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IV - SOLUÇÕES NUTRITIVAS:

FORMULAÇÃO E APLICAÇÕES

Nilton Nélio Cometti 1/, Pedro Roberto Furlani 2/, Hugo Alberto Ruiz 3/ & Elpídio
Inácio Fernandes Filho 3/

1/
Escola Agrotécnica Federal de Colatina – EAFCOL. Caixa Postal 256, CEP 29709-910. Colatina (ES).
nncometti@hotmail.com
2/
Pesquisador Científico Voluntário, Bolsista do CNPq – Instituto Agronômico. Caixa Postal 28,
CEP 13.001-970 Campinas (SP).
pfurlani@iac.gov.br
3/
Professores do Departamento de Solos da Universidade Federal de Viçosa – UFV. CEP 36570-000
Viçosa (MG).
hruiz@ufv.br; espidio@ufv.br

Conteúdo

INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................... 90
COMPOSIÇÃO DAS SOLUÇÕES NUTRITIVAS ................................................................................ 90
Composição da Solução Nutritiva ................................................................................................ 92
Sais Utilizados nas Soluções ........................................................................................................... 94
Exemplo de Formulação de Solução Nutritiva para a Cultura da Alface .......................... 94
Concentração da Solução Nutritiva .............................................................................................. 96

MANEJO DA SOLUÇÃO ......................................................................................................................... 99


Reposição da Solução ........................................................................................................................ 99
Preparo e Utilização de Soluções-Estoque .................................................................................. 100
pH da Solução Nutritiva .................................................................................................................. 102

ESPECIAÇÃO IÔNICA DA SOLUÇÃO NUTRITIVA ....................................................................... 103


Força Iônica ......................................................................................................................................... 104
pH ........................................................................................................................................................... 104
Quelatos ................................................................................................................................................ 105

CINÉTICA DE ABSORÇÃO DE NUTRIENTES .................................................................................. 108


LITERATURA CITADA ............................................................................................................................ 112

SBCS, Viçosa, 2006. Nutrição Mineral de Plantas, 432p. (ed. FERNANDES, M.S.).
90 N ILTON N ÉLIO COMETTI et al.

INTRODUÇÃO

Uma solução nutritiva pode ser definida como um sistema homogêneo onde os
nutrientes necessários à planta estão dispersos, geralmente na forma iônica e em
proporções adequadas. Além dos nutrientes, pressupõe-se que a solução nutritiva
contenha O2 e esteja na temperatura adequada à absorção dos nutrientes. Entretanto,
uma solução nutritiva não é composta inteiramente de elementos em suas formas minerais,
puras e simples, em que uma simples análise seja suficiente para desvendar os “segredos”
de suas fórmulas “mágicas”. A partir do instante em que a solução nutritiva é colocada
em contato com as raízes, transforma-se em uma verdadeira “sopa” nutritiva, contendo
vários compostos orgânicos provenientes da atividade microbiana, dos exsudatos das
raízes e da decomposição de fragmentos de raízes. Além desses, há resíduos do meio de
cultivo das mudas e fragmentos do sistema hidropônico e do sistema hidráulico.
Em qualquer sistema de cultivo sem solo, dois fatores são preponderantes sobre a
produtividade: o ambiente, determinado pelo tipo de proteção das plantas, especialmente
a cobertura com filmes plásticos transparentes e telas de sombreamento, e a solução
nutritiva, que pode estar livre ou dispersa em um substrato. Em condições normais,
todos os nutrientes podem ser absorvidos da solução nutritiva pela raiz em quantidades
suficientes ao requerimento da planta. Além dos nutrientes, O2 e água são absorvidos
diretamente da solução, enquanto o C é retirado normalmente da atmosfera. Tanto em
pesquisas de nutrição mineral de plantas quanto na produção de alimentos em sistemas
hidropônicos, a solução nutritiva tem a característica de ser o objeto e a ferramenta de
trabalho e estudo.

COMPOSIÇÃO DAS SOLUÇÕES NUTRITIVAS

A composição da solução nutritiva tem sido estudada há muitos anos, com relatos
datando de 1865, como a solução de Knopp (Resh, 2002). Entretanto, somente a partir de
1933 houve preocupação com o preparo de uma solução contendo micronutrientes; em
1938, Hoagland & Arnon apresentaram uma solução nutritiva completa e balanceada
para tomateiro, baseada na composição de plantas cultivadas em vasos com solução
nutritiva (Hoagland & Arnon, 1950). Em 1957, essa solução sofreu pequena adaptação
na relação NO3- : NH4+ para 7:1, por Johnson et al. (1957), para manter o pH mais próximo
de cinco. A partir da solução de Hoagland & Arnon, muitas outras foram desenvolvidas,
mas a tradicional solução “Hoagland” permanece como a mais utilizada, por atender
adequadamente às necessidades das culturas.
Admite-se que não exista uma solução nutritiva ideal para todas as culturas. Dessa
forma, sua composição varia com uma série de fatores: espécie de planta, estádio fenológico
da planta, a época do ano (duração do período de luz), fatores ambientais (temperatura,
umidade e luminosidade) e parte da planta colhida e, eventualmente, comercializada.
Além disso, aspectos intrínsecos à solução alteram sua composição, como pH, força
iônica, temperatura e presença de moléculas orgânicas, em especial os agentes quelantes.

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Diversas soluções nutritivas têm sido propostas, havendo diferenças marcantes em


relação às concentrações dos macronutrientes, ao passo que, para os micronutrientes, as
diferenças são bem menores. É comum encontrar nos artigos científicos a “solução
nutritiva modificada de Hoagland”, isto é, fórmulas derivadas da solução nutritiva
proposta por Hoagland & Arnon (1950). Essa solução tem sido a mais usada na pesquisa
em nutrição mineral de plantas e constitui a base para a formulação de inúmeras soluções
nutritivas comerciais. As faixas de concentrações dos nutrientes utilizadas nas soluções
são muito amplas, variando em até 10 vezes, como no caso do S (Quadro 1).
Para formular uma solução nutritiva, é importante entender o modo e a velocidade
com que os nutrientes são absorvidos pelas plantas. Há vários sistemas de monitoramento
da concentração dos íons na solução nutritiva, incluindo aqueles totalmente
automatizados, compostos de sensores (eletrodos específicos para íons) e computadores
para registrar a concentração do nutriente e a necessidade de reposição. Esse
monitoramento pode ser interessante, porém não é fundamental para a manutenção da
solução adequada ao cultivo hidropônico.
É muito comum verificar a rápida depleção de um nutriente na solução, enquanto
outros se acumulam, devido às diferentes taxas de absorção. A velocidade de absorção
de N, P e K é maior do que a dos outros nutrientes, o que pode levar ao rápido esgotamento
desses nutrientes e acúmulo de outros, especialmente S e Ca (Figura 1). O mesmo pode
ocorrer com micronutrientes, considerando que o Mn tem alta taxa de absorção em

Quadro 1. Faixas de concentração encontradas nas soluções nutritivas e solução de Hoagland


& Arnon (1950) modificada

Nutriente Massa atômica Faixa de concentração Hoagland & Arnon

mg L -1 mmol L- 1 mg L -1 mmol L -1

N-NO 3 - 14,0 70–250 5,00–17,86 196 14,00


N-NH 4 + 14,0 0– 33 0,00– 2,36 14 1,00
P 31,0 15– 80 0,48– 2,58 31 1,00
K 39,1 150–400 3,84– 10,23 234 5,98
Ca 40,0 70–200 1,75– 5,00 160 4,00
Mg 24,3 15– 80 0,62– 3,29 48 1,98
S 32,0 20–200 0,63– 6,25 64 2,00

µmol L -1 µmol L -1

B 10,8 0,1 – 0,6 9,26– 55,56 0,5 46,30


Cu 63,5 0,05–0,3 0,79– 4,72 0,02 0,31
Fe 55,8 0,8– 6 14,34–107,53 1 17,92
Mn 54,9 0,5– 2 9,11– 36,43 0,5 9,11
Mo 95,9 0,01–0,15 0,52– 1,56 0,01 0,10
Zn 65,4 0,05–0,5 1,53– 7,65 0,05 0,76
Cl 35,5 1–188 28,17–5.295,77

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comparação ao B. Assim, os nutrientes podem ser separados em três grandes grupos,


considerando a velocidade de absorção (Quadro 2). O conhecimento da velocidade com
que um íon é absorvido pode explicar por que, na análise de uma solução nutritiva, um
nutriente pode estar praticamente ausente, enquanto outros ainda estão em concentrações
adequadas para a cultura, mesmo que as plantas tenham crescimento exuberante. Então,
a depleção do nutriente na solução nutritiva, em vez de mostrar sua deficiência, pode
indicar que as plantas estão saudáveis e que estão absorvendo os nutrientes rapidamente.
Por exemplo, se a concentração de P for mantida constante na solução circulante
(0,5 mmol L-1), sua concentração no tecido poderá atingir 10 g kg-1 da massa seca, valor
três vezes maior do que o ótimo para a maioria das plantas, o que pode induzir deficiências
de Fe e Zn (Chaney & Coulomb, 1982). Assim, ao longo do ciclo de um cultivo hidropônico
sem renovação da solução, os resultados de análises devem apresentar concentrações
constantes dos nutrientes de absorção lenta (Figura 1 e Quadro 2), ao passo que, para os
nutrientes de absorção rápida, as concentrações normalmente são baixas, mesmo com o
ajuste diário da concentração da solução.
A concentração total dos nutrientes na solução pode ser estimada medindo-se a
condutividade elétrica (CE) da solução. Devido à taxa diferencial de absorção dos
nutrientes, a CE da solução indica, na maior parte, o Ca, Mg e S remanescentes, enquanto
os micronutrientes contribuem com menos de 0,1 % para a CE da solução. No Sistema
Internacional de Unidades, a CE é expressa em S m-1 (siemen por metro), sendo mais
comum sua utilização na faixa de dS m-1, muito empregada comercialmente e que equivale
à unidade mmho cm -1 usada no passado.

Composição da Solução Nutritiva

Em seu trabalho pioneiro, Hoagland & Arnon (1950) formularam uma solução
nutritiva a partir da composição elementar média de plantas de tomate, mas seus cálculos
foram baseados em plantas cultivadas em recipientes com 18 L de solução, com troca
semanal de solução. Com o advento das novas técnicas de cultivo hidropônico e novas
formas de reposição da solução nutritiva, surgiram algumas questões: o que ocorre quando
se cultiva uma planta diferente, ou quando o volume de solução por planta for diferente,
ou quando a forma e a freqüência de reposição da solução nutritiva forem distintas?
Portanto, dois fatores devem ser considerados na formulação de uma solução nutritiva:

Quadro 2. Taxa de absorção aproximada dos nutrientes por plantas cultivadas em solução
nutritiva

G rup o Taxa de abs orçã o N u trien te

1 Abso rção rápida N -N O 3 - , N -N H 4 + , P, K , M n


2 Abso rção interm ed iária M g, S, Fe, Z n, C u, M o
3 Abso rção lenta C a, B

Fonte: Adaptado de Bugbee (1995).

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100

80

60
S
40
Percentagem Inicial, %
P Ca
Mg
20 N
0 K

80

60
B
40
Fe
20

0 Mn

0 20 40 60 80 100 120
Tempo, h

Figura 1. Variação temporal da concentração relativa de nutrientes da solução nutritiva em


NFT (técnica do nutriente em filme) em cultivo de alface.
Fonte: Adaptado de Furlani (2003) (dados não publicados).

a composição da solução, determinada pela relação entre as concentrações dos nutrientes


no tecido da planta cultivada; e a concentração da solução, determinada pela razão de
transpiração para o crescimento da planta, pelo volume de solução por planta, pelo grau
de agitação da solução e pela velocidade de reposição da solução.
A composição da solução deve ser determinada a partir da concentração desejada
de cada nutriente na planta. O ponto de partida é a análise química de toda a planta, já
que as diferentes partes contêm teores diferentes de nutrientes. As quantidades
acumuladas de cada nutriente, e suas proporções relativas, servem de referência para a
definição da concentração relativa de cada nutriente na solução nutritiva. Outro meio é
utilizar referências bibliográficas, com interpretação de análise de plantas contendo as
concentrações adequadas de nutrientes para o crescimento e desenvolvimento ótimos
das plantas. Quando se procede à análise das exigências nutricionais de plantas visando
ao cultivo em solução nutritiva, devem-se enfocar as relações entre os nutrientes, pois
essa é uma indicação da relação de extração do meio de crescimento.
Além das diferenças nos teores de nutrientes nas folhas, como variável de sua posição,
cultivares e épocas de amostragem, também ocorrem diferenças nas relações entre os
teores foliares de nutrientes para as diversas espécies, o que deve ser levado em
consideração quando se utiliza uma única solução para a nutrição de diversas espécies
vegetais. Quando isso ocorre para espécies que possuem relação de extração diferente,
há grande possibilidade de desequilíbrio nutricional ao longo do crescimento das plantas,

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principalmente aquelas com ciclo mais longo e quando a solução nutritiva não é renovada
integralmente. Essas relações devem ser consideradas também para a reposição de
nutrientes durante o crescimento das plantas. Em trabalhos de pesquisa, é comum a
renovação total da solução após uma semana de cultivo em vasos, a fim de evitar
desequilíbrios nas relações entre os nutrientes.

Sais Utilizados nas Soluções

Na escolha de um sal para uma determinada solução deve-se considerar,


primeiramente, a finalidade da solução. Em trabalhos de pesquisa, utilizam-se
normalmente sais puros para análise, a fim de evitar contaminações com outros nutrientes
que possam distorcer os resultados. Entretanto, em cultivos hidropônicos com fins
comerciais, o volume de solução utilizado geralmente é grande, e, neste caso, o uso de
sais comerciais é preferível, pelo seu menor custo. Esses sais são comumente utilizados
em fertirrigação, devido à sua alta solubilidade e ausência de resíduos que possam obstruir
os emissores. Se o objeto de estudo forem os micronutrientes, os cuidados devem ser
maiores, inclusive com a purificação de sais.
No fornecimento de macronutrientes, é preferível utilizar sais que não contenham
Na e Cl, que podem acumular-se na solução, aumentando a salinidade (CE) e reduzindo
-
a absorção de alguns nutrientes. O Cl pode reduzir a absorção de NO3 -, e o Na pode
interferir na absorção de Ca e K (Marschner, 1995).

Exemplo de Formulação de Solução Nutritiva para a Cultura da Alface

Como exemplo de um método prático de cálculo de uma solução nutritiva, deve-se


inicialmente definir a relação de concentração entre os nutrientes para a cultura em
questão (Quadro 3), a fim de preparar a base da solução, assumindo uma quantidade
inicial de 100 g m3 de K na solução.
Em seguida, definem-se os sais que serão usados para os macronutrientes.
Geralmente utilizam-se os seguintes sais:
- +
- nitrato de cálcio (Ca 19 %, N-NO3 4,5 %, N-NH4 1,0 %);
-
- nitrato de potássio (K 36,5 %, N-NO 3 13 %);

Quadro 3. Relação entre nutrientes e quantidade de nutriente para preparar a solução básica
para a cultura da alface

K N P Ca Mg S

Relação entre nutrientes 1,00 0,62 0,09 0,31 0,08 0,03


Relação × 100 100 62 9 31 8 3
Quantidade (g m -3 ) 100 62 9 31 8 3

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+
- MAP purificado (N-NH4 11 %, P 26 %) – deve ser utilizado quando o pH da solução
for ligeiramente neutro ou alcalino, devido à presença do amônio que acidifica a
solução;
- MKP (K 29 %, P 23 %) – deve ser utilizado quando o pH da solução for ácido; e
- sulfato de magnésio (Mg 10 %, S 13 %).
a) Cálculo do Ca: nitrato de Ca = 31/0,19 = 163,2 g m-3 (o valor 31 indica a quantidade
de Ca do quadro 3; o valor 0,19 indica 19 % de Ca no nitrato de cálcio. Iniciou-se
pelo nitrato de cálcio, por ser a única fonte de Ca.
b) Cálculo do K: nitrato de potássio = 100/0,36 = 278 g m-3.
c) Cálculo do P: MAP = 9/0,26 = 23 g m-3.
d) Cálculo do Mg: sulfato de magnésio = 8/0,10 = 80 g m-3.
e) Cálculo do N: N contido nos diferentes sais acima = 163,2×0,145 + 278×0,13 +
23×0,11 = 62,3 g m-3.
f) Caso o N resultante da soma das quantidades dos sais não seja suficiente, pode-se
completá-lo com nitrato de Ca e nitrato de K.
g) A composição da solução nutritiva básica para atender a proporção entre os
nutrientes será (em g m-3): 163,2 g de nitrato de Ca, 278 g de nitrato de K, 23 g de
MAP e 80 g de sulfato de Mg; esta deverá ser corrigida para a condutividade elétrica
desejada, 1,5 dS m-1, por exemplo.
h) Para a estimativa da condutividade elétrica, multiplica-se a CE de uma solução
em g L-1 (Quadro 4) pela quantidade do sal. Para a solução nutritiva básica, a CE
estimada será: 163,2×1,18 + 278×1,28 + 23×0,95 + 80×0,88 = 641 μS cm -1 ou
0,64 dS m-1.
i) Para se obter a CE da solução nutritiva desejada (CE = 1,5 dS m-1), devem-se
multiplicar os valores de concentração de sais calculados no item g pelo fator de
correção da CE (fce = 1,50 / 0,64 = 2,3), obtendo-se as concentrações finais dos sais
(Quadro 4).

Quadro 4. Solução nutritiva final para a cultura da alface, corrigida para a condutividade
elétrica desejada

Sal utilizado Solução básica Solução desejada

__________________________________ g m -3 __________________________________

Nitrato de cálcio 163,2 375,4


Nitrato de potássio 278 639
MAP 23 53
Sulfato de magnésio 80 184
CE (dS m-1) 0,64 1,5

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Para o cálculo da solução de micronutrientes, não há necessidade de correção da


CE. Podem-se utilizar as concentrações consideradas adequadas e preparar uma solução-
estoque, 10 vezes mais concentrada, chamada de “solução de micronutrientes 10×”
(Quadro 5). Portanto, 1 m3 de solução nutritiva com CE de 1,50 dS m-1 terá: 375 g de
nitrato de cálcio, 639 g de nitrato de potássio, 53 g de MAP, 184 g de sulfato de magnésio
e 100 mL da solução de micronutrientes 10.000 ×.

Concentração da Solução Nutritiva


A definição da concentração dos nutrientes na solução nutritiva é o segundo passo
para sua formulação. A concentração adequada, independentemente da relação entre os
nutrientes, vai depender primariamente da taxa transpiratória da planta. Segundo Bugbee
(1995), uma boa estimativa da água transpirada em relação ao crescimento de plantas
em hidroponia está em torno de 300 a 400 L de água transpirada por kg de matéria seca
produzida. A taxa de transpiração depende principalmente da umidade do ar, ventilação,
concentração de CO2, temperatura e luminosidade. Em condições de clima tropical, a
alta transpiração contribui ainda mais para a redução do volume e da concentração da
solução nutritiva. A absorção dos nutrientes, por sua vez, é determinada pela taxa de
crescimento da planta. Por isso, é muito comum encontrar desequilíbrio entre a quantidade
de água e a de nutrientes que a planta absorve da solução, ocorrendo aumento da CE da
solução ao longo do dia, quando não há reposição da água.
As primeiras soluções nutritivas propostas na literatura eram muito concentradas,
por serem formuladas para sistemas hidropônicos estáticos, geralmente em vasos com
oxigenação. Com o advento dos sistemas circulantes, com constante agitação e renovação
da solução fluindo em velocidade pelas raízes, foi possível reduzir consideravelmente
sua concentração. Enquanto as primeiras soluções utilizavam CE de 2,5 a 3,0 dS m-1,
atualmente é comum a utilização de CE em torno de 1,0 a 1,5 dS m-1 (Cometti, 2003).
Um exemplo consiste na determinação da concentração de um nutriente na solução
nutritiva a partir do balanço de massas. Assumindo-se a concentração de K no tecido em
torno de 40 g kg-1 de matéria seca e uma transpiração de 300 L kg-1 de matéria seca, deveria

Quadro 5. Cálculo de uma solução de micronutrientes 10.000 × para alface

Sal utilizado (% do Concentração Quantidade Solução


Micronutriente
micronutriente) (1) adequada (2) do sal 10.000×

________________ mg L -1 ________________ g L- 1

B Ácido bórico (17) 0,3 1,76 17,6


Cu Sulfato de cobre (25) 0,02 0,08 0,8
Fe Fe-EDDHA (6) 2,0 34,00 340,0
Mn Sulfato de manganês (25) 0,4 1,60 16,0
Mo Molibdato de sódio (39) 0,06 0,15 1,5
Zn Sulfato de zinco (21) 0,06 0,29 2,9

(1, 2)
Furlani et al. (1999).

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haver 40 g de K em 300 L de água, ou 133 mg L-1 de K. Se a taxa de transpiração for maior,


400 L kg-1, a solução deveria ser mais diluída, ou seja, 40 g por 400 L, ou 100 mg L-1 de K.
Em uma solução nutritiva, o principal componente do potencial da água é o osmótico,
conseqüência da quantidade de sais dissolvidos na solução. Quanto maior a quantidade
de sais na solução, tanto maior será a restrição à absorção de água pelas raízes e, portanto,
de nutrientes. Se a concentração de sais for muito alta, os vegetais poderão perder água
para o meio, ocorrendo injúrias (plasmólise das células) que, dependendo da intensidade,
podem causar morte de raízes e da planta. O efeito salino de cada sal é variável, sendo
geralmente utilizado o nitrato de sódio como referência (Quadro 6). Na prática, em
soluções nutritivas, a salinidade pode se tornar um problema apenas quando a circulação
da solução é interrompida por longos períodos em momentos de alta transpiração,
podendo ocorrer acúmulo de sais na superfície das raízes.
O potencial osmótico ( Ψo) pode ser calculado pela equação de Van’t Hoff, que
relaciona o potencial osmótico à concentração de soluto na solução:

− ns RT
ψo =
V

em que Ψo é o potencial osmótico em pascals; V, o volume do solvente em litros; ns, o


número de mols de soluto; R, a constante dos gases (0,00832 MPa K-1 mol-1 a 273 K); e T, a
temperatura em K. Medições diretas, entretanto, têm mostrado que essa relação é
aproximadamente correta para soluções diluídas que não se dissociam. Para eletrólitos

Quadro 6. Solubilidade de alguns sais utilizados em hidroponia

Solubilidade
Sa l Índice salino (1 )
Água fria (0,5 °C) Água quente (100 °C)

__________________________ g L -1 __________________________

Ácido bórico 19,5 389


Cloreto de potássio 277 561 116
Fosfato diamônio 426 1063 34
Fosfato m onoamônio 224 1730 30
Nitrato de am ônio 1.183 8711 105
Nitrato de cálcio 1.212 6598 53
Nitrato de potássio 134 2471 74
Nitrato de sódio - - 100
Sulfato de am ônio 704 1033 69
Sulfato de cálcio Insolúvel 8
Sulfato de m agnésio ( 2) 700 906 2
Sulfato de m anganês 516 696
Sulfato de potássio 67 239 46

(1) (2)
Índice de salinidade relativo ao nitrato de sódio = 100. Temperatura em água fria = 20 °C e água quente = 40 °C.
Fonte: Adaptado de Boodley (1996) e Resh (2002).

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98 N ILTON N ÉLIO COMETTI et al.

que se dissociam em solução, no entanto, há um grande desvio do valor teórico. Assim,


a pressão osmótica de uma solução molar de NaCl é de aproximadamente 4,32 MPa, em
vez do valor teórico de 2,27 MPa. Assumindo-se que haja a completa dissociação do
NaCl, o potencial osmótico seria de 4,54 MPa, e a discrepância pode ser atribuída,
principalmente, às forças de Van der Waals operando entre os íons. Em soluções
nutritivas, preparadas na faixa mmol L-1, o efeito da concentração sobre a força iônica é
menor, permitindo aproximação maior entre os valores calculado e real do potencial
osmótico.
Um potencial osmótico entre -0,05 e -0,1 MPa tem sido considerado adequado para
o cultivo hidropônico. Considerando-se uma solução nutritiva que contenha uma
concentração de íons totais em torno de 20 mmol L-1 e temperatura de 27 °C (300 K), o
potencial osmótico seria:

ψ0 = -0,02 x 0,00832 x 300 = -0,0499 MPa (1)


1
Devido à dificuldade de medição direta da pressão osmótica da solução e de seu
cálculo, pois seria necessário conhecer a concentração de cada íon, pode-se utilizar a
medida de CE, que apresenta boa correlação com a quantidade total de sólidos solúveis
da solução ou com a sua força iônica estimada (Figura 2). Há relação significativa entre
a CE e a concentração total de íons da solução, que pode ser determinada pelas seguintes
equações:
CE (dS m-1) = [total de íons (mmol L-1)] × 0,0698, ou
Concentração total de íons (mmol L-1) = [CE (dS m-1)] × 14,33, ou
Concentração total de íons (mg L-1) = [CE (dS m-1)] × 655

2,5

2,0 Força Iônica CE = FI x 0,0853


2
Concentração de Íons R = 0,99
-1

1,5
CE, dS m

1,0 CE = [Total de Íons] x 0,0698


R2 = 0,99

0,5

0,0
0 5 10 15 20 25
-1
Concentração total de íons e força iônica, mmol L

Figura 2. Relação entre condutividade elétrica (CE) da solução nutritiva e a concentração total
de íons e força iônica (FI) estimada; força iônica simulada com o programa GEOCHEM 3.0.
Fonte: Parker et al. (1995); Cometti (2003).

N UTRIÇÃO M INERAL DE P LANTA S


IV - S OLUÇÕES NUTRITIVAS: F ORMULAÇÃO E A PLICAÇÕES 99

Essas equações permitem que se utilize apenas a concentração total da solução


(mmol L-1), sem que sejam necessárias as concentrações individuais dos nutrientes na
solução. A relação entre CE e a concentração de íons deve ser determinada para cada sal
em solução, visto que há grande variação entre a CE de cada espécie iônica. Quando se
utilizam essas relações para estimar a concentração total dos íons a partir da CE, deve-se
considerar que seu valor pode ser diferente para cada solução nutritiva, dependendo da
relação entre os nutrientes. Finalmente, a soma das CE estimadas de cada sal dissolvido
pode ser utilizada como a CE estimada da solução nutritiva, com uma boa aproximação
do valor medido por meio de condutivímetro.
A CE da solução também varia com sua temperatura. A cada cinco graus de aumento
de temperatura, há aumento da CE em torno de 11,0 %. Dessa forma, uma solução com
CE de 1 dS m-1 a 25 oC deverá apresentar, aproximadamente, uma CE de 1,11 dS m-1 a
30 °C.

MANEJO DA SOLUÇÃO
Reposição da Solução
Durante o crescimento das plantas em solução nutritiva, há absorção de água e
nutrientes em proporções diferentes, com diferentes quantidades acumuladas no tecido
vegetal. Os nutrientes, por sua vez, são absorvidos da solução nutritiva com velocidade
diferenciada (Figura 1). Assim, o manejo da solução nutritiva deve contemplar essas
diferenças a fim de se alcançar o fim do ciclo de cultivo com o menor desbalanceamento
iônico possível, constituindo um desafio a adequada reposição dos nutrientes e da água.
Dentre os métodos disponíveis de reposição da solução nutritiva, podem-se listar:
a) Renovação de toda a solução: em vasos, é comum a troca de toda a solução ao
final de uma semana de cultivo, utilizando-se 2 a 3 L de solução para plantas
como soja, arroz e feijão. Para determinar o momento da troca da solução, Ruiz
(1977) propôs utilizar o K como nutriente indicador. Em cultivos comerciais, o
volume total de solução costuma ser grande, tornando alto o custo com
desperdício de solução, além de riscos de contaminação do meio ambiente.
b) Reposição da solução absorvida: esse método utiliza a solução básica para repor
a água absorvida por transpiração. Em condições de baixa umidade relativa do
ar, alta velocidade do vento e alta temperatura, há perda de água por transpiração
desproporcionalmente maior do que a absorção de nutrientes, provocando a
concentração da solução nutritiva remanescente. Caso seja feita a reposição da
solução na mesma concentração inicial, haverá aumento da concentração de sais
na solução, aumentando consideravelmente sua CE. A forma de solucionar o
problema é monitorar a CE da solução e adicionar água pura para reduzi-la,
quando necessário, ou efetuar a reposição com uma solução mais diluída do que
a original.
c) Reposição de nutrientes e água separadamente com análise química da solução.
Depois de efetuada a análise química da solução nutritiva, pode-se adicionar

N UTRIÇÃO M INERAL DE P LANTAS


100 NILTON NÉLIO COMETTI et al.

água para atingir o volume inicial e adicionar os nutrientes por meio de soluções-
estoque concentradas de cada sal. O custo de monitoramento da solução por esse
método pode ser impeditivo, além de demandar certo tempo para a análise e de
não traduzir exatamente a necessidade de reposição dos íons. Apesar do ajuste
da concentração dos nutrientes, a solução tem restrições para uso indefinido,
pois há exsudação de ácidos orgânicos, descamação e quebra de raízes, liberando
fragmentos, crescimento de algas, bactérias e fungos, e contaminação por
microrganismos patogênicos, resíduos de substratos, poeira e metais pesados
contaminantes. Todas essas alterações exigiriam um tratamento de alto custo da
solução para que esta pudesse ser reutilizada com segurança. A vida útil de uma
solução com acompanhamento semanal por análise química pode chegar a três
meses, segundo Resh (2002).
d) Reposição de água e nutrientes separadamente, com uso de sensores de
concentração dos íons. Além do custo elevado dos eletrodos específicos para os
íons, sua vida útil é reduzida e eles necessitam de calibrações freqüentes. A esse
método aplicam-se as considerações anteriores sobre a vida útil da solução.
e) Reposição de água e nutrientes separadamente, por meio do monitoramento da
CE da solução. Este é o método mais utilizado atualmente na hidroponia
comercial, além de aplicar-se às pesquisas em nutrição de plantas, pois é de
baixo custo e permite acompanhamento da concentração total de sais da solução.
A reposição de água pode ser efetuada instantaneamente, por meio de válvula de
nível com bóia, ou diariamente, de forma manual. A medida da CE permite
monitorar a absorção de nutrientes, pois, apesar de não fornecer a concentração
de cada íon, a CE dá uma idéia da concentração total dos íons em solução
(Figura 2). A reposição dos íons é feita com soluções-estoque concentradas,
repondo-se apenas um volume de solução-estoque suficiente para elevar a CE
para o valor inicial. O descarte da solução nutritiva é efetuado apenas ao final de
um ciclo de cultivo, reduzindo bastante o custo com nutrientes e análises químicas
da solução. A vida útil da solução, em condições de cultivo hidropônico de
hortaliças folhosas, no Brasil, tem sido em torno de trinta dias em sistemas NFT
(técnica do filme nutriente), em que a solução nutritiva é conduzida por toda a
parte inferior do tanque inclinado onde as plantas são crescidas.

Preparo e Utilização de Soluções-Estoque


Para facilitar o manejo da reposição de nutrientes, é conveniente preparar soluções-
estoque concentradas, contendo todos os nutrientes na mesma proporção da solução
nutritiva. Para determinar a concentração máxima da solução-estoque, é necessário
utilizar a solubilidade dos sais como o limite (Quadro 6). Além disso, pode haver
incompatibilidade entre sais que não permita que estes sejam colocados na mesma solução
concentrada, destacando-se a incompatibilidade entre nitrato de Ca e os sais contendo P
e S, por formarem precipitados de baixa solubilidade (Quadro 7). Portanto, preparam-se
duas soluções, intituladas “A” e “B”, em que o nitrato de Ca é colocado em apenas uma
delas. Considerando que o nitrato de K tenha compatibilidade com todos os outros sais

N UTRIÇÃO M INERAL DE P LANTA S


IV - S OLUÇÕES NUTRITIVAS: F ORMULAÇÃO E A PLICAÇÕES 101

e que seja utilizado em maior quantidade, ele pode ser dividido entre as soluções A e B e
servir como determinante para a concentração final das soluções.
Utilizando como exemplo de cálculo a solução formulada para a cultura da alface e
considerando que o nitrato de K possui solubilidade de 134 g L-1 (Quadro 6), serão
necessários 4,77 L para solubilizar os 639 g para a solução nutritiva (Quadro 8); este
valor pode ser arredondado para 5 L. Assim, o nitrato de K será utilizado como base
para as soluções-estoque, por ser o sal com maior quantidade de água necessária para
solubilização. Como será utilizado nitrato de K em ambas as soluções (A e B), pode-se
então dobrar as quantidades dos outros sais e recalcular as quantidades para preparar
10 L de cada solução-estoque.

Quadro 7. Compatibilidade entre diferentes fertilizantes (C – compatível; R – compatibilidade


reduzida; I – incompatível)

C C C C C C C C C C C C C C Uréia

C C C C C C C C C C C C C Nitrato de amônio

C C C C C C C C C C C I Sulfato de amônio

C I C I C I I I I C C Nitrato de cálcio

C R C R C R C C C C Nitrato de potássio

C R C R C R C C C Cloreto de potássio

C R C R C R C C Sulfato de potássio

R I C C C I C Fosfato diamônio (DAP)

R I C C C I Fosfato monoamônio (MAP)

C C C C C Sulfato de magnésio

R I C C Ácido fosfórico

C C C Ácido sulfúrico

I C Ácido nítrico

C Sulfato de ferro, zinco, cobre e manganês

Quelato de ferro, zinco, cobre e manganês

Quadro 8. Volume mínimo necessário para solubilizar os sais da solução nutritiva para a
cultura da alface

Sal Solubilidade Solução desejada Volume mínimo

g L -1 g m- 3 L

Ca(NO 3 ) 2 .4H 2O 2.660 375 0,14


Nitrato de potássio 134 639 4,77
MAP 224 53 0,24
Sulfato de magnésio 700 184 0,26

N UTRIÇÃO M INERAL DE P LANTAS


102 NILTON NÉLIO COMETTI et al.

pH da Solução Nutritiva
Altas concentrações de H+ na solução nutritiva podem desestabilizar as membranas
celulares, provocando perda de íons e morte das células da raiz. As plantas podem
suportar perfeitamente pH entre 4,5 e 7,5 sem grandes efeitos fisiológicos. Entretanto,
efeitos indiretos, como a redução na disponibilidade de nutrientes, podem comprometer
seriamente o crescimento das plantas, pois as mudanças de pH podem favorecer a
formação de espécies iônicas que não são prontamente transportadas para o interior das
células, comprometendo a absorção do nutriente. Além disso, dependendo do pH da
solução, há formação de complexos insolúveis. Em pH acima de 6,5 há redução na
disponibilidade de Mn, Cu, Zn, B, P e, especialmente, Fe, enquanto há pequena redução
na disponibilidade de P, K, Ca e Mg em pH abaixo de 5,0. Portanto, em uma cultura
hidropônica é recomendado um pH entre 5,5 e 5,8, condição que permite a máxima
disponibilidade dos nutrientes em geral (Bugbee, 1995). Em solução nutritiva, Inoue et
al. (2000) observaram redução no crescimento da parte aérea e do sistema radicular de
alface quando o pH foi reduzido abaixo de 4,2.
As variações de pH que ocorrem na solução nutritiva são reflexos da absorção
diferenciada de cátions e ânions. Por exemplo, quando o N é suprido na forma nítrica, a
absorção de ânions é maior que a de cátions, ocorrendo elevação do pH. A absorção de
um mol de NO3- é feita em co-transporte com dois mols de H+, enquanto na absorção de
um mol de NH4+ pode ocorrer o bombeamento de um mol de H+ para o exterior da célula.
Assim, enquanto a absorção de NO3 - aumenta o pH, a absorção de NH4+ o reduz. Em
plantas supridas com NH4+ e NO3-, o pH da solução pode voltar a subir assim que o NH4+
tenha sido absorvido e que a absorção de NO3- se torne maior que a de NH 4+ (Figura 3).
Devido ao abaixamento do pH com a absorção do NH4+, recomenda-se o suprimento
apenas parcial do N na forma amoniacal, tornando a solução mais tamponada.
Em geral, o poder de tamponamento das soluções nutritivas utilizadas em hidroponia
é muito pequeno. A utilização de água deionizada, muito comum em pesquisa, reduz ainda
-
mais o poder de tamponamento da solução. Apesar do poder do fosfato (H2PO4 ↔ HPO42-)
de tamponar a solução, sua concentração necessária para estabilizar o pH em uma solução
nutritiva o tornaria tóxico para as plantas. Além disso, a rápida absorção do P retira
toda a sua capacidade de tamponamento, que se encontra a partir de 5,5, e alcança o
máximo no pH 7,2. Portanto, é mais conveniente manter a solução nutritiva equilibrada
em cátions e ânions para atender à demanda da planta do que tentar manter o pH numa
faixa estreita de valores por meio do uso de ácidos (sulfúrico, fosfórico, nítrico ou clorídico)
e bases (hidróxido de Na, K ou NH4+) fortes para reduzir ou elevar o pH do meio de
crescimento, respectivamente.
A utilização de doses pequenas e contínuas de N-NH4+ de uma solução de sulfato de
amônio pode manter o pH em 5,5 (± 0,5) durante todo o ciclo da cultura, sem que haja
necessidade de lançar mão de ácidos fortes para baixar o pH da solução e sem
comprometimento da produtividade da cultura (Martins et al., 2002). Entretanto, esses
estudos têm sido realizados em sistemas automatizados, em que o computador interpreta o
pH e libera uma solução contendo amônio por meio do controle por uma válvula solenóide.
Em experimentos conduzidos em vasos com solução nutritiva, é possível manter o pH

N UTRIÇÃO M INERAL DE P LANTA S


IV - S OLUÇÕES NUTRITIVAS: F ORMULAÇÃO E A PLICAÇÕES 103

200 -
N-NO3
150

100
-1
Nutrientes na solução nutritiva, mg L

50

0
25 N-NH4+
20
15
10
5
0
pH
6

3
17 24 31 38 45
Tempo após a semeadura, dia

Figura 3. Variação de NO3-, NH4+ e pH da solução nutritiva em cultivo hidropônico (NFT) de


alface. A solução foi renovada totalmente a cada sete dias (linhas verticais pontilhadas) e
ajustada diariamente pela condutividade elétrica e pH com solução de hidróxido de sódio.
Fonte: Furlani (1999).

estável utilizando-se uma concentração de 1 mmol L-1 de MES [ácido 2 (N-morfolino)


etanossulfônico], sem qualquer prejuízo para as plantas (Bugbee & Salisbury, 1985).

ESPECIAÇÃO IÔNICA DA SOLUÇÃO NUTRITIVA

A especiação iônica para compreender as respostas das plantas à presença de certos


íons nas soluções, principalmente em cultivos hidropônicos, tem sido crescente e cada
vez mais útil. Apenas a concentração de um elemento tal como se obtém a partir de
análises laboratoriais, ou aquela que se acredita ter sido adicionada, não corresponde,
muitas vezes, aos efeitos observados no aumento ou na redução do crescimento vegetal.
Da mesma forma, os efeitos tóxicos de metais pesados têm se mostrado mais coerentemente
correlacionados com a atividade de espécies iônicas do que com a concentração do
elemento. Na especiação de soluções contendo Al, Sr, Fe, Ca, P e outros elementos,
observa-se o forte efeito do pH na formação de vários complexos e precipitados,
acarretando sua baixa disponibilidade para a planta mesmo sob altas concentrações;
assim, pouco ou nenhum efeito pode ser observado em resposta ao aumento de sua
concentração na solução nutritiva.

N UTRIÇÃO M INERAL DE P LANTAS


104 NILTON NÉLIO COMETTI et al.

Segundo Bernhard et al. (1986), “espécie química” refere-se a uma forma molecular
(configuração) de átomos de um elemento ou aglomerado de átomos de diferentes
elementos. O termo “especiação química”, por sua vez, tem sido utilizado para descrever
a análise das espécies predominantes numa amostra, a abundância dessas espécies ou
distribuição numérica, a reatividade de dadas espécies e a transformação de uma espécie
em outra. Como as formas do metal complexado são de difícil ou impossível determinação
por métodos de análises laboratoriais, o uso de expressões termodinâmicas em modelos
computacionais mostra-se uma alternativa mais viável, simples e segura para obtenção
desse conhecimento. Programas de computador como REDEQL, GEOCHEM-PC, MINTEQ,
CHEAQS e outros podem indicar as espécies químicas em uma solução nutritiva a partir
das concentrações analíticas conhecidas dos elementos adicionados, apontando os pares
iônicos, complexos e formas livres dos íons (Parker et al., 1995).
Na especiação iônica de uma solução nutritiva, três variáveis determinam a
disponibilidade de um dado íon: a força iônica da solução, que atua sobre a atividade
iônica individual; o pH, que propicia a presença das várias espécies iônicas; e a presença
de agentes quelantes, que promovem o seqüestro de alguns íons em maior ou menor
escala.

Força Iônica

Geralmente, quando a força iônica aumenta, íons de cargas opostas interagem de tal
forma que sua atividade iônica diminui, e então o número de íons “ativos” diminui.
Pesquisadores na área de solos, aparentemente, foram os primeiros a desenvolver o
conceito de que as respostas das plantas se correlacionam melhor com a atividade do
que com a concentração analítica de íons inorgânicos (Adams, 1971). O quadro 9 mostra
que a atividade iônica é mais próxima da concentração analítica tanto quanto mais
diluída for a solução. Em solos, essa situação é agravada devido às mudanças observadas
nas reações de troca iônica. Em estudos com solução nutritiva, entretanto, não faz
diferença em se utilizar atividade ou concentração iônica, pois a maioria das soluções
nutritivas utilizadas possui força iônica na faixa de 5 a 20 mmol L-1, onde as comparações
podem ser realizadas razoavelmente, utilizando-se tanto atividade quanto concentração
iônica. Cuidado adicional deve ser tomado quando se trabalha com o íon Al3+, que tem a
atividade fortemente reduzida pelo aumento da força iônica da solução.

pH

Alguns trabalhos mostram que a absorção por plantas de ânions que exibem
comportamento de ácido ou base fraca depende do pH e do seu efeito na especiação.
Para alguns ânions, o efeito pode ser observado como aumento do co-transporte do ânion
com prótons (Marschner, 1995). O potencial transmembrana negativo nas células torna
o processo de entrada na célula de qualquer ânion um transporte ativo, em que qualquer
redução da carga aniônica reduz o potencial da barreira energética de entrada do íon na
célula. Alguns exemplos incluem a maior absorção de H 2PO4- em relação ao HPO42-
(Hendrix, 1967) e a maior absorção de H3BO30 do que B(OH)4- (Oertli & Grgurevic, 1975).

N UTRIÇÃO M INERAL DE P LANTA S


IV - S OLUÇÕES NUTRITIVAS: F ORMULAÇÃO E A PLICAÇÕES 105

Quadro 9. Efeito da força iônica nos coeficientes de atividades individuais

Força iônica (m m ol L - 1 )
Íon r i x 10 -8 (1)
1 5 10 50 100

Coefic iente de atividade de íons univalentes (2 )


K + , O H - , Cl - , N O 3 - 3 0,964 0,925 0,899 0,805 0,755
N a + , H CO 3 - , H 2 PO 4 - 4 0,964 0,927 0,901 0,815 0,770
H+ 9 0,967 0,933 0,914 0,860 0,830

Coeficiente de atividade d e íons bivalentes


SO 4 H PO 4
2- , 2- 4 0,867 0,740 0,660 0,445 0,335
Ca 2 + , Fe 2 + 6 0,870 0,749 0,675 0,485 0,405
M g2 + 8 0,872 0,755 0,690 0,520 0,450

Coefic iente de atividade de íons trivalentes


PO 4 3 - 4 0,725 0,505 0,395 0,160 0,095
Al 3 + , Fe 3 + 9 0,738 0,540 0,445 0,245 0,180

(1)
ri = raio da atmosfera iônica. (2) Coeficiente de atividade: razão entre a atividade e a concentração analítica do íon.

Outro exemplo é o aumento da toxidez de N amoniacal às raízes de algodão com o


aumento do pH (Bennett & Adams, 1970). A maioria das soluções nutritivas é pouco
tamponada, e o pH varia bastante, não se mantendo dentro de uma faixa ideal.
Diferentemente do solo, a faixa de pH ideal deve situar-se entre 5,0 e 6,0, uma vez que
valores de pH diferentes destes ocasionam alteração nas formas livres e complexadas dos
nutrientes. Com relação aos macronutrientes, apenas as formas disponíveis de Ca e de P
são negativamente afetadas por aumentos no pH da solução nutritiva. A partir do pH 6,0
ocorre redução na disponibilidade de Ca2+ e HPO4- (Furlani et al., 1999). Em pesquisas
com Al e metais pesados, é importante observar o efeito do pH na disponibilidade do
metal livre, pois o Al e o Sr têm sua disponibilidade reduzida em pH mais elevado ou
formam precipitados. É importante observar que o efeito do pH é variável com a força
iônica da solução, bem como a concentração dos elementos. A simulação de uma solução
de Hoagland com 40 μmol L-1 de cloreto de alumínio mostra que a concentração é
preponderante sobre a disponibilidade e a formação de precipitados de Al (Figura 4).
Assim, o Al em solução nutritiva só ocasiona restrições ao crescimento vegetal quando
em soluções altamente diluídas ou em altas concentrações de Al (Pintro et al., 1999).

Quelatos

A presença de agentes quelantes é também determinante no resultado da especiação


iônica da solução. Um bom exemplo disso é o Fe, normalmente quelatado nas formas de
FeDTPA (dietileno triamino penta acetato de ferro), FeEDTA (etileno diamino tetra acetato
de ferro), FeEDDHA (etileno diamino di-orto hidroxi fenil acetato de ferro) e FeEDDHMA
(etileno diamino di-orto hidroxi para metil fenil acetato de ferro).

N UTRIÇÃO M INERAL DE P LANTAS


106 NILTON NÉLIO COMETTI et al.

100 100% dada


100 % Solução de de
Solução Hoagland
Hoagland 10

80 Força Iônica 8

60
Composto formado pelo metal, %

Al - EDTA 6

40 4

-1
Força iônica, mmol L
20 2

0 0

100 25 % da Solução de Hoagland 10

80 Al-OH - sólido 8

60 Al3+ - livre 6

40 4

20 2

0 0

3,8 4,0 4,2 4,4 4,6


pH
H

Figura 4. Efeito da concentração da solução nutritiva de Hoagland na disponibilidade de Al


(adição de 40 μmol L-1 de AlCl3) e na formação de quelato de EDTA e hidróxido precipitado
em função do pH; simulação com o programa GEOCHEM-PC.
Fonte: Parker et al. (1995).

Para o Fe (Figura 5) e demais micronutrientes catiônicos (Quadro 10), as alterações


nas formas livres e complexadas são dependentes do pH e do quelato de Fe utilizado.
Considerando a faixa normal de pH das soluções nutritivas (5,5 a 6,5), o quelato FeEDDHA
é mais estável que o FeDTPA, e este, mais estável que o FeEDTA. Aumentos eventuais de
pH na solução podem comprometer a disponibilidade de Fe, acarretando sua deficiência.
Dessa maneira, é comum ocorrer carência de Fe em pH acima de 7 quando se utiliza o
EDTA como quelante.
A adição de quelatos de Fe à solução também leva à quelação de Cu, Zn e Mn. O
quelato entra em solução dissociando-se conforme sua constante de estabilidade,
liberando o agente quelante que poderá se ligar aos outros íons. A adição do quelato
FeEDDHA como fonte de Fe (2,5 mg L-1) à solução nutritiva (Quadro 10) promoverá, em
parte, a quelação apenas do Cu, enquanto outros agentes quelantes, como o DTPA e
EDTA, também formam complexos com Zn e Mn. No caso do Zn, tanto o DTPA quanto o
EDTA possuem capacidade semelhante e crescente de quelação a partir do pH 5,5. No
caso do Mn, o EDTA tem capacidade de quelação superior à do DTPA, mas com
importância significativa apenas em pH superior a 7,0. Essas relações na solução se
refletem na absorção dos micronutrientes pelas plantas. Os dados do quadro 11 indicam
que as formas livres de Mn e de Zn são determinantes na absorção pelas plantas. No
caso de plantas de alface, as concentrações de Mn e de Zn são maiores em plantas
crescidas com solução nutritiva contendo FeEDDHA do que naquelas plantas crescidas

N UTRIÇÃO M INERAL DE P LANTA S


IV - SOLUÇÕES NUTRITIVAS: FORMULAÇÃO E APLICAÇÕES 107

em solução nutritiva contendo FeEDTA. Na primeira solução, as quantidades de Mn e de Zn


livres ocorrem em maiores proporções do que em solução com EDTA (Quadro 10). Em
crisântemo (Quadro 11), o EDDHA e o DTPA proporcionam semelhantes concentrações
livres de Mn, porém a concentração de Zn é maior na solução com EDDHA (Quadro 10),
refletindo em maior acúmulo de Zn nas folhas (Quadro 11). Esses experimentos validam
as simulações das especiações iônicas realizadas com programas computacionais.
Composto de ferro formado, %

100

80
Fe-EDTA
Fe-EDDHA
60
Fe-DTPA
Fe-OH (com EDTA)
40
Fe-OH (com EDDHA)
20 Fe-OH (com DTPA)

4,5 5,0 5,5 6,0 6,5 7,0 7,5 8,0


pH

Figura 5. Formação de compostos de ferro em função do quelato de ferro usado e do pH da


solução nutritiva; simulação com o programa GEOCHEM-PC.
Fonte: Parker et al. (1995).

Quadro 10. Formação de compostos de Cu, Mn e Zn em função do quelato de Fe e do pH da


solução nutritiva

pH da solução nutritiva
Quelato Forma
4,5 5,0 5,5 6,0 6,5 7,0 7,5 8,0

Composto formado (%)


FeEDTA Cu 2+ 6,3 0,7 0,1 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Mn2+ 92,7 92,5 91,3 82,1 67,0 18,5 4,3 3,4
Zn 2+ 83,1 54,5 13,1 1,8 0,6 0,1 0,0 0,0
Cu EDTA 92,8 99,2 99,9 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Mn EDTA 0,0 0,2 1,5 11,4 27,2 79,7 92,6 96,1
Zn EDTA 6,2 38,1 84,9 97,9 99,2 99,9 100,0 100,0

FeEDDHA Cu 2+ 28,1 22,1 13,5 6,5 6,6 1,4 0,1 0,0


Mn2+ 92,6 92,6 92,6 92,6 92,0 91,4 89,8 75,1
Zn 2+ 88,6 88,1 86,6 82,9 81,2 77,8 63,8 37,9
Zn OH 0,0 0,1 0,4 1,1 3,4 10,4 27,3 53,6
Cu EDDHA 67,7 74,4 84,0 91,3 88,8 95,9 98,3 98,8
Mn EDDHA 0,1 0,1 0,1 0,1 0,0 0,1 1,1 13,6
Zn EDDHA 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,1 0,8

FeDTPA Cu 2+ 2,9 0,6 0,1 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0


Mn2+ 92,7 92,7 92,6 92,0 89,9 68,3 9,1 0,4
Zn 2+ 79,5 62,0 33,9 11,1 5,7 0,5 0,0 0,0
Cu DTPA 96,7 99,3 99,9 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Mn DTPA 0,0 0,0 0,1 0,8 2,3 25,3 90,0 99,5

NUTRIÇÃO MINERAL DE P LANTAS


108 NILTON NÉLIO COMETTI et al.

Quadro 11. Teores de Mn e de Zn em folhas de alface e de crisântemo cultivadas em solução


nutritiva com diferentes quelatos de ferro

Q ue lato de F e Teo r d e M n Teo r d e Z n

___________________________ m g k g -1 ___________________________

F ol has de alface ( 1)

F eED D H A 125,2 a 69,0 a


F eED T A 80,9 b 38,4 b

F ol has d e cri sânt em o (2 )

F eED D H A 219,6 a 104,6 a


F eD TP A 230,6 a 45,8 b

(1)
Furlani (dados não publicados). (2) De Kreij & Paternotte (1999). Para cada espécie vegetal, médias seguidas por
letras iguais em cada coluna não diferem estatisticamente pelo teste Tukey a 5 %.

Em uma hidroponia comercial, observou-se em certa ocasião adição acidental de


grande quantidade de sulfato de zinco. Apenas a adição de maior quantidade de Fe-
EDTA foi suficiente para recuperar as plantas com sintomas de toxidez de Zn. Quando
foi utilizado Fe-EDDHA, qualquer excesso de Zn causava sintomas característicos de
redução abrupta no crescimento radicular, com grave deficiência de Fe. A partir do uso
de Fe-EDTA, esses sintomas desapareceram, mesmo quando a análise da solução nutritiva
mostrava uma concentração de Zn potencialmente fitotóxica. Tanto o tipo de quelato de
Fe utilizado quanto as concentrações de P e S (que formam complexos com Zn) podem
explicar por que podem-se encontrar altas concentrações de Zn na solução nutritiva,
acima de 0,5 mg L-1 (10 vezes acima do recomendado na solução de Hoagland), sem que
haja sintomas visuais de toxidez de Zn. Muito há que ser pesquisado para uma perfeita
compreensão dessas relações.

CINÉTICA DE ABSORÇÃO DE NUTRIENTES

As soluções nutritivas têm larga aplicação em estudos de cinética de absorção de


nutrientes em plantas. A absorção de íons em soluções de concentrações relativamente
baixas, pelos vegetais, segue, geralmente, a cinética de Michaelis-Menten (Epstein, 1975),
cujo modelo matemático é representado pela equação:

V max C
I = (1)
Km + C

em que I é o influxo ou velocidade de absorção do íon (μmol g-1 h-1 ) numa solução de
concentração C (μmol L-1). As constantes Vmax (μmol g-1 h-1) e Km (μmol L-1) representam a
velocidade máxima de absorção e a concentração em que a velocidade de absorção
corresponde à metade da Vmax, respectivamente.

N UTRIÇÃO M INERAL DE P LANTA S


IV - S OLUÇÕES NUTRITIVAS: F ORMULAÇÃO E A PLICAÇÕES 109

Para facilitar o cálculo das constantes, foram propostas diversas transformações,


que permitem obter formas lineares da equação de Michaelis-Menten. Assim, Lineweaver
& Burk (1934) relacionaram os valores inversos de I e C por meio da equação:
1 Km 1 1
= + (2)
I V max C V max

e Hofstee (1952) estimou I em relação a I/C:


I
I = −K m + V max (3)
C
Uma representação não-linear foi proposta por Claassen & Barber (1974), os quais
caracterizaram a absorção pela velocidade de diminuição da quantidade, Q (μmol), do
nutriente na solução. Esse valor depende da concentração, C (μmol L-1), e do volume da
solução, v (L), no tempo t (h):
Qt = C t v t (4)

A representação gráfica de Q, em relação ao tempo t, denota a diminuição da


quantidade do íon em solução com o tempo, em conseqüência da absorção pela planta. O
influxo, em qualquer ponto da curva, será o valor correspondente a –dQ/dt dividido
pela massa radicular. Pode-se também usar o comprimento ou a superfície das raízes.
Claassen & Barber (1974) ajustaram Q = f(t) de acordo com uma série de funções
cúbicas ou parabólicas e estimaram as constantes de Michaelis-Menten. Essas constantes
podem, também, ser determinadas graficamente. Neste caso, a declividade da porção de
maior comprimento dentro da curva, aproximadamente linear, permitirá o cálculo de
Vmax, e a tangente, na parte mais curva da representação, com valor equivalente à metade
da declividade anteriormente determinada, indicará o Km.
Para minimizar as imprecisões devidas a uma estimativa exclusivamente gráfica,
Ruiz (1985) propôs uma aproximação matemática para o cálculo das constantes Vmax e Km.
Os dados utilizados para exemplificar o método resultaram de um ensaio de absorção de
P, conduzido em câmara de crescimento, com planta de soja. Nesse ensaio usou-se uma
concentração inicial de P igual a 32,29 μmol L-1, estimando-se a absorção do nutriente
pela diminuição da atividade de 32P na solução, amostrada a cada meia hora. Essa atividade
foi corrigida para o tempo de contagem, devido à meia-vida, relativamente curta, do 32P.
O volume de solução para cada tempo, v t, foi calculado levando em conta o volume
inicial, vi (0,801 L), o volume após 24 h, v f (0,410 L), o volume amostrado, va (0,026 L), e
uma taxa de transpiração uniforme, uma vez que a iluminação e a temperatura foram
mantidas constantes por 24 h. O valor do va resulta de uma amostragem inicial (tempo
zero) de 0,002 L, acrescido de amostragens de 0,001 L a cada meia hora, até totalizar 12 h
de ensaio. Assim, vt foi estimado a cada meia hora, no intervalo de 0 a 12 h, usando a
equação:

⎛ v − v − va ⎞
vt = vi − 0,002 − ⎜⎜ i f + 0,002⎟⎟t (5)
⎝ 24 ⎠

N UTRIÇÃO M INERAL DE P LANTAS


110 NILTON NÉLIO COMETTI et al.

A concentração para cada tempo, Ct, foi calculada pela equação:


a t vt
Ct = C0 (6)
a0 v0

em que a é a atividade do 32P corrigida; v, o volume estimado (Eq. 5); e os subíndices 0 e t,


os tempos zero e t, respectivamente. Com os valores de vt e Ct calculou-se a quantidade
do nutriente em solução, por meio da Eq. 4.
No quadro 12 apresentam-se os dados de uma repetição desse ensaio, utilizados
para exemplificar o cálculo das constantes de Michaelis-Menten. A seqüência do ajuste
gráfico e matemático foi a seguinte:
a) Os valores de Q = f(t) foram representados graficamente (Figura 6).
b) Na região inicial da curva, onde são observadas as maiores declividades,
escolheram-se, em seqüência ininterrupta, os pontos que melhor se ajustaram a
uma reta (intervalo de 1 a 3,5 h, no exemplo), determinando-se uma equação de
regressão linear:

Q = a 1 + b 1t (7)

em que a1 e b1 são os valores da intercepção e da declividade, respectivamente.


c) Calculou-se Vmax pela equação:
b1
V max = − (8)
M
em que M é a massa da matéria seca das raízes (0,9348 g, no exemplo).
d) Na região curva da parte inferior do gráfico (intervalo de 3,5 a 6,5 h, no exemplo),
determinou-se a equação de regressão com melhor ajuste aos pontos
experimentais, que exigisse somente 1 grau de liberdade para o modelo. Para os
dados analisados, a melhor aproximação correspondeu a uma equação potencial:

Q = a2 tb2 (9)
em que a2 e b2 são o coeficiente e o expoente, respectivamente. O critério de menor soma
do quadrado dos desvios (Nelson & Anderson, 1977) foi usado para escolher os pontos
da reta e da curva. Considerando que a exaustão é um fenômeno contínuo, usou-se,
como critério, a coincidência do último ponto da reta com o primeiro ponto da curva.
e) Km foi calculada por uma relação semelhante à equação 4:

Qm
Km = (10)
vm
em que Qm é a quantidade de íons para a qual a velocidade de absorção equivale à metade
da Vmax e vm é o volume de solução correspondente. Q m é o ponto da curva da região
inferior do gráfico em que sua tangente se iguala à metade da declividade da reta usada
no cálculo de Vmax. Matematicamente:

N UTRIÇÃO M INERAL DE P LANTA S


IV - S OLUÇÕES NUTRITIVAS: F ORMULAÇÃO E A PLICAÇÕES 111

Quadro 12. Tempo de exaustão, atividade de 32P, volume, concentração e quantidade de fósforo
remanescente na solução em ensaio para determinar as constantes de Michaelis-Menten

Tempo Atividade Volume Concentração Quantidade

h cpm L μmol L-1 μmol

0 4.998,8 0,7990 32,29 25,80


0,5 4.452,6 0,7904 28,45 22,49
1,0 3.490,5 0,7818 22,06 17,25
1,5 3.128,8 0,7732 19,56 15,12
2,0 2.447,4 0,7646 15,13 11,57
2,5 1.747,9 0,7560 10,68 8,08
3,0 1.526,6 0,7474 9,22 6,89
3,5 870,6 0,7388 5,20 3,84
4,0 462,2 0,7302 2,73 1,99
4,5 346,2 0,7216 2,02 1,46
5,0 162,5 0,7130 0,94 0,67
5,5 127,2 0,7044 0,72 0,51
6,0 106,8 0,6958 0,60 0,42
6,5 83,4 0,6872 0,46 0,32
7,0 81,0 0,6786 0,44 0,30
7,5 74,1 0,6700 0,40 0,27
8,0 56,8 0,6614 0,30 0,20
8,5 69,5 0,6528 0,37 0,24

Fonte: Ruiz (1985).

30

25

20
-1
Q, μmol L

15
Q = 22,70 - 5,4417 t
R 2 = 0,987**

10

5 Q = 592,85 t -4,0791
R 2 = 0,980**

0
0 1 2 3 4 5 6 7
Tempo, h

Figura 6. Diminuição da quantidade de fósforo (Q) com o tempo de exaustão (t) e equações de
regressão usadas no cálculo das constantes de Michaelis-Menten.

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112 NILTON NÉLIO COMETTI et al.

1 d
2 dt
(a1 + b1t ) = d a2t b2
dt
( ) (11)

1 (b − 1 )
b1 = a 2 b 2 t m 2 (12)
2
em que tm é o tempo em que Q se iguala a Q m. Reordenando:

1 (b 2 −1 )
⎛ b1 ⎞
tm = ⎜⎜ ⎟⎟ (13)
⎝ 2 a 2 b2 ⎠
Calculando tm, estimaram-se vm, Qm e Km pelas equações 5, 9 e 10, respectivamente.

Os valores numéricos obtidos com os dados apresentados no quadro 12 foram os


seguintes:

Equação da reta: Qt = 22,70 – 5,4417 t R2 = 0,987***


Equação da curva: Qt = 592,85 t -4,0791 R2 = 0,980***
Vmax = 5,821 μmol g-1 h -1
tm = 3,81 h
vm = 0,733 L
Qm = 2,531 μmol
Km = 3,453 μmol L-1

O método gráfico-matemático envolve um volume apreciável de cálculos matemáticos


para alocação dos pontos experimentais, o que o torna um processo demorado. Para
superar essa dificuldade, Ruiz & Fernandes Filho (1992) desenvolveram o programa
CINÉTICA, inicialmente em DOS, que executa de forma rápida os cálculos necessários.
Uma nova versão desse programa, em ambiente Windows, foi desenvolvida por esses
autores, podendo ser obtida a partir do link ftp://solos.ufv.br/cinetica.

É interessante observar que, embora esse método tenha sido desenvolvido para
sistemas estáticos (vasos), Cometti (2003) empregou com sucesso o programa CINÉTICA
em sistemas de hidroponia NFT, para estudar a cinética de absorção de NH4+ e NO 3- por
alface.

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