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MENSAGEM NESTE NUMERO

MENSAGEM DE INSPIRAÇÃO 2
DE Theodore M. Burton
A REVISTA DESTE MÊS 3
INSPIRAÇÃO A VERDADEIRA IGREJA 4
Élder LeGrand Richards
LUCY MACK SMITH .. 8
Theodore M. Burton
Jayann Payne
0 TESTEMUNHO DE JESUS 16
Élder Bruce R. McConkie
SALVAÇÃO E EXALTAÇÃO 18
mundo necessita é da direção de um profeta

0
Élder Theodore M. Burton
verdadeiro que, conhecendo o pensamento e a
vontade de Deus, pode falar em nome dele com 0 HORIZONTE ETERNO 20
poder e autoridade, dizendo: — Assim diz o Senhor! Élder Joseph Anderson
E esse dia chegou! Não veio pela sabedoria do GINO E 0 ESTRANHO 23
homem, mas em resposta a uma singela oração de Bernadine Beatie
Joseph Smith, um rapaz residente no Estado de Nova
RUTH 27
York, que entrou num bosque perto de Palmyra, a fim
Mary L. Lusk
de simplesm ente indagar de Deus: "Qual igreja está
certa?" Esse adolescente não fazia a mínima idéia de De Um Amigo Para Outro 28
que estava para começar uma nova dispensação da Élder James E. C ullim ore
m isericórdia e bondade de Deus. Naquela época, não PARA DIVERTIR 30
havia na terra um profeta vivo que o ouvisse. Deus
Use Aquilo Que Tem 31
não dispunha de nenhum meio de responder à sua per­
Robert K. Thomas
gunta, a não ser que o fizesse pessoalmente.
Atendendo àquela sim ples oração, dois persona­ PERGUNTAS E RESPOSTAS 32
gens apareceram a Joseph Smith. Um deles falou e, Água Oue Faz Andar as Rodas 36
apontando para o segundo, apresentou-o com estas pa­
Ela Ainda Ensina do Passado 38
lavras: “ Este é o meu Filho Amado. Ouve-o!" {Jo­
seph Smith 2:17) Foi o próprio Jesus C risto vivo e
Beth C. Paullin
ressurrecto, o Filho de Deus, quem instruiu Joseph DAVID 0 . MAcKAY. . . 41
Smith, dando, assim, início a uma nova dispensação do Leon R. Hartshorn
genuíno conhecimento de Deus. Ele disse a Joseph que
nenhuma igreja então existente na face da terra tinha
autoridade para falar em seu nome. Explicou-lhe ainda
que, depois de devidamente preparado e de haver re­
cebido a autoridade sacerdotal, ele, Joseph, seria o p ri­ CAPA
meiro de uma série de profetas vivos em nossa era,
capa deste número reproduz um retrato

A
os quais deviam instru ir e abençoar a humanidade, exa­
tamente como faziam os profetas do passado. pintado de Lucy Mack Sm ith, esposa do
Presto-vos meu sagrado testemunho de que Deus patriarca da Igreja, Joseph Sm ith Sr., e
vive, que Jesus C risto é o seu Filho vivente — nosso mãe do Profeta Joseph Sm ith Jr. Ela devia ter
Salvador, nosso Senhor, nosso rei. Testifico-vos que então uns quarenta e cinco a cinqüenta anos
Jesus C risto fala hoje em dia aos habitantes do mundo de idade, e o quadro m ostra a fam ília Smith
através de profetas vivos. Testifico que o Sacerdócio aguardando a volta de Joseph Jr. de uma de
de Melquisedeque está novamente sobre a terra em suas visita s ao M onte Cumora. A pintura é de
toda a sua majestade e poder, e que existem agora autoria de Howard Post, da equipe de dese­
apóstolos e profetas autênticos, que podem dizer e nhistas do Ensign, a revista da Igreja para
realmente o fazem: — Assim diz o Senhor! adultos, em inglês.

2 A LIAHONA
A REVISTA
P ublicação M e n sa l d 'A Ig re ja de Jesus C ris to
dos S antos dos ú ltim o s Dias DESTE MÊS
A PRIMEIRA PRESIDÊNCIA
H arold B. Lee
N. Eldon Tanner
M a rio n G. R om ney
CONSELHO DOS DOZE
S pencer W . K im b a ll
Ezra T a ft Benson
M a rk E. P etersen
D e lb e rt L. S taple y
LeGrand R ichards
Hugh B. B row n
H ow ard W . H u n te r
G ordon B. H in c k le y
Thom as S. M o nson
Boyd K. Packer
M a rv in J. A s h to n
Bruce R. M c C o n k ie
CENTRO EDITORIAL BRASILEIRO
R. São Tom é, 520 - V. O lím p ia este mês comemoramos a organização
CP 19079, São Paulo, SP ■ Tei. 80-9675 - 282-5948
EDITOR d ’A Igreja de Jesus C risto dos Santos dos
O s iris G ro bel C abral Ú ltim os Dias, ocorrida a 6 de abril de
REDATOR
1830. De seu hum ilde início, com apenas seis
W ils o n R oberto G om es
ESTACA SÃO PAULO mem bros o ficia is, a Igreja cresceu, tornando-se
R. B rig. Faria Lim a, 1980, São Paulo, SP uma organização de âm bito mundial, com mais
ESTACA SÃO PAULO LESTE
R. Ib itu ru n a , 82, São Paulo, SP
de três m ilhões de m embros. Nos doze anos
CORRESPONDENTE de 1960 a 1972, a congregação tota l da Igreja
D ante T. J. Pantiga
aumentou noventa e quatro por cento, com um
ESTACA SÃO PAULO SUL
R. C ate quese , 432, S anto A n d ré , SP crescim ento percentual de duzentos e cin­
CORRESPONDENTE qüenta fora dos Estados Unidos.
A lfio Benassi
ESTACA DE CURITIBA A apostasia da verdadeira igreja de C risto
R. G o ttlie b M u lle r, 96, C u ritib a , PR e sua subseqüente restauração e progresso,
M IS S Ã O BRASIL CENTRAL NORTE
foram profetizados tanto no Velho como no
R. H e n riq u e M o n te iro , 215
CP 20.809, São Paulo, SP - Tel. 80-4638 Novo Testam ento. Nosso p rim eiro artigo é um
CORRESPONDENTE sermão do Élder LeGrand Richards, que trata
L ym a n .D a ry n
M ISSÃ O BRASIL CENTRAL SUL dessas profecias e respectivo cum prim ento.
R. E rne sto P e lo s in i, 88 - S.B.C.; S.P. Temos igualm ente o prazer de apresentar-
CORRESPONDENTE
John S. B ickm o re lhes neste número — "Lucy Mack Sm ith: Uma
M IS S Ã O BRASIL SUL M ulher de Grande Fé." É um vislum bre do
R. P rincesa Isab el, 342
CP 1513, P orto A le g re , RS - Tel. 23-0748 aspecto pessoal na h istó ria da Igreja — fatos
CORRESPONDENTE de uma m ulher notável, a mãe do Profeta. M ui­
M a uro G. de F re ita s
M ISSÃ O BRASIL NORTE
tos dos acontecim entos da restauração são
R. S tefa n Z w e ig , 158, L a ra n je ira s vistos através dos olhos dela, sendo m encio­
CP 2502, ZC-00, Rio de J a n e iro , GB - Tel. 225-1839
nada também a vida fa m ilia r da infância e ado­
CORRESPONDENTE
A lfre d o H, Lem os lescência do Profeta.
CONSTRUÇÃO GERAL NO BRASIL
O presente número inclui ainda vigorosos
R. Itapeva, 378, São Paulo, SP - Tel. 288-4118
e m otivadores serm ões dos élderes Bruce R.
A LIAHONA Edição brasileira do "The U nified M agazine" d 'A Igreja de Jesus C ris to dos Santos dos Ú ltim os D ias,’
acha-se registrada sob o número 9J do liv ro B, n.: 1. de M atrícula s de O ficina s Im pressoras de Jornais e Periódi­
cos. conform e o Decreto n. 4857 de 9-11-1930. "The U nified Magazine" é publicado, sob outros títulos, também em
M cConkie, Theodore M. Burton e Joseph An-
alemão, chinês, coreano, dinamarquês, espanhol, finlandês, francês, holandês, inglês, ita liano, japonês, norueguês, sa-
moano, suéco. ta itiano. e tonganés Composta pela Linotipadora Godoy Ltda., R. Abolição. 263. Im pressa pela Edi­
tora Gráfica Lopes. R. Francisco da Silva Prado, 172, São Paulo. SP. Devido à orientação seguida por esta revista,
derson.
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todas as colaborações para apreciação da redação e da equipe internacional do "The U nified M agazine". Colabo­ “ Use o Que Tem ” e “ Água Que Faz Andar
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A b ril de 1973 3
A VERDADEIRA IGREJA
Um estudo das profecias concernentes à grande apostasia

isse o Presidente Joseph Fiel- “ E este Evangelho do reino será

D ding Smith: “ A obra do Se


nhor triunfará. Nenhum poder
na terra poderá im pedir o desenvolvi­
pregado em todo o mundo, em teste­
munho a todas as gentes, e então
virá o fim ." (Mateus 24:14)
mento da verdade e a pregação do E onde procurar, hoje em dia, esse
Evangelho em todas as nações." Evangelho do reino ao qual Jesus se
Disse ainda mais: “ O Evangelho referiu? Não segundo a interpreta­
irá avante até cobrir a terra in te ira .” ção humana das Escrituras, mas onde
Se o Evangelho é para ir avante e está o poder divino, tal como Jesus
cobrir a terra inteira, que grande res­ deu aos Doze, quando disse:
ponsabilidade temos nós, os santos “ Não me escolhestes vós a mim,
dos últim os dias e nossas famílias, mas eu vos escolhi a vós, e vos
em ajudar que ele se espalhe pela n o m e e i....” (João 15:16)
terra toda. No mundo de hoje, não Élder LeGrand Richards “ . . . e tudo o que ligares na terra
existe outra mensagem tão valiosa Do Conselho dos Doze será ligado nos c é u s . . . ” (Mateus
para nossos vizinhos e amigos que Paulo diz-nos: “ .. .a fé é pelo ouvir, 16:19)
não são membros desta igreja, como e o ouvir pela palavra de Deus." Qualquer um poderia organizar
prestar testemunho da restauração (Rom. 10:17) uma igreja e tira r das Escrituras cer­
do Evangelho. “ ...e como ouvirão, se não há tas passagens em que baseá-la, mas
Recordo as palavras do antigo quem pregue? E como pregarão, se como conseguir um ramo vivo de
apóstolo, Pedro, quando falava aos não forem e n v ia d o s? ... (Romanos árvore morta? Como dar-lhe o poder
santos de seu tempo: 10:14-15) e a autoridade para agir em nome
“ ...v ó s sois a geração eleita, o De sorte que sobre este povo re­ do Senhor?
Sacerdócio real, a nação santa, o cai a grande responsabilidade de Seria tão impossível como querer
povo adquirido, (Por quê) para que prestar testemunho ao mundo inteiro agir em nome do prefeito da cidade,
anuncieis as virtudes daquele que do que fez o Senhor para restaurar governador do estado ou presidente
vos chamóu das trevas para a sua a sua verdade na terra, nesta dis­ do país, sem estar devidamente co­
maravilhosa luz. (I Pedro 2:9} pensação. missionado para tal. Tampouco po­
Nesta conferência, temos sido Quando os discípulos de Jesus lhe de-se trabalhar efetivamente no Reino
admoestados a fazer nossa luz b ri­ pediram um sinal da sua segunda de nosso Pai Celestial, sem possuir
lhar de tal maneira, conform e falou vinda, ele falou-lhes de guerras e a autoridade divina recebida de al­
Jesus, que os outros, vendo as nos­ rumores de guerras, de pestilência, guém que tenha o d ireito de conce­
sas boas obras, sejam levados a glo­ terrem otos e fome, e de que nação dê-la.
rifica r nosso Pai que está nos céus. se levantaria contra nação. Depois, E por isso estamos aqui como tes­
(Vide Mateus 5:16) acrescentou: temunhas da restauração do Evange-

4 A LIAHONA
Iho, e testificam os ao mundo inteiro uns ignorantes. Não compreendem a todas as nações, antes que voltasse
que sabemos que C risto vive, que nem mesmo a força de sua própria à terra.
nosso Pai vive, que eles visitaram posição. Ora, ela é tão fo rte, que há Não podemos estudar as sagradas
esta terra. Como foi dito naquele somente outra comparável em todo Escrituras sem saber que os profe­
hino sobre o Profeta Joseph, ele o mundo cristão, e esta é a Igreja tas declararam uma apostasia da
anunciou que, em resposta à sua in­ Católica. Só entram em questão o ca­ igreja original. Quando João, o Re­
dagação sobre qual igreja deveria tolicism o e o mormonismo. Se e s ti­ velador, estava banido na Ilha de
escolher, foi-lhe dito que não se f i­ vermos certos, vocês estão errados; Patmos, apareceu-lhe o anjo do Se­
liasse a nenhuma delas, pois que se vocês estiverem certos, nós es­ nhor e disse-lhe: “ Sobe aqui, e mos-
ensinavam como doutrina meros man­ tamos errados e isto é tudo. Os pro­ írar-te-ei as coisas que depois destas
damentos e preceitos dos homens. testantes são indefesos, pois, se e s ti­ devem acontecer.” (Apoc. 4:1)
Penso que, se as pessoas tivessem vermos errados, eles estão conosco, Então, mostrou-lhe todas as coisas,
a mente um pouco mais aberta, não porque são parte de nós e saíram desde a guerra nos céus até a cena
seria tão d ifícil saberem aonde en­ de nós; enquanto se estiverm os fin al; mostrou-lhe o poder que seria
contrar a verdade. Naturalmente usa­ certos, eles são apóstatas de quem dado a Satanás para combater contra
mos a Bíblia como guia para ajudar- nos afastamos há m uito tempo. Se os santos (e estes eram os segui­
nos na busca da verdade. Sinto-me tiverm os a sucessão apostólica de dores de C risto na sua ig re ja ); e fa­
sempre profundamente impressiona­ São Pedro, conforme afirmamos, não lou que lhe foi dado poder sobre
do por determinada experiência v iv i­ há necessidade de Joseph Smith e do toda a tribo, e língua, e nação. (Vide
da pelo Élder Orson F. Whitney, mormonismo; mas, se não tiverm os Apoc. 13:7) Por que m otivo isto devia
quando era membro do Quorum dos essa sucessão, então havia necessi­ constar das sagradas Escrituras, se
Doze, e relatada por ele em uma de dade de um homem como Joseph o Evangelho iria continuar na terra
nossas conferências. Gostaria de Smith, e a atitude do mormonismo desde os tempos de Pedro até a
lê-la para todos vós: é a única consistente. O Evangelho, época presente?
“ Há muitos anos, um homem ins­ ou se perpetuou desde os tempos Paulo advertia constantemente ao
truído, membro da Igreja Católica antigos, ou foi restaurado em tempos povo de sua época que não esperas­
Romana, veio a Utah e falou no púlpi­ m odernos.” (LeGrand Richards, Uma sem a vinda de Jesus antes que hou­
to do Tabernáculo de Salt Lake Cjty. Obra Maravilhosa e Um Assombro, vesse uma apostasia e se manifes­
Tornamo-nos bons amigos, e conver­ p. 3) tasse o homem do pecado. (Vide II
samos livre e francamente. Tratava- Bastaria que as pessoas re fle tis ­ Tess. 2:1-4) Outros profetas te s tifi­
se de um erudito, que falava corre­ sem para chegar necessariamente à caram igualmente quanto ao dia em
tamente pelo menos uma dúzia de conclusão de se tratar de uma a fir­ que haveria fome na terra. Diz o Pro­
línguas, demonstrando grande conhe­ mação correta, se quiserem encon­ feta Amós:
cimento de teologia, leis, literatura, trar o que Jesus afirm ou ser o Evan­ “ Eis que vê-m dias, diz o Senhor
ciência e filosofia. Um dia, ele me gelho eterno que seria pregado em Jeová, em que enviarei fome sobre
disse: “ Vocês, mórmons, são todos todo o mundo como um testemunho a terra, não fome de pão, nem sede

A b ril de 1973 5
de água, mas de ouvir as palavras do boca de todos os seus santos profe­ dom do Espírito Santo.
Senhor. tas, desde o p rincípio .” (Atos Pedro, Tiago e João, os apóstolos
“ E irão vagabundos de um mar até 3: 19-21) do Senhor Jesus C risto que estavam
outro mar, e do norte até ao oriente: Se Pedro foi um profeta de Deus, com ele no Monte da Transfiguração,
correrão por toda a parte, buscando então nem nós nem o mundo pode­ vieram trazendo de volta o Sacerdó­
a palavra do Senhor, e não a acha­ mos esperar a segunda vinda de cio de Melquisedeque. Todo o di­
rão.” (Amós 8:11-12) C risto sem que haja uma restaura­ nheiro do mundo conseguiria comprar
Por quê? Porque era impossível ção — e não mera reforma. Existe coisas que valessem tanto para os
achá-la sobre a terra. uma diferença enorme entre refor­ filho s de nosso Pai nos céus como
Se o Evangelho devia permanecer mar uma casa velha e construir uma esses eventos? E o que poderia igua-
na terra, então por que, quando o nova. Tanto quanto aprendi em todo lar-se para nós individualmente, e
anjo do Senhor mostrou a João que o trabalho m issionário que tenho fe i­ para nossos fam iliares, amigos e
Satanás faria guerra aos santos e su­ to, não existe outra igreja no mundo entes queridos, à vinda daqueles
jeitaria toda tribo, língua e nação, ele inteiro que pretenda uma restauração santos mensageiros de Deus?
teria que fazer exceção quanto àque­ de todas as coisas, conform e foi dito E isto ainda não é tudo. Em segui­
les que ainda possuíssem o Evange­ pela boca de todos os santos profe­ da, veio o Profeta Elias, aquele de
lho eterno? Isto é um testemunho de tas desde o princípio do mundo. quem fala Malaquias, dizendo que, se
que a verdade não estaria sobre a O evento sobre o qual o coro can­ não viesse antes do grande e te rrí­
terra naquela época. tou — a vinda do Pai e do Filho — vel dia do Senhor, a terra seria to ta l­
As Escrituras estão repletas de foi seguido pela visitação de Moroni, mente destruída. Disse ele:
promessas de uma restauração nos um profeta que viveu aqui na terra “ E converterá o coração dos pais
últim os dias. Eu aprecio particular­ cerca de quatrocentos anos depois aos-filhos, e o coração dos filhos a
mente o pronunciamento de Pedro de C risto, trazendo as placas das seus pais, para que eu não venha, e
após o dia de Pentecostes, quando quais foi traduzido o Livro de Mór- fira a terra com maldição.” (M al.
falava aos responsáveis pela morte mon. 4:6)
de C risto: João Batista, que foi decapitado Isto abriu a porta para o entendi­
“ Arrependei-vos, pois, e conver­ por dar testemunho de Jesus, retor­ mento das palavras do Apóstolo
tei-vos, para que sejam apagados os nou como um ser ressurrecto e con­ Paulo, quando diz ter-lhe o Senhor
vossos pecados, e venham assim os fe riu o Sacerdócio Aarônico a Joseph revelado o m istério da sua vontade:
tempos do refrigério pela presença Smith e O liver Cowdery, dando-lhes “ De tornar a congregar em C risto
do Senhor. o poder de batizar por imersão para todas as coisas, na dispensação da
“ E envie ele a Jesus C risto, que já que se remissem os pecados. Ele plenitude dos tempos, tanto as que
dantes vos foi pregado. informou ainda que, mais tarde, seria estão nos céus como as que estão na
“ O qual convém que o céu conte­ restaurado o Sacerdócio de Melqui- te rra ." (Efés. 1:10)
nha até aos tempos da restauração sedeque, que é o poder de adm inis­ Estamos vivendo na dispensação
de tudo, dos quais Deus falou pela tra r a imposição das mãos para o da plenitude dos tempos, e a vinda

6 A LIAHONA
de Elias trouxe as chaves da sua um ser sem corpo, partes ou paixões, mundo inteiro.
missão, e é por isso que edificamos assentado no alto de um trono in fi­ Penso nas palavras de Paulo,
os sagrados templos. É por causa nito, o que provavelmente é a me­ quando diz que se propôs conhecer
disso que temos o grande progra­ lhor explicação para uma pessoa não apenas a C risto, e este crucificado.
ma genealógico que não encontra si­ poder imaginar nada. Se não tem (Vide I Cor. 2:2) Isto não quer dizer
milar no mundo inteiro. Assim, pois, corpo, como poderia falar? Ou ouvir? que não conhecia ou não apreciava
foi predita a vinda desses santos pro­ Ou então entender e responder? os profetas antigos, mas que raiara
fetas. Moisés fez menção disto, enquan­ um novo dia.
Durante sua estada na Ilha de to conduzia os filho s de Israel à te r­ Viera o Filho de Deus, de quem
Patmos, João pôde ver não só a fo r­ ra prometida, dizendo que sua estada haviam falado os profetas, e depois
ça com que Satanás combateria os ali não seria longa e que logo se es­ ele diz: “ ...p o is me é imposta essa
santos e reinaria sobre todos eles, palhariam por entre as nações, e de­ obrigação; e ai de mim, se não anun­
como viu “ outro anjo voar pelo meio pois acrescentou: :“ E ali servireis a ciar o Evangelho!" (I Cor. 9:16)
do céu, e tinha o Evangelho eterno, deuses que são obra de mãos de Nesse mesmo sentido, nós tam­
para o proclamar aos que habitam homens, madeira e pedra, que não bém não sabemos nada, senão a res­
sobre a terra, e a toda a nação, e vêem nem ouvem, nem comem nem tauração do Evangelho, que ele foi
tribo, e língua, e povo". (Apoc. 14:6) cheiram .” (Deut. 4:28) trazido pelo próprio Filho do Homem,
Isto teriú sido desnecessário, caso Era esse o tipo de Deus adorado de modo que não existe afastamento
houvesse uma continuação do Evan­ pelo mundo no tempo em que Jo­ dos profetas desta dispensação, e ai
gelho. E depois, ele prossegue: "Te­ seph Smith teve sua maravilhosa de nós, se não compartilharmos
mei a Deus e dai-lhe glória; porque visão. essas verdades maravilhosas com o
vinda é a hora do seu ju íz o ... (Apoc. Moisés, porém, disse algo mais. resto do mundo!
14:7) E nós vivemos no dia do seu Ele previu que nos últim os dias (e Irmãos, eu sei que esta é a obra
juízo. nós estamos vivendo nos últim os de Deus, o Pai Eterno. É o maior
Depois, acrescenta: “ .. . E adorai dias), se o povo buscasse a Deus, movimento em todo o mundo atual.
aquele que fez o céu, e a terra, e o certam ente o acharia. (Vide Deut. Não existe neste mundo um único
mar, e as fontes das águas." (Apoc. 4:29) E Joseph Smith, seguindo a homem honesto ou mulher honesta,
14:7) admoestação de Tiago: “ . . . se al­ que realmente amem ao Senhor, que
Na época em que Joseph Smith gum de vós tem falta de sabedoria, não se filia ria m à Igreja, caso se
teve sua maravilhosa visão, não exis­ peça-a a Deus, que a todos dá libe­ dessem ao trabalho de descobrir so­
tia na terra uma única igreja que ado­ ralmente, e não lança em rosto, e bre o que se trata e perguntassem a
rasse o Deus que fez os céus e a ser-lhe-á dado." (Tiago 1:5), foi e Deus, o Pai Eterno, que não os en­
terra e o mar e as fontes d’água, e buscou-o, como ensina Moisés, en­ ganaria.
que criou o homem à sua própria contrando, assim, o verdadeiro Deus Este é o meu testemunho para vós,
imagem. Adoravam uma essência vivo. Nós temos um testemunho e o deixo em nome do Senhor Jesus
onipresente. Descreviam-no como desse acontecim ento a prestar ao C risto Amém.

A b ril de 1973 7
sol como nos momentos negros, demonstrando-se em
LUCY seu amor confiante no pai e irmãos e irmãs; no res­
peito e honra que tinha ao amado marido; no modo

MACK inspirador, pelo qual nutria uma delicada fé em seus


próprios filhos, especialmente o garoto Joseph; na con­
fiança em si mesma como dona de casa e mãe capaz;

SMITH na constância com que realizava reuniões fam iliares


inolvidáveis; em seu serviço compassivo, dedicado aos
santos e semelhantes; no poderoso testemunho que
prestou da autenticidade do Livro de Mórmon; e f i­

Uma Mulher de nalmente, pela fé em sua fam ília eterna, a qual lhe
deu o único consolo possível naquela hora negra em
que se debruçou sobre os esquifes de seus mais que­

Grande Fé ridos entes m artirizados. Sua fé confirmava-lhe que,


de fato, haviam “ vencido o mundo pelo am or” , e que

Jayann Payne
“Ela própria ajoelhara-se num bosque para implorar ao Senhor

nquanto o sol, dardejando seus raios brilhantes

E por entre as nuvens, fazia-os dançar sobre os


campos verdejantes e as matas mais
Lucy ponderava sobre o significado da magnífica visão
além,

do Pai e do Filho, que o jovem Joseph acabara de co­


municar-lhe.
Sua alma vibrava de alegria e antecipação, pois sig­
nificativas experiências espirituais não eram novidade
para ela, nem para seu marido, Joseph Smith Sr. Lucy
recordava-se de ouvir seu próprio pai, Solomon Mack,
prestar testemunho de orações atendidas. Joseph, seu
querido esposo, já fôra abençoado com numerosas v i­
sões e sonhos espiritualm ente importantes. Ela própria
ajoelhara-se num bosque para im plorar ao Senhor que
seu marido pudesse encontrar a verdade, e fôra agra­
ciada com uma bela visão que lhe trouxe paz de espí­
rito. E quando estivera às portas da morte, aos vinte
e sete anos, acometida de um prolongado definhamento,
sua oração de fé para ser curada havia sido respon­
dida, assegurando-a de que iria viver para cuidar da
sua fam ília.
Todas essas experiências foram como que um pre­
lúdio para a aparição do Pai e de Jesus C risto ao filho
de Lucy. Até que enfim seus anseios espirituais es-
tavam sendo satisfeitos. Cada partícula de seu ser
bradava: “ É verdade!”
Lucy Mack Smith era uma mulher de fibra. Sua fé
na fam ília mantinha-se inabalável, tanto nas horas de
um Pai dedicado e m isericordioso os levara para junto pois tinha uma premonição de que não voltariam a en-
de si, a fim de que pudessem repousar. contrar-sc
Sua fé, assim como o prisma, mostrava reflexos Lucy herdou da mãe sua auto-confiança, refina­
coloridos de todas as facetas de sua vida. Ela, assim mento e grande talento lingüístico. Foi autora de va­
como Maria, também declarava: "A minha alma engran­ liosos diários, cartas e biografias, numa época de vida
dece ao Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus pioneira em que havia pouco tempo para escrever. A
meu Salvador.” (Lucas 1:46-47) sua História de Joseph Smith relata não só curtas bio­
O Senhor preparou Lucy, através de sua inteligente grafias de seus pais, irmãos e irmãs, como do Profeta
e devotada mãe, Lydia Gates Mack, e de seu honesto e de sua própria fam ília, mas é também uma excitante,
e intrépido pai, Solomon Mack, a fim de torná-la a cul­ espirituosa, enternecedora e espiritualm ente sensacio­
minação da fé que possuíam seus antepassados na fa­ nal jóia literária resplandecendo nos poeirentos arqui­
mília eterna. vos históricos.
Lucy nasceu a 8 de julho de 1775, durante a Guerra Como caçula de oito filhos, Lucy era m uito amada
da Independência dos Estados Unidos. Quando criança, mas não mimada, pois aceitou prazeirosamente o fardo
adorava ouvir o pai falar de suas lutas e aventuras nas de cuidar das duas irmãs mais velhas, Lovisa e Lovina,
guerras contra os franceses e índios, e na batalha da durante suas enfermidades, desde o tempo em que t i­
Independência. Seus estratagemas para amedrontar os nha treze anos até a morte delas, quando contava de­
índios com emboscadas e o ousado salvamento de um zenove. As duas irmãs, já quase beirando os trinta
companheiro ferido em combate, foram mais tarde re­ anos, sofriam de tuberculose, ou como se dizia na
latados por ela. época, de consumpção.
Do pai, herdou seu amor à liberdade e à pátria; Uma experiência que impressionou Lucy profunda­
dele vinham também suas habilidades de comando e mente, mas deixou-a com muitas perguntas sem res­
decisão. Solomon ficou afastado de casa em expedi­ posta, foi a cura miraculosa de Lovisa e sua subse­
ções de negócios e marítim as, desde que Lucy tinha qüente recaída. Após dois anos de enfermidade, ela
aproximadamente nove anos até haver atingido quase pareceu cair em coma mortal por três dias, mas, às
dezessete, e quando voltou, estava arruinado. Mas, duas da madrugada, chamou por Lovina e disse: “ O
mesmo carecendo de posses m ateriais, e as condições Senhor curou-me de corpo e alma — erga-me e dê-me
de isolamento em que viviam im possibilitassem o es­ minha roupa, quero le va n ta r!"1
tudo dos filhos, Lydia Gates Mack forneceu-lhes uma Ambas as irmãs faleceram em 1794, com espaço
excelente atmosfera cultural e espiritual. de poucos meses, deixando Lucy só e melancólica, pois
Lydia provinha de uma fam ília m uito abastada e os severos credos religiosos da época não lhe davam
culta, e era professora, antes de casar-se com Solomon nenhum conforto, nem paz mental. Suas necessidades
Mack. Isto foi uma grande bênção, pois, com a ausên­ espirituais continuavam insatisfeitas. Assim , quando
cia freqüente de Solomon, a pesada responsabilidade seu irmão Stephen, vendo sua depressão a convidou
pelo bem-estar espiritual, temporal e intelectual dos f i­ para passar uns tempos com ele em Tunbridge, Ver­
lhos recaía sobre ela. Ela não só lhes ensinava as ma­ mont, aceitou e sentiu-se grata pelo novo ambiente e
térias escolares como também costumava reuní-los faces diferentes. A li, ela encontrou um moço alto de
para orar pela manhã e à noite; dela aprenderam a voz suave, chamado Joseph Smith. Após um ano de
amarem um ap outro e a honrar e amar a Deus. conhecimento, casaram-se em Tunbridge, a 24 de ja­
neiro de 1796.
O apreço e amor de Lucy pela mãe refletem -se na
comovente cena de partida em 1816, quando a fam ília Os ciaros olhos azuis de Lucy arregalaram-se de
Smith decidiu mudar-se de Verm ont para Palmyra, Nova surpresa, quando ouviu a' conversa girar em torno do
York. Lucy escreve que foi obrigada a “ despedir-se da seu presente de casamento. John Mudget, sócio de seu
progenitora piedosa e afável à qual devia toda a ins­ irmão Stephen, comentou:
trução religiosa, bem como a m aior parte dos p riv ilé ­ “ Lucy devia te r algo de valor, e eu lhe darei o
gios educacionais que recebera.” Sua mãe pediu-lhe mesmo que você lhe der."
que continuasse fie l no serviço de Deus, a fim de que “ C om binado!” disse Stephen. “ Vou dar-lhe qui­
tivesse o privilégio de serem reunidas após a morte, nhentos dólares em d in h e iro !”

A b ril de 1973 9
“ M uito bem ", respondeu John, “ e eu lhe darei mais Há dois outros notáveis exemplos de sua fé no
quinhentos d ó la re s!’’2 poder de cura. Em 1813, a febre tifó id e grassava em
A perspectiva de receber um dote de mil dólares Lebanon, Nova Hampshire, e todos os seus oito filhos
para m obiliar sua própria casa fez Lucy sentir-se muito a contraíram. Sophronia, então com dez anos, esteve
importante e querida. Era uma soma considerável em gravemente enfêrma durante três meses, sendo desen­
1796, quando a terra era comprada a um dólar o acre, ganada pelos médicos. Quando sua respiração cessou
de modo que seu presente de casamento representava de vez, Lucy agarrou-a nos braços e ficou andando de
um grande valor m aterial, bem como o amor generoso lá para cá, orando fervorosamente. As pessoas pre­
de sua família. Visto que Joseph, moço fo rte e simpá­ sentes diziam-lhe:
tico, já era um fazendeiro bem sucedido, Lucy sensa­ “ Não adianta; sua menina está m orta.”
tamente guardou seu dote para o futuro. Mas Sophronia recobrou a respiração e voltou a
Lucy e Joseph agradeceram a Stephen e John, e viver, quando as preces da mãe foram atendidas.
após uma visita aos pais dela na vizinha Gilsum, Nova Joseph Smith Jr. tinha oito anos, quando a infecção
Hampshire, retornaram para Tunbridge. tifó id e localizou-se-lhe na perna e teve que sofrer três
A fazenda do casal prosperou por seis anos, e Lucy operações excruciantes. Os cirurgiões queriam amputar,
teve um filho , A lvin, em 1798, e outro, Hirum, em 1800. com o que Lucy não concordava. Então trouxeram cor­
Então, em 1802, transferiram -se para Randolph, onde das para amarrá-lo, mas o garoto recusou, como tam­
abriram um estabelecim ento m ercantil. Foi ali que Lucy, bém a bebida alcoólica que pretendiam dar-lhe como
com vinte e sete anos, apanhou um resfriado que aca­ anestésico. Mais tarde, ela escreveu que Joseph lhe
bou em tuberculose, após semanas de febre e tosse. implorou:
Joseph ficou arrasado, pois os médicos eram unânimes “ Mãe, quero que a senhora saia do quarto, pois
em dizer que ela não resistiria. Lucy orou com todo sei que não agüentaria ver-me sofrer assim; o pai po­
o fervor d ’alma e fez um convênio com Deus de que, derá suportar, mas a senhora carregou-me tantas vezes
se ele a deixasse viver, ela o serviria. Então, ouviu e cuidou de mim por tanto tempo, que já está quase
uma voz dizer: “ Buscai, e encontrareis; batei, e abrir- sem forças.1 Depois, olhando para mim, com os olhos
se-vos-á. Console-se o vosso coração; vós que credes marejados de lágrimas, continuou: ‘Agora mãe, prometa
em Deus, crede também em m im .”3 que não ficará aqui, por favor, sim? O Senhor ajudar-
A mãe inclinou-se sobre a cama no exato momento me-á e agüentarei até o fim .1. . .
em que Lucy recobrou a fala, e falou assombrada: "Quando retiraram o te rce iro pedaço (de osso),
“ — Lucy, você está m elhor! — ao que esta re­ eu irrom pi novamente no quarto — e, o h ,... que es
plicou: petáculo para os olhos de mãe! O corte aberto, o san­
— Sim, mãe, o Senhor me deixará viver se eu fo r gue ainda esguichando dele, e a cama totalm ente en­
fie l à promessa que lhe fiz, de ser um conforto para sangüentada. Joseph estava branco como um cadáver,
minha mãe, meu marido e meus filh o s .”4 grandes gotas de suor rolando-lhe pelas faces, en­
Depois dessa significativa experiência, Lucy ane- quanto cada traço refle tia extrema a fliç ã o !”6
lava por maior conhecimento espiritual, mas após ter Joseph recuperou-se depressa depois de operado,
visitado diversas igrejas diferentes para ouvir a “ pa­ mas, como conseqüência, ficou coxo durante diversos
lavra da vid a ” , sentiu-se desanimada. Seus comentá­ anos, e pelo resto da vida claudicava ligeiram ente ao
rios são proféticos: andar.
“ ... porém, depois de ouvi-lo (o m inistro) até Lucy Mack Smith tinha fé em si mesma como mu­
o fim , voltei para casa convencida de que ele não en­ lher e dona de casa. Sua combinação singular de ca­
tendia, nem tampouco apreciava o assunto sobre o qual racterísticas parecia paradoxal; era impulsiva e deci­
falava, e eu disse em meu íntim o que não existia na dida, contudo valia-se das insinuações do Espírito para
terra a religião que procurava. Por conseguinte, decidi moderar e dar autoridade ao que fazia e dizia. Quando
examinar a minha Bíblia e, tomando Jesus e seus discí­ um carroceiro inescrupuloso tentou roubar-lhe os ca­
pulos como meus guias, procurar obter de Deus aquilo valos, carroça e tudo o que tinham durante a mudança
que homem algum pode dar nem t i r a r . .. a Bíblia devia para Palmyra, ela mostrou sua valentia, enfrentando-o
ser meu guia para a vida e salvação."5 na estalagem, diante de todos os presentes (pois Jo­

io A LIAHONA
seph Sr. já tinha ido para Palmyra semanas antes): Depois de dois anos, A lvin desenhou a planta de
"Senhoras e senhores, por favor, dêem-me um mo­ uma nova casa mais confortável para os pais, quando
mento de atenção. Tão certo como há um Deus no céu, tivessem “ idade mais avançada." Lucy tinha então qua­
esta parelha bem como toda a carga pertencem ao meu renta e cinco anos, com a filhinha Lucy de apenas dois
marido, e este homem pretende furtá-los de m im ,... anos! Ela adorou sua nova casa que estava quase te r­
deixando-me com oito crianças, sem meios de pros­ minada em novembro de 1823, quando A lvin foi aco­
seguir viagem. m etido de um mal do estômago, falecendo depois de
“ Depois, disse ao carroceiro desonesto: um médico incompetente tratá-lo com calomelano. Em
“ Senhor, eu o proíbo de tocar nessa parelha ou seu leito de morte, A lvin aconselhou Hyrum a term i­
dirigi-la mais um passo sequer. Pode ir tratar de seus nar a casa; Joseph a ser fie l e obter as placas; e todas
negócios; nada mais tenho a ver com o s e n h o r !...” 7 as crianças a serem gentis com o pai e a mãe. Toda

“Atormentados pelo espectro do malogro nas colheitas e revéses


com erciais. . Joseph e Lucy haviam-se mudado oito vezes. . . ”

Lucy não tolerava injustiça por m uito tempo. Eles a fam ília e os vizinhos lamentaram a sua morte, pois
chegaram a Palmyra em segurança, porém com “ ape­ Alvin tinha apenas vinte e cinco anos e era m uito es­
nas dois centavos em d in he iro ” . tim ado por todos. Lucy gozou a casa por pouco tempo,
Apesar da situação de extrema pobreza, a fé que pois homens inescrupulosos defraudaram os Smiths de
depositava em sua própria capacidade e na de seus seu lar e a fazenda cultivada.
fam iliares produziu resultados assombrosos naquele Desde tenra idade, Lucy interessava-se pela reli­
seu prim eiro ano em Palmyra. Atormentados pelo es­ gião, buscando sinceramente a verdade. Depois que Jo­
pectro de malogro nas colheitas e reveses comerciais seph Smith Sr. desanimara de freqüentar qualquer
desde o seu casamento, Joseph e Lucy haviam-se mu­ igreja por causa do ambiente de lutas e discórdias rei­
dado oito vezes até chegarem a Nova York. Agora, em nante entre elas, Lucy ficou m uito deprimida e orava
Palmyra desflorestaram industriosam ente trin ta dos para que ele pudesse encontrar e aceitar o verdadeiro
cem acres adquiridos e construíram uma cabana de Evangelho. Teve então um lindo sonho, dando-lhe nova
troncos. Lucy ganhava dinheiro suficiente para comida confiança de que futuram ente Joseph iria conhecer a
e móveis, pintando coberturas de oleado. aceitar o Evangelho puro e im poluto do Filho de Deus.

A b ril de 1973 11
Joseph também teve alguns sonhos e visões interes­ o Senhor e meu espírito rejubilava-se em Deus meu
santes, os quais Lucy aceitou e achou muito significa­ Salvador."
tivos. Ela honrava o marido como cabeça da fam ília, Ela sentia pelo Livro de Mórmon um profundo
muito antes de ele possuir o Sacerdócio e tornar-se o apreço e prestava vigoroso testemunho de suas ver­
prim eiro patriarca da Igreja. dades e todos os que quisessem ouvir. Certa vez, um
O amor de Lucy e Joseph Sr. havia sido apurado homem gritou do meio de uma m ultidão de várias cen­
e enobrecido no cadinho ígneo da provação e perse­ tenas de pessoas: “ O Livro de Mórmon é verdadeiro?” ,
guições. Quando seus olhos foram cerrados pela morte e ela replicou, para que todo mundo ouvisse:
a 14 de setembro de 1840, o futuro parecia a Lucy “ ín- “ Este livro foi trazido à luz pelo poder de Deus
vio e desolado” e ela não conseguia imaginar calami­ e traduzido pelo dom do Espírito Santo; e, pudesse eu
dade mais apavorante nem maior desgraça. No en­ fazer minha voz soar tão alto como a trom beta do A r­
tanto, nos quatro anos seguintes, teria que suportar canjo Miguel, apregoaria esta verdade em todas as te r­
ainda a morte de quatro filhos, quatro netos e duas ras e em todos os mares, e o eco atingiria todas as
noras. ilhas, até que a nenhum membro da fam ília de Adão
A faceta mais brilhante em seu prisma de fé era restasse excusa. Pois eu te s tific o que Deus voltou a
como mãe. Lucy nutriu o germe da fé em cada um de revelar-se ao homem nestes últim os dias, e estendeu
seus filhos, ensinando-os a ler e amar a Bíblia, a orar e a sua mão para juntar o seu povo sobre uma terra agra­
honrar a Deus. Criou nove de seus onze filhos até a dável e, se eles obedecerem a seus mandamentos, ela
idade adulta. Quando o jovem Joseph, aos catorze lhes caberá por h e ra n ç a ..."8
anos relatou-lhe a gloriosa aparição de Deus, o Pai, e M ulher de grande empatia e compaixão, Lucy de­
de seu Filho, Jesus C risto, Lucy acreditou de todo o monstrava piedoso cuidado pelo Profeta e sua famí­
coração. Sua alma rejubilava-se no desvendar gradual, lia, m uito antes de serem hostilizados e perseguidos.
paulatino da restauração do verdadeiro Evangelho pelo Ela parecia perceber intuitivam ente quando seus filhos
qual há tanto tempo esperava. Ela sentia-se justifica- mais necessitavam de suas preces.
damente orgulhosa da missão e das realizações de seu Suas orações de fé eram estendidas igualmente a
filho e fam iliares. m uitos outros. Depois de batizada, tornou-se uma gran­
Todos os dias, Lucy dirigia a fam ília inteira em de missionária, especialmente junto à própria família.
oração, para que o jovem Joseph fosse instruído efn Visitava seus parentes e escrevia-lhes cartas expli­
seu dever e protegido das ciladas de Satanás. Ela mos­ cando o Evangelho. Solomon, seu irmão, filiou-se à
trava-se paciente, animadora e compreensiva, enquanto Igreja em conseqüência de suas cartas e interesse.
Joseph suportava aqueles quatro longos anos de cres­ Quando Joseph revelou a obra de salvação pelos
cim ento e provações até que, finalm ente, Moroni con­ m ortos, assegurando-lhe que Alvin podia obter vicária-
fiou-lhe as placas e aquela parte da obra da restau­ mente as bênçãos do batismo e dos trabalhos do tem ­
ração. plo, mais uma de suas preces foi respondida. Ele ha­
Alvin sugeriu que todos se levantassem mais cedo, via falecido apenas umas poucas semanas após a apa­
para que os trabalhos da fazenda estivessem te rm i­ rição do Anjo M oroni, em 1823.
nados antes do pôr do sol e Mãe Lucy pudesse servir Hyrum casou-se com Jerusha Bardem em 1826, e
logo o jantar a fim de que depois se reunissem para a 18 de janeiro de 1827, Joseph desposava Emma Hale.
ouvir as palavras de Joseph. A fam ília exultava por Lucy amava suas noras, mostrando-se uma sogra exem­
Deus estar prestes a ilum inar suas vidas com um co­ plar. Depois que o m artírio deixou sós as duas mulhe­
nhecimento mais perfeito do plano de salvação. res, Lucy passou seus últim os anos vivendo com Emma,
Lucy ansiava por saber mais a respeito dos povos que dela cuidou fielm ente até sua morte, em 1856.
antigos, cujos anais Joseph estava traduzindo. E quando Lucy amava os netos, e quando Joseph e Emma perde­
finalm ente pôde ver e ler o Livro de Mórmon, ela me­ ram quatro de seus filhos ao nascer, ela sentiu como
ditou sobre todas as frustrações e ansiedades vividas se fossem seus próprios.
naqueles anos, vindo a sentir que “ os céus foram mo­ Todos os que amavam a Deus encontravam boa
vidos em nosso favor e a n jo s ... velavam por nós” . Ela acolhida no lar de Lucy. M uitas noites, ela e o marido
podia dizer verdadeiram ente: "M inha alma magnificava cediam todas as camas da casa a irmãos visitantes,

12 A LIAH O N A
enquanto dormiam eles próprios no chão. d irig ir um grupo de oitenta santos do Ramo de Wa-
O liver Cowdery costumava chamá-la de mãe, e ela terloo, tendo apenas os dois filho s mais moços, Wil-
o tratava como filho, dando-lhe de sua fé e incentivo liam e Dan Carlos, para ajudá-la.
durante o trabalho de tradução. Sua fé e amor esten­ A viagem de chata pelo Canal Erie levou cinco dias
diam-se também a M artin Harris, a despeito das d ifi­ e foi um pesadelo, pois a maior parte dos santos não
culdades e pesar causados por sua deslealdade ao Pro­ havia providenciado mantimentos suficientes para seu
feta e sua família. próprio sustento, além do que o mau tempo foi terrível
Embora sendo mulher bondosa e amável, Lucy sa­ para as mulheres e crianças. Quando chegaram a Buf-
bia disciplinar acaloradamente, quando a ocasião assim falo, encontraram ali alguns membros do Ramo Coles-
o exigisse. Seu grande devotamento à causa do Se­ v ille que também esperavam conseguir passagens de
nhor e agudo senso de justiça tornavam-na uma figura barco para Kirtland. O porto ficou bloqueado pelo gelo,
autoritária. e os santos impedidos de prosseguir.
No início da primavera de 1831, foram postas à Quando os irmãos de C olesville aconselharam o
prova suas qualidades de liderança: os santos haviam grupo de Lucy a não dizerem a ninguém que eram san­
recebido ordem de se transferirem da região de Pal­ tos dos últim os dias, pois do contrário não consegui­
myra para Kirtland. A maior parte da fam ília de Lucy riam passagens nem pousada, Lucy fez-se ouvir cora­
já havia partido em janeiro, ficando ela encarregada de josamente:
"Eu vou falar precisamente quem sou, e se vocês testemunho, fé para a cura, discernim ento de espíritos,
se envergonham de C risto, não devem esperar ter sabedoria e conhecimento. Suas profecias assombra­
êxito; e quero só ver se não chegaremos a Kirtland an­ vam igualmente santos e opositores. O pastor de uma
tes de vo cê s!” igreja protestante de Pontiac, Michigan, ao ser-lhe
Foram palavras proféticas, pois, devido à sua fé e apresentado, disse zombeteiramente: “ Então a senhora
orações, Lucy conseguiu passagens para o grupo dela. é a mãe daquele pobre, tolo, estúpido garoto Joe Smith,
Ao ver seus queridos santos discutindo e lamentando- que pretendeu traduzir o Livro de M órmon."
se enquanto esperavam no convés do barco, W illiam Ela, fitando-o firm em ente nos olhos, replicou:
correu para junto da mãe e disse: “ Eu sou, senhor, a mãe de Joseph Smith. Mas por
“ Mãe, veja só aquela confusão; não quer ir lá e que lhe aplica epítetos como estes?"
dar um basta?!” “ — Porque," disse o Reverendo Ruggles, "ele
imaginou que iria derrubar todas as outras igrejas com
Lucy não era m uito alta, mas aprumou-se régia-
aquele sim ples livro m órmon."
mente e com os gélicos olhos azuis faiscando, cami­
“ Já chegou a lê-lq?” perguntou Lucy.
nhou bem até o centro da confusão, a voz soando com
“ Não, ele não é digno de minha atenção." respon­
autoridade:
deu ele.
"Irm ãos, nós nos dizemos santos e professamos
Lucy então prestou seu testemunho de que “ aquele
te r deixado o mundo com o propósito de servir a Deus,
livro continha o Evangelho e te rn o ... e que fôra escrito
sacrificando todas as coisas terrenas; e agora, bem
para a salvação da alma, pelo dom e poder do Espírito
no ponto de partida, acaso pretendem sujeitar a causa
Santo."
de C risto ao ridículo com essa sua conduta insensata
“ O ra l” , replicou ele, “ bobagem, não tenho medo de
e imprópria? Vocês afirmam confiar em Deus; então,
que qualquer membro de minha igreja se deixe levar
como podem ficar aí reclamando e se queixando como
por essas asneiras; eles são m uito inteligentes para
fazem? Vocês estão sendo ainda mais desarrazoados do
isso.”
que os filho s de Israel; pois aqui estão minhas irmãs
Lucy replicou com a ênfase do espírito de profecia:
choramingando por suas cadeiras de balanço, e os ir­
“ Pois bem, Sr. Ruggles, tome nota de minhas pa­
mãos, de quem eu esperava firmeza e energia, decla­
lavras — tão certo quanto Deus vive, antes de passados
rando que positivam ente irão m orrer de inanição an­
três anos, terem os conosco mais de um terço da sua
tes de chegarmos ao destino. E por quê? Acaso lhes
igreja; e, senhor, acredite ou não, vamos levar o pró­
tem faltado alguma coisa? E vocês, que não providen­
prio diácono, ta m b ém !” 10
ciaram para si mesmos, não os tenho alimentado todos
os dias e tratado como a meus próprios filhos? Onde A expressão zombeteira do Reverendo Ruggles mu­

está a fé em vocês? Onde está a sua confiança em dou rápidamente, e não sem razão, pois, dentro de dois
D e u s? ... Agora, irmãos e irmãs, se todos vocês ele­ meses, Joseph Smith mandou Jared Carter a Michigan
varem aos céus seus desejos de que o gelo se parta como missionário, a conselho de Lucy. Jared conver­
e sejamos libertados, tão certo quanto vive o Senhor, teu setenta dos membros daquele m inistro, sendo que
isto acontecerá.”9 o diácono dele, Samuel Bent, fo i batizado em janeiro

Momentos depois sua fé viu-se recompensada, de 1933, vindo a ser um dos baluartes da Igreja!
quando o gelo se abriu e puderam zarpar para o Lago Joseph rendeu trib u to à mãe durante os negros
Erie. O barco estava tão carregado, que os espectado­ dias de perseguição em 1842: “ Minha mãe também é
res se convenceram de que afundaria. Eles de fato, pro­ uma das melhores e mais nobres de todas as mulhe­
curaram a redação do jornal e publicaram a notícia de res. Permita Deus que se prolonguem os seus dias e os
que a embarcação mórmon havia sossobrado com to ­ meus, a fim de que possamos viver gozando por muito
dos os que estavam a bordo. Chegando a Fairport, Lucy tempo a companhia um do outro, porém usufruindo de
e os demais santos divertiram -se, lendo nos jornais o liberdade e respirando ar puro.” 11
comunicado da própria morte. A fam ília era o tesouro de Lucy, e ela mereceu o
Sua profunda fé fru tific o u em numerosos dons do trib u to profético de seu amado marido, quando no leito
Espírito, evidenciados no decurso de sua vida: profecia, de m orte:

14 A LIAH O N A
“ Mãe, você não sabe que é mãe de uma fam ília ses em imundos calabouços sob falsas acusações.
como maior não houve na terra? O mundo ama o que Como todos os esforços de conseguir compensação le­
é seu, mas não ama a nós. Ele nos odeia, porque não gal eram inúteis, Joseph dissera que ia apresentá-los
somos do mundo; por isso, faz derramar sobre nós toda diante da suprema corte nos céus. Nenhum coração
a sua malícia, procurando tirar-nos a vida. Quando olho fica insensível, quando Lucy continua: “ Mal pensava eu
para rrçeus filho s e vejo que, embora fôssem criados então que nos iria deixar tão cedo para apresentar seu
para realizar a obra do Senhor, têm no entanto, que caso pessoalmente lá em cima. E não acham também
passar por cenas de distúrbios e aflição, enquanto v i­ que o caso dele está sendo julgado agora?
verem sobre a terra! Receio deixá-los rodeados de ini­ “ Sinto como se Deus estivesse provando esta na­
m igos.” 12 ção um pouco, aqui e ali, e sinto que o Senhor perm i­
Joseph, pai e Don Carlos faleceram em 1840 tirá que o Irmão Brigham leve o povo embora. Aqui,
e 1841, respectivamente, após graves perseguições. De­ nesta cidade, jazem os meus m ortos: meu marido e f i­
pois, Samuel foi acossado pelo populacho em sua via­ lhos; e caso o resto de meus filho s os acompanhem (e
gem para Carthage, onde pretendia libertar Joseph e queira Deus que todos vão), eles não irão sem mim;
Hyrum; após anos de exposição à inclemência do tem ­ e se eu fôr, quero que meus ossos sejam trazidos para
po e de perseguições, aquela dura cavalgada de muitas cá, se eu m orrer longe, e depositados ao lado de meu
horas em sua magnífica montaria negra foi demais para marido e filh o s .” 13
ele, vindo a falecer poucas semanas depois. E, natural­ O Presidente Young, então, empenhou a sua pala­
mente, houve a tragédia na prisão de Carthage, onde o vra e a da congregação de que o pedido de Mãe Smith
Profeta e Hyrum foram assassinados por um bando de seria atendido. Mas Lucy estava por demais enferma
criminosos. Entretanto, a amargura ou auto-comiseração para a dura jornada para o Oeste. Faleceu em maio de
nunca foram parte da natureza de Lucy; sua fé em Deus 1856, na Mansion House, em Nauvoo, aos oitenta e um
e em sua fam ília eterna davam-lhe paz e conforto. anos.
Na conferência da Igreja, realizada em Nauvoo em O exemplo de Lucy Mack Smith é de grande rele­
outubro de 1845, antes de o Presidente Brigham Young vância e inspiração para os membros atuais da Igreja:
levar os santos para o Oeste, Lucy Smith foi homena­ Fé para honrar nossos antepassados através do tra­
geada pelas Autoridades Gerais, que lhe perguntaram balho genealógico e do tem plo; fé para ensinarmos os
se desejava dizer alguma coisa. filhos e amar e honrar a Deus; fé para honrar nossos
“ Ela começou dizendo que estava m uitíssim o con­ maridos e o Sacerdócio; fé para realizar inesquecíveis
tente por ter-lhe o Senhor perm itido ver uma congre­ reuniões fam iliares; fé em nós mesmos como pais e
gação tão numerosa. . . Na assembléia, havia compa­ donas de casa; fé para suportar provações e amargu­
rativamente poucos conhecidos da sua família. Ela era ras, sempre firm es ao lado do Evangelho da verdade;
mãe de onze filhos, dos quais sete eram rapazes. Cria- fé para dedicar tudo o que temos em favor da e d ifi­
ra-os no tem or e amor a Deus, e jamais houve fam ília cação da nossa fam ília eterna; fé para prestar solene
mais obediente. Advertiu os pais de serem responsá­ testemunho das verdades de Deus aos nossos fam ilia­
veis pela conduta dos filhos; aconselhou que lhes des­ res e semelhantes em toda a parte; e fé para levar
sem livros e trabalho, a fim de guardá-los da ociosi­ essas almas de in fin ito valor, pelo exemplo e por pre­
dade; admoestou todos a serem cheios de amor, v ir­ ceito, de volta ao Pai Eterno e sua fam ília eterna.
tude e bondade, e jamais fazerem em segredo o que
não fariam na presença de m ilhões."
1 Lucy Mack Smith, H is to ry o f Joseph S m ith (Bookcraft, 1958), p. 11.
Quando indagou se a congregação a considerava u'a 2 Ibid., p. 32.
mãe em Israel, ficou emocionada, ouvindo cinco mil vo­ 3 Ibid., p. 34.
4 Ibid., pp. 34-35.
zes responder: "S im !” Então, contou a história, os re­ 5 Ibid., p. 36
6 Ibid., pp. 57-58.
veses, provações e perseguições de sua fam ília na­
7 Ibid., p. 63.
queles dezoito anos, desde que Joseph obtivera o Livro 8 Ibid., p. 204.
9 Ibid., pp. 203-204.
de Mórmon. Ela fez o auditório chorar, descrevendo
10 Ibid., pp. 215-16.
como seus filhos haviam sido arrancados dos lares e 11 D ocum entary H is to ry o f the C hurch, vol. 5, p. 26.
12 H is to ry o f Joseph S m ith, pp. 208-309.
condenados ao fuzilamento, ou tendo que passar me­ 13 DHC, vol. 7, pp. 470-71.

A b ril de 1973 15
O Testemunho de Jesus
Um testemunho pessoal de Jesus C risto como centro da vida e salvação

I
ndaguei do Senhor o que ele gos­ Eu creio em Cristo, ó nome
taria de que eu dissesse neste [abençoado
momento, e recebi a precisa e Filho de Maria, cumpriu o seu
positiva impressão de que deveria [reinado.
Livrou os mortais, seus irmãos desta
prestar testemunho de que Jesus
[terra,
C risto é o Filho do Deus vivente e
Da angústia que segue aquele que
que foi crucificado pelos pecados do [erra.
mundo. Possuo o que chamam de
“ testemunho de Jesus", isto é, que Eu creio em Cristo, que o caminho
[indicou,
sei, por revelação pessoal do Espírito
E que de seu Pai tudo herdou,
Santo à minha alma, que Jesus é o Que ao próximo disse: “Vem comigo,
Senhor; que ele trouxe, à luz a vida Habitar com o Pai para sempre,
e imortalidade através do Evangelho; [amigo.”
e que, nestes nossos dias, ele res­
Eu creio em Cristo — meu Deus
taurou a plenitude da sua verdade Élder Bruce R. McConkie [e Senhor —
eterna, a fim de que nós, juntamente Do Conselho dos Doze Que em solo bom meus pés plantou;
com os antigos, possamos tornar- A ele adorarei com toda intensidade,
e divindade das palavras pronuncia­ Fonte da luz e da verdade.
nos herdeiros de sua presença na
das — tereis que ser guiados pelo
eternidade. Eu creio em Cristo, meu Redentor;
poder do mesmo Espírito, e assim
Agora, o testemunho provém do Do poder do maligno o Salvador;
sendo, eu oro que vosso coração Em grande júbilo hei de habitar
Espírito de Deus. Não existe outra
seja aberto e que vossa alma possa As cortes sagradas do eterno lar.
fonte. E quando se presta testem u­
arder dentro de vós e que conheçais
nho, é preciso que seja pelo poder Eu creio em Cristo, supremo rei,
a veracidade do que é dito.
do Espírito. E por isso espero e oro Nele meu sonho realizarei;
Tomarei a liberdade, tanto à guisa
fervorosamente que eu possa ser Quando os tormentos da luta sofrer,
de testemunho como para dar o tom Sua voz me dirá: “Hás de vencer."
guiado por esse poder nesta ocasião,
daquilo que está envolvido, de ler
a fim de que seja o pensamento e
estas linhas de minha autoria: Eu creio em Cristo, e, haja o que
a vontade e o intento do Senhor o [houver
que eu disser. Nesse grande dia com ele hei de
EU CREIO EM CRISTO [estar,
Desejo prestar testemunho a mim
mesmo, a vós como membros da Quando outra vez a esta terra voltar,
Eu creio em C ris tj, ele é meu rei; Para entre os filhos dos homens
Igreja, e ao mundo inteiro. Ao falar De coração o cantarei, [reinar.
pelo poder do Espírito, se meu tes­ Com voz alegre e re /erentc,
temunho é para calar em vosso co­ Tudo o que minh'alma sente. Pois bem, a salvação começa com
ração e ser em vós uma fonte jo r­ Deus, nosso Pai C elestial. Na ver­
Eu creio em Cristo, Filho de Deus,
rando para a vida eterna — se vosso dade, salvação é ser como ele é; her­
Que em vir à terra aquiesceu;
coração deve arder dentro de vós, a dar, possuir e receber o que ele
Curou o enfermo, o extinto reavivou.
fim de reconhecerdes a veracidade Lcuvado seja pelas obras que deixou. desfruta. Se quisermos conhecer

16 A LIAH O N A
Deus, temos que crer como ele crê, Seja meu o sacrifício consentido, te fie l, desde a primavera de 1820,
pensar como ele pensa, e experimen­ E tua a glorificação sem fim .” quando apareceram o Pai e o Filho,
tar o que ele experimenta. — Joseph Fielding Smith,
para iniciar esta últim a grande dis­
O Caminho da Perfeição, p. 39
O grande plano redentor foi criado pensação da verdade eterna. E o tes­
pelo Pai Celestial, a fim de perm i­ Bem, a salvação está centralizada temunho que presto é apenas um pre-
tir-nos avançar e progredir e tornar- em nosso Senhor Jesus C risto. Na cursor daquele que ainda será dado
mo-nos igual a ele. A salvação, po­ linguagem do anjo que veio ao Rei dez m il vezes por dez mil pessoas,
rém, é centralizada em C risto. O pla­ Benjamim: “ . . . a salvação foi, é e resgatadas de toda a nação, tribo,
no exigiu que esta terra fosse criada há de ser pela expiação do sangue língua e povo, redimidas pela obe­
e povoada, de modo que pudéssemos de C risto, o Senhor O nipotente." diência à mensagem que Deus res­
vir e ganhar uma experiência impos­ (Mosiah 3:18) taurou em nossos dias, através da
sível de se obter de outra maneira. Quando perguntaram a Joseph instrum entalidade de Joseph Smith.
Já habitamos com nosso Pai nas Sm ith: “ Quais os princípios funda­ E se existe uma coisa maravilhosa
eternidades que precederam esta mentais da sua religião?” , ele res­ nesta obra, é ser ela verdadeira; é
vida. Estávamos presentes, quando pondeu: “ Os princípios fundamentais haver eficácia, virtude e força salva­
se fez ouvir o seu grande brado em da nossa religião constituem-se no dora no Evangelho de Jesus C risto;
meio à eternidade: “ A quem devo testemunho dos apóstolos e profe­ e que o poder de Deus para a sal­
mandar como meu filho, para reali­ tas, concernente a Jesus C risto, de vação é encontrado aqui, nos cumes
zar o in fin ito e eterno sacrifício ex­ que ele morreu, foi sepultado e res­ destes montes eternos; e esta glo­
piatório, a fim de que se coloquem, surgiu no te rceiro dia, e ascendeu riosa verdade está-se espalhando em
em plena força e operação, os te r­ aos céus; todas as outras coisas todas as nações da terra tão rapida­
mos e condições do meu plano pertencentes à nossa religião são mente quanto as pessoas aceitam o
eterno?" Nós estávamos lá e contem­ meros acessórios d isso .” (Documen- testemunho e evidência oferecidos,
plamos, na poética linguagem do tary History of the Church, vol. 3, p. e acreditam nas verdades proclama­
Élder Orson F. W hitney: 30) das por nossos companheiros. Este
Figura tão grácil quão vigorosa, Isto quer dizer que o sacrifício é o dia do qual Deus afirm ou que to ­
De ar humilde mas divino, expiatório do Senhor é o âmago de dos os coligados de Israel serão tes­
No esplendor de cujo semblante temunhas do seu nome: “ ...vós
todas as coisas, no que nos diz res­
Fulgurava a luz do sol a pino;
peito. Deus, nosso Pai Celestial, sois as minhas testemunhas, diz o
Cabelo alvo, mais que a espuma do
[oceano, criou-nos, sem o que não e xistiría ­ Senhor, (de que) eu sou Deus.”
Ou a neve dos picos majestosos. mos. E C risto, o Filho, redimiu-nos, (Isaías 43:12)
Ele falou: — a atenção se fez mais sem o que não haveria nem im orta­ Este é o dia do qual disse que
[grave, todo élder no seu reino, todo porta­
lidade nem vida eterna.
E o silêncio muito mais silencioso. dor do santo Sacerdócio, tem poder
Mas o que de mais glorioso acon­
“Pai!” — ecoa a voz de argênteas teceu em nossos dias é que os céus de falar em seu nome, de possuir o
[ressonâncias, foram abertos; que Deus voltou a Espírito Santo testificando e ilum i­
Como o murmúrio musical falar; que ele chamou oráculos vivos, nando a sua mente, e de proclamar
Do regato aos descer pelas as verdades de salvação.
homens que são apóstolos e profe­
[montanhas,
tas, para serem seus porta-vozes, Eu proclamo estas verdades e de­
Desde o ninho da neve virginal.
“ Pai”, disse a voz. “Se alguém deve para declararem seu intento, propó­ sejo de coração que os homens
[morrer sitos e sua vontade ao mundo. Sua creiam nela e lhe obedeçam. Penso
A fim de teus filhos resgatar, mensagem é o Evangelho restaurado poder declarar com Néfi que todo o
Quando a terra, hoje informe e vazia, meu intento é persuadir os homens
de Jesus C risto, e este é m inistrado
De vida estuante palpitar; a se achegarem ao Deus de Abraão
na Igreja que leva seu nome.
“O possante Miguel cairá primeiro Pois bem, minha é a voz do teste­ e ao Deus de Isaque e ao Deus de
Para mortal o homem se chamar, munho. Eu te s tific o da verdade e Jacó e serem salvos porque a obra é
E tu enviarás Salvador escolhido, genuína, porque a salvação está em
divindade desta obra. Mas minha voz
Vê, aqui estou — podes-me C risto. E, tendo Deus por testem u­
não está só. Não clama no deserto.
[mandar!
Meu testemunho é apenas um eco nha, isto é verdade. Em nome de
Nada peço, nem recompensa procuro
Além daquela que ganhar assim; dos que têm sido prestados por gen­ Jesus C risto. Amém.

A b ril de 1973 17
SALVACAO
E '
EXALTAÇÃO *

Um discurso sobre ressurreição, redenção e a unidade fam iliar eterna

uvindo rádio alguns dias atrás, “ Mas agora C risto ressuscitou dos

O escutei certo m inistro dizer a


seus ouvintes: “ Confessem a
C risto e serão salvos., Adm itam C ris­
to no coração e ele os salvará."
m ortos e foi fe ito as prim ícias dos
que dormem
"Porque assim como a morte veio
por um homem, também a ressurrei­

Aí, citou Efésios 2:8 como argu­ ção dos mortos veio por um homem.

mento conclusivo: “ Porque pela gra­ “ Porque, assim como todos mor­

ça sois salvos, por meio da fé; e rem em Adão, assim também todos

isto não vem de vós; é dom de 15:20-22)

Deus." Toda a humanidade terá, assim, a


serão vivificados em C risto ." (I Cor.
Depois, deu seu conselho final:
salvação geral, exceto os filhos da
“ Será demais pedir-lhes isto? M ilha­
perdição. Após ressurgirem, “ eles
res e centenas de milhares têm en­
regressarão ao seu próprio lugar,
contrado paz e felicidade duradouras
para gozar aquilo que estiverem pron­
aceitando C risto como seu Salvador.
Élder Theodore M. Burton tos a receber, porque não se mos­
Unam-se a nós na fé cristã e serão
traram inclinados a gozar daquilo
salvos.” Assistente dos Doze
que poderiam te r recebido.” (D&C
Fico imaginando quanta gente tem- O que significa quando o povo diz: 88:32)
se deixado embalar em falsa segü- “ Eu estou salvo.” ? Geralmente que Aqueles filho s da perdição (talvez
rança por tal ensinamento. Como estão salvos da m orte. Este tipo de apenas uns poucos em número) se­
m issionário batendo à porta das pes­ salvação geral atinge todas as pes­ rão ressuscitados, mas não redim i­
soas, escutei literalm ente centenas soas, tão somente pela graça de dos do poder de Satanás, porque
delas declararem que não estavam Deus. A salvação geral independe de continuam imundos; como diz deles
interessadas em aprender mais so­ obediência aos princípios ou leis do o Profeta Alma: “ . . . estarão como
bre Jesus C risto, pois já estavam Evangelho e resulta únicamente na se nenhuma redenção houvesse sido
salvas. O mais chocante nisto é que ressurreição da morte. Nesse sen­ fe ita; pois que não poderão ser re­
tinham razão. O que aquele m inis­ tido, salvação é sinônimo de im or­ midos segundo a justiça de Deus; e
tro disse é verdadeiro, porém a di­ talidade no que a pessoa ressusci­ não poderão m orrer, por não haver
ficuldade é não ser de todo verda­ tada viverá para sempre. A ressur­ mais corrupção.” (Alma 12:18)
deiro. reição atingirá todo aquele que, nas­ Presumo que te r um corpo e nada
Esse problema me causa preo­ cido neste mundo, através do sacri­ poder fazer com ele será um ver­
cupação pessoal, porque vejo quan­ fício de C risto, confesse ou não o dadeiro inferno. Todos os demais
to dano a meia verdade pode oca­ nome de Jesus C risto. Seja iníqua homens serão salvos da morte, do
sionar. O conhecimento lim itado é ou justa, toda pessoa receberá o dom inferno, do demônio e do torm ento
m uito perigoso. Do que necessita­ da im ortalidade através de Jesus eterno pela graça de Deus.
mos é de mais verdade — verdade C risto. O genuíno valor do sacrifício de
ilim itada — até que, finalm ente, co­ Como Paulo explicou aos gregos C risto significa m uito mais do que
nheçamos todas as coisas. de C orinto: essa salvação generalizada que virá

18 A LIAH O N A
a toda a humanidade. Existe uma sal­ que herdeis o reino dos céus? Por­ ma exaltação e vida eterna. Preser­
vação adicional planejada por Deus tanto, não podereis ser salvos em var este relacionamento será minha
para seus filhos. Esta é individual e vossos pecados.” (Alma 11:37) herança no reino de Deus, se eu qui­
condicionada não somente à graça Depois, Am uleque fala da razão da ser pagar o preço para obtê-la. Mes­
como também à obediência da lei vinda de C risto: mo aqueles no reino celestial que
evangélica. Um dos profetas do Li­ “ E virá ao mundo para rem ir a seu não pagaram o preço total de obe­
vro de Mórmon explica por que ele povo; e tomará sobre si as faltas diência para fazer jus a esta ulte-
e seus companheiros se preocupa­ daqueles que acreditarem em seu rio r exaltação, terão apenas im orta­
vam tanto em ensinar mais a res­ nome; e estes são os que terão a lidade e não vida eterna dentro da
peito de Jesus C risto, ao escrever: vida eterna, e não haverá salvação ordem fa m iliar de Deus.
“ Porque trabalhamos diligente­ para mais ninguém. Assim , pois, ser salvo em seu ver­
mente para as escrever, a fim de “ Portanto, os perversos permane­ dadeiro e total sentido, é sinônimo
persuadir nossos filhos e nossos ir­ cerão como se não tivesse havido re­ de exaltação e vida eterna. Essa he­
mãos a acreditarem em C risto e a denção, sendo-lhes apenas afrouxa­ rança no seio da verdadeira família
e a se reconciliarem com Deus; pois das as cadeias da morte; pois dia de Deus, o Pai Eterno, através de Je­
sabemos que é pela graça que so­ virá em que todos se levantarão da sus C risto, é o tema principal das
mos salvos, depois de tudo o que morte e se apresentarão perante Escrituras e deveria ser a meta de
pudermos fazer.” (II Néfi 25:23) Deus, que os julgará segundo suas
todo o homem, m ulher e criança
obras.” (Alma 11:40-41)
Esta reconciliação plena com Deus nascidos nesta te rra . Essa salva­
Essas obras, que seguem o verda­ ção plena é obtida unicamente na e
é extremamente importante para
deiro exercício de fé, incluem arre­ por meio da unidade fam iliar preser­
mim, pois o que me interessa é a
pendimento, batismo, recebim ento do vada na eternidade.
idéia de uma expiação ou reconcilia­
Espírito Santo, e constante retidão
ção pessoal que pode levar-me de Quando o anjo Moroni veio para
até o fim da vida.
volta à presença de Deus como um dar a Joseph Smith suas prim eiras
de seus filhos do convênio. É isto Tenho um primo, Rodney Moyle, instruções referentes à restauração
que eu chamo de exaltação. que vive perto de Boise, Idaho. Quan­
do Evangelho nesta dispensação, ele
do vem à Cidade do Lago Salgado,
A exaltação é um dom de Deus de­ citou o Profeta Malaquias, um pouco
costuma sempre dar um pulo ao meu
pendente da minha obediência à sua diferente do que consta na Bíblia:
e scritório para um “ a lô ” . Gosto imen­
lei. Nada que eu possa realizar com “ Pois eis que vem o dia que arde­
minha própria força poderá fazer com samente de conversar com ele, pois
rá como fornalha, e todos os sober­
sempre deixa comigo uma nova jóia
que aconteça. Somente pela graça bos, sim, e todos os que obram ini­
de Deus foi aberto esse caminho, po­ de pensamento. Em sua últim a v is i­
qüidade serão queimados como o
ta, perguntou-me:
rém apenas pela obediência às leis restolho; pois os que vierem os
de Deus posso reclamar minha he­ — Se pudesse levar consigo deste
abrasarão, diz o Senhor dos Exérci­
rança no reino celestial do Pai, como mundo algo caro ao coração, o que
tos, de sorte que não lhes deixará
filho no seio da sua fam ília. Não você levaria?
nem raiz nem ramo." (Joseph Smith
posso ser exaltado em meus peca­ Para mim, a resposta era óbvia: 2:37)
dos, tendo que trabalhar até conse­ — Minha fam ília e aos que quero Para entender esta passagem das
guir superá-los. bem! Escrituras, leia-se “ progenitores” ou
Amuleque, o profeta, explicou isto E eu posso levá-los comigo atra­ “ antepassados em lugar de raiz, e
claramente, quando diz de Deus: vés do cum prim ento das leis de “ posteridade” ou “ filh o s ” em lugar
“ E eu te digo outra vez que ele não Deus. Somente pela obediência à de ramo. Portanto, a menos que, por
os pode salvar em seus pecados; e lei do Evangelho é possível esse meio de obediência às leis de Deus,
eu não posso negar a sua palavra, grau maior de salvação que me in­ vos qualifiqueis para entrar no tem ­
pois ele disse que nada impuro pode cluirá e à minha fam ília plo e fazer selar a vós a vossa fa­
herdar o reino dos céus; como, por­ Essa possibilidade de relaciona­ mília, havereis de viver para sem­
tanto, podereis ser salvos, a menos mento fa m iliar eterno é que se cha­ pre separada e isoladamente em es­

A b ril de 1973 19
tado de solteiro. Parece-me que isto progredir, mas permanecem separa­ Convém, então, que penseis em
seria um tipo de existência suma­ dos e solteiros, sem exaltação no vossa fam ília e como obter vossa
mente solitária — terdes que viver seu estado de salvação por toda a herança no Senhor, selada sobre vós
sem a cálida influência da vida fa­ eternidade; e portanto, não são deu­ e aqueles a quem amais. Permiti
m iliar entre aqueles que amais e que ses, mas anjos de Deus para todo perguntar-vos com as palavras de
também vos amam. o sem pre.” (D&C 132:16-17) Rodney:
A respeito dos que não estão dis­ É por esta razão que‘o Senhor pro­ — Se pudésseis levar convosco
postos a pagar o preço total da exal­ meteu que nos revelaria o Sacerdó­ deste mundo algo caro ao coração,
tação por meio de plena obediência cio pela mão de Elias, o profeta, an­ o que levaríeis?
à sua inteira lei, diz Deus: tes de sua segunda vinda, a fim de Que Deus vos abençoe, para que
“ Portanto, quando estiverem fora implantar em nosso coração as pro­ efetueis a escolha certa, pois te s ti­
deste mundo, não se casam nem são messas feitas aos nossos pais, de fico-vos que Deus vive e que o po­
dados em casamento, mas são de­ modo que se voltassem a eles e aos der do seu Sacerdócio está sobre a
signados anjos nos céus, servos mi- nossos filho s os nossos corações. terra, por meio do qual podeis obter
nistradores para m inistrar por aque­ Se não conseguirmos a tingir esta vossa exaltação no reino dele, como
les que são dignos de uma maior, meta de exaltação fam iliar eterna, seus filho s do convênio, através de
suprema e eterna medida de glória. nossa vida na terra será com pleta­ obediência plena à sua lei. Isto eu
“ Pois estes anjos não guardaram mente desperdiçada, quando C risto te s tific o em nome de Jesus C risto.
a minha lei; portanto, não podem v ie r pela segunda vez. Amém.

O HORIZONTE
ETERNO
DO HOMEM
O que é a fé e por que leva ao conhecimento do Senhor

Penso que talvez jamais houve

C
om toda razão, diz-se que a O mesmo pode, em verdade, ser
maior posse de um homem ou dito daqueles que estabeleceram a maior necessidade de fé do que hoje
nação é a fé, e que aqueles Igreja sob a inspiração e revelação em dia, particularm ente fé na lide­
que construíram este país e fizeram- de nosso Senhor, e daqueles que rança divina. Como regra geral, os
no prosperar durante seus dias mais continuaram edificando sobre os a li­ membros da Igreja de Jesus C risto
negros, foram homens de fé inabalá­ cerces lançados pelos prim eiros. dos Santos dos Ú ltim os Dias nisto
vel, homens de coragem, homens de Estes também foram e são homens crêem, mas o mundo precisa de fé
visão, sempre olhando para diante e de testemunho inquebrantável e fé em Deus, de que ele governa o
nunca para trás. inflexível. mundo; e o povo desta nação e do

20 A LIAH O N A
mundo disto necessita, fé no Deus e contemplamos as imagens que es­
desta terra e fé no Deus do mundo, tavam transm itindo.
que é Jesus C risto. Essas coisas foram realizadas pela
M uitos de nós já tivem os a expe­ fé, pelo trabalho e pela inteligência.
riência de viajar em navio pelo Poderemos falar com Deus?
oceano. Olhando nas diferentes di­ Podem nossas preces, sejam em
reções, não vemos nada além de pensamento ou em palavras, subir ao
água. Tão distante quanto alcança a Pai de todos nós, e tem ele o poder
vista humana, o céu se curva até de responder a elas?
encontrar a água. O sol surge no ho­ No estado espiritual, antes de v ir­
rizonte, e à tarde, também se põe mos para cá, vivíamos pela vista;
no horizonte. O mesmo acontece aqui, na existência m ortal, andamos
quando estamos em terra; o lim ite— pela fé. O Espírito de Deus dá tes­
da nossa visão é o horizonte. Não é temunho ao espírito do homem de
verdade também que o lim ite de que somos filhos de Deus; que ele
nossa percepção espiritual é o hori­ nos ama; e que a vida terrena tem
zonte que vemos? Élder Joseph Anderson um propósito, grande e vasto, um
O que dizer do nosso horizonte propósito glorioso; que, guardando os
Assistente dos Toze
espiritual? Estará lim itado à luta pre­ mandamentos dados por ele, pode­
sente pelas coisas deste mundo? Es Enquanto aqui, não devemos gozar remos ganhar conhecimento e enten­
tará lim itado à obtenção das coisas a presença de nosso Pai, mas pode­ dim ento; que podemos adquirir expe­
da carne? Estará lim itado à nossa mos comunicar-nos com ele, e tam­ riência, vencendo a oposição com a
disputa com o mundo ávido de di­ bém ouvir a sua voz, quando neces­ qual temos que contender; que ha­
nheiro, à aquisição de coisas mun­ sário. Temos o Espírito Santo como vemos de ressurgir da sepultura no
danas da vida ,ou será que se es­ guia, companheiro e m onitor, se nos devido tempo do Senhor e eventual­
tende a uma eternidade com Deus e mostrarmos dignos dessa bênção. mente retornar à sua presença, se
com nossos entes queridos~no mundo — Para alguns, parece d ifíc il te r fé viverm os com dignidade. Eis o hori­
vindouro? em um ser eterno e em que ele pode zonte maior que não devemos perder
Nosso horizonte deveria estender- comunicar-se com o homem, que de vista.
se a um futuro ilim itado além da ouve e atende a nossas preces, que Alma, um dos profetas do Livro de
morte — para além das coisas de é o Pai de nosso espírito, pois somos Mórmon, relata uma experiência de
natureza temporal. Nosso horizonte seres de caráter dual, espiritual e seu tempo a respeito de um povo
do futuro não deveria confundir-se físico; que ele nos ama; que nos deu que fora excluído das sinagogas por
com o horizonte re strito das condi­ mandamentos, os quais, se aceitos e causa de suas vestes grosseiras, um
ções presentes. obedecidos, resultarão em bênçãos povo que era pobre nas coisas deste
Nossa filo so fia de vida contempla tanto tem porais como eternas para mundo e igualmente pobre de cora­
uma eternidade de vida — vida sem nós. ção. Eles o procuraram e expondo sua
início antes de chegarmos aqui, vida Houve época em que os homens situação, indagaram o que deviam
sem fim no mundo futuro. A fe lic i­ teriam zombado de qualquer um que fazer. Alma respondeu, explicando-
dade presente e futura depende de dissesse que, futuram ente, podería­ lhes o princípio da fé e ensinando-
nossas ações aqui. Por isso, devemos mos fica r sentados em casa, vendo e lhes a palavra de Deus.
buscar sempre as coisas mais re fi­ ouvindo, por meio do rádio e te le ­ Concernente à fé, diz ele que “ fé
nadas. A estrada que leva à vida visão, coisas que estivessem acon­ não é te r um perfeito conhecimento
eterna tem que ser pavimentada tecendo no mesmo dia em nosso das coisas; portanto, se tendes fé,
com obediência aos mandamentos próprio país, ou na Europa, Ásia, tendes esperança nas coisas que não
do Senhor. Am érica do Sul e Á frica; que estas se vêem e que são verdadeiras” .
Outrora habitamos, em espírito, na reuniões de conferência seriam te- (Alma 32:21)
presença de nosso Pai, e regozijamo- levisadas e transm itidas ao mundo Nesse ponto, alma passa a com­
nos com a oportunidade de v ir à por meio de notáveis dispositivos parar suas paiavras, que verdadeira­
terra, assumir a mortalidade e passar eletrônicos. mente são a palavra de Deus e o
pelas experiências que aqui encon­ Em nossos dias, temos visto ho­ Evangelho da salvação, a uma se­
tramos, a fim de que pudéssemos mens andando na lua, e ouvido as mente plantada pelo homem. Sugere
provar-nos dignos de experiências e mensagens por eles enviadas através que, se dermos lugar em nosso co­
bênçãos maiores. do espaço imenso entre nós e a lua, ração para que seja plantada uma

A b ril de 1973 21
semente, não a rechaçando ou resis­ estas coisas — se tentardes since­ estão encerradas num raio de luz
tindo ao Espírito do Senhor, se for ramente essa experiência referente branca.
verdadeira, ela começará a germinar à palavra de Deus conform e está É importante que vivamos todos
em nosso peito; e quando sentirm os contida no Evangelho de Jesus C ris­ os princípios do Evangelho e obede­
esse germinar, não poderemos deixar to, e viverdes de acordo com os çamos a todos os mandamentos que
de adm itir que a semente é boa, pois mandamentos nele prescritos, c u lti­ o Senhor nos deu, se quisermos
que dilata a alma e começa a ilu m i­ vando as verdades do Evangelho — crescer, tornando-nos mais semelhan­
nar o entendimento, tornando-se de­ haveis de te r o p rivilégio de banque- tes ao Pai e seu Filho Bem-amado.
liciosa para nós. Além disso, quando tear-vos com esses frutos; a vossa Nós não podemos dizer:
a semente, ou palavra, ou o Evan­ fé será plenamente recompensada — Oh, sim, eu creio no trabalho
gelho, incha e brota e começa a e transformar-se-á em conhecimento m issionário — ele é importante; es­
crescer em vossa alma, sabeis que seguro da veracidade do Evangelho tou inteiram ente convertido ao plano
é semente boa, e por conseguinte, de Jesus C risto. do bem-estar ou ao maravilhoso pro­
vosso conhecimento é perfeito; en­ Nós testificam os que, quando a grama social da Igreja para a moci­
tão, já não é mais fé porém, co­ ocasião o exige, a voz de Deus pode dade; mas não creio que Joseph
nhecimento. ser ouvida pelos profetas modernos Smith tenha sido um profeta ou que
As pessoas às vezes alegam que do Senhor; que eles podem entrar nossos profetas atuais sejam guia­
não se pode te r certeza se o Evan­ em sintonia pelo instrum ento da fé; dos por revelações de nosso Senhor.
gelho é verdadeiro. Como foi ind i­ e que até mesmo vós e eu podemos Outros podem dizer;
cado por Alma, se não rechaçardes enxergar além do véu, se de confor­ — Creio no Livro de Mórmon, mas
ou resistirdes ao Espírito do Senhor, midade com a vontade do Senhor e não consegui acreditar que tenha
quando ouvis a palavra de Deus, o se estiverm os em sintonia com o sido recebido de um anjo, como
intum escim ento em vosso peito, di- Infinito. afirm ou Joseph Smith.
latação d ’alma e iluminação do en­ Os santos dos últim os dias crêem Com uma fé assim vacilante, como
tendim ento são de natureza tal, que e pregam que, sem a experiência da pode a pessoa esperar obter a ver­
vos fazem saber que é a verdade. vida m ortal, seus problemas e reali­ dadeira luz de C risto, o verdadeiro
Contudo, isto é apenas o começo. zações, e sem um corpo ressusci­ entendimento e a luz do Evangelho?
É preciso que nutrais a semente; em tado, o espírito do homem não pode Como pode esperar receber as bên­
outras palavras, deveis cu ltiva r o obter a plenitude de alegria. Nossa çãos prometidas pelo Senhor aos que
vosso testemunho de que é verdade, filoso fia de vida contempla uma eter­ são fiéis? Se deixar de lado qualquer
vivendo os ensinamentos do Evan­ nidade de existência — vida sem desses princípios, ele não conseguirá
gelho. início no mundo preexistente e vida a pura luz branca. Se falhar em te r
Se assim fizerdes, diz o antigo futura por todas as eternidades. fé em todos os princípios do Evan­
profeta, a semente crescerá, tornan­ Nossa felicidade nesta vida e na gelho e não a tive r para viver de
do-se uma árvore e dará frutos. Mas, vindoura depende de nossos atos acordo com eles, este homem não
se a planta fo r negligenciada, não aqui na terra. Se quisermos a tingir pode esperar conseguir a pura luz
poderá enraizar; e, quando ela fo r a meta de salvação e exaltação eter­ do Evangelho em seu coração.
abrasada pelo calor do sol, murchará nas no reino de nosso Pai Celestial, Se na verdade tendes suficiente
e acabará morrendo. E isto acontece temo-nos que apegar firm em ente à fé em Deus para induzir-vos a guar­
não porque a semente, ou palavra barra de ferro, que é a palavra de dar seus mandamentos, então vos
de Deus, não seja boa ou porque o Deus, e prestar obediência aos man­ aproxim areis dele e ele chegará mais
fruto dela não é desejável, mas o damentos de nosso Senhor. perto de vós, e vossa fé se tornará
solo era estéril e a planta ou árvore Conta-se que, em certa ocasião, em conhecimento e o lim ite de vosso
não foi cuidada, não podendo, assim, Sir Isaac Newton meditava seria­ horizonte se estenderá até o mundo
produzir o fruto que, em caso con­ mente sobre a natureza da luz. Fez, eterno.
trário, se poderia te r colhido. então, um furo na veneziana de uma Que possamos crescer na fé atra­
Se, entretanto, tiverdes fé e pa­ janela, e um raio de luz penetrou no vés do amor e bênção de nosso
ciência para cu ltiva r a palavra, ou a quarto. Ao colocar um pedaço de M estre e Salvador. Que possamos
árvore, com o passar do tempo po­ vidro triangular na trajetória da luz, guardar* os mandamentos que ele
deis colher de seus frutos, que são foram refletidas com grande beleza nos tem dado, a fim de, finalm ente,
sumamente preciosos e aprazíveis todas as cores do arco-íris. E assim, encontrar salvação e exaltação em
ao paladar. pela prim eira vez, o homem viu que seu reino celestial, eu oro em nome
Eu vos te s tific o que, se fizerdes todas as gloriosas cores do universo de Jesus C risto .Amém.

22 A LIAH O N A
Gino
e o
Estranho
Bernadine Beatie
— Ainda temos m uito que andar,
— explicou Gino, franzindo o cenho
desaprovadoramente, ao ver Markos
largar sua pesada mochila
— P'ra que trazer tanta coisa? —
perguntou. — Eu trouxe só conrüa
e um cobertor.
— Eu gosto de te r à mão tudo o
que posso precisar numa escalada,
— retrucou Markos secamente, e
desdobrou o mapa esboçado pelo
avô de Gino. — Em que ponto es­
tamos?
— Por aqui, — suspirou Gino,
apontando um lugar no mapa. Ele
não queria guiar Markos na longa
excursão até as ruínas do antigo
templo. Mas o avô insistira.
Em tempos passados, o avô de
ino ia à frente, pela íngreme Markos vivera na ilha, e havia sido

G trilha
nhas
que levava às monta­
da pequena ilha grega
onde vivia. Voltando um olhar por
bom amigo do avô de Gino, quando
garotos. Esta era a prim eira estada
de Markos na ilha e insistira em v i­
sobre o ombro, surpreendeu-se de sita r as ruínas das quais o avô cos­
ver o estranho, Markos Nikkaris, tão tumava falar tanto.
bem disposto quanto no início da — Por que não leva Stephanos e
escalada. Constantine com vocês? — sugeriu
— Vamos descansar um momen­ o avô, quando Gino reclamara sobre
to, Markos, — propôs Gino. te r que ir com M arkos.
— Mas ainda nem sequer perde- — Eles não querem ir, — resmun­
os de vista a aldeia! — respondeu gou Gino. — Não gostam do Mar­
larkos, indicando os telhados lá em kos!
baixo, que pareciam pequenos blo- — Depois de o conhecerem tão
quinhos avermelhados, descendo em pouco tempo? — indagou o avô, sur­
busca das águas azuis do Mar Egeu. preso.

A b ril de 1973 23
— Markos fica o tempo todo fan-
farronando sobre a bela casa deles
em Atenas e do excelente carro da
família. Só sabe falar das montanhas
que escalou na Itália, Suiça e Fran­
ça, — carranqueou Gino. — Ele nos
acha todos uns ignorantes e caipiras!
O avô ignorou as palavras do neto.
— O avô de Markos e eu costu­
mávamos passar muitas horas gos­
tosas nas montanhas.
— Mas vocês eram amigos, vovô,
não estranhos, — atalhou Gino. — Andamos depressa, — comen­
— O que você entende por es­ tou. — Chegaremos às ruínas em
tranho, Gino? tempo de acampar antes do escure­
— Alguém que não se conhece, — cer.
respondeu o garoto, com um ar de — Ótimo. — disse Markos mor­
ombros, — nem quer conhecer. dendo com gosto a crosta de pão
— Quem sabe você ainda muda de com queijo oferecida por Gino. —
idéia, — comentou o avô. Eu trouxe carne e frutas. de como são bons nadadores e mer­
Agora, lançando um olhar às só li­ — Então é isso que você carrega gulhadores; e se jactam de quão
das botas de escalador de Markos e nessa sua pesada mochila! — co­ melhor é viver aqui do que na ci­
sua roupa bem talhada, tão diferente mentou Gino. dade!
da sua, Gino pensou: Vovô está er­ — Isso e mais outras coisas, — Os olhos de Gino se arregalaram.
rado; Markos sempre será um es­ replicou o garoto. — Nós não somos fanfarrões! —
tranho! — Você é bom alpinista, Markos, exclamou.
— Gino, por que seus amigos não — reconheceu Gino, com má von­ — Oh, são, sim! E fizeram pouco
gostam de mim? — indagou Markos, tade de mim, porque confundi cabra com
fazendo Gino voltar de suas divaga- Markos sorriu largamente. ovelha. — Markos se pôs de pé —
ções sobre a conversa com o avô. — Eu não lhe disse que era? Volte para junto de seus amigos,
— Por que pergunta assim? — — Pensei que fosse mais uma de Gino. Posso continuar sozinho! Sei
Gino retrucou evasivamente, pondo- suas basófias! — falou Gino sem que veio comigo só para agradar a
se de pé. — Vamos indo, já descan­ pensar. seu avô.
samos bastante. — Eu não costumo basofiar! — — Espere aí, Markos! — chamou
Markos deu de ombros e obede­ retrucou Markos, verm elho de raiva. Gino, ao ver Markos correndo pela
ceu. Ao meio dia, os rapazes seguiam — Tudo o que contei a você e seus trilh a depois de agarrar a mochila.
por uma trilh a estreita que serpeava amigos é verdade! Gino levantou-se depressa para se-
em torno de uma saliência no pe­ — Esqueça, — resmungou Gino. gui-lo, mas pisou numa pedra solta
nhasco escarpado. Num ponto mais — Esqueça, pois sim ! — gritou e, no instante seguinte, estava es­
espaçoso, Gino parou para o almoço Markos com raiva. — E quanto a você corregando pela borda do penhasco.
e descanso. e seus amigos? Vocês vivem falando Soltou um grito de te rro r enquanto

24 A LIAH O N A
tentava agarrar-se aos ramos de um
pequeno arbusto. Os galhos esca-
param-lhe por entre os dedos, po­
rém ajudaram a retardar a queda.
Gino conseguiu segurar-se numa ro­
cha saliente uns três a quatro me­
tros abaixo da borda.
— Markos! Socorro! — gritava
Gino, forçando os dedos do pé con­
tra a encosta do penhasco. Olhou
para cima e soltou um suspiro de alí­ — Pode acreditar, quando vi você
vio, quando viu a face de Markos olhando lá de cima, era a face de um
apontando por cima da borda. amigo! Vou dizer-lhe mais uma coisa,
— Calma, Gino! — g rito u. — Jà Markos, — sorriu Gino. — Meus
vou descer uma corda. amigos e eu estivem os de fato ba-
— Eu não trouxe corda, — murmu­ zofiando, mas foi só para impressio­
rou Gino. ná-lo.
— Mas eu sim, — respondeu Mar­ Markos sorriu, encabulado
kos, desaparecendo da borda. De­ — O mesmo se deu comigo. Que­
pois de um m inuto, já estava de vol­ ria que você e seus amigos pensas­
ta e descia uma corda resistente. sem que eu era importante.
Logo Gino estava de novo em lu­ Gino deu uma risada.
gar seguro. Ficou sentado na trilh a, — Amanhã, quando chegarmos em
ainda tremendo de susto. casa, tenho uma coisa muito impor­
— M uito obrigado, meu amigo! — tante para contar ao vovô.
agradeceu, com voz cheia de gra ti­ — O que, Gino?
dão. — Que um estranho não é alguém
— Ora, não fiz nada mais que des­ que não se conhece, nem quer co­
cer a corda. Você teria fe ito o mes­ nhecer! Um estranho é . . . — hesi­
mo por m im . tou Gino, à procura de palavras.
Depois, erguendo as sobrancelhas, — Como um bom livro à espera de
Markos reparou: ser lido, — sugeriu Markos.
— Você disse amigo? — Isso mesmo, — concordou
Gino pôs a mão no ombro de Mar­ Gino, — e alguém esperando justa­
kos. mente para tornar-se um amigo!
ute voltou a Belém com sua sogra, Noemi,

R quando se iniciava a colheita de cevada.


Naquela época, havia uma lei especial,
conhecida como a lei dos respigadores, que
perm itia a qualquer pessoa necessitada seguir
atrás dos segadores, nos campos, para apanhar
as espigas de cereais ou cachos de uva que
sobravam caídos no chão.
Um dia, Rute sugeriu a Noemi:
— Deixa-me ir ao campo recolher espigas.
Noemi respondeu:
— Vai, minha filha.
E Rute foi respigar nos campos mais pró­
xim os.
Certo dia, Boaz, o dono do campo em que
Rute respigava, foi ver o trabalho em seus
campos e perguntou aos servos quem era a
jovem que via trabalhando ali. Foi inform ado,
então, que era a moça que viera de Moabe com
Noemi, sua sogra, depois da m orte de Elime-
leque e seus filhos.
Rute era trabalhadora diligente. Um dos
servos contou a Boaz que ela estivera colhen­
do desde a manhã até a tarde.
Boaz então foi a Rute e disse-lhe:
— Não vás colher em outro campo, mas
fica aqui com as minhas moças.
Ele não só mandou que viesse sempre aos
campos dele, mas também que bebesse da
água pura que os moços traziam da fonte.
— Por que achei graça em teus olhos,
sendo eu uma estrangeira? — indagou Rute.
Boaz respondeu:
— Bem se me contou o quanto fizeste a
tua sogra, e o Senhor Deus de Israel galardoará
o teu fe ito.

26 A LIAHONA
RUTE Depois, Boaz ordenou aos servos que per­
Mary L. Lusk m itissem a Rute respigar livrem ente, dizendo
ainda que deixassem propositadam ente punha­
dos de espigas para ela apanhar.
Quando Rute, naquela noite, voltou para
casa com o que colhera, contou a Noemi a boa
sorte do dia. E Noemi alegrou-se.
O Senhor abençoou Rute, e ela continuou
respigando nos campos de Boaz durante a co­
lheita de cevada e também na sega do trigo.
Rute encontrou agrado aos olhos de Boaz
e, um dia, este adquiriu por compra todos os
bens do marido de Noemi. Boaz dirigiu-se ao
mercado e disse aos anciãos e a todo o povo:
— Sois hoje testem unhas de que comprei
«Mj» de Noemi tudo o que foi de Elimeleque e tudo
o que pertenceu a M alom e Q uiliom . E Rute, a
moabita, será minha m ulher.
E todo o povo falou:

— Somos testem unhas, e o Senhor aben­


çoe a tua casa!
A ssim , Boaz desposou Rute e levaram
Noemi com eles para a sua casa.
Rute teve um filh o , ao qual deram o nome
de Obede. E ambas, Rute e Noemia, deram
graças ao Senhor pelas m uitas bênçãos dele
recebidas.

A b ril de 1973
embro-me de, quando cri­ são, meu pai sem pre teve um

Amigo
L ança, fic a r ouvindo as
m uitas experiências m is­
sionárias de meu pai, A lb e rt
lugar para d o rm ir e comida su­
ficie n te . Certa vez, contudo,
sentia-se desanimado por cau­
Lorenzo C ullim ore, e de como sa de sua condição e a aparên­
suas preces eram respondidas. cia surrada e m iserável das
Para Outro Nos prim eiros tem pos da
Igreja, os m issionários via ja­
roupas. Tinha caminhado tan­
to, que a sola dos sapatos es­
vam sem bolsa nem alforje . tava furada; o paletó e calças
Isto quer dizer que não leva­ apresentavam rasgos; a camisa
vam dinheiro algum, nem as estava desbotada e puída, e os
outras coisas costum eiras. galhos baixos das árvores ha­
Eles dependiam inteiram ente viam produzido furos no seu
do Senhor para obter comida, chapéu. Ele orou ao Senhor
um lugar para dorm ir e a roupa como nunca havia fe ito antes
de que necessitavam . para que o ajudasse a obter
Durante o tem po de sua m is­ roupas novas.

Élder James E. Cullimore


Assistente dos Doze

28 A LIAH O N A
Pouco depois, papai chegou
à cidade que era sede do con­
dado. Quando foi pegar sua
correspondência, havia três
cartas esperando por ele, to ­
das contendo dinheiro. Além
disso, encontrou duas ou três
pessoas que também lhe deram
uma certa quantia. A ssim , pôde
ir à loja e com prar o necessá­
rio. Quando o balconista so­
mou o valor das com pras, a
nota dava exatam ente a soma
de que dispunha. Papai sempre
dizia: “ Isto fo i realm ente uma
resposta à oração".
Depois de estar em missão
cerca de um ano e meio, esta­
va bastante preocupado de não
te r possibilidade de mandar um
presente de aniversário à espo­
sa. Ficou m uito tris te com isso
e um tanto saudoso de casa.
Como desejava te r algo para
mandar para ela nessa data uma estrada de carroça que Depois de convencidos de que
especial! parecia não te r v is to quase ne­ não fora perdido por ninguém
Eis como meu pai contava o nhum tráfego há semanas. da vizinhança, arranjei uma cai­
caso: Olhando para o chão, deparei xinha e enviei o broche à minha
"O rei fervorosam ente, para com um belo broche jogado no m ulher como presente de ani­
que pudesse ser capaz de man­ m eio do cam inho. Estava preso versário.
dar um presente de aniversário num cartão como que recém- “ Ela, naturalm ente, ficou sur­
à minha esposa. Ao jejuar, fa­ saído da oficina. Não parecia presa ao receber tão belo pre­
zia menção especial desse de­ provável que alguém da v iz i­ sente e admirou-se de como eu
sejo em minhas preces. nhança tivesse meios para um pudera adquiri-lo. Usou-o até
“ Na época, estávam os pre­ broche aparentem ente tão d is­ eu v o lta r para casa, mas quan­
gando numa região escassa­ pendioso. Quando m ostrei o do soube que eu o conseguira
mente povoada, nos altos das achado ao meu com panheiro, em resposta a uma oração, dei­
ondulantes co lin a s de Cumber- ele disse: ‘ Eis a resposta às xou de usá-lo com medo de
land. As casas estavam disper­ suas orações.’ perdê-lo.”
sas, distantes uns trê s quilôm e­ “ Indagamos em todas as ca­ O broche continua de posse
tros uma da outra e havia pouco sas visitadas durante os dias da fam ília e recorda-nos as
tráfego na área. A população seguintes, para saber se o bro­ experiências m issionárias de
ali radicada era paupérrim a. che pertencia a alguém, mas meu pai. É uma das mais valio­
“ Um dia, caminhávamos por nenhuma pessoa sabia dele. sas lembranças que temos.

A b ril de 1973 29
PARA Qual a Rota?

DIVERTIR

30 A LIAH O N A
Use Aquilo Que Tem
Robert K. Thomas

nquanto fazia o colegial, eu — Parece que sou um pouco mais Pouco depois, apareceu uma mos­

E estava decidido a tornar-me


campeão mundial dos pesos-
pesado, não é?
Ele não respondeu a isso, mas, ao
pesados. Estávamos na época da amarrar
pressão, e esse era o único meio
de­ as luvas, falou:
— Bem, meu filho , eu luto por
ca já velha, senil, e eu tentei pegá-la
diversas vezes Não consegui nem
chegar perto. Então ele falou:
É aí que está o seu defeito. Seus
rápido que conhecia para arranjar instinto. Não consigo pensar antes reflexos não são suficientem ente rá­
um milhão de dólares. Eu era um de acertá-lo. Assim que v ir uma bre­ pidos. E nunca serão. Não há nada
sujeito grandalhão, tendo vencido fa­ cha, eu o acertarei. Só quero que que possa fazer sobre isso, filh o ,
cilm ente algumas lutas entre ama­ entenda que, se eu bater um pouco você é um bocado alto; alguma vez
dores no colégio. A visão do que mais fo rte do que acha justo, não é já pensou em jogar basquete?
poderia te r dentro de uns poucos por querer. Arrastei-m e para casa, o mundo
anos me fascinava. Contudo, reco­ Ao que respondi: inteiro desabando em torno de mim.
nhecia vagamente que os adversários — Certo. Eu também não vou fazer Mamãe estava doente, acamada,
enfrentados não eram grande coisa cerimônias com o senhor. como passou uma boa parte de sua
e que, provavelmente, necessitava Levantou os olhos para mim, mas vida. De fato, foi o últim o verão que
de um bom treinador, antes de che­ não sorriu. Apenas disse: viveu. Eu estava sentindo bastante
gar a ser o “esperado lutador”. — Não se preocupe com isso, pena de mim mesmo. Fui para junto
Quando um rijo homenzinho se filho. dela, contei o que me havia acon­
mudou para a casa vizinha e dei uma O resto da história é meramente tecido e perguntei:
oíhadela no seu rosto, senti que ali lastim ável. Eu não cheguei a tocá-lo — Por que acontecer a mim? Por
estava o almejado auxílio. Corri — nem cheguei a tocá-lo. Subita­ que meus reflexos não são mais li­
para ajudá-lo na mudança, e a p ri­ mente, após um minuto, quando es­ geiros?
meira pergunta que lhe fiz foi: tava obviamente com a guarda to ta l­ E continuei a me lamentar desse
— O senhor é lutador de boxe? mente aberta sem sequer notá-lo, jeito , até que mamãe parece ter-se
Ele deu um meio sorriso e disse: ele me acertou na ponta do queixo. cansado. Ela tinha dores e, fin al­
— Parece evidente, não parece, Sua enorme luva de treino parecia mente, disse com bastante firmeza:
filho? Sim, fiz umas setenta a oiten­ esconder uma barra de ferro. Caí —- Ora vamos, Bobby, o que você
ta lutas como profissional. como um saco de farinha. Não foi tem é suficiente!
Então eu falei: bem um nocaute, mas estava bas­ Nada mais que mamãe me disse
— Também sou lutador! tante aturdido. Quando minha cabeça tem sido tão ú til como isto. “ O que
Olhando para mim, respondeu: clareou e levantei os olhos, ele es­ você tem é s u fic ie n te !” Quando se
— Bem, tamanho você tem. tava tirando as luvas. Pus-me de pé se ntir frágil e inadequado, permita-
Eu prossegui: com um pulo, dizendo: me in s is tir que o que você tem é
— Ainda assim, não tive nenhum — Ora, vamos! Agora já sei a di­ suficiente, desde que — nas pala­
treino de verdade. O senhor não po­ ferença entre um amador e um pro­ vras memoráveis de Henry James
deria dar-me algumas “ dicas” ? Até fissional, mas o senhor pode-me — você seja o “ tipo de pessoa em
hoje, venci todas as lutas. ajudar. quem nada é perdido". Jamais preci­
Após hesitar por um instante, re­ Ele, porém, continuou balançando sará ser tão ignorante como é hoje,
plicou: a cabeça e tirando as luvas: A visão nem tão inábil ou despreparado.
— Pois bem. Apareça na minha do um milhão de dólares começou Você pode capitalizar os pontos fo r­
garagem qualquer dia desses. a desvanecer-se. Quase que em pâ­ tes que possui e progredir positi­
Não esperei por qualquer dia des­ nico, agarrei-o, implorando: vamente.
ses. Apareci na mesma tarde. Ele — Então não quer ajudar-me? Não pense inútil e infrutiferam ente
sorriu um pouco diante de minha Ele apenas libertou-se com uma no dia em que vai estudar, em que
sofreguidão, mas, finalm ente, deu um sacudidela. pretende ler todos aqueles bons li­
jeito de localizar um par de enor­ Nesse exato momento, passou vros, ao invés de fica r vendo frívolos
mes luvas de treino. Ele devia pesar voando uma reluzente mosquinha programas de televisão. Você está
uns sessenta a sessenta e cinco qui­ nova. Ele estendeu a mão e captu­ vivendo a vida que pretende. Como
los, enquanto eu andava lá pelos rou-a, dizendo: o Irmão Richard L. Evans costumava
oitenta e cinco. Tirando a camisa, — Agora, filho , é a sua vez. Pegue dizer: “ O que vai acontecer, está
observei: a seguinte. acontecendo.”

A b ril de 1973 31
As respostas visam esclarecer e dar perspectiva; Eu procuraria um que se mostra à vontade com a
não são pronunciamentos doutrinários da Igreja. fam ília, quando visita minha filha, que nos informa de
seus planos para a noite, de modo que saibamos a que
horas estarão de volta, que nos comunicará por tele­
fone, se houver um im previsto inevitável; em suma,
alguém que se preocupa sinceramente com os senti­
mentos alheios.
Eu procuraria alguém que tenha confiança em si
próprio e em sua masculinidade — seus modos v iris —
bem cuidado no v e s tir e boa apresentação, bondoso e
gentil, e que demonstre calor e interêsse. Sem estas
qualidades, a fem inilidade não pode encontrar sua rea­
lização. A mulher foi criada para ser adjutora do ma­
rido — mas é ele quem inspira com seu carinhoso cui­
dado.
Gostaria de que fosse galanteador — satisfazendo,
assim, os anseios românticos de toda moça. Shakes-
peare expressou-o concisamente: “ Todo mundo ama o
amante.” Ele possuirá certa inclinação por alguma das
belas artes — música, literatura, dança e teatro — que
se tornará parte de seu refinam ento pessoal.
Procuraria potencialidade, não perfeição, no rapaz
mórmon, e me deleitaria vendo o desabrochar de suas
qualidades latentes, pois terá nascido de bons pais que
lhe deram o exemplo e são modelos para ele seguir.
“Que tipo de pessoa, você acha, daria o marido ideal
Será alguém que honra seu Sacerdócio e possui
para sua filha?”
uma fé crescente de que é filh o de Deus, de que pode
tornar-se um chefe de fam ília e parte da eterna cadeia
fam iliar. Ele estará nos lugares certos no dia do Sá­
bado, fam iliarizado com as coisas espirituais e à von­
tade no trabalho espiritual com outros.
Deve ser ambicioso e te r iniciativa, ser capaz cfe
trabalhar duramente, e estar progredindo em direção à
sua independência econômica. As Escrituras deixam
bem claro o dever do homem:
“ Mas, se alguém não tem cuidado dos seus, e prin­
cipalmente dos da fam ília, negou a fé, e é pior do que
o in fie l.” (I Tim. 5:8)
Preparar-se para ganhar a vida num mundo compe­
titiv o requer coragem e o hábito de responsabilidade já

desde cedo. Um moço que se contenta em fazer algo


tão pouco original como fica r vendo televisão, encontrará
dificuldade em ganhar a confiança de u'a mãe vigilante.
Ele gostará de crianças e aceitará de bom grado a
S tella H. Oaks
responsabilidade de guiá-las nos caminhos do Senhor.
S upervisora de Educação Geral e de A d u lto s .
Escolas M u n icip a is de Provo. Toda mãe anela tornar-se avó algum dia.
Ele não temerá ó futuro, pois costuma orar e crê
A m aioria das mulheres, especialmente as na orientação e sussurros do Espírito. Obedecerá aos
mães, são casamenteiras por formação, diferindo ape­ estím ulos espirituais, e no devido tempo, presta tes­
nas na sutileza com que examinam um rapaz mórmon temunho compartilhando a força de seu caráter com
com vistas aos valores tanto práticos como eternos. sua comunidade.

32 A LIAH O N A
Para um filh o meu, eu escolheria uma esposa de
personalidade alegre, jovial, alguém que tivesse calor
e afetividade, e aptidão de demonstrá-los nos momen­
“Que tipo de pessoa, em sua opinião, daria a esposa tos apropriados. Procuraria alguém proveniente de um
ideai para seu filho?" lar amoroso. -Ela deveria ser compreensiva, gentil e
atenciosa, mas, acima de tudo, altruísta. Gostaria de
que fosse inteligente e de pendor espiritual, saudável
e fisicam ente atraente, isenta de achaques. Esse a tri­
buto físico não significa a mesma coisa para todos e
não importa de maneira necessária, que seja uma rai­
nha de beleza; mas, sem dúvida, a futura esposa deve
agradar aos olhos do marido e, idealmente, ser um
pouco mais jovem do que o homem com quem se casa.
Em últim a análise, desejaria que a mulher de meu
filho fosse prim ordialm ente uma dona de casa, alguém
que não se desgostasse das lides caseiras. A mater­
nidade deveria ser seu mais alto anseio — sua prin­
cipal missão. Por isso, deveria gostar de crianças e
sentir profundo desejo de criar sua própria fam ília.
D e w itt J. Paul
Para tanto, deveria te r bastante maturidade e u’a mãe
Patriarca da Estaca S hort H ills.
Nova Jersey. suficientem ente sensível para afrouxar os laços até en­
tão bastante íntimos.
Ao contemplar a nova liberalidade entre os sexos,
Espero que essa jovem e meu filh o se sentissem
a crescente taxa de divórcios e a derrocada do lar, um
profundamente apaixonados um pelo outro — um amor
pai santo dos últim os dias não pode evitar uma pro­
tão belo, que quisessem que fosse selado num templo
funda preocupação com a influência que essas tendên­
do Senhor para o tempo e toda a eternidade. Não de­
cias possam exercer quanto ao casamento de seus f i­
sejaria que deixassem de conhecer a alegria do amor
lhos e filhas. Sob tais circunstâncias alarmantes, to r­
romântico da juventude, mas gostaria de que reconhe­
na-se mais importante do que nunca escolher um com­
cessem que ele é apenas o prim eiro passo para uma
panheiro conjugal apropriado.
consorciação madura na qual trabalharão juntamente
Tenho cinco filho s homens. Se, como pai deles, a
com o Senhor, no cum prim ento do seu sublime propó­
sociedade me desse o encargo de escolher suas res­
sito de im ortalidade e vidas eternas.
pectivas esposas, eu procuraria uma jovem que fosse
membro fie l e ativo da Igreja. Idealmente esse alguém Considero a pureza pessoal um atributo indiscutí­
entenderia como deve ser um verdadeiro lar SUD. Em­ vel numa garota mórmon. Teria eu presumido demais,
bora tal nora provávelmente não chegasse a ser a nesta época em que as relações pré-maritais são lar­
adjutora modelo que vou descrever, tenho certeza de gamente consideradas como um teste desejável, antes
que as condições mencionadas contribuiriam para que de se entrar num relacionamento matrimonial perma­
ela se aproxime o máximo possível do ideal. nente e sacramentado? Penso que não, pois essa com­
Os problemas de ajustamento e compatibilidade se­ panheira ideal por mim visualizada não teria necessida­
riam dim inuídos, se meu filh o e sua m ulher tivessem de de tal recurso. Ela e meu filh o devem te r baseado
alguns interesses comuns e, além de idêntica formação seu namoro, noivado e eventual casamento em bases
religiosa, um nível educacional, social e econômico de mais sólidas, fundamentadas em parte ao recorrerem
certa forma comparável. Seria desejável que a moça ao Senhor em busca de orientação, quando decidiram
tivesse um grau acadêmico e profissão especializada, se realmente serviam um para o outro.
porém mais importante ainda seria o desejo de contí­ E agora, depois de tudo o que falei, quero lembrar
nuo crescim ento e progresso. Seria bom se possuísse mais uma vez, sim ples e concisamente que, se devesse
certos talentos e habilidades — um interesse pela mú­ escolher uma esposa para um filh o meu, procuraria
sica ou outras formas de arte, e a habilidade de cos­ uma boa garota SUD, amorosa, saudável e inteligente.
turar e cozinhar. Seria ótim o, também, que essa eleita Mas, ainda mais simplesm ente, eu diria a meu filho:
conhecesse o valor do dinheiro. “ A sua escolha é também a m inha.”

A b ril de 1973 33
fose milagrosa; tampouco tínhamos, na época, m aturi­
dade bastante para adquirir uma firm e convicção das
verdades do Evangelho.
Essa percepção da presença do Espírito Santo e
um testemunho firm e da veracidade do Evangelho che­
gam geralm ente por volta dos quinze a vinte e cinco
“Como saber se recebemos o Espírito Santo?”
anos de idade. É verdade que uma pessoa jovem, criada
num lar em que haja a presença do Espírito Santo, po­
derá sentir sua influência desde que nasce. Assim de­
clarou o Presidente Joseph Fielding Smith, que não
conseguia lembrar-se de quando não sentira o Espírito
Santo. O Presidente McKay, por outro lado, contou te r
orado pelo Espírito Santo quando moço, e que este veio
com o correr do tempo, conforme cumpria seus deve-
res. Para alguns de nós, a coisa acontece quase que im-
perceptívelm ente, até que, num dado momento de in-
trospecção, nós nos vemos como parte de um grande
plano divino. Então, compreendemos quem somos, por
que estamos aqui, onde vamos e o que devemos fazer.
Estabelecemos, assim, uma identidade que nos co nfir­
ma que Deus vive, que ele atenta para nós e nos ama,
e que lhe somos aceitáveis.
Essa percepção da própria individualidade, esse
momento de auto-descobrimento, essa consciência de
Deus e de seu interesse por nós, às vezes nos comove
Leonard J. A rrin g to n
H isto ria d o r da Igreja. até às lágrimas, às vezes inspira-nos exaltadas peças
retóricas ou poéticas, e quase que invariàvelm ente nos
motiva a adotar metas valiosas. Quando, mais tarde,
Dizem os psicólogos que o problema fundamental voltam os o olhar para esse instante — o estabeleci­
da juventude de hoje é a identidade. Aparentemente, as mento de nossa identidade — a aquisição de um tes­
pessoas jovens passam pelo que se convencionou cha­ temunho — o segundo batismo — vemos que foi de­
mar de crise de identidade — crise na qual procuram cisivo; ele nos levou a uma grata atividade na Igreja,
determ inar quem são ou o que são. Isto parece ter-se na escola e na profissão escolhida. Paulo teve uma
tornado particularm ente d ifícil para muitos jovens de experiência dessas na estrada de Damasco; Joseph
hoje, por causa das rápidas mudanças a que estão ex­ Smith conheceu-a no bosque sagrado de Palmyra; m ui­
postos, e a velocidade com que se transform am as tos jovens tiveram uma experiência assim durante o
personalidades. últim o ano colegial, no prim eiro ano de faculdade ou
De suma importância para toda pessoa é aquele durante os prim eiros meses de missão. A minha expe­
estágio fundamental e cruciante no qual ela estabelece riência aconteceu quando me dedicava à leitura, na bi­
um relacionamento viável com seus semelhantes, com blioteca da Universidade da Carolina do Norte, onde
o universo e com Deus. Em termos religiosos, esse pro­ estava em busca do doutorado em H istória Econômica.
cesso de identificação do “ eu" às vezes corresponde Sendo uma genuína visitação do Espírito, o segun­
ou é equivalente ao que poderíamos chamar de segun­ do batismo faz com que, nas palavras de Helamã, nosso
do batismo, ou seja, o batismo pelo fogo. Diz o Após­ coração seja cheio “ como que de fo g o ” . (Hei 5:45) A
tolo João que, para ser salva, toda pessoa tem que fonte de nossa alçna passa a jo rrar arrebatadamente,
receber dois batismos — o batismo pela água e o ba­ como se houvesse sido retirada de chofre a sobrecarga
tism o do Espírito. (João 3:3-5) Para alguns de nós, de uma secreta mola.
o batismo pela água deu-se aos oito anos de idade. Na As cartas, diários e autobiografias de antigos líde­
confirmação, usualmente um ou dois dias depois, foi- res da Igreja contém muitas descrições desse batismo
nos dito que recebessemos o Espírito Santo. Não obs­ do Espírito. Uma destas foi escrita por Lorenzo Snow,
tante, a grande m aioria não sentiu nenhuma metamor­ que, mais tarde, chegou a apóstolo e presidente da

34 A LIAH O N A
Igreja. Conta o Élder Snow que esperava receber o Es­ com certeza, que Deus vive, que o Evangelho é verda­
pírito Santo e ver cumprida a promessa de que saberia deiro, que a Igreja é divina, e que o seu potencial para
se a doutrina era de Deus (Vide João 7:17), imedia­ ser exaltado é fortalecido pela sabedoria e retidão com
tamente após a sua imersão nas águas do batismo, aos que viver. Quando alguém possui tal convicção, rece­
vinte e dois anos de idade. Mas ele não obteve tal con­ beu-a através de m inistrações do Espírito Santo.
firmação imediatamente, e começou a preocupar-se se
porventura havia fe ito mal — se Deus estava agastado
com ele. Várias semanas depois, enquanto estudava
as Escrituras, sentiu-se deprim ido e triste . Saiu de
casa e ficou andando atormentado pela incerteza e en­
volvido por “ uma indescritível nuvem de trevas". Tinha
por hábito ir todas as noites até um pequeno bosque “É apropriado um não-membro participar do sacra­
para orar em segredo. Naquele dia, estava tão abatido, mento quando comparecer à Igreja a convite meu?”
que não “ sentia nenhuma disposição" para orar. “ Os
céus pareciam-me como que feitos de bronze", conta
ele. Não obstante, forçou-se a orar e logo ouviu um
ruído como o “ roçagar de vestes de seda” acima da
cabeça:
“ ...im e d ia ta m e n te desceu sobre mim o Espírito
de Deus, envolvendo minha pessoa por completo, en-
chendo-me desde o topo da cabeça até a sola dos pés,
e, oh, que alegria e felicidade senti! Não há linguagem
capaz de descrever a transição instantânea de uma
densa nuvem de trevas mental e espiritual, para a re-
fulgência de luz e co n h e cim e n to ... Recebi nesse ins­
tante, a compreensão perfeita de que Deus vive, que
Jesus C risto é o seu Filho, e da restauração do santo
Sacerdócio e da plenitude do Evangelho. Foi um batis­
mo total — uma imersão tangível no princípio ou ele­
mento celeste, o Espírito Santo; e mesmo, mais real
James E. Faust.
e físico em seus efeitos sobre cada partícula do meu
Assistente do Conselho dos Doze.
organismo do que a imersão na água."
Deus lhe conferira, conclui ele, “ aquilo que é de Durante sua estada entre os nefitas, nosso Senhor
valor superior a todas as riquezas e honras que o mun­ ensinou que o sacramento deve ser dado “ a todos os
do pode conceder” . que crerem e forem batizados em meu nom e” , (3 Néfi
A irmã de Lorenzo Snow, Eliza, autora de alguns 18:5) pois o seu sangue foi derramado “ por tantos
de nossos hinos favoritos, e mais tarde presidente da quantos crerem em meu nom e” . (Mateus 26:29. Versão
Sociedade de Socorro da Igreja, teve uma experiência In spirad a).
semelhante: O sacramento é, portanto, bàsicamente uma reno­
“ Fui batizada por um élder "m órm on” , a 5 de abril vação dos convênios feitos nas águas do batism o. É
de 1835, e naquela mesma noite, senti o batismo do um renascimento para aqueles que tomaram sobre si
Espírito tão nitidam ente quanto o da água no rio. Ha­ o nome e a causa de Jesus, aqueles que estão tentan­
via-me recolhido à cama e, enquanto meditava sobre do d irig ir sua vida para a retidão pessoal em harmo­
os maravilhosos acontecimentos sucedendo ao meu re­ nia com ele.
dor, tive uma sensação indescritível, p a lp á v e l... co­ Ainda que apenas destinado aos membros da Igre­
meçando pela cabeça e engolfando minha pessoa e te r­ ja, participar do sacramento é uma questão de cons­
minando nos pés, produzindo inexprim ível fe licid ad e.” ciência individual, devendo-se te r o máximo cuidado de
Os registros da Igreja contêm numerosas histó­ jamais ofender investigadores e convidados, proibindo-
rias desses segundos batismos — dessa prova de iden­ os de participar. Na m aioria dos casos, os convidados
tidade, dessa cientificação da divina presença. A par­ compreenderão que participar do sacramento é um
tir desse momento, a pessoa assim abençoada sabe, símbolo da condição de membro da Igreja.

A b ril de 1973 35
r __ ___

Agua Que Faz


Andar as Rodas

“Embora a poluição aquática e atmosférica possa náo ser um sério


problema em todas as partes do mundo, é uma ameaça crescente. O
renomado explorador Thor Heyerdahl encontrou sinais da poluição até
mesmo em pleno oceâno. (Ver A Liahona, Set. 1972, pág. 16). O motor
a gasolina é considerado uma das principais fontes de poluição atmos­
férica, e tanto governos como fabricantes estão empregando milhões
de dólares no desenvolvimento de novos motores e combustíveis que
poluam menos."

oger Billings, formado em Quí­ ção formal em Química ou Física até esquecera que tinha de conseguir

R mica pela Universidade Bri­


gham Young, tem obtido no­
táveis tentos em sua busca de
solucionar, prática e economicamen­
aí," recorda Roger. “ Depois de ler
um livro que explicava como a água
podia ser decomposta em hidrogênio
e oxigênio pela eletrólise, aprendi
energia de algum lugar e que o dí­
namo não seria capaz de suprir
senão uma parcela do necessário.”
Roger começou a estudar Química,
te, o problema da poluição atm osfé­ que, quando se queima hidrogênio e com o agravamento do problema
rica causada pelos veículos a motor. em presença do ar, ele se transform a da poluição no mundo, passou a in-
Com sua últim a idéia do emprego novamente em água. Contei então a teressar-se mais e mais em te r um
da água como parte da m istura com- um professor de Biologia que ima­ carro movido a hidrogênio. Seus es­
burente de hidrogênio e ar, ele acre­ ginava poder acoplar um dínamo a forços nessa área, contudo, conti­
dita te r conseguido o escapamento um m otor e u tilizar a eletricidade re­ nuavam infrutíferos, e assim passou
não-poluidor. sultante para decompor a água. De­ a participar de feiras de ciências
O mais incrível ainda com respei­ pois, usaria o hidrogênio da água com outros projetos, ampliando seus
to à invenção de Roger é que o ar como combustível, para tocar o mo­ conhecimentos e colecionando prê­
que circula pelo seu motor a hidro­ tor. Em seguida, recuperaria os gases mios. Durante o últim o ano do curso
gênio sai mais limpo do que entra. de escape para condensá-los nova­ colegial, Roger principiou a dedicar
Atualm ente, Roger possui dois car­ mente em água. Com tal ciclo, achei mais tempo ao seu motor a hidro­
ros de demonstração movidos a hi­ que o m otor funcionaria indefinida­ gênio.
drogênio, um Mazda RX-2 e um Vol­ mente. Entretanto, naquela época, Certa noite, após meses de ingen­
kswagen. Eles representam muitos não tinha conhecimentos suficientes tes esforços, o engenho começou a
anos de pesquisa e perseverança, sobre carros, tampouco sobre a sim ­ funcionar. Tinha agora um motor mo­
iniciados quando estava ainda no se­ ples lei física e da vida que diz ser vido a hidrogênio que funcionava
gundo ano do curso colegial. impossível conseguir algo por nada, por vinte segundos. Depois de aper
“ Eu nunca tivera qualquer instru­ como eu estava tentando fazer. Eu feiçoá-lo, ganhou com ele o prim eiro

36 A LIAHONA
O ar que circula pelo motor de Roger Billings sai mais
limpo dc que entra.

prêmio da feira de ciências daquele “ Tenho enfrentado muitos fracas­


ano. Em 1966. levou um motor de sos em minhas experiências, e mui­
aeromodelo, movido a hidrogênio, à tas vezes senti-me tentado a desis­
Feira Internacional de Ciências em tir, mas, nesses momentos, havia
Dallas, tirando o quarto lugar. Mas sempre alguma coisa que me inci­
a coisa ficou nisso mesmo, pois tava a prosseguir. E como se eu t i­
Roger foi chamado para uma missão vesse sido chamado para esse tra­
no Brasil, onde o tal motor ainda balho. Sinto que, sem a influência
viria a calhar. e ajuda do Senhor, eu nunca teria
"Um dia, estávamos batendo de tido êxito.
casa em casa, quando um homem “ Outra experiência que tive foi
veio à porta. Diante da pergunta se com um dos meus prim eiros carbu­
gostaria de saber mais sobre a radores. Eu costumava soprar vidro
Igreja, respondeu que não estava e fiz um grande balão, de uns trinta
interessado. Ao conversarmos um e cinco por trin ta e oito centímetros
pouco mais, descobriu meu interesse de diâmetro e três m ilím etros de
pelas ciências e sabendo do meu grossura. Era parte do meu carbu­
projeto, convidou-nos a entrar. rador. Como via que o hidrogênio
"Quando voltamos a procurá-lo, não estava misturando bem, este
ele estava acompanhado de um in­ expediente faria com que se pro­
dustrial que queria patrocinar, a mim cessasse uma m istura perfeita de ar
e meu companheiro, as pesquisas e hidrogênio dentro do balão, dando
sobre o hidrogênio. Os vizinhos dele tempo suficiente para se misturarem
eram dois congressistas brasileiros e Tiuírem para o motor. Eu tinha um
que já estavam prontos a nos levar pequeno instrumento de controle,
para a apresentação de nosso pro­ que devia ser vigiado e manejado,
jeto diante da assembléia. Era tudo para manter o nível certo da mistura
m uito excitante, mas eu sabia que dentro do balão. Este estava ligado
minha principal responsabilidade era a um motor de máquina de aparar
para com a missão e assim con- grama, e enquanto eu cuidava desta,
centramo-nos no Evangelho. Embora alguém mais tinha que vigiar o con­
aquelas pessoas não se filiassem à Hoger explica í colegas seus como trole de mistura.
o carburador alimentado a hidrogênio “ Recrutei meu irmãozinho de dez
Igreja, acho que sentiram o Espírito
queima as partículas (ou fumaça) e
Santo e quem sabe, algum dia ainda as expele pelo sistema exaustor.
anos para a tarefa. Estando já tudo
o farão,” diz Roger. (Foto por cortesia de Haf W illiam s). preparado, senti que devíamos fazer

"Quando voltei da missão, reco­ está m uito próximo e que, em m ui­ uma oração. Era o que costumava,
mecei a mexer no meu projeto, mas, tas ocasiões, podemos receber ins­ antes da maior parte de minhas ex­
como estava estudando e trabalhan­ piração. Uma das experiências das periências, porque, na verdade, eu
do ao mesmo tempo, eu dispunha de muitas que tive foi conversar com não sabia exatamente o que estava
muito pouco tempo para pesquisas. um cientista m uito douto, um enge­ fazendo. Na oração, pedi que fôsse­
Logo o serviço de fomento da Uni­ nheiro mecânico. Ele disse-me que mos protegidos e tivéssem os inspi­
versidade Bhigham Young passou a era impossível fazer funcionar um ração para saber como agir. Imedia­
interessar-se pelo projeto e elaborou m otor a hidrogênio, citando uma ex­ tamente, tive uma forte intuição de
um cróqui básico do que eu me pro­ tensa lista de razões. Fiquei desa­ que devia cobrir o balão, por isso
punha conseguir, e encaminharam- nimado, pois se tratava de homem peguei a pesada capa de lona imper­
no à Ford M otor Company, a qual bastante instruído, mas ainda assim meável de meu pai, fechei o zíper e
resolveu patrociná-lo, dizendo que, fui para casa e orei a respeito. Ao os botões e enfiei-a por cima do
se os resultados fossem auspicio­ final da prece, eu sabia apenas que balão Quando dei partida no motor,
sos, considerariam um futuro sub­ ele estava errado. Eu sabia que tinha houve uma faísca retardada que se­
sídio. possibilidades e que o engenho iria guiu pela perfeita m istura de ar
“ Todos nós sabemos que o Senhor funcionar. e hidroaênio até o balão. Deu-se aí

A b ril de 1973 37
tremenda explosão, e a capa ficou postos de oxido de nitrogênio. Com Evangelho com mais força diante dos
em frangalhos, mas nem eu nem muita pesquisa e técnica, Roger con­ influentes círculos científicos.
meu irmãozinho, que estava ajoelha­ seguiu reduzir o nível de óxidos de "Aprendi algumas coisas do modo
do perto do balão, ficamos feridos. nitrogênio nos motores a hidrogênio mais duro. Primeiro, estabelecer um
Tenho uma coleção de experiências para uma parte por milhão, em com­ objetivo elevado e acreditar nele de
como esta em que fui ajudado por paração às quarenta parte por milhão fato, como minha meta de fazer aque­
Deus. nos mais aperfeiçoados m otores a le motor funcionar. Eu não tinha ne­
“ Penso que todo cientista SUD gasolina. E essa uma parte por m i­ nhuma qualificação, nenhum treina­
leva enorme vantagem sobre qual­ lhão do motor de Roger é movida mento naquele campo. Poderia pa­
quer outro, porque temos não só a por um conversor catalítico. recer que eu era a pessoa errada,
diligência de buscar como também “ Quando os hidrocarbonetos e mo­ mas possuía aquela meta e fiz os es­
a chave da inspiração. Creio que nóxidos de carbono (poluidores de tudos necesários p^ra alcançá-la.
sempre que um cientista descobre outros carros) existentes no ar são Ainda tenho uma porção de metas
seja o que for, ele contou com ajuda, aspirados pelo m oto', são reduzidos que ainda não consegui atingir, mas,
porque o Senhor quer tornar conhe­ a água e dióxido íe carbono pelo durante as tentativas, superei muita
cido determinado conceito, e consi­ processo de oxidação, de modo que coisa que, de outra forma, teria sido
dera a pessoa merecedora, trabalhou o nível desses poluidores é de fato incapaz. Meu maior objetivo cientí­
com bastante empenho, ou por algu­ reduzido,” explica ele. fico é algum dia organizar um cen­
ma razão que só ele conhece, decide “ O hidrogênio pode ser produzido tro de pesquisa para controle da po­
que deve ser ela. Se nos m antiver­ a preço com petitivo com o da gaso­ luição atmosférica, sem fito de lu­
mos achegados ao Senhor e viver­ lin a ” , assegura Roger. É possível cros.
mos o Evangelho, estaremos em po­ produzí-lo com a energia secundária “ Também aprendi a ser simples em
sição ideal para sermos um profeta de um reator atômico, ao custo de contato com muitos cientistas SUD.
ou revelador no campo da ciência dez centavos de dólar por mil pés Como são humildes e sinceros aque­
física. cúbicos. Contudo, não há suficiente les que realizaram grandes feitos me­
disponibilidade de energia atômica ritórios!
Roger diplomou-se na Universida­
para tal produção; outros métodos de “ E por últim o, é preciso acreditar
de Brigham Young, em maio de 1972,
produção de hidrogênio são mais dis­ em si próprio. Uma vez atingida nos­
e tem usado o Mazda e o Volkswa­
pendiosos, mas ainda com petitivos. sa meta, olhamos para trás e com­
gen para dem onstrar seu invento.
As objeções ao hidrogênio como preendemos por que fizemos aquilo,
Praticamente todo carro em uso na
combustível prendem-se à seguran­ quem está por trás de nós e que, sem
atualidade poderia ser convertido
ça. Roger, todavia, afirm a não ser Deus, não somos realmente quase
para funcionar com hidrogênio, visto
necessário usar um tanque sob pres­ nada."
que o tanque de gasolina, tubulação
são a baixa temperatura. Os Brook- O Volkswagen a hidrogênio de Ro­
e carburador podem ser utilizados
haven National Laboratories de Nova ger arrebatou o prim eiro lugar na ca­
para injetar água no motor. A m is­
York demonstraram um tanque que tegoria anti-poluição da Urban Vehi-
tura água-ar é, mais adiante, m istu­
armazena hidrogênio em forma de hi- cle Design Competition (Competição
rada com hidrogênio ao entrar no
dreto metálico, de modo que o gás de Projeto de Veículos Urbanos. N.
cilindro. Roger não prevê nenhum
é libertado quando necessário, f i­ do T.) de âmbito nacional, recente­
problema com corrosão pela água no
cando seguramente armazenado quan­ mente realizada em Washington D.C.
m otor ou carburador. “ A fin a l," diz
do o veículo não está em movimento. Seu carro superou de longe as mar­
ele, “ já se faz circular água pelo
Roger vem trabalhando ultim am en­ cas federais, conquistando 709 pon­
motor para resfriá-lo e, além disso,
te com W illiam Lear, eminente inven­ tos de 750 possíveis. Um carro da
a pressão forçará a saída da água.
to r e industrial, produtor do jato UCLA (Universidade da Califórnia,
O carburador não será corroído. Tal­
Lear, estéreo de 8 faixas, rádio para em Los Angeles) tirou o segundo lu­
vez tenhamos que providenciar um
carro, e piloto automático para gar, com 546 pontos.
revestimento especial no interio r do
aviões. Juntos, estão aperfeiçoando Mais de dois mil estudantes, de
tanque e da tubulação, mas isto já
o m otor a hidrogênio e trabalhando sessenta e três universidades p arti­
é procedimento quase normal nos
num carro a vapor. ciparam dessa competição. Carros
carros de hoje."
A respeito de seu trabalho e pla­ dos Estados Unidos e do Canadá fo ­
É assim que funciona um m otor a nos futuros, diz Roger: “ O motivo ram julgados quanto à segurança,
hidrogênio, segundo Roger. O único principal de minha pesquisa é algum custo para o consumidor, d irig ib ili-
sub-produto da combustão do hidro­ dia fica r em posição de poder pres­ dade, resistência e pureza da des­
gênio é puro vapor d'água e com­ tar meu testemunho da veracidade do carga.

38 A LIAH O N A
ais tarde na vida, talvez, te­
Ela Ainda há poucos meses e espera um bebê

Ensina do
M nha recebido chamados para
lecionar, mas na época
que mantinha um diário, vovó não
em
— meu pai. Seu marido, George An-
derson Chandler, foi chamado
aceitou fazer missão na Califórnia.
e

era professora — não no sentido fo r­ No seu prim eiro apontamento, ela

Passado mal .
E no entanto, é nessa minha avó,
descreve a partida dele de Ogden,
Utah, acrescentando que a família
que nunca cheguei a ver, que penso dela procurou animá-la. Assim diz:
ao considerar o sentido profundo do Mostrei-m e tão bem quanto se pode
Beth C. Paullin esperar. Recolhi-me às nove horas,
títu lo da aula que devo dar: “ Você
Ensina o Que É. ” sentindo-me grata por te r um marido
Ela parece contente, até mesmo considerado digno de ir pregar o
um pouco travêssa, nesse instantâ­ Evangelho” .
neo enviado por um velho amigo da Ela manteve bom ânimo, ocupada
A Irmã Paullin, dona de casa e mãe de
fam ília. É de 1904, cinco anos depois com tarefas caseiras e a fam ília.
quatro filhos, vive na Ala de Paios Verdes,
Estaca de Torrance (C alifórnia), onde serve de te r escrito o diário, e mostra-a Mas uma noite, depois de vender en­
como líder “em-serviço” na A M M da estaca.
numa excursão com sua fam ília. Está tradas para uma festa em benefício
elegantemente trajada com um cha­ de outro m issionário, ela voltou para
péu da moda, mangas balão e am­ casa, amassou pão e foi para a cama,
plas saias. Na outra ponta do grupo, mas não para dorm ir: “ Fiquei pen­
aparece meu pai, então com seis sando em George, imaginando onde
anos de idade, antecipando sorriden­ estaria, o que sentia, e ansiando por
te as alegrias do dia. vê-lo, porque me sentia s ó .”

Minha mente guarda outras ima­ Existiam outros problemas a en­


gens contrastantes dessa minha avó. fren ta r além da solidão. De onde v i­
Uma moça pálida e séria junto da ria o dinheiro para manter o m issio­
janela, curvada sobre seu trabalho nário? “ Está sendo aberto um ca­
de costura; depois, uma jovem se­ minho para eu poder ganhar alguma
nhora sentada à mesa escrevendo, coisa. Ainda ontem à noite, roguei
com uma lamparina trem eluzente de­ ao Senhor que abrisse o caminho
senhando sombras na parede do para eu conseguir o que fazer. E
fundo . hoje, recebi dois vestidos para co­
ser. Quão gratos todos nós devería­
Como faleceu antes de eu te r nas­
mos ser. Eu s o u ."
cido, esse instantâneo e as raras fo ­
tografias que temos de A lice Am é­ O trabalho e os deveres na Igreja
lia Chandler são de grande valor ocupam a maior parte do tempo, mas
para m im . Porém, de valor ainda “ eu procuro ler um pouquinho todas
maior, eu reputo a fonte daquelas as noites. Estou estudando um es­
imagens mentais e as lições que boço da vida de Mary A . Livermo-
continua ensinando à fam ília — o re... ”
diário que manteve durante dois im­ Havia momentos de depressão:
portantes anos de sua vida. “ Ao chegar em casa, fiquei desa­
É o ano de 1897. A lice está casada pontada quando veio o carteiro, sem

A b ril de 1973 39
te r nenhuma carta para m i m . . . " , e Trabalho constante é o tema cor­
Ela Ainda mudanças: “ 21 de outubro [1897] foi rente de seu diário: trabalho ocasio­
um dia im portante. A Associação de nalmente interrom pido por reuniões

Ensina... M elhoramentos Mútuos das Moças


da Ala III [O gden] foi reorganizada,
na Igreja e saídas com a fam ília. Ela
é sustentada por uma fé que venceu
passando A lice Chandler a conselhei­ a solidão e monotonia da sua vida.
ra da presidente.” O advento do Ano Novo, 1898, inspi­
Às vezes, fica imaginando se o ra-a a escrever: “ Estou aqui escre­
marido “ tem uma cama onde dorm ir, vendo, é uma hora do ano de 1898.
se terá alguma coisa para comer, Ouvi os sinos distantes badalando as
onde e como estará. Eu oro por ele despedidas do ano velho e a chegada
o dia inteiro, e de noite sonho com do novo. Possa este ano ser tão aus­
ele." picioso como o passado, e a minha
Sua condição não era de prosperi­ vida tão imaculada quanto esta pá­
dade, porém havia outros mais ne­ gina na qual escrevo. Que eu possa
cessitados: “ A tarde, fui v is ita r os viver humilde e piedosamente, para
pobres e e n fe rm o s .” que o Espírito de Deus possa habi­
M uitos apontamentos repetem ape­ tar em mim e dar-me força de supe­
nas três palavras: “ C osturei o dia rar diàriamente algumas de minhas
todo." falhas, a fim de que minha luz b ri­

A despeito da pressão de outras lhe de tal modo, que eu seja digna

obrigações, mostrava-se ativa no de te r meu nome inscrito nos livros

Partido Republicano e se interessa­ da .Vida E te rn a .. . ”

va pelos assuntos cívicos: “ Fui a um A tinta nas páginas desse velho


comício no Teatro Lírico, convocado diário está esmaecendo. Sua vetusta
para d iscu tir a criação de uma usina capa negra está puída e escamando.
açucareira. Foram levantados dez Eu o comparo ao tesouro de idade se­
m il dólares ali mesmo." melhante deixado por outro paren­
Recebe sempre cartas do marido e te: algumas peças de um aparelho de
no prim eiro Natal que passam sepa­ porcelana Limoges. Sou m uito gra­
rados, ele “ me mandou conchas do ta por esses lindos pratos e me ma­
mar, duas grandes e um punhado de ravilho que continuem inalterados
pequenas, três lenços, um par de lu­ pelos anos E, no entanto, sua super­
vas e o melhor de tudo, cinco lindos fície reluzente e delicada não guar­
botões de rosa.” da nenhum traço de quem os legou.
A lice conseguiu mandar-lhe “ uma Sou imensamente agradecida pelo
caixinha de papel de carta e lenços". legado vivo deixado pela minha hu­
Ela é bastante precisa ao registrar m ilde Vovó A lice, sem pendor para
um im portante acontecimento ocor­ as letras nem conhecida pelo mundo,
rido a 4 de março de 1898: “ Dei à mas que, com seu diário, transpõe os
luz um belo garoto, às vinte para as anos para nos dar lições nas quali­
duas da tarde. Ele pesou nove li­ dades que eram suas: engenhosida-
bras." de, perseverança, bravura e fé.

40 A LIAH O N A
DAVID O. McKAY

O Valor de Uma Alma


Leon R. Hartshorn

oje em dia, todos se preo­ m entos. Mas a Igreja vinha prim ei­

H cupam com comprometimento

— com prom etim ento à exce­


lência, à sinceridade, ao valor da
ro. Era uma prova de fé, de compro­
m isso. Ao montar no cavalo para
partir, o Élder McKay ergueu o filh i-
nho nos braços, deu-lhe um beijo de
alma individual. David O. McKay despedida e disse:
também estava assim comprometido, — David, tome conta da mamãe e
mas com o^emor ao Evangelho, que da fam ília.
dava sentido e orientação a seus no­ Daquele dia em diante, um excep­
bres instintos. cional senso de responsabilidade pa­
Já na sua prim eira infância, em recia pesar sobre o jovem David.
H untsville, Utah, onde se criou fa- O Presidente McKay recorda ou­
zendo-se homem na fazenda paterna, tra lição vivida na mocidade:
ele aprendeu pelo exemplo de seus “ Agradeço ao meu pai terreno a
pais que o Senhor e a sua obra de­ lição que deu a dois garotos num
viam te r prioridade na vida de uma campo de feno, numa época em que
pessoa. Aos oito anos de idade, o dízimo costumava ser pago em es­
m orreram suas duas irmãs mais ve­ pécie. Estávamos a caminho do
lhas, e pouco tempo depois, o pai campo para pegar a décima carga de
foi chamado a cum prir uma missão feno e dirigímo-nos para a parte onde
de dois anos na Escócia. A Irmã M c­ transportaríam os a nona carrada, lu­
Kay estava para dar à luz dentro de gar em que havia “ capim duro” e “ ca­
Quando moço.
dez dias, a fazenda tinha que ser cui­ pim de b re jo ” . Quando íamos come-
dada, e a fam ília precisava de a li­

A b ril de 1973 41
Durante seus anos de universidade,
jogou futebol americano, tocou piano
numa orquestra de dança e foi eleito
presidente da classe no último ano.

Durante sua primeira missão na


Escócia.

David McKay com sua noiva, Emma.

Em qualquer idade, tinha que ser


considerado de boa aparência.

42 A LIAH O N A
çar a carregar o feno, papai gritou: tra de dança e foi eleito presidente A pedra com inscrição: “Seja
onde for, cumpre bem o teu
‘Não, rapazes, levem o carro para a da classe no últim o ano do curso. dever."
parte mais alta.' A li crescia o capim Próximo a formar-se, fez seus pla­
rabo-de-rato e capim panasco. Mas nos profissionais, porém, pouco an­
um dos garotos retrucou, (e fui e u ) : tes da entrega do diploma, recebeu
‘Por que não carregar o feno como uma carta do Presidente W ilford
vem?' W oodruff, chamando-o para uma HAT-E'ER-THOU-ART
“ Não, David, esta é a décima car­
rada, e o melhor não é demais para
missão na Grã-Bretanha. Era uma de­
cisão importante — e ele lutou com :t - w e l l t h y p a í u
Deus." ela exatamente como acontece aos
Ele foi m uito bem ensinado pelos moços de hoje. Todavia, sua a titu ­
pais, porém, como garoto adolescen­ de final foi deixar de lado seus pla­
te, desejava obter seu próprio teste­ nos e aceitar o chamado.
munho pessoal da realidade de Deus Os prim eiros meses na missão es­
e de sua obra. cocesa, para onde fôra designado,
“ Um dia, quando jovem, eu estava não se mostraram fáceis, como acon­
procurando algumas cabeças de tece a muitos m issionários. Ele des­
gado. Durante a subida de íngreme creve aquela época deprim ente e a
colina, parei para deixar meu cavalo resultante renovação de comprome­
descansar, e ali, mais uma vez, so­ tim ento para com o Senhor, nestas
breveio-me intenso desejo de rece­ palavras:
ber uma manifestação da veracidade “ Naquele dia, sentia-me saudoso
do Evangelho restaurado. Desmon­ de casa e um pouco desanimado.
tei, joguei as rédeas sobre a cabeça Uma senhora escocesa observara
do cavalo e, ali mesmo, à sombra de quando lhe entreguei um folheto: “ É
uma sorveira, orei a Deus para que m elhor que volte para casa, pois não
me confirmasse a veracidade de sua vai conseguir nenhuma de nossas ga­
revelação a Joseph Sm ith. Estou ro ta s !” .
certo de haver orado fervorosa e sin­ “ Nem eu queria uma das garotas
ceramente, e com tanta fé quanto um deles. Tinha alguém esperando por havia uma inscrição feita na pedra.
garoto é capaz. mim lá em casa. Mas ver aquela má Isto era bastante incomum e, assim,
“ Ao term inar a prece, levantei-me, vontade que tinham para com os disse ao Élder Johston: ‘Vou até lá
peguei as rédeas da minha fie l mon­ mórmons deixara-me deprim ido. Que para ver o que d iz . ‘ Eu não chegara
taria e subi à sela. Ao reiniciar m i­ noção mais preconcebida eles faziam ainda à metade do caminho de cas­
nha caminhada, lembro-me de haver do nosso propósito ali! calho que levava à casa, quando fui
dito a mim mesmo: “ Não recebi ne­ “ Eu Acabara de me form ar. Ado­ atingido por esta notável máxima ta­
nhuma manifestação espiritual. Para rava a escola e gostava imensamen­ lhada na pedra: “Seja onde for, cum­
ser honesto, devo dizer que continuo te de gente jovem . Eu amava a mo­ pre bem o teu dever.
exatamente o mesmo ser de antes cidade. E depois, ir para lá e sentir “ Repeti-a ao Élder Johnston ao
da oração". tal antipatia e preconceitos, deixa­ prosseguirmos para a cidade, a fim
Ele havia aprendido uma grande li­ vam-me assim abatido. de encontrar um quarto de aluguel
ção. Um jovem SUD não consegue “ Eu estava com Peter G. Johnston, numa casa particular, antes de in i­
convicção com uma mera pergunta um dos amigos mais sinceros em ciarmos nosso trabalho. Andamos
ao Senhor, mas combinando isto com todo o mundo. Era de Idaho, um ho­ caladosL, mas eu dizia a mim mesmo,
trabalho, serviço, sacrifício e obedi­ mem experiente, abastado, um ou, quem sabe, o Espírito dentro de
ência aos mandamentos de Deus. amante de todas as coisas belas. Eu mim: “ Você é membro da Igreja de
Ele continuou a trabalhar na fa­ era afortunado por tê-lo como com­ Jesus C risto dos Santos dos Últimos
zenda e, mais tarde, foi para a Uni­ panheiro. .. Dias. E mais ainda, você está aqui
versidade de Utah. Durante seus “ Ao voltarm os à cidade, vi à m i­ como representante do Senhor Jesus
anos de faculdade, jogou futebol nha d ireita um edifício não te rm i­ C risto. Você aceitou a responsabili­
americano, tocou piano numa orques­ nado, sobre cuja porta de entrada dade de representar a Igreja.”

A b ril de 1973 43
0 garoto David transportou uma "Então, lembrei-me do que havía­
porção de cargas nesta carroça da
fazenda paterna. mos fe ito naquela manhã: Um giro
tu rístico pela redondeza — colhêra­
mos alguns conhecimentos e infor­
mações históricas, é bem verdade,
e eu ficara impressionado, pois aca­
bara de estudar a “ Dama do Lago” na
Universidade. Não obstante, aquilo
não era trabalho m issionário.
“ Naquela mesma tarde, por volta
Em companhia de amigos, por volta da hora em que conseguimos aloja­
de 1900. De capote escuro, no as­
sento de trás.
mento, aceitei a mensagem encon­
trada naquela pedra, e daquele mo­
mento em diante, procuramos fazer
a nossa parte como m issionários na
Escócia. ’’
Terminada sua missão na Escócia,
casou-se com sua namorada de fa­
culdade. Numa fria manhã de janeiro
de 1901, ele e Emma Ray Riggs che­
gavam ao Templo de Salt Lake, numa
Era um grande aficcionado de carruagem puxada por cavalos, para
cavalos. Foto tirada em 1944. ali celebrarem o convênio m atrim o­
nial diante do Senhor. As promessas
mais de sessenta anos depois, o púlpito do Tabernáculo, na Praça do Imediatamente, reuniram seus filhi-
apartamento deles no Hotel Utah era Templo, falando à congregação ali nhos e, suspendendo suas atividades,
chamado carinhosamente como a reunida. Acabava de ser apoiado ajoelharam-se em seu humilde lar
suite nupcial. "Sessenta e nove anos unânimemente pelos santos como para orarem em fam ília. A signifi-
não se constituem em tempo dema­ profeta, vidente e revelador. cância dessa oração eu deixo que en-
siado para uma lua de m el,” concor­ “ Meus irmãos, irmãos das A u to ri­ tendeis por vós mesmos. M u ltip li­
davam. “ Particularmente quando se dades Gerais, que Deus nos conser­ cai-a por cem m il, duzentos m il, meio
planeja um casamento e te rn o .” ve unidos, sobrelevando eventuais milhão de lares, e vede a força na
Ele então passou a lecionar na fraquezas, mantendo os olhos única- união e nas orações, e a influência
Academia W eber em Ogden, Utah, mente na glória de Deus e na pro­ sustentadora no corpo da I g r e j a. . . "
de propriedade da Igreja, tornando- moção de sua obra. A gestão do Presidente McKay, à
se depois seu diretor, superintenden­ “ E agora para os membros da Igre­ semelhança de sua vida pregressa,
te da Escola Dominical da estaca e, ja. Todos nós necessitamos da vos­
em 1916, com apenas trin ta e nove sa ajuda, vossa fé e orações; não de
anos de idade, membro do Conselho vossas críticas adversas, mas de
dos Doze. Serviu com grande ener­ vossa ajuda. Podeis fazê-lo em ora­
gia em m uitos cargos — superinten­ ção, se não conseguis alcançar-nos
dente geral das Escolas Dominicais, em pessoa. A potência dessas ora­
comissário educacional da Igreja, ções em toda a Igreja eu pude sentir
presidente da Missão Européia. Aos ontem, ao receber uma carta de um
sessenta e um anos, foi escolhido vizinho de minha velha cidade na­
para conselheiro do Presidente He- tal . Ele estava ordenhando as vacas,
ber J. Grant, ocupando o mesmo quando ouviu pelo rádio que tinha no
cargo na gestão do Presidente Geor­ estábulo, a notícia do passamento do
ge A lbert Sm ith. Presidente Sm ith. Ele percebeu o
Na conferência de abril de 1951, que isto significaria para seu ex-con-
aos setenta e oito anos de idade, Da­ cidadão, e assim, deixou o estábulo
vid Oman McKay estava de pé, no e foi para a casa e contou à esposa.

Tirada por volta de 1923, en­


quanto presidiu a Missão
Européia. O garoto é um de
seus filhos.

A irmã McKay acompanhava o


presidente com freqüência em
suas viagens. Esta é a cidade
de Nova York.

A b ril de 1973 45
foi repleta de fe itos notáveis. Ele e Depois de explicar por que não es­
a Irmã McKay visitaram nação após tava no e scritório naquele dia, ele
nação, abençoando igualmente mem­ trocou um aperto de mão com a pro­
bros e não-membros. Iniciaram-se as fessora e cada uma das crianças, di­
construções de tem plos em muitos zendo: “ Quero que saibam que o pre­
países, as atividades m issionárias se sidente da Igreja faz todo o possível
expandiram, a congregação da Igreja para cum prir seus comprom issos."
cresceu. Um forte espírito de pro­ Essa profunda preocupação com
gresso parecia cativar todo mundo, nossa conduta para com qualquer
surgindo crescente boa-vontade para pessoa ao nosso redor é uma das
com os mórmons. grandes lições ensinadas pelo Presi­
Mas foi o seu comprometim ento dente McKay. Na viagem à Europa
de querer a toda pessoa em parti­ para dedicar os lotes para a constru­
cular que emocionava os membros ção dos tem plos na Suíça e na In­
da Igreja. Certa vez, uma classe de glaterra, o Presidente McKay viu-se
jovens da Escola Dominical viajou assediado por jovens ingleses, ávi­
uns bons quilôm etros para fazer-lhe dos por um autógrafo seu A prim ei­
uma visita, marcada com antecedên­ ra na fila era uma garotinha de uns
cia, mas ele acabara de sair corren­ nove anos. Ela perguntou ao filho
do para o hospital, onde seu irmão, dele, que o acompanhava: “ Será que
Thomas E. McKay, estava à m orte. o Presidente McKay me daria seu au­
No domingo seguinte, a quilôm etros tógrafo?" O filho , achando que o pai
do seu escritório, ouviu-se uma ba­ estava cansado demais, começou a
tida na porta da sala de aula da Es­ dissuadi-la, mas o Presidente McKay,
cola D om inical. Quando a professora ouvindo o diálogo, virou-se para ela
atendeu, ali estava o Presidente Mc­ e perguntou jocosamente: “ Você
Kay. Viera para conhecer a classe e acha que consigo escrever com cla­
pedir desculpas por te r saído no dia reza suficiente para você entender?"
marcado para a v isita . A menina ficou na dúvida se era sé­
rio ou não e encabulou. Nesse mo­
mento, um assistente interveio com
uma pergunta importante, seguindo-
se uma conversa de vários m inutos.
Quando o Presidente McKay voltou-
se novamente para a mesa, a fim de
começar a dar autógrafos, a garoti­
nha havia desaparecido.
“ Jamais vi papai tão perturbado,"
conta o filho . “ Por favor, encontrem
a garota de vestidinho azul” , orde­
nou. “ Tenho certeza de que teve a
impressão de que eu não queria as­
sinar seu liv ro . Ela interpretou mal
as minhas palavras. Vocês têm que
achá-la!” Não demorou m uito, presi­
dentes de ramo e da missão esta­
vam atrás âe uma garotinha de azul.
Mas a procura foi em vão. Final­
David O. McKay sem­ mente, um m issionário pensou saber
pre se mostrava calo­
roso e receptivo.
quem era a tal menina. Telefonou ao

46 A LIAH O N A
Presidente McKay naquela mesma foi despertada pelo chamar insisten­ Nova York. Ele foi para o aeroporto,
noite e recebeu as seguintes instru­ te do telefone. Quando atenderam, demorou-se ali por duas horas, e
ções: “ Diga à garotinha que eu sinto temendo alguma mensagem trágica, posteriorm ente, saiu da câmara es­
não tê-la atendido e que pedi ao pre­ foi-lhes transm itido o texto de um cura com uma pilha enorme de fo ­
sidente do ramo que me enviasse o telegrama: “ César no galinheiro. tos. Ele devia tira r apenas duas. Seu
livro dela pelo correio à Cidade do Dêem água!" chefe imediatamente o censurou: "O
Lago Salgado. Eu darei meu autó­ O porte, nobreza e dignidade do que você está pensando, desperdiçar
grafo e o devolverei diretam ente a Presidente McKay e o seu amor ao tanto tempo e todo esse material fo ­
e la .” E foi o que fez! M estre a quem servia, eram eviden­ tográfico, p'ra quê?”
O valor de uma alma! O Presiden­ ciados em cada palavra proferida e “ O fotógrafo replicou, sem muitos
te McKay achava que toda coisa vi- em tudo o que fazia. Mas o que se rodeios, que teria prazer de pagar o
vente merece nosso respeito e aten­ tornara devido ao seu com prom eti­ material extra e que podiam até des­
cioso cuidado. Ele sentia assim até mento com o Evangelho era evidente contar-lhe do salário o tempo a mais.
mesmo quanto aos animais e aves, até mesmo quando se sentava, sem Era óbvio que estava muito suscetí­
e gostava de visita r freqüentemente nada dizer. O incidente a seguir é vel. Horas mais tarde, o vice-presi-
sua fazenda em H untsville para mon­ contado por um homem que conhe­ dente chamou-o ao seu escritório,
tar e cuidar de seus cavalos. Anos ceu o Presidente McKay, quando este querendo saber o que acontecera. O
antes, alguém invadira a fazenda, retornava de uma de suas viagens à fotógrafo policial então declarou:
roubando as selas do Presidente Mc Europa. “ Quando eu era garotinho, mamãe
Kay. Quando foram substituídas por "Lembro-me de estar em Nova costumava ler para mim o Velho Tes­
selas novas, a sala de arreios pas­ York, quando o Presidente McKay tamento, e durante toda a minha vida,
sou a fica r trancada a chave. Um voltou da Europa. Haviam-se fe ito ar­ fiquei imaginando como devia pare­
dia, passando pela fazenda para ver ranjos, para que fôssem tiradas fo ­ cer-se um verdadeiro profeta de
como iam as coisas, as irmãs dele tografias, mas o fotógrafo habitual Deus. Bem, hoje encontrei um de-
viram uma das janelas da sala de não pôde ir, e assim, em desespero des.! ”
arreios aberta e, querendo evitar de causa, a United Press mandou seu Ele foi um profeta que via o lado
novo furto, trataram de fechá-la. fotógrafo policial — homem acostu­ bom em todo mundo e realmente se
Quando soube por elas o que haviam mado ao pior tipo de trabalho em importava com as pessoas.
feito, disse gentilm ente: “ Eu deixei
a janela aberta de propósito, porque
há um ninho dentro da sala e não
existe outro lugar para os pais en­ Datas Marcantes na Vida de David 0 . McKay

trarem e alim entar os filh o te s. Acho (1873 - 1970)


que ainda tenho tempo de dar um
8 de Set. Idade
pulo até lá." Ele foi, abriu a janela e, 1873 — Nasc. em H u n ts v ille , Utah.
ao voltar, disse com jeito afável: 1897 24 Forma-se pela U niversidade de Utah; presidente da
classe e orador da turm a.
“ Foi exatamente como eu esperava 1897-99 24-26 M issão na Grã-Bretanha.
— um dos passarinhos estava do 1899 26 M em bro do corpo docente da A cadem ia da Estaca de
W eben.
lado de fora, tentando entrar, e a fê­ 1901 27 Desposa Emma Ray Rigss.
mea encontrava-se dentro, procuran­ 1906 32 Ordenado apóstolo; torna-se segundo assiste nte do supe­
rintende nte da Escola D om inical.
do como sair." 1917 44 Escreve o p rim e iro liv ro . Os Apóstolos Antigos.
1918-34 45-61 S uperintendente geral da Escola D om inical.
Enquanto era membro do Conselho 1919-21 46-48 C om issá rio educacional da Igreja.
dos Doze, o Élder McKay tinha um 1920-21 47-48 Percorre as m issões no mundo inte iro.
1922-24 49-51 Preside a M issão Européia.
enorme varrão chamado César. Num 1934-51 61-78 Segundo co n selheiro na P rim eira Presidência.
domingo de manhã, César conseguiu 1951 78 Apoiado presidente da Igreja.
1955 82 Dedica o Tem plo da Suíça.
fugir do seu cercado. Não tendo 1956 83 Dedica Tem plo de Los A ngeles.
tempo de consertar a cerca antes de 1958 85 Dedica o Tem plo da Nova Zelândia, Escola S uperior da
Igreja da Nova Zelândia, Tem plo de Londres e Escola
pegar o trem , Élder McKay meteu-o S upe rior da Igreja do Havaí.
no galinheiro, mas esqueceu-se de 1961 88 In íc io do program a de correlação da Igreja.
1964 91 Dedica o Tem plo de Oakland.
avisar os filh o s. Naquela noite, às 18 de Jan.
1970 96 Falece.
duas da madrugada, a fam ília McKay

A b ril de 1973 47

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