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E-book

DADOS E EVIDÊNCIAS
PARA DIÁLOGO E
DECISÕES PEDAGÓGICAS
Sumário
9
As 10 competências
2 Introdução para profissionais
O potencial da tecnologia para a rotina escolar: dados, segundo o Fórum
Econômico Mundial
evidências e intencionalidade pedagógica
17
Pequeno glossário
5 Capítulo 1 dos produtos da
tecnologia na educação
O peso do tempo: mudanças globais, evolução da
23
tecnologia e a escola neste contexto A experiência do
Geekie Games e
a “Hora do Enem”
15 Capítulo 2
35
A terceirização da educação e as armadilhas da O potencial de
tecnologia para a educação automação das
profissões

44
25 Capítulo 3 As diferentes
concepções de
A otimização do tempo e a potencialização da avaliação
inteligência: os benefícios da tecnologia para a
53
comunidade escolar Como o Geekie One
pode ajudar com a
coleta e a organização
38 Capítulo 4 de dados para decisões
pedagógicas
O novo desafio nas salas de aula: avaliar as
64
habilidades e competências da Base Nacional Comum Gestão desafiadora:
Curricular (BNCC) parece simples, e é

67
Do tradicional ao
47 Capítulo 5 moderno: como
Afinal, como obter dados para as decisões o colégio Perfil
potencializa o
pedagógicas da escola? acompanhamento
pedagógico dos alunos
com a tecnologia
56 Capítulo 6
Dados na mão, evidências da reunião. Como transformar
rotinas e práticas a partir da visibilidade dos dados

70 Pósfacio
Nenhum caminho precisa ser trilhado sozinho

72 Equipe
Quem contribuiu neste e-book

74 Referências
Introdução

O potencial da
tecnologia para
a rotina escolar:
dados, evidências
e intencionalidade
pedagógica
E-BOOK | Dados e evidências para diálogo e decisões pedagógicas 3

A escola tem sentido o peso do tempo. Como respos-


ta, o mercado educacional global tem apontado a inteligência
artificial como tecnologia-chave para dar uma resposta célere à
demanda por inovação. Nesse processo, a inteligência artificial
ocupa o primeiro plano, sobretudo ao ser associada a um ins-
trumento essencial para colocar a tecnologia a serviço dos alu-
nos e alunas. Precisamos, contudo, desmistificar uma ideia que
envolve tecnologia e educação. A visão limitada de um ensino
autoguiado e controlador de estudantes via dados merece ser
desconstruída para dar espaço a uma análise mais ampla, real e
criteriosa da questão.

No processo de inovação do contexto escolar, algumas ressalvas


precisam ser priorizadas pelos gestores. O ato de disponibilizar
qualquer tipo de tecnologia para professores, professoras, estu-
dantes e coordenação precisa ser acompanhado de uma refle-
xão sobre a intencionalidade pedagógica dos recursos usados no
processo de aprendizagem. Sem uma mudança de mentalidade
quanto às práticas, metodologias e rotinas pedagógicas adota-
das no desenvolvimento de alunos e alunas, pouca diferença fará
ter a última inovação do mercado de tecnologia no contexto da
escola.

Para além da questão sobre qual é a intenção pedagógica da


tecnologia, alguns pontos positivos desse processo de inovação
da escola se sobressaem. Os elementos que chamamos neste
e-book de Otimização e Potencialização da Inteligência estão
ligados diretamente às rotinas e práticas de todos os atores da
comunidade escolar. A tecnologia torna possível otimizar o tem-
po gasto com a coleta e o processamento de dados pedagógicos.
Em questão de minutos, educadores podem ter informações so-
bre o desempenho dos estudantes nas disciplinas do ano letivo.
Sem gastar horas na correção de exercícios e na consolidação das
notas, professores, professoras e a coordenação têm evidências
suficientes para entender se suas práticas e rotinas pedagógicas
estão condizentes com as necessidades do corpo discente. Neste
cenário, o planejamento pedagógico ganha com a personalização
e a flexibilidade e não precisa aguardar o fim de um ciclo para se
adaptar ao que realmente importa: o processo de aprendizagem.
4 Geekie educação

Para chegar a esse entendimento, este e-book traz algumas dis-


cussões que estão em pauta quando o assunto é inovação na
educação e o uso de dados e evidências no processo de aprendi-
zagem. Começaremos entendendo o cenário global, no mercado
de trabalho e na escola, e demonstrando como a tecnologia vem
auxiliando profissionais a superar barreiras e aperfeiçoar suas
habilidades, suas competências e seus processos (capítulo 1). Os
cuidados com as possíveis armadilhas no processo de inovação
(capítulo 2) e os benefícios para as escolas (capítulo 3) também
serão abordados em seu tempo. As formas contemporâneas de
captação de dados no contexto escolar (capítulo 4) e como a
Base Nacional Comum Curricular (BNCC) insere novas necessi-
dades neste processo (capítulo 5) são tópicos importantes para
reflexão no atual cenário brasileiro. Ambos estão diretamente li-
gados aos novos desafios das escolas com as aprovações da Base
nos últimos anos. Por fim, uma vez que os dados e as evidências
estejam disponíveis, cabe aos educadores encontrar as melhores
formas de refletir sobre as possibilidades de uso dessas informa-
ções e de suas rotinas (capítulo 6).

Este é um debate ainda em construção, afinal, a cada dia surgem


novas tecnologias e possibilidades para que as escolas avancem
em seu processo de aprendizagem. No entanto, independente da
formatação dessas inovações, suas aplicações no contexto esco-
lar sempre perpassam a questão da intencionalidade pedagógica,
um fator que não deve ser desconsiderado no debate e na prática
de todos os educadores e educadoras.

Boa leitura!

Equipe Geekie
Capítulo 1

O peso do tempo:
mudanças globais,
evolução da
tecnologia e a escola
neste contexto
6 Geekie educação

Refletir sobre o tempo tornou-se essencial. O mundo


está cada vez mais acelerado em suas soluções para a vida mo-
derna, e nenhuma profissão ou esfera da sociedade fica imune às
inovações e ao ritmo imposto pelas novas tecnologias. Se demo-
rou mais de 1700 anos para que os europeus inventassem as má-
quinas a vapor e, assim, revolucionassem a indústria, no século
XXI os modelos de novos carros, telefones celulares, programas
de computador e outras tecnologias surgem nas prateleiras e no
mercado em uma velocidade inimaginável para quem nasceu an-
tes das décadas de 1980 e 1970. Para as escolas, então, o tempo
não bateu à porta e nem pediu permissão para entrar. Ele se im-
pôs e agora cabe à comunidade escolar encontrar a melhor forma
para fazer as pazes com suas demandas e urgências.

Em nosso cotidiano, um dos exemplos mais característicos da


evolução acelerada da tecnologia está nos telefones celulares. O
precursor dos aparelhos que não saem das mãos de estudantes
foi lançado em 1974 pela Morotola, mas foi apenas 10 anos mais
tarde que ele começou a ser comercializado com capacidade de
armazenar uma lista de até 30 números de telefones. A fabri-
cante Nokia também adentrou esse mercado na década de 1980,
com um celular que pesava quase 10 quilos e com o mesmo
espaço na agenda. O aparelho dessa época era tão grande que
ficou conhecido mais tarde como “tijolão”, principalmente quan-
do foi substituído por novas gerações de aparelhos mais leves
e com mais funcionalidades ao final da década de 1990 e início
do novo século. A revolução nesse mercado ocorreu de fato só
em 2007 quando Steve Jobs anunciou o primeiro iPhone. Desde
então, considerando-se que os celulares tornaram-se realmen-
te populares há menos de duas décadas, é inegável a revolução
causada por eles, em diferentes aspectos do cotidiano, desde a
forma como nos comunicamos e nos relacionamos, até em ro-
tinas comuns do dia a dia. O acesso a uma infinidade de infor-
mações disponíveis em smartphones com enorme capacidade de
processamento e funcionalidades que antes exigiam mais de um
dispositivo alterou inclusive o nosso modo de pensar.
E-BOOK | Dados e evidências para diálogo e decisões pedagógicas 7

Além da indústria de telefonia móvel, outros setores também se


beneficiaram com o avanço da tecnologia. Na saúde, a biotecno-
logia e as inovações na área médica revolucionaram o setor por
trazer possibilidades de diagnósticos, tratamentos e operações
auxiliados pela tecnologia. Atualmente há programas de compu-
tador que conseguem identificar células cancerígenas no sangue
e indicar o melhor tratamento com base no prontuário do pacien-
te. Além disso, o avanço da tecnologia permite que exames com-
putadorizados forneçam informações cada vez mais precisas
sobre o estado geral de saúde e a condição de órgãos internos.
Até o cérebro passou a ser mapeado em busca de dados sobre
seu funcionamento.

Todas essas inovações, além interferirem em nosso cotidiano,


também transformaram empresas, que já não são mais as mes-
mas e contam cada vez mais com o uso da tecnologia. Desde
a produção em série e automatizada de automóveis até os pro-
cessos de coleta de informações para uma notícia de jornal, as
inovações em diversos mercados trouxeram um novo ritmo aos
profissionais que atuam em seus setores. No jornalismo, por
exemplo, quando as empresas brasileiras passaram a adotar
computadores, nas décadas de 1980 e 1990, alguns repórteres e
editores tiveram dificuldades para se adaptar, tanto que aqueles
que continuaram com a boa e tradicional máquina de escrever
8 Geekie educação

ficaram conhecidos como “dinossauros” nas redações. Já os pro-


fissionais que se adaptaram, mesmo aqueles com maior tempo
de carreira à época, puderam ver o potencial dos computadores
e da internet na produção de notícias, no acesso e na verificação
de informações e em uma divulgação de fatos cada vez mais ace-
lerada e em tempo real, atividades que a tecnologia impulsionou
e potencializou com o tempo. De forma geral, a tecnologia pro-
porcionou ganhos de produtividade em todos os setores no qual
foi incorporada e provocou mudanças também nas relações de
trabalho, com consumidores e com outras empresas.

A imersão da tecnologia na realidade cotidiana é tão profunda


atualmente que especialistas já nomearam nossa época como
o tempo da Quarta Revolução Industrial. Depois de a indústria
ter sido impulsionada pelo uso do vapor, da energia elétrica e da
tecnologia da informação na automação da produção, o propul-
sor dessa nova revolução é a fusão das tecnologias nas esferas
física, digital e biológica de nossa existência. Segundo Klaus
Schwab, especialista no assunto e um dos fundadores do Fórum
Econômico Mundial, essa era é marcada pela velocidade, pelo
escopo e pelo impacto nos sistemas:

“A velocidade das descobertas atuais não tem precedentes


históricos. Quando comparada com as revoluções industriais
anteriores, a quarta está evoluindo a um ritmo exponencial
e não linear. Além disso, está afetando quase todos os
setores de todos os países. E a amplitude e profundidade
dessas mudanças anunciam a transformação de sistemas
inteiros de produção, gestão e governança.”

Essas transformações sem precedentes na História são acompa-


nhadas por uma capacidade crescente de processamento, arma-
zenamento e acesso ao conhecimento. Com mais informações
disponíveis, novos ramos e atividades surgem a cada dia. O mer-
cado exige novas habilidades e competências de profissionais
que irão atuar em ramos e atividades que ainda nem conhece-
mos. Tais necessidades também já foram mapeadas pelo Fórum
Econômico Mundial.
E-BOOK | Dados e evidências para diálogo e decisões pedagógicas 9

As 10 competências para
profissionais segundo o
Fórum Econômico Mundial

Solução de problemas complexos

Pensamento crítico

Criatividade

Gestão de pessoas

Coordenação

Inteligência emocional

Capacidade de julgamento e tomada de decisões


Icons by Creative Stall from the Noun Project

Orientação para servir

Negociação

Flexibilidade cognitiva
10 Geekie educação

Com as novas tendências do mercado e dos perfis profissionais


exigidos, as escolas passam a sentir o peso do tempo. Além de o
estudante ter um novo perfil por fazer parte dos nativos digitais,
estes demandam um novo processo de aprendizagem. O modelo
tradicional de educação não se enquadra na tarefa de formar in-
divíduos autônomos com inteligência emocional e capacidade de
solucionar problemas complexos, para citar apenas duas das dez
competências mencionadas.

Quando trazemos a discussão para o Brasil, temos um cenário


que faz coro com as demandas mundiais: as competências gerais
e as habilidades específicas da Base Nacional Comum Curricular
(BNCC) também exigem uma educação mais ativa e significati-
va. As incompatibilidades com o modelo tradicional de educação
imputam a urgência de atualização dos modelos pedagógicos
praticados pelas escolas. Afinal, como será possível formar in-
divíduos ativos, independentes e responsáveis por seus próprios
processos de construção do conhecimento se o modelo tradicio-
nal apenas despeja conteúdos tratando-os como tábulas rasas
de conhecimento? Em que ambiente estamos formando os futu-
ros profissionais de um mercado de trabalho cada vez mais ino-
vativo e tecnológico? Embora essa urgência esteja imposta, não é
impossível fazer as pazes com o tempo e trazer a tecnologia para
a comunidade escolar, mesmo para as escolas mais tradicionais.

Um mercado de dados e evidências

Além de formar indivíduos com habilidades e competências sub-


jetivas e individuais bem estruturadas, as escolas também preci-
sam conhecer o cenário objetivo e colaborativo para o qual estão
direcionando seus estudantes. Vivemos em um mundo marcado
pelo uso exponencial de dados e evidências. Grande parte das
profissões que produzem ou usam tecnologias demanda profis-
sionais que consigam interpretar essas informações e hipóte-
ses de forma criativa, assertiva e condizente com sua realidade.
Nessa toada, continuar tratando alunos e alunas como recepto-
res de conteúdo não os prepara para usar da melhor forma os
conhecimentos adquiridos. Hoje, quem recebe dados e conteú-
dos são os computadores, logo, os profissionais são aqueles que
E-BOOK | Dados e evidências para diálogo e decisões pedagógicas 11

sabem olhar para esses dados e, com eles, criar soluções que
impulsionam nosso desenvolvimento.

Falando em dados, é interessante observarmos mais de perto


a sua presença em nosso cotidiano. Um exemplo interessante
disso está em como a tecnologia vem atuando na mobilidade
urbana a partir de dados aparentemente simples. Aplicativos de
transporte urbano estão facilitando a vida de diversas pessoas
em grandes capitais e até em pequenos municípios do Brasil e do
mundo. Se no passado os mapas de cidades disponíveis nas listas
telefônicas ou em bancas de revistas eram os melhores amigos
de motoristas e de quem precisava se locomover até um lugar
que não conhecia muito, hoje é dispensável conhecer previamen-
te o trajeto e talvez mesmo o endereço exato de onde se quer ir.
A transposição desses mapas para os meios digitais permitiu a
revolução da qual estamos falando: com eles, empresas como a
Uber criaram sistemas que conectam passageiros a motoristas,
registram todas as rotas no sistema, selecionam e classificam
os melhores motoristas e calculam os preços de acordo com a
quantidade de chamadas, os carros disponíveis e até o clima de
cada região. Todas essas informações são dados que se transfor-
mam em insumos nas mãos dos profissionais de tecnologia da
informação. Vale ressaltar, no entanto, que os sistemas criados
a partir desses dados e as funcionalidades dos aplicativos foram
criadas por profissionais que souberam enxergar o potencial des-
sas informações e se destacaram no mercado ao usá-los de for-
ma criativa e inovadora.
12 Geekie educação

Outro exemplo interessante está relacionado ao mercado finan-


ceiro e, portanto, ligado diretamente ao nosso bolso. A economia
tratou de criar as ações para que empresas pudessem buscar in-
vestimentos de pessoas que não faziam parte de seu quadro de
fundadores ou sócios. Eis que surgiram, então, os pregões nas
Bolsas de Valores, em que vários profissionais negociam, aos
berros, as compras e vendas das ações das empresas. A tecno-
logia revolucionou todo esse cenário em diversas frentes: além
de transformar os pregões físicos em pregões on-line, também
foi possível criar uma série de fórmulas econométricas e siste-
mas que conseguem estimar a movimentação dos preços des-
sas ações. Esses sistemas usam diversos dados, como os preços
passados e até os comportamentos de outras compras e vendas
desses investidores, para dar sugestões e operar, em tempo real,
dentro do mercado. Neste cenário, os dados se transformam
em evidências. Preços, a quantidade de compradores e vende-
dores, os volumes de vendas de ações, a posição das empresas
no mercado, os relacionamentos dentro da cadeia produtiva, a
importância da marca e de outros atributos intangíveis da com-
panhia, por exemplo, deixaram de ser dados brutos e numéricos
para se tornarem evidências. Estas permitem criar hipóteses so-
bre quais setores ou empresas serão as meninas dos olhos do
mercado. Quem tem acesso a esses dados e consegue visualizar
E-BOOK | Dados e evidências para diálogo e decisões pedagógicas 13

as evidências dispõe de melhores informações para as tomadas


de decisões.

Apesar de os exemplos estarem, direta ou indiretamente, ligados


ao nosso cotidiano, o uso de dados para criar grandes soluções
ou elaborar evidências para o dia a dia não é exatamente novida-
de na História. Se hoje a Ciência da Informação consegue usar os
dados disponíveis para criar soluções criativas e revolucionárias,
no passado eram as chamadas ciências naturais as responsáveis
por essas grandes revoluções. Seu desenvolvimento, ao longo
dos séculos, foi baseado na coleta e no processamento de dados,
na elaboração e interpretação de evidências e na comprovação
ou refutação de hipóteses. A maçã de Newton era uma evidência
da gravidade; o movimento dos astros, a evidência de Copérnico
para o sistema heliocêntrico; as características similares entre di-
ferentes seres vivos representavam as evidências de Darwin para
sua teoria da evolução das espécies.

É notório que o processo de desenvolvimento científico e eco-


nômico se baseou em evidências ao longo de séculos. A educa-
ção, contudo, passou anos travada nessa missão, ao menos no
que concerne à possibilidade de automatizar e acelerar a obten-
ção e o processamento de dados para serem trabalhados como
14 Geekie educação

evidências pedagógicas. Para chegar a essa visão, basta pensar


em como é possível obter dados a partir de sete turmas da 3ª
série do Ensino Médio, cada uma com 40 estudantes, em média.
Por avaliação, certo? Qual é, então, a dificuldade e a probabilida-
de de que um professor ou uma professora consiga tabular todas
as notas de seus estudantes em poucos minutos para ganhar
uma percepção mais clara sobre o desenvolvimento do conheci-
mento desses alunos e alunas? E qual é a frequência com que es-
sas informações são usadas como evidências de que o processo
de aprendizagem tem pontos passíveis de melhorias?

Algumas das respostas estão nos próximos capítulos, porém, tais


questionamentos evidenciam o descompasso existente entre a
comunidade escolar e o mundo fora de seus muros. Algumas
escolas que ainda seguem um modelo criado há muito tempo
ficaram para trás quando o assunto é inovação. Além de terem a
urgência de formar indivíduos para um novo cenário, a comuni-
dade escolar precisa aproveitar a onda inovadora do século XXI
para avançar na História. Essa missão não é impossível e pode
ser prazerosa por permitir um diálogo cada vez mais próximo
com os estudantes e suas necessidades, além de engajar profes-
sores e professoras em sua atuação pedagógica e permitir novos
olhares e prioridades para coordenadores, coordenadoras e toda
a gestão da escola. É preciso, no entanto, desmistificar algumas
questões importantes para que todo esse esforço valha a pena.
Capítulo 2

A terceirização
da educação e
as armadilhas da
tecnologia para
a educação
16 Geekie educação

Quando falamos que a escola sente o peso do tempo e


precisa se modernizar, alguns questionamentos surgem logo na
largada da discussão. “Atualizar” implica substituir professores e
professoras por computadores inteligentes? Os alunos e alunas
não vão ter mais contato uns com os outros e ficarão imersos em
seus próprios celulares e tablets? Coordenadores e coordenado-
ras não vão mais fazer conselhos de classe e pensar no desen-
volvimento pedagógico dos corpos discente e docente? A escola
como conhecemos vai deixar de existir? A tecnologia é a solução
para todos os problemas da escola?

Se por um lado algumas questões negativas tendem a ser exa-


geradas quando o assunto é a convergência da educação com a
tecnologia, por outro, o otimismo sem limites com essas possibi-
lidades também precisa ser dosado. As armadilhas estão postas,
é preciso cuidado para não prender o pé em uma delas ou ficar à
deriva por ter tomado um rumo sem objetivo.

Falamos no capítulo anterior sobre a necessidade de a escola se


atualizar para formar indivíduos preparados para as necessida-
des do século XXI. Tanto para o mercado de trabalho quanto para
a carreira acadêmica, os estudantes de hoje precisam desenvol-
ver habilidades e competências que lhes permitam enxergar as
possíveis soluções para problemas complexos que chegaram
até nossa era sem solução. Essa demanda é imperativa princi-
palmente quando levamos em conta a grande responsabilidade
que a escola tem na formação e no preparo das próximas gera-
ções. Se as escolas do passado formaram os profissionais que
trouxeram todas essas questões para a pauta do dia, a escola de
hoje deve formar aqueles que vão prover soluções e avançar essa
pauta a um patamar ainda melhor.

Essa responsabilidade deve estar no centro de nosso debate. Seu peso


é tão grande quanto o peso do tempo, sobre o qual conversamos há
pouco. Não podemos deixar de considerar que a responsabilidade é,
sim, compartilhada por todos os atores da comunidade escolar: es-
tudantes, familiares, professores e professoras, coordenação, direção,
instituições públicas e privadas. É com essa carga que devemos olhar
para a tecnologia e enxergá-la como uma possibilidade de potenciali-
zar e otimizar a inteligência, e não de terceirizá-la.
E-BOOK | Dados e evidências para diálogo e decisões pedagógicas 17

Pequeno glossário dos


produtos da tecnologia
na educação

Como grande parte das inovações na área de tecnologia é de-


senvolvida em países como os Estados Unidos, muitos termos
em inglês atingem as pautas sobre educação e tecnologia. Não
bastasse a questão do idioma, muitos desses termos não são in-
tuitivos. Vamos conhecer alguns?

Algoritmo: uma lista definida de passos para a solução de um


problema. Um programa de computador pode ser encarado
como um algoritmo elaborado. Na inteligência artificial, um al-
goritmo é geralmente um pequeno procedimento que resolve um
problema recorrente.

Inteligência artificial: um algoritmo programado para, utilizando-se


de inúmeros dados disponíveis, aprender a “pensar” e estabelecer
relações, simulando a inteligência humana.

Machine learning: sistemas de computadores que aprendem a partir


de dados, tornando-se capazes de fazer predições cada vez melhores.

Big Data: são conjuntos maiores e mais complexos de dados.


Esses conjuntos de dados são tão volumosos que programas de
processamento de dados tradicionais não são capazes de geri-los.
Tais volumes massivos de dados podem ser usados para abordar
problemas do mercado que sequer ainda foram pensados.
18 Geekie educação

Learning analytics: é usada para encontrar padrões em grandes


conjuntos de dados, como aqueles gerados por sistemas on-line
de aprendizagem, de modo a permitir a criação de modelos e
predições.

Ambientes de adaptative learning: ambiente digital de apren-


dizagem personalizada e direcionada que adapta abordagens e
materiais de aprendizagem às necessidades e capacidades de es-
tudantes individuais.

Educational data mining (mineração de dados educacionais): o


desenvolvimento e uso de métodos para analisar e interpretar a
Big Data que provém dos sistemas de aprendizagem baseados em
computadores e das escolas e universidades.

Redes neurais: redes de conjuntos de dados interconectados, ba-


seados em uma compreensão vastamente simplificada da rede
neural do cérebro humano.

De qual outro termo você já ouviu falar ou leu algo a respeito?

Fontes: Pearson, Oracle.


E-BOOK | Dados e evidências para diálogo e decisões pedagógicas 19

Terceirização da inteligência

Ao mesmo tempo em que a tecnologia potencializa a produtivi-


dade e é celebrada no mercado por seus resultados exponenciais,
há também um temor referente às consequências da automação
em algumas profissões no mercado. Atualmente, uma série de
robôs e sistemas inteligentes terceirizam diversas atividades
humanas. Além dos famosos braços mecânicos na indústria au-
tomobilística, há, hoje, testes feitos com carros autônomos que
dispensam a direção de um motorista humano. Alguns deles já
estão sendo usados para transportar clientes de grandes redes
varejistas nos Estados Unidos. Esses veículos são equipados com
computadores de bordo e detectores de distância que permitem
que eles se locomovam de forma autônoma em vias públicas.
Além desses carros, algo mais próximo de nosso cotidiano são as
indicações de produtos em sites de livrarias e outras lojas on-li-
ne. Como a quantidade de compras na internet vem aumentando
ano após ano e cada vez mais usamos a rede mundial de com-
putadores para realizar uma grande quantidade de pesquisas,
empresas do ramo do e-commerce (o comércio virtual) investem
cada vez mais em seus sistemas inteligentes para atrair a aten-
ção dos consumidores. Com base nas últimas compras ou mes-
mo nos interesses manifestados on-line, esses sistemas sugerem
livros do mesmo gênero ou complementares para o internauta.

Neste cenário de automações, no entanto, a educação é o setor


que está menos propenso a ser 100% tecnológico. O motivo dis-
so é que ela ainda depende da interação humana no processo de
aprendizagem.

Segundo um relatório da consultoria McKinsey, de 2017, todas


as ocupações incluem uma série de atividades que podem ser
automatizadas. Contudo, menos de 5% dessas ocupações são
candidatas à automação total. A educação é a última do ranking
de candidatas com potencial para ser dominadas pela tecnolo-
gia: ela tem um potencial de 27% de automação - setores de
manufatura e serviços de comida, por exemplo, têm, respecti-
vamente, 60% e 73%. Essa diferença se dá pela especificidade
das atividades desenvolvidas entre educadores, estudantes e a
comunidade escolar.
20 Geekie educação

O dado foi resultado de uma pesquisa sobre as profissões dos


Estados Unidos e suas atividades rotineiras. A McKinsey desta-
ca que toda ocupação é composta por uma série de atividades.
Portanto, para o estudo, elas foram classificadas em sete princi-
pais categorias. Três delas têm os mais altos potenciais técnicos
de automação: (a) atividades físicas e operação de maquinário
em ambientes previsíveis; (b) processamento de informações; e
(c) coleta de dados. As outras quatro categorias de atividades
têm um potencial consideravelmente menor: (d) atividades físi-
cas e operação de maquinário em ambientes não previsíveis; (e)
diálogo com tomadores de decisão (stakeholders); (f) aplicação
de expertise na tomada de decisão, em planejamento e em ati-
vidades criativas; e a atividade menos suscetível à automação:
(g) o gerenciamento e desenvolvimento de pessoas (você pode
ler um pouco mais sobre cada atividade e o levantamento da
McKinsey na página 34).

Operar um guindaste é uma


das “atividades em ambientes
imprevisíveis” que não têm
grande potencial de automação.

O estudo mostra que, no geral, os setores que despendem menos


tempo nas atividades com menor potencial de automação são
aqueles mais ligados a atividades repetitivas. Contudo, mesmo
alguns setores, como a agricultura, têm um potencial maior de
automação inclusive nas atividades que demandam interações
humanas.
E-BOOK | Dados e evidências para diálogo e decisões pedagógicas 21

Embora algumas atividades na educação sejam passíveis de au-


tomação, no levantamento da McKinsey elas aparecem como
aquelas que tomam menos tempo dos professores e professo-
ras dos Estados Unidos, um dos principais polos de desenvol-
vimento de tecnologias no mundo. Por aqui, contudo, a coleta
e processamento de dados são atividades que demandam um
tempo considerável do corpo docente e até da coordenação das
escolas que não possuem nenhuma plataforma que facilite essas
atividades.

Apesar do baixo potencial de automação nas áreas que reque-


rem maior contato humano na educação, há algumas experiên-
cias positivas da aplicação da inteligência artificial (IA), um ramo
das aplicações da ciência da computação no desenvolvimento de
linguagens de programação capazes de aprender a partir das in-
terações com os usuários. Esse é o caso dos tutores inteligentes,
ou tutores adaptativos, baseados em modelos, como defendem
os pesquisadores Wayne Homes e Rose Luckin, da University
College London, e Mark Griffiths e Laurie B. Forcier, da Pearson.
Os quatro são autores do estudo “Inteligência desencadeada:
Um argumento para a IA na educação”.

No estudo, os pesquisadores explicam que um tutor inteligente


funciona a partir de três fontes de dados distintos sistematiza-
dos em modelos: (I) o modelo do estudante, que representa o
conhecimento desse indivíduo a partir das realizações e dificul-
dades prévias, de seu estado emocional e seu engajamento na
aprendizagem; (II) o modelo pedagógico, que é o conhecimen-
to e a competência do ensino por meio do “erro produtivo” e do
feedback direcionado ao aluno ou da aluna enquanto estuda para
fornecer a ele ou a ela informações para superar essa dificuldade;
(III) modelo do domínio, que é o conhecimento da disciplina que
será estudada.

Esse sistema se retroalimenta com os sucessos e fracassos do


aluno ou da aluna e, assim, consegue apresentar as soluções
pedagógicas imputadas no sistema, como sugestões de estu-
dos adicionais e de outras atividades complementares. Esse tipo
de tecnologia propicia ganhos para estudantes em contextos
nos quais o professor ou a professora não está disponível para
22 Geekie educação

fornecer as orientações e explicações necessárias. Indicados


como uma forma complementar de estudos, os tutores inteli-
gentes têm grande potencial para auxiliar no desenvolvimento
do estudante, principalmente daqueles com mais dificuldades ou
com exigências distintas de aprofundamento em determinadas
disciplinas do currículo básico.

Quando os docentes estão presentes no cotidiano do aluno, no


entanto, a adoção de uma plataforma no modelo de um tutor in-
teligente pode se transformar em uma armadilha na educação.
Se uma tecnologia, das mais simples às mais complexas, é in-
serida em uma aula, seu uso precisa ter sentido ou, em outras
palavras, é preciso haver intencionalidade pedagógica. Sem uma
revisão das metodologias, a tecnologia passa a ser um acessório
praticamente decorativo, uma “perfumaria”.

Assim, terceirizar a inteligência na educação é deixar que o com-


putador tome as decisões ou mesmo delegar a aprendizagem a
um vídeo do YouTube sem que haja nenhum tipo de intenção pe-
dagógica. A questão da aprendizagem, nesse caso, camufla um
uso que nada acrescenta à capacidade de o estudante construir
seu próprio conhecimento, tornando-o tão passivo quanto nas
aulas tradicionais baseadas no trio lousa, giz e caderno. Por outro
lado, se o professor ou a professora têm objetivos de aprendi-
zagem bem definidos ao trabalhar, as ferramentas tecnológicas
como as plataformas digitais com suas multiplicidades de recur-
sos multimídia e interativos, e a Inteligência Artificial, focada na
otimização e a potencialização da educação gerando dados para
personalização da aprendizagem e do ensino, tornam-se aliadas
de toda a comunidade escolar.
E-BOOK | Dados e evidências para diálogo e decisões pedagógicas 23

A EXPERIÊNCIA DO
GEEKIE GAMES E A
“HORA DO ENEM”

U
m exemplo de tutor inteligen-
te foi desenvolvido pela Gee- que receberiam do Enem, e também
kie em 2013: o Geekie Games. indicações de outros exercícios com-
O sistema foi criado a partir de um plementares para aprofundamento
princípio similar ao apresentado de nos pontos com mais dificuldades.
tutores inteligentes e da Teoria da
Resposta ao Item (TRI), metodologia
de avaliação usada pelo Ministério BENEFÍCIOS NO
da Educação no Exame Nacional do DESEMPENHO DOS
Ensino Médio (Enem). ESTUDANTES

O Geekie Games foi a plataforma ofi- De acordo com uma análise de im-
cial do “Hora do Enem”, em 2016. O pacto feita pela consultoria METAS
programa do Ministério da Educação Sociais, os alunos e alunas de es-
e do Serviço Social da Indústria colas públicas que estudaram com
(SESI), em parceria com a Geekie, o Geekie Games ao longo de 2016
atingiu 99,9% dos municípios brasi- tiveram um ganho médio 15,5%
leiros e contou com 4,5 milhões de maior que os estudantes das escolas
estudantes cadastrados em sua base. privadas. A evolução das notas dos
O sistema disponibilizava aulas, exer- quatro simulados on-line também
cícios, plano de estudos e simulados registraram um ganho médio 32,2%
para os estudantes que se prepara- maior nessa mesma comparação e,
vam para o Enem. ao todo, mais de 2 milhões de ava-
liações foram feitas pelos cadastra-
Ao estudar pela plataforma da Geekie, dos na base da plataforma. Como a
os estudantes recebiam, em tempo plataforma era on-line, estudantes
real, um relatório de desempenho de muitos municípios afastados
com a nota do simulado, a mesma das grandes capitais conseguiram
24 Geekie educação

ter acesso a um estudo mais per- Dado o contexto das escolas públicas
sonalizado e que complementou as brasileiras, o Geekie Games e a Hora
carências da rede pública e de seus do Enem foram, em 2016, importantes
contextos regionais. aliados dos cerca de 4,5 milhões de es-
tudantes brasileiros. Em seus estudos
Um dos principais aspectos elogia- individualizados e personalizados, alu-
dos por estudantes foi o da mobili- nos e alunas tiveram o suporte neces-
dade: o conteúdo podia ser acessado sário para avançar em suas principais
de celulares e computadores; assim, dificuldades, algo que frequentemente
quem estava se preparando para o se torna inviável nas escolas públicas
Enem podia assistir às aulas e fazer (responsáveis por 82% do total de es-
exercícios em qualquer lugar, inclusi- tudantes que usaram o Geekie Games)
ve alguns minutos antes do exame. A e suas salas de aula lotadas. Neste
personalização dos estudos também caso, em um contexto no qual o pro-
foi um ` na plataforma. A partir do fessor e a professora não podiam dar a
desempenho do aluno ou da aluna, atenção necessária às particularidades
o Geekie Games indicava um plano de cada indivíduo, o Geekie Games foi
de estudos com base nas dificulda- uma solução com resultados positivos
des e potencialidades dos e das es- no processo de aprendizagem.
tudantes. Quem seguiu o plano teve
uma evolução cinco vezes maior em Confira alguns dos resultados da par-
comparação à daqueles que não se ceria entre a Geekie, o Ministério da
prepararam para o Enem com o mes- Educação e o Sesi:
mo grau de engajamento, mas sem a
plataforma. https://os.geeki.es/HoradoEnem
Capítulo 3

A otimização
do tempo e a
potencialização
da inteligência:
os benefícios da
tecnologia para a
comunidade escolar
26 Geekie educação

A inteligência artificial e a tecnologia dependem de


dados. Mesmo um sistema como o do tutor inteligente precisa
das primeiras interações, uma espécie de com as atividades e de
uma avaliação diagnóstica, para coletar informações acerca dos
conhecimentos prévios dos estudantes e analisarcaptar suas for-
mas e estilos de aprendizagemaprender. Seres humanos também
aprendem por tentativa e erro, e a adaptação aos conhecimen-
tos adquiridos e acumulados é o mote do desenvolvimento das
sociedades.

Professores e professoras têm, no contato com os alunos e alu-


nas, a percepção das múltiplas inteligências e das diferentes for-
mas de aprender. Essa percepção permite não apenas verificar
como se dá o processo de aprendizagem em turmas heterogê-
neas, mas também trabalhar com a motivação e os sentimentos
de quem está aprendendo. Todas essas informações são também
dados pedagógicos que o corpo docente adquire, principalmente,
na prática pedagógica. Porém, essa forma de interação entre edu-
cadores e estudantes não será substituída por nenhuma máquina,
não ao menos enquanto o mercado de trabalho e a sociedade
demandar características tão complexas e pessoais, calcadas em
sentimentos, percepções e relacionamentos humanos.
E-BOOK | Dados e evidências para diálogo e decisões pedagógicas 27

Se, por um lado, a tecnologia na educação pode representar uma


armadilha para o processo de aprendizagem, outras possibilida-
des podem representar grandes ganhos de tempo e evidências
para o aprimoramento desse processo. Considerando como
premissa a intencionalidade pedagógica no uso de todo e qual-
quer recurso, físico ou digital, podemos considerar agora o quão
benéfica pode ser a automatização de atividades burocráticas e
rotineiras no cotidiano da comunidade escolar e como ela pode
se beneficiar com mais dados e evidências em mãos.

Otimização do tempo

Um dos efeitos positivos da adoção de tecnologia é, sem dúvida,


a otimização do tempo. Com a automatização de processos, a
maioria dos setores do mercado consegue poupar esse tempo
precioso recurso que é o tempo, e investi-lo em atividades vol-
tadas ao desenvolvimento da empresa. Estima-se que, em em-
presas que trabalham com grandes quantidades de dados, 25%
do tempo dos funcionários é gasto com buscas de informações.
Se isso não bastasse, grande parte desse tempo é desperdiçado
com buscas sem sucesso e recriando documentos. Na área jurí-
dica, por exemplo, muitos advogados e advogadas perdem tem-
po em busca de processos ainda não digitalizados ou de difícil
acesso em fóruns e tribunais espalhados pelo Brasil. Empresas
de tecnologia estão surgindo para coletar grandes quantidades
de dados sobre processos e suas tramitações disponíveis na in-
ternet. Na saúde, os laudos e prontuários estão deixando o papel
e sendo incorporados em sistemas que registram todos os aten-
dimentos e tratamentos dos pacientes.

Na educação, pode até não parecer, mas a parte mais importante


desse processo de automação já vem sendo feita: há décadas os
dados necessários para otimizar a área já são gerados por meio das
atividades avaliativas. Independentemente do tipo de avaliação, que
é tema do próximo capítulo, ela permite ao professor e à professora
uma análise do desenvolvimento dos objetivos de aprendizagem da
aula, do capítulo do material didático e do período do ano letivo. A
distribuição de notas da turma em uma prova de alternativas, por
exemplo, representa dados pontuais desse desenvolvimento.
28 Geekie educação

Nesta questão, ainda é preciso considerar que o trabalho com o


desenvolvimento de competências e habilidades, como aquelas
estipuladas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), tem
o objetivo de cumprir com uma educação integral do indivíduo.
O desenvolvimento dessas competências nos estudantes ainda
tem baixo potencial de automação. Logo, elas são de responsabi-
lidade de um corpo docente comprometido com a preparação de
seus estudantes para os desafios do século XXI.

Ademais, não é apenas com os estudantes que o desenvolvimen-


to de habilidades e competências do século XXI precisa ser reali-
zado. Professores e professoras também precisam de uma forma-
ção contínua. Essa necessidade é latente tanto para garantir que
educando e educador estejam na mesma página, quanto também
para que os docentes possam trocar a postura reativa por uma
mais ativa quando o assunto é tecnologia, machine learning e in-
teligência artificial. Conhecer os conceitos e possibilidades é um
passo importante para se aproximar do que grandes instituições
chamam de educação do século XXI. No entanto, o desenvolvi-
mento de competências e habilidade, assim como a aplicação de
uma avaliação continuada, que permita diagnósticos mais fide-
dignos ao desenvolvimento dos educandos, requer dedicação ao
planejamento de aulas mais ativas e significativas, e esse tipo de
planejamento demanda tempo do corpo docente, da coordena-
ção e até da gestão escolar. Fica, portanto, o questionamento:
como é possível dar conta dessas demandas?

Professores e professoras estão carregados de


tarefas que tomam um tempo valioso. É fácil dizer
que é preciso usar evidências na educação para
investigar quais são os pontos que requerem
maior atenção de educadores. O difícil é incluir
mais uma tarefa nesta agenda tão carregada.

Não deve-se negar, no entanto, o fato de que esse trabalho já está


sendo feito: uma prova escrita, alternativa ou dissertativa forne-
ce dados ao professor sobre qual foi o assunto que mais gerou
dificuldade de compreensão na turma. Essa informação serve de
base para uma nova abordagem do aprendizado ou para orientar
o aluno ou a aluna a fazer uma revisão mais profunda ou obter
E-BOOK | Dados e evidências para diálogo e decisões pedagógicas 29

reforço em relação ao ponto do programa no qual seu entendi-


mento ficou vago a ponto de ele ou ela não conseguir usufruir
do conhecimento adquirido em sala para resolver alguma situa-
ção-problema proposta em aula. O desafio, contudo, é estender
esse processo para uma rotina com quase 300 estudantes, com
carga máxima de horas-aula assumida e tempo de deslocamento
entre escolas. Para colocar a dificuldade em números, no Brasil,
segundo uma pesquisa da Organização para a Cooperação e o
Desenvolvimento Econômico (OCDE), os docentes utilizam 12%
de seu tempo administrando tarefas; 20% mantendo a ordem na
sala de aula; e 67% dedicando-se ao processo de ensino. A ques-
tão ganha volume quando a tarefa é passada para a coordenação
e para a gestão da escola.

Ao automatizar esses processos com a tecnologia, toda a comu-


nidade escolar ganha mais tempo para se dedicar às tarefas que
realmente importam: planejar aulas, práticas e rotinas pedagó-
gicas, reavaliar o planejamento pedagógico e fazer correções na
rota para adequar o processo de ensino e aprendizagem a partir
das dificuldades e aptidões observadas no desenvolvimento dos
estudantes. Essa automatização não significa, contudo, delegar
à máquina as funções do professor e da professora, como co-
mentado anteriormente. No entanto, a tecnologia pode assumir
30 Geekie educação

tarefas burocráticas como a de calcular notas de atividades ou até


mesmo a de fazer a chamada da turma. Aqui o exemplo com a rea-
lidade docente é claro. No que concerne ao acompanhamento do
conteúdo programático, em um modelo de educação sem o apoio
da tecnologia, e, muitos professores e professoras ainda anotam
em seus diários de classe o conteúdo e até a página do livro didá-
tico que conseguiram trabalhar em cada aula. Na preparação das
atividades avaliativas o processo é tão longo e complexo quanto
os demais: o professor ou professora precisa redigir as questões
ou copiá-las do livro; pesquisar questões do Enem ou de vestibula-
res na internet e adaptá-las ao arquivo em que está preparando a
prova; imprimir a prova; corrigir todas as provas alternativas; fazer
o cálculo da nota; lançar essas notas em uma planilha; informar
os alunos sobre seu desempenho; e calcular médias do bimestre.
Embora essa lista de atividades dos professores e das professoras
não esteja completa, quando paramos para refletir sobre toda a
sua jornada, fica evidente o tamanho do esforço e o tempo des-
pendido em atividades que são, muitas vezes, automáticas.

Para a coordenação e a gestão da escola, então, a situação pode


ser ainda mais complexa. O escopo de atividades de coordenado-
res e coordenadoras, muitas vezes, não é bem delimitado dentro
da comunidade escolar. Eles ou elas precisam monitorar as re-
gras estabelecidas? É de sua responsabilidade verificar quais são
os alunos ou alunas que estão chegando atrasados? Fora o que
não deveria ser da alçada do coordenador, ainda temos as suas
atribuições reais. Como acompanhar o desenvolvimento das au-
las de todos os professores do Ensino Fundamental II e/ou Ensino
Médio? Quais docentes estão avançados ou atrasados? Por que
isso está acontecendo? A turma do 9ºB está ainda deixando de en-
tregar suas atividades ou os estudantes passaram a acompanhar
os pedidos da professora de Matemática? O grupo crítico de 15
alunas e alunos que apresentaram dificuldades de aprendizagem
em mais da metade das disciplinas está melhorando ou piorando?
Esse coordenador ou coordenadora teve tempo de conversar no
conselho de classe sobre as práticas que podem ajudar nessas di-
ficuldades? Responsáveis pela coordenação e gestão pedagógica
estão na escola para apagar os pequenos incêndios que surgem
no dia a dia ou pensar no desenvolvimento pedagógico da comu-
nidade escolar?
E-BOOK | Dados e evidências para diálogo e decisões pedagógicas 31

Retomando para não esquecer: parte das ati-


vidades do processo de aprendizagem não
tem potencial de automação por se basear
nas relações interpessoais e nas habilidades e
capacidades que apenas seres humanos con-
seguem desempenhar. Isso é fato. As outras
atividades, como a de coleta e processamen-
to de dados, quando automatizadas, liberam
mais tempo para o que realmente importa na
escola, que é aprender.

As possibilidades da tecnologia, neste caso, são muitas: um


material didático adequadamente criado para uma plataforma
digital pode facilitar a pesquisa, o uso e o planejamento dos
conteúdos das aulas, além de permitir o uso concomitante de
mais de um capítulo didático para complementar ou reforçar
o aprendizado; é possível inserir recursos audiovisuais como
vídeos, músicas, áudios, notícias, artigos e imagens; o compar-
tilhamento daqueles capítulos planejados e desses recursos
selecionados é mais rápido e pode ser feito durante uma aula;
as atividades avaliativas podem ser disponibilizadas para toda
a turma ou para grupos de estudantes que precisam de um re-
forço maior em um tópico específico; o acompanhamento do
desempenho dessas atividades pode ocorrer em tempo real,
uma vez que os estudantes respondem as atividades também
em um computador que registra no sistema a nota, tornando-a
disponível na tela de PC do professor assim que o aluno termi-
nou o que fora proposto.

Para o coordenador ou a coordenadora, todos esses dados tam-


bém ficam disponíveis na tela de seu dispositivo. Ele ou ela não
precisaria mais pedir relatórios aos professores, nem conferir
todos os diários de sala, se quisesse saber como o corpo discen-
te está se desenvolvendo. Com todos esses dados disponíveis e
visíveis, a comunidade escolar consegue adaptar o planejamen-
to às reais necessidades de aprendizagem dos estudantes e não
precisa esperar as notas mensais ou médias bimestrais para en-
tender o que está acontecendo na escola. Em poucas palavras, a
tecnologia permite à comunidade escolar realmente desempe-
nhar os papéis que lhe cabem.
32 Geekie educação

Potencialização da inteligência

Para além da questão de otimizar o tempo de escolas e em-


presas, a tecnologia pode potencializar inteligências. A ques-
tão da disponibilidade dos dados para uso na tecnologia e por
inteligências artificiais também requer uma reflexão sobre o
uso feito com esses dados. Na indústria de transformação, por
exemplo, a tecnologia tem o papel de aumentar a produção.
Como as atividades são repetitivas e previsíveis, muitos pro-
cessos de diversos já foram substituídos por robôs. O ganho
real de produtividade, contudo, está no momento em que essas
automações permitem novos olhares para o processo produti-
vo e/ou para as atividades de criação dos profissionais dessas
empresas. Setores que lidam com muitos dados, além de terem
um tempo poupado com tecnologias que automatizam a cole-
ta, o processamento e até a busca de dados, conseguem fazer
com que suas equipes de trabalho dediquem um tempo maior
às atividades de gestão e desenvolvimento de funcionários, do
produto e também da empresa. Além do tempo, a disponibili-
dade de dados e o processo de forma automatizada também
potencializa o trabalho de inúmeros profissionais ao permitir o
acesso rápido e fácil a dados e conhecimentos que até a década
de 1990 eram difíceis de serem obtidos.

A rede mundial de computadores possibilitou a criação de uma


rede de empresas e de conhecimento que trocam informações
em tempo real e praticamente sem intervalos. Manuel Castells,
autor do livro Sociedade em rede, comenta que já no início da
internet, por volta das décadas de 1940 e 1950, um dos setores
mais beneficiados foi o das universidades e da pesquisa cientí-
fica. A web, segundo o autor, permitiu a troca de experiências
e práticas entre pesquisadores de universidades dos Estados
Unidos. Do país norte-americano para o mundo, hoje é possível
obter informações sobre pesquisas ou mesmo participar de gru-
pos de estudos em qualquer lugar do mundo.

Se a tecnologia potencializou diversos setores da economia, da


sociedade e até do Ensino Superior, ela também tem grande po-
tencial para fazer o mesmo pelo Ensino Básico. É necessário, no
entanto e mais uma vez, ter cuidado com as armadilhas que já
E-BOOK | Dados e evidências para diálogo e decisões pedagógicas 33

mencionamos anteriormente. Um sistema inteligente de compu-


tador na saúde pode até avaliar células cancerígenas e apresen-
tar o melhor tratamento com base no prontuário de um paciente,
porém, ele não substitui o atendimento presencial de um profis-
sional. A empatia com o paciente não é substituída por uma fra-
se pré-programada em um algoritmo. Sendo assim, o potencial
do uso da tecnologia está no fato de os profissionais da Saúde
terem mais tempo, visibilidade, qualidade e informações no diá-
logo com seus pacientes e até em seu desenvolvimento pessoal
e profissional.

O mesmo ocorre na educação. Se o computa-


dor não substitui o médico, tampouco substitui
o professor e a professora. Os learning analy-
tics (ou s tutores inteligentes) são ferramentas
que podem potencializar a atuação do edu-
cador, mas não substituí-la. Se a inteligência
artificial é feita de dados e retorna dados aos
usuários, essas informações precisam do olhar
humano para sua melhor aplicação e direcio-
namento no mundo real. Na educação, os da-
dos permitem uma série de análises sobre as
metodologias usadas em sala e o desenvolvi-
mento dos e das estudantes. Como essas in-
formações são usadas no contexto escolar de-
pende essencialmente dos atores que movem
essa realidade.
34 Geekie educação

Ainda traçando-se um paralelo entre a área médica e a educação,


os dados coletados e processados por inteligências artificiais dão
visibilidade sobre o paciente ou o estudante. A decisão sobre o
que fazer com essas informações cabe ao profissional de cada
área: um médico ou médica na saúde, ou um professor ou pro-
fessora na educação. Para os primeiros, os dados de eletrocar-
diogramas, exames de sangue ou da sondagem de células cance-
rígenas dão indícios e evidências de qual é o melhor tratamento
para aquele paciente. Na educação não é diferente, porém, no
lugar da saúde física, estamos aqui falando do conhecimento e
da aprendizagem do estudante.

Ao ganhar visibilidade sobre quais são as maiores dificuldades de


um aluno ou de uma aluna, o professor ou professora pode ela-
borar um diagnóstico da condição daquele discente. Quais são as
maiores dificuldades? Elas se expressam em exercícios que exi-
gem raciocínio lógico, comunicação, interpretação ou criativida-
de? Quais eram as formas dos exercícios e das atividades? Para o
aluno ou aluna, essas questões também se aplicam, afinal, as in-
formações também devem estar visíveis a eles. Especificamente
para os educadores, outras reflexões ainda são válidas: será que
as avaliações condiziam com a forma como aquele aluno ou
aquela aluna consegue aprender melhor? Qual foi a metodologia
usada no processo de aprendizagem?

Os dados e as evidências permitem uma série de análises para


que professores e professoras possam ter um olhar plural sobre
um aluno e sobre a turma toda ao mesmo tempo. A partir disso,
diversas ações podem ser elaboradas para suprir as necessida-
des de aprendizagem desses indivíduos. É aí que a educação se
torna personalizada e surge a possibilidade de potencializar a
inteligência de toda a comunidade escolar: docentes desenvol-
vem suas práticas e sua visão sobre o processo de aprendiza-
gem; discentes recebem maior atenção, autonomia e autoco-
nhecimento sobre seu desenvolvimento e a respeito de como
construir melhor seu conhecimento; coordenadores, coordena-
doras e a gestão da escola também têm a oportunidade de lan-
çar um olhar cada vez mais pedagógico sobre suas atividades e
colaborar com o desenvolvimento de professores, professoras,
alunos e alunas.
E-BOOK | Dados e evidências para diálogo e decisões pedagógicas 35

O POTENCIAL DE
AUTOMAÇÃO DAS
PROFISSÕES

Gráfico 1: Potencial técnico para automação nos

U
setores varia de acordo com os tipos de atividades
m levantamento feito
pela McKinsey usou
dados do Bureau Labor
Statistics, o departamento do
governo dos Estados Unidos,
responsável pelas estatísticas
do mercado de trabalho daque-
le país. A análise dos dados do
departamento norte-america-
no considerou mais de duas mil
atividades que são desempe-
nhadas em mais de 800 ocu-
pações diferentes na economia
do país.

No gráfico a seguir estão dis-


postos os diferentes setores
ordenados de acordo com os
tipos de atividades classifica-
das nos sete grandes grupos.
Conheça quais são essas ca-
tegorias e como elas conferem
ou não potencial de automa-
ção para cada setor.

Fonte: Escritório de Estatísticas do Trabalho dos Estados


Unidos; Análise do Instituto Global McKinsey
36 Geekie educação

ATIVIDADES FÍSICAS coordenação de uma escola. Coleta


E OPERAÇÃO DE das notas, dos erros e dos acertos
MAQUINÁRIO EM dos estudantes nas atividades avalia-
AMBIENTES PREVISÍVEIS tivas e o levantamento estatístico do
desempenho individual e por turma
As atividades desse tipo têm o maior são atividades comuns para profes-
potencial de automação: 81%. Elas sores, professoras e para a coordena-
são praticadas na manufatura, em ção e gestão de uma escola.
serviços de alimentação e no varejo.
O exemplo mais fácil é a indústria
automobilística e suas linhas de pro- ATIVIDADES FÍSICAS
dução automatizadas. Na educação E OPERAÇÃO DE
é possível citar os antigos mimeógra- MAQUINÁRIO EM
fos em contraste com a operação de AMBIENTES NÃO
uma impressora. PREVISÍVEIS

Como uma das limitações da IA é a


PROCESSAMENTO E criatividade, essa categoria tem me-
COLETA DE DADOS nor potencial de automação (26%)
em relação às atividades realizadas
As duas atividades têm, respecti- em ambientes previsíveis. Atividades
vamente, 69% e 64% de potencial como operar um guindaste em uma
de automação. Elas são comuns na obra, fazer o primeiro atendimento
maioria dos setores: coleta de da- médico de um paciente ou organi-
dos de funcionários ou de estudan- zar os materiais e equipamentos em
tes pelo departamento de recursos uma sala de aula podem ter fatores
humanos de uma empresa ou pela inesperados que não contam com
E-BOOK | Dados e evidências para diálogo e decisões pedagógicas 37

dados prévios para a ação da inteli- comuns na educação, como a ava-


gência artificial. liação de algumas atividades de es-
tudantes (seminários e debates, por
exemplo).
DIÁLOGO COM
INTERESSADOS
(STAKEHOLDERS) GERENCIAMENTO E
DESENVOLVIMENTO
Reações e respostas sociais e emo- DE PESSOAS
cionais têm grande importância no
relacionamento com clientes, alunos Também essencialmente compos-
e alunas, com superiores e colegas ta por reações e relações sociais e
de trabalho. Capacidades linguísticas emocionais, essa atividade tem um
e cognitivas, assim como pensamen- potencial de automação de apenas
to lógico e resolução de problemas, 9%. Apesar de haver sistemas que
são outros requisitos preenchidos identificam estados sociais e emo-
por humanos que fazem essa catego- cionais, o diálogo entre humanos
ria de atividade ter um potencial de ainda não foi superado por nenhum
automação de apenas 20%. Embora algoritmo para aumentar o potencial
alguns experimentos com IA sejam dessa categoria. Esta é, junto da an-
capazes de identificar emoções por terior, uma das categorias responsá-
meio de fotos e até da voz do usuá- veis pelo baixo potencial de automa-
rio, é consenso que ainda há uma li- ção da educação.
mitação da tecnologia para dar uma
resposta com a mesma entonação e As atividades com maior potencial
sensibilidade de um ser humano. de automação são, portanto, aquelas
que exigem menor nível de criativi-
dade e interações humanas. Sendo
APLICAR EXPERTISE EM assim, a importância do desenvolvi-
TOMADAS DE DECISÃO, mento de competências e habilida-
EM PLANEJAMENTOS des nos estudantes se faz ainda mais
E EM ATIVIDADES imperativo diante de um mercado de
CRIATIVAS trabalho cada vez mais automatiza-
do e com potencial de automação.
Determinar objetivos, interpretar re- Aqueles que se diferenciam neste
sultados ou aplicar o senso comum cenário são os e as profissionais que
em soluções são, por ora, atividades conseguem extrapolar os dados e
essencialmente humanas que têm transformá-los em evidências e solu-
apenas 18% de potencial tecnológico ções criativas para os processos e as
de automação. Essas são atividades rotinas do dia a dia.
Capítulo 4

O novo desafio nas


salas de aula: avaliar
as habilidades
e competências
da Base Nacional
Comum Curricular
(BNCC)
E-BOOK | Dados e evidências para diálogo e decisões pedagógicas 39

Grande parte dos coordenadores e coordenadoras de


escolas brasileiras já conhecem as novidades que a BNCC trouxe
para sua comunidade escolar. Algumas dúvidas, no entanto, per-
manecem: como serão feitas as avaliações do desenvolvimento
das habilidades e competências que a BNCC indicou? Uma prova
escrita tradicional vai dar conta de verificar se um aluno ou uma
aluna conseguiu desenvolver, por exemplo, a competência de
usar diferentes formas de linguagem - verbal, corporal, visual, so-
nora e digital? E a competência de “Compreender, utilizar e criar
tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crí-
tica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais”?

No geral, o que a BNCC objetiva é a educação integral de estu-


dantes. Isso significa que a educação precisa formar e desenvol-
ver um “humano global” que receba uma formação que privilegie
a dimensão intelectual (cognitiva) e a dimensão afetiva. Essa é
uma formação que contempla as subjetividades e diversidades
de estudantes e assume uma visão plural, singular e integral da
criança e do adolescente durante a Educação Básica.

A tecnologia, além de ser uma ferramenta que auxilia esse pro-


cesso quando é utilizada com intencionalidade pedagógica, tam-
bém faz parte de uma das dez competências gerais. A inclusão
do desenvolvimento da dimensão do que a BNCC classifica como
educação integral está em consonância com a sociedade e o mer-
cado de trabalho, como já se expôs nos primeiros capítulos deste
e-book. É evidenciado, portanto, mais um ponto de atenção para
gestores e para a coordenação quando estes precisam repensar
seus programas político-pedagógicos (PPP) para se adequar ao
documento normativo e também às demandas atuais.
40 Geekie educação

BNCC e a necessidade de novas avaliações

Com a aprovação da BNCC para Educação Básica, nos últimos


anos, surgiu a necessidade de repensar o processo educacional,
assim como as propostas de avaliação adotadas nas escolas de
todo país.

A concepção de educação desenvolvida pela BNCC está rela-


cionada à visão de que os estudantes aprendem por meio do
desenvolvimento de competências e habilidades. Essa visão de
aprendizagem já existe em alguns países, como a Finlândia, e se
baseia na ideia de ensinar estudantes não apenas a aprender de-
terminado conteúdo, mas a desenvolver formas de significar esse
conhecimento relacionando-o a questões de seu cotidiano e aos
desafios da sociedade do século XXI.

“Na BNCC, competência é definida como a mobilização de


conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades
(práticas, cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores
para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do
pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho.”

De acordo com Perrenoud (1999), desenvolver competências


remete à capacidade de agir eficazmente em determinadas si-
tuações, tendo conhecimentos como apoio, mas não como o foco
em si. Assim, ensinar estudantes a pensar com e mediante os
conteúdos desenvolve a compreensão e promove a transferência
e a aplicação de habilidades em diferentes situações de aprendi-
zado. Na BNCC são definidas 10 competências gerais que estu-
dantes devem desenvolver ao longo da Educação Básica. Temos
também competências e habilidades específicas que são defini-
das para as quatro áreas de conhecimento.

Isso fica evidente no documento da Base,: “o desenvolvimento


de competências para aprender a aprender, saber lidar com a in-
formação cada vez mais disponível, atuar com discernimento e
responsabilidade nos contextos das culturas digitais, aplicar co-
nhecimentos para resolver problemas, ter autonomia para tomar
E-BOOK | Dados e evidências para diálogo e decisões pedagógicas 41

decisões, ser proativo para identificar os dados de uma situação


e buscar soluções, conviver e aprender com as diferenças e as
diversidades” (Base Nacional Comum Curricular, 2018).

A proposta da BNCC para uma formação integral de estudantes


significa um desenvolvimento amplo que contemple as dimen-
sões cognitiva, social, emocional, corporal e cultural. Para isso,
defende que: “A Educação Básica deve visar à formação e ao
desenvolvimento humano global, o que implica compreender a
complexidade e a não linearidade desse desenvolvimento, rom-
pendo com visões reducionistas que privilegiam ou a dimensão
intelectual (cognitiva) ou a dimensão afetiva à construção inten-
cional de processos educativos que promovam aprendizagens
sintonizadas com as necessidades, as possibilidades e os inte-
resses dos estudantes e, também, com os desafios da sociedade
contemporânea”.

Parte do desenvolvimento de habilidades e competências pas-


sa pela necessidade de promover o protagonismo dos alunos e
das alunas privilegiando as atividades dinâmicas ou ativas. A
perspectiva é de que o trabalho do corpo docente deve ser for-
temente assentado nas metodologias ativas no sentido de des-
locar o trabalho do professor e da professora do ensino para o
acompanhamento do processo de construção de conhecimento
pelo próprio estudante. Isso significa um foco maior no traba-
lho interdisciplinar, extrapolando os limites estabelecidos pelos
componentes curriculares (disciplinas).

Além disso, as discussões em sala de aula são extremamente


importantes para que estudantes expressem, simplifiquem suas
ideias, conheçam os pensamentos dos pares e aprendam mais
profundamente o assunto abordado. As discussões em grupos
(pequenos ou grandes) aumentam a motivação e o engaja-
mento dos/as estudantes e a habilidade de resolver problemas.
Aumentar a oportunidade de estudantes de argumentarem uns
com os outros desenvolve a habilidade de racionalizar o que es-
tão pensando.

Com isso, professores e professoras saem do papel de únicos de-


tentores do conhecimento para o de mediadores no processo de
42 Geekie educação

aprendizado. Dessa forma, o corpo docente passa a atribuir aos


estudantes o papel de protagonismo na construção do conheci-
mento. No papel de facilitadores, educadores e educadoras são
responsáveis por criar condições para os alunos e alunas apren-
der. Isso não significa uma desvalorização do(a) professor(a),
muito menos sua substituição, mas sim uma ressignificação do
seu papel em sala de aula, haja visto que educadores são os pro-
fissionais que possuem saberes específicos ou “saberes docen-
tes” (TARDIF, 2002) para a construção do saber escolar pelos
alunos e alunas.

Com a emergência dessa nova perspectiva sobre a educação,


a forma de avaliação de estudantes também deve mudar, pas-
sando a ser realizada de forma mais global e integral. Dessa
maneira, como abordado pelo próprio documento, um de seus
objetivos como norteador para produção de currículos no país
é: “construir e aplicar procedimentos de avaliação formativa de
processo ou de resultado que levem em conta os contextos e as
condições de aprendizagem, tomando tais registros como refe-
rência para melhorar o desempenho da escola, dos professores
e dos alunos”.

Não se define, contudo, qual modelo de avaliação deve ser segui-


do pelas escolas, mas defende-se a importância de levar em con-
ta os “contextos e as condições de aprendizagem”, assim como a
produção de dados para a melhora do desempenho no processo
de aprendizagem. Nesse sentido, deve-se refletir sobre como a
articulação dos modelos de avaliação pode tornar possível uma
avaliação que seja ao mesmo tempo significativa, centrada no
aprendiz e promotora de resultados e evidências para a tomada
E-BOOK | Dados e evidências para diálogo e decisões pedagógicas 43

de decisões pedagógicas. Podemos, assim, extrair o melhor das


perspectivas tradicionais e progressistas de avaliação, apesar
das aparentes dicotomias e contradições.

A construção de avaliações deve ser feita de forma que elas se


tornem instrumentos de coleta de dados sobre a aprendizagem e,
acima de tudo, para a corresponsabilidade dos atores escolares.
É preciso construir uma cultura de avaliação baseada em diálogo
e feedback, que aprimore o desenvolvimento contínuo de docen-
tes e discentes para alcançarem melhores desempenhos.

Nesse sentido, os dados servem como ponto de partida para


diálogos e reflexões que direcionam as decisões pedagógicas
(LUCKESI, 1995). Para isso, a coleta de evidências deve ocorrer
de forma constante, em diferentes momentos e formatos, com
objetivo de replanejar (ou não) a rota. Realizar diagnósticos
contínuos e qualificar essas informações permite desde a dife-
renciação e personalização da aprendizagem até inferências no
planejamento de uma série, do ciclo ou da escola como um todo.

Contudo, os dados não devem ser interpretados como maneira


de construir estereótipos acerca dos e das estudantes, mas uma
forma de garantir um maior embasamento para a tomada de de-
cisões na escola. Assim, eles permitem uma maior visibilidade
ao processo de aprendizagem e uma gestão mais democrática
da escola, garantindo diálogos entre estudantes e famílias, que
acompanham o desenvolvimento individual, entre a equipe do-
cente e os estudantes, tanto com um olhar individual quanto um
voltado para turmas, até a gestão escolar, que acompanha a co-
munidade escolar.
44 Geekie educação

AS DIFERENTES
CONCEPÇÕES DE
AVALIAÇÃO
Por Paulo Bitencourt
Designer pedagógico da Geekie

E
ntre o desejo e a possibilidade,
entre o imaginário e a realidade, aprenderam e/ou assimilaram sobre de-
o corpo docente faz escolhas terminado assunto ou conteúdo. Desse
sobre os sentidos e as melhores for- ponto de vista, “avaliar é julgar ou fazer
mas de avaliar os alunos. Entretanto, a apreciação de alguém ou alguma coisa,
esse debate não se caracteriza como tendo como base uma escala de valores
efetivamente novo dentro das discus- (ou) interpretar dados quantitativos e
sões pedagógicas. É possível conta- qualitativos para obter um parecer ou
bilizar muitas conceituações sobre julgamento de valor, tendo por base pa-
o tema relacionadas às perspectivas drões e critérios” (HAYDT, 1988, p. 10).
educacionais desenvolvidas pelos
mais diversos autores ao longo das Para essa forma de avaliação, que pode
últimas décadas. ser definida como “tradicional”, o mais
importante é o produto final, ou seja, a
Uma das concepções de avaliação mais verificação dos conhecimentos absor-
comuns é aquela que assume uma pos- vidos pelos alunos e alunas ao final de
tura classificatória e baseada no jul- um período escolar, ano ou segmento
gamento utilizando referências social- (Fundamental, Médio ou Superior).
mente aceitas. Essa forma de avaliação Característico de vestibulares, concur-
valoriza o resultado obtido mediante o sos e exames, esse modelo de avalia-
desempenho dos alunos, principalmen- ção garante um resultado classificató-
te em provas. A base, aqui, são os aspec- rio e seletivo.
tos de dimensão quantitativa.
Essa perspectiva relaciona o ensino
Nesse caminho, estabelecem-se as de- à formulação de objetivos educacio-
finições daquilo que o professor ou a nais como comportamentos obser-
professora deseja aferir se os estudantes váveis, não deixando espaço para o
E-BOOK | Dados e evidências para diálogo e decisões pedagógicas 45

imprevisível. Do ponto de vista pedagó- a educadora são vistos como únicas


gico, existe uma valorização extrema autoridades e portadores do conheci-
do conteúdo, tratado como uma sele- mento dentro da sala de aula; e o papel
ção cultural dos conhecimentos mais do corpo discente resume-se a absor-
importantes a serem transmitidos para ver as informações, sem questioná-las
as próximas gerações, sem sua relativi- ou demonstrar seu ponto de vista.
zação histórica e compreensão do seu
processo de construção social. Não há,
portanto, uma preocupação sobre se DOS RESULTADOS AO
aquele conteúdo realmente tem signi- DESENVOLVIMENTO
ficado para a vida do aluno ou da aluna. DO INDIVÍDUO

Neste modelo “tradicional”, defende- Além da visão tradicional sobre a ava-


-se que apenas as avaliações exter- liação, existe ainda uma outra concep-
nas aos alunos e alunas são válidas, ção desenvolvida ao longo das últimas
já que as autoavaliações não garan- décadas e que representa o modelo
tem a comparação de desempenhos, mais adequado para o processo de
classificações e ranqueamentos que aprendizagem que conta com a tecno-
permitem a responsabilização e a me- logia como ferramenta de otimização
ritocracia. Esse formato de avaliação, e potencialização da inteligência. Essa
utilizado na maioria das escolas, asso- vertente entende que o mais importante
cia o aluno às notas de desempenho e é o processo de aprendizagem de estu-
não permite as mudanças necessá- dantes sem atribuir valor excessivo aos
rias ao longo do processo de apren- resultados obtidos em provas. A avalia-
dizagem para adequação das dificul- ção deve contribuir, acima de tudo, para
dades encontradas no caminho. Esse uma análise diagnóstica, ou seja, para o
modelo também serve, muitas vezes, levantamento das dificuldades do cor-
como meio de “punição” aos alunos po discente, com o objetivo de correção
vistos como “atrasados” ou “rebeldes”. de rumos, reformulação dos procedi-
mentos didáticos-pedagógicos ou até
Os autores críticos a esse modelo mesmo de objetivos e metas (ROMÃO,
apresentam alguns pontos importan- 2001, p. 62). Esta concepção defende
tes: primeiro, aqueles estudantes que que a “finalidade principal da avaliação
não atendem os padrões e as exigên- [é] fornecer sobre o processo pedagógi-
cias estabelecidas nessas avaliações co informações que permitam aos agen-
terão que lidar com as notas baixas, tes escolares decidir sobre intervenções
a reprovação escolar e a desmotiva- e redirecionamentos que se fizerem ne-
ção; as provas apresentam um ca- cessários em face ao projeto educativo
ráter basicamente de “decoreba” do definido coletivamente e comprometi-
conteúdo transmitido; o educador ou do com a garantia de aprendizagem do
46 Geekie educação

aluno” (SOUSA, 1993, p. 46). Porém, assim como a concepção tradi-


cional sofreu fortes críticas, essa posi-
A reunião dessas características pedagó- ção também vem sendo atacada devido,
gicas resume o que é denominado de “so- principalmente, aos seguintes pontos: a
cioconstrutivismo”, modelo educacional despreocupação com os resultados e o
derivado, em grande parte, das teorias de foco apenas com o processo geram uma
Lev Vygostky. É possível definir essa con- cultura de desinteresse e falta de enga-
cepção de avaliação como “progressista”, jamento, que se tornam ainda piores nos
com grande influência no Brasil a partir casos da “aprovação automática” esta-
das décadas de 1980 e 1990. belecida em alguns sistemas de ensino;
a extrema valorização do/a aprendiz, de
Assim, a avaliação se apresenta como seu aspecto socioemocional e de seus
um processo contínuo de acompanha- interesses imediatos, acaba por esvaziar
mento da aprendizagem do e da estu- os conteúdos disciplinares; em muitos
dante excluindo seu caráter comparati- casos, os professores e professoras dei-
vo, tendo-se em vista que não é possível xam de ser “os principais depositários
comparar estudantes que possuem do conhecimento”, passando à condição
histórias de vida e formações úni- de “animadores de grupos de trabalho”
cas e singulares. É possível, sim, fazer (LABARCA, 1995, p. 175); e, por último,
comparações de diferentes momentos esse formato de avaliação pode funcio-
na trajetória do(a) mesmo(a) aluno(a), nar muito bem na educação infantil e nas
permitindo os registros de dificuldades primeiras séries do Ensino Fundamental,
e avanços do(a) educando(a) sobre as mas não corresponde à realidade dos
suas próprias situações anteriores. anos finais do Ensino Fundamental II e,
sobretudo, do Ensino Médio, todos mar-
Nessa perspectiva, é válida a concepção cados por avaliações externas de desem-
de autoavaliação tendo-se em vista que penho como o Enem e a Prova Brasil.
alunos e alunas seriam os legítimos pro-
tagonistas do processo de aprendiza- As duas propostas de avaliação possuem
gem. Da mesma forma, é fundamental a pontos positivos e também diversas críti-
preocupação com as subjetividades de cas. Além disso, alguns autores afirmam
estudantes, que não devem ser vistos que professores e professoras se vêem
como “folhas em branco”, pois possuem divididos entre as formas de avaliar. Uma
modos de apreender a significação dos pesquisa realizada por Menga Lüdke e
conteúdos recebidos a partir de suas Lélia Mediano (1992) comprovou que
vivências e dos padrões sociais de sua esta dicotomia ocorre inclusive no inte-
origem, no que podemos definir como rior de um(a) mesmo(a) professor(a),
“conhecimento tácito”, “cultura primeira” que verbaliza sua adesão teórica à “ava-
ou “conhecimentos prévios”. liação progressiva”, mas pratica, simulta-
neamente, uma “avaliação tradicional”.
Capítulo 5

Afinal, como obter


dados para as decisões
pedagógicas da escola?
Neste cenário de desenvolvimento de um estudante inte-
gral, resta saber, portanto, de que forma é possível usar a tecnolo-
gia para captar dados e evidências sobre o desenvolvimento inte-
gral do estudante. O que atores da comunidade escolar já sabem
é que existem muitas discussões e debates sobre quais são as for-
mas de avaliar estudantes e quais são os objetivos desejados em
uma avaliação. Atividades avaliativas são os principais meios de
se obter dados para a formulação de evidências mais condizentes
com as singularidades dos estudantes. Como avaliação representa
um termo polissêmico, utilizado em diferentes contextos e fina-
lidades, sua concepção está diretamente relacionada às escolhas
pedagógicas assumidas. Avaliar significa, portanto, ver a escola e
seus atores por um determinado olhar. Desta forma e em termos
gerais, a coleta e o processamento de dados com apoio da tecno-
logia representam um olhar mais acurado e milimétrico, como um
potente microscópio, da escola e de sua comunidade.

Apesar de ser consenso a existência de diferentes formas de


avaliação pedagógica, ainda paira no ar uma contradição entre
o desejo dos professores e das professoras (uma imagem de
avaliação que pode ser idealizada) e a realidade do cotidiano es-
colar, que muitas vezes (ou quase sempre) a limita à definição
de notas, conceitos, boletins, aprovação e reprovação, como já
E-BOOK | Dados e evidências para diálogo e decisões pedagógicas 49

apresentado anteriormente. Além de refletir sobre a intenção da


avaliação que segue um modelo mais tradicional, é preciso ter
em mente que ela é parte de um processo de desenvolvimento de
estudantes e não um fim por si só, como no caso da concepção
que classifica as atividades avaliativas em função de resultados
isolados ao longo do ano letivo.

Mesmo em um modelo tradicional de educação, as avaliações têm


seu mérito na coleta de dados gerais para avaliação do desenvol-
vimento da educação. É com os dados gerados por esse tipo de
prova que avaliações externas como a do Programa Internacional
de Avaliação de Estudantes (Pisa) e o Exame Nacional do Ensino
Médio (Enem medem o desempenho dos estudantes da educa-
ção básica ao longo dos anos. Ademais, essas avaliações podem
ser um ponto de partida para o processo de inovação quando se
adota uma nova tecnologia nas escolas. As notas fornecem as
evidências necessárias para um entendimento mais amplo sobre
as dificuldades e particularidades dos estudantes. Além disso,
elas também mostram se são ou não adequadas para avaliar os
conhecimentos adquiridos ao longo das aulas. Uma turma com
distribuição desigual de resultados, por exemplo, pode ser um
indício de que a prova tradicional talvez não tenha sido a melhor
formatação para avaliar as atividades desenvolvidas ou de que
o educador ou a educadora não está se atentando às múltiplas
inteligências presentes na turma heterogênea.

Falando em atividades, é importante reforçar que essas provas


não são o ponto final do processo. Para realmente potencializar
o processo de aprendizagem, educadores e educadoras precisam
também pensar em metodologias mais ativas e significativas
para adequar o ensino aos estudantes.

Competências e habilidades exigem


novas formas de avaliação

Provas diagnósticas, de múltiplas alternativas e apoiadas pela


tecnologia fornecem dados e evidências importantes para o
planejamento de atividades pedagógicas, avaliativas ou forma-
tivas. No entanto, nem tudo é desenvolvido com o apoio de um
50 Geekie educação

computador. Há formas de avaliação que, inclusive, dispensam


a máquina para dar espaço às atividades que exigem maior re-
lacionamento interpessoal e habilidades ligadas, por exemplo,
às artes, ao raciocínio lógico e à comunicação. Esta percepção,
contudo e mais uma vez, surge mediante as evidências e as pos-
sibilidades que a tecnologia traz para a sala de aula.

Vamos começar com um exemplo: ao incluir vídeos do YouTube


em uma aula, uma professora ou um professor pode observar
que parte dos alunos e alunas conseguiram construir melhor o
entendimento sobre o tópico principal daquele conteúdo. Sendo
assim, cabe entender: o que o vídeo provocou de diferente em
relação às práticas do docente? Alguma experiência ou as ilus-
trações apresentadas ao longo da explicação causaram efeitos?
Foram uma música ou os efeitos sonoros que despertaram a
atenção do estudante? Foi a linguagem?

Em geral, ao adotar recursos audiovisuais em


sala, educadores e educadoras se aproximam
da realidade dos estudantes. Eles e elas con-
somem diversos tipos de mídias na internet, o
que reforça as múltiplas inteligências a serem
exploradas em aula.

Com essas particularidades em mente, professores e professo-


ras podem elaborar diferentes formas de atividades avaliativas
para contemplar os diversos estilos de aprendizagem da turma.
Uma dessas formas é a rubrica. Muitos docentes já conhecem,
direta ou indiretamente, essa forma de avaliação. Em um semi-
nário são estabelecidos diferentes critérios de avaliação: tom de
voz, profundidade da pesquisa, organização visual da apresenta-
ção, capacidade de trazer exemplos diferentes, entre outros. As
notas dos estudantes são estabelecidas com base nestes pon-
tos. Alguns professores e professoras, no entanto, acabam por
classificar estudantes ao comparar o desempenho de uns com
os outros. O diferencial da rubrica é esclarecer todos os critérios
aos estudantes antes de eles começarem a atividade avaliativa.
A partir dos objetivos de aprendizagem estabelecidos para as
aulas e para a avaliação, o educador ou a educadora pode criar
uma lista de expectativas e dos critérios que serão considerados.
E-BOOK | Dados e evidências para diálogo e decisões pedagógicas 51

Para cada ponto, é preciso colocar uma escala de desempenho:


do “não satisfatório” ao “superou as expectativas”, por exemplo.

Estudantes do Projeto Vida,


escola de São Paulo, realizam
avaliação com rubrica para
verificar o que aprenderam
sobre o uso do Chromebook em
sala de aula

As rubricas servem também para promover o autoconhecimento


dos estudantes. Os critérios e as expectativas podem estar rela-
cionados aos aspectos individuais, às habilidades ou competên-
cias de cada discente. Nesta atividade, os estudantes refletem
sobre seus próprios desempenhos ao longo de uma ação ou de
um período de tempo.

Outra forma de promover essa autoavaliação é o feedback 360°.


Mais comum em empresas, essa é uma forma de avaliação em gru-
po e individual ao mesmo tempo. No mercado de trabalho essa prá-
tica é aplicada ao desenvolvimento profissional por meio de análises
críticas dos trabalhos, relatórios, comportamentos e objetivos de
cada indivíduo. Além de refletir sobre si e apresentar suas reflexões
ao grupo, cada pessoa também recebe e faz comentários sobre as
percepções suas e de seus pares. Na sala de aula o processo é o
mesmo: cada aluno precisa refletir sobre como foi seu desempenho
em um trabalho em grupo, um debate ou uma atividade individual. A
partir dessa autoavaliação, cada um expõe suas considerações à tur-
ma e reflete em conjunto sobre o que é possível fazer para melhorar
os pontos fracos identificados ao longo do processo.
52 Geekie educação

Os exemplos de formas de avaliação são variados e a troca de


experiências com outros docentes permite a adaptação e criação
de novas ideias para aplicar em sala. No entanto, independen-
temente da forma, as avaliações precisam ser encaradas como
um processo de desenvolvimento do estudante. Mantendo esse
olhar para as atividades avaliativas, o professor ou a professo-
ra conseguem obter uma quantidade de dados significativa
para entender melhor a realidade e as particularidades de seus
estudantes.

Um novo patamar com a tecnologia

Já vimos que, para modelos de educação que contam com o


auxílio da tecnologia, os dados de avaliações permitem correla-
cionar o conteúdo apresentado ao longo de uma disciplina e o
trabalho com as habilidades e competências dos alunos com o
aproveitamento e o desenvolvimento ocorrido ao longo das au-
las. Para professores e professoras, a tecnologia otimiza o tempo
ao coletar as notas e os desempenhos de forma automática e
processá-los para apresentar esses resultados de maneira clara
e objetiva. A visibilidade no processo de aprendizagem permite
as reformulações necessárias no planejamento.

Para os alunos e alunas, atividades apoiadas pela tecnologia tam-


bém melhoram a visibilidade de seu desempenho nas avaliações
de maneira rápida. De acordo com a formatação desejada pelo
corpo docente, os alunos podem verificar seu desempenho assim
que acabam as atividades. Em estudos individualizados, estudan-
tes podem verificar se acertaram ou não os exercícios, estudar
mais os pontos em que ficaram com dúvidas e enviar as questões
para o professor ou a professora com o objetivo de trabalhar me-
lhor o conceito na aula ou nos próximos encontros.

Já para a coordenação e a gestão pedagógica, os dados das pla-


taformas digitais permitem ter uma visão ampla do desempenho
dos estudantes em diferentes disciplinas e auxiliar educadores a
analisar e refletir sobre as adequações necessárias em seus pla-
nos individuais e conjuntos para atender às particularidades do
processo de aprendizagem de cada estudante e turma.
E-BOOK | Dados e evidências para diálogo e decisões pedagógicas 53

COMO O GEEKIE
ONE PODE AJUDAR
COM A COLETA E A
ORGANIZAÇÃO DE
DADOS PARA DECISÕES
PEDAGÓGICAS

T
odo o cenário do mercado
de trabalho e do desenvol- gestores, coordenadores, professores,
vimento da tecnologia traz estudantes e famílias – entendendo
novas demandas para as escolas. toda a comunidade escolar como cor-
Analisando-o, a Geekie responde a responsável pelo aprendizado.
ele com tecnologia de ponta e con-
sultoria especializada, que trazem Para estudantes, as inovações po-
benefícios para toda a comunidade dem trazer diversos benefícios ao
escolar. processo de aprendizagem. Pensando
nisso, a Geekie desenvolveu o Geekie
Referência em educação com apoio One de forma a contemplar um con-
de inovação tecnológica no Brasil e teúdo didático completo adaptado
no mundo, a Geekie desenvolveu o à linguagem dos estudantes nativos
Geekie One, instrumento já adotado digitais. O material, disponível para
por 47 escolas e cerca de 7 mil es- Chromebooks, iPads e smartphones,
tudantes de Ensino Fundamental II e une os recursos audiovisuais mais
Médio. Direcionadas por três pilares usados por crianças e adolescentes,
pedagógicos: conteúdo significativo, como slides, vídeos, hashtags, gifs
digital e flexível; aprendizagem ativa e e imagens, a um conteúdo pensa-
dados para diálogos e decisões peda- do e estruturado para proporcionar
gógicas, as possibilidades do Geekie uma aprendizagem significativa e
One são desenhadas para alcançar engajadora.
54 Geekie educação

A visibilidade de seu próprio desem- docentes podem escolher os capítulos


penho também leva o potencial dos de acordo com o conteúdo programáti-
alunos e das alunas a um outro pa- co da escola, selecionar exercícios para
tamar: além de verificar quais são as a turma ou para grupos específicos e in-
atividades solicitadas pelos docen- cluir, se necessário, seus próprios ane-
tes e seus prazos de entregas, eles xos para complementar a experiência
e elas obtêm o resultado de forma de aprendizagem elaborada. Além de
automática e podem recorrer, de ser flexível e personalizável, o Geekie
forma rápida e prática, a seus estu- One também dá maior visibilidade ao
dos, anotações e até a resoluções desenvolvimento dos estudantes ao
elaboradas para se orientarem em fornecer dados consolidados em tem-
seus próprios desenvolvimentos. po real dos exercícios e das atividades
Todo este processo também pode avaliativas feitas pelos estudantes.
ser acompanhado pelos familiares
a partir do dispositivo de seus fi- Com melhor visibilidade do desem-
lhos ou em seus próprios celulares. penho de seus alunos e alunas e oti-
Assim, a família consegue incentivar mizando as tarefas mais burocráticas
e apoiar alunos e alunas de maneira do cotidiano, professores e profes-
mais efetiva, entendendo quais são soras têm mais tempo livre para co-
as reais dificuldades dos estudantes locar em prática as metodologias e
ao longo do processo de aprendiza- rotinas ativas. Estas ainda são temas
gem, e não apenas a cada reunião de das formações oferecidas pelo time
pais com a divulgação dos boletins. de consultores da Geekie nas forma-
ções pedagógicas realizadas ao longo
Para professores e professoras, o do ano letivo.
Geekie One otimiza o tempo de plane-
jamento e preparação de aulas, de ati- Cada escola dispõe de um time de
vidades avaliativas e diagnósticas. Os Sucesso do Cliente, cuja missão é
E-BOOK | Dados e evidências para diálogo e decisões pedagógicas 55

estar presente no cotidiano de cada coordenadora podem agir de manei-


parceiro, utilizando metodologias de ra ativa para impulsionar o processo
gestão de projetos para compreender de aprendizagem e dedicar maior
o contexto, as forças e os desafios tempo às discussões pedagógicas
daquela instituição. A partir daí são para a evolução de toda a comunida-
definidos objetivos de curto e médio de escolar.
prazo – como a busca por capacitar o
corpo docente em metodologias ati- Segundo Claudio Sassaki, cofun-
vas ou a vontade de ampliar a cam- dador da Geekie e mestre em
panha de matrículas – gerando metas Educação pela Universidade de
passíveis de serem mensuradas e Stanford, com uma experiência ad-
reavaliadas ao longo do projeto. quirida em sete anos de atuação e
mais de 12 milhões de alunos alcan-
Além de contar com este suporte, a çados, a Geekie compreende que a
coordenação e a gestão escolar tam- maneira de pensar e processar co-
bém têm sua rotina otimizada para nhecimento é fundamentalmente
focar no processo de aprendizagem. diferente para crianças e jovens que
Em uma única tela, coordenadores nasceram expostos a um volume
e coordenadoras têm maior visibi- imenso e constante de informação –
lidade do desenvolvimento de cada e que isso interfere diretamente nas
disciplina. Além dos dados gerais, a estratégias de aprendizagem que
coordenação também pode verificar precisam ser desenhadas. “Para es-
o desempenho de alunos e alunas e, tudantes no século XXI, a interação,
assim, apoiar professores e profes- a motivação, a linguagem possibili-
soras em estratégias pedagógicas tadas pelo digital e o envolvimento
que melhor se adequem à realidade ativo com o conteúdo são muito im-
de cada estudante. Com dados e portantes na construção do conheci-
suas evidências, o coordenador e a mento”, comenta.
Capítulo 6

Dados na mão, evidências


da reunião. Como
transformar rotinas
e práticas a partir da
visibilidade dos dados
Uma reunião pedagógica ou um conselho de classe po-
dem não ser o cenário mais organizado dentro da escola. Todos
os professores e professoras querem expor seus pontos de vis-
ta sobre as turmas e os estudantes; coordenadores e coorde-
nadoras tentam administrar o tempo para melhor aproveitar as
colaborações de todos os participantes; e o/a responsável pela
gestão pedagógica, às vezes, fica sem espaço até para comuni-
cados mais pontuais. Assim, como é possível discutir o desenvol-
vimento das disciplinas e, principalmente, as particularidades de
alunos e alunas?

Cláudio Maroja, Gerente de Avaliações da Geekie, conta que, em


sua experiência como coordenador pedagógico de escolas públi-
cas, algumas das atividades que mais lhe demandavam tempo
eram aquelas relacionadas à disciplina dos alunos, a requisições
dos familiares dos estudantes e aquelas ligadas às documenta-
ções burocráticas das diretorias de ensino às quais as escolas
eram ligadas. As discussões pedagógicas eram realizadas em
formações semanais com o corpo docente, em encontros de 2h
de duração. Porém, grande parte do tempo desses encontros era
consumida por reclamações da semana, o que limitava as dis-
cussões úteis em torno de teorias de aprendizagem, de avaliação,
psicopedagogia e outros assuntos relacionados. Já nos períodos
de avaliação e conselho de escola, as demandas chegavam a con-
sumir um mês inteiro de trabalho.

Com os professores e professoras, Maroja realizava o planeja-


mento e replanejamento apenas semestralmente. Já o acompa-
nhamento dos estudantes era feito basicamente quando chegava
alguma reclamação dos docentes; porém, o atendimento de alu-
nos e alunas “geralmente envolvia mais escutas de ordem pes-
soal e a respeito de problemas dos adolescentes”.

Maroja também comenta que, apesar de a tecnologia na educa-


ção ainda não ser tão presente nas escolas em 1997, quando ini-
ciou sua carreira como docente de Química, ele já tinha familia-
ridade com alguns dos recursos disponíveis à época. “A princípio
não tínhamos internet nas escolas, então, o que havia para traba-
lharmos eram programas em CD para instalar nos computado-
res.” Mais tarde, entre 2008 e 2009, o professor e coordenador
58 Geekie educação

aplicou formações de uso de programas educacionais a outros


docentes da rede estadual; participou de um programa de troca
de experiências entre alunos da rede estadual e outros países;
elaborou blogs; e, quando a internet se tornou mais disseminada,
começou a utilizá-la como ferramenta de construção de pesqui-
sas com os alunos, que em grande número não sabiam o que era
internet.

Toda essa trajetória com a tecnologia também teve um papel po-


sitivo, embora limitado, na sua atuação como coordenador e na
obtenção de dados dos estudantes. Logo em 2001, Maroja usava
o Excel, programa da Microsoft voltado à elaboração de planilhas
eletrônicas, para facilitar a digitação das notas e gerar boletins
para os alunos e alunas. Já nos conselhos de classe, embora ele
utilizasse as planilhas eletrônicas, o processo era basicamente
realizado com papel e régua: “os planejamentos ficaram mais
fáceis de serem acompanhados quando se criou o currículo do
Estado. A falta de um currículo claro dificulta muito o acompa-
nhamento do andamento em sala de aula; muitas vezes só desco-
bríamos que o planejamento estava fora de compasso ao final do
semestre”, relembra o gerente de avaliação da Geekie.

Qualquer semelhança não é mera coincidência

A experiência de Maroja é muito similar à de vários coordenado-


res e coordenadoras do Brasil. Embora muitos tenham familiari-
dade com programas de computadores para organizar planilhas,
E-BOOK | Dados e evidências para diálogo e decisões pedagógicas 59

o tempo gasto com as correções e o posterior registro das notas


demanda tempo dos educadores e até da coordenação e gestão
escolar. Apesar disso, mesmo quando o processo se torna mini-
mamente apoiado pela tecnologia, ainda é preciso um olhar mais
apurado para considerar e enxergar quais são as evidências que
os dados apresentam para a comunidade escolar.

Considerando, agora, um contexto no qual todo esse processo


é menos trabalhoso e mais rápido a partir do uso de platafor-
mas digitais, todos os envolvidos no processo de aprendizagem
conseguem estruturar melhores evidências para as tomadas de
decisão quanto ao planejamento. Como todos os professores e
professoras têm acesso rápido e imediato sobre o desempenho
dos estudantes, a troca de experiências e vivências entre o corpo
docente se torna mais rica por ser baseada nos indícios forneci-
dos pelo desempenho dos estudantes. Nesta hora, portanto, a or-
ganização dos conselhos de classe e das reuniões pedagógicas é
fundamental para que a discussão não seja desviada por deman-
das que não estão relacionadas ao processo de aprendizagem.

Se as reuniões pedagógicas, quer sejam para planejamentos,


quer sejam conselhos de classes, são espaços que fogem facil-
mente das discussões pedagógicas para outras demandas e colo-
cações, a primeira coisa a fazer é criar uma pauta detalhada para
a reunião. Muito comuns em ambientes empresariais nos quais
a maioria dos colaboradores correm contra o tempo, as pautas
de reuniões ajudam na preparação antes, durante e até depois
do encontro. Mesmo que já sejam adotadas em muitas escolas,
as pautas das reuniões pedagógicas podem ajudar na organiza-
ção do encontro quando são estipulados os tempos máximos
para cada sessão ou tópico a ser tratado no período. Delimitar
uma quantidade limitada de minutos para todos esses assuntos
e discussões, informá-la na pauta junto com o título de cada um
dos temas e, durante o encontro, controlar esse tempo com o
auxílio de um cronômetro é fundamental para que nenhum ponto
fique de fora e todos consigam contribuir com suas opiniões e
informações.

Além de determinar o tempo de cada sessão, as pautas de reu-


niões também ajudam na preparação dos materiais necessários
60 Geekie educação

para as discussões do encontro. Com a disponibilidade de dados


a partir de plataformas digitais, docentes e a coordenação con-
seguem refletir sobre as informações disponíveis e as possíveis
evidências que elas trazem para o processo de aprendizagem.
Uma reflexão iniciada antes da reunião permite que o tema seja
apresentado de forma mais completa e direcionada para as evi-
dências que realmente fazem sentido para as singularidades dos
estudantes.

Se antes da reunião a ideia é preparar as evidências e os demais


dados para o debate, e durante o encontro é preciso seguir o tem-
po estipulado para cada tópico, o ideal é que as discussões gerem
listas de tarefas para os próximos dias até o encontro seguin-
te. Aqui a lógica é entender que nem todos os pontos da pauta
precisam ser debatidos com exaustão ou resolvidos durante o
primeiro encontro. Uma ideia geral das evidências e as possíveis
visões e ações relacionadas a elas podem precisar de mais in-
formações ou testes de hipóteses antes da tomada de decisão.
Como comentado no capítulo 1, as evidências possibilitam a
criação de hipóteses sobre quais são as causas de determinadas
consequências ou qual é a origem de alguns problemas. Quando
educadores e educadoras refletem sobre a informação que têm
às mãos, acabam por criar suposições e hipóteses para testá-la,
comprová-la ou refutá-la com a prática e com os alunos. Assim,
em uma reunião, antes de bater o martelo sobre o significado de
uma evidência, convém combinar uma lista de verificações pas-
síveis de serem feitas na sala de aula: mudar o estilo de atividade
avaliativa, usar recursos adicionais ou diferentes para cumprir
E-BOOK | Dados e evidências para diálogo e decisões pedagógicas 61

com o objetivo de aprendizagem ou mesmo conversar direta-


mente com os alunos e as alunas.

Outro ponto válido a considerar é a priorização das atividades.


O artigo de Érick Nascimento, ao final deste capítulo, relata sua
experiência entre a prática docente e o trabalho na Geekie. Além
do quadro de priorização apresentado por ele, há também no
mercado uma série de metodologias e ferramentas que auxiliam
neste processo. Em geral, priorizar auxilia a ter maior clareza
sobre a importância de cada tarefa. A palavra é, mais uma vez,
visibilidade. Com papéis de anotação autocolantes, os famosos
post-its, é possível elencar todas as atividades possíveis e neces-
sárias a serem realizadas pela equipe da escola. A partir da lista
gerada, as possibilidades de organização dessas tarefas é grande:
é possível criar um calendário em uma lousa e organizar os pra-
zos e datas de entrega de cada uma das tarefas; em um gráfico
com quatro quadrantes, podem-se elencar as tarefas de maior
ou menor prioridade; é possível dividir as tarefas entre grupos
de trabalho para que todos administrem a execução, os prazos e
apresentem as evoluções de cada uma nas reuniões pedagógicas.

A evolução contínua da aula

Como apontado, o principal benefício de dispor de dados e evi-


dências para tomar decisões pedagógicas mais certeiras e con-
cretas é a personalização da aprendizagem. A partir do mo-
mento no qual o professor ou a professora consegue visualizar
quais são as principais dificuldades dos estudantes, ele ou ela
pode adequar suas práticas para melhorar seu desempenho. Se
as aulas expositivas resultaram em um baixo aproveitamento dos
objetivos de aprendizagem pensados para as aulas e as notas da
avaliação comprovaram essa hipótese, é hora de procurar alter-
nativas para essa prática. Vale reforçar que as aulas expositivas
têm, sim, sua importância, mesmo quando estamos falando de
práticas inovadoras na educação. Elas atendem a uma das múlti-
plas inteligências dos alunos, mas é fato que essas aulas podem
se tornar mais dinâmicas e construtivas para os estudantes. É
possível pensar em formas diferentes de expor o conteúdo, com
uma linguagem mais coerente com o perfil dos alunos e com
62 Geekie educação

experiências de vida que estejam diretamente relacionadas ao


contexto deles.

Repensar as aulas e avaliar o próprio processo de aprendizagem


é um exercício que colabora com a evolução das aulas. A cada
nova evidência que os dados colhidos possibilitam surgem novas
possibilidades de adequar o ensino à realidade dos estudantes.
Como cada turma é composta por perfis heterogêneos de alunos
e alunas, a personalização permite, portanto, adequações que
contemplem a diversidade existente dentro da sala de aula. Essa
questão pode até ser uma prática recorrente na realidade de es-
colas que não usam tecnologias para coletar e processar dados
e evidências, porém, como Maroja relatou, os replanejamentos
e as adequações necessárias ao processo de aprendizagem aca-
bam ocorrendo apenas com a disponibilidade das notas, ou seja,
apenas aos finais de ciclos.

A partir dessas possibilidades para o corpo docente, a coorde-


nação e a gestão pedagógica da escola também ganham novas
formas de incentivar o desenvolvimento dos alunos. Se as reu-
niões de conselhos de classe são tão conturbadas como aque-
las relatadas por Maroja, com dados e evidências disponíveis
de forma automática e visível a toda a comunidade escolar os
debates sobre metodologias e práticas para aulas e avaliações
podem ser direcionados de acordo com os perfis de estudantes
existentes nas turmas e na escola. Conhecer o estudante e suas
singularidades é, portanto, o primeiro e fundamental passo para
que a personalização da aprendizagem e a evolução das aulas
seja possível. A partir desta realidade mais palpável, as ações da
E-BOOK | Dados e evidências para diálogo e decisões pedagógicas 63

coordenação e da gestão conseguem ser mais ativas e menos


reativas. Recorrendo a uma comparação já feita aqui: médicos só
realizam procedimentos cirúrgicos quando todos os diagnósticos
estão prontos e completos para uma ação mais precisa do profis-
sional. Com dados e evidências bem apresentados, professores
e professoras podem ter essa mesma precisão no processo de
ensino.

Todas essas possibilidades dependem também de uma revisão


da forma como a teoria acontece na prática. No contexto da
sala de aula o diálogo com os estudantes é a melhor alternativa
para reforçar a noção de corresponsabilidade. De nada adianta
o professor e a professora terem as metodologias e ferramen-
tas mais inovadoras se não é criada uma parceria com alunos e
alunas para que todos juntos possam avançar na aprendizagem.
Ademais, é válido ressaltar que esse processo é também mútuo:
quando os docentes saem da posição de detentores do conheci-
mento para dar posição ativa aos estudantes, todos aprendem.
Sendo assim, há apenas pontos positivos para essas mudanças.
Contudo, a evolução necessita de um diálogo constante, trans-
parente e honesto. Já abordamos a questão da comunicação das
intenções e dos objetivos pedagógicos aos estudantes quando
abordamos as avaliações e atividades avaliativas.

Esses valores não devem, no entanto, estar limitados apenas aos


momentos nos quais as habilidades, as competências e os co-
nhecimentos dos estudantes estão sendo testados. Eles devem
fazer parte do dia a dia das relações que preenchem uma sala
de aula. Aqui há, mais uma vez, uma similaridade possível com
empresas do mercado. O desenvolvimento dos colaboradores é,
em geral, abordado em feedbacks periódicos. Essas conversas
servem tanto para o reconhecimento do desempenho dos traba-
lhadores como para traçar planos e trilhas de desenvolvimento
para que todos evoluam em suas carreiras. Nas escolas, esse
processo pode ser adaptado para que toda a sala, em conjunto,
possa dialogar sobre seus sentimentos, ambições e práticas co-
tidianas. Alunos e alunas terão maior clareza sobre seus próprios
objetivos ao longo do processo de aprendizagem e professores e
professoras terão uma visibilidade ainda maior sobre quais são
as expectativas dos estudantes em relação à prática docente.
64 Geekie educação

GESTÃO DESAFIADORA:
PARECE SIMPLES, E É
Por Érick Nascimento
Gerente de Conteúdo da Geekie

O
nível de responsabilidade
de quem faz gestão nunca é precisam ser apagados: estudante
baixo, nunca é pouco, nunca que se machuca, professor que fal-
é limitado. Quando se trata de gestão ta, mãe de aluno que quer desconto,
escolar, esse nível de complexidade é fornecedor que atrasa uma entrega,
multiplicado, principalmente quando banheiro que entope etc. Esses são
se entende a responsabilidade de apenas alguns exemplos infelizmen-
conduzir uma parcela significativa te cotidianos daquilo que a gestão
da educação de dezenas (às vezes, escolar enfrenta. Diante desse ocea-
centenas; às vezes, milhares) de es- no de imprevistos (além das coi-
tudantes. sas que também já fazem parte da
agenda regular), aparece um texto
Supervisão, coordenação, direção: no InfoGeekie - portal de artigos e
esses são apenas alguns dos termos notícias sobre Educação da Geekie -
mais comuns e mais usados nas es- atribuindo a palavra “gestão” à “sim-
colas como as principais personas plicidade”. Qual é a coerência disso?
que atuam na gestão escolar. Há
muitas outras nomenclaturas, mas, A Geekie não é uma escola, mas é uma
em maior ou menor nível de res- empresa que tem a educação em sua
ponsabilidade, cada qual tem sua gênese, como seu norte, seu objetivo
parcela de contribuição, com várias e ideal. Minha experiência profissional
ações e atividades cotidianas que im- começou como professor, passou pelo
pactam diretamente o processo de mundo editorial e desembocou aqui.
ensino-aprendizagem. Nesta trajetória, fui aprendendo e me
desenvolvendo, mas nada como o que
Quando se diz aqui “várias ações e ocorreu com meu perfil profissional
atividades”, somente quem vivencia nesses anos na Geekie. Tudo isso para
o dia a dia da escola sabe a quan- dizer que, exercendo a função de gestor,
tidade de “incêndios” diários que também enfrento desafios semelhantes
E-BOOK | Dados e evidências para diálogo e decisões pedagógicas 65

aos que ocorrem na escola. Há pes- Com isso, a cada nova atividade
soas autônomas, há pessoas depen- que aparecia, fosse agendada ou
dentes, fáceis e difíceis, há orçamento, imprevista, era necessário dar al-
há textos a serem lidos e escritos, há gum direcionamento, assim eu
comunicações com gente de fora, com conseguia focar naquilo que era
gente de dentro e, apesar de haver uma realmente indispensável. Foi quan-
agenda, sempre há imprevistos. do cheguei ao breve esquema a
seguir:

- urgente + urgente

+ importante esperar priorizar

- importante negar delegar


66 Geekie educação

Para cada interseção de atividade há Ex.: analisar as pessoas que mere-


ações diferentes. Vamos discorrer so- cem promoções salariais.
bre algumas delas:
• Negar: A palavra “não” é trans-
• Priorizar: Há determinadas ações formadora: a quantidade de vezes
que precisam ser executadas ime- em que ela é dita diariamente é
diatamente, não podem esperar. absurda, mas nem sempre ela
Para além desse nível de urgência, é dita da forma mais adequada.
seu nível de importância demanda Com o tempo, as pessoas en-
que elas apenas sejam feitas por tendem o que realmente deve
você. É preciso parar tudo para co- ser levado para a gestão e o que
locar a mão na massa. elas podem (e devem) resolver
sozinhas.
Ex.: a mantenedora quer entender
como anda o orçamento. Ex.: revisar a prova de um professor
antes de sua aplicação.
• Delegar: Existem atividades que
não podem esperar, mas que Como diz o título, gerir parece sim-
apresentam um nível de impor- ples, e é, mas isso não deixa de ser
tância um pouco menor. Essa é menos desafiador por conta de sua
uma das grandes oportunidades simplicidade. Há aqui dois aspectos
de começar a desenvolver tam- dificultadores: o primeiro deles está
bém outras pessoas de liderança, em fazer as pessoas entenderem que
afinal, sucessão é algo premente você precisa priorizar tarefas; é preci-
em qualquer nível de gestão. so que elas também queiram fazer as
coisas (delegar) e saibam ouvir um
Ex.: um pai de aluno aparece de “não”, seja momentâneo (esperar),
surpresa para falar de calendário seja permanente (negar). O segundo
de prova. dificultador se refere ao julgamento:
para cada ação ou atividade que lhe
• Esperar: Atividades que você aparecem, é sua a decisão de julgar
mesmo precisa executar, mas em qual critério elas se encaixam.
que não precisam ser feitas na-
quele momento, merecem es- Muitos desses julgamentos são fei-
tar na sua sala de espera. Dizer tos no dia a dia e já há muito tempo.
“agora não” pode fazer uma gran- O que quisemos trazer aqui é apenas
de diferença, pois ensina os de- uma forma de sistematizá-los. Para
mais a ter paciência, enquanto citar novamente o título: isso é desa-
você pode focar naquilo que é fiador, mas, acredite (falo por expe-
mais urgente. riência própria), muito prazeroso.
E-BOOK | Dados e evidências para diálogo e decisões pedagógicas 67

DO TRADICIONAL AO
MODERNO: COMO
O COLÉGIO PERFIL
POTENCIALIZA O
ACOMPANHAMENTO
PEDAGÓGICO
DOS ALUNOS COM
A TECNOLOGIA

E
mbora com um histórico tra- Ao narrar parte dessa trajetória,
dicional em Lauro de Freitas, a coordenadora geral pedagógica
cidade litorânea da região do Perfil, Zeila Soledade, se emo-
metropolitana de Salvador (BA), o ciona ao falar do propósito e dos
colégio Perfil sempre foi inquieto em desafios superados pelo colégio.
seu meio. Parceira da Geekie desde Ela acredita no potencial de trans-
2015, a escola encara a tecnologia formação da educação e diz que
“como combustível e ferramenta que sempre buscou serviços e recursos
proporciona autonomia para o ser tecnológicos para aprimorar o pro-
empreendedor solucionar proble- cesso de ensino-aprendizagem do
mas e explorar oportunidades em corpo docente e de seus estudan-
um mundo em constante transfor- tes. A coordenadora conta que o
mação”. Este é, na realidade, um dos Perfil já trabalhava com análise de
oito pilares da escola, construídos dados para apoiar decisões peda-
ao longo de seus 34 anos de existên- gógicas antes mesmo de conhecer
cia e que se transformaram em um a Geekie. Confira a entrevista nas
“Manifesto pela Educação Inovativa”. páginas a seguir:
68 Geekie educação

De onde veio a necessidade de O que mudou quando


incluir tecnologia na educação vocês resolveram fazer a
dos alunos do Perfil? parceria com a Geekie?
Zeila Soledade: A escola sempre teve Zeila: Uma coisa que é formidável na
essa veia de mudar, de educar e isso Geekie é o apoio que ela dá. Eu me sin-
não é pelo marketing ou pelo merca- to confortável e apoiada, então, nunca
do; sempre foi pela necessidade que a fiquei insegura ao tomar decisões. A
gente via de uma transformação dos gente sentia da empresa que ela tam-
alunos para viver em sociedade de bém queria que o produto desse certo, é
forma coletiva. uma educação para o outro, e a gente
participou desse processo.
Qual foi o primeiro recurso
on-line que vocês adotaram Qual é o melhor benefício do
na escola e qual era a Geekie One para você e os
intenção de seu uso? professores do Colégio Perfil?
Zeila: A gente começou com um banco Zeila: A plataforma tem dados riquíssimos
de questões de provas: nós as aplicá- que permitem fazer relatórios que ajudam
vamos aos estudantes para analisar a a escola a saber individualmente em que
quantidade de alunos que acertaram nível cada estudante está. Com o relatório
ou não as questões. Uma pergunta que que a plataforma oferece, a estratégia de
11% da turma acertou, por exemplo, ensino pode ser mudada semanalmente.
era usada para instigar o professor a Isso permite que a dificuldade do aluno
pensar na forma como o estudante es- seja percebida de forma mais rápida, dife-
tava aprendendo aquele conteúdo re- rentemente do que acontecia antes, quan-
lacionado ao exercício. A gente queria do essa análise era só feita no final de um
quebrar a concepção de que a culpa é ciclo e não ao longo do processo. Essas
sempre do estudante que não estudou estratégias podem ser refeitas a qualquer
o suficiente e passamos a incomodar o momento. Às vezes um professor passa
professor para que ele pudesse enten- um exercício no final da aula para avaliar
der a forma como estava ensinando. Eu o entendimento e, quando o resultado não
perguntava aos professores: “Ao ler o é muito bom, ele já volta para a segunda
conteúdo, você deu o comando correto aula com uma visão totalmente diferente.
que fizesse o aluno entender o exercí-
cio e depois aplicar o conhecimento?”. Como é a dinâmica entre os
O professor precisava entender que o dados que vocês conseguem
conteúdo da avaliação precisava ser coletar e os estudantes?
bem trabalhado antes da aula. Neste Zeila: A partir dos resultados obtidos, o
processo, alguns alunos ficavam frus- grupo de estudantes é convidado a com-
trados, mesmo tendo estudado muito parecer no período da tarde para uma
para as avaliações. conversa com o coordenador da área da-
E-BOOK | Dados e evidências para diálogo e decisões pedagógicas 69

quela disciplina. Nessa conversa, o coor- mento direto no Geekie One dos filhos.
denador aborda estratégias de estudos e Nosso coordenador os ensina a entrar
interpretação de textos, passa exercícios no aplicativo, pelo celular mesmo, e
adicionais e até oferece o suporte de um fazer esse acompanhamento. A gente
orientador pedagógico para que o aluno destaca que não é preciso fazer isso
ou a aluna possa elaborar uma grade todo dia, como uma obrigação, e gerar
horária de estudos para se dedicar da uma cobrança, mas, se o familiar faz
melhor forma possível. esse acompanhamento semanalmente,
quem sai ganhando é o próprio filho.
E como você envolve os
familiares nas análises de Assista ao depoimento da Zeila no
desempenho dos estudantes? Youtube:
Zeila: Nas reuniões com os pais, nós os
aconselhamos a fazer o acompanha- https://os.geeki.es/ColegioPerfil
Pósfacio

Nenhum caminho
precisa ser
trilhado sozinho
E-BOOK | Dados e evidências para diálogo e decisões pedagógicas 71

Uma barreira à adoção de novas tecnologias pelas


escolas é o “como fazer?”. Afinal, contratar uma plataforma di-
gital é suficiente para que o peso do tempo seja diluído? Do dia
para a noite a inovação será implementada e tudo será resolvido?
Adotar um material didático apenas digitalizado para caber em
um celular é o caminho para desenvolver a competência de cul-
tura digital da BNCC?

As perguntas são sempre inúmeras e a falta de proximidade dos


gestores, coordenadores ou coordenadoras e do corpo docente
com a tecnologia pode ser um dos fatores que mais contribuem
para que a inovação não chegue de fato e com intencionalidade
pedagógica até os alunos e alunas. Toda essa jornada pode pare-
cer, em um primeiro momento, complexa e inalcançável. Porém,
quando ela é compartilhada e a responsabilidade passa a ser
não só da comunidade escolar, mas também de uma empresa
parceira, a evolução para um modelo moderno de educação se
torna possível e, principalmente, construtiva e valiosa.

Dispor de dados e construir evidências para aprimorar o proces-


so de aprendizagem é tornar visível os muitos retratos possí-
veis da educação. Todo esse caminho, no entanto, é permeado
por diversas etapas ainda invisíveis, como a de decodificar as
informações ou a de transformar teoria em prática e esforço
em evolução.

A Geekie acredita que, para tornar o aprendizado mais ativo,


significativo e efetivo, é preciso tornar visível o invisível. Por
isso, a empresa busca oferecer transparência ao processo de
aprendizagem, contribuindo com evidências concretas para a
evolução de cada jovem e criança com o Geekie One. Todo esse
trajeto, no entanto, não é feito de forma isolada pela comunidade
escolar. O caminho é trilhado em uma parceria entre a Geekie e
as escolas. A comunidade escolar, nossos consultores especiali-
zados e todos os profissionais que estão por trás do Geekie One:
juntos traçamos, trilhamos e avançamos na jornada de tornar vi-
sível o invisível e a tecnologia, uma grande aliada da educação.

Conheça mais sobre o Geekie One e venha fazer parte desse mo-
vimento pela transformação da educação.

www.geekie.com.br/geekie-one
72 Geekie educação

Equipe

Quem contribuiu
neste e-book
Cláudio Sassaki

Como cofundador e CEO da Geekie, empresa referência em


educação inovadora no Brasil, nos últimos sete anos Sassaki
tem atuado com estudantes e educadores no desenvolvimen-
to de iniciativas inovadoras que potencializam a aprendiza-
gem.Sassaki é graduado em arquitetura pela USP e mestre
em educação pela universidade de Stanford. Entre outros
reconhecimentos, Sassaki recebeu os títulos de empreende-
dor global Endeavor, Empreendedor do ano pela Ernst Young,
Empreendedor social pela Fundação Schwab e Innovation Fellow
pela Wired Magazine. Já enquanto speaker teve a oportunidade
de contribuir para eventos como o Fórum Econômico Mundial,
a conferência global de educação de Harvard, SXWEdu, Citizen
Education e TEDx. Ele ama esportes e vive em São Paulo com
sua esposa e quatro filhos.

Alex Contin

Jornalista, bacharel em Ciências Econômicas (Unicamp) e mes-


tre em Divulgação Científica e Cultural pelo Laboratório de
Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor/Unicamp). Possui
experiência em produção de material didático para Ensino
Superior e é apaixonado por comunicação e educação. Em 2017
iniciou a graduação em Letras, na Universidade de São Paulo, e
atualmente atua como editor do InfoGeekie, portal de notícias
e artigos da Geekie, e se dedica ao estudo das relações entre
educação, mídia e economia.
E-BOOK | Dados e evidências para diálogo e decisões pedagógicas 73

Glauci Oliveira

Licenciada em Ciências Biológicas pela EFRPE e pela Macquarie


University, mestranda em Educação pela Faculdade de Educação
da USP (FEUSP), dentro da área de Letramento Científico,
Matemático e Tecnológico, sob orientação do Professor Agnaldo
Arroio. É integrante do projeto Desenvolvimento Educacional de
Multimídias Sustentáveis (Demults), que tem como principal obje-
tivo estimular o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação
no âmbito escolar, por meio de metodologias participativas.

Érick Nascimento

Formado em Letras pela UFC, tem mestrado em Literatura


Comparada pela mesma instituição. Após anos de experiência na
sala de aula, em que atuou desde o Ensino Infantil até o Ensino
Superior, tornou-se coordenador pedagógico-editorial em um siste-
ma de ensino. Atualmente gerencia o time de conteúdo da Geekie.

Paulo Bitencourt

Mestre em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro


(UFRJ) e bacharel e licenciado em História pela mesma institui-
ção. Possui mais de 12 anos de vivência em sala de aula (como
professor de Ensino Fundamental, Ensino Médio e Pré-Vestibular
em escolas particulares). É pesquisador das áreas de ensino de
História, currículo e formação de professores. Atualmente traba-
lha como designer pedagógico na Geekie.

Cláudio Maroja

Professor de Química com 21 anos de experiência nas redes pú-


blicas municipal e estadual e mestre em Ensino de Ciências e
Matemática, focado na área de estudo “Currículo Nota 10”, pela
Universidade Cruzeiro do Sul. Também atuou como coordenador
pedagógico na rede pública de ensino e atualmente atua como
Gerente de Avaliações na Geekie.
74 Geekie educação

Referências

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perigos, estratégias. Tradução de Clemente novo tipo de startup, as legaltechs, desenvolve
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Rio de Janeiro: DarkSide Books, 2018. Pesquisa Fapesp. Ed 271. São Paulo: Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, 15 out.
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Brasília: Ministério da Educação, 2017.
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16 TUNES, Suzel. Imitação do cérebro: Inteligência


artificial nasceu como campo científico nos anos
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In: Pesquisa Fapesp. Ed 275. São Paulo: Fundação
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Avaliação na escola: uma análise
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8 MCKINSEY. A future that works: Automation, instituto dedicado a estabelecer parcerias entre
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Disponível em: <https://mck.co/2tGoTpj> (em inglês). Pesquisa do Estado de São Paulo, 21 jan. 2019.
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11 SCHWAB, Klaus. The Fourth Industrial


Revolution: what it means, how to respond. Fórum
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em: <https://bit.ly/1pBfye4> (em inglês).
www.geekie.com.br

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