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ISSN 1413-389X Trends in Psychology / Temas em Psicologia – 2014, Vol.

22, nº 2, 415-432
DOI: 10.9788/TP2014.2-12

Investigação de Suspeita de Abuso Sexual Infantojuvenil:


O Protocolo NICHD

Lúcia Cavalcanti de Albuquerque Williams1


Chayene Hackbarth
Departamento de Psicologia da Universidade Federal de São Carlos, São Carlos,
São Paulo, Brasil
Carlos Aznar Blefari
Maria da Graça Saldanha Padilha
Universidade Tuiuti do Paraná, Curitiba, Paraná, Brasil
Carlos Eduardo Peixoto
Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses, Porto,
Distrito do Porto, Portugal

Resumo
O presente artigo consiste em uma revisão sistemática de literatura que se refere à escuta adequada e
às estratégias para investigação da violência sexual infantil, com especial ênfase no Protocolo NICHD
(National Institute of Child Health and Human Development), reconhecido pela literatura internacional
especializada como um dos instrumentos mais adequados para a entrevista estruturada com crianças
vítimas de violência. O procedimento consistiu em verificar nas bases de dados eletrônicas Bireme,
INDEXPSI, SciELO, PePSIC, PubMed, Web of Science e PsycINFO, utilizando-se como descritores as
palavras NICHD e sexual abuse, para artigos publicados entre os anos de 2000 e 2013. Foram consul-
tados também acervos de livros em universidades. Nas bases de dados relacionadas, foram encontrados
73 artigos, dos quais 47 foram excluídos tendo como critério de exclusão artigos relacionados a outras
temáticas de violência que não a sexual, e artigos repetidos, resultando em 26 artigos consultados. Nos
acervos de Universidades foram consultados quatro livros nacionais, quatro livros internacionais e uma
dissertação de mestrado, resultando em um total de 35 publicações analisadas. O protocolo apresenta-se
como um instrumento estruturado, transmitindo informações de qualidade superior àquelas obtidas por
entrevistas com menos questões abertas. Como resultado são produzidas respostas mais precisas, com
relatos mais detalhados e ricos e com maior número de revelações.
Palavras-chave: Abuso sexual infantil, oitiva de crianças, Protocolo NICHD.

1
Endereço para correspondência: Centro de Educação e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em
Psicologia, Laboratório de Análise e Prevenção da Violência, Universidade Federal de São Carlos, Rod.
Washington Luis, km 235, São Carlos, SP, Brasil 13565-905. E-mail: laprev_ufscar@yahoo.com.br
Apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Processo nº
2013/06690-9.
Apoiado pela Fundação da Ciência e Tecnologia (FCT; PTDC/MHC-PAP/4295/ 2012) e pelo Programa
Operacional Fatores de Competitividade (COMPETE; CCOMP -01-0124-FEDER-029554).
416 Williams, L. C. A., Padilha, M. G. S., Hackbarth, C., Blefari, C. A., Peixoto, C. E.

Investigation of Suspected Child Sexual Abuse:


The NICHD Protocol

Abstract
This article consists of a systematic literature review on best practices regarding investigative interviews
of child sexual violence, with emphasis on the NICHD Protocol (National Institute of Child Health and
Human Development), recognized by the international specialized literature as the most appropriate
structured interview for victimized children. The method consisted in checking the electronic databases
Bireme, INDEXPSI, SciELO, PePSIC, PubMed, Web of Science and PsycINFO, using the keywords
NICHD and sexual abuse for papers published from 2000 to 2013. Books pertaining to University li-
braries in Brazil were also consulted. In the database, 73 articles were found, 47 were excluded as they
related to other themes other than sexual violence or were repeated, resulting in 26 studies. Four Brazi-
lian books, four North-American ones, and one M.A. thesis were consulted in the University libraries,
resulting in a total of 35 publications. The protocol is presented as a structured instrument, which gathers
superior information in comparison to interviews with fewer open-ended questions. As a result, more
accurate answers are produced, with more detailed and richer accounts providing a higher frequency of
disclosures.
Keywords: Child sexual abuse, children testimony, NICHD Protocol.

Investigación de Sospecha de Abuso Sexual Infantojuvenil:


El Protocolo NICHD

Resumen
Este artículo consiste en una revisión sistemática de la literatura sobre la escucha y estrategias adecu-
adas para la investigación de la violencia sexual infantil, con especial énfasis en el Protocolo NICHD
(Instituto Nacional de Salud Infantil y Desarrollo Humano), el cual es reconocido y validado como la
herramienta más apropiada que entrevistas estructuradas para niños y niñas víctimas de violencia. El
procedimiento consistió en la verificación de las siguientes bases de datos electrónicas INDEXPSI Bire-
me, SciELO, PePSIC, PubMed, Web of Science y PsycINFO, usando como descriptores abuso NICHD
y sexual, de los artículos publicados entre 2000 y 2013. También se fueron consultados colecciones de
libros en las universidades. En las bases de datos, se encontraron 73 artículos, de los cuales 47 fueron
excluidos por estar relacionados con otros temas de la violencia sin ser la sexual, ser repetidos, dando lu-
gar a 26 artículos encontrados. En las colecciones de la universidad se consultó cuatro libros nacionales,
cuatro libros e internacionales y una tesis, lo que resulta en 35 publicaciones analizadas. El protocolo se
presenta como un instrumento estructurado y transmite información superior a los obtenidos mediante
entrevistas a las preguntas menos abiertas. Como resultado son producidas respuestas por lo tanto más
precisas, obteniendo relatos más detalladas y con más riqueza en las revelaciones.
Palabras clave: Abuso sexual en jóvenes, escucha de niños y niñas, Protocolo NICHD.

É evidente a necessidade de proteção da punidos severamente o abuso e a exploração


criança ou adolescente em situação de violência. sexual da criança e do adolescente. Para se efe-
A Constituição Federal (Constituição da Repú- tivar a proteção, foi instituída a Lei de número
blica Federativa do Brasil, 1988/1997), no arti- 8.069, denominada de Estatuto da Criança e do
go 227, dispõe que a criança deve ser colocada Adolescente - ECA (1990), que, no seu artigo
a salvo de qualquer forma de violência, sendo 18, dispõe que crianças e adolescentes devem
Investigação de Suspeita de Abuso Sexual Infantojuvenil: O Protocolo NICHD 417

estar protegidos de qualquer tratamento desu- Ofensores sexuais de crianças dificilmente


mano, violento, aterrorizante, vexatório e cons- confessam esse crime, a menos que possam obter
trangedor, devendo sua dignidade ser garantida. alguma vantagem como a redução da pena, após
A notificação da violência é obrigatória (artigo negociação com o Ministério Público. Devido à
245) e cabe aos Conselhos Tutelares adotarem as falta de motivação do suposto agressor em con-
medidas protetivas cabíveis e incluir a criança na fessar o crime, ou a presença pouco frequente de
Rede de Proteção. Visto que o país dispõe de leis testemunhas oculares, apenas com o depoimento
para a proteção dos direitos da criança, espera-se da criança podem ser coletadas informações que
que a lei seja cumprida e para tal é preciso que permitam contextualizar evidências, identifican-
a ocorrência do abuso sexual (AS) seja compro- do o agressor, os espaços, o tempo, as práticas e
vada judicialmente e que o melhor interesse da consequências do alegado abuso sexual, mesmo
criança seja atendido. quando existem evidências físicas de sua ocor-
A fim de alcançar tal objetivo existem al- rência.
guns desafios a superar, já que a literatura es- Além das dificuldades encontradas em rela-
pecializada aponta que o AS não deixa marcas ção às provas nessa modalidade de violência, os
físicas ou sinais de doenças sexualmente trans- casos não solucionados no Brasil se dão devido
missíveis em aproximadamente 80% dos casos à indisponibilidade de um procedimento padrão
(Salvagni & Wagner, 2006). que seja validado e preciso para a obtenção do
É possível verificar por meio de diversos relato da criança. Consequentemente, a criança
estudos como os de Brown e Lamb (2009), Cun- vem a ser entrevistada por profissionais de diver-
ningham (2009), Dobke (2001), Herman (2009) sas áreas de atuação, os quais não são treinados
e Oliveira (2010) que a exigência exclusiva de para tal, utilizando práticas que a inibem, trau-
provas médicas materiais que comprovem a matizam e/ou induzem-na a relatar fatos que não
agressão inviabiliza a realização de um trabalho ocorreram. Tais entrevistas são realizadas em
efetivo voltado para a proteção da vítima. contextos diferentes, como Conselhos Tutelares,
Dessa forma, para que os procedimentos delegacias, perícias, Vara da Infância e da Ju-
jurídicos gerem a responsabilização do agressor ventude, Vara Criminal e Vara de Família (San-
e proteção da vítima, a Psicologia poderá con- tos & Gonçalves, 2008), acontecendo de manei-
tribuir com práticas que auxiliem o andamento ra repetitiva e revitimizante, com o agravante de
do caso (Pelisoli, Gava, & Dell’Aglio, 2011), tornar os danos primários mais traumáticos.
considerando que a ausência de materialidade do De acordo com Goodman e Quas (2008),
crime leva a uma centralidade do depoimento da a precisão da memória infantil de eventos está
criança nas diferentes fases do processo. relacionada com a forma com que a entrevista
Williams (2009) aponta como exemplo des- ocorre e não com a quantidade de entrevistas
sa realidade o estudo de Caldeira, realizado em realizadas. É importante destacar que a inten-
2005 na cidade de São Carlos, SP, o qual cor- sidade dos danos secundários para a vítima de
robora os autores citados ao apontar que, dentre abuso sexual é proporcional à sua fragilidade e
37 casos denunciados de AS no ano de 2003, vulnerabilidade, assim a criança tem um papel
67,5% não foram encaminhados ao Fórum por fundamental nos processos e precisa ser assegu-
não apresentarem provas materiais. Dentre os rada por um atendimento profissional (Peixoto,
casos citados, somente 12 foram encaminhados, Ribeiro, & Lamb, 2011).
porém oito desses foram arquivados pelo mesmo No Brasil, a oitiva das vítimas em audiên-
motivo. Finalmente, entre os três casos julgados, cias criminais deve ser realizada na modalidade
dois agressores foram absolvidos também por de Depoimento Especial, segundo recomenda-
falta de provas e apenas um desses foi condena- ção do Conselho Nacional de Justiça (resolução
do (ponderando que este confessou a agressão e 33/2010). Entretanto, em alguns locais ainda
teve como pena o pagamento de uma multa de tem sido realizada da mesma maneira que ocor-
pequeno valor monetário). re em processos de violência sexual nos quais
418 Williams, L. C. A., Padilha, M. G. S., Hackbarth, C., Blefari, C. A., Peixoto, C. E.

a vítima adulta, destacando o despreparo dos central, faz-se necessária a adoção de protocolos
operadores do Direito para lidar com o assunto de entrevista forense que facilitem a coleta do
(Dobke, 2001). De cordo com Cezar (2007), o relato da criança, minimizem a possibilidade de
Depoimento Especial (denominado incialmente induções de falsos relatos e, ao mesmo tempo,
de Depoimento sem Dano) é a oitiva de crian- protejam a criança contra revitimizações, por
ças em processos criminais, sendo realizada em evitar que tenha que ser ouvida diversas vezes
ambiente separado da sala de audiências, onde a em função da qualidade questionável de algumas
criança interage com psicólogo ou assistente so- entrevistas.
cial que fará as perguntas formuladas pelo Juiz, Importa aqui definir aquilo que se enten-
pelo Promotor e pelo Defensor do réu. A intera- de por entrevista forense. Este termo designa
ção é transmitida em tempo real à sala de audi- uma entrevista que tem como objetivo a coleta
ências por meio de circuito fechado de imagem de informações que são relevantes para a com-
e som, o que permite o direito à ampla defesa preensão de um determinado acontecimento,
do réu e ao contraditório (Constituição Federal, na maior parte das vezes, com implicações para
1988/1997). Tal método tem o objetivo de di- uma investigação criminal ou numa investigação
minuir a revitimização e melhorar a qualidade que visa a proteção da criança. Esta entrevista
da produção da prova. Inquirições realizadas é centrada nos fatos, nos atores, nos locais, no
na presença do réu representam um dos impe- tempo, nas ações e suas consequências. Deve-se
dimentos para que a criança expresse os fatos distinguir este tipo de entrevista de outras que
devido ao medo, sendo essa uma das causas da são mais habituais ao psicólogo, como a entre-
não punição do agressor. vista clínica, centrada nas informações que re-
Além dos profissionais envolvidos com oi- tratam a trajetória desenvolvimental da criança,
tivas de crianças em audiências criminais, psi- ou uma entrevista terapêutica, com o objetivo de
cólogos da Vara da Família, bem como da Vara ajudar a criança em seus problemas emocionais
da Infância e da Juventude, também podem se e comportamentais (Peixoto, Ribeiro, & Maga-
deparar com a necessidade de realizar a escuta lhães, 2013). O uso da entrevista forense pelo
de crianças relacionada ao abuso sexual supos- psicólogo que trabalha no âmbito da justiça é
tamente sofrido, pois, não raro, em casos de AS fundamental no sentido de uma melhor e mais
intrafamiliar pode haver disputas pela guarda da fiável compreensão do que aconteceu à criança,
criança e a necessidade de se avaliar o risco em definindo toda a intervenção ulterior do psicólo-
permitir a aproximação da criança com um pai go e dos profissionais que a atenderão, quer num
supostamente agressor (Volnovich, 2005; Wol- papel de avaliação psicológica forense, quer
fe, 1998). num papel clínico e psicoterapêutico.
Essa possibilidade de reaproximação impõe
o desenvolvimento de boas práticas de avaliação Protocolos de Entrevista Estruturada
do caso, entre elas a entrevista com a criança para para Investigação de Violência
revelação de AS (Padilha & Antunes, 2009). Sexual Infantil
Adicionalmente, de acordo com Pelisoli et
al. (2011), no contexto jurídico, fatores como a Motivados em parte pela ampla publicida-
utilização de heurísticas e de crenças prévias po- de sobre os casos de abuso sexual em crianças
dem influenciar a tomada de decisão por parte do e adolescentes no exterior sem solução e sem
psicólogo na sua avaliação. Logo, a utilização de a devida materialização das provas, diversos
metodologia sistematizada e baseada em evidên- autores (Harris, Goodman, Augusti, Chae, &
cias poderá controlar a ocorrência de processo Alley, 2009; Klemfuss & Ceci, 2009; La Rooy,
de decisão a priori sobre este tipo de casos. Lamb, & Pipe, 2009 e Lamb, Orbach, Hershko-
Nesta perspectiva, e numa problemática witz, Esplin, & Horowitz, 2007), têm estudado
na qual a palavra da criança assume um papel a capacidade de crianças em fornecer informa-
Investigação de Suspeita de Abuso Sexual Infantojuvenil: O Protocolo NICHD 419

ções mais precisas sobre suas experiências pas- talhes e precisão, sendo as entrevistas gravadas
sadas e sobre a sugestionabilidade a que estão para evitar falhas da memória do entrevistador e
suscetíveis. interpretações equivocadas.
Conforme Klemfuss e Ceci (2009), cabe ao A EC é composta de cinco etapas (Rapport,
profissional ponderar a respeito das práticas uti- Recriação do Contexto Original, Narrativa Li-
lizadas em entrevistas com crianças vítimas de vre, Questionamento e Fechamento) que procu-
AS, a fim de realizar uma escuta livre de suges- ram unir conhecimentos da Psicologia Social
tões e que seja realizada utilizando o mínimo de com a Psicologia Cognitiva para uma maior
questões fechadas possível. precisão dos relatos (Feix & Pergher, 2010).
Segundo Goodman, Ogle, Troxel, Lawler Estudos demonstram que a EC é uma técnica
e Cordon (2008), de forma geral os protocolos útil em contexto forense (Memon, Meissner,
de entrevista forense devem incluir os seguin- & Fraser, 2010), porém deve ser utilizada com
tes procedimentos: estabelecimento de con- cuidado, pois pode ocorrer certa confabulação
fiança, avaliação de desenvolvimento, avalia- em crianças mais novas diminuindo a preci-
ção sobre a capacidade de a criança distinguir são dos resultados obtidos (Cronch, Viljoen, &
entre verdade e mentira, informações sobre a Hansen, 2006).
entrevista, possibilidade de dizer “não sei”, O protocolo NICHD foi desenvolvido
perguntas abertas/neutras e encerramento. A após a constatação de que os profissionais
maioria dos protocolos de entrevista forense responsáveis por entrevistas com crianças ví-
com crianças propõe que seja realizada apenas timas de AS tinham significativa dificuldade
uma entrevista. em aderir às recomendações de boas práticas
Dentre os diversos tipos de protocolos de em entrevistas investigativas, como por exem-
entrevista, deve-se destacar: o Achieving Best plo, a necessidade de se reduzir o número de
Evidence in Criminal Proceedings - Guidance on questões sugestivas, fechadas e de múltipla
Interviewing Victims and witnesses, and Using escolha, aumentando o número de questões
Special Measures (Home Office, 2011); sucessor abertas. Os profissionais que seguiam tais re-
do Memorandum of Good Practice (Home Of- comendações obtiveram resultados mais preci-
fice, 1992); a Entrevista Cognitiva (EC; Fisher sos (Lamb et al., 2008). O protocolo NICHD
& Geiselman, 1992); a Entrevista Passo-a-Pas- se assemelha em muitos aspectos com a Entre-
so (Yuille, Hunter, Joffe, & Zaparniuk, 1993); vista Cognitiva (Fisher & Geiselman, 1992),
o Protocolo de entrevista forense da Corner porém, a última carece de uma especificação
House - RATAC (Finding Words; Anderson et detalhada de como o entrevistador deve for-
al., 2010); e o Protocolo NICHD (National Insti- mular as questões. Em contraste, o protocolo
tute of Child Health and Human Development; NICHD apresenta questões específicas para o
Lamb, Hershkovitz, Orbach, & Esplin, 2008). treino de memória episódica, o que aumenta a
Contudo, na literatura sobre entrevista forense efetividade da entrevista (Lamb et al., 2008).
de crianças, a EC e o Protocolo NICHD desta- Frente à necessidade de definição de boas
cam-se pela existência de um maior número de práticas para a entrevista forense com crianças
estudos empíricos realizados. vítimas de abuso sexual no Brasil, revela-se im-
A pedido da polícia norte-americana e dos portante demonstrar que o Protocolo NICHD
operadores do direito, Ronald Fisher e Edward tem sido objeto de pesquisa há vários anos, em
Geiselman, desenvolveram em 1984 uma técni- diversos países. O objetivo do presente estudo é
ca conhecida como Entrevista Cognitiva (EC; descrever brevemente o Protocolo NICHD, re-
Feix & Pergher, 2010), originalmente elaborada ver a literatura sobre pesquisas realizadas com o
para entrevistar adultos. Esta técnica foi revisada mesmo e apontar as possibilidades de sua utili-
em 1992 (Fisher & Geiselman, 1992). A EC tem zação à realidade brasileira.
como propósito obter depoimentos com mais de-
420 Williams, L. C. A., Padilha, M. G. S., Hackbarth, C., Blefari, C. A., Peixoto, C. E.

Método Entrevista Investigativa NICHD e está alicerça-


do na operacionalização das recomendações de
Para a elaboração do presente trabalho, fo- pesquisadores para auxiliar nas investigações fo-
ram pesquisados artigos da literatura especiali- renses ao conduzir as entrevistas com as crianças
zada em abuso sexual nas bases de dados ele- vítimas de AS.
trônicas Bireme, INDEXPSI, SciELO, PePSIC, O protocolo tem sido replicado e validado
PubMed, Web of Science e PsycINFO, utilizan- nos estudos de Lamb et al. (2008; Lamb et al.,
do-se como descritores as palavras NICHD e 2007) em países como Estados Unidos da Amé-
sexual abuse (AS), para artigos publicados en- rica, Suécia, Finlândia, Noruega, Canadá, Reino
tre os anos de 2000 e 2013. Foram consultados Unido e Israel. Em estudos de revisão realizados
também acervos de livros nas Universidades dos por Lamb et al. (2008; Lamb et al., 2007), foi
autores. Nas bases de dados relacionadas, foram observado em mais de 40.000 entrevistas que o
encontrados 73 artigos, dos quais 47 foram ex- uso do protocolo melhorou drasticamente a qua-
cluídos tendo como critério de exclusão artigos lidade da entrevista de investigação em diversos
relacionados a outras temáticas de violência que países. Os estudos realizados com o protocolo
não a sexual e artigos repetidos, resultando em no campo forense ajudaram a gerar um consen-
26 artigos consultados. Nos acervos de Universi- so entre os profissionais envolvidos a respei-
dades foram consultados quatro livros nacionais, to das competências e limitações das crianças.
quatro livros internacionais e uma dissertação de Assim há evidências claras de que o protocolo
mestrado, resultando em um total de 35 publica- NICHD pode ser usado de forma produtiva em
ções analisadas. uma variedade de contextos culturais (Aldridge
et al., 2004; Hershkowitz, Fisher, Lamb, & Ho-
Resultados rowitz, 2007; Hershkowitz, Horowitz, & Lamb,
2005; Hershkowitz, Horowitz, Lamb, Orbach, &
De acordo com a revisão bibliográfica, foi Sternberg, 2004; Hershkowitz, Lanes, & Lamb,
possível verificar que, no ano de 1996, pesqui- 2007; Hershkowitz, Orbach, Lamb, Sternberg,
sadores do National Institute of Child Health & Horowitz, 2006; Lamb & Garretson, 2003;
and Human Development (Instituto Nacional Lamb et al., 2007; Lamb et al., 2003; Malloy,
da Saúde Infantil e Desenvolvimento Huma- Brubacher, & Lamb, 2011 e Peixoto, Ribeiro, &
no – NICHD) deram início a estudos realizados Alberto, 2013).
nos Estados Unidos para o desenvolvimento de Dentre os 20 estudos encontrados na pre-
entrevistas investigativas do abuso sexual infan- sente revisão envolvendo especificamente o
til contando inicialmente com a participação de protocolo NICHD, a maioria configurou-se
Michael E. Lamb, Yael Orbach e Kathleen Ster- como estudo empírico, totalizando 15 estudos.
nberg, bem como Irit Hershkowitz, pesquisadora Adicionalmente, foram encontrados quatro es-
da Universidade de Haifa em Israel; Phillip Es- tudos de revisão de literatura e dois estudos
plin, psicólogo forense e Dvora Horowitz, fun- teóricos. A Tabela 1 resume a descrição dos
cionária do governo Israelense. estudos pesquisados, seus objetivos, método e
O protocolo de entrevista recebeu a mesma principais resultados.
denominação do Instituto, ou seja, Protocolo de
Investigação de Suspeita de Abuso Sexual Infantojuvenil: O Protocolo NICHD 421

Tabela 1
Comparação entre os Estudos Encontrados Envolvendo o Protocolo NICHD

Estudo Característica Objetivo Método Principais Resultados

Lamb et al., Estudo Verificar a Análise psicolinguística Perguntas abertas renderam


1996 Empírico influência do detalhada de 22 entrevistas significativamente respostas
estilo de entrevista realizadas com crianças mais extensas e detalhadas
investigativa para de 5-11 anos categorizadas do que as perguntas
obtenção de relatos de acordo com a extensão fechadas ou sugestivas,
sobre AS e riqueza do relato independentemente da idade
considerando os diferentes
tipos de perguntas utilizadas

Cederborg, Estudo Avaliar estrutura Entrevistas com 72 supostas Entrevistadores utilizaram


Orbach, Empírico e quantidade vítimas de AS por 6 policiais. principalmente perguntas
Sternberg, & de relatos nas Avaliação da estrutura das fechadas e sugestivas (53%).
Lamb, 2000 entrevistas com entrevistas, da distribuição Seis % das perguntas feitas
supostas vítimas de e do tempo das perguntas pelos entrevistadores eram
AS de 4-13 anos utilizadas bem como abertas eliciando apenas 8%
quantidade e qualidade das informações obtidas.
das informações fornecidas Necessidade de práticas de
pelas crianças entrevista que melhorem a
qualidade das informações
fornecidas

Orbach et al., Estudo Avaliar eficácia Seis investigadores, As entrevistas com o


2000 Empírico do protocolo que assistentes sociais e protocolo continham mais
operacionaliza funcionários do Ministério perguntas abertas do que as
recomendações do Trabalho de Israel entrevistas sem o mesmo.
universais para foram treinados para Mais detalhes foram obtidos
entrevistas forenses usar o protocolo em utilizando perguntas abertas,
entrevistas simuladas, com com ou sem o protocolo.
monitoramento e feedback. Em ambas as condições
Comparação de 55 entrevistas as crianças mais velhas
feitas com o protocolo com forneceram mais detalhes do
50 entrevistas sem o mesmo que as mais novas

Lamb & Estudo Verificar a Investigadores forenses As análises das entrevistas


Garretson, Empírico influência entrevistaram 672 supostas mostraram efeitos
2003 que o sexo do vítimas nas idades entre 4-14 significativos
entrevistador anos. Trezentos e cinquenta de gênero, tanto no
e o sexo da entrevistas foram realizadas comportamento dos
criança exercem com o protocolo e 322 sem o entrevistadores como na
no processo de mesmo quantidade de informações
investigação de AS relatadas pelas crianças. As
entrevistadoras fizeram mais
questões abertas e sugestivas
para meninos do que para
meninas. Entrevistadores do
sexo masculino entrevistaram
meninos e meninas da
mesma forma e as respostas
das crianças variaram em
função do sexo e idade,
sexo do entrevistador e tipo
de pergunta utilizada.
Influência do sexo do
entrevistador foi atenuada
em entrevistas guiadas pelo
protocolo
422 Williams, L. C. A., Padilha, M. G. S., Hackbarth, C., Blefari, C. A., Peixoto, C. E.

Lamb et al., Estudo Determinar Vinte e seis supostas vítimas Testemunhas e vítimas
2003 Empírico se crianças de AS e 26 crianças que relataram quantidades
que prestaram testemunharam situações de similares de informações
depoimento no AS foram entrevistadas por sobre o abuso, comprovando
fórum sobre casos investigadores que utilizaram que as crianças podem ser
de AS eram mais o protocolo. As crianças dos testemunhas para relatar s
ou menos capazes 2 grupos foram pareadas em eventos abusivos
de informar sobre relação à sua idade, à relação
os incidentes que as com o suposto autor e com
supostas vítimas a gravidade das supostas
agressões

Aldridge Estudo Verificar a precisão Noventa supostas vítimas Desenhos associados às


et al., 2004 Empírico das entrevistas de AS entre 4-13 anos questões provocaram
com o protocolo entrevistadas por policiais. média de 86 novos detalhes
quando associadas a Na sequência foram forenses relevantes. Crianças
desenhos da figura apresentados desenhos da de 4-7 anos forneceram
humana figura humana e realizadas média de 95 detalhes
algumas perguntas adicionais após o desenho
ter sido introduzido. Como
as informações relatadas
com o desenho podem
ter sido menos precisas
(memória de reconhecimento
predominante), os desenhos
só devem ser introduzidos
no final das entrevistas
investigativas

Hershkowitz Revisão de Investigar Banco de dados de todos os Sessenta e cinco % das


et al., 2005 Literatura características de casos de suspeita de abuso crianças fizeram alegações
casos de suspeita físico e sexual investigados de alguma modalidade de
de AS associados em Israel entre os anos abuso, porém as taxas de
à investigações 1998-2002 envolvendo relato foram maiores no caso
formais 26.446 crianças de AS (71%) e de abuso
físico (61%). Em qualquer
idade as crianças eram menos
propensas a relatar sobre o
abuso quando pai era o autor.
O número de revelações foi
maior por parte
das crianças maiores

Hershkowitz Estudo Explorar diferenças Comparadas 50 entrevistas Constatado que nas


et al., 2006 Empírico estruturais entre forenses de supostas vítimas entrevistas
entrevistas forenses de abuso que não fizeram em que não houve revelação,
em que as crianças revelação durante a entrevista os entrevistadores utilizaram
relataram abuso e com 50 vítimas que relataram menos perguntas abertas
nas entrevistas que AS ou abuso físico. A partir e menos comentários de
não relataram de gravações em áudio, apoio do que ao entrevistar
perguntas do entrevistador crianças que fizeram
e respostas das crianças alegações de abuso
foram examinadas
Investigação de Suspeita de Abuso Sexual Infantojuvenil: O Protocolo NICHD 423

Hershkowitz, Estudo Investigar se a Quarenta e dois policiais A maioria das entrevistas


Fisher, et al., Empírico credibilidade dos avaliaram a credibilidade conduzidas sem o protocolo
2007 relatos das crianças dos relatos de AS utilizando foram classificadas como
é maior quando como instrumento a Análise impassíveis de decisão.
são utilizadas de Validade da Declaração Relatos de entrevistas com
entrevistas (SVA) e o Critério Baseado o protocolo foram mais
investigativas com o em Análise de Conteúdo precisamente classificados
protocolo (CBCA) para comparar 678 como verdadeiros
entrevistas realizadas com e
sem o protocolo

Hershkowitz, Estudo Examinar Trinta supostas vítimas Cinquenta e três % das


Lanes, et al., Empírico características dos de AS e seus pais, foram crianças levaram entre
2007 relatos das crianças entrevistadas por 6 1 semana a 2 anos para
feitos para os pais entrevistadores utilizando fazer o relato aos pais.
em casos de AS o protocolo. Aos pais foi Menos da metade relatou
extrafamiliar solicitado que descrevessem primeiramente aos pais e
em detalhes o que tinha mais de 40% não relatou
acontecido As principais espontaneamente. Cinquenta
características relatadas % das crianças relataram
pelas crianças e pelos pais sentir medo ou vergonha dos
foram codificadas por dois pais e seus pais tenderam
avaliadores independentes culpá-las ou expressaram
raiva. Característica do relato
variou de acordo com idade
das crianças, gravidade
e frequência do abuso,
expectativas sobre as reações
parentais, identidade do
suspeito e estratégias usadas
para manter o abuso em
segredo

Lamb et al., Revisão de Apresentar Pesquisa em base de dados Estudos têm mostrado
2007 literatura resultados de no período compreendido que a qualidade das
pesquisas com entre os anos de 1982 entrevistas aumenta quando
o protocolo, a 2007 os entrevistadores utilizam
relacionadas a o protocolo de forma
memória infantil, fidedigna. Nenhuma outra
habilidades técnica tem sido comprovada
comunicativas e de maneira igualmente eficaz
conhecimento como
possíveis diretrizes
para melhorar
qualidade de
entrevistas forenses

Cyr & Lamb, Estudo Avaliar eficácia de Comparação de 83 As entrevistas realizadas


2009 Empírico treinamento para entrevistas realizadas após a capacitação foram
o uso do protocolo antes e depois mais eficazes, visto que o
para policiais e da capacitação número de detalhes relatados
profissionais da teve aumento significativo
saúde mental
424 Williams, L. C. A., Padilha, M. G. S., Hackbarth, C., Blefari, C. A., Peixoto, C. E.

Lyon, Lamb, Estudo Abordar críticas Principais críticas abordadas: Foram refutadas todas
& Myers, Teórico feitas ao protocolo o protocolo não é o único as críticas, com base em
2009 no estudo de Vieth que oferece suporte contínuo; argumentos dos autores que
(2008) não é validado pelo sistema mostravam a inconsistência
jurídico americano; as das mesmas
instruções que o protocolo
oferece podem ser
contestadas em tribunal,
entre outras

Malloy et al., Estudo Investigar quais são Duzentos e quatro crianças, As consequências esperadas
2011 Empírico as consequências suspeitas vítimas de AS foram mencionadas em
esperadas pelas infantil, entre 5-13 anos de quase metade das entrevistas
crianças em relação idade foram entrevistadas e na maioria delas,
ao abuso espontaneamente.
As crianças mais velhas
foram mais propensas a
relatar do que as mais jovens.
As consequências mais
comuns relatadas foram
prejuízos físicos e emoções
negativas para a própria
criança e a prisão ou outra
punição legal para o suspeito

Toth, 2011 Estudo Comparação dos Boletim informativo da Afirma que o Protocolo
Teórico Protocolos NICHD ISPCAN (International NICHD é mais pesquisado
e RATAC Society for the Prevention of e oferece melhor suporte para
Child Abuse and Neglect) conduzir entrevistas forenses
com crianças em casos de
AS. O grande número de
questões abertas, ao invés
de somente questões
sugestivas ou fechadas
a respeito do evento,
possibilita que o protocolo
transmita informações
de qualidade superior

Katz & Estudo Explorar frequência Setenta e uma crianças Uma média de 5,58
Hershkowitz, Empírico e efeitos das com idades entre 4-9 perguntas múltiplas foi
2012 perguntas múltiplas anos entrevistadas após identificada nas entrevistas,
no relato de crianças queixa de incidente de apresentando efeitos
vítimas de AS AS extrafamiliar. Dois prejudiciais para a extensão
entrevistadas com o avaliadores identificaram e para a riqueza dos relatos.
protocolo perguntas simples e múltiplas Crianças de todas as idades
para analisar respostas das falharam em sinalizar falta
crianças de compreensão sobre
perguntas múltiplas e 24%
de suas respostas eram
incompreensíveis.

Olafson, Revisão de Comentar sobre Revisão não sistemática de Adaptações ou estratégias


2012 Literatura desequilíbrios literatura sobre a resistência precisam ser desenvolvidas
relacionados à das crianças nas entrevistas e testadas para os casos em
especificidade forenses que não há revelação; quando
e sensibilidade essa é parcial; para casos
nas investigações de crianças muito pequenas;
forenses com deficiência intelectual e
para crianças cuja suspeita de
AS envolve disputa
de guarda
Investigação de Suspeita de Abuso Sexual Infantojuvenil: O Protocolo NICHD 425

Phillips, Estudo Examinar Vinte e duas crianças de Um número maior de


Oxburgh, Empírico influências que o diferentes faixas etárias informações relevantes
Gavin, & tipo de questões foram entrevistadas por 21 foi produzido ao utilizar
Myklebust, utilizadas nas policiais ingleses questões abertas em vez
2012 entrevistas de perguntas fechadas,
investigativas sugestivas ou perguntas
exercem nos relatos múltiplas. Crianças mais
de informações velhas relataram mais
relevantes informações relevantes

Lamb, Estudo Determinar se Análise da fase de construção Entrevistas com protocolo


Hershkowitz, Empírico o protocolo do vínculo por meio de quase revisado favoreceram o
& Lyon, 2013 revisado estabelece 200 entrevistas realizadas vínculo em comparação ao
maior vínculo e com crianças que relataram protocolo original, além de
proporciona mais abuso ter sido constatado menos
apoio do que o sinais de resistência pelas
protocolo original crianças e um aumento na
quantidade de revelações
(18,8%)

Pipe, Orbach, Estudo Determinar se Comparação das entrevistas Revelações eram mais
Lamb, Empírico a introdução de realizadas por 16 policiais em prováveis quando os
Abbott, & práticas baseadas casos de suspeita de AS com entrevistadores foram
Stewart, 2013 em evidências 760 crianças de 3-14 anos de capacitados. Houve aumento
nas entrevistas idade, entre os anos de 1994 relevante no número de
com crianças foi à 1997, antes do treinamento sentenças condenatórias
acompanhada do protocolo (n = 350) e após quando o protocolo foi
por mudanças na o treinamento (n = 410) entre utilizado, apontando para
solução dos casos os anos de 1997-2000 importantes implicações
de suspeita de AS nas políticas relativas à
investigação de crimes de AS

Nota-se na Tabela 1 semelhanças nos resul- Em sua estrutura de investigação, o protoco-


tados de estudos realizados por diversos auto- lo NICHD abarca conhecimentos sólidos sobre o
res (Aldridge et al., 2004; Cyr & Lamb, 2009; desenvolvimento infantil, de acordo com carac-
Hershkowitz, Fisher, et al., 2007; Hershkowitz terísticas individuais da vítima e observa alguns
et al., 2005; Hershkowitz et al., 2006; Lamb et aspectos na aplicação, tais como: a linguagem,
al., 1996; Lamb et al., 2007; Orbach et al., 2000; verificando em que estágio do desenvolvimento
Peixoto, Ribeiro, & Alberto, 2013; Phillips et al., a criança se encontra; a memória, caracterizada
2012 e Toth, 2011), os quais afirmam ser possí- por estágios e influenciada pelo grau de estresse
vel quantificar um maior número de relatos e de gerado pela violência sexual infantil; a pressão
detalhes forenses relevantes em entrevistas com exercida por membros familiares e pelo próprio
o protocolo. Foram também apontadas limita- agressor; a influência da fase do desenvolvi-
ções do protocolo NICHD (Lamb et al., 2013 e mento em que a criança se encontra na maneira
Olafson, 2012), apontando que o mesmo pode como se comporta; e o impacto emocional que
não obter bons resultados com crianças resisten- pode gerar distúrbios de comportamento. Outro
tes em fazer a revelação ou fazê-la parcialmen- aspecto importante na concepção e operaciona-
te; crianças muito pequenas; com deficiência lização do protocolo é a utilização de processos
intelectual e crianças envolvidas em disputa de de evocação livre como principal estratégia na
guarda. É importante ressaltar que a publicação obtenção de informação (Orbach & Pipe, 2011).
de pesquisas relacionadas ao protocolo NICHD Assim, a utilização de questões abertas tem
é ainda inexistente no Brasil, portanto, a tabela como propósito ser a principal estratégia de es-
apresenta apenas estudos internacionais. timulação da evocação livre por parte da criança
426 Williams, L. C. A., Padilha, M. G. S., Hackbarth, C., Blefari, C. A., Peixoto, C. E.

de acontecimentos da sua vida. Para além dis- (b) solicitar que a criança descreva experi-
so, esta estratégia é também a melhor forma de ências recentes e eventos neutros em deta-
estimular a construção de narrativas (Roberts, lhes. Nessa parte da entrevista, o objetivo da
Brubacher, Powell, & Price, 2011), e providen- sessão é que a criança se familiarize com as
cia uma melhor qualidade e quantidade de in- questões abertas e com as técnicas que serão
formação (Lamb et al., 2008). A utilização de utilizadas na próxima etapa, definida como
questões abertas surge como a melhor alterna- substantiva e descrita posteriormente.
tiva à utilização de processos que utilizam uma Ainda na fase pré-substantiva, uma série de
memória de reconhecimento, mais concretamen- instruções são utilizadas de forma não sugestiva
te, a colocação de questões de múltipla escolha para identificar eventos alvo que estão sob in-
ou sugestivas. Essas últimas têm sido apontadas vestigação. As questões são as mais abertas pos-
como estratégias que aumentam a quantidade de síveis e o entrevistador só avança para perguntas
erros apresentados pela criança (Ceci & Bruck, mais focadas, se a criança não apresentar falhas
1995), e limitadoras da quantidade de informa- em identificar o evento alvo.
ção que a criança poderá fornecer (Orbach & Na eventualidade de existirem evidências
Pipe, 2011). De fato, a utilização de questões de claras sobre os fatos que estão sob investigação
múltipla escolha ou de questões sugestivas faci- criminal (testemunhas oculares, indicadores de
lita a aquiescência da criança (sobretudo perante abuso sexual, como é o caso de uma gravidez),
adultos em posição de autoridade; Ceci & Bruck, na fase de transição para as questões substan-
1995); provoca um falso reconhecimento de de- tivas o protocolo sugere a utilização, pelo en-
talhes (por vezes centrais, como a identidade do trevistador, de parte da informação recolhida
ofensor); ou leva a criança a fornecer informa- previamente com a criança, no sentido de po-
ções que não decorrem da sua memória episódi- der desencadear uma revelação. Porém, mesmo
ca, mas sim de uma síntese dos acontecimentos com a utilização desta estratégia que poderá ser
vivenciados (Brainerd & Reyna, 2005). considerada sugestiva, o entrevistador nunca
O protocolo NICHD tem como premissa deverá fornecer informação à criança sobre o
realizar a investigação da suspeita de violência tipo de atos sofridos ou sobre a identificação do
sexual infantil de forma estruturada abarcando ofensor.
todas as fases necessárias para uma entrevista in- Assim que acontecer o primeiro relato da
vestigativa. Lamb et al. (2008), dividiram o pro- criança sobre o abuso sexual, o entrevistador
tocolo em duas partes, a parte pré-substantiva e a pede à criança para indicar se o incidente ocor-
parte substantiva. A parte pré-substantiva conta reu uma vez ou mais do que uma e procede para
com algumas etapas: se assegurar que o incidente seja relatado utili-
1. Etapa introdutória, na qual o entrevistador zando a pergunta “Me conta mais sobre...” (ati-
se apresenta à criança e esclarece a tarefa vidade mencionada pela criança). Desse modo, o
que será realizada, ou seja, a necessidade entrevistador pede que a criança fale mais sobre
de falar a verdade e descrever eventos em o evento que relatou anteriormente, utilizando
detalhes. Ainda nessa fase, o entrevistador as mesmas palavras da criança e fazendo refe-
explica as regras básicas e as expectativas, rência a detalhes mencionados por ela, tomando
como por exemplo, de que a criança deve cuidado para não contaminar as memórias refe-
dizer que não se lembra de algum evento, rentes ao evento. Apenas após perguntas abertas
que não sabe a resposta, que não entendeu exaustivas realizadas pelo entrevistador a res-
a pergunta ou que corrija o entrevistador peito do evento relatado pela criança, o mesmo
quando for apropriado; faz perguntas diretas, porém ainda tendo como
2. Construção do vínculo, que compreende parâmetro relatos da criança durante as pergun-
duas subdivisões: (a) criar um ambiente tas abertas e solicitando informações específicas,
descontraído e de apoio para estabelecer o como por exemplo, quando aconteceu o episó-
rapport entre a criança e o entrevistador; e dio ou sobre a aparência de determinada pessoa.
Investigação de Suspeita de Abuso Sexual Infantojuvenil: O Protocolo NICHD 427

As questões que trazem declarações sugestivas, NICHD, pelos mesmos profissionais anterior-
como as que comunicam à criança a resposta es- mente à capacitação. Foi constatado que o proto-
perada, são fortemente desencorajadas durante colo mostrou-se efetivo no sentido de obter mais
a utilização do protocolo. Concluída essa parte relatos das crianças que sofreram abuso sexual.
da entrevista, o entrevistador dá sequência, ini- Tanto no estudo realizado em Israel, como no
ciando a parte substantiva com a pergunta chave estudo canadense, os autores verificaram que as
“Agora que conheço você um pouco mais, que- entrevistas com o protocolo continham menos
ria falar sobre porque você veio aqui hoje”. O perguntas fechadas e sugestivas do que nas en-
entrevistador dá continuidade com as perguntas trevistas em que o Protocolo não foi utilizado.
abertas para investigar os incidentes e continua As crianças entrevistadas com o protocolo NI-
a utilizar a consigna “Me conta tudo sobre isso”, CHD lembraram-se significativamente de mais
especificamente para as revelações ou relatos detalhes de memórias com episódios neutros na
feitos pela criança, encerrando a sessão com um fase pré-substantiva do que as crianças nas en-
tópico neutro. trevistas sem o protocolo. Além do mais, foram
Para elucidar a utilização do referido proto- relatados maiores detalhes pelas crianças quando
colo, Lamb et al. (2008), assinalam o estudo rea- utilizado o protocolo enquanto que poucos deta-
lizado em Israel, no ano de 2000, no qual compa- lhes foram relatados quando utilizadas somente
raram resultados apresentados em 55 entrevistas as questões sugestivas e fechadas.
utilizando o protocolo NICHD, com outras 50 O Protocolo NICHD claramente leva os
entrevistas cujo procedimento era direcionado entrevistadores nos estudos descritos por Lamb
pelo protocolo fornecido pelo Serviço Investiga- et al., 2008, a estabelecerem condições superio-
tivo Israelense. Ambos os procedimentos foram res para recuperação de memórias episódicas
conduzidos pelos mesmos seis entrevistadores, da criança de uma forma mais flexível, além de
os quais tinham graduação em serviço social e demonstrar que a técnica é eficaz por atingir a
eram os únicos funcionários autorizados a rea- ampla faixa etária compreendida dos 4 aos 13
lizar entrevistas com crianças vítimas de abuso anos de idade. Os autores acreditam que o su-
sexual de até 14 anos de idade pelo governo de cesso dos relatos se deva ao intenso treinamento,
Israel. Os profissionais que realizaram as entre- monitoramento e feedback, decorrente do tempo
vistas foram capacitados para a utilização do prolongado investido, tanto na capacitação para
protocolo NICHD em sessões de grupo e indivi- a prática do protocolo, como na supervisão.
duais. Os autores puderam, também, comprovar Recentemente Katz e Hershkowitz (2012),
a veracidade dos relatos obtidos nas entrevistas realizaram um estudo a respeito dos efeitos das
realizadas devido ao fato de 71% dos suspeitos perguntas múltiplas estruturadas (por exemplo:
terem confessado o crime, relatando o episódio “Ele tocou partes do seu corpo ou machucou al-
com os mesmos detalhes que foram relatados na guma parte do seu corpo?”), empregadas em en-
alegação do evento pelas crianças durante a en- trevistas realizadas com 71 crianças israelenses
trevista com o protocolo. selecionadas considerando o critério de serem
Outro exemplo de estudo realizado com o ouvidas a respeito de uma única situação de abu-
Protocolo NICHD foi o de Cyr e Lamb, 2009, so por um agressor que não fosse membro da fa-
em Quebéc, no Canadá. Foi realizada a tradução mília. Foi examinado o número de palavras e de
do protocolo para o idioma francês, permitindo detalhes fornecidos por elas nessa modalidade
verificar se seu uso beneficiaria o trabalho rea- de entrevista, sendo constatado que o efeito das
lizado por profissionais da Saúde Mental e da perguntas múltiplas estruturadas em entrevistas
polícia. Policiais e assistentes sociais realizaram forenses foi destrutivo e prejudicou a qualidade
83 entrevistas com crianças encaminhadas à po- da entrevista com a criança. Assim, ficou paten-
lícia ou para os serviços de proteção à criança, te a necessidade de se eliminar essa modalidade
utilizando o referido protocolo, pareando-as de entrevista por meio de constante atualização e
com 83 entrevistas realizadas sem o protocolo treinamento profissional.
428 Williams, L. C. A., Padilha, M. G. S., Hackbarth, C., Blefari, C. A., Peixoto, C. E.

Os estudos empíricos realizados com o pro- autores também defendem que o grande número
tocolo também têm analisado a entrevista com de questões abertas, ao invés de somente ques-
crianças que demonstram relutância em revelar tões sugestivas ou fechadas a respeito do evento
os abusos de que foram vítimas (Hershkowitz em que a agressão aconteceu, possibilita que o
et al., 2005; Hershkowitz, Lanes, et al., 2007; protocolo transmita informações de qualidade
Orbach, Shiloach, & Lamb, 2007). Estes estu- superior às que são infrequentes nas entrevistas
dos indicam que vítimas relutantes evidenciam exclusivamente sugestivas ou com opção de res-
uma menor probabilidade de revelar os abusos postas fechadas, que maximizam a possibilidade
ou relatam menos pormenores relativos a estes. de contaminação do relato.
Este comportamento da criança parece provocar Em estudo recente realizado no estado ame-
alterações na interação com o entrevistador. Se ricano de Utah, Pipe et al. (2013) compararam
por um lado, os entrevistadores tendem a manter casos de AS nos quais as entrevistas com as
o mesmo tipo de interação na fase pré-substanti- crianças ocorreram antes que o protocolo NI-
va, agindo de acordo com o que é recomendado CHD fosse adotado (350 casos) e depois que o
no protocolo e utilizando mais questões aber- protocolo foi adotado pelos entrevistadores (410
tas, por outro lado, na fase substantiva, peran- casos), para verificar se houve mudanças nos re-
te a resistência da criança em revelar, tendem a sultados de casos suspeitos no que diz respeito à
distanciar-se das recomendações do protocolo e instauração de processos e condenações. Os au-
a evidenciar mais questões sugestivas. A pesqui- tores verificaram que, após a introdução do uso
sa com crianças relutantes (Lamb et al., 2013; do protocolo nas entrevistas investigativas, hou-
Lamb et al., 2008) tem indicado que o um maior ve uma tendência para que um número menor de
investimento na relação com o entrevistado pa- casos suspeitos fosse a julgamento, sendo arqui-
rece ser o método mais eficaz para ultrapassar as vados na fase de investigação, com a rejeição de
resistências relativamente a falar sobre os acon- falsos relatos. Adicionalmente, observou-se uma
tecimentos abusivos. Aliás, existe já uma versão tendência de que a maioria dos casos que ia a jul-
do protocolo na qual o entrevistador recorre a gamento resultasse em condenação do acusado,
uma série de comentários de suporte não suges- com a melhoria da qualidade da prova coletada
tivos. Esta versão tem alterações da dinâmica pela entrevista. Os autores concluíram que o uso
da entrevista, com um maior investimento no do protocolo leva à maior qualidade nas entre-
estabelecimento de uma atmosfera de suporte, vistas forenses, o que é de máxima importância
levando a criança a sentir-se mais confortável e para a preservação dos direitos, tanto das vítimas
apoiada, facilitando, assim, a revelação (Lamb quanto dos suspeitos.
et al., 2013). Os estudos citados obtiveram resultados que
É importante considerar que os achados demonstram que o Protocolo NICHD de inves-
comprovam a efetividade do protocolo NICHD tigação forense traz uma quantidade maior de
no auxílio dos entrevistadores para realizar en- questões abertas, diminuindo o índice de indu-
trevistas de acordo com as práticas recomen- ção de questões e obtendo mais detalhes sobre
dadas, no sentido de suscitar informações mais a situação abusiva (Lamb et al., 2008). O instru-
precisas e evitar perguntas que acarretam em mento tem sido um dos protocolos mais indica-
informações duvidosas. Além dos autores do dos por pesquisadores e contempla as diretrizes
protocolo, outros pesquisadores (Cronch et al., indicadas pela American Professional Society
2006; Cyr, Dion, Mcduff, & Trotier-Sylvaini, on the Abuse of Children (APSAC), organização
2012; Herman, 2009; Olafson, 2012; Phillips et não governamental que tem o propósito de auxi-
al., 2012; Snider & Everson, 2011 e Toth, 2011) liar profissionais e serviços que trabalham com
afirmam ser o Protocolo NICHD o mais pes- crianças vítimas de maus-tratos e suas famílias.
quisado e aquele que oferece o melhor suporte É uma entidade reconhecida mundialmente pelas
para conduzir entrevistas forenses com crianças suas publicações trimestrais como o periódico
em casos de abuso sexual. Adicionalmente, tais Child Maltreatment e o APSAC Advisor.
Investigação de Suspeita de Abuso Sexual Infantojuvenil: O Protocolo NICHD 429

O guia da APSAC ressalta a importância Há entretanto algumas limitações com o


das entrevistas forenses para a identificação de protocolo NICHD. Estudos com a utilização do
outras vítimas envolvidas, possibilitando profis- mesmo (Hershkowitz et al., 2005; Hershkowitz,
sionais a avaliarem situações de risco e prote- Fisher, et al., 2007) indicam algumas dificulda-
ção em crianças e suas famílias com suspeita de des na entrevistas de crianças relutantes em fa-
abuso e consequentemente auxiliando a tomada zer revelações. Porém, tudo leva a crer que um
de decisão judicial (APSAC, 2012), o que é pos- maior investimento na relação com a criança po-
sível por meio do protocolo NICHD. derá ser a chave para contornar a relutância da
O protocolo NICHD foi adaptado para o criança em informar (Lamb et al., 2013).
contexto de Portugal (Peixoto, Ribeiro, & Alber- As pesquisas que estão se iniciando no Bra-
to, 2013) e no momento encontra-se em valida- sil com o protocolo NICHD poderão fornecer
ção no Brasil por meio de pesquisas realizadas ao sistema de justiça brasileiro um instrumen-
em três universidades distintas (Universidade to adequado à entrevista com crianças em ca-
Federal de São Carlos [UFSCar]; Universidade sos suspeitos de abuso sexual, garantindo uma
Tuiutí do Paraná [UTP] e Pontifícia Universi- maior eficácia e robustez da prova testemunhal.
dade Católica do Rio Grande do Sul [PUCRS]), Por sua vez, espera-se subsidiar particularmente
localizadas em três Estados brasileiros (São Pau- o psicólogo que atua em delegacias, em perícias
lo, Paraná e Rio Grande do Sul). A tradução do ou em Varas de Família e Varas da infância e da
Protocolo NICHD adaptada para o contexto bra- Juventude em sua prática, fornecendo-lhe mais
sileiro pode ser acessada em http://nichdproto- segurança e eficácia na entrevista, minimizan-
col.com/nichdbrazil.pdf (Williams, Hackbarth, do a possibilidade de contaminação do relato da
Aznar-Blefari, & Padilha, 2012). criança e aumentando o seu contributo na res-
ponsabilização do agressor.
Conclusão
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