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FORMULAÇÃO E APLICAÇÕES
Nilton Nélio Cometti 1/, Pedro Roberto Furlani 2/, Hugo Alberto Ruiz 3/ & Elpídio
Inácio Fernandes Filho 3/
1/
Escola Agrotécnica Federal de Colatina – EAFCOL. Caixa Postal 256, CEP 29709-910. Colatina (ES).
nncometti@hotmail.com
2/
Pesquisador Científico Voluntário, Bolsista do CNPq – Instituto Agronômico. Caixa Postal 28,
CEP 13.001-970 Campinas (SP).
pfurlani@iac.gov.br
3/
Professores do Departamento de Solos da Universidade Federal de Viçosa – UFV. CEP 36570-000
Viçosa (MG).
hruiz@ufv.br; espidio@ufv.br
Conteúdo
INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................... 90
COMPOSIÇÃO DAS SOLUÇÕES NUTRITIVAS ................................................................................ 90
Composição da Solução Nutritiva ................................................................................................ 92
Sais Utilizados nas Soluções ........................................................................................................... 94
Exemplo de Formulação de Solução Nutritiva para a Cultura da Alface .......................... 94
Concentração da Solução Nutritiva .............................................................................................. 96
SBCS, Viçosa, 2006. Nutrição Mineral de Plantas, 432p. (ed. FERNANDES, M.S.).
90 N ILTON N ÉLIO COMETTI et al.
INTRODUÇÃO
Uma solução nutritiva pode ser definida como um sistema homogêneo onde os
nutrientes necessários à planta estão dispersos, geralmente na forma iônica e em
proporções adequadas. Além dos nutrientes, pressupõe-se que a solução nutritiva
contenha O2 e esteja na temperatura adequada à absorção dos nutrientes. Entretanto,
uma solução nutritiva não é composta inteiramente de elementos em suas formas minerais,
puras e simples, em que uma simples análise seja suficiente para desvendar os “segredos”
de suas fórmulas “mágicas”. A partir do instante em que a solução nutritiva é colocada
em contato com as raízes, transforma-se em uma verdadeira “sopa” nutritiva, contendo
vários compostos orgânicos provenientes da atividade microbiana, dos exsudatos das
raízes e da decomposição de fragmentos de raízes. Além desses, há resíduos do meio de
cultivo das mudas e fragmentos do sistema hidropônico e do sistema hidráulico.
Em qualquer sistema de cultivo sem solo, dois fatores são preponderantes sobre a
produtividade: o ambiente, determinado pelo tipo de proteção das plantas, especialmente
a cobertura com filmes plásticos transparentes e telas de sombreamento, e a solução
nutritiva, que pode estar livre ou dispersa em um substrato. Em condições normais,
todos os nutrientes podem ser absorvidos da solução nutritiva pela raiz em quantidades
suficientes ao requerimento da planta. Além dos nutrientes, O2 e água são absorvidos
diretamente da solução, enquanto o C é retirado normalmente da atmosfera. Tanto em
pesquisas de nutrição mineral de plantas quanto na produção de alimentos em sistemas
hidropônicos, a solução nutritiva tem a característica de ser o objeto e a ferramenta de
trabalho e estudo.
A composição da solução nutritiva tem sido estudada há muitos anos, com relatos
datando de 1865, como a solução de Knopp (Resh, 2002). Entretanto, somente a partir de
1933 houve preocupação com o preparo de uma solução contendo micronutrientes; em
1938, Hoagland & Arnon apresentaram uma solução nutritiva completa e balanceada
para tomateiro, baseada na composição de plantas cultivadas em vasos com solução
nutritiva (Hoagland & Arnon, 1950). Em 1957, essa solução sofreu pequena adaptação
na relação NO3- : NH4+ para 7:1, por Johnson et al. (1957), para manter o pH mais próximo
de cinco. A partir da solução de Hoagland & Arnon, muitas outras foram desenvolvidas,
mas a tradicional solução “Hoagland” permanece como a mais utilizada, por atender
adequadamente às necessidades das culturas.
Admite-se que não exista uma solução nutritiva ideal para todas as culturas. Dessa
forma, sua composição varia com uma série de fatores: espécie de planta, estádio fenológico
da planta, a época do ano (duração do período de luz), fatores ambientais (temperatura,
umidade e luminosidade) e parte da planta colhida e, eventualmente, comercializada.
Além disso, aspectos intrínsecos à solução alteram sua composição, como pH, força
iônica, temperatura e presença de moléculas orgânicas, em especial os agentes quelantes.
mg L -1 mmol L- 1 mg L -1 mmol L -1
µmol L -1 µmol L -1
Em seu trabalho pioneiro, Hoagland & Arnon (1950) formularam uma solução
nutritiva a partir da composição elementar média de plantas de tomate, mas seus cálculos
foram baseados em plantas cultivadas em recipientes com 18 L de solução, com troca
semanal de solução. Com o advento das novas técnicas de cultivo hidropônico e novas
formas de reposição da solução nutritiva, surgiram algumas questões: o que ocorre quando
se cultiva uma planta diferente, ou quando o volume de solução por planta for diferente,
ou quando a forma e a freqüência de reposição da solução nutritiva forem distintas?
Portanto, dois fatores devem ser considerados na formulação de uma solução nutritiva:
Quadro 2. Taxa de absorção aproximada dos nutrientes por plantas cultivadas em solução
nutritiva
100
80
60
S
40
Percentagem Inicial, %
P Ca
Mg
20 N
0 K
80
60
B
40
Fe
20
0 Mn
0 20 40 60 80 100 120
Tempo, h
principalmente aquelas com ciclo mais longo e quando a solução nutritiva não é renovada
integralmente. Essas relações devem ser consideradas também para a reposição de
nutrientes durante o crescimento das plantas. Em trabalhos de pesquisa, é comum a
renovação total da solução após uma semana de cultivo em vasos, a fim de evitar
desequilíbrios nas relações entre os nutrientes.
Quadro 3. Relação entre nutrientes e quantidade de nutriente para preparar a solução básica
para a cultura da alface
K N P Ca Mg S
+
- MAP purificado (N-NH4 11 %, P 26 %) – deve ser utilizado quando o pH da solução
for ligeiramente neutro ou alcalino, devido à presença do amônio que acidifica a
solução;
- MKP (K 29 %, P 23 %) – deve ser utilizado quando o pH da solução for ácido; e
- sulfato de magnésio (Mg 10 %, S 13 %).
a) Cálculo do Ca: nitrato de Ca = 31/0,19 = 163,2 g m-3 (o valor 31 indica a quantidade
de Ca do quadro 3; o valor 0,19 indica 19 % de Ca no nitrato de cálcio. Iniciou-se
pelo nitrato de cálcio, por ser a única fonte de Ca.
b) Cálculo do K: nitrato de potássio = 100/0,36 = 278 g m-3.
c) Cálculo do P: MAP = 9/0,26 = 23 g m-3.
d) Cálculo do Mg: sulfato de magnésio = 8/0,10 = 80 g m-3.
e) Cálculo do N: N contido nos diferentes sais acima = 163,2×0,145 + 278×0,13 +
23×0,11 = 62,3 g m-3.
f) Caso o N resultante da soma das quantidades dos sais não seja suficiente, pode-se
completá-lo com nitrato de Ca e nitrato de K.
g) A composição da solução nutritiva básica para atender a proporção entre os
nutrientes será (em g m-3): 163,2 g de nitrato de Ca, 278 g de nitrato de K, 23 g de
MAP e 80 g de sulfato de Mg; esta deverá ser corrigida para a condutividade elétrica
desejada, 1,5 dS m-1, por exemplo.
h) Para a estimativa da condutividade elétrica, multiplica-se a CE de uma solução
em g L-1 (Quadro 4) pela quantidade do sal. Para a solução nutritiva básica, a CE
estimada será: 163,2×1,18 + 278×1,28 + 23×0,95 + 80×0,88 = 641 μS cm -1 ou
0,64 dS m-1.
i) Para se obter a CE da solução nutritiva desejada (CE = 1,5 dS m-1), devem-se
multiplicar os valores de concentração de sais calculados no item g pelo fator de
correção da CE (fce = 1,50 / 0,64 = 2,3), obtendo-se as concentrações finais dos sais
(Quadro 4).
Quadro 4. Solução nutritiva final para a cultura da alface, corrigida para a condutividade
elétrica desejada
__________________________________ g m -3 __________________________________
________________ mg L -1 ________________ g L- 1
(1, 2)
Furlani et al. (1999).
− ns RT
ψo =
V
Solubilidade
Sa l Índice salino (1 )
Água fria (0,5 °C) Água quente (100 °C)
__________________________ g L -1 __________________________
(1) (2)
Índice de salinidade relativo ao nitrato de sódio = 100. Temperatura em água fria = 20 °C e água quente = 40 °C.
Fonte: Adaptado de Boodley (1996) e Resh (2002).
2,5
1,5
CE, dS m
0,5
0,0
0 5 10 15 20 25
-1
Concentração total de íons e força iônica, mmol L
Figura 2. Relação entre condutividade elétrica (CE) da solução nutritiva e a concentração total
de íons e força iônica (FI) estimada; força iônica simulada com o programa GEOCHEM 3.0.
Fonte: Parker et al. (1995); Cometti (2003).
MANEJO DA SOLUÇÃO
Reposição da Solução
Durante o crescimento das plantas em solução nutritiva, há absorção de água e
nutrientes em proporções diferentes, com diferentes quantidades acumuladas no tecido
vegetal. Os nutrientes, por sua vez, são absorvidos da solução nutritiva com velocidade
diferenciada (Figura 1). Assim, o manejo da solução nutritiva deve contemplar essas
diferenças a fim de se alcançar o fim do ciclo de cultivo com o menor desbalanceamento
iônico possível, constituindo um desafio a adequada reposição dos nutrientes e da água.
Dentre os métodos disponíveis de reposição da solução nutritiva, podem-se listar:
a) Renovação de toda a solução: em vasos, é comum a troca de toda a solução ao
final de uma semana de cultivo, utilizando-se 2 a 3 L de solução para plantas
como soja, arroz e feijão. Para determinar o momento da troca da solução, Ruiz
(1977) propôs utilizar o K como nutriente indicador. Em cultivos comerciais, o
volume total de solução costuma ser grande, tornando alto o custo com
desperdício de solução, além de riscos de contaminação do meio ambiente.
b) Reposição da solução absorvida: esse método utiliza a solução básica para repor
a água absorvida por transpiração. Em condições de baixa umidade relativa do
ar, alta velocidade do vento e alta temperatura, há perda de água por transpiração
desproporcionalmente maior do que a absorção de nutrientes, provocando a
concentração da solução nutritiva remanescente. Caso seja feita a reposição da
solução na mesma concentração inicial, haverá aumento da concentração de sais
na solução, aumentando consideravelmente sua CE. A forma de solucionar o
problema é monitorar a CE da solução e adicionar água pura para reduzi-la,
quando necessário, ou efetuar a reposição com uma solução mais diluída do que
a original.
c) Reposição de nutrientes e água separadamente com análise química da solução.
Depois de efetuada a análise química da solução nutritiva, pode-se adicionar
água para atingir o volume inicial e adicionar os nutrientes por meio de soluções-
estoque concentradas de cada sal. O custo de monitoramento da solução por esse
método pode ser impeditivo, além de demandar certo tempo para a análise e de
não traduzir exatamente a necessidade de reposição dos íons. Apesar do ajuste
da concentração dos nutrientes, a solução tem restrições para uso indefinido,
pois há exsudação de ácidos orgânicos, descamação e quebra de raízes, liberando
fragmentos, crescimento de algas, bactérias e fungos, e contaminação por
microrganismos patogênicos, resíduos de substratos, poeira e metais pesados
contaminantes. Todas essas alterações exigiriam um tratamento de alto custo da
solução para que esta pudesse ser reutilizada com segurança. A vida útil de uma
solução com acompanhamento semanal por análise química pode chegar a três
meses, segundo Resh (2002).
d) Reposição de água e nutrientes separadamente, com uso de sensores de
concentração dos íons. Além do custo elevado dos eletrodos específicos para os
íons, sua vida útil é reduzida e eles necessitam de calibrações freqüentes. A esse
método aplicam-se as considerações anteriores sobre a vida útil da solução.
e) Reposição de água e nutrientes separadamente, por meio do monitoramento da
CE da solução. Este é o método mais utilizado atualmente na hidroponia
comercial, além de aplicar-se às pesquisas em nutrição de plantas, pois é de
baixo custo e permite acompanhamento da concentração total de sais da solução.
A reposição de água pode ser efetuada instantaneamente, por meio de válvula de
nível com bóia, ou diariamente, de forma manual. A medida da CE permite
monitorar a absorção de nutrientes, pois, apesar de não fornecer a concentração
de cada íon, a CE dá uma idéia da concentração total dos íons em solução
(Figura 2). A reposição dos íons é feita com soluções-estoque concentradas,
repondo-se apenas um volume de solução-estoque suficiente para elevar a CE
para o valor inicial. O descarte da solução nutritiva é efetuado apenas ao final de
um ciclo de cultivo, reduzindo bastante o custo com nutrientes e análises químicas
da solução. A vida útil da solução, em condições de cultivo hidropônico de
hortaliças folhosas, no Brasil, tem sido em torno de trinta dias em sistemas NFT
(técnica do filme nutriente), em que a solução nutritiva é conduzida por toda a
parte inferior do tanque inclinado onde as plantas são crescidas.
e que seja utilizado em maior quantidade, ele pode ser dividido entre as soluções A e B e
servir como determinante para a concentração final das soluções.
Utilizando como exemplo de cálculo a solução formulada para a cultura da alface e
considerando que o nitrato de K possui solubilidade de 134 g L-1 (Quadro 6), serão
necessários 4,77 L para solubilizar os 639 g para a solução nutritiva (Quadro 8); este
valor pode ser arredondado para 5 L. Assim, o nitrato de K será utilizado como base
para as soluções-estoque, por ser o sal com maior quantidade de água necessária para
solubilização. Como será utilizado nitrato de K em ambas as soluções (A e B), pode-se
então dobrar as quantidades dos outros sais e recalcular as quantidades para preparar
10 L de cada solução-estoque.
C C C C C C C C C C C C C C Uréia
C C C C C C C C C C C C C Nitrato de amônio
C C C C C C C C C C C I Sulfato de amônio
C I C I C I I I I C C Nitrato de cálcio
C R C R C R C C C C Nitrato de potássio
C R C R C R C C C Cloreto de potássio
C R C R C R C C Sulfato de potássio
C C C C C Sulfato de magnésio
R I C C Ácido fosfórico
C C C Ácido sulfúrico
I C Ácido nítrico
Quadro 8. Volume mínimo necessário para solubilizar os sais da solução nutritiva para a
cultura da alface
g L -1 g m- 3 L
pH da Solução Nutritiva
Altas concentrações de H+ na solução nutritiva podem desestabilizar as membranas
celulares, provocando perda de íons e morte das células da raiz. As plantas podem
suportar perfeitamente pH entre 4,5 e 7,5 sem grandes efeitos fisiológicos. Entretanto,
efeitos indiretos, como a redução na disponibilidade de nutrientes, podem comprometer
seriamente o crescimento das plantas, pois as mudanças de pH podem favorecer a
formação de espécies iônicas que não são prontamente transportadas para o interior das
células, comprometendo a absorção do nutriente. Além disso, dependendo do pH da
solução, há formação de complexos insolúveis. Em pH acima de 6,5 há redução na
disponibilidade de Mn, Cu, Zn, B, P e, especialmente, Fe, enquanto há pequena redução
na disponibilidade de P, K, Ca e Mg em pH abaixo de 5,0. Portanto, em uma cultura
hidropônica é recomendado um pH entre 5,5 e 5,8, condição que permite a máxima
disponibilidade dos nutrientes em geral (Bugbee, 1995). Em solução nutritiva, Inoue et
al. (2000) observaram redução no crescimento da parte aérea e do sistema radicular de
alface quando o pH foi reduzido abaixo de 4,2.
As variações de pH que ocorrem na solução nutritiva são reflexos da absorção
diferenciada de cátions e ânions. Por exemplo, quando o N é suprido na forma nítrica, a
absorção de ânions é maior que a de cátions, ocorrendo elevação do pH. A absorção de
um mol de NO3- é feita em co-transporte com dois mols de H+, enquanto na absorção de
um mol de NH4+ pode ocorrer o bombeamento de um mol de H+ para o exterior da célula.
Assim, enquanto a absorção de NO3 - aumenta o pH, a absorção de NH4+ o reduz. Em
plantas supridas com NH4+ e NO3-, o pH da solução pode voltar a subir assim que o NH4+
tenha sido absorvido e que a absorção de NO3- se torne maior que a de NH 4+ (Figura 3).
Devido ao abaixamento do pH com a absorção do NH4+, recomenda-se o suprimento
apenas parcial do N na forma amoniacal, tornando a solução mais tamponada.
Em geral, o poder de tamponamento das soluções nutritivas utilizadas em hidroponia
é muito pequeno. A utilização de água deionizada, muito comum em pesquisa, reduz ainda
-
mais o poder de tamponamento da solução. Apesar do poder do fosfato (H2PO4 ↔ HPO42-)
de tamponar a solução, sua concentração necessária para estabilizar o pH em uma solução
nutritiva o tornaria tóxico para as plantas. Além disso, a rápida absorção do P retira
toda a sua capacidade de tamponamento, que se encontra a partir de 5,5, e alcança o
máximo no pH 7,2. Portanto, é mais conveniente manter a solução nutritiva equilibrada
em cátions e ânions para atender à demanda da planta do que tentar manter o pH numa
faixa estreita de valores por meio do uso de ácidos (sulfúrico, fosfórico, nítrico ou clorídico)
e bases (hidróxido de Na, K ou NH4+) fortes para reduzir ou elevar o pH do meio de
crescimento, respectivamente.
A utilização de doses pequenas e contínuas de N-NH4+ de uma solução de sulfato de
amônio pode manter o pH em 5,5 (± 0,5) durante todo o ciclo da cultura, sem que haja
necessidade de lançar mão de ácidos fortes para baixar o pH da solução e sem
comprometimento da produtividade da cultura (Martins et al., 2002). Entretanto, esses
estudos têm sido realizados em sistemas automatizados, em que o computador interpreta o
pH e libera uma solução contendo amônio por meio do controle por uma válvula solenóide.
Em experimentos conduzidos em vasos com solução nutritiva, é possível manter o pH
200 -
N-NO3
150
100
-1
Nutrientes na solução nutritiva, mg L
50
0
25 N-NH4+
20
15
10
5
0
pH
6
3
17 24 31 38 45
Tempo após a semeadura, dia
Segundo Bernhard et al. (1986), “espécie química” refere-se a uma forma molecular
(configuração) de átomos de um elemento ou aglomerado de átomos de diferentes
elementos. O termo “especiação química”, por sua vez, tem sido utilizado para descrever
a análise das espécies predominantes numa amostra, a abundância dessas espécies ou
distribuição numérica, a reatividade de dadas espécies e a transformação de uma espécie
em outra. Como as formas do metal complexado são de difícil ou impossível determinação
por métodos de análises laboratoriais, o uso de expressões termodinâmicas em modelos
computacionais mostra-se uma alternativa mais viável, simples e segura para obtenção
desse conhecimento. Programas de computador como REDEQL, GEOCHEM-PC, MINTEQ,
CHEAQS e outros podem indicar as espécies químicas em uma solução nutritiva a partir
das concentrações analíticas conhecidas dos elementos adicionados, apontando os pares
iônicos, complexos e formas livres dos íons (Parker et al., 1995).
Na especiação iônica de uma solução nutritiva, três variáveis determinam a
disponibilidade de um dado íon: a força iônica da solução, que atua sobre a atividade
iônica individual; o pH, que propicia a presença das várias espécies iônicas; e a presença
de agentes quelantes, que promovem o seqüestro de alguns íons em maior ou menor
escala.
Força Iônica
Geralmente, quando a força iônica aumenta, íons de cargas opostas interagem de tal
forma que sua atividade iônica diminui, e então o número de íons “ativos” diminui.
Pesquisadores na área de solos, aparentemente, foram os primeiros a desenvolver o
conceito de que as respostas das plantas se correlacionam melhor com a atividade do
que com a concentração analítica de íons inorgânicos (Adams, 1971). O quadro 9 mostra
que a atividade iônica é mais próxima da concentração analítica tanto quanto mais
diluída for a solução. Em solos, essa situação é agravada devido às mudanças observadas
nas reações de troca iônica. Em estudos com solução nutritiva, entretanto, não faz
diferença em se utilizar atividade ou concentração iônica, pois a maioria das soluções
nutritivas utilizadas possui força iônica na faixa de 5 a 20 mmol L-1, onde as comparações
podem ser realizadas razoavelmente, utilizando-se tanto atividade quanto concentração
iônica. Cuidado adicional deve ser tomado quando se trabalha com o íon Al3+, que tem a
atividade fortemente reduzida pelo aumento da força iônica da solução.
pH
Alguns trabalhos mostram que a absorção por plantas de ânions que exibem
comportamento de ácido ou base fraca depende do pH e do seu efeito na especiação.
Para alguns ânions, o efeito pode ser observado como aumento do co-transporte do ânion
com prótons (Marschner, 1995). O potencial transmembrana negativo nas células torna
o processo de entrada na célula de qualquer ânion um transporte ativo, em que qualquer
redução da carga aniônica reduz o potencial da barreira energética de entrada do íon na
célula. Alguns exemplos incluem a maior absorção de H 2PO4- em relação ao HPO42-
(Hendrix, 1967) e a maior absorção de H3BO30 do que B(OH)4- (Oertli & Grgurevic, 1975).
Força iônica (m m ol L - 1 )
Íon r i x 10 -8 (1)
1 5 10 50 100
(1)
ri = raio da atmosfera iônica. (2) Coeficiente de atividade: razão entre a atividade e a concentração analítica do íon.
Quelatos
80 Força Iônica 8
60
Composto formado pelo metal, %
Al - EDTA 6
40 4
-1
Força iônica, mmol L
20 2
0 0
80 Al-OH - sólido 8
60 Al3+ - livre 6
40 4
20 2
0 0
100
80
Fe-EDTA
Fe-EDDHA
60
Fe-DTPA
Fe-OH (com EDTA)
40
Fe-OH (com EDDHA)
20 Fe-OH (com DTPA)
pH da solução nutritiva
Quelato Forma
4,5 5,0 5,5 6,0 6,5 7,0 7,5 8,0
___________________________ m g k g -1 ___________________________
F ol has de alface ( 1)
(1)
Furlani (dados não publicados). (2) De Kreij & Paternotte (1999). Para cada espécie vegetal, médias seguidas por
letras iguais em cada coluna não diferem estatisticamente pelo teste Tukey a 5 %.
V max C
I = (1)
Km + C
em que I é o influxo ou velocidade de absorção do íon (μmol g-1 h-1 ) numa solução de
concentração C (μmol L-1). As constantes Vmax (μmol g-1 h-1) e Km (μmol L-1) representam a
velocidade máxima de absorção e a concentração em que a velocidade de absorção
corresponde à metade da Vmax, respectivamente.
⎛ v − v − va ⎞
vt = vi − 0,002 − ⎜⎜ i f + 0,002⎟⎟t (5)
⎝ 24 ⎠
Q = a 1 + b 1t (7)
Q = a2 tb2 (9)
em que a2 e b2 são o coeficiente e o expoente, respectivamente. O critério de menor soma
do quadrado dos desvios (Nelson & Anderson, 1977) foi usado para escolher os pontos
da reta e da curva. Considerando que a exaustão é um fenômeno contínuo, usou-se,
como critério, a coincidência do último ponto da reta com o primeiro ponto da curva.
e) Km foi calculada por uma relação semelhante à equação 4:
Qm
Km = (10)
vm
em que Qm é a quantidade de íons para a qual a velocidade de absorção equivale à metade
da Vmax e vm é o volume de solução correspondente. Q m é o ponto da curva da região
inferior do gráfico em que sua tangente se iguala à metade da declividade da reta usada
no cálculo de Vmax. Matematicamente:
Quadro 12. Tempo de exaustão, atividade de 32P, volume, concentração e quantidade de fósforo
remanescente na solução em ensaio para determinar as constantes de Michaelis-Menten
30
25
20
-1
Q, μmol L
15
Q = 22,70 - 5,4417 t
R 2 = 0,987**
10
5 Q = 592,85 t -4,0791
R 2 = 0,980**
0
0 1 2 3 4 5 6 7
Tempo, h
Figura 6. Diminuição da quantidade de fósforo (Q) com o tempo de exaustão (t) e equações de
regressão usadas no cálculo das constantes de Michaelis-Menten.
1 d
2 dt
(a1 + b1t ) = d a2t b2
dt
( ) (11)
1 (b − 1 )
b1 = a 2 b 2 t m 2 (12)
2
em que tm é o tempo em que Q se iguala a Q m. Reordenando:
1 (b 2 −1 )
⎛ b1 ⎞
tm = ⎜⎜ ⎟⎟ (13)
⎝ 2 a 2 b2 ⎠
Calculando tm, estimaram-se vm, Qm e Km pelas equações 5, 9 e 10, respectivamente.
É interessante observar que, embora esse método tenha sido desenvolvido para
sistemas estáticos (vasos), Cometti (2003) empregou com sucesso o programa CINÉTICA
em sistemas de hidroponia NFT, para estudar a cinética de absorção de NH4+ e NO 3- por
alface.
LITERATURA CITADA
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