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Queridos irmãos e irmãs:
Não temos notícias sobre a sua infância, mas, pelos seus escritos, podemos
intuir que transcorreu tranquila, num ambiente familiar afectuoso. De facto, para
expressar o amor sem limites de Deus, ela valorizava muito as imagens ligadas
à família, com particular referência às figuras do pai e da mãe. Numa
meditação sua, diz assim: "Muito doce Senhor, penso nas graças especiais que
me deste por tua solicitude: antes de tudo, como me protegeste desde a minha
infância e como me afastaste do perigo e me chamaste a dedicar-me ao teu
santo serviço, como provieste em todas as coisas que me eram necessárias
para comer, beber, vestir e calçar, e o fizeste de tal forma que não tive ocasião
de pensar em todas estas coisas, a não ser na tua grande misericórdia"
(Margherita d'Oingt, Scritti spirituali, Meditazione V, 100, Cinisello Balsamo
1997, p. 74).
Também da sua vida na Cartuxa temos poucos dados. Sabemos que em 1288
ela se converteu na quarta priora, cargo que manteve até a sua morte, ocorrida
em 11 de Fevereiro de 1310. Dos seus escritos, contudo, não se desprendem
viradas particulares no seu itinerário espiritual. Ela concebe toda a vida como
um caminho de purificação até à configuração plena com Cristo. Ele é o livro
que se escreve, que incide diariamente no próprio coração e na própria vida,
em particular a Sua paixão salvadora. Na obra Speculum, Margarida, referindo-
se a si mesma em terceira pessoa, sublinha que, por graça do Senhor, "havia
gravado no seu coração a santa vida que Deus Jesus Cristo levou na terra, os
Seus bons exemplos e a Sua boa doutrina. Ela tinha colocado tão bem o doce
Jesus Cristo no seu coração, que lhe parecia inclusive que este estivesse
presente e que tivesse um livro fechado na sua mão, para instruí-la" (ibid., I, 2-
3, p. 81). "Neste livro, ela encontrava escrita a vida que Jesus Cristo levou na
terra, desde o Seu Nascimento até à Sua Ascensão ao Céu" (ibid., I, 12, p. 83).
À primeira vista, esta figura cartusiana medieval, como toda a sua vida, o seu
pensamento, parecem muito distantes de nós, da nossa vida, da nossa forma
de pensar e agir. Mas se observarmos o essencial desta vida, veremos que
também nos diz respeito e que deveria ser tão essencial também em nossa
própria existência.
Ouvimos que Margarida concebeu o Senhor como um livro, fixou o seu olhar no
Senhor, considerando-O como um espelho no qual aparece também a sua
própria consciência. E a partir deste espelho, entrou luz na sua alma: deixou
entrar a palavra, a vida de Cristo, o seu próprio ser e assim foi transformada; a
sua consciência foi iluminada, encontrou critérios, luz e foi purificada. É
precisamente disso que nós precisamos: deixar entrar: as palavras, a vida, a
luz de Cristo na nossa consciência, para que seja iluminada, para que
compreenda o que é verdadeiro e bom e o que é mau; que seja iluminada e
purificada a nossa consciência. O lixo não está somente nas ruas do mundo.
Há lixo também nas nossas consciências e nas nossas almas. Só a luz do
Senhor, a Sua força e o Seu amor é o que nos limpa, nos purifica e nos conduz
no caminho recto. Portanto, sigamos Santa Margarida neste olhar dirigido a
Jesus. Leiamos no livro da sua vida, deixemo-nos iluminar e limpar, para
aprender a vida verdadeira. Obrigado.