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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

Instituto de Filosofia e Ciências Humanas

Diego Augusto Maia Baptista

“Em torno do manuscrito bruxelense de 1845, de Karl


Marx – contribuição para a investigação da formação
da crítica da economia política”

Campinas, SP
2013

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas

Diego Augusto Maia Baptista

“Em torno do manuscrito bruxelense de 1845, de Karl


Marx – contribuição para a investigação da formação
da crítica da economia política”

Orientador: Profa. Dra. Gilda Figueiredo Portugal Gouvêa

Tese de Doutorado apresentada ao Programa


de Pós-Graduação em Sociologia do Instituto
de Filosofia e Ciências Humanas da Universida­
de Estadual de Campinas, para obtenção do tí­
tulo de Doutor em Sociologia.

Este exemplar corresponde à versão final da Tese


defendida por Diego Augusto Maia Baptista e orien­
tada pelo Profa. Dra. Gilda Figueiredo Portugal Gou­
vêa

_______________________________
orientadora

Campinas, SP
2013

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6
Agradecimentos

À Manoela Hoffmann Oliveira, um agradecimento muito especial. Sua contribuição


direta para o presente trabalho foi inestimável, tanto em relação ao meu texto quanto, em
particular, pelas diversas revisões que fez da tradução em diferentes estágios; mais do que
isso, seu estímulo e encorajamento constantes ao longo de todos esses anos juntos
permitiram que mais uma etapa chegasse a termo.

Ao Prof. Dr. Frieder Otto Wolf (Freie Universität Berlin, dept. de filosofia) que
generosamente apoiou o projeto de pesquisa, possibilitando nossa estadia em Berlim, nos
recebeu cordialmente e ajudou no que foi preciso durante aquele que foi o período
decisivo para o presente trabalho.

À Prof. Dra. Gilda Figueredo Portugual Gouvea, que acolheu a pesquisa sob sua
orientação já em estágio final, mas cuja leitura e sugestões contribuíram para melhor
definir o enquadramento do trabalho e possibilitou que o texto fosse defendido.

Ao Dr. Carl-Erich Vollgraf, que com sua impressionante capacidade de ler a letra do
Marx revisou no manuscrito, pacientemente, todos os pontos que eu havia anotado no
texto da primeira edição alemã, gastando comigo algumas manhãs de trabalho, em visitas
que realizei à seção do projeto MEGA-2 na BBAW em 2012. Agradeço ainda a mediação do
Prof. Wolf e do Dr. Rolf Hecker para que essas visitas se realizassem, bem como à Dra.
Regina Roth, por considerar que o manuscrito poderia ser consultado.

Ao Prof. Dr. Jorge Miglioli, por ter assumido a orientação do trabalho antes da
estadia na Alemanha, e por ter nos apoiado nessa empreitada e em nosso retorno.

7
Ao longo do processo de tradução tive a sorte de poder conversar, tirar dúvidas e
me certificar sobre muitas passagens específicas do texto em alemão, em termos
sintáticos e semânticos os mais diversos, com colegas alemães luso-falantes, aos quais
agradeço: à Isabel Richter (História, Humboldt Universität) pelos muitos encontros de
“tandem” destinados ao texto de Marx, e ao Hermann Wennig (Eurasia Institut Berlin).
Um agradecimento também especial ao Prof. Bernd Hopf (Instituto Goethe São
Paulo), que com sua grande experiência pedagógica e entusiamo nos deu a base no
idioma, entre 2009-2010, condição inicial para concretizar nosso plano de pesquisa na
Alemanha.

Não podemos deixar de frisar que todas as eventuais objeções ao trabalho ora
apresentado são exclusivamente de nossa responsabilidade.

A pesquisa contou com financiamento do CNPp e do DAAD.

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9
10
Em nenhum momento pode ocorrer-lhe
que os economistas nacionais apenas
deram a essa situação social uma
expressão teórica correspondente. Ele
deveria voltar-se, isto sim, contra a
atual organização da sociedade em vez
de contra os economistas nacionais. Ele
acusa-os de não terem encontrado uma
expressão suavizante para uma
realidade desoladora. Por isso, em todo
lugar ele quer deixar essa realidade
como ela é e modificar apenas a
expressão. Em nenhum momento ele
critica a sociedade real; como autêntico
alemão, ele critica a expressão teórica
dessa sociedade, e a reprova por
exprimir a coisa, não a imaginação da
coisa.

11
12
RESUMO

O manuscrito bruxelense de 1845 sobre List é uma peça indispensável para a


reconstituição da formação da crítica marxiana da economia política; apesar disso,
constata-se que o texto foi muito pouco mencionado entre especialistas alemães, e na
literatura brasileira ele sequer é citado. Buscando introduzir esta referência no debate, fez-
se necessário primeiramente traduzir o texto para o português; o trabalho de tradução,
por sua vez, defrontou-se com o problema da edição, o que nos levou ao cotejamento da
primeira edição alemã diretamente com o manuscrito. Além da tradução apresentamos
um aparelho crítico. Na introdução ao manuscrito informamos sobre tamanho, estado da
transmissão, estrutura interna, datação, circunstâncias, motivações e finalidade da
redação, as origens do debate de Marx com List e a posição do escrito na trajetória
intelectual de Marx. Na análise do texto apresentamos um plano da divisão e comentamos
detalhadamente seu conteúdo, expondo do início ao fim os passos do encadeamento,
apontando e agrupando os temas e termos fundamentais, destacando citações
importantes, de modo a ressaltar o pensamento marxiano em sua integridade própria. Em
anexo encontra-se a tradução que realizamos do manuscrito, acompanhada do texto-base
em alemão, buscando seguir padrão de apresentação de manuscrito na MEGA-2. Constam
ainda em anexo diferentes materiais que favorecem a compreensão da especificidade
temática e histórica do texto, como um trecho do Segundo discurso de Eberfeld, de Engels
e informações sobre List e sua obra.

ABSTRACT
The "1845 manuscript on List" still represents a gap in the discussions on the
formation of Marx's thought, and especially of his economic thought. It is rarely
mentioned even among German-speaking specialists, we have not found any reference to
the text in the Brazilian literature. First, in order to introduce it to the debate, it was
necessary to translate the text into Portuguese. The translation work, in turn, was faced
with the problem of editing, which led us to collate the first German edition directly with
the manuscript. Besides the translation, this text is structured to provide a critical
apparatus. In the introduction to the text we inform the features of the manuscript, such
as size, transmission status and internal structure, and refer to the circumstances, dating,
motivation and purpose of the writing, the origins of Marx’s debate with List and the
positioning of the writing in the author'. The analysis presents the preserved structure of
the text and shows the footsteps of its concatenation, explaining and grouping the
fundamental issues, linearly from beginning to end. In attachments we have listed
materials that assist us in understanding the specific themes and history of the same, as
well as the translation of part of the Second Speech in Elberfeld, of Engels, and basic
information on the life of List and his book.

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SUMÁRIO

Apresentação 17

INTRODUÇÃO
Atualidade de Marx e retorno aos textos 21
O empreendimento da MEGA-2 e suas características 23
Problema da edição do manuscrito bruxelense de 1845 27
Estrutura da tese 31

CAPÍTULO I – QUESTÕES PRELIMINARES

1.1 Plädoyer do resgate do manuscrito bruxelense de 1845


1.1.1 No meio do caminho tinha uma lacuna... 35
1.1.2 O manuscrito bruxelense de 1845 na Marx-Forschung alemã 38
1.1.3 O manuscrito bruxelense de 1845 na marxologia brasileira 44

1.2 Relevância de Friedrich List para o debate contemporâneo 47

1.3 Introdução ao manuscrito bruxelense de 1845


datação, circunstâncias da redação e finalidade do escrito 55

15
CAPÍTULO II – ANÁLISE DO MANUSCRITO BRUXELENSE DE 1845

Considerações gerais 65

Divisão detalhada do texto conservado e plano do cometário 68

1. Caracterização da teoria econômica de List em conexão com


a especificidade histórica da burguesia alemã e em
contraposição
à burguesia inglesa e francesa e sua economia política 71
2. Desenvolvimento teórico marxiano 94
3. Questão da renda da terra (Ricardo) 109
4. Extratos de Ferrier para comparação com List 117

Considerações Finais:
A coerência teórica estrutural entre o manuscrito bruxelense de 1845
e a gênese do pensamento marxiano 121

Anexos
1. Tradução 129
2. Texto-base em alemão 183
3. Excerto do Segundo discurso de Eberfeld (1845), de Engels 223
4. Sumário do livro de List 229
5. Cronologia selecionada de List 231

Bibliografia 235

16
APRESENTAÇÃO

Nossa tese apresenta, em tradução inédita para o português, um manuscrito de


Marx escrito em 1845 e publicado apenas em 1971. Eu devo confessar que quando tomei
conhecimento da existência desse texto, em 2010, por meio de uma simples pesquisa na
internet, levei um grande susto, visto que já eu lidava com a obra de Marx há certo tempo,
e com particular atenção ao problema dos primeiros anos da trajetória marxiana, tema
caro à linha teórica à qual nossa pesquisa filia-se. Naquele momento, eu seguia com uma
pesquisa sobre textos do período da formação da crítica da economia política a partir do
manuscrito parisiense de 1844 até o fim da década de quarenta – sem entretanto incluir o
manuscrito sobre List... Ora, o texto em questão não é citado por nenhuma das referências
que eu já tinha lido, eu nunca tinha ouvido nenhum professor ou colega se referir ao
escrito, por fim, o texto não se encontra nos volumes da MEGA-2 que (felizmente) pode-se
consultar na biblioteca da UNICAMP. Tudo isso me levou a desconfiar: seria aquele de fato
mais um texto de Marx ou uma alucinação? Afastada essa possibilidade, eu teria de
enfrentar algo totalmente novo e desconhecido para mim; mas e se o texto conflitasse
com minha visão já sedimentada de Marx? Poderia o texto vir a abalar alguma convicção,
contradizer pontos específicos? Por meio destes questionamentos pude entender melhor
porque as obras póstumas de Marx sofreram tanta censura prévia por parte do marxismo.
Mas aventurar-se por um texto para nós totalmente desconhecido rapidamente passou a
ser uma perspectiva empolgante, e ao poucos fomos compreendendo a grande relevância
de trazer esse texto ao foco. No fim, tivemos de optar por abandonar o projeto anterior já
em curso, para nos centrarmos no manuscrito em questão, que originalmente não
passaria de um capítulo da tese...
O primeiro problema a resolver é que não havia tradução do texto em português.
Traduzi o texto, frase por frase em separado, sem consulta a nenhuma outra tradução;
quando cada uma das unidades pareceram razoáveis e gramaticalmente corretas, juntei

17
tudo, e foi um momento de grande ansiedade o de ver o que ia aparecer (se é que ia
aparecer um texto...); seguiu-se então um período de leituras de reconhecimento do texto
conservado considerado em conjunto, juntamente com um novo estágio de diversas
revisões, ajustes e refinamentos. Finalmente, pudemos passar para a análise, primeiro o
estabelecimento de toda estrutura do texto, partindo da identificação das grandes divisões
e indo até o detalhamento dos assuntos, para depois redigir o comentário dessa
sequência, buscando por em evidência o pensamento do autor em sua integridade
própria.
Tudo isso só pôde ser finalizado após outra camada de trabalho. Ao ser obrigado a
traduzir, logo constatei que a edição do manuscrito na língua original (1972) tem alguns
problemas de apresentação e precisou sofrer melhoramentos editoriais. Assim, aquilo que
seria sobretudo um trabalho de análise de textos filosóficos, tarefa para a qual eu já vinha
treinado, exigiu não só um prévio esforço de tradução, algo que eu nunca havia feito,
como enveredou forçosamente pela filologia, levando-me até o exame do original, para
que pudessem ser tomadas decisões sobre a apresentação do texto que diferem da
primeira edição.
A tese a seguir é fruto de nosso mergulho num objeto com o qual topamos
tardiamente e meio por acaso, que nos deu o verdadeiro temor do desafio e o prazer da
descoberta, e a recompensa da certeza de termos contribuído, com o resgate desse texto,
com a tarefa da redescoberta de Marx.

***

No curso dos primeiros anos da produção de Marx, o manuscrito de 1845 sobre List
ocupa um lugar muito especial. Situado entre a crítica parisiense de 1844 e Miséria da
filosofia (1847), o registro representa portanto um elo indispensável para a reconstituição
da formação da crítica da economia política. Entretanto, mesmo nos estudos

18
especializados, raramente o escrito é referido.
O texto não chegou a ser concluído pelo autor; além disso, sua transmissão está
incompleta, restando aproximadamente apenas metade do volume original. Apesar disso,
embora deparemos com trechos esquemáticos, observações isoladas, apontamentos a
serem desenvolvidos etc., e alguns passos do encadeamento pareçam à primeira vista
estranhos (em razão do caráter inacabado e da transmissão fragmentária), uma
consideração um pouco mais paciente do conjunto conservado mostra-nos que o trabalho
apresenta estrutura definida e unidade interna, e já alcançava razoável grau de elaboração
quando foi interrompido.
A publicação do material só se deu passados quase cem anos da morte do autor,
primeiro em tradução para o russo, em 1971, tendo sido editado na língua original no ano
seguinte1. Desse modo, dentre a enorme produção de Marx que permaneceu inédita
durante sua vida, estamos diante de um dos escritos que mais tardiamente veio à tona.
Mas, apesar de já se contarem quatro décadas de seu aparecimento, o manuscrito
continua passando quase totalmente desapercebido; além disso, o texto ainda aguarda na
fila de edição da MEGA-2, que prevê sua publicação para breve, no seu volume I/4.

1
Publicado no periódico Beiträge zur Gechichte der Arbeiterbewegung, Heft 3, Berlin-Ost, 1972.

19
20
INTRODUÇÃO

Atualidade de Marx e retorno aos textos


Positiva ou negativamente, direta ou indiretamente, de modo seletivo, mais ou
menos rarefeito ou decididamente distorcido, as ideias de Marx encontram-se
constantemente implicadas na definição de diversas posições teóricas, políticas e
epistemológicas, desde fins do século XIX até hoje em dia. Ao mesmo tempo, porém,
poucas vezes sua obra foi abordada de maneira rigorosa e aprofundada. Tanto as
interpretações da teoria como a sua “aplicação” prática contribuíram para que o legado
marxiano fosse questionado e as ideias do autor atacadas e desqualificadas ao longo de
todo o século XX, ao fim do qual se tornou uma referência fortemente desacreditada. A
maior contribuição para tanto veio do “socialismo real”, com todas as suas limitações,
inviabilidades intrínsecas e grandes crimes. (Não pretendemos enveredar por aqui pela tão
necessária investigação histórica e problematização dessa identificação, apenas devemos
ter claro que, para uma verdadeira redescoberta de Marx é preciso, em primeiro lugar e
como ponto de partida metodológico intransigível, distinguir a obra de Marx, por um lado,
da posteridade marxista, em todas as suas vertentes, por outro.)
O pensamento de Marx – de acordo com o qual o capitalismo está longe de ser o
melhor dos mundos possíveis, um sistema racional e equilibrado – ressurge com especial
força em momentos de crise, quando os apologetas ficam mais envergonhados e os
próprios operadores têm de reconhecer abertamente “falhas” do sistema (para tentar
corrigi-las), quando também se explicitam de modo mais agudo as agruras que as relações
sociais contemporâneas cotidianamente infringem à maior parte da população mundial.
Num momento de severa crise econômica como estamos presenciando nos últimos anos,
e o consequente abalo de paradigmas, o fato de Marx estar em evidência pode ser
constatado até mesmo na grande imprensa, que estampa manchetes como: “Crise

21
financeira faz aumentar as vendas de O capital”2, e ecoa debates em que “Marx manda
lembranças”3. Até mesmo aqueles que por princípio estão longe das posições marxianas
veem-se obrigados a reconhecer, não sem algum pudor, que “tudo o que está
acontecendo mostra que algumas partes da teoria de Marx não estavam tão erradas”,
como declarou o ministro das finanças alemão4.

Em razão das circunstâncias históricas atuais nos encontramos em um momento


propício para uma redescoberta de Marx. Hoje em dia sua obra pode ser desvencilhada
mais facilmente do estigma do “socialismo real”5, enquanto o capitalismo novamente dá
mostras de suas insuficiências com o acirramento de suas contradições e os limites que se
impõem ao seu avanço, não só no que se refere à sua comprovada incapacidade de suprir
necessidades humanas (de todo modo, não se pode exigir dele algo que não pertence à
sua finalidade...), mas também às reiteradas dificuldades de realização das próprias
necessidades da reprodução do capital. Mas, justamente em razão do atual contexto tão
propício para trazer a reflexão marxiana novamente à tona, o cuidado nesse percurso deve

2
Portal www.g1globo.com (agência Ansa), 16/10/08. A reportagem diz que na Alemanha, “as vendas do
primeiro volume da obra triplicaram desde 2005 (...). Para o mês de dezembro, a editora espera um
aumento ainda maior /…/ ”. Em 20/10/08, no mesmo www.g1globo.com (agência BBC): “Crise aumenta
procura por obras de Karl Marx na Alemanha - editora vendeu em um mês número de cópias de O
Capital que vendia em um ano”, e, “segundo a imprensa alemã, lojas ao redor da Alemanha têm visto um
aumento de 300% na venda do livro nos últimos meses.(...)”. É mencionado ainda que “o número de
visitantes a Trier, na Alemanha, cidade natal de Marx, subiu neste ano para 40 mil. O curador do museu
da cidade afirma que já perdeu as contas de quantos visitantes ele ouviu dizer que Marx estava, afinal,
certo em suas críticas ao capitalismo”.
3
Cesar Benjamin: Folha de São Paulo, 20/09/2008. O artigo foi seguido por: “Keynes também manda
lembranças”, João Sicsú, Folha de S.Paulo, 16/10/2008.
4
A revista Der Spiegel estampou a declaração de Peer Steinbrück (SPD) na seção de frases da semana
(17/10/2008).
5
A “implosão soviética e do conjunto do leste europeu, bem como de todos os demais países correlatos,
traz o benefício de limpar o terreno: o marxismo vulgar está liquidado, jaz sob os escombros das
peripécias político-revolucionárias do século XX. Põe em evidência gritante a falácia grotesca, de há
muito conhecida, do discurso teórico ritualista – de partido e governo – armado e difundido por quase
setenta anos em nome de Marx. Daqui para frente, ao menos o front teórico estará aliviado desse
inimigo íntimo e essencial do pensamento marxiano /.../” (CHASIN, José: Manifesto editorial. In:
Cadernos Ensaio 3. São Paulo: Ensaio, 1991, pp. 9-10).

22
ser redobrado, para que os ventos favoráveis conduzam, de fato, à correta compreensão e
boa apropriação da obra de Marx.
Nesse sentido, a MEGA-2 é o ponto de partida incontornável, uma referência que
por si mesma tem fomentado uma ampla renovação dos estudos especializados, uma
“renascença de Marx”6. Para Hecker, a MEGA retira Marx do pedestal das santidades do
partido, “eleva-o à série dos pensadores clássicos”; mas isso não significa, reconhece o
autor, que ele agora adquiriu cidadania como filósofo e economista e entrou para um
mausoléu. A edição de Marx deve ser despolitizada, justamente para que sua apropriação
possa ter um caráter efetivo e traga à luz a força do seu pensamento, que deriva, em
última instância, de seu conteúdo emancipatório – e nisso ele continua atual e mais vivo
do que nunca.
Marx é um clássico, sim, e dentre os maiores – e como tal deve ser tratado. Porém,
Marx não apenas é um clássico, ele é “o mais contemporâneo dos pensadores clássicos”7.

O empreendimento da MEGA e suas características


Quando a edição das obras de Marx tiver sido completada, terão passado mais de
150 anos da morte do autor; alguns anos após o jubileu de 2018 (duzentos anos do
nascimento de Marx) o próprio empreendimento da MEGA terá se tornado algo
centenário. Essa situação expressa, como já foi observado, a própria tragédia do século XX.
A nova Marx-Engels Gesamtsausgabe [edição completa de Marx e Engels], o
chamado projeto MEGA-2, iniciado na década de 1970 e ainda em curso, consolida a fonte
primária dos estudos sobre Marx e da marxologia e a base para as traduções dos escritos
de Marx. A excelência dessa edição é amplamente reconhecida e suplanta tudo que já
havia sido feito em termos editoriais relativamente aos escritos do autor. Em razão de sua

6
HECKER, Rolf: Marx mit der MEGA neu lesen. Zum 190. Geburtstag des Klassikers [Ler Marx novamente
com a MEGA. Para o 190º aniversário do clássico] In: Junge Welt 05.05.2008. S. 10. Disponível em:
http://www.marxforschung.de/docs/080505hecker.pdf
7
CHASIN: 1991, p. 11.

23
amplitude e qualidade, as perspectivas que essa edição abre para a redescoberta de Marx
são auspiciosas, permitindo aos leitores contemporâneos um contato privilegiado com o
pensamento de Marx. Mas o caminho até essa configuração hoje tão favorável foi longo e
tortuoso...
“O projeto de uma edição completa, histórico-crítica, das obras de Marx e Engels,
remonta a David Rjazanov (1870-1938). Nos anos 1920, em Moscou, o estudioso russo deu
início a uma edição das obras de Marx e Engels em 42 volumes, editados em Frankfurt e
em Berlim e dos quais apareceram doze volumes entre 1927 e 1941. A tomada do poder
por Hitler e a escalada do terror stalinista nos anos 1930, do qual Rjazanov e muitos outros
editores russos e alemães foram vítimas, colocaram um fim a essa edição, que, pela
primeira vez, trouxe a público os 'Manuscritos Econômico-Filosóficos' de 1844 e a 'A
ideologia alemã'. Embora o projeto de Rjazanov tenha sido retomado em Moscou e em
Berlim à época do 'degelo' que se seguiu à morte de Stalin, a concepção de uma nova
'segunda' MEGA, que apresentasse os legados literários de Marx e Engels integralmente e
conforme o original, dotada de um comentário minucioso e que traçasse a evolução dos
textos à luz de métodos modernos, só pôde impor-se nos anos 1960, contra a resistência
das altas instâncias partidárias, que viam com suspeita uma edição completa, histórico-
crítica” (grifo nosso)8.
Depois que se conseguiu, a contragosto do poder, repor a concepção de uma nova
MEGA, foi necessário ainda uma virada de década para que essa vitória começasse a se
concretizar. O primeiro volume da MEGA-2 foi publicado em 1975. Antes, um volume de
prova aparecera em 19729. Desde então, o projeto teve continuidade, sofrendo porém
várias redefinições, tanto em relação aos parceiros envolvidos quanto em relação ao plano
da edição. Inicialmente possibilitado por uma cooperação entre os Institutos Marx-Engels

8
http://www.bbaw.de/bbaw/Forschung/Forschungsprojekte/mega/de/Ueberblick#Portug
9
O texto de apresentação desse volume, que contém a primeira formulação dos critérios da MEGA-2,
apareceu no mesmo ano e na mesma revista em que a primeira edição alemã do manuscrito sobre List.
Ver nota 1 e Bibliografia.

24
da DDR e da URSS, o projeto contou posteriormente com outras instituições
colaboradoras. Após o fim da Alemanha Oriental e o colapso da União Soviética, a
organização do projeto naturalmente teve de passar por uma grande reformulação,
definindo assim, basicamente, dois períodos da MEGA-2.
Em 1990 nasce, sem qualquer dotação orçamentária, a Fundação Internacional
Marx-Engels (IMES), com sede em Amsterdã. Com a finalidade de dar prosseguimento à
edição, a fundação é constituída como um comitê editorial coordenador de uma rede
internacional de colaboradores. Pode-se imaginar que os recursos para o projeto, que já
não era propriamente uma prioridade nos países socialistas antes encarregados dele,
declinariam logo após a derrocada do bloco soviético. Desde 1992, a Academia
Brandenburgo-Berlinense de Ciências (BBAW) – instituição fundada por Leibniz e hoje
responsável pela edição dos maiores clássicos alemães –, acolheu, por parte da Alemanha,
o projeto, garantindo assim sua viabilidade. Além das duas instituições acima
mencionadas, o projeto conta ainda com uma ampla cooperação acadêmica internacional
(sendo o Japão um parceiro de destaque), com departamentos de diferentes universidades
e instituições encarregados da preparação de diferentes volumes da coleção.
Com relação à estrutura da edição10, na “seleção” do material a ser editado o
projeto adota o critério da integralidade. O conjunto, por sua vez, distribui-se em quatro
seções: I. obras, artigos, esboços [Einwurf]; II. O Capital e materiais preparatórios; III. troca
de cartas; IV. excertos, notas, marginália. Dentro de cada uma das seções, os textos são
ordenados cronologicamente11.
Resulta um aspecto de gigantismo à MEGA-2. A coleção prevê um total de 114
10
Cf. Editionsrichlinien (1993). Para uma discussão das diretrizes editoriais, ver: SPERL, R.: Zu einigen
theoretisch-methodischen Grundsatzfragen der MEGA-Editionsrichtlinien. In: Beiträge zur Marx-Engels-
Forschung, Neue Folge, 1991. BACKHAUS, H-G., REICHELT, H.: Der politisch-ideologische Grundcharakter
der Marx-Engels-Gesamtausgabe: eine Kritik der Editionsrichtlinien der IMES. In: MEGA-Studien 1994/2.
11
Em razão da dificuldade de se aplicar esse critério sistematicamente ao material a ser editado,
justamente por se tratar em grande parte de manuscritos que não trazem indicação explícita de data,
encontramos uma profusão de debates específicos sobre datação de textos nas publicações ligadas ao
trabalho editorial da MEGA. Nós mesmos teremos de discutir adiante o problema da datação do
manuscrito sobre List.

25
volumes duplos (texto e aparelho). Em primeiro lugar, como diz o nome da coleção, ela
junta obras de dois autores, e todos os volumes são duplos (texto e aparelho). Além disso,
há uma enorme quantidade de correspondência a ser editada (seção III). De resto, além de
todos os textos publicados em vida e esboços não publicados (seção I), tudo mais que
Marx redigiu e foi encontrado é editado, como cadernos de notas ou de excertos (seção
IV). Do mesmo modo, observando o critério da integralidade, a coleção publica na seção II
diversas versões de O Capital (como a primeira edição alemã, a edição da tradução
francesa revisada por Marx, edição alemã posterior à edição francesa); dos livros II e III há
as tradicionais versões elaboradas e publicadas por Engels, ao lado da edição dos
manuscritos marxianos originais relacionados à sequência de O Capital.

No quadro brevemente exposto cima, um ponto em que a MEGA-2 apresenta uma


contribuição extremamente específica é em relação à edição dos manuscritos (essa
parcela tão relevante do que se entende pela “obra” de Marx), apresentando sob nova
configuração materiais já conhecidos bem como trazendo a público outros até então
totalmente inéditos.
Em uma entrevista de 1969, já aos 84 anos de idade, Lukács chamava a atenção
para absurdo o fato de, “transcorridos mais de 120 anos da publicação do Manifesto
Comunista, não terem sido publicados todos os escritos de Karl Marx”, situação que, de
acordo com o filósofo húngaro, era mais um dos resultados nefastos do taticismo dos PC´s.
Àquela altura, Lukács revela ao entrevistador: “posso lhe assegurar que existem
numerosos escritos de Marx, anotações de estudos ligados à preparação de O Capital, que
permanecem mofando em arquivos inacessíveis...”12.
Lukács sabia muito bem o que estava falando, e a prova disso é a seção II da MEGA-
2, que trouxe à tona justamente os materiais referidos por ele. Assim, apesar de ainda
demorar um pouco para a coleção ser completada, com a conclusão da seção II, em 2012,
12
LUKÁCS, G.: “Autocrítica do Marxismo”. In: Revista Temas nº 4 . São Paulo: LECH, 1978 [entrevista a
Leandro Konder publicada originalmente no Jornal do Brasil em 24-25/08/1969].

26
a MEGA-2 já cumpriu com sucesso uma das suas principais tarefas13. Nesse sentido, deve-
se relativizar a retórica colocação de Hecker: “Já sabemos tudo sobre Marx? Em vista dos
54 volumes publicados pela MEGA e dos 60 ainda faltantes, de um total, portanto, de 114,
a resposta seria: 47,4%. Portanto: sim e não”14.

Problema da edição do manuscrito bruxelense de 1845


Considerando-se, por um lado, a atualidade de Marx e a consequente necessidade
do retorno aos textos, bem como o especial papel da MEGA-2 na publicação dos
manuscritos, e, por outro, o reconhecimento de que o manuscrito bruxelense de 1845 é
uma peça fundamental para a compreensão da formação da crítica da economia política
(que porém é referido muito raramente, como demonstraremos logo adiante), colocou-se
para nós um problema crucial – o texto ainda não foi publicado na MEGA-2. Dispomos
apenas da primeira edição alemã de 1972, a qual, entretanto, apresenta alguns problemas
em relação aos padrões de apresentação de manuscritos na MEGA-2. Dada a urgência de
trazermos esse texto para o debate, foi necessário, então, não só traduzi-lo, mas efetuar
um trabalho filológico prévio para que a tradução não nascesse anacrônica (todas as
publicações se tornarão desatualizadas quando o texto for pubicado na MEGA – e
justamente a isso procuramos nos adiantar). Explicaremos abaixo alguns aspectos do
trabalho que efetuamos nesse sentido.
Uma vez que, num primeiro momento, não foi possível dispormos nem mesmo do
periódico em que o manuscrito foi originalmente publicado em alemão, então nossa
primeira via de acesso ao texto na língua original se deu por meio de duas transcrições

13
Permitindo assim uma ampla renovação de debates já tão viciados. Veja-se o emblemático título:
VOLLGRAF, Carl-Erichg (org.): Neue Texte, neue Fragen. Zur Kapital–Edition in der MEGA [Novos textos,
novas questões. Sobre a edição de O Capital na MEGA]. Hamburg 2002.
14
Op. cit. A “porcentagem” acima considera a integralidade dos textos do plano na MEGA-2, que
compreende uma variedade de materiais com pesos totalmente distintos, ademais, de Marx e Engels –
boa parte dos quais elaborados sem qualquer contribuição de Marx, seja antes de eles se conhecerem,
seja após a morte de Marx, textos estes que constituíram, bem mais do que os textos do próprio Marx,
uma das principais bases da vulgarização de Marx (mas isso já é outra questão...).

27
disponíveis na internet. Um exame sistemático revelou uma série de pequenas diferenças
entre elas, o que imediatamente levantou dúvidas sobre qual texto seguir – algo, aliás, de
se esperar em razão da precariedade desse tipo de fonte. Posteriormente, ao
confrontarmos as duas transcrições com a fonte impressa da primeira edição, ambas de
fato mostram, além das diferenças entre si, uma série de pequenas diferenças em relação
ao texto aparecido em 1972. São discrepâncias em grande parte advindas do próprio
processo de transcrição até de mudanças na formatação (as transcrições eliminam
colunas, e parte dos sublinhados de Marx desaparece); são omitidas indicações de
acréscimo editorial etc.
Mas o verdadeiro problema, aquilo de que em nossa apresentação do texto
queremos nos desviar – algo que as referidas transcrições, de resto, reproduzem – é o
acúmulo de outro tipo de resíduos, decorrentes do fato de o texto da primeira edição
adotar critérios editoriais antiquados. Assim, uma vez que nos incumbimos de traduzir e
apresentar o próprio escrito de Marx ao público de língua portuguesa, tivemos de
enfrentar a tarefa de tentar elevar o texto-base ao padrão de apresentação de manuscritos
da MEGA-2.
Para que as devidas modificações pudessem ser operadas com segurança, foi
necessário consultar diretamente o original. Um ponto que devemos frisar é que aqui não
se trata, nem de longe, de uma nova edição do manuscrito, não houve qualquer
modificação na decifração estabelecida, mas sim apenas a referida adequação editorial,
assegurada com base no cotejamento com o fac-símile. O quanto nós conseguimos nos
aproximar do nosso objetivo, a saber, deixar o texto mais próximo da maneira como ele vai
ser apresentado na MEGA-2, só o tempo dirá (e esperamos que seja em breve). Outro
ponto importante é que o nosso texto-base não pode ser acusado de padecer de
“contaminação”, isto é, o recurso a diferentes fontes para o estabelecimento de um
mesmo texto – algo vedado pelos critérios da MEGA-2. A fonte, em todo caso, ainda é o
texto da primeira edição, porém com as seguintes modificações:

28
A primeira diferença na nossa apresentação é a eliminação de todos os títulos
redacionais atribuídos.
Em segundo lugar, a principal mudança foi em relação à apresentação de certa
peculiaridade do processo de redação, um caso que ocorre diversas vezes ao longo desse
manuscrito: Marx escreve uma palavra e acima dela outra, como um termo alternativo,
variante, que não invalida o primeiro; a primeira edição adotou um critério “lógico” de
apresentação, segundo o qual o termo que Marx pensou depois e sobrescreveu deve ser
lido antes… De acordo com a MEGA, a apresentação desse tipo de caso segue um critério
critério “cronológico”; desse modo, após checar no fac-simile do manuscrito
desinvertemos a apresentação dos referidos pares de termos, mantendo em primeiro o
termo que foi escrito primeiro.
Mas na primeira edição há ainda outro problema na apresentação desses pares de
termos, é a maneira como foi sinalizado, utilizando parênteses para marcar o termo
posposto (que na verdade é o termo que Marx escreveu primeiro). A utilização dos
colchetes é ruim, pois não distingue o sinal redacional de eventuais parênteses de fato
empregados pelo autor. Assim, uma vez restabelecida a ordem cronológica da redação, o
sinal utilizado para esses casos será \ entre o par de palavras, para indicar que o termo
seguido ao sinal \ foi escrito acima do anterior. A diferença entre a primeira edição e nossa
apresentação segue sempre mesmo padrão:

Veräusserung (Verschacherung) Beschönigung (Flause)


Verschacherung \ Veräusserung Flause \ Beschönigung

Outra mudança importante da nossa apresentação do manuscrito em comparação


com a primeira edição é com em relação à sequência do texto: retiramos um trecho que o
editor intercalou (lançando mão do critério “lógico") em determinada altura do
encadeamento, quando na verdade se trata de um pequeno fragmento encontrado em

29
separado, e que será portanto reproduzido ao final.
Outra diferença de nossa apresentação do texto em relação à primeira edição é em
relação às notas. De modo a mantero texto "limpo", todas as notas da primeira edição
foram retiradas do corpo do texto e do rodapé, sendo reproduzidas em separado, por
meio de página e linha, seguindo os moldes do aparelho da MEGA.
A sinalização de palavras ilegíveis será feita no corpo do texto com o sinal [ x ] para
uma palavra, [ x x ] para duas etc.
Modificações de sinalização que foram feitas pelo editor, mas que não foram
indicadas e que foram captadas no cotejamento, foram adequadas à forma como
aparecem no manuscrito.
Nós procedemos a conferência do sublinhado de Marx em algumas palavras (que
na edição sempre são indicadas em itálico) e fizemos as devidas correções numa
sequência de ocorrências do termo "trabalho".
Algumas dessas operações realizadas na apresentação do texto em comparação
com a primeira edição alemã serão expostas em maior detalhe ao longo do comentário,
nos pontos respectivos em que surgirem.
Em razão da dificuldade em se ter à mão a fonte impressa, bem como das
diferenças entre a apresentação do texto em nossa tradução e a primeira edição,
apresentamos em anexo, para efeito de avaliação do trabalho de tradução, o texto em
alemão ao qual nossa tradução corresponde.

30
Estrutura da tese

Nossa pesquisa parte do pressuposto de que o manuscrito de 1845 sobre List é


uma peça indispensável para a reconstituição da formação da crítica marxiana da
economia política. Porém, dentre os muitos escritos do autor aparecidos apenas
postumamente, este é um dos que mais tardiamente veio à tona, somente em 1971, e,
portanto, não foi incorporado em influentes e importantes referências para os estudos do
autor. Desde sua publicação, o texto foi muito pouco mencionado mesmo entre
especialistas em Marx de língua alemã, e na literatura brasileira ele não é citado, conforme
demonstraremos e discutiremos no Capítulo 1.1. Ainda nesse capítulo, procuramos indicar
a relevância de Friedrich List para algumas vertentes contemporâneas da economia e das
ciências sociais, ressaltando com isso a utilidade que a crítica que Marx fez a List pode ter
na avaliação dessas tendências que remontam ao insigne economista alemão.
No Capítulo 1.2, após justificar o resgate do texto em questão, informamos sobre
as características do mesmo, tais como tamanho, estado da transmissão e estrutura
interna, além de remetermos às circunstâncias, a datação, motivações e finalidade da
redação; destacando também alguns aspectos do conteúdo, as origens do debate de Marx
com List e a posição do escrito na trajetória intelectual de Marx.
O Capítulo 2 é o resultado da nossa pesquisa no texto e pretende auxiliar
diretamente a leitura apresentando a estrutura do texto conservado e expondo os passos
de seu encadeamento, explicitando e agrupando os temas fundamentais, e segue
linearmente do início ao fim – procedimento detalhado que se justifica em razão do
caráter inacabado, de transmissão fragmentária e da dificuldade do texto.
Nas Considerações Finais poderemos retomar, considerada a leitura do texto
marxiano, algumas das questões levantadas no Capítulo 1.1.
Por fim, apresentamos uma série de Anexos. Em razão da lacuna apontada no
Capítulo 1.1 (isto é, a quase total ausência do manuscrito sobre List no debate), fez-se

31
necessário, primeiramente, traduzir o manuscrito em questão para o português15.
Conforme foi explicitado na Introdução, as dificuldades que se colocaram para o trabalho
de tradução vão além da necessária competência no idioma e a familiaridade com a obra
de Marx. Uma vez que o material ainda não apareceu na MEGA, tivemos de considerar
centralmente o problema da edição e publicação do manuscrito, o que nos levou, por fim,
à preparação de um texto-base próprio, o qual, a rigor, não coincide completamente com o
da primeira edição alemã de 1972 (apesar de não se tratar, em nenhum momento, de
nova decifração do original); a solução a que chegamos buscou seguir os princípios básicos
da apresentação de manuscrito na MEGA-2 e se fundamenta em uma investigação direta
do original, para que pudessem ser efetuadas as modificações editoriais necessárias com
segurança, bem como algumas correções, a fim de tornar o texto livre de intervenções e
mais próximo da redação dada por Marx (portanto – assim esperamos – mais próximo da
forma como aparecerá no volume I/4 da MEGA-2 do que do texto da primeira edição
alemã)16.
Além da própria tradução do texto de Marx e do texto-base em alemão por nós
preparado (cuja apresentação se fez necessária para que a tradução possa ser
devidamente avaliada) nos Anexos relacionamos ainda diferentes materiais que, embora
exteriores ao texto, favorecem a compreensão da especificidade temática e histórica do
mesmo. É o caso da tradução de um trecho do Segundo discurso de Eberfeld, de Engels,
proferido em 15 de fevereiro de 1845, publicado em agosto de 1845 (material igualmente
inédito em português) o qual se relaciona diretamente à possível finalidade do manuscrito
de Marx; de algumas informações básicas sobre a vida de List, que nos ajudam a
15
Apesar de a tradução figurar em anexo (por exigências formais de organização da tese), ela é, juntamente
com o trabalho filológico, o centro de todo o trabalho, e nós gostaríamos que o leitor que ainda não
conhece o texto passasse diretamente desta Introdução à leitura da nossa tradução (caso já não o tenha
feito por curiosidade em saber o que Marx diz nesse “novo” texto), retornando em seguida ao Capítulo I.
16
Nossas consultas foram realizadas no fac-símile, na seção da MEGA na BBAW em Berlim, sob a supervisão
do Dr. Carl-Erich Vollgraf, que, além de percorrer sistematicamente o manuscrito encontrando todos os
pontos que necessitávamos checar a fim de realizar as modificações em relação à primeira edição alemã,
chamou a atenção ainda para alguns outros aspectos da redação original os quais incorporamos na
preparação do texto-base, alguns dos quais serão indicados em notas ao longo do Comentário.

32
dimensionar melhor o significado do debate de Marx com List àquele momento; da
reprodução do sumário do livro listiano, cujo conhecimento básico da sua estrutura (afinal,
à época todos os virtuais leitores do texto de Marx conheceriam o de List) é relevante para
que nos orientemos em alguns pontos do manuscrito marxiano os quais reportam
especificamente a determinados capítulos do livro de List.

33
34
CAPÍTULO I – QUESTÕES PRELIMINARES

1.1) Plädoyer do resgate do manuscrito bruxelense de 1845

1.1.1) No meio do caminho tinha uma lacuna...


Diversos autores de obras que se tornaram referências clássicas sobre o tema do
percurso intelectual de Marx não tiveram acesso ao manuscrito sobre List. Por esse
motivo, não há notícia do texto em questão em obras tão importantes como as de Cornu17,
Rossi18 e Rubel19, as quais fornecem um instrutivo panorama de “vida e obra” do autor
(nos dois primeiros casos, especificamente em relação à década de 1840); nesse mesmo
sentido, quanto ao “pensamento econômico” em particular, dentre os trabalhos mais
amplamente citados, mencionamos o de Mandel20. Certamente deveriam ser referidos
outros autores que tiveram influência no problema da reconstrução do itinerário
intelectual de Marx, como por exemplo, Althusser, Mclelland, Löwy, Lapine, entre outros,
os quais também não levaram em conta o texto sobre List em suas discussões do percurso
17
CORNU, Auguste: Karl Marx Et Friedrich Engels, Leur Vie Et Leur Oeuvre. Publicado em 4 tomos, a partir
de 1955. (Sem tradução para o português). Ver especialmente IV: La Formation Du Materialisme
Historique (1845-1846). Paris: PUF, 1970.
18
ROSSI, Mario: Marx e la dialettica hegeliana. 2: La genesi del materialismo storico. Roma: Riuniti, 1963.
(Sem tradução para o português).
19
Uma primeira versão do trabalho aqui mencionado apareceu na introdução da famosa edição francesa de
Rubel pela Gallimard: Œuvres de Marx dans la Bibliothèque de la Pléiade, Œuvres I - Économie I (1963 -
nouvelle édition 1965), sob a rubrica “Chronologie”. Em seguida, o texto foi publicado autonomamente,
logo sendo traduzido para diversos idiomas, com diferentes títulos. A edição brasileira é bastante tardia:
RUBEL, Maximilien: Crônica de Marx. Cadernos Ensaio 3, série grande formato. São Paulo: Ensaio, 1991.
Aproveitamos para notar que, apesar dessa referência ter aparecido em fins da década de 1960, deve-se
registrar que o autor, assim como Cornu, trabalhava com o tema das origens do pensamento de Marx há
mais de duas décadas.
20
MANDEL, Ernest: La formation de la pensée économique de Karl Marx de 1843 jusqu'à la rédaction du
"Capital. Étude génétique Paris: Maspero, 1967. (Edição brasileira: Zahar, 1968). Nessa mesma área da
formação do pensamento econômico, dentre textos que tiveram maior influência especificamente no
leste podemos citar também: TUSCHEERER, W.: Bevor „Das Kapital“ entstand. Die Herausbildung und
Entwicklung der ökonomischen Theorie von Karl Marx in der Zeit von 1843 bis 1858. Berlin, 1968.
ROSEMBERG, D. I.: Die Entwicklung der ökonomischen Lehre von Marx und Engels in den viertziger Jahren
des 19.Jahrhunderts. Berlin: Dietz, 1958.

35
marxiano da década de 1840.
Mas, se alguém deve ser censurado por isso, são os responsáveis pelas
circunstâncias que mantiveram o texto desconhecido, e não os pesquisadores que, afinal,
foram privados do objeto. Mesmo assim, é igualmente necessário reconhecer que tal
lacuna, objetivamente, não pôde deixar de interferir, de um modo ou de outro, na
interpretação, na medida em que a consideração a respeito da evolução marxiana em um
determinado intervalo do percurso do autor não considerou todos os textos do período
delimitado. Assim, por exemplo, as relações que se poderiam estabelecer entre os
diferentes textos fatalmente perderá algumas mediações existentes e, portanto, o sentido
da trajetória não deve aparecer em toda sua riqueza.
Em relação ao manuscrito sobre List, a asserção acima vale, por exemplo, para a
investigação da relação entre os cadernos e o manuscrito de Paris, os cadernos de Bruxelas
e de Manchester (isto é, o conjunto da produção marxiana de meados de 1844 a meados
de 1846), por um lado, e Miséria da Filosofia (publicada em meados de 1847) por outro.
Outro exemplo: cronologicamente, é A ideologia alemã o texto mais próximo do
manuscrito sobre List, o qual, portanto, pode contribuir com alguma novidade para a
interpretação daquele manuscrito já tornado canônico. Um bom exemplo específico de
questão cuja compreensão fica fortemente prejudicada pela desconsideração do
manuscrito sobre List é a da relação, no curso da formação da crítica marxiana da
economia política, entre Marx e os economistas. Nesse caso, a passagem dos cadernos de
Bruxelas (primeiro semestre de 1845) e de Manchester (meados de 1845) à Miséria da
Filosofia pode ser melhor apreciada com a mediação do manuscrito sobre List, bem como
é favorecida a conexão desse período mais avançado e as aquisições da crítica parisiense.
Em suma, não resta dúvida, a nosso ver, de que se trata de um elo fundamental para os
problemas aqui em jogo.
Apesar disso, com base nas referências mencionadas acima podemos estimar o
quão regularmente iremos encontrar essa lacuna em discussões às quais o texto concerne

36
em maior ou menor medida (como é o caso das discussões sobre trajetória do
pensamento de Marx, notadamente na década de 1840). Isso se deve, num primeiro
momento, como dissemos, à própria indisponibilidade física do texto – assim como Lênin,
por exemplo, também não teve acesso a textos fundamentais para a compreensão do
percurso intelectual de Marx (mas, nem por isso, sua interpretação da gênese do
pensamento marxiano deixou de ser hegemônica, mantendo-se inclusive após a
publicação daqueles textos que não puderam ser levados em conta pelo distinto
revolucionário…). Uma vez tendo sido publicado o manuscrito sobre List, devemos
reconhecer, entretanto, que sua recepção jamais poderia ter o mesmo potencial de
irradiação e transformação no marxismo e na percepção da obra de Marx como tiveram as
publicações de A ideologia alemã na década 1920, do manuscrito de 1844 na década de
1930, e dos Grundrisse, nas décadas de 1940 e 195021. Isso se deve, provavelmente, tanto
ao próprio conteúdo do manuscrito sobre List, que não tem a abrangência dos demais
citados acima, como também, é presumível, ao contexto histórico e do debate marxista no
momento em que ele vem se somar ao repertório, no início da década 1970.
Fato é que o texto continua sendo ignorado. Do ponto de vista científico, esse vazio
é injustificável. Mas, se ele se mantém, certamente há razões – as quais, entretanto, não
podemos perscrutar aqui, mas temos uma hipótese do que pode ser parte da explicação.
Mesmo após a publicação do manuscrito sobre List (assim como de outros manuscritos até
então inéditos aparecidos na MEGA a partir de meados da década de 1970 até hoje em
dia), o marxismo e mesmo as pesquisas sobre Marx continuaram adotando muitas
referências “desatualizadas”, a começar pelos próprios textos marxianos utilizados (as
novas traduções com base na MEGA só vão se impondo lentamente: quando feitas, ainda
têm de concorrer com as tradicionais, que continuam a ser reeditadas e utilizadas – em
geral de modo acrítico), mas a “desatualização” verifica-se, sobretudo, na “literatura de

21
Publicações cujo impacto atualmente pode ser comparável, isto sim, ao resultado da conclusão da
segunda seção da MEGA, com a disponibilização, finalmente, de todos os materiais originais ligados à
redação de O Capital.

37
apoio”, que continua veiculando antigas interpretações, fortemente vinculada a
determinados contextos históricos, epistemológicos e institucionais (partidários ou
acadêmicos). Essa permanência inercial de quadros de referência datados, de diferentes
vertentes do marxismo (por vezes apropriados ecleticamente), é coerente com o curioso
fato de que o texto de 1845 sobre List, passados quarenta anos do seu aparecimento,
ainda não tenha sido devidamente incorporado ao debate. Por isso a grande importância e
urgência de sua publicação pela MEGA (a ocorrer provavelmente em breve, no volume
I/5).

1.1.2) O manuscrito sobre List na Marx-Forschung alemã


A maior parte das escassas referências que encontramos sobre o manuscrito
bruxelense de 1845 é pertencente à chamada Marx-Forschung [pesquisa em Marx,
estudos marxianos], linha de pesquisa associada ao próprio empreendimento da MEGA-2
desde a década da 197022. De qualquer modo, mesmo no contexto dessa linha, o
manuscrito foi muito pouco abordado, e via de regra dentro de alguma discussão mais
ampla, questão específica ou comparativa23. Trabalhos voltados exclusivamente ao texto

22
Além dessas referências da pesquisa especializada, o manuscrito bruxelense de 1845 eventualmente é
mencionado, muito secundária e brevemente, em discussões contemporâneas sobre List, algumas das
quais remeteremos mais adiante. Além disso, o texto pode estar presente – mas não necessariamente –
em trabalhos comparativos entre List e Marx, como também veremos mais adiante. Dentre esses
exemplos vale já mencionar, no contexto da presente discussão sobre a utilização de bibliografia
desatualizada, o caso do livro de Roman Szporluk: Communism and Nationalism: Karl Marx versus
Friedrich List. New York: Oxford, 1988, que leva tal expediente ao paroxismo. O livro tem um capítulo
específico sobre o manuscrito bruxelense, entretanto, é curioso que neste mesmo capítulo, o autor
procura dar um enquadramento interpretativo do “jovem Marx” – nomenclatura, aliás, altamente viciada
e diretamente associada a comentadores anteriores à publicação do texto sobre List – com base em
referências que não levaram em conta o texto que deve aí ser enquadrado (algumas das quais
mencionadas por nós acima). Sem dúvida isso representa uma contradição básica grave.
23
O primeiro registro de um trabalho que relaciona o manuscrito sobre List é uma dissertação da
Universidade de Halle orientada por Wolfgan Jahn. ABEND, Hanz: Der Zusammenhang zwichen Wert,
Merhwert und Durchschinittsprofit in der Herausbildung und Entwicklung der marxistischen politische
Ökonomie (1844-1858), 1972.

38
em tela são apenas três: os de Christine Ikker (1988)24, Fabiunke (1982)25 e Vollgraf
(1977)26. Dentre essas referências, a principal para nossa pesquisa foi o artigo de Ikker, que
se volta para o problema da datação, das fontes, da finalidade e da estrutura do texto, com
foco no primeiro tema e abordando o conteúdo do texto apenas de modo muito
sumário27. O artigo foi realizado no âmbito dos trabalhos da MEGA, e, não por acaso,
visivelmente procura dar conta de apresentar, ainda que brevemente, os elementos
necessários à elaboração de um futuro aparelho crítico [Apparat] do texto28.
Não podemos fazer aqui uma devida avaliação histórico-sistemática aprofundada
da chamada Marx-Forschung enquanto linha de pesquisa29, mas aproveitaremos a
24
IKKER, Christine: Zur Entstehungszeit des List-Manuskripts von Karl Marx [A respeito da gênese do
manuscrito sobre List, de Kar Marx]. In: Marx-Engels-Jahrbuch, 1988. Publicado originalmente em:
Beiträge zur Marx-Engels-Forschung, Caderno 22, 1987 [Christine Wagner: Das List-Manuskript von Karl
Marx. Zu einigen Fragen der Entstehungsgeschichte].
25
FABIUNKE, Günter. Nachwort des Herausgegeber [Posfácio do editor]. In: Friedrich List: Das nationale
System der politischen Ökonomie, Berlin, 1982.
26
VOLLGRAF, Carl-Erich: Karl Marx über die ökonomische Theorie von Friedrich List. In:
Wirtschaftwissenchaft. Berlin, 1977, Caderno 7.
27
Sendo esse, portanto, um ponto específico para o qual nosso trabalho pretende contribuir.
28
O caráter do artigo de Ikker e o fato de ter sido publicado na seção dos anuários Marx-Engels que reporta
aos trabalhos da MEGA indicam que naquele momento (1987/88) já havia planos de publicação do
manuscrito bruxelense – o que infelizmente, passados vinte e cinco anos, ainda não ocorreu.
29
Por meio dos créditos de preparação dos diferentes volumes da MEGA podemos identificar alguns dos
principais representantes da Marx-Forschung (apesar da reformulação da MEGA a partir de 1990, boa
parte dos nomes se manteve). Pode-se obter um panorama detalhado da atividade dessa linha de
pesquisa por meio dos seguintes periódicos (nos quais, como dissemos, encontramos muito pouco a
respeito do manuscrito sobre List):
Beiträge zur Marx-Engels-Forschung. Editado pela seção Marx-Engels do Instituto para o Marxismo-
Leninismo do Comitê Central do Partido da Unidade Socialista da Alemanha. Berlin, 1977-1990, Cadernos
1-29.
Marx-Engels-Jahrbuch. Editado pelo Instituto para o Marxismo-Leninismo do Comitê Central do Partido
Comunista da União Soviética e do Partido da Unidade Socialista da Alemanha (publicado como órgão
complementar à MEGA). Berlin, 1978-1990, números 1-13.
Arbeitsblätter zur Marx-Engels-Forschung. Editado pela Martin-Luther-Universität Halle-Wittenberg.
Halle, 1976-1988, Cadernos 1-23;
Marx-Engels-Forschungsberichte. Editado pela Karl-Marx-Universität Leipzig. Leipzig, 1981-1987,
Cadernos 1-5.
Os dois primeiros títulos listados continuaram a ser publicados após 1990. O primeiro deles passou a ser
identificado como Beiträge zur Marx-Engels-Forschung. Neue Folge [nova sequência], no sentido de
demarcar a reformulação da MEGA após 1990, e, além nos números anuais (1991-2010), vem publicando
uma série de cadernos especiais (em grande parte sobre a própria história das edições das obras de
Marx). O Anuário Marx-Engels passou a ser editado pela Fundação Internacional Marx-Engels de

39
discussão a respeito das referências que encontramos sobre o texto de List para destacar a
relevância, bem como, de nossa perspectiva, algumas limitações dessa vertente,
especialmente em sua fase anterior a 1990.
Primeiramente, devemos enxergar nessa linha um interlocutor, visto que seu
objeto de pesquisa é o texto de Marx, e nesse sentido ela é um tipo de marxologia
(embora essa designação tenha para ela conotação pejorativa, significando marxologia
“burguesa”, “revisionista”), que de fato produziu, sistematicamente, uma enorme
quantidade de investigações relacionadas aos textos de Marx. Porém, vemos uma
contradição básica na orientação desses estudos e interpretações, principalmente durante
o primeiro período da MEGA-2. Por um lado, a pesquisa volta-se para os textos de Marx,
por outro, ela mantém-se tributária, em algumas diretrizes fundamentais da apropriação,
do marxismo oficial30. De certo modo, é a vertente mais sofisticada dele; e de certo modo,
também pavimentou sua dissolução.

Amsterdã (IMES).
Dentre os periódicos fundados após a década de 1990 estão:
MEGA-Studien. Editado pela Fundação Internacional Marx-Engels de Amsterdã (IMES), 1994-1998, 10
volumes.
Wissenschaftliche Mitteilungen. Editado pela Associação Berlinense para o apoio da edição MEGA. Berlin,
2002-2008, Cadernos 1-6.
Mais informações no site marxforschung.de, onde se pode encontrar todos os sumários e alguns textos
de parte das publicações. Os sumários da MEGA-Studien e na nova sequência do Anuário Marx-Engels
estão disponíveis na seção da MEGA do site da Academia de Ciências de Berlim-Brandemburgo (BBAW),
parceira alemã do IMES no projeto da MEGA.
30
Algumas das características identificadas com a linha oficial são: compreensão da gênese do pensamento
de Marx segundo a teoria leniniana das três fontes; centralidade do problema metodológico na definição
da especificidade do pensamento de Marx (e nesse contexto a percepção de Marx sobretudo como
“economista”); teoria materialista da história e missão histórica do proletariado; tendência a enquadrar a
obra de Marx como uma espécie de etapa na evolução do marxismo-leninismo (nesse sentido, o
tratamento de Marx e Engels de modo mais ou menos unitário); bem como uma certa ausência regular
da tematização marxiana sobre a política e o estado... Nesses termos gerais, amplamente disseminados e
vulgarizados, podemos seguramente reconhecer alguns eixos fundamentais da linha “oficial”. Em razão
de outros motivos que não precisamente a pesquisa do manuscrito sobre List (na verdade, ligados a um
problema relativo à edição do manuscrito de 1844 pela MEGA em 1982), examinamos uma série de
documentos da DDR e de Moscou das décadas de 1970 e início de 1980 que mencionam Marx ou a
MEGA. Nessa oportunidade pudemos constatar claramente a orientação teórica da qual os eixos
mencionados acima fazem parte de modo explícito e programático.

40
Podemos ilustrar as considerações acima por meio de um artigo relacionado ao
manuscrito sobre List e algumas referências adicionais. Além dos estudos já mencionados,
o artigo de Ehrenfried Galander e Ulrike Galander (1980)31 é um dos poucos trabalhos que
menciona o manuscrito sobre List um pouco mais detidamente. O objetivo, como indica o
título, é estabelecer uma comparação entre List e Carey (economista americano
contemporâneo do primeiro) de acordo com a posição histórica atribuída a eles por Marx
e Engels. Na verdade, a argumentação concentra-se prioritariamente em Carey, com
destaque também para Miséria da Filosofia, e trata do manuscrito sobre List apenas em
poucas páginas (GALANDER: 1980, p. 51-54).
Os autores primeiramente procuram situar o manuscrito sobre List em relação a
outros textos de Marx próximos32. Nesse sentido, eles identificam no manuscrito de 1844
o reconhecimento, por parte de Marx, da coisa como dado primário, que é então refletido
pelo pensamento, a “concepção materialista fundamental” que seria “resultado do debate
crítico com a filosofia hegeliana” (GALANDER: 1980, p. 51)33.
Um segundo ponto considerado pelos autores ainda em relação ao manuscrito de
1844 é a crítica à concepção anistórica dos economistas políticos34. Em contraposição a

31
Karl Marx und Friedrich Engels zur historischen Stellung von Friedrich List und Henry C. Carey. In:
Arbeitsbläter zur Marx-Engels-Forschung. Hale (Saale), 1980, Heft 12, pp. 44-59.
32
Curiosamente, os autores não informam nenhuma datação para o texto. A datação do manuscrito sobre
List esteve envolta em polêmica, como veremos no capítulo 1.3.
33
Os autores poderiam muito bem ter baseado essa interpretação em texto anterior ao manuscrito de
1844, especialmente no manuscrito da crítica da Filosofia do Direito de Hegel, de 1843. Segundo nossa
perspectiva, o manuscrito de 1844 demarca, em relação ao primeiro, a compreensão de que o homem
produz por meio do trabalho as coisas, não apenas as reproduz pelo pensamento, e, principalmente, a
compreensão do homem como ser autoprodutor, que produz historicamente seu próprio mundo.
34
Para fundamentar esse pensamento de Marx sobre a história, os autores destacam as referências feitas
no manuscrito de 1844 a Wilhem Schulz, com seu livro Die Bewegung der Produktion [O movimento da
produção], de 1841, como um escrito fundamental para a compreensão marxiana da história. Aqui se
mostram novamente os aspectos contraditórios da Marx-Forschung da primeira fase da MEGA. A maioria
dos comentários do manuscrito de 1844 não considera o primeiro caderno (por diversas razões; dentre
elas, contribuiu o fato de a obra ter tido muitas edições que não apresentavam o primeiro caderno), em
que estão as mencionadas citações. Nisso se mostra a vantagem de examinar os textos de modo mais
sistemático e completo. De fato, segundo nossa própria análise da referida crítica parisiense de 1844,
Schulz merece grande destaque, principalmente, a nosso ver, para uma caracterização, por parte de
Marx, do capitalismo industrial como capitalismo maduro. Para reforçar a importância de Schulz,

41
isso, de acordo com a teoria do reflexo, em Marx “a análise da realidade tangencia, por
consequência, dois níveis: o desenvolvimento da realidade econômica e o
desenvolvimento da teoria econômica” (GALANDER: 1980, p. 51). De fato, é uma aquisição
específica do segundo caderno e do início do terceiro caderno do manuscrito de 1844 o
estabelecimento por Marx, pela primeira vez, daquela conexão histórica entre o
desenvolvimento da teoria econômica e o desenvolvimento da propriedade privada em
termos que reaparecerão claramente no manuscrito sobre List (como teremos
oportunidade de analisar em nosso comentário ao texto).
Os autores destacam a passagem da Crítica da Filosofia do Direto de Hegel –
Introdução (publicada em janeiro de 1844) – em que Marx refere-se pela primeira vez
explicitamente a List, passagem que de fato anuncia, em termos bastante específicos,
pontos que terão desenvolvimento central no texto sobre List redigido quase dois anos
depois.
Por fim, completando o quadro das relações apontadas entre o manuscrito sobre
List e os demais textos, os autores apontam que o escrito está “temporalmente e do ponto
de vista do conteúdo em estreita conexão com A ideologia alemã” (GALANDER: 1980, p.
52). Embora a “concepção materialista da história” seja “formulada apenas em A ideologia
alemã”, no manuscrito sobre List Marx já teria alcançado os pontos de apoio da mesma35.
“Visto a partir do estágio dos conhecimentos econômicos, Marx encontra-se no limiar do
reconhecimento da teoria ricardiana do valor trabalho” (GALANDER: 1980, p. 53)36.

entretanto, os autores recorrem a um expediente que não é incomum, a saber, identificar uma referência
posterior de Marx sobre o assunto – nesse caso mostrando sua concordância. Marx elogia Schulz em O
Capital I, considerando seu livro, em uma nota, como “uma obra excelente sob diversos aspectos”.
35
Um exemplo de como pré-interpretações podem contaminar uma análise, mesmo que se pretenda
detalhada, é a avaliação do grupo de estudos socialistas de Hamburgo (SOST), que em seu comentário do
manuscrito sobre List e de A ideologia alemã conclue que, logicamente, o manuscrito sobre List não pode
ser anterior à Ideologia alemã, pois naquele a parte propriamente “econômica” do pensamento de Marx
se mostra mais madura. Cf. SOST: Die “Deutsche Ideologie” - Kommentar. Hamburg: VSA, 1981.
36
Esse é um topos tradicional da linha. Nesse e em outros dos pontos mencionados, o artigo ora debatido
baseia-se em JAHN e NOSKE: Fragen der Entwicklung der Forschungsmethode von Karl Marx in Londoner
Exerptheften von 1950-1953 (1979). In: Arbeitsbläter zur Marx-Engels Forschung, Heft 7, pp.4-112). Esse
artigo de 1979 é uma referência básica para entender o enquadramento do artigo ora discutido, dada a

42
Os autores entendem a crítica marxiana ao idealismo de List (que no manuscrito
tem um amplo desenvolvimento em diversos pontos) como sinal do reconhecimento, por
parte de Marx, da “missão histórica do proletariado” (GALANDER: 1980, p. 53) 37. E
concluem sua apreciação do manuscrito sobre List chamando atenção para a questão da
relação entre Marx e os economistas (assunto que, como já dissemos, de fato é explícito
no manuscrito bruxelense de 1845). Nesse contexto, porém, os autores cometem um novo
retardo cronológico na interpretação: no manuscrito sobre List haveria indicações da
“tentativa de uma primeira classificação dos economistas burgueses” (GALANDER: 1980, p.
54). Para nós, é suficientemente claro que no segundo e terceiro cadernos do manuscrito
de 1844 já há um esquema básico bem estruturado de classificação dos economistas, que
será reafirmado e enriquecido com novos autores no manuscrito sobre List.

Ao debatermos com os autores acima, indicamos o longo artigo de Jahn e Noske,


de 1979, como uma referência fundamental no contexto ora em questão; estranhamente,
o manuscrito sobre List não é mencionado no momento em que é traçada uma

amplitude do escopo e o papel de destaque que Jahn teve na linha e na MEGA (ver: Wissenschaftliche
Mitteilungen, Heft 1 (2002) – In Memoriam Wolfgang Jahn). Após tratar do problema do método de
pesquisa e do método de exposição (em que Hegel é importante) e definir a unidade das “três
componentes fundamentais” como pressuposto da crítica da economia política, antes de entrar na
consideração dos cadernos de marxianos de Londres de 1850-53 referidos no título do artigo, os autores
traçam, introdutoriamente, um panorama da evolução da crítica da economia política até o fim da
década de 1840. A trajetória culmina com Miséria da Filosofia.
A mesma apreciação da relação entre Marx e Ricardo e sua resolução em Miséria da Filosofia encontra-
se, por exemplo, no artigo de Wygodski: Aus der Entstehungsgeschichte des Capital – Gradmesser der
Reife der ökonomischen Theorie von K. Marx in ihren verschiedenen Entwickungsetappen. In:
Arbeitsbläter zur Marx-Engels-Forschung, 2, 1976. Aproveitamos para registrar que no título desse artigo
mostra-se um procedimento relativamente comum da linha, que era a avaliação do percurso marxiano a
partir da perspectiva das obras “maduras”. Em sua interpretação do conteúdo do texto de List, Fabiunke
segue esse esquema, de considerar, do ponto de vista do marxismo maduro, uma lista do que é e do que
não é válido no manuscrito sobre List.
37
Esse é, igualmente, um topos constante em toda bibliografia da Marx-Forschung anterior à década de
1990 por nós examinada. Aqui os autores invocam uma carta de Engels, de 1888 (MEW, 36, p. 11)
segundo a qual já em 1845 ele e Marx estavam convencidos desse ponto. Ora, lembremos que antes
disso, na passagem da crítica de Kreuznach de 1843 para a Introdução de 1844, surgem justamente, pela
primeira vez, a figura do proletariado e a classe trabalhadora identificada com a revolução social em
contraposição à revolução política.

43
interpretação da evolução de Marx até os referidos cadernos londrinos do início da década
de 1950. Janh, inclusive, já havia orientado pelo menos duas dissertações que trabalharam
com o manuscrito bruxelense de 1845 editado em 1972 (ABEND, 1972; VOLLGRAF, 1977).
Do mesmo modo, Wygodski, quando considera, no contexto de meados da década
de 1840, as “relações de Marx com a economia política burguesa clássica um critério, em
significativa medida, do amadurecimento da visão econômica do próprio Marx” (1976, p.
27) curiosamente também não cita em nenhum momento o manuscrito bruxelense de
1845.
Adicionalmente a essa constatação, dentre as revistas listadas na nota 33
poderíamos encontrar artigos nos quais a incorporação do texto sobre List, em maior ou
menor medida, enriqueceria as discussões sobre questões específicas, assuntos e
enfoques em que a ausência desse texto se faz sentir. Mas o silêncio total a respeito do
manuscrito bruxelense de meados do segundo semestre de 1845 nas mais de cinquenta
páginas de um artigo publicado no Anuário Marx-Engels de 1983 sob o título: “A formação
da economia política marxista nos anos quarenta do século XIX”38 causa certa
perplexidade. E essa percepção tornar-se-á ainda mais clara com a edição no manuscrito
bruxelense na MEGA I/5, provavelmente em breve.

1.1.3) O manuscrito sobre List na marxologia brasileira


Seguindo com a forçosa a constatação de que o manuscrito sobre List representa
uma lacuna regular nos estudos sobre Marx, remetemos aqui uma série de trabalhos
brasileiros especializados recentes. São pesquisas representativas da linha da qual nós
mesmos partilhamos, e dentro da qual pretendemos dar uma contribuição específica.
Além disso, nas consultas que realizamos em diferentes bancos de teses nacionais, não
encontramos outras pesquisas especializadas em Marx em que pudesse surgir um

38
MALYSCH, Alexander: Die Herausbildung der marxistischen politischen Ökonomie in den viertziger Jahren
des 19. Jahrhunderts. Marx-Engels-Jahrbuch (1983).

44
interesse direto pelo texto de List. Nosso critério foi o seguinte: selecionamos alguns
trabalhos que delimitam um período e um tema da trajetória de Marx começando em
1841-43 e seguindo até 1846-48 – e constatamos que o manuscrito sobre List nunca é
citado, apesar de pertencer ao período e ser relevante para as discussões propostas39.
A característica comum estrita dessas pesquisas é que todas se baseiam
diretamente na investigação de José Chasin, configurada em seu texto “Marx: estatuto
ontológico e resolução metodológica” (São Paulo: Ensaio, 1995), especialmente o capítulo
II, em que o autor traça uma análise da gênese do pensamento de Marx40. Ora, uma vez
que Chasin não mencionou o manuscrito sobre List naquele contexto, essa referência
acabou desapercebida dentro dos períodos delimitados pelos respectivos trabalhos
citados.
Na medida em que a nossa própria investigação dos textos de Marx (desde a
iniciação científica, passando pelo mestrado), também deriva diretamente do trecho
chasiniano mencionado, acabamos nos defrontando com o problema de como nós
mesmos devemos lidar com essa questão. Mas só poderemos dimensionar melhor esse

39
ROCHA, Frederico Almeida: O complexo categorial da subjetividade nos escritos marxianos de 1843 a
1846. Belo Horizonte: Diss. UFMG/FAFICH, 2003.
BARBOSA, Silvia Pereira: Crítica à especulação e determinação social do pensamento na obra marxiana de
1843 a 1848. Diss. UFMG / FAFICH, 2001.
ENDERLE, Rubens Moreira: Ontologia e política: a formação do pensamento marxiano de 1842 a 1846.
Belo Horizonte: Diss. UFMG / FAFICH, 2000.
ALBINATI, A.S.C.B. Gênese, função e crítica dos valores morais nos textos de 1841 a 1847 de Karl Marx.
Diss.. Belo Horizonte. UFMG/FAFICH, 1999.
TEIXEIRA, P. T. F. “A Individualidade Humana na Obra Marxiana de 1843 a 1848”. In: Ensaios Ad Hominem.
São Paulo, vol. 1, tomo I (Marxismo), 1999.
Com relação especialmente à formação da crítica da economia política:
COTRIM, Ivan: Karl Marx: a determinação ontonegativa originária do valor. Tese PUC / SP, 2008; que
cobre o período de 1844 até 1848.
Um texto que fornece um bom panorama do percurso inicial de Marx e busca delimitar, segundo os
mesmos princípios que norteiam as dissertações acima, os momentos de um período que vai desde o
início da década de 1840 até 1847, porém igualmente deixa de fora manuscrito sobre List:
FERREIRA DE ASSUNÇÃO, Vânia Noeli: Marx no tempo da Gazeta Renana. Revista da APG/PUC-SP, São
Paulo, ano XI, n. 29, p. 193-217, set./2003.
40
As origens desse capítulo remontam a CHASIN, J. “Marx no Tempo da Nova Gazeta Renana”. In: MARX, K.
A Burguesia e a Contra-Revolução. São Paulo: Ensaio, 1987.

45
problema após o comentário do manuscrito bruxelense de 1845, brevemente, nas
considerações finais.

46
1.2) Relevância de Friedrich List para o debate contemporâneo

Ao resgatarmos o manuscrito bruxelense de 1845, além de contribuirmos para


suprir uma lacuna bem clara e específica nas pesquisas sobre Marx, inevitavelmente
trazemos à tona, ainda que secundariamente e já mediada pela avaliação de Marx, a
própria figura de Friedrich List (1789-184641) – o qual, afora toda sua importância histórica,
também desempenha um papel atual em tempos de crise ou em situações de atrofia
econômica, dada sua contraposição ao liberalismo de extração smithiana e a defesa do
protecionismo como um modo de desenvolver a economia de um país que se encontre em
condições desfavoráveis frente às demais burguesias nacionais concorrentes entre si, e
com isso remete a tão atual questão das relações econômicas internacionais. Esses são os
principais eixos em que List pode ressurgir nos debates contemporâneos42.

O livro de List “foi mais frequentemente traduzido do que qualquer outro


economista alemão, à exceção de Karl Marx”43 – ambos, até a época da primeira guerra
41
Não podemos deixar de observar o fato notável de que a vida de List transcorreu delimitada, quase que
exatamente, entre as duas revoluções que demarcam a ascensão e a virtual queda da burguesia. Com
isso, a derrocada física e espiritual e o possível suicídio do autor há apenas pouco mais de um ano antes
de 1848 ganham um contorno metafórico, por assim dizer. Para quem não está familiarizado com a
biografia de List, ao longo da leitura deste item será necessário consultar a cronologia em anexo.
42
Não é nosso objetivo fazer aqui uma apreciação crítica de List tendo por base o manuscrito bruxelense
(essa aparecerá naturalmente em nosso comentário do texto marxiano). Entretanto, uma vez que as
referências que serão expostas adiante mostrarão, por fim, que a relevância atual de List localiza-se
sobretudo no âmbito da política (o nacionalismo econômico, o problema do desenvolvimento
econômico dos estados nacionais, as relações comerciais entre as nações), apenas registraremos aqui
duas passagens definidoras da posição marxiana nesse campo. Diz Marx no manuscrito bruxelense de
1845:
“Certamente a burguesia tem razão quando concebe, em termos gerais, os seus interesses como
idênticos, assim como o lobo enquanto lobo tem o mesmo \ idêntico interesse ao dos lobos da sua
alcateia; tanto é o interesse de um que ele, e não o outro, atira-se sobre a presa.” No mesmo sentido,
porém de modo menos metafórico e mais detalhado: “O burguês, conquanto o burguês individual lute
contra os outros, tem enquanto classe um interesse coletivo, e essa coletividade, assim como para dentro
é voltada contra o proletariado, para fora é voltada contra os burgueses de outras nações. Isso o burguês
intitula sua nacionalidade.”
43
HENDERSON, William O.: Friedrich List: Economist and Visionary. London: Frank Cass, 1983.
O fato de haver até mesmo uma tradução brasileira parece realçar esse sucesso editorial: LIST, G. F.:

47
mundial, figuravam praticamente isolados como os únicos economistas germânicos de
peso (situação bem discrepante com uma tradição alemã que deu ao mundo tantos
pensadores profundos e inventores fecundos). As obras de List, ao contrário das de Marx,
tiveram uma primeira edição de referência estabelecida já poucos anos após a morte do
autor44; e seu legado de fato não foi esquecido na Alemanha, como nos exemplifica o
seguinte título surgido trinta anos após sua morte: “Fr. List, ein Vorläufer und ein Opfer für
das Vaterland” [F. List, precursor e sacrificado pela pátria] (Anon., 2 vols., Stuttgart,
1877)45. Assim, diferentemente de Marx, List transformou-se numa espécie de herói
nacional46, apesar de em vida ter sido preso e exilado por razões políticas, porém depois
reabilitado – enquanto Marx teve a cidadania alemã cassada, foi expulso de Paris e depois
de Bruxelas, tudo isso quando ainda mal completara trinta anos de idade (currículo
brilhante para um revolucionário). Um outro exemplo desse tratamento dispensado a List
por seus compatriotas podemos encontrar na biografia publicada por Karl Eduard Gottlieb
Jentsch em 1901. Impresso em solenes letras góticas, assim inicia o texto: “Nós alemães
temos um arquivo-Wagner e um arquivo-Nietzsche, mas não há um lugar onde se
encontre reunidos a obra e o legado manuscrito do fundador de nossa união aduaneira
[Zollverein] e nosso sistema ferroviário”47, e prossegue discutindo a necessidade de um tal
empreendimento, associado à edição das obras do autor. Além dessa, há inúmeras
biografias de List, tanto em alemão quanto em inglês48.

Sistema nacional de Economia Política. In: Os Economistas. São Paulo: Abril Cultural, 1983.
44
Editada em três volumes por Ludwig Häusser (1818-1867) em 1850-51.
45
O fac-símile pode ser encontrado no google books.
46
Essa diferença entre eles é absolutamente coerente, na medida em que o primeiro propugnava o próprio
fim do poder político em geral, enquanto o segundo via no estado a mais alta realização do humano; o
primeiro trabalhou em prol da emancipação humana universal, o segundo pelo desenvolvimento
nacional da burguesia alemã, e, como tal, foi amplamente reconhecido pelos efetivos e preciosos serviços
prestados.
47
Fac-símile disponível em: http://www.archive.org/stream/friedrichhofm00jent#page/n11/mode/2up
48
Entre as mais antigas, pode-se mencionar: Biography of List by Goldschmidt (Berlin, 1878); dentre as mais
recentes, destacamos a de Willian Henderson: Friedrich List – eine historische Biographie des Grunders
des Deutschen Zollvereins und des ersten Visionar eines vereinten Europa [Friedrich List – uma biografa
histórica do fundador da união aduaneira alemã e o primeiro visionário de uma Europa unida].
Dusseldorf, 1984. De fato, não apenas por sua teoria, mas também pela correlata atividade política e

48
Em sua qualidade de alemão e de economista, a importância de List é a tal ponto
unânime que mesmo em comentários do manuscrito bruxelense favoráveis a Marx sente-
se por vezes certo desconforto frente à virulência implacável do ataque marxiano à insigne
figura do representante do burguês alemão. Busca-se então amenizar o inflamado
julgamento, típico da mocidade, aludindo o posterior reconhecimento por Marx (em parte
via Engels tardio) da importância de List. A nosso ver, isso em nada altera os julgamentos
específicos de Marx sobre List no manuscrito bruxelense de 1845 (e de fato não há
vestígios de qualquer reavaliação posterior do livro de List). Reconhecer em List o maior
dos economistas alemães não representa, a bem da verdade, grande deferência; trata-se
mais da constatação de que a Alemanha não produziu bons economistas (desse ponto de
vista, o castelo teórico da crítica marxiana da economia política torna-se ainda mais
impressionante em sua originalidade e profundidade).
A nosso ver, justamente na medida em que List tem de fato grande importância e
influência, inclusive para além do contexto específico da Alemanha da época, tanto melhor
que ele tenha sido submetido a uma crítica severa, abrangente e detalhada por Marx,
como nos mostra o manuscrito bruxelense de 1845. E a explicitação do devido
reconhecimento de List torna mais significativa, útil e atual a crítica de Marx.

List sempre terá seu lugar assegurado nas ementas dos cursos de história do
pensamento econômico. Ele é lembrado como uma referência clássica, portanto relevante,
especialmente quando se trata da relação entre economia e política, economia e estado

empresarial List é um marco decisivo na história da unificação alemã, e é amplamente reconhecido por
isso em qualquer livro de história e em verbetes de manuais alemães atuais.

49
nacional49, nacionalismo econômico50. Assim, estudos sobre autor costumam figurar não
apenas na economia, na verdade, o maior destaque se dá na ciência política e nas relações
internacionais.
No que se refere mais especificamente às teorias econômicas (porém, sempre no
contexto da concorrência intercapitalista organizada na forma de estados nacionais), o
autor costuma ser relacionado às teorias do desenvolvimento econômico (em razão do seu
próprio esquema explicitamente etapista) e ao chamado desenvolvimentismo51. Isso
naturalmente não podia ser desprezado pelo debate brasileiro: “Entre 1945 e 1970, a
época dourada do crescimento capitalista e socialista fez pensar que chegara a hora de
realização não só do projeto de autodeterminação dos povos, mas também das profecias
econômicas dos clássicos, mesmo quando tivessem sido perseguidas por meio das
políticas propostas pelo heterodoxo Friedrich List, implementadas pelos estados
desenvolvimentistas que se multiplicaram e se legitimaram através de todo o mundo
depois da segunda guerra mundial (Fiori, 1999, grifo nosso)52.
List também é uma referência histórica relevante para a área das relações
internacionais53, e, sendo assim, ele ganha um novo destaque com as discussões sobre a

49
Veja-se LEVI-FAUR, David: Friedrich List and the political economy of the nation-state. Review of
International Political Economy 4:1, Spring 1997.
Disponível em: http://poli.haifa.ac.il/~levi/levifaurlist.pdf
50
Veja-se SNYDER, Louis L.: Economic Nationalism. Friedrich List, Germany´s Handicapped Colbert.
Blomington, 1978.
Dentre os debates mais recentes, Veja-se: LEVI-FAUR, David: Economic nationalism: from Friedrich List to
Robert Reich. Review of International Studies (1997), 23.
51
Veja-se OTFRIED, Garbe: Friedrich List and his Relevance for Development Policy. In: Intereconomics, 12.
Hamburg: Verl. Weltarchiv, 1977.
52
Citado em: CARDOSO, Graziella Fernanda: A armadilha do subdesenvolvimento – uma discussão do
período desenvolvimentista brasileiro sob a ótica da Abordagem da Complexidade. Tese, FEA/USP, 2012,
p. 15. Entre as influências dos “pioneiros” do desenvolvimentismo do pós-Segunda Guerra, a autora
qualifica List como um dos “pioneiros dos pioneiros”, ao lado de Hamilton, no fim do século XVIII, e
posteriormente Schumpeter, no início do XX (p. 17). (A autora parece considerar essas influências como
fatores isolados, sem estabelecer as mediações: é preciso levar em conta que Hamilton foi uma influência
direta para o próprio List. Por outro lado, seria também interessante buscar as relações entre Schumpeter
e List.)
53
Veja-se BOLSINGER, Eckard: The Foundation of Mercantile Realism – Friedrich List and the Theory of
International Political Economy. Paper. University of Lincoln, 2004.

50
“globalização”. Ainda no âmbito da relevância de List para a questão das relações
internacionais, podemos mencionar dois temas específicos. Wendler destaca que List é
uma figura histórica e pioneira nas relações Estados Unidos-Alemanha. De fato, isso não é
difícil de perceber, basta ter em mente alguns momentos da biografia de List,
notadamente entre 1824 e 1833. Além disso, List é considerado nada menos do que um
precursor da integração europeia54.

Para concluir esta apreciação sobre a influência e a atualidade de List, é oportuno


referir os debates que buscam confrontar Marx e List. Tal comparação é por demais
evidente e não poderia deixar de ter sido feita. Assim, não é estranho que parte das
referências a respeito dessa comparação foi publicada antes do aparecimento do
manuscrito bruxelense de 1845. De resto, sendo os trabalhos anteriores ou posteriores a
1972, os termos de comparação giram em torno dos temas acima elencados, mais
relacionados à ciência política e às relações internacionais do que à economia, o que
poderia indicar uma abordagem tendente à perspectiva listiana55.
Dentre os trabalhos mais recentes destaca-se o livro Communism and Nationalism:
Karl Marx versus Friedrich List. (New York: Oxford, 1988), de Roman Szporluk, pesquisador
do Instituto de Estudos Ucranianos da Universidade de Harvard, e cujos demais trabalhos

Disponível em: http://www.psa.ac.uk/journals/pdf/5/2004/Bolsinger.pdf


Além desse artigo, no mesmo sentido de frisar a relevância de List para o tema relações internacionais, é
sintomático que os dois artigos de Levi-Fatur remetidos acima foram publicados em periódicos dessa
área.
54
cf. EUGEN, Wendler: Friedrich List : Leben und Wirken in Dokumenten. Reutlingen: Oertel & Spörer,
1976. Veja-se, igualmente, o biografia de Henderson (1984) mencionada acima.
55
Dentre os textos anteriores à publicação do manuscrito bruxelense, as referências mais antigas são os
trabalhos de Alfred Meusel, ambos de 1928.
MEUSEL, Alfred: List und Marx – eine vergleichende Betrachtung. [List e Marx – uma consideração
comparativa]. Jena: Fischer, 1928.
MEUSEL, Alfred: Das Problem des äusseren Handelspolitik bei Friedrich List und Karl Marx [O problema
da política comercial externa em Friedrich List e em Karl Marx]. Zeitschrift des Instituts für Weltwirtschaft
an der Universität Kiel, Vol 27. Tübingen, 1928.
Além dessas referências, dentre os textos anteriores a 1972, veja-se o texto de Fabiunke citado,
claramente de perspectiva marxista.

51
concentram-se nas relações entre os países da antiga União Soviética. O caráter teórico do
título em questão destoa do foco da produção do autor, ao mesmo tempo em que
reafirma as perspectivas de incorporação de List aos debates atuais definidas acima. Para
nossa pesquisa, o importante é que esse livro apresenta um capítulo específico para o
manuscrito sobre List, que portanto vem se somar aos poucos comentários específicos do
texto. Entretanto, além de o autor não ser especialista em Marx, sua abordagem é restrita
ao enquadramento particular do debate comparativo proposto (isto é, a partir do viés
listiano do nacionalismo56). É instrutivo notar que a comparação específica proposta
Szporluk deve ser considerada mais no âmbito da crítica marxiana da política (da qual o
manuscrito sobre List é, de resto, riquíssimo em formulações lapidares no melhor estilo de
Marx) do que na crítica marxiana da economia política (que é o tema da presente tese,
vale lembrar). Que o debate aqui se coloca no âmbito da política fica claro já na
contraposição das epígrafes do livro, ademais, muito bem escolhidas: “The workers have
no country” – Karl Marx (1848) / “Between the individual and the humanity stands the
nation” – Friedich List (1841)57.

56
Apesar de o autor contemplar no título do livro ambas as posições – nacionalismo e comunismo – ele
volta-se ao manuscrito bruxelense seletivamente a partir do viés listiano – seu interesse é a questão do
nacionalismo. Além disso, quando o autor afirma, no capítulo reservado ao manuscrito bruxelense, que
“Marx percebeu o nacionalismo como ideologia burguesa” (Szporluk: 1988, capítulo 3), ele novamente se
submete a interpretações antiquadas e impróprias. Primeiramente, em momento algum Max refere-se a
nacionalismo (a respeito da definição marxiana de nacionalidade, ver nota 2 acima). Foram tais
interpretações, pertencentes ao marxismo vulgar e ao senso comum mais raso, que disseminaram o
termo ideologia, palavra que, inclusive, não ocorre em nenhum momento no manuscrito sobre List. Para
além da apreciação do texto de Szporluk, do ponto de vista da marxologia isso é muito interessante, pois
A ideologia alemã é o texto cronologicamente mais próximo ao manuscrito bruxelense, e a teoria de List
de fato pode ser considerada um tipo de ideologia em sentido marxiano estrito: na medida em que é
fundamentalmente matrizado na filosofia especulativa. A respeito dos significados do termo “ideologia”
em Marx, ver: VAISMAN, Ester: A Determinação Marxiana da Ideologia. Tese. UFMG 1996.
57
Por volta da época em que o livro de List foi publicado, Marx compartilhava, em termos fundamentais, da
mesma visão do estado (de resto predominante há séculos e séculos na história da filosofia até hoje).
Com isso, indicamos a radicalidade da “viragem” ocorrida de fins de 1843 para o início de 1844 e o início
da gênese do pensamento propriamente marxiano de Marx (conforme frisa Chasin: 1995). Sobre a
concepção pré-marxiana de Marx da politicidade, ver: EIDIT, Celso: O Estado racional – lineamentos do
pensamento político de Karl Marx nos artigos da Gazeta Renana (1842-1843). Dissertação.
UFMG/FAFICH, 1998. Para uma contraposição com a visão propriamente marxiana da politicidade, ver:
SOUZA, Tomás Bastian: Marx e os direitos humano – da Questão Judaica à Ideologia Alemã. Dissertação,

52
Entendemos que o autor procurou para a epígrafe uma formulação concisa de
Marx, e talvez por esse motivo ele não tenha invocado a mesma ideia, porém configurada
de modo ainda mais rico no manuscrito bruxelense de 1845, que aproveitamos para
remeter aqui:
“A nacionalidade do trabalhador não é francesa, não é inglesa, não é alemã, ela é o
trabalho, a livre escravidão, o auto-barganhamento [Selbstverschacherung]. Seu governo
não é francês, não é inglês, não é alemão, ele é o capital. Seu ar pátrio não é o francês,
não é o alemão, não é o inglês, ele é o ar da fábrica. O solo que lhe pertence não é o
francês, não é o inglês, não é o alemão: ele está alguns palmos debaixo da terra.”

USP/FFLCH, 2009. (apesar do período definido no título, infelizmente o autor não cita o manuscrito
bruxelense).

53
54
1.3) Introdução ao manuscrito bruxelense de 1845
(datação, circunstâncias da redação e finalidade do escrito)

Contando apenas 23 anos, quando apenas despontava na cena alemã, o caminho


de Marx cruzou com o de List – trinta anos mais velho e com uma longa carreira já
consolidada como intelectual, político, homem de negócios, professor e publicista. “Com a
preparação da Gazeta Renana pelo comitê encarregado de industriais renanos, List foi
convidado, em outubro de 1841, a assumir a chefia de redação do jornal, que lhe declarou
formalmente, nessa oportunidade, a 'concordância' com os pontos de vista estabelecidos
no Sistema nacional de economia política [publicado em abril], como 'vindouras diretrizes
da nação'” (FABIUNKE: 1982, pp. 486-487). List declina do convite por motivo de saúde;
Marx acaba por assumir o cargo em abril de 1842.

E ao longo de sua atividade como redator chefe da Gazeta Renana, é natural que
Marx estivesse atento à influência listiana de então. “Entre outras questões que
forneceram a Marx, durante sua atividade como redator político da Gazeta Renana, os
primeiros importantes estímulos para uma ocupação intensiva com questões econômicas,
estavam, como é sabido, os explícitos e inflamados 'debates sobre livre-comércio e
proteção alfandegária', colocados intensamente após a fundação da união alfandegária
alemã em 1834 (em larga medida intelectualmente planejada por List) e poderosamente
renovados por meio do aparecimento do Sistema nacional da economia política, de List,
em 1841.
Com grande probabilidade, pode ser admitido que Marx, naquela época [1842], já
havia entrado em contato com o conteúdo fundamental do Sistema nacional da economia
política de Friedrich List, que se alastrou pela Alemanha e teve também a total aprovação
dos editores da Gazeta Renana. Esta suposição é autorizada também pelo fato de que
Marx, na Gazeta Renana, retomou o debate com a Gazeta Geral de Augsburg, que contava

55
com List entre seus correspondentes regulares. Nela, desde 1839, List publicara diversas
contribuições sobre problemas de política econômica e especialmente sobre questões da
política comercial alemã, nas quais Marx envolveu-se em mais de um artigo na Gazeta
Renana, mesmo sem mencionar literalmente List” (FABIUNKE: 1982, pp. 486-487).

***

Apenas meses depois, Marx já se encontra em um patamar teórico completamente


distinto. Na Crítica da Filosofia do Direito hegeliana - Introdução, artigo escrito em fins de
1843 e publicado no início do ano seguinte, é tematizado o anacronismo da Alemanha e,
nesse contexto, aflora uma menção a List. Nessa passagem, encontramos não apenas a
primeira alusão marxiana ao ilustre economista alemão, mas também todo um conjunto
de motivos específicos os quais (além da própria problemática de fundo, a saber, da
particularidade alemã) reaparecerão, decididamente, no manuscrito bruxelense, e é
interessante notar como a leitura do último ilumina a citada passagem, que considerada
isoladamente é difícil, pois é concisa, carregada de referências e constitui uma espécie de
parênteses (o tema específico lá é a crítica da política).
Traduzimos aqui a passagem completa dessa primeira alusão de Marx a List, de fins
de 1843, passagem que, como veremos, introduz explicitamente assuntos centrais do
manuscrito Bruxelense:
“/.../ Assim que a moderna realidade político-social mesma é submetida à crítica,
assim que a crítica, portanto, eleva-se a problemas verdadeiramente humanos, ela está
fora do status quo alemão, ou ela agarraria seu objeto abaixo do objeto dele. Um
exemplo! A relação da indústria, do mundo da riqueza como um todo, para com o mundo
político, é um problema capital dos tempos modernos. Sob qual forma os alemães
começam a lidar com esse problema? Sob a forma das barreiras alfandegárias, do sistema

56
proibitivo, da economia nacional. O alemanismo [Deutchtümelei] foi do homem à matéria
e, então, certa manhã, nossos cavaleiros do algodão e heróis do ferro viram-se
transformados em patriotas. Na Alemanha começa-se, pois, a reconhecer a soberania do
monopólio internamente, por meio do que se lhe confere a soberania do monopólio
externamente. Assim, na Alemanha começa-se agora a iniciar o que na França e na
Inglaterra começa a terminar. A velha situação podre contra a qual estão teoricamente em
revolta esses países, e que eles ainda suportam apenas como se suporta correntes, na
Alemanha é saudada como o raiar da aurora de um belo futuro que ainda mal ousa passar
da teoria ardilosa [listig]58 para a implacável prática. Enquanto na França e na Inglaterra o
problema é: economia política ou domínio da sociedade sobre a riqueza, na Alemanha é:
economia nacional ou domínio da propriedade privada sobre a nacionalidade. Assim, na
França e na Inglaterra trata-se de superar o monopólio levado às últimas consequências;
na Alemanha, trata-se de ir às últimas consequências do monopólio. Lá, trata-se da
solução, e aqui se trata, antes, da colisão. Um exemplo muito instrutivo da forma alemã
dos problemas modernos, um exemplo de como nossa história, qual um recruta inapto,
teve, até o momento, apenas a tarefa de exercitar histórias batidas [abgedroschene
Geschichten nachzuexercieren]. /.../”59
***
Nos segmentos conservados do manuscrito não há registro da data em que ele foi
redigido, de modo que é necessário deduzir essa informação, a fim de situarmos o texto
no encadeamento da produção de Marx. Para delimitar o período em que o autor
trabalhou em sua redação, pode-se recorrer a diferentes expedientes: externamente, por
meio do exame de cartas da época, a identificação de pistas sobre os planos do autor;
internamente, a consideração de fontes utilizadas na redação, sobretudo materiais prévios
do próprio autor cujas datas sejam conhecidas; além dessa análise documental, a atenção

58
O substantivo alemão List significa “ardil”, “astúcia”, “embuste”. O adjetivo para “listiano” seria listsch,
ao passo que listig remete diretamente ao significado indicado acima.
59
MEGA I/2, pp. 174-175.

57
ao contexto histórico também auxilia na datação, em razão da própria temática específica
do texto.

Na breve nota de apresentação do manuscrito na língua original 60, os editores


fixam a data da seguinte maneira: “conforme se depreende de uma carta de Engels a Marx
de 17 de março de 1845, já em março de 1845 Marx havia começado o projeto de
examinar criticamente List”; acrescentando que o trabalho, entretanto, não fora
completado61.

Em primeiro lugar, observamos que se trata de uma hipótese naturalmente frágil,


pois ela fundamenta-se apenas externamente no escrito e remete apenas uma dentre
outras cartas que poderiam ser invocadas para discutir a datação. De qualquer modo, o
fato é que, conforme aponta Ikker, do conteúdo da mencionada carta não se pode deduzir
que Marx já havia iniciado, em março de 1845, a redação do manuscrito – pode-se apenas
dizer que ele lidava com a teoria de List naquele momento. Mas, apesar da referida carta
não ser suficiente para sustentar que o texto teria sido redigido já no início de 1845, as
“edições posteriores do manuscrito ou evitaram tratar da gênese ou aderiram à
pretendida ordenação temporal da primeira edição” (IKKER: 1988, p. 216-217)62.

Ikker contesta a data fixada pelo editor e tradicionalmente aceita. A autora revela
que haveria “um importante indício para a datação contido em uma carta até agora não
publicada, de 10 de julho de 1845, na qual Edgar von Westphalen escreve que Marx queria
se ocupar com List após seu retorno da Inglaterra” (Ikker, p. 219)63. Essa indicação é
60
Ein neues Manuskript von Karl Marx [Um novo manuscrito de Karl Marx]. BzG, pp. 423-424. O texto é
assinado pelo Instituto Marxismo Leninismo da DDR.
61
Os editores não dão a referência de publicação da carta. Provavelmente referem-se a MEGA III/1, p. 272,
1975 (MEW, 27, p. 26).
62
Dois anos após a primeira edição do manuscrito sobre List, a própria MEGA-2, quando publicou a referida
carta, acabou favorecendo a interpretação que enxerga nela indícios da redação do manuscrito, mesmo
sem mencioná-lo explicitamente – na verdade, exatamente em razão do caráter vago da seguinte alusão:
“nesta época Marx trabalhava em um ensaio sobre o sistema econômico de Friedrich List” (MEGA III/1, p.
708), observa o editor nos esclarecimentos sobre a carta.
63
Edgar von Westphalen an Werner Veltheim, 10 juli 1845. IML/ZAP Moskau, f. 6, op. 2, d. 2 (cf. Ikker, p.
227). Na medida em que não se trata de uma correspondência com Marx, para realçar o valor daquela

58
coerente com o resultado da identificação das fontes utilizadas na redação do manuscrito.
Ikker encontra nos cadernos de Bruxelas e nos cadernos de Manchester passagens e
traduções diretamente utilizadas no manuscrito sobre List, evidenciando que o último não
poderia ter sido redigido antes daqueles64. De acordo com sua investigação, a autora
conclui que o manuscrito “nasceu evidentemente após o retorno da Inglaterra, portanto, o
mais cedo nos últimos dias de agosto de 1845, e provavelmente no outono de 1845”
(Ikker, p. 225).
Se a análise das fontes indica, com suficiente grau de segurança, que o texto foi
redigido após o retorno de Marx da Inglaterra, ela não define, entretanto, o quão depois
daquele momento o trabalho foi encetado, e nem sua duração.
Com relação ao primeiro ponto: mesmo com a ressalva de que seria necessário
avançar nas pesquisas sobre os cadernos de Bruxelas e especialmente sobre os de
Manchester, Ikker admite (apoiada na carta de Edgar von Westphalen) que o manuscrito
sobre List foi iniciado logo após o retorno da Inglaterra.
Por fim, resta determinar até quando Marx poderia ter se dedicado ao texto, isto é,
delimitar o momento em que o projeto, ainda inconcluso, foi abandonado pelo autor. A
hipótese é que a redação deu-se num período relativamente concentrado, uma vez que o
trabalho não poderia ter se estendido muito pelo ano de 1846, conforme chama atenção
Ikker para o contexto histórico: a certa altura já avançada do texto conservado, na

indicação devemos lembrar que Edgar von Westphalen, além da afinidade política, foi pessoalmente
muito próximo de Marx. Tendo nascido na mesma cidade de Trier, no ano de 1819, seus pais já eram
amigos, e Edgar tornar-se-ia cunhado de Marx, que após anos de noivado casou-se com a irmã dele,
Johanna von Westphalen (Jenny Marx), em junho de 1843.
Observamos que a data da carta de Edgar é posterior ao início da viagem de Marx à Inglaterra (abril-
agosto de 1845); portanto, a) antes da viagem Marx revelou a Edgar planos relativos a List para quando
retornasse; ou b) durante a viagem, Marx e Edgar trocaram alguma correspondência não conservada em
que Marx teria informado a esse respeito.
64
Obrigado a deixar Paris, Marx vive no exílio em Bruxelas entre fevereiro de 1845 e março de 1848. Nesse
período, preenche uma série de cadernos de estudos econômicos e históricos e empreende juntamente
com Engels uma viagem de estudos à Inglaterra, entre abril e fins de agosto de 1845. Os cadernos de
Bruxelas e de Manchester foram publicados nos volumes IV/3 e IV/4 da MEGA-2. Com relação aos de
Bruxelas, Abend (1972) já havia identificado indícios de que a datação do editor era muito precoce, pois
identificam a referência a Bray ligada aos cadernos de Bruxelas.

59
discussão sobre a renda da terra em Ricardo, Marx refere-se às Leis dos Cereais inglesas de
1815, em torno das quais se desenrola uma aguda batalha da luta entre proprietário
fundiário e capitalista industrial, o acalorado debate entre protecionismo e livre-cambismo
(respectivamente os lados pró e contra as referidas leis) que dominou a primeira metade
do século XIX. Apesar de Marx mencionar a Liga Contr a Lei dos Cereais, fundada em 1838
e que tencionava abolir as referidas leis, ele não registra a efetiva abolição das mesmas,
ocorrida em meados de 1846. Seria realmente muito estranho Marx não explicitar, no
contexto tão específico daquele trecho do manuscrito, o advento da abolição das leis caso
ela já tivesse ocorrido àquela altura.

***

Estabelecido que o texto foi redigido de meados para o fim do segundo semestre
de 1845, mencionaremos agora algumas cartas trocadas entre fins de 1844 e fins de 1845
que reforçam a datação e permitem melhor situar o início e a evolução dos planos de
Marx em torno de uma crítica a List até o momento da redação do presente manuscrito.

Embora a própria estrutura interna do texto sugira que ele foi redigido com vistas a
uma publicação, e que de fato planos de apresentação de uma crítica a List possam ser
perscrutados desde os primeiros estudos de Marx sobre autor ainda em Paris até o
momento em que, aproximadamente um ano depois, o presente manuscrito foi redigido,
apesar disso, é difícil determinar a finalidade do registro conservado.

Vimos que desde 1842, em sua atividade como redator-chefe da Gazeta Renana,
Marx naturalmente já voltara sua atenção para List; em seguida, no texto da Criíica da
Filosofia do Direito hegeliana - Introdução (escrito em fins de 1843), encontramos a
primeira apreciação marxiana sobre List. Mas, propriamente algo como a apresentação de
uma crítica específica a List só entra em pauta após o manuscrito parisiense de junho-
agosto de 1844; desde então, até a redação do manuscrito bruxelense devemos considerar
três diferentes planos de publicação, todos sucessivamente não realizados, aos quais o

60
texto poderia estar relacionado: a) uma apreciação específica sobre List poderia estar
prevista na Crítica da Política e da Economia Política; b) Marx se incumbiu de escrever um
artigo sobre List para o primeiro número dos Anais Renanos para a Reforma Social; por
fim, c) o manuscrito bruxelense poderia ser mais diretamente relacionado ao plano de
uma brochura conjunta com Engels que chegara a ser acordado com o editor Campe.

a) A Crítica da Política e da Economia Política foi um projeto em dois tomos


acordado com editor Leske no início de 1845, porém nunca entregue por Marx, e teve o
contrato rompido no início de 1847. O referido projeto constitui a consequência direta dos
estudos econômicos empreendidos por Marx em Paris, cujo primeiro resultado é o famoso
manuscrito de junho-agosto de 1844, material que, juntamente com as prévias aquisições
da sua crítica da política na virada de 1843 para 1844, teria encorajado e seria
provavelmente incorporado na composição da projetada Crítica da Política e da Economia
Política.

Os “Excertos de obras de Schüz, List, Osiander e Ricardo” 65 mostram como Marx


lidara intensivamente com o livro de List muitos meses antes da redação do manuscrito
bruxelense. Fabiunke considera que esses primeiros registros de estudos de Marx sobre
List pertencem ao contexto do projeto da dupla crítica (FABIUNKE: 1982). Com isso, é
ressaltado o quão cedo Marx voltou-se seriamente para uma apreciação sobre List,
possivelmente em relação com o projeto para Leske. Porém, apesar, de o contrato da
dupla crítica ainda estar de pé no momento em que Marx redigiu o manuscrito sobre List,
a extensão do material e sua especificidade temática colocariam em dúvidas sobre sua
incorporação naquele plano.

De todo modo, é importante ressaltar a conexão entre o manuscrito sobre List e os


cadernos da fase final da estadia parisiense e os seguintes cadernos de Bruxelas (MEGA

65
MEGA IV/2.

61
IV/3) e de Manchester (que por sua vez estão relacionados diretamente ao plano da dupla
crítica); esses cadernos constituem um grande e variado material, do qual parte é
incorporada por Marx no manuscrito sobre List, seja literalmente com citações e temas,
seja por sua desenvoltura com universo de autores e obras mencionados no manuscrito
sobre List.

b) A segunda hipótese é que o texto sobre List poderia ter sido projetado,
inicialmente, como uma contribuição ao periódico Anais Renanos para a Reforma Social,
que seria editado por Püttmann. Em sua carta a Marx de 17 de janeiro de 1845, Hess diz a
respeito de sua conversa com o editor: “eu prometi a ele pedir-lhe que você também dê o
consentimento da sua colaboração e do seu nome ao novo periódico” (citado em IKKER:
1988, p. 218). Apesar de o tamanho que o manuscrito de Marx alcançou evidenciar que
ele não poderia ter sido redigido para o periódico, as origens do plano de uma abordagem
conjunta de List por parte de Marx e Engels podem remontar à essa época.

c) Desde muito cedo, Engels já planejava publicar uma crítica a List, conforme
atesta sua carta a Marx de 19 de novembro de 184466. A carta é composta de três
assuntos. Engels relata a situação em Colônia (por onde acabara de passar); informa do
andamento do seu texto sobre a situação do proletariado inglês, anunciando sua
publicação para janeiro do ano seguinte; comenta o aparecimento de O Único e sua
Propriedade, de Stirner. A certa altura, List é mencionado de passagem: “Nos intervalos
[da redação de A situação da classe trabalhadora na Inglaterra], quando tenho tempo,
estou escrevendo uma brochura contra List” (p. 11).

Os editores da MEW informam que Engels, entretanto, não logrou seu intento,
“não escreveu uma brochura contra List”, embora tenha se ocupado sistematicamente, de
66
MEGA² III/1, pp. 251. MEW 27, p. 9-13.

62
fato, com List àquela altura, pois apenas alguns meses após carta acima citada, “em seu
Segundo discurso de Eberfeld (em 15 de fevereiro de 1845), Engels debate diretamente
com List a visão dos defensores alemães do protecionismo”67.

Acalentado pelo menos desde fins de 1844, o propósito de uma crítica a List não
teria sido abandonado por Engels até pelo menos fins de 1846, conforme sugere sua carta
a Marx de 18 de outubro de 1846. Boa parte da carta constitui um comentário de Engels
sobre A Essência do Cristianismo, de Feuerbach, seguido de questões sobre planos de
publicação e custos de impressão. De passagem, Engels informa: “O List está quase
terminado” (p. 58)68.

Como veremos por meio de indícios no texto de Marx que serão destacados no
comentário, essa é a hipótese mais forte com relação à finalidade para a qual o texto de
Marx foi escrito.

67
É interessante notar que o discurso foi publicado no periódico de Püttmann, que mencionamos logo
acima. Traduzimos, em anexo, o trecho voltado especificamente à apreciação engelsiana de List: ver
Anexo 2. Excerto do Segundo discurso de Eberfeld, de Engels.
68
MEGA² III/1, pp. 450-51, pp. 218-219

63
64
CAPÍTULO II – ANÁLISE DO MANUSCRITO BRUXELENSE DE 1845

Considerações gerais

Definição do material

Primeiramente, devemos classificar o material no contexto da peculiar composição


da obra de Marx. O manuscrito sobre List pertence ao conjunto de materiais publicados
apenas postumamente. Dentre toda a produção de Marx, contudo, a parcela que teve tal
destino é enorme, como cadernos para uso próprio (coleções de excertos – não só de
obras de economia –, referências bibliográficas, notas diversas), projetos e esboços de
escritos variados e em diferentes estágios de elaboração (como a crítica de Kreuznach de
1843, os manuscritos parisienses de 1844, A ideologia alemã), muitos materiais
preparatórios ligados diretamente a O Capital e outras tantas categorias de textos, como
cartas, cronologias, estudos matemáticos etc. Nesse leque, o manuscrito sobre List pode
ser visto como um esboço de um artigo longo ou capítulo de livro; compreende-se, assim,
a razão pela qual “o manuscrito sobre List pertence ao volume I/4 da MEGA” (Ikker, p.
213), que cobre o período de agosto de 1844 até dezembro de 184569.

Estado da transmissão e tamanho do texto

O manuscrito foi redigido em uma sequência de folhas [Bogen] de formato


aproximadamente 23 x 18 cm. Cada “folha”, dobrada, divide-se em 4 páginas. O autor
numerou as folhas com algarismos arábicos. A folha que contém a parte IV do texto, que
constitui seu encerramento, não foi numerada. Por fim, foi encontrado ainda, em
separado, um fragmento de meia página, igualmente sem numeração.
69
Na página do projeto consta que o volume encontra-se em fase de preparação, a cargo da BBAW.

65
A transmissão do manuscrito está incompleta, conforme se deduz da numeração
original das folhas conservadas, tendo restado um total de 11 folhas (sem contar a meia
página); as lacunas na transmissão, indicadas aqui por […], distribuem-se da seguinte
maneira:

[…] 2-9 […] 22 […] 24 […] IV

O leitor deve ter em mente que o texto transmitido inicia na folha 2 e segue até a
folha 9, onde se interrompe, seguindo-se uma grande lacuna; retoma da folha 22, ao fim
da qual há uma nova lacuna, seguindo-se a folha 24; por fim, após uma nova interrupção,
é encaixada a folha não numerada que contém a parte IV.

Conforme calcula Ikker, “a partir do estado da transmissão, o tamanho e o número


de páginas escritas deixam-se reconstruir apenas parcialmente. Foram conservadas 41
páginas escritas [11 folhas] /.../. A extensão do manuscrito deveria conter no mínimo 26
folhas [Bogen], respectivamente 104 páginas /.../ ” (p. 216).

Divisão
Trataremos a sequência do manuscrito em quatro grandes blocos temáticos: 1.
caracterização da teoria econômica de List em conexão com a especificidade histórica da
burguesia alemã e em contraposição à burguesia inglesa e francesa e sua economia
política (pp. 2-14); 2. desenvolvimento teórico marxiano (pp. 15-20); 3. questão da renda
da terra (Ricardo) (23-27); 4. extratos de Ferrier, para comparação com List (28-31).
Sistemática do comentário
Deve-se atentar que a divisão proposta acima foi feita para efeito de análise, não
devendo ser identificada diretamente à estrutura interna do texto de Marx, visto que
ambas são igualmente compostas de quatro partes. Exceto a parte IV do manuscrito, todas
as outras três possuem lacunas na transmissão, e a divisão analítica só pode refletir o
conteúdo do texto; em outras palavras, não visamos aqui uma reconstrução sugestiva

66
daquilo que teria sido ou ainda viria ser o texto – mas sim a análise imanente do registro
em sua identidade própria. De resto, na prática cada bloco da divisão proposta
corresponde aos segmentos conservados da respectiva parte no manuscrito (com exceção
do início da parte II, que tratamos ao final do primeiro bloco).
Para cada bloco (1., 2., 3., 4.) faremos uma introdução, constituída por
considerações gerais (sobre algum aspecto do conteúdo ou peculiaridade da forma) e um
resumo. Dentro desse intervalo, delimitaremos trechos menores (1.1, 1.2 … 2.1, 2.2 …).
Por fim, os trechos se subdividem em unidades temáticas, que constituem o objeto efetivo
da leitura (1.1.1, 1.1.2 … 2.1.2 …). Nesse nível, entre a hierarquia das subdivisões da
análise, por um lado, e, por outro, os subtítulos e subitens do texto, a relação é análoga
àquela entre as partes do texto e os grandes blocos da análise (a correspondência porém é
menor, pois a ordenação dos subitens internos apresenta não só lacunas como
irregularidades na numeração, como veremos no comentário).
As citações serão apresentadas na sequência em que aparecem no manuscrito, e as
alterações, quando justificadas por razões de clareza expositiva em alguns casos que o
próprio caráter lacunar e inacabado do texto demanda, serão, por sua vez, explicitadas. As
citações serão remetida no corpo do texto; quando no mesmo parágrafo do comentário há
uma sequência de citações todas extraídas da mesma página, o que ocorre com certa
frequência, a referência aparece apenas na última delas; no mais das vezes, o fim dos
parágrafos coincide com fim de citação, facilitando assim a localização e o
acompanhamento das tematizações no texto de Marx.
Remissões internas, relacionando citações e questões localizadas em pontos
distintos do texto, aparecem em notas. Às notas reservamos ainda explicações,
acréscimos, observações, referências e inferências que, em razão da própria
heterogeneidade e prolixidade que caracteriza tal conjunto de explanações possíveis sobre
o texto, não puderam ser diretamente incorporadas, sob o risco de descaracterizar a
clareza da exposição do texto.

67
Divisão detalhada do texto conservado e plano do cometário

[…]
1.1
1.1.1 atraso da burguesia alemã
1.1.2 dimensão da atualidade
1.1.3 idealismo do burguês alemão

1.1.4 observações:
a) barreiras alfandegária
b) política (leis x sociedade civil)

1.2
1.2.1 caracterização:
a) da economia política
b) de List

1.2.2 “provas” do procedimento de List com relação à


a) Smith
b) Say
d) L. Say
e) Ricardo
f) Sismondi

1.3
1.3.1 a falta de originalidade de List e sua dupla fonte
1.3.2 fraseologia e impotência prática do atrasado burguês alemão

1.4
1.4.1 objetivos de List e os princípios que ele tem a demonstrar
a) com relação ao estado
b) com relação às forças produtivas
c) com relação à superexploração e o sacrifício da população
d) com relação à organização da sociedade

1.4.2 refúgio em fórmulas socialistas para justificar-se / atraso da burguesia alemã


1.4.3 as duas teorias fundamentais de List: forças produtivas / nacionalidade
1.4.4 observação: interesses gerais da burguesia (política)
1.5 enumeração de abertura da parte II
(citações de temas em List)

68
2.
2.1 valor de troca
2.2 trabalho
2.3 nacionalidade

2.4 emancipação humana


2.4.1 consideração sobre a indústria
2.4.2 escola saint-simonista

2.5 domínio inglês como expressão do domínio da indústria

2.6 breve caracterização da economia política

2.7 tematização marxiana sobre as forças produtivas


2.7.1 o estatuto da causa em List
2.7.2 destruição do brilho místico que banha a “força produtiva” listiana

[…]

3.
3.1 teoria ricardiana da renda
3.2 as leis do trigo e o conflito de proprietário fundiário x capitalista industrial
3.3 relação entre grande indústria fabril x propriedade fundiária

4.
4.1 Ferrier como a fonte secreta da sabedoria listiana
4.2 distinção entre Ferrier e List, particularidade de cada um
4.3 excertos

69
70
1. caracterização da teoria econômica de List em conexão com a
especificidade histórica da burguesia alemã e em contraposição à
burguesia inglesa e francesa e sua economia política.

Considerações gerais
Uma questão que sobressai no conjunto deste primeiro bloco é a do estatuto da
economia. Nas suas diferentes variações, o termo remete especificamente ao âmbito da
expressão teórica, a ciência da sociedade civil, e não o significado de esfera (econômica)
ou atributo (o econômico) da realidade. No curso da leitura isso é evidente, visto que a
discussão transcorre diretamente em torno de economistas e suas teorias.
Mas é na conexão entre a ciência e a realidade que reside a especificidade da
abordagem marxiana. Segundo Marx, “o desenvolvimento de uma ciência como a da
economia está articulado com o movimento efetivo da sociedade, ou, é apenas sua
expressão teórica” (p. 133). Deste modo, é possível acompanhar “com exatidão na
economia” as “diferentes fases de desenvolvimento” da sociedade civil (p. 141).
Observamos que na primeira citação é realçado o desenvolvimento da ciência, e na
segunda o desenvolvimento da sociedade. Verifica-se uma relação de variação conjunta e
paralelismo constante ambas.
Reconhecendo “que os economistas nacionais apenas deram a essa situação social
uma expressão teórica correspondente”, a crítica volta-se para a própria realidade social
atual. Marx bem demarca o caráter ontológico e a perspectiva radical da sua posição
quando recomenda: “Ele [List] deveria voltar-se, isto sim, contra a atual organização da
sociedade em vez de contra os economistas nacionais. Ele acusa-os de não terem
encontrado uma expressão suavizante para uma realidade desoladora. Por isso, em todo
lugar ele quer deixar essa realidade como ela é e modificar apenas a expressão. Em
nenhum momento ele critica sociedade real; como autêntico alemão, ele critica a
expressão teórica dessa sociedade, e a reprova por exprimir a coisa, não a imaginação da

71
coisa” (p. 169)70.

Resumo
Mirada do ponto de vista do desenvolvimento do capitalismo e da época atual, a
burguesia alemã é contraposta à burguesia inglesa e francesa; List – o representante
teórico do burguês alemão – é confrontado com economistas “profanos” ingleses e
franceses (Smith, Say, Ricardo, Sismondi). À medida que expõe a teoria econômica de List,
destacando aqueles elementos que considera como os seus principais eixos e
características, Marx constantemente realça os traços idealistas e nacionais do autor.

1.1 O texto conservado começa com a folha |2|, com uma continuação de frase
do segmento anterior não encontrado. Estamos ao final de [I.2.2)]. Considerando-se
juntamente a divisão subsequente [I.2.]3), que encerra este subtítulo [I.2], são três os
temas dominantes neste primeiro trecho analisado (pp. 131-133): o atraso da burguesia
alemã, a dimensão da atualidade, o idealismo do burguês alemão e da teoria de List.

1.1.1 No fragmento de frase que abre o texto conservado, Marx está concluindo

70
Em razão do teor dessas considerações introdutórias, aproveitamos para remeter aqui o breve fragmento
de página sem numeração, que na tradução (diferentemente da primeira edição alemã) optamos por
apresentar ao final do manuscrito (p. 169). A primeira edição alemã inseriu este fragmento após o final
da parte I, precedido do sinal *, sem entretanto indicar acréscimo redacional para o referido sinal e nem
esclarecer a respeito da reordenação operada. E uma vez que o sinal só aparece acima do fragmento, fica
a impressão que a parte II segue-se ao texto que, em verdade, foi intercalado posteriormente pelo editor.
A transcrição disponível na internet, por seu turno, omitiu até mesmo o misterioso sinal *. Mesmo que a
ideia da reordenação em questão não seja de todo incoerente do ponto de vista temático, a regra é que
as intervenções do editor sejam sempre indicadas e explicadas. Mas veicular a referida passagem como
se fosse um “fechamento” da parte I tem um duplo efeito: por um lado, interfere no andamento do texto
e no reconhecimento de seu estágio de elaboração naquele ponto (nós mesmos pudemos experimentar,
de fato, certa estranheza e truncamento na leitura em razão desse intercalamento), por outro lado,
desconsidera-se a unidade do fragmento – para a qual gostaríamos aqui de chamar atenção. Se, por um
lado, não podemos encaixar artificialmente o fragmento como um elo específico da sequência do texto,
por outro, do ponto de vista do comentário não seria adequado deixá-lo apenas para o final; assim,
levando-se em conta a indeterminação da posição do fragmento, propomos ao leitor considerá-lo em
separado, como uma espécie de “epígrafe” (em estilo análogo ao que se observa em A ideologia alemã e
Miséria da Filosofia), à qual remetemos desde já.

72
um raciocínio sobre a “morte da burguesia”, noção fundamental na sua caracterização da
época atual, e segue ironizando a lamentação listiana sobre as “'tristezas'” que acometem
a burguesia alemã. Esse apelo sentimental denota, em verdade, as dificuldades de
realização com as quais o projeto de riqueza do burguês alemão, em razão do seu caráter
retardatário, depara-se. A posição de atraso histórico no desenvolvimento capitalista é
uma característica estrutural da burguesia alemã. Esse retardo é diretamente reconhecível
no fato de que “o proletariado já esteja aí, já faça reivindicações e já inspire terror antes
mesmo de o burguês alemão ter alcançado a indústria”. Nessas condições, List “quer
introduzir o domínio da indústria justamente no momento inapropriado, em que a
servidão da maioria, engendrada por meio da indústria, tornou-se um factum em geral
conhecido”. Marx realça o caráter anacrônico do projeto industrial do burguês alemão
comparando-o ao “cavaleiro da triste figura, que quis introduzir a cavalaria errante
justamente quando a polícia e o dinheiro ascenderam” (p. 131).

1.1.2 Juntamente com o atraso e o idealismo do burguês alemão, o outro tema


de destaque no trecho inicial é a dimensão da época atual, presente em diferentes
pontos:
“/.../ a consciência da morte da própria burguesia já penetrou a consciência do
burguês alemão” (p. 131)
Uma característica desta época é fato de que “o proletariado já esteja aí, já faça
reivindicações e já inspire terror” (p. 131)
“a servidão da maioria, engendrada por meio da indústria, tornou-se um factum
em geral conhecido” (p. 131)
O idealismo do burguês alemão “chegou à época na qual deve necessariamente
revelar seu segredo” (p. 131)

Reconhecimento de “que hoje em dia não seja mais dia para a riqueza” (p. 132)

Inviabilidade intrínseca do projeto de riqueza do burguês alemão e a inocuidade de

73
seu arranjo especulativo: “Os burgueses na França e na Inglaterra veem chegando a
tempestade que aniquilará, na prática, a vida efetiva disso que até agora se chamou
riqueza; e o burguês alemão, que ainda não alcançou essa riqueza sórdida, ensaia uma
nova interpretação 'espiritualista' da mesma” (p. 132).
1.1.3 O idealismo é o tema específico do subitem [I.2)]3) do manuscrito. Essa
característica do burguês alemão já existia anteriormente ao seu projeto de riqueza
representado por List, e então ela aparece, inicialmente, como um entrave: “Um grande
inconveniente \ empecilho no qual se encontra o burguês alemão em sua aspiração pelo
regime industrial é o seu idealismo prévio”. É preciso equacionar as novas exigências do
industrialismo com a tradição idealista, daí a questão: “Como esse povo do 'espírito'
chega, de repente, a encontrar a suma bondade da humanidade em calicô, novelo de lã,
self-acting mule, no materialismo da maquinaria, num amontoado de escravos fabris, nas
maletas cheias dos senhores fabricantes?”. Marx sentencia: “O idealismo oco, ventoso e
sentimental do burguês alemão, atrás do qual está oculto o mais mesquinho, o mais sujo
espírito de merceeiro [Krämergeist], atrás do qual se esconde a alma mais covarde, chegou
à época na qual deve necessariamente revelar seu segredo” (p. 131).

Não é fácil conciliar o projeto de riqueza com o idealismo prévio, o idealismo pode
ameaçar o projeto. Ele tem de revelar seu segredo. O segredo é justamente como ele
concilia o idealismo com a indústria. Porém, a maneira como ele revela seu segredo, “com
pudor idealista-cristão”, é uma reafirmação da posição original, agora adaptada às
necessidades do desenvolvimento industrial. List, como representante do burguês alemão,
pretende, isto sim, envolver a indústria com a aura idealista: “Ele [List] reveste o
materialismo estúpido [geistlos] de modo inteiramente idealista e só então ousa agarrá-lo.
Toda [x x x] a parte teórica do sistema de List não passa de um disfarce do materialismo
industrial da economia sincera [aufrichtig]71 em fórmulas [Phrasen] ideais72. A coisa, ele
71
Pode ser traduzido também por “honesto”. Um pouco adiante, Marx mostra como List, replicando Ferrier,
procura acusar Smith de desonestidade.
72
Phrasen, de difícil tradução, é um termo recorrente no texto e desempenha um papel central na

74
deixa que exista por toda parte, porém idealiza a expressão” (p. 131-132).

Em termos específicos, Marx detecta a seguinte correspondência entre as


expressões idealizantes de List e as respectivas coisas que elas disfarçam: “Ele teme falar
dos sórdidos valores de troca, aos quais se agarra, e fala de forças de produção; ele teme
falar da concorrência e fala de uma confederação nacional das forças de produção
nacionais; ele teme falar do seu interesse privado e fala de interesse nacional”73 (p. 132).

Marx acusa esse procedimento idealizante de atribuir a forças gerais e ao bem


comum aquilo que nada mais é que valor de troca, concorrência e interesse privado, na
linguagem crua da “economia sincera”. Com isso, contrapõe-se, por um lado, “o franco
cinismo clássico com o qual a burguesia inglesa e a francesa, em seus primórdios, ao
menos no início do seu domínio de porta-vozes científicas da economia nacional, elevaram
a riqueza a deus e sacrificaram inescrupulosamente tudo, também na ciência, a ele, a esse
Moloch”, e, por outro, “a maneira idealizante, impregnada de fórmulas e empolada do
senhor List ” (p. 132).
Em suma, o idealismo prévio do burguês alemão demanda a construção de uma
teoria econômica especial. “O filisteu alemão idealizante que quer ficar rico deve,
naturalmente, apenas engendrar uma nova teoria da riqueza a qual torne a última [a
riqueza] digna de ser aspirada por ele” (p. 132). Por isso, “Ele engendra uma economia
'idealizante', a qual não tem nada em comum com a economia profana inglesa e francesa,
a fim de justificar-se, perante si e o mundo, de que ele também quer ficar rico” (p. 132).
1.1.4 Por fim, além dos três temas que foram expostos acima, em torno dos quais
se estrutura o trecho ora analisado (atraso e idealismo do burguês e a época atual),
comentaremos ainda duas passagens isoladas presentes no trecho ora analisado: a) a
primeira vez em que, no texto conservado, é mencionado o papel das barreiras

caracterização que Marx faz do idealismo de List. Traduziremos por sempre por fórmulas. Ver logo abaixo
“fraseologia idealista”, usado no mesmo sentido.
73
Os temas introduzidos nessa passagem são estruturais na caracterização marxiana de List, e serão
retomados e desenvolvidos em diversos momentos adiante.

75
alfandegárias no pensamento de List; b) uma observação em que se mostra um traço
peculiar do pensamento de Marx a respeito do tema da política.
a) A questão das barreiras alfandegárias é central em List, por isso retornará
diversas vezes na sequência dos comentários de Marx sobre o autor. No texto conservado,
o tema aparece pela primeira vez dentro de uma metáfora no contexto da discussão de
questões da ordem do procedimento listiano:
“O Senhor List fala sempre em metro molosso. Ele se infla permanentemente de
um páthos trôpego [ou: carregado] e verborrágico [ou: verboso, prolixo] cujo núcleo, em
contínua repetição, põe em funcionamento as barreiras alfandegárias e as fábricas
'teutônicas', [cujas] águas turvas constantemente flutuam, em última instância, sobre o
banco de areia. Ele é permanentemente sensível-suprassensível” (p. 132).
A citada menção, feita de passagem e algo enigmática, não parece compatível com
uma primeira apresentação de tema tão central na discussão; logo adiante, a segunda
aparição do termo “barreiras alfandegárias” no texto conservado74 indica que se trata de
um assunto pressuposto; na verdade, o mais provável é que Marx tenha se referido ao
assunto logo no início do texto.
b) Após qualificar a teoria de List como “um disfarce do materialismo industrial da
economia sincera em fórmulas [Phrasen] ideais”, Marx acrescenta a decorrência de que tal
“fraseologia idealista oca” dá a List “a capacidade de desconhecer as limitações reais que
se opõem a seus pios desejos e de entregar-se às mais tolas fantasias.” (p. 2); segue-se,
então, a observação que gostaríamos de destacar, que demonstra a subordinação do
estado à sociedade civil no pensamento de Marx: “O que teriam se tornado a burguesia
francesa e a inglesa se elas primeiro tivessem buscado permissão a uma alta aristocracia, a
uma louvabilíssima burocracia e às dinastias hereditárias para introduzir a 'indústria' com
'força de lei'?” (p. 132).

74
“Uma vez que para o burguês alemão trata-se, notadamente, de barreiras alfandegárias /.../” (p. 133).

76
1.2 No subtítulo [I.]“3) Como o senhor List interpreta a história e se relaciona
com Smith e sua escola” (pp. 133-141), Marx reafirma o enraizamento social de List e
desvenda o procedimento dele frente a Smith, Say, Ricardo e Sismondi. Ao confrontá-los
com List, Marx esclarece pontos importantes nos referidos autores, reconhecendo um
relevante significado em cada um deles. O trecho subdivide-se em dois momentos: uma
parte introdutória (pp. 133-134), em que Marx a) caracteriza o grupo de autores em
questão, e b) descreve genericamente os procedimentos de List em relação aos mesmos;
seguindo-se o desenvolvimento, com a apresentação sistemática das “provas” do
procedimento listiano (pp. 134-141).
1.2.1 a) a economia política: Em contraste com o arcaísmo representado por List,
Marx aponta a decisiva contribuição da economia política inglesa e francesa, com
destaque para Smith: “O senhor List é tanto subserviente perante a aristocracia, as
dinastias hereditárias e a burocracia quanto se comporta com 'petulância' perante a
economia inglesa e francesa – que revelou cinicamente o segredo da 'riqueza' e tornou
impossíveis todas as ilusões sobre sua natureza, tendência e movimento, cujo guia é
Smith” (p. 133).
Mas se List mostra-se contrariado diante dessa teoria, isto deriva do seu desacordo
com o pressuposto real da mesma. “Uma vez que para o burguês alemão trata-se,
notadamente, de barreiras alfandegárias, então é claro que para ele todo o
desenvolvimento da economia desde Smith não tem sentido, pois seus mais destacados
representantes têm todos por pressuposto a atual sociedade civil da concorrência e da
liberdade comercial” (p. 133)75.
De acordo com as citações acima, Marx caracteriza esse conjunto de autores como

75
Essa mesma caracterização aparece de modo mais desdobrado adiante: “A economia atual parte do
estado social da concorrência. O trabalho livre, i. e., a escravatura indireta, auto-oferecida, é seu
princípio. Suas primeiras proposições são a divisão do trabalho e a máquina. Mas essas só podem ser
levadas ao seu mais alto desdobramento na fábrica, como admite a própria economia atual. Portanto, a
economia nacional atual parte da fábrica enquanto seu princípio criador. Ela supõe as condições sociais
atuais” (p. 152).

77
pertencentes ao campo que: a) “revelou cinicamente o segredo da 'riqueza' e tornou
impossíveis todas as ilusões sobre sua natureza, tendência e movimento”; b) desenvolveu-
se desde Smith; c) tem “por pressuposto a atual sociedade civil da concorrência e da
liberdade comercial”.
b) List: “Teórico alemão” (p. 133) – é a qualificação que lhe confere Marx. O título
atesta o desconhecimento de que há uma articulação entre sociedade civil e ciência
econômica. Carecendo de tal vínculo, “em toda economia ele não vê mais que sistemas
tramados no gabinete de estudos”. Desse modo pobre é que List entende e julga as
teorias. “Como autêntico filisteu alemão, em vez de estudar a história real o senhor List
procura pelos sórdidos fins secretos dos indivíduos, e com sua esperteza sabe achar \
encontrar muitos desses” (p. 133).
Marx enxerga uma correspondência estrita entre a abordagem listiana dos autores
(baseada em suspeita pessoal e difamação, deturpação e mentira) e o comportamento do
burguês alemão em relação ao inimigo: “tal como o burguês alemão não sabe melhor se
opor a seu inimigo do que impingindo-lhe uma mácula moral, suspeitando de seu caráter
e procurando por motivos torpes para sua ações, em suma, difamando e lançando
suspeitas pessoais, assim também o senhor List suspeita dos economistas ingleses e
franceses, conta boatos sobre eles; e tal como no comércio o filisteu alemão não desdenha
o mínimo lucrinho e escamotagem, assim também o senhor List não desdenha escamotear
palavras das citações para torná-las lucrativas, não desdenha grudar em seus próprios
sórdidos fabricantes a etiqueta dos seus adversários (a fim de desacreditá-los ao mesmo
tempo que os adultera) ou até mesmo urdir mentiras deliberadas a fim de levar o crédito
dos seus concorrentes” (pp. 133-134).
1.2.2 Marx porém não se detém na descrição geral, ele dará “algumas provas do
procedimento de List” (pp. 134-141), descortinando, por meio de exemplos, como o
insigne economista alemão, inescrupulosamente, de fato copia, distorce, imputa, difama,
suspeita moralmente, vilipendia, mente e calunia, de modo arrogante, infame e até

78
mesmo vil. Mas aqui não está em jogo apenas um implacável desmascaramento de List.
Chamamos a atenção, sobretudo, para o conteúdo das “provas”, para seleção e
tematização marxiana dos diferentes autores em questão; em suma, trata-se de um
momento privilegiado para investigarmos as relações do próprio Marx com os referidos
autores.
O trecho desenvolve-se em torno de uma sequência de confrontos diretos de
citação contra citação (sempre “List x outro autor”), cuja justaposição mostra sempre o
que List fez de determinada passagem, contra quem e o porquê.
a) List x Ferrier: de como List copia um autor a fim de atacar pessoalmente outro
(neste caso Smith); objetivo de List: atacar o livre comércio.
b) List x Pecchio e x Charles Comte: de como List deturpa na cola de autores a fim
de atacar pessoalmente outro (neste caso Say); objetivo de List: atacar o livre comércio.
c) List x Louis Say: de como List deturpa um autor a fim de se apropriar dele;
objetivo de List: reforçar sua própria teoria.
d) List x Ricardo: de como List ignora e deturpa um autor, a fim de desqualificá-lo;
autor em questão: Ricardo; objetivo de List: desqualificar a teoria ricardiana da renda da
terra.
e) List x Sismondi: de como List atinge o cume da infâmia e da vileza em sua
avaliação de um autor e sua teoria (Sismondi)

a) Smith
Marx confronta List e “a fonte da sua sabedoria” no veredicto sobre Smith, a saber,
Ferrier (p. 135). As duas citações justapostas devem ser consideradas juntamente com a
passagem imediatamente anterior (p. 134), em que Marx já tem em vista a apropriação de
Ferrier por List que será explicitada por meio da comparação. Evidencia-se que List
baseou-se, de modo bastante específico, no texto do autor por ele ocultado76.

76
O pensamento de Ferrier e sua apropriação por List retornará como tema da parte IV, evidenciando a

79
A citação de Ferrier indicada por Marx pode ser desmembrada nos seguintes
pontos, os quais foram oportunamente copiados por List: a) a insinuação de uma
finalidade secreta na teoria de Smith (favorecer a Inglaterra) – o que colocaria sob
suspeição sua cientificidade e a sua defesa da liberdade comercial; b) a afirmação de que o
próprio Smith teria renegado sua teoria – com o que visa desacreditá-la; c) a pretendida
filiação de Smith à fisiocracia em consideração às relações internacionais – rotulação
desqualificadora.
Com relação aos objetivos secretos: Segundo Marx, List pretende que “Adam Smith
quis iludir o mundo com sua teoria e que todo o mundo deixou-se iludir por ele, até que o
grande senhor List resgatou-os do seu sonho – mais ou menos à maneira como, para
fundamentar a dominação de Roma, um conselho de tribunal dusseldorfense fez passar a
história romana por uma invenção de monges medievais” (p. 133). Nas citações
justapostas, vemos que List se arroga ter demonstrado que a teoria de Smith “'fora
utilizada por ministros britânicos para jogar areia nos olhos das outras nações em favor da
Inglaterra'”, enquanto Ferrier afirma: “'Smith tinha por objetivo secreto disseminar pela
Europa princípios cuja adoção – ele sabia muito bem – entregaria o mercado mundial ao
seu país'” (p. 135).
Com relação a suposta renúncia de Smith à sua própria teoria: “Sabe-se que os
padrecos alemães do esclarecimento”, diz Marx, “não acreditavam poder desferir um
golpe de morte fundamental contando-nos ridícula anedota e mentira de que Voltaire
abjurou de sua teoria em seu leito de morte. Igualmente, o senhor List nos conduz ao leito
de morte de Smith e nos relata que ali se evidenciou que ele sinceramente não quis dizer
aquilo com sua teoria” (p. 134). List cita um biógrafo de Smith, para falar de um suposto
desejo de Smith de queimar todos seus manuscritos antes de morrer, enquanto Ferrier

cópia generalizada das ideias de Ferrier por List, sem jamais citar seu livro: “a fonte secreta da sabedoria
listiana” (p. 165). Antes mesmo da parte IV, Marx novamente realça essa ascendência de Ferrier sobre
List em [I.] 4) A originalidade do senhor List (ver 1.3.1 adiante). É portanto significativo que a confronto se
com Ferrier (e é igualmente notável que o tema seja Smith, dado o papel central atribuído por Marx a
esse autor).

80
afirma: “'Está-se mesmo autorizado a crer que Smith nem sempre professara a mesma
doutrina; e como explicar de outra maneira os tormentos que o fizeram sentir [ou:
acometeram] no leito de morte o temor de que os manuscritos de suas aulas
sobrevivessem a ele' [?]”.
Considerados os dois primeiros pontos da cópia que List faz de Ferrier no
julgamento de Smith (os objetivos secretos e a renúncia a sua própria teoria), resta anotar
a cópia à ideia da pretendida filiação de Smith à fisiocracia na consideração das relações
internacionais (p. 135):
List: “'/.../ A teoria de Adam Smith a respeito das relações nacionais e
internacionais é uma mera continuação do sistema fisiocrata. À semelhança deste, ela
ignora a natureza das nacionalidades e pressupõe como existente a paz perpétua e a união
universal'”.
Ferrier: “'/.../ Smith quase sempre raciocinou como os economistas (fisiocratas) –
sem levar em conta a separação dos interesses das diferentes nações e no pressuposto de
que no mundo existiria apenas uma sociedade /.../'”.

b) J. B. Say
Primeiramente, ao confrontar uma citação de List a uma de Pecchio, vemos “mais
um exemplo da maneira como ele copia outros autores, falsificando na cola a fim de
atingir seus oponentes” (p. 136). Nesse caso, List quer condenar o fato de Say
supostamente não reconhecer Serra como um dos fundadores da ciência econômica, mas
isso é falso segundo a própria citação na qual List secretamente se baseia (em parte quase
literalmente), conforme mostra a justaposição apresentada por Marx.
Prosseguindo com Say, Marx questiona a veracidade das informações biográficas
apresentadas por List sobre a vida do autor, versão com a qual visa desqualificar o partido
de Say pelo livre comércio. Marx frisa como é simplesmente absurdo o quadro pintado por
List: “Então, Say abraçou o sistema do livre comércio porque sua fábrica foi arruinada pelo

81
sistema continental! Mas como, se ele teria escrito seu “Traité d'économie politìque”
antes de ter possuído uma fábrica? Say abraçou o sistema do livre comércio porque
Napoleão o expulsou do tribunado. Mas como, se ele teria escrito o livro quando tribuno?
Como, se Say (que segundo o senhor List foi um homem de negócios fracassado e que na
literatura divisou apenas um ramo empresarial) desempenhou, desde a tenra juventude,
um papel no mundo literário francês?” (p. 137).
Marx esclarece que List toma por referência, para sua versão da vida de Say, uma
introdução à um livro de Say feita por Charles Comte 77. Contudo, segundo Marx, a referida
fonte mostra-se incompatível com a explicação listiana. A crônica da vida de Say, traçada
por Marx segundo a mesma fonte, não só contradiz o que afirmara List como evidencia um
perfil digno de respeito, em que se destacam: a inclinação de Say pela literatura, pelas
ciências morais e políticas, apesar de seu pai, um comerciante, tê-lo destinado ao
comércio; sua defesa da liberdade de imprensa em 1789; sua colaboração no jornal de
Mirabeau desde o início da revolução; seu emprego junto ao ministro Clavière; a
bancarrota do seu pai como um acontecimento que favoreceu a dedicação de Say à sua
inclinação; seu trabalho como editor a partir de 1794; a função como tribuno, indicado por
Napoleão em 1799 (período em que aproveitou para escrever o Tratado de economia
política, publicado em 1803); sua expulsão do tribunado em razão de pertencer aos
poucos que ousavam fazer oposição; sua recusa (em razão de sua discordância com a
política adotada) a um posto mais lucrativo que lhe ofereceram nas finanças (mesmo
precisando do dinheiro); a aquisição de sua fábrica (p. 137).

c) L. Say
A prova sobre L. Say não tem o mesmo peso que as demais na discussão das

77
Comte, Charles (1782-1837). Advogado, economista e jornalista francês. Fundador do jornal “O Censor”,
em 1814, juntamente com Charles Dunoyer (que adiante é referido por Marx entre os saint-simonistas
tardios). Deputado pelo departamento de Sarthe entre 1831-1837. Foi genro de J-B Say e editor de suas
obras póstumas.

82
relações de Marx com os autores da economia. Analogamente a Ferrier, L. Say é uma das
fontes que Marx desvenda do pensamento de List. Marx dirá na parte IV do manuscrito
Marx retomara essa relação: “Se o senhor List deturpa Louis Say para poder fazê-lo seu
aliado, então ele, pelo contrário, não cita em nenhum lugar Ferrier, ao qual copiou por
toda parte. Ele quis conduzir o leitor por uma pista falsa” (p. 165).
Por isso, na sequência da discussão sobre J-B. Say, em que Marx se opôs
frontalmente à interpretação de List sobre a figura do francês, Marx compara: “Se a
mácula que o senhor List impinge aqui a Say surgiu por meio de deturpação, então não é
por menos o elogio que concede ao irmão dele, Louis Say. Para provar que Louis Say
partilha da visão ardilosa [listig78], ele adultera uma passagem deste” (p. 137).
Marx confronta a citação listiana com o original79. As passagens de fato são muito
semelhantes; nota-se, porém, que na citação de List é omitido um trecho que aparece na
transcrição de Marx: “dans le revenu ou”. Marx realça como List suprimiu um substantivo
seguido de um conector, operando assim uma distorção grave no conteúdo do trecho
citado. O tema do exemplo da apropriação de L. Say por List é o da produção e
fruição.

d) Ricardo
Marx agora dará um “exemplo da ignorância do senhor List na avaliação da escola”.
O tema é a teoria da renda da terra80. Segundo List, “'desde Adam Smith a escola foi infeliz
em suas pesquisas sobre a natureza da renda. Ricardo, e depois dele Mill, MacCulloch e

78
Aqui há um jogo de palavras. Se Marx escrevesse listschen, significaria “listiana”; listig é o adjetivo do
substantivo abstrato List (artimanha, astúcia, ardil). Visto se tratar da mesma palavra, e que os exemplos
do comportamento do nominado mostram-se de fato compatíveis com a qualificação, pode-se supor que
o duplo sentido é inescapável ao longo do texto – embora no texto conservado este seja o único
momento em que encontramos uma sugestão explícita disso por parte de Marx. Lembremos que a
primeira referência de Marx a List apareceu desta mesma forma (listig), na Introdução de 1844, escrita
em fins de 1843.
79
Depreende-se que se trata da mesma edição.
80
O problema da renda da terra em Ricardo, aqui introduzido no contexto das provas do procedimento de
List, será retomado e desdobrado adiante, nos segmentos conservados da terceira parte do texto.

83
outros são da opinião de que a renda é paga pela capacidade produtiva natural inerente
aos terrenos81. O primeiro fundou sobre essa visão um sistema inteiro /…/'” (p. 138).
No manuscrito, abaixo dessa citação de List, há um traço horizontal longo82,
seguido de uma citação de Ricardo. Pergunta-se, pois, pelo significado do sinal. Tendo em
vista a disposição em sequência das respectivas citações, a maneira como Marx remete os
autores antes da transcrição bem como a relação entre o conteúdo das mesmas, pode-se
deduzir que o traço horizontal indica que a apssagem deve ser visualizada segundo o
mesmo esquema das outras citações justapostas83.
Após defrontar as citações, deixando claro que a interpretação de List é falsa, Marx
formula brevemente sua própria explicação da renda da terra em Ricardo: “Segundo a
teoria de Ricardo, a renda, longe de ser a consequência da capacidade produtiva natural
inerente ao solo, é, pelo contrário, uma consequência da progressiva improdutividade do
solo, consequência da civilização e da população crescente. Enquanto o solo mais fértil
ainda se encontra em quantidade ilimitada para oferta, segundo ele ainda não há [renda].
A renda é determinada, portanto, por meio da proporção entre a população e as terras
virgens disponíveis” (p. 139).
Segundo Marx, essa teoria da renda da terra de Ricardo serve de base teórica à Liga
Contra a Lei dos Cereais na Inglaterra, movimento contrário aos interesses do proprietário
fundiário84. Isso contrasta com a deturpação listiana da teoria ricardiana num sentido
conciliador85. Em contraste, Marx esclarece o significado daquela teoria em sua específica

81
List imputa a Ricardo justamente “a concepção inversa, a dos fisiocratas, segundo a qual a renda fundiária
não é mais que uma prova da força de produção natural do solo” (p. 22). Já vimos que List, copiando
Ferrier, também procura imputar uma visão fisiocrata a Smith, no caso, a respeito das relações
internacionais.
82
Conforme reproduzimos em nossa tradução. A primeira edição alemã não transcreveu esse sinal grafado
pelo autor no manuscrito.
83
Isso se confirma ao considerarmos que exatamente as mesmas citações de List e Ricardo apresentadas
aqui (p. 137-138) reaparecem adiante na folha |22|, onde são de fato justapostas em colunas (p. 158).
84
O conflito em torno das Leis dos Cereais será retomado pelo autor juntamente com o problema da renda
da terra em Ricardo na parte III.
85
Na sua versão listiana, a teoria de Ricardo “prova o quanto 'livres, poderosos e ricos burgueses' [p. LXVI]
são inclinados a trabalhar 'zelosamente' para a 'renda fundiária' e a entregar-lhes [aos proprietários

84
conexão com o estágio do desenvolvimento histórico capitalista: “A teoria de Ricardo da
renda fundiária não é nada mais que a expressão econômica de uma luta de vida e morte
do burguês industrial contra o proprietário fundiário” (p. 139).

e) Sismondi
O último autor tematizado nesta sequência de provas do procedimento de List é
Sismondi, no julgamento do qual List atinge “o cume da infâmia”(p. 140):

List. Sismondi:
“'Ele (Sismondi) quer, por “'Minhas objeções não são dirigidas contra as
exemplo, que seja posto arreio e máquinas, contra o desenvolvimento, contra
freio no espírito inventivo.'” a civilização, são contra a moderna
organização da sociedade. /.../.'”

A justaposição de Marx aqui é tão exata que a segunda citação, apesar de


cronologicamente anterior, parece uma resposta preparada especialmente para a
primeira – isso mostra também que a a deturpação que List faz de Sismondi não é original.
Desmentida a afirmação de List, Marx transcreve a continuação do trecho de
Sismondi, frisando que se trata, isto sim, de uma objeção à moderna organização da
sociedade. Sismondi entende que esta organização da sociedade leva à privação dos
trabalhadores; em contraste, ele propõe que se imagine uma situação em que todos os
homens sejam “'iguais participantes entre si no produto do trabalho para o qual
contribuíram'” (p. 140); nessa base, alega ele, as “'descobertas nas artes'” (os
desenvolvimentos tecnológicos da produção) resultariam sempre em benefício geral.
Marx prossegue explicitando o baixo nível do procedimento de List em seu ataque

fundiários] o mel da colmeia” [List, p. LXIV] (p. 139).

85
à Sismondi (pp. 140-141): “Se o senhor List suspeita moralmente de Smith e Say, então ele
só sabe explicar a teoria do senhor Sismondi a partir da deficiência física deste”. Trata-se
da referência ao fato de Sismondi sofrer de daltonismo. Para desqualificar o pensamento
de Sismondi, List não tem escrúpulos em sair com a seguinte tirada: “'O senhor de
Sismondi, com a vista deficiente, vê preto todos os vermelhos – de igual falha sua visão
espiritual parece ser acometida em assuntos de economia política'”. Marx nos convida a
“apreciar toda a vileza dessa expectoração” listiana revelando de onde o autor tirou
aquela ideia – de uma passagem do próprio Sismondi, que mencionando sua deficiência
visual diz que a mesma favoreceu sua observação econômica em uma viagem que fez à
Itália: “'As ricas tintas da Campanha de Roma se desvanecem por completo aos nossos
olhos, para os quais o raio vermelho não existe'. Daí ele explica que 'o encanto que seduz
todos os outros viajantes por Roma' está para ele destruído, e ele tem, 'por isso, uma visão
tanto mais aberta para a lastimável condição real dos habitantes da Campanha'”. Marx
admite essa visão acurada, em contraste com List reconhece esse mérito de Sismondi: “Se
o senhor de Sismondi não viu as tintas vermelho-celeste que para o senhor List iluminam
magicamente toda a indústria, então ele viu, pelo contrário, o galo vermelho sobre os
frontões \ telhados dessas fábricas86” (p. 141).
Após essa deferência, Marx menciona brevemente (como um tema a ser
retomado) o veredicto de List de que os “'escritos do senhor de Sismondi em relação ao
comércio internacional e à política comercial'” são “'desprovidos de qualquer valor'” (p.
141). Já vimos que List pretende o mesmo a respeito de Smith (quando plagia Ferrier),
pois trata-se de um tema caro à teoria listiana. Assim, distorcer e condenar o pensamento
de outros autores sobre as relações internacionais, bem como sobre a liberdade comercial
é uma maneira de List, por contraste, valorizar sua defesa das barreiras alfandegárias.
Arrematando essa sequência de confrontos, Marx recapitula a maneira como List

86
Metáfora com a imagem do chamado “galo do tempo”, instalado sobre os telhados para indicar a direção
do vento. O fato de o galo estar sobre a fábrica e ser vermelho denota a tendência da realidade social
captada por Sismondi.

86
interpreta os autores: “Se o senhor List explica o sistema de Smith a partir da ambição
pessoal deste e seu dissimulado espírito de merceeiro inglês, o sistema de Say pela sede
de glória e como um negócio, então ele desce muito baixo com Sismondi, cujo sistema
explica pela deficiência na constituição física do autor” (p. 141).

1.3 O subitem [I.]4) A originalidade do senhor List é muito curto (p. 141-141),
com apenas dois parágrafos. Marx afirma, basicamente, que não há originalidade em List,
indicando a dupla fonte de que ele se apropria para elaborar suas próprias fórmulas. Isto
posto, Marx novamente realça o caráter atrasado do burguês alemão.
1.3.1 “É altamente característico ao senhor List que ele, apesar de toda bazófia,
não profira nenhuma frase que não tenha sido apresentada há muito antes dele, não só
pelos defensores do sistema proibitivo, mas pelos próprios escritores da 'escola' por ele
inventada”87 (p. 141).
A falta de originalidade de List bebe de duas fontes distintas: o sistema proibitivo e
a “'escola'”. Ferrier representa o primeiro caso (no texto conservado, este é o único autor
que aparece identificado ao “sistema proibitivo”); a “'escola'”, por sua vez, reporta um
conjunto de autores que tem Smith por base e pressupõe a sociedade da concorrência e
da liberdade comercial (à exemplo dos autores tematizados por Marx no subitem
anterior). Essas são duas linhas teóricas a princípio contrapostas, e até este ponto, Marx
frisou que List copia a primeira e ataca a segunda, daí é de se admirar que ele copie “não
só” Ferrier, mas também os “próprios escritores” os quais ataca.
1.3.2 Associada a falta de originalidade, Marx considera importante demonstrar
“em detalhes ao leitor” as fórmulas e ilusões idealizantes de List88. Com isso, o leitor “se
87
Marx faz uma avaliação semelhante no encerramento da parte IV: “Conceder-se-á que todo o senhor List
está contido in nuce nos citados e[xcertos] de Ferrier. Tome-se agora, ademais, as fórmulas que ele
empresta do desenvolvimento da economia nacional decorrido desde Ferrier e então lhe resta
meramente o tosco idealizar cuja força produtiva consiste na palavra” (p. 162).
88
Porém, Marx não faz aqui a exposição anunciada, passando diretamente ao impacto que ela teria (caso
fosse feita, supomos) sobre o julgamento do leitor, sua avaliação a respeito do burguês alemão. Uma
hipótese é que Marx teria deixado para encaixar mais tarde, no presente trecho, a referida exposição – o

87
convencerá”, assegura Marx, “de que o burguês alemão chega post festum, de que a ele é
impossível ir além da economia nacional dos ingleses e franceses (assim como àquela seria
impossível, porventura, acrescentar [beibringen] qualquer coisa de novo ao movimento da
filosofia na Alemanha). O burguês alemão ainda pode, tão-somente, transportar suas
ilusões e fórmulas para a realidade inglesa e francesa. Tal como é muito pouco possível a
ele dar um novo desenvolvimento à economia nacional, é a ele ainda mais impossível levar
adiante a indústria na prática, o desenvolvimento prévio quase esgotado sobre os
fundamentos prévios da sociedade” (p. 141).
Podemos desmembrar o conteúdo do texto acima em quatro aspectos: a) o atraso
e o respectivo idealismo do burguês alemão: “o burguês alemão chega post festum”, então
só lhe resta tentar combinar seu idealismo com a realidade mais avançada; b) a falta de
originalidade teórica é paralela à sua impotência prática; c) a ideia de que a configuração
social atual alcançou um estado de “quase” esgotamento; d) conexões específicas entre:
economia - Inglaterra e França; filosofia - Alemanha.

1.4 A transição para o subtítulo [I.]5) pode causar, à primeira vista, certa
estranheza. A formulação que nomeia o subtítulo – “5) Limitamos nossa crítica portanto à
parte teórica do livro listiano, e, mais precisamente, apenas aos seus achados principais” –
é uma conclusão direta do final do subitem anterior, podendo ser vista especificamente
como encerramento daquele encadeamento89. Mas, uma vez que se trata, ao mesmo
tempo, da abertura de uma nova divisão no texto (pp. 142-144), propriamente o último
subtítulo da primeira parte do texto, podemos enxergar na formulação em questão uma
espécie de nome provisório90. Complementarmente, o escopo do trecho é precisado na
que é coerente com o fato deste subtítulo ser tão curto.
89
Para marcar que se trata da abertura de um novo subtítulo, e não apenas de continuação do texto com o
inicio de mais um subitem, na primeira edição alemã a presente divisão aparece como “5.”, e não a
transcrição exata do manuscrito: “5)”, sem que o editor indique a modificação operada. Que se trata
realmente de um novo subtítulo da parte I é assegurado pela unidade de conteúdo do trecho que se
segue à indicação de divisão.
90
Uma diferença observada entre a apresentação do presente subtítulo em relação aos demais é que neste

88
passagem imediatamente seguinte à formulação-título, que aponta para uma investigação
sobre os princípios que List tem a demonstrar91.
A numeração dos subitens não é regular: 1), 2), 2)92, 3), 6), 7). Independentemente
das hipóteses e conclusões sobre o significado desta numeração, quanto ao conteúdo o
trecho pode ser inicialmente subdividido em dois. Os quatro primeiros subitens da
sequência pertencem a um mesmo desenvolvimento conjunto (pp.142-143), em contraste
com os dois últimos (143-144), que possuem cada um sua unidade temática e podem ser
tratados de modo independente.

1.4.1 “Quais princípios o senhor List tem a demonstrar? Interroguemos pelo o


objetivo que ele quer atingir”. Nos subitens 1), 2), 2)', 3) encontramos respostas a essas
perguntas, sempre segundo uma mesma estrutura, o que dá unidade de conjunto aos
referidos subitens: 1º) o objetivo do burguês alemão é ficar rico (por meio de barreiras
alfandegárias); 2º) o confronto desse plano com a realidade impõe condições à sua
consecução; 3º) a maneira idealizante por meio da qual List resolve o problema (e que
expressa, propriamente, o princípio a demonstrar). O tema específico de cada subitem,
por sua vez, está sempre vinculado à qualidade germânico-retardatária do burguês do qual

ponto Marx não sublinhou a indicação de número e nome, provavelmente em razão de sua extensão
incomum.
91
O fato de Marx frisar que lidará especificamente com a parte teórica do livro de List pode ser explicado
em conexão com o possível plano de publicação conjunta com Engels. Segundo a divisão das tarefas,
Marx ficaria com a parte teórica, e Engels com os desdobramentos práticos (ver Capítulo 1.2 e Anexo 4).
Depreende-se que as partes teórica e prática não possuem a mesma relevância, dada a própria
impotência prática do burguês alemão em sua situação atrasada, ao lado do estado de quase
esgotamento das bases sociais atuais, bem como em razão da conexão entre filosofia especulativa e
Alemanha; estes são aspectos que por si só justificam a abordagem marxiana limitar-se à parte teórica,
aos princípios. Assim, uma vez que Marx teria ficado com a parte central, o plano da sua parte List pode
ter evoluído de tal maneira que se tornou algo autônomo – o que nos parece coerente com o texto
conservado.
92
O qual remetemos doravante como 2)' para distingui-lo do anterior. Chamamos a atenção aqui para o
fato de se tratar, efetivamente, de dois subitens distintos. O subitem 2) aparece no fim da folha 5, em
seguida, na abertura da folha 6 Marx escreve o mesmo número de subitem; assim, uma vez que a
repetição se dá na mudança de folha, isto poderia sugerir que se trata de uma continuação do subitem 2)
anterior – mas essa hipótese não se mostra coerente com o conteúdo do texto.

89
List é expressão teórica: a) “1)” fragilidade da burguesia alemã na sua relação com o
estado; b) “2)” idealismo: “'forças produtivas'” como entidade espiritual; c) “2)'”
superexploração e sacrifício da população é apenas para o bem das ditas “'forças
produtivas'”); d) “3)” concepção geral de organização da sociedade: apologia do estado
atual. a) A primeira dificuldade apresentada ao sucesso do plano do burguês alemão é
sua fragilidade diante do estado. “O burguês93 quer barreiras alfandegárias do estado a fim
de usurpar para si poder de estado e riqueza. Mas, posto que ele não tem, como na
Inglaterra e na França, a vontade estatal à sua disposição, e por isso não pode conduzi-lo
arbitrariamente segundo sua vontade” (p. 142), ele tem de se subordinar ao estado;
então, para disfarçar essa impotência, por meio da teoria de List ele apresenta sua
demanda ao estado – “cuja atividade \ procedimento ele quer regular segundo seus
interesses” – como se fosse uma concessão ao estado, dizendo que “ele permite ao
estado uma intervenção e regulação da indústria. /…/. Sua demanda de que o estado
proceda conforme seu interesse ele apresenta enquanto reconhecimento do estado, de
que o estado tem o direito de ingerir-se no mundo da sociedade civil” (p. 142).
b) Uma segunda condição é a adaptação ao idealismo prévio do burguês alemão,
adaptação que redunda na distinção listiana entre força produtiva e valor de troca, a qual
constitui um dos fundamentos da teoria de List. “O burguês quer ficar rico, fazer dinheiro;
mas, ao mesmo tempo, ele precisa se por de acordo com o idealismo prévio do publici
alemão e sua consciência característica. Assim, ele demonstra que não persegue os bens
não-espirituais, materiais, mas sim um ser [Wesen] espiritual, a força produtiva infinita em
vez do sórdido valor de troca finito” (p. 142). Marx ironiza: “Esse ser espiritual, contudo,
carrega consigo a circunstância de que o 'burguês' nessa oportunidade encha seus
próprios bolsos com valores de troca mundanos” (p. 142).
c) A terceira condição à consecução do objetivo do burguês alemão diz respeito à
exploração dos trabalhadores e ao prejuízo dos consumidores internamente: “/.../ as

93
Em todo esse trecho trata-se, evidentemente, do “burguês alemão”.

90
barreiras alfandegárias só podem enriquecê-lo contanto que não mais os ingleses, mas sim
o próprio burguês alemão explore seus conterrâneos ainda mais do que eles foram
explorados pelo exterior” e, além disso, “as barreiras alfandegárias exigem um sacrifício
em valores de troca da parte dos consumidores (em geral dos trabalhadores que devem
ser suplantados pelas máquinas, de todos aqueles que recebem um rendimento fixo,
como funcionários, os rendeiros fundiários, etc.)” (p. 142-143). No sentido de disfarçar
esse ônus das barreiras alfandegárias para a população do país, é adotado o mesmo
caminho de sempre: “o burguês industrial deve demonstrar que ele, longe da aspiração
por bens materiais, não quer outra coisa que o sacrifício de valores de troca, de bens
materiais, para seres espirituais” (p. 143), para “forças produtivas”. Marx ironiza: “No
fundo, trata-se apenas, então, de auto-sacrifício, de ascetismo, de magnanimidade cristã.
É um mero acaso que A faça o sacrifício e B meta o sacrifício no bolso” (p. 143).
d) A quarta condição é a adoção de um tipo de organização social que tem a
Inglaterra por modelo, o que List justifica por meio da ressignificação cristã-idealista:
“Uma vez que, in nuce, todo desejo da burguesia converge para levar o sistema fabril a um
florescimento 'inglês' e tornar o industrialismo o regulador da sociedade, i. e., produzir a
desorganização da sociedade”, diz Marx, “então o burguês deve demonstrar que para ele
trata-se apenas de um harmonizar de toda produção social, trata-se apenas da
organização social” (p. 143). No fim das contas, “A organização da sociedade resume-se,
assim, às fábricas94. Elas são as organizadoras da sociedade, e o regime da concorrência
que elas fomentam é a mais bela confederação da sociedade. A organização da sociedade
que o sistema fabril cria é a verdadeira organização da sociedade” (p. 143).

1.4.2 No item 6) são destacados dois traços característicos do pensamento de


List, que reafirmam seu vínculo com o atraso da burguesia alemã: o refúgio em fórmulas

94
“A fábrica é transmutada numa deusa, a da força da manufatura. O fabricante é o sacerdote dessa força”
(p. 35).

91
socialistas e a necessidade da apologia, ambas características de inspiração tardia:
“/.../ é característico à teoria do senhor List, tal como a toda burguesia alemã, que
ela, para a defesa de seus anseios de exploração, seja obrigada a refugiar-se por toda
parte em fórmulas 'socialistas', agarrando-se assim à força a uma ilusão há muito
refutada”. (p. 143)
/.../ é característico que a burguesia alemã comece com a mentira com que a
francesa e inglesa terminam95– depois que chegou à posição, tem de justificar-se,
desculpar sua existência” (p. 144).

1.4.3 No subitem 7), que encerra o subtítulo [I.]5), e com isso toda a primeira
parte do texto, Marx aponta as duas teorias por meio das quais List pretende diferenciar-
se dos demais economistas: a) separação de forças produtivas e valor de troca b)
nacionalidade como confederação das forças produtivas.
“Uma vez que o senhor List distingue a anterior economia nacional, pretensamente
cosmopolita, de sua economia política nacional, que uma repousa sobre o valor de troca e
a outra sobre as forças produtivas, então temos de começar com essa teoria 96. Além disso,
uma vez que a confederação das forças produtivas tem de representar a nação em sua
unidade, então antes daquela distinção temos ainda de considerar essa teoria. Ambas
essas teorias constituem o fundamento real para a economia nacional distinguida da
economia política” (p. 144)97.

95
Compare-se com a passagem da introdução de 1844 citada no capítulo 1.3)
96
Essa característica da teoria de List já havia sido apontada logo no início do texto conservado, na crítica
ao idealismo de List, e novamente logo acima, entre os “princípios que a teoria de List tem a
demonstrar”. Essa distinção será retomada adiante em diversos pontos. A questão é a seguinte: “[por
toda parte] List faz como se por toda parte se tratasse unicamente de forças produtivas por si mesmas,
abstraídas dos sórdidos valores de troca” (p. 154), porém, “no estado atual”, diz Marx, “a força produtiva
é desde o início determinada por meio do valor de troca” (p. 155).
97
Chama atenção aqui a distinção entre os termos “economia nacional” e “economia política”. No trecho
citado, inicialmente a “economia política nacional” é identificada à listiana, e a economia nacional
cosmopolita àquela da qual a primeira pretende se diferenciar, por meio das duas teorias acima
apontadas. Até esse ponto do texto, Marx tratara a “economia política” (i. e., os autores já mencionados)
predominantemente por “economia nacional” ou simplesmente por “economia”. Recorde-se que no

92
1.4.4 Expostos os principais achados teóricos de List, os princípios que ele tem a
demonstrar e apontadas as duas teorias que fundamentam a peculiaridade da economia
listiana, por fim destacaremos ainda uma breve passagem do trecho acima analisado.
Entre os subitens “3)” e “6)” (ou seja, entre o quarto e o quinto na sequência) há
um parágrafo que aparenta ser uma observação isolada, a respeito dos interesses gerais
da burguesia: “Certamente a burguesia tem razão quando concebe, em termos gerais, os
seus interesses como idênticos, assim como o lobo enquanto lobo tem o mesmo \ idêntico
interesse ao dos lobos da sua alcateia; tanto é o interesse de um que ele, e não o outro,
atira-se sobre a presa” (p. 143). Não há numeração que indique um novo subitem, porém,
o parágrafo também não estabelece uma conexão direta com o encadeamento anterior.
Uma vez que há quatro subitens antes da referida observação, e que a ela segue-se o
subitem 6), poderíamos enxergar aqui a matéria para o desenvolvimento de um quinto
subitem a ser desenvolvido. Deixamos para comentá-lo em outro momento, quando Marx
retoma a mesma questão. Fica registrado, porém, mais um ponto em que Marx aflora, de
passagem, outro aspecto do seu pensamento sobre o tema da política.

1.5 O trecho conservado da parte “II. A teoria das forças produtivas e a teoria
dos valores de troca” (folhas |7| a |9|, pp. 145-55) pode ser dividido em duas grandes
partes. A primeira corresponde à uma simples enumeração de temas a discutir em List
(pp. 145-146), que não comentaremos aqui. Em seguida (pp. 146-155) o texto se
aprofunda no desenvolvimento de formulações próprias de Marx.

manuscrito de 1844 Marx também utiliza o termo “economia nacional” para se referir a esses mesmos
autores. Apesar de mais tarde Marx ter abandonado o uso de “economia nacional” em prol de “economia
política”, o fato ambos são sinônimos, trata-se de uma questão meramente terminológica. O uso do
termo “economia nacional” por Marx neste momento pode estar associado ao fato de, na Alemanha da
época ser esse o termo de uso corrente para o assunto e os respectivos autores.
A “economia política” no sentido da citação acima, i. e., que List distingue da sua, também é chamada
por ele de “economia cosmopolita”.

93
2. Desenvolvimento teórico marxiano
(valor de troca, trabalho, indústria, emancipação, barganha, nacionalidade)

Considerações gerais
De todo o texto conservado, é neste momento que fica mais ressaltado o
pensamento próprio do autor (pp. 146-155). Até aqui, o texto desenvolveu-se em torno de
uma exposição crítica da teoria de List (suas características, procedimentos, fundamentos
e principais questões) em paralelo à referência histórica a autores da economia; agora,
passamos para um nível mais sistemático quanto à explicitação das ideias de Marx, com o
desenvolvimento de alguns temas específicos cuja articulação categorial é nuclear na
crítica da economia política98.

Resumo
Seguindo-se ao subitem “15)” que encerra a enumeração anterior, o trecho ora
analisado inicia com um subitem “2)”, na folha |7|, que segue até o fim da folha 8, onde
se interrompe o texto. Aqui termina o primeiro (e também o mais longo) segmento
contínuo conservado (folhas |2|-|9|), para dar lugar, em seguida, a maior lacuna na
transmissão do texto original (que conteria as folhas |10|-|21|).
O bloco ora analisado (pp. 146-151) é composto de uma série de subitens que
foram numerados por Marx da seguinte maneira: 2), 2)99, 3), 4), 5)100. Os temas
desenvolvidos no trecho ora analisado são: a) valor de troca (p. 146); b) trabalho e

98
Essa divisão não deixa de ser também simplificadora, na medida em que na parte I Marx já apresenta
elementos fundamentais da sua própria concepção, bem como no desenvolvimento da parte II ora
analisado nunca perde de vista o debate com List. Mesmo assim, é inegável que há uma especificidade da
segunda parte, especificidade essa que pode ser expressa na divisão acima.
99
Doravante 2)''
100
Se deixarmos de lado a repetição dos dois primeiros números (embora eles constituam, de fato, subitens
tematicamente distintos), esta sequência parece complementar a lacuna no início da enumeração
anterior 1), 6), 7), /…/, 14), 15). Em comparação essa enumeração, em que os itens aparecem mais como
indicação dos temas a serem retomados e desenvolvidos, os presentes itens já são bem mais trabalhados
pelo autor.

94
regateamento (pp. 146-148); c) burguesia e nacionalidade (pp. 148-149); d) indústria e
emancipação (pp. 149-150); e) trabalho como força produtiva da riqueza (pp. 150-151).
Essas divisões são aproximadas, visto que esses temas também se misturam uns aos
outros na sequência ora análisada.

2.1 No item “2)”, que abre o trecho ora analisado, é abordado o tema do valor
de troca. Marx refuta a identificação listiana entre bens materiais e valores de troca. Essa
identificação mostra o quanto List está “enredado nos preconceitos da velha economia”
(p. 146). Marx refere-se aqui ao misticismo pré-smithiano, com sua associação imediata
entre o objeto e seu valor de troca, sejam os metais ou a terra (neste último caso a
fisiocracia).
Segundo Marx, “o valor de troca é completamente independente da natureza
específica dos 'bens materiais'” (p. 146). Essa definição negativa do valor de troca (o valor
de troca exclui a natureza específica dos bens materiais, ou, a natureza específica dos bens
materiais não participa do valor de troca), é comprovada por meio da dissociação entre o
valor de troca e duas propriedades materiais elementares: o valor de troca “é
independente tanto da qualidade quanto da quantidade dos bens materiais” (p. 146).
Se aumenta a quantidade dos bens materiais, diminui o valor de troca. Por outro
lado, em contraste com essa razão inversa, há uma constância entre bens materiais e
necessidades humanas, independentemente da variação do valor de troca: “O valor de
troca cai se a quantidade dos bens materiais sobe, embora eles tenham, tanto antes
quanto depois, a mesma relação para com as necessidades humanas”101 (p. 146).
O valor de troca também “não se relaciona com a qualidade”, ou seja, o valor de

101
Com relação à primeira afirmação, sobre o aumento da quantidade dos bens materiais e a
correspondente diminuição do valor de troca, pode parecer que o valor de troca é identificado aqui
simplesmente com o preço, que cairia em razão do aumento da oferta. Porém, se o aumento da
quantidade dos bens materiais supõe o desenvolvimento das forças produtivas, diminui primeiramente o
valor de troca, e não apenas o preço. De todo modo, o interesse aqui é mostrar que o valor das coisas
não se define com relação às necessidades humanas.

95
troca não se explica mediante determinada qualidade; a qualidade, por sua vez, aparece
associada à utilidade: “Coisas as mais úteis, como conhecimento, são desprovidas de valor
de troca” (p. 146). O fato de o conhecimento aparecer como algo desprovido de valor de
troca não poderia ser atribuído à característica dita imaterial desse “bem”, já que, de
modo geral, os “bens” não têm valor de troca em razão da sua materialidade – o que
define o valor de troca não é nunca a natureza específica”102. O fundamento do valor
de troca deve ser buscado em outro lugar que não na natureza específica dos “bens
materiais”, nas propriedades das coisas relativamente à utilidade ou em sua relação com
as necessidades humanas. Marx enuncia então a determinação social do valor de troca, a
saber, o valor de troca não deriva da naturalidade, mas sim da sociabilidade, e não da
sociabilidade em geral, mas de uma configuração histórica determinada: “a conversão dos
bens materiais em valores de troca é uma obra da ordem social existente, da sociedade da
propriedade privada desenvolvida” (146)103.
Marx conclui seu raciocínio sobre o valor de troca elevando a tematização ao
terreno da emancipação humana, com a afirmação de que a única maneira de se superar
o valor de troca é superá-lo na base: “A superação do valor de troca é a superação da
propriedade privada e da aquisição privada” (p. 146).
102
Aqui há uma dificuldade na interpretação. Marx vem falando de “bens materiais”, e então se refere ao
conhecimento, denominando-o, genericamente, como coisa. Logo abaixo, Marx distingue entre “estado
de coisas” e atividade; mais adiante, dirá que o homem, uma vez designado como mercadoria, foi
transformado numa coisa; aqui, não significa que a coisidade seja algo mau em si, o problema é destituir
o caráter ativo e transformar o homem em coisa.
103
Devemos observar dois pontos em relação ao significado dessa “conversão”, ela é universal e radical. a)
Uma vez que Marx refere-se à “propriedade privada desenvolvida”, ele considera aqui a conversão
universal dos “bens materiais” em valores de troca; a propriedade privada desenvolvida implica o sistema
da grande indústria fabril, contexto em que o próprio homem é tratado como valor de troca, como coisa,
e sua atividade é reduzida à força de criar riquezas, objetivo primordial em torno do qual toda sociedade
atual se organiza (tudo isso fica explícito adiante no texto); em suma: “Toda a sociedade humana torna-se
apenas máquina de criar riqueza”. (p. 19, grifos nossos)”. b) Além de generalizada, é também uma
conversão radical. Por um lado, naturalmente isso não significa o desaparecimento dos “bens materiais”
– do mesmo modo que o homem, eles continuam existindo: uns enquanto portadores de valores de
troca, o outro unicamente enquanto portador de “força de criar riquezas”. Tampouco devemos pensar
que a cada momento primeiro surgem os “bens materiais”, os quais, depois, são reduzidos a
“portadores” – pelo contrário: “no estado atual a força produtiva é desde o início determinada pelo valor
de troca” (p. 20).

96
Entende-se que no contexto da discussão com List, ao final Marx enfatize esse
ponto, o da superação do valor de troca, pois List pretende, de certo modo, substituir o
sórdido valor de troca pelas puras “'forças produtivas'”, separação que, segundo Marx, é
um absurdo dentro das condições supostas por List. Com isso, Marx avança e mostra o que
significa, para ele, de fato, a superação do valor de troca: “a superação da propriedade
privada e da aquisição privada”. A superação do valor de troca, entendido como “obra da
ordem social existente”, é uma decorrência da superação desta determinada sociabilidade
historicamente constituída. Mas, como ela se constitui? Por meio do trabalho, prosseguirá
Marx logo adiante.

Antes de desenvolver o assunto introduzido acima, Marx encerra o subtítulo [I.]5)


destacando esquematicamente os dois principais fundamentos da teoria de List:
separação entre valor de troca e forças produtivas e confederação nacional das forças
produtivas (nacionalidade). São temas estruturais da avaliação de Marx sobre List, que já
haviam sido indicados e que serão retomados e desenvolvidos em mais de um momento
mais adiante.

2.2 Considerado que o valor de troca é uma relação da “sociedade da


propriedade privada desenvolvida” e a necessidade da superação desta, a radicalidade do
raciocínio segue em direção ao tema nuclear do trabalho.
Marx define: “O 'trabalho' é o fundamento vital da propriedade privada, é a
propriedade privada enquanto a fonte criadora de si mesma. A propriedade privada não é
senão o trabalho objetivado”; nisso se encontra a chave para a superação da propriedade
privada: “Se se quer desferir-lhe o golpe de morte, não se deve atacar a propriedade
privada somente enquanto estado de coisas, mas sim a propriedade privada enquanto
atividade, enquanto trabalho” (p. 147).

97
No item 3), Marx destaca a almejada ambivalência do burguês alemão em relação
ao regateio no interior e no exterior do país, em meio ao que faz observações mais gerais
sobre a nacionalidade (pp. 14-15); para efeito de análise trataremos as partes intercaladas
em dois blocos, primeiramente, o tema da nacionalidade, e, em seguida, a pretendida
posição do burguês alemão frente ao interior e ao exterior e o regateio.

2.3) Tema da nacionalidade. A respeito dos interesses gerais da burguesia, Marx


já havia observado, de passagem, o seguinte: “Certamente a burguesia tem razão quando
concebe, em termos gerais, os seus interesses como idênticos, assim como o lobo,
enquanto lobo, tem o mesmo interesse ao dos lobos da sua alcateia; tanto é o interesse de
um que ele, e não o outro, atira-se sobre a presa” (p. 11). Tal metáfora é aqui retomada de
modo técnico: “O burguês, conquanto o burguês individual lute contra os outros, tem
enquanto classe um interesse coletivo”, o qual possui um conteúdo duplamente negativo:
“essa coletividade, assim como para dentro é voltada contra o proletariado, para fora é
voltada contra os burgueses de outras nações”; concluindo, Marx define: “Isso o burguês
intitula sua nacionalidade.” (p. 148).
Se o burguês possui, de fato, uma nacionalidade (uma coletividade definida,
externamente, por oposição a outras burguesias e, internamente, frente ao proletariado),
já o trabalhador, por sua vez, não possui nacionalidade, governo ou pátria em sentido
usual: “A nacionalidade do trabalhador não é francesa, não é inglesa, não é alemã, ela é o
trabalho, a livre escravidão, o auto-barganhamento [Selbstverschacherung]. Seu governo
não é francês, não é inglês, não é alemão, ele é o capital. Seu ar pátrio não é o francês,
não é o alemão, não é o inglês, ele é o ar da fábrica. O solo que lhe pertence não é o
francês, não é o inglês, não é o alemão: ele está alguns palmos debaixo da terra.” (pp.
148).
Diferentemente do burguês, o trabalhador não estabelece uma coletividade por
oposição aos trabalhadores de outras nações, uma vez que todos pertencem, igualmente,

98
ao trabalho, que não é regido não por um poder político particular mas sim pelo capital; a
vida cotidiana do trabalhador transcorre segundo os ditames da fábrica, não segundo os
costumes e tradições; sua apropriação da terra só ocorre depois da morte, isto é, não
existe104.
Este ser desprovido de nacionalidade corresponde ao fato de a atual organização
do trabalho ser “a dissolução de todas as suas organizações anteriores aparentemente
sociais” (p. 147).
Marx desnuda e ironiza a arbitrariedade da ambivalência do burguês alemão em
relação ao interior e ao exterior. Para dentro, no interesse do burguês, valeriam as leis que
correspondem à exploração da maioria da população, isto é, a chamada teoria dos valores
de troca, independentemente de consideração às relações políticas das nações.
Entretanto, para fora, frente às outras nações, ele invoca, novamente em defesa de seus
interesses, a teoria alternativa das “forças produtivas” e exalta sua dignidade nacional.
Transcrevemos na íntegra os dois parágrafos em que Marx descreve esse comportamento
de List:
“O burguês diz: para dentro, naturalmente a teoria dos valores de troca não deve
ser interrompida; a maioria [Majorität] da nação deve permanecer um mero ‘valor de
troca’, uma ‘mercadoria’ que tem de transmitir-se a si mesma ao homem, que não é
vendida, mas sim vende-se a si mesma. Frente a vós, proletários, e reciprocamente entre
nós mesmos, encaramo-nos como valores de troca – vigora a lei da barganha [Schacher]
geral. Entretanto, frente às outras nações, aí devemos interromper essa lei. Não podemos,
enquanto nação, barganhar-nos-nos às outras. Uma vez que a maioria das nações está
sujeita às leis da barganha ‘sem consideração’ sobre as ‘relações políticas das nações’,
então aquela frase não tem outro sentido que: nós, burgueses alemães, não queremos ser

104
Se a nacionalidade foi definida como coletividade específica do burguês, quando dizemos que
determinado trabalhador é de uma determinada nacionalidade significa que ele, em verdade, assumiu,
ou melhor, foi submetido (de modo completamente acidental, por nascimento) a alguma das
nacionalidades definidas pelas coletividades burguesas contrapostas.

99
explorados pelos burgueses ingleses à maneira como vós, proletários alemães, sois
explorados por nós e como nós nos exploramos uns aos outros reciprocamente. Não
queremos nos render às mesmas leis do valor de troca às quais nós vos abandonamos.
Não queremos mais reconhecer para fora as leis econômicas que reconhecemos para
dentro. |8| Ora, o que quer então o filisteu alemão? Para dentro, quer ser burguês, ser
explorador, para fora, porém, não quer ser explorado. Para o exterior, ele se infla de
“nação” e diz: eu não me submeto às leis da concorrência, isso é contra minha dignidade
nacional; enquanto nação, sou um ser sublime acima da barganha” (p. 148).

“Para dentro, o dinheiro é a pátria dos industriais. Ora, então o filisteu alemão quer
que as leis da concorrência, do valor de troca, do tráfico, percam seu poder nas cancelas
do seu país? Ele só quer reconhecer amplamente o poder da sociedade civil quando
convém ao seu interesse, ao interesse da sua classe? Ele não quer ser vítima de um poder
ao qual quer sacrificar outros e [ao qual] sacrifica a si mesmo dentro do seu país? Para o
exterior, ele quer mostrar-se e ser tratado como um outro ser diferente do que para
dentro ele é e trata a si mesmo. Quer deixar a causa existir e suspender [aufheben] um
dos seus efeitos? Iremos provar-lhe que a auto-traficância para dentro tem por
consequência necessária a traficância para fora; que a concorrência, que para dentro é seu
poder, não pode deixar de se tornar para fora sua impotência; que o sistema político ao
qual ele internamente submete a sociedade civil não pode, externamente, protegê-lo
diante da ação da sociedade civil. –” (p. 148-149).

2.4 A questão da emancipção humana subjaz desde o início do texto e já havia


aflorado explicitamente em alguns pontos. No trecho acima analisado, Marx acercou-se
ainda mais decididamente dela, desvendando o valor de troca como uma relação da
propriedade privada e o trabalho como a fonte vital da mesma, e introduzindo em seguida
a noção de tráfico do homem. Agora, no item 2)'', à questão da emancipação será

100
reservado um tratamento à parte. O trecho divide-se em a) uma certa maneira de se
considerar a indústria (pp. 149-150) e b) referência histórica à escola saint-simonista (pp.
150-152).

2.4.1 Para Marx, “é possível considerar a indústria de uma perspectiva totalmente


diversa da perspectiva do sujo interesse do tráfico. Por um lado, considera-se “não apenas
o comerciante individual, o fabricante individual, mas sim, reciprocamente, as nações
fabricantes e comerciantes atuais”, portanto, a) trata-se de uma visão de conjunto da
indústria contemporânea; por outro lado, b) a indústria é considerada diretamente em sua
dimensão histórico-ontológica mais profunda: “Pode-se considerá-la como a grande
oficina em que primeiramente o homem apropria-se de si mesmo, de suas próprias forças
e das forças da natureza, objetiva-se, em que criou para si as condições para uma vida
humana” (p. 149).
Nessa consideração – em que ressalta a caracterização do homem como um ser
que se apropria de si mesmo, que se objetiva e cria suas próprias condições de vida –,
explica Marx, “abstrai-se então das circunstâncias dentro das quais hoje a indústria é ativa,
dentro das quais ela existe enquanto indústria, não se situa na época industrial, situa-se
acima dela”; juntamente com essa posição de distanciamento, toma-se o homem (atual e
historicamente) por critério, considerando a indústria contemporânea não “segundo o que
ela é hoje para o homem, mas sim segundo o que o homem atual é para história humana,
o que ele é historicamente” (p. 149).
Toda essa consideração da indústria conduz, por sua vez, ao reconhecimento da
relação entre os poderes naturais e sociais e a indústria contemporânea. Quando se a
considera daquele modo, “não se reconhece a indústria enquanto tal, sua existência
contemporânea, reconhece-se nela, isto sim, o poder situado nela sem sua consciência e
contra sua vontade, o qual ela aniquila e o qual forma o fundamento para uma existência
humana” (p. 149).

101
Trata-se do reconhecimento de uma relação contraditória, que tem o homem por
fundamento e demanda sua emancipação: “O reconhecimento, então, é ao mesmo tempo
a cognição de que chegou a hora de serem abolidas [abschaffen] ou de superar [aufheben]
as condições materiais e sociais dentro das quais a humanidade teve de desenvolver suas
capacidades qual um escravo. Pois tão logo se veja na indústria não mais o interesse do
tráfico [ou: regateio], mas sim o desenvolvimento do homem, faz-se do homem, em vez
do interesse do tráfico [ou: regateio], o princípio, e se lhe dá o que na indústria só pôde
desenvolver-se em contradição consigo mesmo, o fundamento que está em consonância
com o a ser desenvolvido [das Entwickelnden].” (p. 150)105.

2.4.2 Após colocar a questão da emancipação nos termos acima – mediante


determinada consideração da indústria que leva ao reconhecimento da relação
contraditória entre a mesma e os poderes humanos e à compreensão de que a superação
de tal relação é uma demanda da época atual – Marx faz uma referência à escola saint-
simonista, em que trata de dois aspectos: a) papel histórico da escola saint-simonista em
relação à questão da emancipação b) sua derivação tardia em apologética do estado atual.
Por um lado, Marx ressalta o papel pioneiro e decidido da escola saint-simonista na
discussão em pauta: “O primeiro passo para quebrar o encantamento industrial foi
abstrair das condições, das correntes monetárias nas quais atuam hoje seus poderes e
considerá-los por si. Foi a primeira exortação aos homens para emanciparem sua indústria
do tráfico e conceber a indústria atual como um período transitório. E os saint-simonistas
não se detiveram nessa interpretação. Eles seguiram adiante, atacando o valor de troca, a
organização da sociedade contemporânea, a propriedade privada. Eles põem a associação
no lugar da concorrência” (p. 151).

105
Após essa conclusão do raciocínio, Marx faz uma observação que situa novamente a questão em relação
à Alemanha e ao pensamento de List. À primeira vista, a passagem não é muito fácil de compreender,
tanto por se tratar de uma observação aditiva ao raciocínio que já foi concluído como por trazer
referências implícitas e por seu caráter metafórico. Completar.

102
Entretanto, a escola saint-simonista incorre desde o início em um equívoco que,
mais tarde, “vingou-se deles”, conduzindo-os, por fim, à apologia do estado atual. Trata-se
da confusão no reconhecimento da relação contraditória entre as forças sociais e a
indústria contemporânea. “A escola saint-simonista celebrou em ditirambos o poder
produtivo da indústria. Ela projeta junto com a indústria os poderes que a indústria chama
à vida [ou: cria], i. e., as atuais condições de vida desses poderes” (p. 19). Com isso, “eles
confundiram a oposição de ambas as forças” e então “sua celebração das forças
produtivas da indústria tornara-se uma celebração da burguesia” (p. 151).
List, com sua separação artificial e falsa entre valores de troca e força produtiva e a
glorificação mística da última, seguiria pelo mesmo caminho que evoluiu a escola saint-
simonista. Entretanto, em razão do importante significado histórico da escola saint-
simonista, Marx esclarece que está “longe de colocar os saint-simonistas ao nível de um
homem como List ou do filisteu alemão” (p. 151). De todo modo, os últimos estão
relacionados, especificamente, com a escola saint-simonista tardia, o que reflete bem o
caráter atrasado da burguesia alemã e as necessidades peculiares dessa posição: “O
burguês alemão e o senhor List começam com o que a escola saint-simonista termina, com
a hipocrisia, a fraude e as fórmulas” (p. 151-152)106.
“A escola saint-simonista deu-nos um exemplo instrutivo de para onde se vai
quando se escreve a favor do poder produtivo da indústria contemporânea (o qual a
indústria cria contra sua vontade e inconscientemente) e se troca ambos, a indústria e os
poderes os quais a indústria, inconsciente e involuntariamente, cria – os quais, entretanto,
somente se transformam em poderes humanos, em poder do homem, tão logo se abula a
indústria” (p. 150).
Neste ponto, Marx expõe seu próprio entendimento da questão, em que se destaca
o papel do proletariado: “As forças naturais e as forças sociais que a indústria cria

106
No mesmo sentido: “é característico que a burguesia alemã comece com a mentira com que a francesa e
inglesa terminam”. Essa mesma ideia apareceu na Introdução de 1844. Ver Capítulo 1.3, p. 56.

103
encontram-se por completo na mesma relação para com ela que o proletariado. Hoje eles
ainda são seus escravos, nos quais ele não vê nada mais que ferramentas \ portadores da
sua suja \ interesseira ganância por lucro; amanhã eles rompem suas correntes e
mostram-se como portadores de um desenvolvimento humano que arrebenta com sua
indústria, da qual supusera apenas a suja casca que tomou pela essência até que o núcleo
humano ganhara poder o bastante para rachá-la e surgir em sua feição [Gestalt] própria;
amanhã eles rompem as correntes por meio das quais ele a separa do homem, e assim, a
partir de um vínculo social real, caricaturiza-a \ transforma-a em correntes da sociedade.”
(p. 150-151).

2.5 A sequência do texto apresenta um curto item 3), contendo apenas dois
parágrafos com observações sobre o domínio mundial da indústria e sobre a
correspondente ordem social.
Marx esclarece que o domínio mundial representado pela Inglaterra deriva do
poder da indústria. E é impossível deter o poder da indústria contra uma nacionalidade
específica, é necessário derrotar a indústria dentro do país, isto é, uma derrota direta da
propriedade privada e não de uma nacionalidade; a derrota da Inglaterra enquanto
nacionalidade (que interessava ao burguês alemão enquanto nacionalidade contraposta),
só poderia ser uma consequência da derrota da propriedade privada. “Que a ordem
social industrial é o melhor dos mundos para o burguês, a ordem mais apropriada para
desenvolver suas “capacidades” enquanto burguês e a capacidade de explorar tanto os
homens quanto a natureza, quem contestará essa tautologia? Que tudo aquilo que hoje
em dia se chama “virtude”, virtude individual ou social, é para o lucro do burguês, quem
contesta? Quem contesta que o poder político é um meio da sua riqueza, que mesmo a
ciência e as fruições espirituais são suas escravas! Quem contesta? Que para ele tudo é
formidavelmente [x x x]? Que para ele tudo tornou-se em meio da riqueza, em uma 'força
produtiva da riqueza'?” (p. 152).

104
2.6 O curto item 4) apresenta a seguinte caracterização: “A economia atual
parte do estado social da concorrência. O trabalho livre, i. e., a escravatura indireta, auto-
oferecida, é seu princípio. Suas primeiras proposições são a divisão do trabalho e a
máquina. Mas essas só podem ser levadas ao seu mais alto desdobramento na fábrica,
como admite a própria economia atual. Portanto, a economia nacional atual parte da
fábrica enquanto seu princípio criador. Ela supõe as condições sociais atuais” (p. 152)107.

2.7 Deste ponto até o final do texto conservado da parte II (pp. 153-155) o
tema é o das forças produtivas. O trecho possui duplo objetivo: a) desnudar, mais uma
vez, o dualismo idealista-cristão de List e refutar o estatuto da “causa” da riqueza segundo
o autor; b) “destruir o brilho místico que banha a 'força produtiva'” listiana e denunciar a
redução do homem a mera “força de criar riqueza”: sob o sistema atual, o homem “existe
tão somente enquanto causa da riqueza”; Marx destaca como essa condição traz
consequências extremamente negativas para a constituição subjetiva do indivíduo. No
conjunto do trecho, alternam-se os dois temas indicados acima e quando retorna ao
segundo ponto, este aparece explicitamente indicado por um subtítulo.

2.7.1 É central na relação listiana entre valor de troca e força produtiva o estatuto
da “causa”, identificada com a “força” e tratada como se fosse algo não só completamente
distinto, mas também superior ao seu resultado. A ideia listiana de que “'As causas da
riqueza são algo totalmente distinto da riqueza mesma'”, que “'A força de criar riquezas é
infinitamente mais importante que a riqueza mesma'” (p. 152) já foi apontada como um
dos princípios da teoria de List das forças produtivas separadas da teoria dos valores de
troca. No presente trecho, Marx retoma e desenvolve esse princípio.

107
A economia atual, ao simplesmente supor as condições atuais, “não precisa entrar em pormenores sobre
a força manufatureira”, em contraste com a especulação listiana. Aqui Marx parece ironizar a sequência
de capítulos sobre a força manufatureira no livro de List. Ver anexo 4.

105
Ainda que Marx não pretenda resolver a discussão num plano puramente lógico,
mesmo desse ponto de vista ele já discorda da asserção listiana de que “causa e efeito são
'coisas completamente diferentes'”. Por mais que causa e efeito não sejam a mesma coisa,
é igualmente impossível que sejam totalmente distintas, uma vez que, para Marx, “o
caráter do efeito” já estaria “contido na causa”. Nessa relação, “A causa já tem de portar a
determinação que o efeito mais tarde manifesta”; de modo que o efeito, por seu turno, “é
apenas a causa expressa abertamente”. Marx não apenas discorda da dissociação listiana
entre causa e efeito como também vai contra a alegada superioridade da causa por parte
de List, sustentando justamente o contrário: “A causa, de nenhum modo, é tão elevada
quanto o efeito” (p. 154).
No idealismo de List se expressa um dualismo que eleva a causa (força, força
produtiva, força de criar riqueza) frente ao efeito (valor de troca, riquezas). Nesse
esquema, “forças parecem ser entidades espirituais autônomas – espectros – e puras
personificações, divindades”. Assim, “A força produtiva aparece como um ser [Wesen]
infinitamente sublime acima do valor de troca. A força assume o lugar do ser interior; o
valor de troca, o da capciosa aparência. A força aparece como infinita, o valor de troca
como finito, aquela como imaterial, este, como material – encontramos todas essas
oposições no senhor List. O mundo suprassensível das forças adentra, por isso, o mundo
material dos valores de troca” (p. 152-153).
Se é obvio que o sacrifício da maioria da população por valores de troca é algo vil,
pois é claramente o sacrifício de homens para coisas, então, para justificar a necessidade
do sacrifício de valores de troca para forças produtivas, List joga com o fato de que “Um
valor de troca, dinheiro, sempre aparenta ser uma finalidade exterior, mas a força
produtiva, uma finalidade que deriva da minha própria natureza, uma auto-finalidade
[Selbstzweck]. /.../. Assim parece quando nos contentamos com a palavra ou, como
alemão idealizante, não nos preocupamos com a suja realidade que está por trás dessa

106
palavra altissonante108” (p. 153).

2.7.2 “Para destruir o brilho místico que banha a 'força produtiva' deve-se apenas
abrir qualquer estatística. Aí é falado de força hidráulica, força a vapor, força humana,
cavalo de força. Tudo isso são 'forças produtivas'. É um grande reconhecimento do homem
que ele figure com o cavalo, o vapor, a água, como 'força'?” (p. 153).
“Um belo reconhecimento do homem o que o rebaixa a uma 'força' de criar
riqueza. O burguês vê no proletariado não o homem, mas a força de criar riqueza, uma
força que ele pode, então, comparar também a outras forças produtivas, ao animal, à
máquina, e, conforme a comparação lhe seja desvantajosa, a força cujo portador é um
homem deve ceder lugar à força cujo portador é um animal ou uma máquina, junto aos
quais ele então sempre possui \ goza a honra de figurar como 'força produtiva'” (154).
A atividade do homem como “força produtiva” é a tal ponto moldada por critérios
indiferentes ao exercício e desenvolvimento de capacidades humanas que pode até
mesmo atuar num sentido diretamente contrário. “No sistema atual, se umas costas mais
recurvadas, uma luxação dos ossos, uma instrução unilateral e fortalecimento de certos
músculos, etc., faz você mais capacitado ao trabalho \ mais produtivo, então suas costas
mais recurvadas, sua luxação das articulações e seu movimento unilateral dos músculos
são uma força produtiva. Se sua burrice é mais produtiva que sua rica atividade espiritual,
então sua burrice é uma força produtiva etc. etc. Se uma tarefa monótona faz você mais
capaz para essa mesma tarefa, então a monotonia é uma força produtiva.” (p. 153).
Após essa descrição do efeito desumanizador da força produtiva sob o sistema
atual, Marx questiona se é mesmo possível acreditar que “A única coisa que interessa ao
burguês, ao fabricante, é que o trabalhador desenvolva todas as suas capacidades, acione
suas faculdades produtivas, acione humanamente a si mesmo e, por isso, acione ao
mesmo tempo o humano?” (p. 153).

108
i. é, “'força produtiva'” listiana.

107
Ao duvidar do interesse humanista do burguês, Marx apresenta positivamente os
termos do seu próprio pensamento: desenvolvimento de capacidades, acionamento de
faculdades produtivas; acionamento de si mesmo humanamente é acionamento do
humano. Já está claro que não é isso que interessa ao burguês. Mas como List insiste em
travestir a realidade de modo idealista-cristão, é preciso sempre apontar para a suja
realidade que se encontra por trás da palavra altissonante.
A resposta àquela pergunta retórica Marx deixa a Ure, de quem cita uma passagem
sobre a relação entre o trabalhador e o aperfeiçoamento da maquinaria (p. 153-154),
processo que sempre visa tornar o trabalho mais barato ou supérfluo (“'substituindo a
indústria dos trabalhadores adultos pela indústria das mulheres e crianças ou o trabalho
do artista hábil pelo do trabalhador mais inábil'”), mais simples (“'por meio da combinação
da ciência com seus capitais'”) e mais favorável a ser supervisionado. Logo adiante Marx
retoma: “Uma elucidação sobre a essência das 'forças produtivas' atuais nós já obtemos
pelo fato de que, no estado atual, a força produtiva não consiste apenas em fazer o
trabalho do homem mais eficiente ou as forças naturais e as forças sociais mais eficazes,
ela consiste igualmente em fazer o trabalho mais barato ou mais improdutivo para o
trabalhador”, e conclui: “Portanto, a força produtiva é desde o início determinada por
meio do valor de troca” (p. 155).
Por fim, destaca-se a seguinte passagem:
“Se eu designo o homem como 'valor de troca', então já reside na expressão que as
condições sociais converteram-no em uma 'coisa'. Se o trato [enquanto] 'força produtiva',
então coloco no lugar dos sujeitos efetivos um outro sujeito, substituo-o por uma outra
pessoa; ele existe tão somente enquanto causa da riqueza. /.../ Toda a sociedade humana
torna-se apenas máquina de criar riqueza” (p. 154).

108
3. Questão da renda da terra (Ricardo)

Considerações gerais
O segmento conservado da parte II interrompeu-se ao fim da folha |9|. Dali em
diante, do restante do texto foram encontrados: um fragmento da folha |22| e outro da
folha |24| e mais uma folha não numerada que contém a parte IV O senhor List e Ferrier; e
um curto fragmento de página, igualmente não numerada, provavelmente destinada a ser
inserida em algum ponto do texto. Analisaremos agora os referidos fragmentos das folhas
|22| e |24| (pp. 157-163).
Deduz-se que o trecho ora analisado pertenceria à parte III do plano original, visto
que a indicação de partes II e IV supõe as partes I e III intercaladas. Entretanto,
poderíamos também supor que os dois fragmentos pertencem ainda a uma continuação
da parte II, admitindo que a parte III poderia iniciar após a folha |24|; porém, o fato de o
tema do trecho ora analisado não ter aparecido na enumeração dos assuntos que abre a
parte II enfraquece essa hipótese de que poderia se trata aqui de uma continuação da
parte II. Estamos portanto na parte III do texto.
O fragmento da folha |24| termina com um segmento de frase, então o assunto
adentra pelo menos o início da folha seguinte não conservada; mas, uma vez que a folha
que contém a parte IV não foi numerada pelo autor, não podemos ter certeza em que
altura da parte III as folhas |23| e |24| se encontram. Supondo que a parte II teria
prosseguido algumas folhas além da |9|, e visto que a numeração dos dois fragmentos em
questão é relativamente alta, o mais provável é que o trecho encontre-se próximo ao final
da parte III; com isso, ao contrário da lacuna anterior ao segmento ora analisado, a que se
segue a esses fragmentos até chegar na parte IV não seria muito grande.
Nos dois fragmentos da parte III conservados o foco é a questão da renda da terra,
com destaque, dentre os economistas, para Ricardo (que aparece centralmente associado

109
ao tema109), e a controvérsia em torno das Leis dos Cereais de 1815 na Inglaterra e a luta
entre a indústria e a propriedade fundiária. Porém, não é possível saber se a questão da
renda da terra e suas conexões teriam sido o objeto específico de toda a parte III ou
ocuparia apenas este trecho dela. Com base nas folhas |22| e |24|, é certo que o assunto
já vinha sendo tratado pelo menos desde o final da folha [|21|], preencheria a folha [|
23|] completa e ainda continuaria na folha [|25|] (todas não encontradas, por isso
notadas entre colchetes). Com isso, deduz-se que o assunto mereceu, no plano original,
um desdobramento bem maior do que poderemos entrever no trecho conservado – o que
ajuda a melhor dimensionar a importância das seguintes discussões para a formação da
crítica marxiana da economia política.

Resumo
Os temas aparecem na seguinte ordem: folha |22| – a) conflito entre proprietário
fundiário e capitalista industrial em torno do preço dos cereais e seus resultados; b)
refutação da interpretação listiana da teoria da renda de Ricardo; c) excurso histórico
sobre as Leis dos Cereais na Inglaterra; folha |24| – a) a relação entre grande indústria
fabril e propriedade fundiária segundo Marx; b) a teoria da renda de Ricardo segundo
Marx.
Em nossa análise, trataremos o conteúdo dessa sequência em três blocos: 1) a
teoria ricardiana da renda; 2) as Leis dos Cereais e conflito entre industrial e proprietário
fundiário; 3) relação entre grande indústria fabril e propriedade fundiária. Além de operar
esse reagrupamento, remeteremos também algumas passagens anteriores, notadamente
da parte I, em que Marx, ao discutir a interpretação listiana sobre Ricardo, aflorou os
temas agora retomados.

109
Lembremos que no manuscrito de 1844, mostra-se a mesma associação específica entre Ricardo e o
tema renda da terra, dentro da mesma perspectiva de considerar as teorias econômicas em conexão
com a evolução histórica da propriedade privada, i. é. nos termos da determinação social do
pensamento.

110
3.1 A teoria da renda em Ricardo já havia sido mencionada por Marx no início
do texto, na parte [I.].3 (p. 138-139). Ali, Marx remete a questão da renda da terra em
Ricardo para encerrar sua ilustração do arcabouço de procedimentos listianos frente a
economia profana sincera. Agora, num ponto bastante avançado do texto, Marx retomará
exatamente o tema específico aflorado no inicio como mais um exemplo da ignorância de
List e suas deturpações. Como já vimos em relação a Smith, Say, Sismondi e Saint-Simon,
não é por acaso que Marx volta-se para determinados autores em sua exposição sobre
List, não é apenas para explicar como List se relaciona com eles, mas também para
demarcar sua interpretação em relação aos mesmos; na verdade, é o modo como Marx
encara os autores autores o que torna a discussão sobre a relação de List com eles
interessante, e não o fato de List cita-los, copia-los e deturpa-los. Mas, nessa questão da
renda, em tono da qual de desenvolve o segmento da parte III conservado, é importante
ter em mente que trata-se, em primeiro lugar, de explicar a teoria da renda de Ricardo, no
sentido de apontar a deturpação da interpretação listiana da mesma; ou seja, não se deve
procurar aí uma teoria marxiana da renda; mas a discussão de Marx não se limita à
explicar Ricardo: sobressai, por meio da discussão sobre a renda, o processo histórico de
evolução da propriedade privada e o papel de Ricardo como o supremo representante da
burguesia industrial em luta contra a propriedade fundiária em decomposição.
Marx observa que List “vitupera contra Ricardo, que revelou verdades tão
embaraçosas, e o deturpa, coloca-lhe na boca a concepção inversa, a dos fisiocratas,
segundo a qual a renda fundiária não é mais que uma prova da força de produção natural
do solo” (p. 157).
O texto mostra o papel central atribuído a Ricardo para a compreensão da
realidade econômica, por ter revelado “verdades tão embaraçosas”; no contexto da
discussão sobre a renda em particular, Ricardo é definido teoricamente em oposição à
fisiocracia, o que reafirma sua inserção na tradição smithiana. Assim Marx explica a teoria
ricardiana da renda:

111
“A teoria de Ricardo da renda da terra reduz-se, em poucas palavras, a isto: a renda
da terra não contribui em nada para a produtividade do solo. Sua subida é, pelo contrário,
a prova de que a força produtiva do solo cai. Ela é determinada por meio da proporção das
terras virgens exploráveis para com a população e para com o estado da civilização em
geral. O preço dos cereais é determinado por meio dos custos de produção do solo mais
infértil cujo cultivo a necessidade da população demanda. Caso tenha de refugiar-se em
solo de menor qualidade ou se parcelas do capital tenham de ser aplicadas com menor
retorno no mesmo terreno, então o proprietário fundiário do terreno mais infértil vende
seu produto tão caro quanto o cultivador do pior solo. Ele embolsa a diferença entre os
custos de produção do último solo e do solo mais fértil. Portanto, quanto mais solo menos
lucrativo é posto em cultivo ou quanto mais a segunda e a terceira parcelas mais
improdutivas (menos lucrativas) do capital são aplicadas no mesmo terreno, quanto mais,
em uma palavra, diminui a produtividade relativa do solo tanto mais alto sobe a renda” (p.
163).

3.2 A informação sobre as chamadas Leis dos Cereais [corn laws] na Inglaterra é
pressuposta no texto. Marx fala nas “atuais” leis pois desde a Idade Média tardia existiram
na Inglaterra sucessivas e diversificadas regulamentações restritivas ao comércio externo
de cereais (limitando principalmente a entrada do trigo, mas também da aveia, da cevada,
entre outros), de modo a sustentar um preço alto e favorecer a obtenção da renda pelo
proprietário fundiário.
As Leis dos Cereais, portanto, estão diretamente relacionadas à obtenção da renda
pelo proprietário fundiário, e sua promulgação (1815) e abolição (1846) são momentos de
uma luta violenta110. Marx esclarece que “A teoria de Ricardo da renda fundiária não é
110
O Ensaio sobre a influência de um preço baixo dos cereais sobre os lucros do capital, mostrando a
inutilidade das restrições à importação, de Ricardo, e o trabalho de Malthus sobre a renda são de 1815,
ano de aprovação das referidas leis. Com relação à abolição das mesmas, lembramos aqui que no texto
conservado Marx não menciona nada a esse respeito, o que indica que o texto foi regido antes da
abolição da leis, conforme discutimos no Capítulo 1.2.

112
nada mais que a expressão econômica de uma luta de vida e morte do burguês industrial
contra o proprietário fundiário”, e atribui à teoria de Ricardo a base da Liga Contra a Lei
dos Cereais na Inglaterra111 e do Movimento Contra a Renda nos “estados livres norte-
americanos” (p. 139).
Se a aprovação de leis dos cereais possibilita o pagamento de melhores rendas ao
proprietário fundiário (em razão da manutenção do preço alto dos cereais 112, o que por
sua vez leva a um aumento do salário e portanto à consequente redução do lucro), os
movimentos contrários por parte dos industriais visam justamente acabar com a renda,
“pois a renda fundiária é a expressão econômica da propriedade fundiária” (p. 162)113.

Na primeira metade do fragmento conservado da folha |22| (p. 157) Marx


apresenta uma cadeia de consequências que se seguem de um preço alto dos cereais. O
resultado é um conflito entre o capitalista industrial e o proprietário fundiário, em razão
da conexão direta entre salário industrial e cereais114. A situação reporta ao contexto inglês
descrito acima. Inicialmente, os proprietários fundiários teriam conseguido forçar o
aumentos do preço dos cereais a tal ponto que “esse alto preço dos cereais tem de ser
deduzido dos lucros dos senhores industriais – Ricardo é muito sensato em supor que o
salário do trabalho não pode mais ser comprimido” (p. 157).
A partir do ponto sensatamente suposto por Ricardo, a “então resultante redução
111
Esta Liga foi formada em 1838 sob o comando de proeminentes industriais têxteis, representados
teoricamente pela chamada escola de Manchester, que propugnava o liberalismo econômico.
112
Adicionalmente, remetemos uma formulação de Ricardo não citada por Marx nos segmentos
conservados: “o preço do trigo não é alto porque uma renda é paga, mas uma renda é paga porque o
preço do trigo é alto” (Princípios...)
113
Vê-se que a “propriedade fundiária” aqui é definida historicamente como uma forma de propriedade
privada, cuja expressão econômica é a renda – e frente à qual a burguesia industrial tem de se afirmar.
Por meio da renda, a antiga propriedade fundiária procura se manter, mas é suplantada pela industria e
passa a ser subordinada desta. Por isso, a discussão sobre a renda tem um peso eminentemente histórico
e está diretamente relacionada a questão da determinação social do pensamento.
114
Portanto, pode-se dizer que se trata de um conflito em torno de quem consegue tirar maior proveito dos
trabalhadores. Os trabalhadores podem ser considerados como uma mediação no conflito entre
proprietário fundiário (de quem compram os cereais) e capitalista industrial (de quem recebem o salário
para comprar os cereais).

113
dos lucros e o aumento do salário do trabalho – na medida em que o trabalhador sempre
tem de consumir uma certa quantidade de cereais, seja isso tão caro quanto se queira (por
isso, com a subida do preço dos cereais seu salário nominal cresce sem realmente crescer,
até mesmo quando em realidade diminui) – eleva, por meio da subida do preço dos
cereais, os custos de produção dos industriais, dificultando-lhes por isso a acumulação e a
concorrência; em uma palavra, estagna a força produtiva do país” (p. 157).
Em razão da conexão direta do salário com a vida do trabalhador115, a partir de um
ponto o salário não pode mais ser comprimido, há um mínimo absoluto para o salário,
suposto que pelo menos uma parcela dos trabalhadores deve continuar existindo para o
trabalho. A partir de um ponto, o elevado preço dos cereais não poderia mais redundar
em diminuição da quantidade consumida pelo trabalhador (alternativa em que o
capitalista ainda manteria o mesmo lucro), levando então a um aumento do salário
nominal (visto que custa mais dinheiro ao trabalhador consumir a mesma quantidade
mínima). A partir do ponto em que o capitalista industrial não pode mais baixar o salário, o
aumento no preço dos cereais significa aumento nos custos de produção industrial. Nesse
esquema, uma única variável, o alto preço dos cereais, tem um impacto extremamente
abrangente116, e, uma vez mantido, leva à estagnação da força produtiva do país, isto é, da
indústria interna.
Mas o proprietário fundiário não consegue sustentar essa situação frente à reação
do capitalista industrial. A burguesia industrial, advogando pelo “bem comum” (isto é,
representando seus interesses particulares como gerais) procurará reverter o quadro, seja
por meio do livre comércio de cereais, dos impostos, da apropriação da renda pelo estado,
entre outras formas (esse tipo de reação dos industriais foi preconizado por autores da
economia política). Assim, ao invés de as manufaturas incentivarem a agricultura, como

115
Discutindo a maneira como List acredita “estabelecer” de modo autônomo as categorias da economia
política, Marx já observara: “O que se estabelece com isso? A realidade. O que se estabelece, por
exemplo, com o salário do trabalho? A vida dos trabalhadores” (p. 146).
116
A teoria de Ricardo representa o salário por meio de uma única mercadoria, os cereais.

114
alega List, (favorecendo, portanto, o proprietário fundiário), ambas entram em conflito, e o
proprietário por fim sai perdendo. “Dessa aterrorizante consequência da força
manufatureiro-produtiva para a propriedade fundiária o senhor List naturalmente não
podia informar a aristocracia fundiária alemã” (p. 157).

No início do trecho conservado da página |24| (p. 161) Marx faz um excurso
histórico sobre a renda e a promulgação das “atuais” Leis dos Cereais na Inglaterra. “Desde
1815 sucederam 3 diferentes Leis dos Cereais para elevação e encorajamento dos
arrendatários. Houve durante esse período 5 comitês parlamentares instaurados para
provar a existência da situação miserável da agricultura e para investigar outras causas da
mesma” (p. 162).
Marx considera que o desenvolvimento da força produtiva da agricultura na
Inglaterra era baixo – apesar do estímulo do desenvolvimento das manufaturas, pois sua
matéria-prima era produto agrícola inglês, e apesar de outros elementos que igualmente
incentivaram a agricultura: as invenções, o aumento populacional e disponibilidade de
terras virgens (cf. p. 162). A permanência do baixo desenvolvimento das forças produtivas
da agricultura, malgrado os estímulos apontados acima, combinada com o fim da guerra
contra Napoleão (1815), especialmente para a qual havia sido formado um “sistema
proibitivo oficial” (que, portanto, não tinha mais sentido) são os motivos que originaram
as referidas Leis dos Cereais. “Em 1815 mostrou-se, contudo, quão pouco a 'força
produtiva' da agricultura havia efetivamente crescido. Uma grita geral levantou-se entre os
donos de terras e arrendatários, e as atuais Leis dos Cereais foram promulgadas” (p. 162).
Na produção da renda fundiária estão articuladas três figuras: o arrendador (dono
da terra, que recebe a renda); o arrendatário (aquele que arrenda a terra, dirige a
produção e paga a renda ao proprietário fundiário); o camponês (trabalhador assalariado
do arrendatário). Marx considera que na Inglaterra, “apesar de todas as manufaturas” e
“apesar das Leis dos Cereais”, a produção da renda era baixa. Segundo ele, isso é demonstrado

115
pelo fato de que uma elevada renda só pôde ser assegurada aos proprietários “por meio da
ruína dos arrendatários e do rebaixamento dos salários dos camponeses a uma miséria
irlandesa (verdadeiros indigentes)” (p. 161). “Por um lado, a contínua ruína dos
arrendatários, apesar da compressão total ou maior possível do salário (completa
exploração do salário dos camponeses), por outro, a crescente coação dos donos de terra
a abrir mão de uma parte da renda provam, por si, que na Inglaterra /…/ nunca foram
produzidas grandes rendas fundiárias” (p. 161).
Ou seja, apesar de o salário do camponês já ter sido comprimido ao máximo,
mesmo assim o arrendatário não consegue pagar a renda estabelecida, e o arrendador é
então obrigado a abrir mão de uma parte em favor do arrendatário (na medida em que
este não pode mais comprimir o salário, mas, ainda assim, precisa ao menos repor os
custos de produção) para que seja viável arrendar.
Para delimitar melhor o conteúdo específico da renda [Rente], Marx menciona
exemplos de rendimentos atribuídos ao proprietário fundiário, mas que não constituem
propriamente renda: “/.../ em termos econômicos, não se pode considerá-la como renda
da terra quando uma parte dos custos de produção é sacada, por meio de contratos e
outras relações situadas fora da economia, do bolso do arrendador de terras em vez do
bolso do arrendatário (p. 161)”. Ou seja, só é considerado renda se o arrendatário for
totalmente responsável pelos custos de produção (pode-se dizer que ele faz o papel de
capitalista), pagando a renda ao proprietário fundiário, pois se o proprietário fundiário
entra com parte dos custos de produção, o retorno seria lucro e não renda. Do mesmo
modo: “Se o próprio proprietário fundiário cultivou sua terra, então ele provavelmente
reservaria para si, para manobrar, uma parte do ganho costumeiro do capital de giro sob a
rubrica 'renda da terra' (p. 161).

116
4. Excertos de Ferrier

Considerações gerais
O objetivo da parte “IV O senhor List e Ferrier”, é demonstrar como List apropriou-
se amplamente, porém ocultamente, das ideias de Ferrier. Marx já havia mencionado
Ferrier como o autor que List copia a fim de julgar negativamente Smith, no início do
subtítulo [I]3). Essa relação de List com Ferrier é agora desenvolvida sistematicamente por
Marx.

Resumo
A parte IV (165-168) é composta de uma breve consideração introdutória, que
define o assunto: o plágio listiano de Ferrier (p. 165); segue-se uma longa série de citações
de Ferrier, agrupadas tematicamente e entremeadas por alguns poucos comentários de
Marx (pp. 165-168); por fim, evidenciada a cópia, Marx distingui entre a estatura e o
significado de Ferrier frente ao sucedâneo teutônico, para então concluir reafirmando a
total falta de originalidade e vacuidade do pensamento de List (p. 165). Comentaremos
primeiramente o início e o final do trecho.

4.1 Marx aponta o livro de Ferrier, Do governo considerado em suas relações


com o comércio, de 1805, como “o escrito que o senhor List copiou” (165)117. Não se trata
de apenas uma fonte de inspiração mais ou menos vaga ou influência em determinada
questão, mas sim de plágio sistemático; a avaliação de Marx é rigorosa: “Não há em seu
livro [no de List] uma única ideia fundamental que não esteja dita, e melhor dita, aqui”, no
livro de Ferrier. Visto que List “não cita em nenhum lugar Ferrier, ao qual copiou por toda
parte”, Marx fornecerá “uma breve seleta” do referido livro, “a fim de esclarecer o leitor

117
É notável que o livro de List plagie tão amplamente um texto aparecido mais de trinta anos antes,
demonstrando assim, mais uma vez, todo o anacronismo da burguesia alemã.

117
sobre a fonte secreta da sabedoria listiana” (p. 165); daí a quantidade de citações
comprobatórias que caracteriza esta parte do manuscrito. De todo modo, trata-se do
trecho menos elaborado do texto conservado (juntamente com a abertura da parte II).
Após apresentar os excertos, Marx conclui: “Conceder-se-á que todo o senhor List
está contido in nuce nos citados e[xcertos] de Ferrier. Tome-se agora, ademais, as fórmulas
que ele empresta do desenvolvimento da economia nacional decorrido desde Ferrier e
então lhe resta meramente o tosco idealizar cuja força produtiva consiste na palavra” (p.
168)118.

4.2 Se, por um lado, os excertos demonstram que a relação de List com Ferrier
é de identificação estrita, “que todo o senhor List está contido in nuce nos citados
e[xcertos] de Ferrier”, por outro lado, Marx sublinha a distinção entre ambos, que reside
no fundamento real: o momento histórico e a base social de cada um. Marx faz questão de
lembrar o vínculo de Ferrier como “sous-inspecteur des douanes sob Napoleão /.../ ” (p.
165).
“A diferença entre Ferrier e List é que o primeiro escreve a favor de um
empreendimento histórico-mundial – do sistema continental –, o último, a favor de uma
burguesia mesquinha imbecil” (p. 168).
Ainda que List tenha copiado diretamente as ideias de Ferrier, este é melhor do que
List até mesmo de um ponto de vista formal (já considerado o distinto significado histórico
de ambos), posto que as mesmas ideias estão “melhor ditas”. Essa avaliação de Marx
relaciona-se com a característica idealista-alemã de List e seu linguajar. Pode-se entender
também que estão “melhor ditas” pois constituem a formulação original, em coerência
com sua base social, enquanto a teoria de List necessita de outros complementos, na
medida em que deve adaptar-se a finalidades específicas.

118
Conforme já havia dito Marx: “É altamente característico ao senhor List que ele, apesar de toda bazófia,
não profira nenhuma frase que não tenha sido apresentada há muito antes dele, não só pelos defensores
do sistema proibitivo, mas pelos próprios escritores da “escola” por ele inventada” (141).

118
4.3 Os excertos de Ferrier apresentados por Marx são agrupados nos seguintes
temas: “Intervenção estatal. Economia da nação”; “As forças produtivas e o valor de
troca”; “Agricultura, manufatura, comércio”.
Conforme indicamos nas notas que se seguem à tradução, todas as citações
incluídas nesta parte IV já constavam num dos cadernos de excertos do primeiro semestre
de 1845 [cadernos de Bruxelas, 3], lá, porém, ainda em francês, e aqui já traduzidas por
Marx. Marx teria selecionado as citações do cadernos (lá, parte das que aparecem aqui
estão com um grifo lateral delimitando o mesmo trecho que aparece aqui traduzido).

119
120
CONSIDERAÇÕES FINAIS

A coerência teórica estrutural entre o manuscrito bruxelense de 1845 e a


gênese do pensamento marxiano

A contribuição específica desta tese, isto é, o resgate do manuscrito bruxelense de


1845, de Karl Marx, foi realizada por meio da tradução e do comentário do texto. A
justificativa da relevância e originalidade desta proposta foi demonstrada na Introdução e
no Capítulo I. Conforme indicamos naquelas discussões preliminares, o texto em foco tem
especial interesse dentro do enquadramento da questão do itinerário intelectual de Marx,
especialmente quando se trata da reconstrução da formação da crítica da economia
política.
Como vimos no Capítulo 1.1, a bibliografia sobre a trajetória intelectual de Marx
não menciona o manuscrito sobre List – em grande parte porque essa bibliografia é
anterior ao aparecimento do texto em questão, como é o caso de Cornu. Mas essa
situação se manteve mesmo após a publicação do manuscrito. No Capítulo 1.2 vimos que
até mesmo Jahn (1979) não menciona o texto em sua interpretação do sentido da
trajetória inicial de Marx, assim como Malysch (1983), ao abordar a formação do
pensamento econômico de Marx na década de 1840, silencia sobre o manuscrito
bruxelense.
Do mesmo modo, no Capítulo 1.3 remetemos uma série de recentes pesquisas
brasileiras interconectadas que tiveram por objeto textos de um período que compreende
os anos de 1843-44 até 1848, mas que, estranhamente, não citam o texto aqui em foco;
conforme notamos, são pesquisas que derivam da análise de Chasin (1995, II), que
igualmente não menciona o manuscrito sobre List. Entretanto, a respectiva passagem da
análise chasiniana com os quais aqueles trabalhos relacionam-se diretamente concentra-

121
se na gênese do pensamento de Marx, buscando delimitar seus momentos e sentido
precisos, e não percorrer um tipo de recorte de tema e período, como no caso das
dissertações e teses citadas ou como em trabalhos da Marx-Forschung. Nesses casos
particulares, nosso comentário detalhado do manuscrito bruxelense mostrou a pertinência
desse texto em discussões nas quais ficou injustificadamente de fora, não deixando
dúvidas de que sua incorporação seria fecunda e enriquecedora, em diversos pontos
específicos, para os recortes propostos.
No sentido de avançar um primeiro passo na incorporação do manuscrito
bruxelense a esses debates, nestas Considerações Finais retomaremos brevemente a
questão da trajetória intelectual inicial do autor, com o objetivo de deixar claro como as
linhas fundamentais do manuscrito bruxelense de 1845 mostram-se estritamente
coerentes com a estrutura que, da perspectiva que adotamos, configura a gênese do
pensamento de Marx entre fins de 1843 até meados de 1844. Justamente em razão de o
manuscrito sobre List ainda não ter sido mencionado em conexão com tal análise (mesmo
o texto estando cronologicamente muito próximo do processo da gênese), devemos, nós
mesmos, confrontar o manuscrito bruxelense com esse quadro de referência e avaliar em
que medida ele encaixa-se aí.
A questão que primeiramente se coloca é a das relações entre o conteúdo desse
escrito, de meados do segundo semestre de 1845, e a gênese do pensamento marxiano,
que se estende da virada de 1843 até meados de 1844. Isso porque a compreensão da
gênese do pensamento de Marx concerne a uma questão da mais alta relevância para o
acesso à obra do autor como um todo, explicitando sua estrutura baseada nas críticas
ontológicas da política, da filosofia especulativa, da economia política e a perspectiva da
emancipação humana. Devemos considerar o manuscrito bruxelense à luz deste quadro, e
vice-versa.
Ao introduzir o problema da trajetória intelectual de Marx, Chasin (1995) refuta a
teoria do tríplice amálgama originário, alertando para a impropriedade da linha de

122
interpretação da origem do pensamento de Marx a partir das chamadas “três fontes e três
partes constitutivas” (junção da economia inglesa, política francesa e filosofia alemã),
teoria geralmente aceita e nunca criticada. Notemos que esse esquema é reiteradamente
defendido pela Marx-Forschung da primeira fase da MEGA-2. Nessa questão elementar, o
manuscrito sobre List mostra-se decisivo. Veremos como uma interpretação cristalizada
muito antes do aparecimento do texto (no caso, a explicação da gênese por meio do
amálgama) é confrontada diretamente por uma citação do texto, mostrando uma
contradição básica da Marx-Forschung em sua primeira fase, que já apontamos: ao mesmo
tempo em que os pesquisadores se defrontavam com mais e mais textos e materiais novos
ou pouco conhecidos até então, e os absorviam e incorporavam ao debate, ainda tendiam
a enquadrar, em alguns pontos, a leitura dos novos textos às velhas interpretações.
Vejamos.
Para Chasin (1995), que não menciona em sua discussão o manuscrito sobre List,
não há vestígio textual em Marx que comprove a teoria do amálgama originário, e a
própria ideia dessa junção é considerada de antemão impossível, em razão da diferença
entre os universos teóricos em questão, e esdrúxula, em razão das raízes e significado
histórico específico dos componentes. Fabiunke (1982), porém, ao analisar o manuscrito
sobre List, encontra aquilo que seria uma comprovação da velha teoria: “em seu
manuscrito bruxelense de 1845 sobre List”, diz o autor, “Marx nomeia pela primeira vez as
três fontes de sua obra toda [Gesamtwerk]”, observando então que Marx “destaca 'a
indústria na Inglaterra, a política na França, a filosofia na Alemanha' como as contribuições
nacionais mas importantes para o desenvolvimento da sociedade humana” (p. 506).
Fabiunke (1982) é vago na sua remissão; do texto de Marx, ele só apenas menciona: “'a
indústria na Inglaterra, a política na França, a filosofia na Alemanha'”, que Marx teria
considerado como as mais importantes contribuições nacionais; a teoria do amálgama é
pressuposta, e a passagem do texto de List encaixada nela. A passagem completa do texto,
a nosso ver, concorda muito mais com a ideia da impossibilidade da teoria do amálgama

123
originário.
Em um momento avançado do manuscrito bruxelense, ao considerar o
desenvolvimento da relação contraditória entre a indústria e os poderes humanos que
criam a indústria contemporânea, Marx observa:
“(Que cada povo em si mesmo passa por esse desenvolvimento seria uma visão tão
estúpida quanto se cada povo tivesse de passar pelo desenvolvimento político da França
ou pelo desenvolvimento filosófico da Alemanha. O que as nações enquanto nações
fizeram, elas fizeram para a sociedade humana; todo seu valor consiste apenas em que
cada uma atravessou pelas outras uma perspectiva principal \ determinação principal
dentro da qual a humanidade atravessou seu desenvolvimento; e então, depois que a
indústria na Inglaterra, a política na França e a filosofia na Alemanha estão processadas
[verarbeiten], elas estão processadas para o mundo, e com isso o seu significado histórico-
mundial, assim como o das nações, cessou.)” (Marx, manuscrito sobre List, p. 120)
Descartada a teoria do amálgama originário, a gênese do pensamento marxiano
teria início, segundo Chasin (1995), no manuscrito da crítica da filosofia do direito de
Hegel, de meados de 1843, com a crítica da política, diretamente motivada pelo ajuste de
contas que Marx estabelece com suas próprias concepções anteriores (a velha fé na
universalidade de um estado racional, questionada ao ser confrontada aos chamados
interesses materiais), e com a crítica da filosofia especulativa, que define o caráter
originariamente ontológico do pensamento de Marx (e nesse ponto, especificamente, é
que recai a contribuição de Feuerbach: na radicalidade no ataque à especulação hegeliana,
com os aforismos dos então recém aparecidos opúsculos Princípios da filosofia do futuro,
Teses provisórias para a reforma da filosofia, Necessidade de uma filosofia do futuro – em
1842-43, e não com o famoso livro de 1841 sobre o cristianismo, que a maioria costuma
referir).

Em razão do reconhecimento da primazia da sociedade civil sobre o estado, a


crítica da política aponta desde o início para o terreno da economia política. Nos textos

124
imediatamente seguintes à crítica de Kreuznach, i. é., Para a questão judaica e Introdução
de 1844, aparece a determinação fundamental da separação de classes e a figura do
proletariado como o portador de uma emancipação humana radical por meio da revolução
social.

Por fim, a precisa especificidade do homem como um ser que, além de dotado de
naturalidade (objetivo e vivo), é um ser auto-constituinte, que engendra um mundo
próprio por meio da sua atividade (trabalho, produção), configurando assim a
historicidade e a substância social definidoras do humano, só ganha esse contorno
definido na crítica parisiense de meados de 1844, concluindo assim o processo da gênese
segundo a análise de Chasin (1995).

Nesse sentido, para nós o primeiro ponto a reconhecer é que o manuscrito sobre
List, diferentemente do texto de 1844, já parte de um patamar consolidado, exercita-o em
determinadas direções, reafirma-o, desenvolvendo sobretudo a crítica da economia
política (o que mostra o rumo que a produção marxiana tomou desde o início).

Nossa análise do texto revelou estrutura e arcabouço categorial típicos do


pensamento marxiano definidos a partir dos elementos indicados acima. No plano mais
geral, considerando-se o conjunto do texto, foi constatado que Marx, sempre da
perspectiva radical da emancipação humana, desenvolve as três direções de sua crítica
ontológica: da economia política (que constitui o assunto central do texto), a da filosofia
especulativa (que explicita, em contraste com a característica idealista-alemã do autor
debatido, o caráter ontológico do pensamento próprio de Marx), bem como, em menor
volume e de modo mais pontual, a crítica da política (o estado, a nacionalidade e as leis
em relação com a sociedade civil e as classes).

125
126
ANEXOS

127
128
Karl Marx
[Manuscrito bruxelense de 1845 sobre List]

129
130
[Parte I]

[…]
5 |2| que a consciência da morte da própria burguesia já penetrou na consciência do burguês
alemão, então o burguês alemão é ingênuo o bastante para confessar essa própria “tristeza”.
“Por isso, também é muito triste quando se quer transformar os males com os quais a
indústria, em nossos dias, é acompanhada, em motivo válido para repelir de si a própria
indústria. Há males amplamente maiores que uma condição de proletários: cofres do tesouro
10 vazios – impotência nacional – servidão nacional – morte nacional” p. LXVII. É realmente
triste que o proletariado já esteja aí, já faça reivindicações e já inspire terror antes mesmo de
o burguês alemão ter alcançado a indústria. No que concerne ao próprio proletário, então ele
certamente achará feliz sua condição se a burguesia dominante tiver os cofres do tesouro
cheios e o poder nacional. O senhor List conta apenas o que é mais triste para a burguesia. E
15 nós confessamos que é muito triste para ele que ele queira introduzir o domínio da indústria
justamente no momento inapropriado, em que a servidão da maioria, engendrada por meio da
indústria, tornou-se um factum em geral conhecido. O burguês alemão é o cavaleiro da triste
figura que quis introduzir a cavalaria errante justamente quando a polícia e o dinheiro
ascenderam.
20 3) Um grande inconveniente \ empecilho no qual se encontra o burguês alemão em sua
aspiração pelo regime industrial é o seu prévio idealismo. Como esse povo do “espírito”
chega, de repente, a encontrar a suma bondade da humanidade em calicô, novelo de linha,
self-acting mule, no materialismo da maquinaria, num amontoado de escravos fabris, nas
maletas cheias dos senhores fabricantes? O idealismo oco, ventoso e sentimental do burguês
25 alemão, atrás do qual está oculto o mais mesquinho, o mais sujo espírito de merceeiro
[Krämergeist], atrás do qual se esconde a alma mais covarde, chegou à época em que
necessariamente deve revelar seu segredo. Mas, novamente, ele revela-o de modo exuberante
autenticamente alemão. Revela-o com pudor idealista-cristão. Ele renega a riqueza ao mesmo
tempo que a almeja. Ele reveste o materialismo estúpido [geistlos] de modo inteiramente
30 idealista, e só então ousa agarrá-lo. Toda [x x x] a parte teórica do sistema de List não passa

1 131
de um disfarce do materialismo industrial da economia sincera [aufrichtig] em fórmulas
[Phrasen] ideais. A coisa, ele deixa que exista por toda parte, porém idealiza a expressão.
Acompanharemos isso em detalhe. Exatamente essa fraseologia idealista oca dá a ele
também, por consequência, a capacidade de desconhecer as limitações reais que se opõem a
5 seus pios desejos e de entregar-se às mais tolas fantasias. (O que teriam se tornado as
burguesias francesa e inglesa se elas primeiro tivessem buscado permissão a uma alta
aristocracia, a uma louvabilíssima burocracia e às dinastias hereditárias para introduzir a
“indústria” com “força de lei”?)
O burguês alemão é religioso mesmo quando é industrial. Ele teme falar dos sórdidos
10 valores de troca, aos quais se agarra, e fala de forças produtivas; ele teme falar da
concorrência e fala de uma confederação nacional das forças produtivas nacionais; ele teme
falar do seu interesse privado e fala de interesse nacional. Quando se observa o franco
cinismo clássico com o qual as burguesias inglesa e a francesa, em seus primórdios, ao
menos no início do seu domínio de porta-vozes científicas da economia nacional, elevaram a
15 riqueza a deus e sacrificaram inescrupulosamente tudo, também na ciência, a ele, a esse
Moloch, e quando, pelo contrário, se observa a maneira idealizante, impregnada de fórmulas
e empolada do senhor List, que em plena economia menospreza a riqueza dos “homens
justos” e conhece fins mais elevados, então se deve “também” achar “triste” que hoje em dia
não seja mais dia para a riqueza.
20 O Senhor List fala sempre em metro molosso. Ele se infla constantemente de um páthos
carregado e prolixo cujo núcleo, em contínua repetição, põe em funcionamento as barreiras
alfandegárias e as fábricas “teutônicas”, [cujas] águas turvas constantemente flutuam, em
última instância, sobre o banco de areia. Ele é constantemente sensível-suprassensível.
O filisteu alemão idealizante que quer ficar rico deve, naturalmente, antes apenas criar
25 uma nova teoria da riqueza a qual torne a última digna de ser aspirada por ele. Os burgueses
na França e na Inglaterra veem se aproximando a tempestade que aniquilará, na prática, a
vida efetiva disso que até agora se chamou riqueza; e o burguês alemão, que ainda não
chegou até essa riqueza sórdida, ensaia uma nova interpretação “espiritualista” da mesma.
Ele cria uma economia “idealizante”, a qual não tem nada em comum com a economia
30 profana inglesa e francesa, a fim de justificar-se, perante si e o mundo, de que ele também

2 132
quer ficar rico. O burguês alemão inicia sua criação [Schaffung] da riqueza com a criação
[Schöpfung] de uma exuberante economia nacional hipócrita-idealizante.

3) Como o senhor List interpreta a história e se relaciona com Smith e sua escola.
5 O senhor List é tanto subserviente perante a aristocracia, as dinastias hereditárias e a
burocracia quanto se comporta com “petulância” perante a economia inglesa e francesa – que
revelou cinicamente o segredo da “riqueza” e tornou impossíveis todas as ilusões sobre sua
natureza, tendência e movimento, cujo guia [Reihenführer] é Smith. O senhor List resume
todos eles sob o nome “a escola”. Uma vez que para o burguês alemão trata-se, notadamente,
10 de barreiras alfandegárias, então é claro que para ele todo o desenvolvimento da economia
desde Smith não tem sentido, pois seus mais destacados representantes têm todos por
pressuposto a atual sociedade civil da concorrência e da liberdade comercial.
O filisteu alemão manifesta aqui de modo múltiplo seu caráter “nacional”.
1) Em toda a economia ele não vê nada mais que sistemas tramados no gabinete de
15 estudos. Que o desenvolvimento de uma ciência como a da economia está articulado com o
movimento efetivo da sociedade ou é apenas sua ||3| expressão teórica, o senhor List
naturalmente não desconfia. Teórico alemão.
2) Porque seu próprio escrito \ teoria oculta um fim secreto, ele desconfia de fins secretos
por toda parte.
20 Como autêntico filisteu alemão, em vez de estudar a história real o senhor List procura
pelos sórdidos fins secretos dos indivíduos, e com sua esperteza sabe achar \ encontrar
muitos desses. Ele faz grandes descobertas, do tipo: que Adam Smith quis iludir o mundo
com sua teoria, e todo o mundo deixou-se iludir por ele até que o grande senhor List
resgatou-os do seu sonho – mais ou menos à maneira como, para fundamentar a dominação
25 de Roma, um conselho de tribunal dusseldorfense fez passar a história romana por uma
invenção de monges medievais.
Mas tal como o burguês alemão não sabe melhor opor-se a seu inimigo do que
impingindo-lhe uma mácula moral, suspeitando de seu caráter e procurando por motivos
torpes para sua ações, em suma, difamando e lançando suspeitas pessoais, assim também o
30 senhor List suspeita dos economistas ingleses e franceses, conta boatos sobre eles; e tal como

3 133
no comércio o filisteu alemão não desdenha o mínimo lucrinho e escamotagem, assim
também o senhor List não desdenha escamotear palavras das citações para torná-las
lucrativas, não desdenha grudar em seus próprios sórdidos fabricantes a etiqueta dos seus
adversários a fim de desacreditá-los ao mesmo tempo que os adultera, ou até mesmo urdir
5 mentiras deliberadas a fim de levar o crédito dos seus concorrentes.
Damos algumas provas do procedimento do senhor List.
Sabe-se que os padrecos [Pfaffe] alemães do esclarecimento [Aufklärung] não acreditavam
poder desferir um golpe de morte fundamental contando ridícula anedota e mentira de que
Voltaire abjurou de sua teoria em seu leito de morte. Igualmente, o senhor List nos conduz ao
10 leito de morte de Smith e nos relata que ali se evidenciou que ele sinceramente não quis dizer
aquilo com sua teoria. Ouçamos, porém, o próprio senhor List e seu respectivo veredicto
sobre Smith. Ao lado dele, colocamos a fonte da sua sabedoria.

4 134
List Ferrier, F.L.A. “Du gouvernement
30 considéré dans ses rapports avec le
“Viera-me a lembrança, a partir commerce.” Paris 1805.
da biografia de Dugald Steward, “É possível que Smith, enquanto
5 como esse grande espírito não podia amontoava tantos raciocínios incorretos a
morrer em paz até que todos os seus favor da liberdade comercial, fosse
manuscritos fossem queimados – 35 honesto? … Smith tinha por objetivo
com isso, quero dar a entender o secreto disseminar pela Europa princípios
quão forte é a suspeita de que esses cuja adoção – ele sabia muito bem –
10 papéis continham provas contra sua entregaria o mercado mundial ao seu país”.
honestidade. p. LVIII. Eu (p. 385, 86.)
demonstrara como sua teoria fora 40 “Está-se mesmo autorizado a crer que
utilizada por ministros britânicos Smith nem sempre professara a mesma
para jogar areia nos olhos das outras doutrina; e como explicar de outra maneira
15 nações em favor da Inglaterra.” l.c. os tormentos que o fizeram sentir no leito de
“A teoria de Adam Smith a respeito morte o temor de que os manuscritos de
das relações nacionais e 45 suas aulas sobrevivessem a ele” [?]. p. 386.
internacionais é uma mera Ele reprova Smith ter sido Commissaire des
continuação do sistema fisiocrata. À douanes. “Smith quase sempre raciocinou
20 semelhança desse, ela ignora a como os economistas (fisiocratas) – sem
natureza das nacionalidades e levar em conta a separação dos interesses
pressupõe como existentes a paz 50 das diferentes nações e no pressuposto de
perpétua e a união universal”. p. que no mundo existiria apenas uma
475. sociedade. Deixemos todos esses projetos de
25 união.” p. 381, p. 15.
O senhor Ferrier foi inspecteur des
55 douanes sob Napoleão e adorava seu ofício.

A economia de J. B. Say é interpretada pelo senhor List como uma infeliz especulação.
Informaremos logo abaixo seu veredicto completo sobre a vida de Say. Antes, mais um

5 135
exemplo da maneira como ele copia outros autores, falsificando na cola a fim de atingir seus
oponentes.

List Conde Pecchio: “História da economia


5
política na Itália” etc., Paris 1830.
“Say e MacCulloch parecem não
ter visto ou lido desse livro (de
25 “Os estrangeiros procuraram privar Serra
Antônio Serra, de Nápoles) mais que
do mérito de ter sido o primeiro fundador
o título”; “elegantemente, ambos
dos princípios dessa ciência” (da economia
10 lançam [na] página o comentário:
política). “O que acabo de dizer não poderá
trata apenas de dinheiro, e já o título
de nenhum modo ser aplicado \ relacionado
demonstra que o autor foi enredado
30 ao senhor Say, que, apesar de sempre
no erro de considerar os metais
reprovar Serra ter considerado apenas a
preciosos enquanto únicos objetos da
matéria de ouro e prata enquanto riqueza,
15 riqueza. Se tivessem continuado a
concede-lhe a glória de ter sido o primeiro
ler” etc. p. 456.
que deu a conhecer \ connaître o poder
35 produtivo da indústria … Minha queixa se
endereça ao senhor MacCulloch … Se o
senhor MacCulloch tivesse lido um pouco
20
mais que o título” etc., p. 76, 77.

40 Vê-se como o senhor List deturpa Pecchio intencionalmente, a quem copia para
desacreditar Say. Não menos falsas são as notas biográficas informadas sobre Say.
O senhor List fala dele: “Primeiro vendedor, depois fabricante, depois político fracassado,
Say agarrou-se à economia política como se agarra uma nova empresa quando a antiga não
quer mais andar … ódio contra o sistema continental, que lhe destruiu a fábrica, e contra seu
45 artífice, que lhe expulsara do tribunado, determinou-o a abraçar o partido da absoluta
liberdade comercial.” p. 488, 89.
Então Say abraçou o sistema do livre comércio porque sua fábrica foi arruinada pelo
sistema continental! Mas como, se ele teria escrito seu “Traité d'économie politique” antes de

6 136
ter possuído uma fábrica? Say abraçou o sistema do livre comércio porque Napoleão o
expulsou do tribunado. Mas como, se ele teria escrito o livro quando tribuno? Como, se Say
(que segundo o senhor List foi um homem de negócios fracassado, e que na literatura divisou
apenas um ramo empresarial) desempenhou, desde a tenra juventude, um papel no mundo
5 literário francês?
De onde o senhor List obtém suas novas? Da “Nota Histórica sobre a vida e a obra de J-B
Say”, de Charles Comte, anteposta ao “Cours Complet d´économie politique [pratique]”. O
que informa essa nota? Ora, ela contém o contrário de todas as indicações dele. Ouçamos: J.-
B. Say foi destinado ao ||4| comércio por seu pai, um comerciante. Sua inclinação, todavia,
10 arrastou-o para a literatura. Ele publicou em 1789 um folheto pela liberdade de imprensa. Ele
colabora, desde o início da revolução, no “Courrier de Provence”, que Mirabeau publicava.
Ele foi ainda empregado nos escritórios do ministro Clavière. Sua inclinação “pelas ciências
políticas e morais” bem como a bancarrota de seu pai determinaram-no a abandonar
completamente o comércio e fazer do cultivo das ciências sua única ocupação. Em 1794, ele
15 tornou-se Redacteur en chef da “Décade philosophique, littéraire et politique”. Napoleão
nomeou-o em 1799 para membro do tribunado. O ócio que sua função como tribuno lhe
permitiu ele usou para elaborar o “Traité [d'économie] politique”, que publicou em 1803. Ele
foi expulso do tribunado pois pertencia aos poucos que ousavam fazer oposição. Foi
oferecido a ele um posto mais lucrativo nas finanças, ele recusa, embora chargé de six
20 enfants et n'ayant presque point de fortune …, ele não poderia cumprir as funções ofertadas
sem contribuir para a execução de um sistema que julgara funesto para a França. Ele investiu
em uma fiação de algodão, etc.
Se a mácula que o senhor List impinge aqui a Say surgiu por meio de deturpação, então
não é por menos o elogio que concede ao irmão dele, Louis Say. Para provar que Louis Say
25 partilha da visão ardilosa [listig], ele adultera uma passagem deste. Diz o senhor List, p. 484:
“Segundo sua (de Louis Say) opinião, a riqueza das nações não consiste nos bens
materiais e em seu valor de troca, mas na capacidade de produzir esses bens de maneira
continuada[”]. Segundo o senhor List, as próprias palavras de Louis Say são as seguintes:

7 137
O Louis Say do senhor List. O verdadeiro Louis Say.

“La richesse ne consiste pas dans “Quoique la richesse ne consiste pas


les choses qui satisfont nos besoins 10 dans les choses qui satisfont nos besoins ou
ou nos goûts, mais dans le pouvoir nos goûts, mais dans le revenu ou dans le
5 d'en jouir annuellement”. “Études sur pouvoir d'en jouir annuellement …”
la richesse des nations” p. 10.

[Louis] Say não fala, portanto, da capacidade de produzir, mas sim da capacidade de
15 usufruir, da capacidade que a “receita” [Einkommen] (Revenu) de uma nação propicia. As
teorias mais hostis ao senhor List baseiam-se justamente na desproporção da força de
produção crescente para com a renda de uma nação em geral e de todas as classes em
particular, como, por exemplo, as derivadas de Sismondi e Cherbuliez. Apresentemos agora
um exemplo da ignorância do senhor List na avaliação da escola. Ele diz de Ricardo: List.
20 Sobre as forças produtivas
“De modo geral, desde Adam Smith a escola foi infeliz em suas pesquisas sobre a natureza
da renda [Rente]. Ricardo, e depois dele Mill, MacCulloch e outros são da opinião de que a
renda é paga pela capacidade de produção natural inerente [beiwohnend] aos terrenos. O
primeiro fundou sobre essa visão um sistema inteiro … [Mas,] como ele tinha diante dos
25 olhos apenas as condições inglesas, ele incorreu então na visão errônea de que essas lavouras
e pastagens inglesas, por cuja pretensa capacidade de rendimento [Ertrag] natural são pagas
atualmente tão belas rendas, tenham sido em todos os tempos as referidas lavouras e
pastagens.” p. 360.
___________________________________________
30
Ricardo diz:
“Se o excedente [Mehr] do produto o qual forma a renda da terra é uma vantagem, então
seria desejável que todo ano as novas máquinas construídas se tornassem mais improdutivas
que as antigas; isso daria um valor a mais [Mehrwert] às mercadorias produzidas em todo o
35 país; pagar-se-ia uma renda a todos que possuíssem as máquinas mais produtivas.” “A renda
da terra sobe tanto mais rápido quanto mais se depauperam as forças produtivas das terras

8 138
virgens disponíveis. A riqueza do país cresce quando, por meio de melhoramentos na
agricultura, pode-se aumentar os produtos sem o proporcional aumento do trabalho, e
quando, por conseguinte, o crescimento da renda da terra é mais lento.” p. 77 e 80-82.
Ricardo. Princípios de economia política, etc., Paris, 1835, T. I.
5 Segundo a teoria de Ricardo, a renda, longe de ser a consequência da capacidade
produtiva natural inerente ao solo, é, pelo contrário, uma consequência da progressiva
improdutividade do solo, consequência da civilização e da população crescente. Enquanto o
solo mais fértil ainda se encontra em quantidade ilimitada para oferta, segundo ele ainda não
há [renda]. A renda é determinada, portanto, por meio da proporção entre a população e as
10 terras virgens disponíveis.
A teoria de Ricardo, que serve de base teórica a toda a Liga Anti-Lei dos Cereais na
Inglaterra e ao Movimento Anti-Renda nos estados livres norte-americanos, pressuposto que
o senhor List a conhecia mais de ouvir dizer, já por isso teve de ser adulterada por ele, pois
ela prova o quanto “livres, poderosos e ricos burgueses” [p. LXVI] são inclinados a trabalhar
15 “zelosamente” para a “renda fundiária” e a entregar-lhes [aos proprietários fundiários] o mel
da colmeia [p. LXIV]. A teoria de Ricardo da renda fundiária não é nada mais que a expressão
econômica de uma luta de vida e morte do burguês industrial contra o proprietário fundiário.
O senhor List instrui-nos sobre Ricardo mais adiante:
“No presente, a teoria do valor de troca caiu tanto em impotência … que Ricardo … pôde
20 dizer: Determinar a lei segundo a qual o produto [Ertrag] dos bens de raiz é repartido pelo
dono de terras, arrendatário e trabalhador é a principal tarefa da economia [política]” p. 493.
Fazer a isso as observações necessárias no lugar apropriado. |

9 139
|5| O cume da infâmia o senhor List atinge em seu julgamento de Sismondi:

List. Sismondi:
“Ele (Sismondi) quer, por 20 Minhas objeções não são dirigidas contra as
5 exemplo, que seja posto arreio e máquinas, contra o desenvolvimento, contra a
freio no espírito inventivo.” p. civilização, são contra a moderna organização da
XXIX. sociedade. Organização que simultaneamente
despoja o homem do trabalho de qualquer outra
25 propriedade que não a de seus braços e não lhe dá
10 nenhuma garantia contra uma concorrência cuja
vítima necessária será ele. Suponham todos os
homens iguais participantes entre si no produto do
trabalho para o qual contribuíram e então cada
30 descoberta nas artes será, em todos casos
15 possíveis, um benefício para todos eles.” Noveaux
principes d'économie politique. Paris 1827, t. II.
[p. 433].

35 Se o senhor List suspeita moralmente de Smith e Say, então ele só sabe explicar a teoria
do senhor Sismondi a partir da deficiência física deste. Ele diz:
“O senhor de Sismondi, com a visão física, vê preto todos os vermelhos; sua vista
espiritual parece estar acometida de igual falha em assuntos de economia política.” p. XXIX.
Para se apreciar toda vileza dessa expectoração, temos de conhecer o lugar de onde o senhor
40 List tomou suas notas. Sismondi, em seus “Etudes sur l'économie politique”, quando fala da
devastação da Campanha de Roma, diz: “As ricas tintas da Campanha de Roma … se
desvanecem por completo aos nossos olhos, para os quais o raio vermelho não existe.” p. 8
(reimpressão de Bruxelas, 1838). Daí ele explica que “o encanto que seduz todos os outros
viajantes por Roma” está para ele destruído, e ele tem, “por isso, uma visão tanto mais aberta
45 para a lastimável condição real dos habitantes da Campanha”.

10 140
Se o senhor de Sismondi não viu as tintas vermelho-celeste que para o senhor List
iluminam magicamente toda a indústria, então ele viu, pelo contrário, o galo vermelho sobre
os frontões \ telhados dessas fábricas. Teremos mais tarde a oportunidade [de observar] o
veredito de List de que os “escritos do senhor de Sismondi em relação ao comércio
5 internacional e à política comercial” são “desprovidos de qualquer valor” [p. XXXIX.]
Se o senhor List explica o sistema de Smith a partir da ambição pessoal deste (p. 476) e
seu dissimulado espírito de merceeiro inglês, o sistema de Say pela sede de glória e como um
negócio, então ele desce muito baixo com Sismondi, cujo sistema explica pela deficiência na
constituição física do autor.
10
4) A originalidade do senhor List
É altamente característico ao senhor List que ele, apesar de toda bazófia, não profira
nenhuma frase que não tenha sido apresentada há muito antes dele, não só pelos defensores
do sistema proibitivo, mas pelos próprios escritores da “escola” por ele inventada – se Adam
15 Smith é o ponto de partida teórico para a economia nacional, então ele é o verdadeiro ponto
de partida dela; sua verdadeira escola, a “sociedade civil”, cujas diferentes fases de
desenvolvimento se pode acompanhar [verfolgen] com exatidão na economia. Só as ilusões e
o linguajar idealizante \ fórmulas pertencem ao senhor List.
Consideramos importante demonstrar isso em detalhes ao leitor, e somos obrigados a
20 tomar sua atenção com essa tediosa tarefa. Ele então se convencerá de que o burguês alemão
chega post festum, de que a ele é impossível ir além da economia nacional dos ingleses e
franceses, assim como àquela seria impossível, porventura, acrescentar [beibringen] algo
novo ao movimento da filosofia na Alemanha. O burguês alemão ainda pode, tão-somente,
transportar suas ilusões e fórmulas para a realidade inglesa e francesa. Tal como é muito
25 pouco possível a ele dar um novo desenvolvimento à economia nacional, é a ele ainda mais
impossível levar adiante a indústria na prática, o desenvolvimento anterior quase esgotado,
sobre os fundamentos anteriores da sociedade.

11 141
5) Limitamos nossa crítica, portanto, à parte teórica do livro listiano e, mais precisamente,
apenas aos seus achados principais.
Quais princípios o senhor List tem a demonstrar? Interroguemos pelo o objetivo que ele
quer atingir.
5 1) O burguês quer barreiras alfandegárias do estado a fim de usurpar para si poder de
estado e riqueza. Mas posto que ele não tem, como na Inglaterra e na França, a vontade
estatal [Staatswillen] à sua disposição e, por isso, não pode dirigi-lo arbitrariamente segundo
sua vontade (ao contrário, deve inclinar-se num pedido), então ele precisa apresentar sua
exigência ao estado, cuja atividade \ procedimento ele quer regular segundo seus interesses,
10 enquanto uma concessão que faz ao estado, ao mesmo tempo que exige dele concessões.
Então, ele deixa que o senhor List demonstre ao estado que sua teoria distingue-se de todas as
outras, que ele permite ao estado uma intervenção e regulação da indústria, que ele tem a
suprema visão do exame econômico dele e, por isso, só lhe pede que deixe sua sabedoria
correr solta – claro que com a ressalva de que essa sabedoria limita-se a oferecer “vigorosas”
15 barreiras alfandegárias. Sua demanda de que o estado proceda conforme seu interesse ele
apresenta enquanto reconhecimento do estado, de que o estado tem o direito de ingerir-se no
mundo da sociedade civil.
2) O burguês quer ficar rico, fazer dinheiro; mas, ao mesmo tempo, ele precisa por-se de
acordo com o prévio idealismo do público alemão e sua consciência característica. Assim, ele
20 demonstra que não persegue os bens não-espirituais, materiais, mas sim um ser [Wesen]
espiritual, a força produtiva infinita em vez do sórdido valor de troca finito. Esse ser
espiritual, contudo, carrega consigo a circunstância de que o “burguês”, nessa oportunidade,
encha seus próprios bolsos com valores de troca mundanos. |
|6| 2) Ora, uma vez que o burguês pensa em ficar rico principalmente por meio das
25 “barreiras alfandegárias”, e que as barreiras alfandegárias só podem enriquecê-lo contanto
que não mais os ingleses, mas sim o próprio burguês alemão explore seus conterrâneos ainda
mais do que eles foram explorados pelo exterior; uma vez que as barreiras alfandegárias
exigem um sacrifício em valores de troca da parte dos consumidores (em geral dos
trabalhadores, os quais devem ser suplantados pelas máquinas, de todos aqueles que recebem
30 um rendimento fixo, como funcionários, os rendeiros fundiários, etc.), então o burguês

12 142
industrial deve demonstrar que ele, longe da aspiração por bens materiais, não quer outra
coisa que o sacrifício de valores de troca, de bens materiais, em favor de seres espirituais. No
fundo, trata-se apenas, então, de auto-sacrifício, de ascetismo, de magnanimidade cristã. É
um mero acaso que A faça o sacrifício e B meta o sacrifício no bolso. O burguês alemão é
5 abnegadíssimo para nisso pensar em sua vantagem privada, a qual se encontra associada ao
sacrifício acidentalmente. Mas, caso se deva julgar que uma classe de cuja autorização o
burguês alemão acredita necessitar para sua emancipação não pode coexistir com aquela
teoria espiritual, então aqui ela tem de ser abandonada, e, em oposição à escola, justamente a
teoria dos valores de troca é tornada vigente.
10 3) Uma vez que, in nuce, todo desejo da burguesia converge para levar o sistema fabril a
um florescimento “inglês” e fazer do industrialismo o regulador da sociedade, i. e., produzir a
desorganização da sociedade, então o burguês deve demonstrar que para ele trata-se apenas
de um harmonizar de toda produção social, trata-se apenas da organização social. O comércio
externo ele limita por meio de barreiras alfandegárias, [então] a agricultura rapidamente
15 atinge o seu mais alto florescimento por meio da manufatura, ele alega. A organização da
sociedade resume-se, assim, às fábricas. Elas são as organizadoras da sociedade, e o regime
da concorrência que elas fomentam é a mais bela confederação da sociedade. A organização
da sociedade que o sistema fabril cria é a verdadeira organização da sociedade.
Certamente a burguesia tem razão quando concebe, em termos gerais, os seus interesses
20 como idênticos, assim como o lobo enquanto lobo tem o mesmo \ idêntico interesse ao dos
lobos da sua alcateia; tanto é o interesse de um que ele, e não o outro, atira-se sobre a presa.
6) Por fim, é característico à teoria do senhor List, tal como a toda burguesia alemã, que
ela, para a defesa de seus anseios de exploração, seja obrigada a refugiar-se por toda parte em
fórmulas “socialistas”, agarrando-se assim à força a uma ilusão há muito refutada.
25 Mostraremos em algumas passagens que as fórmulas do senhor List, se extraídas as
consequências, são comunistas. Estamos certamente longe de repreender o comunismo a um
senhor List e sua burguesia alemã, isso porém nos fornece nova prova da debilidade interna,
mentira e hipocrisia infame do “bondoso” burguês “idealista”. Fornece a prova de como o
idealismo, em sua prática, não é senão a ilusão inconsciente e irrefletida de um materialismo
30 repugnante. Finalmente, é característico que a burguesia alemã comece com a mentira com

13 143
que a francesa e a inglesa terminam – depois que chegou à posição tem de justificar-se,
desculpar sua existência.
7) Uma vez que o senhor List distingue a anterior economia nacional, pretensamente
cosmopolita, de sua economia política nacional, que uma repousa sobre o valor de troca e a
5 outra sobre as forças produtivas, então temos de começar com essa teoria. Além disso, uma
vez que a confederação das forças produtivas tem de representar a nação em sua unidade,
então antes daquela distinção temos ainda de considerar essa teoria. Ambas essas teorias
constituem o fundamento real para a economia nacional distinguida da economia política. |

14 144
|7| II. A teoria das forças produtivas e a teoria dos valores de troca

1) A teoria do senhor List das “forças produtivas” limita-se aos seguintes princípios:
a) “As causas da riqueza são algo totalmente distinto da riqueza mesma”; “A força de criar
5 riquezas é infinitamente mais importante que a riqueza mesma”. [p. 201]
b) List está longe de condenar a teoria da economia cosmopolita, ele só é da opinião de
que a economia política ainda está se instruindo cientificamente. [cf. p. 187]
c) “Qual então a causa do trabalho”? – “Por meio do que essas cabeças, esses braços e
mãos são incitados para produção, e por meio do que esses esforços tornam-se eficazes? O
10 que mais pode ser senão o espírito, que vivifica os indivíduos, senão a ordem social, que
fecunda a sua atividade, senão as forças naturais, cujo uso está para ele à disposição?” [p.
205]
6) Smith “seguiu pelo mau caminho que explica as forças espirituais a partir das relações
materiais”. [p. 207]
15 7) “Aquela ciência que ensina como as forças produtivas são despertadas e cultivadas, e
como são suprimidas ou destruídas.” [p. 207]
8) Exemplo entre os 2 pais de família, religião cristã, monogamia, etc. [cf. p. 208-209]
9) “Pode-se estabelecer os conceitos de valor e capital, lucro, salário do trabalho, renda da
terra, decompô-los em suas partes constituintes, especular sobre o que pode ter influência em
20 sua subida ou queda etc., sem com isso considerar as relações políticas das nações”. [p. 211]
Transição para
10) Manufaturas e fábricas, mães e filhas da liberdade burguesa. [cf. p. 212]
11) Teoria das classes produtivas e improdutivas. As primeiras “produzem valores de
troca, esses produzem forças produtivas …” [p. 215]
25 12) O comércio exterior não pode ser julgado exclusivamente segundo a teoria dos
valores. [cf. p. 216]
13) “A nação tem de sacrificar forças materiais para adquirir forças espirituais ou sociais.”
[p. 216.] Barreiras aduaneiras para o estímulo da força manufatureira [cf. p. 217].
14) “Se, por isso, é oferecido um sacrifício em valores por meio das barreiras
30 alfandegárias, então o mesmo é retribuído mediante a aquisição de forças produtivas, que

15 145
assegura à nação não apenas uma soma infinitamente maior de bens materiais para o futuro,
mas também independência industrial para o caso de guerra.” [p. 217]
15) “Em todas essas relações, entretanto, a maior parte das condições da sociedade em que
o indivíduo se forma depende, sobretudo, de se ali florescem artes e ciências …” p. 206.
5 2) O senhor List está tão enredado nos preconceitos da velha economia – veremos que
mais enredado do que os outros economistas da escola – que nele “bens materiais” e “valores
de troca” coincidem completamente. Mas o valor de troca é completamente independente da
natureza específica dos “bens materiais”. Ele é independente tanto da qualidade quanto da
quantidade dos bens materiais. O valor de troca cai se a quantidade dos bens materiais sobe,
10 embora eles tenham, tanto antes quanto depois, a mesma relação para com as necessidades
humanas. O valor de troca não se relaciona com a qualidade. Coisas as mais úteis, como
conhecimento, são desprovidas de valor de troca. O senhor List deveria então reconhecer que
a conversão dos bens materiais em valores de troca é uma obra da ordem social existente, da
sociedade da propriedade privada desenvolvida. A superação do valor de troca é a superação
15 da propriedade privada e da aquisição privada. O senhor List, ao contrário, é ingênuo a
ponto de admitir que com a teoria dos valores de troca pode-se “estabelecer os conceitos de
valor e capital, lucro, salário do trabalho e renda da terra, decompô-los em suas partes
constituintes, especular sobre o que poderia ter influência [em] sua subida e queda etc., sem
entretanto considerar as relações políticas das nações”. p. 211.
20 Portanto,sem consideração à “teoria das forças produtivas” e às “relações políticas das
nações” pode-se “estabelecer” tudo isso. O que se estabelece com isso? A realidade. O que se
estabelece, por exemplo, com o salário do trabalho? A vida dos trabalhadores. Estabelece-se
com isso, em seguida, que o trabalhador é o escravo do capital, que ele é uma “mercadoria”,
um valor de troca cujo nível mais alto ou mais baixo, subida ou queda, depende da
25 concorrência, da oferta e da procura; estabelece-se com isso que sua atividade não é uma
livre externação de sua vida humana, que ela é, isto sim, um barganhar [Verschachern] de
suas forças, um barganhamento [Verschacherung] \ venda [Veräuβerung] dessas suas
capacidades unilaterais ao capital; em uma palavra, que ela é “trabalho”. Mas aqui esquece-
se. O “trabalho” é o fundamento vital da propriedade privada, é a propriedade privada
30 enquanto a fonte criadora de si mesma. A propriedade privada não é senão o trabalho

16 146
objetivado. Se se quer desferir-lhe o golpe de morte, não se deve atacar a propriedade privada
somente enquanto estado de coisas [sachlichen Zustand], mas sim a propriedade privada
enquanto atividade, enquanto trabalho. É um dos maiores mal-entendidos falar de trabalho
livre, humano, social, do trabalho sem propriedade privada. O “trabalho”, conforme sua
5 essência, é a atividade não-livre, inumana, não-social, condicionada pela propriedade privada
e criadora da propriedade privada. A superação da propriedade privada só se torna, pois, uma
realidade, se ela for apreendida enquanto superação do “trabalho” (a qual, naturalmente, só se
tornou possível por meio do próprio trabalho, i. e., tornou-se possível por meio da atividade
material da sociedade), jamais sendo apreendida como permutação de uma categoria por uma
10 outra. Uma “organização do trabalho” é, por isso, uma contradição. A melhor organização
que o trabalho pode deter é a organização atual, a livre concorrência, a dissolução de todas
suas organizações anteriores aparentemente “sociais”. –
Se o salário do trabalho pode então ser “estabelecido” segundo a teoria dos valores, se
com isso é “estabelecido” que o próprio homem é um valor de troca, que a imensa maioria
15 [Majorität] [no interior] das nações é uma mercadoria a qual se pode determinar sem
consideração às “relações políticas das nações”, o que isso prova senão que essa imensa
maioria [no interior] das nações não tomou em consideração as “relações políticas”, que
essas são para ela uma pura ilusão, que uma teoria que desce na realidade até esse sujo
materialismo, transformando a maioria [no interior] das nações em “mercadoria”, em “valor
20 de troca”, e a submetendo às relações totalmente materiais do valor de troca, é uma infame
hipocrisia e uma baboseira \ suavização idealista, se ela, frente às outras nações, rebaixa-se
desprezivelmente até o sórdido “materialismo” dos “valores de troca” e isso para ela [é]
pretensamente apenas em proveito das “forças produtivas”? Se, além disso, a relação de
capital, renda fundiária, etc., pode ser “estabelecida” sem considerar as “relações políticas”
25 das nações, o que isso prova senão que o capitalista industrial e o rendeiro fundiário são, em
suas ações, em sua vida efetiva, determinados pelo lucro, pelos valores de troca, e não pela
consideração “sobre as relações políticas” e “forças produtivas”, e que sua conversa de
civilização e forças produtivas é só uma tendência tacanho-egoísta à suavização?
O burguês diz: para dentro, naturalmente a teoria dos valores de troca não deve ser
30 interrompida; a maioria da nação deve permanecer um mero “valor de troca”, uma

17 147
“mercadoria” que tem de transmitir-se a si mesma ao homem, que não é vendida, ao
contrário, que se vende a si mesma. Frente a vós, proletários, e reciprocamente entre nós
mesmos, encaramo-nos como valores de troca – vigora a lei da barganha [Schacher] geral.
Entretanto, frente às outras nações, aí devemos interromper essa lei. Não podemos, enquanto
5 nação, barganhar-nos às outras. Uma vez que que a maioria [no interior] das nações está
sujeita as leis da barganha “sem consideração” sobre às “relações políticas das nações”, então
aquela frase não tem outro sentido que: nós, burgueses alemães, não queremos ser explorados
pelos burgueses ingleses à maneira como vós, proletários alemães, sois explorados por nós e
como nós nos exploramos uns aos outros reciprocamente. Não queremos nos render às
10 mesmas leis do valor de troca às quais vos abandonamos. Não queremos mais reconhecer
para fora as leis econômicas que reconhecemos para dentro. |
|8| O que quer então o filisteu alemão? Para dentro, quer ser burguês, ser explorador, para
fora, porém, não quer ser explorado. Para o exterior, ele se infla de “nação” e diz: eu não me
submeto às leis da concorrência, isso é contra minha dignidade nacional; enquanto nação, sou
15 um ser sublime acima da barganha. –
A nacionalidade do trabalhador não é francesa, não é inglesa, não é alemã, ela é o
trabalho, a livre escravidão, o auto-barganhamento [Selbstverschacherung]. Seu governo
não é francês, não é inglês, não é alemão, ele é o capital. Seu ar pátrio não é o francês, não é
o alemão, não é o inglês, ele é o ar da fábrica. O solo que lhe pertence não é o francês, não é
20 o inglês, não é o alemão: ele está alguns palmos debaixo da terra. –
Para dentro, o dinheiro é a pátria dos industriais. Ora, então o filisteu alemão quer que as
leis da concorrência, do valor de troca, da barganha percam seu poder nas cancelas do seu
país? Ele só quer reconhecer amplamente o poder da sociedade civil quando convém ao seu
interesse, ao interesse da sua classe? Ele não quer ser vítima de um poder ao qual quer
25 sacrificar outros e se sacrifica a si mesmo dentro do seu país? Para o exterior, ele quer
mostrar-se e ser tratado como um ser diferente do que ele internamente é e trata a si mesmo?
Quer deixar a causa existir e suspender [aufheben] um dos seus efeitos? Iremos provar-lhe
que o auto-barganhamento para dentro tem por consequência necessária o barganhamento
para fora; que a concorrência, que para dentro é seu poder, não pode deixar de tornar-se, para
30 fora, sua impotência; que o sistema político ao qual ele internamente submete a sociedade

18 148
civil não pode, externamente, protegê-lo diante da ação da sociedade civil. –
O burguês, conquanto o burguês individual lute contra os outros, tem enquanto classe um
interesse coletivo, e essa coletividade, assim como para dentro é voltada contra o
proletariado, para fora é voltada contra os burgueses de outras nações. Isso o burguês intitula
5 sua nacionalidade. –
2) Contudo, é possível considerar a indústria sob uma perspectiva totalmente diversa que
sob a perspectiva do sujo interesse da barganha, considerando não apenas o comerciante
individual, o fabricante individual, mas sim, reciprocamente, as nações fabricantes e
comerciantes atuais. Pode-se considerá-la como o grande ateliê [Werkstätte] em que
10 primeiramente o homem apropria-se de si mesmo, de suas próprias forças e das forças da
natureza, em que objetiva-se, em que criou para si as condições para uma vida humana.
Quando se a considera assim, abstrai-se então das circunstâncias dentro das quais hoje a
indústria é ativa, dentro das quais ela existe enquanto indústria, não se situa na época
industrial, situa-se acima dela; não se a considera segundo o que ela é hoje para o homem,
15 mas sim segundo o que o homem atual é para história humana, o que ele é historicamente;
não se reconhece a indústria enquanto tal, sua existência contemporânea, reconhece-se nela,
isto sim, o poder situado nela sem sua consciência e contra sua vontade, o qual ela aniquila e
o qual forma o fundamento para uma existência humana. (Que cada povo em si mesmo passa
por esse desenvolvimento seria uma visão tão estúpida quanto se cada povo tivesse de passar
20 pelo desenvolvimento político da França ou pelo desenvolvimento filosófico da Alemanha. O
que as nações enquanto nações fizeram, elas fizeram para a sociedade humana; todo seu valor
consiste apenas em que cada uma atravessou pelas outras uma perspectiva principal \
determinação principal dentro das quais a humanidade atravessou seu desenvolvimento; e
portanto, depois que a indústria na Inglaterra, a política na França e a filosofia na Alemanha
25 estão acabadas [verarbeiten], elas estão acabadas para o mundo, e com isso o seu significado
histórico-mundial, assim como o das nações, terminou [aufhören].)
O reconhecimento [Anerkennung], então, é ao mesmo tempo a cognição [Erkenntnis] de
que chegou a hora de serem abolidas [abschaffen] ou de superar [aufheben] as condições
materiais e sociais dentro das quais a humanidade teve de desenvolver suas capacidades qual
30 um escravo. Pois tão logo se veja na indústria não mais o interesse da barganha, mas sim o

19 149
desenvolvimento do homem, faz-se do homem, em vez do interesse da barganha, o princípio,
e se lhe dá o que na indústria só pôde desenvolver-se em contradição consigo mesmo, o
fundamento que está em consonância com o a ser desenvolvido [zu Entwickelnden].
Mas o miserável que permanece na situação atual a qual ele quer apenas alçar a uma altura
5 que ela ainda não atingiu em seu próprio país e [x x] olha com inveja uma outra nação que a
atingiu, tem esse miserável razão em enxergar na indústria algo diverso do interesse da
barganha? Pode ele dizer que trata-se unicamente de desenvolvimento das capacidades
humanas e apropriação humana das forças naturais? É a mesma abjeção de como quando o
feitor se gabava por sentar a chibata em seu escravo para que o escravo tivesse diversão em
10 exercitar sua força muscular. O filisteu alemão é o capataz que brande a chibata das barreiras
alfandegárias a fim de dar à sua nação o espírito da “educação industrial” e ensiná-la a exibir
suas forças musculares.
A escola saint-simonista deu-nos um exemplo instrutivo de para onde se vai quando se
escreve a favor do poder produtivo da indústria contemporânea (o qual a indústria cria contra
15 sua vontade e inconscientemente) e se troca ambos, a indústria e os poderes os quais a
indústria, inconsciente e involuntariamente, cria – os quais, entretanto, somente se
transformam em poderes humanos, em poder do homem, tão logo se abula a indústria. É a
mesma insipidez de quando o burguês quis escrever a seu favor que sua indústria cria o
proletariado e, no proletariado, o poder de uma nova ordem mundial. As forças naturais e as
20 forças sociais que a indústria cria encontram-se por completo na mesma relação para com ela
que o proletariado. Hoje eles ainda são seus escravos, nos quais ele não vê nada mais que
ferramentas \ portadores da sua suja \ interesseira ganância por lucro; amanhã eles rompem
suas correntes e mostram-se como portadores de um desenvolvimento humano que arrebenta
com sua indústria, da qual supusera apenas a suja casca que tomou pela essência até que o
25 núcleo humano ganhara poder o bastante para rachá-la e surgir em sua feição [Gestalt]
própria; amanhã eles rompem as correntes por meio das quais ele a separa do homem, e
assim, a partir de um vínculo social real, caricaturiza-a \ transforma-a em correntes da
sociedade. –
A escola saint-simonista celebrou em ditirambos o poder produtivo da indústria. Ela
30 misturou [zusammenwerfen] os poderes, os quais a indústria cria, à indústria, i. e., às atuais

20 150
condições de vida desses poderes. Nós estamos certamente longe de colocar os saint-
simonistas ao nível de um homem como List ou o filisteu alemão. O primeiro passo para
quebrar o encantamento industrial foi abstrair das condições, das correntes monetárias nas
quais atuam hoje seus poderes e considerá-los por si. Foi a primeira exortação aos homens
5 para emanciparem da barganha a sua indústria e conceber a indústria atual como um período
transitório. E os saint-simonistas não se detiveram nessa interpretação. Eles seguiram adiante
atacando o valor de troca, a organização da sociedade contemporânea, a propriedade privada.
Eles põem a associação no lugar da concorrência. Mas o equívoco original vingou-se deles.
Aquela confusão arrastou-os não apenas à ilusão de enxergar no sujo burguês um sacerdote,
10 de modo que eles caíram, após os primeiros combates externos, ||9| de volta na velha ilusão \
confusão, mas agora hipocritamente, quando justamente na luta se explicitou a oposição de
ambas as forças que eles tinham confundido. Sua celebração das forças produtivas da
indústria tornara-se uma celebração da burguesia, e o senhor Michel Chevalier, o senhor
Duvergier e o senhor Dunoyer penduraram a si mesmos e ele no tronco perante toda a Europa
15 – onde os ovos podres que a história atirar-lhes na cara ainda se transformam, por meio da
magia da burguesia, em ovos de ouro – enquanto o primeiro conservou as velhas fórmulas,
dando-lhes porém o conteúdo do regime burguês atual, o segundo opera mesmo na barganha
por atacado e preside o barganhamento dos jornais franceses, o terceiro, porém, tornou-se o
mais enfurecido apologeta do estado atual, ultrapassando em inumanidade \ descaramento
20 todos os anteriores economistas ingleses e franceses. – O burguês alemão e o senhor List
começam com o que a escola saint-simonista termina, com a hipocrisia, a fraude e as
fórmulas.
3) A tirania industrial da Inglaterra sobre o mundo é o domínio da indústria sobre o
mundo. A Inglaterra nos domina porque a indústria nos domina. Só podemos nos libertar
25 externamente da Inglaterra quando nos libertarmos internamente da indústria. Só podemos
exterminar sua dominação concorrencial se derrotarmos a concorrência dentro das nossas
paliçadas. A Inglaterra tem poder sobre nós porque nós fizemos da indústria o poder sobre
nós.
Que a ordem social industrial é o melhor dos mundos para o burguês, a ordem mais
30 apropriada para desenvolver suas “capacidades” enquanto burguês e a capacidade de explorar

21 151
tanto os homens quanto a natureza, quem contestará essa tautologia? Que tudo aquilo que
hoje em dia se chama “virtude”, virtude individual ou social, é para o lucro do burguês, quem
contesta? Quem contesta que o poder político é um meio da sua riqueza, que mesmo a ciência
e as fruições espirituais são suas escravas! Quem contesta? Que para ele tudo é
5 formidavelmente [x x]? Que para ele tudo tornou-se em meio da riqueza, em uma “força
produtiva da riqueza”?
4) A economia atual parte do estado social da concorrência. O trabalho livre, i. e., a
escravatura indireta, auto-oferecida [feilbietend], é seu princípio. Suas primeiras proposições
são a divisão do trabalho e a máquina. Mas essas só podem ser levadas ao seu mais alto
10 desdobramento na fábrica, como admite a própria economia atual. Portanto, a economia
nacional atual parte da fábrica enquanto seu princípio criador. Ela supõe as condições sociais
atuais. Desse modo, ela não precisa fazer digressões sobre a força manufatureira.
Se a escola da teoria das forças produtivas ao lado, separada da teoria dos valores de troca
não forneceu “instrução científica”, assim o fez porque uma tal separação é uma abstração
15 arbitrária, porque ela é impossível e tem de permanecer em fórmulas gerais.
5) “As causas da riqueza são algo completamente distinto da riqueza mesma. A força de
criar riquezas é infinitamente mais importante que a riqueza mesma.” [p. 201.] A força
produtiva aparece como um ser [Wesen] infinitamente sublime acima do valor de troca. A
força assume o lugar do ser interior; o valor de troca, o da capciosa aparência. A força
20 aparece como infinita, o valor de troca como finito, aquela como imaterial, esse, como
material, e encontramos todas essas oposições no senhor List. O mundo supra-sensível das
forças adentra, por isso, o mundo material dos valores de troca. Se a vileza com que uma
nação sacrifica-se por valores de troca é óbvia (o sacrifício humano por coisas), então, ao
contrário, forças parecem ser entidades espirituais autônomas – espectros – e puras
25 personificações, divindades; mas pode-se mesmo exigir ao povo alemão que sacrifique os
sórdidos valores de troca por espectros? Um valor de troca, dinheiro, sempre aparenta ser
uma finalidade exterior, mas a força produtiva, uma finalidade que deriva da minha própria
natureza, uma auto-finalidade [Selbstzweck]. O que eu então sacrifico em valores de troca é
algo exterior a mim; o que eu ganho em forças produtivas é o meu auto-ganho
30 [Selbstgewinnung]. – Assim parece quando nos contentamos com a palavra ou, como

22 152
alemão idealizante, não nos preocupamos com a suja realidade que está por trás dessa palavra
altissonante.
Para destruir o brilho místico que banha a “força produtiva” deve-se apenas abrir
qualquer estatística. Aí é falado de força hidráulica, força a vapor, força humana, cavalo de
5 força. Tudo isso são “forças produtivas”. É um grande reconhecimento do homem que ele
figure com o cavalo, o vapor, a água, como “força”? No sistema atual, se umas costas mais
recurvadas, uma luxação dos ossos, uma instrução unilateral e fortalecimento de certos
músculos, etc., faz você mais capacitado ao trabalho \ mais produtivo, então suas costas mais
recurvadas, sua luxação das articulações e seu movimento unilateral dos músculos são uma
10 força produtiva. Se sua burrice é mais produtiva que sua rica atividade espiritual, então sua
burrice é uma força produtiva etc. etc. Se uma tarefa monótona faz você mais capaz para essa
mesma tarefa, então a monotonia é uma força produtiva.
A única coisa que interessa ao burguês, ao fabricante, é que o trabalhador desenvolva
todas as suas capacidades, acione suas faculdades produtivas, acione humanamente a si
15 mesmo e por isso acione, ao mesmo tempo, o humano?
Deixemos ao Píndaro inglês do sistema manufatureiro, o senhor Ure, responder:
“O alvo constante e a tendência de cada aperfeiçoamento no mecanismo é, em realidade,
fazer o trabalho do homem totalmente supérfluo ou diminuir seu preço, substituindo a
indústria dos trabalhadores adultos pela indústria das mulheres e crianças ou o trabalho do
20 artista hábil pelo do trabalhador mais inábil \ mais desajeitado” (Philosophie des
manufactures etc., Paris, 1836, T. I. p. 34.) “A debilidade da natureza humana é tão grande
que o trabalhador, quanto mais habilidoso ele é, mais teimoso e intratável ele se torna, e, por
conseguinte, é menos apropriado para um sistema mecânico … Por isso, a grande jogada
[Point] dos fabricantes atuais é reduzir, por meio da combinação da ciência com seus
25 capitais, a tarefa dos seus trabalhadores, exercer sua supervisão etc.” 1. c., t. I., p. 30

Força, força produtiva, causas


“As causas da riqueza são algo completamente distinto da riqueza mesma.” [List, p. 201.]
Porém, se o efeito é diferente da causa, não deve o caráter do efeito já estar contido na causa?
30 A causa já tem de portar a determinação que o efeito mais tarde manifesta. A filosofia do

23 153
senhor List afirma que causa e efeito são “coisas completamente diferentes”. Um belo
reconhecimento do homem o que o rebaixa a uma “força” de criar riqueza. O burguês vê no
proletariado não o homem, mas a força de criar riqueza, uma força que ele pode, então,
comparar também a outras forças produtivas, ao animal, à máquina, e, conforme a
5 comparação lhe seja desvantajosa, a força cujo portador é um homem deve ceder lugar à
força cujo portador é um animal ou uma máquina, junto aos quais ele então sempre possui \
goza a honra de figurar como “força produtiva”.
Se eu designo o homem como “valor de troca”, então já reside na expressão que as
condições sociais converteram-no em uma “coisa”. Se o trato [enquanto] “força produtiva”,
10 então coloco no lugar dos sujeitos efetivos um outro sujeito, substituo-o por uma outra
pessoa; ele existe tão-somente enquanto causa da riqueza.
Toda a sociedade humana torna-se apenas máquina de criar riqueza. A causa, de nenhum
modo, é mais elevada que o efeito. O efeito é apenas a causa expressa abertamente.
List faz como se por toda parte se tratasse unicamente de forças produtivas por si mesmas,
15 abstraídas dos sórdidos valores de troca.
Uma elucidação sobre a essência das “forças produtivas” atuais nós já obtemos pelo fato
de que, no estado atual, a força produtiva não consiste apenas em fazer o trabalho do homem
mais eficiente ou as forças naturais e as forças sociais mais eficazes, ela consiste igualmente
em fazer o trabalho mais barato ou mais improdutivo para o trabalhador. Portanto, a força
20 produtiva é de antemão determinada pelo valor de troca. É igualmente um aumento | […]

24 154
[Parte III – fragmentos]

[…]
5 |22| desaparece a renda da terra. Esses altos preços dos cereais têm de ser deduzidos dos
lucros dos senhores industriais – Ricardo é muito sensato em supor que o salário do trabalho
não pode mais ser comprimido. A então resultante redução dos lucros e o aumento do salário
do trabalho – na medida em que o trabalhador sempre tem de consumir uma certa quantidade
de cereais, seja isso tão caro quanto se queira (por isso, com a subida do preço dos cereais
10 seu salário nominal cresce sem realmente crescer, até mesmo quando em realidade diminui) –
eleva, por meio da subida do preço dos cereais, os custos de produção dos industriais,
dificultando-lhes por isso a acumulação e a concorrência; em uma palavra, estagna a força
produtiva do país. O sórdido “valor de troca”, que na renda fundiária é jogado nos bolsos do
proprietário fundiário sem qualquer proveito \ no maior prejuízo para a força produtiva do
15 país, deve então ser sacrificado ao bem comum de um modo ou de outro – livre comércio de
cereais, transferência de todos os impostos sobre a renda da terra ou, ainda, por meio da
apropriação oficial da renda da terra, i. e., do proprietário fundiário por meio do estado (essa
consequência foi tirada por Mill, Hilditch, Cherbuliez, entre outros).
Dessa aterrorizante consequência da força manufatureiro-produtiva para a propriedade
20 fundiária o senhor List naturalmente não podia informar a aristocracia fundiária alemã. Por
isso, ele vitupera contra Ricardo, que revelou verdades tão embaraçosas, e o deturpa, coloca-
lhe na boca a concepção inversa, a dos fisiocratas, segundo a qual a renda fundiária não é
mais que uma prova da força de produção natural do solo.

25 157
List Ricardo

“De modo geral, desde A. Smith a 25 “Se o excedente [Mehr] do produto o


5 escola foi infeliz em suas pesquisas qual forma a renda da terra é uma
sobre a natureza da renda. Ricardo, e vantagem, então seria desejável que todo
depois dele Mill, MacCulloch e ano as novas máquinas construídas se
outros, são da opinião de que a renda tornassem mais improdutivas que as
[é] paga pela capacidade produtiva 30 antigas; isso daria um valor excedente às
10 natural inerente aos terrenos. O mercadorias produzidas em todo o país;
primeiro fundou sobre essa visão pagar-se-ia uma renda a todos que
todo um sistema … [Mas,] como ele possuíssem as máquinas mais produtivas.”
tinha diante dos olhos apenas as (“Des principes de l'économie politique”
condições inglesas, ele incorreu então 35 etc., Paris 1835, t. I, p. 77)
15 na visão errônea de que essas “A riqueza do país cresce quando, por
lavouras e pastagens, por cuja meio de melhoramentos na agricultura,
pretensa capacidade de rendimento pode-se aumentar os produtos sem aumento
natural atualmente são pagas tão proporcional do trabalho, portanto quando a
belas rendas, tenham sido em todos 40 renda da terra aumenta apenas lentamente”
20 os tempos as referidas lavouras e (ibidem, p. 81-82.)
pastagens.” (p. 360.)

Desse modo, o senhor List não ousa sustentar o teatro de sombras das “forças produtivas”
45 diante de uma alta aristocracia. Ele quer aliciá-la com “valores de troca” e por isso calunia a
esc[ola de] Ricardo, o qual não julga a renda fundiária nem pelo prisma da força de produção
e nem essa pelo prisma do grande sistema fabril moderno.
O senhor List é então um duplo mentiroso. Não podemos, todavia, fazer injustiça ao
senhor List nesse ponto. Em uma grande fábrica de Württemberg (Köchlin, se não nos
50 enganamos), o próprio rei dos württembergenses está envolvido com uma grande soma.
Notadamente nas fábricas de Württemberg, e mais ou menos também nas de Baden, a

26 158
aristocracia fundiária envolveu-se significativamente por meio de ações [Aktie]. Desse modo,
aqui a aristocracia está envolvida monetariamente na “força manufatureira”, não como
proprietária fundiária, mas sim como burguesia mesma e como fabricante, e | […]

27 159
[…]
|24| “forças [produ]tivas” e origina a “continuidade da obra e a perenidade” de toda uma
geração – List, o comunista mascarado, ensina igualmente isso – então é característico
também à geração e não aos senhores industriais. (veja-se, p. ex., Bray).
5 A elevada renda fundiária na Inglaterra só foi assegurada aos proprietários [Eigentümer \
Landlords] por meio da ruína dos arrendatários e do rebaixamento dos salários dos
camponeses a uma miséria irlandesa (verdadeiros mendigos). Tudo isso apesar das Leis dos
Cereais. Sem falar que mesmo os arrendadores de terras foram frequentemente forçados a
deixar aos arrendatários a metade da renda em vez de 1/3. Desde 1815 sucederam 3
10 diferentes Leis dos Cereais para elevação e encorajamento dos arrendatários. Houve durante
esse período 5 comitês parlamentares instaurados para provar a existência da situação
miserável da agricultura e para investigar outras causas da mesma. Por um lado, a contínua
ruína dos arrendatários, apesar da completa exploração do salário dos camponeses \
compressão total ou maior possível do salário, por outro, a crescente coação dos donos de
15 terra a abrir mão de uma parte da renda provam, por si, que na Inglaterra – apesar de todas as
manufaturas – nunca foram produzidas grandes rendas fundiárias. Pois, em termos
econômicos, não se pode considerá-la como renda da terra quando uma parte dos custos de
produção é sacada, por meio de contratos e outras relações situadas fora da economia, do
bolso do arrendador de terras em vez do bolso do arrendatário.
20 Se o próprio proprietário fundiário cultivasse sua terra, então ele provavelmente reservaria
para si, para manobrar, uma parte do ganho costumeiro do capital de giro sob a rubrica
“renda da terra”.
A exportação de cereais da Inglaterra ainda foi considerada pelos os escritores dos séculos
XVI, XVII e mesmo dos primeiros dois terços [do] XVIII como a sua principal fonte de
25 riqueza. A antiga indústria inglesa – cujo ramo principal formou a indústria da lã, cujos ramos
menos importantes processaram os materiais fornecidos, principalmente, por ele mesmo – foi
absolutamente subordinada à agricultura. Sua matéria-prima principal era produto agrícola
inglês. Que ela fomentou, portanto, a agricultura, compreende-se por si mesmo. Mais tarde,
quando se estabeleceu o sistema fabril propriamente, em pouco tempo já foi sentida também
30 a necessidade de taxação dos cereais. Entretanto, elas permaneceram nominais. A rápida

28 161
proliferação da população, muitos solos férteis que ainda havia por desbravar, as invenções,
naturalmente elevaram, em primeiro lugar, também a agricultura. Veio-lhe especialmente a
propósito a guerra contra Napoleão, a qual formou um sistema proibitivo oficial para ela. Em
1815 mostrou-se, contudo, quão pouco a “força produtiva” da agricultura havia efetivamente
5 crescido. Uma grita geral levantou-se entre os donos de terras e arrendatários, e as atuais Leis
dos Cereais foram promulgadas. Reside na essência da indústria fabril moderna, antes de
tudo, a indústria estranhar o solo doméstico, processando principalmente matérias-primas
estrangeiras e repousando sobre o comércio externo. Reside em sua essência fazer crescer a
população em uma proporção que não corresponde à exploração do solo sob a propriedade
10 privada. Reside ainda em sua essência, quando ela institui as Leis dos Cereais e como ela até
agora sempre o fez na Europa, converter os camponeses nos mais miseráveis de todos os
proletários por meio da elevada renda e do funcionamento fabril da propriedade fundiária.
Caso se consiga, em contraposição a ela, vetar as Leis dos Cereais, então ela põe uma massa
de solo fora de cultivo, submete os preços dos cereais a acasos externos e aliena
15 completamente a terra, tornando dependentes do comércio seus víveres mais necessários, e
dissolve a propriedade fundiária enquanto uma fonte de propriedade autônoma. Esta última a
finalidade da Liga Contra as Leis dos Cereais na Inglaterra e do Movimento Contra a Renda
na América do Norte, pois a renda fundiária é a expressão econômica da propriedade
fundiária. Por isso, os Tories preocupam-se constantemente com o perigo de tornar a
20 Inglaterra dependente, em seus víveres, por exemplo da Rússia.
A grande indústria fabril – aqui naturalmente não contam países inteiros que ainda têm
imensa quantidade de terra por desbravar, como a América do Norte (e as barreiras
alfandegárias, entretanto, não aumentam em nada a extensão do solo) – tem infalivelmente a
tendência a estagnar a produtividade dos bens de raiz tão logo essa exploração tenha atingido
25 um certo grau, bem como, por outro lado, o funcionamento fabril da agricultura tem a
tendência a suplantar os homens e a converter tudo – claro que no interior de certos limites –
em pastagem, de modo que no lugar do homem pisa o gado.
A teoria de Ricardo da renda da terra reduz-se, em poucas palavras, a isto: a renda da
terra não contribui em nada para a produtividade do solo. Sua subida é, pelo contrário, a
30 prova de que a força produtiva do solo cai. Ela é determinada por meio da proporção das

29 162
terras virgens exploráveis para com a população e para com o estado da civilização em geral.
O preço dos cereais é determinado por meio dos custos de produção do solo mais infértil cujo
cultivo [Bebauung \ Kultivierung] a necessidade da população demanda. Caso tenha de
recorrer a solo de menor qualidade ou se parcelas do capital tenham de ser aplicadas com
5 menor retorno [Ertrag] no mesmo terreno, então o proprietário fundiário de terreno mais
infértil vende seu produto tão caro quanto o cultivador do pior solo. Ele embolsa a diferença
entre os custos de produção do último solo e o do solo mais fértil. Portanto, quanto mais solo
menos lucrativo é posto em cultivo ou quanto mais a segunda e a terceira parcelas menos
lucrativas \ mais improdutivas do capital são aplicadas no mesmo terreno, quanto mais, em
10 uma palavra, diminui a força produtiva relativa do solo tanto mais alto sobe a renda. A terra
em geral pensada fértil | […]

30 163
| IV O senhor List e Ferrier

O livro de Ferrier, sous-inspecteur des douanes sob Napoleão: “Du gouvernement


considéré dans ses rapports avec le commerce”, Paris 1805, é o escrito que o senhor List
5 copiou. Não há em seu livro uma única ideia fundamental que não esteja dita, e melhor dita,
aqui.
Ferrier foi funcionário de Napoleão. Ele defendia o sistema continental. Ele não fala de
sistema protecionista, mas de sistema proibitivo. Ele está longe de fazer fórmulas sobre uma
união de todos os povos ou sobre a paz perpétua no interior. E ele ainda não tem fórmulas
10 socialistas, é claro. Forneceremos uma breve seleta de seu livro, a fim de esclarecer o leitor
sobre a fonte secreta da sabedoria listiana. Se o senhor List deturpa Louis Say para poder
fazê-lo seu aliado, então ele, pelo contrário, não cita em nenhum lugar Ferrier, ao qual copiou
por toda toda parte. Ele quis conduzir o leitor por uma pista falsa.
Já citamos o veredicto de Ferrier sobre Smith. Ferrier também adere, ainda mais
15 sinceramente, ao velho sistema proibitivo.

Intervenção estatal. Economia da nação


“Há uma economia e um desperdício \ prodigalité das nações, mas uma nação só é
perdulária ou econômica em suas relações com outros povos” p. 143.
20 “É falso que a aplicação mais vantajosa de um capital para quem o possui seja
necessariamente também a mais vantajosa para a indústria … longe de encontrar-se unificado
ao interesse geral, o interesse do capitalista está quase sempre [em] oposição a ele.” p. 168,
169.
“Existe uma economia das nações, contudo, muito diferente da smithiana. Ela consiste em
25 só comprar produções estrangeiras enquanto se pode pagá-las com as suas próprias. Ela
consiste, às vezes, em renunciar totalmente a elas.” p. 174, 175.

As forças produtivas e o valor de troca


“Os princípios os quais Smith colocou \ forneceu (posés) a respeito da economia das
30 nações têm todos por fundamento a diferença entre trabalho produtivo e improdutivo … Essa

31 165
distinção é essencialmente falsa. Não há trabalho improdutivo.” p. 141.
“Ele (Garnier) viu na prata apenas o valor da prata, sem refletir sobre a propriedade que
ela tem, enquanto prata, de tornar a circulação mais ativa e por conseguinte aumentar o
produto do trabalho.” (p. 18). “Se o governo procura, por isso, prevenir a vazão do dinheiro
5 … isso é assim não por causa do seu valor … mas sim” porque “o valor que é reembolsado
por ele não pode, na circulação, derivar dos mesmos efeitos …, pois não pode determinar em
cada transação uma nova criação.” p. 22, 23. “A palavra riqueza, aplicada ao dinheiro que
circula enquanto dinheiro, tem de ser entendida a partir das reproduções as quais facilita … e
nesse sentido um país enriquece quando aumenta seu dinheiro, pois com essa multiplicação
10 do dinheiro crescem todas as forças produtivas do trabalho”, p. 71. “Quando se diz que um
país pode despender (dépenser) o rendimento de dois bilhões … compreende-se que ele tem
o meio de sustentar, com esses 2 bilhões, uma circulação 10 vezes, 20 vezes, 50 vezes maior
em valores, ou, o que dá no mesmo, que pode produzir esse valor. Ora, esse meio de
produção que se deve ao dinheiro chama-se riqueza.” p. 22.
15 Vê-se: Ferrier distingue entre o valor de troca que o dinheiro possui e a força produtiva do
dinheiro. Sem falar que ele chama de riqueza os meios de produção em geral; aliás, nada foi
mais fácil que aplicar, em todos capitais, a diferença que o senhor Ferrier faz entre o valor e a
força produtiva do dinheiro.
Mas Ferrier vai ainda mais longe, ele defende o sistema proibitivo em geral a fim de que
20 esse assegure às nações seus meios de produção:
“Assim, as proibições são cada vez mais úteis se elas facilitam os meios para as nações
subvencionarem suas necessidades … Eu comparo uma nação que com seu dinheiro compra
do exterior mercadorias que ela mesma pode fabricar (embora não tão bem) a um jardineiro
que, insatisfeito com as frutas que colheu, comprasse de seu vizinho as mais suculentas,
25 dando a ele em troca seus instrumentos de jardinagem.” p. 288. “O comércio exterior é cada
vez mais vantajoso se aspira aumentar os capitais produtivos. É desvantajoso se ele, em vez
de multiplicar os capitais, requer sua venda [Veräußerung].” p. 395-396.

Agricultura, manufatura, comércio


30 “O governo tem de favorecer, de preferência, o comércio e as fábricas antes da

32 166
agricultura? Essa é uma questão sobre a qual os governos e o escritores ainda não são
capazes de se conciliar”. p. 73.
“Os progressos da indústria e do comércio estão vinculados com os da civilização, das
artes, das ciências, da navegação. O governo que quase nada pode pela agricultura, pode
5 quase tudo pela indústria. Se a nação tem costumes ou feições capazes de barrar seu
desenvolvimento, ela deve empregar todos os seus meios para combatê-los.” p. 84.
“O verdadeiro meio de encorajar a agricultura é encorajar a manufatura.” p. 225.
“Seu domínio (o da indústria – sob o qual o senhor Ferrier entende o da manufatura) não é
nem limitado em suas etapas precedentes nem em seus meios de aperfeiçoamento… Vasto
10 como a imaginação, móbil e fértil como ela, seu poder criador não tem fronteiras, assim
como o próprio espírito humano do qual ela recebe diariamente um novo éclat.” p. 85.
“A verdadeira fonte da riqueza para uma nação agrícola-manufatureira é a reprodução e o
trabalho. Ela precisa dar esse emprego aos seus capitais, e pensar em transportar e vender
suas próprias mercadorias antes de poder ocupar-se em transportar e vender as dos outros.” p.
15 186. “Tem de se atribuir preferencialmente ao comércio interno, o qual por muito tempo
precedeu a troca entre os povos, esse crescimento na riqueza do homem”, p. 145. “Segundo o
próprio Smith, de dois capitais, um investido internamente, o outro, no estrangeiro, o
primeiro dá 24 vezes mais sustentação e ânimo à indústria do país.” p. 145-146. O senhor
Ferrier, contudo, ao menos enxerga que o comércio interno não pode existir sem o externo. l.
20 c.
“Deixem algumas pessoas privadas da Inglaterra mandarem trazer 50.000 peças de veludo
e elas ganharão muito dinheiro com esse comércio e colocarão muito bem suas mercadorias.
Mas elas reduzem a indústria nacional e põem 10.000 trabalhadores sem pão.” p. 170, cf. p.
155, 156.
25 O senhor Ferrier atenta, assim como List, para diferença entre as cidades manufatureiro-
comerciais e as cidades apenas consumidoras, cf. p. 91, mas é no mínimo honesto referir aí o
próprio Smith. Ele refere-se ao Tratado de Methuen, tão estimado pelo senhor List, e à
sutileza empregada por de Smith no julgamento daquele. p. 159. Já ouvimos como seu
julgamento de Smith, no geral, coincide quase literalmente com o julgamento de List. Veja-
30 se, do mesmo modo, sobre o transporte comercial, p. 186 et passim.

33 167
A diferença entre Ferrier e List é que o primeiro escreve a favor de um empreendimento
histórico-mundial – do sistema continental –, o último, a favor de uma burguesia mesquinha
imbecil.
Conceder-se-á que todo o senhor List está contido in nuce nos citados e[xcertos] de
5 Ferrier. Tome-se agora, ademais, as fórmulas que ele empresta do desenvolvimento da
economia nacional decorrido desde Ferrier e então resta-lhe meramente o tosco idealizar cuja
força produtiva consiste na palavra – e a [x] hipocrisia do burguês alemão aspirante à
dominação. |

10

34 168
[fragmento de página]

Em nenhum momento pode ocorrer ao senhor List que a efetiva organização da sociedade
é um materialismo estúpido, um espiritualismo individual, individualismo. Em nenhum
5 momento pode ocorrer-lhe que os economistas nacionais apenas deram a essa situação social
uma expressão teórica correspondente. Ele deveria voltar-se, isto sim, contra a atual
organização da sociedade em vez de contra os economistas nacionais. Ele acusa-os de não
terem encontrado uma expressão suavizante para uma realidade desoladora. Por isso, em todo
lugar ele quer deixar essa realidade como ela é e modificar apenas a expressão. Em nenhum
10 momento ele critica a sociedade real; como autêntico alemão, ele critica a expressão teórica
dessa sociedade, e a reprova por exprimir a coisa, não a imaginação da coisa.
A fábrica é transmutada numa deusa, a da força da manufatura.
O fabricante é o sacerdote dessa força.

15

35 169
170
Notas, indicações de correções e variantes

1.7-10 Marx citará sempre “O sistema nacional da economia política” (1841)


de Friedrich List.
Marx não indicou grande parte das referências de página dessas
citações (referências que foram acrescentadas entre colchetes no
corpo do texto pela primeira edição).

1.7 muito triste ] grifado por Marx

1.9 proletários ] grifado por Marx

2.1 fórmulas [Phrasen] ] difícil tradução


Termo de alta frequência no texto, ocorrendo sempre no plural: 2.1,
2.16, 11.18, 11.24, 13.24, 13.25, 16, 21.22, 22.15, 31.8, 31.9. 34.5
Em sentido corrente o termo carrega clara carga depreciativa (de
lugar-comum, platitude, falar muito com bela retórica mas não dizer
nada de substancial), cujo emprego no texto de Marx relaciona-se
ao universo do idealismo, conforme indicam os contextos em que o
termo ocorre e as diferentes qualificações que constantemente o
acompanham. Assim, a tradução por “frases” não parece boa, pois
sugere um sentido neutro de “unidade sintática”, o que não favorece
a compreensão do termo no texto – por mais que também indique
um caráter formal, vazio ou da ordem do discurso (já o termo
“fraseologia”, Phraseologie (2.3) pôde ser literalmente mantido)

3.15 articulado ] H: articulados

171
3.16 é ] H: são

5.29 Ferrier, F. L. A. “Du gouvernement considéré dans ses rapports avec le


commerce.” Paris 1805. ]
Tanto aqui como adiante (parte IV), as citações que Marx faz de
Ferrier já haviam sido por ele transcritas em francês (Cadernos de
Bruxelas de 1845, Caderno III. MEGA IV/3, pp. 210-218). O mais
provável é que Marx, à medida em que redigia o presente
manuscrito, tenha traduzido as citações a partir dos seus próprios
extratos. Indicaremos a correspondência entre a tradução de Marx
no manuscrito e o respectivo texto em francês do caderno.

5.32-39 ver: MEGA IV/3, 217.24-31

5.43 fizeram ] H: fez

5.46-47 ver: MEGA IV/3, 217.37-38


O comentário em aparece em alemão nos extratos, abaixo das
mesmas citações

5.47-53 ver: MEGA IV/3, 217.20-24

5.48 economistas (fisiocratas) ] no manuscrito o primeiro termo foi riscado


e, revalidado (com … marcado embaixo ).
Segundo a citação no Caderno III acima indicado, économistes é o
termo empregado por Ferrier. À época, Oekonomist (termo hoje em
dia antiquado e de frequência rara) remetia especificamente à
chamada fisiocracia, diferentemente, portanto, de Oekonom, termo
mais geral e que se traduz por “economista” em sentido corrente,
como aparecerá mais adiante (tanto em Marx quanto em List). A

172
justaposição Oekonomisten (Physiokraten) ajuda a evitar a
ambiguidade, visto termos de usar a mesma palavra para
Oekonomist e Oekonom.

5.52-53 ver: MEGA IV/3, 210.8-9

6.6 Say e MacCulloch ] grifado por Marx

6.7-8 (de Antônio Serra, de Nápoles) ] complemento de Marx

6.25 Joseph Pecchio: Histoire de l’e´conomie politique en Italie, ou


Abrégé critique des économistes italiens: précédée d´une
introduction. Trad. de l´italien par L. Gallois, Paris, 1830.
Marx já havia feito excertos da obra. Ver: MEGA IV/3, Caderno VI,
pp. 389-406.

6.30 Say ] grifado por Marx

7.6 “Nota Histórica sobre a vida e a obra de J-B Say”, de Charles Comte ]
Marx refere-se ao texto introdutório ao volume que contém o “Cours
complet d'economie politique pratique suivi des Melanges,
Correspondance et Catechisme d'economie politique”, de J. B. Say,
editado postumamente por Charles Comte. Em seus extratos da
obra de Say, Marx usa a 3ª edição, Bruxelas, 1836, cf. MEGA IV/3,
739). Charles Comte, genro de. Say, foi advogado, economista e
jornalista francês; fundou o jornal “O Censor” (1814), juntamente
com Charles Dunoyer,

7.9 contém ] H: contêm

173
7.22 embora encarregado de seis filhos para criar e não tendo quase
nenhum patrimônio

7.28 visão ardilosa [listig] ] sugere um trocadilho com o nome de List


Marx havia empregado o mesmo expediente para referir-se de
modo irônico a List na Introdução de 1844.

7.30 (de Louis Say) ] complemento de Marx

7.26-27 grifado por Marx

8.1-12
“'A riqueza não consiste nas “'Embora a riqueza não consista nas
coisas que satisfazem nossas coisas que satisfazem as nossas
necessidades ou nossos gostos, necessidades ou nossos gostos, mas
mas na capacidade de desfrutá- na receita ou na capacidade de
las anualmente'” [apud List, p. desfrutá-las anualmente'”. [pp. 9-10.]
484]

8.2-6 [apud List, p. 484]


List faz a citação de Louis Say em um uma nota na página 484 (que
Marx mencionou linhas acima). “As palavras do próprio Louis Say
são as seguintes, p. 10: ,la richesse ne consiste pas /.../“ [p. 484].

8.9-12 Louis Say: „Études sur la richesse des nations et réfutacion des
principales erreurs en économie politique, Paris, 1836. Ver: MEGA,
IV/3, Caderno I.

174
8.11 receita [revenue] ] sublinhado por Marx

8.15 (Revenu) ] termo original


Aparentemente, Marx misturou a palavra francesa revenu com a
grafia do substantivo alemão Revenue (sinônimo de Einkommen),
traduzidos aqui por receita ou rendimento; pois é necessário

distinguir entre esses termos e Rente, que se traduz por renda no


sentido da relação de “renda da terra”, que é o tema em discussão.
Igualmente distinto de Rente, porém não completamente
identificado com os dois primeiros, está Ertrag, traduzido aqui por

produto ou rendimento.

8.23 capacidade de produção ] em List: capacidade produtiva

8.29 traço horizontal no manuscrito


Essa marca não foi reproduzida ou mencionada na primeira edição.
O traço indica que as citações acima e abaixo foram colocadas para
comparação assim como as citações anteriormente justapostas em
colunas, forma de exposição característica desse subtítulo 3) da
parte I. As mesmas citações de List e de Ricardo são
reapresentadas por Marx mais adiante no texto, porém, não por
acaso, desta vez em colunas (26.1-40).

9.14 pois ela prova ]


i. é., segundo a concepção adulterada por List – como evidenciam
os acréscimos de referência de página do livro de List. Em
contraposição a essa concepção, apresentada ironicamente, Marx,
da sua parte, define o grande significado histórico da teoria

175
ricardiana da renda: A teoria de Ricardo da renda fundiária não é
nada mais que a expressão econômica de uma luta de vida e morte do
burguês industrial contra o proprietário fundiário. (9.19-20)

10.6 inventivo. ] em List: inventivo! !

10.44 1838 ] H: 1836

12.1 5) Limitamos nossa crítica, portanto, à parte teórica do livro listiano


e, mais precisamente, apenas aos seus achados principais.
Seguindo-se ao subtítulo [I]4) acima (11.12), trata-se aqui da
abertura de um novo subtítulo da parte I, composto, por sua vez, de
sete sub-itens numerados. O realce na limitação “à parte teórica do
livro listiano” evoca o plano de uma publicação conjunta em que
Engels ocupar-se-ia com as consequências práticas.

12.19 público ] no original: Publici

15.27 sacrificar forças materiais ] em List: sacrificar e dispensar bens


materiais

15.30 de forças produtivas ] em List: de uma força produtiva

16.4 se forma ] em List: se forma e se move

16.4 artes e ciência ] em List: ciência e artes

16.26 barganhar [Verschachern] ] termo de difícil tradução

176
O lexema em questão tem alta frequência no trecho a seguir; além
da forma de verbo substantivado, desdobra -se em dois
substantivos e um verbo:
barganhamento [Verschacherung] 16.26, 18.17, 18.28, 18.28, 21.18
barganha [Schacher] 18.4, 18.5, 18.6, 18.15, 18.22, 19.7, 19.30, 20.1,
20.7, 21.5, 21.17
barganhar [verschachern] 18.5
O substantivo Schacher tem origem hebraica [sákar], disseminado
por todo o antigo testamento com significado de retribuição,
recompensa, paga, “salário”, ganho, “lucro”. “Extrair de todos os
lados negociando” [handelnd umherziehen] é, no entanto, o que
quer dizer o verbo; schachern é, portanto, o significado mais
extremo, intensivo e agressivo de handeln (negociar; pechinchar). O
termo remete ao contexto do pequeno comércio de trocas ou
compras, especialmente no comércio ambulante judeu; depois, em
qualquer tipo ganho ganancioso. Abrange desde o espectro de
significado de uma hábil transação até a fraude no sentido de
aumentar o ganho. Optamos, assim, por “barganhar,” que significa
tanto trocar, permutar, quanto a tentativa insistente de baixar o
preço. A tradução por “tráfico” não nos parece boa em razão do
sentido jurídico, e “regateio” parece-nos muito restrito ao lado da
procura, enquanto “barganhar” reflete a transação comercial de
modo mais geral.

16.20 pode-se [kann man] ] H: muß man

17.19 maioria [Majorität] ] Em todo este trecho do texto, trata-se do


sentido: a maior parte de população de uma nação: (17.14, 17.17,
17.19, 17.30, 18.5)
O termo de origem francesa e relatinizado foi introduzido no

177
vocabulário parlamentar no século XVIII com o mesmo significado
de [Stimmen]mehrheit (Duden, Bd. 7, Etymologie). O problema é
que no texto o termo aparece associado ao plural “das nações”,
causando ambiguidade ao traduzir para o português, motivo pelo
qual optamos por acrescentar a especificação “maioria [no interior]
das nações”.

19.25 acabadas [verarbeiten] ] o verbo tem o sentido de processar uma


matéria prima, resultando em um produto, algo que está pronto.

20.3 o a ser desenvolvido [zu Entwickelnden] ] termo de difícil tradução


Adjetivo substantivado, previamente formado a partir do verbo no
tempo Partizip I.

21.21 ele ] difícil leitura no manuscrito

22.12 ela não precisa fazer digressões sobre a força manufatureira ]


Referência provavelmente em oposição ao procedimento de List,
veja-se o título dos capítulos 17 a 26 de seu livro.

23.16 Píndaro inglês do sistema manufatureiro, o senhor Ure ]


Em O Capital, Marx qualificará Ure de “Píndaro da fábrica
automática” (II/5, 493). Igualmente, Marx nomeia De Pinto como
“Píndaro da bolsa de Amsterdã” (II/5, 106). Na introdução ao
volume IV/3 da MEGA (que contém os cadernos de Bruxelas de
1845) comentando os excertos que Marx faz de Ure (caderno V), os
editores citam a qualificação acima, sem porém indicar que a
mesma designação de Píndaro para Ure aparecera também no
manuscrito bruxelense de 1845; a omissão dessa informação é
tanto mais estranha visto que citações de Ure presentes no caderno

178
5, destacadas na introdução dos editores, foram utilizada por Marx
no manuscrito bruxelense. As citações que Marx faz de Ure logo
abaixo seguem o mesmo padrão: em francês nos cadernos (neste
caso já uma tradução do inglês) e traduzidas por Marx para o
alemão no manuscrito.

23.17-20 ver: MEGA, IV/3, 350

23.21-25 ver: MEGA, IV/3, 349

23.23 mecânico ] grifado por Marx

25.14 sem qualquer proveito \


no maior prejuízo

26.9 capacidade produtiva natural ] grifado por Marx

26.29 improdutivas ] grifado por Marx

26.37 melhoramentos ] grifado por Marx

28.13-14 apesar da completa exploração do salário dos camponeses \


“ “ “ compressão total ou maior possível do salário

31.1 IV O senhor List e Ferrier


Neste trecho, que se estrutura basicamente como uma seleção de
citações significativas de Ferrier agrupadas tematicamente,
indicaremos a correspondência com as citações nos cadernos de

179
Bruxelas (Caderno III; ver nota 5.33 acima), que apresenta o título
Ferrier. F.L.A. sous-inspecteur des douanes: du gouvernement /.../.
(MEGA IV/3, pp. 210-217)

31.18-19 ver: MEGA IV/3, 215

31.20-23 ver: MEGA IV/3, 216.1-4

31.24-26 ver: MEGA IV/3, 216.9-12

31.29-30 ver: MEGA IV/3, 215

32.2-5 ver: MEGA IV/3, 210.20-211.2

32.2 (Garnier) ] complemento de Marx

32.4-7 ver: MEGA IV/3, 211.11-19

32.7-10 ver: MEGA IV/3, 212.16-20

32.10-14 ver: MEGA IV/3, 211.6-10

32.25-33.1 ver: MEGA IV/3, 217.11-16

32.27 ver MEGA IV/3, 218.3-5


No trecho em questão, Marx emprega Veräußerung para traduzir o
termo aliénation do excerto em francês.

32.30-33.2 ver: MEGA IV/3, 212.22-24

180
33.3-6 ver: MEGA IV/3, 213.7-11

33.7 ver: MEGA IV/3, 216.22.23

33.8-11 ver: MEGA IV/3, 213.18-22

33.11 éclat ] resplendor

33.12-14 ver: MEGA IV/3, 216.17-21

33.12 reprodução ] grifado por Marx

33.15-18 ver: MEGA IV/3, 215

33.18-19 ver: MEGA IV/3, 215

33.21-24 ver: MEGA IV/3, 216.4-9

33.25 26 ver: MEGA IV/3, 213.36-38

181
Karl Marx

5 [Brüsseler Manuskript über List aus dem Jahr 1845]*

10 [Teil I]

[…] |2| daß das Bewusstsein von dem Tod des Bürgertums selbst schon in das
Bewußtsein des deutschen Bourgeois gedrungen ist, so ist der deutsche Bourgeois naiv
15 genug, diese „Traurigkeit“ selbst zu gestehn. „Darum ist es auch so traurig, wenn man
die Übel, womit in unsern Tagen die Industrie begleitet ist, als Motiv geltend machen
will, die Industrie selbst von sich abzuweisen. Es gibt weit größere Uebel, als einen
Stand von Proletariern; leere Schatzkammern – National-Unmacht – National-
Knechtschaft – Nationaltod“ p. LXVII. Es ist wahrhaft traurig, daß das Proletariat schon
20 da ist und schon Ansprüche macht und schon Furcht einflößt, eh der deutsche Bürger
noch zur Industrie gelangt ist. Was den Proletarier selbst betrifft, so wird er gewiß
seinen Stand fröhlich finden, wenn die herrschende Bourgeoisie volle Schatzkammern
und Nationalmacht hat. Herr List sagt nur, was für die Bourgeoisie trauriger ist. Und
wir gestehn, daß es sehr traurig für ihn ist, daß er grade in dem ungeeigneten
25 Augenblick die Industrieherrschaft aufbringen will, wo die durch sie erzeugte
Knechtschaft der Mehrzahl ein allgemein bekanntes factum geworden ist. Der deutsche
Bourgeois ist der Ritter von der traurigen Gestalt, der grade die irrende Ritterschaft
einführen wollte, als die Polizei und das Geld aufkamen.
3) Eine große Ungelegenheit \ Hindernis, worin der deutsche Bourgeois bei seinem
30 Streben nach industriellem Reichtum sich befindet, ist sein bisheriger Idealismus. Wie
kommt dieses Volk des „Geistes“ auf einmal dazu, in Calicot, Strickgarn, self-acting
mule dem Materialismus der Maschinerie, in einem Haufen von Fabriksklaven, in den

*Transkription und editorische Bearbeitung nach der ersten deutschen Edition (BzG, 1972, Berlin-Ost):
Diego Baptista, 2013.

1 183
gefüllten Säckeln der Herren Fabrikanten die höchsten Güter der Menschheit zu finden?
Der hohle, windige, sentimentale Idealismus des deutschen Bürgers, hinter dem der
kleinlichste, schmutzigste Krämergeist verborgen liegt, die feigste Seele sich versteckt,
ist zur Epoche gekommen, wo er notwendig sein Geheimnis verraten muß. Aber er
5 verrät es wieder in echt deutscher, überschwänglicher Weise. Er verrät es mit
idealistischchristlicher Scham. Er verleugnet den Reichtum, indem er ihn erstrebt. Er
verkleidet sich ganz idealistisch den geistlosen Materialismus, und dann erst wagt er,
nach ihm zu haschen. Der ganze [x x x] theoretische Teil des Listschen Systems ist
nichts als eine Verkleidung des industriellen Materialismus der aufrichtigen Ökonomie
10 in ideale Phrasen. Die Sache läßt er überall bestehn, aber den Ausdruck idealisiert er.
Wir werden dies im einzelnen verfolgen. Eben diese hohle idealistische Phraseologie
gibt ihm darum auch die Fähigkeit, die realen Schranken, die sich seinen frommen
Wünschen entgegensetzen, zu verkennen und sich den albernsten Phantasien
hinzugeben. (Was wäre aus der englischen und französischen Bourgeoisie geworden,
15 wenn sie erst einen hohen Adel, eine wohllöbliche Bürokratie und die angestammten
Herrscherhäuser um Erlaubnis gesucht hätte, die „Industrie“ mit „Gesetzeskraft“
einzuführen?)
Der deutsche Bürger ist selbst religiös, wo er industriell ist. Er scheut sich, von
schlechten Tauschwerten, nach denen er lungert, zu sprechen und spricht von
20 Produktivkräften, er scheut sich, von Konkurrenz zu sprechen, und spricht von einer
nationalen Konföderation der nationalen Produktivkräfte, er scheut sich, von seinem
Privatinteresse zu sprechen, und spricht vom Nationalinteresse. Wenn man den
offenherzigen, klassischen Zynismus betrachtet, womit die englische und französische
Bourgeoisie in ihren ersten, wenigstens im Beginn ihrer Herrschaft wissenschaftlichen
25 Wortführern der Nationalökonomie den Reichtum zu Gott erhob und ihn, diesem
Moloch, rücksichtslos alles, auch in der Wissenschaft, opferte, und wenn man dagegen
die idealisierende, phrasenklaubende, bombastische Weise des Herrn List betrachtet, der
mitten in der Ökonomie den Reichtum der „gerechten Männer“ verachtet und höhre
Zwecke kennt, so muß man es „auch traurig“ finden, daß heutzutage kein Tag mehr ist
30 für den Reichtum.
Herr List spricht immer in Molossus-Versmaßen. Er bläht sich beständig zu einem

2 184
schwerfälligen und wortreichen Pathos auf, dessen Kern in steter Wiederholung die
Schutzzölle und „teutsche“ Fabriken, [dessen] trübes Gewässer stets in letzter Instanz
auf die Sandbank treibt. Er ist beständig sinnlich-übersinnlich.
Der deutsche idealisierende Philister, der reich werden will, muß sich natürlich
5 vorher erst eine neue Theorie des Reichtums schaffen, die letztem würdig macht, von
ihm erstrebt zu werden. Die Bürger in Frankreich und England sehn das Ungewitter
herannahen, das das wirkliche Leben dessen, was man bisher Reichtum nannte,
praktisch vernichten wird, und der deutsche Bürger, der noch nicht zu diesem
schlechtern Reichtum gekommen ist, versucht eine neue „spiritualistische“
10 Interpretation desselben. Er schafft sich eine „idealisierende“ Oekonomie, die nichts
gemein hat mit der profanen französischen und englischen Oekonomie, um sich vor sich
und der Welt zu rechtfertigen, daß er auch reich werden will. Der deutsche Bürger
beginnt seine Schaffung des Reichtums mit der Schöpfung einer überschwänglichen,
heuchlerisch-idealisierenden Nationalökonomie.
15
3) Wie Herr List die Geschichte Interpretiert und sich zu Smith und seiner Schule
verhält.
So submissest Herr List gegen Adel, angestammte Herrscherhäuser, Bürokratie ist, so
„frech“ tritt er gegen die französische und englische Oekonomie auf, die das Geheimnis
20 des „Reichtums“ zynisch verraten hat und alle Illusionen über seine Natur, Tendenz und
Bewegung unmöglich gemacht hat, deren Reihenführer Smith ist. Herr List faßt sie alle
unter dem Namen „die Schule“ zusammen. Da es sich nämlich dem deutschen Bürger
um Schutzzölle handelt, so hat ihm die ganze Entwicklung der Oekonomie seit Smith
natürlich keinen Sinn, weil die hervorstechendsten Vertreter derselben alle die jetzige
25 bürgerliche Gesellschaft der Konkurrenz und Handelsfreiheit zur Voraussetzung haben.
Der deutsche Philister zeigt hier in vielfacher Weise seinen „nationalen“ Charakter.
1) Er sieht in der ganzen Oekonomie nichts als Systeme, die auf den Studierstuben
ausgeheckt sind. Daß die Entwicklung einer Wissenschaft wie die der Oekonomie mit
der wirklichen Bewegung der Gesellschaft zusammenhängt oder nur ihr theoretischer||3|
30 Ausdruck ist, ahnt Herr List natürlich nicht. Deutscher Theoretiker.
2) Weil seine eigne Schrift \ Theorie einen geheimen Zweck verbirgt, ahnt er überall

3 185
geheime Zwecke.
Als echt deutscher Philister sucht Herr List, statt die wirkliche Geschichte zu
studieren, nach den geheimen schlechten Zwecken der Individuen und weiß sich viel
mit seiner Pfiffigkeit, diese herauszufinden \ herauszugrübeln. Er macht große
5 Entdeckungen in der Art, daß Adam Smith mit seiner Theorie die Welt täuschen wollte
und daß die übrige Welt sich von ihm täuschen ließ, bis der große Herr List sie aus
ihrem Traum erlöste, etwa in der Art, wie ein Düsseldorfer Gerichtsrat die römische
Geschichte für eine Erfindung der mittelalterlichen Mönche ausgab, um die Herrschaft
Roms zu begründen.
10 Wie aber der deutsche Bürger überhaupt seinem Feinde nicht besser
entgegenzutreten weiβ, als indem er ihm einen moralischen Makel anheftet, seine
Gesinnung verdächtigt, nach schlechten Motiven für seine Handlung sucht, kurz, indem
er ihn in üble Nachrede bringt und persönlich verdächtigt, so verdächtigt Herr List die
englischen und französischen Oekonomen, erzählt Klatschgeschichten von ihnen, und
15 wie der deutsche Philister im Handel nicht das kleinste Profitchen und Eskamotage
verschmäht, so verschmäht es Herr List nicht, Worte aus Zitaten zu eskamotieren, um
sie profitlich zu machen, seinen eignen schlechten Fabrikaten das Etikett seiner Gegner
aufzukleben, um sie in Verruf zu bringen, indem er sie verfälscht, oder gar entschiedne
Lügen zu ersinnen, um seinen Konkurrenten um den Kredit zu bringen.
20 Wir geben einige Proben von der Verfahrungsweise des Herrn List.
Man weiß, daß die deutschen Pfaffen der Aufklärung keinen gründlichem Todesstoß
versetzen zu können glaubten, als indem sie uns alberne Anekdote und Lüge erzählen,
Voltaire habe auf seinem Todesbette seine Lehre aufgegeben. Auch Herr List führt uns
an Smiths Totenbett und berichtet uns, es habe sich da gezeigt, daß er es nicht aufrichtig
25 gemeint mit seiner Lehre. Doch man höre Herrn List selbst und sein weiteres Urteil über
Smith. Wir setzen neben ihn die Quelle seiner Weisheit.

4 186
List 30 Ferrier, F.L.A. „Du gouvernement
„In Erinnerung gebracht hatte considéré dans ses rapports avec le
ich aus Dugald Stewards commerce.“ Paris 1805.
Biographie, wie dieser große „Ist es möglich, daß Smith, indem er so
5 Geist nicht ruhig habe sterben viel falsche Räsonnements zugunsten der
können, bis alle seine 35 Handelsfreiheit aufhäufte, aufrichtig war?...
Manuskripte verbrannt gewesen, Smith hatte zum geheimen Zweck, in
womit ich [habe] zu verstehen Europa Prinzipien auszustreuen, wovon er
geben wollen, wie dringend der sehr wohl wußte, daß die Adoption seinem
10 Verdacht sei, dass diese Papiere Lande den Weltmarkt liefern würde.“ (p.
Beweise gegen seine 40 385, 386.)
Aufrichtigkeit enthielten. p. „Man ist selbst autorisiert zu glauben,
LVIII. Nachgewiesen hatte ich, daß Smith nicht immer dieselbe Doktrin
wie seine Theorie von den gelehrt hatte; und wie anders die Qualen
15 englischen Ministern benützt erklären, die ihn auf dem Totenbett die
worden sei, um andren Nationen 45 Furcht empfinden ließen, daß die
zum Vorteil Englands Sand in die Manuskripte seiner Vorlesungen ihn
Augen zu streuen.“ I.c. „Adam überleben würden.“ p. 386. Er wirft Smith
Smiths Lehre ist in Beziehung vor, Commissaire des douanes gewesen zu
20 auf die nationalen und sein. „Smith hat fast immer räsoniert wie die
internationalen Verhältnisse eine 50 Oekonomisten (Physiokraten), ohne
bloße Fortsetzung des Rücksicht zu nehmen auf die Trennung der
physiokratischen Systems. Gleich Interessen der verschiednen Nationen und in
diesem ignoriert sie die Natur der der Voraussetzung, wo in der Welt nur eine
25 Nationalitäten, und setzt sie den Gesellschaft existieren würde. Lassen wir
ewigen Frieden und die 55 alle diese Projekte der Union.“ p. 381, p. 15.
Universalunion als bestehend Herr Ferrier war inspecteur des douanes
voraus“. p. 475. unter Napoleon und liebte sein Handwerk.

J. B. Says Oekonomie wird als eine verunglückte Spekulation von Herrn List
60 begriffen. Wir werden sogleich sein vollständiges Urteil über Says Leben mitteilen.

5 187
Vorher noch ein Beispiel von der Art, wie er andre Schriftsteller abschreibt und im
Abschreiben verfälscht, um seine Gegner zu treffen.

List Graf Pecchio: „Geschichte der


5 politischen Ökonomie in Italien“ etc., Paris
„Say und MacCulloch scheinen 25 1830.
vom diesem Buche (des Antonio „Die Fremden suchten Serra des
Serra aus Neapel) nicht mehr als Verdienstes zu berauben, der erste Gründer
den Titel gesehen oder gelesen zu der Prinzipien dieser Wissenschaft (der
10 haben; beide werfen es vornehm politischen Ökonomie) gewesen zu sein.
auf [die] Seite mit der Bemerkung: 30 Was ich soeben sage, kann durchaus nicht
es handle nur vom Gelde, und auf Herrn Say appliziert \ bezogen werden,
schon der Titel beweise, daß der welcher, immer vorwerfend dem Serra, nur
Autor in dem Irrtum befangen die Materie von Gold und Silber als
15 gewesen, die edlen Metalle als Reichtümer betrachtet zu haben, ihm
alleinige Gegenstände des 35 nichtsdestoweniger den Ruhm zediert, der
Reichtums zu betrachten. Hätten erste gewesen zu sein, der connaître \
sie weiter gelesen“ etc. p. 456. kennen ließ die produktive Macht der
Industrie … Meine Klage adressiert sich an
20 Herrn MacCulloch … Wenn Herr
40 MacCulloch ein wenig mehr als den Titel
gelesen hätte[“] etc. p.76, 77.

Man sieht, wie Herr List den Pecchio, den er abschreibt, absichtlich verfälscht, um
Herrn Say in Verruf zu bringen. Nicht minder falsch sind die Lebensnotizen, die über
45 Say mitgeteilt werden.
Herr List sagt von ihm: „Erst Kaufmann, dann Fabrikant, dann verunglückter
Politiker, griff Say zur politischen Oekonomie, wie man zu einem neuen Unternehmen
greift, wenn das alte nicht mehr gehn will … Haß gegen das Kontinentalsystem, das
ihm seine Fabrik zerstört, und gegen dessen Urheber, der ihn aus dem Tribunat
50 verstoßen hatte, bestimmte ihn, die Partei der absoluten Handelsfreiheit zu ergreifen.“ p.
488, 489.

6 188
Also Say ergriff das System der Handelsfreiheit, weil seine Fabrik durch das
Kontinentalsystem ruiniert wurde! Aber wie, wenn er sein „Traité d'économie politique“
geschrieben hätte, ehe er eine Fabrik besaß? Say ergriff das System der Handelsfreiheit,
weil Napoleon ihn aus dem Tribunat verstieß. Aber wie, wenn er als Tribun das Buch
5 geschrieben hätte? Wie, wenn Say, der nach Herrn List ein verunglückter
Geschäftsmann war, der in der Literatur nur einen Betriebszweig erblickte, von früher
Jugend an eine Rolle in der französischen literarischen Welt gespielt?
Woher hat Herr List seine Neuigkeiten? Aus der dem „Cours Complet d'économie
politique“ vorgedruckten „Historischen Notiz über das Leben und Werke J. -B. Says“
10 von Charles Comte. Was berichtet diese Notiz? Diese enthält aber von allen seinen
Angaben das Gegenteil. Man höre: J.-B. Say wurde von seinem Vater, einem Kaufmann,
dem ||4| Handel bestimmt. Sein Hang zog ihn jedoch zur Literatur. Er publizierte 1789
eine Broschüre für Pressefreiheit. Er schreibt seit dem Beginn der Revolution mit am
„Courrier de Provence“, den Mirabeau publizierte. Er wurde ebenso beschäftigt in den
15 Büros des Ministers Claviere. Sein Hang „für die moralischen und politischen
Wissenschaften“ wie der Bankrott seines Vaters bestimmten ihn, den Handel ganz
aufzugeben und sich die Kultur der Wissenschaften zu seiner einzigen Beschäftigung zu
machen. 1794 wurde er Redacteur en chef der „Décade philosophique, littéraire et
politique“. Napoleon ernannte ihn 1799 zum Mitglied des Tribunats. Die Muße, die ihm
20 seine Funktion als Tribun ließ, benutze er, um den „Traité [d´economie] politique“
auszuarbeiten, den er 1803 publizierte. Er wurde aus dem Tribunat verstoßen, weil er zu
den wenigen gehörte, die Opposition zu machen wagten. Es wurde ihm ein lukrativer
Posten in den Finanzen angetragen, er lehnt ihn ab, obgleich chargé de six enfants et
n'ayant presque point de fortune …, er hätte die angebotnen Funktionen nicht erfüllen
25 können, ohne zur Exekution eines Systems zu konkurrieren, das er als funeste für
Frankreich beurteilt hatte. Er legte eine Baumwollspinnerei an etc.
Wenn der Makel, den Herr List hier dem Say anheftet, durch Verfälschung
entstanden ist, so ist es nicht minder das Lob, das er dem Bruder desselben, Louis Say,
erteilt. Um zu beweisen, daß Louis Say die listige Ansicht teilt, verfälscht er eine Stelle
30 desselben. Herr List sagt p. 484:
„Nach seiner (Louis Says) Meinung besteht der Reichtum der Nationen nicht in den

7 189
materiellen Gütern und in ihrem Tauschwert, sondern in der Fähigkeit, diese Güter
fortwährend zu produzieren[“]. Nach Herrn List sind folgendes die eignen Worte Louis
Says:

5 Der Louis Say des Herrn List. Der wirkliche Louis Say.
„La richesse ne consiste pas dans „Quoique la richesse ne consiste pas
les choses qui satisfont nos besoins ou dans les choses qui satisfont nos besoins
nos goûts, mais dans le pouvoir d'en 15 ou nos goûts, mais dans le revenu ou dans
jouir annuellement“. ,,Études sur la le pouvoir d'en jouir annuellement …“ [p.
10 riches se des nations“ p. 10. [List, 9-10]
485.]

[Louis] Say spricht also nicht von der Fähigkeit zu produzieren, sondern von der
20 Fähigkeit zu genießen, von der Fähigkeit, die das „Einkommen“ (Revenu) einer Nation
gibt; Aus dem Missverhältnis zwischen der anwachsenden Produktionskraft und der
Revenu einer Nation im allgemeinen und aller Klassen im besondern sind grade die
Herrn List feindseligsten Theorien wie z. B. die von Sismondie und Cherbuliez
hervorgegangen. Geben wir nun ein Beispiel von der Unwissenheit des Herrn List in
25 Beurteilung der Schule. Er sagt von Ricardo: List. Zu den Produktivkräften
„Überhaupt ist die Schule seit Adam Smith in ihren Forschungen nach der Natur der
Rente unglücklich gewesen. Ricardo und nach ihm Mill, MacCulloch und andere sind
der Meinung, die Rente werde für die den Grundstücken beiwohnende natürliche
Produktionfähigkeit bezahlt. Ersterer hat auf diese Ansicht ein ganzes System gegründet
30 … Da er [aber] nur die englischen Zustände vor Augen hatte, so verfiel er in die irrige
Ansicht, diese englischen Äcker und Wiesen, für deren angebliche natürliche
Ertragsfähigkeit gegenwärtig so schöne Renten bezahlt werden, seien zu jeder Zeit die
nämlichen Äcker und Wiesen gewesen.“ p. 360.
_______________________________________________
35
Ricardo sagt:
„Wenn das Mehr des Produkts, das die Grundrente bildet, ein Vorteil ist, so wäre zu

8 190
wünschen, daß alle Jahre die neu konstruierten Maschinen unproduktiver würden als die
alten; dies gäbe den produzierten Waren einen Mehrwert im ganzen Lande; man würde
allen eine Rente zahlen, welche die produktivsten Maschinen besitzen.“ „Die
Grundrente steigt um so schneller, je mehr die produktiven Kräfte der disponiblen
5 Ländereien sich vermindern. Der Reichtum des Landes wächst, wo man durch die
Verbesserungen in der Agrikultur ohne verhältnismäßige Vermehrung der Arbeit die
Produkte vermehren kann und wo folglich das Anwachsen der Grundrente sehr langsam
ist.“ p. 77 und 80-82. Ricardo. Von den Prinzipien der politischen Ökonomie etc., Paris
1835, T. I.
10 Nach Ricardos Lehre ist die Rente, weit entfernt, die Folge der dem Boden
beiwohnenden natürlichen Produktionsfähigkeit zu sein, vielmehr eine Folge der immer
größer werdenen Improduktivität des Bodens, Folge der Zivilisation und der
fortschreitenden Population. Solange der fruchtbarste Boden noch in unbegrenzter
Quantität zu Gebot steht, gibt es nach ihm noch keine [Rente]. Die Rente wird also
15 bestimmt durch das Verhältnis der Population zu den disponiblen Ländereien. Ricardos
Lehre, die der ganzen Anti-Cornlaw-League in England und der Antirent-Bewegung in
den nordamerikanischen Freistaaten zur theoretischen Basis dient, mußte von Herrn
List, vorausgesetzt, daß er sie mehr als vom Hörensagen kannte, schon deshalb
verfälscht werden, weil sie beweist, wie sehr „freie, mächtige und reiche Bürger“ [p.
20 LXVI] geneigt sind, „emsig“ an der „Grundrente“ zu arbeiten und ihnen [den
Grundeigentümern] den Honig vom Stock zuzuführen [p. LXIV]. Ricardos Lehre von
der Grundrente ist nichts als der ökonomische Ausdruck von einem Kampfe auf Leben
und Tod des industriellen Bürgers gegen den Grundeigentümer.
Herr List belehrt uns über Ricardo weiter dahin:
25 „Gegenwärtig ist die Tauschwertstheorie so sehr in Impotenz verfallen, … dass
Ricardo … sagen durfte: Die Gesetze zu bestimmen, nach welchen der Ertrag des Grund
und Bodens auf die Grundbesitzer, Pächter und Arbeiter verteilt werde, sei
Hauptaufgabe der [politischen] Ökonomie.“ p. 493. Die hierzu nötigen Bemerkungen
am geeigneten Platz zu machen. |
30

9 191
|5| Den Gipfel der Infamie erreicht Herr List in seiner Beurteilung Sismondis:

List. 20 Sismondi:
„Er (Sismondi) will z. B., „Nicht gegen die Maschinen, nicht gegen
5 daß dem Erfindungsgeist Zaum die Entdeckungen, nicht gegen die Zivilisation
und Gebiß angelegt werde.“ p. sind meine Einwürfe gerichtet, sie sind es
XXIX gegen die moderne Organisation der
25 Gesellschaft, Organisation, die zugleich den
Menschen der Arbeit jedes andern Eigentums,
10 als dessen seiner Arme, beraubt und ihm keine
Garantie gegen eine Konkurrenz gibt, deren
notwendiges Opfer er sein wird. Unterstellt
30 alle Menschen gleich teilnehmend unter sich
am Produkt der Arbeit, wozu sie konkurriert
15 haben, und jede Entdeckung in den Künsten
wird dann in allen möglichen Fällen eine
Wohltat für sie alle sein.“ Noveaux pricipes
35 d'économie politique. Paris 1827, t. II. [p.433].

Wenn Herr List die Smith und Say moralisch verdächtigt, so weiß er sich Herrn
Sismondis Theorie nur aus dessen leiblichen Gebrechen zu erklären. Er sagt:
„Herr von Sismondi sieht mit dem leiblichen Auge alles Rote schwarz, mit gleichem
40 Fehler scheint sein geistiger Blick in Sachen der politischen Ökonomie behaftet zu
sein.“ p. XXIX. Um die ganze Gemeinheit dieser Expektoration zu würdigen, muß man
den Ort kennen, woher Herr List seine Notiz genommen hat. Sismondi in seinem
„Etudes sur l'économie politique“ sagt, wo er von der Verwüstung der Campagna von
Rom spricht: „Die reichen Teinten der Campagna von Rom … entschwinden selbst
45 gänzlich unseren Augen, für welche der rote Strahl nicht existiert“. p. 8 (Brüsseler
Nachdruck 1838), Er erklärt es daraus, daß „der Reiz, der alle andern Reisenden zu
Rom verführt“, für ihn zerstört sei, und er „daher ein um so offeneres Auge für den

10 192
realen bejammernswerten Zustand der Einwohner der Campagna“ habe.
Wenn Herr von Sismondi nicht die himmelroten Teinten sah, die Herrn List die ganze
Industrie magisch beleuchten, so sah er dagegen den roten Hahn auf den Giebeln \
Dächern dieser Fabriken. Wir werden später Gelegenheit haben, Lists Urteil, daß des
5 „Herrn von Sismondi Schriften in Beziehung auf den internationalen Handel und die
Handelspolitik ohne allen Wert“ [p. XXIX] seien [, zu betrachten].
Erklärt Herr List Smiths System aus dessen persönlicher Ruhmsucht (p. 476) und
verstecktem englischem Krämergeist, Says System aus Rachsucht und als ein Geschäft,
so sinkt er bei Sismondi so weit, dessen System aus Gebrechen in Sismondis leiblicher
10 Konstitution zu erklären.

4) Die Originalität des Herrn List


Höchst charakteristisch ist es für Herrn List, daß er trotz aller Renommage keinen
einzigen Satz vorlegt, der nicht längst vor ihm nicht nur von Verteidigern des
15 Prohibitivsystems, sondern selbst von den Schriftstellern der von Herrn List erfundnen
„Schule“ – wenn Adam Smith der theoretische Ausgangspunkt für die
Nationalökonomie ist, so ist ihr wirklicher Ausgangspunkt, ihre wirkliche Schule die
„bürgerliche Gesellschaft“, deren verschiedne Entwicklungsphasen man genau in der
Ökonomie verfolgen kann – aufgestellt worden wäre. Nur die Illusionen und die
20 idealisierende Sprache \ Phrasen gehören Herrn List.
Wir halten es für wichtig, dies im einzelnen dem Leser nachzuweisen und müssen
seine Aufmerksamkeit für diese langweilige Arbeit in Anspruch nehmen. Er wird daraus
die Überzeugung schöpfen, daß der deutsche Bourgeois post festum kommt, daß es
ebenso unmöglich für ihn ist, die von den Engländern und Franzosen erschöpfte
25 Nationalökonomie weiterzuführen, als es für jene etwa wäre, noch der Bewegung der
Philosophie in Deutschland irgend etwas Neues beizubringen. Der deutsche Bürger
kann nur noch seine Illusionen und Phrasen zu der französischen und englischen
Wirklichkeit hinzubringen. So wenig es ihm aber möglich ist, der Nationalökonomie
eine neue Entwicklung zu geben, noch unmöglicher ist es ihm, die Industrie in der
30 Praxis, die bisherige fast erschöpfte Entwicklung auf den bisherigen Grundlagen der
Gesellschaft weiterzuführen.

11 193
5) Wir beschränken unsre Kritik also auf den theoretischen Teil des Listschen Buchs
und zwar auch nur auf seine Hauptentdeckungen.
Welche Hauptsätze hat Herr List zu beweisen? Fragen wir nach dem Zweck, den er
erreichen will.
5 1) Der Bourgeois will Schutzzölle vom Staat, um Staatsmacht und Reichtum an sich
zu reißen. Da er aber nicht, wie in England und Frankreich, den Staatswillen zu seiner
Disposition hat und ihn daher nicht willkürlich nach seinem Willen lenken kann,
sondern sich aufs Bitten legen muß, so muß er den Staat, dessen Tätigkeit \
Handlungsweise er nach seinen Interessen regeln will, er muß seine Forderung an den
10 Staat als eine Konzession darstellen, die er dem Staat macht, indem er Konzessionen von
ihm verlangt. Er läßt also dem Staat durch Herrn List beweisen, daß seine Theorie von
allen andern sich dadurch unterscheide, daß er dem Staat einen Eingriff und Reglung
der Industrie erlaube, daß er von seiner ökonomischen Einsicht die allerhöchste Ansicht
habe und ihn nur darum bitte, seiner Weisheit freien Lauf zu lassen, natürlich
15 vorbehaltlich, daß diese Weisheit sich darauf beschränke, „kräftige“ Schutzzölle zu
geben. Sein Verlangen, daß der Staat seinem Interesse gemäß handle, stellt er als
Anerkennung des Staats dar, daß der Staat das Recht habe, sich in die Welt der
bürgerlichen Gesellschaft einzumischen.
2) Der Bürger will reich werden, Geld machen; er muß sich aber zugleich mit dem
20 bisherigen Idealismus des deutschen Publici und seinem eignen Gewissen verständigen.
Er beweist also, daß er nicht den ungeistigen, materiellen Gütern nachjagt, sondern
einem geistigen Wesen, der unendlichen Produktivkraft, statt dem schlechten endlichen
Tauschwerte. Dies geistige Wesen führt allerdings den Umstand mit sich, daß der
„Bürger“ seine eignen Taschen bei dieser Gelegenheit mit weltlichen Tauschwerten
25 füllt|.
|6| 2) Da der Bürger nun hauptsächlich durch „Schutzzölle“ reich zu werden denkt,
und da die Schutzzölle ihn nur bereichern können, insofern nicht mehr die Engländer,
sondern der deutsche Bürger selbst seine Landsleute exploitiert, ja mehr exploitiert, als
sie von außen exploitiert worden sind, da die Schutzzölle ein Opfer von Seiten der
30 Konsumenten (meistens der Arbeiter, die durch Maschinen verdrängt werden sollen,
aller derer, die ein fixes Einkommen beziehn wie Beamte, die Grundrentner etc.) an

12 194
Tauschwerten verlangen, so muß der industrielle Bürger beweisen, daß er, weit entfernt
vom Haschen nach materiellen Gütern, nichts andres wolle, als das Opfern von
Tauschwerten, von materiellen Gütern für geistiges Wesen. Im Grunde handelt es sich
also nur um Selbstaufopferung, um Asketismus, um christliche Seelengröße. Es ist ein
5 reiner Zufall, daß A das Opfer bringt und B das Opfer in die Tasche steckt. Der deutsche
Bürger ist viel zu uneigennützig, um dabei an seinen Privatvorteil zu denken, der sich
zufällig mit dem Opfer verknüpft findet. Sollte es sich aber finden, daß eine Klasse,
deren Erlaubnis der deutsche Bürger zu seiner Emanzipation zu bedürfen meint, mit
jener geistigen Theorie nicht zusammen bestehn kann, so muß sie hier aufgegeben und
10 im Gegensatz zur Schule grade die Theorie der Tauschwerte geltend gemacht werden.
3) Da der ganze Wunsch des Bürgertums in nuce darauf hinausläuft, das Fabrikwesen
zu einer „englischen“ Blüte zu bringen und den Industrialismus zum Regulator der
Gesellschaft zu machen, d. h. die Desorganisation der Gesellschaft zu produzieren, so
muß der Bürger beweisen, daß es ihm nur um ein Harmonieren aller gesellschaftlichen
15 Produktion zu tun, um die gesellschaftliche Organisation zu tun ist. Den äußern Handel
beschränkt er durch Schutzzölle, der Ackerbau, behauptet er, erreiche rasch seine
höchste Blüte durch die Manufaktur. Die Organisation der Gesellschaft resümiert sich
also in den Fabriken. Sie sind die Organisatoren der Gesellschaft, und das Regime der
Konkurrenz, das sie aufbringen, ist die schönste Konföderation der Gesellschaft. Die
20 Organisation der Gesellschaft, die das Fabrikwesen schafft, ist die wahre Organisation
der Gesellschaft.
Gewiß hat das Bürgertum Recht, wenn es im allgemeinen seine Interessen als
identisch faßt, wie der Wolf als Wolf dasselbe \ identisches Interesse an seinen Mitwölfen
hat, so sehr es das Interesse des einen ist, daß er und nicht der andre über die Beute
25 herfalle.
6) Charakteristisch ist es endlich für Herrn Lists Theorie, wie für das ganze deutsche
Bürgertum, dass sie zur Verteidigung ihrer Exploitationswünsche überall genötigt ist, zu
„sozialistischen“ Phrasen ihre Zuflucht zu nehmen, also gewaltsam eine Täuschung
festzuhalten, die längst widerlegt ist. Wir werden stellenweise zeigen, daß Herrn Lists
30 Phrasen, wenn die Konsequenzen gezogen werden, kommunistisch sind. Wir sind gewiß
weit entfernt, einem Herrn List und seinem deutschen Bürgertum Kommunismus

13 195
vorzuwerfen, aber es bietet uns dies den neuen Beweis von der innren Schwäche, Lüge
und infamen Heuchelei des „gutmütigen“, „idealistischen“ Bürgers. Es bietet und dies
den Beweis, wie der Idealismus in seiner Praxis nichts andres als die gewissenlose und
gedankenlose Täuschung eines widerlichen Materialismus ist. Es ist dies endlich
5 charakteristisch, daß das deutsche Bürgertum mit der Lüge, womit das französische und
englische endet – nachdem es in die Stellung gekommen ist, sich apologetisieren, seine
Existenz entschuldigen zu müssen – beginnt.
7) Da Herr List die bisherige angeblich kosmopolitische Nationalökonomie von der
seinigen nationalen politischen unterscheidet, daß die eine auf den Tauschwerten, die
10 andre auf den produktiven Kräften beruht, so haben wir mit dieser Lehre zu beginnen.
Da ferner die Konföderation der produktiven Kräfte die Nation in ihrer Einheit
darstellen soll, so haben wir auch diese Lehre vor jener Unterscheidung zu betrachten.
Diese beiden Lehren bilden die reale Grundlage für die von der politischen Oekonomie
unterschiedne nationale Oekonomie. |
15

14 196
|7| II. Die Theorie der produktiven Kräfte und die Theorie der Tauschwerte

1) Die Lehre des Herrn List von den „produktiven Kräften“ beschränkt sich auf
folgende Hauptsätze:
5 a) „Die Ursachen des Reichtums sind etwas ganz andres als der Reichtum selbst“;
„Die Kraft, Reichtümer zu schaffen, ist unendlich wichtiger als der Reichtum selbst“.
[p. 201]
b) List ist weit entfernt, die Theorie der kosmopolitischen Ökonomie zu verwerfen,
nur ist er der Meinung, dass auch die politische Ökonomie wissenschaftlich auszubilden
10 sei. [vgl. p. 187]
c) „Was denn die Ursache der Arbeit“? – „Wodurch diese Köpfe und diese Arme und
Hände zur Produktion veranlasst, und wodurch diesen Anstrengungen Wirksamkeit
gegeben werde? Was kann es anders sein als der Geist, der die Individuen belebt, als die
gesellschaftliche Ordnung, welche ihre Tätigkeit befruchtet, als die Naturkräfte, deren
15 Benutzung ihnen zu Gebote stehen?“ [p. 205]
6) Smith „geriet auf den Abweg, die geistigen Kräfte aus den materiellen
Verhältnissen zu erklären“. [p. 207]
7) „Diejenige Wissenschaft, die da lehrt, wie die produktiven Kräfte geweckt und
gepflegt und wie sie unterdrückt oder vernichtet werden.“ [ebenda]
20 8) Beispiel zwischen den 2 Familienvätern, christliche Religion, Monogamie etc.
[vgl. p. 208-209]
9) ,,Man kann die Begriffe von Wert und Kapital, Profit, Arbeitslohn, Landrente
festsetzen, sie in ihre Bestandteile auflösen, darüber spekulieren, was auf ihr Steigen
und Fallen Einfluss haben könne usw., ohne dabei die politischen Verhältnisse der
25 Nationen zu berücksichtigen“ [p. 211]
Übergang nach
10) Manufakturen und Fabriken, Mütter und Kinder der bürgerlichen Freiheit [vgl. p.
212]

15 197
11) Theorie von den produktiven und unproduktiven Klassen. Erstere „produzieren
Tauschwerte, diese produzieren produktive Kräfte …“ [p. 215]
12) Der auswärtige Handel darf nicht allein nach der Theorie der Werte beurteilt
werden. [vgl. p. 216]
5 13) „Die Nation muß materielle Kräfte aufopfern, um geistige oder gesellschaftliche
Kräfte zu erwerben.“ [p. 216] Schutzzölle zur Aufbringung der Manufakturkraft. [vgl. p.
217]
14) „Wird daher durch die Schutzzölle ein Opfer an Werten gebracht, so wird
dasselbe durch die Erwerbung von Produktivkräften vergütet, die der Nation nicht allein
10 für die Zukunft eine unendlich größere Summe von materiellen Gütern, sondern auch
industrielle Independenz für den Fall des Krieges sichert.“ [p. 217]
15) „In allen diesen Beziehungen hängt jedoch das meiste von den Zuständen der
Gesellschaft ab, in welchem das Individuum sich gebildet, davon, ob Künste und
Wissenschaften blühen …“ p. 206.
15 2) Herr List ist so sehr in den ökonomischen Vorurteilen der alten Oekonomie
befangen – wir werden sehn, mehr als die andern Oekonomen der Schule befangen –,
daß „materielle Güter“ und „Tauschwerte“ ihm völlig zusammenfallen. Der Tauschwert
ist aber völlig unabhängig von der spezifischen Natur der „materiellen Güter“. Er ist
unabhängig von der Qualität, wie von der Quantität der materiellen Güter. Der
20 Tauschwert fällt, wenn die Quantität der materiellen Güter steigt, obgleich sie vor wie
nach dieselbe Beziehung zu den menschlichen Bedürfnissen haben. Der Tauschwert
hängt nicht mit der Qualität zusammen. Die nützlichsten Sachen, wie Wissen, sind ohne
Tauschwert. Herr List hätte also einsehn müssen, daß die Verwandlung der materiellen
Güter in Tauschwerte ein Werk der bestehnden gesellschaftlichen Ordnung, der
25 Gesellschaft des entwickelten Privateigentums ist. Die Aufhebung des Tauschwerts ist
die Aufhebung des Privateigentums und des Privaterwerbs. Herr List ist dagegen so
naiv zuzugestehn, daß man mit der Theorie der Tauschwerte „die Begriffe von Wert und
Kapital, Profit, Arbeitslohn, Landrente festsetzen, sie in ihre Bestandteile auflösen,

16 198
darüber spekulieren“ kann, „was [auf] ihr Steigen und Fallen Einfluß haben könne usw.,
ohne dabei die politischen Verhältnisse der Nationen zu berücksichtigen“. p. 211.
Also ohne Rücksicht auf die „Theorie der produktiven Kräfte“ und die „politischen
Verhältnisse der Nationen“ kann man dies alles „festsetzen“. Was setzt man damit fest?
5 Die Wirklichkeit. Was setzt man z. B. mit dem Arbeitslohn fest? Das Leben der
Arbeiter. Man setzt weiter damit fest, daß der Arbeiter der Sklave des Kapitals, daß er
eine „Ware“ ist, ein Tauschwert, dessen höherer oder niedrigerer Stand, Steigen oder
Fallen, von der Konkurrenz, von der Nachfrage und Zufuhr abhängt, man setzt damit
fest, daß seine Tätigkeit nicht eine freie Äußerung seines menschlichen Lebens, daß sie
10 vielmehr ein Verschachern seiner Kräfte, eine Verschacherung \ Veräußerung einseitiger
Fähigkeiten desselben an das Kapital, mit einem Wort, daß sie „Arbeit“ ist. Man
vergesse es nun. Die „Arbeit“ ist die lebendige Grundlage des Privateigentums, das
Privateigentum als die schöpferische Quelle seiner selbst. Das Privateigentum ist nichts
als die vergegenständlichte Arbeit. Nicht allein das Privateigentum als sachlichen
15 Zustand, das Privateigentum als Tätigkeit, als Arbeit, muß man angreifen, wenn man
ihm den Todesstoß versetzen will. Es ist eines der größten Missverständnisse, von freier,
menschlicher, gesellschaftlicher Arbeit, von Arbeit ohne Privateigentum zu sprechen.
Die „Arbeit“ ist ihrem Wesen nach die unfreie, unmenschliche, ungesellschaftliche, vom
Privateigentum bedingte und das Privateigentum schaffende Tätigkeit. Die Aufhebung
20 des Privateigentums wird also erst zu einer Wirklichkeit, wenn sie als Aufhebung der
„Arbeit“ gefaßt wird, eine Aufhebung, die natürlich erst durch die Arbeit selbst möglich
geworden ist, d. h. durch die materielle Tätigkeit der Gesellschaft möglich geworden,
und keineswegs als Vertauschung einer Kategorie mit einer andern zu fassen ist. Eine
„Organisation der Arbeit“ ist daher ein Widerspruch. Die beste Organisation, welche die
25 Arbeit erhalten kann, ist die jetzige Organisation, die freie Konkurrenz, die Auflösung
aller frühern scheinbar „gesellschaftlichen“ Organisationen derselben. –
Wenn also der Arbeitslohn nach der Theorie der Werte „festgesetzt“ werden kann,
wenn damit „festgesetzt“ wird, daß der Mensch selbst ein Tauschwert, daß die

17 199
unendliche Majorität der Nationen eine Ware ist, die man ohne Rücksicht auf die
„politischen Verhältnisse der Nationen“ bestimmen kann, was beweist dies andres, als
daß diese unendliche Majorität der Nationen keine Rücksicht auf die „politischen
Verhältnisse“ zu nehmen hat, daß diese eine reine Illusion für sie sind, daß eine Lehre,
5 die in der Wirklichkeit zu diesem schmutzigen Materialismus herabsteigt, die Majorität
der Nationen zur „Ware“, zum „Tauschwert“ zu machen und sie den ganz materiellen
Verhältnissen des Tauschwerts zu unterwerfen, eine infame Heuchelei und idealistische
Flause \ Beschönigung ist, wenn sie andern Nationen gegenüber verächtlich auf den
schlechten „Materialismus“ der „Tauschwerte“ herabsieht und es ihr angeblich nur um
10 die „produktiven Kräfte“ zu tun [ist]? Wenn ferner das Verhältnis von Kapital,
Grundrente etc., ohne die „politischen Verhältnisse“ der Nationen zu berücksichtigen,
„festgesetzt“ werden kann, was beweist dies andres, als daß der industrielle Kapitalist,
der Grundrentner durch den Profit, durch die Tauschwerte und nicht durch die
Rücksicht „auf die politischen Verhältnisse“ und „Produktivkräfte“ in ihren
15 Handlungen, in ihrem wirklichen Leben bestimmt werden und daß ihr Schwatzen von
Zivilisation und Produktivkräften nur eine Beschönigung borniert-egoistischer
Tendenzen ist?
Der Bourgeois sagt: Nach innen hin soll natürlich der Theorie der Tauschwerte kein
Abbruch getan werden, die Majorität der Nation soll ein bloßer „Tauschwert“, eine
20 „Ware“ bleiben, eine Ware, die sich selbst an den Mann bringen muss, die nicht verkauft
wird, sondern sich selbst verkauft. Euch Proletariern gegenüber und selbst unter uns
wechselseitig betrachten wir uns als Tauschwerte, gilt das Gesetz des allgemeinen
Schachers. Aber den andern Nationen gegenüber, da müssen wir dies Gesetz
unterbrechen. Wir können uns als Nation nicht an andre verschachern. Da nun die
25 Majorität der Nationen „ohne Rücksicht“ auf die „politischen Verhältnisse der
Nationen“ den Gesetzen des Schachers anheimgefallen ist, so hat jener Satz also keinen
andern Sinn als: wir deutschen Bourgeois wollen nicht von den englischen Bourgeois
exploitiert werden in der Weise, wie ihr deutschen Proletarier von uns exploitiert werdet

18 200
und wie wir uns wechselseitig untereinander exploitieren. Wir wollen nicht uns
denselben Gesetzen des Tauschwerts preisgeben, denen wir Euch preisgeben. Wir
wollen nach außen hin die ökonomischen Gesetze, die wir nach innen hin anerkennen,
nicht mehr anerkennen. |
5 |8| Was will also der deutsche Philister? Er will nach innen hin Bourgeois, Exploiteur
sein, aber er will nach außen hin nicht exploitiert werden. Er bläht sich nach außen hin
zur „Nation“ auf und sagt: ich unterwerfe mich nicht den Gesetzen der Konkurrenz, das
ist gegen meine nationale Würde, ich bin als Nation ein über den Schacher erhabnes
Wesen. –
10 Die Nationalität des Arbeiters ist nicht französisch, nicht englisch, nicht deutsch, sie
ist die Arbeit, das freie Sklaventum, die Selbstverschacherung. Seine Regierung ist nicht
französisch, nicht englisch, nicht deutsch, sie ist das Kapital. Seine heimatliche Luft ist
nicht die französische, nicht die deutsche, nicht die englische Luft, sie ist die Fabrikluft.
Der ihm gehörige Boden ist nicht der französische, nicht der englische, nicht der
15 deutsche Boden, er ist einige Fuß unter der Erde. –
Nach innen hin ist das Geld das Vaterland des Industriellen. Also der deutsche
Philister will, daß die Gesetze der Konkurrenz, des Tauschwerts, des Schachers ihre
Macht an den Schlagbäumen seines Landes verlieren? Er will die Macht der
bürgerlichen Gesellschaft nur so weit anerkennen, als es in seinem Interesse, im
20 Interesse seiner Klasse liegt? Er will einer Macht nicht zum Opfer fallen, der er andere
opfern will, und sich selbst innerhalb seines Landes opfert? Er will sich nach außen hin
als ein andres Wesen zeigen und behandelt werden, als er nach innen hin ist und selbst
handelt? Er will die Ursache bestehn lassen und eine ihrer Wirkungen aufheben? Wir
werden ihm beweisen, daß die Selbstverschacherung nach innen zu ihrer notwendigen
25 Konsequenz die Verschacherung nach außen hat, daß die Konkurrenz, die nach innen
hin seine Macht ist, nicht verhindern kann, nach außen hin seine Ohnmacht zu werden,
daß das Staatswesen, was er nach innen hin der bürgerlichen Gesellschaft unterwirft,
nach außen hin ihn nicht vor der Aktion der bürgerlichen Gesellschaft beschützen

19 201
kann. –
Der Bourgeois hat, so sehr der einzelne Bourgeois gegen die andern kämpft, als
Klasse ein gemeinschaftliches Interesse, und diese Gemeinschaftlichkeit, wie sie nach
innen hin gegen das Proletariat gekehrt ist, ist nach außen hin gegen die Bourgeois
5 andrer Nationen gekehrt. Das nennt der Bourgeois seine Nationalität. –
2) Es ist allerdings möglich, die Industrie unter einem ganz andern Gesichtspunkt zu
betrachten, als unter dem Gesichtspunkt des schmutzigen Schacherinteresses, worunter
sie nicht nur der einzelne Kaufmann, der einzelne Fabrikant, sondern die fabrizierenden
und handelnden Nationen heutzutage wechselseitig betrachten. Man kann sie betrachten
10 als die große Werkstätte, worin der Mensch sich selbst, seine eignen und die Naturkräfte
erst aneignet, sich vergegenständlicht, sich die Bedingungen zu einem menschlichen
Leben geschaffen hat. Wenn man sie so betrachtet, so abstrahiert man von den
Umständen, innerhalb deren heute die Industrie tätig ist, innerhalb deren sie als
Industrie existiert, man steht nicht in der industriellen Epoche, man steht über ihr, man
15 betrachtet sie nicht nach dem, was sie heute für den Menschen ist, sondern nach dem,
was der heutige Mensch für die Menschengeschichte, was er geschichtlich ist, man
erkennt nicht die Industrie als solche, ihre heutige Existenz an, man erkennt vielmehr in
ihr die ohne ihr Bewußtsein und wider ihren Willen in ihr liegende Macht an, die sie
vernichtet und die Grundlage für eine menschliche Existenz bildet. (Daß jedes Volk in
20 sich selbst diese Entwicklung durchmacht, wäre eine ebenso törichte Ansicht, als dass
jedes Volk die politische Entwicklung Frankreichs oder die philosophische Entwicklung
Deutschlands durchmachen müßte. Was die Nationen als Nationen getan haben, haben
sie für die menschliche Gesellschaft getan, ihr ganzer Wert besteht nur darin, daß eine
jede eine Hauptgesichtspunkt \ Hauptbestimmung, innerhalb deren die Menschheit ihre
25 Entwicklung durchgemacht, für die andern durchgemacht hat, und nachdem also die
Industrie in England, die Politik in Frankreich, die Philosophie in Deutschland
verarbeitet sind, sind sie für die Welt verarbeitet, und ihre weltgeschichtliche
Bedeutung, wie die der Nationen, hat damit aufgehört.)

20 202
Die Anerkennung ist dann zugleich die Erkenntnis, daß ihre Stunde gekommen ist,
abgeschafft zu werden oder die materiellen und gesellschaftlichen Bedingungen
aufzuheben, innerhalb deren die Menschheit als eine Sklave ihre Fähigkeiten entwickeln
mußte. Denn sobald man in der Industrie nicht mehr das Schacherinteresse, sondern die
5 Entwicklung des Menschen sieht, macht man den Menschen statt des
Schacherinteresses zum Prinzip und gibt dem, was in der Industrie nur im Widerspruch
mit ihr selbst sich entwickeln konnte, die Grundlage, die im Einklang mit dem zu
Entwickelnden steht.
Aber der Elende, der in dem heutigen Zustand stehn bleibt, der ihn nur zu einer Höhe
10 erheben will, die er in seinem eignen Lande noch nicht erreicht hat, und aus [ x x]
Neid auf eine andre Nation blickt, die ihn erreicht hat, hat dieser Elende das Recht, in
der Industrie etwas andres als das Schacherinteresse zu erblicken? Darf er sagen, es sei
ihm nur um die Entwicklung der menschlichen Fähigkeiten und die menschliche
Aneignung der Naturkräfte zu tun? Es ist dieselbe Niedertracht, als wenn der
15 Sklavenaufseher renommierte, die Peitsche auf seinen Sklaven zu schwingen, damit der
Sklave Vergnügen habe, seine Muskelkraft zu üben. Der deutsche Philister ist der
Sklavenaufseher, der die Peitsche der Schutzzölle schwingt, um seiner Nation den Geist
der „industriellen Erziehung“ zu geben und sie mit ihren Muskelkräften spielen zu
lehren.
20 Die saint-simonistische Schule hat uns ein lehrreiches Beispiel gegeben, wohin es
führt, wenn man die produktive Macht, welche die Industrie wider ihren Willen und
bewußtlos schafft, der heutigen Industrie zugut schreibt und beides verwechselt, die
Industrie und die Mächte, die die Industrie bewußtlos und willenlos ins Leben beruft,
die aber erst zu menschlichen Mächten, zur Macht des Menschen werden, sobald man
25 die Industrie abschafft. Es ist dieselbe Abgeschmacktheit, als wollte der Bourgeois sich
zugute schreiben, daß seine Industrie das Proletariat und im Proletariat die Macht einer
neuen Weltordnung schaffe. Die Naturmächte und sozialen Mächte, welche die Industrie
ins Leben ruft \ beschwört, stehn ganz in demselben Verhältnis zu ihr wie das

21 203
Proletariat. Heute noch sind sie seine Sklaven, in denen er nichts als Werkzeuge \ Träger
seiner schmutzigen \ eigennützigen Profithabsucht sieht, zerbrechen sie morgen ihre
Ketten und zeigen sich als Träger einer menschlichen Entwicklung, die ihn mit seiner
Industrie in die Luft sprengt, die nur die schmutzige Hülle angenommen hatte, die er für
5 ihr Wesen hielt, bis der menschliche Kern Macht genug gewonnen hatte, sie zu sprengen
und in seiner eignen Gestalt zu erscheinen; morgen zersprengen sie die Ketten, wodurch
er sie vom Menschen trennt und so aus einem wirklichen gesellschaftlichen Band in
Ketten der Gesellschaft karikiert \ verwandelt. –
Die saint-simonistische Schule feierte in Dithyramben die produktive Macht der
10 Industrie. Sie warf die Mächte, welche die Industrie ins Leben ruft, zusammen mit der
Industrie, d. h. den heutigen Lebensbedingungen dieser Mächte. Wir sind gewiß weit
entfernt, die Saint-Simonisten mit einem Menschen wie List oder dem deutschen
Philister auf eine Stufe zu stellen. Der erste Schritt, den industriellen Bann zu brechen,
war es, zu abstrahieren von den Bedingungen, von den Geldketten, in denen heute ihre
15 Mächte wirken, und sie für sich zu betrachten. Es war der erste Aufruf an die Menschen,
ihre Industrie vom Schacher zu emanzipieren und die heutige Industrie als eine
Durchgangsepoche zu begreifen. Die Saint-Simonisten blieben auch nicht bei dieser
Interpretation stehn. Sie gingen dazu fort, den Tauschwert, die Organisation der
heutigen Gesellschaft, das Privateigentum anzugreifen. Sie setzten die Assoziation an
20 die Stelle der Konkurrenz. Aber der ursprüngliche Irrtum rächte sich an ihnen. Nicht
nur, daß jene Verwechslung sie zu dem Wahn fortriß, in dem schmutzigen Bourgeois
einen Priester zu erblicken, so fielen sie ||9| nach den ersten äußern Kämpfen zurück in
die alte Wahn \ Verwechslung, aber nun, wo grade im Kampfe sich der Gegensatz der
beiden Mächte, die sie verwechselt hatten, offenbarte, heuchlerisch. Ihre Feier der
25 produktiven Kräfte der Industrie war zur Feier der Bourgeoisie geworden, und Herr
Michel Chevalier, Herr Duvergier, Herr Dunoyer haben sich selbst und ihn vor ganz
Europa an den Schandpfahl geheftet – wo noch die faulen Eier, die die Geschichte ihnen
in das Gesicht wirft, durch die Magie der Bourgeoisie sich in goldene Eier verwandeln –

22 204
indem der eine die alten Phrasen beibehalten hat, aber ihnen den Inhalt des heutigen
Bourgeoisregimes gegeben, der zweite selbst den Schacher im großen treibt und der
Verschacherung der französischen Journale präsidiert, der dritte aber ist der wütendste
Apologet des heutigen Zustandes geworden und übertrifft an Unmenschlichkeit \
5 Unverschämtheit alle frühern englischen und französischen Oekonomen. – Der deutsche
Bourgeois und Herr List beginnen, womit die saint-simonistische Schule aufgehört, mit
der Heuchelei, dem Betrug und den Phrasen.
3) Englands industrielle Tyrannei über die Welt ist die Herrschaft der Industrie über
die Welt. England beherrscht uns, weil die Industrie uns beherrscht. Wir können uns nur
10 nach außen hin von England befreien, wenn wir uns nach innen hin von der Industrie
befreien. Wir können seine Konkurrenzherrschaft nur töten, wenn wir innerhalb unserer
Pfähle die Konkurrenz überwinden. England ist mächtig über uns, weil wir die Industrie
zur Macht über uns gemacht haben.
Daß die industrielle Gesellschaftsordnung die beste Welt für den Bourgeois ist, die
15 geeignetste Ordnung, um seine „Fähigkeiten“ als Bourgeois zu entwickeln und die
Fähigkeit, die Menschen wie die Natur auszubeuten, wer wird diese Tautologie
bestreiten? Daß alles, was heutzutage „Tugend“ heißt, individuelle oder
gesellschaftliche Tugend, zum Profit des Bürgers ist, wer bestreitet es? Wer bestreitet,
daß die politische Macht ein Mittel seines Reichtums ist, dass selbst die Wissenschaft
20 und die geistigen Genüsse seine Sklaven sind! Wer bestreitet es? Daß für ihn alles
trefflich [x x] ist? Daß alles ihm zum Mittel des Reichtums, zu einer „Produktivkraft des
Reichtums“ geworden ist?
4) Die heutige Oekonomie geht von dem Gesellschaftszustand der Konkurrenz aus.
Die freie Arbeit, d. h. die indirekte, sich selbst feilbietende Sklaverei ist ihr Prinzip. Ihre
25 ersten Sätze sind die Teilung der Arbeit und die Maschine. Diese können aber nur zu
ihrer höchsten Entfaltung in den Fabriken gebracht werden, wie die heutige Oekonomie
selbst zugesteht. Die heutige Nationalökonomie geht also von den Fabriken als ihrem
schöpferischen Prinzip aus. Sie unterstellt die heutigen Gesellschaftszustände. Sie

23 205
braucht also keine Weitläufigkeiten über die Manufakturkraft zu machen.
Wenn die Schule der Theorie der produktiven Kräfte neben, getrennt von der Theorie
der Tauschwerte, keine „wissenschaftliche Ausbildung“ gegeben hat, so hat sie es getan,
weil eine solche Trennung eine willkürliche Abstraktion ist, weil sie unmöglich ist und
5 bei allgemeinen Phrasen stehnbleiben muß.
5) „Die Ursachen des Reichtums sind etwas ganz andres als der Reichtum selbst. Die
Kraft, Reichtümer zu schaffen, ist unendlich wichtiger als der Reichtum selbst.“ [p. 201]
Die produktive Kraft erscheint als ein unendlich erhabnes Wesen über den Tauschwert.
Die Kraft nimmt die Stelle des innern Wesens in Anspruch, der Tauschwert die der
10 vergänglichen Erscheinung. Die Kraft erscheint als unendlich, der Tauschwert als
endlich, jene als immateriell, dieser als materiell, und alle diese Gegensätze finden wir
bei Herrn List. In die materielle Welt der Tauschwerte tritt daher die übersinnliche Welt
der Kräfte. Wenn die Gemeinheit, daß eine Nation sich für Tauschwerte aufopfert, auf
der Hand liegt, das Menschenopfer für Sachen, so erscheinen dagegen Kräfte
15 selbständige geistige Wesen – Gespenster – zu sein und pure Personifikationen,
Gottheiten, und an das deutsche Volk darf man doch wohl die Forderung stellen, daß es
die schlechten Tauschwerte für Gespenster aufopfert? Ein Tauschwert, Geld, scheint
immer ein äußrer Zweck zu sein, aber produktive Kraft ein Zweck, der aus meiner
Natur selbst hervorgeht, ein Selbstzweck. Was ich also an Tauschwerten opfre, ist etwas
20 mir Äußerliches; was ich an Produktivkräften gewinne, ist meine Selbstgewinnung. –
So scheint es, wenn man sich mit dem Worte begnügt oder als idealisierender Deutscher
um die schmutzige Wirklichkeit, die hinter diesem hochtrabenden Worte liegt, sich nicht
bekümmert.
Um den mystischen Schimmer, der die „Produktivkraft“ verklärt, zu zerstören, hat
25 man nur die erste beste Statistik aufzuschlagen. Da wird von Wasserkraft, Dampfkraft,
Menschenkraft, Pferdekraft gesprochen. Das sind alles „produktive Kräfte“. Ist es eine
große Anerkennung des Menschen, daß er mit dem Pferd, dem Dampf, dem Wasser als
„Kraft“ figuriert? In dem jetzigen System, wenn ein krummer Rücken, eine Verrenkung

24 206
der Knochen, eine einseitige Ausbildung und Kraftgewinnung gewisser Muskeln etc.
dich arbeitsfähiger \ produktiver macht, so ist dein krummer Rücken, deine Verrenkung
der Glieder, deine einseitige Muskelbewegung eine produktive Kraft. Wenn deine
Geistlosigkeit produktiver ist als deine reiche Geistestätigkeit, so ist deine Geistlosigkeit
5 eine produktive Kraft etc. etc. Wenn ein monotones Geschäft dich fähiger für dasselbe
Geschäft macht, so ist die Monotonie eine produktive Kraft.
Ist es dem Bourgeois, dem Fabrikanten etwa darum zu tun, dass der Arbeiter alle
seine Fähigkeiten entwickle, sein Produktionsvermögen betätige, sich selbst menschlich
betätige und darum zugleich das Menschliche betätige?
10 Wir lassen darauf den englischen Pindar des Manufaktursystems, Herrn Ure,
antworten:
„Der beständige Zweck und die Tendenz jeder Vervollkommnung im Mechanismus
ist in Wirklichkeit, die Arbeit des Menschen gänzlich überflüssig zu machen oder ihren
Preis zu vermindern, indem sie die Industrie der Frauen und der Kinder der Industrie
15 des erwachsnen Arbeiters oder die Arbeit ungeschickter \ plumper Arbeiter der des
geschickten Künstlers substituiert.“ (Philosophie des manufactures etc. Paris 1836, T. I,
p. 34.) „Die Schwäche der menschlichen Natur ist so groß, daß der Arbeiter, je
geschickter er ist, er desto eigenwilliger und intraitabler wird und folglich minder
geeignet ist für ein mechanisches System … Der große Point des heutigen Fabrikanten
20 ist daher, durch Kombination der Wissenschaft mit seinen Kapitalien die Aufgabe seiner
Arbeiter darauf zu reduzieren, ihre Aufsicht auszuüben etc.“ l. c., t. I., p. 30

Kraft, produktive Kraft, Ursachen

25 „Die Ursachen des Reichtums sind etwas ganz anderes als der Reichtum selbst.“
[List, p. 201.] Aber wenn die Wirkung von der Ursache verschieden ist, muß nicht der
Charakter der Wirkung schon inklusive in der Ursache enthalten sein? Schon die
Ursache muß die Bestimmung tragen, welche die Wirkung später zeigt. Die Philosophie
des Herrn List geht so weit zu wissen, daß Ursache und Wirkung „etwas ganz andres“

25 207
sind. Eine schöne Anerkennung des Menschen, die ihn zu einer „Kraft“, Reichtum zu
schaffen, herabsetzen [will]. Der Bürger sieht in dem Proletarier nicht den Menschen,
sondern die Kraft, Reichtum zu schaffen, eine Kraft, die er dann auch vergleichen kann
mit andern Produktivkräften, dem Tier, der Maschine, und je nachdem die Vergleichung
5 ihm ungünstig ist, wird die löst, deren Träger ein Mensch ist, der Kraft Platz machen
müssen, deren Träger ein Tier oder eine Maschine ist, wobei er dann immer die Ehre
besitzt \ genießt, als „Produktivkraft“ zu figurieren.
Wenn ich den Menschen als „Tauschwert“ bezeichne, so liegt schon im Ausdruck,
daß die gesellschaftlichen Zustände ihn in eine „Sache“ verwandelt haben. Behandle ich
10 ihn [als] „Produktivkraft“, so setze ich an die Stelle des wirklichen Subjekts ein andres
Subjekt, ich schiebe ihm eine andre Person unter, er existiert nur mehr als Ursache des
Reichtums.
Die ganze menschliche Gesellschaft wird nur zur Maschine, um Reichtum zu
schaffen. Die Ursache ist in keiner Weise erhabner als die Wirkung. Die Wirkung ist nur
15 die offen ausgesprochne Ursache.
List macht, als sei es ihm überall um die Produktivkräfte ihrer selbst wegen,
abgesehn von den schlechten Tauschwerten, zu tun.
Einen Aufschluß über das Wesen der heutigen „Produktivkräfte“ erhalten wir schon
dadurch, daß in dem heutigen Zustand die Produktivkraft nicht nur darin besteht, etwa
20 die Arbeit des Menschen wirksamer oder die Naturkräfte und sozialen Kräfte
erfolgreicher zu machen, sie besteht ebensosehr darin, die Arbeit wohlfeiler oder
unproduktiver für den Arbeiter zu machen. Die Produktivkraft ist also von vornherein
durch den Tauschwert bestimmt. Es ist ebenso sehr eine Erhöhung d. […]

25

26 208
[Teil III - Fragmente]

[…] |22| verschwindet die Grundrente. Diese höhern Getreidepreise müssen abgezogen
werden von den Profiten der Herren Industriellen – Ricardo ist so vernünftig zu
5 unterstellen, daß der Arbeitslohn nicht mehr gedrückt werden kann. Die also erfolgende
Verminderung der Profite und die Erhöhung des Arbeitslohns – indem der Arbeiter
immer eine gewisse Portion Getreide, es mag so teuer sein, wie es will, verzehren muß;
sein nomineller Arbeitslohn wächst daher mit dem Steigen des Getreidepreises, ohne
realiter zu wachsen, ja selbst wenn er realiter abnimmt – durch das Steigen der
10 Getreidepreise erhöht die Produktionskosten der Industriellen, erschwert ihnen
[da]durch die Akkumulation und die Konkurrenz, lähmt in einem Wort die
Produktivkraft des Landes. Der schlechte ,,Tauschwert“, der in der Grundrente ohne
allen Nutzen \ zum größten Schaden für die Produktivkraft des Landes in die Taschen
des Grundeigentums gespielt wird, muß also auf eine oder die andere Weise – freien
15 Getreidehandel, Verlegung aller Steuern auf die Grundrente, oder auch durch die
förmliche Aneignung der Grundrente, d. h. des Grundeigentums durch den Staat (diese
Konsequenz hat unter andren Mill, Hilditch, Cherbuliez gezogen) – dem allgemeinen
Besten geopfert werden.
Diese erschreckende Konsequenz der Manufaktur-Produktivkraft für das
20 Grundeigentum durfte Herr List natürlich dem deutschen Grundadel nicht mitteilen. Er
schimpft daher auf Ricardo, der so unangenehme Wahrheiten verraten hat, und legt ihm
die umgekehrte Ansicht in den Mund, die der Physiokraten, wonach die Grundrente
nichts als ein Beweis von der natürlichen Produktivkraft des Bodens ist, und verfälscht
ihn.
25

27 209
List 20 Ricardo
„Überhaupt ist die Schule seit A. „Wenn das Mehr des Produkts, das
Smith in ihren Forschungen nach der die Grundrente bildet, ein Vorteil ist, so
Natur der Rente unglücklich gewesen. wäre zu wünschen, daß alle Jahre die
5 Ricardo und nach ihm Mill, neu konstruierten Maschinen
MacCulloch und andere sind der 25 unproduktiver würden als die alten; dies
Meinung, die Rente [werde] für die den gäbe den produzierten Waren einen
Grundstücken beiwohnende natürliche Mehrwert im ganzen Lande; man würde
Produktivfähigkeit bezahlt. Ersterer hat allen eine Rente zahlen, welche die
10 auf diese Ansicht ein ganzes System produktivsten Maschinen besitzen.“
gegründet … Da er [aber] nur die 30 („Des principes de 1'économie
englischen Zustände vor Augen hatte, politique“ etc., Paris 1835, t. I, p. 77.)
so verfiel er in die irrige Ansicht, diese „Der Reichtum des Landes wächst,
englischen Äcker und Wiesen, für wo man durch Verbesserungen in der
15 deren angebliche natürliche Agrikultur ohne verhältnismäßige
Ertragsfähigkeit gegenwärtig so schöne 35 Vermehrung der Arbeit die Produkte
Renten bezahlt werden, seien zu jeder vermehren kann, wo also die
Zeit die nämlichen Äcker und Wiesen Grundrente nur allmählich zunimmt.“
gewesen“. (p. 360.) (ebenda, p. 81-82.)

40 Herr List wagt also einem hohen Adel gegenüber das Schattenspiel der
„Produktivkräfte“ nicht beizubehalten. Er will sie mit „Tauschwerten“ ködern und
begeifert daher die Sch[ule von] Ricardo, der die Grundrente weder aus dem Standpunkt
der Produktivkraft und diese weder vom Standpunkt des großen modernen
Fabrikwesens aus beurteilt.
45 Herr List ist so ein doppelter Lügner. Wir dürfen Herrn List indessen in diesem
Punkte kein Unrecht tun. In einer großen württembergischen Fabrik (wenn wir nicht
irren, Köchlin) ist der König der Württemberger selbst mit einer großen Summe
beteiligt. Namentlich in den württemberger und mehr oder minder auch in badischen
Fabriken hat sich der Grundadel bedeutend durch Aktien beteiligt. Hier ist also der Adel
50 nicht als Grundeigentümer, sondern als selbst Bourgeois und Fabrikant geldlich an der
„Manufakturkraft“ beteiligt und […]
28 210
[…] |24| [Produk]tivkräfte“ und die „Werkfortsetzung und Stetigkeit“ einer ganzen
Generation entsteht – der verkappte Kommunist List lehrt dies ebenfalls – also auch der
Generation und nicht den Herren Industriellen erbeigentümlich sei. (siehe z. B. Bray.)
Die hohe Grundrente in England ist den Eigentümern \ Landlords nur gesichert
5 worden durch den Ruin der Pächter und die Herabbringimg der Lohnbauern zu einer
irischen Misere (wahren Bettlern). Dies alles trotz der Korngesetze. Abgesehen davon,
dass selbst die Grundrentner oft genötigt waren, die Rente zu 1/3, zur Hälfte den
Pächtern zu erlassen. Seit 1815 sind 3 verschiedne Korngesetze passiert zur Hebung und
Ermutigung der Pächter. Es gab während dieser Periode 5 Parlamentskomitees,
10 niedergesetzt, um die Existenz des Agrikulturnotstandes zu beweisen und andre
Ursachen desselben zu untersuchen. Einerseits der fortlaufende Ruin von Pächtern trotz
der gänzlichen Exploitation der Lohnbauern \ völligen oder der möglichsten
Herabdrückung des Salairs, andrerseits der häufige Zwang der Grundbesitzer, auf einen
Teil der Rente zu verzichten, beweisen selbst, daß nicht einmal in England – allen
15 Manufakturen zum Trotz – große Grundrenten produziert worden sind. Denn man kann
es ökonomisch nicht als Grundrente betrachten, wenn ein Teil der Produktionskosten
durch Verträge und andre außerhalb der Oekonomie liegende Verhältnisse statt in die
Tasche des Pächters in die Tasche des Grundrentners gezogen ist.
Bebaute der Grundeigentümer selbst sein Land, so würde er sich wohl hüten, einen
20 Teil des gewöhnlichen Gewinns des Betriebskapitals unter der Rubrik „Grundrente“ zu
rangieren.
Von den Schriftstellern des 16ten, des 17ten und selbst der ersten zwei Dritteile [des]
18ten Jahrhunderts wird Englands Getreideausfuhr noch als seine Hauptreichtumsquelle
betrachtet. Die alte englische Industrie – deren Hauptzweig die Schafwollindustrie
25 bildete, deren minder wichtige Zweige die hauptsächlich von ihm selbst gelieferten
Materialien bearbeiteten –, war durchaus der Agrikultur untergeordnet. Ihr
Hauptrohstoff war englisches Agrikulturprodukt. Daß sie also die Agrikultur beförderte,
versteht sich von selbst. Später, als das eigentliche Fabrikwesen aufkam, wurde auch
schon in kurzer Zeit die Notwendigkeit von Kornzöllen gefühlt. Sie blieben aber
30 nominell. Die rasche Vermehrung der Bevölkerung, vieler fruchtbarer Boden, der noch
urbar zu machen war, die Erfindungen hoben natürlich zunächst auch die Agrikultur. Es
29 211
kam ihr namentlich zustatten der Krieg gegen Napoleon, der ein förmliches
Prohibitivsystem für sie bildete. 1815 aber zeigte sich, wie wenig die „Produktivkraft“
der Agrikultur wirklich gestiegen war. Ein allgemeiner Schrei erhob sich unter
Grundbesitzern und Pächtern, und die jetzigen Korngesetze wurden gegeben. Es liegt in
5 dem Wesen der modernen Fabrikindustrie, erstens die Industrie dem einheimischen
Boden zu entfremden, indem sie hauptsächlich ausländische Rohstoffe bearbeitet und
auf dem auswärtigen Handel beruht. Es liegt in ihrem Wesen, die Bevölkerung
zuwachsen zu machen in einem Verhältnis, dem unter dem Privateigentum die
Exploitation des Bodens nicht entspricht. Es liegt ferner in ihrem Wesen, wenn sie die
10 Korngesetze erzeugt, wie sie es bisher in Europa immer getan hat, durch die hohe Rente
und den fabrikmäßigen Betrieb des Grundeigentums die Bauern in die allerelendsten
Proletarier zu verwandeln. Gelingt es ihr dagegen, die Korngesetze zu verhindern, so
setzt sie eine Masse Bodens außer Bebauung, unterwirft die Getreidepreise äußern
Zufällen und entäußert das Land völlig, indem sie seine notwendigsten Lebensmittel
15 von dem Handel abhängig macht, und löst das Grundeigentum als eine selbständige
Eigentumsquelle auf. Letzteres ist der Zweck der Anti-Corn-Law-League in England
und der Antirent-Bewegung in Nordamerika, denn die Grundrente ist der ökonomische
Ausdruck des Grundeigentums. Die Tories machen daher beständig auf die Gefahr
aufmerksam, England für seine Lebensmittel z. B. von Rußland abhängig zu machen.
20 Die große Fabrikindustrie – natürlich ganze Länder, die ungeheuer viel Land noch
urbar zu machen haben, wie Nordamerika, und die Schutzzölle vermehren doch nicht
gar etwa den Umfang des Bodens, zählen hier nicht – hat durchaus die Tendenz, die
Produktivkraft des Grund und Bodens, sobald dessen Exploitation eine gewisse Stufe
erreicht hat, zu lähmen, wie anderseits der fabrikmäßige Betrieb des Ackerbaus die
25 Tendenz hat, die Menschen zu verdrängen und alles – natürlich innerhalb gewisser
Grenzen – in Weideland zu verwandeln, so daß an die Stelle des Menschen das Vieh
tritt.
Ricardos Lehre von der Grundrente reduziert sich in wenigen Worten dahin: Die
Grundrente trägt nichts zur Produktivität des Bodens bei. Ihr Steigen ist im Gegenteil
30 der Beweis, daß die Produktivkraft des Bodens fällt. Sie wird bestimmt nämlich durch
das Verhältnis der exploitierbaren Ländereien zur Bevölkerung und zum
30 212
Zivilisationsstand überhaupt. Der Getreideprei wird bestimmt durch die
Produktionskosten des unfruchtbarsten Bodens, dessen Bebauung \ Kultivierung das
Bedürfnis der Bevölkerung erheischt. Muß man zu Boden von geringerer Qualität seine
Zuflucht nehmen, oder müssen Portionen des Kapitals mit minderem Ertrag auf
5 dasselbe Grundstück verwandt werden, so verkauft der Grundeigentümer des
unergiebigerern Bodens sein Produkt so teuer, wie der Bebauter des schlechtesten
Bodens. Er steckt die Differenz zwischen den Produktionskosten des letztern Bodens
und des fruchtbarern in seine Tasche. Je unergiebigerer Boden also in Kultur gesetzt
wird, oder je unergiebiger \ unproduktiver zweite, dritte Portionen des Kapitals auf
10 dasselbe Grundstück verwandt werden, je mehr, mit einem Wort, die relative
Produktivkraft des Bodens abnimmt, um so höher steigt die Rente. Die Erde allgemein
fruchtbar gedacht, […]

15

31 213
IV Herr List und Ferrier

Ferriers, sous-inspecteur des douanes unter Napoleon, Buch: „Du gouvemement


considéré dans ses rapports avec le commerce“, Paris 1805, ist die Schrift, die Herr List
5 abgeschrieben hat. Es ist kein einziger Grundgedanke in seinem Buch, der hier nicht
gesagt ist und besser gesagt ist.
Ferrier war Beamter von Napoleon. Er verteidigte das Kontinentalsystem. Er spricht
nicht von Protektionssystem, sondern von Prohibitivsystem. Er ist weit entfernt, Phrasen
zu machen über eine Union aller Völker oder über den ewigen Frieden im Innern. Er hat
10 natürlich auch noch keine sozialistischen Phrasen. Wir werden einen kurzen Auszug aus
seinem Buch geben, um den Leser über die geheime Quelle der Listschen Weisheit
aufzuklären. Wenn Herr List den Louis Say verfälscht, um ihn als seinen
Bundesgenossen machen zu können, so zitiert er dagegen den Ferrier nirgends, den er
überall abgeschrieben hat. Er wollte den Leser auf eine falsche Fährte leiten.
15 Wir haben schon Ferriers Urteil über Smith zitiert. Ferrier schließt sich auch noch
ehrlicher dem alten Prohibitivsystem an.

Staatseinmischung. Ökonomie der Nationen


20
„Es gibt eine Oekonomie und eine Verschwendung \ prodigalité der Nationen, aber
eine Nation ist nur verschwenderisch oder ökonomisch in ihren Relationen mit andern
Völkern.“ p. 143.
„Es ist falsch, daß die vorteilhafteste Anwendung eines Kapitals für den, der es
25 besitzt, notwendig auch die vorteilhafteste sei für die Industrie … weit entfernt, daß das
Interesse der Kapitalisten sich mit dem allgemeinen vereinigt finde, ist es fast immer
mit ihm [im] Gegensatz.“ p. 168, 169.
„Es existiert eine Oekonomie der Nationen, aber sehr verschieden von der
Smithschen. Sie besteht darin, fremde Produktionen nur zu kaufen, solange sie
30 dieselben mit den eignen zahlen kann. Sie besteht manchmal darin, sich ihrer absolut zu
entschlagen.“ p. 174, 175.

32 214
Die produktiven Kräfte und der Tauschwert

„Die Prinzipien, welche Smith gelegt \ gegeben hat (posés), über die Oekonomie der
Nationen haben alle zur Grundlage die Unterscheidung zwischen der produktiven und
5 unproduktiven Arbeit … Diese Unterscheidung ist wesentlich falsch. Es gibt keine
unproduktive Arbeit.“ p. 141
„Er (Garnier) hat im Silber nur den Wert des Silbers gesehn, ohne auf seine
Eigenschaft zu reflektieren, die es hat, als Silber die Zirkulation aktiver zu machen und
folglich die Produkte der Arbeit zu vermehren.“ (p. 18.) „Wenn die Regierungen daher
10 dem Abfluß des Geldes zu prävenieren suchen, … so ist dies nicht seines Wertes wegen
… sondern“, weil „der Wert der für es erstattet wird, in der Zirkulation nicht dieselben
Effekte hervorbringen kann …, weil es nicht bei jeder Transition eine neue Schöpfung
bestimmen kann.“ p. 22, 23. „Das Wort Reichtum, angewandt auf das Geld, welches als
Geld zirkuliert, muß verstanden werden von den Reproduktionen, die es erleichtert, …
15 und in diesem Sinne bereichert sich ein Land, wenn es sein Geld vermehrt, weil mit
dieser Vermehrung des Geldes alle produktiven Kräfte der Arbeit wachsen.“ p. 71.
„Wenn man sich sagt, dass ein Land die Revenue von zwei Milliarden ausgeben
(dépenser) kann, … versteht man, dass es die Mittel hat, mit diesen 2 Milliarden eine
10mal, 20mal, 50mal größere Zirkulation in Werten zu unterhalten oder, was dasselbe
20 ist, daß es diese Werte produzieren kann. Nun, diese Produktionsmittel die es dem Gelde
schuldet, nennt man Reichtum.“ p. 22.
Man sieht: Ferrier unterscheidet den Tauschwert, den das Geld hat, von der
Produktivkraft des Geldes. Abgesehn davon, daß er die Produktionsmittel überhaupt
Reichtum nennt, war ohnehin nichts leichter, als den Unterschied, den Ferrier zwischen
25 dem Wert und der Produktivkraft des Geldes macht, auf alle Kapitalien anzuwenden.
Aber Ferrier geht noch weiter, er verteidigt das Prohibitivsystem im allgemeinen
damit, daß es den Nationen ihre Produktionsmittel sichre:
„So sind die Prohibitionen jedes Mal nützlich, wenn sie den Nationen die Mittel
erleichtern, ihren Bedürfnissen zu subvenieren … Ich vergleiche eine Nation, welche
30 auswärts mit ihrem Gelde Waren kauft, die sie selbst fabrizieren kann, obwohl minder
gut, einem Gärtner, der, unzufrieden mit den Früchten, die er erntet, sich mehr

33 215
succulents kaufen würde bei seinem Nachbarn, indem er ihnen im Austausch seine
Garteninstrumente gebe.“ p. 288. „Der auswärtige Handel ist jedesmal vorteilhaft, wenn
er die produktiven Kapitalien zu vergrößern strebt. Es ist ungünstig, wenn er, statt die
Kapitalien zu vervielfachen, ihre Veräußerung erheischt.“ p. 395-396.
5
Agrikultur, Manufaktur, Handel

„Das Gouvernement, muß es den Handel und die Fabriken vorzugsweise vor der
Agrikultur begünstigen? Diese Frage ist noch eine deren, worüber die Gouvernements
10 und die Schriftsteller sich nicht vereinigen können.“ p. 73.
„Die Fortschritte von Industrie und Handel hängen zusammen mit denen der
Zivilisation, der Künste, der Wissenschaften, der Schiffahrt. Das Gouvernement, das
fast nichts kann für die Agrikultur, kann fast alles für die Industrie. Wenn die Nation
Gewohnheiten oder Geschicke hat, fähig, ihre Entwicklung aufzuhalten, muß es alle
15 seine Mittel anwenden, um sie zu bekämpfen.“ p. 84.
„Das wahre Mittel, den Ackerbau zu encouragieren ist, die Manufakturen zu
encouragieren.“ p. 225.
„Ihre Domäne (die der Industrie, worunter Herr Ferrier die Manufaktur versteht) ist
weder begrenzt in ihren Vorschritten noch in ihren Mitteln der Vervollkommnung …
20 Weit wie die Imagination, mobil und fruchtbar wie sie, hat ihre schöpferische Macht
keine Grenzen, als die des menschlichen Geistes selbst, wovon sie täglich einen neuen
éclat empfängt.“ p. 85.
„Die wahre Quelle des Reichtums für eine Agrikultur-Manufaktur-Nation ist die
Reproduktion und die Arbeit. Sie muß ihren Kapitalien diese Anwendung geben und
25 darauf denken, ihre eignen Waren zu transportieren und zu verkaufen, ehe sie sich damit
beschäftigen kann, die der andren zu transportieren und zu verkaufen.“ p. 186.
„Vorzugsweise dem innern Handel, der lange dem Austausch von Volk zu Volk
vorgegangen, muß man dieses Wachstum in dem Reichtum des Menschen zuschreiben“
p. 145. „Nach Smith selbst gibt von 2 Kapitalien, eins im Inländischen, das andre im
30 Ausländischen angelegt, das erste der Industrie des Landes 24 mal mehr soutien und
Aufmunterung.“ p. 145-146. Herr Ferrier sieht aber wenigstens ein, dass der innere
Handel ohne den äußern nicht bestehn kann. I.c.
34 216
„Laßt einige Privatleute aus England 50 000 Stück Samt kommen lassen, und sie
werden bei diesem Handel viel Geld gewinnen und sehr gut ihre Waren platzieren. Aber
sie reduzieren die heimische Industrie und setzen 10 000 Arbeiter außer Brot.“ p. 170,
cf. p. 155, 156.
5 Herr Ferrier macht, wie List, auf den Unterschied der Manufaktur- und Handelsstädte
von den nur konsumierenden Städten aufmerksam, vgl. p. 91, ist aber wenigstens so
ehrlich, dabei auf Smith selbst zu verweisen. Er verweist auf den Herrn List so beliebten
Methuenvertrag und die bei dessen Beurteilung von Smith angewandte Subtilität. p.
159. Wir haben schon gehört, wie seine Beurteilung Smiths im allgemeinen fast
10 wörtlich mit der Beurteilung Lists zusammenfällt. Sieh ebenso über den
Transporthandel p. 186 et passim.
Der Unterschied von Ferrier und List ist, daß der eine zugunsten eines
weltgeschichtlichen Unternehmens – des Kontinentalsystems –, der letztre zugunsten
einer kleinlichen, schwachköpfigen Bourgeoisie schreibt.
15 Man wird zugeben, daß in nuce der ganze Herr List in den zitierten A[uszügen]
Ferriers enthalten ist. Nimmt man nun noch die Phrasen hinzu, die er aus der seit Ferrier
stattgefundenen Entwicklung der Nationalökonomie entlehnt, so bleibt ihm bloß das
hohle Idealisieren, dessen Produktivkraft in Worten besteht – und die [ x ] Heuchelei des
nach der Herrschaft strebenden deutschen Bourgeois.
20

35 217
[Fragment]

Es darf Herrn List nirgends einfallen, daß die wirkliche Organisation der Gesellschaft
ein geistloser Materialismus, ein individueller Spiritualismus, Individualismus ist. Es
5 kann ihm nirgends einfallen, daß die Nationalökonomen nur diesem gesellschaftlichen
Zustand einen entsprechenden theoretischen Ausdruck gegeben haben. Er müßte sich ja
sonst gegen die jetzige Organisation der Gesellschaft, statt gegen die
Nationalökonomen wenden. Er klagt sie an, keinen beschönigenden Ausdruck für eine
trostlose Wirklichkeit gefunden zu haben. Er will diese Wirklichkeit daher überall
10 lassen, wie sie ist, und nur den Ausdruck verändern. Er kritisiert nirgends die wirkliche
Gesellschaft, er kritisiert als echter Deutscher den theoretischen Ausdruck dieser
Gesellschaft und wirft ihm vor, die Sache und nicht die Einbildung von der Sache
auszudrücken.
Die Fabrik ist in eine Göttin verwandelt, die der Manufakturkraft.
15 Der Fabrikant ist der Priester dieser Kraft.

36 218
Noten und Korrekturenverzeichnis

1.15-19 Hier und in folgenden zitiert Marx Friedrich List: ,,Das nationale
System …“ (1841).

1.15 traurig ] Hervorhebung von Marx

1.18 Proletariern ] Hervorhebung von Marx

3.29 zusammenhängt ] H: zusammenhängen

3. 30 ist ] H: sind

5.45 ließen ] H: ließ

6.6 „Say und MacCulloch ] Hervorhebung von Marx

6.6-7 (des Antonio Serra aus Neapel) ] Ergänzung von Marx

6.28-29 (der politischen Ökonomie) ] Ergänzung von Marx

6.31 Say ] Hervorhebung von Marx

7.10 enthält ] H: enthalten

7.31 (Louis Says) ] Ergänzung von Marx

219
8.1-2 Hervorhebung von Marx

8.10 [apud List, 484.] „Folgendes sind die eigenen Worte Louis Says,
p. 10: ,la richesse ne consiste pas /.../“ (List, p. 484).

8.13-16 Louis Say: „Éstudes sur la richese...“. S. MEGA IV/3.

8.14 revenu ] Hervorhebung von Marx

8.29 Produktionfähigkeit ] Bei List: Produktivfähigkeit

10.6 werde. ] Bei List: werde ! !

10.46 1838 ] H: 1936

12.7 ihn ] H: sie

15.15 stehen ] H: steht

16.5-6 Bei List: ,,Die Nation muß materielle Güter aufopfern und
entbehren /.../” (p. 216).

16.8 von Produktivkräften ] Bei List: einer Produktivkraft

16.13 Bei List: sich gebildet hat und bewegt

220
17.4 kann ] H: muß

18.28 werdet ] H: werden

22.26 ihn ] Schwer lesbar

25.19 mechanisches ] Hervorhebung von Marx

27.12-13 ohne allen Nutzen \ zum größten Schaden

28.8-9 natürliche Produktivfähigkeit ] Hervorhebung von Marx

28.25 unproduktiver ] Hervorhebung von Marx

28.33 Verbesserungen ] Hervorhebung von Marx

29.12.13 trotz der gänzlichen Exploitation der Lohnbauern \


“ “ “ völligen oder der möglichsten Herabdrückung des Salairs

33.7 (Garnier) ] Ergänzung von Marx

34.24 Reproduktion ] Hervorhebung von Marx

221
Anexo 3
Excerto do "Segundo discurso de Eberfeld", de Engels2

/.../
A Alemanha – ou, mais exatamente, a união aduaneira alemã – tem no momento
uma tarifa alfandegária de just-milieu. Nossas tarifas são muito baixas para verdadeiras
barreiras alfandegárias e muito altas para o livre-comércio. Assim, três coisas são possíveis.
Ou passamos completamente ao livre comércio, ou protegemos nossa indústria por meio de
tarifas adequadas, ou ficamos com o sistema atual. Examinemos cada caso.
Se proclamamos o livre-comércio e suspendemos nossas tarifas, então toda a nossa
indústria, com exceção de poucos ramos, estará arruinada. Não se pode falar mais de fiação
de algodão, de tecelagem mecanizada, da maioria dos ramos da indústria de algodão e da lã,
de importantes setores da indústria da seda, de quase toda a produção e processamento de
ferro.
Os trabalhadores, repentinamente sem sustento em todos esses ramos, seriam
lançados em massa na agricultura e nos escombros da indústria, o pauperismo brotaria da
terra por toda parte; por meio de tal crise, a centralização da propriedade nas mãos de
poucos seria acelerada, e a julgar pelos acontecimentos na Silésia, o resultado dessa crise
seria necessariamente uma revolução social.
Ou nos arranjamos com tarifas protecionistas. Estas se tornaram ultimamente as
queridinhas [Schoβkind] da maioria dos nossos industriais, e por isso, merecem um exame
mais detalhado. O sr. List levou os desejos dos nossos capitalistas a um sistema; gostaria de
deter-me um pouco nesse sistema em geral aceito por eles quase como um credo.
O sr. List propõe barreiras alfandegárias gradualmente crescentes, as quais
finalmente devem tornar-se altas o bastante para assegurar aos fabricantes o mercado
interno; então, elas devem permanecer nesse nível durante um tempo, e depois voltarão a
ser gradualmente reduzidas, de modo que, finalmente, após de uma série de anos, todas as
tarifas cessam. Suponhamos agora que esse plano seja implementado, que sejam decretadas
2 Proferido em 15 de fevereiro de 1845, publicado em agosto de 1845. Traduzido de: MEW, 2, pp. 550-554.
223
tarifas protecionistas crescentes.
A indústria irá crescer, o capital ainda ocioso será lançado em empresas industriais,
a demanda por trabalhadores, e com ela o salário, aumentará, as casas de pobres3 irão
esvaziar; sucede, ao que tudo indica, o mais alto estado de florescimento. Isso dura até que
que nossa indústria tenha se expandido o bastante para abastecer o mercado doméstico.
Ela não pode expandir-se mais, pois sem proteção não pode garantir o mercado
doméstico, assim, ela conseguirá ainda muito menos em mercados neutros contra a
concorrência estrangeira. Por agora, pensa o sr. List, a indústria interna já seria forte o
bastante para necessitar de menos proteção, e a redução pode começar. Concedamos isso
por um momento.
As tarifas foram baixadas. Se não da primeira vez, ocorre então certamente na
segunda ou terceira redução tarifária uma tal diminuição da proteção, que a indústria
externa (digamos diretamente, a inglesa) pode competir no mercado alemão com a nossa
própria indústria. O sr. List quer isso mesmo. Mas, quais serão as consequências? A
indústria alemã tem de suportar, a partir desse momento, todas as flutuações, todas as
crises, com os ingleses.
Assim que os mercados ultramarinos estejam abarrotados de mercadorias inglesas,
os ingleses irão (exatamente como eles fazem agora, e como o sr. List pinta com muita
comoção) lançar todos os seus estoques no mais próximo mercado alemão acessível, e
assim transformar a união alfandegária alemã novamente em sua “loja de segunda mão”.
Então a indústria inglesa rapidamente volta a crescer [erheben], pois ela tem o
mundo inteiro como mercado, pois o mundo inteiro não pode prescindir dela, ao passo que
a indústria alemã não é imprescindível, ao passo que ela tem de temer a concorrência
inglesa em sua própria casa, e trabalha em meio a profusão de mercadorias inglesas que são
lançadas aos seus clientes durante a crise.
Então, todos os maus períodos da indústria inglesa terão custado à nossa até à última
gota4, ao passo que esta participa apenas modestamente nos períodos de prosperidade
3 Armenhaus; termo alemão para designar o sistema inglês de casas de trabalho. "/.../ das Regime der
Workhauses, d. h., der Armenhäuser /.../." Marx, Kritische Randglosen..., MEGA, I/2, pp, 174-175.
4 Engels usa a expressão: bis auf die Hefen (literalmente “até os fermentos”); "bis auf die Hefen leeren",
224
daquela – em suma, estaremos então exatamente no mesmo lugar que estamos agora.
E com isso logo chegamos ao resultado final; sucederá então a mesma situação de
depressão em que agora se encontram os nossos ramos semi-protegidos, um
estabelecimento após o outro vai fechar sem que novos surjam, em seguida, nossas
máquinas tornar-se-ão obsoletas sem que estejamos em condições de substituí-las por novas
e melhores, depois, a estagnação transforma-se em retrocesso, e, segundo a própria
afirmação do sr. List, um ramo industrial após o outro arruinar-se-á e finalmente sucumbirá
por completo.
Mas, então, teremos um numeroso proletariado que terá sido criado pela indústria e
agora não tem comida, não tem trabalho; e então, meus senhores, esse proletariado exigirá à
classe proprietária ser empregado e alimentado.
Esse será o caso se as tarifas protecionistas forem reduzidas. Suponhamos agora que
elas não tivessem sido reduzidas, que elas permaneceram; seria de se esperar que elas
tornem ilusória a concorrência dos fabricantes nacionais entre si, a fim, então, de reduzí-la.
A consequência disso será que a indústria alemã estagna assim que estiver em condições de
abastecer o mercado doméstico por completo.
Novos estabelecimentos não são necessários, uma vez que os existentes são
suficientes para o mercado, e não se pode pensar em novos mercados na medida em que se
necessita, em geral, da proteção, conforme já dissemos acima. Porém, uma indústria que
não leva adiante a expansão também não pode progredir. Ela permanece estacionária, tanto
interna quanto externamente.
Para ela, o melhoramento da maquinaria não existe. Não se pode descartar as
máquinas antigas, e para as novas não se acha novos estabelecimentos em que possam
encontrar emprego. Enquanto isso, outras nações progridem, e a estagnação da nossa
indústria torna-se novamente retrocesso.
Rapidamente os ingleses, por meio do seu progresso, serão capazes de produzir tão
barato que podem competir com nossa indústria retardatária em nosso próprio mercado,
apesar da proteção alfandegária, e uma vez que na luta da concorrência, como em qualquer
"bis auf die Hefen austrinken": "vazio até a última gota", "beber até a última gota".
225
outra luta, vence o mais forte, então nossa derrocada final é certa.
Então, sucede o mesmo caso de que acabo de falar: o proletariado criado
artificialmente exigirá dos proprietários algo que estes, na medida em que querem
permanecer exclusivamente proprietários, não têm condições de conceder, e sucede a
revolução social.
Existe ainda um caso possível – muito improvável – que nós, alemães, tenhamos
êxito em levar nossa indústria, por meio das tarifas alfandegárias, até um ponto em que ela
possa competir sem proteção com os ingleses. Admitindo que esse seja o caso, qual seria o
resultado?
Assim que começássemos a fazer concorrência aos ingleses em mercados
estrangeiros, neutros, uma luta de vida ou morte erguer-se-á entre a nossa indústria e a
inglesa.
Os ingleses vão lançar mão de toda a sua força para nos manter distantes dos
mercados até então por eles abastecidos; eles têm de fazê-lo, pois aqui estão sendo atacados
na sua fonte vital, no ponto mais perigoso.
E com todos os meios que estão à sua disposição, com todas as vantagens de uma
indústria centenária, eles terão sucesso em nos derrotar.
Eles manterão nossa indústria restrita ao nosso próprio mercado, e com isso a torná-
la-ão estacionária – e então surge o mesmo caso acima desenvolvido: nós paramos, os
ingleses seguem adiante, e nossa indústria, tendo em vista sua decadência inevitável, não
estará em condições de alimentar o proletariado criado artificialmente por ela – sucede a
revolução social.
Mas, supondo que poderíamos sobrepujar os ingleses também em mercados neutros,
que tivéssemos ganhado deles uma ou outra partida comercial - o que teríamos ganhado
nesse caso quase impossível?
No melhor dos casos, deveremos perfazer novamente o percurso [Karriere]
industrial que a Inglaterra demonstrou antes de nós, e, cedo ou tarde, deve chegar ao ponto
em que a Inglaterra agora se encontra – a saber, às vésperas de uma revolução social.
Mas, com toda a probabilidade, isso não duraria mesmo muito. Pelas vitórias
226
contínuas da indústria alemã, a inglesa seria necessariamente arruinada, e isso apenas
aceleraria o levante em massa (de resto já iminente para os ingleses) do proletariado contra
as classes produtivas.
O rápido surgimento da miséria impeliria os trabalhadores ingleses à revolução, e,
do jeito que as coisas estão agora, tal revolução social teria enorme repercussão nos países
continentais, notadamente na França e na Alemanha, que deverá ser tanto maior quanto
mais um proletariado haja sido artificialmente produzido por uma indústria forçada na
Alemanha.
Tal revolução tornar-se-ia imediatamente europeia e bruscamente destruiria o sonho
dos nossos fabricantes de um monopólio industrial alemão. Mas que uma indústria inglesa e
uma indústria alemã possam coexistir pacificamente, isso a concorrência já torna
impossível.
Repito: cada indústria deve progredir; para não ficar para trás e sucumbir ela deve
expandir-se, conquistar novos mercados, ampliar-se constantemente por meio de novos
estabelecimentos, a fim de ser capaz de progredir.
Mas como desde que a China foi aberta nenhum novo mercado foi conquistado,
pelo contrário, apenas os existentes podem ser melhor explorados, já que então a expansão
da indústria seguirá mais lenta no futuro do que até agora, então agora a Inglaterra pode
tolerar bem menos um concorrente do que até então foi o caso.
A fim de proteger a sua própria indústria antes da ruína, deve manter pressionada a
indústria de todos os outros países; o domínio [Behauptung] do monopólio industrial pela
Inglaterra não é mais uma mera questão de lucro maior ou menor, tornou-se uma questão
vital.
Entre as nações, a concorrência é, de todo modo, já muito mais forte, muito mais
decisiva do que entre indivíduos, porque é uma luta mais concentrada, uma luta de massas
que só a vitória decisiva de um lado e a derrota decisiva do outro pode encerrar.
E por isso essa luta entre nós e os ingleses, seja qual for o resultado, seja a vantagem
para nós ou para os ingleses, como acabei de desenvolver, marcha para um revolução.
Assim, nós vimos, senhores, o que a Alemanha pode esperar, em todos os casos
227
possíveis, tanto do livre comércio quanto do sistema protecionista. Teríamos, no entanto,
ainda uma possibilidade econômica diante de nós, a saber, o caso em que permanecemos
nas tarifas de juste-milieu de agora.
Mas já vimos acima quais seriam as consequência. Um ramo após o outro, nossa
indústria deveria ir à ruína, os trabalhadores industriais ficariam sem sustento, e quando a
miséria alcançasse um determinado grau, eles iriam explodir em uma revolução contra as
classes proprietárias.

228
Anexo 4
Sumário do Sistema Nacional da Economia Política, de List

Introdução

Primeiro Livro – A História


1º capítulo: Os italianos
2º capítulo: Os hanseáticos
3º capítulo: Os holandeses
4º capítulo: Os ingleses
5º capítulo: Os espanhóis e os portugueses
6º capítulo: Os franceses
7º capítulo: Os alemães
8º capítulo: Os russos
9º capítulo: Os norte-americanos
10º capítulo: As teorias da história

Segundo Livro – A Teoria


11º capítulo: A economia política e a cosmopolita
12º capítulo: A teoria das forças produtivas e a teoria do valor
13º capítulo: A divisão nacional das transações comerciais [Geschäftsoperationen] e a
confederação das forças produtivas nacionais
14º capítulo: A economia privada e a economia nacional
15º capítulo: A nacionalidade e a economia da nação
16º capítulo: Economia popular e a estatal, economia política e a nacional.

229
17º capítulo: As forças manufatureiras e as forças de produção nacionais pessoais,
sociais e políticas
18º capítulo: A força manufatureira e as forças produtivas naturais da nação
19º capítulo: A força manufatureira e as forças instrumentais (capitais materiais) da
nação
20º capítulo: A força manufatureira e o interesse agrícola.
21º capítulo: A força manufatureira e o comércio
22º capítulo: A força manufatureira e a navegação, o poder marítimo e a colonização
23º capítulo: A força manufatureira e os instrumentos de circulação
24º capítulo: A força manufatureira e o princípio de Stetigkeit und Werkfortsetzung
25º capítulo: A força manufatureira e os meios de estímulo da produção e consumo
26º capítulo: As duanas como principal meio para o cultivo e a defesa da força
manufatureira interna
27º capítulo: As duanas e a escola dominante

Terceiro Livro – Os Sistemas


28º capítulo: Os economistas nacionais italianos
29º capítulo O sistema industrial (erroneamente chamado de sistema mercantil pela
escola)
30º capítulo: O sistema fisiocrata ou agrícola
31º capítulo: O sistema do valor de troca (pela escola erroneamente chamado de
sistema industrial ). Adam Smith
32º capítulo: Aprofundamento. Jean Baptist Say e sua escola

Quarto Livro – A Política


33º capítulo: A supremacia insular e as potências continentais – América do Norte e
França
34º capítulo: A supremacia insular e a união comercial alemã
35º capítulo: A política continental
36º capítulo: A política comercial da união alfandegária alemã
Anexo 5
230
Seleção da cronologia de List (1789 – 1846)

1789
 6 de agosto de 1789: nasce em Reutlingen, Alemanha.

1811-1813
 Estuda jurisprudência [Rechtswissenschaft] em Tübingen.
 Trava conhecimento com Karl August v. Wangenheim (1773-1850), que mais tarde
será ministro do interior de Württemberg

1816-1817
 Edita os Arquivos Wurtenbergensses.

1817-1819
 Professor de direito público [Staatsverwaltungspraxis]

1818
 Fundador da associação comercial e artesanal [Gewerbe] alemã, em 18 de abril
(Frankfurt)
 Redige a petição [Bittschrift] para a suspensão da alfândegas internas e construção
de um sistema alfandegário de fronteiras contra os estados estrangeiros
 Exonerado [ausscheiden] do serviço estatal de Württemberg
 Eleito como deputado em Reuting na assembléia [Ständeversammlung]; o governo
de Würtemberg considera [erklärt] inválida a eleição
 Campanha juntamente com Mathew Carey (1760-1839), Daniel Raymond (1786-
1849), Hezekiah Niles (1777-1839) contra a confederação do livre comércio nos
EUA.

1820
 Redige a petição de Reutling

1821
 Em razão petição de Reutling é aberto um processo criminal contra List
 Expulsão de List da câmara dos deputados [Abgeordnetenkammer]
1822
 Condenado a 10 anos de prisão e trabalhos forçados por injúria ao estado e à
majestade [Staats- und Majestätsbeleidigung]
231
1823 a 1824
 Exílio na Suíça

1824
 Obtenção de visto de estrangeiro para os EUA por intermédio de Johan Friedrich
Cotta (1764-1832)
 Viaja com a família para os EUA
 Acompanha Lafayete através do Estados Unidos, encontrado-se com os dirigentes
políticos do país

1826
 Diretor da Little Schuylkill Railway

1830
 Adquire cidadania americana
 Encontro com o presidente Andrew Jackson (1767-1845)

1833
 A Little Schuylkill Rail Road (34 km) é aberta na Pensilvânia
 Planeja ferrovias para a Prússia, Hamburgo, Braunschweig e Baden (até 1837)
 Torna-se cônsul americano em Lepzig
 Escrve Sobre a e estrada de ferro da Saxônia

1834
 A união aduaneira alemã inicia as atividades (1º de janeiro)
 Publica a Revista Nacional [Nationalmagazin]

1835
 Publica o Jornal da Estrada de Ferro [Eisenbahnjournal]
 Toma parte na sociedade da estrada de ferro Leipzig-Dresden

1836
 A reabilitação de List em Württemberg é negada

1837
 Escreve o Sistema natural da economia política, para a Academia Francesa.

1839

232
 Em Paris, inicia o trabalho no Sistema nacional de economia política
 Escreve uma série de artigos na Gazeta Geral de Augsburg contra a tentativa de
dispersão [Zersetzungversuche] da união aduaneira

1840
 Escreve Sobre a essência e o valor de uma força de produção industrial
[Gewerbeproduktivkraft]

1841
 Abril: publicação do Sistema nacional de economia política, pela editora Cotta (a
edição, com tiragem de 1000 exemplares, esgotou em dois meses. 2ª edição:
janeiro de 1842, 1000 exemplares; 3ª edição, janeiro de 1844, 1000 exemplares)
 Outubro: oferta para a chefia de redação da Nova Gazeta Renana (List declina,
Marx assume em abril de 1842)

1842
 Escreve A constituição da agricultura, a pequena empresa e a imigração
 Funda a Folha da união aduaneira [Zollvereinsblatt]

1844-1845
 Escreve para a Folha da união aduaneira

1846
 Separa-se da editora Cotta
 Viagem a Londres. Encontro com MacCulloch (1789-1864)
 Redige o memorando Sobre o valor e as condições de uma aliança entre Grã-
Bretanha e Alemanha, submetido aos governos britânico prussiano
 A proposta de List é rejeitada por Viscount Palmerston (1784-1865) e Robert Peel
(1788- 1850).
 Repentino exaurimento da saúde e depressão tornam totalmente incapacitado
para o trabalho. Retorno para Augsburg. Piora no estado de saúde progride.
 30 de Novembro: morre em Kufstein, sob circunstâncias não totalmente
esclarecidas; acredita-se que ele tenha se suicidado

1850
 Ludwig Häusser (1818-1867) publica em três volumes a primeira edição da obra de
List

233
234
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