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0027
RECLAMANTE: LUCIANO JOSÉ TARGINO
RECLAMADO: ITAPUI BARBALHENSE INDÚSTRIA DE CIMENTOS S/A
SENTENÇA
1. RELATÓRIO
Dispensado, nos termos do artigo 852-I da CLT (Lei nº 9.957/2000).
2. FUNDAMENTAÇÃO
2.1. DA JUSTIÇA GRATUITA
Defiro o benefício da justiça gratuita ao autor, nos termos do art. 790, § 3°, da CLT,
salientando que o último salário por ele percebido foi inferior a 40% do limite máximo dos
benefícios da Previdência Social.
Ademais, no caso em tela, há declaração de hipossuficiência econômica firmada pelo
reclamante (id 23163fc – fls. 10), que se presume verdadeira, à luz do art. 99, § 3º, do CPC/15,
ressaltando que não houve prova em sentido contrário.
2.2. DA PRESCRIÇÃO QUINQUENAL
Tendo em vista que a presente demanda foi ajuizada em 31/12/18 e considerando o que
dispõe o art. 7º, XXIX, da CF/88, acolho a prejudicial de prescrição quinquenal alegada pela
reclamada, para declarar prescrita a pretensão autoral quanto aos créditos anteriores a 31/12/13, nos
termos do art. 487, II, do CPC/2015.
2.3. DA IMPUGNAÇÃO AO VALOR DA CAUSA
No processo do trabalho o valor da causa tem dupla finalidade: fixar alçada e servir de base
para cálculo das custas judiciais, não vinculando o Magistrado no momento de eventual
condenação. Considerando o teor dos pedidos formulados pelo autor, tenho que o importe dado à
causa não parece excessivo. Ademais, não se há de confundir o valor dado a causa (montante
patrimonial perseguido pelo obreiro) com a prosperidade dele, esta sem índole preliminar, mas
eminentemente meritória. Rejeito.
2.4. DO ADICIONAL DE INSALUBRIDADE
O autor assevera que laborou para a reclamada de 12/09/11 a 05/07/17 para reclamada e
exercia na data de demissão a função de ajudante de manutenção industrial; que trabalhava em
ambiente nocivo à sua saúde, cuja insalubridade restou constatada por meio de perícia realizada nos
autos de ação coletiva aforada pelo Sindicato da categoria, processo nº 0000472-17.2011.5.0.0027.
Esclareceu ainda o acionante que “Durante o vínculo laboral não percebeu adicional de
insalubridade e, por equívoco na ação coletiva autuada sob o nº 0000472-17.2011.5.07.0027, que
tramitou na 1ª Vara do Trabalho da Região do Cariri, não foi inserido no rol de substituídos
beneficiados com a ação coletiva.”
Postula pagamento de “Adicional de Insalubridade grau máximo 40% - 07/2018 - 11/2013”
e reflexos.
A reclamada pugna pela improcedência do pleito aduzindo haver “manifestos erros
constantes no laudo pericial utilizado como prova emprestada no presente feito, posto que
diferentemente do aduzido no referido laudo, o Reclamante recebeu os EPI`s, fichas ora acostados,
necessários para exclusão dos efeitos dos agentes insalubres de acordo com PPRA`s, em
anexo ....”.
Acerca da prova emprestada (documento ID ad8e12e – fls. 85/155), consubstanciada na
perícia técnica realizada para avaliar as condições e meio ambiente laboral dos substituídos no
processo 0000472-17.2011.5.0.0027, resta certo que a reclamada Itapuí Barbalhense Indústria de
Cimento S/A (1ª reclamada naquele feito) foi condenada a pagamento de diferenças do adicional de
insalubridade tendo o perito nomeado, o Engenheiro Civil e de Segurança do Trabalho, Daniel
Walker Almeida Marques Junior, CREA/CE nº 14.378 – D, realizado inspeção nas dependências da
reclamada por setores, assim justificando o expert:
“Com o objetivo de facilitar a aplicação dos conceitos para elaboração desse Laudo no
que diz tange às diferentes atividades existentes nas empresas, os cargos foram divididos
em Grupo Homogêneo de Exposição (GHE), que poderão conter na sua composição um
único cargo ou mais de um, desde que expostos aos mesmos agentes agressivos. Os locais
avaliados encontram-se todos localizados nas dependências da 1ª e 2ª Reclamadas e são
compostos pelos seguintes ambientes”.
Infiro da prova documental coligida aos autos e materializada pelo contrato de trabalho,
demonstrativos de pagamentos, ficha funcional do obreiro e cartões de ponto que o demandante
sempre exerceu a função de ajudante de manutenção industrial, sendo lotado na área de mecânica,
onde trabalhou até a sua dispensa.
Acerca das condições ambientais de labor, o senhor perito classificou as funções
desempenhadas pelo acionante no setor de Manutenção/Mecânica (fls. 114/116), assim dispondo:
MANUTENÇÃO/MECÂNICA
DESCRIÇÃO DO AMBIENTE DE TRABALHO:
A área da Manutenção Mecânica está situada em galpão próprio, dotado de piso
cimentado, provido de cobertura em telhas de fibrocimento e paredes em alvenaria. Há
iluminação natural, através de aberturas, complementada por iluminação artificial, através
de lâmpadas fluorescentes, inadequadamente espaçadas. A ventilação é exclusivamente
natural. O prédio é equipado com sistema de combate a incêndio (extintores).
Lubrificador Industrial
Movimentar/armazenar lubrificantes industriais; Serviços de limpeza / lubrificação de
equipamentos industriais; Preencher documentos e relatórios da área; Zelar e manter os
recursos disponíveis; Limpeza de equipamentos / áreas.
Acerca dos fatores insalubres, o profissional concluiu que a submissão do reclamante aos
riscos físicos (ruído, vibração, calor, óleos e graxas) excediam os limites toleráveis, não sendo
completamente eliminados mesmo com o uso de EPI's que, inclusive, em algumas situações
estavam com certificado de aprovação(CA) vencidos, para assim concluir:
O PPRA acostado pela reclamada (fls. 302/402) evidencia que apenas com relação à função
de lubrificador industrial havia reconhecimento de insalubridade em grau máximo (fls. 352),
ficando descaracterizada insalubridade para as demais funções que atuavam na área de mecânica.
Assim, incontroverso nos autos que o acionante em nenhum momento recebeu qualquer
adicional a título de insalubridade no exercício da função de ajudante de manutenção industrial e
em que pese o laudo tenha sido confeccionado em 27/11/16, é importante destacar que a prova
técnica envolveu o período de dezembro/14 a abril/16, ou seja, período em que o reclamante ainda
laborava para a reclamada, sendo igualmente certo que o demandante não se encontra listado no rol
de substituídos do processo nº 0000472-17.2011.5.07.0027.
Não se olvida que o Juiz não está adstrito ao laudo pericial, nos termos do art. 479 do
CPC/15, sendo o perito apenas seu auxiliar, na apreciação de matéria que exija conhecimentos
técnicos especiais. Entretanto, não infirmada a prova técnica por outros elementos de prova,
prevalece a conclusão pericial, mormente quando conclusiva. Deveras, a matéria reveste-se de
cunho técnico, para o qual o perito está habilitado, reputando-se válidas as conclusões por ele
apresentadas, vez que o laudo técnico foi elaborado em conformidade com a legislação e inexiste
nos autos elementos de prova que infirmem tais conclusões.
Por outro lado, a tentativa da reclamada em descaracterizar a insalubridade afirmando haver
erros no laudo, bem como no fato de ter fornecido EPI's eficientes ao autor não encontra lastro na
prova dos autos uma vez que os equipamentos fornecidos eram ineficazes para neutralizar a
nocividade presente no ambiente laboral do obreiro.
Quanto à base de cálculo do adicional de insalubridade, continua ela sendo o salário
mínimo. Tal definição não afronta a Súmula Vinculante n°4 do STF, porquanto aquela E. Corte, em
decisão liminar proferida na Reclamação n° 6.266, da lavra do Exmo. Sr. Ministro Gilmar Mendes,
assentou que no julgamento do RE 565.714/SP ficou decidido que o salário mínimo continuaria
sendo usado como base de cálculo para o adicional em tela, ante a inexistência de norma que fixe
em patamar diverso. Nessa direção, vem se posicionando o TST: