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CAP í T UlO 3

Anatomia
Médico-Cirúrgica do
Sistema Vascular

José Luís Camarinha do Nascimento-Silva

.. INTRODUÇÃO

.. HISTÓRICO
APARELHOCARDIOVASCULAR

.. SISTEMAARTERIAL
SISTEMA AÓRTICO

.. SíSTEMA ARTERIAL NO PESCOÇO


SISTEMAARTERIALNO MEMBROTORÁCICO

..
SISTEMAARTERIALNO MEMBRO PÉLVICO
SISTEMAVENOSO

..
SISTEMADA VEIA CAVA SUPERIOR
VEIAS DO PES~OÇO
VEIAS DO MEMBRO SUPERIOR

... SISTEMADA VEIA CAVA INFERIOR


VEIASDO MEMBRO INFERIOR
BIBLIOGRAFIA

---
Seção I
CAPíTULOSBÁsICOS

Apesar desta diferença, artérias e veias eram designa-


INTRODUÇÃO ----- das por um único termo: phlebos.
A missão que nos confiou o autor desta obra é tarefa her- O meio interno e o conseqüente reflexo no tempera-
cúlea. mento do homem seriam fruto de um arranjo sutil entre
A anatomia do aparelho cardiovascular representa quatro humores: o sangue, a fleuma ou secreção mucosa,
assunto inesgotável. a bílis amarela e a atrabílis ou bílis negra. A predominân-
Assim, procuramos um enfoque mais pragmático da cia de um ou de outro tornaria característico o indivíduo
anatomia médico-cirúrgica dos principais sistemas arte- que, desse modo, pertenceria a um de quatro grupos:
riais e venosos, procurando valorizar os aspectos anatô- sanguíneo, fleumático, melancólico ou colérico.
micos com que nos defrontamos no cotidiano da cirurgia Esses quatro humores, descritos pela medicina hipo-
vascular. Pouco nos ativemos a detalhes descritivos ou crática, representavam apenas uma das vertentes filosófi-
topográficos. cas de uma simbologia universal: os 4 elementos forma-
Foi seguida a Nomenclatura Anatômica Internacio- dores do Universo - ar, água, fogo e terra; as 4 estações
nal. Entretanto, são citados os epônimos de uso corrente do ano; os 4 pontos cardeais e as 4 fases da vida.
ou de maior importância. Praxagoras, da escola de Cós, funda a escola de Ale-
Conhecer ao máximo esta anatomia é mister do ci- xandria entre 350 e 300 a.C. É o primeiro a diferençar ar-
rurgião vascular. Por abordarmos a quase totalidade do térias e veias.
corpo humano - face, pescoço, membros e cavidades es- A escola de Alexandria viria a se tornar um centro
plâncnicas - tornamo-nos o último dos cirurgiões gerais, irradiador da cultura médica da época. Herophilos, em
o que traz um exclusivo colorido às nossas vidas, só exis- torno de 300 a.C., além de descrever as meninges, os ple-
tente por conta do esplendor do aparelho cardiovascular.
xos coróides, o golfo da jugular (~rensa de Herophilo) e
o IV ventrículo, passa a admitIr que as artérias não
HISTÓRICO somente conduziam sangue, como também ar.
Erasistratos, da mesma escola, além de outras asserti-
Desde a mais remota Antiguidade, a origem, a função e o vas, firma 3 pontos básicos de grande importância: afir-
modo pelo qual circulava no corpo humano fizeram do ma existir um sistema intermediário entre artérias e veias
sangue objeto de intensa curiosidade, atraindo a atenção e chama tais vasos de "sinastomoses"; conclui que o estro-
de filósofos, médicos, cirurgiões e anatomistas. ma das partes moles se acha formado por cordões em
Para Hipócrates (Fig. 3-1), o sangue seria elaborado que se entrelaçam uma artéria, uma veia e um nervo;
no fígado a partir do quilo, processo por ele denominado assevera que a porção fibrosa das vísceras, que denomina
"sanguinificação". Do fígado, através das veias cavas, che- parênquima, é o resultado da progressiva efusão, coagu-
garia ao ventrículo direito e, daí, às veias. As artérias con- lação e transformação do sangue a elas chegado.
teriam, apenas, ar, obtido nos pulmões e refrigerariam o
Sua extraordinária intuição do sistema capilar se
corpo humano. ,
deveu a um acurado poder de observação. Acreditando,
tal qual seus mestres gregos, que as artérias continham
apenas ar e constatando o jorrar pulsante de sangue em
ferimentos de guerra, afirma que o ar se evolava das arté-
rias e, a natureza, diante do seu "horror ao vácuo", trazia
o sangue das veias através das sinastomoses.
Vinculou a freqüência de pulso ao estado emocional.
Reza a lenda que isto se passou num curioso episódio.
Antiochus, o jovem filho do rei da Síria, Seleucus I
Nicator, encontrava-se gravemente enfermo. Vários
médicos foram chamados e falharam em estabelecer o
diagnóstico. Erasistratos, convocado pelo. rei em deses-
pero, percebe, durante o exame físico, uma súbita eleva-
ção da freqüência de pulso ao mesmo tempo em que se
coravam suas faces. Percebe, então, que tais sinais coinci-
diam com a chegada de Estratonice, a mais jovem esposa
do rei. Imediatamente, deduz que o mal que acometia o
Fig. 3-1. Personagens -
rapaz era mental e não físico um amor impossível pela
marcantes. madrasta. Imperativo, acusa a jovem esposa: "Tu és a
Capítulo 3
ANATOMIA MÉDiCO-CIRÚRGICADO SISTEMAVASCULAR

causa do mal! Afasta-te daqui!". Este momento encon- Descreveu a circulação e a importância do diafragma
tra-se retratado em belíssimo óleo de jacques Louis David, e dos músculos intercostais para a respiração. Corrigiu o
datado de 1774. conceito vigente desde a Grécia, estabelecendo que arté-
Em 131 d.C., nasce Claudius Galenus (Fig. 3-1), em rias e veias continham apenas sangue, mas eram diferen-
Pérgamo, na Ásia Menor. tes na sua estrutura e na qualidade do sangue que trans-
Seu pai, Aelius Nicon, planejara que estudasse filoso- portavam.
fia e política, o que seria mais de acordo com a classe Por outro lado, complicou e muito a regulação do
social a que pertencia. Entretanto, por volta dos 15 anos, meio interno. Aos 4 humores hipocráticos, acresceu a
o adolescente Galeno convence o pai de que deveria estu- neuma que subdividiu em três espíritos - vital, natural e
dar medicina pois, assim, em sonho, Asclépio ordenara. animal.
Autorizado pelo pai, ingressa na asclepíade de Pérga- Apesar de nunca ter dissecado um corpo humano, o
mo, onde estuda e pratica a medicina. que lhe levou a erros conceituais de grande importância
Morre o pai aos 19 anos e ele se vê, de súbito, rico e como o fato de acreditar que havia poros entre os ventrí-
independente. Decide viajar, a fim de adquirir maiores culos direito e esquerdo, inacreditavelmente, influenciou
conhecimentos médicos. Estuda em Esmirna e Corinto e a medicina por mais de 17 séculos.
chega à Alexandria, onde trava contato íntimo com os Andreas Vesaliusfoi vítima do galenismo que, em sua
novos conceitos vigentes derivados, sobretudo, dos co- época, tinha como maior representante jacques Dubois,
nhecimentos adquiridos por Herophilos e Erasistratos. conhecido por jacobus Sylvius,cognominado o Pontífice
Retoma a Pérgamo em 157, permanecendo até 161 do Galenismo, ele mesmo um dos mentores do Pai da
como médico dos gladiadores, posição respeitável e pres- Anatomia.
tigiosa. Adquire conhecimentos sobre trauma e utiliza o Mesmo após as descobertas
~ de Harvey e Claude-
resto do seu tempo para aprofundar seus estudos teóri- Bernard, sua obra era recomendada para estudantes de
cos de medicina e de filosofia. medicina de diversas universidades ocidentais, em ple-
Em 161, convencido de que sua cidade natal era mui- no século XIX.
to acanhada para o que pretendia, emigra para Roma. Só O papel de Galeno foi representado na medicina ori-
voltou a Pérgamo por um período de 3 anos, entre 166 e ental por Ibn Sina, mais conhecido como Avicena
169, provavelmente por ter se envolvido num acirrado (980-1037). Ibn An-Nafis (1210-1288), médico chefe do
enfrentamento público sobre a flebotomia com o presti- Hospital Mansuri no Cairo, ousou contestar os dogmas
giado anatomista Martinianus. avicênicos e foi tão combatido como os anatomistas da
No primeiro período em Roma (161-166), torna-se Renascença. Estabeleceu que o coração tinha apenas
importante membro da intelectualidade e amigo do pró- dois ventrículos independentes e descreveu a circulação
prio imperador Marcus Aurelius. pulmonar.
Em 168, recebe o convite do imperador para retor- Na Renascença, a humanidade acordou de um sono
nar, o que faz em 169. ~ pesado e profundo.
Durante seu segundo período em Roma, que se É a era dos anatomistas.
estende de 169 até 210, época de sua morte, aos 81 anos, Andreas Vesalius (Fig. 3-1), o belga de Louvain, que
permanece como médico dos imperadores -
Marcus Au- legou para a humanidade a maior obra anatômica de que
relius, Marcus Lucius Verus, Comodus e Septimus Seve- se tem notícia, extraordinário fruto dos poucos anos que
rus - e da aristocracia.
dispôs para estudar medicina em sua curta existência, a
Possuidor de forte personalidade, nutria desprezo "De Humani Corporis Fabrica" é o exemplo maior da
pelos que não acolhiam seus dogmas e doutrinas. notável inquietude do homem frente ao desconhecido.
Escreveu inúmeros trabalhos, muitos deles perdidos Para realizar sua obra, ousou desafiar as normas vigentes
no incêndio que destruiu o Templo da Paz em 191. Ain- ao estudar o corpo humano nos ossos que negociava no
da assim, o que restou - cerca de 83 trabalhos de atribui- Cemitério dos Inocentes e nos corpos que seqüestrava
ção segura - permite que se construa a imagem de que, do depósito mortuário de Montfaucon. -Acumulou, em
sem dúvida, foi o mais prolífico, rabugento e influente pouco mais de 8 anos, mais conhecimento que toda a
escritor médico da Antiguidade. humanidade colhera em 4.000 anos. Mesmo sendo um
Em sua autobiografia, datada de 193, faz uma profis- contemporizador, rompeu com os dogmas galênicos.
são de fé hipocrática e aristotélica: as faculdades da alma Ofereceu à medicina a oportunidade de ingressar em sua
derivam do complexo humoral do corpo. era moderna. Tivesse tido a longevidade de Galeno, pos-
Seus trabalhos podem ser agrupados em médicos, sivelmente o progresso médico se anteciparia em torno
filosóficos e filológicos. de 2 séculos. Infelizmente, num episódio ainda nebuloso,
Seção I
CAPíTULOSBÁsICOS

morreu aos 50 anos, quando regressava de uma peregri- séculos de crenças errôneas que, conforme as doutrinas
nação à Terra Santa, determinada pelo Rei Carlos V, que hipocrática e galênica, definiam a circulação como ocor-
comutara a pena de morte na fogueira, condenação rendo num sistema compartimentado, no qual o sangue
imposta à Vesalius pela Santa Inquisição, sob a acusação que chegava às extremidades lá ficava, não retomando.
de ter vivissectado um fidalgo. Descreveu, assim, o aparelho cardiovascular com
Colombo, discípulo de Vesalius e seu sucessor em precisão anatômica e funcional.
Pádua, descreve a concordância entre os movimentos do Compreendeu que a circulação era contínua, que o
sangue e as valvas cardíacas. Andrea Cesalpino cunha o coração era uma bomba motriz, e que os pulmões aera-
termo circulação sanguínea. vam o sangue.
Desta época de grande fertilidade, destaca-se o nome Poucos, como Descartes, o aceitaram. Como tantos
de Miguel Servet y Revés, médico e teólogo, nascido em outros reformadores, foi tenazmente combatido pelos
Villanueva de Sijena, na Espanha, em 151l. galenistas ferrenhos.
Foi o autor da primeira descrição impressa da circu- Escreveu um segundo opúsculo, contestando Jean
lação pulmonar e percebeu que a artéria pulmonar não Riolan, famoso anatomista francês, que o criticara de for-
poderia ser um vaso de nutrição. ma veemente.
Infortunadamente, tornou-se o único homem de que Em 1651 publicou "Exercitationes de Generatione
se tem notícia a sofrer dupla condenação à fogueira, tan- Animalium", produto de seu amplo interesse na repro-
to pelos católicos de Viena, como pelos protestantes cal- dução animal.
vinistas, sentenciado como herético por suas posições a Ocupou todos os cargos do Colégio Real de Medici-
respeito da Santíssima Trindade. A execução foi cumpri- na, menos o de Presidente que recusou pois, quando lhe
da em 27 de outubro de 1553. foi oferecido,já se sentia demasiado idoso e cansado para
Em 1602, Hyeronymus Fabricius ab Aquapendente, assumir tal encargo. '
professor de Harvey em Pádua, descreveu as valvas Após a execução de Charles I, em 1649, passou a ser
venosas. perseguido pelo governo de Cromwell que nele identifi-
William Harvey (Fig. 3-1) nasceu em 1578, em Fol- cava um perigoso delinqüente político em face de sua
kestone, no condado de Kent, na Inglaterra. Iniciou seus proximidade com o rei destronado.
estudos em Cambridge e os concluiu em Pádua, sob a Abatido e infeliz, ainda encontrou forças para fazer
tutela de Hyeronymus Fabricius ab Aquapendente. construir um novo prédio para o Colégio Real de Medici-
Retomou a Londres em 1602 e 2 anos depois se casou na, em 1652, nele depositando toda a sua biblioteca parti-
com a filha do médico do reiJames I, Sir Lancelot Brow- cular. Este prédio foi destruído no grande incêndio de
ne. Através da influência do seu irmão, John Harvey, que Londres, em 1666, e pouco de seus livros foram salvos.
trabalhava na Casa Real, conseguiu um posto de médico Em 1657, aos 80 anos, morreu de um acidente vascu-
assistente no Saint Bartholomew' s Hospital e em 1609, lar encefálico.
aos 31 anos, assumiu o posto da chefia em decor~ncia da Após a sua morte, foi amplamente reconhecido, e
morte do seu predecessor. Lá permaneceu por 34 anos, só uma estátua foi erigida em sua homenagem no Colégio
deixando o hospital por conta da perseguição que lhe Real de Medicina.
moveu o governo de Cromwell. Harvey, ao seu modo, foi um revolucionário. Subver-
Em 1618, foi nomeado médico extraordinário do rei, teu a ordem vigente, mas não pôde ver seus esforços co-
secundando Sir Theodore de Mayerne, o mais antigo. roado,s. Entretanto, seus trabalhos impulsionaram a ciên-
Quando o rei morreu, em 1625, Harveyo assistiu duran- cia e repercutiram mundo afora.
te toda a sua enfermidade, pois de Mayerne encontra- Em 1661, três anos após sua morte, Marcello Malpighi
va-se em viagem. Charles I, o sucessor, o manteve no car- descreveu os capilares pulmonares, graças ao microscópio
go e com ele desenvolveu grande amizade, até ser que pouco antes fora inventado por van Leeuwenhoek,
deposto e executado, em 1649. consagrando o que Erasistratos, quase 2000 antes, intuíra.
Em 1628, escreveu sua mais famosa obra, contendo Rapidamente, nos séculos seguintes, os conhecimen-
72 páginas: "Exercitatio Anatomica de Motu Cordis et tos sobre o aparelho cardiovascular se acumularam.
Sanguinis in Animalibus". Em 1733, Halles efetuou a primeira medição da pres-
Certamente, os anos em Pádua e os ensinamentos são venosa em animais; em 1757, Albrecth von Haller
anatômicos de Vesalius, Cesalpino e Servet muito lhe aju- propôs a teoria do "vis a fronte"; em 1819, Marx descre-
daram, mas sua genialidade foi incontestável. A partir de veu as 3 túnicas da parede venosa; em 1840, Jean-Leo-
uma soberba intuição, observando o comportamento das nard Pouiseuille estabeleceu as leis da hemo dinâmica;
veias quando se garroteava o membro superior, destruiu em 1864, Goltz evidenciou o caráter contrátil das veias.
Capítulo 3
ANATOMIA MÉDiCO-CIRÚRGICADO SISTEMAVASCULAR

Todo este conhecimento anatômico e funcional pos- Do raios X à tomografia helicoidal e à ressonância
sibilitou o advento de novas técnicas semióticas e tera- magnética - a história da visualização do corpo humano
pêuticas. zn vzvo.
Bassi, em Veneza, demonstrou a inversão do fluxo nas Do éter e do clorofórmio às drogas atuais - a história
veias safenas conseqüente à insuficiência valvar ostial e sis- da anestesia que possibilitou a intervenção nas cavidades
tematizou a técnica de exame. Trendelenburg comple- sagradas e nos seus órgãos, antes inatingíveis.
mentou esta técnica demonstrando a relação dos sistemas Do mercúrio e do bismuto aos antibióticos - a histó-
venosos superficial e profundo dos membros inferiores. ria da luta contra os microorganismos patógenos.
O século XX trouxe a imagem para o cotidiano da Da evolução e da hereditariedade ao genoma e à clo-
investigação médica. A partir da descoberta dos Raios X nagem - a história do mecanismo da vida e do domínio
por Roengten em 1896, até o final deste século, as técnicas da gênese.
por imagens se sucederam em vertiginosa progressão, Nesta longa caminhada, povoada de heróis quixotes-
sobretudo nas suas 2 últimas décadas: radiologia conven- cos, o homem atinge, neste terceiro milênio, seu apogeu
cional, radioscopia, tomografias, ultra-sonografias, tomo- científico e possui as ferramentas disponíveis para gerar
a vida.
grafias computadorizadas, cintilografias, ressonância mag-
nética. Qual teria sido a expressão facial de da Vinci ou de Apenas o tempo dirá se esta pretensão, a de rivalizar
com o Criador, lhe trará o infortúnio ou a felicidade.
Vesalius caso pudessem testemunhar uma imagem recons-
truída em 3 dimensões de uma cavidade abdominal?
MacPheeters e Rice introduziram a flebografia em APARELHO CARDIOVASCULAR
1929. Reynaldo dos Santos fez a primeira aortografia
translombar no mesmo ano. Em 1951, Peirce introduziu O aparelho cardiovascular (Fig. ~-2) é definido como um
um cateter na artéria femoral, e 2 anos depois, Seldinger sistema fechado de tubos contínuos, contendo uma bomba
aperfeiçoou esta técnica, consagrando-se como o inven- motriz central, o coração, e sistemas filtrantes interpostos.
tor do cateterismo vascular. Os vasos sanguíneos diferenciam-se em artérias, veias
e capilares.
Outros aparelhos, inicialmente apenas de caráter fun-
O conteúdo do aparelho cardiovascular é o sangue.
cional, passaram a contar com características de aparatos
de imagem: oscilômetro, pletismógrafo, Doppler, power- Seu objetivo final é promover a circulação do san-
Doppler... Hoje, quantos de nós, cirurgiões vasculares,já gue, assegurando, dessa forma, a nutrição tecidual e a
hbmeostase.
dispensamos a angiografia em troca de uma boa imagem
de ecocolor Doppler? A circulação é regida por leis físicas, como as leis de
Ohm, Pascal, Hagen-Poiseuille e Bernouille e regulada,
Este estonteante progresso, ocorrido no cerne da
in vivo, pelas arteríolas musculares, que direcionam o flu-
evolução da cirurgia, a partir do advento da anestesia e
xo através de sua contração e dilatação, mediadas pelo
da descoberta dos micróbios, trouxe à luz uma I}ovaespe- sistema nervoso central através da liberação de aminas e
cialidade, nos meados do século XX: a cirurgia vascular.
peptídeos vasoativos.
Das simples ligaduras arteriais e amputações, aprende-
Em condições normais, cerca de 84% do volume total
mos, numa rápida caminhada, a reconstruir vasos lesa-
circulante encontram-se nas veias, o que explica a idéia de
dos, ultrapassar outros tantos obstruídos,. remover veias
doentes, tratar aneurismas aórticos. que as artérias continham ar, o que perdurou, praticamen-
te, até Harvey.
E, quando imaginávamos que nada de novo poderia Ánatomicamente, o aparelho cardiovascular é dividi-
acontecer neste fim de século, eis que homens de notável do em um sistema arterial e um sistema venoso, entre os
imaginação, como Grüntzig, Reitler e Parodi, reinventam quais se encontram os capilares, constituindo a chamada
a especialidade e nos transformam em desbravadores "periferia" .
das luzes vasculares, fazendo com que todos tivéssemos
que redescobrir a especialidade.
SISTEMA ARTERIAL
Há apenas 15 anos, quem ousaria imaginar que um
aneurisma aórtico pudesse ser tratado pela virilha? Cabe às artérias distribuir o sangue para todos os tecidos
Os 100 anos do século XX equivaleram a milhões de e conduzi-Io aos pulmões para oxigená-Io. Assim, 2 sub-
anos na história. sistemas arteriais são reconhecidos: o aórtico e o pulmo-
São pequenas grandes histórias que nos assombram nar, tradicionalmente, chamados de grande e pequena
como uma cabal demonstração da célere evolução da circulação (Fig. 3-2). Trataremos apenas do primeiro por
medicina. se adequar ao escopo desta obra.
Seção I
CAPíTULOS
BÁSICOS

Nervo vago
esquerdo

Nervo recorrente
laríngeo direito
Nervo recorrente
larí ngeo esquerdo

Fig.3-2.O aparelho
cardiovascular. Fig. 3-3. Bulbo aórtico. artérias coronárias e aorta ascendente.
BA = Bulbo aórtico; AA = aorta ascendente; AD = aorta descendente;
TVBCDe TVBCE= troncos venosos braquiocefálicos; CD = coronária
-- -
direita; CE = coronária esquerda; VCS = veia cava superior.
SISTEMAAÓRTICO
- --- .. -
A aorta é a continuação do ventrículo esquerdo, e sua ori-
Para autores clássicos, esta terminologia não é reco-
gem tem sido objeto de inúmeros estudos anatomofisio- nhecida, sendo esta porção da aorta considerada como a
lógicos.
parte vertical do arco aórtico.
Podemos, como regra geral, estabelecer que existe A aorta ascendente possui cerca de 5 cm de compri-
uma região de transição ventriculoaórtica, em que pode- mento e possui 2 porções: intrapericárdica e extraperi-
mos reconhecer elementos cardíacos e vasculares em ínti-
cárdica, cujos comprimentos variam em função da inser-
ma simbiose, denominada vestlôulo aórtico. ção da serosa cardíaca que, por sua vez, não é constante.
Nesta região, encontra-se o anel fibroso esquerdo, de Entretanto, a primeira é sempre muito maior que a se-
formato circular, formado por fibras miocárdicas e tecido gunda (Fig.3-4).
conjuntivo denso, fornecendo, assim, uma estrutura capaz Sua origem corresponde ao nível da borda inferior
de oferecer a sustentação necessária para a valva aórtica. da terceira cartilagem costal esquerda, e sua terminação,
Esta valva é constituída por 3 válvulas ou cúspides, à borda superior da segunda cartilagem costal esquerda.
cuja denominação é variável. A mais utilizada, obedecen- Inicialmente, possui trajeto oblíquo para a direita,
do a critérios embriológicos, as denomina de-' direita, afastando-se, dessa forma, da artéria pulmonar que tem
esquerda e posterior, embora, no adulto, sua orientação
corresponda melhor à definição de anterior, póstero-
direita e póstero-esquerda. Para os cirurgiões cardíacos é
habitual chamá-Ias de coronárias (direita e esquerda) e
não coronária.
Cada uma delas possui formato semilunar, com uma
borda parietal firmemente aderida à parede aórtica e
uma borda livre. Nas suas extremidades encontram-se Prega de
Rindfleisch
áreas de espessamento que são chamadas de nódulos da
valva aórtica ou nódulos de Arâncio.
Os óstios coronarianos são localizados ao nível da
bolsa valvular das respectivas cúspides.
Imediatamente acima do plano valvar, a parede aórti-
ca se dilata em forma de um gomo trilobulado, o bulbo
aórtico. Cada uma dessas dilatações é chamada de seio
aórtico ou seio de Valsalva (Fig. 3-3). Fig. 3-4. Aorta ascendente. TP = Tronco pulmonar; AO = aurícula
Acima dos seios de Valsalva inicia-se a aorta ascen- direita; VO = ventrículo direito; VE = ventrículo esquerdo; TVBCO e

dente (Fig. 3-3). TVBOE = troncos venosos traqueocefálicos; VCS = veia cava superior.
Capítulo 3
ANATOMIA MÉDiCO-CIRÚRGICADO SISTEMAVASCULAR

direção oposta e que, em sua origem, situa-se anterior- Podemos considerar, no arco, a presença de 4 faces:
mente à aorta. Logo, torna-se fortemente verticalizada lateral esquerda ou ântero-Iateral; lateral direita ou pós te-
até se infletir para a esquerda, originando o arco aórtico ro-Iateral; inferior e superior.
(ou porção horizontal do arco aórtico para os clássicos), e Neste trajeto, cruzando o mediastino superior da di-
formando o assim chamado 'Joelho direito ou anterior reita para a esquerda, contrai relações importantes com
da aorta", terminologia que não encontra correspondên- diversas estruturas anatômicas.
cia na Nomenclatura Anatômica. Esta região é, habitual- Na sua face póstero-Iateral, situa-se à frente da tra-
mente, algo mais dilatada que a precedente e foi cha- quéia e do esôfago, travando íntimas relações com estes
mada de "grande seio aórtico" pelos autores franceses órgãos. Nicaise e Lejars descrevem uma "impressão aórti-
(Figs. 3-3 e 3-4). ca" na traquéia no ponto onde se entrecruzam e que con-
A aorta ascendente relaciona-se intimamente à veia têm apenas uma pequena quantidade de tecido areolar,
cava superior através da sua borda direita e à origem da chamada de "primeira bolsa serosa" por Calori. Entre ela
artéria pulmonar, envoltas ambas na mesma bainha vas- e o esôfago, observa-se freqüentemente uma aderência
cular (Figs. 3-3 e 3-4). De forma razoavelmente constante, muscular que recebeu o nome de "músculo aórtico-eso-
um prolongamento da bainha vascular e do pericárdio fágico de Gillette".
seroso, infiltrado pela gordura pré-cardíaca, é encontra- Neste plano, encontram-se, da direita para a esquer-
do sobre sua origem e denominado prega de Rindfleisch da, o nervo laríngeo recorrente esquerdo, o plexo cardía-
ou prega pré-aórtica de Concato. co profundo e o ducto torácico, profundamente situados
Em sua face posterior, relaciona-se à traquéia e ao entre a aorta e os condutos aéreo e digestivo (Fig. 3-6).
brônquio principal direito. Na sua face ântero-Iateral, em contato com a pleura
O arco da aorta (Fig. 3-5) (croça ou c<yado da aorta) mediastínica, a aorta é cruzada, sucessivamente, pelos ner-
se inicia atrás da metade direita do manúbrio esternal, ao vos frênico esquerdo, cardíacos aflteriores (cardíaco cervi-
nível da borda superior da segunda cartilagem costal cal inferior do vago e cardíaco cervical superior esquerdo
esquerda e termina ao nível da borda inferior da quarta do simpático) e vago esquerdo. O primeiro, acompanha-
vértebra torácica, o que corresponde à extremidade es- do das artérias e veias pericardiofrênicas, não se encontra
ternal da segunda cartilagem costal esquerda. Situa-se, em íntimo contato com a aorta, uma vez que, com fre-
portanto, totalmente no medias tino superior. qüência, está envolvido pela pleura mediastinal. O último,
Entre seus dois extremos, assume a forma de uma longa qu~ a cruza ao nível da emergência da artéria subclávia
curva de direção póstero-sinistra, o que faz com que a aorta esquerda, encontra-se firmemente aplicado sobre ela e
vá assumir sua localização topográfica habitual, à esquerda
da coluna vertebral, formando o assim chamado '~oelho
esquerdo ou posterior da aorta", terminologia que não
encontra correspondência na Nomenclatura Anatômica.

Fig. 3.6. Aorta in situ - norma frontal. 1. Troncobraquiocefálico;


Fig. 3-5. Esquema e imagem arteriográfica do arco aórtico e seus 2. artéria carótida comum direita; 3. artéria e veia subcláviasdireitas;
ramos. 1. Troncobraquiocefálico;2. artéria subcláviadireita; 4. artéria carótida comum esquerda; 5. veia braquiocefálicaesquerda;
3. artéria carótida comum direita; 4. artéria vertebral direita; 6. veia braquiocefálicadireita; 7. nervo vago com recorrente laríngeo
5. artéria carótida comum esquerda; 6. artéria subcláviaesquerda; esquerdo; 8. nervo frênico com artéria pericardiofrênicaesquerda;
7. artéria vertebral esquerda. 9. ducto torácico.
Seção I
CAPíTULOS
BÁsICOS

fornece o nervo recorrente laríngeo esquerdo que forma ambos possuindo quatro faces: anterior, posterior, direita
uma alça em torno do arco, ascendendo sobre o ligamen- e esquerda e limitados entre si aproximadamente na
to arterial ao longo da borda direita do arco. Sobre ela, à altura da sétima vértebra cervical.
frente do nervo vago e atrás do nervo frênico, encontra-se No primeiro segmento, a sintopia é assim resumida
a veia intercostal superior esquerda (Figs. 3-6 e 3-7). (Fig. 3-7):
Na sua face inferior, cavalga o pedículo pulmonar, re-
lacionando-se à artéria pulmonar direita, envolta pelo
. A face posterior se relaciona à cadeia simpática, os nervos
esplâncnicos esquerdos e à veia ázigo menor superior.
prolongamento pericárdico comum aos dois vasos e ao
Dela emergem as.2!térias intercostais posteriores; as di-
ligamento arterial que, desprendendo-se da artéria pul-
reitas são, naturalmente, mais longas que as esquerdas,
monar esquerda, se fixa na parte média da borda inferior
cruzando os corpos vertebrais anteriormente.
do arco aórtico e com o nervo recorrente laríngeo es-
querdo. Em seguida, na sua porção mais posterior, caval-
. A face direita se aplica sobre a coluna vertebral e forma
ga o brônquio principal esquerdo do qual está separada um canal entre ela e o esôfago, situado em plano mais
ventral - o canal aórtico-esofagiano. O ducto torácico
apenas por tecido areolar, denominado por Calori de
"segunda bolsa serosa" (Figs. 3-6 e 3-7). percorre esta face até a quarta vértebra torácica, e a
Da sua face superior emergem seus três volumosos veia ázigo maior e o nervo vago direito encontram-se a
certa distância desta face.
ramos: artéria ou tronco braquiocefálicQ, carótida co-
mum esquerda e subclávia esquerda.
A aorta descendente ou torácica tem origem ao nível
. A face esquerda encontra-se em contato com a pleura
mediastÍnica, e a aorta escava a superfície pulmonar es-
da borda inferior da quarta vértebra torácica, à esquerda querda, formando a impressão aórtica.
da coluna vertebral e termina, graças ao seu trajeto oblí- . A face anterior cruza a face posterior do pedículo pul-
quo para a direita, em situação anterior à borda inferior monar esquerdo, travando íntimas relações com o
da décima segunda vértebra torácica, quando cruza o brônquio principal e as veias pulmonares; neste ponto,
hiato aórtico (Fig. 3-7). fornece o tronco das artérias bronquiais (variável) que
Possui um estreitamento em seu lúmen, situado se divide em um ramo para cada brônquio correspon-
entre a emergência da artéria subclávia esquerda e o liga- dente. Entre o pedículo pulmonar e a aorta, o nervo
mento arterial, chamado de istmo da aorta. vago esquerdo surge e cruza o vaso em sua parte mais
Do ponto de vista topográfico podemos nela consi- s~perior, dirigindo-se para a face anterior do esôfago.
derar dois segmentos, o primeiro à esquerda da coluna No segundo segmento, a sintopia é assim resumida:
vertebral e o segundo coincidindo com a linha média,
. A face posterior encontra-se agora sobre os corpos ver-
tebrais e as veias intercostais posteriores ou a própria
veia ázigo menor inferior. O ducto torácico, nas cerca-
# nias do hiato diafragmático, se encontra aplicado a esta
face. A veia ázigo maior, da mesma forma aplicada so-
bre o plano ósseo, possui, à direita, sentido oblíquo as-

. cendente, a certa distância da aorta.


A face anterior é relacionada intimamente ao esôfago,
que ocupa o espaço entre a aorta e a veia ázigo maior, e
COQ1o plexo vagal que o circunda.
. As faces direita e esquerda encontram-se em relação às
pleuras mediastÍnicas.
Podemos dividir seus ramos em parietais e viscerais.
Os ramos parietais são as ~rtérias, frênicas superio-
res, os ftltimos 9 pares de artérias intercostais posteriores
e as.artérias subcostais.
Os ramos viscerais são pequenos ramos pericárdi-
Fig. 3.7. Aorta in situ - norma mediastínicaesquerda. 1. Tronco cos, pequenos ramos mediastinais, as artérias bronquiais
braquiocefálico;2. artéria e veia subcláviasdireitas;3. artéria carótida em número variável de 1 a 4 e de 4 a 5 artérias esofág-icas.
comum esquerda; 4. artéria subcláviaesquerda; 5. nervo vago com
recorrente laríngeo esquerdo; 6. nervo frênico com artéria Embora apenas muito raramente possa ser um ramo
pericardiofrênicaesquerda; 7. esôfago; 8. pedículo pulmonar direto da aorta, a .artéria radicular magna ou artéria de
esquerdo; 9. veia intercostal superior esquerda. Adamkiewicz assume grande importância prática para o
Capítulo 3
ANATOMIA MÉDiCO-CIRÚRGICADO SISTEMAVASCULAR

cirurgião vascular. Sua origem é, habitualmente, encon- nais osteofibrosos com os corpos vertebrais, atravessados
trada na nona ou décima artéria intercostal posterior pelas artérias e veias lombares que aqui cruzam a cadeia
esquerda, podendo variar, entretanto, desde T-9 até T-12. simpática lombar.
Em apenas 1,5% dos casos pode possuir origem lombar. A face direita contrai íntima relação com a veia cava
Na dependência, entre outros fatores, da existência de inferior que, entretanto, a partir da segunda vértebra
uma artéria espinal anterior interrupta em toda a sua lombar, no sentido cranial, inclina-se para a direita e afas-
extensão e da suplência arterial fornecida pela artéria ra- ta-se da aorta. O espaço aórtico-caval é preenchido por
dicular magna, a ocorrência de sofrimento isquêmico tecido areolar e nel~ encontram-se linfonodos das ca-
medular nas cirurgias que exijam clampeamento aórtico deias periórticas. Acima de L-2, o pilar diafragmático
alto pode ocorrer, levando a complicações graves, como direito costeia a face lateral da aorta.
a paraplegia pós-operatória.
A aorta abdominal se inicia na passagem da aorta A face esquerda se relaciona ao pilar diafragmático
esquerdo e encontra-se muito próxima à glândula supra-
descendente pelo hiato aórtico, ao nível da face anterior
renal e rim esquerdos. Para a primeira, fornece a.artéria
da décima segunda vértebra torácica e termina ao nível
da quarta vértebra lombar onde se bifurca nas artérias .capsular média que está envolta numa bainha vascular
ilíacas comuns (Fig. 3-8). densa e que foi çlenominada de ligamento supra-reno-
Para a literatura francesa, tais limites são distintos. aórtico por Albarrán e Cathelin. O pólo superior do rim
esquerdo encontra-se muito mais próximo da aorta que o
Testut e Latarjet consideram sua origem ao nível da déci-
ma primeira vértebra torácica e sua terminação ao nível seu pólo inferior, e o ureter correspondente desce parale-
lamente ao vaso.
do disco intervertebral L4-L5. Da mesma forma, conside-
ram sua terminação formada pela artéria sacra média, Sua face anterior, também chamada retroperitoneal,
verdadeira continuação da aorta para aqueles autores, está coberta pelas vísceras abdominais. Nela podemos
sendo as artérias ilíacas comuns tão-somente 2 ramos considerar 3 porções distintas: celíaca, duodenopancreá-
colaterais da aorta. tica e terminal.
Encontra-se em toda a sua extensão confinada ao es-
A região celíaca de Luschka está limitada pela curva-
paço retroperitoneal. tura menor do estômago, piloro, primeira porção do
Em todo o seu trajeto, a aorta abdominal encontra-se duodeno e pelo lobo caudado do fígado. Na sua profun-
envolta por uma densa atmosfera, célulo-adiposa, onde didade, a aorta abdominal pode ser encontrada emergin-
se encontram dispersos o plexo simpático pré-vertebral e do do hiato aórtico e ladeada pelos pilares diafragmáti-
vasos linfáticos.
coso O ligamento arqueado, constituído por fibras oriun-
A face posterior repousa sobre os corpos vertebrais, das dos pilares diafragmáticos, pode ser mais ou menos
deles separada pelo ligamento longitudinal anterior da desenvolvido, e sua participação na síndrome do eixo
coluna vertebral, cobrindo a cisterna do quilo (cisterna celíaco tem sido advogada por alguns autores. A cada la-
de Pecquet). A cada lado, situam-se os músculos psoas. do da aorta, encontramos um gânglio nervoso, os gân-
Em sua origem, esses músculos possuem verd;deiros ca- glios semilunares, centros do plexo celíaco ou solar. Cada
nervo vago se dirige a um deles, formando alças paras-
simpáticas que são denominadas de alça memorável de
Wrisberg à direita e alça de Laignel-Lavastine à esquerda.
Aqui, a aorta abdominal fornece seus primeiros ramos:
as artérias frênicas inferiores, as artérias capsulares
~édias e o tronco celíaco. Acima deste último, é cruzada
pela veia gástrica esquerda (gástrica posterior).
Fig. 3-8.
Aorta abdominal. A região celíaca está recoberta pelo peritônio parie-
1. AA. frênicas inferiores; tal posterior e pelo omento menor que, em sua parte mé-
2. tronco celíaco; dia (porção de Toldt), em indivíduos magros, permite vi-
3. a. mesentérica superior;
sualizar a aorta por transparência.
4. aa. capsulares médias;
5. aa. renais; 6. aa. genitais; A importância cirúrgica deste segmento aórtico é
7. a. mesentérica inferior; sobejamente conhecida pelos cirurgiões vasculares que
8. aa. lombares;
9. a. sacra média; podem ter a necessidade de abordá-Io em cirurgias eleti-
10. aa. ilíacascomuns; vas e, mais freqüentemente, nas grandes emergências
11. aa. ilíacasinternas; hemorrágicas, como nos aneurismas rotos. Reconhecen-
12. aa. ilíacasexternas. do os pilares diafragmáticos e o tronco celíaco, torna-se
Seção I
CAPíTULOS
BÁsICOS

relativamente fácil a colocação de uma pinça vascular ou A aorta abdominal, ademais, é cruzada obliquamen-
de um compressor sobre a aorta. te pela raiz do mesentério, imediatamente por baixo do
No segundo segmento, a aorta encontra-se em situa- duodeno.
ção posterior ao istmo pancreático e, abaixo deste, à ter- Ao longo do seu trajeto, fornece de 3 a 4 pares de ar-
ceira porção do duodeno. Muito raramente, um peque- Lérias lombares, nascidas da face posterior da aorta. A~
no recesso peritoneal, chamado de recesso retroduode- téria sacra média fornece de 1 a 2 artérias lombares, tota-
nal ou fosseta retroduodenal de Jonesco, pode separar lizando, em média, 5 pares.
este órgão da aorta. Ao nível da quarta vértebra lombar, a aorta se divide
Aqui, oferece ramos de grande importância. em artérias ilíacas comuns ou primitivas. No sentido
O primeiro deles, a artéria mesentérica superior, nas- mais puro da anatomia, em termos filogenéticos, sobre-
ce de sua face anterior e tem trajeto oblíquo descenden-
tudo, a artéria sacra média é o ramo terminal da aorta e
as 2 artérias ilíacas comuns não passariam de ramos
te, à direita, estando situada sob o colo pancreático e so-
colaterais.
bre a terceira porção do duodeno, configurando, assim,
o pinçamento aortomesentérico ou pinça de Wilckie, por Entretanto, por razões médico-cirúrgicas, consagrou-se
vezes responsável por uma síndrome compressiva do o termo bifurcação aortoiliaca, intuindo-se tais vasos como
os ramos terminais da aorta.
tubo digestivo que leva o mesmo nome.
As artérias ilíacas comuns nascem formando um
O segundo ramo corresponde às artérias genitais -
espermática no homem, ovariana na mulher. Nascem da ângulo (ângulo infra-aórtico) de 60° entre si e terminam
face lateral da aorta, entre as artérias renais e a mesenté- se bifurcando em artérias ilíacas externas e internas.
rica superior. Challier e Murard descreveram 3 tipos de bifurcação
aortoilíaca:
Algo abaixo, ao nível da primeira vértebra lombar,
emergem, também da face lateral da aorta, as artérias re- 1. Alta, acima da quinta vértebra lombar (20%).
nais direita e esquerda, sendo que a primeira tem trajeto
2. Média, ao nível da quinta vértebra lombar (60%).
retrocaval em direção ao hilo renal correspondente.
3. Baixa, ao nível do estreito superior da bacia (20%).
A aorta, neste segmento, é cruzada ventralmente por
troncos venosos de grosso calibre: a veia renal esquerda, Portanto, o comprimento da artéria é variável, sen-
que atravessa o ângulo aórtico-mesentérico e o tronco lie- do, ~m média, de 5 cm.
nomesentérico que a cruza entre o tronco celíaco e a arté- Em sua origem as artérias ilíacas comuns encon-
ria mesentérica superior. A veia mesentérica superior tram-se em íntimo relacionamento com os linfonodos
encontra-se à direita da aorta, em paralelo à artéria. das cadeias ilíacas e com as veias ilíacas comuns. Esta
Deve ser lembrado que a veia renal esquerda pode se relação venosa varia com o lado considerado.
encontrar em posição retroaórtica. À direita, a veia é posterior à artéria somente se afas-
Este plano, por conter vasos arteriais e venosos de tanta tando lateralmente junto à desembocadura na veia cava
inferior.
importância, foi chamado de plano retroduodenopancreá-
tico por Testut e LataIjet e nele encontramos os filetes ner- À esquerda, a veia, em sua origem, é posterior, mas
vosos oriundos do plexo celíaco que irão constituir os pIe- logo se coloca à direita da artéria e se afasta progressiva-
xos mesentérico superior e aorticorrenais e a cadeia linfáti- mente em direção à veia cava inferior, sendo cruzada pela
ca retropancreática, estrutura que contém cerca de 6 linfo- artéria ilíaca comum direita, sítio em que pode se asses-
nodos e que recebeu o clássico nome de "grupamento gan- tar uma banda fibrosa na veia, originando a síndrome de
glionar portal comum retropancreático de Descomps e Cockett ou May-Thurner.
Turnesco" . Além destas relações peculiares, entram em contato
O terceiro segmento, terminal, se estende da borda in- com as demais estruturas anatômicas da pelve.
ferior do duodeno até a bifurcação. É o único em que a aor- Posteriormente à artéria, encontram-se o corpo da
ta está coberta apenas pela lâmina quadrangular do peritô- quinta vértebra lombar, a quinta artéria lombar e a cadeia
nio parietal posterior, não havendo vísceras acima dela. simpática.
A cerca de 4 a 5 cm acima da bifurcação, ao nível, Pela sua face medial, encontram-se ramos do plexo
portanto, da terceira ou quarta vértebra lombar, emite, hipogástrico inferior.
da sua face anterior, a .artéria mesentérica inferior. Pela sua face lateral, relaciona-se ao músculo psoas e
Está recoberta neste trajeto por vasos linfáticos e ao nervo ilioinguinal.
pelos ramos dos plexos autonômicos intermesentérico e As relações da face anterior são as de maior impor-
hipogástrico superior. tância prática.
Capítulo 3
ANATOMIA MÉDiCO-CIRÚRGICADO SISTEMAVASCULAR

A artéria ilíaca comum direita está recoberta pelo dorsal do pênis e glútea inferior (obviamente, as artérias
peritõnio parietal posterior e pode ser vista por transpa- destinadas à genitália interna ou externa só existirão no
rência, enquanto que, à esquerda, está recoberta pelo me- sexo correspondente).
sossigmóide que a cavalga, deixando-a situada na fosseta O segundo. chamado de tronco glúteo pelos clássi-
sigmóidea. cos, fornece as artérias iliolomb::!r f' sacrais laterais e se
As estruturas que descem do compartimento retro- continua como artéria g.lútea superior.
peritoneal, notadamente os vasos genitais e os ureteres, Para os clássicos, tais ramos se dividem em 3 tipos:
produzem interessante sintopia. 1. Artérias extrapélvicas: as que abandonam a pelve pe-
Os primeiros, situados por fora das artérias, por pos- los forames isquiático maior (glútea superior e pu-
suírem trajeto levemente oblíquo, progressivamente denda), isquiático menor (isquiática) e obturado (ob-
delas se aproximam, mas, em realidade, cruzam a face turadora). Devemos lembrar que a artéria pudenda
anterior das artérias ilíacas externas.
interna retoma à pelve através do forame isquiático
Os ureteres, por sua vez, as cruzam de forma distinta. menor a fim de se dirigir ao períneo.
Luschka estabeleceu a seguinte lei: "O ureter direito cru- 2. Artérias intrapélvicas parietais.
za a artéria ilíaca externa a 15 milímetros da bifurcação, e 3. Artérias intrapélvicas viscerais.
o ureter esquerdo cruza a artéria ilíaca comum a 15 milí-
metros acima da bifurcação". Apesar de tanta controvérsia, a terminação da artéria
Obviamente, tal "Lei de Luschka" é demasiadamente ilíaca interna é assunto em aberto, ocorrendo citações
absolutista, talvez refletindo o caráter monárquico do que atribuem à artéria pudenda interna o papel de ramo
terminal.
notável anatomista germânico.
A artéria ilíaca externa se estende da bifurcação ilíaca
Na realidade, dependendo da altura da bifurcação
ilíaca, esta relação variará. Entretanto, num aspecto a lei ao anel femoral quando se torn~ artéria femoral.
é correta: o ureter direito sempre cruza o eixo ilíaco Sua face anterior é recoberta pelo peritõnio parietal
mais abaixo que o seu correspondente esquerdo. posterior até a altura da reflexão peritoneal nas cerca-
nias do ligamento inguinal quando passa a ocupar o es-
As. artérias ilíacas comuns fornecem .ramos perito-
paço subperitoneal conhecido como espaço de Bogros.
neais. musculares e ~ara linfonodos adjacentes, de pe-
No seu segmento inicial, é cruzada sucessivamente
queno significado clínico. Sua colateral mais importante
é a ureteral inferior. pelo ureter e vasos ovarianos. O cruzamento ureteral é
Terminam se dividindo em artérias ilíacas externa e mais freqüente à direita, como mencionado anterior-
mente, e os vasos ovarianos se situam lateralmente a esta
interna.
estrutura do aparelho urinário.
A ~téria ilíaca interna (hipo!?:<Ístrica)se estende da
No seu segmento terminal, é cruzada sucessivamente
bifurcação ilíaca até sua terminação, que é objeto de dis- pelo nervo ilioinguinal, pelo ducto deferente no homem
cussão na literatura anatõmica.
ou pelo ligamento redondo do útero na mulher e pelas
Os autores franceses consideram que ela pQSsui2 seg- veias circunflexas ilíacas, tão bem conhecidas do cirur-
mentos: um, chamado inicial ou segmento da ligadura gião vascular que deve tomar extremo cuidado ao confec-
com cerca de 4 cm de extensão, e um segundo chamado cionar túneis para a região inguinofemoral a fim de evi-
de segmento pélvico, terminal ou de expansão, quando tar hemorragias profusas advindas da lesão acidental
oferece seus ramos. destes vasos.
O segmento inicial, contido acima do estreito superior À direita, ainda se relaciona ao íleo terminal e à es-
da bacia, tem comprimento variável em função do modo que/da ao sigmóide.
de bifurcação da artéria ilíaca comum que pode ser mais Medialmente, permanece em contato íntimo com a
alta ou mais baixa. No primeiro caso, as artérias ilíacas veia ilíaca externa.
externa e interna têm curso paralelo, a primeira recobrin- Lateralmente, se relaciona ao músculo psoas.
do a segunda, o que possui óbvias implicações cirúrgicas. Seus ramos são a artéria epigástriça inferior e a arté-
Apesar de admitir uma extrema variação no modo de ria circunflexa ilíaca profunda.
nascimento dos seus ramos, tanto os clássicos como' os A primeira possui significado médico-cirúrgico notável.
autores de língua inglesa concordam que, ao nível da articu- Nasce habitualmente a poucos milímetros acima do
lação sacroilíaca, acima da incisura isquiática maior, a arté- ligamento inguinal e se dirige com tr<yeto horizontal pa-
ria ilíaca interna oferece 2 troncos, anterior e posterior. ra a borda lateral do músculo reto do abdome. Após pe-
O primeiro fornece as artérias vesical inferior. retal netrar na bainha fascial do referido músculo, se verticali-
média, uterina. valrinal, obturadora, pudenda interna, za e ascende, trocando anastomoses com artérias inter-
perineal, bulbar do pênis. uretral, profunda do pênis~ costais e terminando por se anastomosar com a artéria
Seção I
CAPíTULOSBÁSICOS

epigástrica superior, ramo da artéria torácica (mamária)


interna. Esta rede epigástrica com suas conexões inter-
costais, frênicas e musculofrênicas representa uma vasta ..
possibilidade de circulação colateral nas obstruções da
aorta, notavelmente na coarctação aórtica.
Em cerca de 25% dos casos, fornece a artéria obtura-
-
dora o que deve ser sempre lembrado, pois esta variação
pode levar a acidentes hemorrágicos tanto nas cirurgias B B
TIli"EóIDEl
de hérnia inguinal como nas revascularizações extra-ana-
'CRICÓIDE
tômicas pelo forame obturado. '3 '2

A A
Em sua origem, trava contato com o anel inguinal pro- 1f
fundo, se situando em posição médio-distal e é abraçada
pela alça do ducto deferente ou do ligamento redondo do
útero, de acordo com o sexo correspondente. Constitui aqui Fig. 3-9. Origem e terminação das artérias carótidas comuns.
a prega inguinal média, sendo o limite das fossetas ingui- Plano A-A = plano esternoclavicular, Plano B-B= plano da borda superior
nais lateral e média e forma o limite lateral do triângulo de da cartilagem tireóidea. 1. Artéria carótida comum esquerda (porção
Hesselbach que é completado pela borda lateral do múscu- intratorácica); 2. artéria carótida comum esquerda (porção cervical); 3.
artéria carótida comum direita.
lo reto anterior e pelo ligamento inguinal. A ligadura dos
vasos epigástricos, dada a futima relação ao ducto deferente
e ao funículo espermático, é manobra freqüentemente utili- À direita, nasce da bifurcação do tronco braquiocefá-
zada pelos cirurgiões gerais nas hernioplastias inguinais. lico, e à esquerda diretamente do arco aórtico, o que de-
termina que esta possua comprilJlento maior que aquela,
à custa do segmento intratorácico que lhe é exclusivo
SISTEMA ARTERIAL NO PESCOÇO (Fig. 3-9).
Variações de origem ocorrem com relativa freqüên-
o pescoço é atravessado por 2 sistemas arteriais distintos, cia, sendo as mais comuns a existência de um tronco
cuja finalidade é assegurar fluxo encefálico contínuo. comum em 16% dos casos e a emergência da artéria caró-
Os sistemas carotídeo e vertebrobasilar são presa fácil tida comum esquerda do próprio tronco braquiocefálico
da doença aterosclerótica o que faz com que tais vasos, no em 8% dos casos. Outras variações, como a inexistência
pescoço, sejam freqüentemente visitados pelo cirurgião do tronco braquiocefálico, o que determina a origem da
vascular. artéria carótida comum direita diretamente do arco aór-
Basta lembrar o fato de que a endarterectomia carotí- tico, ou sua bifurcação mais baixa ou mais alta, são bas-
dea é a cirurgia vascular mais freqüentemente realizada tante raras (Figs. 3-10 e 3-11).
nos Estados Unidos (cerca de 240.000jano) p'}ra se tor- As artérias carótidas comuns, talvez pelo fato de não
nar claro que sua anatomia merece especial dedicação do oferecerem ramos colaterais, possuem diâmetro quase
especialista. constante desde sua origem até o seu término e que varia
As artérias carótidas comuns ou primitivas têm ori- entre 6 e 8 mm.
gem distinta a cada lado, porém terminam .de forma igual, A porção torácica da artéria carótida comum esquer-
dividindo-se em artérias carótidas externa e interna. da se situa em plano posterior ao tronco braquiocefálico

Fig. 3-10. Esquema e imagem arteriográfica de


'~~'i1
' , variação da origem carotídea. 1. Tronco
braquiocefálico;2. artéria carótida comum
esquerda; 3. origem comum do TBC(tronco
braquiocefálico)e da ACC(artéria carótida
comum) esquerda.
Capítulo3
ANATOMIA MÉDiCO-CIRÚRGICA DO SISTEMA VASCULAR

Fig. 3-11. Esquema e imagem arteriográfica de variação da origem


carotídea. 1. Troncobraquiocefálico;2. artéria carótida comum
direita; 3. artéria carótida comurn esquerda.

e anterior à artéria subclávia esquerda que a ladeiam. É Aqui, a fáscia cervical superficial se desdobra e for-
cruzada anteriormente pela veia braquiocefálica esquerda ma um envoltório para o músculo esternocleidomastói-
(veia inominada). Entre ambos encontram-se ramos do ple- deo, determinando a presença de 4 planos nesta região.
xo cardíaco vagal (nervos cardíacos superiores). Acima O primeiro plano é constituído pelo próprio múscu-
da veia, em seu trajeto ascendente, se situa atrás da pri- lo, que é formado por 2 fascículos: o esternal (esternooc-
meira articulação esternocostal esquerda e lateralmente cipitomastóideo), medialmente situado, mais espesso e
à traquéia que ocupa o mesmo plano coronal, mas anteri- que tem sua origem na linha nucal superior e no proces-
or ao esMago. Entre a artéria e o conduto traqueoesofági- so mastóideo, inserindo-se no manúbrio esternal e o cla-
co encontra-se a alça ascendente do nervo recorrente vicular (cleidomastóideo), latefal ao primeiro, cuja ori-
laríngeo esquerdo. Lateralmente a ela, encontra-se o ner- gem é no processo mastóideo, e a inserção, no quarto
vo frênico, mais adiante o ducto torácico, e, posterior- medial da clavícula.
mente, o nervo vago (Fig. 3-6).
Ainda neste plano superficial da região, devemos
A origem da artéria carótida comum direita encon-
mencionar a presença dos ramos sensitivos do plexo cer-
tra-se atrás da articulação esternoclavicular correspon-
vical que emergem em ponto próximo à metade da bor-
dente, da mesma forma que o início da porção cervical
da posterior do músculo esternocleidomastóideo. São
da esquerda (Fig. 3-12).
em número de 5, a saber: auricular e mastóideo que pos-
A porção cervical da artéria carótida comum se situa,
suem trajeto ascendente, cervical transverso e supraclavi-
portanto, na região esternocleidomastóidea ou carotí-
dea. culares laterais e mediais que possuem trajeto descen-
dente. .
Entre as origens clavicular e esternal se situa um
pequeno espaço triangular, chamado de fossa supraclavi-
cular menor, em cuja profundidade encontra-se a veia
jugular interna, se constituindo numa importante via de
acesso a este vaso.
O segundo plano é representado pelo folheto poste-
riol{ da loja fascial muscular.
O terceiro plano é dividido em 3 partes no sentido
cefalocaudal: no limite ântero-proximal da região, pelo
músculo digástrico, em seus 2/3 proximais pela cadeia
de linfonodos cervicais profundos envoltos em tecido
Fig. 3-12. Troncos vasculares retroesternais. 1. Fascículo clavicular do areolar e dispersas em torno da bainha vascular e no seu
músculo esternocleidomastóideo; 2. fascículoesternal do músculo
esternocleidomastóideo; 3. músculo esterno-hióideo;4. músculo terço distal por uma zona miofascial, constituída pelo
esternotireóideo; 5. tronco braquiocefálico;6. artéria carótida comum omo-hióideo, parte do esternocleidomastóideo e parte
direita; 7. artéria subcláviadireita; 8. artéria carótida cornurn da fáscia cervical média.
esquerda; 9. artéria subcláviaesquerda; 10.veia subcláviaesquerda;
O quarto plano, de grande importância, é o plano
11. veiajugular externa esquerda; 12.veiajugular interna esquerda;
neurovascular. Nele encontramos os vasos subclávios, o
13. veiajugular interna direita; 14. nervo frênico direito; 15. nervo
vago direito; 16. nervo vago esquerdo; 17. nervo recorrente laríngeo sistema carotídeo, aveia jugular interna e os nervos hipo-
direito; 18. nervo recorrente laríngeo esquerdo; 19. ducto torácico. glosso, pneumogástrico e suas dependências; dessa for-
Seção I
CAPíTULOSBÁsICOS

ma, é, por muitos, chamado de região carotídea propria-


mente dita, em forma de um canal prismático.
A parede posterior deste canal é osteomuscular, re-
presentada pelos processos transversos das vértebras cer-
vicais e pelos músculos pré-vertebrais. A artéria se situa
em posição medial aos tubérculos anteriores dos proces-
sos transversos, sendo que o da sétima é cruzado pela ar-
Fig. 3-13. Sintopia da
téria vertebral. O volumoso tubérculo da sexta, tubérculo artéria carótida comum.
carotídeo ou de Chaissagnac, é ponto de referência de 1. Artéria carótida comum;
primeira grandeza e se situa ao nível da borda inferior da 2. artéria vertebral;
cartilagem cricóide. Nos traumas cervicais, com sangra- 3. artéria tireóidea inferior;
4. lobo da tireóide; 5. ramo
mento carotídeo, é possível comprimir a artéria carótida
inferior da alça cervical;
comum contra o tubérculo de Chaissagnac, na tentativa 6. gânglio cervical médio;
de conter a hemorragia. 7. alça de Dropnick; 8. alça
A parede ântero-medial é visceral e constituída ante- de Vieussens; 9. gânglio
vertebral; 10. nervo vago.
riormente pela traquéia e laringe e posteriormente pelo
esMago e faringe que formam um canal - a goteira tra-
queoesofágica - que é percorrido pelos nervos recorren- Acima, ou ao nível do músculo omo-hióideo, a face
tes laríngeos. posterior do lobo tireóideo apresenta um verdadeiro ca-
A parede ântero-lateral é muscular e representada nal vertical, impressão causada pela sua contigüidade
pelo músculo esternocleidomastóideo. O músculo omo- com a artéria carótida.
hióideo a cruza em seu terço médio e divide a região em Ao longo da face anterior de ~sua metade proximal,
duas porções - supra e infra-omo-hióidea. Tillaux cha- encontra-se a raiz inferior da alça cervical (alça do hipo-
mava a porção subjacente ao músculo omo-hióideo de glosso), constituída pelo ramo descendente do hipoglosso.
"porção perigosa" por sua proximidade com os vasos Em toda a sua extensão, reunidos pela bainha vascular,
torácicos e aconselhava que, em casos de ligadura da ar- a artéria carótida comum se relaciona à veiajugular interna
téria carótida, este segmento fosse evitado. que se situa lateralmente e ao nervo vago, posteriormente.
O platisma e a fáscia cervical média recobrem a re- Por detrás da região parotídea, a artéria carótida co-
gião e se nota a presença dos ramos sensitivos do plexo mum se bifurca.
cervical que emergem em ponto próximo à metade da Esta região é atravessada por 2 dos ramos da artéria
borda posterior do músculo esternocleidomastóideo. carótida externa - as artérias facial e lingual. A artéria
São em número de 5, a saber: auricular e mastóideo que facial, mais proximal, cruza a face profunda dos múscu-
possuem trajeto ascendente, cervical transverso e supra- los digástrico e estilo-hióideo e passa sob a glândula sub-
claviculares laterais e mediais que possuem traj(jto des- mandibular, onde cavalga o corpo da mandíbula em
cendente. direção à face. Neste trajeto oferece 4 pequenos ramos
Ao longo deste trcyeto cervical, contrai relações de constantes - artérias palatina ascendente, tonsilar ou
importância. Na porção infra-omo-hióidea, a artéria ti- pterigóidea, submandibular e submental.
reóidea inferior a cruza posteriormente, e a primeira A artéria lingual, mais distal, desaparece logo após
porção da artéria vertebral se situa medialmente a ela. As sua emergência sob o músculo hioglosso, em direção à
veias tireóideas inferiores, por sua vez, são pré-carotí- língua:
deas, cruzando a artéria em direção a sua variável desem- Neste trajeto, contrai interessante sintopia com o
bocadura. Em situação posterior e ligeiramente lateral, músculo digástrico, o osso hióide e o nervo hipoglosso,
encontra-se a cadeia simpática cervical, aqui com 2 gân- podendo ser localizada em 2 áreas triangulares que
glios: o cervical médio e o inferior ou intermediário, representam os possíveis pontos de aborçlagem cirúrgica
quando este existe (Fig. 3-13). para a sua ligadura - os triângulos de Bécla[d e Pirogoff
Nota-se a presença de duas alças neurais delgadas, (Fig. 3-14).
uma que contorna a artéria subclávia e que comunica os O primeiro, por baixo do ventre posterior do digás-
gânglios cervicais médio e inferior (ou diretamente ao trico, é limitado pelo tendão intermediário deste múscu- I
estrelado caso o cervical inferior esteja fusionado ao pri- lo, pelo nervo hipoglosso e pelo corno posterior do osso
meiro torácico), chamada de alça de Vieussens, e outra hióide e se constitui no sítio de eleição para a ligadura da
que contorna a artéria tireóidea inferior, partindo do artéria lingual em cirurgia, uma vez que ainda não forne-
gânglio cervical inferior, chamada de alça de Dropnick. ceu seus principais ramos. Dependendo da situação do
Capítulo3
ANATOMIA MÉDiCO-CIRÚRGICA DO SISTEMA VASCULAR

A bifurcação carotídea, de forma diversa do que acon-


tece na maioria das artérias, não ocorre pela sua simples
dicotomização, formando um ângulo agudo. Pelo contrá-
rio, a artéria se alarga em forma bulbar antes de se divi-
dir. Esta peculiar estrutura toma o nome de bulbo carotí-
deo.
O bulbo carotídeo pode assumir formas variadas,
sendo sua apresentação mais comum a que envolve as ar-
térias carótidas comum e interna. Sua importância funci-
onal tem sido objeto de muitos estudos (Fig. 3-15).
Sabe-se que a parede arterial do bulbo contém, prati-
Fig. 3-14. Trígonos da região supra-hióidea. 1. Triângulo de Béclard
(em vermelho); 2. triângulo de Pirogoff (em preto);
camente, apenas fibras elásticas e é mais fina que a da
3. digástrico com 3a. ventre anterior; 3b. tendão intermediário; carótida comum que o originou. Tal microestrutura pos-
3c. ventre posterior; 4. nervo hipoglosso; 5. milo-hióideo; sibilita que ele seja facilmente distensível, o que levou
6. hioglosso; 7. estilo-hióideo; 8. a. lingual. Boyd a concluir que isto permite que variações da pres-
são arterial sejam facilmente detectadas pelo corpúsculo
nervo hipoglosso, caso ele se posicione algo mais eleva- carotídeo e registradas com maior presteza pelas fibras
do, o triângulo se desfaz e passa a ser conhecido como aferentes simpáticas existentes em sua parede.
ângulo de Béclard. O segundo, à frente do ventre poste- Na face posterior do bulbo carotídeo, encontra-se
rior do digástrico, é limitado pelo tendão intermediário uma estrutura de pequeno tamanho, semelhante a um
deste músculo, pelo nervo hipoglosso e pela borda poste- grão de trigo, de cor avermelhada. Foi inicialmente descri-
rior do músculo milo-hióideo. Oferece alguns ramos co- to por Kaller e, em seguida, por Ârnold, que a denominou
laterais, mais constantemente, as artérias supra-hióidea, gânglio intracarotídeo. Luschka, posteriormente, preferiu
dorsais da língua em número variável de 2 a 3 e a artéria chamá-Ia de glândula carotídea e Rieffel e Princeteau a
sublingual, nutridora da glândula salivar homônima. cognominaram corpúsculo retrocarotídeo, termo muito
Termina como artéria profunda da língua ou ranina e se encontradiço na literatura anatômica. Trata-se do corpús-
anastomosa com a do lado oposto na ponta da língua. culo carotídeo, único barorreceptor anatomicamente
reconhecido no corpo humano, embora alguns fisiolo-
O nervo hipoglosso, atravessando quase horizontal-
gistas advoguem a existência de outros, disseminados pelo
mente a região, desaparece sob o músculo milo-hióideo,
sistema aórtico. Recebe aferentes viscerais gerais do nervo
acompanhado da veia lingual que lhe é inferior.
glossofaríngeo, que têm origem no núcleo do trato solitá-
Um elemento anatômico que não pertence à região rio. Desse núcleo, as informações oriundas do corpúsculo
porém que, pela freqüência com que é comprometido carotídeo são transmitidas ao centro vasomotor da forma-
durante as cirurgias sobre a bifurcação carotídea, assume ção reticular que coordena a resposta eferente através de
especial relevância, é o ramo marginal mandibular do fibras que se comunicam com os neurônios pré-ganglio-
nervo facial, que percorre a face anterior do corpo man- nares do núcleo dorsal do vago, gerando respostas paras-
dibular a curta distância de sua borda inferior.
simpáticas e através de fibras reticulospinais, que se diri-
A rotação da cabeça, combinada com sua extensão, gem aos neurônios pré-ganglionares da coluna lateral,
durante a cirurgia, faz com que este nervo se aproxime gerando respostas simpáticas. Esta inervação autonômica
do campo operatório e aumenta o risco de lesão por explica o porquê de a manipulação da região poder gerar
afastadores. tanto hipertensão como hipotensão arterial. Sua vasculari-

Fig. 3-15. Variações do bulbo carotídeo. 1. Bulbo


com envolvimento na ACI; 2. bulbo com
envolvimento da AO e ACC; 3. bulbo com
envolvimento da AO e ACC e dilatação mais
1 2 3 4 5 acentuada; 4. bulbo envolvendo ACC, ACI e
ACE; 5. bulbo envolvendo ACC e ACE.
HI
Seção I
CAPíTULOSBÁSICOS

..,.1
'T
.,., .' . ''': ~ '.

_~'-I
...1 ~ ..~ H

, ".,..
1

.' Fig. 3-16. Corpúsculo carotídeo. 1. Corpúsculo


II
carotídeo; 2. pólo arterial com arteríolas
1
/I. nutridoras; 3. pólo neurovenoso com plexo
I
venoso; 4. nervo do corpúsculo carotídeo,
aferente visceral geral do IX par; 5. terminações
simpáticas livres; 6. terminações simpáticas
encapsuladas.

zação arterial é assegurada por 2 a 4 pequenas arteríolas ção lateral, o que justifica o clássico aforismo anatômico:
originadas da artéria carótida comum e que penetram em "a carótida interna é externa e a carótida externa é inter-
seu interior através de um meso situado no seu pólo dista!, na" (Fig. 3-19).
chamado de ligamento de Mayer. A drenagem venosa se Ela se estende até o colo do côndilo mandibular,
faz através de um plexo, que, emergindo do seu pólo pro- onde termina se dividindo em artérias temporal superfi-
ximal, logo conflui para o tronco venoso tirolinguofacial cial e maxilar.
(Fig.3-16). A artéria é dividida em 2 segmentos pelo cruzamen-
Sua óbvia importância funcional, a possibilidade de to do ventre posterior do músculo digástrico.
sedi ar neoplasias e a sua extrema sensibilidade à dissec- O primeiro segmento, de maior importância cirúrgi-
ção, o tornam objeto obrigatório de reconhecimento de ca, apresenta aspectos de sintopia que devem ser ressalta-
todo o cirurgião que se aventure na região, sobretudo do dos: é cruzada anteriormente, no sentido caudocefálico,
cirurgião vascular. O bloqueio anestésico local da face pelo tronco venoso tirolinguofacial, pelo nervo hipoglos-
posterior do bulbo carotídeo é parte integrante da boa
técnica cirúrgica nas endarterectomias de carótida.
A altura da bifurcação carotídea tem sido objeto de
interesse de diversos autores. Tradicionalmente, a borda
superior da cartilagem tireóide, que corresponde ao dis-
co intervertebral C3 - C4, é considerada como o nível
mais freqüente, em torno de 90% dos casos, da 1>ifurca- C2
ção carotídea. Smith e Larsen a estudaram por meios ra-
diológicos em 100 indivíduos e a encontraram na altura 2 2
habitual em 76% deles (Fig. 3-17). 1 8
7 11

r
A bifurcação carotídea está, portanto, na maioria das
C3
vezes, localizada numa área triangular delimitada pelo 10 20 I

I
ventre posterior, músculo digástrico proximalmente, pe- 27 25
75 75 ,
la veia jugular interna lateralmente:; e pelo tronco venoso 14 14 I
tirolinguofacial, e que é chamada de triângulo de Guyon.
Tal dispositivo anatômico é atravessado pelo nervo hipo- L 18
11
17
4
I
C4

glosso que, assim, nele inscreve um triângulo menor,


4 2
chamado triângulo de Farabeuf (Fig. 3-18). C5
2 1
Com freqüência relativamente alta, o tronco venoso
não existe, e as veias facial, lingual e tireóidea superior
afluem em separado para a veia jugular interna em dife- Total ~
rentes alturas. Nestes casos, a veia facial representa o li-
Fig. 3-17. Nível da bifurcação carotídea com relação à coluna cervical.
mite dos dispositivos anatômicos citados. (Retirado de Smith D, larsen JL. On the symmetry and asymmetry of
A artéria carótida externa se coloca em posição me- the bifurcation of the common carotid artery. Neuroradiology 1979;
dial, enquanto a artéria carótida interna se situa em posi- 17:245.)
Capítulo 3
ANATOMIA MÉDiCO-CIRÚRGICADO SISTEMAVASCULAR

Fig. 3-18. Triângulos de


Guyon e Farabeuf. O
,
primeiro delimitado pelas
linhas brancas e o
segundo pela linha
vermelha. 1. Ventre
posterior do músculo
digástrico; 2. veia jugular
interna; 3. tronco venoso
tirolinguofacial; 4. artéria
carótida comum;
5. artéria carótida interna;
6. artéria carótida
externa; 7. artéria
tireóidea inferior;
Fig. 3-20. Sintopiadas artérias carótidas comum, interna e externa.
8. artéria lingual;
1. Artéria carótida comum; 2. artéria carótida interna;
9. artéria facial; 10. nervo
3. artéria carótida externa; 4. músculo omo-hióideo; 5. ventre
hipoglosso.
posterior do músculo digástrico; 6. artéria occipital;7. artéria auricular
posterior; 8. nervo hipoglosso; 9. músculo estilo-hióideo;10. nervo
glossofaríngeo.
so e pelo ventre posterior do digástrico. Oferece os ramos
colaterais, em número de 6: tireóidea superior, lingual, fa-
faríngeo, posteriores e do músculo estilo-hióideo que,
cial, occipital, auricular posterior, faríngea ascendente (fa-
acompanhando o ventre posterior do músculo digástri-
ríngea inferior ou faringomeníngea de Theile).
co, se projeta anteriormente. Ao nível do colo do côndilo
As 3 primeiras nascem em sucessão no seu bordo
mandibular, termina se dividindo em artérias temporal
medial e têm trajeto medial; as duas subseqüentes, da
superficial e maxilar (Fig. 3-21).
sua face posterior, sendo a occipital ao nível da facial e a
auricular posterior um pouco acima, e têm tr<yeto lateral; A artéria carótida interna sedirige ao encéfalo e ter-
a última nasce na sua face lateral e ascende entre a artéria mina se dividindo nas artérias cerebrais anterior e mé-
carótida interna e a faringe (Fig. 3-20). dia. Neste trajeto, convém dividi-Ia em 4 porções: cervi-
Em seu segundo segmento, encontra-se recoberta
cal,-petrosa, cavernosa e cerebral.
pela mandíbula e pela parótida. Atravessa o espaço for- A porção cervical, após um curto tr<yeto de cerca de
mado pela divergência dos músculos estiloglosso e estilo- 12 a 20 mm, quando permanece situada lateralmente à ar-
téria carótida externa, faz uma inflexão suave e inverte sua
posição em relação a este último vaso, que, por sua vez,
também muda de direção, tornando-se medial ou póste-
ro-medial a ele. Dirige-se à parede lateral da faringe e a par-
tir daí ascende verticalmente em direção ao canal carótico.
A cadeia simpática cervical, bem como o gânglio cervical
superior se mantêm em sintopia constante, situados na
face póstero-lateral da artéria carótida interna. Aveia jugu-
lar interna e o nervo vago permanecem laterais a ela, com
exce~ão da vizinhança imediata da base do crânio quando
divergem mutuamente, cada qual em busca de seu orifício,
o que fazcom que a veiae o nervo secoloquem em plano
posterior ao arterial e determina a existênciade um triân-
gulo (carótido-júgular) cuja base é uma linha que une o
canal carótico ao foramejugular, e cujos vér.ticessão repre-
sentados pelos vasos em trajeto divergente.
Neste nível, o nervo vago fornece o nervo laríngeo
superior que a cruza posteriormente e desce até pouco
Fig. 3-19. Ramos da artéria carótida externa. 1. Artéria carótida acima do bulbo carotídeo onde penetra no músculo
comum; 2. artéria carótida interna; 3. artéria carótida externa;
4. artéria tireóidea superior; 5. artéria lingual;6. artéria facial;
constritor inferior da faringe.
7. artéria occipital;8. artéria auricular posterior; 9. artéria faríngea Da mesma forma que a artéria carótida externa, a
ascendente; 10. artéria maxilar; 11. artéria temporal superficial. porção cervical da artéria carótida interna possui 2 seg-
Seção I
CAPíTULOSBÁsICOS

Fig.3-21.Sintopia das artérias carótidas comum,


interna e externa. 1. Artéria carótida comum;
2. artérja carótida interna; 3. artéria carótida
externa; 4. alça cervical; 5. ventre posterior do
músculo digástrico; 6. artéria occipital; 7. artéria
auricular posterior; 8. nervo hipoglosso;
9. músculo estilofaríngeo; 10. nervo
glossofaríngeo; 11. nervo laríngeo superior;
12. músculo estilo-hióideo; 13. músculo
estiloglosso; 14. músculo pterigóideo media!.

mentos em decorrência do cruzamento do ventre poste- Desta descrição, podemos depreender que a artéria
rior do músculo digástrico (Figs. 3-20 e 3-21). carótida interna é cruzada anteriormente, desde a sua
No primeiro segmento, o músculo esternocleidomas- origem até a penetração no crânio, por diversas estrutu-
tóideo a recobre parcialmente e é cruzada anteriormente ras, assim nomeadas em sentido caudocefálico:
pelo tronco venoso tirolinguofacial, pelo nervo hipoglos-
1. Tronco venoso tirolinguofacial.
so e pela artéria oCclpital, imediatamente abaixo do ven-
tre postérior do músculo digástrico. 2. Nervo hipoglosso. '
No segundo segmento, atingindo a região do proces- 3. Artéria occipital.
4. Músculo estilo-hióideo.
so estilóide, esta estrutura óssea a separa da artéria cará-
tida externa, onde também se encontra o nervo glossofa- 5. Nervo glossofaríngeo.
ríngeo. 6. Artéria auricular posterior.
Neste trajeto, é cruzada sucessivamente pelo múscu- 7. :Tendão conjunto dos músculos estiloglosso, estilofa-
lo estilo-hióideo, nervo glossofaríngeo, artéria auricular ríngeo e estilo-hióideo.
posterior, e o tendão conjunto dos músculos estiloglosso,
estilofaríngeo e estilo-hióideo (ramalhete de Riolan). Na maior parte das cirurgias sobre a artéria carótida
interna, sobretudo nas endarterectomias carotídeas, so-
Penetra, então, no canal carótico - porção petrosa -
mente é necessário abordar o segmento abaixo do ventre
onde, após curto trajeto vertical infle te-se anteriormente
posterior do músculo digástrico. Dessa forma, há a neces-
e, voltando a se verticalizar, emerge no crânio através do
sidade muito freqüente da ligadura do tronco venoso ti-
forame lácero. Em seguida, penetra no seio cav~rnoso - rolinguofacial ou das veias que o compõem quando aflu-
porção cavernosa - onde faz duas curvas sucessivas, to-
indo em separado e da mobilização do nervo hipoglosso.
mando a forma de um "S", por alguns chamado de sifão
carotídeo. Perfura a dura-máter e exterioriza-se ântero- Em determinadas ocasiões, a artéria esternomastói-
lateralmente à sela túrcica, constituindo, assim, sua por- dea, ramo da artéria occipital, acompanhada de sua veia
ção cerebral. satélite, ao cruzar o nervo hipoglosso podem sujeitá-lo
A artéria carótida interna apresenta marcantes dife- contra a artéria carótida interna, impedindo a sua mobili-
renças entre suas porções cervical e craniana. Após sua zação, o que obriga à ligadura destes vasos (Fig. 3-22).
passagem pelo canal carótico, muda consideravelmente Em ocasiões mais raras, ocorre a necessidade do iso-
sua estrutura histológica, reduzindo a adventícia e afi- lamento de maior comprimento da artéria carótida inter-
nando a média e oferece ramos, o que não acontece em na, o que pode ser conseguido com a secção do ventre
sua porção cervical. posterior do músculo digástrico e da artéFia occipital.
De sua porção petrosa, nascem as artérias caróti- Nos casos, felizmente muito infreqüentes, de acessos
co-timpânica e do canal pterigóideo. Da porção intraca- ainda mais altos à artéria carótida interna, a secção do
vernosa nascem as artérias do seio cavernoso, hipofisial músculo estilo-hióideo associada à mobilização do nervo
anterior e meníngea. Seus ramos mais importantes, con- glossofaríngeo e, até mesmo, a secção do tendão conjun-
tudo, advêm da sua porção cerebral: artérias oftálmica, to do ramalhete de Riolan podem ser efetivadas desde
cerebral anterior, cerebral média, comunicante posterior que se mobilize lateralmente a parótida e se promova a
e coróidea anterior. subluxação da mandíbula.
Capítulo 3
ANATOMIA MÉDiCO-CIRÚRGICADO SISTEMAVASCULAR

Por sua situação e estreita relação com as estruturas


cervicais, estudaremos aqui a região supraclavicular.
Também chamada de triângulo supraclavicular em
virtude de sua forma, está situada entre as regiões carotí-
dea e a nuca.
Seu limite anterior é a borda posterior do músculo
esternocleidomastóideo, e o posterior é a borda anterior
do músculo trapézio, ambos com trajeto oblíquo de dire-
ções opostas. Como o limite distal corresponde à parte
média da clavícula, configura-se, assim, um triângulo
isósceles de base larga.
Em indivíduos com hipertrofia muscular, como em
Fig. 3-22. Aprisionamento do fisiculturistas extremados, a região tende a desaparecer,
nervo hipoglosso pela artéria tornando-se tão-somente uma fenda, em virtude da apro-
esternomastóidea.
ximação dos músculos que a limitam.
Na sua porção superior é plana ou ligeiramente con-
Alguns autores, como Berguer e Kieffer, advogam vexa; imediatamente acima da clavícula, uma escavação
que, para tais casos, as táticas de acesso devam ser modi- se faz notar, mais ou menos acentuada, chamada de fossa
ficadas, utilizando-se acesso retrojugular.
supraclavicular e que corresponde ao ápice pulmonar.
A abordagem cirúrgica da bifurcação carotídea e das
Após rebatermos pele e tecido celular subcutâneo
porções infradigástricas de seus ramos terminais é efetu-
ada, habitualmente, através de uma cervicotomia longi- nos deparamos com o platism<t e os filetes de distribui-
tudinal, acompanhando a borda medial do músculo es- ção dos nervos supraclaviculares medial e lateral. Rebati-
ternocleidomastóideo ou de uma cervicotomia transver- do este plano, reconhecemos a fáscia cervical superficial
sa acompanhando a borda inferior da mandíbula a cerca recobrindo toda a região e se laminando em seus limites
de dois centímetros da mesma e iniciada na borda lateral a fim de envolver os músculos esternocleidomastóideo e
do músculo esternocleidomastóideo até cerca de três trapézio. Abaixo, se insere na clavícula e se confunde com
centímetros além de sua borda medial. a fáscia peitoral maior.
Ambas dão acesso adequado à região pretendida; O plano subjacente à fáscia cervical superficial é cha-
entretanto, o segundo acesso, embora teoricamente mais mado de plano do omo-hióideo. Este músculo atravessa
cosmético, tem a desvantagem de impossibilitar a dissec- obliquamente a região, dividindo-a em 2 triângulos.
ção de porções mais extensas da artéria carótida comum, O proximal, bem maior, é o trígono occipital, também
dificultar o acesso mais proximal da artéria carótida chamado espaço supra-omo-hióideo ou triângulo omotra-
interna e exigir do cirurgião um maior cuidadtl para evi- pezial e o dista!, trígono supraclavicular também chamado
tar a lesão do nervo auricular posterior (Fig. 3-23). de espaço infra-omo-hióideo ou triângulo omoclavicular.

Fig. 3-23. Acesso cirúrgico à


bifurcação carotídea. 1. Tracejado
da incisão cervical; 2. exposição da
bifurcação carotrdea pela remoção
do tecido conjuntivo e ligadura do
tronco venoso tirolinguofacial;
3. campo cirúrgico adequado com
a preservação do nervo hipoglosso
e do músculo digástrico; 4. ligadura
da artéria esternomastóidea para
3 4 melhor mobilização do nervo
hipoglosso.
'~rA
Seção I
CAPíTULOSBÁsICOS

o primeiro está preenchido por tecido areolar rico Este compartimento, em que a fossa supraclavicular está
em gordura, em que se encontram linfonodos e filetes contida, é convencionalmente chamado de comparti-
nervosos sensitivos. mento supraclavicular ou desfiladeiro cervical ou desfila-
O segundo está totalmente recoberto pela fáscia cer- deiro cervicotorácico, termos que consagram a sua desti-
vical média ou fáscia pré-traqueal que, como já visto, se nação anatômica: é zona de passagem das regiões cervi-
insere em ambos os omo-hióideos (Fig. 3-24). cais e torácicas entre si e de ambas para o membro supe-
Esta fáscia, na região supraclavicular, também possui rior. Naturalmente estreita, abriga o "pedículo" do mem-
formato triangular e nela podemos considerar 3 lados e 2 bro torácico, formando verdadeiro "hilo" para este seg-
faces. A borda superior é o músculo omo-hióideo, e a infe- mento além de franquear a passagem de elementos ana-
rior, a clavícula - aqui, se confunde com a fáscia de revesti- tômicos entre as regiões cervicais e torácicas. Contém,
mento do músculo subclávio e envia expansões para a veia portanto, estruturas neurovasculares nobres, participan-
jugular interna e subclávia; a borda medial é constituída tes dos mecanismos da respiração e da fonação, da nutri-
pelos músculos esternocleidomastóideo e esternotireói- ção vascular encefálica, do sistema nervoso autônomo e
deo envolvidos pela fáscia cervical superficial. Sua face an- de toda a viabilidade anatomofuncional do membro to-
terior é sutilmente separada da fáscia cervical superficial rácico. Estes fatos conferem a esta zona extraordinária
por tecido areolar frouxo. Ambas são perfuradas pela veia importância. É visitada pelo cirurgião vascular com relati-
jugular externa, junto ao ângulo media! deste triângulo, va freqüência: quer seja para tratamento de fenômenos
que caminha em direção à veia subclávia. Com freqüência, compressivos neurovasculares, para abordagem das arté-
a fáscia cervical média junto ao hiato da veiajugular exter- rias subclávia e vertebral ou para a realização de simpatec-
na está reforçada por fibras arciformes que constituem a tomias cervicotorácicas, exige deste especialista um exce-
chamada prega falciforme de Dittel. lente conhecimento de sua anatomia e da técnica cirúrgi-
Removidos o músculo omo-hióideo e a fáscia cervi- ca, sem o que, cobra do paciente um preço bastante alto.
cal média, podemos notar que o tecido areolar adiposo Este compartimento supraclavicular, tendo, portan-
se continua no triângulo supraclavicular, formando a to, a forma de pirâmide, nos oferece ao estudo 3 faces, 3
chamada gordura pré-escalênica. bordas, 1 base e 1 vértice (Fig. 3-25).
Examinada após a remoção deste plano conjuntivo, a Sua borda anterior corresponde ao músculo esterno-
região apresenta um aspecto peculiar: considerando-se o cleidomastóideo, o posterior ao trapézio e o profundo,
plano ósseo dos processos transversos de C7 a C2 como o aos processos transversos das vértebras cervicais.
plano mais profundo e observando-se o tr<yeto do mús- Sua face lateral, correspondendo ao tegumento, é for-
culo escaleno anterior que tem direção distomedial e o mada pela pele, tecido celular subcutâneo, gordura pré-
trajeto do músculo escale no posterior e levantador da es- escalênica, músculo omo-hióideo e fáscias cervicais. Sua
cápula que têm direção distolateral, cria-se um comparti- face látero-posterior é formada pelo esplênio da cabeça,
mento de forma piramidal cuja base tem direção látero- elevador da escápula e escaleno posterior, superpostos da
,
distal e que é complementado pelos planos superficiais, superfície para a profundidade. Sua parede médio-ante-
pela primeira costela e pelo orifício superior do tórax. rior é formada pelo músculo escaleno anterior.

Fig. 3-24. Dissecção


superficial da região
supraclavicular.
1. Clavícula;
2. músculo trapézio;
3. músculo
esternocleidomastóideo;
4. músculo omo-hióideo; Fig. 3-25. Limites do compartimento supraclavicular. 1. Sexta vértebra
5. fáscia cervical média; cervical; 2. músculo trapézio; 3. músculo esternocleidomastóideo;
6. veia jugular externa; 4. fáscia cervical superficial; 5. músculo escaleno posterior; 6. músculo
7. ramos superficiais do escaleno anterior; 7. veia jugular interna; 8. artéria carótida comum;
plexo cervical. 9. compartimento supraclavicular. 1
Capítulo 3
ANATOMIA MÉDiCO-CIRÚRGICADO SISTEMAVASCULAR

Pela sua importância, convém recordar a anatomia transverso da sétima vértebra cervical à borda posterior
dos músculos escalenos (Fig. 3-26). do músculo esternocleidomastóideo.
O músculo escaleno anterior tem origem nos tubér- A primeira costela divide este triângulo em duas por-
culos anteriores dos processos transversos de C3 a C6, ções: por trás dela, o compartimento corresponde à aber-
através de pequenas lingüetas tendíneas, e seus fascícu- tura superior do tórax e contém o ápice pulmonar, a
los carnosos se reúnem formando um corpo alongado cúpula pleural e o zimbório pleural ou aparelho suspen-
que, dirigindo-se em sentido distolateral, vai se inserir no sor da pleura (aparelho de Zuckerkandl) que a fixa à séti-
tubérculo do escaleno anterior da primeira costela ma vértebra cervical através dos ligamentos costopleural,
(tubérculo de Lisfranc) e na crista anterior do sulco da ar- vertebropleural e pleurotransverso; à sua frente, o com-
téria subclávia. Importante sintopia deste músculo é a partimento corresponde à fossa supraclavicular e se con-
presença do nervo frênico em sua face anterior. tinua com a região axilar, constituindo, no sentido mais
O músculo escaleno médio, o maior e mais longo de estrito do termo, o verdadeiro desfiladeiro cervicotoráci-
todos, tem origem nos tubérculos anteriores dos proces- co-braquial.
sos transversos de C2 a C6 (eventualmente de Cl a C7),
Seu vértice corresponde ao ponto de encontro dos
através de pequenas lingüetas tendíneas. Seus fascículos
músculos esternocleidomastóideo, trapézio, levantado r
carnosos se reúnem formando um corpo alongado que,
da escápula e esplênio.
dirigindo-se em sentido distolateral mais acentuado, em
ângulo agudo com o músculo precedente, vai se inserir O conteúdo do compartimento supraclavicular,
da face superior da primeira costela entre o tubérculo de como já dito, é nobilíssimo.
Lisfranc e o sulco da artéria subclávia. Eventualmente, Seu epicentro é representado pelo feixe neurovascu-
emite um fascículo que se insere na segunda costela. lar que provê o membro torácico: artéria e veia subclávias
O músculo escaleno posterior tem origem nos tubér- e os troncos formadores do pldo braquial.
culos posteriores dos processos transversos de C4 a C6, A artéria subclávia nasce de forma diferente a cada
através de pequenas lingüetas tendíneas, e seus fascícu-
lado. À direita, é ramo do tronco braquiocefálico, surgin-
los carnosos se reúnem formando um corpo aplanado
do atrás da articulação esternoclavicular direita e à es-
que, tomando direção paralela ao músculo escaleno
médio, vai se inserir na face superior da segunda costela. querda é ramo do arco aórtico. Termina após cruzar a
O músculo escale no posterior, com freqüência, está primeira costela quando toma o nome de artéria axilar.
fundido ao escaleno médio, razão pela qual parte da lite- . Variações de origem podem ocorrer, sendo muito
ratura anatômica e grande parte da literatura cirúrgica raras. Apesar de pouco comum, deve ser ressaltada a pos-
consideram apenas a existência dos músculos escalenos sibilidade de em 0,5% da população a artéria se originar
anterior e posterior. Habitualmente, o nervo do serrátil na aorta descendente, por conta da falha de incorpora-
anterior (respiratório externo de Charles Bell) emerge ção do quarto arco branquial.
entre os escalenos médio e posterior. Nesta situação, tem trajeto retroesofágico, podendo
A base do compartimento supraclavicular ~em a for- comprimir esta estrutura e causar disfagia. Tal quadro
ma de um triângulo limitado pelo corpo clavicular late- recebe o poético nome de disfagia lusória. É extrema-
ralmente, posteriormente pela borda superior da escápu- mente raro que tenha trajeto pré-traqueal e comprima a
Ia e anteriormente por uma linha que une o processo via aérea (Fig. 3-27).
À esquerda, com freqüência de 0,1 a 0,2%, pode se
originar em tronco comum com a artéria carótida co-
mum esquerda ou em tronco único, do qual, nascem to-
dos os ramos do arco aórtico.
A porção intratorácica da artéria subclávia esquerda
(Fig. 3-28) ascende verticalmente entre a pleura mediastí-
nica esquerda e o esôfago, à curta distânc;:iado nervo re-
corrente laríngeo esquerdo e da artéria carótida comum
esquerda, permanecendo em plano anterior à coluna ver-
tebral e ao ducto torácico. Ao ser cruzada pela veia bra-
quiocefálica esquerda, inclina-se fortemente, torna-se pa-
Fig. 3-26. Músculosescalênicos e pré-vertebrais. 1. Músculo escaleno
anterior; 2. músculo escaleno médio; 3. músculo escaleno posterior; ralela a esta estrutura venosa, contorna o ápice pulmonar
4. músculo longuíssimodo pescoço; 5. músculo longuíssimoda e atinge o plano da face posterior da articulação ester-
cabeça; 6. nervo frênico. noclavicular esquerda, cerca de 3 cm para fora.
5eção I
r~.
.
CAPíTULOSBÁSICOS

Fig. 3-27. Disfagia lusória. 7. Artéria


subclávia direita originando-seda aorta
torácica; 2. compressão do esôfago e
"ancoche" esofágico (raios X);
2 3
3. arteriografia.

Fig.3-28.Artériasubcláviaesquerda- porção
intratorácica.7.Artériasubcláviaesquerda;
2. artériacarótidacomumesquerda;3. veia
braquiocefálica esquerda.

As porções cervicais das artérias subclávias são seme- tro, quando, então, faz uma segunda curva e penetra no
lhantes, diferindo apenas no que tange à sintopia especí- oco axilar.
fica de cada lado (Fig. 3-29). Dessa forma, a artéria subclávia é retroclavicular em
Ambas se iniciam fazendo um ângulo bastante aber- sua origem, supraclavicular na porção média (onde ocu-
to em relação às carótidas comuns. Passam a acompa- pa a base da região carotídea) e subclavicular na sua ter-
nhar a clavícula, porém não se adaptam às sinuosidades minação.
deste osso. -
O segmento médio, supraclavicular, é fixado pela
No terço medial, são paralelas e progressivamente relação arterial com a primeira costela e pelo músculo
vão se aproximando do corpo clavicular, tomando trajeto escaleno anterior.
oblíquo e cruzando-o a cerca de 2 centímetros do seu cen- A relação com o músculo escaleno anterior sempre
foi utilizada para dividir a artéria subclávia em três seg-
Fig. 3-29. Artéria
subclávia direita mentos, o que é seguido pela anatomia médico-cirúrgica:
(porção cervical) -
segmentos e sintopia. . Segmento 51: classicamente chamado de pré-escalênico
51. Pré-escalênica; ou intra-escalênico, correspondendo à porção arterial
52. interescalênica; que se inicia na sua origem e termina na borda medial
53. pós-escalênica. do músculo escaleno anterior.
7. Alça de Vieussens;
2. nervo recorrente . Segmento 52: classicamente chamado de. interescalêni-
-- laríngeo; co, correspondendo à porção arterial que se situa abai-
I 3. nervo vago; xo do músculo escaleno anterior.
~I
" 4. músculo escaleno
anterior;
5. veia subclávia;
. Segmento 53: classicamente chamado
ou extra-escalênico, correspondendo
de pós-escalênico
à porção arte-
rial que se inicia na borda lateral do músculo escaleno
6. plexo braquial;
7. artéria dorsal da anterior e termina na borda anterior da primeira cos-
J escápula (53). tela.
Capítulo 3
ANATOMIA MÉDiCO-CIRÚRGICADO SISTEMAVASCULAR

A sintopia arterial pode ser assim resumida: 3. Sintopia do segmento S3


3.1. Da face posterior da artéria:
1. Sintopia do segmento SI
a) Os troncos nervosos formadores do plexo bra-
1.1. Da face posterior da artéria (entre esta e a pleu-
quial.
ra): 3.2. Da face anterior da artéria:
a) Os elementos do aparelho suspensor da pleu- a) Músculo omo-hióideo.
ra, já anteriormente citados.
b) Fáscias cervicais.
b) A fosseta supra-retropleural, loja limitada pos- c) Artéria cervical transversa.
teriormente e acima pelas raízes C8 e TI do 3.3. Da face inferior da artéria:
plexo braquial, medialmente pela coluna ver-
a) Face inferior da primeira costela.
tebral e pelo ligamento transverso-pleural e
b) Sulco da artéria subclávia na primeira costela.
distalmente pela cúpula pleural. Nesta fosseta 3.4 Da face superior da artéria:
encontra-se o gânglio estrelado.
a) Veia jugular externa.
1.2. Da face anterior da artéria (em planos subse-
b) Artéria dorsal da escápula.
qüentes ):
a) Clavícula e músculo subclávio. Todos os ramos, com exceção da artéria dorsal da es-
b) Fascículo clavicular do músculo esternocleido- cápula, que nasce no segmento S3, se originam do seg-
mastóideo. mento SI. Eventualmente, o tronco costocervical pode se
c) Fáscia cervical média. originar no segmento S2, especialmente à direita.
d) Veia subclávia: recebe diversas colaterais, sen- Deve ser ressaltado que ocorre um número expressi-
do as mais importantes as veias jugulares inter- vo de variações na origem destes ramos, sendo os mais
na e externa, sendo que aquela a recobre no constantes as artérias vertebral,e torácica interna (Fig.
primeiro centímetro. 3-30).
e) Alças neurais: uma formada entre o gânglio in- Seu primeiro ramo é a artéria vertebral que, entre-
ferior da cadeia simpática cervical e o nervo tanto, tem origem variável entre 6% e 12% dos casos. A
frênico, a segunda - alça de Vieussens - entre o variação mais freqüente é à esquerda, nascendo direta-
gânglio médio e inferior da cadeia simpática mente do arco aórtico em 6% dos casos (Fig. 3-31). Há
cervical (ou gânglio estrelado) e a terceira cons- registro na literatura de variações de toda a sorte, envol-
tituída pelo nervo recorrente laríngeo. Obvia- verido o arco da aorta e todos os seus ramos.
mente, esta última só ocorre à direita, uma vez De forma diversa das artérias carótidas comuns, seu
que no lado contralateral o nervo recorre em diâmetro é habitualmente desigual, ocorrendo uma "ver-
torno do arco aórtico. tebral dominante" que é, na maioria das vezes, à esquer-
1.3. Da face superior da artéria: da. Em trabalho anatõmico, de Yates e Hutchinson, esta
a) Artéria vertebral. artéria se iniciava com cerca de 3,0 mm e terminava com
b) Tronco tireocervical. cerca de 2,8 mm (Fig. 3-32).
c) Tronco costocervical. A artéria vertebral é dividida em 4 segmentos, no-
d) Ducto torácico: apenas do lado esquerdo, meados VI a V4 (Fig. 3-32).
cavalga a artéria em forma de croça. O segmento VI, muito curto, medindo de 3 a 5 cm
1.4. Da face inferior da artéria: . de comprimento, vai de sua origem até a penetração no
a) Artéria torácica interna. conduto transversário.
I

2. Sintopia do segmento S2
2.1. Da face posterior da artéria:
a) Músculos escalenos médio e posterior.
2.2. Da face anterior da artéria:
a) Tubérculo costal, tubérculo de Lisfranc e mús- Fig. 3-30. Ramos do
segmento 51 artéria
culo escaleno anterior que a separa da veia sub- subclávia. 1.Vertebral;
clávia. 2. tronco tireocervical;
2.3. Da face inferior da artéria: 3. tireóidea inferior;
4. cervicaltransversa;
a) Sulco da artéria subclávia na primeira costela.
5. supra-escapular;
2.4. Da face superior da artéria: 6. tronco costocervical;
a) Em plano superior, mas também algo posteri- 7. cervicalascendente;
ormente, os troncos nervosos formadores do 8. intercostal suprema;
plexo braquial. .. 9. torácica interna.
'..:
Seção I
CAPíTULOSBÁsICOS

-I Fig. 3-31. Variaçãona origem da artéria vertebral esquerda.


1. Artéria vertebral esquerda nascendo do arco aórtico.

o segmento V2 é intratransversário e termina após É ladeada medialmente pelos músculos longo do pes-
sua saída pelo forame transverso de C2. coço e pelo músculo escaleno anterior, estando aplicada
O segmento V3, inicialmente oblíquo no sentido contra um plano posterior, representado pelo processo
médio-Iateral, em busca do forame transverso do atlas, se transverso da sétima vértebra cervical.
inflete fortemente em direção medial após a artéria aban- As estruturas simpáticas da região entram em íntima
donar este último orifício. relação com a artéria. O gânglio cervical médio, habitual-
Perfura, então, a membrana atlantoccipital, onde se mente localizado acima do processo transverso de C6,
inicia o segmento V4 que termina ao se formar o tronco pode, em cerca de 20% dos casos, estar abaixo e, nestes
basilar. casos, é comum ente chamado d<,;gânglio intermediário
Os segmentos VI e V3 são os de maior importância (Fig. 3-33).
por se tratarem de porções arteriais cirurgicamente abor- Em qualquer circunstância, de forma geral, a cadeia
dáveis. simpática cervical enlaça a artéria vertebral, ficando o
Após sua origem ascende de forma levemente oblí- gânglio médio justaposto acima da artéria e o gânglio in-
qua no sentido látero-medial e logo se verticaliza, a fim ferior, habitualmente fusionado ao primeiro torácico
de penetrar no forame transverso da sexta vértebra cer- para formar o gânglio estrelado, em sua face posterior.
vical em 90% dos casos, acompanhada da veia vertebral e Aléin dessas 2 ou 3 alças neurais entre os gânglios cervi-
de um ramo simpático do gânglio estrelado, chamado cais, devemos relembrar a presença da alça de Vieussens
nervo de François-Frank. que se encontra em plano imediatamente anterior à
Neste curto trajeto, entra em relação com diversas artéria vertebral em direção à artéria subclávia.
estruturas que devem ser relembradas. Esta disposição fez com que a artéria vertebral fosse
o ponto de referência para a simpatectomia cervicotorá-
cica por via supraclavicular. Entretanto, é um fator com-
plicador nas cirurgias sobre o segmento VI assim como,
à esquerda, a presença do ducto torácico que cruza anteri-
ormente a origem da vertebral. É altamente recomendável
que nas cirurgias realizadas na fossa supraclavicular es-

Fig. 3-33. Relaçõesda


artéria vertebral com a
cadeia simpática
cervical.
1. G~nglio cervical
médio; 2. gânglio
cervical inferior;
3. gânglio estrelado
(sombreado);
4. alça de Vieussens;
5. alça dupla entre os
gânglios cervicaisque
Fig. 3-32. 1. Diâmetros médios da artéria vertebral; 2. segmentos da enlaça a artéria
artéria vertebral. vertebral.
Capítulo 3 .~I'
ANATOMIA MÉDiCO-CIRÚRGICADO SISTEMAVASCULAR

querda, sobretudo aquelas envolvendo a artéria vertebral, são posterior de C2 que emerge abaixo do músculo oblí-
esta estrutura linfática seja isolada, ligada e dividida. quo inferior da cabeça.
Após passar sob o tendão do músculo longo da cabe- Perfura a membrana atlantoccipital e torna a se en-
ça, penetra, em 90% dos casos, no forame transverso da curvar, de forma mais suave, em direção médio-proximal.
sexta vértebra cervical e ascende verticalmente no con- Atravessa a dura-máter e ultrapassa o forame magno,
duto transversário, acompanhada de um ramo simpático tornando-se intracraniana e permanece ascendendo na
oriundo do gânglio estrelado, o nervo vertebral (nervo face posterior do bulbo até o limite distal da ponte, quan-
de François-Frank) e da veia vertebral. Neste canal osteo- do se anastomosa com a oposta para formar o tronco
mioligamentar está envolvida por um denso plexo veno- basilar.
so e situada à frente das raízes dos nervos espinais, para Seu segmento VI habitualmente não fornece ramos.
quem fornece, a cada segmento, uma pequena artéria. O segmento V2, como já mencionado, fornece ra-
Ao emergir do forame transverso de C2, como o es- mos espinhais e também diminutos ramos musculares.
paço entre os processos transversos do atlas e do áxis é o O segmento V3 emite de 1 a 3 ramos anastomóticos
mais longo de todos e como os farames não se localizam para a artéria occipital, habitualmente logo em seu
no mesmo plano sagital, estando o da primeira vértebra início.
localizado lateralmente ao da segunda, na porção inicial O segmento V4 emite seus principais ramos: 1 ou 2 ar-
deste segmento (V3), a artéria vertebral descreve uma térias meníngeas, as artérias espinais anterior e posterior e
curva oblíqua sutil e se torna redundante, a fim de permi- a mais calibrosa, a artéria cerebelar póstero-inferior.
tir os amplos movimentos da articulação atlantoaxial.
O tronco basilar emite as artérias pontinas, do labi-
Neste ponto, está recoberta pelo músculo levantador da rinto, ântero-inferior do cerebelo, superior do cerebelo e
escápula, e o nervo espinal C2 a cruza anteriormente.
Penetra no forame transverso do atlas e na sua emer- cerebral posterior, que tomará J?arte na formação do po-
lígono de Willis.
gência faz uma curva acentuada, de 90° ou mais, em dire-
O segundo ramo da artéria subclávia é variável. Em
ção medial e repousa no sulco da artéria vertebral do 15% dos casos, a artéria tireóidea inferior nasce isolada-
arco posterior do atlas. Ocupa, neste momento, a região
mente, mas, com freqüência, ocorre a formação de um
conhecida como triângulo suboccipital, cujos limites são: tronco chamado de tireocervical (tronco tireobicervico-
medialmente, o músculo reto maior posterior da cabeça;
escapular de Farabeuf). Embora variável, esse tronco
lateralmente, o músculo oblíquo superior da cabeça e
emite as artérias tireóidea inferior, supra-escapular e cer-
distalmente, o músculo oblíquo inferior da cabeça.
vical transversa. Quando há o tronco de Farabeuf, a
No interior deste espaço podemos reconhecer o arco
segunda artéria escapular é a cervical ascendente.
posterior do atlas, a artéria vertebral (segmento V3) e o
Pouco à sua frente, nasce o tronco costocervical que
nervo suboccipital, ramo de divisão posterior de CI,
além de um ramo anastomótico entre este nervo e a divi- fornece a artéria intercostal suprema e a cervical profunda.
. Oposta ao tronco, na face inferior da artéria subclávia,
tem origem a artéria torácica interna (mamária interna).
O último ramo, único do segmento S3, é a artéria
dorsal da escápula.

1% SISTEMA ARTERIAL NO MEMBRO TORÁCICO


2%
5%
ARTÉRIA AXILAR
A artéria axilar, continuação da artéria subclávia, se es-
tende da borda inferior da primeira costela até a borda
inferior do músculo redondo maior onde passa a se cha-
mar braquial (Fig. 3-35).
A direção da artéria é variável de acordo com a posi-
ção do braço. Em abdução horizontal, ela é reta; em abdu-
ção acima dos 90°, torna-se côncava para cima e em abdu-
\ ção abaixo dos 90° ou em posição de repouso torna-se con-
vexa para cima e lateralmente. A artéria é atravessada an-
" I Fig. 3-34. Níveisde
início do segmento V2
da artéria vertebral.
teriormente pelo músculo peitoral menor que a divide,
assim, em 3 segmentos: proximal, médio e distal.
Seção I
CAPíTULOSBÁsICOS

Fig. 3-35. Artéria


axilar. 1. Artéria axilar;
2. fascículo lateral do
plexo braquial;
3. fascículo medial do
plexo braquial; Fig.3-36.Arcoaxilar
4. nervo mediano. de langer.

No primeiro segmento, a artéria se situa a princípio espaço triangular menor, o trígono omotricipital e o qua-
no vértice do cone axilar, entre a clavícula e a primeira drilátero omotricipital ou de Velpeau.
costela, ocupando, juntamente com os demais elementos Anteriormente, encontram-se o músculo peitoral
do feixe vasculonervoso, o centro do chamado desfiladei- maior, e o ligamento clavicoracobraquial ou ligamento
ro cervical, cervicotorácico ou cervicobraquial. suspensor de Gerdy. Lateralmente, o músculo coracobra-
A veia se situa medialmente, e os troncos nervosos se- quial a acompanha e sua borda medial constitui um pon-
cundários do plexo hraquial estão em posição lateral. En- to de referência seguro para a ten;eira porção da artéria
tretanto, como a veia é muito mais volumosa, com fre- axilar. Entre os dois, situa-se o nervo mediano A veia axi-
qüência, em dissecções da região, o cirurgião se depara lar a acompanha medialmente.
com esta estrutura também sobre a artéria. Uma variação anatõmica peculiar e que pode ser uma
Os troncos neurais se situam em dois planos, segun- causa rara de compressão neurovascular é a presença de
do Testut eJacob: um pré-arterial (troncos ântero-Iateral um músculo supranumerário que atravessa obliquamente
e ântero-medial) e um retroarterial (tronco posterior). a axila, entre o grande dorsal e o peitoral maior - é o arco
Em seguida, a artéria repousa sobre os dois primei- axilai de Langer (Fig. 3-36).
ros fascículos do músculo serrátil anterior e permanece Os ramos colaterais da artéria axilar são 6 ou 5: arté-
afastada do plano escapular pela presença do tecido gor- ria torácica superior, artéria toracoacromial, artéria torá-
duroso que preenche a região. É recoberta, sucessiva- cica lateral, artéria subescapular (escapular inferior), ar-
mente, pelo músculo peitoral maior, músculo subclávio e téria circunflexa anterior do úmero (circunflexa anteri-
fáscia clavipeitoral e pelo ligamento coracoclavicular or) e artéria circunflexa posterior do úmero (circunflexa
medial. · posterior) (Fig. 3-37).
No segundo segmento, sob o músculo peitoral me- O primeiro ramo é inconstante e nasce do primeiro
nor, abandona o plano costal e repousa sobre o músculo segmento. Quando ausente, faz com que a artéria toraco-
subescapular. acromial nasça deste segmento uma vez que, mais comu-
Os fascículos nervosos permanecem em suas posi- mente, ela nasce do segundo segmento. A artéria subes-
ções, mas os fascículos lateral e medial emitem as raízes capular é o ramo mais volumoso e mais importante da ar-
formadoras do nervo mediano que abraçam a artéria em
forma de "Y" e fornecem os ramos terminais do plexo
braquial, constituídos pelos nervos músculo-cutâneo
(perfurante de Casserius), oriundo do fascículo lateral e
dos nervos cutâneo-braquial do braço, cutâneo-braquial
do antebraço e ulnar, oriundos do fascículo medial, e
nervos radial e axilar, oriundos do fascículo posterior.
I Fig.3.)7. Ramosda
artériaaxilar.
O terceiro segmento descansa sobre a terminação do 1.A. toracoacromial;
2. a. torácicalateral;
músculo subescapular e sobre os músculos longo dorsal e
3. a. subescapular;
redondo maior que aqui, juntamente com o músculo re- 4. a. circunflexa
dondo menor e o úmero, contribui para a formação do anteriordo úmero;
triângulo dos redondos que é atravessado pela longa por- 5. a. circunflexa
ção do músculo tríceps braquial e subdividido em um posteriordo úmero.
Capítulo3
ANATOMIA MÉDiCO-CIRÚRGICA DO SISTEMA VASCULAR

téria axilar. Nasce ao nível da borda distal do músculo Em seu trajeto, oferece os seguintes ramos: artéria
subescapular, cruza os nervos do grande dorsal e do re- profunda do braço, artéria nutrícia do úmero, artéria
dondo maior e se divide, de forma terminal, em 2 arté- colateral ulnar superior, artéria colateral ulnar inferior
rias: o ramo torácico ou medial que vasculariza a parede (supratroclear) e artérias musculares (Fig. 3-38).
lateral do tórax e o ramo escapular ou lateral, também A primeira, também chamada de colateral externa ou
chamado de artéria circunflexa da escápula que atraves- lateral ou umeral profunda, é o ramo mais volumoso da ar-
sa o trígono omotricipital. A artéria circunflexa anterior téria braquial. Emerge ao nível da borda inferior do múscu-
do úmero contribui para a vascularização da epífise pro- lo redondo menor e percorre o sulco radial (goteira de tor-
ximal deste osso em conjunto com a sua homônima pos- ção) em companhia do nervo radial e de suas veias satélites.
terior que, aplicada ao colo cirúrgico do úmero, atravessa Vasculariza o músculo tríceps braquial e termina se dividin-
o quadrilátero de Velpeau em companhia do nervo axilar do em dois ramos: anterior (colateral radial), que acompa-
(circunflexo), e atinge a face profunda do músculo del- nha o nervo radial e que se anastomosa com a artéria recor-
tóide, em quem se distribui. rente radial anterior (recorrente radial), ramo da artéria
radial; posterior (colateral média ou descendente poste-
ARTÉRIA BRAQUIAL rior), que se anastomosa com a recorrente radial posterior
(recorrente interóssea), ramo da interóssea posterior.
A artéria braquial, continuação da artéria axilar, termina A artéria colateral ulnar superior, também chamada
na prega do cotovelo, bifurcando-se em artérias radial e
ulnar. colateral medial superior, acompanha o nervo ulnar e
vasculariza o vasto medial (daí ser cognominada de arté-
Desce de forma retilínea, ao longo da borda medial ria do vasto medial por alguns autores) e se anastomosa
da curta porção do músculo bíceps braquial. Bastante su- com a artéria recorrente ulnar posterior (recorrente
perficial, é recoberta em sua origem pelo músculo cora- ulnar), ramo da artéria ulnar. ~
cobraquial e no cotovelo pela aponeurose bicipital, per- A artéria colateral ulnar inferior (colateral medial in-
manecendo subfascial em todo o restante do seu trajeto.
ferior) passa atrás do nervo mediano, e seu ramo poste-
O nervo mediano a cruza na porção média do braço, nas
rior se anastomosa com a artéria recorrente ulnar poste-
cercanias da inserção do músculo coracobraquial. Em rior (recorrente ulnar), ramo da artéria ulnar. Ordinaria-
virtude do seu trajeto obliquado médio-lateral, os nervos
mente, uma artéria de calibre considerável se origina de-
musculocutâneo e ulnar a ladeiam em suas respectivas
la e atravessa a região olecraniana com sentido horizon-
posições (Fig. 3-38).
tal, anastomosando-se à artéria profunda do braço ou à
Ao longo de todo o seu trajeto é acompanhada a dis- artéria recorrente radial. Esta peculiaridade vascular é
tância, superficialmente, pela veia basílica. descrita pelos clássicos como anastomose supra-olecrani-
Ao se aproximar da prega do cotovelo, oblíqua late- ana do cotovelo.
ralmente, de forma discreta e ocupa o espaço situado en-
tre o músculo pronador redondo lateralmente e. o tendão
ARTÉRIA RADIAL
do músculo bíceps braquial medialmente, chamado de
fossa ulnar ou fossa antecubital ou fossa medial do coto- A artéria radial é o ramo lateral da bifurcação e, embora
velo ou goteira medial. Aqui, o nervo mediano é lateral, e menor que a ulnar, representa a continuação anatômica
as veias braquiais são mediais. da artéria braquial (Fig. 3-39).

Fig. 3-38. Artéria braquial. 1. A. profunda do


braço; 2. a. colateral ulnar superior; 3. a. colateral
ulnar inferior; 4. a. ulnar; 5. a. radial.
Seção I
CAPíTULOSBÁSICOS

Fornece os seguintes ramos: artéria carpal dorsal


(dorsal do carpo), artéria principal do polegar (dorsal do
polegar), primeira artéria metacarpal dorsal (interóssea
do primeiro espaço) e artéria radial do indicador (inte-
róssea do segundo espaço).
A primeira se anastomosa com o ramo homônimo
da artéria ulnar e constitui o arco carpal dorsal que for-
nece ramos ascendentes para o carpo e ramos descen-
- dentes, em número de 3, as artérias metacárpicas dorsais
(interósseas dorsais) que percorrem os músculos interós-
~,
~', seos dorsais correspondentes e se bifurcam em ramos
~F1[~ digitais dorsais para os lados adjacentes dos 4 últimos
quirodáctilos. Cada um destes ramos metacárpicos se
anastomosam, através de artérias perfurantes proximais,
com o arco palmar profundo e, através de artérias perfu-
Fig. 3-39. Artérias radial e ulnar. 1. A. recorrente radial;
rantes distais, com o arco palmar superficial.
2. a. palmar superficial; 3. a. recorrente ulnar anterior;
4. a. recorrente ulnar posterior; 5. tronco das interósseas; A segunda artéria metacárpica dorsal pode se origi-
6. a. interóssea anterior; 7. aa. carpais transversasulnar e radial; nar diretamente da artéria radial.
8. a. palmar profunda. A artéria principal do polegar se divide em 2 ramos
que percorrem as bordas radial e ulnar do polegar.
Origina-se a cerca de 1 cm abaixo da prega articular, ao A artéria metacarpal dorsal se divide em 2 ramos
nível do colo do rádio, e possui tr;:yeto quase retilíneo até o que percorrem as bordas radial e úlnar do indicador e do
carpo, quando se encurva medialmente alcança o primeiro polegar, respectivamente.
espaço metacarpiano e em sua extremidade distal descreve A artéria radial do indicador se divide em 2 ramos
um arco que acompanha a base dos quirocláctilos, forman- que se anastomosam com as artérias digitais do indica-
do, com a artéria palmar profunda (artéria cúbito-palmar) dor e do polegar.
ramo da artéria ulnar, o arco palmar profundo.
Possui, portanto, 3 segmentos: antebraquial, carpal e ARTÉRIA ULNAR
palmar.
No antebraço, acompanhada de suas veias satélites, A artéria ulnar, o maior ramo da bifurcação braquial,
percorre um canal formado lateralmente pelo músculo possui trajeto obliquado de direção medial até a metade
longo supinador e medialmente pelo músculo pronador do antebraço, quando se torna verticalizada (Fig. 3-39).
redondo, proximalmente, e pelo músculo flexor radial Alcançando o carpo, passa sobre o retináculo dos
do carpo distalmente. flexores, algo lateral ao pisiforme e ao nervo ulnar, e se
Está recoberta no seu terço proximal pelo kúsculo encurva lateralmente descrevendo um arco que acompa-
longo supinador e por fora deste pelo músculo braquior- nha a base dos quirodáctilos, formando, com a artéria
radial e nos 2/3 restantes pela pele e fáscia antebraquial. palmar superficial (artéria radiopalmar), ramo da artéria
Repousa sobre o rádio do qual está separada, sucessi- radial, o arco palmar superficial.
vamente, pelos músculos longo supinador; pronador re- Como a precedente, possui, portanto, 3 segmentos:
dondo, flexor comum dos dedos, flexor longo do pole- antebraquial, carpal e palmar.
gar e pronador quadrado. Na metade superior do antebraço, acompanhada de
Fornece, neste segmento, diversos ramúsculos muscu- suas veias satélites, está profundamente situada sob uma
lares, a artéria carpal palmar (artéria transversa anterior do capa muscular constituída pelos músculos pronador re-
carpo), a artéria palmar superficial (artéria radiopalmar) e dondo, longo palmar, flexor radial do carpo e flexor
a artéria recorrente radial, já mencionada anteriormente. superficial dos dedos.
A artéria carpal palmar forma o chamado arco car- Na metade inferior do antebraço, acompanhada de
paI palmar. suas veias satélites, torna-se relativamente superficial,
A artéria palmar superficial forma o arco palmar su- percorrendo o espaço limitado pelos músculos flexor
perficial com a artéria ulnar. ulnar do carpo, medialmente, e flexor superficial dos de-
No carpo, a artéria radial repousa sobre os ossos es- dos, lateralmente e à frente do pronador quadrado.
cafóide e trapézio e atravessa a tabaqueira anatômica, Fornece importantes colaterais: tronco das recorren-
passando sob os tendões dos músculos longo e curto ex- tes ulnares, tronco das interósseas, ramúsculos muscula-
tensores e longo abdutor do polegar. res, artéria carpal palmar (transversa anterior do carpo),
Capítulo 3
ANATOMIA MÉDiCO-CIRÚRGICADO SISTEMAVASCULAR

artéria carpal dorsal (artéria cúbito-dorsal) e artéria pal- tomosarem com as artérias metacarpais palmares, oriundas
mar profunda (artéria cúbito-palmar). do arco profundo, se dividem em artérias digitais palmares
O tronco das recorrentes ulnares logo se divide em 2 próprias, cada uma delas percorrendo uma borda digital.
ramos: um anterior e um posterior que já foram mencio- Cada artéria digital palmar própria emite 2 ramos
nados anteriormente. dorsais que se anastomosam com as artérias digitais dor-
O tronco das interósseas, logo após sua emergência, sais e vascularizam as matrizes ungueais e as partes moles
se divide em artérias interósseas anterior e posterior. Na dorsais que correspondem às falanges médias e distais.
verdade, do ponto de vista ontogenético, as artérias inte- O arco palmar profundo é formado pela artéria ra-
rósseas representam a artéria axial primordial do mem- dial e pelo ramo palmar profundo da artéria ulnar.
bro superior e, nesse caso, a artéria ulnar não seria senão Situa-se a cerca de 1 centímetro abaixo dos quirodáctilos
um ramo colateral bem como a artéria radial, que seria e está coberto pela porção oblíqua do músculo adutor do
uma colateral da artéria braquial. polegar, pelos tendões dos flexores dos dedos e pelos
A artéria interóssea anterior percorre um trajeto ver- músculos lumbricóides. Possui forma de uma curva irre-
tical descendente, acima da membrana interóssea, entre gular com concavidade proximal.
os músculos flexor profundo dos dedos e o longo flexor Os ramos oferecidos pela concavidade são os recor-
do polegar. Ao nível do músculo pronador quadrado, o rentes que fazem parte do arco carpal palmar.
perfura e se anastomosa com ramos cárpicos advindos Seus ramos da convexidade são as artérias metacar-
da artéria interóssea posterior. pais palmares (artérias interósseas palmares), em núme-
Em seu trajeto, fornece ramos musculares e ósseos ro médio de 3, que se anastomosam com as artérias digi-
(nutricios). tais palmares comuns, e as artérias perfurantes que se
A artéria interóssea posterior percorre um tr<yeto anastomosam com as artérias metacarpais dorsais. A pri-
vertical descendente, abaixo da membrana interóssea, meira artéria metacarpal palmár (interóssea do primeiro
profundamente situada em relação à musculatura exten- espaço), com freqüência, fornece uma artéria digital pró-
sora. Participa da formação do arco carpal dorsal e pria para a face lateral do polegar.
fornece a artéria recorrente radial.
Os arcos palmares (Fig. 3-40) são o resultado de anas- SISTEMA ARTERIAL NO MEMBRO PÉLVICO
tomoses entre os 2 eixos arteriais antebraquiais.
O arco palmar superficial é formado pela artéria ARTÉRIA FEMORAL (COMUM)
ulnar e pelo ramo palmar superficial da artéria radial.
Situa-se a cerca de 1 centímetro abaixo do retináculo dos A artéria femoral, continuação da artéria ilíaca externa,
se estende do anel femoral até o hiato adutor quando
flexores e possui forma de uma curva irregular com con-
cavidade proximal (Fig. 3-40). passa a se chamar artéria poplítea.
Seus ramos, exclusivamente da convexidade, são as ar- Para os cirurgiões vasculares, o que a anatomia consi-
térias digitais palmares comuns (artérias di~tais), em dera como artéria femoral é dividida em 2 segmentos: a
número variável de 3 a 5. A forma de apresentação mais artéria femoral comum, até a emergência da artéria pro-
constante possui 3 ramos, correspondentes aos segundo, funda da coxa (femoral profunda) e a artéria femoral
terceiro e quarto músculos lumbricóides, que, após se anas- superficial.
Tal terminologia, absolutamente correta do ponto de
vista médico-cirúrgico, se baseia no fato de ocorrer uma
inequívoca redução do calibre arterial após a bifurcação
da artéria femoral comum.
Infelizmente, tal consideração não foi levada em con-
ta pela Nomenclatura Anatõmica e, por esta razão, pro-
curaremos, à medida do possível, atender aos 2 pontos
de vista.
2 A artéria femoral em seu início está situada no trígo-
3
no femoral (triângulo de Scarpa), que atinge após atra-
vessar o ligamento inguinal. Este triângulo tem como
limites: lateralmente, a borda medial do músculo sartó-
rio; mediahnente, a borda lateral do músculo adutor lon-
Fig. 3-40. Arcos palmares superficiale profundo. 1. AA. digitais go; proximalmente, o ligamento inguinal (Fig. 3-41).
palmares comuns; 2. aa. digitais palmares próprias;3. aa. metacarpais A fáscia lata o recobre completamente e aqui ela é
palmares. multiperfurada para dar passagem a estruturas neuro-
Seção I
CAPíTULOS BÁsICOS

teralmente pela fita iliopectínea e póstero-medialmente


pela erista pectínea e pelo ligamento pectíneo (ligamento
de Cooper). Possui, assim, 3 ângulos, um lateral, um
medial e um posterior. O ângulo lateral corresponde à
separação do ligamento inguinal da fita iliopectínea e é
muito agudo. O ângulo medial corresponde à reunião
dos limites posteriores do anel. O ângulo medial corres-
ponde ao ligamento lacunar (ligamento de Gimbernat ou
Fig. 3-41. Trígono
porção gimbernática do ligamento inguinal) e é obtuso.
femoral (Scarpa).
Este anel é atravessado pelos vasos femorais e por lin-
1. Ligamento
fonodos.
inguinal; A artéria femoral ocupa seu terço lateral, a veia o seu
2. músculo sartório; terço médio, e o terço medial é um compartimento linfá-
3. músculo adutor
tico, chamado de infundíbulo crural ou femoral. Contém
longo;
4. músculo iliopsoas; linfonodos entre os quais se destaca o linfonodo de Clo-
5. músculo pectíneo. quet, que cavalga o ligamento lacunar. Está preenchido
por tecido conjuntivo e separado da veia femoral pelo
septum cruralis, estrutura dependente da fáscia transver-
vasculares, sendo chamada, por este fato, de fáscia crivo- sal. É neste compartimento, separado da cavidade abdo-
sa ou eribriforme. O maior de seus orifícios é o hiato safe-
minal unicamente pela fáscia transversal e reforçado ape-
no que ocupa a fossa oval. nas pelo ligamento lacunar, que se assestam as hérnias fe-
Aqui, trava-se unia das maiores polêmicas anatômicas. morais ou erurais. ~

Para os autores de língua inglesa, como Gray, a arté- Artéria e veia femorais encontram-se aqui justapos-
ria femoral percorre um espaço afunilado, chamado de tas, lado a lado, e o espaço entre elas é preenchido com-
bainha femoral que é formado anteriormente por tecido
pletamente por tecido oriundo da fáscia transversal e da
conjuntivo oriundo da fáscia transversal e, posteriormen- fáscia pectínea que constituem a bainha femoral.
te, por tecido conjuntivo oriundo da fáscia ilíaca. Os vasos femorais aqui repousam sobre o ângulo for-
A bainha femoral, por sua vez, se divide em 3 comparti-
mado pelos músculos do assoalho do .trígono femoral:
mentos: lateral, contendo a artéria femoral, intermediário,
psoas-ilíaco lateralmente e pectíneo medialmente. O ner-
contendo a veia femoral, e medial, contendo linfonodos e
vo femoral atinge a região crural na espessura da bainha
tecido co~untivo. Este último é chamado de canal femoral,
do músculo psoas-ilíaco (Fig. 3-43).
e sua extremidade proximal constitui o anel femoral. Os ramos da artéria femoral comum são:
Para os autores clássicos, franceses e alemães, com
1. Artéria epigástrica superficial (subcutânea abdomi-
quem concordamos, a conversão dos vasos ilíacos exter-
nos em femorais se faz de forma distinta. # nal): origina-se da sua face anterior, a cerca de 1 cm
A bainha femoral se estende em todo o tr::yeto vascu- do ligamento inguinal e perfura a fáscia erivosa, se
lar. Possui, portanto, um segmento superior, um médio e dirigindo para a parede abdominal, em direção à ci-
um inferior. catriz umbilical e se anastomosa com a epigástrica e
com a circunflexa ilíaca.
O primeiro é chamado de conduto crural (femoral) e
2. Artéria circunflexa ilíaca superficial: origina-se jun-
possui uma abertura inicial, o anel crural (anel femoral)
to à anterior ou mesmo é um dos seus ramos e após
(Fig. 3-42). Este, possuindo forma prismática, é limitado
anteriormente pelo ligamento inguinal (arcada erural,
ligamento de Falópio, ligamento de Poupart), póstero-Ia-

Fig. 3-43. Feixe


Fig.3-42.Anel femora!. vasculonervoso
1. Ligamento inguinal; femora!.
2. ligamento pectíneo; 1. Nervo femoral;
3. fita iliopectínea; 2. artéria femoral;
4. ligamento lacunar. 3. veia femora!.

.'
Capítulo 3
ANATOMIA MÉDiCO-CIRÚRGICADO SISTEMAVASCULAR

perfurar a fáscia crivosa se dirige em direção à espi- mente poupada pela doença aterosclerótica que, na maior
nha ilíaca ântero-superior onde se anastomosa com parte das vezes, acomete apenas seu terço inicial, levou
ramos oriundos das artérias circunflexa profunda do Peter Martin, em 1972, a conceber a profundaplastia
íleo, glútea superior e circunflexa lateral da coxa. (endarterectomia da origem e do segmento inicial da arté-
3. Artéria pudenda externa superficial (pudenda ex- ria com ou sem remendo), técnica utilizada amiúde, quer
terna superior): origina-se da sua parede medial, como procedimento exclusivo, quer como procedimento
cruza anteriormente a veia femoral e após perfurar a adjuvante, no decurso de cirurgias de revascularização do
fáscia crivosa se divide em ramos pubiano e genital, membro inferior.
vascularizando a pele da região pubiana e a pele da Ademais, diante do crescente número de reopera-
bolsa escrotal ou dos grandes lábios. ções, já que hodiernamente a amputação só é realizada
4. Artéria pudenda externa profunda (pudenda externa após o esgotamento absoluto de possibilidades de revas-
inferior): origina-se da sua parede media!, cruza anteri- cularização do membro, os segmentos médio e final da
ormente a veia femora!, passando sob a veia safena artéria femoral profunda têm se destacado como recep-
magna, percorre um curto tr.yeto sobre o pectíneo e o tores de pontes. Assim, um conhecimento detalhado de
adutor magno e após perfurar a fáscia crivosa se divide sua anatomia é de vital importância para o cirurgião
em ramos pubiano e genital, vascularizando a pele da vascular.
região pubiana e a pele da bolsa escrotal ou dos gran- A literatura cirúrgica situa sua origem, em média, a
des lábios. No seu tr.yeto troca anastomoses com a arté- cerca de 3,5 cm abaixo do ligamento inguinal, sendo, ha-
ria obturadora, cremastérica, pudenda externa supe- bitualmente, o ramo de bifurcação lateral da artéria fe-
rior e com o ramo perineal da artéria pudenda interna. moral comum. Entretanto, é bastante variável.
A artéria femoral comum termina se dividindo em Para Cormier, 50% delas se originam entre 3,5 e 5 cm
artérias femorais, superficial e profunda. abaixo do ligamento inguina! e 25% entre 5,0 e 8,5 cm; os
restantes 25% se situam acima ou sob o ligamento inguina!.
ARTÉRIA PROFUNDA DA COXA (ARTÉRIA
Já um compatriota de Cormier, o anatomista Quain,
FEMORAL PROFUNDA) francês do século XIX, em 543 cadáveres, encontrou a
A artéria femoral profunda ou artéria profunda da coxa é seguinte distribuição, sempre abaixo do ligamento ingui-
o ramo lateral da bifurcação femoral, e sua importância nal:
para o cirurgião vascular é indiscutível (Fig. 3-44).
Além de ser a artéria nutridora da coxa, também é · De Oa 13 mm: 13 ocorrências.
· De 14 a 25 mm: 146 ocorrências.
uma importante via de circulação colateral para o mem-
bro inferior, graças às anastomoses que contraem com ·· De 26 a 37 mm: 183 ocorrências.
De 38 a 50 mm: 109 ocorrências.
ramos da artéria femoral superficial e da artéria poplí-
tea. ·· De 51 a 62 mm: 19 ocorrências.
Por esta razão, nos casos de oclusão femorppoplítea,
sua integridade é o que determina a sintomatologia do pa-
c~ente e, até mesmo, a viabilidade do membro afetado.
· De 63 a 75 mm: 72 ocorrências.
A 100 mm: 1 ocorrência.

ft;ta peculiaridade anatõmica e o fato de ser freqüente- Outro anatomista francês, Viguerie, dividiu os 8 cen-
tímetros iniciais da artéria e obteve os seguintes resulta-
dos:

· I

·· Do primeiro quarto: 26 ocorrências.


Do segundo quarto: 124 ocorrências.

· Do terceiroquarto: 156 ocorrências.


Do último quarto: 10 ocorrências.

Por outro lado, há relatos esporádicos de emergên-


cias muito altas da artéria femoral profunda, como o seu
nascimento na artéria ilíaca externa.
Em relação à artéria femora!, também ocorrem varia-
ções do ponto de emergência da artéria femora! profunda.
Fig. 3-44. Artéria profunda da coxa (femoral profunda). Para Berguer, 76% delas se originam da face lateral
1. A circunflexa femorallateral; 2. a. circunflexa femoral medial; da artéria femoral comum, 20% de sua face posterior e
3. artérias perfurantes. 4% de sua face medial.
Seção I
CAPíTULOSBÁsICOS

Para Testut, na imensa maioria dos casos, nasce de teral; habitualmente, um longo ramo chega até o joe-
sua face posterior. lho e se anastomosa com o ramo superior da artéria
Na maioria das vezes, entretanto, não estaremos lon- lateral do joelho.
ge da verdade ao dizer que sua origem corresponde à 2. Artéria circunflexa femoral medial (circunflexa in-
face póstero-lateral da artéria femoral comum, em sua terna ou posterior): pode se originar da artéria femo-
bifurcação. ral comum bem como os seus principais ramos. Nor-
Após seu nascimento, assume trajeto descendente, malmente, origina-se da face póstero-medial da arté-
descrevendo um arco sutil, de concavidade medial, o que ria femoral profunda
a leva para uma posição paralela à artéria femoral super- Emite ramos para a musculatura adutora e se en-
ficial, profundamente situada sobre a borda medial do curva, passando em torno do fêmur, entre os múscu-
fêmur. los pectíneo e psoas maior e, depois, se situa, sucessi-
Na sua porção inicial é cruzada pelas veias do quadrí- vamente, entre os músculos obturador externo e adu-
ceps e pela veia circunflexa femorallateral, que podem tor curto e quadrado da coxa e adutor magno, emer-
estar reunidas em um único tronco venoso. Em quais- gindo na borda proximal deste último, onde se divi-
quer destas situações anatômicas, o cirurgião vascular, ao de em artérias transversa e ascendente.
abordar esta região, deve estar sempre atento para a exis- A artéria transversa participa do anel anastomóti-
tência destes troncos venosos. A fim de obter uma ade- co que circunda o colo anatômico e vasculariza o colo
quada exposição do segmento inicial da artéria, deve, e a cabeça femorais.
invariavelmente, seccioná-los. A artéria ascendente se dirige à fossa trocantérica e
A artéria femoral profunda segue, então, no seu traje- se anastomosa com as artérias circunflexa lateral da
to descendente, passando, sucessivamente, sobre os mús- coxa e glútea inferior. ,
culos peçtíneo, adutor curto e adutor magno. O músculo 3. Artéria do quadríceps: pode se originar da artéria
adutor longo, pela sua borda lateral, mantém com ela circunflexa femorallateral ou da artéria femoral su-
uma constante relação, em plano algo superior. No seu perficial. Após um curto trajeto oblíquo, no sentido
segmento final está situada entre este músculo e o mús- distolateral, desaparece na face posterior do músculo
culo vasto medial, sobre os músculos adutores, curto e
reto da coxa e emite ramos para todas as porções do
magno. É acompanhada, neste trajeto, a certa distância, músculo quadríceps femoral.
pelo ramo posterior do nervo obturador, situado medial- 4. Artérias perfurantes: normalmente em número de 3
mente a ela e, em contigüidade, pela veia femoral profun-
sendo que a terminação da artéria femoral profunda
da, situada em plano mais acima dela.
é designada como quarta perfurante. Seu nome deri-
Os ramos da artéria femoral profunda são: va do fato de alcançarem a face flexora da coxa atra-
1. Artéria circunflexa femoral lateral (circunflexa ex- vés de arcos miotendíneos do músculo adutor mag-
terna ou anterior): pode se originar da artéria femoral no, "perfurando", assim, o tendão deste músculo.
comum bem como os seus principais ramos. ~ormal-
A primeira artéria perfurante se origina acima do
mente, emerge da face lateral da artéria femoral pro-
músculo adutor curto, a segunda em sua projeção e a ter-
Ifunda e, após passar sob os ramos do nervo femoral e ceira abaixo dele.
os músculos sartório e reto anterior, se divide em 3 ra-
Antes de atravessarem o músculo adutor magno emi-
mos: ascendente, transverso e descendénte.
tem ramos muscular, cutâneo e anastomótico, diminuin-
O ramo ascendente sobe ao logo da linha intertro-
do consideravelmente seu calibre.
cantérica, sob o músculo tensor da fáscia lata e se anas-
tomosa com as artérias glútea superior e circunflexa A primeira artéria perfurante vasculariza os múscu-
ilíaca profunda, vascularizando o trocanter maior. los adutores curto e magno, bíceps da coxa e glúteo máxi-
Com a artéria circunflexa femoral medial forma um mo. Anastomosa-se com as artérias circunflexas femo-
anel anastomótico que circunda o colo anatômico e rais e com a segunda perfurante.
vasculariza o colo e a cabeça femorais. A segunda artéria perfurante, a mai~ calibrosa de
O ramo transverso passa sobre o músculo vasto in- todas, vasculariza a musculatura posterior da coxa. Divi-
termédio, perfura o músculo vasto lateral e se curva de-se em ramos ascendente e descendente que se anasto-
em torno do fêmur, abaixo do trocanter maior, se mosam com as outras perfurantes. Emite, habitualmen-
anastomosando com as artérias circunflexa medial te, a artéria nutrícia do fêmur.
da coxa, glútea inferior e primeira perfurante. A terceira artéria perfurante contribui com a vascula-
O ramo descendente passa sob o músculo reto da rização da musculatura posterior da coxa e se anastomo-
coxa (reto anterior) e se distribui no músculo vasto la- sa com a precedente.
Capítulo3
ANATOMIA MÉDiCO-CIRÚRGICA DO SISTEMA VASCULAR

ARTÉRIA FEMORAL (SUPERFICIAL) saída é o hiato adutor ou anel do terceiro adutor, arco
A artéria femoral superficial é o ramo medial da bifurca- miotendinoso do músculo adutor magno de proporções
ção femoral (Fig. 3-45). maiores que os das artérias perfurantes.
Ainda no segmento proximal da bainha femoral, não A membrana vastoadutora é perfurada ântero-medi-
oferece ramos. almente para dar passagem ao nervo safeno e à artéria
No segundo segmento da bainha femoral, segmento genicular descendente (artéria grande anastomótica).
médio de Testut e Lataljet, que se inicia no vértice do tri- No canal dos adutores, a veia femoral relaciona-se à
gono femoral, está flanqueada pelos músculos vasto face posterior da artéria, enquanto o nervo safeno se
medial, adutor longo e sartório, que formam um condu- coloca em posição medial. A altura que o nervo safeno
to prismático que aloja a artéria femoral, a veia femoral e cruza a face anterior da artéria femoral é variável, de tal
o nervo safeno. O músculo sartório, por acompanhar o forma que, no seu segmento hunteriano, o nervo pode se
trajeto arterial, é designado como músculo satélite da ar- situar, sucessivamente, lateral, anterior e medial à artéria.
téria femoral. A veia femoral começa a se espiralar e A artéria femoral superficial emite um ramo calibro-
assume uma posição póstero-medial à artéria. O nervo so e constante: a artéria genicular descendente ou grande
safeno, ramo do nervo femoral, atravessa anteriormente anastomótica. Nasce da face anterior da artéria, na altura
a artéria para se colocar em sua face medial. Neste seg- do hiato adutor. Após um curto trajeto, se bifurca em
mento, emite ramos musculares. ramo superficial e profundo. Este último contribui para
O terceiro segmento da bainha femoral corresponde a vascularização da musculatura adutora e se anastomosa
ao canal dos adutores, canal de Hunter ou conduto dos com artéria superior medial do joelho, enquanto o pri-
adutores de Tillaux. É o resultado da progressiva aproxima- meiro, também chamado de artéria safena ou ramo safe-
ção recíproca do músculo vasto medial e dos músculos adu- no, acompanha o nervo safeno, tornando-se subcutâneo,
tores. Gomo se situa na face medial da coxa, seu limite após perfurar a membrana vastóadutora por um orifício
medial, que constituiu seu teto, é a membrana vastoaduto- próprio ou naquele correspondente ao nervo e se anasto-
ra, espécie de espessamento da bainha femoral entre estes 2 mos a com a artéria inferior medial do joelho. Um ramo
músculos, de forma análoga à expansão bicipital do mem- articular cruza acima da face patelar e se anastomosa
bro superior; seu limite lateral, que constitui seu assoalho, é com a artéria superior lateral do joelho.
a diáfise femoral; seu limite anterior é o músculo vasto A artéria femoral superficial termina ao atravessar o
medial, e seu limite posterior é o músculo adutor magno. hiato adutor quando passa a se chamar artéria poplítea.
Para Farabeuf, entretanto, a parede lateral é formada
pelo músculo adutor magno, a parede lateral pelo mús-
ARTÉRIA POPLíTEA
culo vasto medial e o assoalho pelo músculo adutor lon-
go. Já para Gray, o espaço é prismático, e suas paredes A artéria poplítea, continuação da artéria femoral, tem
são: ântero-Iateral, correspondendo ao músculo vasto início na borda medial do fêmur, no hiato adutor, a cerca
medial; posterior, correspondendo ao músculP adutor de 8 cm acima da linha articular do joelho. Termina se
longo e ântero-medial, correspondendo à membrana bifurcando em artéria tibial anterior e tibial posterior, ao
vastoadutora. nível do arco tendíneo do músculo sóleo ou anel do
~ede cerca de 7 cm, variando de 5 a 10 de acordo sóleo. Seu comprimento médio é de 17 a 18 cm.
com o indivíduo. Seu orifício de entrada ç marcado pela Aqui, novamente se repete uma polêmica anatômica.
presença da membrana vastoadutora, e seu orifício de Os autores clássicos consideram que a bifurcação poplí-
tea drigine a artéria tibial anterior, e o tronco tibiofibu-
lar, o que é adotado pelos cirurgiões vasculares, o que
rI
encontra amplo respaldo na embriologia.
Considerar, como o faz a Nomenclatura Anatômica,
a artéria fibular como ramo da artéria tibial posterior,
desconhecendo a existência do tronco. tibiofibular, é
negar a realidade ontogenética.
A artéria fibular é a continuação da artéria axial pri-
.~.
mitiva, representada pela artéria isquiática, e as tibiais
surgem como brotamentos deste eixo primitivo.
f:ig. 3-45. Artéria femoral superficial. 1. A femoral superficial;
A terminação da artéria poplítea foi bastante estuda-
2. nervo safeno; 3. veia femoral superficial; 4. a. genicular da por Dubreuil-Chambardel que encontrou 5 tipos
descendente (acompanhada pelo nervo safeno). (Figs. 3-46 e 3-47):
Seção I
CAPíTULOS
BÁsICOS

1. Habitual: bifurcação entre tronco tibiofibular e arté- 4. Anastomose tibial: há uma artéria anastomótica en-
ria tibial anterior. tre as tibiais.
2. Tronco tibiofibular anterior: também chamado de 5. Tronco tibiofibular longo: a artéria fibular nasce
tronco tibiofibular anterior de Dubreuil-Chambar- bem abaixo do anel do solear.
del, é uma bifurcação entre as artérias tibiais, e a arté-
ria fibular nasce da artéria tibial anterior. A bifurcação alta é mais rara.
3. Trifurcação poplítea. Seu trajeto é inicialmente oblíquo lateralmente e
logo verticalizado, situando-se a artéria poplítea medial à
linha média da fossa poplítea (Fig. 3-48).
Esta região anatômica tem a forma losângica e seus
limites são: próximo-medial, os músculos semitendíneo e
semimembranáceo; próximo-lateral, músculo bíceps da
coxa; póstero-medial, porção medial do músculo gastroc-
nêmio (gêmeo medial); póstero-Iateral, a porção lateral
do músculo gastrocnêmio (gêmeo lateral) e o músculo
plantar (plantar delgado).
Fig. 3-46. Artéria Os acessos mediais à fossa poplítea, tão habitualmen-
poplítea. Variaçõesde te realizados pelos cirurgiões vasculares, demandam,
origem segundo
Dubreuil-Chambardel. portanto, um conhecimento da anatomia deste dispositi-
1. Tipo habitual; vo anatômico pois, freqüentem ente, ocorre a necessida-
1 2 2. tronco tibiofibular de de seccionar o tendão do músculo semitendíneo que
anterior. se dirige à aponeurose pata de gánso.

Fig. 3-47. Artéria poplítea. Variaçõesde origem segundo


3 4 5 Dubreuil-Chambardel.3. Trifurcaçãopoplítea; 4. anastomose tibial;
5. tronco tibiofibularlongo.

Fig. 3-48. Fossa poplítea. limites e conteúdo. l Músculo bíceps


femoral; 2 e 2'. músculos semitendíneo e semimembranoso;
3 e 4. músculo gastrocnêmio: porções lateral e medial;
5. artéria poplítea; 6. veia poplítea; 7. nervo tibial;8. nervo
fibular;9. anel do sóleo; 10.tronco tibiofibular; 11. artéria tibial
anterior;'12. artéria tibial posterior; 13. artéria fibular;
14. artéria superior lateral do joelho; 15. artéria superior medial
do joelho; 16. artéria inferiormedial do joelho; 17. artéria
inferiorlateral do joelho.

I
J
Capítulo 3
ANATOMIA MÉDiCO-CIRÚRGICADO SISTEMAVASCULAR

o assoalho da fossa poplítea pode ser dividido em 3


zonas: a proximal ou femoral, em que a artéria repousa
sobre a face poplítea do fêmur, limitada pela bifurcação
da linha áspera; a média ou articular, em que a artéria
repousa sobre o ligamento poplíteo oblíquo (tendão
recorrente de semimembranoso) e o ligamento poplíteo
arqueado; a distal ou tibial, em que a artéria repousa so-
bre a face posterior da tíbia, aqui recoberta pelo músculo
poplíteo.
Fig.3-49.Ramosda artériapoplíteae círculoarterialpatelar.
Na fossa poplítea, a artéria também pode ser dividi- 1.A. superiormedialdo joelho;2. a. superiorlateraldo joelho;
da em 3 segmentos: o proximal, do hiato adutor até a bor- 3. a. geniculardescendente(ramoda artériafemoral);4. a. inferior
da lateral do músculo semimembranáceo, quando está medialdo joelho;5. a. inferiorlateraldo joelho;6. a. recorrentetibial
recoberta por este músculo; o médio, profundamente posterior;7. a. recorrentetibial anterior;8. a. médiado joelho;
9. a. tibialanterior; 10.troncotibiofibularem suabifurcação.
situada no assoalho, sem estar recoberta por musculatu-
ra; o distal, sob o músculo gastrocnêmio.
Relaciona-se aqui a importantes elementos vasculares segundo se anastomosa com a artéria superior medi-
e neurais. aI do joelho.
A veia poplítea, formada a partir da confluência do 5. Artéria média do joelho (articular média): origina-
tronco venoso tibiofibular e da veia tibial anterior, se si- se do segundo segmento e perfura o ligamento poplí-
tua inicialmente medialmente à artéria. É importante res- teo oblíquo para vascularizar os ligamentos cruzados
saltar que a veia tibial anterior cruza a face anterior da ar- e a membrana sinovial.
téria P9plítea, e que sua ligadura é muitas vezes necessá- 6. Artérias dos ramos musculafes inferiores ou gêmeas:
ria para a exposição do segmento distal da artéria. Em emergem do terceiro segmento e são em número de
seguida, a veia percorre um trajeto oblíquo que a levará a duas, vascularizando o músculo gastrocnêmio.
uma posição lateral no segmento proximal. Assim, no 7. Artéria inferior medial do joelho (articular inferior
segmento médio da artéria poplítea, que é o seu segmen- interna): profundamente situada sob a porção medi-
to cirúrgico, a veia se encontra em posição póstero-Iateral aI do músculo gastrocnêmio, irriga o músculo poplí-
em relação a ela. . teo e a tíbia e se anastomosa com as artérias inferior
O nervo isquiático (ciático) habitualmente se divide lateral e superior medial do joelho e com a artéria re-
no ângulo proximal da fossa poplítea. O nervo fibular corrente tibial anterior e com o ramo safeno da
comum (isquiático poplíteo externo) caminha junto ao artéria genicular descendente.
tendão do IJ1úsculo bíceps braquial e se afasta do eixo 8. Artéria inferior lateral do joelho (articular inferior
vascular. O Inervo tibial (isquiático poplíteo interno) des- externa): profundamente situada sob a porção lateral
ce na diagonal da fossa poplítea e se situa mais,superfici- do músculo gastrocnêmio e se anastomosa com as ar-
almente aos vasos poplíteos, não estando incluído na bai- térias inferior medial e superior lateral do joelho e
nha vascular. com as artérias recorrentes tibiais anterior e posterior.
Os ramos da artéria poplítea são (Fig. 3-49): Através da distribuição da artéria poplítea e das anas-
1. Artérias cutâneas: de pouca expressão clínica. tomoses com ramos oriundos das artérias femoral, femo-
2. Artérias dos ramos musculares superiores ou su- ral profunda e tibiais, formam-se 2 redes arteriais em tor-
rais: emergem do primeiro segmento e são em nú- no do joelho, uma superficial e uma profunda que são
mero de duas, vascularizando os músculos gastrocnê- chamadas em conjunto de círculo arterial do joelho.
mio, sóleo e plantar.
3. Artéria superior medial do joelho (articular supe- ARTÉRIA TIBIAL ANTERIOR
rior interna): origina-se pouco acima do côndilo fe- A artéria tibial anterior (Fig. 3-50) é o ramo de bifurcação
moral e se anastomosa com as artérias genicular des- lateral da artéria poplítea e se origina, habitualmente, na
cendente e inferior medial do joelho. borda distal do músculo poplíteo, terminando na altura da
4. Artéria superior lateral do joelho (articular supe- linha articular do tornozelo, sob o retináculo dos extenso-
rior externa): origina-se pouco acima do côndilo fe- res, quando passa a ser chamada de dorsal do pé (pediosa).
moral e logo se divide em um ramo superficial e um No compartimento medial da perna, a artéria tibial
profundo; o primeiro se anastomosa com o ramo anterior possui trajeto fortemente oblíquo no sentido lá-
descendente da artéria circunflexa lateral da coxa e tero-distal e está profundamente situada, sob o músculo
com um ramo da artéria inferior lateral do joelho; o sóleo.
". Seção I
CAPíTULOS
BÁSICOS

Atravessa a membrana interóssea através de um es- utilizada uma vez que o comprimento arterial cirurgica-
paço ovalado osteofibroso, delimitado medialmente pela mente acessível é muito curto.
tíbia, lateralmente pela fíbula, proximalmente pela arti- As vias laterais alta e média têm como pontos de re-
culação tibiofibular proximal e distalmente pela mem- paro:
brana interóssea. . O músculo tibial anterior.
A travessia do compartimento flexor para o extensor . O músculo extensor longo dos dedos.
é bastante conhecida dos radiologistas e cirurgiões vas- . O septo intermuscular.
culares que identificam com facilidade a artéria tibial an-
Assim, ao término desta abordagem, a artéria tibial an-
terior em arteriografias.
terior estará exposta entre os músculos tibial anterior, aci-
No compartimento anterior da perna tem trajeto ver- ma, e extensor longo dos dedos, abaixo, na profundidade
ticalizado, levemente obliquado para dentro no sentido da região, acompanhada das veias satélites que formam um
cefalocaudal. A linha de Duval (Marcelino Duval), traça-
plexo venoso periarterial de laboriosa dissecção.
da desde a cabeça da fíbula até a parte média da linha
A via lateral baixa possui a vantagem de os músculos
intermaleolar, na borda lateral do músculo tibial anteri- estarem convertidos em tendões e da artéria se localizar
or, assinala, na superfície, o trajeto da artéria.
No compartimento anterior da perna a artéria en-
contra-se, nos seus três quartos proximais, bastante pro-
.
em situação mais superficial. Os pontos de reparo são:
Os tendões dos músculos tibial anterior e extensor cur-
to do hálux.
funda, aplicada à membrana interóssea, entre o músculo
tibial anterior e os músculos extensor longo dos dedos,
. Os tendões dos músculos longos extensores do hálux e
dos dedos.
acima, e extensor longo do hálux, abaixo. Alguns víncu-
los fibrosos se estabelecem entre a bainha arterial e a Assim, ao término desta abordagem, a artéria tibial
membrana interóssea, constituindo um canal para o anterior estará exposta acima da tíbia, ladeada pelos refe-
vaso, designado de conduto fibroso dos vasos tibiais de ridos tendões.
Hyrtl. No quarto distal, a artéria se afasta da membrana
interóssea, e os músculos se converteram em tendões. A ARTÉRIA DORSAL DO PÉ
artéria se situa sobre a tíbia, entre os tendões do músculo A artéria dorsal do pé (pediosa) (Fig. 3-50) se inicia no
tibial anterior, medial e o do músculo extensor longo do centro da linha articular do tornozelo, sob o retináculo
hálux, lateral. Ao nível da articulação tibiotársica, é cruza- dos extensores, como continuação da artéria tibial anteri-
da pelo tendão do músculo extensor longo do hálux e or. Pode estar ausente em até 8% dos casos. Situada late-
passa a se situar entre este, agora medial e o primeiro ten- ralmente ao tendão do músculo extensor longo do hálux
dão do músculo extensor longo dos dedos, lateralmente. e medialmente ao tendão extensor do segundo dedo,
Os ramos da artéria tibial anterior são: dirige-se ao primeiro espaço intermetatarsal, percorren-
do-o até sua base, onde se encurva para a profundidade
1. Artéria recorrente tibial posterior: inconSt'}l1te, de em direção à face plantar a fim de se anastomosar com a
pouca expressão clínica.
2. Artéria recorrente tibial anterior: anastomosa-se artéria plantar lateral, formando, assim, o arco plantar. O
tendão do músculo extensor longo do hálux, que faz rele-
com os ramos geniculares inferiores da artéria poplí- vo cutâneo, é um bom ponto de referência para a artéria
tea e fornece ramos musculares e articqlares.
que está situada a cerca de 1 cm de sua borda lateral.
3. Artéria maleolar anterior medial (maleolar inter-
na): origina-se aproximadamente 5 cm acima do tor-
nozelo e anastomosa-se com ramos da artéria tibial
posterior e plantar medial.
4. Artéria maleolar anterior lateral (maleolar exter-
na): anastomosa-se com o ramo perfurante anterior
da artéria fibular e ramos ascendentes da artéria
tarsallateral.

A artéria tibial anterior é habitualmente abordada


em cirurgias de revascularização através de quatro vias:
medial e as laterais, alta, média e baixa. Fig. 3-50. Artérias tibial anterior e dorsal do pé. 1. A. recorrente tibial
anterior; 2. a. máleolar anterior lateral;3. a tarsallateral;
A via medial é a mesma utilizada para abordagem da 4. aa. tarsais mediais;5. a. plantar profunda; 6. a. arqueada;
artéria poplítea distal e sua bifurcação, havendo a neces- 7. primeiraartéria metatarsal dorsal; 8. aa. metatarsais dorsais;
sidade de secção de fibras do músculo solear. É pouco 9. artéria tibialanterior; 10. artéria dorsal do pé.
Capítulo 3
ANATOMIA MÉDiCO-CIRÚRGICADO SISTEMAVASCULAR

A artéria dorsal do pé somente oferece ramos de signi-


ficado clínico pela sua face lateral. Pela face medial, podem
ser encontrados ramúsculos musculares e cutâneos.
Os ramos da artéria dorsal do pé são:
1. Artéria tarsallateral: origina-se na altura do navicular
e caminha em sentido lateral, passando sob o músculo
extensor curto dos dedos. Vasculariza este músculo e as Fig.3-51.Tronco tibiofibular e artérias fibular e tibial posterior.
7. A. poplítea; 2. a. tibial anterior; 3. tronco tibiofibular; 4. a. fibular;
articulações tarsais e se anastomosa com ramos das ar-
5. a. tibial posterior.
térias arqueada, maleolar anterior lateral, plantar late-
ral e com o ramo perfurante anterior da artéria fibular.
2. Artéria tarsal medial: origina-se na altura do navicu- ARTÉRIA FIBULAR
lar e caminha em sentido medial, ramifica-se pronta-
mente em 2 ou 3 ramúsculos que se anastomosam A artéria fibular (peroneal ou peroneira) (Figs. 3-48, 3-49
com ramos da rede maleolar medial. e 3-51) é o ramo lateral da bifurcação do tronco tibiofibu-
3. Primeira artéria metatarsal dorsal (artéria interós- lar e termina nas cercanias da articulação tibiotársica se
sea dorsal do primeiro espaço): praticamente a con- dividindo em artérias perfurantes anterior e posterior
tinuação da artéria dorsal do pé percorre o primeiro (artérias fibulares anterior e posterior).
espaço intermetatarsal, emite a artéria digital medial Como já mencionado anteriormente, a artéria fibu-
do hálux e se divide em artérias digitais lateral do há- lar é o remanescente da artéria axial primitiva na perna.
lux e medial do segundo pododáctilo. Anastomo- Sua importância médico-cirúrgica é notável e tem sido
sa-se em 2 pontos com a primeira artéria intermeta- ressaltada por diversos autores. fm muitas ocasiões, é a
tarsal plantar, através de seus ramos perfurantes artéria da perna poupada pela doença aterosclerótica,
proximal e distal. prestando-se, assim, como única opção de vaso receptor
4. Artéria arqueada (artéria dorsal do metatarso): ori- nas revascularizações distais. Em grandes séries, como as
gina-se ao nível do cuneiforme medial e possui traje- do grupo de Albany (NY, EUA), é a artéria mais utilizada
to lateral, descrevendo um arco de concavidade pro- neste tipo de cirurgia.
ximal na base dos metatarsianos e anastomosa-se Após sua origem, possui trajeto oblíquo no sentido
com as artérias tarsal e plantar laterais. De sua conca- lateral e logo se verticaliza, passando a acompanhar a
vidade, desprendem-se ramúsculos sem maior signi- face profunda (crista medial) da fíbula.
ficado clínico. De sua convexidade, nascem 3 artérias
Neste trajeto, pode ser dividida em 2 segmentos, re-
-
metatarsais dorsais (interósseas) as do segundo, ter- lacionados à origem do músculo longo flexor do hálux:
ceiro e quarto espaços. Cada uma delas percorre o es- proximal e distal.
paço correspondente, sobre os músculovnterósseos No segmento proximal, encontra-se sobre o músculo
dorsais e dividem-se em artérias digitais latetais e me-
tibial posterior e é recoberta pelo músculo sóleo e pela
diais dorsais para os pododáctilos. Anastomosam-se
porção lateral do músculo gastrocnêmio. O nervo fibular
com os ramos perfurantes proximais, oriundos do
comum cruza sua porção oblíqua e se situa medialmente
arco plantar e com os ramos perfurantes distais, a ela, a certa distância.
oriundos das artérias metatarsais plantares.
No segmento inferior, é recoberta pelo músculo fle-
TRONCO TIBIOFIBULAR xor 16ngo do hálux, passando a percorrer um verdadeiro
canal entre este e o músculo tibial posterior. Em determi-
O tronco tibiofibular (Figs. 3-48, 3-49 e 3-51) é o ramo
nadas ocasiões pode se imiscuir nas fibras do músculo
medial da bifurcação poplítea, podendo estar ausente,
que a recobre.
como já visto anteriormente. Nos casos de divisão habitual
Termina se dividindo em artérias perfurantes anteri-
da artéria poplítea, é um curto ramo, de cerca de 4 cm de
comprimento, situados entre esta bifurcação e a sua pró- or e posterior que se dirigem, respectiva[llente, às arté-
rias tibiais correspondentes, de forma direta ou através
pria, em artérias fibular e tibial posterior. de ramos.
Repousa sobre o músculo tibial posterior e é completa-
mente recoberto pela musculatura sural e pelo músculo Fornece a artéria nutricia da fíbula e pequenos ra-
mos musculares.
plantar. O nervo tibial se situa em posição póstero-Iateral a
ele. A artéria fibular é habitualmente abordada em cirur-
Fornece, habitualmente, a artéria nutricia da tíbia e gias de revascularização através de três vias: medial alta,
pequenos ramos musculares. medial média ou baixa e a lateral.
Seção I
CAPíTULOSBÁSICOS

A via medial alta é a mesma utilizada para aborda- 10abdutor do hálux. O nervo tibial aqui se torna posterior
gem da artéria poplítea distal e sua bifurcação, havendo a à artéria.
necessidade de secção de fibras do músculo solear. Termina se dividindo em artérias plantar lateral e
A via medial baixa tem como pontos de reparo: medial. Delorme traçou esta bifurcação como situada na
interseção de uma linha vertical a partir da borda poste-
1. O feixe vasculonervoso tibial posterior e o músculo
rior do maléolo medial e de uma linha horizontal que
longo flexor comum dos dedos que devem ser rebai- atravessa o tubérculo do navicular.
xados.
2. O músculo tibial posterior sobre o qual o cirurgião Os ramos da artéria tibial posterior são:
percorre a distância que o separa da membrana inte- 1. Artéria circunflexa fibular: origina-se no segmento
róssea. tibial e anastomosa-se com as artérias inferior lateral
3. O músculo longo flexor do hálux que recobre o vaso. e medial do joelho e recorrente tibial anterior.
Assim, ao término desta abordagem, a artéria fibular 2. Artéria nutricia da tíbia: origina-se no segmento tibi-
estará exposta entre os músculos tibial posterior, abaixo, aI e penetra no forame nutricio imediatamente abai-
e longo flexor do hálux, acima, acompanhada das veias xo do arco do sóleo.
satélites que formam um plexo venoso periarterial de la- 3. Ramos musculares.
boriosa dissecção. 4. Ramos comunicantes (artéria anastomótica): oriun-
da do segmento retromaleolar medial, passa sob o
ARTÉRIA TIBIAL POSTERIOR músculo flexor longo do hálux e anastomosa-se com
um ramo da artéria fibular.
A artéria tibial posterior (Figs. 3-48, 3-49 e 3-51) é o ramo
medial da bifurcação do tronco tibiofibular e termina no 5. Ramos maleolares mediais. ~
conduto calcâneo, na metade da linha traçada entre o 6. Ramos calcâneos: originados no canal calcâneo, pró-
maléolo medial e o tubérculo medial do calcâneo, sob o ximos à bifurcação da artéria tibial posterior, perfu-
músculo abdutor do hálux, dividindo-se em artérias ram o retináculo flexor e vascularizam a pele atrás do
plantares, lateral e medial. tendão calcâneo e os músculos da face medial plan-
Após sua origem, possui trajeto oblíquo no sentido tar. Anastomosam-se com as artérias maleolares me-
medial e logo se verticaliza, passando a acompanhar pro- diais e com os ramos calcâneos da artéria fibular.
fundamente a borda medial da tíbia, a cerca de 2 cm des-
ta última. A artéria tibial posterior é habitualmente abordada
em cirurgias de revascularização através da via medial
Neste trajeto, pode ser dividida em 3 segmentos: tibi- que pode ser alta, média ou baixa (retromaleolar ou no
aI, retromaleolar medial e do conduto calcâneo.
canal calcâneo).
No segmento tibial, descansa sobre o músculo tibial
A via medial alta é a mesma utilizada para aborda-
posterior e é paralela ao músculo longo fle?6r dos de-
gem da artéria poplítea distal e sua bifurcação, havendo a
dos, acompanhando sua borda lateral. Anteriolmente a
necessidade de secção de fibras do músculo solear.
ela, encontra-se o músculo sóleo que possui uma aponeu-
rose de inserção que o divide em porções superficial e A via medial média tem como pontos de reparo:
profunda. O nervo tibial a acompanha lateralmente, a
certa distância. . . O músculo sóleo ao nível em que se afina para se con-
verter em porção tendínea.
No segmento retromaleolar medial, depressão situa-
da entre o tendão sural (tendão de Aquiles) e o maléolo
. A porção medial do músculo gastrocnêmio que se situa
abaixo do músculo sóleo.
medial, encontra-se ladeada pelos tendões dos músculos
tibial posterior e longo flexor dos dedos, anteriormente As fibras do músculo sóleo ou do seu tendão devem
e o tendão do longo flexor do hálux, posteriormente, sob ser incisadas, e o feixe vasculonervoso é facilmente ex-
o retináculo flexor. O nervo tibial é posterior. posto.
O canal calcâneo é uma ampla escavação situada abai-
A abordagem baixa da artéria tibial po'sterior tem os
xo do "sustentaculum tali", sobre o qual tem origem o seguintes pontos de reparo:
músculo quadrado plantar (carne quadrada de Sylvius).
Neste segmento, a artéria se curva para acompanhar o pla-
no podal e se situa, tal como anteriormente, entre os ten-
.. O tendão do músculo longo flexor dos dedos.
O tendão do músculo longo flexor do hálux.
dões dos músculos tibial posterior e longo flexor dos
dedos, anteriormente, e o tendão do longo flexor do O retináculo flexor e a fáscia tibial são incisadas, e o
hálux, posteriormente, sob o retináculo flexor e o múscu- feixe vasculonervoso é facilmente exposto.

j
j
Capítulo 3
ANATOMIA MÉDiCO-CIRÚRGICADO SISTEMAVASCULAR

ARTÉRIA PLANTAR MEDIAL No segmento transverso, situa-se sobre o plano ósseo


A artéria plantar medial (plantar interna) é o ramo medi- e abaixo da porção oblíqua do músculo adutor do hálux,
aI da bifurcação da artéria tibial posterior. constituindo o arco plantar.
Em sua origem está coberta pelo músculo abdutor Antes de receber o ramo anastomótico da artéria
do hálux e percorre a planta pela sua face medial acom- dorsal do pé, ela emite ramos proximais, distais, laterais e
panhada do nervo plantar medial, entre este músculo e o mediais para os músculos da região.
curto flexor dos dedos. Forma o arco plantar com a artéria dorsal do pé.
Próximo à base do primeiro metatarsiano emite um
ARCO PLANTAR
tronco superficial e alcança a borda medial do hálux
onde se anastomosa com um ramo da primeira artéria Como já dito anteriormente, o arco plantar (Fig. 3-53) é re-
metatarsal plantar. presentado pela porção transversa da artéria plantar lateral
Deste ramo ou de sua trifurcação, nascem as artérias que recebe a continuação da artéria dorsal do pé ou um
digitais superficiais que se anastomosam com as artérias ramo usualmente designado como artéria plantar profunda.
metatarsais plantares. Manno as estudou em profundida- Pela sua concavidade fornece pequenos ramos mus-
de e descreveu 4 ramos, sendo o primeiro a sua própria culares.
continuação. Chamou-os de artérias plantares superfi- A face superior do arco plantar fornece as artérias
ciais de I a IV. Dubreuil-Chambardel encontrou em 5% perfurantes proximais que se anastomosam com as arté-
dos casos a existência de um arco plantar superficial rias metatarsais dorsais, geralmente em número de três.
formado por ramos recíprocos das artérias plantares. A convexidade do arco plantar fornece as artérias
metatarsais plantares (interósseas plantares) que se situ-
ARTÉRIA PLANTAR LATERAL am sobre os músculos interósseos e se dividem em duas
A artéria plantar lateral (plantar externa) é o ramo lateral artérias digitais plantares própriás. As artérias metatar-
da bifurcação da artéria tibial posterior. sais plantares fornecem as artérias perfurantes distais
Tem tr<yeto oblíquo, atravessando diagonalmente a que se anastomosam com as artérias metatarsais dorsais.
planta do pé, em direção à base do quinto metatarsiano. A artéria digital lateral do quinto dedo (artéria cola-
Neste ponto, encurva-se medialmente e costeia a base teral externa do quinto dedo) é ramo direto do arco
dos metatarsianos até a extremidade proximal do primei- plantar.
ro espaço interósseo. A primeira artéria metatarsal plantar fornece, com
Assim, podemos distinguir 2 segmentos da artéria freqüência, um ramo digital para a face medial do hálux.
plantar lateral: oblíquo e transverso. O arco plantar foi estudado por Dubreuil-Chambardel
No segmento oblíquo, está coberta inicialmente pelo que o classificou em 3 tipos: I, 11e 11I.
músculo abdutor do hálux; em seguida, se situa entre o O tipo I, variedade ~, está constituído pela artéria
plantar profunda sem contribuição da artéria plantar la-
músculo flexor curto dos dedos e o múscul~uadrado teral.
plantar (flexor acessório ou carne quadrada d~Sylvius)
e, finalmente, entre os músculos flexor curto dos dedos e O tipo I, variedade .12,está constituído pela artéria
abdutor do dedo mínimo. plantar profunda com pequena contribuição da artéria
É acompanhada pelo nervo plantar que está medial a plantar lateral.
ela e recoberta pela fáscia plantar. O tipo 11está constituído pelas duas artérias.
O tipo 111está constituído apenas pela artéria plantar
lateraJ.

Fig.3-52.Artérias .
plantares. 7. A. tibial
posterior; 2. a. plantar
lateral; 3. a. plantar
medial;4. arco plantar
profundo; 5. aa.
metatarsais plantares; Fig. 3-53. Arco plantar. 7. A. tibial posterior; 2. a. plantar medial
6. aa. digitais 3. a. plantar lateral; 4. arco plantar profundo; 5. aa. metatarsais
plantares próprias. plantares; 6. aa. digitaisplantares próprias.
.~,
Seção I
CAPíTULOSBÁsICOS

SISTEMA VENOSO ria subclávia esquerda, artéria carótida comum esquerda e


tronco braquiocefálico; distalmente, com o arco aórtico.
Cabe às veias recolher o sangue de todos os tecidos e con- Ambos são avalvulados.
duzi-Io dos pulmões para sua distribuição pelo sistema Seus afluentes colaterais são: as veias jugulares poste-
aórtico. Assim, dois sistemas venosos são reconhecidos: o riores, as veias vertebrais, as veias tireóideas inferiores, as
sistêmico e o pulmonar. O primeiro se divide em subsis- veias torácicas internas, as veias intercostais superiores,
temas das veias do coração, das veias cavas superior e in- através da reunião das 2 ou 3 primeiras em 2 troncos
ferior e da veia porta hepática. Trataremos apenas dos coletores, as veias pericardiofrênicas, as veias tímicas, as
dois últimos por se adequarem ao escopo desta obra. veias pericárdicas e as veias mediastínicas.
As veias pertencentes ao subsistema das veias cavas As 2 veias braquiocefálicas confluem à direita da li-
são agrupadas de acordo com a sua localização: suprafas- nha média, atrás da primeira cartilagem costal direita,
ciais ou superficiais e subfasciais ou profundas. formando a veia cava superior ou veia cava descendente.
Os sistemas em questão não são independentes; pelo Deste ponto, a veia cava superior assume trajeto quase
contrário, interagem continuamente, suprindo-se mutua- vertical, por detrás da borda direita do esterno, fazendo
mente na impossibilidade de algum deles exercer seu uma discreta curva de direção ventrodorsal, resultando
papel a contento. que o seu extremo distal está situado mais profundamen-
te no tórax que o proximal e o seu bordo côncavo medial
se amolda à aorta ascendente.
-- SISTEMA DA --
VEIA CAVA SUPERIOR Termina desembocando no átrio direito, após um
trajeto médio de 7 cm.
A veia cava superior (Figs. 3-3, 3-4, 3-6 e 3-12) é formada
Ocupando toda a parte superior direita do mediasti-
pela confluência das veias braquiocefálicas (troncos
no, possui 2 segmentos: um extmpericárdico e um intra-
venosos braquiocefálicos) direita e esquerda. Assim, este
pericárdico.
sistema aporta ao átrio direito sangue proveniente da
cabeça, do pescoço e dos membros superiores. Além dis- Recebe um único afluente de grande importância: a
so, através do sistema ázigo constituiu a via final de esco- veia ázigo maior.
amento das veias das paredes torácica e abdominal. As veias braquiocefálicas são coletores da cabeça e
Cada um dos troncos venosos é o resultado da reu- dos membros superiores, razão pela qual estudaremos
nião da veia subclávia com aveia jugular interna homola- em. separado tais segmentos corpóreos.
teral por detrás das respectivas articulações esternoclavi-
culares.
VEIAS DO PESCOÇO
Em virtude da origem da veia cava superior se situar
à direita da linha média, possui comprimento e direções As veias do pescoço podem ser divididas em superficiais
distintas. I e profundas.
A veia braquiocefálica direita mede, em /mc!dia, cerca As primeiras são representadas pelas veias jugulares
de 3 cm e é obliquada no sentido cefalocaudal, quase verti- externas e anteriores.
calizada; sua homônima esquerda, média, de 5 a 6 cm e é Estas últimas, em número de duas, se formam nas ime-
obliquada no sentido látero-medial, quase horizontalizada. diações do osso hióide pela confluência das veias subman-
À direita, as principais relações podem 'assim ser suma- dibulares superficiais. Descem verticalmente, entre a borda
rizadas: anteriormente, com a primeira cartilagem costal, a medial do músculo esternocleidomastóideo e a linha mé-
extremidade esternal da clavícula e a porção direita do dia éervical, penetrando no espaço supra-esternal onde
manúbrio esternal da qual está separado pelas inserções estão habitualmente anastomosadas por uma veia transver-
dos músculos esterno-hióideo e esternotireóideo; posterior- salmente disposta - arco jugular transverso. Terminam
mente, com o pulmão direito e o nervo vago; lateralmente, confluindo na veiajugular interna e são avalvuladas.
com o pulmão e o nervo frênico; medialmente, com o tron- O espaço supra-esternal ou triângulo fascial supra-
co braquiocefálico, em plano mais posterior. esternalou ainda espaço de Burns ou d.e Bogros é um
À esquerda, as principais relações podem assim ser dispositivo anatômico determinado pelo desdobramento
sumarizadas: anteriormente, com a extremidade esternal das fáscias cervical superficial e média, no interior do
da clavícula, a articulação esternoclavicular e a porção es- qual se encontram as veias jugulares anteriores e um
querda do manúbrio esternal da qual está separado pelas aglomerado de tecido areolar contendo de 2 a 3 linfono-
inserções dos músculos esterno-hióideo e esternotireói- dos. Prolonga-se lateralmente, sob o músculo esternoclei-
deo e pelo timo ou seu remanescente; posteriormente, domastóideo, formando duas projeções - os divertículos
com o nervo frênico esquerdo, nervo vago esquerdo, arté- de Gruber (Fig. 3-54).
Capítulo 3
ANATOMIA MÉDiCO-CIRÚRGICADO SISTEMAVASCULAR

de perfura as fáscias cervicais superficial e média e ter-


mina confluindo na veia subclávia, pouco antes da for-
mação da veia braquiocefálica. Possui uma válvula na sua
desembocadura e uma a cerca de 4 cm acima da clavícula
mas que são, muitas vezes, incompetentes.
Fig. 3-54. Espaço Levando-se em consideração este pensamento, a im-
supra-esternale seu
conteúdo. 1. Veia portância da veia jugular externa, tratando-se de veia de
jugular anterior; médio calibre e se constituindo em importante via colate-
2. arco jugular ral, ressalta aos olhos. Em nosso meio, Araujo et aloadvo-
transverso; gam sua utilização rotineira para a prática de cateteriza-
3. divertículos de
ção do sistema venoso profundo.
Gruber.
As veias profundas, que constituem o sistema de dre-
nagem venosa da cabeça, são as veias jugulares internas
Ao longo da borda posterior do músculo esternoclei- (veias carótidas internas de Sébileau) (Fig. 3-55).
domastóideo, encontra-se a veia jugular externa (veia Formadas a partir da confluência dos seios venosos
carótida externa de Sébileau) (Fig. 3-55) que percorre um da dura-máter, possuem uma dilatação inicial chamada de
trcyeto semi-retilíneo entre o ângulo da mandíbula e o seio superior (golfo da jugular ou prensa de Herophilo).
meio da clavícula.
Abandonam o crânio através do forame jugular e descem
Formada a partir da confluência da divisão posterior quase verticalmente em direção à veia subclávia, onde,
da veia retromandibular e da veia auricular posterior, sob após atravessarem a fossa supraclavicular menor, local de
ou imediatamente abaixo da parótida, é considerada por freqüente acesso cirúrgico, des;}guam, em ângulo reto,
alguns autores, como Testut e Farabeuf, tão-somente
nas respectivas veias subclávias, por detrás da articulação
uma via anastomótica do sistema da veia jugular interna. esternoclavicular. Da mesma forma, possuem uma dilata-
Estes autores, baseados na teoria de Sébileau, que traça
ção terminal - o seio inferior, acima do qual habitualmen-
um paralelo entre o sistema carotídeo e o sistema jugular, te se encontram duas válvulas. Formam-se, assim, os 2
advogam o termo de veia carótida externa. Este paralelo troncos venosos braquiocefálicos, direito e esquerdo, este
nos mostra que os ramos da artéria carótida externa se último também chamado de veia inominada.
dividem em 2 grupos, um cervical (tireóidea superior,
. Em seu trajeto, as veias contraem relações com as
facial e lingual) e um parotídeo (auricular posterior, occi-
pital, faríngea ascendente, temporal e maxilar); da mes- diversas estruturas descritas nas regiões cervicais e que
podem ser sumarizadas da seguinte forma: em sentido
ma forma, a drenagem venosa se reúne em 2 grandes
cefalocaudal, posteriormente a elas, encontram-se o mús-
grupos coletores, homônimos, o primeiro dando origem
culo reto lateral da cabeça, o processo transverso do
à veia jugular externa e o segundo ao tronco rnoso tiro- atlas, os músculos levantador da escápula e escaleno mé-
linguofacial que desemboca diretamente naNeia jugular
interna. A partir da sua origem, inicialmente incluída na dio, o plexo cervical, o músculo escaleno anterior, o ner-
espessura da fáscia da loja parotídea, torna-se superficial vo frênico, o tronco tireocervical, a veia vertebral e parte
do segmento SI da artéria subclávia; medialmente, situ-
e desce quase em linha reta até a fossa supraclavicular on-
am-se, sucessivamente, as artérias carótida interna e co-
mum; o nervo vago, também é medial, porém em plano
mais ,posterior; anteriormente a elas, o músculo esterno-
--- Fig. 3-55. Região
carotídea. Plano cleidomastóideo as sobrepõem e são cruzadas pelos ven-
superficial. 1.Veia tres posteriores do digástrico e o do omo-hióideo as cru-
jugular externa; zam; acima do digástrico, encontra-se na profundidade
2. nervos auricular da parótida e do processo estilóide e são cruzadas, neste
posterior e occipital; nível, pelo nervo acessório e pelas artérias occipital e
3. nervos cervicais
transversos; auricular posterior; entre o digástrico e Q omo-hióideo,
4. nervos são cruzadas pelas artérias esternomastóideas e pela alça
supraclaviculares cervical; os linfonodos cervicais profundos as acompa-
laterais nham pela sua face anterior.
(supra-acromiais);
5. nervos
A relação com as artérias carótidas comum e interna
supraclaviculares é peculiar: junto à base do crânio, a artéria é anterior e
mediais; 6. fossa separada da veia pelos nervos glossofaríngeo, vago, espi-
supraclavicularmenor. nal e hipoglosso; ao longo do seu trcyeto, a veia se coloca
Seção I
CAPíTULOSBÁSICOS

lateralmente à artéria; próximo à sua terminação, na fos- Classicamente, ascendendo verticalmente, estas 3
sa supraclavicular menor, a veia é anterior à artéria, so- veias se dirigem à prega do cotovelo e nas suas imedia-
bretudo à esquerda. ções, a veia antebraquial média se divide em 2 ramos
Seus afluentes cervicais são: o tronco venoso tirolin- divergentes, um lateral e um medial, conhecidos classica-
guofacial ou tais veias em separado, as veias faríngeas mente pela terminologia de veia mediana basílica e medi-
que também podem confluir através do tronco, e a veia ana cefálica. De forma constante, uma veia anastomótica,
vertebral. a veia anastomótica do cotovelo é encontrada na prega
do cotovelo.
Cada uma dos ramos da veia antebraquial média se
VEIAS DO MEMBRO SUPERIOR anastomosa à veia antebraquial correspondente, forman-
do as veias basílica e cefálica e configurando o dispositi-
As veias do membro superior (Fig. 3-56), valvadas, po- vo anatômico conhecido como "M" venoso.
dem ser divididas em superficiais e profundas.
Fato é que, tal disposição clássica é infreqüente, e
As primeiras participantes do chamado pool venoso, esta anatomia é variável. A veia antebraquial lateral ou
conjunto de veias superficiais dos membros superiores e cefálica para os americanos é a mais constante e mais
inferiores que são utilizadas com freqüência pelo cirur- volumosa.
gião vascular, são representadas pelos sistemas das veias
cefálica e basílica. Esta veia atravessa a tabaqueira anatômica, dispositi-
Ambos têm início nas mãos. vo anatômico limitado lateralmente pelo tendão do mús-
culo longo extenso r do polegar e medialmente pelos ten-
As vênulas ungueais se reúnem formando as veias dões dos músculos longo abdutor e curto extensor do
digitais palmares que se comunicam com as veias digitais
polegar. ,
dorsais através das veias capitulares. As veias digitais dor-
sais confluem no dorso da mão, formando 3 veias meta- É uma região em que o cirurgião vascular trabalha
com freqüência, sobretudo na confecção de fístulas arte-
cárpicas dorsais que se anastomosam entre si consti-
riovenosas para hemodiálise.
tuindo o plexo venoso metacárpico dorsal. Medialmente,
uma veia digital do dedo mínimo se une ao plexo venoso Acima da prega do cotovelo, a terminologia se unifi-
ca. As duas veias são a cefálica e a basílica.
e forma a veia antebraquial medial, conhecida como veia
cubital ou ulnar superficial para os franceses e como veia A primeira ascende verticalmente, paralelamente à
basílica para os americanos. Lateralmente, duas veias di- borda lateral do músculo bíceps braquial até o nível da
gitais do polegar se unem ao plexo venoso e formam a veia inserção do músculo deltóide quando se infle te e atraves-
antebraquiallateral, conhecida como veia radial superficial sa uma região limitada pela clavícula, deltóide e peitoral
para os franceses e como veia cefálica para os americanos. maior, conhecida como espaço delta-clavipeitoral ou fos-
seta de Mohrenheim ou fosseta infraclavicular de Gerdy,
O discreto plexo venoso palmar superficial fora um ter-
ceiro tronco venoso, a veia antebraquial média. , perfura a fáscia clavipeitoral e desemboca na veia axilar.

Fig. 3-56. Veias superficiais do membro


Braço Antebraço Antebraço
normalposterior superior. 1. Veia cefálica; 2. veia basnica;
normal anterior normal anterior
3. m venoso.
Capítulo3
ANATOMIA MÉDiCO-CIRÚRGICA DO SISTEMA VASCULAR

Nesta região é acompanhada pelo ramo acromial da .


artéria toracoacromial.
A segunda, após trajeto variável, perfura a fáscia su-
perficial do braço e desemboca na veia braquial ou mes-
mo na axilar Em seu tr;;yeto, é acompanhada por 2 filetes
oriundos do nervo cutâneo medial do braço.
As duas veias se anastomosam constantemente atra-
vés de um ramo anterior ou, mais raramente, por um ra-
mo posterior.
As veias profundas dos membros superiores são ho-
mônimas das artérias e as acompanham em seus trajetos.
As veias profundas das mãos, correspondentes dos
arcos palmares arteriais, formam as veias radiais e ulna-
res, pares, que confluem no cotovelo para formar as veias
braquiais, da mesma forma, em número de duas. Fig. 3-57. Veia cava
inferior.
A veia axilar é considerada como a continuação da
veia basílica, originando-se ao nível da borda distal do
músculo redondo maior. Recebe uma ou as duas veias A veia ilíaca comum esquerda se situa posteriormen-
braquiais e se continua como veia subclávia a partir da te à artéria homônima e perto de sua terminação se des-
borda lateral da primeira costela. loca medialmente, sendo cruzada pela artéria ilíaca co-
Seus afluentes são as veias toracoacromiais, as veias mum direita (cruzamento de Cockett).
torácicas inferiores, as veias escapulares inferiores e as qua- A veia cava inferior ou veia caVaascendente tem tr<yeto
tro veias circunflexas da escápula, além da veia cefálica. vertical, fletindo-se discretamente para a direita ao nível da
A veia subclávia recebe, por sua vez, as veias intercos- primeira vértebra lombar quando se dirige para a face pos-
tais superiores e na confluência com aveia jugular inter- terior do fígado. Aloja-se no canal da veia cava inferior, na
na, quando dá origem a veia braquiocefálica, no ângulo face inferior do fígado, lateralmente ao lobo caudado, atra-
formado entre os dois vasos (ângulo venoso de Pirogoff), vessa o hiato tendíneo do diafragma, perfura o pericárdio e
a veia jugular anterior, a veia jugular externa e um ele- desemboca na porção póstero-distal do átrio direito.
mento linfático. À direita, este elemento é o ducto linfáti- Mede aproximadamente 20 a 25 cm de comprimento,
co direito, também conhecido por grande veia linfática dois quais 85% correspondem à sua porção abdominal.
e, à esquerda, o ducto torácico. Alarga-se progressivamente, medindo cerca de 20 cm na
Estas regiões de confluência linfático-venosa são atu- origem, 24 na parte média e 32 na terminação. Possui 2
almente chamadas de portais linfovenosos direito e es- estreitamentos ou ancoches correspondendo à desemboca-
querdo e apresentam variações apreciáveis. ~
-- - - --
SISTEMA DA VEIA CAVA INFERIOR
- - - --- -.
dura das veias renais e das veias hepáticas chamados, res-
pectivamente, de seios renal e hepático de Calori.
Possui uma única válvula, terminal, a válvula da veia
cava inferior ou válvula de Eustáquio.
A veia cava inferior (Fig. 3-57) é formada pela confluên- Em sua porção abdominal, encontra-se à direita da
cia das veias ilíacas comuns, direita e esquerda. Assim, coluna vertebral e é cruzada posteriormente pelas veias
este sistema aporta diretamente ao átrio direito sangue lomoares, artéria renal direita, artéria capsular média
proveniente dos membros inferiores, da pelve e do retro- direita, artéria frênica inferior direita e nervos esplâncni-
peritônio e, de forma indireta, através das veias supra- cos maior e menor.
hepáticas, todo o sangue da cavidade peritoneal. Pela face medial, se põe em íntimo contato com a
Cada veia ilíaca comum é resultado da reunião das aorta abdominal da qual se afasta sutil e progressivamen-
veias ilíacas, externa e interna. te deixando um espaço entre os 2 vasos nq qual se encon-
Ambas se reúnem ao nível da quinta vértebra lombar tram o pilar diafragmático direito, o gânglio semilunar
e em virtude da origem da veia cava inferior se situar à direito (Wrisberg), a cisterna quilosa (Pecquet) e linfono-
direita da linha média, possuem comprimento, relações e dos.
direções distintas. Pela sua facehteral, em sentido crânio-caudal, relaci-
A veia ilíaca comum direita se situa posteriormente à ona-se ao músculo psoas e à ureter direito, à borda inter-
artéria homônima e perto de sua terminação é encontra- na do rim direito e da glândula supra-renal e ao lobo dire-
da na sua face direita. ito do fígado.
Seção I
.
"=..-.

CAPíTULOSBÁsICOS

Anteriormente, até a borda posterior do fígado, está volumosas, conquanto bastante numerosas, distribuin-
recoberta unicamente pelo peritônio parietal posterior e do-se em 2 planos básicos: na derme, onde constituem
é cruzada pelo mesentério, pelos vasos genitais direitos, verdadeiros "canais dérmicos", cuja dissecção é extrema-
pela cabeça do pâncreas e pela veia porta. Neste ponto, mente laboriosa e no tecido areolar denso justaposto à
forma o limite lateral do forame epiplóico (hiato de fáscia plantar.
Winslow). Esta exuberante rede venosa plantar foi exaustivamen-
Sua porção torácica se divide em segmento extrape- te estudada por Lejars que a cognominou de "sola veno-
ricárdico e intrapericárdico. No primeiro segmento é sa". Posteriormente, a escola anatômica francesa, em justa
vertical e se relaciona à base do pulmão do qual está sepa- homenagem, consagrou os termos "esponja de Lejars" e
rada pelo ligamento pericardiofrênico lateral ou liga- "rede venosa de Lejars ", terminologia universalmente ado-
mento de Teutleben. No segundo segmento, seu trajeto é tada apesar de a Nomenclatura Anatômica ter cunhado o
levemente obliquado, e sua parede é reforçada pelo peri- nome "rede cutânea venosa plantar" (Fig. 3-58).
cárdio. O epicentro desta rede é o arco venoso cutâneo plan-
Os afluentes da veia cava inferior são: tar, estrutura vascular para a qual converge parte do san-
1. Veias frênicas inferiores. gue circulante na planta. Está situado distalmente, ao lon-
go da linha que passa pela base dos pododáctilos e a ele
2. Veias lombares: em número de 3 a 4 pares.
afluem, por sua convexidade, as veias plantares dos po-
3. Veias renais direita e esquerda. dodáctilos - duas para cada um deles - individualmente
4. Veias capsulares médias: à esquerda, desemboca, com ou de forma troncular. Por sua concavidade recebe um
freqüência, na veia renal esquerda, e, à direita, tem, na número variável de vênulas plantares, resultantes da con-
maioria das vezes, aspecto plexiforme, desembocando fluência de diversas outras vênulas que, basicamente,
através de 6 a 8 vênulas e conferindo à glândula esquer- drenam o terço distal do antepé. {;ada extremidade deste
da um aspecto séssil em relação à veia cava inferior. arco contribui, na borda correspondente, para a forma-
5. Veia genital direita. ção das veias marginais, lateral e medial, dependências
6. Veia umbilical: obliterada no adulto dando origem diretas do arco venoso dorsal.
ao ligamento redondo do fígado. Os terços médio e proximal da planta do antepé são
7. Veias hepáticas: divididas em 2 grupos, superior e in- drenados por inúmeras vênulas que se reúnem em 8 a 12
ferior. No primeiro, encontram-se as 2 veias hepáti- troncos coletores que desembocam nas veias marginais,
cas mais calibrosas, as veias hepática direita e esquer- ao longo do seu trajeto ascendente.
da (também chamadas de supra-hepáticas). No se- A planta calcânea apresenta uma série de veias mais
gundo, encontram-se de 4 a 5 pequenas veias hepáti- calibrosas, dispostas paralelamente entre si, atravessando
cas acessórias.
a região de lado a lado, formando uma espécie de coxim
venoso por debaixo da articulação tibiotársica. Após con-
VEIAS DO MEMBRO INFERIOfV tornarem as bordas desta juntura convergem entre si for-
mando 2 ou 3 veias que deságuam nas veias safenas
As veias do membro inferior, valvadas, podem ser dividi- correspondentes.
das em superficiais e profundas. Na face dorsal, as veias assumem proporções mai-
As primeiras, participantes do chamado pool venoso, ores e têm um padrão anatômico bem definido. Formam
conjunto de veias superficiais dos membros superiores e um plexo venoso mais singelo que o plantar, que conver-
inferiores que são utilizadas, com freqüência, pelo cirur- ge, aJ:ravés de 2 ou 3 troncos coletores, para a conca-
gião vascular, são representadas pelos sistemas das veias vidade do arco venoso dorsal que, a exemplo da face plan-
safenas magna e parva. tar, também recebe em sua convexidade duas veias dor-
As veias superficiais dos membros inferiores formam sais de cada pododáctilo (Fig. 3-59).
um vasto plexo por debaixo da epiderme, ocupando os
planos dérmico, subcutâneo e subfascial que, apesar do
grande número de variações individuais, possui um
padrão anatômico razoavelmente definido, sobejamerite
conhecido dos angiologistas e cirurgiões vasculares.
O plexo venoso superficial dos membros inferiores
se origina no pé, assumindo comportamento distinto em
suas faces plantar e dorsal.
Arco venoso Coxim venoso
Na face plantar, mercê da contínua pressão exercida cutâneo plantar
Veia marginal
lateral calcâneo
Fiy. 1.58 A esponja
pelo ortostatismo humano, as veias tornaram-se pouco de lejars.
Capítulo 3 ."
ANATOMIA MÉDiCO-CIRÚRGICADO SISTEMAVASCULAR

Veiasafena
magna

Croça
(detalhe)

Arco venoso
Fig. 3-59. Arco Croça da
cutâneo dorsal venoso veia safena parva Veia safena parva
cutaneodorsal.

Cada extremidade deste arco se continua em trajeto


ascendente ao longo das bordas do pé, confluindo para
as veias marginais lateral e medial. Estas veias, ao cruza-
rem a linha horizontal que passa pelo centro da articula- Fig. 3-61. Veia safe na parva e nervo sural.
ção tibiotársica, tomam o nome de veias safenas parva e
magna, respectivamente. 1. Segmento subcutâneo: localizado no terço inferior
Os sistemas venosos plantar e dorsal se comunicam da perna.
amplamente, quer através dos arcos plantares, quer pela 2. Segmento intrafascial: tem seu início habitual a par-
desembocadura dos troncos venosos coletores plantares tir do terço médio da perna, ao nível da interseção
no sistema das veias marginais ou por veias anastomóti- miotendínea dos gastrocnêmios; tal compartimento
cas diretas que, atravessando a profundidade, põem em fascial, situado entre as fáscias superficial e profunda
comunicação os dois arcos. da perna, assume variadas formas, de acordo com
Vários pontos de contato entre os sistemas venosos seu comprimento e largura, oscilando desde um vas-
superficial e profundo também ocorrem ao nível do pé, to canal a um túnel estreito.
sobretudo estabelecidos por veias comunicantes inter-
3. Segmento subfascial: mais freqüentemente localiza-
postas entre os dois arcos venosos e as veias dorsal do pé
do a 1,5 cm abaixo do sulco posterior do joelho e re-
e plantares, media! e lateral. Entretanto, a peculiar situa-
presenta a entrada da veia safena parva na fossa po-
ção das suas válvulas direcionam, obrigatoriamente, o
plítea a fim de desembocar na veia poplítea.
fluxo da profundidade para a periferia (Fig. 3-60).
A veia safena parva ou externa (Fig. 3-61), originada, Recebe numerosos afluentes subcutâneos, bastante
portanto, da veia marginal lateral, está inicialmente situa- variáveis, e estabelece comunicações com o sistema veno-
da na goteira retromaleolar lateral, ao lon~ da borda so profundo através de duas ou três veias perfurante das
lateral do tendão calcâneo (de Aquiles). · quais a mais constante está localizada no terço inferior da
A partir deste ponto, obliquando-se ligeiramente, perna, a cerca de 12 cm do ápice maleolar e 3 cm lateral-
encontra a linha médio-posterior da perna e ascende ver- mente à linha médio-posterior.
ticalmente em direção à fossa poplítea onde, descreven-
Estabelece íntimas relações com o nervo sural, ra-
do uma curva pouco acentuada - a croça da veia safena mo do nervo tibial com contribuição do nervo fibular,
parva - desemboca na veia poplítea.
cuj~ sintopia com a veia safena parva se modifica de
No seu trajeto ao longo da perna, é dividida em 3
acordo com o segmento considerado: anterior, medial e
segmentos distintos, de acordo com seu comportamento
posterior, respectivamente aos 12, 22 e 32 segmentos ve-
com relação às fáscias superficial e profunda da perna: nosos.
Sua terminação é variável. Kosinski, em 1926, a estu-
dou em 120 espécimes e a classificou eI? 3 categorias:

1. Normal: ocorre em 57% dos casos, estando a con-


fluência safeno-poplítea situada, em média, a 4,5 cm
abaixo do sulco posterior do joelho.
Fig. 3-60. Veias
2. Alta: ocorre em 33% dos casos, estando sua termina-
perfurantes do pé
(segundo Dodd e ção situada no centro da coxa, comumente numa veia
Cockett). muscular ou na própria veia safena magna.
Seção I
CAPíTULOSBÁsICOS

3. Baixa: ocorre em 9% dos casos, estando sua termina- No trígono femoral ou triângulo de Scarpa, atravessa
ção situada ao nível da articulação do joelho, onde a fáscia crivosa através do maior dos seus orifícios: o hia-
conflui para a veia safena magna (8%) ou no terço mé- to safeno que é reforçado na sua porção distal por uma
dio da perna, onde conflui numa veia muscular (1%). prega semilunar, denominado ligamento falciforme ou
de Allan Burns ou ainda ligamento de Hey, mas que
Nos restantes 1% dos casos deságua de forma diversa
pode estar ausente. Em cerca de 60% dos casos, cavalga
à descrita por Kosinski.
esta prega e se dirige para a profundidade a fim de de-
Nos casos de terminação normal, de forma constante
sembocar na veia femoral, formando, assim, a croça da
emite veia emissária, ao nível de sua croça, que dirigin-
veia safena magna. Nos demais 40% dos casos, ela desem-
do-se à face medial da coxa, termina por desembocar na boca de forma horizontalizada em relação à veia femoral.
veia safena magna ou em sua acessória.
A localização do hiato safeno tem sido objeto de estu-
Apresenta, ao longo de seu comprimento, cerca de 7 a do de diversos autores. O centro do hiato encontra-se,
13 válvulas, sendo a mais constante a válvula ostial.
em média, entre 2,5 e 3,5 cm ínfero-Iateral ao tubérculo
A constituição histológica de sua parede é típica de
púbico. Royle et aloconcluíram que uma boa incisão para
veias musculares subcutâneas dos membros inferiores,
abordagem da croça deveria estar situada a 1 cm acima
muito se assemelhando à veia safena magna, contendo
túnica média muscular bastante desenvolvida. Raramen- da prega inguinal e a 4 cm do tubérculo púbico.
Em nosso meio, Monteiro, Meirelles e Costa se ocu-
te, em cerca de 15% dos casos, ocorrem pequenas falhas
param do tema e concluíram por uma incisão que se ini-
nesta túnica, o que explica o aspecto rarefeito descrito
cia na projeção cutânea dos batimentos femorais e que se
por alguns autores.
prolonga por 3 a 5 cm em sentido medial, paralela ao li-
A veia safena magna ou interna (Fig. 3-62), originada,
gamento inguinal.
portanto, da veia marginal medial, está inicialmente situ-
Ao longo deste trajeto recebe~numerosos afluentes
ada na borda anterior do maléolo medial, por diante do subcutâneos e estabelece comunicações com o sistema
tendão do músculo tibial anterior, situado no comparti-
mento fascial. venoso profundo.
Em sua origem, encontram-se de forma constante as
A partir deste ponto, ascende verticalmente em dire- veias maleolares medial e lateral.
ção ao trígono femoral onde, descrevendo uma curva
Na perna, ao nível do joelho, a veia safena magna re-
muito acentuada - a croça da veia safena magna - e desem- cebe, de forma razoavelmente constante, 3 tributárias:
boca na veia femoral.
uma veia comunicante com a veia safena parva, a veia an-
No seu tr~eto ao longo da perna, imediatamente apli-
terior da perna e o arco venoso posterior (Fig. 3-63).
cada sobre a fáscia superficial, situa-se a cerca de 2,5 cm da
Este último, descrito originalmente por Leonardo da
crista tibial. Ao atravessar a região correspondente ao côn-
Vinci, e, por isso, muitas vezes cognominado com o no-
dilo femoral medial torna-se bastante superficial, voltan-
me do gênio renascentista, também é chamado de arco
do a aprofundar-se na coxa onde faz um tr~eto levemente
crural posterior, veia arqueada posterior da perna ou veia
oblíquo em sentido lateral. Este trajeto pode ser ~marca- de Dodd e Cockett.
do através de uma linha que une o centro do hiato safeno
ao tubérculo adutor. Comunica a veia safena magna com o sistema venoso
profundo, habitualmente, através de 3 veias perfurantes -
as veias de Dodd e Cockett ou de Leonardo.
De forma também constante, outras duas perfuran-
tes são encontradas: a perfurante tibial ou de Boyd, ao
nível db tubérculo perfurante da tíbia e a perfurante fe-
moral ou de Hunter que atravessa o canal dos adutores
aproximadamente na junção dos 2/3 proximais com o
1/3 distal da coxa (Fig. 3-64).
Veia safena magna

Veia anterior
da perna Veia ântero-Iateral

Veia Fig. 3-63. Afluentes


póstero-medial da veia safena
Fig. 3-62. Veia safena magna e nervo safeno. magna.
Capítulo 3
ANATOMIA MÉDiCO-CIRÚRGICADO SISTEMAVASCULAR

· Tipo II - 25%: um tronco medial único desemboca na


croça da veia safena magna, reunindo as veias puden-
das externas superior e inferior, a veia circunflexa su-

Comunicante com
a veia safena parva
· perficial do íleo e a veia epigástrica superficial.
Tipo 111- 19%: caracteriza-se pela desembocadura da
veia póstero-medial (safena acessória medial) direta-
mente na croça, podendo receber um ou mais dos ou-
tros afluentes.
· Tipo IV - 15%: o menos freqüente. É o descrito pela li-
teratura clássica com os afluentes desembocando em
Veias perfurantes
de Cockett separado.
(Leonardo)
Fig.3-64.Perfurantes A croça estabelece sintopia arterial importante com a
daveiasafena
artéria pudenda externa que pode passar acima (30%) ou a-
magna.
baixo (70%) dela, além de podermos encontrar duas arté-
rias pudendas externas, uma anterior e outra posterior.
As tributárias mais freqüentes da coxa são a veia pós- Não deve ser esquecida também a possibilidade, rara feliz-
tero-medial e a veia ântero-Iateral (Fig. 3-63). A primeira, mente, de uma origem alta da artéria profunda da coxa (fe-
por vezes chamada de veia safena acessória medial ou veia moral profunda) que pode cruzar ajunção safeno-femoral.
de Giacomini, habitualmente recebe contribuição do sis- A partir do joelho, estabelece íntimas relações com o
tema da veia safena parva. A segunda é por vezes chama- nervo safeno, ramo do nervo femoral que se entrelaça
da de veia safena acessória lateral. com ela. ~

Ao longo do seu trajeto, muitas veias de pequeno Em todo o seu trajeto é acompanhada por vasos lin-
calibre desembocam na veia safena magna, não possuin- fáticos. Os dois pontos cruciais que o cirurgião vascular
do denominação especial. deve tomar cuidado para evitar as lesões linfáticas estão
A croça da veia safena magna recebe seus afluentes ao nível do joelho e na sua terminação.
de forma variável (Fig. 3-65).
Apresenta, ao longo de seu comprimento, cerca de
Tradicionalmente, descrevem-se 6 afluentes: veia epi- 10 -a 20 válvulas, sendo a mais constante a válvula ostial
gástrica superficial (subcutânea abdominal), veia circun-
que, contudo, pode estar ausente e substituída pela válvu-
flexa ilÚl.Casuperficial, veia pudenda externa superficial,
la subostial. São muito mais numerosas na perna que na
veia pudenda externa profunda, veia ântero-Iateral e veia
coxa que pode contar apenas com 2 ou 3 válvulas.
póstero-medial.
Entretanto, o número de variações é extenso, e diver- Ocorre aqui uma discrepância anatomofuncional.
Muitas das válvulas anatomicamente descritas não têm
sos anatomistas se ocuparam do tema. Em ~sso meio,
Merisa Garrido, em tese de livre-docência, agrupou as comportamento funcional anti-refluxo, o que pode ser
terminações em 4 tipos mais freqüentes: facilmente constatado nas cirurgias de ponte in situ, du-

· Tipo I - 40%: apenas 2 troncos venosos desembocam


na croça da veia safena magna, representados por um
rante a desvalvulação. Em média, apenas de 6 a 8 válvulas
são lisadas ao longo de toda a veia safena magna.
A constituição histológica de sua parede é típica de
tronco lateral que reúne as veias pudendas externas su- veia~ musculares subcutâneas dos membros inferiores,
perior e inferior e por um tronco medial que reúne as contendo túnica média muscular bastante desenvolvida.
veias circunflexa superficial do íleo e epigástrica super-
ficial. A veia safena magna é a mais longa veia do corpo hu-
mano, e seu envolvimento etiopatogênico nas varizes dos
membros inferiores e sua extensa aplicabilidade nas re-
vascularizações arteriais fazem dela um dos vasos mais
importantes para o cirurgião vascular.
Veia epigástrica
As veias profundas dos membros inferiores são ho-
Veia circunflexa
ilíaca super1icial
superficial
mônimas das artérias e as acompanham em seus trajetos.
As veias digitais plantares formam as veias metatar-
Veia pudenda

Veia
externa
superticial
sais plantares que, por sua vez, formam o arco venoso
ântero-Iateral
da coxa Veia
póstero-medial
plantar profundo que se comunica com as veias dorsais.
da coxa Este arco fornece as veias plantares medial e lateral que
(safena acessória)
Fig.3-65.Croçada
veiasafenamagna. confluem para formar as veias tibiais posteriores para as
Seção I
CAPíTULOSBÁsICOS

Monteiro da Silva AJ, Meirelles ML, Costa RO. Acesso ao hiato safeno
quais afluem as veias fibulares, as veias da panturrilha
- incisão acima da prega cutânea e flexão inguinal. Rev Cal Bras
(veias soleares) e ramos perfurantes. Cir jan/fev 1974.
As veias tibiais anteriores têm origem nas veias dor- Moore W. Surgery for cerebrovascular disease. 2nd ed. Philadelphia:
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dos adutores (canal de Hunter), situando-se em posição Nascimento Silva JLC. RevascuJarização estadiada dos membros
inferiores através da utilização da veia safena parva - uma
póstero-Iateral à artéria e progressivamente posteriori-
segunda chance? Rev de Angiol e Cir Vasc 1992; 1:6-18.
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semboca na veia femoral no terço distal do trígono femo- 12th ed. Ciba-Geigy, 1990. V. 1.
Netter F. The ciba collection of medical iIIustrations. Digestive system.
ral após receber, habitualmente, as veias circunflexas fe-
12th ed. Ciba-Geigy, 1990. V. 3.
morais, lateral e medial. Netter F. The ciba collection of medical illustrations. Heart. 12th ed.
A veia femoral, após receber a veia profunda da coxa, Ciba-Geigy, 1990. V. 5.
é conhecida como veia femoral comum para os cirur- Netter F. The ciba collection of medical illustrations. Sistema
giões vasculares. músculo-esquelético. 12th ed. Ciba-Geigy, 1990. V. 8.
bypass. J Vasc Surg
Ouriel K. The posterior approach to popliteal-crural
Após atravessar o anel femoral, toma o nome de veia 1994;19:74-80.
ilíaca externa e que se reúne à veia ilíaca interna para for- Putz R, Pabst R. Sobotta - atlas de anatomia humana. 20. ed. Rio de
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