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GOVERNO DO ESTADO DO PARÁ

SISTEMA DE SEGURANÇA PÚBLICA E DEFESA SOCIAL


SECRETARIA DE ESTADO DE SEGURANÇA PÚBLICA E DEFESA SOCIAL
INSTITUTO DE ENSINO DE SEGURANÇA DO PARÁ
CURSO APERFEIÇOAMENTO DE POLÍCIA /CAOPM-2003

JOSE ANGELO DOS SANTOS FIGUEIREDO

ASPECTOS NEGATIVOS DO
MEIO AMBIENTE DO TRABALHO POLICIAL MILITAR:
UM ESTUDO SOBRE CASOS DE ADOECIMENTO NO BATALHÃO DE
CHOQUE NO ESTADO DO PARÁ

MARITUBA-PA
2019
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JOSE ANGELO DOS SANTOS FIGUEIREDO

ASPECTOS NEGATIVOS DO
MEIO AMBIENTE DO TRABALHO POLICIAL MILITAR:
UM ESTUDO SOBRE CASOS DE ADOECIMENTO NO BATALHÃO DE
CHOQUE NO ESTADO DO PARÁ

Monografia apresentada para obtenção e aprovação no


curso de Aperfeiçoamento de Oficiais da Polícia Militar do
Estado do Pará, ano de 2003, pelo Instituto de Ensino de
Segurança Publica do Pará.
Orientador: Prof. MSc Albernando Monteiro da Silva

MARITUBA-PA
2019
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JOSE ANGELO DOS SANTOS FIGUEIREDO

ASPECTOS NEGATIVOS DO
MEIO AMBIENTE DO TRABALHO POLICIAL MILITAR:
UM ESTUDO SOBRE CASOS DE ADOECIMENTO NO BATALHÃO DE
CHOQUE NO ESTADO DO PARÁ
4

Banca Examinadora

Orientador: _________________________________

Examinador(a):_______________________________

Examinador(a): ________________________________

Nota: ___________________

Data: ____/ ____/____

MARITUBA-PA
2019
5

DEDICATÓRIA

Dedico este estudo a todos que de alguma


forma estiveram ao meu lado, cientes ou não
da possibilidade de sucesso, permaneceram
firmes no objetivo de prestar ajuda. E em
especial a minha família que é o núcleo
central de tudo.
6

AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a DEUS, ao meu


orientador Prof. MSc Albernando Monteiro
da Silva. E em especial ao Ten Cel BM Bentes
incansável no seu mister de bem servir.
7

Jamais permita que os impasses da vida o


perturbem. Afinal, ninguém pode escapar dos
problemas, nem mesmo santos ou sábios. Sofra
o que tiver que sofrer. Desfrute o que existe para
ser desfrutado. Considere tanto o sofrimento
como a alegria como fatos da vida.

(Buda)

Todo sofrimento psicológico é fictício,


porque ou está armazenado na memória do
passado, ou na imaginação do futuro, porque
ambos são apenas ilusórios...O passado já
passou e o futuro ainda não chegou.

O único momento real é o presente, e nele


reside a eternidade.

(Buda)
8

RESUMO
Esta trabalho tem por o objetivo promover uma investigação das condições de precariedade
que policiais militares enfrentam ao trabalhar no Batalhão de Polícia de Choque da Polícia
Militar do Estado do Pará, com intuito de identificar os fatores que influenciam de maneira
negativa sobre o meio laboral ao qual estão submetidos. A remuneração, a carga horaria
excessiva e a ergonomia inadequada geram fatores de insatisfação e sofrimento policial
militar em relação ao seu desempenho profissional. A remuneração considerada insuficiente
gera um sentimento de subvalorização, e impele o policial a procurar outras formas de
complementar a renda familiar gerando com isso uma carga horaria de trabalho excessiva.
A ergonomia do serviço policial militar é outro fator gerador de sofrimento policial militar
no serviço, principalmente no que tange as dificuldades do exercício da função diante da
necessidade de utilização de equipamento e armamento especial menos letal, o que obriga o
policial militar a suportar grande desconforto físico. A carga horaria de trabalho não regulada
em lei somada as extensas horas de trabalho que extrapolam em muito a de servidores civis
do Estado e dos trabalhadores regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho. Por fim
ressaltamos que os três fatores envolvidos na precarização do meio ambiente do trabalho, do
policial militar do Batalhão de Choque do Estado envolve resoluções administrativas
possíveis e que devem ser implementadas de forma equalizar os desvios verificados ou pelo
menos minimizar seus efeitos no ambiente laboral. levando-se em conta a adequação das
situações enfrentadas pelos homens que compõem a unidade incumbida se executar as ações
em terceiro esforço de policiamento em grave quebra da ordem publica.
Palavras-chave: Meio ambiente – Condições de trabalho - Clima organizacional –
Remuneração – Carga horaria- Ergonomia.

ABSTRACT
The objective of this work is to promote an investigation into the precarious conditions that
military police officers face when working in the Military Police Shock Police Battalion of
the State of Pará, in order to identify the factors that influence in a negative way the work
environment to which are submitted. Compensation, excessive overtime and inadequate
ergonomics generate factors of military police dissatisfaction and suffering in relation to
their professional performance. The remuneration considered insufficient generates a feeling
of undervaluation, and impels the police to look for other ways of complementing the family
income, generating with it an excessive work load. The ergonomics of the military police
service is another factor causing military police suffering in the service, especially as regards
the difficulties of the exercise of the function in view of the need to use less lethal equipment
and special weapons, which forces the military police to endure great discomfort physicist.
The working hours not regulated by law plus the long hours of work that go far beyond that
of civil servants of the State and workers governed by the Consolidation of Labor Laws.
Finally, we emphasize that the three factors involved in the precariousness of the work
environment of the State Shock Battalion military police officer involve possible
administrative resolutions that must be implemented in order to equalize the observed
deviations or at least minimize their effects on the work environment. taking into account
the adequacy of the situations faced by the men who make up the unit entrusted if they
execute the actions in third effort of policing in grave breach of the public order.
Keywords: Environment - Working conditions - Organizational climate -
Compensation - Time load - Ergonomics.
9

SUMÁRIO

1 Introdução 10
2 Revisão da literatura 14
2.1 O meio ambiente do trabalho 14
2.2 Condições do trabalho policial militar 15
2.3 A definição de policial militar 18
2.4 A precariedade e precarização do meio ambiente do trabalho 20
2.5 O histórico da precariedade do trabalho 21
3 Metodologia 24
4 O Batalhão de polícia de choque e o policiamento no Estado do Pará 25
4.1 Índices de qualidade de vida e saúde do policial militar 27
4.2 Fatores para a precarização do meio ambiente do trabalho policial militar 31
4.3 A remuneração, o complemento de renda e a redução da vida. 32
5 O Batalhão de Polícia de Choque e a jornada de trabalho 35
6 Conclusão 45
Referencias 48
10

1 INTRODUÇÃO
A presente pesquisa tem como escopo as condições de empregabilidade do Batalhão
de Choque da Policia Militar do Pará na condição de 3º esforço1 de policiamento e de que
forma essa unidade tem seu trabalho ordinário e extraordinário executado precariamente em
relação as condições de trabalho com foco na identificação do sofrimento policial na saúde
desses trabalhadores, bem como na sua jornada de trabalho e outros fatores decorrentes do
seu exercício policial.
Nesse sentido a pesquisa visa demonstrar os pontos decisivos que contribuem para
a decadência da saúde do policial miliar em decorrência das condições inadequadas de
desenvolvimento do seu trabalho
O conceito do trabalho policial militar será abordado com base nas definições do
labor em geral. Tal como é desenvolvido em corporações privadas ou em entes públicos nos
quais o meio ambiente de trabalho, a precariedade de condições e o animus do colaborador
tem máxima importância na própria execução do esforço em sua função.
Neste diapasão abordamos a influência negativa da estrutura administrativa e
operacional que envolve os executores do serviço no que tange a utilização de fardamento,
equipamento e armamento especializado, e a própria tipologia das doenças contraídas é outro
ponto importante para uma análise mais solida do que o exercício laboral interfere na sua
própria saúde.
E de grande importância que se possa analisar as condições de trabalho dos policias
do Batalhão de Choque e suas condições do meio ambiente do trabalho a qual estão inseridos.

A Polícia Militar paraense na sua estrutura operacional é composta de


16 (dezesseis) Comandos Intermediários, sendo doze Regionais com sedes no
interior do Estado, um da Capital, um da Região Metropolitana, e, mais dois que
possuem circunscrição em todo Estado: o Comando Especializado e o Comando
de Missões Especiais. Sob a gestão desses grandes comandos encontram-se 91
(noventa e uma) unidades operacionais, e dentre elas está a sede do local da
pesquisa representado pelo Batalhão de Polícia de Choque. (Silva, 2016)

A estrutura do Batalhão de Choque deve estar em consonância com o emprego


racional do 3º esforço de policiamento para o fiel cumprimento da missão operacional da
unidade, onde na estrutura operacional da Policia Militar do Pará as unidades de
policiamento ostensivo e policiamento comunitário executam o 1º esforço de policiamento,

1
DIRETRIZ GERAL DE EMPREGO OPERACIONAL DA POLÍCIA MILITAR DO PARÁ Nº 001/2014
DGOp/PMPA, p.40; https://www.pm.pa.gov.br/sites/default/files/files/pdf/diretriz_geral_para_emprego_operacional.pdf
acesso em 20 mar 2019
11

onde o contato com o cidadão se dá de forma mais ampla e próxima firmando com isso um
relacionamento de confiança mutua. O 2º esforço é executado por unidades de recobrimento
tático do Comando de Missões Especiais e de Comandos de Policiamento Regional em
suporte ao efetivo de 1º esforço de policiamento. Todavia o emprego operacional do Choque,
3º esforço, se da toda vez que a quebra da ordem publica ocorra em nível máximo. Não
havendo outra forma para que tranquilidade publica seja restabelecida nos casos de
interdição de vias públicas ou casos de desordem de grupos de baderneiros. A grave
perturbação da ordem que extrapola as condições táticas e operacionais do segundo esforço,
o efetivo do Batalhão de Polícia de Choque é acionado para restabelecimento do equilíbrio
social.
Durante o emprego operacional do 3º esforço o policial militar do choque e
obrigado a empreender um esforço físico diferente daquele policial integrante do 1º esforço,
em virtude de sua atividade especializada o policial de choque deve “utilizar meios de defesa
e ofensivos únicos e perigosos como equipamentos pesados de proteção individual com
resistência balística e contra choques mecânicos, bem como as tecnologias de baixa
letalidade que compreendem os agressivos químicos (gás lacrimogênio e spray de pimenta),
explosivos (granadas com ou sem agressivo químico) e munições de impactos controlados
(borracha) (Silva, 2016)”. Isso proporciona estresse, desconforto e consequente sofrimento
policial o que precariza o meio ambiente de trabalho desse agente de segurança pública.
Os fundamentos da sociedade atual brasileira alicerçada na democracia e no Estado
de direito assegura, ao menos formalmente, o livre exercício da manifestação, do
pensamento e ainda prevê diversas garantias fundamentais. A adoção de tratados e
convenções internacionais pelo Brasil, além das medidas propostas pela Organização
mundial do trabalho (OIT) e a Organização mundial da saúde (OMS) tem contribuído para
a melhora no quadro relacionado ao tratamento jurídico conferido a problemática do meio
ambiente do trabalho no Brasil, verifica-se ainda uma legislação difusa e esparsa nessa área,
fato que, muitas vezes dificulta a sua aplicabilidade. Todavia a própria constituição brasileira
já confirma a saúde, higiene e segurança como direito fundamental e a incentiva a necessária
amplitude desse conceito. A pronta resposta do sistema protetivo constitucional e jurídico as
degradações e desrespeitos ao meio ambiente do trabalho já demostram a sua importância
como direito fundamental inalienável ao cidadão trabalhador restando este, regularmente
empregado ou não, fazer jus ao direito fundamental preceituado que não pode se afastar da
coletividade e ser proteção à apenas uma classe de empregado do mercado formal. Neste
12

mesmo enfoque a saúde, higiene e segurança do trabalho ao comporem o meio ambiente do


trabalho digno ensejam o reconhecimento como meio ambiente de trabalho coletivo
protegido por norma constitucional sendo necessário ao trabalhador para que possa desfrutar
de uma qualidade de vida mínima em seu ambiente laboral. Dessa forma a doutrina consolida
o meio ambiente do trabalho como direito coletivo com base em conceitos fundamentais de
indivisibilidade e indisponibilidade de direitos de uma categoria laboral.
Parte-se da hipótese de que há precariedade no meio ambiente do trabalho dos
policiais do Batalhão de Polícia de Choque pela ausência legal de carga horária de trabalho
em contrariedade a todas as outras categorias de trabalhadores da administração pública, ou
mesmo da iniciativa privada que possuem sua carga horária regulada por lei e pela própria
Constituição Federal.
Atualmente os direitos Trabalhistas e Sociais no Brasil estão protegidos sob a
legislação específica e sob o manto constitucional da lei magna. Entretanto nem sempre isso
foi assim, no passado o Brasil, por ser uma economia agrícola só obteve proteção dos direitos
trabalhistas após a abolição da escravatura. Na economia brasileira daquela época não havia
condição para que tais direitos fossem ao menos reconhecido. Tal situação ocorre após o
crescimento do capitalismo que por sua vez teve que ser regulado para que para houvesse
um mínimo de equilíbrio nos contratos trabalhistas, dessa forma, a consolidação das leis do
trabalho está de acordo com a constituição Federal de 1988, no que tange a proteção
trabalhista e social do trabalhador brasileiro. Todavia as leis internacionais que hoje regulam
os mercados externos visam proteger seus investidores e empreendedores, sob a ordem de
máxima produtividade e menor custo, desta forma vemos que alguns direitos sociais e
trabalhistas são desrespeitados mesmo diante de leis internas de cada País. O policial de
choque mesmo diante dessas situações que precarizam sua atividade laboral ainda se utiliza
de outras ações como o serviço extra corporação remunerado no intuito de garantir o
aumento de renda o que piora sua condição humana (estresse e sofrimento policial) de
exercício da sua função policial.
Sendo assim, o problema da pesquisa é estabelecer quais são as condições que
implicam na taxa de degradação do meio ambiente do trabalho a que estão submetidos os
policiais militares do Batalhão de Polícia de Choque da Polícia Militar do Estado do Pará?
Neste sentido temos como objetivo geral identificar as condições que dificultam o
meio ambiente do trabalho a que estão submetidos os policiais militares do Batalhão de
Polícia de Choque do Estado do Pará. Como objetivos específicos: a) Analisar a instituição
13

e a cultura organizacional dos policiais militares do Estado do Pará e sua implicação nas
condições da precariedade do trabalho com reflexo no Batalhão de Polícia de Choque, b)
Definir o conceito de precariedade e precarização do trabalho e sua aplicação ao agente
público policial militar e c) Demonstrar as condições de meio ambiente do trabalho a que
estão submetidos os policiais militares no Batalhão de polícia de Choque do Estado do Pará.
14

2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 O meio ambiente do trabalho

Segundo Padilha (2011), é o local onde o indivíduo exerce sua profissão, passando
grande parte de sua vida produtiva e dali retirando seu sustento pelo exercício de sua
atividade laborativa, esse conceito se expande para atingir a proteção à saúde do trabalhador
bem como sua segurança, inclusive contra a degradação e poluição gerada nesse local.
Para Silva (2008), a palavra trabalho tem sua etimologia de origem latina e deriva
da palavra tripalium, que significava a junção de três paus que eram utilizados para punir
equinos que não se deixavam ser ferrados pelo ferreiro, assim, infere-se que se origina o
trabalho de uma noção de punição ou mesmo tortura já que o termo tripaliare (ou trabalhar)
significava torturar com o tripalium. Outros autores defendem a origem na palavra latina
trabaculum, a qual teria quase o mesmo significado punitivo. E, há ainda autores que
apontam o significa da palavra labor na Europa como provindo etimologicamente do latim
e do inglês labor, do grego ponos, do alemão arbeit – significando dor e esforço e também
são usadas para indicar as dores do parto.
Já para Silva (2003) o meio ambiente do trabalho significa todo um complexo de
direitos tutelados subjetivos e privados, e, ainda, o direito à saúde e à integridade física dos
trabalhadores e de quem frequenta todo um complexo de bens móveis de uma empresa e da
sociedade. Para Mancuso (2002) o meio ambiente do trabalho corresponde ao habitat
laboral, ou seja, todos os pormenores que o circundam e o influenciam, referindo-se ainda
ao local de onde provém seu sustento e sobrevivência, tudo isso em equilíbrio com o
ecossistema.
O direito ao saudável meio ambiente do trabalho tornou-se tão importante que foi
alçado à condição de direito fundamental, contido como previsão cogente na lei maior
brasileira, dessa forma, está positivado no artigo 200, inciso VIII, disciplinando o Sistema
Único de Saúde, afirmando que se deve colaborar com o meio ambiente, nele compreendido
o do trabalho (BRASIL, 1988)
15

2.2 Condições do meio ambiente de trabalho Policial Militar


O Estado de alerta em que o policial militar se encontra decorrente do
recrudescimento da violência nos dias atuais e pela condição de dedicação exclusiva no
cumprimento da missão policial criam as condições para que o sofrimento policial militar se
desenvolva dentre as fileiras da corporação. Segundo Pinto (2000) o policial militar se
destaca como profissão por estar sempre à disposição do seu trabalho, dedicando-se
integralmente ao seu labor, dessa forma, mesmo fora da sua atividade permanece em
constante prontidão, podendo ser acionado a qualquer momento e tem o dever legal de
apresentar-se pelo risco de sofrer a imposição de sanções administrativas e penais
decorrentes do seu não atendimento às ordens legais.
A condição de alerta gera uma sensação de insegurança na psique daquele agente
que é treinado para servir e proteger a comunidade, dessa forma a possibilidade de não
conseguir proteger a si próprio gera uma angústia que aumenta essa sensação de
incapacidade do policial. Essa angústia então para Boss (1981) acompanha de forma geral
os indivíduos, e, dessa forma, incluem esses profissionais, pois, estão a todo instante, quando
exercem seu mister, ou mesmo de folga, diluídos na temática da segurança pública e da
violência.
A possibilidade de buscar a verdade dos fatos leva o policial a desenvolver o espírito
de desconfiança, que como técnica de investigação é apreendido pelos policiais durante sua
formação e profissão, segundo Graeff (2006), torna-se uma ferramenta de trabalho, no
entanto, costuma ultrapassar essa fronteira e acaba sendo absorvida nas relações sociais
desenvolvidas no seio familiar e no rol de amizades, ocasionando uma série de sensações
conflitivas desses indivíduos. Nesse mesmo sentido, Fraga (2008), conclui que ao ocorrer
qualquer acidente de trabalho cuja vítima seja policial militar, surge um certo colapso entre
a cultura absorvida na psique desse profissional de se cultuar o heroísmo, a força e o saudável
em contraposição ao simbólico fracasso dessa vitimização, ainda segundo a autora, esse
sofrimento não se resume apenas ao agente policial, mais extravasa para sua família, para
instituição e para toda sociedade.
Para Mello (2015) analisando dois gráficos que tiveram como fonte a Casa Militar
da Governadoria do Estado do Pará, ocorreu um aumento no número de óbitos dos policiais
militares paraenses nos anos de 2000 a 2014. Essas mortes ocorreram em maior número
quando estavam esses policiais de folga do que em serviço. O autor aponta ainda como
fatores desse fenômeno o fato de na maioria das vezes quando de folga estão sozinhos, ou
16

seja, sem a companhia de outro policial, e durante sua escola de formação aprendem técnicas
voltadas para sua atividade profissional e não para quando não estão em atividade, conforme
os gráficos 01 e 02.
A possibilidade do ataque que o policial militar pode sofrer tem relação com a sua
condição periférica e sócio econômica decorrente da defasagem da margem de remuneração
a qual está submetido. As condições do meio ambiente a que esta submetido são fruto de
fatores variados que incluem sua própria origem e meio de formação social. Morar na
periferia por conta dos baixos salários aumenta as possibilidades do sinistro uma vez que o
próprio lazer e exercido dentro de locais de risco, é claro que essa visão generalista guarda
suas exceções. Todavia a grande maioria esta vinculada a relações construídas ao longo de
uma vida social.
17

A atividade policial militar tem como atribuição inúmeras possibilidades de exercício


efetivo da profissão, ganhando maior destaque a cogente ação no sentido de garantir direitos
e ainda a proteção e resguardo da segurança alheia, demonstrando sempre um estado de força
e alerta. De forma contrária, um conflito diáfano se estabelece, uma vez que o policial é
acionado para lidar com as mais diversas agruras sociais, agindo em situações de extremada
violência e desiquilíbrio social, contudo, o maior questionamento se dá em quem vai
efetivamente cuidar desse profissional que labuta diariamente com essa conturbada
sociabilidade violenta (BALESTRERI, 1998).
Segundo Minayo e Souza (2003), os riscos constantes acompanham os policiais que
laboram sob esse cenário os quais apresentam duplo sentido. Na visão epidemiológica ocorre
uma sensação quanto à magnitude desses perigos acompanhados do seu tempo e locais de
maior ocorrência. Já para a visão social há uma resposta para capacidade e escolha
profissional de afrontamento e ousadia. Assim, o olhar do risco é ampliado para além das
fronteiras do labor policial, uma vez que esse profissional acaba incorporando a identidade
institucional, e, pode o risco ser tanto real quanto criado por esse trabalhador da segurança
pública.
Afirma Zimermann (1999) que o narcisismo se apresenta em uma posição arrogante
e prepotente decorrente de sentimentos pretéritos como tristeza, culpa e impotência. Para o
policial esse fator é de extremado perigo, pois, o onipotente tende a definir o próximo como
inferior e por consequência desprezível, portanto, descartável, podendo adotar decisões que
permeiam a vida ou a morte. Sendo exacerbado e patológico esse narcisismo proporciona
uma cegueira quanto à visualização dos seus próprios erros. Esse sofrimento pretérito que
culmina com a produção do narcisismo exacerbado culmina com a rivalidade entre polícia e
comunidade, pois a insegurança provocada pelo sofrimento gera a onipotência que garante
sua segurança e estabilidade emocional.
Para Lima et al. (2007) profissionais que lidam com público, com a saúde e
educação são afetados por um fenômeno que impulsiona o trabalhador a um sentimento de
desilusão, esgotamento, distanciamento pessoal e desgaste. Esses sintomas são típicos de
uma pessoa com sofrimento que pode estar acometida da Síndrome de Burnout. Essa
expressão deriva da palavra inglesa burnout que pode ser traduzida como queima após
desgaste.
Nessa mesma discussão Carlotto e Câmara (2008) explicam que a Síndrome de
Burnout pode advir ainda de uma grande expectativa de satisfação relacionada ao trabalho
18

que culmina com a falta de reconhecimento e muitas frustações decorrentes de seu


relacionamento laboral. Basearam-se no estudo de 1970 onde trabalhadores norte-
americanos criaram expectativas em seus trabalhos de obter grande satisfação e recompensa,
no entanto, depararam-se com freios burocráticos e individualismo isolante lhes causando
grande sofrimento.
A professora da Universidade da Califórnia Maslach et al. (2001) pesquisou
profissionais que laboravam em atividades cuja essência era baseada em serviços sociais e
de saúde com muito contato humano obtendo como resultado o diagnóstico de estresse
crônico, tédio e aborrecimento desses trabalhadores. Além disso, percebeu ainda que ocorreu
um processo gradual de perda de interesse e responsabilidade, assim, conceituou a Síndrome
de Burnout como uma reação emocional crônica quando se trabalha excessivamente com
pessoas.

2.3 A definição de Policial Militar


O termo polícia foi primeiramente empregado na Grécia antiga em um sentido
totalmente diferente da acepção que hoje conhecemos como órgão componente e atuante de
combate ao crime, ou mesmo de controle social. Esse termo deriva de politeia e suas
definições comportavam a qualidade e direitos dos cidadãos, forma de governo, forma de
Estado, interação das funções de Estado, governo republicano, Constituição democrática.
Em seguida, surgiu o termo politia com as mesmas definições, assim a polícia estava ligada
a polis que significava cidade ou Estado (SOUSA, 2009).
Somente no século XVIII, segundo Sousa (2009), o termo polícia recebeu também
o conceito de instituição voltada para a manutenção da ordem pública como força de
segurança, principalmente com o surgimento da palavra em francês Police. Ela estava
voltada para uma corporação que cumpria e fazia cumprir as leis.
A instituição policial em si não teria nenhuma finalidade caso não houvesse sido
contemplada com um poder conhecido como Poder de Polícia. Através dele os agentes do
Estado podem restringir e condicionar o exercício de direitos individuais em nome do
interesse coletivo.
O Estado brasileiro conceituou topograficamente o poder de Polícia o inserindo no
Código Tributário Nacional, mais precisamente no seu artigo 78 (BRASIL, 2015).
Art. 78. Considera-se poder de polícia atividade da administração pública que, limitando
ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou a abstenção de
fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos
costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas
19

dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à tranquilidade pública ou ao


respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos. (Grifo nosso).

Diferentemente do conceito acima os agentes da segurança pública foram previstos


pela própria Constituição do Estado brasileiro no seu artigo 144, sendo eles a Polícia Federal,
Ferroviária Federal, Rodoviária Federal, Civil e Militar que regula de forma precisa sua
posição no cenário da administração publica.
Para a análise da pesquisa em que se baseia nossa monografia a diferenciação se
faz necessária diante dos objetivos a serem alcançados e validados. As atribuições dos
agentes de segurança publicam diferenciam-se sobre maneira das atividades dos agentes
públicos da administração estatal.
O agente de segurança pública age dentro de regras mais especificas baseadas em
regramento penal e processual penal para exercer sua atividade laboral através do poder
estatal e do uso da força. O agente público exerce alguma regulação em áreas como saúde,
educação e vigilância sanitária como exemplos de poder de polícia.
A estrutura a qual pertence o policial de choque é baseada em hierarquia e disciplina
e dessa forma obedecem a estamentos próprios com mobilidade interna, com quase nenhuma
mobilidade interativa entre elas, salvo a possibilidade da praça integrar o circulo de Oficiais
do quadro de administração. Dessa forma analisaremos a execução os serviços desses
integrantes da carreira militar estadual do Pará.
O pilar da disciplina imposto aos policiais militares de forma dura durante sua
formação e desenvolvimento da carreira não deixa de ser um tipo de poder e ao mesmo
tempo um modo como ele se manifesta, uma certa anatomia ou mesmo uma tecnologia
voltada para o controle (FOUCAULT, 2012).
Para pertencer a carreira de militar estadual o candidato pode ingressar em Curso
de Formação de Praças (CFP) ou Curso de Formação de Oficias (CFO) havendo a
diferenciação de nível superior ou não para ingresso na nas carreiras mencionadas. Que ao
final da formação comtemplam o Praça na Graduação de soldado e do Oficial na declaração
de Aspirante Oficial PM que ainda serve de prazo probatório para a promoção ao posto de
2º Tenente PM.
A praça cursa uma escola preparatória de seis meses e recebe como atribuição ser
o elemento de execução da instituição. Já o oficial frequenta a academia que corresponde a
três anos de estudo e é preparado durante esse interregno para gestão da corporação, contudo
20

não se diferencia ontologicamente de nenhum outro agente público, pois, todos pertencem
ao Estado burocrático (WEBER, 1982).
A graduação das praças inicia com soldado, como já bem externado alhures, e
continua na seguinte hierarquia crescente: cabo, 3º sargento, 2º sargento, 1º sargento e
subtenente.
A carreira dos oficiais, em regra inicia no posto de 2º Tenente seguindo-se em 1º
Tenente, Capitão, Major, Tenente Coronel e Coronel2. A Polícia Militar paraense possui
cerca de dezesseis mil integrantes, destes apenas mil e quinhentos são oficiais, os quais
dentro da instituição se comportam como uma aristocracia, uma vez que em suas rotinas
externam uma superioridade e entendem que suas atitudes e atos sempre estão corretos,
partindo da premissa que os controlados (praças da instituição) estão sempre trabalhando de
forma incorreta ou inadequada, assemelhando-se às instituições totais (GOFFMAN, 2001).

2.4 A Precariedade e Precarização do meio ambiente do trabalho


A análise das condições laborais do policial militar de choque segue o parâmetro
do prejuízo laboral a qual é submetido o policial militar em virtude de condições extenuantes
da execução labora. E dessa forma o policial militar passa pelo prejuízo de o meio ambiente
de trabalho ser instável e insalubre tendendo a adoecer o ser humano tanto em seu estado
psicológico quanto em seu estado físico. Há uma necessidade de se diferenciar e também
conceituar a precarização do meio ambiente de trabalho com as condições estruturais em que
o serviço do 3º esforço é realizado cotejando com as análises estatísticas obtidas na
dissertação do autor.
Seguindo dessa forma verificamos que a definição das situações que prejudicam o
trabalho tem origem histórica e ontológico na antiga e ainda presente queda de braço entre
o capital e o trabalho, resumindo entre força exploradora e o explorado, onde a forma de
atuação estatal deve ter a obrigação de minimizar as condições inadequadas e insalubres da
execução do policiamento. Por outro lado, a precarização é determinada pela força política
entre capital e trabalho, desenvolvendo-se como um processo, um caminho na realidade
histórica de enfrentamento das forças exploradoras e exploradas, sendo ainda, a perda de
direitos dos explorados conquistados por anos de resistência e insatisfação (ALVES, 2007).

2
Último posto da corporação policia militar em todo Brasil, em razão do Decreto-lei nº 667/69 que foi
recepcionado pela constituição de 1988 e continua em vigor (BRASIL, 1969).
21

A dominação do capital se faz através de regra de aumentos salariais e da


disposição de funções. Anteriormente a burguesia mantinha o controle do capital com a
sujeição do assalariado a condições mínimas para execução do seu serviço. Observamos que
no presente ainda temos situações análogas, ocorrendo em relação a agentes de segurança
publica do Estado em exercício de poder de polícia. Assim sendo tais condições
comprometem o melhor desempenho deste agente estatal no seu mister.

2.5 O Histórico da Precariedade do Trabalho


A burguesia no seu surgimento sempre pregou a individualização das ações em
busca do lucro fazendo com que os seus comerciantes se isolassem dentro de um pequeno
grupo longe do trabalhador que simplesmente produzia para o seu enriquecimento aí
visualidade classes é uma característica do mundo capitalista
As pessoas despossuídas dos meios de produção e de terras tiveram que vender sua
força de trabalho desde o advento do capitalismo moderno, configurando o que se chamou
de proletarização do trabalho. Nessa lógica passamos a identificar a formação de membros
de uma classe e não mais de indivíduos pessoais (MARX, 1983).
Para Alves (2007), esse metabolismo social não poderia se desenvolver sem uma
resistência às intempéries sociais, uma vez que faz parte da própria natureza humana a
tentativa de resistir a uma força subjugadora. Temos exemplos como a resistência à
escravidão pelos negros africanos, bem como à invasão de territórios nas guerras modernas.
Nesse sentido, os sindicatos, partidos e leis trabalhistas são exemplos dessa disposição a
resistir aos vetores da precariedade do trabalho.
Para Mattos (2004), dentro da ordem burguesa no século XX surge o Estado Social
pós-segunda guerra mundial demonstrando uma inovação política no habitar do trabalho,
outorgado pelo Estado e conhecido como Welfare State3. Contudo, o Estado do bem estar
social trouxe consigo outro viés histórico-político bastante palpável aos estudiosos da
sociologia que foi a gradual e diáfana mitigação da orientação dos explorados na luta de
classes quanto à voracidade do capital.
O meio ambiente de trabalho precário remonta a fase histórica e ontológica do ser,
onde a explicação da insegurança sentida pelo proletariado decorre dos riscos inerentes a

3
Welfare State foi o termo encontrado para se definir o Estado de bem-estar social, Estado-providência ou Estado social
que é um tipo de organização política e econômica que coloca o Estado como agente da promoção (protetor e defensor)
social e organizador da economia.
22

execução do serviço, que norteado por uma sociedade burguesa não oferecia condições
suficientes para o exercício do trabalho, a falta de condições jurídicas e sociais para o bom
desempenho da função gerava um desacordo interno ao trabalhador influenciando na sua
produção individual e na sua própria força de trabalho. Historicamente a burguesia sempre
teve acesso ao poder político e ao capital, utilizando isso como forma de opressão e para a
precarização das condições do meio
Segundo Silva, 2016 outro ponto fulcral se situa no surgimento da tentativa de
aplicar na prática a construção do termo “flexibilização do trabalho”. O Estado
administração ou político modifica-se de interventor na sua formatação de bem estar social,
em tese, defensor das classes oprimidas para uma roupagem sócio metabólica estranhada, e
passa a determinar, já sob a ótica neoliberal, uma precarização mais aguda e proeminente
sob o termo semanticamente mais leve e degustável da flexibilização.
Vemos então que uma nova pratica empresarial que começa a se consolidar no
mercado de trabalho, o Dumping Social, que tem suas origens na área empresarial baseada
em concorrência desleal e que utiliza formas de subjugar a concorrência com praticas ilegais
pelas empresas, tais como o uso de preços muito abaixo do custo do serviço ou do produto
comercializado, com a finalidade precípua de eliminar a concorrência.
Dumping Social passa a ser verificado quando as corporações se distanciam dos
objetivos de cumprir as normas já estabelecidas nas áreas trabalhistas, de medicina e
segurança do trabalho e pela ofensa a direitos individuais e trabalhistas adquirido. Ocorre
que o aumento do lucro passa a ser o objetivo a partir da redução de direitos anteriores
adquiridos pelos trabalhadores. Ocorre que Empresas e empresários que cumprem
regiamente suas obrigações ficam a margem dessas práticas estabelecidas por outras
empresas, uma vez que eles cumprem a função social do empreendimento. Assim, como
houve essa renovação das formas de prestar os serviços e dos prestadores, a legislação rígida
acabou tendo que se adequar a essas mudanças para dar espaço a essas novas relações. Ou
seja, passou-se a uma flexibilização das normas existentes para que outros conceitos fossem
também abarcados pela ótica trabalhista. Dessa maneira a reforma trabalhista de 2017
regulariza algumas práticas que compõem uma situação de Dumping relativizando práticas
anteriormente tidas como lesivas ao trabalhador. Nota-se, então, que tanto o dumping social
quanto as demais formas de precarização das relações de trabalho não são consideradas
formas legais de flexibilização dos direitos, uma vez que não visam preservar qualquer
garantia do trabalhador, mas tão somente reduzi-las a ponto de prejudicar, tudo em nome de
23

um interesse próprio. Quantum debeatur” pode ser mensurado de maneira objetiva com base
nos seguintes critérios: quantidade de trabalhadores cujos direitos trabalhistas foram
violados, porte econômico da empresa e reincidência em caso de condenação anterior.
Segundo Ferreira; Rodrigues (2014) autorizar empresas a flexibilizarem ou
desrespeitarem direitos trabalhistas alcançados por meio de muita luta ao longo dos anos é
um retrocesso jurídico e social, pois se traduz em incentivar injustiças e práticas
incompatíveis com a ideologia de Estado social e democrático de direito, que defende a
observância obrigatória dos direitos sociais, visando melhorar a qualidade de vida dos
cidadãos e concretizar o direito à igualdade.
Visando à obtenção de lucros e a eliminação da concorrência de modo mais rápido,
muitas empresas e indústrias optam por transferir suas linhas de produção para países com
baixo custo de mão de obra e cujos direitos trabalhistas são ínfimos, permitindo uma alta
produtividade a troco de desprezível gasto para o desenvolvimento. A referida transferência
é vista muitas vezes em países asiáticos, subdesenvolvidos, onde há grande oferta de mão de
obra que não possui especialização, o que faz com que se submetam a péssimas condições
de trabalho, pois como não possuem especialização em nenhuma área, o que resta é
conseguir os empregos ofertados a trabalhadores sem estudo, razão pela qual são contratados
a baixos preços. Com isso, entende-se pela necessidade de conscientização de trabalhadores
sobre seus direitos, para que não sejam iludidos com falsas promessas nem aceitem
supressão de direitos básicos que decorrem da relação. Outrossim, também é necessária uma
maior atuação das empresas, para que em parceria ajudem no combate a essa precarização,
evitando condutas desleais de outras indústrias. Além disso, há que se promover uma maior
fiscalização das relações às quais se submetem os empregados, pois muitas vezes só aceitam
as condições impostas por receio de perderem o emprego, sua principal fonte de subsistência.
Com o advento da intensificação da globalização observou-se o recrudescimento de
um processo de cooperação complexa do capital, impulsionando na atualidade o
entendimento de que a precarização seria apenas um fator residual do procedimento toyotista
vigorosamente empregado (CASTELLS, 2000).
24

3 METODOLOGIA

Apresentamos as principais informações referentes à coleta e descrição dos dados,


assim como os métodos estatísticos aplicados aos dados em estudo proferido por Silva 2016.
As técnicas de pesquisa foram a bibliográfica e documental. Aquela concentrada no estado
da arte sobre o que foi proposto pelos diversos autores que enfrentam esse tema, a
documental foi referente à colheita de documentos importantes para o trabalho.
Utilizamos a técnica de análise exploratória de dados lecionada por Bussab e
Morettin (2011) para caracterizar o perfil dos militares estaduais do Batalhão de Choque,
pois esta técnica constitui o primeiro passo de qualquer trabalho científico, tornando os
dados compreensivos, permitindo direcionar uma visão mais ampla para outras análises e
tomadas de decisões (AYRES, 2012).
Segundo Magalhães e De Lima (2004) a análise exploratória dos dados tem como
objetivo organizar, resumir e descrever os aspectos importantes de um conjunto de dados
para que se tenha uma caracterização e melhor visualização de forma clara e objetiva.
Geralmente é utilizada na fase inicial da análise de um conjunto de dados, apresentado por
meio de tabelas e gráficos.
A tabela fornece uma ideia mais precisa e possibilita uma inspeção mais rigorosa
aos dados, já o gráfico é mais indicado para proporcionar uma impressão mais rápida e maior
facilidade de compreensão do comportamento do fenômeno em estudo (PIANA et al., 2011).
Existe diversos tipo de gráficos, nos quais são empregados de acordo com a variável em
estudo. Neste trabalho foram utilizados gráficos de colunas, barras e setores para
proporcionar uma melhor visualização das características do perfil dos militares estaduais
do Batalhão de Choque paraense.
25

4 O Batalhão de Polícia de Choque e o Policiamento no Estado

As tropas de choque dentro da execução do 3º Esforço do Estado têm fundamental


importância para a manutenção e para a garantia das decisões dos poderes constituídos
firmando a força qualificada juntamente com um emprego de tecnologias de baixa letalidade
no fiel cumprimento das decisões emanadas do poder público. Elas são elementos de
persuasão convincentes nos processos de negociação em que é envolvido esse ente da
federação, uma vez que não há como negociar sem se possuir algum poder que realize
pressão ou que cause algum temor ou respeito (SOUZA, 2010).
O Batalhão de Polícia de Choque é tão relevante operacionalmente para
corporação que foi considerando pela diretriz geral de emprego operacional4 como
sendo uma unidade de 3º (terceiro) esforço, que se traduz no último recurso do
Estado paraense para restabelecer a ordem pública. Nesse contexto o primeiro
esforço se refere ao policiamento ordinário e comunitário, e o segundo esforço
compõe-se pelo recobrimento tático executado por uma das unidades do Comando
de Missões Especiais e dos Comandos Regionais sediados no interior do Estado
(PARÁ, 2014).

Dentro da diretriz operacional da polícia militar do estado a relevância do batalhão


de choque se confirma no preparo dos seus componentes em relação à utilização das
tecnologias e de baixa letalidade combinado com treinamento físico e psicológica que
tendem a diferenciar o policial de Choque dos policiais de policiamento comunitário e
recobrimento tático.
O batalhão de choque como componente da estrutura da polícia Militar do Pará
desenvolvia suas atividades com um efetivo máximo de 220 homens em janeiro de 2016, é
possível observar que nem todo o efetivo está disponível para o serviço operacional e que
parte desse efetivo não exerce funções afins na unidade do choque. Tal situação influencia
diretamente no desempenho operacional da unidade e a tabela ainda nos indica que o
destacamento de Altamira consta como serviço fixo, onerando a empregabilidade do efetivo
da mesma forma que a situação de dispensa médica e afastamentos temporários influenciam
no efetivo total.

4
Foi retirado do site: <http://www.pm.pa.gov.br/sites/default/files/files/diretriz_geral_para_emprego_operacional.pdf>. O acesso
ocorreu em: 25 de julho de 2014.
26

Tabela 1: Quantidade e percentual do efetivo do Batalhão de Polícia de Choque em janeiro de 2016.

Situação Efetivo Porcentagem


Serviço Diário 114 51,82
Administrativo 18 8,18
Tribunal de Justiça do Estado 3 1,37
Ministério Público 1 0,45
Força Nacional da União 9 4,10
Altamira 15 6,82
Canil 1 0,45
Companhia de Operações Especiais 1 0,45
24º Batalhão de Polícia Militar 1 0,45
Licença Especial 4 1,82
Comando de Missões Especiais 8 3,63
Desaquartelado (aguardando reserva) 10 4,55
Dispensa médica 9 4,10
Férias 22 10,00
Suspenso da função pública 1 0,45
Diretoria de Pessoal 1 0,45
Casa Militar 2 0,91
TOTAL 220 100
Fonte: 1ª Seção do Batalhão de Polícia de Choque (P/1). Janeiro 2016.
Fonte: Pesquisa de campo. (Silva, 2016)

O Batalhão de Polícia de Choque tem sua estrutura interna subdividida em seções


determinadas por suas funções administrativas baseadas no regulamento interno de serviços
gerais (RISG) do Exercito brasileiro com a seguinte nomenclatura; O setor de pessoal é
representado pela Primeira Seção (P/1) que tem como atribuições o controle do efetivo,
férias, dispensas, licenças, apresentações na justiça e outros procedimentos extrajudiciais. À
Segunda Seção (P/2) atribuiu-se a inteligência preventiva e a correição, ou seja, além de
levantamentos de dados para o emprego operacional, também instaura e decide inquéritos,
sindicâncias e processos disciplinares. A Terceira Seção (P/3) é encarregada pela
administração da instrução e do planejamento estratégico e operacional. Por fim a Quarta
Seção (P/4) chefia a logística da unidade.
27

Observamos que esta estrutura é compartimentada e segrega ações em cada


departamento. Estes funcionam de maneira independente porem dificultam a
interdependência necessária a´ execução dos serviços diários. Pois cada decisão, e
documentação expedida tem por necessidade administrativa e hierárquica que ser chancelada
pelo Comandante da unidade. Ainda que produzidos pelas seções a assinatura que validada
a ação tem que ser do Cmt da Unidade.

4.1 Índices de qualidade de vida e saúde do Policial Militar


Os princípios constitucionais são valores fundamentais da nossa seara jurídica. Eles
fundamentam o sistema e servem de critérios de interpretação, integração e aplicação das
normas. Detém ainda força catalisadora para minimizar as contradições existentes entre as
normas infraconstitucionais. Sendo assim o direito ao meio ambiente do trabalho está
insculpido como conceito de direito fundamental com base nos princípios constitucionais
que regem o meio ambiente como um todo de onde deriva o meio ambiente do trabalho
saudável. Dessa forma temos o princípio do desenvolvimento sustentável que ao ser aplicado
ao meio ambiente do trabalho aduz que o empregado tem o direito a saúde, higiene e
segurança garantindo um meio ambiente saudável e em consonância com a economia, uma
vez que o ambiente salutar está de acordo com a produção sustentável. Com o princípio do
poluidor pagador a extensão deste para o meio ambiente do trabalho guarda relação direta
com a punição econômica que o poluidor deve ser submetido e com a pretensão de que para
diminuir suas multas este adote ações e inciativas menos danosas ao meio ambiente como
um todo. A prevenção é o princípio que norteia as ações do empregador quanto a possíveis
danos ao meio ambiente e principalmente aquele ligado a atividade laboral e pela qual essa
atividade não traga prejuízo não só ao trabalhador, mas a comunidade em geral. Na educação
e participação ambiental vemos o direito fundamental de preservação a tingir os sindicatos,
as empresas e os próprios trabalhadores em dividir responsabilidades pela educação
ambiental e preservação do meio ambiente laboral. O meio ambiente laboral sadio
compreende variáveis que influenciam não somente o ambiente restrito da empresa ou
serviço, indo mais além ao indicar a necessidade da eliminação e da minimização do risco
de degradação que atinge o meio ambiente e repercute de tal maneira na vida da coletividade
e no equilíbrio ecológico. Por fim chega-se à conclusão que o direito a dignidade do trabalho
e o resultado do emprego de direitos fundamentais ao meio ambiente saudável aplicados de
maneira hodierna ao meio ambiente do trabalho.
28

A unidade de Choque na polícia Militar do Pará vem baseada em fundamentação


normativa interministerial que assegura todas as ações desempenhadas pela unidade quanto
ao emprego da força. As condicionantes operacionais que a unidade Choque enfrenta são
variáveis de acordo com a sua empregabilidade no terreno. Abaixo temos uma tabela um as
variáveis enfrentadas pelos policiais do choque quando em atividade e que podem, de alguma
forma, afetar a saúde física e mental do agente de segurança pública após o enfrentamento
de grande risco potencial. É possível observar na tabela também que um número mínimo de
policiais não sofreu qualquer tipo de agressão sendo que 98,36% já foi alvo de ações
delituosas durante ações que de alguma forma geraram dano ao policial.
A pesquisa demonstra esse cenário expondo as formas de agressão que o policial
militar esta sujeito em sua atividade diária durante a execução do policiamento de choque
onde fica bem claro que o policial sofre grande risco de lesão corporal durante a sua atividade
uma vez que objeto contundentes (pedra) e queimadura (liquido inflamável) somam
55,73% das agressões sofridas pelo policial em atividade.

Figura 1: Percentual de Militares Estaduais do Batalhão de Polícia de Choque, no Período de 5 a 8 de janeiro


de 2016, por Tipo de Agressão Sofrida no Trabalho.

Pedrada 40,16
Impropério 18,85
Líquido Inflamável 15,57
Agressão Sofrida

Tiro 11,48
Tapa 4,92
Soco 4,10
Facada 1,64
Nenhuma agressão 1,64
Agressão verbal 0,82
Outros 0,82

0,00 10,00 20,00 30,00 40,00 50,00

Percentual
Fonte: Pesquisa de campo. (Silva, 2016)

Outro fator que influencia diretamente no bom desempenho profissional, segundo


o autor, é a doença contraída durante o serviço policial militar conforme figura abaixo
verificamos que o esforço físico extremo e a fadiga mental lideram os valores de referência
no adoecimento do policial em atividade.
29

Figura 2: Percentual de Militares Estaduais do Batalhão de Polícia de Choque, no Período de 5 a 8 de Janeiro


de 2016, por doenças contraídas durante o trabalho.

Dor na Coluna 25
Fadiga 18,75
Doenças Contraídas no

Lesões Musculares 15
Dor na Cabeça 15
Trabalho

Dengue 4,375
Perda de Audição 2,5
Estresse Grave 2,5
Dermatite Alérgica 1,875
Hipertensão Arterial 1,875
Nunca sofreu 2,5

0 5 10 15 20 25
Percentual

Fonte: Pesquisa de campo. (Silva, 2016).

Temos como terceiro fator de destaque como influência negativa na qualidade de


vida do policial militar o uso de substâncias químicas entorpecentes. Nessa Figura
verificamos que a incidência do uso de álcool e extremamente superior ao uso de outras
substancias elencadas pela pesquisa do autor onde se denota que por falta de dados
suficientes ou registros de punição o policial militar não exerce suas atividades sob
influencia do álcool, porem utilizam o cigarro que é de uso permitido porem prejudicial a
saúde.
Os fatores materiais e psicológicos que incitam ao consumo de álcool na lição de
Giglio:
"Entre os fatores materiais ressaltam o clima e os decorrentes da vida social. As
temperaturas muito baixas incitam a beber, pois o álcool produz calorias que dão
a sensação de conforme térmico e o socorro a bebidas geladas fornece uma
aparente e transitória ilusão de alívio, quando a temperatura externa é elevada. Por
outro lado, o uso disseminado de inebriantes, nas reuniões sociais, constrange o
participante delas a partilhar de coquetéis, aperitivos, etc, a título de acompanhar
a euforia da grei. A fadiga, a tensão nervosa, a preocupação e a ociosidade são
outras causas comuns das libações alcoólicas. Psicologicamente, o apelo aos
entorpecentes parece resultar de um desejo de compensação (pela frustração
sofrida) e de fuga (da realidade). O álcool relaxa a censura, dando ao inebriado
uma falsa ilusão de segurança satisfação consumo mesmo e felicidade, (...)."

Observamos no dia a dia das unidades que o uso do álcool aparece das formas mais
variadas e disfarçadas como a preparação de aniversários individuais ou coletivos, e
também nos locais campestres das associações. Fora as situações ocorridas como uso de
30

bebida alcoólica nos momentos de folga, não sendo necessário uma data comemorativa,
porem o simples momento de fuga dos problemas já se justifica para o uso da substância
alcoólica.
Figura 3: Percentual de militares estaduais do batalhão de Polícia de Choque, no período de 5 a 8 de Janeiro de
2016, por tipo de substância química.

Fonte: Pesquisa de campo. (Silva, 2016)

Por fim verificamos que a angustia com o ambiente de trabalho se reflete muito nas
características pessoais de cada individuo o que pode acarretar em uma acentuação de
características depressivas que podem resultar em pensamentos suicidas, tais fatores se
refletem conforme gráfico abaixo em um percentual alto dentro do universo do efetivo que
compõem o Batalhão de Choque da PMPA, o percentual em numero absoluto chega a 30
homens o que é exatamente a fração de um pelotão do Batalhão, o que nos parece um número
muito alto e que deveria acender o sinal de alerta da gestão da instituição.
Observamos que problemas familiares e a falta de um regramento financeiro são
fatores desencadeadores desse tipo de ação, a potencialização desses fatos por uso de álcool
e drogas geram um quadro nocivo a saúde do policial militar em geral. Em caso especifico
o policial de choque tem uma disciplina muito mais elevada que o policial de unidade de
área. A forma de tropa aquartelada confina o homem a várias horas de expectativa de
empenho operacional, mantendo um ambiente tencionado que pode resultar em emprego
operacional ou não ao término do serviço.
Em virtude da escala de serviço sobrecarregada, o que acarreta vários períodos de
ausência, o que também são causados pelos horários de execução de serviços extras que
complementam o orçamento familiar. Dessa forma a estrutura familiar pode se desagregar
levando a instabilidade emocional o que prejudica o serviço do policial e as suas relações
profissionais, desencadeando o pensamento suicida como única resposta possível para seus
31

problemas.
Na mesma direção temos o caos financeiro que influencia na relação pessoal e
social trazendo instabilidade a família, somado a isso a cobrança do meio social onde o
policial está inserido, que vai cobrar determinadas posturas que so acarretam mais estresse
ao policial em seu próprio meio de trabalho. Dessa forma a figura nos mostra que em
números absolutos o percentual de 13,46% representa um total de quase 30 policias que já
pensaram em tirar a própria vida. É um número preocupante.
Figura 4: Percentual de Militares Estaduais do Batalhão de Polícia de Choque, no Período de 5 a 8 de janeiro
de 2016, por Pensamento de Suicídio.

Fonte: Pesquisa de campo. (Silva, 2016)

4.2 Fatores para a precarização do meio ambiente do trabalho policial militar.


Os policiais militares são servidores militares estaduais segundo a constituição do
Pará e tem como classe especial de labor o único regramento jurídico baseado no Estatuto
policial militar. Dessa forma as escalas de serviço contribuem sobremaneira para a criação
de um ambiente instável dentro da área de execução do serviço. Entendemos que o regra
mentor deveria ser objetivo em ordem administrativa interna ou mesmo com adaptação da
legislação trabalhista as situações do serviço militar.
Qual situação também influencia sobremaneira na situação particular, na vida social
e familiar do policial militar. Estar sempre a postos em condições de cumprir a missão
condiciona a família a mesma situação, pois, esta deverá se adaptar ausência e
principalmente a impossibilidade de programar suas atividades devido a uma convocação de
última hora.
32

A reificação a qual é submetido policial militar decorre principalmente da falta da


regra mentor específico. Sujeitando o homem as necessidades do estado, não levando em
consideração a própria dignidade humana que é um direito fundamental.

4.3 A remuneração, o complemento de renda e a redução da vida.

É fato que a questão salarial que envolve o serviço público é de todo um dos fatores
que mais geram insatisfação, entretanto o reflexo da baixa remuneração dentro do serviço
policial militar alcança índices extremos, uma vez que, na atividade policial enfrenta riscos
estremados o que leva o policial militar a questionar de forma mais intensa o valor da sua
própria remuneração. Vamos entender que ao arriscar a própria vida o policial questiona
qual o valor necessário, ou melhor o justo valor que desse risco decorre. Quanto vale a vida
do policial?
Para Kovács (1992, p.14) nenhum ser humano esta livre do medo da morte, e todos
os medos que temos estão, de alguma forma, relacionados a ele. Neste sentido o policial
militar tem por atividade o confronto diário onde essa possibilidade acarreta uma serie de
questionamentos em relação a forma de como isso ocorre na vida do policial militar, sujeito
que diante do seu exercício profissional recebe a incumbência de proteger e até matar se for
o caso durante o seu mister.
Dessa forma a figura a baixo demonstra a percepção do policial quanto a sua
remuneração percebida e se está adequada com sua margem de ideal de ganhos baseada em
critérios pessoais ao se levar em conta a própria percepção do risco a qual está sujeito.
Demonstra uma percepção coerente dentro do posicionamento econômico
financeiro da classe policial onde a faixa salarial considerada ideal pela maioria dos
entrevistados esta dentro da margem aceitável para trabalhadores que desenvolvem trabalho
especializado no mercado de trabalho no Brasil. Chama atenção a faixa percentual em que
os valores extremos, que transparece um conflito de baixa auto estima profissional com a
mesma taxa percentual para aqueles que supervalorizam o trabalho pessoal.
Isso demonstra que a faixa salarial reflete a própria imagem que o policial tem de
sua posição dentro da sua força de trabalho no mercado, demonstrando que no mesmo
percentual policiais militares se vem sub-remunerados, e que assim deve ser, como também
se supervalorizavam, em função de sua profissão pois assim interpretam sua própria posição
de importância na sociedade.
33

Figura 5: Percentual de militares estaduais do batalhão de polícia de choque, no período de 5 a 8 de janeiro de


2016, por remuneração ideal para o cargo que exerce.

70,00 60,37
60,00
Percentual

50,00
40,00
30,00 24,53
20,00
10,00 7,55 7,55

0,00
3a5 6a8 9 a 11 12 a 13
Remuneração Ideal (em salários mínimos)
Fonte: Pesquisa de campo. (Silva, 2016)

Observamos ainda que a maior parte dos policias se considera mal remunerado e
com expectativa de perceber uma faixa maior de remuneração salarial. Idealizada entre seis
a oito salários mínimos, a faixa salarial pretendida poderia proporcionar uma maior
dignidade a vida do policial. Desse pensamento compartilham a maior parte dos
entrevistados. Observamos que apesar dos riscos da profissão o valor pretendido fica dentro
de uma faixa salarial comum aos cargos de nível técnico com experiência de mercado.
Outra questão envolve a reificação, durante vários anos modelos industriais como
fordismo e o taylorismo geraram ideias de produção em massa. Mas contemporaneamente a
introdução do Toyotismo, forma de geração de produtos que utiliza a terceirização de mão-
de-obra, fez com que determinadas empresas ou equipes montem somente parte, do todo, de
um produto. Na fabricação de um automóvel Toyota determinada empresa cuida somente do
estofamento, outra empresa terceirizada somente do sistema de freios e pastilhas e uma
terceira somente do câmbio de transmissão. Dessa forma cada equipe só sabe da sua devida
especificação. Não tendo dimensão do valor do produto que está contribuindo. A Toyota tem
um produto formado por vários subprodutos.
Assim o policial militar está sendo condicionado a manter a utilização da sua força
de trabalho na execução única do serviço diário, não tomando consciência da sua própria
importância no todo o serviço prestado a uma comunidade fazendo com que ele não perceba
a própria importância enquanto agente de segurança pública, como mantenedor da paz social
naquela comunidade.
34

A tabela abaixo demonstra que para complementa a sua renda o policial militar
vende sua força de trabalho e seu conhecimento técnico em varias opções de trabalho, onde
se sobressai a venda de conhecimento técnico em ações de segurança, técnicas operacionais
que adquiridas com a profissão após admissão por concurso publico e que ficam disponíveis
como conhecimento e técnica pessoais o que possibilita a sua negociação a terceiros em prol
de remuneração que contribua na sua renda pessoal e familiar. A tabela demonstrativa mostra
a relação quantitativa dos entrevistados.

tabela 1: Percentual de militares estaduais do batalhão de polícia de choque, no período de 5 a 8 de janeiro de


2016, por outra atividade remunerada exercida.

Outra Atividade Remunerada Quantidade Percentual


Segurança 11 68,75
Representante 1 6,25
Segurança e Cozinheiro 1 6,25
Segurança, Serviços Gerais e Vendedor 1 6,25
Segurança e Pedreiro 1 6,25
Vendedor 1 6,25
Total 16 100,00
Fonte: Pesquisa de campo. (Silva, 2016)

Essa falta de identificação com a própria objetividade da sua mão-de-obra, faz com
que o policial militar emprega seus conhecimentos de forma mercantil, buscando com isso
o complemento da renda que, conscientemente, sabe estar defasado para seus próprios
padrões. Assim vemos que a situação do trabalho extra informal entre parênteses bico é uma
forma recorrente de complementação de renda. Entretanto a busca da complementação de
renda aumenta o risco de segurança pessoal do policial o que reflete na instabilidade
emocional e social. Dessa forma ainda que o serviço seja clandestino o policial se arriscar
tentando aumentar seus ganhos.
Dessa forma a busca de serviço complementar, não amparado por lei e clandestino,
gera no emocional do policial militar, na sua psiquê, a sensação de estar por fora dos fatos,
uma vez que o ciclo donoso que envolve a jornada operacional policial, mais a carga horária
de serviço clandestino e a falta de descanso necessário ao retorno ao serviço operacional
geram uma estafa que aumenta a precarização do próprio meio ambiente do trabalho do
policial.
35

tabela 2: Número de atestados médicos e porcentagens apresentados por policias militares do batalhão de
polícia de choque nos anos de 2012 a 2015.

Ano e Porcentagem
Meses
2012 % 2013 % 2014 % 2015 %
Janeiro 21 14,41 23 17,04 17 16,93 20 14,08
Fevereiro 8 5,08 7 5,18 6 6,45 9 6,34
Março 9 9,32 9 6,67 11 7,26 12 8,45
Abril 7 11,02 9 6,67 13 5,65 11 7,75
Maio 11 7,63 13 9,63 9 8,87 14 9,86
Junho 7 2,54 9 6,67 3 5,65 5 3,52
Julho 11 6,78 9 6,67 8 8,87 11 7,75
Agosto 12 9,32 11 8,15 11 9,68 12 8,45
Setembro 10 8,47 13 9,63 10 8,06 13 9,15
Outubro 18 14,41 23 17,04 17 14,52 22 15,49
Novembro 6 6,78 7 5,18 8 4,83 9 6,34
Dezembro 4 4,24 2 1,47 5 3,23 4 2,82
Total 124 100 135 100 118 100 142 100
Fonte: Pesquisa de campo. (Silva, 2016)

5 O Batalhão de Polícia de Choque e a jornada de trabalho


O trabalho extraordinário (bico) já é reconhecido pelo direito trabalhista. A Justiça
do Trabalho através de súmula número 386 do TST já reconhece o vínculo empregatício do
policial que exerce serviço remunerado ao particular ou a empresa privada protegendo os
seus direitos trabalhistas previstos na legislação o que de certa forma garante proteção a
remuneração e a justa indenização do serviço desenvolvido pelo PM. Entretanto por ser
servidor militar estadual todo o teor da sentença trabalhista é encaminhado ao comando da
Polícia Militar para que seja apurado qualquer ilícito administrativo que tenha se
configurado durante o exercício da atividade remunerada privada.

Súmula Nº 386 do TST - POLICIAL MILITAR. RECONHECIMENTO DE


VÍNCULO EMPREGATÍCIO COM EMPRESA PRIVADA (conversão da
Orientação Jurisprudencial Nº 167 da SBDI-1) - Res. 129/2005, DJ 20, 22 e
25.04.2005 Preenchidos os requisitos do art. 3º da CLT, é legítimo o
reconhecimento de relação de emprego entre policial militar e empresa privada,
independentemente do eventual cabimento de penalidade disciplinar prevista no
Estatuto do Policial Militar (TST, 2005).

A polícia militar contemporaneamente acompanha as melhores práticas da


administração pública e nesse sentido a gestão por resultados está em voga nos dias atuais.
Nesse viés a polícia militar busca fixação de novas metas e também novos objetivos a serem
36

alcançados para a prestação de um serviço de maior qualidade visando atender o cliente final
que é a população.
O atendimento de demandas muito variadas é uma rotina no dia a dia da corporação,
uma vez que, a polícia militar por ser administrativa gerencia na maior parte das suas
atividades conflitos sociais e em menor nível os conflitos criminais. Temos como exemplo
brigas onde existe violência doméstica que são em sua maioria geradas após o
desentendimento entre parentes consanguíneos ou afins. Por conta desses fatores a agressão
ocorre entre pessoas da mesma familiar ou entre esses e pessoas próximas como vizinhos.
Outro fator que precariza o meio ambiente de trabalho policial militar, a relação
com a própria disponibilidade temporal, uma vez que o policial é submetido em relação ao
estado a uma discricionariedade danosa. Missões são determinadas em qualquer parte do
território estadual e podem acontecer a qualquer momento independentemente de aviso
prévio, com isso o policial mesmo na sua folga deverá ser acionado pelo seu comandante
utilizando qualquer um dos meios disponíveis na atualidade, ou seja, através de telefone
celular pessoal aplicativos de mensagem e-mails e etc...
Diante desses fatores observa-se que a remuneração ainda que injusta é
complementada com o sacrifício do próprio policial, mediante seu próprio esforço físico,
ocasionando uma sobrecarga de serviços contribuindo para que o meio ambiente de trabalho
deste policial fique fragilizado, fadigado.
A sobrecarga de trabalho, já analisada anteriormente, trás uma consequência ímpar
na transformação da visão do caráter empreendedor de alguns policiais. As corporações de
marketing multinível tem aparecido como uma das opções a complementação de renda
familiar, entretanto como todo empreendimento essas ações devem ser cercadas de cuidados
uma vez que podem ser fator gerador de dissabores financeiros e sócio familiar. Em alguns
casos o empreendimento não é bem gerenciado e pode acarretar situações tensas de prejuízo
e desentendimento interno da família e de relações societárias. O que deveria ser uma
solução pode acabar se tornando fonte de novos prejuízos.
Dessa forma a busca de remuneração é sempre um fator tencionado na vida do
policial militar.
Verificamos que o bico também pode gerar dissabores trabalhistas não apenas para
os tomadores de serviço, mas também para aqueles que agem como coordenadores e chefes
de equipe desses serviços clandestinos. Tanto no âmbito administrativos quanto no criminal,
podendo ser responsabilizados por atos e ações que agridam a normatização do legal do pais.
37

Tabela 3: Percentual de Militares Estaduais do Batalhão de Polícia de Choque, no Período de 5 a 8 de Janeiro


de 2016, por Sentimento ao ser Acionado.

Sentimento Percentual

Honra 20,52
Tristeza 11,11
Angústia 9,4
Esgotamento Físico 8,55
Prazer 8,55
Boa Autoestima 7,68
Felicidade 5,13
Esgotamento Emocional 5,13
Baixa estima 5,13
Alegria 3,42
Realização 3,42
Irritado 3,42
Otimista 2,56
Deprimido 1,71
Infelicidade 1,71
Isolado 1,71
Orgulho 0,85

Total 100

Fonte: Pesquisa de campo. (Silva, 2016)

Outra condição que precariza o meio ambiente de trabalho do policial militar é a


questão da carga horário que o policial é submetido, o autor estudado fez um quadro
comparativo entre a carga horaria do trabalhador Celetista , o servidor da união e o policial
militar da policia militar do Estado do Para, de maneira geral acreditamos que ainda que seja
valida a comparação não obedece a paridade de funções, o que pode acarretar uma analise
distorcida de cargas horarias de serviço laboral.
Figura 6: Comparação entre a carga horária de trabalho mensal aproximada dos policiais militares que
trabalham no Batalhão de Polícia de Choque, trabalhadores da iniciativa privada e servidores da União nos dias
atuais.
38

Fonte: Pesquisa de campo. (Silva, 2016)

As escalas de serviço são comuns no serviço laboral de várias profissões


principalmente nas que prestam serviços contínuos ou nas que provem produtos de
necessidades básicas, no ramo de perecíveis.
A necessidade de funcionamento ininterrupto obriga o trabalho por turnos
ininterruptos. As escalas são originarias do meio militar e por via de consequência no meio
policial em geral, sendo empregadas em virtude de racionalizar o emprego do efetivo policial
necessário para possibilitar o provimento de postos de proteção ou atendimento ao cidadão,
que, em regra, funcionam no regime 24x7, isto é, 24 horas por dia, nos 7 dias da semana.
A conceituação e desenvolvimento teórico sobre esse tema e ínfimo, geralmente se
referindo às escalas contínuas e regulares, como as utilizadas na área de laboral de hospitais
onde médicos e enfermeiros executam revezamento por escalas de serviço.
Tanto a doutrina quanto a jurisprudência abordam muito superficialmente a
questão, a não ser no sentido de garantir os direitos trabalhistas aos profissionais submetidos
ao trabalho em regime de escalas.
Traçaremos algumas considerações sobre escalas de serviço, notadamente no
âmbito policial. Analisando, ainda, a flexibilização das jornadas de trabalho e
exemplificando com modelos para otimização de escalas em geral, com foco nas escalas
policiais.
Segundo Rocha, 2017 a nota técnica do legislativo federal tem alguns desses
conceitos, presentes também no direito comparado, merecem ser lembrados quanto a regime
de trabalho, como o de descanso mínimo de 24 horas por semana, o intervalo de 15 minutos
para repouso e alimentação no trabalho contínuo não excedente de 6 horas e de 1 a 2 horas
39

no trabalho contínuo excedente de 6 horas, bem como o repouso de 10 minutos a cada 90


trabalhados, nos serviços permanentes de mecanografia.
Temos uma distinção ‘período de funcionamento’ e o ‘período de atendimento’,
onde o período de atendimento necessita de fixação de horário e estabelecimento de e
uniformização de procedimentos no seu mister. E o “período de funcionamento” é o período
diário em que os serviços são exercidos
Esse período de atendimento deve ter a duração mínima de sete horas diárias,
iniciando pela manhã e findando a tarde, tendo obrigatoriamente afixadas, de modo visível
ao público, nos locais de atendimento, as horas do seu início e termo. Fora isso o período
pode ser estendido através das novas tecnologias. O trabalho pode, de acordo com as
atribuições do serviço ou organismo e com a natureza da atividade desenvolvida, ser prestado
nos seguintes regimes:
a) sujeito ao cumprimento do horário diário (execução por ordem cronológica ou
por demanda, normalmente em atendimento ao público interno ou externo);
b) sujeito ao cumprimento de objetivos definidos (execução por tarefa, por
distribuição rotativa entre os servidores).
Por outro lado, o cotejamento tem sua validade ao demonstrar que a variação entre
as cargas horarias demonstra grande desfavor em relação policial militar do Estado do Para
no que tange o total da carga horaria trabalhada.
Entretanto Em função da natureza das suas atividades, podem os serviços adotar
uma ou, simultaneamente, mais do que uma das seguintes modalidades de horário de
trabalho:

a) Horários flexíveis são aqueles que permitem aos policiais de um serviço gerir
os seus tempos de trabalho, escolhendo as horas de entrada e de saída. Isso
ocorre no policiamento Ordinário em Destacamentos policiais militares.
Todavia essa modalidade segue regras fixas, uma vez que a flexibilidade não
pode afetar o regular e eficaz funcionamento dos serviços, especialmente no que
respeita às relações com o público; também não deve ter duração inferior a
quatro horas, para cada um dos períodos fixos pela manha e a tarde.
b) Horários defasados são aqueles que, embora mantendo inalterado o período
normal de trabalho diário, permitem estabelecer, serviço a serviço, ou para
40

determinado grupo ou grupos de pessoas, e sem possibilidade de opção, horas


fixas diferentes de entrada e de saída.

c) Jornada contínua consiste na prestação ininterrupta de trabalho, salvo um


período de descanso nunca superior a trinta minutos, que, para todos os efeitos,
se considera tempo de trabalho. A jornada contínua deve ocupar,
predominantemente, um dos períodos do dia e determinar uma redução do
período normal de trabalho diário nunca superior a uma hora.
d) O trabalho por turnos é aquele que, por necessidade do regular e normal
funcionamento do serviço, dá lugar à prestação de trabalho em pelo menos dois
períodos diários e sucessivos para o mesmo posto de trabalho, sendo cada um
de duração não inferior à duração média diária, conseguindo, assim, com vários
trabalhadores, assegurar um funcionamento que ultrapasse os limites máximos
dos períodos normais de trabalho.

A prestação de trabalho por turnos deve obedecer às seguintes regras:

1. Os turnos são rotativos, estando o respectivo pessoal sujeito à sua


variação regular;
2. As interrupções a observar em cada turno devem obedecer ao
princípio de que não podem ser prestadas mais de cinco horas de trabalho
consecutivo; e
3. As interrupções destinadas a repouso ou refeição, quando não
superiores a trinta minutos, consideram-se incluídas no período de trabalho.
Entende-se por ‘não sujeição a horário de trabalho’ a prestação de trabalho não
sujeita ao cumprimento de qualquer das modalidades de horário previstas, nem
à observância do dever geral de assiduidade e de cumprimento da duração
semanal de trabalho.
A avaliação feita pelos próprios exequentes do serviço do Btl de Choque entendem
como excessiva a carga de serviço desempenhada por eles, o que leva a reforçar a situação
de precarização, porem, vale lembrar que na maioria dos serviços executados o pronto
emprego fica condicionado a necessidade imediata da situação.
Figura 7: Percentual de Militares Estaduais do Batalhão de Polícia de Choque, no Período de 5 a 8 de janeiro
de 2016, por Avaliação da Carga Horária Mensal de Trabalho.
41

74
80,00
70,00
60,00
Percentual

50,00
40,00
30,00 24
20,00
10,00 2
0,00
Insuficiente Adequada Excessiva
Avaliação da carga horária
Fonte: Pesquisa de campo. (Silva, 2016)

A não previsão de carga horária para a execução do labor policial militar caracteriza
diafanamente a precariedade do trabalho desses agentes públicos, sua utilização fica ao
alvedrio da discricionariedade do gestor público militar, suas horas extenuantes, por vezes
sem controle e sem a devida remuneração apresentam semelhança com a definição de
trabalho escravo contemporâneo, assim, infere-se que a submissão a jornadas exaustivas e
sem sua devida remuneração são características do trabalho escravo (CONFORTI, 2014).
Para Minayo, Assis e Oliveira (2011) essa longa jornada de trabalho dos policiais
militares e o excesso de permanência no serviço são fatores que contribuem para o maior
desgaste físico e mental, diferenciando das demais categorias profissionais e da população
em geral, principalmente em relação aos estudos sobre saúde ocupacional. E dentre o efetivo
policial, esses autores apontam que o policial operacional está muito mais suscetível aos
riscos e agravos laborais, contudo, ainda não há uma atenção por parte da corporação para
os cuidados de saúde e psíquicos necessários a esses indivíduos.
A Tabela 3 permite também uma análise do ambiente de trabalho policial, do local
onde suas atividades são cotidianamente desenvolvidas. Conforme descrito, as atividades
catalogadas são: reforço de policiamento, revista em casas penais, mandado judicial e praça
desportiva, no entanto, não contabiliza as atividades internas no Batalhão como os
treinamentos, que não são considerados na estatística oficial da unidade.
Já Souza e Reis, (2012) ao analisarem os efeitos da cultura policial militar do Pará
e suas repercussões físicas apontam que a rotina de trabalho desenvolvida em ambiente de
conflitos e violências favorece que estes indivíduos desenvolvam condutas também baseadas
na prática de violência, agressões e morte, o que gera em seu corpo um estado de fadiga,
42

aumentando a irritabilidade e diminuindo a tolerância ao estresse, permitindo cada vez mais


o uso excessivo da força para resolução do conflito, o que o tornaria escravo desses efeitos
comprometendo outras esferas da vida pessoal, levando ao adoecimento.
Tabela 3: Relatório geral de operações do Batalhão de Polícia de Choque nos anos de 2012 a 2015.

Operações 2012 2013 2014 2015 Total


Reforço de policiamento 231 164 240 227 862
Revista em casas penais 111 136 129 325 701
Mandado judicial 111 82 76 54 323
Praça esportiva 52 58 44 16 170
Total 505 440 489 622 2056

Fonte: Pesquisa de campo. (Silva, 2016)

A ergonomia, para Vasconcelos (2007), pode ser conceituada como uma relação
entre o trabalhador humano e seu labor envolvendo todo equipamento e meio ambiente, com
fim de melhorar o seu bem estar ao considerar necessária uma somatória multidisciplinar de
conhecimentos de psicologia, anatomia e fisiologia. Destarte, tenciona diminuir o sofrimento
do trabalhador ao exercer sua atividade. A etimologia de ergonomia advém do termo grego
ergo (que significa trabalho) e nomos (que significa regras, leis naturais).
Os policiais do Batalhão de Choque no exercício de suas atividades laborais
utilizam a estrutura física da unidade quando não estão desenvolvendo operações,
permanecendo na situação de pronto emprego nas 30 (trinta) horas consecutivas de labor.
Nessa estrutura se inclui as condições de alojamento, auditório, refeitório, sanitárias e
elétricas. Tem-se ainda o uso frequente dos equipamentos de proteção individual (EPI) que
agrega sofrimento decorrente de seu peso e desconforto.
Por essas hipóteses, e ainda no intuito de mensurar a qualidade dos equipamentos de
proteção individual foi questionado aos policiais de choque pesquisados quanto ao conforto
e ainda acerca da avaliação da estrutura do seu local de trabalho. A Figura 8 apresenta o
percentual de militares estaduais do Batalhão de Polícia de Choque, no período de 5 a 8 de
janeiro de 2016, por avaliação da qualidade do EPI. Nela verifica-se que a maior parte dos
militares avalia como regular, com 32,69%, seguido dos que avaliaram como bom, com
28,85%. Assim, somando os percentuais de avaliação positiva (bom, ótimo e excelente) e
43

comparando com as avaliações negativas (insuficiente e regular), verifica-se que cada grupo
de variáveis apresenta a soma de 50%.

Figura 8: Percentual de Militares Estaduais do Batalhão de Polícia de Choque, no Período de 5 a 8 de Janeiro


de 2016, por Avaliação da Qualidade e Conforto do EPI.

40
32,69
28,85
Percentual

30

20 17,31 15,38

10 5,77

0
Insuficiente Regular Bom Ótimo Excelente
Nível de Satisfação

Fonte: Pesquisa de campo. (Silva, 2016)

Verificamos que no caso particular do Policial de Choque tais sobre peso de


equipamentos aumentam o sofrimento laboral e acarreta doenças e desconfortos
principalmente em articulação e coluna dos policias. Tais reclamações são a justificava para
o aumento das dispensas médicas apresentadas no dia a dia da unidade. De outra forma tal
sobrepeso também acarreta afastamentos e reformas provenientes de problemas de coluna e
de articulações como joelhos e calcanhares.
Para o autor (Silva, 2016) a tabela 4 apresenta o percentual de militares estaduais
do Batalhão de Polícia de Choque, no período de 5 a 8 de janeiro de 2016, por avaliação de
condições de trabalho. Nela, verifica-se que a maioria dos militares avalia como bom, com
55,77%, seguido dos que avaliaram como regular, com 26,92%.
O termo condições de trabalho alcança um julgamento mais generalizante,
compreendendo as condições de alojamento, auditório, refeitório, sanitária e elétrica, como
já citado alhures. Na tabela 4, a soma das variáveis bom, ótimo e excelente apresenta como
resultado 67,31%, importante para esses trabalhadores pois labutando na modalidade de
pronto emprego, permanecem aguardando acionamento na sede do Batalhão de Choque que
pela avaliação dos policiais pesquisados apresenta estrutura adequada.
44

Tabela 4: Percentual de Militares Estaduais do Batalhão de Polícia de Choque, no Período de 5 a 8 de Janeiro


de 2016, por Avaliação de Condições de Trabalho.

Avaliação de Condições de Trabalho Percentual


Insuficiente 5,77
Regular 26,92
Bom 55,77
Ótimo 5,77
Excelente 5,77
Total 100

Fonte: Pesquisa de campo. (Silva, 2016)


45

6 CONCLUSÃO
Na introdução formulamos a hipótese da pesquisa baseada na inexistência de
regulamentação legal de carga horária de trabalho policial militar o que diferencia de
maneira negativa as outras categorias de trabalhadores da administração pública, ou mesmo
da iniciativa privada que possuem sua carga horária regulada por lei e pela própria
Constituição Federal.
Dessa forma foi verificada que tal diferenciação entre as categorias gera um
aumento na angustia experimentada pelos policiais militares diante da carga horaria
extenuante o que é um dos fatores em que o meio ambiente de trabalho policial militar se
deteriora, essa diferença demonstra que realmente a falta de um controle rígido, inclusive
sem base legal, sem lei estadual que regulamente tal situação. Entretanto segundo a
constituição aplica-se aos militares o disposto no art. 7º, incisos VIII, XII, XVII, XVIII, XIX
e XXV, e no art. 37, incisos XI, XIII, XIV e XV. O estabelecido no art 7º inciso XIII -
duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais,
facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção
coletiva de trabalho; não e levado em consideração mesmo em que pese a policia militar ser
força auxiliar e reserva do exercito

...Além da Constituição Federal, o sistema de competência, de que fazem parte as


Forças Armadas, no plano federal, e as polícias militares, no plano estadual,
decorre: do Decreto-lei n.º 667, de 02 de julho de 1969 (com a redação que o
Decreto-lei n.º 2.010, de 12 de janeiro de 1983, estabeleceu aos art. 3º e 4º, que
tratam da missão das polícias militares);
(http://www.pmpr.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=663)

Neste caso especifico o Decreto 667/69 regulamenta a Policia Militar como foça
auxiliar e dessa forma vincula diretamente os preceitos dos militares aos preceitos da força
estadual; isso devendo ser regulamentado por força de lei. Feita essa consideração faremos
a sugestão sobre possíveis melhores escalas de serviço.
O período de folga deve ser, teoricamente, mais dilatado quanto mais estressante
seja a atividade durante o período de trabalho, o que faz pensar em ciclos de 1:3, 1:4, 1:5 e
até 1:6, que podem ser praticados nas escalas de serviço dependendo da possibilidade do
efetivo.
Em relação a melhoria das condições de trabalho outras considerações acerca da
instituição ou alteração de escalas devem levar em conta demais fatores, como a
possibilidade da Guarnição de serviço que sai de serviço ter de adotar providências
complementares, bem como o tempo disponível para isso; a necessidade do policial ter
46

garantido o tempo para seu convívio social, sendo isso mais sensível nas escalas de 24 horas,
quando o policial tem um dia para se restabelecer do plantão e os outros dias para se dedicar
à família, estudos e outras atividades; a necessidade de intervalo para uma ou mais refeições
durante o serviço; a adequação da carga efetiva de trabalho com a carga legal; a adequação
da carga para estudantes, de quem seja responsável por dependentes deficientes ou da carga
reduzida por restrição médica; a redução do desgaste por trabalho noturno, ou alternância de
períodos diurno e noturno, refletindo na diminuição de faltas e licenças por motivo de saúde;
a necessidade de escalas diversas, conforme a especificidade dos serviços prestados pelas
unidades, em comparação com a desejada uniformidade, a fim de não gerar disputas por
inclusão em determinadas escalas privilegiadas; a justaposição de horários de escalas de
órgãos diversos, mas que deveriam trabalhar em conjunto; a dilatação do período de
atendimento à população, bem como a disponibilidade de atendimento em horários diversos
do horário comercial; a necessidade de compatibilizar os horários dos profissionais que têm
o direito constitucional de acumular cargos, visando a evitar absenteísmo e exonerações
constantes.
Nas escalas mistas, que mesclam atividades de plantão e expediente, por exemplo,
é interessante notar a quantidade de dias trabalhados, seja no total, seja apenas em relação
ao expediente. Tal diferença tem especial relevância naqueles órgãos em que precisa haver
um plantão, mas o volume maior de trabalho ocorre no expediente.
A adoção de escalas mistas em situação de escassez de efetivo parte de algumas
premissas: 1) garantir o efetivo cumprimento da carga horária pelos profissionais; 2) reduzir
a jornada de serviço para um período mais curto e menos estressante; 3) reduzir o efetivo do
plantão, visando ao melhor aproveitamento do pessoal; 4) proporcionar o uso mais racional
dos equipamentos e insumos; 5) coibir a atividade paralela (‘bico’) durante a folga; 6)
resolver a necessidade de horário especial para os estudantes e outros casos; e 7) aumentar a
autoestima dos servidores, com reflexo no moral e desempenho. Essas premissas implicam
problemas observados pelos gestores, que demandam sistemas de gestão ou de controle, nem
sempre aplicados com sucesso.
As escalas podem ser divididas em escalas mensal, diária e de férias, dividindo-as
em três turnos de trabalho (manhã, tarde e noite). Ressaltamos na escala, os domingos e
feriados; anotando folgas que o policial esteja devendo; evitando deixar folgas de um mês
para o outro, pois o acúmulo de folgas dificulta a elaboração das escalas; verificando o dia
da última folga do mês anterior, para que não haja período maior do que sete dias seguidos
47

sem folga; cuidar para que o retorno do policial de férias ocorra em dia útil; consultar a
escala anterior para verificar o último plantão noturno em que o funcionário compareceu ao
trabalho no mês.
A execução gerencial deve buscar várias formas de adequar o meio ambiente de
trabalho do policial militar com o objetivo de atenuar as características objetivas do serviço
executado, levando em consideração a dignidade da pessoa humana como sujeito de direito
fundamentais, onde o meio de ambiente laboral está inserido como direito protegido
constitucionalmente. Foram identificadas as condições que dificultam o meio ambiente do
trabalho a que estão submetidos os policiais militares do Batalhão de Polícia de Choque do
Estado do Pará.
Juntamente com a falta de regulamentação legal da carga horaria de serviço, um
dos fatores que contribuem para a precariedade do meio ambiente do trabalho é a
remuneração do policial militar, esta situação causa o descontentamento da força publica
militar com os salários, e dessa forma, a desmotivação atinge o meio ambiente do trabalho
a partir da procura da complementação da renda através do exercício de outras ocupações e
serviços. Isso acrescenta uma carga horaria extenuante que prejudica a saúde física e mental
do policial militar.

O terceiro fator identificado e que corrobora nossa hipótese é de que o meio


ambiente do trabalho melhora ou piora em virtude do conforto no exercício profissional. A
interferência deste na própria execução acarreta um cansaço físico e psicológico ao
trabalhador. A ergonomia aparece como fator de sofrimento e tal situação fica comprovada
nesta pesquisa uma vez que gera os prejuízos físicos e psicológicos já mencionados
dificultando o exercício profissional e com isso acarretando um maior sofrimento ao policial.
Dessa forma deixamos a matéria abordada com um olhar de esperança para a
melhoria das condições de trabalho através da ação gerencial preocupada em atingir um nível
de excelência nas atividades fins do policiamento executado pelo profissional de segurança
publica.
48

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Editora Guanabara, 1982.

ZIMERMANN, David E. Fundamentos Psicanalíticos: teoria, técnica e clínica. Porto


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