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preciso-ensinar-a-ler-textos-sem-palavras

Publicado em NOVA ESCOLA 01 de Janeiro | 2010

Prática Pedagógica

Em Arte, é preciso
ensinar a ler textos sem
palavras
Para explorar fotografias, pinturas, ilustrações e charges,
é preciso saber a gramática própria que rege a linguagem
visual e contextualizar as condições de produção de cada
obra estudada
Michele Silva

Textos não são só aqueles formados por palavras e frases, que se encadeiam
para ganhar sentido. Os grafites nas ruas, os comerciais da TV e as pinturas
em livros e obras de arte são formados por sinais que precisam ser
decodificados, lidos, para serem compreendidos. Somados aos textos verbais,
essas linguagens ajudam os alunos a interagir com o mundo e a se expressar
melhor.

Mesmo assim, por muito tempo, o ensino de Arte praticamente


desconsiderou a necessidade de trabalhar a leitura de imagens e outros
gêneros próprios da disciplina, sejam eles visuais, sonoros, corporais e, claro,
textuais (leia o quadro abaixo). Ainda hoje, a regra geral de boa parte das
escolas é colocar os alunos para produzir sem que eles tenham um
conhecimento adequado das obras artísticas. "Com essa ansiedade para pôr
a mão na massa, surgem atividades sem nenhuma contextualização", diz
Paola Zordan, professora da Licenciatura em Artes Visuais da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Da multiplicidade de gêneros presentes na disciplina, a leitura de imagens é a


mais frequente (leia o infográfico). Fotografias, pinturas, desenhos e charges
são expressões artísticas com características próprias, que precisam ser
discutidas com a turma para que as obras sejam realmente lidas e não
"adivinhadas" - a clássica atividade de mostrar um quadro e mandar, logo de
cara, a pergunta "o que o artista quis dizer?" pouco acrescenta ao repertório
artístico da turma (leia a sequência didática ). Em vez disso, você deve
procurar auxiliar cada aluno a desenvolver o chamado olhar cultural, em que
conhecimentos estéticos, antropológicos, históricos e científicos estão a
serviço de uma compreensão da obra de arte que vá além das aparências ou
do simples "gostei" ou "não gostei".

Na prática da sala de aula, a leitura em Arte se dá em cinco etapas principais.


A inicial é aquela em que se tem a percepção geral da obra, o resultado do
trabalho do artista - é o que os especialistas denominam de aquecimento do
olhar. Um mergulho mais profundo é realizado nas três fases seguintes -
descrição (a desconstrução da imagem), análise (a investigação sobre os
meios utilizados) e interpretação (hipóteses sobre o significado da obra,
considerando a vida do artista e as condições em que a obra foi produzida,
ou seja, as informações de contexto). Apenas depois de tudo isso é que o
aluno realiza uma nova produção, inspirada pela obra lida - é o momento da
releitura (atenção: não se trata de reprodução da obra), que pode ser mais
bem desenvolvida com a ajuda de anotações e comentários.

Gêneros privilegiados em Arte

Imagem Realizadas com base em uma gramática característica - a visual -,


utilizam formas, cores, volumes e texturas para construir um sentido.

Diferentemente dos textos verbais, que impõem uma forma de leitura - da


esquerda para a direita, começando pelas primeiras palavras -, a leitura de
uma obra visual é mais subjetiva e requer que o leitor use sua experiência,
sua sensibilidade e seus recursos cognitivos para atribuir significados.

Texto verbal Também presentes em Arte, devem estar, de algum modo,


relacionados ao objeto cultural apreciado, já que seu estudo tem como
objetivo principal promover a ampliação de repertório da turma e a
intertextualidade, trazendo elementos como informações sobre a origem e a
intencionalidade do artista. É um terreno fértil para explorar biografias e
movimentos, resenhas de exposições, filmes e mostras, catálogos de museus
e depoimentos.

Filme Os que têm como tema a vida e a obra de algum artista também
podem contribuir para que a classe compreenda melhor o percurso de
criação e o contexto da produção. Atenção, porém, para filmes muito
romanceados, que podem acabar mistificando o artista e reforçando rótulos,
como o do gênio que cria obras por mágica.

Descrever, analisar, interpretar

Na EMEF Guilherme de Almeida, a turma da 6ª série desenvolve as três


etapas de leitura da obra Moça com Livro, de Almeida Júnior (1850-1899)
Interpretação Hipóteses sobre o significado: a
postura da menina remete a uma cena de
lazer, seu ar pensativo ao marcar a página do
livro pode indicar que ela leu um trecho que a
fez devanear

Descrição Indica o que é perceptível na


imagem: a menina está deitada na grama,
possivelmente em um parque ou jardim, usa
Moça com Livro, de Almeida Júnior.
Foto: Samuel Esteves
camisa pouco abotoada, tem os olhos voltados
para o alto e bochechas ruborizadas

Análise Diz respeito aos aspectos formais da obra: a pintura é realista, a


figura da menina ocupa o primeiro plano e tem cores claras, com exceção das
bochechas e lábios, em contraste com o fundo escuro

Contar o que se vê e como se vê e imaginar significados

Vamos detalhar melhor cada um desses passos. No primeiro contato do


aluno com a obra, vale a receita óbvia e essencial: fazer um levantamento
prévio com os estudantes do conhecimento sobre o objeto cultural e deixar
claros os objetivos da atividade. "Também chamado de envolvimento para a
leitura, esse momento pode contar com elementos de apoio, como uma
música ou um poema ligado ao tema", sugere a professora Anamelia Bueno
Buoro, doutora em Comunicação e Semiótica e professora de Estética e
História da Arte e da Tecnologia na Faculdade Senac.

Nesse momento, esteja preparado para acolher uma multiplicidade de


pontos de vista. Afinal, a vivência de cada um interfere na primeira
impressão: um jovem pode relacionar a imagem com outras já conhecidas ou
com algum fato experimentado, evocando sentimentos tão distintos quanto
alegria, tristeza e prazer. Peça que os alunos registrem, individualmente, suas
impressões nos cadernos, listando as primeiras palavras que lhes vêm à
cabeça.

A socialização dessas anotações pode iniciar a leitura mais pormenorizada da


obra escolhida. Para fazer essa investigação com a turma da 6ª série na EMEF
Guilherme de Almeida, na capital paulista, a professora Cleide Maria de Lima
pede que os alunos construam listas, com frases curtas ou mesmo palavras-
chave, sobre características da imagem. As perguntas são a base dessa etapa:
o que seus olhos veem? São pinturas, desenhos ou fotografias? Que
elementos mais se destacam: objetos, pessoas, imagens indefinidas?

Perceba que todas as questões seguem uma linha clara: elas contribuem para
que se pense nos aspectos descritivos, ou seja, tudo aquilo que está ao
alcance dos olhos. Na prática, porém, a linha que divide a descrição da análise
é tênue. Por isso, as duas atividades podem se misturar na fala dos alunos
durante a prática da leitura. Cabe a você ir separando suas falas em duas
colunas diferentes no quadro, por exemplo, conforme a característica de
cada uma.

Se a descrição diz respeito à enumeração dos elementos mais visíveis do


quadro - o que se diz -, a análise deve focar os elementos formais da
linguagem artística - o como se diz. "Desenvolver a habilidade de análise
significa descobrir como linhas, formas e cor se organizam no espaço da obra
para comunicar algo", define Anamelia.

A composição é abstrata ou figurativa? O espaço é bidimensional,


tridimensional ou plano? Existem linhas na imagem? De que tipo: retas ou
curvas, finas ou grossas? A opção por um tipo de cor (quente, fria, clara,
escura) está ligada ao horário do dia ou estação do ano? E quanto às texturas:
alguma camada passa a sensação de maciez, dureza, lisura ou aspereza? O
trabalho é complementado com a análise de outros elementos formais da
linguagem visual - formas, luminosidade, técnicas, gênero (retrato, paisagem,
natureza-morta) e estilo a que a obra pertence.

O momento seguinte, a contextualização, é especialmente necessário quando


se realiza a leitura de gêneros como a charge. Por ser uma imagem que trata,
geralmente, de algo factual e perde o sentido logo após a criação, artigos de
jornais ou livros e revistas que tenham relação com o momento retratado no
desenho são fundamentais para a compreensão do significado do desenho.
Atenta a essa especificidade, a professora Betania Libanio, da EMEF
Presidente Kennedy, em São Paulo, recorre a esses gêneros textuais para
ajudar os alunos a compreender a leitura de charges. "Numa das atividades,
peço que a turma navegue pelo jornal selecionando reportagens e marcando
informações que possam contribuir com a interpretação. Isso é importante
principalmente quando o assunto é política, mais distante da turma", afirma.

As informações de contexto também podem favorecer a intertextualidade - o


diálogo entre diferentes produções. Nas turmas de 5ª e 6ª séries do Colégio
de Aplicação da UFRGS, em Porto Alegre, as professoras Nina Loguercio e
Claudia Campos combinaram a leitura do quadro Os Comedores de Batatas,
de Van Gogh (1853-1890), com outras obras que retratavam alimentos, como
Feliz Aniversário, de Fernando Botero. "Ficou claro que havia múltiplas
possibilidades: enquanto Van Gogh retrata a miséria dos camponeses da
Holanda, a natureza-morta de Botero remete à fartura de um banquete",
afirma Nina.

O fim da leitura é uma volta à imagem: uma nova observação à luz do trajeto
percorrido. A interpretação pode ser feita com a produção de um comentário
- o detalhe importante é que as impressões pessoais devem estar
acompanhadas de informações descritivas e analíticas sobre a obra. Outra
opção é promover novas produções artísticas inspiradas pela leitura. Tanto
melhor se a atividade terminar numa exposição para colegas e pais, o que
confere mais sentido ao processo e permite compartilhar a riqueza das
criações estimuladas pela leitura em Arte.

Procedimento de estudo - Comentário

Produzido após a leitura, esse tipo de texto conjuga informações de todas as


etapas do processo com a opinião de quem escreve

Visão pessoal: nos comentários da turma


da professora Nina, o juízo de valor é
embasado pela descrição e análise da
obra estudada. Foto: Fabrício Barreto

Para a areia, um outro tom de verde para o barquinho que é uma vagem de
ervilhas e usou a luz de uma lanterna atrás do queijo e do presunto para
fazer o sol. Esta imagem ficou muito legal e o alaranjado deu um toque de
por-de-sol. Usar salmon foi um a ideia bem diferente.

Em Arte, o comentário é o texto que amarra a leitura. Costurando as


informações que surgiram de forma solta e deram origem a listas de
descrição, análise e interpretação, o aluno retoma o que foi conversado
durante a leitura coletiva e organiza o seu aprendizado, podendo ainda
exprimir sua opinião. Mais do que dizer "gostei, não gostei", o aluno deve
escrever sobre o que a imagem mostra, que sensações provocou nele e que
elementos foram usados pelo artista para produzir tal efeito. Avaliando, por
exemplo, que cores são utilizadas (elas são fortes e variadas para demonstrar
alegria ou escuras para remeter à tristeza?). O comentário ainda pode conter
informações sobre o contexto de produção da obra e sobre o autor. Para
auxiliar na construção desse texto, anotações e listas concebidas com base na
leitura devem estar sempre à mão. Possibilitar o fácil acesso ao máximo de
dados disponíveis é um recurso útil na elaboração da composição, evitando
que seja preciso puxar tudo de memória ou voltar o tempo todo às fontes de
pesquisa.

Quer saber mais?

CONTATOS
Colégio de Aplicação da UFRGS, Av. Bento Gonçalves, 9500, Prédio 43815, 91501-970, Porto Alegre, RS, tel. (51)
3308-6977
EMEF Guilherme de Almeida, R. Faustino Paganini, 647, 03732-010, São Paulo, SP, tel. (11) 2641-0956
EMEF Presidente Kennedy, R. Acuruí, 700, 03355-000, São Paulo, SP, tel. (11) 2673-3014

BIBLIOGRAFIA
As Senhoritas de Nova York, Daniel Piza, 96 págs., Ed. FTD, tel. (11) 3598-6200, 30 reais
Coleção Arte na Escola - O Leitor de Imagens , Anamelia Bueno Buoro, Beth Kok e Eliana Aloia Atihé, 64 págs.,
Companhia Editora Nacional, tel. (11) 2799-7799, 26,90 reais

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