Raul Nunes de Oliveira, IESP/UERJ
Índice

apresentação artigos e ensaios


MARCIA RANGEL CANDIDO E VERÔNICA TOSTE DAFLON 6 O QUE É UMA MULHER? VERSÕES E CONTRAVERSÕES DO
ESSENCIALISMO FEMININO
ANITA GUERRA 58
entrevistas
BILA SORJ: SOCIÓLOGA E PIONEIRA DOS ESTUDOS DE GÊNERO “AS NOIVAS DE SATÔ: MISOGINIA E BRUXARIA NO BRASIL COLONIAL
NO BRASIL CAROLINA ROCHA 68
POR MARCIA RANGEL CANDIDO E VERÔNICA TOSTE DAFLON 8
O GRITO DE INDEPENDÊNCIA DAS MULHERES LATINOAMERICANAS
HEBE VESSURI: ANTROPÓLOGA E ESPECIALISTA EM ESTUDOS LÍLIA MACÊDO 80
SOCIAIS SOBRE A CIÊNCIA NA AMÉRICA LATINA
POR MARCIA RANGEL CANDIDO E VERÔNICA TOSTE DAFLON 10 “MÃE!” (2017) E O MITO DA MULHER ETERNA
LOLITA GUERRA 90
clássicas RETOMANDO O DEBATE IGUALDADE VS. DIFERENÇA A PARTIR DE
HARRIET MARTINEAU: A CONTRIBUIÇÃO ESQUECIDA DA PRIMEIRA AUTORAS CLÁSSICAS: UM ARGUMENTO INTERMEDIÁRIO
SOCIÓLOGA NICOLE MIDORI KORUS 110
LORENA MARINA DOS SANTOS MIGUEL 16

ALGUMAS NOTAS DE PESQUISA SOBRE FLORA TRISTAN: resenhas e críticas


FEMINISMO, SOCIALISMO E VIAGENS “UNIÃO OPERÁRIA”, DE FLORA TRISTÁN
LUNA CAMPOS 30 FELIPE DA SILVA SANTOS 124

GÊNERO, RACIONALIDADE E ESCRITA EM “O PAPEL DE PAREDE “CALIBÃ E A BRUXA: MULHERES, CORPO E ACUMULAÇÃO PRIMITIVA”,
AMARELO”, DE CHARLOTTE PERKINS GILMAN DE SILVIA FEDERICI
TERESA SOTER 40 MARIANE SILVA REGHIM 130

UMA BRASILEIRA ILUSTRE: NÍSIA FLORESTA E A LUTA POR LIBERDADE


E DIREITOS
VANEZA DE AZEVEDO 52
7

Apresentação

Em 1883, nas primeiras linhas de seu ensaio serem apresentadas(os) a nenhuma autora lecionar sobre elas. Agradecemos às muitas
clássico “A mulher como inventora” (Woman clássica. mãos que se uniram ao nosso esforço: as
as an inventor), Matilda Joslyn Gage chamou autoras e autores dos textos dessa coletânea,
atenção para como era comum a alegação Esta revista é resultado de um esforço as entrevistadas, a artista Sophia Pinheiro,
que as mulheres não possuíam atributos coletivo profundamente identificado com responsável pela ilustração que compõe
intelectuais criativos e que não eram capazes a indignação que moveu Gage em 1883: a nossa capa e a designer Ana Bolshaw,
de realizar contribuições originais e úteis à retomar o passado, contestar o presente e idealizadora do projeto gráfico.
vida social. Ciente de que essa afirmação modificar o futuro. No primeiro semestre
era usada para justificar a invisibilização e o do ano de 2017, o Instituto de Filosofia e
não reconhecimento do trabalho intelectual Ciências Sociais da Universidade Federal do
e criativo das mulheres, Gage a confrontou Rio de Janeiro (IFCS-UFRJ) foi cenário de Marcia Rangel Candido e
com extrema perspicácia: além de resgatar debates, apresentações e aprendizados na
grandes feitos femininos em campos como disciplina “Gênero na Teoria Social e Política Verônica Toste Daflon
a ciência, a tecnologia, a literatura, as artes, Clássica”.
mostrando que nada na constituição biológica
das mulheres as tornava inferiores aos Nos debruçamos sobre o trabalho de
homens, ela também descreveu os fatores autoras pouco estimadas em nossos círculos
estruturais que faziam das mulheres uma e a cada leitura nos surpreendemos com
parcela minoritária entre os inventores, o seu pioneirismo, a engenhosidade das
artistas, cientistas etc de prestígio. suas análises sobre conjunturas políticas e
sociais, e sobretudo nos espantamos com a
Para tal, mencionou aspectos como a exclusão injustificável das suas contribuições
legislação social, a subordinação feminina do cânone da sociologia, filosofia, história,
dentro da família e do casamento, a ciência política etc. Com o intuito de ir
dificuldade de acesso à educação, entre além dos limites das salas de aula e dar
outros. Passado pouco mais de um século continuidade à difusão desses trabalhos,
da publicação desse texto, a necessidade apresentamos nessas páginas artigos
de recuperar as reflexões e invenções das produzidos pelas(os) alunas(os) do curso,
mulheres ainda persiste. Na escola, pouco bem como colaborações de pesquisadoras
se fala de cientistas e pensadoras do gênero convidadas. Esperamos que o contato com
feminino. É comum que estudantes de essas autoras clássicas provoque nas(os)
grandes áreas das ciências humanas concluam leitoras(es) o mesmo prazer da descoberta e
suas graduações, mestrados e doutorados sem o deleite intelectual que tivemos ao estudar e
Hariet Martineau:
A Contribuição Esquecida
da Primeira Socióloga
Lorena Marina dos Santos Miguel

resumo:
Harriet Martineau (1802-1876) é denominada
como a “primeira mulher socióloga”. O título,
todavia, não resultou em reconhecimento
e publicidade devida frente aos trabalhos
tão inovadores e importantes que produziu.
Por reconhecer esse erro, esse texto procura
familiarizar o leitor brasileiro com o trabalho
da autora. Abordo aqui principalmente a
contribuição trazida por ela em seu livro “How
to Observe Morals and Manners” (1838) –
possivelmente a primeira obra metodológica da
Sociologia.

palavras-chave
Harriet Martineau; metodologia; cientistas
clássicos; Inglaterra vitoriana; relato de viagem
17

Estudantes de ciências sociais de primeiro da autora e reivindicar seu status de autora


período costumam ouvir de seus professores clássica da sociologia.
uma mesma brincadeira: a sociologia teria
sido fundada pelos “três porquinhos” – Marx, Seria impossível num espaço como esse
Weber e Durkheim. Embora um bocado realizar um trabalho substancial sobre tudo
descabida, a piada indica a importância das que Martineau produziu frente às dezenas
contribuições dadas por Émilie Durkheim de livros, ensaios e artigos que ela deixou.
(1858—1917), Karl Marx (1818-1883) e Max Por isso, me limito aqui a discutir um dos
Weber (1864-1920) aos estudos de Sociologia. seus principais trabalhos, “How to Observe
E, por isso, tornaram-se os famosos Morals and Manners” (1838), no qual ela
“porquinhos” da disciplina. Obviamente não desenvolveu concepções pioneiras sobre o
é possível negar a influência desses autores, trabalho sociológico. Por fim, finalizo com a
porém há alguns anos se tem ampliado defesa da importância do papel de Martineau
o rol de autores “clássicos”, conforme o para o campo sociológico e possibilidades
próprio campo da sociologia muda. Alexis futuras de estudo do amplo material deixado
de Tocqueville (1805-1859) e Georg Simmel por ela.
(1858- 1918), por exemplo, já têm hoje lugar
garantido no panteão dos clássicos. Mas e
quanto à participação de Harriet Martineau How to Observe Moral and Manners
(1802-1876) na criação e desenvolvimento da
Sociologia? O mundo se ampliou para os europeus desde
a época das Grandes Navegações, porém foi
Ler e ensinar sobre Martineau não se nos séculos seguintes, especialmente o XIX,
trata de mera concessão às mulheres e à que se tornou possível que mais viajantes
participação feminina no campo sociológico. conhecessem terras novas. O resultado foi a
É preciso reconhecer que a importância explosão de diários e relatos de europeus sobre
de Martineau se deve ao seu trabalho diversos países e regiões. Eram trabalhos que
incansável de popularização do conhecimento não tinham rigor científico de observação e
sobre economia clássica, à criação de um apresentavam conclusões gerais sobre toda
método para a investigação sociológica e uma população com base em impressões e
à sua contribuição a diferentes campos da punhados de relatos locais. Foram esses erros
microssociologia. Esse artigo tem a intenção que Martineau buscou enfrentar ao publicar
incipiente de trazer atenção para o trabalho “How to Observe Moral and Manners” (1938).
18 clá ssicas – Dossiê Cadernos de Estudos Sociais e Políticos, Rio de Janeiro, v.6, n.11, 2017

Na contracapa da primeira edição lê- Martineu desejava evitar que as pessoas


se que o objetivo do livro é oferecer viajassem apenas para confirmar
“uma série de dicas para os viajantes e seus preconceitos. Caso a pessoa não
estudantes, chamando a atenção para os conseguisse chegar, de forma metódica, a
pontos necessários para o questionamento conclusões e teorias mais abrangentes, era
e observação” no campo da sociedade necessário admitir as limitações e reportar
(Martineau, 1838, pag. iii). Felizmente, cuidadosamente aquilo que foi visto. Nesse
o trabalho da autora compreende muito caso, o viajante daria ainda assim uma
mais do que simples dicas e traz reflexões contribuição, contribuindo para criar material
sofisticadas sobre pesquisa e metodologia, para que no futuro se produzisse trabalhos
temas hoje considerados fundamentais para a mais completos (Idem, pag. 09-10).
Sociologia.
A autora dividiu o livro em três partes
Martineu inicia sua obra defendendo de que principais: os requisitos para a observação,
o conhecimento e métodos são fundamentais. o que observar e métodos mecânicos. Na
Em um tempo em que se considerava primeira seção, ela enumera o que um
a observação um simples ato de olhar e observador precisa fazer para poder observar
reportar o que se vê, a britânica apontava e escrever trabalhos significativos. Essa
como é preciso treinar os olhos para se poder seção foi dividida em três partes menores,
realizar bem a tarefa. Já naquela época, ela que correspondem a requisitos filosóficos,
defendia que a “ciência da sociedade” era morais e mecânicos. Na seção seguinte, a
tão complexa quanto a natural. Logo, para autora trata sobre os temas que ela considera
ela, da mesma forma que uma pessoa não se fundamentais na vida social, como a religião,
ousava se dizer capaz de falar sobre geologia suicídio, prisões, casamentos. Ao longo dos
sem estudo dedicado, não se poderia fazer subcapítulos, ela discorre sobre a importância
afirmações sobre povos inteiros a partir de cada espaço social e como é possível
de uma breve visita (Martineau, 1838, pag. compreendê-los em sua complexidade e
02). Para evitar esse erro, ela indicava a multiplicidade. Por fim, no último capítulo,
necessidade de realização de estudos prévios, na breve seção sobre métodos mecânicos, ela
preparação para o campo, assim como o trata sobre questões do dia a dia da pesquisa,
cuidado com as generalizações e conclusões como preparação para entrevistas e anotações
precipitadas. ao longo do dia. Meu foco será na primeira
seção, visto que é aquela que apresenta
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e debate o método sociológico. É nesse difundidos em sua época ao rejeitar o


espaço que ela aborda a questão do rigor darwinismo social e a hierarquia dos povos.
metodológico. Para ela, há situações que são comuns a todas
as sociedades, como o sepultamento dos
mortos ou divisão de tarefas. O trabalho do
observador é descobrir como cada cultura
Requisitos filosóficos expressa e organiza esses eventos da vida.
De tal forma, quando cita um exemplo, ela
Nessa seção, a autora foca na questão da coloca no mesmo patamar um evento no Sul
mentalidade do pesquisador, refletindo tanto estadunidense, na Rússia czarista e em um
sobre o observador como sobre o observado pequeno povoado africano.
– uma reflexão muito avançada para uma
época em que vigorava o positivismo. Quanto Para ela, a imparcialidade não significa que
ao observador, ela indaga: O que deseja? O o observador deva considerar moralmente
que busca encontrar nas observações que aceitável a escravidão ou o sacrifício
fará? Martineau adverte que, ao observar de crianças. Todavia seu dever é tentar
homens e mulheres de personalidades compreender o Outro e a forma de realizar
variadas, instituições políticas e sociais, como isso é buscar entender como todas as relações
governo e casamento, e eventos de vida, sociais e instituições são construídas na busca
como nascimento e morte, se o observador daquilo que todo ser humano, independente
encontrar precisamente o que já esperava ou de quem for, mais preza: a felicidade.
ficar desconfortável e fizer juízos negativos
sobre o que constatar, é melhor que não O segundo princípio que ela aponta é que
produza a pesquisa. o pesquisador deve reconhecer que toda
concepção de virtude ou de vício em uma
A partir dessa observação, é possível apontar sociedade é o resultado das circunstâncias
para o primeiro princípio fundamental particulares em que a sociedade existe. De
da pesquisa para Martineau: a busca pela tal forma, Martineau percebe a moralidade
imparcialidade. Ao longo do livro, ela volta como algo cultural, e não como algo de
diversas vezes ao mesmo ponto: deve-se natureza biológica ou divina. Portanto, a
reportar, sem julgamentos, a sociedade que moral deve ser observada como uma criação
se está observando. Outro ponto importante dos homens passível de mudanças. A autora
é que Martineau se opõe a preceitos bastante apresenta grande lista de exemplos para
20 clá ssicas – Dossiê Cadernos de Estudos Sociais e Políticos, Rio de Janeiro, v.6, n.11, 2017

ilustrar seu argumento, demonstrando grande Após essas definições, Martineau aponta para
conhecimento de vários elementos que já a importância da preparação para a pesquisa.
percebia como resultado da sociabilidade: Obviamente o acúmulo de estudos prévios
a personalidade, as aspirações, a hierarquia naquele tempo é muito menor que o atual, o
social, a desigualdade, entre outros. que reforça a importância desse ponto. Ela
enfatiza que é preciso conhecer os estudos já
Podemos citar Martineu (1938, pag. 22-23 – realizados para se produzir o melhor trabalho
tradução nossa) diretamente para justificar a possível.
importância dos dois princípios:

“O observador que possui uma crença


mais filosófica, não só escapa da aflição Requisitos morais
de ver o pecado onde quer que veja a
diferença, como evita o sofrimento do No quesito moral, Martineau apresenta o
desprezo e alienação de sua espécie. conceito de empatia como um dos princípios
Porém ao estar preparado para o que principais do trabalho sociológico. Ao
ele testemunha e consciente das causas, reconhecer que é impossível nos despirmos
está livre da agitação de ser chocado
de todo preconceito e viés, precisamos
e alarmado, preserva sua calma, sua
buscar uma forma de garantir a observação
esperança, sua simpatia. E, portanto,
imparcial. A empatia “sem restrições e sem
é melhor ajustado para perceber,
compreender e relatar a moral e os
reservas” (Idem, pag. 41) permite que o
costumes das pessoas que ele visita. observador chegue aos corações e mentes das
Sua crença filosófica, derivada de toda pessoas. Martineau acredita que as pessoas
evidência justa e apenas reflexão, é que respondem à sua forma de tratá-las. Logo, um
todos os sentimentos de errado e de pesquisador que esteja aberto ao observador
certo das pessoas, em vez de nascer obterá a mesma abertura em resposta.
com eles, crescem neles das influências a
que eles estão sujeitos. Nós vemos que, A autora reforça constantemente a ideia de
em outros casos, no que diz respeito à que sentimentalmente todas as pessoas são
ciência, à arte e às aparências da natureza, iguais. Ela afirma, poeticamente, que “existe
os sentimentos crescem a partir do o mesmo coração humano em todos os
conhecimento e da experiência. E há todas lugares, o crescimento universal da mente
as evidências de que é assim em relação à e da vida, pronto para abrir a luz do sol da
moral.”
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simpatia, florescendo nos recintos das cidades O interessante da importância dada por
e florescendo onde quer que caísse na terra, Martineau à empatia é que ele poderia
mas dobrando quando tocado pelo frio e ser inserido no debate que surgiu após o
caindo na escuridão” (Idem, pag. 42 – tradução lançamento de “Um Diário no Sentido
nossa). Estrito do Termo” (1967) de Bronislaw
Malinowski. Lançado após sua morte pela
E não é possível observar uma sociedade sem sua esposa, o diário de Malinowski revela
entrar em contato com as pessoas. Embora sua opinião negativa sobre os nativos que
considere fundamental a observação do que estudava. Embora a ideia da pesquisa não-
ela chama de “Things” (coisas), representadas participante e do observador neutro nunca
pelo governo e toda forma de documentação, tenha sido factível, ainda à época muitos
as pessoas importam tanto quanto o trabalho acreditavam nela. A resposta de outros
de pesquisa documental e material. Se o estudiosos é que não é preciso ser totalmente
pesquisador não se importar em conhecer isento para ter um estudo aprofundado
as pessoas, ele não poderá entender como e não enviesado. Martineau reconhece a
formam sua noção de certo e errado, impossibilidade de nos despirmos de todos
assim como também não compreenderá as nossos pré-conceitos, mas reconhece a
instituições e estruturas sociais essenciais para possibilidade de tentarmos. E a melhor forma
o convívio humano. É somente ao abrir-se para tal é através do exercício da empatia.
para ouvir e conhecer as pessoas e respeitar
as suas histórias que o cientista social
poderá realmente entender como as mesmas
percebem e interpretam a realidade. Requisitos mecânicos

De tal forma, esse pode ser considerado Martineau dedica tempo considerável à
o terceiro princípio: a empatia. É ela que importância de se realizar o trabalho de
deve orientar a atitude do observador com observador a pé. A autora explora os benefícios
relação ao observado. Martineau afirma a e dificuldades de se locomover de tal forma.
crença de que um comportamento amistoso Os detalhes são insignificantes, o relevante é
e receptivo, em vez de julgador, é essencial a demonstração do valor que essa prática tem
para uma pesquisa sem viés e conclusões sobre o contato com as pessoas, retomando a
preconcebidas. importância sobre se abrir para poder conhecer
realmente aqueles que são observados.
22 clá ssicas – Dossiê Cadernos de Estudos Sociais e Políticos, Rio de Janeiro, v.6, n.11, 2017

Para a autora é fundamental conhecer segunda parte, O Que Observar, talvez seja a
todas as pessoas possíveis. Ela considera que melhor demonstra o poder de observação
inadmissível que alguém que se proponha e raciocínio de Martineau. Já a terceira
a conhecer um povo não busque entrar em parte, Métodos Mecânicos, trata de questões
contato com o maior número e o rol mais rotineiras que demonstram mais uma vez a
diversificado possível de pessoas. Igualmente profundida da reflexão sobre como fazer a
importante é conseguir pessoas de classes melhor pesquisa possível com todo tipo de
sociais e gostos distintos. Quanto mais amplo recurso.
for o escopo de pessoas estudadas, maior
a possibilidade de compreender as ideias A seção O Que Observar foi dividida em
sociais fundamentais, e não somente opiniões seis capítulos: Religião, Noções Gerais
singulares. de Moralidade, Estado Interno, Ideias de
Liberdade, Progresso e Discurso. Ao longo
Podemos apontar assim o quarto preceito: desses capítulos, Martineau trata de diferentes
diversidade dos entrevistados. Para temas que acredita que sejam essenciais para
Martineau, andar a pé porque possibilita um compreender a sociedade. De certa forma, a
conhecimento geográfico da região e contatar autora trabalhou campos da microssociologia
o maior número de pessoas possível. A que seriam consolidados apenas nas décadas
variedade de opiniões e crenças fortalecerá seguintes. Além disso, ela entende como esses
o estudo por oferecer multiplicidade. O campos se relacionam com questões macro,
pesquisador não deve fugir da complexidade, como política e economia. Para ela, é preciso
e sim busca-la ativamente. Pesquisas compreender o micro para se compreender
complexas são mais completas e informativas. a influência do macro. Em uma época em
que a maioria dos pensadores estavam
buscando explicações universais e conclusões
grandiosas, Martineau reconhecia a
O Que Observar e os Métodos Mecânicos necessidade de entender as questões menores,
que, não obstante, tinham valor sociológico.
Como afirmado, o meu foco aqui é no Embora o termo microssociologia tenha sido
desenvolvimento da metodologia. A cunhado em 1939, não é incorreto afirmar
apresentação breve sobre a parte teórica que ela foi uma precursora do campo.
e reflexiva do livro é um convite ao
conhecimento e incentivo a leituras futuras. A
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Como exemplo dos temas que foram compreender a sociedade atual. Hoje em dia
explorados pela autora é possível listar os reconhecer isso é simples após a construção
subcapítulos que ela própria criou. Compõe dos campos de estudos criados a décadas.
o capítulo sobre Religiões: Igrejas; Clero; Quando lembramos que Martineau defendeu
Superstições e Suicídio. No seguinte, Noções sua importância antes da metade do século
Gerais de Moralidade, há: Epitáfios; Amor XIX temos dimensão de quão pioneiro foi o
familiar e lugar de nascença; Fala de idosos seu trabalho.
e crianças; Caráter do orgulho prevalecente;
Caráter dos ídolos populares; Épocas da Felizmente, Martineau não somente indica
sociedade; Tratamento da culpa; Testemunho a relevância desses estudos, mas também
de criminosos; Músicas populares, e explora cada um deles. Ela apresenta as
Literatura e Filosofia. No terceiro capítulo, razões que a fazem acreditar que importam,
sobre o Estado Interno, ela lista: Solo e como podem indicar características essenciais
aspecto do país; Mercados; Classe rural; da sociedade e exemplifica com casos de
Classe manufatureira; Classe comercial; alguns países ou regiões. Por isso é incorreto
Saúde; Casamento e Mulheres, e, por fim, afirmar que a autora não contribuiu para
Crianças. No campo de Ideias de Liberdade, a formação de teoria nos seus campos de
ela trata da Polícia; Legislação; Classes na interesse. Se consideramos teoria como
sociedade; Servos; Limitações da metrópole; conjunto de conhecimentos que procuram
Jornais; Escolas e, por último, Objetos e explicar fenômenos naturais ou sociais, o
formas de perseguição. No capítulo seguinte, trabalho de Martineau é um extenso trabalho
Progresso, engloba: Condições de progresso; teórico sobre diferentes campos de estudos.
Caridade; Artes e Invenções e, finalmente,
Multiplicidade de Objetos. O último capítulo, Após discorrer sobre os elementos a serem
Discurso, é o único que não oferece nenhuma observados, a autora finaliza com seu
forma de divisão. menor capítulo, Métodos Mecânicos. Nele,
Martineau reflete sobre o comportamento
Ao passar os olhos pela lista é possível do pesquisador ao fazer entrevistas. Como já
reconhecer campos de estudos para cada um foi comentado, o diálogo com os observados
desses temas, sendo alguns deles essenciais é de grande importância para a autora. Em
na Sociologia contemporânea. Ninguém razão disso, ela explora formas de entrevista e
pode negar a importância de estudos sobre escrita, a estruturação das perguntas e quando
Suicídios, Prisões e Jornais, por exemplo, para tomar notas.
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Conclusão Unidos, seguindo os passos da Martineau


Society, criada em 1994, que preserva e estuda
Se “As regras do método sociológico” (1895) os documentos de Harriet e seu irmão Dr.
de Durkheim é considerado um dos trabalhos James Martineau.
fundadores da Sociologia, “How to Observe
Moral and Manners” (1838) de Martineau Por que, afinal, Martineau não é reconhecida?
não deveria ser considerado importante, se Embora esse artigo seja uma análise
foi publicado cinquenta e sete anos antes? breve de um material tão amplo, cremos
Seymour Lipset (1962), que prefaciou uma que conseguimos apresentar uma defesa
das reedições de Martineau, afirma que essa do papel de Martineau para a ciência e o
afirmação não é nada absurda. De fato, Lipset conhecimento. A falta do reconhecimento
afirmou que “How to observe morals and não se deve pela falta de qualidade do
manners” é o primeiro livro metodológico trabalho. O feito de conseguir impressionar
de pesquisa científica de duas disciplinas que e ter defensores tanto tempo após do seu
ainda não tinham sido criadas, a Sociologia trabalho, demonstra a intensidade e marca
e Antropologia. Anthony Giddens, por sua que ela pode causar naqueles que entram
vez, denomina, em “Sociology” (2001, pag 14), em contato com o seu trabalho. Também
Martineau como uma fundadora perdida. não é possível alegar que a sua obscuridade
se deva pela falta de produção ou sua total
Há uma luta há anos para que o papel inacessibilidade: embora nenhum de seus
da autora seja reconhecido. Alice Rossi livros ainda tenham sido publicados em
(1973, pag. 118-124) busca recuperá-la ao português, é possível encontrar todas as suas
afirmar que ela foi a primeira socióloga obras disponíveis e em domínio público em
mulher. Em 1982, Michael Hill e Susan inglês.
Hoecker-Drysdale lançaram uma coletânea
chamada “Theoretical and Methodological Portanto como podemos explicar a injustiça
Perspectives”. Os autores reuniram número de Martineu não estar no Panteão dos
variado de autores para destrinchar a criadores da Sociologia? Possivelmente pelo
contribuição de Martineau para diferentes seu gênero. Talvez essa não seja uma resposta
campos sociológicos. Hill é um professor inovadora ou completa, porém quando se
que tem estudado há anos sobre a autora, trata da falta de admissão da influência de
tendo criado a Harriet Martineau Sociological uma mulher, usualmente é essa resposta.
Society (HMSS) em 1996 nos Estados Ao ler os seus críticos ao longo do século
25

aparecem diversas justificativas: ela não reconhecimento não é uma dívida com o
era teórica o suficiente, sua escrita não era passado ou com pessoas que já tenham
refinada o suficiente, que ela era intuitiva falecido há décadas, mas um enriquecimento
demais e insuficientemente analítica (Hill, e um benefício para o momento atual. Somos
2003). As formas de desqualifica-la são nós que aprenderemos mais ao reconhecer
impregnadas de estereótipos de gênero. a contribuição de tantos outros olhares,
independentemente do seu tempo. Que
A escolha de quem consideramos fundadores comecemos com Harriet Martineau.
e influenciadores na Sociologia é sempre
imperfeita, parcial e, em alguma medida,
provisória. É construída pelos sociólogos
que têm status no campo o suficiente para
fazer valer suas preferências. Raymond Aron Biografia
lutou pelo reconhecimento de Tocqueville
como um autor indispensável para o campo. Viajante e socióloga
Não era preciso que o trabalho dele fosse
reconhecido pela sociedade na época ou que Nascida em 1802 na Inglaterra, Harriet
tivesse adeptos anteriores. Bastou que sua Martineau, filha de pais de classe média,
contribuição fosse reconhecida por ter uma teve a infância marcada por doenças físicas,
voz singular que tenha trazido uma reflexão especialmente a surdez progressiva que
única. Portanto, é o nosso dever trabalhar resultou no uso de um ear trumpet, um
para que esse processo de reconhecimento aparelho auditivo disponível na época. Seus
seja realizado. problemas de saúde impediram que estudasse
fora de casa, exceto por dois anos, porém
É, enfim, preciso reconhecer que a Sociologia não impediram que ela seguisse um regime
é um campo do tempo presente e mesmo rigoroso e autodidata de estudo. Como adepta
sua Teoria Clássica pode ser modificada. do Unitarismo, uma corrente teológica que
A realidade mudou e é preciso que vozes afirmava a unidade absoluta de Deus, a família
distintas do usual sejam reconhecidas, seja Martineau não teve direito a certas liberdades
de mulheres brancas, mulheres negras, civis, como votar ou ingressar em uma
homens negros etc. Afinal, muitos e muitas universidade. Ao mesmo tempo, sua oposição
produziram estudos originais e ofereceram ao Anglicanismo significava participar de um
perspectivas singulares. O trabalho de dos meios sociais mais progressistas na época.
26 clá ssicas – Dossiê Cadernos de Estudos Sociais e Políticos, Rio de Janeiro, v.6, n.11, 2017

A igreja Unitarista acreditava no informadas. Ela teve dificuldade de convencer


necessarianismo, linha de pensamento um editor a aceitar a proposta e somente
que defendia que até Deus seguia as leis o conseguiu após a assinatura de contrato
universais, mesmo tendo criado o universo. desfavorável.
Em razão dessa crença, Martineau acreditava
que as leis naturais e sociais eram fixas e O resultado foi “Ilustrations of Political
passíveis de descobertas. A isso se combinava Economy” (1832), nove volumes contendo
a convicção na existência do livre arbítrio vinte cinco histórias. Os livros foram um
e da liberdade de escolha, o que implicava sucesso de vendas e garantiram a liberdade
dizer que as decisões humanas estavam no econômica de Martineau para continuar
campo da moral e não no campo espiritual. se sustentando da sua escrita. Um feito
O Unitarismo, ao acreditar que a ciência difícil para qualquer pessoa na época, mas
era complementar, em vez de antagônica à especialmente difícil para uma mulher.
religião, permitiu que o interesse científico Apesar do sucesso alcançado, seu trabalho
florescesse na vida de Martineau sem nenhum foi diminuído, a qualidade foi questionada
conflito. Já adulta, a autora questionaria a e criticada por ser “não feminino” (Croker,
religião. Porém, foi em um jornal religioso 1833, p. 136). John Stuart Mill também
que ela iniciou sua vida como escritora aos foi crítico, afirmando de que ela não tinha
dezenove anos. conhecimento o suficiente e que o trabalho
era superficial. De qualquer forma, os livros
Após um noivado fracassado, o qual ela de Martineau venderam, até 1834, dez mil
própria admitia que permitiu que mantivesse cópias por ano, enquanto “Principles of
a liberdade para viajar e escrever, Martineau Political Economy” de Mills vendeu 3 mil
fez uma das decisões mais significativas de cópias em quatro anos (Roberts, 2002).
sua carreira. Ela insistiu na publicação de uma
série de artigos sobre economia política em Sua liberdade econômica permitiu que viajasse
linguagem popular, para que pessoas comuns para diferentes lugares, como a África, os Estados
pudessem ter acesso às ideias de alguns Unidos e o Oriente Médio. Suas experiências
dos autores mais respeitados da época. Seu resultaram em diversos livros, como “Society
objetivo era permitir que as pessoas da classe in America” (1837) e “Retrospect of Western
trabalhadora e média aprendessem a nova Travel” (1838). “How to Observe Morals and
teoria sobre a sociedade e que utilizassem o Manners” (1838) também foi lançado nessa
conhecimento para tomarem decisões mais época, porém foi escrito antes de sua viagem e
serviu como aporte para seu trabalho de campo.
27

“Society in America” (1837) é o trabalho por longo tempo tratada pelo irmão, porém
sociológico mais reconhecido de Martineau. diante das dificuldades de obter melhora,
A autora viajou por dois anos pelo norte e procurou o tratamento de mesmerismo, ou
sul estadunidenses, acompanhada por uma magnetismo animal, considerado polêmico
ajudante. Ela iniciou a viagem em 1834, três na época. Após uma rápida recuperação,
anos depois de Tocqueville fazer sua famosa ela escreveu então “Letters on Mesmerism”
viagem pela América. Coincidentemente, (1845) elogiando o tratamento. Isso resultou
ela percorreu praticamente o mesmo em uma briga familiar, já que seu irmão
trajeto de Tocqueville pelo sul. Entre outras defendeu que fora seu tratamento prologado
diferenças entre os dois trabalhos, pode-se que resultou na cura.
apontar a centralidade dada por Martineau à
instituição da escravidão e seus efeitos sobre Depois desse episódio, ela viajou ao Oriente
a democracia. Martineau aponta a escravidão Médio, viagem que resultou na publicação
como uma das características essenciais da de “Eastern life, present and past” (1848).
democracia norte-americana. Para ela, a A autora tratava nesse livro a religião uma
escravidão e a posição feminina degradavam instituição social como outra qualquer,
a democracia e impediam a realização dos sujeita a influências da sociedade em que
seus preceitos mais básicos. Após a viagem, está inserida. A partir do trabalho de Conde
Martineau se tornaria uma voz abolicionista de Saint-Simon e Auguste Comte, “Law of
importante, sendo publicada tanto nos Three Stage”, Martineau apontou a religião
Estados Unidos quanto Inglaterra. como evolucionária, partindo da magia e
superstição para o politeísmo e então para
Após a volta de sua longa viagem aos Estados o monoteísmo. Embora hoje reconheçamos
Unidos, a socióloga teve um período longo de que não há hierarquia entre as religiões,
internamento por doença. Resultado de uma Martineau foi um passo à frente ao perceber
doença ginecológica, ela teve dores intensas a religião como construção social e não como
nas costas e perdeu sua força em geral. Ela obra divina.
permaneceu então em casa por seis anos,
porém continuava a escrever. Nesse período,
produziu “Life in the Sickroom” (1844), um
estudo sobre o tratamento dos efeitos da Alguns anos depois, em conjunto com Henry
doença, e sobre aqueles que a auxiliavam, George Atkinson, publicou “The Letters on
do ponto de vista da paciente. Martineau foi the Laws of Man’s Nature and Development”
28 clá ssicas – Dossiê Cadernos de Estudos Sociais e Políticos, Rio de Janeiro, v.6, n.11, 2017

(1851). Considerado um de seus trabalhos e revisões de livros, a autora se dedicou a


mais polêmicos, ela anunciava que deixou a defender a causa feminina. Escreveu sobre
Igreja Unitária e se considerava agnóstica e a importância da educação para o avanço
naturalista. As pessoas preferem focar nessa das mulheres, a necessidade de pagamento
afirmação do que o desenvolvimento do seu igual entre mulheres e homens, e se opôs às
pensamento a partir da filosofia positivismo leis de inspiração médica que autorizavam
de Comte, pensador em que ela estava policiais a prender e humilhar mulheres sob a
muito interessada. Esse interesse resultou justificativa de combate à prostituição.
na tradução de “A Filosofia Positiva” (1842)
para inglês, a qual ela fez onze anos depois da As doenças que a assolaram durante a vida
publicação do original. dificultaram seu trabalho, porém Martineau
continuou produzindo até o fim da vida. Ela
O trabalho de tradução realizado por escreveu seu próprio obituário duas semanas
Martineau foi tão aclamado por possibilitar antes de sua morte, em 25 de junho de 1876.
a leitura da prosa difícil que foi retraduzido Em setenta e quatro anos de vida, a britânica
para francês, a língua original, e reconhecido escreveu dezessete livros, mais de mil e
como a versão oficial. Comte reconhece seiscentos editoriais e artigos para jornais,
a qualidade do seu trabalho e, em carta, e incontáveis cartas que trocou com outros
afirma a ela que o trabalho dela expandirá a pensadores. Harriet Martineu teve a liberdade
audiência do livro a um número muito maior de se dedicar ao que desejava e ela escolheu
do que ele esperaria em vida (Harrison, 1896, destinar a vida à difusão do conhecimento e à
pags. xvii-xviii). justiça social.

Dois anos depois, em 1855, Martineu


novamente adoeceu. Por causa das previsões
médicas pessimistas sobre sua recuperação,
ela escreveu então sua autobiografia, que
somente seria publicada após sua morte,
em 1877. Após a recuperação de mais um
prognóstico negativo, Martineau focou
problemas sociais na Inglaterra, especialmente Lorena Miguel é doutoranda em
os problemas de mulheres. Utilizando Ciências Sociais pela PUC-Rio.
formas variadas, como editoriais de jornais
contato: lorenamsmiguel@gmail.com
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Referências bibliográficas LIPSET. Seymour. 1962. Introduction. IN


MARTINEAU. 1837 [1962]. Society in America.
ATKINSON, Henry George e MARTINEAU, New York: Garden City
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Nature and Development. Chapman MARTINEAU, Harriet. 1848. Eastern Life.
Present and Past; 3 volumes; Edward Moxon
DURKHEIM, Emile. 1895. Les Regles de La
Methode Sociologique. Hachette Livre-BNF ___________________. 1838. How to Observe
Moral and Manners. London: Charles Knight and
GIDDENS, Anthony. 2001. Sociology. Polity Co. 22, Ludgate Street
Press
___________________. 1832. Illustrations of
HARRISON, Frederic. 1896. Introduction. IN Political Economy; 9 volumes; Charles Fox
COMTE, Auguste. The positive philosophy of
Auguste Comte: freely translated and condensed ___________________. 1845. Letters on
by Harriet Martineau, with an introduction by Mesmerism. London: Edward Moxon, Dover
Frederic Harrison. Cornell University Library Street

HILL, Michael R. 1991. “Harriet Martineu ___________________. 1844. Life in the


(1802-1876)” In DEEGAN, Mary Joe. Woman Sickroom
in Sociology: Bio-Bibliographical Sourcebook.
New York: Greenwood Press ___________________. 1838. Retrospect of
Western Travel. Saunders and Otley
HILL, Michael R. 2003. “Harriet Martineau
and the Sociology of the American South.” ___________________. 1837. Society in
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American Sociological Association, Section on
the History of Sociology, Atlanta Hilton, August ROBERTS, Caroline. 2002. The Woman and
16 the Hour: Harriet Martineau and Victorian
Ideologies. Toronto: U of Toronto
HILL, Michael Hill e HOECKER-DRYSDALE.
2001. Theoretical and Methodological ROSSI, Alice. 1973. The Feminist Papers: From
Perspectives. New York: Routledge Adams to de Beauvoir. Columbia University
Press
138 clá ssicas – Dossiê Cadernos de Estudos Sociais e Políticos, Rio de Janeiro, v.6, n.11, 2017 139

AS EDITORAS: ASSISTENTE EDITORIAL: sobre a capa:

Marcia Rangel Candido Mariane Silva Reghim Para essa primeira publicação, o
Doutoranda em Ciência Política no Doutoranda em Sociologia pelo Instituto conceito da capa para Clássicas foi o de
Instituto de Estudos Sociais e Políticos da de Estudos Sociais e Políticos (IESP-Uerj). desabrochar uma semente, assim como o
Universidade Estadual do Rio de Janeiro É pesquisadora do Núcleo de Estudos de livro é.
(IESP-Uerj), pesquisadora associada Teoria Social e América Latina (NETSAL). Uma semente que vai germinar e florir
do Grupo de Estudos Multidisciplinares contato: marianesreghim@gmail.com para xs leitorxs e também para as futuras
da Ação Afirmativa (GEMAA) e do edições da coleção com mais mulheres
Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera teóricas.
Pública (LEMEP). ARTISTAS GRÁFICAS: Assim como nos ensina Cora Coralina: “eu
contato: marciarangelcandido@gmail.com Ana Bolshaw sou aquela mulher que fez a escalada da
Mestranda em Design na PUC-Rio, em montanha da vida, removendo pedras e
Veronica Toste Daflon que pesquisa identidade visual de cidades. plantando flores”.
Doutora em Sociologia pelo Instituto de É graduada em Comunicação Social As mulheres que estão aqui rompem
Estudos Sociais e Políticos (IESP-Uerj) com habilitação em Cinema na mesma as sementes. Que as ideias cresçam e
e mestre em Sociologia pelo IUPERJ. É instituição. floresçam nesse mundo cada vez mais
bolsista de pós-doutorado do Programa contato: anabolshaw@gmail.com temeroso.
de Pós-Graduação em Sociologia e www.anabolshaw.com
Antropologia (PPGSA, IFCS-UFRJ). Atua
como pesquisadora associada do Núcleo Sophia Pinheiro
de Estudos de Sexualidade e Gênero Mestre em Antropologia Social pelo
(NESEG, IFCS-UFRJ) e do Global Race Programa de Pós-Graduação em
Project Antropologia Social na Universidade
contato: veronicatoste@gmail.com Federal de Goiás (PPGAS/UFG). É
graduada em Artes Visuais e bacharel em
Design Gráfico pela mesma universidade.
Atua como pensadora visual, interessada
acompanhe no youtube o Sobre Elas
nas poéticas e políticas visuais, gênero,
(www.youtube.com/sobreelas), dirigido
processos de criação, na antropologia e/ por Emy Lobo, o canal veicula inúmeras
da arte, culturas e representações das entrevistas com mulheres, além de
imagens. apresentar uma série de curtas com
Lattes: http://lattes.cnpq.br/3686998218403865 pesquisadoras sobre autoras clássicas.
140 clá ssicas – Dossiê Cadernos de Estudos Sociais e Políticos, Rio de Janeiro, v.6, n.11, 2017 141

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