Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
Brasília, 2016
República Federativa do Brasil
Presidente: Michel Temer
Luciana Resende
Organização
2
Concepção do material original
Tereza Moreira
Luciana Resende
Revisão e colaboração
3
SUMÁRIO
Apresentação ........................................................................................................................................ 5
Capítulo 1: Gestão Pública Sustentável ........................................................................................... 6
A emergência da questão ambiental .................................................................................................. 6
Municípios sustentáveis .................................................................................................................... 11
Em resumo ........................................................................................................................................ 18
Capítulo 2: Gestão Ambiental Descentralizada e Integrada ........................................................ 20
SISNAMA: concepção e origens..........................................................................................................20
Composição do SISNAMA.................................................................................................................. 23
O meio ambiente na Constituição Federal.........................................................................................32
Gestão ambiental compartilhada...................................................................................................... 36
Em resumo ........................................................................................................................................ 38
Capítulo 3: Gestão Ambiental Municipal ......................................................................................... 39
Um cenário da gestão ambiental municipal no Brasil....................................................................... 39
Elementos para a estruturação da gestão ambiental local ............................................................... 42
Uma estrutura compatível com as necessidades municipais ........................................................... 48
Recursos humanos: sujeito e objetivo da gestão .............................................................................. 51
O papel da participação social na gestão do meio ambiente ........................................................... 55
Em resumo ........................................................................................................................................ 57
Referências ............................................................................................................................................ 59
4
APRESENTAÇÃO DO CURSO
Os três módulos que compõem esse curso fornecem linhas gerais para o
fortalecimento do Sistema Nacional de Meio Ambiente em sua inter-relação com os
demais instrumentos e atores da gestão municipal. O material didático foi concebido
para trabalhar conceitos não apenas de forma discursiva. Por meio de exemplos e
exercícios, pretende-se promover sucessivas aproximações das pessoas com a
realidade local, no sentido de qualificar a sua atuação.
Diante de uma perspectiva de capacitação descentralizada e voltada a atender
cada realidade específica, vale lembrar que há liberdade para se buscar informações
e para criar metodologias que melhor atendam às suas necessidades. Os materiais
produzidos pretendem apontar caminhos, fornecer sugestões e indicar possíveis
fontes de consulta para que as pessoas e os grupos busquem respostas às questões
suscitadas pela prática.
O Módulo I reflete a importância da gestão ambiental municipal e mostra qual
é a estrutura do SISNAMA em âmbito federal, estadual e municipal.
O Módulo II mostra os principais passos para a estruturação dos órgãos que
compõem o Sistema Municipal de Meio Ambiente. Discorre também sobre as formas
de se reunir recursos destinados às ações na área ambiental.
O Módulo III trata das diferentes escalas de planejamento municipal, com
ênfase no planejamento microrregional e setorial, considerando os níveis de
integração a serem concretizados em torno de um projeto de desenvolvimento
sustentável para a comunidade e a região.
Todos os módulos contêm a legislação referente aos temas desenvolvidos,
trazem explicações sobre termos técnicos e fornecem dicas de onde obter mais
informações.
5
CAPÍTULO 1: GESTÃO PÚBLICA SUSTENTÁVEL
6
Poluição
Degradação Ambiental
7
Na década de 1980, alguns impactos dessa forma autoritária de se governar e
pensar o ambiente e o desenvolvimento tornaram-se mais visíveis. Exemplos típicos
são o município de Cubatão, em São Paulo, e a Baía da Guanabara, no Rio de
Janeiro. Dois locais de grande beleza cênica e que à época foram totalmente
desfigurados pela sobreposição do econômico sobre a qualidade de vida. Apesar de
avanços, até hoje, essas localidades são estigmatizadas pelos problemas ambientais
e sociais gerados desde então.
8
Para Refletir
Faça um diagnóstico socioambiental da localidade em que você vive.
Primeiramente, marque um ponto no mapa onde está seu município e, após isso,
responda as seguintes perguntas:
Seu município ou região sofreu algum impacto socioambiental a partir das políticas
daquele período do governo militar, ou mesmo, atualmente, em consequência do
"desenvolvimentismo"? Se sim, descreva brevemente.
Em que bioma e bacia ou região hidrográfica ele se situa? A água é farta e de boa
qualidade? Existem disputas pelo seu uso? Há assoreamento de lagoas, córregos e
outros cursos d’água?
Quantos habitantes vivem na área urbana e na área rural?
Há serviços de saúde e educação pública de qualidade?
Há opções de lazer em áreas verdes? Existem áreas protegidas de forma especial, por
exemplo, Reserva Extrativista ou Área de Proteção Ambiental?
O que se faz com os resíduos gerados pelas atividades industriais, agrícolas ou
urbanas? Existem aterros sanitários?
Para onde vai o esgoto das residências?
Para onde vai o esgoto da empresas?
No seu município existe alguma Estação de Tratamento de Esgoto - ETE?
O solo é fértil ou está empobrecido? Há poluição por agrotóxicos?
Existem disputas em torno do uso do solo, com a ocorrência de grupos de
trabalhadores sem-terra ou grupos sem-teto? Há crianças de rua, favelas, ocupações
irregulares?
Há populações que foram desalojadas pela construção de grandes obras ou que
perderam seu meio de vida por causa de desmatamento, pesca excessiva, poluição
das águas?
A polícia registra muitos casos de violência?
Quais são as principais forças sociais vinculadas a esses temas atuantes no município?
Há associações, sindicatos, outros tipos de organizações?
Agora compartilhe suas impressões com pessoas de seu município e de outras
localidades. As respostas a essas perguntas podem indicar os principais problemas e
onde o município pode melhorar.
9
Bioma
Bacia Hidrográfica
Assoreamento
Resíduo
10
Resíduo (II)
Agrotóxico
Municípios sustentáveis
11
Partimos de uma dimensão socioambiental, pois tanto a poluição como as
desigualdades sociais afetam negativamente a qualidade de vida das pessoas e têm
impactos profundos sobre o ambiente. Segundo essa visão, o crescimento econômico
é uma das variáveis a garantir qualidade de vida, mas não a única. Historicamente,
vem se afirmando o conceito de sustentabilidade, em amplo escopo, ou seja, de
um tipo de desenvolvimento das sociedades que agreguem durabilidade e justiça
social. Ou seja economicamente viável, ecologicamente o mais equilibrado possível,
capaz de propiciar às pessoas condições básicas para o bem viver, o respeito à
diversidade cultural, bem como o pleno exercício da cidadania.
Desenvolvimento Sustentável
12
Sustentabilidade
"O termo sustentabilidade foi cunhado com o propósito de nos remeter ao vocábulo
sustentar. Sustentar algo ao longo do tempo - a dimensão de longo prazo já se
encontra incorporada nessa interpretação -, para que aquilo que se sustenta tenha
condições de permanecer perene, reconhecível e cumprindo as mesmas funções
indefinidamente, sem que produza qualquer tipo de reação desconhecida,
mantendo-se estável ao longo do tempo. (...) Todavia, podemos adiantar que a
sustentabilidade comporta várias dimensões. A sustentabilidade torna-se um
conceito transversal que abrange todas as dimensões da vida humana, não apenas
as relações diretas com a natureza." (FERREIRA, 2005)
Indicador Ambiental
14
3. Razão da Oferta Interna de Energia / PIB
4. Participação da Energia Produzida a Partir de Fontes Renováveis na Matriz Energética
5. Consumo de Substâncias que Destroem a Camada de Ozônio
6. Emissão de Poluentes Atmosféricos por Fontes Móveis
7. Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção Representadas nas UC Federais
8. Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção com Planos de Ação para Recuperação e a
Conservação
9. Cobertura Vegetal Nativa Remanescente
10. Desmatamento Anual por Bioma
11. Focos de Calor
12. Cobertura Territorial das Unidades de Conservação da Natureza
13. Cobertura Territorial e População Atendida pelo Programa Bolsa Verde
14. Área de Florestas Públicas Destinadas para Uso e Gestão Comunitários
15. Implantação da Agenda Ambiental na Administração Pública - A3P
16. Consumo de Agrotóxicos e Afins
17. Situação da Oferta de Água para Abastecimento Humano Urbano
18. População Urbana com Acesso a Sistemas Adequados de Abastecimento de Água
19. População Urbana com Acesso a Serviços de Coleta de Esgotos Sanitários
20. População Urbana com Acesso a Serviços de Tratamento de Esgotos Sanitários
21. Coleta per capita de Resíduos Sólidos Domiciliares (RDO)
22. Taxa de Cobertura da Coleta de Resíduos Sólidos Domiciliares em Relação à População
Urbana
23. Taxa de Recuperação de Materiais Recicláveis em Relação à Totalidade de RSU (**)
Coletados
24. Municípios com Órgãos Municipais de Meio Ambiente (OMMA)
25. Municípios com Conselhos de Meio Ambiente (CMMA)
26. Implantação da Agenda 21 Local
27. Relação entre Demanda Total e Oferta de Água Superficial
28. Índice de Qualidade da Água (IQA) dos Rios e BH em Função do Lançamento de Esgotos
Domésticos
29. Balanço Hídrico Qualitativo dos Rios e Bacias Hidrográficas
30. Balanço Hídrico Quali-quantitativo dos Rios e Bacias Hidrográficas
31. Cobertura do Território com Comitês de BH ou Outros Tipos de Colegiados Instituídos nas
Bacias
32. Cobertura Territorial dos Planos de Bacia Hidrográfica
33. Estado da Cobertura Terrestre das Áreas Susceptíveis à Desertificação
34. Cobertura Territorial dos Projetos de Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE)
Fonte: (BRASIL, 2014a, p. 30-31)
15
Para maiores informações sobre o PNIA, acesse o site do Ministério do Meio
Ambiente:
http://www.mma.gov.br/publicacoes/pnia
Para Refletir
Com base nos indicadores apresentados, você classificaria seu
município como sustentável? Justifique sua resposta.
Afinal, por que é tão importante a atuação dos governos municipais na área
ambiental? Vejamos algumas razões:
16
minérios, da pesca, da borracha, da cana-de-açúcar, do café... Portanto, vale
a pena investir em formas de manter e usar com inteligência os recursos
ambientais disponíveis, exercendo o controle e a participação social sobre a
gestão do município.
Lençol Freático
Biodiversidade
Controle Social
Em resumo
Muitos ainda restringem meio ambiente a apenas com árvores, rios e animais.
Em geral, se esquecem de que nós, os seres humanos, que também fazemos parte
desse cenário e somos os principais responsáveis por suas alterações, deletérias ou
não. Também persiste o engano do ideário liberal e capitalista de que
18
desenvolvimento e crescimento econômico são sinônimos. Porém, não há
desenvolvimento real sem o bem estar social, num ambiente sadio. Assim, o conceito
de sustentabilidade procura deixar mais claro que as pessoas, especialmente os
menos favorecidos, e o meio em que vivem, devem estar em primeiro plano.
Esta inversão de valores deve ser implementada global, mas sobretudo localmente. É
no espaço local que os maiores impactos são sentidos. Por isso, a importância da
atuação nessa escala. O município é onde moramos, trabalhamos e nos divertimos.
Ali percebemos os problemas e podemos contribuir para buscar soluções. Ao se
pensar e construir um modelo de desenvolvimento sustentável, pode-se descobrir e
desenvolver novas vocações nos municípios, além de incentivar a participação de
seus cidadãos e cidadãs, promovendo a responsabilidade de todos sobre o presente
e o futuro da localidade, dos territórios, tendo a gestão ambiental como vetor de
planejamento democrático.
19
CAPÍTULO 2: GESTÃO AMBIENTAL DESCENTRALIZADA E INTEGRADA
Assim, podemos dizer que a proteção do meio ambiente, por meio do SISNAMA,
se consolida mediante a formulação e execução de políticas públicas de meio
ambiente; a articulação entre as instituições componentes do Sistema em âmbito
federal, estadual, distrital e municipal; e pelo estabelecimento da descentralização da
gestão ambiental.
Saiba Mais
A criação da SEMA foi uma resposta às críticas da
comunidade internacional acerca do posicionamento
dos países denominados de Terceiro Mundo, liderados
pelo Brasil, contrários ao retardamento e
encarecimento do processo de industrialização nos
países em desenvolvimento, como forma de controle
da degradação ambiental (MILARÉ, 2011).
21
Como visto, o SISNAMA começou a se estruturar ainda durante os governos
militares em um ambiente institucional fortemente marcado pela centralização. Havia
naquele momento, grandes dificuldades para se delegar poderes aos estados e
municípios.
Licenciamento
Fiscalização
Essa é, contudo, uma visão oposta ao que propõe a Política Nacional de Meio
Ambiente, que está fortemente assentada nos preceitos da Forma Federativa de
22
Estado. Por esse modelo, deve haver uma repartição de responsabilidades e
recursos, além da cooperação entre os entes federados. Segundo Granziera (2014),
a principal característica do SISNAMA é a coordenação das ações, baseada na
articulação institucional, para que não haja superposição ou lacunas na atuação do
poder público.
Saiba Mais
No Brasil, a Forma de Estado é a Federação formada por quatro espécies de
entes (União, estados, Distrito Federal e municípios). Conforme nos lembra
Paulo; Alexandrino (2011), o Brasil segue um modelo de federalismo
cooperativo. Isso quer dizer que não há uma divisão rígida de competências
entre os entes, e que, além disso, esses deverão atuar de modo conjunto.
Em uma Federação, os governos organizam-se tendo a Constituição como
soberana. Submetidos aos seus princípios, os entes federativos compartilham
diferentes competências. Cada uma dessas esferas de governo desfruta de
autonomia política, administrativa, organizativa e legislativa.
Essa forma de organização cria um Estado composto, no qual existe a união das
comunidades públicas em torno da realização dos objetivos da Constituição.
Dessa forma, o poder não concentra-se nas mãos de uma única autoridade
central, fazendo com que seja repartido: a União, como ordem nacional; os
estados, como ordens regionais; e os municípios, como ordens locais. Nesse
caso, o Distrito Federal, em geral, acumula as competências dos estados e dos
municípios.
Agora que já temos uma noção do processo histórico que levou ao nascimento
desse sistema e entendemos suas principais bases conceituais, vejamos, então, quais
são seu componentes.
Composição do SISNAMA
A lei 6.938/1981, em seu artigo 6º, traz a estrutura na qual está baseada a gestão
ambiental do País. E, tendo em vista os seus componentes, podemos dizer que,
mesmo que aberto à participação de instituições não governamentais e da sociedade
civil, o SISNAMA é uma estrutura político-administrativa eminentemente
governamental (MILARÉ, 2011).
23
Assim, compõem o SISNAMA os órgãos e entidades da União, dos estados, do
Distrito Federal, dos territórios e dos municípios, bem como as fundações instituídas
pelo poder público, responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade ambiental,
assim estruturado:
24
fiscalização de atividades que podem provocar a degradação do meio ambiente, de
acordo com as suas respectivas competências.
Saiba Mais
O Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA, foi precedido, historicamente,
por duas experiências colegiadas. A primeira acompanhou a criação da Secretaria
Especial do Meio Ambiente – SEMA, em 1973, quando o Decreto Federal 73.030
instituiu o Conselho Consultivo do Meio Ambiente (CCMA), com nove membros a
serem nomeados pelo Presidente da República. Mas, como afirma Machado (2013),
“esse Conselho foi extinto na prática”. A segunda iniciativa foi a criação do Conselho
de Políticas Ambientais de Minas Gerais – COPAM, em 1977.
25
Para maiores informações sobre o CONAMA, acesse o Site CONAMA:
http://www.mma.gov.br/port/conama/index.cfm
26
Saiba Mais
O Ministério do Meio Ambiente substituiu a Secretaria de Meio Ambiente da
Presidência da República (SEMA), como órgão central do SISNAMA. Sua competência
abrange as políticas de meio ambiente e recursos hídricos e todas as questões
referentes ao meio ambiente (GRANZIERA, 2014). De acordo o decreto nº 6.101/2007,
é da competência desse Ministério:
A Política Nacional do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos;
A Política de preservação, conservação e utilização sustentável de ecossistemas, e
biodiversidade e florestas;
A Proposição de estratégias, mecanismos e instrumentos econômico e sociais para a
melhoria da qualidade ambiental e o uso sustentável dos recursos naturais;
As Políticas para a integração do meio ambiente e produção;
As Políticas e programas ambientais para a Amazônia Legal;
O Zoneamento ecológico-econômico.
Cabe ressaltar ainda que são entidades vinculadas ao Ministério do Meio Ambiente,
também fazendo parte de sua estrutura, as seguintes autarquias: a) Agência Nacional
de Águas (ANA); b) IBAMA; c) Instituto Chico Mendes- ICMBio; d) Instituto de
Pesquisas do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ). Ademais, é órgão subordinado
ao Ministério, o Serviço Florestal Brasileiro (SFB), que apesar de não possuir
personalidade jurídica, segundo a lei 11.284/2006, poderá o Poder Executivo
assegurar-lhe autonomia administrativa e financeira, mediante celebração de contrato
de gestão e de desempenho (GRANZIERA, 2014).
27
Para maiores informações acesse o site da ANA:
http://www2.ana.gov.br/Paginas/default.aspx
28
Saiba Mais
O IBAMA foi criado pela lei 7.735/1989, alterada pela lei
11.516/2007. Suas competências estão voltadas para o
poder de polícia ambiental, respeitadas as diretrizes do
Ministério do Meio Ambiente. Entre suas atribuições estão:
Licenciamento ambiental;
Controle e qualidade ambiental;
Autorização de uso dos recursos naturais;
Fiscalização, monitoramento e controle ambiental.
29
Saiba Mais
Originalmente, na composição da lei 6.938/81, com
posterior alteração pela lei 7.735/1989, que criou o
IBAMA, não havia o Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade. Esse foi criado como
autarquia federal dotada de personalidade jurídica de
direito público, autonomia administrativa e financeira,
vinculada ao Ministério do Meio Ambiente, pela lei
11.516/2007. Já a partir do decreto 6.792/2009, que
modificou o artigo 3º, IV, do decreto 99.274/1990,
passou a figurar ao lado do IBAMA como órgão executor
do SISNAMA (MILARÉ, 2011).
31
Agora que compreendemos a composição do SISNAMA, podemos avançar um
pouco mais, vejamos a seguir o tratamento que a nossa Constituição Federal dá ao
tema meio ambiente. Vamos lá?
Para Refletir
Com base no que vimos até agora, em especial, a
respeito da estrutura do SISNAMA, identifique as
instituições públicas integrantes desse Sistema, por
exemplo, as secretarias, institutos ou órgãos
responsáveis por realizar a política de meio ambiente.
Faça isso considerando a esfera local (municipal),
regional (estadual) e nacional (União). Busque refletir
se há uma integração entre essas esferas de governo.
32
“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o
dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras
gerações” (BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de
1988, grifo nosso).
Para Machado (2014), por tratar-se de bem de uso comum do povo, o meio
ambiente é um bem coletivo de desfrute individual e também geral, por isso, é direito
de cada pessoa, mas não apenas dela, podendo ser considerado, portanto,
transindividual. Assim, o direito ao meio ambiente enquadra-se na categoria de
interesse difuso, ou seja, que se espraia para uma coletividade indeterminada.
Subsidiariedade: tudo o que puder ser realizado pelo nível local, com competência
e economia, não deve ser atribuído ao nível estadual e federal. Isso permite
33
encontrar soluções para os problemas o mais próximo possível de onde são
gerados;
Além do artigo 225, devemos destacar ainda, no âmbito legislativo, o artigo 24,
que afirma que a União, os estados e o Distrito Federal legislam concorrentemente
sobre matéria ambiental: “(...) florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza,
defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da
poluição; proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico;
direito urbanístico (...)” (BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de
1988).
34
Competência Legislativa Concorrente e Supletiva
Competência Comum
35
Gestão ambiental compartilhada
36
Monitoramento
O que fez a Lei Complementar 140 foi estabelecer uma divisão de atribuições
mais específica entre a União, estados, Distrito Federal e municípios. Para se atingir
as metas estabelecidas no regulamento, em seu artigo 4º, são elencados alguns
instrumentos de cooperação institucional, tais como consórcios, convênios,
comissões tripartites e bipartite, fundos e outros instrumentos econômicos, faz
ainda uma distribuição de competências administrativas por matéria, com temas
como: acesso ao conhecimento tradicional, educação ambiental, espaços territoriais,
fauna, florestas, patrimônio genético, pesca, produtos perigosos, risco, zona costeira
e licenciamento ambiental.
Saiba Mais
A Comissão Tripartite Nacional e comissões tripartites
estaduais serão formadas, paritariamente, por representantes
dos Poderes Executivos da União, dos estados, do Distrito
Federal e dos municípios, com o objetivo de fomentar a gestão
ambiental compartilhada e descentralizada entre os entes
federativos.
A Comissão Bipartite do Distrito Federal será formada,
paritariamente, por representantes, dos Poderes Executivos da
União e do Distrito Federal, com o objetivo de fomentar a
gestão ambiental compartilhada e descentralizada entre esses
entes federativos (BRASIL, 2013).
37
Para maiores informações sobre a Lei Complementar 140/2011, acesse:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp140.htm
Em resumo
38
CAPÍTULO 3: GESTÃO AMBIENTAL MUNICIPAL
Segundo nos lembra Fiorillo (2013), a Carta Magna trouxe importante relevo para
o município, na medida em que é a partir dele que a pessoa humana poderá usar os
denominados bens ambientais, visando à plena integração social, com base na
moderna concepção de cidadania.
39
O aumento da participação dos órgãos ambientais na administração pública
municipal vem ocorrendo em todas as Unidades da Federação e em todas as classes
de tamanho da população dos municípios. Considerando-se as Grandes Regiões, os
percentuais mais elevados de municípios com alguma estrutura na área ambiental
estão nas Regiões Norte (98,0%), Sul (95,0%), Centro-Oeste (92,3%), Sudeste
(89,0%) e Nordeste (85,2%). A pesquisa revelou ainda que apenas três estados
brasileiros apresentam a totalidade de seus municípios com estrutura na área
ambiental: Acre, Amapá e Espírito Santo (BRASIL, 2014b).
40
Tabela: Órgão Gestor de Meio Ambiente
Distribuição percentual de Municípios com estrutura na área de Meio Ambiente, por caracterização do órgão gestor, segundo as
Grandes Regiões e as classes de tamanho da população dos Municípios - 2013
Distribuição percentual de municípios com estrutura na área de meio ambiente (%)
Grandes
Regiões e
Total Secretaria Secretaria Setor Setor subordinado Órgão da
classes de
municipal Municipal em Subordinado a Diretamente a Administração
tamanho da
exclusiva conjunto outra chefia do Indireta
população dos
com outra Secretaria Executivo
municípios
Brasil 100,0 30,1 51,2 13,0 4,4 1,3
Norte 100,0 54,0 37,4 7,3 1,1 0,2
Nordeste 100,0 26,4 56,6 15,1 1,4 0,5
Sudeste 100,0 32,9 45,3 11,8 9,0 1,0
Sul 100,0 17,1 61,2 15,3 3,4 3,0
Centro -Oeste 100,0 43,3 39,7 10,0 5,6 1,4
Até 5000 hab 100,0 20,9 58,2 13,7 7,1 01
De 5001 a 100,0 24,6 53,3 15,6 6,4 01
10.000hab
10.001 a 100,0 29,7 51,2 14,3 3,9 0,9
20.000hab
20.001 a 100,0 32,9 51,0 12,2 2,8 1,1
50.000hab
50.001 a 100,0 46,2 40,9 6,9 1,5 4,5
100.000hab
100.001 a 100,0 54,5 30,5 6,9 0,0 8,1
500.000hab
Mais de 100,0 65,8 23,3 0,0 0,0 7,9
500.000hab
A partir desses números podemos inferir, entre outros aspectos, que pode estar
havendo um aumento de situações de conflitos socioambiental, com maior
sensibilização e pressão da sociedade em favor de ações de defesa ambiental por
parte do poder público local. As administrações locais, por sua vez, parecem estar
mais atentas às atribuições e competências dos municípios e de seus órgãos no
contexto do SISNAMA.
41
Isso está acontecendo em seu município? De que forma?
Para Refletir
Em seu município há uma secretaria exclusiva para
tratar das questões ambientais ou essa área está
associada a outros temas? Observe se sua resposta
reflete a pesquisa do IBGE, no que se refere à região
geográfica e ao número de habitantes de sua
localidade.
Assim, realizar a gestão do meio ambiente significa executar uma série de ações,
de forma encadeada e articulada, que resulte em uma maior consciência sobre as
42
consequências da atuação humana sobre o ambiente; e, por conseguinte, na adoção
de práticas e comportamentos que melhorem essa conduta.
43
Para Refletir
Faça um diagnóstico da localidade em que você vive. Observe principalmente as
atividades produtivas, o impactos no meio ambiente decorrentes dessas ações e
a forma de participação dos principais atores sociais envolvidos. A partir desse
breve desenho, vamos criar um mapa de relações ligadas à gestão ambiental,
seguindo as orientações a seguir:
44
Além dos elementos tratados anteriormente, ao planejar o desenvolvimento do
seu território, sob o ponto de vista da sustentabilidade, os municípios devem
considerar outros princípios:
E para que isso ocorra, a área de meio ambiente não deve ser vista como mais
um departamento da administração municipal, isolada, sem recursos e sem
servidores. Ao contrário, deve se tornar elemento estruturador das políticas
municipais, permeando todos os setores da administração.
45
efetiva. Nesse âmbito, é fundamental o estabelecimento e realização de ações de
maneira transversal, que envolvam áreas como: educação ambiental, geração de
informações, participação popular, elaboração de legislação local, execução de
projetos, fiscalização, monitoramento da qualidade ambiental e aporte de recursos
financeiros.
Equipe com perfil articulador e trânsito nos distintos setores do poder local e
com as demais instâncias (estadual e federal);
Prioridades de ação claras, a partir de ampla consulta e participação popular;
46
Estabelecimento de boas relações com a Câmara dos Vereadores, pois esta
tem um papel relevante na aprovação de leis referentes ao meio ambiente
local, bem como na exigência do cumprimento da legislação já existente em
âmbitos federal e estadual.
Educação
Administração
Obras
e Governo
Turismo
Meio Transportes
Ambiente
Indústria e
Agricultura
Comércio
Cultura
Cabe rememorarmos ainda que tudo o que diga respeito ao interesse local pode
ser deliberado e executado pelos municípios sem necessidade de prévia consulta ou
consentimento do estado ou da União, observadas as normas e os padrões federais
e estaduais. É recomendável, porém, que as políticas e as ações ambientais
desenvolvidas pelos municípios sejam executadas em sintonia com as políticas
públicas estaduais e federais e de acordo com as normas e padrões vigentes. Afinal,
os órgãos ambientais devem atuar de forma sistêmica, integrando planejamento e
ações por meio de um esforço cooperativo. A atuação e construção coletivas no
47
contexto da gestão compartilhada, seja junto às outras instâncias da municipalidade,
aos demais entes e órgãos do SISNAMA, ou junto à comunidade local e suas
organizações representativas, empodera o gestor ambiental, fortalece a “co-autoria”
e, por conseguinte, consolida no tempo e no espaço as iniciativas.
Para determinar uma estrutura ideal, o gestor ambiental deverá levar em conta
a área do município, sua população e os seus principais problemas ambientais. Assim,
como referência, a Confederação Nacional dos Municípios, em sua coletânea de
Gestão Pública Municipal propõe 3 diferentes estruturações dos órgãos ambientais no
organograma das prefeituras. Observem que há uma ampliação da organização das
atividades ligadas à área ambiental à medida que aumenta o número de habitantes.
Vejamos:
Para municípios com população de até 5 mil habitantes, pequena área, pouca
oferta de recursos naturais, características agrossilvopastoris, litorâneas de pequeno
porte, turísticas, e de estâncias hidrominerais:
Gabinete do
Prefeito
Conselho do Assessoria de
Meio Ambiente Meio Ambiente
Administração e Serviços
Saúde Obras Educação Turismo
Finanças Municipais
Fundo Municipal
de Meio
Ambiente
Para municípios com até 50 mil habitantes, área territorial média e grande,
razoável oferta de recursos naturais, características agroindustriais, industriais
médias, portuárias e de cidades-dormitório:
49
Esquema: Estruturação de órgãos ambientais- municípios de até 50 mil habitantes
Gabinete do
Prefeito
Conselho de
Meio Ambiente
Fundo
Municipal de
Meio Ambiente
Para municípios com população acima de 50 mil habitantes, área territorial média
e grande, razoável oferta de recursos naturais, características agroindustriais,
mineradoras, industriais, portuárias, grandes zonas urbanas ou regiões
metropolitanas:
Gabinete do
Prefeito
Conselho de
Meio Ambiente
Fundo
Municipal de
Meio Ambiente
52
Gráfico: Percentual de pessoal ocupado na área de meio ambiente, segundo regime de
concentração nos anos de 2004, 2008 e 2013¹
48,90%
45,50%
25,30%
21,10%
20,30%
19,20%
18,66%
18,43%
12,31%
11,60%
8%
2004 2008 2013²
53
contingente, apenas 20% tinham nível de instrução superior (IBGE 2005 apud
BRASIL, 2006, p. 30).
54
Para Refletir
Você conhece alguma outra iniciativa voltada para a
formação técnica de gestores públicos ambientais no seu
município? Você pode citar como exemplo a realização de
cursos presenciais ou a distância, palestras, seminários,
entre outros.
55
hábitos. Há ainda os grupos religiosos, sensíveis para a defesa da vida em suas
diversas manifestações. Desse modo, vale a pena fazer um inventário de todas as
forças sociais atuantes no município para a mobilização que será necessária a um
trabalho de gestão ambiental realmente efetivo.
56
longo do tempo. Isso faz com que as ações sejam duráveis, ou seja,
sustentáveis.
Para Refletir
Você identifica em seu município elementos que indiquem uma
efetiva participação social na gestão ambiental? Justifique sua
resposta.
Em resumo
57
Além disso, para estruturar um sistema de gestão ambiental municipal é preciso
criar uma base institucional que tenha um conjunto de normas locais e uma estrutura
administrativa que possa colocá-las em prática. As políticas municipais devem estar
em sintonia com as políticas estaduais e federal, ainda que possam ser mais restritivas
58
Referências
______. Constituição (1988). Artigos 23; 24; 30; 225, de 5 de outubro de 1988.
Presidência da República. Brasília, 5 de outubro de 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>
Acesso em: 02. dez. 2014.
59
______. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Perfil dos municípios
brasileiros. Pesquisa de informações básicas municipais. Rio de Janeiro, 2014b. 282
p. Disponível em:
<http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/perfilmunic/2013/> Acesso em:
28.nov.2014.
60
______. Lei 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos
Sólidos; altera a Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências.
Presidência da República, Brasília, 2 de agosto de 2010. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm> Acesso
em: 5 jan. 2015.
FERREIRA, Leila da Costa. In: FERRARO JÚNIOR, Luiz Antônio (Org.). Encontros
e caminhos: Formação de educadoras(es) ambientais e coletivos educadores.
Brasília: MMA, Departamento de Educação Ambiental, v. 1, 2005.
GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito ambiental. 3° ed. São Paulo: Editora
Atlas S.A, 2014, 808 p.
61
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro. 21ª ed. São Paulo:
Malheiros Editores, 2013, 1311p.
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro. 22ª ed. São Paulo:
Malheiros Editores, 2014, 1344p.
62