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Alexandre Bacelar
Físico do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e professor da Pontifícia Universidade Católica - Rio
Grande do Sul (PUCRS), Instituto de Física
Alessandro Mazzola
Físico do Moinhos Centro de Imagem de Porto Alegre
RBM Mar 99 V 56 N 3
Introdução
É difícil precisar o início das aplicações da física em Medicina, pois desde a Antiguidade, a procura de um entendimento profundo do funcionamento
do corpo humano já relacionava essas duas áreas. Entretanto, foi a descoberta dos raios x por Roentgen, em fins de 1895, e a quase imediata
aplicação dessas radiações para a visualização de partes internas do corpo que marcaram o início da física médica como é conhecida hoje.
A evolução recente da tecnologia em medicina foi intensamente pautada por aplicações de conceitos e métodos da física, tornando imprescindível
a atuação constante de físicos em medicina. No setor de saúde, os físicos-médicos atuam na radioterapia, na medicina nuclear e no
radiodiagnóstico.
Em relação à radiologia diagnóstica, existem 14.800 instalações distribuídas nas cinco regiões do Brasil, mas são poucos os Estados que possuem
regulamentos ou política de proteção radiológica. Neste sentido, recentemente (1998) foi publicada a Portaria 453, do Ministério da Saúde(1), que
estabelece as diretrizes básicas de proteção radiológica em radiodiagnóstico médico e odontológico e dispõe sobre o uso dos raios x-diagnóstico
em todo território nacional. Nessa portaria do Ministério da Saúde, bem como em informes da Comissão Internacional de Proteção Radiológica(2)
especial atenção tem sido dada à paciente em período de gestação. Tendo em vista a importância desse assunto, foi elaborado esse artigo que
trata de métodos para proteção e segurança de pacientes grávidas, quando submetidas a exames radiológicos.
Pacientes grávidas
A proteção de pacientes durante a gravidez é particularmente importante porque os exames radiológicos da região abdominal de
mulheres grávidas produzem com frequência a irradiação do feto inteiro. Como a radiação ionizante produz efeitos determinísticos,
para os quais não existe limiar de dose, então o paciente exposto, bem como o feto têm um aumento na probabilidade de incidência
de câncer e de produção de anomalias fetais, inclusive retardo mental. De acordo com informe da ICRP(2), os riscos radiológicos,
como resultado de irradiação no útero, podem iniciar em torno da terceira semana após a concepção e continuar até a 25ª semana.
Para irradiações entre a terceira e a oitava semana, o detrimento da radiação pode ser expresso como mal formação de órgãos
específicos. Para irradiações entre a oitava e a 25ª semana, o dano de irradiação pode ser expresso na forma de um
desenvolvimento deficiente do prosencéfalo, levando a um retardamento mental. O risco é maior no período entre a 8ª e a 15ª
semana do que no período entre a 16ª e a 25ª semana. Além disso, dados recentes são compatíveis com um limiar de dose
absorvida abaixo do qual retardamento mental sério pode não ser induzido. Entretanto, a literatura associa o aumento do risco de
câncer na infância com irradiações no útero em qualquer período de concepção.
Tendo em vista a importância de exames radiológicos em pacientes durante o período de gestação, procurou-se na literatura
(1,2,3,4) métodos de controle da exposição à radiação X, a fim de reduzir a frequência de exposições no feto, os quais são a seguir
relacionados:
a) Recomenda-se, como primeiro método, a colocação de placas de orientação na entrada de cada sala de exames que utilizam
aparelhos de radiodiagnóstico, com a seguinte orientação: "Mulheres Grávidas ou com Suspeita de Gravidez: Favor Informarem ao
Médico ou ao Técnico Antes do Exame"
b) Deve ser evitada a realização de exames radiológicos com exposição do abdome ou pelve de mulheres grávidas ou que possam
estar grávidas, a menos que existam fortes indicações clínicas. Informação sobre possível gravidez deve ser obtida da própria
paciente. Se a mais recente menstruação esperada não ocorreu e não houver outra informação relevante, a mulher deve ser
considerada grávida
c) Para reduzir ao mínimo a dose, devem ser utilizados filmes radiográficos e écrans de grande velocidade.
Uma desvantagem desse sistema filme-écran é a redução significativa na resolução da imagem, devido ao aumento do fator de
intensificação. Entretanto, pode-se utilizar outras técnicas a fim de melhorar a qualidade do sistema sem que haja o aumento da
dose na paciente
d) Empregar técnicas sem grades antidifusoras e blindagem parcial do feto nas projeções ântero-posteriores e lateral, isso poderá
levar à redução na dose no feto
e) Em condições normais se deve irradiar somente uma vez a paciente. Mas, se os fatores técnicos não forem suficientes para
visualizar adequadamente a parte anatômica, prefere-se, então, a aplicação de uma técnica radiográfica de kVp alto sobre a técnica
com tempo de exposição alta, devido à redução da dose recebida pela paciente
f) Radiografias em áreas distantes do feto podem ser realizadas sem nenhum problema em qualquer período de concepção, porém é
necessária a utilização de protetores na região abdominal
g) Em radiografia obstétrica é importante a rigorosa colimação do feixe de radiação. Os dispositivos de colimação mais utilizados
são cones, cilíndros, diafragmas e colimadores ajustáveis dotados de luz localizadora. A colimação é utilizada para restringir o
campo na paciente a que se deseja radiografar com isso, evita-se exposições desnecessárias em tecidos e órgãos adjacentes, e
reduz-se a radiação secundária, que tanto prejudica a qualidade radiográfica. Além disso, os exames obstétricos devem ser
planejados individualmente para responder ao problema clínico
h) Quando da avaliação da maturidade fetal ou localização da placenta, a ultra-sonografia é preferível aos exames radiográficos
i) A radiografia pelvimétrica somente deve ser realizada em raras ocasiões em que é realmente importante, e não como rotina
médica
j) O clínico ou médico radiologista deve determinar a data do ciclo menstrual prévio da paciente, para assegurar a não irradiação da
mesma. Além disso, um procedimento alternativo é fazer com que a paciente informe o dia do seu último ciclo menstrual
l) Como sugestão final, apresentamos, a seguir, um formulário(3) o qual a paciente deverá responder antes da realização de cada
exame radiográfico.
Quando uma paciente, em período de gestação, é irradiada, algumas providências devem ser tomadas, tais como:
b) Caso a dose fetal esteja acima de 5 mGy, será necessário uma avaliação dosimétrica mais completa. O Quadro 1, obtido da
referência(3), apresenta as doses em diferentes exames radiográficos. Esse quadro poderá ser utilizado na avaliação da dose
c) Conhecida a dose fetal, o médico encarregado e o radiologista devem determinar a fase de gestação no momento da exposição.
Com essas informações, o caso pode ser analisado, levando-se em consideração o que consta na referência(3):
1. "O dano no recém-nascido é improvável para doses fetais inferiores a 250 mGy, todavia alguns profissionais na área sugerem
que doses inferiores podem causar anomalias no desenvolvimento mental"
2. "Uma estratégia é aplicar a regra de 100 mGy a 250 mGy. Abaixo de 100 mGy não está indicado o aborto terapêutico, a menos
que existam circunstâncias adicionais. Acima de 250 mGy, o risco de lesão pode justificar um aborto terapêutico. Quando a dose
estiver entre 100 mGy e 250 mGy deve ser considerado cuidadosamente o momento exato da irradiação, o estado emocional da
paciente, o efeito de um filho sobre a família e outros fatores sociais e econômicos".
d) Como medida de segurança adicional, fazer uma revisão completa das técnicas radiográficas adotadas no serviço de radiologia.
Conclusões
Tendo em vista o risco em potencial para o feto durante exames radiológicos em pacientes grávidas, consideramos que quando uma
mulher grávida é exposta ao feixe primário de radiação, devem-se tomar medidas especiais de segurança para verificar se o exame
é realmente necessário ou se poderia ser adiado para depois da gravidez. Algumas vezes o risco da radiação para o feto pode ser
muito pequeno, cabendo ao médico decidir pela irradiação da paciente, levando sempre em consideração o risco e o benefício
oriundo do exame. Entretanto, deve-se tomar o cuidado de não expor desnecessariamente o feto. Para reduzir a dose no feto,
recomenda-se a adoção das medidas aqui sugeridas, além de diminuir o tempo de exposição e o número de radiografias.
Recomenda-se também que outros métodos alternativos de exames não devem ser realizados quando estes não trarão qualidade
diagnóstica satisfatória.
Bibliografia
1. Portaria 453 de 1 de junho de 1998 do Ministério da Saúde: Diretrizes Básicas de Proteção Radiológica em Radiodiagnóstico
Médico e Odontológico.
2. Comité 3 da la Comisión Internacional de Protección Radiológica, Proteccion del Paciente em Radiodiagnostico, Organizacion
Panamericana de la Salud y Organizacion Mundial de la Salud, 1987, pp 2-109.
3. Bushong, S. C., Radiologic Science for Technologists - Physics, Biology, and Protection, Mosby/Doyma Libros, Washington, D.C.,
5° edição, 1993. pp 3-710.
4. Radiation Protection - Recommendations of the International Commission on Radiological Protection - ICRP 60, Pergamon Press,
1990. pp 12-247.