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Presidente da República Federativa do Brasil

Dilma Rousseff

Ministro da Educação
Aloisio Mercadante

Presidente da Capes
Jorge Almeida Guimaraes
Universidade Federal de Alagoas

Reitor
Eurico de Barros Lobo Filho

Vice-Reitor
Rachel Rocha de Almeida Barros

Coordenador UAB/CIED
Luis Paulo Leopoldo Mercado

Coordenador Adjunto UAB/CIED


Fernando Silvio Cavalcante Pimentel

Coordenação de Projetos e Fomentos/CIED


Mylena Araujo

Coordenadora do Núcleo de Formação/CIED


Lilian Carmen Lima dos Santos

Coordenação de Tutoria/CIED
Rosana Saria de Araujo

Coordenador do Núcleo de Comunicação e


Produção de Materiais Didáticos/CIED
Guilmer Brito

Responsável pelos Projetos de Design


Gráfico/CIED
Raphael Pereira Fernandes de Araújo

Projeto Gráfico
Luiz Marcos Resende Júnior

Diagramação e Finalização
Pedro Fernandes Mendonça de Oliveira
Geografia Humana

Professora: Disciplina 4
Gilcileide Rodrigues da Silva

Revisão ortográfica:
Prof. Wilson Bomfim

Coordenação de curso:
Luciana Santana

Coordenação de tutoria:
Júlio Cezar Gaudêncio Silva

Supervisão Teórica:
Luciana Santana e João Vicente R. B. C. Lima

Revisão de Conteúdo:
Evaldo Mendes da Silva/ Luciana Santana

Licenciatura em Ciências Sociais 5


Livro de Conteúdo
D4
Geografia Humana

INTRODUÇÃO

A Geografia Humana é a parte da Geografia que estuda


os processos sociais, culturais, políticos e econômicos que Disciplina 4
ocorrem no Mundo. A disciplina aborda os pressupostos da
geografia desde o processo de sistematização do conhecimento
e relacionando com as transformações no espaço terrestre,
fruto das ações da sociedade que tem a possibilidade de criar,
mudar e dominar lugares e territórios. A disciplina parte
das relações econômicas e comerciais que motivaram ou
impulsionaram as grandes descobertas de ordem tecnológica
e cientificas. Estas como geradora de novas configurações
nas relações de trabalho, que apresentam características de
dominação, exploração e apropriação entre os países com
grau de desenvolvimento técnico científico diferente.
O conteúdo da disciplina permite localizar e analisar os
fenômenos políticos e econômicos em escala local e global.
Além de perceber que o espaço geográfico é dinâmico,
sobretudo quando o mercado internacional assume um
papel de comando nas relações entre países através dos
acordos multilaterais. Assim, esperamos esclarecer a que a
globalização não é um acontecimento recente, mas em curso,
como um fenômeno que atinge a todos.
É preciso considerar a complexidade sócio-espacial do
mundo contemporâneo e os diferentes modos de vida. A
geografia renovada reelabora os conceitos de “paisagem”,
“território”, “região” e “lugar”, vistos como fundamentais
para compreensão e interpretação do espaço geográfico.
Nesse sentido, os temas de cada conteúdo, abordam as
transformações do espaço mundial, fazendo uso dos aportes
teóricos da geografia, em meio ao processo de globalização.

APRESENTAÇÃO DO PROFESSOR

Caro estudante, estamos iniciando a disciplina de


Geografia Humana e nosso propósito é explicar e debater
questões locais e globais, pertinentes às transformações
provocadas pelo avanço tecnológico e pelas desigualdades
socioespaciais.

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Livro de Conteúdo
Geografia Humana

Desejamos que a disciplina seja rica de conhecimentos


e reflexões críticas, componentes que farão parte de nosso
ambiente de trabalho, seja como professor (a) ou como
cidadãos, que desejam e pensam em um mundo melhor,
mais fraterno e mais justo.
Felicitações!

PLANO DA DISCIPLINA

Curso: Licenciatura em Ciências Sociais


Disciplina: Geografia Humana
Carga horária total: 60h (presencial: 20h / online: 40h)
Professora: Gilcileide Rodrigues da Silva

Ementa:

Compreender a dinâmica e as transformações do espaço


mundial, no atual contexto da globalização. Aprender o papel
dos países do Terceiro Mundo na nova divisão internacional
do trabalho e suas perspectivas socioeconômicas. Analisar
os processos de desenvolvimento econômico e social e a
problemática espacial intrínseca aos processos de apropriação/
expropriação.

Conteúdos:

MÓDULO I: Compreender a dinâmica e as


transformações do espaço Mundial no atual contexto da
globalização
A Geografia Humana: tradição e renovação;
Os antecedentes do processo de globalização;
O processo espacial da globalização;
A formação dos blocos internacionais;
Comunidade Econômica Europeia (CEE);
Mercado Comum do Sul (MERCOSUL);
Acordo de Livre Comércio da América do Norte
(NAFTA);
Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico (APEC);

8 Licenciatura em Ciências Sociais


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Geografia Humana

Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN).

MÓDULO II: Conhecer a problemática espacial


intrínseca aos processos de apropriação/expropriação dos Disciplina 4
países do sul
A divisão internacional do trabalho: desenvolvimento
econômico e social;
A primeira Divisão Internacional do Trabalho:
capitalismo comercial;
A segunda Divisão Internacional do Trabalho: capitalismo
industrial e financeiro;
A terceira Divisão Internacional do Trabalho: capitalismo
financeiro (após a 2ª Guerra Mundial);
América Latina: permanências e mudanças;
A Ásia do leste e Sudeste;
África Subsaariana: os territórios da pobreza;
A diversidade do sul: a herança colonial;

Metodologia:

Aulas presenciais – apresentação geral sobre a disciplina.


Exposições das atividades e metodologia de trabalho e
Aulas à distância - estudo do módulo, atividades propostas,
leituras recomendadas e acompanhamento com tutores. A
disciplina parte de um embasamento teórico, auxiliado por
textos, revistas e livros que estão disponíveis na plataforma
Moodle ou em meios virtuais. As ferramentas usadas no
Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) para explicar e
desenvolver atividades são: Fórum Geral; Tarefa; Glossário;
Wikis; Questionários; vídeos na web (documentários e um
filme); atividade prática coletiva; consultas em bibliotecas e
revistas virtuais. O uso de cada ferramenta tem tanto objetivo
prático quanto teórico na construção coletiva e individual da
aprendizagem em Geografia Humana.

Avaliação:

As avaliações serão: formativa; diagnostica e somativa.


As formativas estarão distribuídas ao longo dos exercícios
propostos no livro e na plataforma moodle cuja finalidade

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Livro de Conteúdo
consiste em entender que as relações sociais, políticas e
econômicas se dão de forma diferente nos lugares (cidade,
estado ou país). As avaliações diagnósticas versam sobre o
conteúdo da Geografia Humana e os processos espaciais de
globalização, desse modo, esperaram compreender que as
relações de trabalho sofrem mudanças com as transformações
tecnológicas. E a somativa envolve questões relacionadas à
divisão internacional do trabalho com o objetivo de perceber
que os países são formados ou transformados pelas relações
internas e externas que normatizam seus territórios. Os
instrumentos avaliativos terão como resultado final as notas
AB1 (avaliação bimestral 01) e AB2 (avaliação bimestral 2),
numa variação de nota de zero a dez. O nível de dificuldade
das avaliações serão de fácil e médio resoluções. Entre os
critérios de avaliação estão: não fugir do tema, clareza das
ideias, objetividade, grau de compreensão do conteúdo,
entregar no prazo definido no cronograma da disciplina
disponível na plataforma.

Objetivos:

Objetivo Geral
Compreender as transformações do espaço mundial no
contexto da globalização destacando os aspectos econômicos
e políticos interligados a nova divisão internacional do
trabalho e em especial o papel dos países do Terceiro Mundo.

Objetivos Específicos

• Compreender a dinâmica e as transformações do


espaço mundial no atual contexto da globalização;

• Aprender o papel dos países do Terceiro Mundo na


nova Divisão Internacional do Trabalho (DIT);

• Analisar os processos de desenvolvimento econômico


e social nos Países do Norte;

• Conhecer a problemática espacial intrínseca aos


processos de apropriação/expropriação dos países do
Sul.

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Geografia Humana

Competências e/ou habilidades que o aluno deve


desenvolver na disciplina:
Disciplina 4

PESSOAL SOCIAL PROFISSIONAL

Entender que Compreenderque Perceber que


as relações as relações de os países são
sociais,políticas trabalho sofrem formados ou
e econômicas mudanças com as transformados
se dão de forma transformações pelas relações
diferente nos tecnológicas internas e externas
lugares (cidade, num Mundo que normatizam
estado ou país). Globalizado. seus territórios.

Unidades Conceituais Anteriores que o aluno


deve apresentar para desenvolver uma aprendizagem
significativa na disciplina:

• Geografia Humana

• Espaço Geográfico

• Território

• Divisão Internacional do Trabalho (DIT)

• Globalização

Contribuição para a formação profissional:

A disciplina deseja contribuir, no campo profissional,


para compreensão das relações socioespaciais no contexto
da globalização, mostrando as relações comerciais e
econômicas entre os países (acordos, tratados, organizações
internacionais, declarações etc), sobretudo as influências
dos países hegemônicos que em determinados períodos,

Licenciatura em Ciências Sociais 11


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Geografia Humana

apropriam-se de outros territórios em escala planetária. Assim,


o profissional poderá localizar e analisar esses fenômenos em
escala local e global. Além de perceber que o espaço geográfico
é o fruto das transformações que a sociedade realiza. Nesse
sentido, é um momento oportuno para apreender as bases
da investigação de conteúdos que reúne a globalização, vista
não como um acontecimento recente, mas em curso, como
um fenômeno que atinge a todos, sendo mais expressivo nas
atividades produtivas e nas relações de trabalho.

Conteúdo e Planejamento das Unidades:

Apresentação da disciplina, do professor responsável e dos


tutores que acompanharão a turma. No primeiro momento,
explicaremos a metodologia da disciplina cujo conteúdo se
divide em dois módulos: Módulo I: Compreender a dinâmica
e as transformações do espaço mundial no atual contexto da
globalização; e Módulo II: Conhecer a problemática espacial
intrínseca aos processos de apropriação/expropriação dos
países do sul. O primeiro tem a finalidade de conhecer as
bases históricas que explicam as primeiras formulações
teóricas da Geografia Humana e seus desdobramentos na
contemporaneidade, sobretudo no contexto da Globalização.
Enquanto, o segundo Módulo trata das transformações
advindas do processo de globalização, sobretudo pós-
Segunda Guerra Mundial, quando as relações internacionais
do comércio assumiram novos direcionamentos sobre a
reestruturação produtiva e o mercado internacional. Ambos
implicam nas mudanças ocorridas na Divisão Internacional
do Trabalho (DIT), gerando novas formas de exploração
da força de trabalho no mundo. Assim, a Geografia busca
localizar os fenômenos e explicar os acontecimentos em
diferentes contextos sócio-espacial da superfície da Terra.
Nesse sentido, a compreensão da Geografia denominada
Geografia Humana está relacionada às ações da sociedade no
campo político, econômico e cultural.
Ao fim de cada conteúdo específico ao módulo,
temos propostas de atividades e avaliações que enriquecem
o processo de aprendizagem individual. Na verdade, são
orientações de discussões para aprofundar e/ou exercitar

12 Licenciatura em Ciências Sociais


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Geografia Humana

os conteúdos elaborados, dando condições de o acadêmico


ampliar suas leituras e formular suas interpretações dos temas
desenvolvidos em cada unidade.
A Geografia Humana busca considerar a complexidade Disciplina 4
socioespacial do mundo contemporâneo e os diferentes
modos de vida. Atualmente esta área do conhecimento
reelabora os conceitos de “paisagem”, “território”, “região”
e “lugar”, vistos como fundamentais para compreensão e
interpretação do espaço geográfico. Desse modo, as temáticas
de cada conteúdo, abordam as transformações do espaço
mundial, fazendo uso dos conceitos geográficos, em meio ao
processo de globalização.

Licenciatura em Ciências Sociais 13


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Geografia Humana

MÓDULO I: COMPREENDER A DINÂMICA E AS


TRANSFORMAÇÕES DO ESPAÇO MUNDIAL NO
ATUAL CONTEXTO DA GLOBALIZAÇÃO
Disciplina 4
UNIDADE 1:

A Geografia
Humana:
Tradição e
Renovação

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Geografia Humana

Desejo uma aula de fácil compreensão para que possamos


atingir nossos objetivos.

Metas da Aula

Conhecer a
Geografia Humana

Entender o espaço Perceber que a Refletir a compreensão


geográfico - Mundo e dinâmica dos lugares da Geografia
suas relações é diferente.

Introdução

A Geografia como disciplina científica foi sistematizada


no século XIX sob os pressupostos das Ciências Naturais
e Ciências Sociais, levando a desenvolver duas áreas, uma
denominada de Geografia Física e outra de Geografia
Humana. No caso da Geografia Humana, podemos citar
alguns autores tradicionais da escola Francesa Vidal de La
Blache, Jean Brunhes, Albert Demangeon e Maximilien
Sorre. Sendo, Max Sorre o último representante da Geografia
Humana da tradição, antes de aparecer à geração de Pierre
George (MOREIRA, 2003).
Então, como forma de representar o pensamento
clássico da Geografia Humana, elegemos o pensamento
de Maximilien Sorre (1880 – 1962) por ter trabalhado no
sentido de integrar os estudos de Geografia Física aos de
Geografia Humana. As formulações teóricas de Sorre se
aproximam da proposta de Vidal de La Blache. Na maior
parte de seu trabalho, Max Sorre privilegiou o enfoque da
Biogeografia cujas principais obras são: Os Fundamentos da

16 Licenciatura em Ciências Sociais


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Geografia Humana

Geografia Humana (3 vols., 1943-1952) e O Homem na Terra


(1962), as referidas obras dão continuidade às reflexões de
Vidal de La Blache (VIEITES; FREITAS, 2012).
Assim, como forma de explicar a compreensão da Disciplina 4
Geografia denominada Geografia Humana, destacamos
passagens do livro “A Geografia Humana (introdução)”
em que Max Sorre (1967) define a finalidade da Geografia
Humana considerando as formulações clássicas do
pensamento geográfico e seu contexto.
Mas, ainda devemos considerar a Geografia pensada
por Max Sorre? Na verdade, queremos mostrar como o
pensamento de Sorre contribuiu para o desenvolvimento
do conhecimento geográfico e que suas concepções sobre o
espaço geográfico foram renovadas pela Ciência Geográfica
e em espacial, citamos as formulações teóricas de Santos
(1997) do Espaço Geográfico.
Hoje, devemos considerar a complexidade socioespacial
do mundo contemporâneo e os diferentes modos de vida.
Assim, para responder a esse propósito, a geografia renovada
reelabora os conceitos de paisagem, território, região e lugar
vistos como fundamentais para compreensão e interpretação
do Espaço Geográfico. Desse modo, as temáticas de cada
conteúdo, abordam as transformações do espaço mundial,
fazendo uso dos conceitos geográficos no contexto da
globalização.

1. O que é Geografia Humana?


A humanidade ao longo tempo foi ocupando a superfície
terrestre e criando condições de sobrevivência, ao produzir
técnicas que mudaram nossas vidas e nossas paisagens através
dos instrumentos de trabalho, dos meios de transporte, das
vias (estradas, ruas, avenidas) das edificações para moradia,
etc. As obras criadas pelo ser humano possibilitaram o
conhecimento da superfície da Terra e criaram modos de
vida diferentes. Assim, cabe à Geografia descrever e explicar
as formas encontradas pelas diferentes sociedades de ocupar,
modificar e desenvolver-se em cada lugar.

Licenciatura em Ciências Sociais 17


Livro de Conteúdo
Geografia Humana

A herança do conhecimento Geográfico clássico em


muito contribui para o desenvolvimento da disciplina no
campo científico. Mas, a ciência geográfica evoluiu para dar
conta das transformações em curso, daí a necessidade de
reformular sua compreensão acerca do espaço geográfico.
Porque o mundo está em movimento e um movimento
contínuo, em que a única constante é a mudança. Assim, a
Geografia nos dias atuais, exige novas leituras e ferramentas
para interpretar as complexidades socioespaciais.
A compreensão de Max Sorre permite relacionar as
formulações da Geografia renovada, quando este trata da
compreensão do fenômeno técnico em sua totalidade,
levando afirmar que a relação entre a transformação da
técnica e a mudança geográfica era muito importante para
o contexto. Nesse sentido, Milton Santos lembra que Max
Sorre foi o geógrafo pioneiro a propor de forma incisiva essa
relação da técnica com a mudança geográfica (VIEITES;
FREITAS, 2012).
Na condição de discípulo (sorreano) Milton Santos
acrescenta ainda que a sociedade humana, nos dias atuais
tem como seu domínio a Terra, ou seja, toda a superfície do
planeta. Então, a totalidade é o habitat desta sociedade.

“Na atualidade, segundo Santos, a Terra e a


humanidade se confundem em um todo único. A
presença do homem é um fato em toda a superfície
terrestre e, a ocupação que, porventura, ainda
não tenha ocorrido, é, entretanto, politicamente
existente” (VIEITES; FREITAS, 2012, p. 21).

“A Geografia Humana é a parte da Geografia


Geral que trata dos homens e suas obras desde o
ponto de vista de sua distribuição na superfície
terrestre. É a descrição do ecúmeno” (Max Sorre,
1967, p.137).

Vamos observar na transcrição em destaque que


Sorre (1967) expressa a parte da Geografia Humana que
trata da descrição do ecúmeno. Mas, devemos pensar que
naquele contexto, ainda não existiam meios tecnológicos

18 Licenciatura em Ciências Sociais


Livro de Conteúdo
Geografia Humana

que dispomos nos dias atuais e a nossa possibilidade de


habitar nas condições mais adversas em qualquer lugar da
superfície. Hoje o “habitat e o ecúmeno podem ser vistos
como sinônimos abrangendo, igualmente, todo o planeta” Disciplina 4
(VIEITES; FREITAS, 2012).
A disciplina durante a fase inicial pretendeu assumir
um caráter descritivo dos eventos que ocorrem na superfície
terrestre. Assim, a Geografia descrevia ocupação de seus
habitantes, das relações destes entre si e das obras criadas
pela sociedade, ou seja, toda ação humana sobre o planeta.
É importante esclarecer que a descrição do ecúmeno para
Santos (1997) pode ser visto como um ponto de partida.
Ainda em consonância com o autor a “descrição e explicação
são inseparáveis. O que estar no alicerce da descrição é a
vontade de explicação” (SANTOS, 1997, p. 16).
Então, devemos pensar a descrição e explicação de
forma conjunta para interpretar o espaço geográfico. Os
eventos geográficos se apresentam de forma dinâmica e
artificializados pelo avanço do conhecimento científico.
Hoje, o planeta pode ser monitorado pelos satélites que
capturam informações da superfície a cada segundo. Ainda
de forma mais presente e ampla, podemos de dizer que
qualquer pessoa, em sua própria casa, caso tenha acesso à
internet, pode navegar através do Google Earth e visualizar as
imagens do espaço geográfico de qualquer lugar do Mundo.
A sociedade contemporânea tornou o meio geográfico
mais complexo com criação de técnicas que permitem as
pessoas se deslocarem com mais rapidez, a comunicar-
se com pessoas em qualquer lugar e em tempo real. Além
de outros campos produtivos que foram conduzidos pela
ciência e mudaram a forma de produzir como exemplo os
artefatos e os gêneros alimentícios. Este contexto complexo
da sociedade atual levou Santos (1997, p.19) a compreender
o espaço geográfico a partir da “noção de espaço como um
conjunto indissociável de sistemas de objetos e sistemas de
ações.”.
O sistema de objetos sendo tudo aquilo criado pela
sociedade e o sistema de ação as relações que se configuram em
um dado lugar, isto é as relações políticas, culturais e sociais.
Juntos formam um conjunto que se manifestam e atuam

Licenciatura em Ciências Sociais 19


Livro de Conteúdo
Geografia Humana

no meio geográfico. Para investigar o Espaço Geográfico


apoiamos nas categorias analíticas internas “a paisagem, a
configuração territorial, a divisão territorial do trabalho, o
espaço produzido ou produtivo, as rugosidades e as formas-
conteúdo” (SANTOS, 1997, p.19).
A Geografia adota, no sentido de interpretar,
procedimentos práticos em suas investigações científicas
como documentar o que foi observado através de registros
fotográficos, sites, imagens de satélites, desenhos, perfil da
população, anotações de campo, registros históricos, dados
estatísticos (população, produção agrícola e industrial,
transportes, comércio interior e exterior), enfim, tudo o
que estar relacionado, de perto ou de longe, com o trabalho
da sociedade nas diferentes partes do mundo (QUEIROZ
NETO, 2009).
É importante situar no espaço o que viu, registrou,
cheirou, ouviu, isto é, servir-se de todos os sentidos para
examinar o espaço da sociedade. E como meio de representar
e formular o que viu utilizar a cartografia (mapas, desenhos
e croquis) que traduzam as informações coletadas numa
linguagem teórica.

1.2 Geografia: objetos e ações do espaço

A Geografia mantém relação com as formulações


clássicas, podemos verificar através de Max Sorre (1967)
quando considera em suas analises os modelos de
agrupamentos humanos, as áreas de elevada ou baixa
densidade populacional, as formas de energia usadas pelas
diferentes sociedades e a questão do domínio do espaço.
A geografia contemporânea também se preocupa com os
estudos das modalidades de coleta, agricultura, pecuária,
mineração e indústria, relacionando-as às condições naturais
e às necessidades humanas.
Mas, numa perspectiva de perceber atuação desse
conjunto de sistemas de objetos e de ações em movimento.
Assim, podemos fazer os recortes espaciais para debater
os problemas presente na região e no lugar. Então, de
forma científica devemos responder: Onde os fatos estão

20 Licenciatura em Ciências Sociais


Livro de Conteúdo
Geografia Humana

acontecendo? Quais os fatos ou acontecimentos interessam à


geografia? Em que lugar ocorre? O mapa é um instrumento,
por excelência da Geografia, responsável em mostrar os
lugares da superfície terrestre e suas relações seja em rede ou Disciplina 4
em escalas (locais ou globais).
Como forma de deixar mais compreensivo a análise
do espaço geográfico, vamos utilizar uma empresa, como
exemplo, que desenvolve suas atividades em vários países. A
primeira explicação tem um caráter descritivo, mostrando a
forma tradicional do conhecimento em geografia. Enquanto,
a segunda situação, ainda usando a mesma empresa, fazemos
uma leitura interpretativa com base nas redes técnicas que
permitem hoje a fluidez contemporânea.

Fig. 1 - A distribuição da empresa Heidelberg no Mundo


Fonte: www.embalagemmarca.com.br/2012/09/heidelberg-do-brasil

1.2.1 Descrição geográfica da empresa


Heidelberg no Mundo

Podemos observar (Fig. 01) o mapa da distribuição da


empresa Heidelberg nos continentes da América, Europa
e Ásia. A empresa Heidelberg de origem alemã é uma
multinacional, isto é, desenvolvem suas atividades em vários
países. A referida empresa é responsável pela fabricação de
equipamentos e insumos para a indústria gráfica. No Brasil
a empresa conta com cinco escritórios de vendas e serviços
em Recife (PE), Belo Horizonte (MG), Rio de Janeiro (RJ),
Curitiba (PR) e Porto Alegre (RS) e São Paulo (SP). O grupo

Licenciatura em Ciências Sociais 21


Livro de Conteúdo
Geografia Humana

Heidelberger Druckmaschinen também espera atender a 170


países (PALHARES, 2012).
As estratégias de vendas e marketing da companhia
divide o globo em seis blocos comerciais. Observe no mapa
(Fig. 01) que o Brasil, atualmente centraliza as atividades da
América do Sul, passa a ser um bloco independente, assim
como Europa do Leste, Europa Ocidental, América do
Norte, Ásia/Pacífico e China (PALHARES, 2012).

1.2.2 Explicação e Interpretação geográfica da


empresa Heidelberg no Mundo

A empresa Heidelberg na condição de uma multinacional,


isto é, aquela que representa os interesses de mais de país ou
nação através de filiais ou empresas dependentes, difundindo
o seu capital, instalações e atividades por diversos países.
Empresa como Heidelberg atinge hoje uma escala global,
graças ao avanço técnico e as formas criadas de realização da
vida econômica, que cada vez mais, se dão em redes globais.
Então, conforme o mapa (fig. 01) a empresa Heidelberg
funciona como uma rede que desenvolve atividades
produtivas em diferentes partes do mundo. Ainda podemos
exemplificar, além das empresas produtivas, as empresas
comerciais, os transporte, as redes de informação (KAYSER
apud SANTOS, 1997).
Na verdade, as empresas em redes globais, como o caso da
Heidelberg, são concentradoras e dispersoras, condutoras de
forças centrípetas (ver fig. 02), ou seja, tende-se a aproximar
dos grandes centros (países ou cidades) e de forças centrífugas
(ver fig. 03) sendo aquelas que tendem a se desviar do centro,
de forma específica a empresa Heidelberg de origem alemã,
que comanda suas atividades também em outros países,
afastando-se do centro que lhe deu origem. Devemos observar
que uma empresa pode funcionar em duplo sentido, tanto
pode afasta-se do centro como aproximar-se.

“Os vetores que asseguram à distância a presença


de uma grande empresa são, para esta, centrípetos,
e, para muitas atividades preexistentes no lugar

22 Licenciatura em Ciências Sociais


Livro de Conteúdo
Geografia Humana

de seu impacto, agem como fatores centrífugos”


(SANTOS, 1997, p. 222).

Disciplina 4

Fig. 2 – Forças centrípetas

Fig. 3 – Forças centrífugas

Então, as forças centrípetas asseguraram as empresas


à distância quando elas passam a funcionar em vários
países. Enquanto, que nos lugares onde são instaladas
muitas atividades preexistentes no lugar sofrem impactos,
provocando uma reação centrífuga.
Para Santos (1997) as redes seriam incompreensíveis se
apenas enxergá-las pelas suas manifestações locais ou regionais.
Embora, sejam também indispensáveis para entender como
funcionam as redes em escala mundo. Podemos descobrir
o movimento global através dos movimentos particulares
(exemplo à empresa Heidelberg) e identificar os níveis de sua
ação, que são: o nível mundial, o nível dos territórios dos
Estados e o nível local.

Licenciatura em Ciências Sociais 23


Livro de Conteúdo
1. O mundo como uma
2. O nível do território
primeira totalidade.
(um país ou estado)
(concreto e empírica)

3. O nível local
(dimensão única e
socialmente concreta)

Fig. 04 – os níveis do território

O primeiro nível permite entender o mundo como


uma primeira totalidade, isto é observe que a empresa
Heidelberg reúne um conjunto de objetos e ações que
se instalam em países e cidades diferentes, ou seja, a
empresa na sua totalidade como podemos ver no mapa
(fig. 1). A realidade concreta em vários países (a empresa),
sendo possível ser verificada empiricamente. Enquanto,
no segundo nível o território que pode ser um país ou o
Estado, assume o papel de normatizar o território através
de seus limites representados pelas fronteiras, as formas
de regulação e controle que comando o país. O terceiro
nível é o local, onde de fato as coisas acontecem, seja
a cidade, o bairro, a localidade, portanto assume uma
dimensão única e socialmente concreta (SANTOS,
1997).

1.3 A Geografia na era digital: registra os


acontecimentos em toda parte do Mundo

Graças à evolução tecnológica, os países ou os lugares


mantêm relações políticas, econômicas e culturais com
mais intensidade aponto de haver uma interpendência
entre os diferentes territórios do ecúmeno. Nesse
contexto, “a geografia econômica, a geografia política
e a geografia social não desaparecem exclusivamente
pelo fato de os comportamentos e os processos que elas
Geografia Humana

analisam trazerem a marca das culturas” (CLAVAL, 2010,


127).
A era digital exige a elaboração de registro dos
acontecimentos socioespaciais através dos instrumentos Disciplina 4
de representação do espaço geográfico, como as cartas, as
plantas, os sistemas georreferenciados, com o sentido de
explicar as distribuições observadas na superfície terrestre.
O desenvolvimento tecnológico estimula a dispersão
na superfície e ao mesmo estimula o agrupamento. É na
possibilidade de se permanecer em contato com as pessoas
que os deslocamentos se impõem para reencontrá-las. Assim,
podemos explicar que os transportes levam a articular as
linhas em torno de entroncamentos, onde é mais fácil marcar
encontros. Assim, nascem as cidades, distribuídas em redes
hierarquizadas (CLAVAL, 2010).
A Revolução Industrial deste o século XVIII (Grã-
Bretanha e França) tem acelerado o descolamento da
população para as cidades, destacamos, conforme Claval
(2010, p. 129) que “somente uma parte da população gozava
permanentemente das vantagens da vida urbana: menos de
20%, muitas vezes menos de 10% ou de 5%, nas civilizações
tradicionais”. A partir da revolução dos transportes e da
revolução industrial fazem esses percentuais aumentar.
Assim, podemos verificar que em 2009, e pela primeira vez,
mais da metade da humanidade mora em cidades.
A Geografia preocupa-se com os processos urbanos, que
com a mobilidade dos transportes coletivos tem ampliado
os perímetros urbanizados. Enquanto, a revolução das
telecomunicações vai mais longe. Estamos no mundo cada
vez mais digitalizado, conectados por cabos, ondas hertzianas
e satélites que asseguram ligações instantâneas entre todos os
pontos da superfície terrestre. Embora, o contato direto ainda
continua sendo mais eficiente. Mas, as vantagens diminuem
na medida em que se torna mais fácil duplicar a circulação
através de textos e imagens (CLAVAL, 2010).
Agora a perspectiva da Geografia, não é mais saber se
é a natureza, ou o homem quem comanda. Hoje, trata-se
de compreender como os homens levam em consideração
a dimensão da natureza e de sua existência. A geografia se

Licenciatura em Ciências Sociais 25


Livro de Conteúdo
Geografia Humana

dedica novamente aos laços existentes entre os homens (ações


da sociedade) e o meio (técnico-científico-informacional).

Exercício de Aprendizagem
Para verificar a compreensão sobre questões essenciais
do conhecimento Geográfico, vamos assistir ao vídeo –
Seminário sobre a Pastoral Urbana, proferida pela Profa.
Dra (USP) Maria Adélia de Souza. O vídeo está disponível na
web, no You Tube. Ao término do vídeo responda:

1. Qual é a compreensão de Território Usado?

2. Como podemos entender a desigualdade espacial?

3. Faça um comentário acerca do Brasil, a partir da citação:


“As paisagens nas cidades desmentem essa característica
de país emergente. Porque as grandes periferias das cidades
do mundo, especialmente das cidades brasileiras, existem
carências de toda ordem.” Professora. Dra. Maria Adélia de
Souza (USP) no Seminário Belém “400 anos” Em 17 de abril
de 2012.

Avaliação

1. Use o Mapa Mundi para localizar empresas que


desenvolvem atividades em mais de um país e faça uma
análise descritiva.

Fig. 05 - Mapa dos continentes


Fonte: WWW.coladaweb.com./mapas/mapa-dos-continentes

26 Licenciatura em Ciências Sociais


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Geografia Humana

Saiba Mais

Leitura Complementar: Disciplina 4

Para aprofundar e ao mesmo tempo esclarecer mais


sobre a Geografia Humana, listamos as leituras específicas e
de fácil acesso na web. A leitura é parte essencial para fixar
e conhecer mais sobre a Geografia Humana.

REVISTA VIRTUAL: GEOGRAPHIA VOL. 5 No. 10


(2003)
Nossos Clássicos.

Max Sorre
Ruy Moreira (2003)

A geografia humana (Introdução)


Max Sorre (2003)

a Resumo do Tema
A geografia humana é a parte da Geografia que estuda
os processos sociais, culturais, políticos e econômicos que
ocorrem no Mundo. O objetivo principal de nossa aula é
explicar a compreensão da denominada Geografia Humana,
tanto com base na herança de suas formulações como em
sua compreensão contemporânea. Na contemporaneidade,
destacamos a compreensão do espaço geográfico que parte
da “noção de espaço como um conjunto indissociável de
sistemas de objetos e sistemas de ações.” (SANTOS, 1997,
p.19). Assim, os objetos criados pelo desenvolvimento
tecnológico (pequenas invenções e grandes invenções)
mudam para sempre a paisagem dos lugares, mediados
pelas relações sociais que expressam suas ações no
espaço geográfico. Para investigar o Espaço Geográfico as
categorias analíticas são: paisagem, território, região, lugar e
as formas-conteúdos (SANTOS, 1997).

Licenciatura em Ciências Sociais 27


Livro de Conteúdo
Geografia Humana

Referências
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS
– ANBT. Informação e documentação – Referências –
elaboração. NBR 6023. Rio de Janeiro. 2002.
CLAVAL, Paul. Terra dos Homens. A Geografia. SP.
Contexto, 2010.
QUEIROZ NETO, José Pereira de. Pierre Monbeig, a
Geografia e eu. In: LEMOS, A I.G. Geografia, tradições e
perspectivas: a presença de Pierre Monbeig. São Paulo:
CLACSO, Expressão Popular, 2009.
VIEITES, R.G.; FREITAS, I. A . A Influência de Maximilien
Sorre e Vidal de La Blache na Geografia Médica de Josué de
Castro. SCIENTIA PLENA VOL. 5, NUM. 6 2009. Disponível
em www.scientiaplena.org.br. Acesso em out. 2012.
SANTOS, Milton. A natureza do Espaço. Técnica e
tempo. Razão e emoção. 2ª. ed. São Paulo, Hucitec, 1997.
SORRE, Max. A geografia humana (introdução). Editorial
Labor, S/A, Barcelona, 1967. In. GEOGRAHPIA – nossos
clássicos. Vol. 5 no. 10. 2003. Disponível em WWW.uff.br/
geographia. Acesso em 2012

28 Licenciatura em Ciências Sociais


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Geografia Humana

UNIDADE 2:
Disciplina 4

Os Antecedentes
do processo de
Globalização

Licenciatura em Ciências Sociais 29


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Vamos aprender em nossa aula como iniciou o processo


de globalização e contamos com os respectivos objerivos:

Metas da Aula

Globalização

Identificar as ações Perceber as forças he-


Conhecer onde o pro-
no espaço geografico gemônicas que lid-
cesso de globalização
que contribuíram eram o processo de
iniciou.
para a globalização globalização

INTRODUÇÃO

Globalização é uma palavra de uso comum, usada


em nosso cotidiano, geralmente anunciada na TV, nos
jornais, nas revistas entre outros. Empregado para anunciar
acontecimentos econômicos, políticos e sociais que tem
repercussão no Mundo todo. E ao mesmo tempo, pode ser
compreendido pela visão ideológica que alimenta o consumo
e impõe aos povos oprimidos projetos políticos e econômicos
mantido por agências internacionais situadas em países ricos.
Na academia a globalização assume um caráter teórico,
porque busca interpretar os processos responsáveis pelas
relações socioespaciais que se configuram no Mundo.

30 Licenciatura em Ciências Sociais


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2.1 Antecedentes Socioespaciais da


Globalização

Disciplina 4

Fig. 06 – Imagem da caravela ao mar


Fonte: http://encontrosculturaisml.blogspot.com.br/2012/02/

vida-em-portugal-na-epoca-das-grandes.html

Para entender a globalização, nesse inicio de século, vamos


começar pelos seus antecedentes históricos e geográficos. A
figura 4 ilustra uma Caravela, navio usado pelos portugueses,
que ao longo do tempo, progrediram em suas viagens em
direção sul. De acordo com o desenvolvimento científico da
época, estabeleceram uma cartografia exata da nova costa. Os
portugueses fundam entrepostos e feitorias, incrementam
contatos e trocas, sendo os primeiros a explorar a África e a
manter sob seu domínio reservado (BRASSEUL, 2010).
O comércio de ouro, marfim, escravos e algumas
especiarias chegam à Europa através de Lisboa. E mais tarde,
a Espanha, graças a Cristóvão Colombo encontra um novo
continente – América. Assim, os dois países são os pioneiros
no mundo moderno, a explorar a África e América, pelas vias
do comércio marítimo, levando assim, a Europa a dominar a
economia mundial (BRASSEUL, 2010).
É importante destacar que a descoberta das Américas
e abertura de um comércio direto para a Índia e a China
provocam um mistura geral de culturas e de modos de vida que
mudará a face do mundo. Desse modo, as trocas de produtos
entre continentes transformam radicalmente agricultura

Licenciatura em Ciências Sociais 31


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Geografia Humana

e a indústria. Os conflitos estão na base do processo de


colonização dos povos descobertos pelos Europeus, causando
um verdadeiro extermínio da população dominada.

Em cento e cinquenta anos, a partir da conquista


espanhola, a população das Antilhas é aniquilada,
90% da população do México e 95% da
população do Peru são dizimadas! Os massacres
que acompanham essas primeiras guerras coloniais
de invasão não são as principais responsáveis pelo
colapso demográfico, cujas causas principais são
o trabalho forçado e as epidemias (BRASSEUL,
2010, p. 93).

As fases do processo de colonização dos países dos


continentes Americano, Africano, Asiático e Oceania são
marcadas pela exploração do trabalho das populações locais.
Para Rochefort (2008) é na segunda metade do século XIX,
que ocorre à expansão da Europa, que fora iniciada período
mercantilista, com a invasão econômica e política dos países
desenvolvidos, na fase do capitalismo industrial, marcando
profundamente a organização territorial dos países do
Terceiro Mundo. Assim, o grau de dependência dos países
dominados aumenta e a dominação externa ganha maior
intensidade com a industrialização, como podemos observar
na explicação de Santos (2002):

A globalização é o estágio supremo da


internacionalização. O processo de intercâmbio
entre países, que marcou o desenvolvimento do
capitalismo desde o período mercantil dos séculos
XVII e XVIII, expande-se com a industrialização,
ganha novas bases com a grande indústria, nos fins
do século XIX, e, agora, adquire mais intensidade,
mais amplitude e novas feições. O mundo inteiro
torna-se envolvido em todo tipo de troca: técnica,
comercial, financeira, cultural (SANTOS, 2002, p.
79).

32 Licenciatura em Ciências Sociais


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Geografia Humana

Podemos compreender que o processo de globalização


iniciou pelo comércio marítimo internacional, em busca de
produtos com valor de troca, impulsionada pelas grandes
navegações do século XV. Atravessou a fases econômicas Disciplina 4
como o mercantilismo (acumulação originária), capitalismo
comercial e capitalismo financeiro. Assim como fases de
regimes políticos (absolutismo, despotismo, revoluções de
independências, revoluções socialistas) até atingir o atual
contexto, em curso nesta altura da história, denominado de
globalização (IANNI,1990).

Exercício de Aprendizagem
Observe na Fig. 07 que a expansão europeia da
fase mercantilista é ainda mais litorânea para viabilizar a
exploração econômica dos continentes (América e África).
Para impor o domínio usam a força militar, político e social
a um novo modelo de organização do trabalho, que fosse
capaz de garantir, principalmente, a extração de minérios,
para as indústrias da Europa.

Fig. 07 – Mapa do triângulo comercial: Europa, América e


África.
Fonte: http://www.marxists.org/reference/archive/feuerbach/

A) Explique por que a rota da Índia seguia em direção


Sul, ao invés de ir diretamente para o continente Europeu?

B) Quais os produtos explorados nos continentes


africano e asiático?

C) Por que houve imposição da violência militar


a exploração do trabalho aos povos colonizados nos
continentes

Licenciatura em Ciências Sociais 33


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“descobertos”?

D) Faça consultas na web sobre a seguinte afirmativa:


“Durante 300 anos (de 1500 a 1800) as mercadorias que
a Europa usava não eram produzidas na Europa, eram
produzidas na América, na África e Ásia – nas colônias”
(Materialismo Histórico, 2011, p.01).

Avaliação
Investigar um país de cada continente para fazer uma
síntese do processo de exploração colonial do território,
a partir do período mercantilista (séculos XV a XVIII) até
a contemporaneidade (século XXI).

a)América: Haiti; Brasil e México

b)Ásia: Índia; China e Coréia do Norte

c)África: Costa do Marfim; Tanzânia e Serra Leoa

Saiba Mais
Para autores como Santos (1997) e Ianni (1995) o
processo de globalização inicia-se na fase mercantilista.
Então, para conhecer um pouco mais sobre o mercantilismo
indicamos a leitura de uma síntese “mercantilismo inicial”
que caracteriza os aspectos políticos, econômicos e sociais.
Disponível em www.ufrgs.br/decon/virtuais/eco02245b/
aula03.

34 Licenciatura em Ciências Sociais


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a
Resumo do Tema
Oobjetivodadiscussãofoiapresentaraspectosgeraisdo
processo de globalização, resultante de eventos históricos e Disciplina 4
geográficos que foram iniciados pelas grandes navegações,
tendo como precursores os países do continente Europeu,
cuja finalidade consistiu em explorar produtos comerciais
dos países descobertos em outros continentes (América,
África e Ásia).

Referências
BRASSEUL, Jacques. História econômica do Mundo.
Das origens aos subprimes. São Paulo, Saraiva, 2010.
MATERIALISMO HISTÓRICO. O “materialismo
histórico” sumiu com 300 anos de história. Disponível em:
http://materialismo-feuerbach.blogspot.com.br/Acessoem:
12 jan. 2013.
RAMOS, Fábio Pestana. Imagem da caravela ao
mar. 2012. 1 gravura, color. Disponível em : http://
encontrosculturaisml.blogspot.com.br/2012/02/vida-em-
portugal-na-epoca-das-grandes.html. Acesso em : 12 jan.
2013
ROCHEFORT, Michel. O desafio urbano nos países do
Sul. Campinas, Edições Territorial, 2008.
SANTOS, Milton. A natureza do Espaço. Técnica e
tempo. Razão e emoção. 2ª. ed. São Paulo, Hucitec, 1997.

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UNIDADE 3:
Disciplina 4

A Globalização:
Contexto atual

Licenciatura em Ciências Sociais 37


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Vamos continuar falando da globalização. Agora


destacando o contexto atual, nesse sentindo, nosso interesse
será:

Metas da Aula

Globalização
no contexto
atual

Identificar os países Conhecer as


Refletir sobre as
hegemônicos do características do
definições de
processo de contexto atual da
globalização.
globalização. globalização.

Introdução

Vamos continuar falando da globalização, agora


buscando entendê-la em seu atual contexto. Assim, esperamos
apresentar as definições de autores como Ianni (1992) e
Santos (1997) que analisam a globalização na fase do modo
de produção capitalista e o avanço tecnológico impulsionado
pelo conhecimento científico que vigora no mundo, ainda
que de forma fragmentada, mas intensiva nas relações e
expansiva no espaço geográfico. Na compreensão Becker
(2009) a globalização é um fenômeno bem mais complexo
e multifacetado, que envolve aspectos sociais, econômicos,
políticos, culturais, institucionais e tecnológicos, todos eles
inter-relacionados.

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3. A Globalização

Disciplina 4

Fig. 08 – A vitória dos ricos na globalização


Fonte: http://www.sxc.hu/photo/1088644

É interessante observar que o processo de globalização,


como abordado anteriormente, não é recente, trata-se de um
processo em curso, que acumula, em cada fase características
específicas. Mas, há uma lógica que caracteriza todos esses
processos, a seguinte tendência: “as regras do jogo do
capitalismo global por enquanto favoreceram muito mais os
países industrializados do que as nações em desenvolvimento”
(REVISTA VEJA, 2002).
Apesar de assumir feições diferentes, fica cada vez
mais acentuada, a disparidades entre ricos e pobres.
Como anunciada na revista (fig.8) “a vitória dos ricos na
globalização”. Os países pobres dos continentes explorados
são agora dominados pelos mercados estrangeiros. Para Ianni
(1995, p. 09) “a ideia de globalização está em muitos lugares,
nos quatro cantos do mundo. Aparece nos acontecimentos
e interpretações relativos a tudo que é internacional,
multinacional, transnacional, mundial e planetário”. Assim,
podemos compreender que os eventos, mesmo ocorrendo
em um lugar específico, assumem repercussões mundiais,
porque os lugares e/ou países mantém relações em todos
os níveis (comerciais, políticas, econômicas e culturais) que
revelam características da sociedade global, em particular no
modo como ocorrem, assim, podemos compreender que os

Licenciatura em Ciências Sociais 39


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Geografia Humana

eventos, mesmo ocorrendo em um lugar específico, assumem


repercussões mundiais, porque os lugares e/ou países mantém
relações em todos os níveis (comerciais, políticas, econômicas
e culturais) que revelam características da sociedade global,
em particular no modo como ocorrem, levam a explicitar
relações, processos e estruturas pouco visíveis, ou mesmo
insuspeitadas. A primeira Guerra Mundial, de 1914-18, a
Grande Depressão Econômica Mundial, iniciada em 1929
e a Segunda Guerra Revelam articulações e antagonismos
envolvendo nações e continentes. A Guerra Fria, iniciada em
1946 a partir do discurso de Winston Churchill em Fulton,
nos Estados Unidos, e a queda do Muro de Berlim, em 1989,
são outros acontecimentos reveladores. Em todos esses casos,
os acontecimentos tornam explicitas características essenciais
da sociedade mundial (IANNI, 1995, p.11).

Como podemos perceber nos exemplos apontados por


Ianni (1995), as características de uma sociedade global são
reveladas nos diferentes acontecimentos, mesmo ocorrendo
em um determinado país, os eventos assumem relevância
internacional, isto é, tem alcance numa escala planetária. Por
que a globalização atingiu, somente agora esse estágio? De
acordo com Santos (2002, p.79) “graças às novas técnicas,
a informação pode se difundir instantaneamente por
todo o planeta, e o conhecimento do que se passa em um
lugar é possível em todos os pontos da Terra. A produção
da globalização e a informação da globalização permitem
a emergência de um lucro em escala mundial, buscado
pelas firmas globais que constituem o verdadeiro motor da
atividade econômica”. Essas novas possibilidades produz
três tendências: a) possibilidade de produzir em qualquer
lugar do planeta e de criar um produto global a partir de
um único sistema técnico; b) a possibilidade de permitir a
simultaneidade entre os eventos, isto é, o chamado tempo
real; c) e a possibilidade das grandes empresas globais,
produtoras de mais-valia explorar numa em escala planetária
(SILVEIRA, 2006). Todas essas ações em curso podem ser
representadas pelo avanço das telecomunicações, pela alta
tecnologia e pela ampliação geométrica do papel do capital
financeiro como instrumento de aceleração da economia.

40 Licenciatura em Ciências Sociais


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Diante do avanço tecnológico comandado pelo


conhecimento científico, Santos (1997) definiu o atual
período de “meio técnico-científico-informacional”
considerado como a cara geográfica da globalização. Disciplina 4
Esclarece que os objetos são oriundos do conhecimento
científico, com tendência a ser universais. Assim, quanto
mais “tecnicamente” contemporâneos são os objetos, mas eles
se subordinam às lógicas globais. E o meio informacional é
marcado pela rapidez do avanço tecnológico e pelo aumento
na racionalidade da produção.
Para Santos (2002) o avanço tecnológico possibilitou
que o mundo inteiro torna-se interligado por todo tipo de
troca: técnica, comercial, financeira, cultural. Nesse sentido,
todo o planeta é praticamente envolvido por um único sistema
técnico, tornado indispensável à produção e ao intercâmbio
do consumo, em suas novas formas. Contudo, adverte que
a “globalização em seu estágio atual, é uma globalização
perversa para a maioria da humanidade” (SANTOS, 1997,
p. 268).
Então, podemos entender que na fase da globalização
os meios de comunicações foram massificados, como se
mundo inteiro fosse uma pequena cidade, que todos podem
saber de tudo que acontece, aponto de afirmar que conhece
cada um, pode até saber onde estão ricos e pobres nessa
pequena cidade (Mundo). E no caso de acontecer qualquer
fato impactante, é possível tomar conhecimento sem sair
de casa. É notório perceber que tudo ficou acelerado, a
ponto de impor tempo e espaço há uma mesma velocidade,
nunca antes experimentada. Na verdade, passar a ideia de
que acontecimentos pertos ou longes, são fatos simples do
cotidiano, como ir até a casa do vizinho, pedir informação ou
ir até à esquina, mais próxima de sua casa, para pedir alguma
coisa emprestada (GONÇALVES, 1997).
De forma geral, os objetos criados pela tecnologia,
pela sociedade científica, têm cada vez mais, acelerado
os processos, tornando o tempo e espaço como unidade.
Nesse sentido, destacamos vários processos fundamentais
associados à definição de globalização (ver fig. 09) que na
contemporaneidade assumem papéis hegemônicos em curso
no Mundo.

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Categoria Elementos ou processos


fundamentais

Globalizaçãodas Desregulação dos mercados Disciplina 4


finanças e do financeiros,mobilidadeinternacionaldo
capital capital, auge das fusões e aquisições.
A globalização acionada está em sua
fase inicial.

Globalização Integração de atividades empresariais


dos mercados em escala mundial, estabelecimento de
e estratégias, e operações integradas no estrangeiro
especialmente (incluída P&D e financiamento),
da competência busca de componentes e de alianças
estratégicas em nível mundial.

Globalização A tecnologia é a enzima essencial:


da tecnologia, a expansão da tecnologia da
da P&D e dos informação e da comunicação facilita
conhecimentos o desenvolvimento de redes mundiais
correspondentes no seio de uma economia e entre
diferentes economias. A globalização
como processo de universalização do
“toyotsmo” na produção.

Globalizaçãodas Transferências e transporte das formas


formas de vida devidaspredominantes.Igualizaçãodos
e dos modelos modelos de cosumo. Importância dos
de consumo, meios de comunicação. Transformação
globalização da da cultura em “alimento cultural” e em
cultura. “produtos culturais”. Aplicação das
normas do GATT aos intercâmbios
culturais.

Globalizaçãodas Diminuição do papel dos governos e


competências parlamento nacionais. Tentativas de
reguladoras e da desenho de uma nova geração de
governança normaseinstituiçõesparaagovernança
do mundo.

Licenciatura em Ciências Sociais 43


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Globalização Análise, centrada nos Estados, da


como unificação integração das sociedades mundiais
política do em um sistema político e econômico
mundo liderado por um poder central.

Globalização Processos socioculturais centrados em


das percepções torno de “uma só Terra”. Movimentos
e consciência globalizadores. Cidadãos do mundo.
plantaria

Fig. 09 – Quadro de definições de globalização


Fonte: (PETRELLA 1996 apud SPOSITO, 2004, p.138)

Esses processos para Ianni (1995) estão presente desde


que o capitalismo desenvolveu-se na Europa, assumiu
características planetárias revelando seu caráter internacional,
multinacional, transnacional e mundial, desenvolvidas
no interior da acumulação originária, das diferentes fases
(mercantilismo, colonialismo, imperialismo, dependência
e interdependência) econômicas. Essas características
econômicas estão presentes nos pensamentos de Adam
Smith, David Ricardo, Herbert Spencer, Karl Marx, Max
Weber e muitos outros. Ainda em consonância com o autor,
podemos entender que a

Globalização é o conjunto de transformações


na ordem política e econômica mundial que
vem acontecendo nas últimas décadas. O ponto
central da mudança é a integração dos mercados
numa “aldeia-global”, explorada pelas grandes
corporações internacionais. Os Estados abandonam
gradativamente as barreiras tarifárias para proteger
sua produção da concorrência dos produtos
estrangeiros e abrem-se ao comércio e ao capital
internacional. Esse processo tem sido acompanhado
de uma intensa revolução nas tecnologias de
informação - telefones, computadores e televisão
(IANNI, 1995, p. 25).

44 Licenciatura em Ciências Sociais


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As transformação em curso no Mundo obedecem à


ordem da política econômica que vigora, sob orientação
do conhecimento científico que produzem objetos ou
técnicas capazes de possibilitar a integração dos mercados. Disciplina 4
Um exemplo que pode ser ilustrado é “o fato de comércio
internacional representar em 2008 um terço da produção
mundial, contra 24% em 1998 e 9% em 1980. As empresas
multinacionais estão no cerne dessa evolução que organismos
internacionais como o FMI e a OMC tentam regular como
podem. Elas são os motores do sistema integrado de produção
mundial” (BRASSEUL, 2012, p.407).
A globalização é como o mundo se apresenta no contexto
atual, assumindo a fase mais avançado dos processos
econômicos, políticos, sociais, culturais e tecnológicos
em curso. Contudo, entendemos que a globalização é um
processo, resultante de outros acontecimentos. Portanto,
“a globalização é o produto mais acabado do mundo do
presente, que tem altíssima possibilidade de sobrepor
espaço e tempo através do uso das tecnologias de ponta, das
tecnologias da informação” (SOUZA, 2008, p. 36). É uma
das marca da globalização nossa capacidade de fazer e/ou
saber de fatos e acontecimentos em tempo real. No entanto,
a globalização não é processo democrático que atinge a todos
e não é conhecida por todos.

Glossário
GATT: Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio
GOVERNÂNCIA: neologismo de origem inglesa cujo
significado procura incorporar a ideia de governabilidade
mais as condições culturais e conjunturais especificas de
um movimento e da unidade considerada (município, Estado-
nação etc). (PORTELLA, 1996 apud SPOSITO, 2004,
p.139).
P&D: pesquisa e desenvolvimento
TOYOTISMO: é um sistema de organização voltado
para a produção de mercadorias. Criado no Japão, após a
Segunda Guerra Mundial, pelo engenheiro japonês Taiichi
Ohno, o sistema foi aplicado na fábrica da Toyota (origem
do nome do sistema).  O Toyotismo espalhou-se a partir da

Licenciatura em Ciências Sociais 45


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década de 1960 por várias regiões do mundo e até


hoje é aplicado em muitas empresas. (disponível em WWW.
suapesquisa.com/economia/toyotismo.htm).

a
Exercício de Aprendizagem
Nossa atividade terá como exemplo o vídeo
postado pelo aluno Marcus Toledo do Curso de
Ciências Sociais Licenciatura (EAD), polo de Maceió/
AL, sobre a “Globalização” disponível em www youtube
no link: http://www.youtube.com/watch?v=89a_ig_
IPQw&feature=youtu.be. O vídeo mostra como a
globalização se manifesta no lugar, nesse caso, na cidade
de Maceió/AL. Essa atividade poderá ser desenvolvida
em equipe, sendo que, cada um deve elaborar um vídeo
com os seguintes conteúdos: 1. Reunir características no
vídeo ou em Power Point que mostre empresas globais
(produtos consumidos, embalagens, comerciais etc)
presente no local (cidade que mora) e onde estão suas
empresas matrizes (origem da empresa). Responda para
o leitor ou navegador a sua (equipe) visão de globalização;
2. Identificar no lugar (cidade que mora) onde estão os
pobres e desempregados na cidade. Responda no vídeo:
A globalização é para todos? 3. Faça um contraste dos
espaços: servido de equipamentos urbanos e o não
servido na cidade que mora. Responda no vídeo: Por que
há desigualdade sócio-espacial?

Avaliação
Vamos assistir ao vídeo “Encontro com Milton Santos:
O mundo global visto do lado de cá”, um documentário do
cineastabrasileiroSílvioTendler,quediscuteosproblemasda
globalização sob a perspectiva das periferias (seja o terceiro
mundo, seja comunidades carentes). O documentário é
conduzido por uma entrevista com o geógrafo e intelectual
baiano Milton Santos (1926-2001), gravada quatro meses
antes de sua morte. Disponível em WWW.You Tube.com
(Milton Santos – Globalização 1/9).

46 Licenciatura em Ciências Sociais


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1.Conforme o documentário explique, a partir do vídeo


e consultando outras fontes: a) Por que o autor usou
a expressão “os territórios ocupados” na chegada dos
colonizadores no Brasil? B) Explique a Primeira globalização Disciplina 4
e a Segunda globalização; c) Esclareça as três metáforas do
mundoglobalizado:aFábula;aPerversidadeeaGlobalização
como pode ser.

Saiba Mais
Leitura Complementar:
Para enriquecer o debate, vamos estudar o texto “Da
Globalização ao Poder Local: a Nova Hierarquia dos Espaços”
do autor Ladislau Dowbor, doutor em Ciências Econômicas
e professor titular da PUC de São Paulo e da Universidade
Metodista de São Paulo. A leitura reúne textos que abordam:
o espaço global; a formação dos blocos; a erosão do Estado-
Nação; os regionalismos; o papel das metrópoles; a cidade
como base da organização social e política; a recuperação
da dimensão comunitária; e conclusão: os espaços
articulados. Encontra-se disponível em: www.cefesp.br/edu/
eso/globalização

a
Resumo do Tema
A globalização é um conjunto de acontecimentos
políticos, econômicos, culturais e tecnológicos que se
manifesta em todos os lugares, visto como um processo
em curso no mundo. Assim, tais características dão uma
conotação de um espaço único - o global - , comandado
pelo avanço tecnológico e pelas novas formas de exploração
da economia de mercado. Apresentamos as definições
teóricas de Ianni (1992), Santos (1997) e outros que
interpretamaglobalizaçãonafasecapitalista,relacionando-a
com o avanço tecnológico impulsionado pelo conhecimento
científico. Contudo, a globalização revela-se como perversa
para a maioria da humanidade.

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UNIDADE 4:
Disciplina 4

A formação
dos blocos
econômicos
internacionais

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Referências
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globalização. Disponível em WWW.sti.com.br. Acesso em
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BRASSEUL, Jacques. História econômica do Mundo.
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cidadania. São Paulo, Publifolha, 2002
SILVEIRA, M.L. Por uma teoria do espaço Latino-
Americano. In.:LEMOS, A.I.G.; SILVEIRA, M.L.; ARROYO,
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CLACSO.2006.
SOUZA, M. A. A metrópole e o futuro. Refletindo sobre
Campinas. (Org.). Edições Territorial. Campinas. 2008.

Licenciatura em Ciências Sociais 51


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Vamos apresentar as organizações internacionais do


comércio e conhecer os países que compõem os blocos
econômicos internacionais em seu contexto geopolítico.

Comércio Internacional

Objetivos: Processo de Formação

Blocos Econômicos

• Conhecer a organização do comércio mundial

• Identificar os países hegemônicos do processo de


formação

• Analisar a constituição dos blocos econômicos

Introdução

A organização do comércio internacional data do século


XIX, quando começou a definir procedimentos normativos
para as relações internacionais do comércio. Assumindo
feições mais complexas, em determinados períodos, como
podemos ilustrar com as organizações internacionais, criadas
para conduzir no Mundo acordos comerciais e financeiros
deliberados entre os países membros ou participantes dessas
instituições. À medida que as relações de mercado entre
os países intensificam-se, novas exigências se impõem aos
interesses econômicos que se desdobram em novas formas
mais eficientes para exercer domínio do mercado mundial,
para além de seus territórios, levando assim, a formação de
novos arranjos espaciais. Principalmente, na segunda metade
do século XX, quando os países desenvolvem a política de
integração econômica entre os países vizinhos ou países com
mesmos interesses comerciais, dando origem a constituição
dos blocos econômicos internacionais.

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4.1 A organização do comércio


internacional

No final do século XIX, a concentração das empresas Disciplina 4


é um fenômeno comum aos países industrializados,
assumindo uma dimensão maior na Alemanha e nos Estados
Unidos. É interessante destacar que os consórcios americanos
controlavam 60% da produção do papel do país, 77% da
produção de metais não ferrosos, 81% da química, 84% da
siderurgia e 85% do petróleo. Ocorre também concentração
de empresas em serviços tais como: transporte, seguros,
finança e bancos. Oriundos de empresas dominantes que
operam e intervém cada vez mais em escala internacional
(BRASSEUL, 2012).
A fase do capitalismo monopolista ou oligopolista se
caracteriza pela concentração das empresas pelos países
dominantes no mercado internacional. No entanto, isso não
significa uma redução da concorrência, porque as regiões e
os países estavam até então relativamente isolados. Assim, a
Europa estabelece no século XIX uma imensa rede de relações
econômicas da qual assume o centro. A respeito das relações
econômicas Brasseul (2012, p. 251) explica que “esta situação
pode ser analisada ao nível dos fluxos migratórios, das trocas
de bens e serviços e dos movimentos de capitais, provocando
uma aceleração do processo de globalização econômica que
iniciou com os descobrimentos”.

Fig. 10 - Quadro da Exportação em % do Produto Interno


Bruto (PIB)
Fonte: Brasseul (2012, p.254)

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Considerando a forma de avaliar essa situação econômica


de Brasseul (2012) destacamos a exportação de produtos,
sobretudo dos países que alcançaram resultados elevados
no contexto mundial. É possível verificar (Fig. 10) que a
Europa domina as trocas no mundo (França, Grã Bretanha
e Alemanha). Na América, os Estados Unidos com ritmos
acelerados a cada década, nas exportações. No continente
asiático, o Japão que desponta no contexto mundial.
Enquanto, os países dominantes do continente exportam e
importam, sobretudo entre eles próprios, cabem às colônias
(países explorados) a representação de uma parte mais fraca,
menos 3% da produção era exportada para elas em 1910
(BRASSEUL, 2012).
Os tratados para mercado internacional do período
de 1860-1914 eram bilaterais, realizados apenas entre dois
países. Como este procedimento não contemplava o avanço
das relações comerciais internacionais foi criado em 1947 o
Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT), que consiste
em promover acordos multilaterais de redução de barreiras
alfandegárias, visando assegurar um ambiente liberal para a
expansão do comércio internacional (MAGNOLI, 2004).
Nesse sentido,

o projeto de criação de uma organização


internacional do comércio, os problemas de
coordenação das políticas nessa área passaram
a ser tratados nos marcos institucionais do
GATT. Apenas um capítulo da Carta da OIC,
originalmente, o GATT proporcionou a seus
membros, por mais de 45 anos, o lugar de encontro
e o conjunto de normas, regras e procedimentos
necessários a que buscassem conjuntamente
fórmulas adequadas à promoção de seus interesses
mútuos e soluções aceitáveis para as pendências
que surgiam continuamente em seu intercâmbio
(CRUZ, 2005, p.23).

O GATT representou a tentativa de harmonizar a política


aduaneira entre países, pois no início não tinha o poder de
punir, julgar e fiscalizar países infratores. Devido à ausência

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dos Estados Unidos, a criação da Organização Internacional


do Comércio fracassou. Assim,  o “GATT, um acordo
criado para regular provisoriamente as relações comerciais
internacionais, foi o instrumento que, de fato, regulamentou Disciplina 4
por mais de quatro décadas as relações comerciais entre os
países” (KONNO ROCHOLL, 2003, p.05)
O apogeu do GATT ocorreu no período de 1970 a
1995, considerada a fase de maior expansão do comércio
internacional, marcada por taxas mais altas em seus produtos,
configurando uma integração crescente das mercadorias
nacionais. Para regular os aspectos financeiros e monetários,
foram criados o Banco Mundial (BIRD) e o Fundo Monetário
Internacional (FMI), e no âmbito comercial, foi discutida a
criação da Organização Internacional do Comércio (OIC),
que funcionaria como uma agência especializada das Nações
Unidas (CRUZ, 2005).
É importante entender que as mudanças das
organizações internacionais estão diretamente ligadas ao
contexto mundial, no final do século XX estamos cercados
pelas descobertas técnicas científicas como por exemplos
cabos que ligam todo o planeta por telégrafo, conectando em
permanência as bolsas de comércio (produtos) e as bolsas de
valores (títulos) num mercado mundial de bens e de capitais.
Aumenta a liberdade de circulação de bens, de homens e de
capitais. Gradativamente, as taxas de abertura ao comércio
internacional progrediram e as trocas internacionais estão
igualmente mais integradas do que no começo do século
XX, na medida em que novos acordos comerciais são criados
(KONNO ROCHOLL, 2003).
É neste contexto que surge a Organização do Comércio
Mundial (OMC) para substituir o GATT em 1995 com
154 membros (2010), assim como seu antecessor, tem sede
em Genebra. A OMC é constituída por um conjunto de
normas e concessões tarifárias, com a função de impulsionar
à liberalização comercial e combater práticas protecionistas
além de regular, provisoriamente, as relações comerciais
internacionais. Fundado em 1995 sua primeira conferência
ministerial do OMC foi realizada em Singapura (09 a 13
de dezembro de 1996) com o objetivo de examinar questões
relativas ao trabalho dos dois primeiros anos da organização,

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assinando uma declaração que estabelecia uma direção política


para os trabalhos futuros da organização internacional.  A
OMC é vista como uma organização internacional muito
mais estruturada que o GATT, com poderes para solucionar
controvérsias entre os países membros. Em suas formulações
se dispunha a operar na base da igualdade entre seus
participantes. (KONNO ROCHOLL, 2003).
A OMC formada por países membros considerados como
Países em Desenvolvimento e Países Menos Desenvolvidos
(PMD), Mais de dois terços dos 149 Membros da OMC são
países em desenvolvimento ou países menos desenvolvidos
(PMD). “Todos os membros designados como PMD pelo
sistema das Nações Unidas (ONU, fundada em 1945) foi
concedida a condição de PMD na OMC. Dos 50 PMD
que compõem a lista atual das Nações Unidas, 32 se
tornaram Membros da OMC” (CONECTAS DIREITOS
HUMANOS, 2007, p. 25).
Os Membros podem estabelecer sua condição de país
em desenvolvimento autonomamente, embora, em alguns
casos, os demais Membros não aceitem essa condição
automaticamente. Qualquer membro pode se oferecer
para sediar a Conferência Ministerial, que se realizavam no
mínimo, a cada dois anos. A última Conferência foi sediada
em Genebra em 2011. A reunião destacou-se pela adesão
da Rússia a organização, após 18 anos de negociação. No
entanto, chega-se a conclusão de que a reforma do sistema
multilateral do comércio está muito aquém para responder
a realidade do século XXI. Os países membros assumiram
durante a conferência o compromisso de não dar por extinta
a rodada de Doha. A ilustração do quadro (Fig. 11) mostra
alguns grupos que nascem nas conferências Ministeriais.

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Grupo País e finalidade

Cairns Membros atuais: Austrália, Brasil, Canadá,


Colômbia, Fiji, Filipinas,Indonésia, Malásia, Nova Disciplina 4
Zelândia, África do Sul,Tailândia e Uruguai.
Países exportadores de produtos agrícolas
que pressiona pela liberalização do comércio
agrícola.

União Formadoporpaísesdesenvolvidosedominantes
Europeia nas conferências, considerado como grupo
estável.

G20 Liderado pelo Brasil, China, Índia e África do


Sul. Seus outros Membros são os seguintes:
Argentina, Bolívia, Chile, Costa Rica, Cuba,
Equador, Filipinas, Egito, Guatemala, Indonésia,
México, Paquistão e Tailândia. São países
exportadores de produtos agrícolas que teve
um grande poder de negociação na Quinta
Conferência Ministerial da OMC em Cancun.

ASEAN Associação de Nações do Sudeste Asiático.

ACP Grupo da América Latina e Caribe, Grupo


Africano e Grupo de estados da África, Caribe
e Pacífico – uma associação informal de países,
chamada “Grupo de países com ideias afins”.

Figura 11 – Quadro dos Grupos e alianças formados na


OMC.
Fonte: CONECTAS DIREITOS HUMANOS, 2007

A formação de grupos nas conferências ministeriais


revelam as divergências entre os países membros,
configurando-se na formação de grupos e estratégias políticas
para barganhar votos e adesões aos interesses comuns.
A cada conferência, conforme as temáticas chamadas de
rodadas ou rondas para decisão, criam-se novos grupos ou
unisse grupos existentes. À medida que o número de países

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membros aumentava, as negociações tornavam-se cada vez


mais difíceis, por causa das medidas protecionistas. Este
fato contribui para duração das negociações que no começo
ocorria entre um a dois, passou para três, cinco e até oito
anos. A título de exemplo podemos destacar a Conferência
Ministerial realizada em Doha (Capital do Qatar) em 2001.

Saiba Mais
Programa de Trabalho de Doha
Termo tecnicamente correto para designar as
negociações acordadas na Declaração de Doha durante
a Conferência Ministerial realizada em Doha em 2001.
“Rodada” não é uma denominação oficial. Rodada de Doha:
O termo “rodada”, no contexto do GATT e da OMC, implica
negociações sobre uma série de temas com vistas a se
alcançar acordos multilaterais. Essa idéia não foi aceita por
todos os Membros da OMC presentes em Doha: alguns
países em desenvolvimento, como a Índia e a Malásia,
sustentam que os ministros de comércio não decidiram
desenvolver uma nova “rodada” de negociações em Doha.
Eles consideram que o Programa de Trabalho de Doha é uma
combinaçãodenegociaçõesetemasdeaplicaçãopendentes
desde a Rodada do Uruguai e, portanto, que ele não deve ser
denominado de “Rodada de Doha”. Programa de Doha para o
Desenvolvimento: A Secretaria da OMC cunhou esse termo
em função de sua oposição ao uso do termo “rodada”, para
que as negociações perecessem menos perigosas a quem
(em particular, os países em desenvolvimento) havia sido
contrário à abertura de uma nova rodada de conversações
comerciais. No entanto, a expressão “Programa de Doha
para o Desenvolvimento”não foi definida e nem mencionada
no texto da Declaração de Doha, em função do que muitos

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membros preferem usar a expressão “Programa de


Trabalho de Doha”, que é a denominação tecnicamente
correta, embora outros Membros e muitos grupos da
sociedade civil a tenham questionado, porque consideram Disciplina 4
que há poucos indícios de que as negociações atuais
venhamaproduzirbenefíciosemtermosdedesenvolvimento
para economias pobres. Os críticos afirmam que,
independentemente de sua denominação, o programa
de trabalho ou programa para o desenvolvimento não
reflete as prioridades de desenvolvimento dos países em
desenvolvimento (CONECTAS DIREITOS HUMANOS,
2007, p. 38).

A conferência de Doha foi considerada um fracasso,


como fórum de liberalização comercial da Organização
Mundial de Comércio. Devido aos impasses no âmbito da
política quanto:

A abertura de mercados internos e uma mostra de


que não se pode ignorar a persistência do Estado-
nação e ao papel dos governos na definição da
estrutura e da dinâmica econômica. Um mercado
internacional totalmente aberto é improvável,
pois os governos dos Estados-nações, dentro da
concorrência global, tendem a promover o interesse
de seus cidadãos e das empresas ali sediadas
(CASTELS, 2000, apud BECKER, 2009, p. 62).

As formas criadas para a regulamentação do comércio


mundial, representados pelas organizações internacionais
como GATT e OMC, não envolvem todos os países, mas
regulamentam as normas mundiais do comércio. É interessante
ressaltar que aqueles países que historicamente dominam
o mercado internacional, são membros e hegemônicos nas
conferências, assim como, nas tomadas de decisões. Embora,
a participação dos países menos desenvolvidos vem crescendo
nos últimos anos, isso não implica na adesão aos países de
economia mais pobre. As relações comerciais entre os países
(pobres ou ricos) não visam diretamente os interesses sociais

Licenciatura em Ciências Sociais 59


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de seus países e sim formas de apropriar-se das condições


legais para comercialização de seus produtos de mercado.
Na compreensão de Geiger (2006) autores como Berardi,
Coogley e Piñero (2004) identificam a formação de mercados
comuns como um serviço voltado à globalização, sendo uma
forma de vincular as economias nacionais aos interesses do
mercado mundial globalizado.

4.2 Os Blocos Econômicos


Internacionais

A região na compreensão geográfica nos remete a


diferentes interpretações, entre as quais, podemos entendê-
la como conjuntos espaciais que se entrelaçam, mantendo
em comuns aspectos físicos ou humanos/culturais. A região
pode representar a relação da parte com o todo. Mas, dado ao
contexto das transformações socioespaciais e a influência de
novas teorias o conceito de região passou a ser questionado,
considerado como uma abstração, se analisada como à parte
da totalidade (SANTOS, 1997). Desta forma, o conceito
de região não se aplicaria ao contexto internacional, e
sim a denominação bloco, que entre os seus significados
pode ser sinônimo de “formação de uma frente ou um
grupo de parlamentares para defender posições comuns”
(PASQUALLE, 2009, p.109). A expressão bloco por não ter
a carga conceitual da região, é usada para expressar a união ou
acordos econômicos entre países vizinhos ou com os mesmos
interesses, chamados de “blocos econômicos”.
Para expressar os acordos com países vizinhos outra
expressão usada para as teorias econômicas é a palavra
integração de origem latim (integratio) que significa
“renovação” ou “restabelecimento”. O dicionário orford
english em 1929 começou a expressar a palavra em letra de
forma, com o atual significado de “combinação de partes num
todo”. Para os economistas o termo começou a ser aplicado
para se referir à integração de diferentes áreas econômicas
(PORTO; FLÔRES, 2006).
A formação dos blocos surge após a dissolução da União
Soviética e o fim da polarização, dando início uma série de

60 Licenciatura em Ciências Sociais


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acordos que resultaram na formação de blocos econômicos


de estados nacionais em escala continental e subcontinental.
No âmbito da globalização ocorre um estreitamento dos laços
entre os países vizinhos em cada área geográfica e geopolítica. Disciplina 4
Para Brasseul (2012) a União Europeia pode representar o
modelo mais acabado dessas formações. Contudo, a formação
dos blocos pode levar a riscos na política protecionistas
que travariam o comércio internacional e criariam efeitos
de desvio das trocas nefastos para uma alocação eficaz de
recursos em escala mundial e, portanto para o crescimento.
Nesse sentido,

A análise econômica mostrou, na teoria das uniões


aduaneiras, que a integração regional representava,
na melhor das hipóteses, apenas um ótimo de
segunda categoria relativamente a uma situação
de livre-câmbio generalizado. Todavia, a teoria
apresenta o inconveniente de ser estática, de não
tomar em conta os efeitos dinâmicos favoráveis de
tais agrupamentos (criação de indústria, economia
de escala) e de se limitar aos efeitos econômicos,
visto que também são procurados efeitos políticos
por essas uniões e, em particular, a criação de novas
entidades (BRASSEUL, 2012, p. 418).

A compreensão econômica diz respeito aos movimentos


de integração (Zona de livre comércio, União Aduaneira,
Mercado Comum e União Econômica e Monetária), sendo
que entre eles, podemos identificar várias formas, dependendo
do grau de intensidade, assim as relações comerciais podem
variar entre as zonas de livre mercado, uniões aduaneiras,
mercados únicos, mercados comuns e outras formas
mais avançadas. No entanto, a teoria estática não leva em
consideração a dinâmica dessas relações comerciais e as novas
possibilidades (PORTO; FLÔRES, 2006).
Nessa perspectiva econômica a formação dos blocos
pode se tornar um entrave às relações comerciais entre os
países vizinhos que constituem o bloco econômico e ao
multilaterialismo, uma vez que, essas relações se dão em
escala mundial, ou seja não se limita a um continente ou

Licenciatura em Ciências Sociais 61


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país. Além de atuar com as vulnerabilidades dos fatores


culturais, sociais, políticos e econômicos. Nesse sentido, a
formação de blocos econômicos nas últimas décadas, em
fase da globalização impulsiona uma nova ordem mundial,
que tem provocado o enfraquecimento dos Estados nações
e anunciada o fim das fronteiras com o uso de expressões
recorrentes no discurso político, econômico que aprofunda
a mudança da economia de mercado, quando “o capitalismo
em Estado/Nações, e em escala mundial, a ser substituído por
um capitalismo organizado em escala mundial e localizado
em Estados/Nações” (SCOTT, 1998 apud GEIGER, 2006,
p. 151).
De acordo com Becker (2009) as relações econômicas
entre os países se estruturam de maneira complexa e articulada
pelas negociações feitas de forma bilateral, como os acordos
de livre comércio entre dois países ou de redução tarifária
para setores específicos, de forma multilateral, mediados
principalmente pela OMC, e regionalmente, com os blocos
econômicos.
Assim, o processo de descolonização, blocos de países
em mercados comuns, são condições de organização espacial
do avanço da globalização. Na verdade, é uma globalização
que compreende, entre outros, o princípio da “cooperação
competitiva” e o estabelecimento de regimes democráticos,
por toda parte, uma vez que a democracia não faz guerra
entre si (GEIGER, 2006).

4.2.1 União Europeia (UE)

Fig. 12 Bandeiras dos países da União Européia

62 Licenciatura em Ciências Sociais


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Fonte: http://www.livenews.com.cy/cgibin/hweb?-A=8748&-V=economy

A União Europeia originou-se da Comunidade


Econômica Europeia (CEE), fundada em 1957 por seis
países. O nome União Europeia foi adotado em 1993 e hoje Disciplina 4
conta com 25 nações: Alemanha, Áustria, Bélgica, Bulgária,
Chipre, Dinamarca, Espanha, Eslováquia, Eslovênia, Estônia,
Finlândia, França, Grécia, Holanda, Hungria, Irlanda, Itália,
Letônia, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Polônia, Portugal,
República Checa, Romênia, Reino Unido (Inglaterra,
Escócia, Países de Gales e Irlanda do Norte) e Suécia.
O Tratado da União Europeia consiste em desenvolver
uma convergência das economias ao instituir uma união
econômica e monetária, incluindo, conforme o Tratado, uma
moeda única e estável, no sentido de promover o progresso
econômico e social dos seus povos, levando em consideração
o princípio do desenvolvimento sustentável, o contexto
do mercado interno, o reforço da coesão e da proteção do
ambiente e a aplicação de políticas que assegurem que os
progressos na integração econômica sejam acompanhados
de avanços paralelos em outras áreas (UNIÃO EUROPEIA,
2006).
Os pressupostos do projeto da União Europeia, na
prática têm apresentado sérios entraves, entre eles de reunir
diferentes nações em uma parceria supranacional, isto é,
nações que estão sob o mesmo teto do poder de decisão. Na
verdade, esta iniciativa não tem precedente a nível mundial
que vise a construir um espaço de integração política, social,
econômica e cultural entre todos os seus Estados-membros. O
que implica em sua incerteza quanto ao seu desenvolvimento.
As especulações giram em torno de opiniões, prognósticos e
previsões de diversa natureza que variam entre atitudes mais
positivas e negativas, e outras mais ingênuas ou cépticas. Uma
das questões mais controversas sobre a União Europeia versa
sobre a emergência e consolidação da identidade europeia,
conceito utilizado com frequência na categoria auto-
identificação e que legitima o projeto europeu (ROTHER;
NEBE, 2009). Destacamos alguns aspectos considerados
positivos no projeto de unificação dos países europeus tais
como:

Licenciatura em Ciências Sociais 63


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A demarcação de uma área de livre mercado


assentada na circulação de pessoas e bens poderá
gerar, através de uma crescente interdependência
econômica, maiores níveis de coesão social entre
os países integrados nessa área geográfica. As
oportunidades de mobilidade que oferece este
espaço geram condições sociais para a existência
de um mercado de trabalho transnacional
europeu como complemento necessário à própria
união monetária. Esse mercado de trabalho, que
reabsorve e reparte os trabalhadores comunitários,
atua como redistribuidor da força laboral europeia,
transferindo pessoas de regiões com carências de
emprego até regiões necessitadas de mão-de-obra.
A mobilidade humana promove a circulação
de ideias, capacidades e talentos, que se revelam
qualidades fundamentais para o desenvolvimento
de uma economia baseada no conhecimento, na
competitividade e na geração de bens e de produtos
de elevado valor acrescentado. A mobilidade
traz consigo um aumento de identificação com
o projeto europeu que, por sua vez, garante e
incentiva a própria mobilidade (GASPAR; HARO,
2011, p. 12).

No entanto, o propósito do projeto de integração dos


países da Europa não leva em consideração essa enorme
diversidade cultural e socioeconômico presente na dinâmica
dos lugares. As análises dos interesses econômicos não
respondem a todo o conjunto das ações peculiares dos países
vizinhos. A política de integração tem como motor o mercado,
que não dá conta das dificuldades enfrentadas por cada país.
Assim, podemos perceber o reflexo dessa política, nas crises
desencadeadas nos países europeus, como a Grécia, Portugal,
Espanha entre outros. Na realidade, são países em níveis
diferenciados de desenvolvimento que não conseguiram se
ajustar a política financeira e as leis impostas pelo mercado
comum, em meio a tantas disparidades econômicas, sociais,
culturais de cada país.

64 Licenciatura em Ciências Sociais


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Saiba Mais
Entenda a crise na Europa
Disciplina 4
A crise na Europa foi causada pela dificuldade de alguns
países europeus em pagar as suas dívidas. Cinco dos
países da região – Grécia, Portugal, Irlanda, Itália e Espanha
– não vêm conseguindo gerar crescimento econômico
suficiente para honrar os compromissos firmados junto aos
seus credores ao longo das últimas décadas. O risco de
inadimplência é real e tem consequências de longo alcance,
que se estenderão além das fronteiras da zona do euro. “A
crise da dívida europeia é a crise financeira mais séria desde
os anos 1930, se não a mais séria da história”, afirmou o
Presidente do Banco da Inglaterra, Mervyn King, em outubro
de 2011. (ver web)

Como começou a crise na Europa?

Aeconomiamundialtemexperimentadoumcrescimento
lento desde a crise financeira dos Estados Unidos entre
2008 e 2009. A crise americana expôs as políticas fiscais
insustentáveis dos países na Europa e no mundo. A Grécia,
um dos países que não conseguiu realizar reformas fiscais,
foi um dos primeiros a sentir o aperto de um crescimento
mais fraco. Quando o crescimento diminui, assim como as
receitas fiscais, torna os elevados déficits orçamentários
insustentáveis. Na verdade, as dívidas da Grécia eram tão
grandes que ultrapassaram o tamanho de toda a economia do
país. No final de 2009, a única solução que restou para o então
recém-empossadoprimeiro-ministroGeorgePapandreoufoi
assumir que a Grécia não tinha mais condições de pagar as
suas contas. (ver web) Disponível em http://br.advfn.com/
eventos/2012/crise-na-europa

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4.2.2 Acordo de Livre Comércio da América do


Norte (NAFTA)

Fig. 13 O impacto da NAFTA sobre a classe trabalhadora


Fonte:http://t0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcTXNxps73

Rpmh86dHO_LF5j9knaJ8HqAQYlh2SCoCuX8GcuIwzgxg

O Acordo de Livre Comércio da América do Norte


(NAFTA) foi criado em 1993 pelos Estados Unidos, Canadá
e México. O acordo iniciou com o Canadá e os Estados
Unidos. Em 1993, o México foi admitido na Nafta e, com isso,
a expectativa de sair de uma situação crônica de dependência
econômica. O acordo previa o fim de todas as barreiras
comerciais entre os três países do norte do continente. Sendo
que o México, na primeira fase, obteve vantagens, o que
refletiu em sua expansão econômica, ficando entre os quinze
maiores países do mundo em expansão econômica.
No entanto, os efeitos da política de integração formulada
pelos organismos internacionais, como Fundo Monetário
Internacional (FMI) para ajustar a economia, levou o México
a uma profunda crise financeira, na qual o peso  (moeda
mexicana) desvalorizou-se 100% em relação ao dólar em
poucos dias. A mortalidade infantil cresceu, mas o número
de multimilionários aumentou. E os graves problemas sociais
mexicanos deram origem à rebelião Zapatista, na província
de Chiapas (OBERNAUER, 2013).
A rebelião Zapatista teve como motivação a revogação
do artigo 27 da Constituição mexicana que determinava
abertura das terras camponesas de propriedade coletiva e
o acesso completo e sem a regulamentação do México. No
dia da implementação da NAFTA, os 3.000 membros do

66 Licenciatura em Ciências Sociais


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recém-formado Exército Zapatista de Libertação Nacional


(EZLN) declarou guerra armado sobre o governo mexicano,
apresentando uma lista de exigências (OBERNAUER,
2013). Disciplina 4
Nos Estados Unidos os protestos surgiram, logo após o
ano de criação da NAFTA. Os protestos contribuíram para
o nascimento do movimento contra o neoliberalismo. Para
Obernauer (2013, p.02) “mais de 150 mil trabalhadores
perderam seus empregos entre 2008 e 2012. E não foi por
causa de uma economia ruim, e sim pela grande recessão ou
aumento de impostos”. Devido ao Acordo de Livre Comércio
Norte Americano levaram os empregadores a optar em
movimentar o seu negócio fora das fronteiras para reduzir
os custos do trabalho. Ao completar 20 anos, o NAFTA
não atingiu seus objetivos de levar os EUA e o México a
uma forma de aumentar a riqueza de ambos. Abertura das
fronteiras para o mercados se traduziu em crises que afetaram
de forma negativa, a economia dos países membros.

4.2.3Mercado Comum do Sul (MERCOSUL)

Fig. 14 Mapa dos países do Mercosul


Fonte: HTTP://www.mercosul.gov.br/

Licenciatura em Ciências Sociais 67


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O processo político de criação do Mercado Comum do


Sul, (MERCOSUL), iniciou em 1985. O contexto reúne
inicialmente Brasil e Argentina nas negociações comerciais,
no âmbito da Associação Latino-Americana de Integração
(ALADI), com objetivo de formar um mercado regional. Os
países Brasil e Argentina enfatizaram, entre outros temas, a
importância da consolidação do processo democrático e da
união de esforços com vistas à defesa de interesses comuns
nos eventos internacionais (MERCOSUL, 2012). Nesse
sentido, a formação do Mercosul só poderia ocorrer após os
seus membros adquirirem um certo grau de desenvolvimento
nas relações comerciais, uma vez que Argentina e Brasil, os
dois maiores países em termos de população e de seu Produto
Interno Bruto (PIB), historicamente competidores passam, a
formar a base do Mercosul (GEIGER, 2006).
Na verdade, a efetiva prática do bloco começa a se
desenvolver, somente quando o Mercosul torna-se uma das
temática de preocupações políticas e econômicas rotineiras
nos ambientes governamentais, empresariais e da mídia, de
seus países. Em particular no Brasil, um desenvolvimento
que se faz paralelo à ampliação da abertura do País para a
globalização.
Ao ser consolidado, o Mercado Comum do Sul
(Mercosul) torna-se um amplo projeto de integração formado
pelos países Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, criado
em 1991, com dimensões econômicas, políticas e socais. O
Mercosul pode tratar de temas variados como agricultura
familiar ou cinema. Na dimensão econômica assume um
caráter de União Aduaneira, cuja finalidade consiste em ser
um verdadeiro mercado comum, seguindo os objetivos do
Tratado de Assunção no qual foi fundado (26/03/1991).
Em 1995 é criada à Área de Livre Comércio que se refere
a um conjunto de países que eliminaram ou restringem taxas
aduaneiras no comércio realizado entre si, isto é os países
membros pagam um mesmo imposto de importação para
produtos de outras nações de fora do bloco. No mercado
comum as mercadorias, pessoas, serviços e capitais circulam
livremente pelos países-membros (GEIGER, 2006).
O Mercosul toma como base a premissa de que a
integração constitui condição fundamental para acelerar

68 Licenciatura em Ciências Sociais


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Geografia Humana

o processo de desenvolvimento econômico e social de seus


povos. E nas relações políticas é considerado como um
grande motor da diplomacia econômica dos quatro países-
membros no âmbito da OMC, Alca, nas relações com os Disciplina 4
EUA, Europa, Japão, Canadá e parceiros tradicionais latino-
americanos (MERCOSUL, 2012).
O Mercosul é um projeto, claramente inspirado e
concebido pela União Europeia, que tem a finalidade de
estabelecer um mercado comum. Mas, isso implica, até
certo momento, em que os quatro países caracterizam
esse mercado comum, deverão prevalecer em um espaço
integrado. Para Porto e Flôres (2012) trata-se de um projeto
de tal envergadura, entre países latino-americanos, bastante
desacreditados quanto à sua iniciativa de uma integração
com sucesso. O Mercosul é um assunto complexo e cheio
de particularidades, mas que vem apresentando progresso
positivo.

4.2.4 Cooperação Econômica da Ásia e do


Pacífico (APEC)

Fig.15 Mapa dos países da APEC


Fonte: http://geoapec.blogspot.com.br/2007/07/origem.html

Licenciatura em Ciências Sociais 69


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A Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico (APEC)


fundada em 1993 é formada pelos países que banhado pelo
Oceano Pacífico. Ao longo da década de 1990 novos países se
integraram ao bloco (ver fig. 15). Inicialmente, surgiu como
Fórum de discussão entre países da Associação das Nações
do Sudeste Asiático (ASEAN) e alguns parceiros econômicos
da região do Pacífico. Na primeira Conferência de Seattle
(1993) da APEC, os países se comprometeram a transformar
o Pacífico numa área de livre comércio.
Atualmente, participam 21 membros entre eles Hong
Kong (território da China), Austrália, Brunei, Canadá,
Chile, China, Cingapura, Coréia do Sul, EUA, Filipinas,
Indonésia, Japão, Malásia, México, Nova Zelândia, Papua-
Nova Guiné, Peru, Rússia, Tailândia, Taiwan (Formosa) e
Vietnã. Por reunir participantes com culturas e modo de
vida tão diferentes como os Estados Unidos e a China, as
discussões tem sido em torno de setores da economia que
devem ser incluídos nos acordos do bloco.
Em meio à diversidade dos países membros, a APEC
espera reduzir taxas e barreiras alfandegárias da região
Pacífico-asiática, buscando promover o desenvolvimento
da economia da região. Em 1994, na reunião de Bogor, os
países se comprometeram a estabelecer uma zona de livre
comércio, com metas para os países desenvolvidos e para os
países subdesenvolvidos. Muitos países já têm acordos de
redução total ou parcial de tarifas, outros estão em processo
de negociação. A APEC ainda não é uma área de livre
comércio, pois os países-membros impõem muitas barreiras
à livre circulação, considerado como um objetivo a ser
alcançado ao longo prazo, previsto para 2020. Atualmente,
as economias dos membros da APEC são responsáveis por
aproximadamente 50% do comércio mundial. O PIB é de
US$ 16,5 trilhões e poderá ser visto como o maior bloco
econômico do mundo (APEC, 2013).
No entanto, a iniciativa de reunir todas as economias
que circundam o Pacífico, não tem obtido muito êxito, ou
tanto quanto poderia devido ao seu potencial econômico, por
causa de questões como as diferenças regionais, econômicas e
políticas dos seus membros. É um desafio transforma a região
do Pacífico em uma área de livre comércio, porque envolvem

70 Licenciatura em Ciências Sociais


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Geografia Humana

diferencias de toda natureza (herança cultural, conflitos


armados, conflitos políticos etc) e não há como deixar de
lado os conflitos que historicamente marcaram países como
a China, Japão e EUA. Disciplina 4

4.2.5 Associação das Nações do Sudeste


Asiático (ASEAN)

Fig. 16 – Mapa dos países da ASEAN


Fonte: http://www.asean.or.jp/en/asean/know/base/outline

Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) foi


criada a partir da declaração de Bangkok (1967) um acordo
firmado inicialmente entre os países da Indonésia, Malásia,
Finlândia, Tailândia e Cingapura. A finalidade consiste em
desenvolver uma zona de livre-comércio para aumentar a
competitividade na região com ampliação do comércio. Nesse
sentido, asseguraria a estabilidade política da região através
da aceleração do crescimento econômico, do progresso social
e do desenvolvimento cultural (ASEAN, 2013).
A atualmente ASEAN conta com participação de dez
países, sendo (ver fig.16) incluídos após a sua formação
os países Brunei (1984),  Vietnã (1995), Laos e Mianmar
(1997), Camboja (1999). O processo de implantação da
ASEAN iniciou em 1992 e ocorre de forma gradativa. Os
acordos versam sobre a redução de tarifas, de produtos não
agrícolas, no comércio entre os países membros.

Licenciatura em Ciências Sociais 71


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Os países membros apresentam grau de desenvolvimento


econômico diferenciado, como exemplo Mianmar que tem
uma renda per capita de US$ 104. Enquanto, Cingapura
apresenta a renda per capita de US$ 20 mil. No entanto,
para Vizentini e Grassi (2007, p.01) “a Asean representa o
mais avançado e bem encaminhado processo de integração
regional nascido no terceiro mundo”. Para os referidos
autores, o sucesso do processo de integração no aspecto
econômica pode ser verificado no aumento do total de
exportação dos países-membros de US$ 11 bilhoes 1967 para
1,05 trilhões em 2004 e pelo aumento da participação da
região no comércio mundial de 2,5% para 5,6% no mesmo
intervalo de tempo (VIZENTINI;GRASSI (2007).
Na verdade, a parcela de contribuição de cada
país membro varia consideravelmente, uma vez que as
disparidades internas são significativas. No campo político,
existe ainda uma pressão exercida pelo ocidente, sobretudo
a União Europeia em relação ao princípio de não intervir,
que desde os primórdios tem sido um dos pilares da
ASEAN, no sentido de evitar que sejam tomadas medidas
antidemocráticas por parte de seus membros. E importante
ressaltar que, politicamente, a associação funciona como um
fórum, que tem sido imprescindível em resolver problemas
regionais dentro do “jeito asiático” (VIZENTINI; GRASSI
(2007) .

Saiba Mais
Leitura Complementar:

ASEAN-Japão Relações em http://www.asean.or.jp/en/


asean/know/relation.html

O livro “Manual do Candidato” da autora Bertha Becker


(2009) aborda no capítulo Geografia Econômico aspectos
relacionados a Formação e estrutura dos blocos econômicos
internacionais; a zona de livre comércio; União Aduaneira;
Mercado Comum e União Econômica. Disponível em http://
www.dominiopublico.gov.br/download/texto/al000010.pdf

72 Licenciatura em Ciências Sociais


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Geografia Humana

Avaliação

Disciplina 4

Fig.17 Mapa Mundi dos produtos globalizados


Fonte: http://revistaculturacidadania.blogspot.com.br/2012/06/

artigos-para-compreender-globalizacao.html

Podemos observar (Fig.17) que atuação das empresas


globais não têm fronteiras, demonstrando as novas formas
institucionalizadas para explorar o mercado mundial. Para
análise Joseph E. Stiglitz (Prêmio Nobel de Economia, em
2001), em seu livro “A Globalização e seus malefícios”,
aborda sobre o efeito devastador da globalização, em
especial sobre países em desenvolvimento. Então, a partir do
autor identifiquem como se manifestam no contexto mundial
as seguintes afirmativas:

a
Exercício de Aprendizagem
A partir de consulta aos sites das Organizações
Internacionais para o comércio identifique a forma adotada
por cada um em desenvolver-se enquanto zona de livre
comércio; União Aduaneira; Mercado Comum e União
Econômica e suas principais características:
a)União Europeia (UE);
b)Acordo de Livre Comércio da América do Norte
(NAFTA);
c)Mercado Comum do Sul (MERCOSUL);
d)Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico (APEC);
e)Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN);

Licenciatura em Ciências Sociais 73


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a) Instituições internacionais como FMI, Banco Mundial


e OMC formulam regras obrigam ou pressionam as nações
mais pobres do mundo a colocar em prática idéias como a
liberalização de mercados de capitais (STIGLITZ, 1999);

b) A partir de 1980, observamos uma intensificação do


processo de internacionalização das economias capitalistas,
que se convencionou chamar de globalização. Algumas das
características distintivas desse processo são a enorme
integraçãodosmercadosfinanceirosmundiaisecrescimento
do comércio internacional, principalmente dentro de grandes
blocos econômicos (STIGLITZ, 1999).

c) A liberalização de mercados de capitais e financeiros


contribuiu para as crises financeiras globais da década de
1990 e pode levar um pequeno país emergente à devastação
(STIGLITZ, 1999).

a
Resumo do Tema
A organização do comércio internacional data do século
XIX, quando começou a definir formas e procedimentos
normativos para as relações internacionais do comércio.
Assumindo feições mais complexas, em determinados
períodos, como podemos ilustrar com a criação das
instituições internacionais criadas para conduzir no Mundo
acordos comerciais e financeiros deliberados entre os
países membros ou participantes dessas organizações. À
medida que as relações entre os países intensificam-se,
novas exigências se impõem aos interesses econômicos
que se desdobrando em novos acordos econômicos
internacionais com a criação da União Europeia (UE); Acordo
de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA); Mercado
Comum do Sul (MERCOSUL); Cooperação Econômica
da Ásia e do Pacífico (APEC); Associação das Nações do
Sudeste Asiático (ASEAN). Assim, a formação de grupos
ou organizações de caráter regulador da política comercial
traduz-se em denominações anunciadas de Globalização,

74 Licenciatura em Ciências Sociais


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nova ordem mundial, enfraquecimento dos Estados


nacionais e fim das fronteiras como expressões recorrentes
no discurso político, econômico e do direito internacional.
É nesse contexto, que organizações internacionais como Disciplina 4
o Fundo Monetário Internacional (FMI), Organização das
Nações Unidas (ONU), Organização Mundial do Comércio
(OMC), essas instituições surgem com o entendimento de
que os direitos, deveres e condições sócioeconomicas dos
países não podem mais ser vistos como problemas isolados,
mas com influencia ordem global, precisam de alguns
mecanismos para ser regulados.

Referências
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blocoseconomicos/asean.htm. Acesso em: 21 jan. 2013.
CONECTAS DIREITOS HUMANOS. Guia prático sobre
a OMC e outros acordos comerciais para defensores dos
direitos humanos. (2007).São Paulo, Disponível em: www.
oxfam.org. Acesso em: 03 fev.2013.
COOPERAÇÃO ECONÔMICA DA ÁSIA E DO
PACÍFICO (APEC). Disponível em: http://www.suapesquisa.
com/blocoseconomicos/apec.htm Acesso em: 02 jan. 2013.
CRUZ, Sebastião Velasco. Comércio internacional
em um mundo partido: o regime do GATT e os países
em desenvolvimento. Centro de Estudos de Cultura
Contemporânea. São Paulo: CEDEC No. 77, 2005.
Disponível em: http://www.cedec.org.br/files_pdf/CAD77.
pdf . Acesso em: 02 dez. 2012

GASPAR, Sofia; HARO, Fernando Ampudia de. Reflexões


e paradoxos sobre a identidade e a mobilidade europeias. In:
Revista Migrações, Lisboa, Abril 2011, n.º 8: ACIDI, p. 9-26.
GEIGER, Pedro Pinchas. Identidade continental
Americana. In. LEMOS, A . I. G.; SILVEIRA, M.L.; ARROYO,
M. Questões territoriais na América latina. Buenos Aires:
CLACSO, São Paulo, 2006.
KONNO ROCHOLL, Nataly Evelin. A história da
valoração aduaneira no GATT/OMC. In: Âmbito Jurídico, Rio
Grande, XII, n. 61, fev 2009. Disponível em:

Licenciatura em Ciências Sociais 75


Livro de Conteúdo
Geografia Humana

<http://www.ambito-uridico.com.br/site/index.php?n_
link=revista_artigos_leitura&artigo_id=5419>. Acesso em:
04 jan 2013.
MARTINS, Maria. Ásia Maior : o planeta China / Maria
Martins; prefácio de Oswaldo Aranha. — 2ª edição. —
Brasília : Fundação Alexandre de Gusmão, 2008. Disponível
em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/
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OBERNAUER, Charlene.Oqueestamosesperando? Livre
Comércio, Sindicatos, e luta por bons empregos. Disponível
em: http://neverneutral.net/2013/01/23/what-are-we-
waiting-for-free-trade-unions-and-the-fight-for-good-jobs/
Acesso em 02 jan. 2013.
PORTO, C.L.; FLÔRES, R. Teorias e políticas de
integração na União Europeia e no Mercosul. Ed. FGV. São
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UNIÃO EUROPEIA. Jornal Oficial da União. Versões
Consolidadas do tratado da união europeia e do tratado que
institui a comunidade europeia. 2006. Disponível em: www.
ecb.int/ecb/legal/pdf. acesso em: 03 dez. 2012.
VIZENTINI, P. F.; GRASSI, A. S. A Associação das Nações
do Sudeste Asiático (ASEAN): integrar para sobreviver entre
dois gigantes. SP, 2007. Disponível em: http://rsi.cgee.org.
br/documentos/4026/1.PDF. Acesso em: 03 fev. 2013.

76 Licenciatura em Ciências Sociais


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MÓDULO II
CONHECER A PROBLEMÁTICA ESPACIAL
INTRÍNSECA AOS PROCESSOS DE Disciplina 4
APROPRIAÇÃO/EXPROPRIAÇÃO DOS PAÍSES
DO SUL

Licenciatura em Ciências Sociais 77


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Nossa aula tem como objetivo refletir a problemática


espacial a partir da Divisão Internacional do Trabalho
diretamente relacionada com desenvolvimento das atividades
produtivas e avanço tecnológico no Mundo.

Introdução

A divisão internacional do trabalho atravessou fases


diferentes que estão associadas ao desenvolvimento das forças
produtivas e acumulação do capital, sobretudo nos países
desenvolvidos. Assim, o avanço tecnológico configurou novas
relações no mundo do trabalho, levando a uma nova divisão
internacional oriundas das transformações do capitalismo
industrial e financeiro criando novas bases para às relações
Estado e mercado. Numa perspectiva econômica o mundo
dividido em países do Norte (ricos) e países do Sul (pobres).
Sendo que aos países do Norte aqueles que comando do
processo de industrialização e difusão tecnológica. Enquanto,
os países do Sul a herança colonial e uma industrialização
tardia, assumindo a condição de exportadores de produtos
primários. A maioria dos países do Sul está concentrada nos
continentes africano, asiático e América latina.

A divisão internacional do trabalho:


desenvolvimento econômico e social

Podemos inicialmente explicar que a Divisão Internacional


do Trabalho (DIT) ocorreu com a descolonização da Ásia e da
África, na fase do capitalismo comercial (Fig.01). Os novos
países que surgiram nesses continentes passaram a fazer parte
dos países subdesenvolvidos juntamente com as colônias
da América. A evolução da DIT obedece às novas relações
entre os países desenvolvidos e os países subdesenvolvidos
não industrializados. Em cada fase, os países desenvolvidos
entravam com produtos industrializados, investimentos
e concessão de empréstimos. Enquanto, os países
subdesenvolvidos com a matéria-prima e, sobretudo a força
de trabalho (POCHMANN, 2013).

78 Licenciatura em Ciências Sociais


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Disciplina 4

Fig.01 – Evolução da divisão internacional do trabalho


(DIT)
Fonte:http://www.google.com.br/search?hl=pt-

BR&gsrn=3&gs_ri=psy-ab&pq=mega+sena+1466&cp=9&gs_id

=26&xr=t&q=divisão+internacional+do+trabalho.

As últimas fases do capitalismo (Fig. 01) mostram o


grau de evolução produzida desde a DIT clássica até fase
da globalização. E de como essas relações se mantém em
diferentes contextos históricos no mundo do trabalho e nos
diversos territórios. Apesar de encontrar-se subordinada ao
desenvolvimento das atividades produtivas, a capacidade de
absorver uma maior ou menor quantidade de trabalhadores
não depende exclusivamente da expansão de cada país,
mas do padrão de desenvolvimento econômico nacional
(POCHMANN, 2013).

Licenciatura em Ciências Sociais 79


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Geografia Humana

Desta forma, as profundas transformações do capitalismo


neste final de século tem gerado discussão entorno da
globalização e de seus efeitos sobre Estados nacionais,
empresas, economias e trabalhadores. Assim, a DIT da nova
ordem mundial estabelecida pelo processo de industrialização
dos países subdesenvolvidos começou a exigir um novo tipo
de DIT. Essa nova divisão internacional do trabalho é muito
mais complexa, envolvendo o fluxo de mercadorias e capital
de ambos os lados. (POCHMANN, 2013)
Diante do contexto, novos conceitos são introduzidos
com a finalidade de dar conta das novidades que interferem
no quotidiano da população, como nova economia,
sociedade do conhecimento, economia digital entre outros.
Principalmente, em relação ao tema do trabalho, o debate
atual sobre a globalização sustenta-se sob fundamentos
divergentes quanto à perspectiva do emprego, possibilitando
encontrar interpretações contraditórias, que indicam aspectos
positivos como negativos.
Para a compreensão da Divisão Internacional do Trabalho
(DIT), faz-se necessário refletir a respeito da repartição do
trabalho no mundo, dividindo a DIT em três fases que reúne
aspectos do avanço das forças produtivas e o aprofundamento
da liberalização comercial, a desregulamentação financeira
e a força de trabalho, bem como da reformulação do papel
do Estado, da revolução tecnológica e das novas formas
de organização da produção propiciadas pelas grandes
corporações internacionais (POCHMANN, 2013).

1.1 A primeira Divisão Internacional do


Trabalho: capitalismo comercial

A primeira Revolução Industrial (1780-1820), surgi na


Inglaterra visto como um país de industrialização originária,
rapidamente transformou-se na grande oficina do mundo
ao longo do século XIX. A combinação entre o poder
militar já existente e as formas superiores de produção
industrial naquela oportunidade possibilitou à Inglaterra
assumir uma posição de hegemonia na economia mundial
(POCHMANN, 2013).

80 Licenciatura em Ciências Sociais


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Geografia Humana

É interessante ressaltar que a fase anterior a


industrialização ( protoindustrialização) em que as indústria
rurais gradativamente espalhar-se nos respectivos mercados
e produzem para exportação. As formas de indústria rural Disciplina 4
persistiram durante muito tempo e a Revolução Industrial,
caracterizada pela rápida mecanização do algodão e pela
introdução do vapor, só atingiu efetivamente um número
reduzido de regiões. Mas a lógica da mecanização favoreceu
a concentração e impôs a fábrica que se tornou comum
a Inglaterra e, posteriormente, nos países da Europa
(BRASSEUL, 2012).
Adoção do novo modo de produção caracterizado
pela concentração socioespacial, tanto das fábricas quanto
do controle dos trabalhadores, diretamente ligado a uma
dimensão do volume de produção, a divisão do trabalho, a
mecanização e por uma nova fonte de energia: o carvão.

Fig. 02- As minas de carvão do século XIX


Fonte: http://gazetajovem.blogspot.com.br/2011/01/as-minas-sec-xix.html.

A ilustração (Fig.03) mostra os trabalhadores nas minas


de carvão do século XIX, com o formato de galerias estreitas
e pequenas não havendo espaço para colocar máquinas e às
vezes utilizando a mão de obra infantil para chegar até as
galerias mais estreitas onde não entrava um adulto.
Além das novas unidades produtivas como o exemplo
da exploração das minas de carvão, a relação trabalhista
expande-se com o emprego assalariado mudando as
relações empregador/empregados, patrão/operários, e
consequentemente aflorando conflitos na divisão do
produto do trabalho, visto como um dos aspectos essenciais

Licenciatura em Ciências Sociais 81


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do capitalismo industrial. Em vez de pagar pelo produto


pronto, como no sistema antigo, o que equivale a controlar a
produção, porque o empresário não pode fiscalizar o trabalho
fornecido ao domicilio nem as matérias-primas utilizadas,
pagará agora à hora ou dia, pois pode controlar o tempo de
trabalho dos assalariados (BRASSEUL, 2012).
Desse modo, o empresário passa a dominar os fluxos de
consumos intermédios e controla, ao contrário do sistema
anterior. Permite tornar a produção regular e homogênea e o
pagamento pelo produto pronto desaparece progressivamente
com a generalização das fábricas. O que implicou em uma
mudança radical nos modos de vida que anuncia as sociedades
modernas. Contudo, é importante ressaltar que:
(...) isso ocorreu de maneira distinta no tempo,
marcando uma transição do processo de
industrialização originário (Inglaterra) ao atrasado
(Alemanha, EUA, França, Japão e Rússia). Na
primeira metade do século XIX, por exemplo,
países como Alemanha e Estados Unidos
internalizaram o modelo inglês de produção e
consumo, enquanto no pós-1870 outro pequeno
bloco de países como Japão e Rússia também teve
êxito na cópia do padrão de industrialização inglês.
Mas nessa passagem, esteve em curso uma segunda
Revolução Industrial e Tecnológica, com graus
de exigência de internalização bem superiores
(POCHMANN, 2013, p.11)

O processo de industrialização, iniciado na Inglaterra


espalha-se pelo continente europeu e para outros continentes,
mas não de forma homogênea. E à medida que aumenta o
grau de evolução tecnológica altera sua dinâmica no tempo
e no espaço. Como ocorre com a descoberta da máquina a
vapor uma forma de energia nova que é móvel, não sendo
necessário colocar as indústrias no campo, perto dos cursos
de água e das florestas, para dispor de matérias-primas e de
energia. A indústria pode ser instalada perto dos locais de
consumo como as cidades, que são fornecedoras de mão de
obra e baixar os custos com o transporte, não deixando de
aumentar a produtividade mediante uma organização mais

82 Licenciatura em Ciências Sociais


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Geografia Humana

racional que explora todas as possibilidades da divisão do


trabalho.
A mão de obra também difunde a tecnologia através da
própria migração de profissionais mestres de ofício, sendo Disciplina 4
que alguns poucos países puderam internalizar a produção
decorrente da primeira Revolução Industrial e Tecnológica
(máquina a vapor, tear e ferrovia), passando a formar também
parte do centro capitalista mundial durante o século XIX.
A maior escala de produção advinda do processo industrial
de novos meios de produção (energia elétrica, automóvel,
química, petróleo, aço, entre outros) requeria grandes
aportes de investimentos e levada escala de produção,
somente realizados através de um movimento centralizador e
concentrador do capital (POCHMANN, 2013).
As dificuldades de acesso à tecnologia da segunda
Revolução Industrial tornaram mais complexas as
possibilidades de transição dos países periféricas para os
países do centro capitalista. Assim, entre 1890 e 1940, as
exportações mundiais de produtos manufaturados estavam
concentradas em apenas em alguns países (Inglaterra, Estados
Unidos, França, Japão e Alemanha) que respondiam por
cerca de 80% do total do comércio internacional (CHIROT,
1977 apud POCHMANN, 2013).
Desse modo, países como a Alemanha, Estados Unidos,
França e Inglaterra, juntos somam apenas 13% da população
mundial, no entanto, foram responsáveis por 74% da
produção total de manufatura do mundo durante o início
do século XX (CHIROT, 1977 apud POCHMANN, 2013).
Enquanto, o emprego industrial, que de forma geral, revela
relações de trabalho e de remuneração menos precárias, estão
concentrados em poucos países, ao passo que 75% do total
da ocupação no setor primário estão associadas às economias
de países periféricas.

Licenciatura em Ciências Sociais 83


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1.2 A segunda Divisão Internacional


do Trabalho: capitalismo industrial e
financeiro

No início do século XX, a Inglaterra passou a registrar


sinais de fragilidade na condição de potência hegemônica,
devido às duas guerras mundiais e, principalmente, pela
crise econômica em 1929. Os Estados Unidos, que se
apresentavam como a principal economia do centro
capitalista, não demonstrava interesse em assumir a posição
de nação hegemônica, ocupada até então pela Inglaterra.
É a partir do pós-guerra que os Estados Unidos
assumiram a posição de nação hegemônica, porém num
cenário internacional até então desconhecido. A revolução
Russa de 1917 introduzia no mundo um modelo de produção
distinto do capitalista, e que posteriormente iria atingir 1/3
de toda população mundial, esteve em curso uma estratégia
de desenvolvimento socialista, o que distinguia do quadro
de relações internacionais que predominava até então, de
possibilidade de crescimento econômico somente capitalista.
Apesar de certa coexistência pacífica entre os dois modelos de
produção dividindo países capitalistas e socialistas, as relações
internacionais caracterizaram-se entre 1947 e 1989 por
significativas tensões, favorecendo, em parte, a consolidação
e o aprofundamento do bloco soviético (POCHMANN,
2013).
A nova divisão internacional do trabalho sob-hegemonia
Norte-americana intensificou o desenvolvimento tecnológico
acelerando a rápida transnacionalização do capital norte
americano após a Segunda Guerra Mundial, que resultaram
na disseminação mundial de seus processos de produção.
Esta projeção do capital norte-americano sobre a economia
internacional deu origem ao reerguimento industrial europeu
e o surgimento de novos países industrializados no chamado
Terceiro Mundo, especialmente na Ásia, no subcontinente
eurasiano e na América do Sul.
Para Pochmann (2013) o contexto geopolítico das
relações capitalistas possibilitou a conformação de uma
semi-periferia ainda parcialmente industrializada, além de
promover o esvaziamento de antigas potências coloniais

84 Licenciatura em Ciências Sociais


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como Reino Unido, França, Bélgica, Holanda e Portugal.


Assim, uma fase de descolonização ocorreu promovida por
fatores tanto de ordem interna quanto de ordem externa,
com a emancipação de países como Indonésia (1945), Disciplina 4
Filipinas (1946), Índia (1947), Coreia (1949), Vietname
(1954), Marrocos (1956), Zaire (1960), Nigéria (1960),
Kuweit (1961), Argélia (1962), Malásia (1963), Singapura
(1965), Guiné-Bissau (1974), entre outros.

Por conta disso, uma segunda Divisão Internacional


do Trabalho foi sendo maturada pela constituição
de um bloco de países semi-periféricos que
teve o apoio de uma ordem econômica mais
favorável à difusão geográfica do padrão de
industrialização norte-americano. O papel das
agências multilarerais na regulação das relações
internacionais (ONU, BIRD, FMI, GATT) esteve
voltado para a contenção da valorização financeira
(fictícia) do capital, através da estabilidade do
padrão monetário, que se sustentava, naquela
oportunidade, no sistema ouro-dólar, nas taxas
fixas de câmbio e de juros e no controle dos bancos
(POCHMANN, 2013, p.12).

A segunda Divisão Internacional do Trabalho caracteriza-


se também pelo ingresso dos países periféricos que passaram
a adotar o modelo norte americano de industrialização,
incentivados e comandados pelos organismos internacionais.
Enquanto, o centro do capitalista é reforçado pelo programa
norte-americano de reconstrução européia e japonês, entre
os objetivos, a redução da área de influência soviética e
viabilização da expansão econômica pós-1945. Dessa forma,
os países periféricos dependentes da relação tradicional de
produtores e exportadores de bens primários e importadores
de produtos manufaturados, teve um pequeno subconjunto
de nações que ingressaram no estágio de produtores e até
exportadores de produtos manufaturados (PINTO, 2010).
A industrialização dos países semi-periféricos resultou
da combinação entre os esforços das elites internas e a
oportunidade de ter o seu espaço geográfico nacional

Licenciatura em Ciências Sociais 85


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privilegiado pela concorrência das grandes empresas


transnacionais. Assim, a periferização da indústria ocorreu,
em grande medida, sob a liderança do Estado, através da
expansão e proteção do mercado interno, o que permitiu
a rápida passagem da fase agrária-exportadora para o
desenvolvimento industrial (POCHMANN, 2013).

1.3 A terceira Divisão Internacional do


Trabalho: capitalismo financeiro (após a
2ª Guerra Mundial).

É a partir da década de 1970 que ocorre mudanças


substanciais na Divisão Internacional do Trabalho,
provocado principalmente por dois fatores estruturais no
centro do capitalismo mundial. O primeiro, associado ao
processo de reestruturação produtiva, acompanhado por
uma nova Revolução Tecnológica. E segundo, a expansão
dos investimentos diretos no exterior. Esses fatores são
intensificados no processo de globalização visto como
um fenômeno bem mais complexo e multifacetado, que
envolve aspectos sociais, econômicos, políticos, culturais,
institucionais e tecnológicos, todos eles inter-relacionados
(BECKER, 2006).
A concorrência intercapitalista é aprofundada gerando
uma maior concentração e centralização do capital, seja nos
setores produtivos, seja no setor bancário e financeiro. Assume
uma maior importância o papel das grandes corporações
transacionais que configuram a formação de:

(...) oligopólios mundiais, responsáveis pela


dominação dos principais mercados, como é o
caso no setor de computadores com apenas 10
empresas controlando 70% da produção, ou de 10
empresas que respondem por 82% da produção de
automóveis, ou de 8 empresas que dominam 90%
do processamento de dados, ou de 8 empresas que
dominam 71% do setor petroquímico ou ainda
de 7 empresas que respondem por 92% do setor

86 Licenciatura em Ciências Sociais


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de material de saúde (CHESNAIS, 1996 apud


BUSATO; PINTO, 2013).

A concentração e a centralização do capital possibilitou a Disciplina 4


formação dos oligopólios mundiais que passaram a dominar
o mercado internacional. O avanço do modo de produção
capitalista nos territórios configurou uma nova divisão
(fig.04) que divide o mundo entre pobres e ricos, sendo
os países do Norte, antes denominados de desenvolvidos
ou industrializados (ricos) e países do Sul, anteriormente
os subdesenvolvidos, Terceiro Mundo (pobres). Assim, os
países do Norte criaram novos polos industriais e imensas
contradições, ao sustentar a coesão do capitalismo como um
sistema econômico articulado em nível mundial.

Fig. 03 – Divisão socioeconômico norte e sul


Fonte: http://www.google.com.br/search?q=divisão+eco

nomica+do+mundo+norte+e+sul&hl=pt-BR&tbo

É importante explicar que a industrialização periférica foi


uma industrialização diferenciada, duplamente restringida,
quanto à abrangência geográfica e quanto à abrangência
tecnológica. Além do aspecto espacial, o processo ocorre
tardiamente e aprofunda verticalmente a divisão internacional
do trabalho nas relações Norte-Sul. Aqueles países (Norte)
que detém os meios de produção e aqueles países (Sul)
que ingressam com a força de trabalho barata. Enquanto,
nas relações Norte-Norte havia um aprofundamento
horizontal. Com o rompimento da bipolaridade (socialismo
versus capitalismo) novos países industrializados e países
subdesenvolvidos que se industrializaram, saindo da condição

Licenciatura em Ciências Sociais 87


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de países primário-exportadores, embora não chegaram à


situação de países desenvolvidos (BUSATO; PINTO, 2013).
Apontaremos agora algumas características dos países
desenvolvidos; dos países subdesenvolvidos industrializados;
dos países subdesenvolvidos não-industrializados que reflete
a nova divisão internacional do trabalho:

Países Características

Desenvolvidos Trocam entre si produtos industriais


tradicionais, à base de tecnologias de uso
difundido, e produtos de P&D; exportam
produtos industriais tradicionais e de
P&D para os subdesenvolvidos em geral,
industrializados ou não.

Subdesenvolvidos Exportam produtos primários e industriais


Industrializados tradicionaisparaosdesenvolvidos;exportam
produtos industriais tradicionais para os
subdesenvolvidos não industrializados.

Subdesenvolvidos Exportam produtos primários para os


nãoIndustrializados subdesenvolvidosindustrializadoseparaos
desenvolvidos.

Fig. 04 Quadro das características dos países:


desenvolvidos, subdesenvolvidos industrializados e
subdesenvolvidos não industrializados.
Fonte: BUSATO; PINTO (2013)

É interessante mencionar que esta redivisão internacional


do trabalho, não se limita apenas aos fluxos comerciais,
mas envolvem relações primárias desiguais entre os países
desenvolvidos e subdesenvolvidos não-industrializados,
e entre os países desenvolvidos e os subdesenvolvidos de
industrialização recente, através do comércio de produtos
industriais tradicionais e produtos primários. Essas trocas
desiguais primárias foram reproduzidas em um patamar mais

88 Licenciatura em Ciências Sociais


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elevado entre os países desenvolvidos e os subdesenvolvidos


industrializados através do comércio de produtos P&D e
produtos industriais tradicionais. Além de recriar trocas
desiguais primárias entre os países subdesenvolvidos de Disciplina 4
industrialização retardatária e os subdesenvolvidos não-
industrializados (BUSATO; PINTO, 2013).

1.4 América Latina: permanências e


mudanças

Fig. 05 – Mapa da América Latina


Fonte: http://www.google.com.br/search?q=América+latina+e+divisão+inter
nacional+do+trabalho&hl=pt-BR&bav=on.2,or.r_gc.r_pw.r_qf.&biw=1280&bih

É denominado de América Latina aqueles países que


derivam do latim como o português, o francês e o espanhol.
São línguas faladas em diversas partes do continente
americano como na América Central, América do Sul e na
América do Norte, somente o México. Esses países de língua
latina integram a América Latina e têm semelhanças comuns
quanto à condição de subdesenvolvimento, tais como
economia fragilizada e atrasada, problemas sociais e políticos
(PINTO, 2010).

Licenciatura em Ciências Sociais 89


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O desenvolvimento econômico da América Latina


constituiu-se na base da agricultura de subsistência,
incluindo ainda caça, pesca e coleta. Alterado com a chegada
dos colonizadores europeus, grande parte dos países latinos
passaram a cultivar produtos destinados à exportação, com
o objetivo de obter lucro. Assim, colonização de exploração
é uma característica predominante no período que vai do
século XVI ao século XVIII, cujo objetivo principal consistiu
no enriquecimento das metrópoles colonizadoras a partir do
esgotamento dos recursos naturais disponíveis nas colônias
e da produção de bens agrícolas primários a baixos custos,
sem a intenção inicial de constituir territórios com dinâmica
econômica própria (PINTO, 2010).
A herança do processo de colonização deixou marcas que
ainda hoje podem ser identificadas nas atividades produtivas
de vários países da América Latina, como: Venezuela, Chile,
Peru, Bolívia e Equador que têm as matérias-primas como
produto principal de seu setor exportador. Outros países,
como exemplo, a Argentina e o Brasil que já desenvolveram
um setor industrial, ainda que suas exportações e sua produção
industrial permaneçam centrados em grande medida em bens
primários e de pouco valor agregado. Podemos destacar que:

A América Latina torna-se também uma grande


exportadora de matérias-primas: 90% da produção
mundial de café (só por si o Brasil fornece mais
de 80%), 60% da produção de borracha por volta
de 1900, enquanto as exportações de açúcar,
cereais, produtos derivados da criação de animais
e os produtos minerais (cobre, nitrato do Chile,
estanho da Bolívia, petróleo de México) conhecem
uma rápida expansão. As indústrias aparecem
igualmente durante esse período, graças à expansão
das exportações, sendo as receitas externas
reinvestidas nas indústrias alimentares, têxteis,
minerais, químicas e mecânicas, na indústria de
papel ou nas cimenteiras. Surgem concentrações
industriais em redor de São Paulo, Buenos Aires,
Santiago do Chile, Cidade do México, etc. A Guerra
de 1914-1918 provoca aceleração considerável

90 Licenciatura em Ciências Sociais


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Geografia Humana

dessas primeiras indústrias do Terceiro Mundo,


graças às exportações para a Europa (BRASSEUL,
2012, p.224).
Disciplina 4
Embora alguns países da América Latina, tenham
desenvolvidos seu setor industrial, ainda mantém fortes
laços com a herança colonial nos aspectos econômicos
e sociais, cujos produtos exportados predominam os de
origem primária além de dependência do capital estrangeiro.
No campo social, a América latina sofre de uma enorme
desigualdade, um fenômeno que se manifesta na vida de
seus povos, ainda com dificuldades de acesso a educação, a
saúde e aos serviços públicos, acesso a terra, as possibilidades
de financiamento e créditos e o ingresso no mercado formal
(SOUZA, 2006).

1.5 A Ásia do leste e Sudeste

Fig. 06 – Mapa do continente asiático


Fonte: http://passadaslargas.blogspot.com.br/2010/11/asia.html

O continente asiático reúne mais 40 países, considerado


o maior em extensão com 8,6% da superfície planetária,
assim como é o mais populoso com mais de 60% da
população do mundo, sendo que a explosão demográfica
“clássica” emerge na segunda metade do século XX. O peso
demográfico do continente da Índia à China, da Indonésia
às Filipinas, contam com mais dois de bilhões e meio de

Licenciatura em Ciências Sociais 91


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pessoas. A origem da maioria de seus habitantes é da zonal


rural, mas a população urbana não cessa de crescer desde a
metade do século XX, em um ritmo sustentado por um fluxo
maciço de camponeses em direção as cidades. As cidades
são frequentemente de origem antiga, nascidas de tradições
urbanas anteriores à penetração europeia do século XVI. O
processo de industrialização se acelera após a década de 1980
em um contexto neoliberal e uma mundialização das trocas
que atraem investimentos das grandes potências para esses
territórios, onde os salários são bastante baixos e o mercado
importante para sobrevivência dos habitantes da cidade.
Embora, a dominação dos países industriais no século XIX
toma forma variadas, da colonização da Índia ou da Indonésia
com à abertura comercial da China (ROCHEFORT, 2008).
No contexto geral dos países asiáticos as aglomerações do
Sudeste, apesar do aumento do Produto Interno Bruto (PIB)
por habitante, são incapazes de enfrentar os desafios de sua
evolução. De todo modo, a elevação do nível de vida médio
é uma condição indispensável a toda marcha em direção ao
progresso socialmente generalizado. A pobreza de Calcutá,
como de outras cidades da União indiana, permanece como
um grande obstáculo (ROCHEFORT, 2008).

1.6 África Subsaariana: os territórios da


pobreza

A África Subsaariana (ASS) corresponde à região do


continente africano que se estende desde o Sahel até o
extremo Sul. A região está subdividida em cinco zonas:
África Ocidental, África Meridional, África Central, África
Oriental, África do Índico. Os países caracterizam-se
pelo baixo rendimento, e alguns apresentam indicadores
socioeconômicos abaixo das expectativas com carências nos
setores básicos como saúde, educação e transportes, e grande
parcela de suas populações vive abaixo da linha da pobreza
(FERNANDES, 2013). Ainda podemos destacar que:

Na região em análise, entre 65 a 75% da população


residem nas áreas rurais com escassez de recursos

92 Licenciatura em Ciências Sociais


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tecnológicos suficientes, instituições públicas,


infra-estrutura e uma força de trabalho a altura
das suas necessidades. Ademais, um terço da
população subsaariana (cerca de 200 milhões de Disciplina 4
pessoas) dorme com fome e; milhões de crianças
com menos de cinco anos de idade sofrem da
mal nutrição. O problema da fome é agravado
pela pobreza, guerras civis e militares, golpes de
estado e algumas doenças que poderia ser evitadas
(FERNANDES, 2013, p. 90).

Na verdade, ASS apresenta de forma expressiva a


herança do processo de colonização e exploração de seus
territórios. No contexto atual o crescimento e o monopólio
dos grandes conglomerados industriais, intensificados com
a globalização, juntamente com a questão da maioria da
população receber valores demasiadamente baixos por sua
força produtiva, aumentaram de maneira surpreendente a
centralização da renda em poder de poucos, principalmente
entre os países menos desenvolvidos (CARDOSO et al.,
2009 apud FERNANDES, 2013). Nesse sentido, a pobreza
na ASS esta associada a diversos fatores, e entre eles, as guerras
civis que causam a destruição das escassas infraestruturas e a
desestruturação econômica.
A pobreza ainda afeta milhões e milhões de pessoas no
mundo e agravada pelo constante aumento do desemprego,
sendo que na ASS, o progresso tecnológico e a entrada de
grandes empresas estrangeiras, reduziram drasticamente a
necessidade de força produtiva humana, principalmente
nas indústrias e empresas com altos níveis tecnológicos. É
uma região com alto índice de analfabetismo e crescimento
demográfico alarmante, as incidências da pobreza se tornam
ainda mais impactantes do que o previsto (FERNANDES,
2013).
A globalização e marginalização em nenhum outro
lugar a necessidade de passar a uma integração regional
e global mais urgente do que na ASS. Embora, apresente
um vigoroso crescimento dos últimos anos, continua em
grande parte marginalizada, numa perspectiva mundial.
Mesmo atingindo quase 15% da população mundial, a ASS

Licenciatura em Ciências Sociais 93


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aporta cerca de apenas 1,5% do rendimento global e 2% do


comércio mundial.

1.7 A diversidade do sul: a herança


colonial

A dinâmica mundial alimentada pelas relações


internacionais entre os países e/ou territórios, revelam-se
em diferentes períodos, seu caráter desigual e articulado
entre as colônias e as metrópoles; os países capitalistas e
os países socialistas (conflitos ideológicos); centro (países
ricos) e periferia (países pobres); os países desenvolvidos e
os países subdesenvolvidos; e os países do Norte e os países
do Sul (condição econômica). Estas expressões interpretam a
condição social, política e econômica. E ainda, os chamados
subdesenvolvidos tornaram países em desenvolvimento ou
países do Terceiro Mundo.
No entanto, a denominação Terceiro Mundo ou terceiro-
mundismo, nasceu na Conferência Afro-Asiática de Bandung,
onde reuniu 24 Estados independentes da Ásia e da África,
motivado pela contestação no campo político, da influência
da ONU e da não aceitação a subordinar-se as superpotências
nucleares. A conferência produz a Carta de Bandung em que
define dez princípios políticos entre eles estão: os direitos
humanos e a denúncia do racismo, a igualdade entre as nações,
o respeito à soberania e a autodeterminação dos Estados, a
necessidade de solução pacifica dos conflitos internacionais e
o direito de não participar nos mecanismo de defesa coletiva
controlados pelas superpotências. Nesse sentido, o Terceiro
Mundo mostrou-se como lado tradicional da “confrontação
leste-oeste, o sistema internacional conhecia uma rivalidade
norte-sul, que refletiu um mundo dividido entre potências
industrializadas e países exportadores de produtos primários”
(MAGNOLI, 2004, p. 129).
Exceto a expressão Terceiro Mundo que assumiu uma
articulação internacional, as demais denominações de
subdesenvolvidos ou Sul são usados para classificar os países
pobres que foram submetidos aos processos de dominação
e exploração semelhantes, que reúne três aspectos comuns:

94 Licenciatura em Ciências Sociais


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a) são países que quase todos foram colônias e como que


viveram por inúmeros séculos em função de suas metrópoles.
Exemplo: Nigéria (África) e Brasil (América); b)  Países
que foram invadidos culturalmente por hábitos e valores Disciplina 4
provenientes dos países ricos, e perderam muitas de suas
tradições e referências culturais; c) Países que após conseguir
a independência política tornaram-se presas do imperialismo,
que agiu com grande liberdade nas ex-colônias, pois contou
com o apoio das autoridades locais realidade comum
aos países do Sul da Ásia, América Latina e África. Ainda
podemos acrescentar que:
A América Latina, por exemplo, desde o inicio do
século XX constitui-se em área de expansão das
multinacionais norte-americanas. No pós-Segunda
Guerra Mundial as multinacionais expandiram-se
para Europa ocidental e para Ásia. Simultaneamente,
as empresas multinacionais europeias expandiram-
se para a África e a Ásia, na esteira do processo de
descolonização/independência das antigas colônias.
Com isso criaram-se novas formas de dependência
econômica neses jovens países (OLIVEIRA, 2008,
p. 250).

A origem da dependência econômica na maioria dos


países está relacionado ao processo de colonização de caráter
exploratório. Assim, o nível de desigualdade varia muito ao
redor do mundo, sobretudo nas economias emergentes, em
que os países são mais desiguais que mais ricos. O Produto
Interno Bruto (PIB) é um indicador dessa desigualdade,
onde os países do mundo são vistos sob as lentes do mercado,
assim, a ilustração (fig.07) mostra que o tamanho de um
país é proporcional seu PIB. Segundo Beddoes (2012) “a
desigualdade global aumentou nos séculos XIX e XX porque
as economias mais ricas, na média, cresceram mais rápido
que mais pobres”.

Licenciatura em Ciências Sociais 95


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Fig. 07 – PIB dos países


Fonte: http://www.google.com.br/search?q=América+latina+e+divisã

o+internacional+do+trabalho&hl=pt-BR&biw=1280&bih=709&bav

Segundo o relatório do Desenvolvimento Humano


de 2011, o planeta conta com 7 bilhões de pessoas, sendo
que Programa das Nações Unidas para o desenvolvimento
trabalha supervisiona cerca de 176 países e territórios
onde apresentam situações de pobreza de muitas pessoas
que suportam um duplo fardo de privações. Estejam essas
privações relacionadas as grandes disparidades do poder e as
desigualdades de gênero ao nível nacional (PNUD, 2012).
Nesse sentido, podemos entender que a globalização
não é um processo que atinge a todos, não é conhecida por
todos. E sim, pelos seus objetos (tecnicas) em que se apoia
e pelas relações que cria, assim a nova divisão do trabalho
implica em uma verdadeira mundialização dos lugares. “Se
você estabelece uma conexão com uma tecnologia de ponta ou
com um equipamento de ponta, você está obviamente ligado
ao mundo e isso se dá pela rede mundial de informações, pela
internet” (SOUZA, 2008, p. 37).

96 Licenciatura em Ciências Sociais


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a
Exercício de Aprendizagem

Disciplina 4

Fig. 08 – Capa do filme do Germinal

Para contribuir com análise do conteúdo o filme


“Germinal” classificado com o Gênero: Drama, lançado em
1993, com idioma do Filme em Francês. Legendas do Filme
em: Português (Embutida).
Classificação: 14 anos. 1 DVD. O filme retrata o
processo de gestação e maturação de movimentos grevistas
e de uma atitude mais ofensiva por parte dos trabalhadores
das minas de carvão do século 19 na França em relação à
exploração de seus patrões. Baseado na obra de Emile Zola,
o filme é um das mais belas adaptações literárias da história
do cinema.
É um site que permite acesso gratuito. Disponível em
http://infernosobrenatural.blogspot.com.br/2012/11/baixar-
filme-germinal-legendado.html. Acesso em: 12 fev. 2013.

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Avaliação
A Divisão Internacional do Trabalho corresponde
a uma especialização das atividades econômicas em
caráter de produção, comercialização, exportação e
importação entre distintos países do mundo. A DIT
direciona uma especialização produtiva global, uma
vez que cada país fica designado em produzir um
determinado produto ou partes do mesmo, dependendo
dos incentivos oferecidos em cada país. Assim, o avanço
tecnológico se expandiu na mesma proporção que o
capitalismo. O mundo do trabalho sofre novas alterações
que provoca desigualdades entre os países emergentes
ou em desenvolvimento, pois adquirem tecnologias a
preços altos, enquanto que os produtos exportados pelos
países pobres (Sul) não atingem preços satisfatórios,
favorecendo os países ricos (Norte). Em linhas gerais,
Os países pobres mantém relações de dependências
ao continuar com a incumbência de gerar matéria-prima
com a finalidade de fornece-la aos países ricos.

Saiba Mais
Leitura Complementar:

1ª. Indicação de leitura a discussão sobre as


relações econômicos internacionais sugerimos os
textos: O difícil equilíbrio do jogo global; atuação das
organizações internacionais; TPI: princípio é bom, mais
ainda não foi testado; soberania flexibilidade. Disponível
em http://www.geomundo.com.br/geografia-30153.htm.

2ª. indicação de leitura o artigo que trata da discussão


sobre a “Evolução geopolítica: cenários e perspectivas”
do autor Sebastião C. Velasco e Cruz, publicado em
2011. O trabalho analisa as grandes transformações em
curso no sistema internacional no pós Guerra Fria. O
texto parte da indagação sobre o significado profundo

98 Licenciatura em Ciências Sociais


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de três eventos que marcaram o ano de 2008, tais


como: a crise financeira global; o fracasso nas negociações
da Rodada Doha; e o conflito militar na Geórgia do Sul.
O artigo ainda aborda três cenários derivados do debate Disciplina 4
aberto, sobre a evolução provável do sistema de poder
(os cenários “multipolar”, “unipolar consolidado” e “liberal
cosmopolita”), e avalia a pertinência de cada um deles
com base nos desenvolvimentos observados ao longo da
primeira década deste século (CRUZ,2011). Disponível
em: http://www.ipea.gov.br/sites/000/2/publicacoes/tds/
TD_1611_WEB.pdf

a
Resumo do Tema
A Divisão Internacional do Trabalho corresponde
a uma especialização das atividades econômicas em
caráter de produção, comercialização, exportação e
importação entre distintos países do mundo. A DIT
direciona uma especialização produtiva global, uma
vez que cada país fica designado em produzir um
determinado produto ou partes do mesmo, dependendo
dos incentivos oferecidos em cada país. Assim, o avanço
tecnológico se expandiu na mesma proporção que o
capitalismo. O mundo do trabalho sofre novas alterações
que provoca desigualdades entre os países emergentes
ou em desenvolvimento, pois adquirem tecnologias a
preços altos, enquanto que os produtos exportados pelos
países pobres (Sul) não atingem preços satisfatórios,
favorecendo os países ricos (Norte). Em linhas gerais,
Os países pobres mantém relações de dependências
ao continuar com a incumbência de gerar matéria-prima
com a finalidade de fornece-la aos países ricos.

Licenciatura em Ciências Sociais 99


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Referências
BUSATO, Maria Isabel; PINTO, Eduardo Costa
Pinto. A nova geografia econômica: uma perspectiva
regulacionista. In: I Encontro de Economia Baiana–
Salvador-BA – Set./2005. Disponível em www.eeb.ufba.
br/includes/download-anais.php?id=28. Acesso em
2013.

FERNANDES, Lito Nunes. A pobreza na áfrica


subsaariana e suas consequências no mundo
globalizado. In: RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO
ECONÔMICO. Disponível em: http://www.revistas.
unifacs.br/index.php/rde/article/view/1215/1202.
Acesso em 2013.
MAGNOLI, D. O mundo contemporâneo. São Paulo:
Atual, 2004.
MENZEL, UIrich. Ásia: impactos da inserção no
mercado internacional. O novo centro de crescimento
no leste e no sudeste da Ásia. Disponível em: http://
revistas.fee.tche.br/index.php/indicadores/article/
viewFile/1017/1325. Acesso em 2013.
MIRANDA, Luiz Miranda. Da nova hegemonia
norte-americana à nova divisão internacional do
trabalho. Disponível em http://www.ufrgs.br/
decon/publionline/textosprofessores/miranda/
ahegemonianorteamericana.pdf. Acesso em 2013.
OLIVEIRA, A. U. A mundialização do capitalismo e a
geopolítica mundial no fim do século XX. In.:ROSS, J.L.S
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São Paulo, 2008.

PINTO, Vanessa. Considerações sobre o papel da


América Latina na divisão internacional do trabalho. In:
XVI ENG, Porto Alegre - RS, 2010.
POCHMANN, Marcio. Economia global e a nova
Divisão Internacional do Trabalho. Disponível em http://
decon.edu.uy/network/panama/POCHMANN.PDF.
Acesso em 11 jan. 2013.
SOUSA, Roberto González. Nuevos pactos territoriales

100 Licenciatura em Ciências Sociais


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em América Latina: obstáculos e posibilidades. In:


LEMOS, A.I.G.; SILVEIRA, M.L.; ARROYO, M. Questões
territoriais na América Latina. São Paulo, CLACSO, 2006.
Disciplina 4

Licenciatura em Ciências Sociais 101


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