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ABSTRACT
This article it is about the prostitution issue, and first of all, about the causes and
consequences of the sexual exploitment, and then, it does a reading in light of the Law
Gabriela Leite, proposed in 2012 by Jean Wyllys, who, in general, seeks the legalization
of the houses of prostitution and pimping, allowing the pimp to keep 50% of the income
of prostituted women and legalizes the sexual exploitation of woman, proposing also the
modification of articles 228, 229, 230, 231 and 231-A of the brazilian penal code, thus
removing the penalty of sexual exploitatment, which is prostitution. In this context, in the
light of texts that talk around male domination of gender, sexual abuse and subordination
of the female sex with the male, this article seeks to analyze and evaluate the juridical and
sociological consequences of the Gabriela Leite Law, demonstrating the negative impact
on the women to disclose their argumentative incoherence of the justification of
legislation and this prove that the Law analyzed here is an affront to the dignity of the
human person and the decent work classifications established internationally by the ILO
(international labor organization) in view of the labor degradation that configures the
sexual exploitation that the law seeks to legalize.
INTRODUÇÃO
A lei Gabriela Leite2, proposta pelo deputado federal Jean Willys (PSOL) em 2012,
visa regulamentar a prostituição como trabalho e também, principalmente,
1
Disponível em: https://nacoesunidas.org/agencia/oit/
2
Disponível em: https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1012829
descriminalizar as casas de prostituição, sendo essa proposta claramente uma violação
dos direitos humanos, tendo em vista que tais casas de prostituição se apropriam do
dinheiro que a prostituta consegue a partir da venda do próprio corpo, ou seja, da violação
de seu corpo e exploração sexual. A lei é justificada de forma completamente infundada
e com graves incitações a violação dos direitos sexuais e da dignidade das mulheres.
Dessa forma, será feita a análise desse suposto trabalho mais antigo do mundo,
analisando suas condições primárias de surgimento, o porquê de sua existência, o que
contribui para a sua perpetuação e as consequências dessa prática, em face à lei Gabriela
Leite.
CAUSAS DA PROSTITUIÇÃO
Para que seja possível analisar a lei Gabriela Leite, é preciso ir além da letra da lei
em sua forma pura. Devemos, antes, fazer uma leitura dos porquês de a prostituição ter
surgido na história da humanidade, e porque, sendo ela considerada “a profissão mais
antiga do mundo”, ainda existe até hoje.
De forma nua e crua, o que é a prostituição? É a venda do corpo humano para fins
sexuais, é a exploração que um indivíduo irá exercer sobre o corpo de outro. E há uma
grande diferença da mentalidade e de condições sociais daquele que explora para a pessoa
explorada. Aquele que compra o corpo do outro, ele acredita poder fazer aquilo, acredita
ser superior ao outro a ponto de usar uma pessoa apenas para sua satisfação momentânea.
A pessoa explorada, por sua vez, tem também seus motivos para estar lá, e na maioria das
vezes, quando falamos da prostituição feminina (que é o foco deste artigo, até mesmo
porque a majoritária parte das pessoas prostituídas são mulheres), está nessa situação por
falta de opções, principalmente pela falta de opções econômicas. Mas além disso, estão
ali por terem sido criadas e tratadas para serem e se sentirem inferiores, se sentirem menos
merecedoras de dignidade e de direitos do que os homens, afinal, os homens são criados
como seres humanos, e mulheres não, as mulheres são criadas para servir os homens.
O mundo sempre pertenceu aos machos. Nenhuma das razões que nos
propuseram para explicá-lo nos pareceu suficiente. É revendo à luz da filosofia
existencial os dados da pré-história e da etnografia que poderemos compreender
como a hierarquia dos sexos se estabeleceu. (BEAUVOIR, 1960, v.1, p. 95)
Desta forma, analisando historicamente, em específico na pré-história, quando a
sociedade humana dependia essencialmente de fatores naturais, podemos notar que a
mulher teria funções diferentes que a dos homens; enquanto os homens estiveram
encarregados de trabalhos braçais e de caça, as mulheres estiveram por muito tempo
restritas à maternidade e tarefas domésticas. Porém, com o avançar da história, e com a
conquista da espécie humana nos diversos setores de tecnologia e de diversas áreas do
conhecimento, a separação sexual das tarefas não se mostrariam mais tão necessárias: a
subordinação sexual e trabalhista da mulher perante ao homem se justificava quando a
biologia era a única ferramenta de sobrevivência para ambos, mas quando os seres
humanos se tornam dotados de milhares de ferramentas tecnológicas para a sobrevivência
da espécie, a necessidade fisiológica da subordinação das mulheres perante aos homens
não é mais justificável.
Ou seja, se fragmenta o corpo feminino tal como se faz com uma coisa, algo a ser
consumido. Um outro exemplo da coisificação feminina se demonstra pela famosa gíria
de dizer que se irá “comer” uma mulher ao se referir ao ato sexual, caracterizando
hierarquia sexual, assim como a famosa fala de mulheres que foram abusadas, que dizem
ter se sentido como “um pedaço de carne”. Novamente à luz da leitura de Bourdieu, Pierre
pondera em sua obra que existe uma extrema significação antropológica de superioridade
masculina perante o feminino, e há então a criação de um imaginário coletivo em que a
mulher está presente em um ambiente de mundo que pertence aos homens e está ali
exclusivamente para os servir.
Michael J. Sandel, em sua obra “Justiça – o que é fazer a coisa certa” comenta
sobre conceitos de utilitarismo, defendidos por autores como John Stuart Mill e Jeremy
Bentham, que se baseiam na crença que devemos apoiar políticas que favoreçam a
maioria perante a minoria, mesmo que isso venha a significar a perca de direitos
individuais da minoria, a fim de atingir o máximo da felicidade humana. Para ilustrar,
Sandel escreve: “Bentham criou o conceito de utilidade precisamente para capturar, em
uma única escala, a natureza discrepante das coisas com as quais nos importamos,
incluindo o valor da vida humana.”, ou seja, Bentham classifica as vontades dos seres
humanos em um mesmo patamar: o desejo de uma mulher de não ser prostituída possui o
mesmo valor do desejo de um homem a fim de consumir sexo. Ao colocarmos uma
mulher prostituída, sofrendo muito, mas diante dela, muitos homens felizes por se
satisfazerem sexualmente ao violarem o seu corpo, essa medida é aceitável e incentivada,
3
Disponível em: https://www.theguardian.com/lifeandstyle/2008/feb/29/women.ukcrime
4
Disponível em: http://sexworkersproject.org/downloads/BehindClosedDoors.pdf
5
Disponível em: https://www.psychiatrictimes.com/articles/prostitution-sexual-
violence?fbclid=IwAR0S9M4KYTXJdEBXCMM3X0abBUlJNslJliPnt1D2oRkr0KUmbDKipqPKLjI
já que nos conceitos utilitaristas, mais homens felizes em prol de uma mulher sendo
violada está tudo bem. E são em argumentos utilitaristas que se baseiam a defesa de que
homens devem possuir o direito de comprar mulheres, que há compradores, há demanda
para a exploração sexual, e por isso a prostituição deve existir e ser incentivada.
Somente o homem considerado como pessoa, isto é, como sujeito de uma razão
prático-moral eleva-se acima de qualquer preço; pois como tal (homo noumenon)
tem de ser avaliado não meramente como meio para outros fins, nem mesmo para
seus próprios fins, mas como fim em si mesmo, isto é, ele possui uma dignidade
(um valor interno absoluto), pela qual ele constrange todos os outros seres
racionais do mundo a ter respeito por ele e pode medir-se com qualquer outro
dessa espécie e avaliado em pé de igualdade.
Tal trecho Kantiano diz a respeito da dignidade humana. Um ato é moral quando
ele diz a respeito do que é fazer o que é certo, ou seja, é possível afirmar que tratar a si e
o outro como um fim em si mesmo é um ato tanto de moralidade quanto de legalidade.
Mas quando um homem compra uma mulher, ele está tratando-a como um bel fim a seu
prazer, violando sua dignidade como pessoa. Porém, não faz sentido criminalizar a
conduta da mulher ao se prostituir pois ela não possui condições materiais de
sobrevivência se não aquilo. Aqui é defendido que não se deve criminalizar a mulher por
se prostituir pela situação de vulnerabilidade, mas a ação de violar o corpo do outro deve
ser punido. Atualmente na legislação brasileira, vender e comprar sexo não se classifica
como crime, mas a compra do sexo deve ser classificada em tipificação penal. Ou seja,
atualmente, o ato de comprar o corpo de outra pessoa em situação vulnerável está na
legalidade, mas não na moralidade. O ideal é que essa conduta não esteja nem mesmo na
legalidade, já que se trata de um ato de violência, de degradação social, que trata o outro
como um meio para a sua satisfação e coloca a mulher em situação de risco de morte, de
espancamento, assassinato entre diversas outras formas de abuso.
Subordinar, humilhar e degradar uma parcela da sociedade existe para um fim.
Este fim, no caso da subordinação feminina, é para que a classe masculina se mantenha
em um status de privilégio infindável, ou seja, em detrimento da dignidade humana das
mulheres, os homens terão acesso irrestrito ao corpo das mulheres, seja sexualmente, seja
no trabalho doméstico, seja no plano religioso e biológico em que se acredita que as
mulheres devem prover crias para seus maridos como forma de redenção pelo pecado
original. E a prostituição é uma forma de concretização destes valores que colocam a
mulher em um patamar degradante perante o homem.
Oscar Wilde, escritor irlandês, disse certa vez: “Tudo no mundo está relacionado
a sexo, exceto o próprio sexo. Sexo é sobre poder.”. A prostituição tudo tem a ver com
isso. O poder que o homem exerce sobre a mulher no sexo, a sensação de domínio é o
que faz a indústria do sexo funcionar. Por que tudo seria sobre sexo? Sigmund Freud já
teorizou acerca disso. O ser humano quer se perpetuar, tem a necessidade iminente de
expansão, e a forma mais próxima de conseguir se imortalizar é deixar uma prole, deixar
filhos. Memórias póstumas de Brás Cubas nos mostra isso. Por que Brás Cubas era tão
obcecado com o famoso Emplasto Brás Cubas? Um remédio que prometia a felicidade e
prolongamento da vida; Brás Cubas era obcecado com tal remédio pois sua outra forma
de ser imortalizado não foi possível em sua vida: “Não tive filhos, não transmiti a
nenhuma criatura o legado de nossa miséria.”. A ânsia desenfreada pelo poder move a
humanidade, por isso é tão importante falar sobre sistemas de opressão; poder é conseguir
definir o comportamento dos outros. Perpetuar um sistema que empurra mulheres para a
prostituição, para que elas vivam em um sistema de sub trabalho, em condições insalubres
de vida é uma forma de manutenção de poder. Um exemplo da vida insalubre que essas
mulheres e meninas sofrem são os bordéis legalizados em Bangladesh6, na Holanda e na
Alemanha.
Mia Khalifa foi uma atriz pornô que trabalho no ramo por poucos meses, mas que
ficou muito famosa por seu breve trabalho. Recentemente em suas redes sociais, Mia
declarou:
6
Disponível em: https://medium.com/qg-feminista/fotos-perturbadoras-revelam-a-vida-dentro-de-um-
bordel-legalizado-em-bangladesh-9c252a6f51e0
me feel like I wasn’t worthy unless a man desired me that
ultimately pushed me to do it.”
A pornografia e a prostituição andam de mãos dadas. Toda pornografia envolve a
prostituição, mas a pornografia tem suas peculiaridades, mas a violência intrínseca dessa
prática não deixa de existir. Mia Khalifa, que foi extremamente humilhada por sua breve
carreira pornográfica, e será estigmatizada pelo resto de sua vida. Em uma entrevista de
aproximadamente uma hora, Mia conta o como ela é definida pela sua sexualidade por
todos e em qualquer ambiente, que ela se sente invadida em todos os aspectos de sua vida.
Mia revelou que só fez 12.000 dólares com suas produções cinematográficas, pois
precisava de dinheiro; Mia é uma imigrante nos EUA, que encontrou na pornografia uma
forma de subsistência, e teve de pagar o preço de sobreviver com a sua própria dignidade,
com a sua vida. Não podemos continuar a permitir que essa história se repita com outras
meninas, e nesse exato momento, milhares de meninas estão vivendo essa realidade, uma
realidade de humilhação, estupros, espancamentos, manipulação psicológica, financeiras
e até de assassinatos.
A lei Gabriela Leite, proposta pelo deputado Jean Wyllys em 2012, em sua
essência, procura legalizar as casas de prostituição, permitindo, que esteja na legalidade
que o proxeneta fique com 50% do rendimento da mulher prostituída.
Art. 247. Incorre na obrigação de indenizar perdas e danos o devedor que recusar
a prestação a ele só imposta, ou só por ele exeqüível.
Dessa forma, com a redação da lei, se deixa a pessoa prostituída à obrigação de,
em caso de não cumprimento do “serviço sexual”, indenizar o seu abusador por perdas e
danos, sendo que essa recusa de prestação do serviço ocorre, na maioria das vezes, por
decorrência de violências cometidas pelo cliente perante à pessoa prostituída.
7
Disponível em:
https://books.google.com.br/books?id=ylvDq808__wC&pg=PA137&lpg=PA137&dq=cbia+500+mil+meni
nas+prostituidas&source=bl&ots=GJh5yHzIxh&sig=ACfU3U0RmaYGpduo_P_rurYtspLha9pjbA&hl=pt-
BR&sa=X&ved=2ahUKEwiY0ID_hYriAhUDHLkGHWiaA74Q6AEwAXoECAkQAQ#v=onepage&q&f=false
8
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm
Por ser uma legislação que busca a regulamentação da prática de prostituição
como um trabalho formal - vale lembrar que se prostituir no Brasil não é crime, e se é
permitido por lei orgânica municipal se declarar profissional autônomo a fim de gozar de
direitos trabalhistas -, e considera vedada a prática de exploração sexual, a legislação
proposta não reconhece a prostituição como um ato de exploração por si só, ignorando
então por completo a socialização feminina, a violência estrutural que essas mulheres
sofrem ao serem levadas à prostituição e quando estão nela. Não há separação de
exploração sexual e prostituição, a prostituição já é a própria exploração sexual em si.
The Transcrime report also noted that prostitution in Germany takes place
almost exclusively indoors, with 96.3 percent exploited in bars, brothels, private
services, and by escort services that go to private homes and hotel rooms. The
report states, “The indoormarket seems to be a little more violent than the outdoor
one.” Austria and Germany have legalized prostitution; Spain has decriminalized
aspects of the sex industry. The prevalence of violence against women in both
systems refutes the claim of sex work advocates that legal off-street prostitution
venues are safer.
II - coletivamente em cooperativa.
Parágrafo único. A casa de prostituição é permitida desde que nela não
se exerce qualquer tipo de exploração sexual
The National Police Service report specifies that the percentage of women
“working against their will” in the window brothels of all three cities investigated
is 50–90 percent. “Based on the most conservative estimate of 50 percent, this
amounts to 4,000 victims of human trafficking per year in Amsterdam alone.” La
Strada, the pro–sex work organization, which collects data on victims of
trafficking who seek assistance and shelter, reported that the number of registered
victims in 2011 was 23 percent more than in 2010 (from 993 to 1,222).
9
Disponível em: https://ressourcesprostitution.wordpress.com/2015/08/14/numbers-dont-lie-amnesty-
international-promotes-the-killing-of-women/ e também em https://www.sexindustry-
kills.de/doku.php?id=prostitutionmurders:start
10
Disponível em: https://www.dutchnews.nl/news/2013/05/cold_case_team_identities_poss/
11
Disponível em: https://www.feministcurrent.com/2015/11/03/remembering-the-murdered-women-
erased-by-the-pro-sex-work-agenda/
Art. 4º - O Capítulo V da Parte Especial do Decreto-Lei no 2.848, de 7
de dezembro de 1940, Código Penal, passa a vigorar com as seguintes alterações:
Rufianismo
Favorecimento da prostituição
Casa de prostituição
Art. 229. - Manter, por conta própria ou de terceiro, casa de prostituição ou lugar
destinado a encontros para fim libidinoso, haja, ou não, intuito de lucro ou
mediação direta do proprietário ou gerente:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
Rufianismo
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, além da multa e sem prejuízo da pena
correspondente à violência.
Tráfico de mulheres
(Revogado)
(Revogado)
No artigo 229, o autor da lei explicita que não seria crime a manutenção de casas
de prostituição, mas sim da manutenção de casas de prostituição em que se há exploração
sexual, sem que haja especificação legal de quais atos então se enquadrariam como
exploração sexual, caracterizando-se então uma norma em branco, assim como no artigo
230, em que apenas se tira a ilicitude de tirar proveito da prostituição, ocorrendo o mesmo
no artigo 230 e 230-A.
Porém é também importante ressaltar que, em 2016 o artigo 231 e 231-A foram
revogados pela Lei de nº 13.344, de 2016, sancionadas pelo ex-Presidente Michel Temer,
sendo que assim, atualmente, só há previsão de ilicitude para o tráfico de pessoas pelo
artigo 149-A, inciso V do código penal, deixando assim de existir legislação específica
para tráfico nacional e internacional de pessoas com finalidade de lucrar sobre a
exploração sexual alheia de forma detalhada e específica. A legislação anterior previa
com assertividade e ampla proteção às vítimas de tráfico nacional e internacional de
pessoas com tipificação penal detalhada, e no presente momento, a tipificação se mostra
como uma norma incompleta, que não dá proteção às vítimas e se caracteriza então como
uma norma em branco, sendo necessária a especificação exterior à norma do o que seria
exploração sexual.
Dessa forma, se transfere todo o ônus de provar que a mulher foi violada para a
própria vítima. Wyllys, na justificativa de projeto, declara que exploração sexual se
configura da seguinte forma: “(1) pela apropriação total ou maior que 50% do rendimento
da atividade sexual por terceiro(s); (2) pelo não pagamento do serviço sexual prestado
voluntariamente; ou (3) por forçar alguém a se prostituir mediante grave ameaça ou
violência.”. Diante disso, é possível perceber que Wyllys não consideraria exploração
sexual uma apropriação de por exemplo, 40% do rendimento da venda do corpo da mulher
prostituída, mas quando há apropriação de51%, há exploração sexual. Dessa forma, é
possível perceber que há uma monetização do o que é exploração sexual, coisificando o
corpo da mulher.
Even in the Netherlands few women are legally registered because they
want no record made of their prostitution. Interviews with women prostituted in
the Dutch-licensed sector reveal that the most important aspect of their “work” is
anonymity, and they rank it even higher than a regular income or salary. The same
reluctance to register or join unions is prevalent among women in prostitution in
Germany.
A OIT considera que, para que um trabalho seja considerado decente, ele deve ser
adequadamente remunerado, exercido em condições de liberdade, equidade e segurança,
que é capaz de garantir uma vida digna. Essa categoria de trabalho decente deve sempre
estar subordinado ao respeito ao respeito às normas internacionais do trabalho, em
especial aos princípios e direitos fundamentais do trabalho, a promoção do emprego de
qualidade, a extensão da proteção social e o fortalecimento do diálogo social. No que diz
a respeito às normas internacionais do trabalho, em especial aos princípios e direitos
fundamentais do trabalho, devemos então relembrar esses direitos fundamentais do
trabalho consagrados pela OIT12, que giram em torno da liberdade e direito da negociação
efetiva, a eliminação de todas as formas de trabalho forçado ou obrigatório, a abolição
efetiva do trabalho infantil e a eliminação da discriminação em matéria de emprego e
ocupação. É necessário analisar que, no presente projeto de lei, há a legalização da prática
proxeneta, deixando as pessoas prostituídas à mercê daquele que as exploram
sexualmente: é inviável a fiscalização de casas de prostituição, e como já citado aqui,
96,3% dos casos de violência sexual na prostituição na Alemanha, país citado pelo autor
do projeto de lei como modelo de legislação ao “trabalho sexual”, ocorre no interior de
bordéis, deixando essas pessoas completamente vulneráveis e suscetíveis à violência que
a lei supostamente luta contra. Pela ineficácia da fiscalização das práticas de exploração
sexual e infantil no interior de bordéis e a legalização da exploração sexual por outrem,
há a efetiva diminuição da proteção social das mulheres prostituídas, visto os altos índices
de violência contra a mulher prostituída.
Abolitionists not only have to challenge the sex industry, but they also find
themselves having to do battle with human rights organizations infected
by pro-prostitution myths and mythmakers. Many human rights advocates,
12
Disponível em: https://www.ilo.org/public/english/standards/declaration/declaration_portuguese.pdf
13
Disponível em: https://www.dw.com/pt-br/alemanha-tenta-lidar-com-prostitui%C3%A7%C3%A3o-
infantil-crescente/a-17001196
intentionally or not, lend support to the sex industry by supporting its goal
to normalize prostitution as work.
Assim, aqueles que lutam contra a exploração sexual das mulheres prostituídas
têm de lutar contra também as reivindicações de pessoas que, em nome dos direitos
humanos, propõem justamente legislações que atacam os direitos humanos das mulheres
prostituídas. Essa é, infelizmente uma consequência tanto jurídica quanto sociológica. A
sugestão da retirada da classificação da prostituição como exploração sexual deixa as
mulheres que estão na prostituição com cada mais vez mais vulnerabilidade social, a
legislação deixa então de abarcar os direitos dessas mulheres, tal como ocorreu com a
revogação dos artigos 231, 231-A e 232 do código penal, que tratava de forma ampla o
tráfico de pessoas com fim de exploração sexual e se converteu em apenas a tipificação
no artigo 149-A inciso V, sancionado pelo ex-presidente Michel Temer.
É possível então concluir que o projeto de lei que aqui se é analisado é uma grave
afronta à dignidade da pessoa humana, sendo uma legislação travestida de luta pelo direito
das mulheres na prostituição, quando na verdade, representa uma enorme afronta aos
direitos dessas mulheres. É necessário também apontar a incoerência de tal projeto de lei,
que visa a monetização do conceito de exploração sexual, da exposição de mulheres
prostituídas à situações de risco incluindo estupros, assassinatos e violências físicas, além
de promover a culpabilização da vítima perante as violências que estas sofrem, sendo
apenas classificadas como um mero risco ocupacional, não se levando em conta que, na
maioria das vezes em que essas mulheres se encontram na prostituição, elas se encontram
nessa situação por falta de escolha; se tivessem outras formas de subsistência, não iriam
recorrer à prostituição.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ideologia. São Paulo: EDUC: FAPESP, 2004.
BEAUVOIR, Simone. O segundo sexo. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1960a.
DWORKIN, Andrea. Woman Hating. New York: Penguin Books USA Inc., 1974.
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Francisco, 2013.
LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: Saraiva
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the global sex trade. Dulles, Virginia, Potomac Books. 2013.
SANDEL, Michael J. Justiça - O que é fazer a coisa certa. Rio de Janeiro, Civilização
Brasileira, 2012.
Sex Workers Project, Behind Closed Doors: An Analysis of Indoor Sex Work in New
York City. New York: Sex Workers Project at the Urban Justice Center, 2005.