Vous êtes sur la page 1sur 21

DELEGADO DA POLÍCIA FEDERAL

Disciplina: Direito Constitucional


Prof. Flávio Martins
Aula nº 01

MATERIAL DE APOIO – MONITORIA

Índice

1. Artigos Correlatos
1.1. Constituição material, opção política e cláusula pétrea
1.2. Interpretação constitucional e o desenvolvimento do ordenamento jurídico. Uma breve reflexão
2. Jurisprudência
2.1. Informativo 499 STF
3. Assista
3.1. O Preâmbulo da Constituição e a posição do STF
3.2. A República é cláusula pétrea?
4. Leia
4.1. Quais são os elementos da Constituição?
5. Simulados

1. ARTIGOS CORRELATOS

1.1. CONSTITUIÇÃO MATERIAL, OPÇÃO POLÍTICA E CLÁUSULA PÉTREA

Elaborado em 01.2008

Autor: Andrei Lapa de Barros Correia - procurador federal em Campina Grande (PB), lotado no órgão de
arrecadação da Procuradoria Geral da Fazenda

INTRODUÇÃO BREVE

Conversando com um amigo, que trabalha com o direito, colhi uma opinião interessante sobre idéias ex-
pressas anteriormente, em texto sobre o processo histórico, político e jurídico que culminou na constitui-
ção de 1988. Disse-me o estimado e respeitado crítico que eu tinha sido claro na exposição, mas que ti-
nha adotado conceito restritivo de constituição.

O presente escrito visa a enfocar o que é constituição, essencialmente, ou seja, materialmente. Daí, po-
de-se estabelecer em que consiste um conceito largo ou estreito de constituição. A abordagem faz-se pela
breve análise de instituto jurídico diretamente relacionado à supremacia da lei materialmente constitucio-
nal.

Por isso, optou-se por tratar da cláusula pétrea para o estabelecimento da intangibilidade de certas maté-
rias. Estes são temas indissociáveis da constituição, considerada norma superior do sistema jurídico e
fundamento de validade das demais.

Não se trata de fazer a defesa incondicional de postura kelseniana, senão de assumir que tal postura –
adotada declaradamente nos modelos que se autoproclamam de supremacia constitucional – deve ser
abordada com rigor de raciocínio. Se este modelo é o melhor, o autor não sabe – ou prefere não dizer –
mas é possível construir um sistema a partir dele.

Delegado da PF – Direito Constitucional – Flávio Martins - Aula n. 01


Constata-se que as interpretações constitucionais não têm tido compromisso com a premissa da supre-
macia constitucional e são conduzidas segundo casuísmos múltiplos. Decorre disso que todos afirmam a
supremacia da lei fundante, mas não se preocupam com o sentido de fundação político-institucional.

CLÁUSULA PÉTREA

A história não se petrifica. A disciplina do que existe e a programação do que existirá tampouco parecem
comportar petrificações. Daí é possível supor uma dificuldade enorme de pretender impor rigidez a toda
sorte de aspecto das inúmeras relações sociais juridicamente relevantes. Não obstante, mostrou-se con-
veniente salvaguardar das vicissitudes mais freqüentes uma parte dos fatos e atos importantes para a
coletividade.

O Estado deve prover – em maior e menor medida segundo o tempo e espaço – várias necessidades que
o conjunto de uma população deixada à própria sorte não proveria adequadamente. Com efeito, o maior
liberal – em sentido próprio do termo – não exclui o estado de sua teorização.

Uma vez que se assume a necessidade de existência do Estado, assume-se o problema de discutir e colo-
car suas limitações. Além das limitações, encontra-se o problema de configurá-lo e dotá-lo de uma previ-
sibilidade que é útil à sua própria permanência. Significa dizer que o jogo de detenção do poder é dinâmi-
co e rápido, mas suas regras devem ser minimamente previsíveis e, talvez mais importante, devem ter
um modelo pré-estabelecido de confecção.

Eis a essência do que se chama cláusula pétrea: preservação das opções político-institucionais fundamen-
tais à manutenção de um determinado modelo de acesso e exercício do poder. Neste ponto convém deixar
claro que essência não é o mesmo que tudo. Há um pequeno campo residual.

Verificando-se o que diz a constituição brasileira de 1988 a respeito, observa-se que a declaração de in-
tenções é relativamente coerente. Pretende-se que estão resguardadas a forma do Estado, a separação
dos poderes desse Estado e garantias individuais e coletivas mínimas de integridade física, econômicas e
culturais (ideológicas). Esse é um núcleo posto à parte do exercício do poder soberano do povo – por
meio de representantes eleitos – de legislar.

As matérias que não poderiam ser tratadas pelo legislador posterior ao constituinte ficam reservadas ao
poder originário, ou seja, àquele não condicionado por parâmetros jurídicos anteriores. Enfim, certos as-
suntos podem ser disciplinados, por exclusão, pelo legislador ordinário, segundo normas fixadas na cons-
tituição.

O problema que surge é a ampliação e a restrição do conceito de cláusula pétrea, muitas vezes dissociada
de uma abordagem sistemática e comprometida com a noção de constituição como lei política fundamen-
tal e superior às demais normas. Interpretar a constituição segundo casuísmos não é desviante se o obje-
to são suas normas mais flexíveis. Contudo, se as flexibilizações interpretativas dirigem-se à parte rela-
cionada à conformação do Estado, afronta-se a própria constituição.

A cláusula pétrea abriga, então, aquilo que somente o constituinte originário pode suprimir. Dito de forma
mais brusca, as matérias constitucionalmente intangíveis reservam-se aos rompimentos institucionais
muito próprios de golpes de estado e de revoluções. O poder constituinte derivado não as alcança, o que
conduz a uma conclusão assustadora para os mais formalistas: o poder soberano está muito além do
mandato popular conferido segundo regras jurídicas.

O caráter aparentemente aberto e genérico da enunciação das cláusulas pétreas não deve conduzir à sua
utilização oportunista, sob argumentos, ora de muita restritividade, ora de muita flexibilidade. Importa
buscar seu sentido exato, o que não se revela tarefa impossível sob parâmetros da teoria do Estado.

Elas relacionam-se à conformação do poder estatal e aos seus limites e não são propositivas, mas garan-
tidoras: primeiramente, do Estado contra sua fragmentação e deformação e; em segundo lugar, das pes-
soas contra os excessos do Estado. Trata-se de tentar evitar a desintegração do poder soberano e de evi-
tar que esse poder representado pelo Estado desintegre as esferas individuais.

Delegado da PF – Direito Constitucional – Flávio Martins - Aula n. 01


O constituinte híbrido de1988 foi bastante claro na enunciação das cláusulas pétreas, o que contrasta com
a prolixidade evidente da constituição. Em meio a enorme coleção de disposições materialmente inconsti-
tucionais, encontram-se as quatro restrições do artigo 60. Não se deliberará sobre emendas tendentes à
abolição da federação, do voto direto, secreto, universal e periódico, da separação dos poderes e dos di-
reitos e garantias individuais.

Por exclusão, todo o resto pode ser objeto de deliberação, o que convém dizer claramente porque criou-se
o hábito de criticar negativamente a constante feitura de emendas à constituição. Ora, se é possível fazê-
las e se uma constituição detalhista ao extremo obviamente implicaria constantes mudanças, não é razo-
ável o espanto.

As cláusulas pétreas relativas ao voto popular e aos direitos e garantias individuais parecem ser mais cla-
ras. A primeira não deixa margens e chega ao cuidado notável de garantir a periodicidade do voto. Reve-
la-se verdadeira cláusula de democracia representativa, algo que não foi objeto de muita atenção. Com
efeito, as atenções sempre se voltaram mais à intangibilidade da separação dos poderes, seja por interes-
ses corporativos imediatos, seja por arroubos de poder.

A segunda, aquela asseguradora dos direitos e garantias individuais, encontra sua explicitação no art. 5.
da mesma constituição. Este artigo, monumento à má técnica legislativa, não contém somente direitos e
garantias que se podem considerar intangíveis. A redação do art.60, parágrafo 4., inciso IV é expressa na
referência a direitos e garantias individuais. O rol do art. 5. contém direitos não propriamente individuais
que, a rigor, não se inserem na intangibilidade.

Além disso, muitos dos incisos do art. 5 prestam-se ao estabelecimento de formas de defesa ou exercício
dos direitos ali previstos. Tais detalhes não se podem considerar direitos e garantias, senão meios de se
proceder. Exemplificando: se há privação injusta de liberdade, pode-se pedir a órgão do judiciário ordem
de soltura, pouco importando o nome que se dê à ação, embora o constituinte tenha se ocupado de tais
batismos.

A defesa da forma federativa do Estado, enfaticamente, no nível de cláusula pétrea, trai a percepção qua-
se nunca declarada de sua enorme carga de artificialidade. A forma federativa adotou-se com o golpe de
1889 à reboque da república, embora a última não implicasse a primeira. Muitos atribuem o afã federativo
à imitação acrítica dos Estados Unidos da América, o que me parece bem razoável.

Após a instalação da república federativa, viu-se sua supressão em algumas oportunidades, sem maiores
problemas institucionais que tivessem causa direta nessa supressão. O federalismo tem dimensão efetiva
menor que a sua importância formal. Ajustou-se como maneira de estratificação do clientelismo político e
cumpre, assim, uma função inegavelmente útil.

A despeito de inúmeras considerações políticas e históricas possíveis sobre a forma federativa, é inegável
que se encontra alçada à condição de imutabilidade constitucional. Porém, a utilidade do formato e sua
natureza de cláusula pétrea servem bem à sua utilização meramente casuística pelos Estados federados,
mormente em matéria de repartição de receitas tributárias.

A despeito do divórcio da forma federativa com a história e da nítida prevalência da União, o constituinte
foi coerente ao abrigar-lhe da possibilidade de mudança por vontade constituinte derivado. Enfim, trata-
se da forma do Estado e de matéria nitidamente constitucional. Na verdade, os tipos e formas de Estado e
de Governo são as primeiras opções realmente constitucionais.

O constituinte, contudo, transpareceu haver opções mais relevantes, estabelecendo um plebiscito para
escolha do que chamou formas de governo – que seriam a monarquia ou a república constitucionais – e o
sistema de governo – que seriam o parlamentarismo ou o presidencialismo. A confusão terminológica e o
caráter de falsa consulta são óbvios, mas não tornam inútil a menção.

As opções aparentemente disponíveis ao eleitorado em sete de setembro de 1993 não se harmonizavam


automaticamente com a federação, cuja existência pressupunha-se a qualquer resultado. Ape-

Delegado da PF – Direito Constitucional – Flávio Martins - Aula n. 01


nas como exemplo, considere-se que um eventual resultado favorável à monarquia constitucional parla-
mentarista seria muito dificilmente harmonizável com a federação.

As considerações acima não se destinam a introduzir discussão e conclusões favoráveis a este ou aquele
formato, mas a deixar claro o tipo de matéria e de opção político institucional que caracterizam material-
mente uma norma constitucional. A constituição a salvo de mudanças posteriores é um núcleo que diz
respeito à conformação do Estado e à defesa dos cidadãos frente a esse Estado.

A cláusula da separação dos poderes é tributária de idéia um tanto fetichista, cuja leitura quase sempre é
restritiva. O constituinte teve a enorme felicidade de enunciá-la sem especificar quais são os poderes se-
parados. Na verdade, a soberania popular pode ser desdobrada em tantos poderes quantas forem as fun-
ções estatais convenientes a certo lugar e tempo.

Convém, todavia, que sejam separados os poderes, no sentido de poderem exercer suas funções próprias
com independência. Convém, ainda, lembrar – embora teoricamente óbvio – que separam-se poderes
estatais e, não se distingue a noção de soberania popular, fundamento do próprio estabelecimento da
separação. O poder constituinte originário pode julgar oportuno não estabelecer a divisão ora abordada.

Em muitos Estados, essa divisão é realizada de formas diversas, o que não se deveria esquecer para afas-
tar certa tendência a julgar a tripartição algo inescapável. A existência de poderes informais fundados na
detenção de capitais, por exemplo, serve para lembrar que há múltiplas nuances a penetrar a ordem for-
mal.

Novamente, a despeito de várias perspectivas possíveis de abordagem da questão, além do foco jurídico,
a colocação da separação dos poderes estatais entre as cláusulas pétreas é indicativo do tipo de matéria
merecedor de imutabilidade constitucional.

A divisão de poderes estabece-se segundo o critério de função a se desempenhar. Daí, a independência,


corolário da separação, existe para assegurar que a função será exercida adequadamente, a partir de cri-
térios próprios e pré-estabelecidos. Vista por outro lado, a separação de poderes estatais evidencia que os
poderes funcionais resultantes são partes do Estado e, consequentemente, buscam legitimidade institu-
cional na mesma norma fundante.

A tomada de uma decisão que se encontre no âmbito de um poder estatal não deve sofrer influências de
outro, nem devem os poderes deixarem acontecer a interpenetração de funções próprias, como forma de
disfarce da ineficiência altamente custosa de todos.

ALGUMAS CONCLUSÕES

As chamadas cláusulas pétreas apontam para o real sentido de constituição, pois são dotadas de algo
muito extremo: a pretensão de estar a salvo de qualquer modificação ordinária. Essa imutabilidade esta-
belece nítida diferença entre normas constitucionais. Umas, têm sua supremacia delimitada apenas por
aspectos formais, outras simplesmente não podem ser objeto de deliberação. A opção do constituinte ori-
ginário – independentemente de sê-lo em sentido próprio – revela-se nas cláusulas pétreas.

A rigidez constitucional é o indicativo seguro de seu núcleo de escolha político-institucional, ou seja, do


que é matéria de constituição. Sempre haverá margens de interpretação, umas utilizadas para buscar
sentidos reais, outras para obter posições relacionadas a interesses pontuais de certos grupos que se a-
propriam do Estado.

O Brasil vive situação de confusão de funções estatais, estabelecida e mantida em detrimento da popula-
ção que custeia o Estado. Superposições e ausências de funções e serviços estatais – a depender do cam-
po de cobertura que se visualize – ocorrem. Estranhamente, os próprios agentes da confusão institucional
invocam normas constitucionais, como a cláusula pétrea da separação de poderes, em defesa de inexis-
tentes violações.

Delegado da PF – Direito Constitucional – Flávio Martins - Aula n. 01


Essa apropriação errônea da separação dos poderes por interesses de corporações estatais anuncia um
déficit de deliberação democrática. Com efeito, a população, não é chamada a opinar se está de acordo
com o funcionamento e o custo dos serviços a que correspondem as funções estatais.

A resultante de tanto quanto foi dito não é visão restritiva de constituição, senão percepção de que núcleo
constitucional diz respeito a opções relativas à conformação do Estado e às garantias individuais. Os de-
mais assuntos tratados na constituição têm sua relevância aferida segundo critérios muito próximos da-
queles que balizam a legislatura ordinária.

As várias alterações promovidas na constituição brasileira de 1988 revelam a natureza ordinária da maio-
ria de seu texto, mais que a realização de mutilações sem critérios. É surpreendente notar que o núcleo
permanece e mostrou-se possível sua manutenção.

Fonte: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=10874

1.2. INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL E O DESENVOLVIMENTO DO ORDENAMENTO JURÍDI-


CO. UMA BREVE REFLEXÃO

Elaborado em 05.2010

Autor: Filipo Bruno Silva Amorim - Procurador Federal na Procuradoria-Regional Federal da 1ª Região co-
mo Coordenador de Matéria Administrativa. Graduado pela UFRN. Pós-graduado em Direito Constitucional
pela UNISUL-IDP-LFG. Mestrando em Direito e Políticas Públicas pelo CEUB.

Antes de adentrarmos ao tema proposto, mister observarmos alguns conceitos acerca do que vem a ser
"Constituição" no entendimento dos grandes constitucionalistas de ontem e de hoje, estrangeiros e pá-
trios.

No entendimento de Ferdinand Lassalle, a Constituição nada mais é do que a expressão dos fatores reais
de poder predominantes em um determinado lugar e tempo: "a verdadeira Constituição de um país so-
mente tem por base os fatores reais e efetivos do poder que naquele país vigem e as constituições escri-
tas não têm valor nem são duráveis a não ser que exprimam fielmente os fatores do poder que imperam
na realidade social: eis aí os critérios fundamentais que devemos sempre lembrar." (A Essência da Consti-
tuição, p. 40)

Já para Peter Härbele, citado pelo ilustre professor Inocêncio Mártires Coelho, "longe de ser um simples
estampido ou detonação originária que começa na hora zero, a Constituição escrita é, como ordem-
quadro da República, uma lei necessária, mas fragmentária, indeterminada e carecida de interpretação,
do que decorre, por outro lado, que a verdadeira Constituição será o resultado – sempre temporário e
historicamente condicionado – de um processo de interpretação conduzido à luz da publicidade." (Curso
de Direito Constitucional, p. 07)

Mais recentemente, J.J. Gomes Canotilho afirmou que "Por constituição moderna entende-se a ordena-
ção sistemática e racional da comunidade política através de um documento escrito no qual se declaram
as liberdade e os direitos e se fixam os limites do poder político. Podemos desdobrar este conceito de
forma a captarmos as dimensões fundamentais que ele incorpora: (1) ordenação jurídico-política plasma-
da num documento escrito; (2) declaração, nessa carta escrita, de um conjunto de direitos fundamentais
e do respectivo modo de garantia; (3) organização do poder político segundo esquemas tendentes a tor-
ná-lo um poder limitado e moderado. Este conceito de constituição converteu-se progressivamente num

Delegado da PF – Direito Constitucional – Flávio Martins - Aula n. 01


dos pressupostos básicos da cultura jurídica ocidental, a ponto de se ter chamado ‘conceito ocidental de
constituição’." (Direito Constitucional e Teoria da Constituição, p. 52).

Nas palavras de José Afonso da Silva, "A constituição do Estado, considerada sua lei fundamental, seria,
então, a organização dos seus elementos essenciais: um sistema de normas jurídicas, escritas ou costu-
meiras, que regula a forma do Estado, a forma de seu governo, o modo de aquisição e o exercício do po-
der, o estabelecimento de seus órgãos, os limites de sua ação, os direitos fundamentais do homem e as
respectivas garantias. Em síntese, a constituição é o conjunto de normas que organiza os elementos cons-
titutivos do Estado." (Curso de Direito Constitucional Positivo, p. 37-38)

Por fim, mas não menos importante, vejamos a conceituação atribuída à Constituição pelo grande profes-
sor Paulo Bonavides: "Do ponto de vista material, a Constituição é o conjunto de normas pertinentes à
organização do poder, à distribuição da competência, ao exercício da autoridade, à forma de governo, aos
direitos da pessoa humana, tanto individuais como sociais. Tudo quanto for, enfim, conteúdo básico refe-
rente à composição e ao funcionamento da ordem política exprime o aspecto material da Constituição."
(Curso de Direito Constitucional, p. 80)

Tentando extrair uma ideia comum aos conceitos acima reproduzidos, temos, salvo melhor juízo, que a
Constituição, como Lei Fundamental, é o documento publicamente consolidado, sempre condicionado no
tempo e no espaço – e, portanto, aos fatores reais de poder vigentes, embora a eles não se resuma –,
que visa organizar os elementos constitutivos do Estado, a saber, território, população e governo, bem
como declarar direitos tidos por fundamentais.

Neste contexto, tem-se por inquestionável que hodiernamente, em face do modelo político adotado pela
maioria das nações, especialmente as ocidentais – Estados Democrático de Direito –, a Constituição se
consubstancia na base do processo de criação e desenvolvimento do Ordenamento Jurídico, que é o con-
junto de normas legais que regem as relações intersubjetivas em uma dada comunidade/sociedade politi-
camente organizada.

Neste sentido, é de todos conhecida a lição do professor austríaco Hans Kelsen, que, na sua obra Teoria
Pura do Direito, lecionou: "A ordem jurídica não é um sistema de normas jurídicas ordenadas no mesmo
plano, situadas umas ao lado das outras, mas é uma construção escalonada de diferentes camadas ou
níveis de normas jurídicas. A sua unidade é produto da conexão de dependência que resulta do fato de a
validade de uma norma, cuja produção, por sua vez, é determinada por outra; e assim por diante, até
abicar finalmente na norma fundamental – pressuposta. A norma fundamental – hipotética, nestes termos
– é, portanto, o fundamento de validade último que constitui a unidade desta interconexão criadora." (Te-
oria Pura do Direito, p. 247)

Ora, se é da Constituição [01], Lei Fundamental, que todo o Ordenamento Jurídico retira seu fundamento
de validade, nada mais lógico que esse mesmo Ordenamento se desenvolva a partir dos preceitos inscul-
pidos dentro do texto constitucional.

Por outro lado, não é a Constituição, texto escrito, ou folha de papel, na dura expressão de Lassalle, que
promove o desenvolvimento de um Ordenamento Jurídico, mas a interpretação que dela se extrai [02]. O
interpretar a Constituição é que alavanca, impulsiona, desenvolve, faz evoluir o Ordenamento Jurídico, eis
que uma leitura diferente de um mesmo dispositivo/texto constitucional pode, e fatalmente irá, externar
norma diversa [03].

O mestre português, J.J. Gomes Canotilho, ao tratar da interpretação constitucional, leciona:


"Interpretar uma norma constitucional consiste em atribuir um significado a um ou vários símbolos lin-

Delegado da PF – Direito Constitucional – Flávio Martins - Aula n. 01


guísticos escritos na constituição com o fim de se obter uma decisão de problemas práticos normativo-
constitucionalmente fundada. Sugerem-se aqui três dimensões importantes da interpretação da constitui-
ção: (1) interpretar a constituição significa procurar o direito contido nas normas constitucionais; (2) in-
vestigar o direito contido na lei constitucional implica uma actividade – actividade complexa – que se tra-
duz fundamentalmente na ‘adscrição’ de um significado a um enunciado ou disposição lingüística (‘texto
da norma’); (3) o produto do acto de interpretar é o significado atribuído." (Direito Constitucional e Teoria
da Constituição, p. 1200-1201)
Neste sentido, emblemática a observação de Juan Fernando López Aguilar, citado pelo mestre Inocêncio
Mártires Coelho, de que "o direito constitucional já não é apenas o que prescreve o texto da Lei Maior,
mas também a bagagem de padrões hermenêuticos desse bloco normativo incorporada na jurisprudência
constitucional" (Curso de Direito Constitucional, p. 122). Tanto isso é verdade que as viragens de juris-
prudência – frutos de um amadurecimento Constitucional e que propiciam a extração num mesmo texto
normativo de normas completamente diversas das que se extraíra anteriormente – são fenômenos hoje
compreendidos e aceitos no meio jurídico.

Entretanto, há críticas acerca do desenvolvimento do direito, ou do Ordenamento Jurídico, por meio da


interpretação e integração (analogia) da norma, especialmente as vinculativas, ou seja, as executadas
pelo Poder Judiciário, quando tais exercícios hermenêuticos superam a própria norma objeto de interpre-
tação. Diz-se faltar legitimidade ao Poder Judiciário, que nesse sentido usurparia função eminentemente
legislativa, ferindo, portanto, o primado da separação dos Poderes [04]. Observe-se a lição posta pelo pro-
fessor Karl Larenz, verbis:
"Assinalámos como limite da interpretação, em sentido estrito, o sentido literal possível; como condição
prévia de um desenvolvimento do Direito imanente à lei, uma lacuna da lei; e como limite deste último, a
possibilidade de integrar a lacuna de acordo com a teleologia imanente à regulamentação legislativa, em
concordância com as valorações expressas na lei. Para isso dispõe-se, sobretudo, dos meios da analogia
particular e geral, do recurso a um princípio imanente à lei, da redução e extensão teleológicas e bem
assim de uma correcção teleologicamente fundamentada da lei. Condição prévia de um desenvolvimento
do Direito superador da lei é, em primeiro lugar, a existência de uma questão jurídica, quer dizer, de uma
questão que exige uma resposta jurídica. Deste modo se eliminam as questões que são irrelevantes para
a ordem jurídica, porque incidem no ‘espaço livre de Direito’. A segunda condição é que a questão não
possa ser resolvida nem por via de uma simples interpretação da lei nem de um desenvolvimento do Di-
reito imanente à lei, de maneira que satisfaça as exigências mínimas que resultam de uma necessidade
irrecusável do tráfego jurídico, da exigência de praticabilidade das normas jurídicas, da natureza das coi-
sas e dos princípios ético-jurídicos subjacentes à ordem jurídica no seu conjunto. A impossibilidade de
uma solução pela via de um desenvolvimento do Direito imanente à lei, que haja de ajustar-se a estas
exigências, tem que estar fora de dúvida. O limite do desenvolvimento do Direito superador da lei
levado a cabo pelos tribunais situa-se onde já não é possível uma resposta no quadro do con-
junto da ordem jurídica vigente e, por isso, não é possível com considerações especificamente
jurídicas; em especial, portanto, quando se trata de questões de oportunidade ou quando seja
requerida uma regulamentação pormenorizada que só o legislador pode encontrar, pois que só
ele dispõe das informações para tal necessárias e de legitimação para isso." (grifo nosso) (Meto-
dologia da Ciência do Direito, p. 606-607)
Vê-se, segundo a lição acima transcrita, que quando o tribunal já não encontra a resposta para a interpre-
tação ou integração da situação jurídica no sentido imanente à lei, as considerações e os questionamentos
deixam de ser eminentemente jurídicos e passam a entrar no campo próprio e particular do Poder Legisla-
tivo, a política. Nesse sentido, é que se afirma padecer de legitimidade referida atuação.

Delegado da PF – Direito Constitucional – Flávio Martins - Aula n. 01


Não discrepa do pensamento de Larenz o também professor alemão Konrad Hesse, que embora não trata
a questão sob a ótica da legitimação, afirma haver limites no próprio texto constitucional que impedem
sua ultrapassagem pela interpretação, senão observe-se:
"A interpretação acha-se vinculada a algo estabelecido. Por isso, os seus limites situam-se onde não exis-
te algo estabelecido de forma vinculante pela Constituição, onde terminam as possibilidades de uma com-
preensão lógica do texto da norma ou uma determinada solução está em clara contradição com esse tex-
to. A esse respeito ode haver disposições vinculantes no Direito Constitucional não escrito. Pois bem, dado
que o Direito Constitucional não escrito não pode achar-se em contradição com a constitutio scripta, esta
última se converte em limite inultrapassável da interpretação constitucional. A existência desse limite é
pressuposto da função racionalizadora, estabilizadora e limitadora do poder própria da Constituição. Tal
função admite a possibilidade de uma mudança constitucional (Verfassungswandel), mediante interpreta-
ção, mas exclui o enfraquecimento constitucional (Verassungsdurchbrechung) – desvio do texto num caso
concreto – e a reforma da Constituição por interpretação. Onde o intérprete se impõe à Constituição deixa
de interpretá-la para mudá-la ou enfraquecê-la. Qualquer dessas duas condutas é vedada pelo Direito
vigente." (Temas Fundamentais do Direito Constitucional, texto A Interpretação Constitucional, p. 116-
117)
Com efeito, há de existir limitações à capacidade inovadora e criativa do intérprete, especialmente quando
esse intérprete tem o poder de vincular, com a sua interpretação, a vida dos demais membros de uma
sociedade. Tal é o caso do Poder Judiciário. Contudo, não se deve fechar os olhos à importância da inter-
pretação para o desenvolvimento do direito. Com ela, embora as palavras (símbolos) do texto normativo
permaneçam as mesmas, o seu sentido (significado) pode ser alterado, de modo a coadunar o Ordena-
mento Jurídico às necessidades e anseios do Estado que o produziu. É essa característica que mantém,
embora perene com o passar dos anos, a atualidade do conteúdo do texto normativo, impedindo que a lei
ou mesmo a própria Constituição caia no ostracismo próprio a vetustos e inusuais signos linguísticos, in-
capazes de corresponder em significado às necessidades de uma sociedade cambiante.

No âmbito da Teoria da Constituição o fenômeno acima descrito restou denominado como "Mutação Cons-
titucional". Ao tratar do tema, Hesse expõe:
"Que devemos entender por mutação constitucional? Tanto o Tribunal Constitucional Federal como a dou-
trina atual entendem que uma mutação constitucional modifica, de que maneira for, o conteúdo das nor-
mas constitucionais de modo que a norma, conservando o mesmo texto, recebe uma significação diferen-
te. (...) Com isso, como se deduz do texto, uma mutação constitucional pode mudar tanto o conteúdo da
norma quanto a ‘situação constitucional’, tendo como resultado, nesta última hipótese, que a efetiva vi-
gência da norma constitucional (não modificada em seu conteúdo) é relegada. Ambas as manifestações
aparecem resumidas na observação de Kelsen de que o fato designado como ‘mutação constitucional’ –
consistente em que a aplicação das normas constitucionais modifica-se, lenta e imperceptivelmente,
quando às palavras que permanecem sem alteração no texto constitucional atribui-se um sentido distinto
do original, ou quando se produz uma prática em contradição com o texto e com qualquer sentido possí-
vel da Constituição – não é algo peculiar às normas constitucionais, mas um fenômeno constatável em
todos os âmbitos do Direito." (Temas Fundamentais do Direito Constitucional, texto A Interpretação Cons-
titucional, p. 151-152)
Nessa esteira, oportuno citar mais uma vez lição do professor Inocêncio Mártires Coelho que, certa feita,
lendo a Teoria Geral do Direito e do Estado de Hans Kelsen, deparou-se com a seguinte observação, atri-
buída pelo constitucionalista austríaco "a um certo bispo Hoadley, de que o verdadeiro legislador é aquele
que dispõe de autoridade absoluta para interpretar quaisquer normas jurídicas – sejam elas escritas ou
faladas –, e não a pessoa que por primeiro as escreveu ou transmitiu verbalmente, uma assertiva de res-
to semelhante à que formularam Hobbes e Perelman, para os quais o legislador (atual) não é

Delegado da PF – Direito Constitucional – Flávio Martins - Aula n. 01


aquele por cuja vontade se editaram as leis, mas aquele que, podendo revogá-las ou interpretá-las auten-
ticamente, as mantém em vigor com o sentido em que vêm sendo aplicadas." (Jurisdição constitucional:
posição institucional, legitimidade e legitimação. Estado constitucional de Direito ou Estado Judicial de
Direito? O poder normativo da jurisdição constitucional e o caso brasileiro: prejulgado da justiça do traba-
lho e súmula vinculante do STF, P. 10)

Noutro turno, ao tratar dos métodos de Interpretação constitucional, J.J. Gomes Canotilho explana acerca
do método tópico-problemático (tópoi: esquemas de pensamento, raciocínio, argumentação, lugares co-
muns, pontos de vista), que, salvo juízo diverso, muito se relaciona com o caráter democrático da inter-
pretação constitucional, litteris:
"O método tópico-problemático, no âmbito do direito constitucional, parte das seguintes premissas:
(1) carácter prático da interpretação constitucional, dado que, como toda a interpretação, procura resol-
ver os problemas concretos; (2) carácter aberto, fragmentário ou indeterminado da lei constitucional; (3)
preferência pela discussão do problema em virtude da open texture (abertura) das normas constitucionais
que não permitam qualquer dedução subsuntiva a partir delas mesmo.

A interpretação da constituição reconduzir-se-ia, assim, a um processo aberto de argumentação entre


vários participantes (pluralismo de intérpretes) através da qual se tenta adaptar ou adequar a norma
constitucional ao problema concreto. Os aplicadores-interpretadores servem-se de vários tópoi ou pontos
de vista, sujeitos à prova das opiniões pró ou contra, a fim de descortinar dentro das várias possibilidades
derivadas da polissemia de sentido do texto constitucional, a interpretação mais conveniente para o pro-
blema." (Direito Constitucional e Teoria da Constituição, p. 1211)
De igual modo, a festejada doutrina nos meios acadêmicos da "sociedade aberta dos intérpretes da Cons-
tituição", proclamada pelo mestre alemão Peter Härbele, também robustece a teoria defensora da cada
vez mais ampla participação de atores externos à relação angularizada do processo, de modo a conferir
maior legitimação às decisões tomadas pelas Cortes Constitucionais ao discutirem acerca da validade ou
não – materialmente enxergada – de normas provenientes de órgão/Poder [05] com competência conferida
pela própria Lei Fundamental para produzi-las.

Em três passagens extraídas de sua obra percebe-se de modo claro essa tendência à expansão dos legi-
timados à atividade interpretativa constitucional, o que provoca, por consequência lógica, uma democrati-
zação dos debates versados nas Cortes Constitucionais e, consequentemente, uma maior legitimação do
exercício hermenêutico realizado pelo Poder Judiciário. Observe-se o que leciona o insigne Professor de
Direito Público e de Filosofia do Direito da Universidade da Augsburg-RFA (grifos nossos):
"Nesse sentido, permite-se colocar a questão sobre os participantes do processo da interpretação: de uma
sociedade fechada dos intérpretes da Constituição para uma interpretação constitucional pela e para uma
sociedade aberta (Von der geschlossenen Gesellschaft der Verfassungsinterpreten zur Verfassungsinter-
pretation durch und für die offene Gesellshcaft).

Propõe-se, pois, a seguinte tese: no processo de interpretação constitucional estão potencial-


mente vinculados todos os órgãos estatais, todas as potência públicas, todos os cidadãos e
grupos, não sendo possível estabelecer-se um elenco cerrado ou fixado com numerus clausus
de intérpretes da Constituição.

Interpretação constitucional tem sido, até agora, conscientemente, coisa de uma sociedade fechada. Dela
tomam parte apenas os intérpretes jurídicos ‘vinculados às corporações’ (zünftmässige Interpreten) e a-
queles participantes formais do processo constitucional. A interpretação constitucional é, em realida-
de, mais um elemento da sociedade aberta. Todas as potências públicas, participantes materiais do
processo social, estão nela envolvidas, sendo ela, a um só tempo, elemento resultante da soci-

Delegado da PF – Direito Constitucional – Flávio Martins - Aula n. 01


edade aberta e um elemento formador ou constituinte dessa sociedade (...weil Verfassungsinterpretation
diese offene Gesellschaft immer von neuem mitkonstituiert unde von ihr konstituiert wird). Os critérios
de interpretação constitucional hão de ser tanto mais abertos quanto mais pluralista for a soci-
edade." [06]

(...)

"Todo aquele que vive o contexto regulado por uma norma e que vive com este contexto é, in-
direta ou, até mesmo diretamente, um intérprete dessa norma. O destinatário da norma é par-
ticipante ativo, muito mais ativo do que se pode supor tradicionalmente, do processo herme-
nêutico. Como não são apenas os intérpretes jurídicos da Constituição que vivem a norma, não detêm
eles o monopólio da interpretação da Constituição." [07]

(...)

"Tem-se aqui uma derivação da tese segundo a qual todos estão inseridos no processo de in-
terpretação constitucional, até mesmo aqueles que não são diretamente por ela afetados.
Quanto mais ampla for, do ponto de vista objetivo e metodológico, a interpretação constitucio-
nal, mais amplo há de ser o círculo dos que dela devam participar. É que se cuida de Constituição
enquanto processo público (Verfassung als öffentlichen Prozess). Diante da objeção de que a unidade da
Constituição se perderia com a adoção desse entendimento, deve-se observar que as regras básicas de
interpretação remetem ao ‘concerto’ que resulta da conjugação desses diferentes intérpretes da Constitui-
ção no exercício de suas funções específicas. A própria abertura da Constituição demonstra que não ape-
nas o constitucionalista participa desse processo de interpretação! A unidade da Constituição surge da
conjugação do processo e das funções de diferentes intérpretes. Aqui devem ser desenvolvidas reflexões
sob a perspectiva da Teoria da Constituição e da Teoria da Democracia." [08]
Vê-se, portanto, que quanto maior for a participação dos intérpretes da Constituição – entenda-se por
intérpretes, todos aquele que vivenciam a norma, seus reais destinatários – maior será o contorno demo-
crático da decisão tomada; consequentemente, maior legitimidade terá a Corte Constitucional para pro-
mover o desenvolvimento do Ordenamento Jurídico.

Destarte, pode-se concluir, em breves palavras, que a Constituição, expressão da Lei/Norma


Fundamental de qualquer Estado Democrático de Direito, é o substrato que alicerça, conferindo
fundamento e validade, todo Ordenamento Jurídico, bem como, que sua interpretação (com
abertura democrática), conduzida de forma vinculante pelas Cortes Constitucionais, é que, de
fato, propicia o desenvolvimento e a constante "(re)criação" desse mesmo Ordenamento.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:

1. BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 14ª ed. rev. e atual. – São Paulo: Ma-
lheiros, 2004.

2. CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. Coimbra:


Almedina, 2003, 7ª Ed.

3. COELHO, Inocêncio Mártires. Jurisdição constitucional: posição institucional, legitimidade e


legitimação. Estado constitucional de Direito ou Estado Judicial de Direito? O poder norma-
tivo da jurisdição constitucional e o caso brasileiro: prejulgado da justiça do trabalho e sú-
mula vinculante do STF. Material da 6ª aula da Disciplina da Teoria da Constituição e Her-

Delegado da PF – Direito Constitucional – Flávio Martins - Aula n. 01


menêutica Constitucional, ministrada no Curso de Pós-Graduação Lato Sensu TeleVirtual –
UNISUL/Rede LFG/IDP.

4. FERRAZ JÚNIOR, Tércio Sampaio. A Ciência do Direito. 2ª ed. São Paulo: Editora Atlas,
2006.

5. HÄBERLE, Peter. Hermenêutica Constitucional – Sociedade Aberta dos Intérpretes da Cons-


tituição: Contribuição para a Interpretação Pluralista e "Procedimental" da Constituição.
Tradução de Gilmar Ferreira Mendes. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 1997, re-
impressão: 2002.

6. HESSE, Konrad. Temas Fundamentais do Direito Constitucional; textos selecionados e tra-


duzidos por Carlos dos Santos Ameida, Gilmar Ferreira Mendes, Inocêncio Mártires Coelho,
São Paulo: Saraiva, 2009.

7. LARENZ, Karl. Metodologia da Ciência do Direito. 3ª Ed., Lisboa: Fundação Calouste Gulben-
kian, Tradução de José Lamego, 1997.

8. LASSALLE, Ferdinand. A Essência da Constituição. Coleção Clássicos do Direito, 8ª ed. – Rio


de Janeiro: Lúmen Júris, 2008.

9. MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet.
Curso de Direito Constitucional. 2ª ed. rev. e atual. – São Paulo: Saraiva, 2008.

10. SILVA, José Afonso da, Curso de Direito Constitucional Positivo. 23ª ed. rev. e atual. – São
Paulo: Malheiros, 2004.

NOTAS
1.
Neste sentido entenda-se que se está a referir ao plano das normas postas e não pressu-
postas.
2.
Segundo lição de Tércio Sampaio Ferraz Junior "É hoje um postulado quase universal da ci-
ência jurídica a tese de que não há norma sem interpretação, ou seja, toda norma é, pelo
simples fato de ser posta, passível de interpretação. (...) Esta concepção nos mostra um
ponto nuclear do desenvolvimento da ciência jurídica como teoria da interpretação. O pro-
blema básico da atividade jurídica não é apenas a configuração sistemática da ordem nor-
mativa, mas a determinação do seu sentido. Isto instaura as condições para o aparecimento
de um método peculiar, ligado à idéia de compreensão (que hoje nos permite falar em mé-
todo compreensivo) e de uma disputa em torno do objeto da própria teoria jurídica, visto,
de modo geral, como sendo os atos intencionais produtores do direito e, por isso mesmo,
dotados de um significado que deve ser elucidado." (A ciência do Direito, p. 68-70)
3.
Utilizando a imagem de uma "moldura", Kelsen discorre sobre a interpretação nos seguintes
termos: "Se por ‘interpretação’ se entende a fixação por via cognoscitiva do sentido do ob-
jeto a interpretar, o resultado de uma interpretação jurídica somente pode ser a fixação da
moldura que representa o Direito a interpretar e, conseqüentemente, o conhecimento das
várias possibilidades que dentro desta moldura existem. Sendo assim, a interpretação de
uma lei não deve necessariamente conduzir a uma única solução como sendo a única corre-
ta, mas possivelmente a várias soluções que – na medida em que apenas sejam

Delegado da PF – Direito Constitucional – Flávio Martins - Aula n. 01


aferidas pela lei a aplicar, têm igual valor, se bem que apenas uma delas se torne Direito
positivo no ato do órgão aplicador do Direito (...) não significa que ela é a norma individual,
mas apenas que é uma das normas individuais que podem ser produzidas dentro da moldu-
ra da norma geral." (Teoria Pura do Direito, p. 390-391)

4.
Constituição Federal de 1988 – Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos
entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.
5.
Art. 1º da Constituição: omissis, Parágrafo único. Todo Poder emana do povo, que o exerce
por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos esta Constituição.
6.
HÄBERLE, Peter. Hermenêutica Constitucional – Sociedade Aberta dos Intérpretes da Cons-
tituição: Contribuição para a Interpretação Pluralista e "Procedimental" da Constituição.
Tradução de Gilmar Ferreira Mendes. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 1997, re-
impressão: 2002, p. 12-13.
7.
HÄBERLE, Peter. Hermenêutica Constitucional – Sociedade Aberta dos Intérpretes da Cons-
tituição: Contribuição para a Interpretação Pluralista e "Procedimental" da Constituição.
Tradução de Gilmar Ferreira Mendes. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 1997, re-
impressão: 2002, p. 15.

8. HÄBERLE, Peter. Hermenêutica Constitucional – Sociedade Aberta dos Intérpretes da Cons-


tituição: Contribuição para a Interpretação Pluralista e "Procedimental" da Constituição.
Tradução de Gilmar Ferreira Mendes. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 1997, re-
impressão: 2002, p. 32-33.

Fonte: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=15016

2. JURISPRUDÊNCIA

2.1. Informativo 499 STF

TRANSCRIÇÕES

Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais aprofundada
do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham despertado ou
possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.

Ação Direta - Bloco de Constitucionalidade - Parâmetro de Confronto - Alteração Substancial Supervenien-


te - Impugnação Genérica - Inadmissibilidade (Transcrições)

ADI 514/PI*

RELATOR: MIN. CELSO DE MELLO

EMENTA: FISCALIZAÇÃO NORMATIVA ABSTRATA. REVOGAÇÃO TÁCITA DE UMA DAS NORMAS LEGAIS
IMPUGNADAS E MODIFICAÇÃO SUBSTANCIAL DO PARÂMETRO DE CONTROLE INVOCADO EM RELAÇÃO
AOS DEMAIS DIPLOMAS LEGISLATIVOS QUESTIONADOS. HIPÓTESES DE PREJUDICIALIDADE DA AÇÃO
DIRETA, QUANDO SUPERVENIENTES AO SEU AJUIZAMENTO. A NOÇÃO DE CONSTITUCIONALIDA-
DE/INCONSTITUCIONALIDADE COMO CONCEITO DE RELAÇÃO. A QUESTÃO PERTINENTE AO BLOCO DE

Delegado da PF – Direito Constitucional – Flávio Martins - Aula n. 01


CONSTITUCIONALIDADE. POSIÇÕES DOUTRINÁRIAS DIVERGENTES EM TORNO DO SEU CONTEÚDO. O
SIGNIFICADO DO BLOCO DE CONSTITUCIONALIDADE COMO FATOR DETERMINANTE DO CARÁTER CONS-
TITUCIONAL, OU NÃO, DOS ATOS ESTATAIS. IMPUGNAÇÃO GENÉRICA DEDUZIDA EM SEDE DE CONTRO-
LE ABSTRATO. INADMISSIBILIDADE. DEVER PROCESSUAL, QUE INCUMBE AO AUTOR DA AÇÃO DIRETA,
DE FUNDAMENTAR, ADEQUADAMENTE, A PRETENSÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE. SITUAÇÃO QUE
LEGITIMA O NÃO-CONHECIMENTO DA AÇÃO DIRETA. PRECEDENTES.

- A revogação superveniente do ato estatal impugnado, ainda que tácita, faz instaurar situação de preju-
dicialidade, que provoca a extinção anômala do processo de fiscalização abstrata de constitucionalidade.
Precedentes.

- Não se conhece da ação direta, sempre que a impugnação nela veiculada revelar-se destituída de fun-
damentação jurídica ou desprovida de motivação idônea e adequada. Em sede de fiscalização normativa
abstrata, não se admite impugnação meramente genérica de inconstitucionalidade, tanto quanto não se
permite que a alegação de contrariedade ao texto constitucional se apóie em argumentos superficiais ou
em fundamentação insuficiente. Lei nº 9.868/99, art. 4º, "caput". Precedentes.

- A definição do significado de bloco de constitucionalidade - independentemente da abrangência material


que se lhe reconheça (a Constituição escrita ou a ordem constitucional global) - reveste-se de fundamen-
tal importância no processo de fiscalização normativa abstrata, pois a exata qualificação conceitual dessa
categoria jurídica projeta-se como fator determinante do caráter constitucional, ou não, dos atos estatais
contestados em face da Carta Política.

- A superveniente alteração/supressão das normas, valores e princípios que se subsumem à noção concei-
tual de bloco de constitucionalidade, por importar em descaracterização do parâmetro constitucional de
confronto, faz instaurar, em sede de controle abstrato, situação configuradora de prejudicialidade da ação
direta, legitimando, desse modo - ainda que mediante decisão monocrática do Relator da causa (RTJ
139/67) -, a extinção anômala do processo de fiscalização concentrada de constitucionalidade. Doutrina.
Precedentes.

DECISÃO: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, ajuizada pelo Governador do Estado do Piauí,
com o objetivo de impugnar a validade jurídico-constitucional dos arts. 2º, "caput" e inciso V, 5º, 62 e
158 da Lei Complementar nº 2/1990; dos arts. 4º, § 2º, e 58 da Lei Complementar nº 3/1990; dos arts.
12, 17, e 28 da Lei Complementar nº 4/1990, todas editadas por essa unidade da Federação.

O eminente Procurador-Geral da República, em seu douto parecer (fls. 264/269), pronunciou-se pela ex-
tinção deste processo de controle normativo abstrato, fazendo-o em parecer que tem, no ponto, a seguin-
te fundamentação (fls. 267/269):

"6. Preliminarmente, verifica-se a prejudicialidade da ação quanto à impugnação a) dos artigos 2º, 'ca-
put'; e 62, da Lei Complementar nº 02/1990; b) dos artigos 4º, § 2º e 58, da Lei Complementar nº
03/1990; e, finalmente, c) do artigo 17, da Lei Complementar nº 04/1990 - que foram substancialmente
alterados pelas Leis Complementares Estaduais nº 09/1992, nº 11/1993 e nº 12/1993.
7. No tocante ao art. 5º, da Lei Complementar nº 02/1990, também impugnado na presente ação, cum-
pre esclarecer que a norma nele inserta - que submetia à apreciação do Poder Legislativo a proposta or-
çamentária do Ministério Público - restou tacitamente revogada, porquanto não foi reproduzida na Lei
Complementar nº 12/1993, que passou a estabelecer as normas de organização e funcionamento do Mi-
nistério Público do Estado do Piauí.
8. A presente ação direta também se encontra prejudicada quanto à impugnação do inciso V, do art 2º,
da Lei Complementar nº 02/1990, uma vez que o parâmetro de constitucionalidade supostamente viola-
do, o § 2º do art. 127 da Constituição Federal, sofreu alteração substancial em seu conteúdo com o ad-
vento da Emenda Constitucional nº 19, de 5 de junho de 1998, passando a vigorar com a seguinte reda-
ção:

'Art. 127 (...)


§ 2º Ao Ministério Público é assegurada autonomia funcional e administrativa, podendo, observado o dis-
posto no art. 129, propor ao Poder Legislativo a criação e extinção de seus cargos e serviços

Delegado da PF – Direito Constitucional – Flávio Martins - Aula n. 01


auxiliares, provendo-os por concurso público de provas ou de provas e títulos, a política remuneratória e
os planos de carreira; a lei disporá sobre sua organização e funcionamento.'

9. O mesmo se verifica quanto à impugnação do art. 28, da Lei Complementar nº 04/1990, pois a norma
inserta no artigo 93, VI, da Constituição Federal, supostamente violada, também foi substancialmente
alterada com a edição da Emenda Constitucional nº 20, de 16 de dezembro de 1998, tornando inviável o
controle concentrado da norma em face desse dispositivo constitucional.
10. Quanto à impugnação da expressão 'e remuneração' contida no art. 12, da LC nº 04/1990, cumpre,
inicialmente, esclarecer que, embora este artigo tenha sido alterado pela LC nº 09/1992, a expressão im-
pugnada foi mantida, razão pela qual não se verifica prejudicado o pedido quanto a esse dispositivo. Eis o
teor do dispositivo ora em vigor:

'Art. 12 - O Advogado Geral do Estado é o Chefe da Advocacia Geral do Estado e da Procuradoria Geral do
Estado, com prerrogativas e remuneração de Secretário de Estado, nomeado em comissão pelo Governa-
dor, dentre maiores de trinta anos, de notório saber jurídico e reputação ilibada.' (...).

11. Verifica-se, entretanto, que não merece ser conhecida a ação quanto à impugnação do artigo 12 da
Lei Complementar nº 04/1990, porquanto não expôs o requerente os fundamentos jurídicos do pedido
com relação ao mencionado dispositivo infraconstitucional, limitando-se a transcrevê-lo sem sequer apon-
tar a norma constitucional supostamente violada.
12. Ante o exposto, manifesta-se o Ministério Público Federal pelo não-conhecimento da ação quanto à
impugnação do artigo 12, da Lei Complementar nº 04/1990; e, em relação aos demais dispositivos hosti-
lizados, pela prejudicialidade da presente ação direta de inconstitucionalidade." (grifei)

Sendo esse o contexto, entendo aplicável, à espécie, o magistério jurisprudencial desta Suprema Corte,
cujas reiteradas decisões, no tema, têm reconhecido a ocorrência de prejudicialidade da ação direta,
quando, após o seu ajuizamento, sobrevém a cessação de eficácia das normas questionadas em referido
processo objetivo, como sucedeu, no caso, com o art. 5º da Lei Complementar estadual nº 02/90.

A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, a propósito de tal situação, tem enfatizado que a superve-
niente cessação de eficácia dos atos estatais impugnados em ação direta de inconstitucionalidade provoca
a extinção anômala do processo de controle normativo abstrato, independentemente da existência de e-
feitos residuais concretos que possam ter derivado da aplicação dos diplomas questionados (RTJ 153/13 -
RTJ 154/396-397 - RTJ 154/401 - RTJ 156/29 - RTJ 160/145 - RTJ 174/80-81, v.g.):

"- A cessação superveniente da eficácia da lei argüída de inconstitucional inibe o prosseguimento da ação
direta de inconstitucionalidade (...).
- A extinção anômala do processo de controle normativo abstrato, motivada pela perda superveniente de
seu objeto, tanto pode decorrer da revogação pura e simples do ato estatal impugnado, como do exauri-
mento de sua eficácia, tal como sucede nas hipóteses de normas legais destinadas à vigência temporária."
(RTJ 152/731-732, Rel. Min. CELSO DE MELLO)

"A revogação superveniente do ato estatal impugnado faz instaurar situação de prejudicialidade que pro-
voca a extinção anômala do processo de fiscalização abstrata de constitucionalidade, eis que a ab-rogação
do diploma normativo questionado opera, quanto a ele, a sua exclusão do sistema de direito positivo,
causando, desse modo, a perda ulterior de objeto da própria ação direta, independentemente da ocorrên-
cia, ou não, de efeitos residuais concretos."
(RTJ 195/752-754, 754, Rel. Min. CELSO DE MELLO)

Também tem razão o eminente Procurador-Geral da República, quando acentua a prejudicialidade desta
ação direta em decorrência de substancial alteração introduzida pela superveniente promulgação das E-
mendas Constitucionais nºs 19/98 e 20/98, cujo teor modificou o próprio parâmetro de controle alegada-
mente transgredido - segundo sustenta o autor - pelos diplomas legislativos em questão.

Tratando-se de fiscalização normativa abstrata, a questão pertinente à noção conceitual de parametrici-


dade - vale dizer, do atributo que permite outorgar, à cláusula constitucional, a qualidade de paradigma
de controle - desempenha papel de fundamental importância na admissibilidade, ou não, da

Delegado da PF – Direito Constitucional – Flávio Martins - Aula n. 01


própria ação direta (ou da ação declaratória de constitucionalidade), consoante já enfatizado pelo Plenário
do Supremo Tribunal Federal (RTJ 176/1019-1020, Rel. Min. CELSO DE MELLO).

Isso significa, portanto, que a idéia de inconstitucionalidade (ou de constitucionalidade), por encerrar um
conceito de relação (JORGE MIRANDA, "Manual de Direito Constitucional", tomo II, p. 273/274, item n.
69, 2ª ed., Coimbra Editora Limitada) - que supõe, por isso mesmo, o exame da compatibilidade vertical
de um ato, dotado de menor hierarquia, com aquele que se qualifica como fundamento de sua existência,
validade e eficácia - torna essencial, para esse específico efeito, a identificação do parâmetro de confron-
to, que se destina a possibilitar a verificação, "in abstracto", da legitimidade constitucional de certa regra
de direito positivo, a ser necessariamente cotejada em face da cláusula invocada como referência para-
digmática.

A busca do paradigma de confronto, portanto, significa, em última análise, a procura de um padrão de


cotejo que permita, ao intérprete, o exame da fidelidade hierárquico-normativa de determinado ato esta-
tal, contestado em face da Constituição.

Sendo assim, e quaisquer que possam ser os parâmetros de controle que se adotem - a Constituição es-
crita, de um lado, ou a ordem constitucional global, de outro (LOUIS FAVOREU/FRANCISCO RUBIO LLO-
RENTE, "El bloque de la constitucionalidad", p. 95/109, itens ns. I e II, 1991, Civitas; J. J. GOMES CANO-
TILHO, "Direito Constitucional", p. 712, 4ª ed., 1987, Almedina, Coimbra, v.g.) -, torna-se essencial, para
fins de viabilização do processo de controle normativo abstrato, que tais referências paradigmáticas en-
contrem-se, ainda, em regime de plena vigência, pois, como precedentemente assinalado, o controle de
constitucionalidade, em sede concentrada, não se instaura, em nosso sistema jurídico, em função de pa-
radigmas históricos, consubstanciados em normas que já não mais se acham em vigor, ou, embora vi-
gendo, tenham sofrido alteração substancial em seu texto.

É por tal razão que, em havendo a revogação superveniente (ou a modificação substancial) da norma de
confronto, não mais se justificará a tramitação do processo objetivo de fiscalização concentrada de consti-
tucionalidade.

Bem por isso, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, desde o regime constitucional anterior, tem
proclamado que tanto a superveniente revogação global da Constituição da República (RTJ 128/515 - RTJ
130/68 - RTJ 130/1002 - RTJ 135/515 - RTJ 141/786), quanto a posterior derrogação (ou alteração subs-
tancial) da norma constitucional (RTJ 168/436 - RTJ 169/834 - RTJ 169/920 - RTJ 171/114 - RTJ 172/54-
55 - RTJ 179/419 - ADI 296/DF - ADI 595/ES - ADI 905/DF - ADI 906/PR - ADI 1.120/PA - ADI 1.137/RS
- ADI 1.143/AP - ADI 1.300/AP - ADI 1.510/SC - ADI 1.885-QO/DF), por afetarem o paradigma de con-
fronto invocado no processo de controle concentrado de constitucionalidade, configuram hipóteses carac-
terizadoras de prejudicialidade da ação direta ou da ação declaratória, em virtude da evidente perda de
seu objeto:

"II - Controle direto de constitucionalidade: prejuízo.


Julga-se prejudicada, total ou parcialmente, a ação direta de inconstitucionalidade no ponto em que, de-
pois de seu ajuizamento, emenda à Constituição haja abrogado ou derrogado norma de Lei Fundamental
que constituísse paradigma necessário à verificação da procedência ou improcedência dela ou de algum
de seus fundamentos, respectivamente: orientação de aplicar-se no caso, no tocante à alegação de in-
constitucionalidade material, dada a revogação primitiva do art. 39, § 1º, CF 88, pela EC 19/98."
(RTJ 172/789-790, Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE - grifei)

"AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI ESTADUAL 3310/99. COBRANÇA DE CONTRIBUIÇÃO


PREVIDENCIÁRIA DE INATIVOS E PENSIONISTAS. EC 41/2003. ALTERAÇÃO SUBSTANCIAL DO SISTEMA
PÚBLICO DE PREVIDÊNCIA. PREJUDICIALIDADE.
......................................................
2. Superveniência da Emenda Constitucional 41/2003, que alterou o sistema previdenciário. Prejudiciali-
dade da ação direta quando se verifica inovação substancial no parâmetro constitucional de aferição da
regra legal impugnada. Precedentes.
Ação direta de inconstitucionalidade julgada prejudicada."
(ADI 2.197/RJ, Rel. Min. MAURÍCIO CORRÊA - grifei)

Delegado da PF – Direito Constitucional – Flávio Martins - Aula n. 01


"AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. INSTRUMENTO DE AFIRMAÇÃO DA SUPREMACIA DA OR-
DEM CONSTITUCIONAL. O PAPEL DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL COMO LEGISLADOR NEGATIVO. A
NOÇÃO DE CONSTITUCIONALIDADE/INCONSTITUCIONALIDADE COMO CONCEITO DE RELAÇÃO. A QUES-
TÃO PERTINENTE AO BLOCO DE CONSTITUCIONALIDADE. POSIÇÕES DOUTRINÁRIAS DIVERGENTES EM
TORNO DO SEU CONTEÚDO. O SIGNIFICADO DO BLOCO DE CONSTITUCIONALIDADE COMO FATOR DE-
TERMINANTE DO CARÁTER CONSTITUCIONAL, OU NÃO, DOS ATOS ESTATAIS. NECESSIDADE DA VIGÊN-
CIA ATUAL, EM SEDE DE CONTROLE ABSTRATO, DO PARADIGMA CONSTITUCIONAL ALEGADAMENTE VIO-
LADO. SUPERVENIENTE MODIFICAÇÃO/SUPRESSÃO DO PARÂMETRO DE CONFRONTO. PREJUDICIALIDA-
DE DA AÇÃO DIRETA.
- A definição do significado de bloco de constitucionalidade - independentemente da abrangência material
que se lhe reconheça - reveste-se de fundamental importância no processo de fiscalização normativa abs-
trata, pois a exata qualificação conceitual dessa categoria jurídica projeta-se como fator determinante do
caráter constitucional, ou não, dos atos estatais contestados em face da Carta Política.
- A superveniente alteração/supressão das normas, valores e princípios que se subsumem à noção concei-
tual de bloco de constitucionalidade, por importar em descaracterização do parâmetro constitucional de
confronto, faz instaurar, em sede de controle abstrato, situação configuradora de prejudicialidade da ação
direta, legitimando, desse modo - ainda que mediante decisão monocrática do Relator da causa (RTJ
139/67) - a extinção anômala do processo de fiscalização concentrada de constitucionalidade. Doutrina.
Precedentes."
(ADI 595/ES, Rel. Min. CELSO DE MELLO, "Informativo/STF" nº 258/2002)

Cumpre ressaltar, por necessário, que essa orientação jurisprudencial reflete-se no próprio magistério da
doutrina (CLÈMERSON MERLIN CLÈVE, "A Fiscalização Abstrata da Constitucionalidade no Direito Brasilei-
ro", p. 225, item n. 3.2.6, 2ª ed., 2000, RT; OSWALDO LUIZ PALU, "Controle de Constitucionalidade -
Conceitos, Sistemas e Efeitos", p. 219, item n. 9.9.17, 2ª ed., 2001, RT; GILMAR FERREIRA MENDES,
"Jurisdição Constitucional", p. 176/177, 2ª ed., 1998, Saraiva), cuja percepção do tema ora em exame
põe em destaque, em casos como o destes autos, que a superveniente alteração da norma constitucional
revestida de parametricidade importa na configuração de prejudicialidade do processo de controle abstra-
to de constitucionalidade, eis que, como enfatizado, o objeto do processo de fiscalização abstrata resume-
se, em essência, ao controle da integridade da ordem constitucional vigente.

Vê-se, desse modo, que a promulgação das Emendas Constitucionais nºs 19/98 e 20/98, ocorrida em
momento posterior ao do ajuizamento da presente ação direta, importou em alteração substancial das
cláusulas de parâmetro invocadas para justificar a instauração deste processo de controle normativo abs-
trato, ensejando, assim, o reconhecimento - tal como preconizado pelo eminente Procurador-Geral da
República - de uma típica situação caracterizadora de prejudicialidade apta a gerar a extinção anômala
desta causa.

Resta verificar, agora, se se revela viável, processualmente, a impugnação genérica deduzida contra o
art. 12 da Lei Complementar nº 04/90, editada pelo Estado do Piauí.

O eminente Procurador-Geral da República, ao opinar pelo não-conhecimento desta ação direta quanto a
referido preceito normativo, enfatizou, com razão, que o autor, ao deduzir a sua pretensão de inconstitu-
cionalidade, "não expôs (...) os fundamentos jurídicos do pedido com relação ao mencionado dispositivo
infraconstitucional, limitando-se a transcrevê-lo, sem sequer apontar a norma constitucional supostamen-
te violada" (grifei).

Cumpre ter presente, neste ponto, considerado o que dispõe o art. 3o, I, da Lei nº 9.868/99, que não se
conhece da ação direta, sempre que a impugnação nela deduzida revelar-se destituída de fundamentação
jurídica, tal como ocorre, no caso, em relação ao art. 12, "caput", da Lei Complementar nº 04/90.

Cabe ressaltar, na linha da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, que nada pode justificar uma ale-
gação meramente genérica de ofensa à Constituição, pois incumbe, a quem faz tal afirmação, o dever de
indicar, fundamentadamente, as razões justificadoras do suposto vício de inconstitucionalidade.

Delegado da PF – Direito Constitucional – Flávio Martins - Aula n. 01


O Senhor Governador do Estado do Piauí, ao pretender a decretação de inconstitucionalidade do "caput"
do art. 12 da Lei Complementar nº 04/90, deixou de fundamentar tal argüição.

Ao compulsar-se a petição inicial (fls. 02/21), constata-se que o autor simplesmente não expôs qualquer
fundamento jurídico que desse suporte à tese da inconstitucionalidade material do "caput" do art. 12 da
Lei Complementar nº 04/90.

É certo que o Supremo Tribunal Federal não está condicionado, no desempenho de sua atividade jurisdi-
cional, pelas razões de ordem jurídica invocadas como suporte da pretensão de inconstitucionalidade de-
duzida pelo autor da ação direta. Tal circunstância, no entanto, não suprime, à parte, o dever processual
de motivar o pedido e de identificar, na Constituição, em obséquio ao princípio da especificação das nor-
mas, os dispositivos alegadamente violados pelo ato normativo que pretende impugnar. Impõe-se, ao
autor, no processo de controle concentrado de constitucionalidade, indicar as normas de referência - que
são aquelas inerentes ao ordenamento constitucional e que se revestem, por isso mesmo, de parametrici-
dade - em ordem a viabilizar, com apoio em argumentação consistente, a aferição da conformidade verti-
cal dos atos normativos de menor hierarquia.

Quaisquer que possam ser os parâmetros de controle que se adotem - a Constituição escrita ou a ordem
constitucional global (J. J. GOMES CANOTILHO, "Direito Constitucional", p. 712, 4a ed., 1987, Almedina,
Coimbra) -, não pode o autor deixar de referir, para os efeitos mencionados, quais as normas, quais os
princípios e quais os valores efetiva ou potencialmente lesados por atos estatais revestidos de menor grau
de positividade jurídica, sempre indicando, ainda, os fundamentos, a serem desenvolvidamente expostos,
subjacentes à argüição de inconstitucionalidade.

Esse dever de fundamentar a argüição de inconstitucionalidade onera e incide sobre aquele que faz tal
afirmação, assumindo, por isso mesmo, um caráter de indeclinável observância (ADI 561/DF, Rel. Min.
CELSO DE MELLO).

Não cabe, desse modo, ao Supremo Tribunal Federal, substituindo-se ao autor, suprir qualquer omissão
que se verifique na petição inicial. Isso porque a natureza do processo de ação direta de inconstitucionali-
dade, que se revela instrumento de grave repercussão na ordem jurídica interna, impõe maior rigidez no
controle dos seus pressupostos formais (RTJ 135/19, Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE - RTJ 135/905, Rel.
Min. CELSO DE MELLO).

A magnitude desse excepcional meio de ativação da jurisdição constitucional concentrada do Supremo


Tribunal Federal impõe e reclama, até mesmo para que não se degrade em sua importância, uma atenta
fiscalização desta Corte, que deve impedir que o exercício de tal prerrogativa institucional, em alguns ca-
sos, venha a configurar instrumento de instauração de lides constitucionais temerárias.

A omissão do autor - que deixou de indicar as razões consubstanciadoras da alegada ilegitimidade consti-
tucional do "caput" do art. 12 da Lei Complementar nº 04/90 - faz com que essa conduta processual inci-
da na restrição fixada pela jurisprudência do Supremo Tribunal Federal que não admite argüições de in-
constitucionalidade, quando destituídas de fundamentação ou desprovidas de motivação específica e sufi-
cientemente desenvolvida.

Considerada a jurisprudência desta Suprema Corte - que deu causa à formulação da regra inscrita no art.
3o, I, da Lei nº 9.868/99 -, não se pode conhecer de ação direta, sempre que a impugnação nela veicula-
da, como ocorre na espécie, revelar-se destituída de fundamentação ou quando a argüição de inconstitu-
cionalidade apresentar-se precária ou insuficientemente motivada.

A gravidade de que se reveste o instrumento de controle normativo abstrato impõe, àquele que possui
legitimidade para utilizá-lo, o dever processual de sempre expor, de modo suficientemente desenvolvido,
as razões jurídicas justificadoras da alegação de inconstitucionalidade.

É que, em sede de fiscalização concentrada, não se admite afirmação meramente genérica de inconstitu-
cionalidade, tanto quanto não se permite que a alegação de contrariedade ao texto constitucional se apóie
em argumentos superficiais ou em fundamentação insuficiente.

Delegado da PF – Direito Constitucional – Flávio Martins - Aula n. 01


Essa orientação tem prevalecido, em tema de fiscalização normativa abstrata, na jurisprudência do Su-
premo Tribunal Federal, que, por mais de uma vez, deixou de conhecer de ações diretas, seja por falta de
motivação específica, seja por insuficiência ou deficiência da própria fundamentação (RTJ 177/669, Rel.
Min. MAURÍCIO CORRÊA - ADI 561/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO - ADI 2.111/DF, Rel. Min. SYDNEY
SANCHES):

"É necessário, em ação direta de inconstitucionalidade, que venham expostos os fundamentos jurídicos do
pedido com relação às normas impugnadas, não sendo de admitir-se alegação genérica de inconstitucio-
nalidade sem qualquer demonstração razoável, nem ataque a quase duas dezenas de medidas provisórias
em sua totalidade com alegações por amostragem."
(RTJ 144/690, Rel. Min. MOREIRA ALVES - grifei)

"AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - CAUSA DE PEDIR E PEDIDO - Cumpre ao autor da ação


proceder à abordagem, sob o ângulo da causa de pedir, dos diversos preceitos atacados, sendo impróprio
fazê-lo de forma genérica. A flexibilidade jurisprudencial de autora não mais se justifica, isso diante do
elastecimento constitucional do rol dos legitimados para a referida ação."
(ADI 1.708/MT, Rel. Min. MARCO AURÉLIO - grifei)

"Insuficiência de fundamentação da inicial dado o número de dispositivos legais alterados pela Medida
Provisória, sem que se particularize, pontualmente, como convém, a motivação a justificar a declaração
de sua invalidade. Ação direta de inconstitucionalidade não conhecida, por falta de motivação específica
quanto à pretendida declaração de inconstitucionalidade."
(RTJ 173/466, Rel. Min. NÉRI DA SILVEIRA - grifei)

Nem se diga que, em ocorrendo situação como a ora exposta, impor-se-ia ao Tribunal o dever de ensejar,
ao autor, a possibilidade de complementar a petição inicial.

Tal providência não se revela processualmente viável, porque a Lei nº 9.868/99 - que dispõe sobre o pro-
cesso e o julgamento da ação direta de inconstitucionalidade e da ação declaratória de constitucionalidade
- estabelece que a ausência de fundamentação autoriza o indeferimento liminar da petição inicial, por o-
corrência do vício grave da inépcia.

Na realidade, a Lei nº 9.868/99, ao dispor sobre essa conseqüência de ordem processual, assim prescreve
em seu art. 4º, "caput": "A petição inicial inepta, não fundamentada e a manifestamente improcedente
serão liminarmente indeferidas pelo relator" (grifei).

Cabe ter presente, no ponto, no sentido desta decisão, o julgamento plenário da ADI 1.775/RJ, Rel. Min.
MAURÍCIO CORRÊA (RTJ 177/669), na parte em que esta Corte afastou a proposta de que se deveria en-
sejar, ao autor, a oportunidade de aditar a petição inicial, quando deficientemente fundamentada.

Sendo assim, e presentes tais razões, não conheço desta ação direta, no ponto em que, sem qualquer
fundamentação, o autor questionou a constitucionalidade do "caput" do art. 12 da Lei Complementar nº
04/90, julgando-a prejudicada, de outro lado, no que concerne aos demais preceitos normativos que fo-
ram impugnados nesta sede de controle abstrato.

A inviabilidade da presente ação direta, em decorrência das razões mencionadas, impõe uma observação
final: no desempenho dos poderes processuais de que dispõe, assiste, ao Ministro-Relator, competência
plena para exercer, monocraticamente, o controle das ações, pedidos ou recursos dirigidos ao Supremo
Tribunal Federal, legitimando-se, em conseqüência, os atos decisórios que, nessa condição, venha a prati-
car.

Cabe acentuar, neste ponto, que o Pleno do Supremo Tribunal Federal reconheceu a inteira validade cons-
titucional da norma legal que inclui, na esfera de atribuições do Relator, a competência para negar trânsi-
to, em decisão monocrática, a recursos, pedidos ou ações, quando incabíveis, inviáveis, intempestivos,
sem objeto ou que veiculem pretensão incompatível com a jurisprudência predominante do Tribunal (RTJ
139/53 - RTJ 168/174-175).

Delegado da PF – Direito Constitucional – Flávio Martins - Aula n. 01


Impõe-se enfatizar, por necessário, que esse entendimento jurisprudencial é também aplicável aos pro-
cessos de ação direta de inconstitucionalidade (ADI 563/DF, Rel. Min. PAULO BROSSARD - ADI 593/GO,
Rel. Min. MARCO AURÉLIO - ADI 2.060/RJ, Rel. Min. CELSO DE MELLO - ADI 2.207/AL, Rel. Min. CELSO
DE MELLO - ADI 2.215/PE, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.), eis que, tal como já assentou o Plenário do
Supremo Tribunal Federal, o ordenamento positivo brasileiro "não subtrai, ao Relator da causa, o poder de
efetuar - enquanto responsável pela ordenação e direção do processo (RISTF, art. 21, I) - o controle pré-
vio dos requisitos formais da fiscalização normativa abstrata, o que inclui, dentre outras atribuições, o
exame dos pressupostos processuais e das condições da própria ação direta" (RTJ 139/67, Rel. Min. CEL-
SO DE MELLO).

Sendo assim, em face das razões expostas, e acolhendo, ainda, o parecer do eminente Procurador-Geral
da República, não conheço da presente ação direta quanto ao art. 12 da Lei Complementar nº 04/90 do
Estado do Piauí, julgando-a prejudicada no que se refere aos demais preceitos normativos ora questiona-
dos. Em conseqüência, declaro extinto este processo de controle normativo abstrato, restando insubsis-
tente a medida cautelar anteriormente deferida (fls. 61/110).

Comunique-se, após o trânsito em julgado da presente decisão.

Arquivem-se os presentes autos.

Publique-se.

Brasília, 24 de março de 2008.

Ministro CELSO DE MELLO


Relator

* decisão publicada no DJE de 31.3.2008

Substância Entorpecente - Porte - Crime Militar - Aplicabilidade da Norma Penal mais Benéfica (Transcri-
ções)

HC 94085 MC/SP*

3. ASSISTA!!!

3.1. O Preâmbulo da Constituição e a posição do STF

http://www.lfg.com.br/public_html/article.php?story=20080610094103734

3.2. A República é cláusula pétrea?

http://www.lfg.com.br/public_html/article.php?story=20080605102043527

4. LEIA!!!

4.1. QUAIS SÃO OS ELEMENTOS DA CONSTITUIÇÃO?

Elaborado em 01.08.2008

Autora: Ariane Fucci Wady

Delegado da PF – Direito Constitucional – Flávio Martins - Aula n. 01


Conforme classificação elaborada por José Afonso da Silva, as normas constitucionais podem ser diferen-
ciadas ou separadas em diversas categorias levando-se em conta a sua estrutura normativa e conteúdo,
sendo que essas "categorias" são denominadas de "elementos". São eles:

a) elementos orgânicos, que contêm normas que regulam a estrutura do Estado e do Poder, que se
concentram, predominantemente, nos Títulos II (Da organização do Estado), IV (Da organização dos Po-
deres e Sistemas de Governo), Capítulos II e III, do Título V (Das Forças Armadas e da Segurança Públi-
ca) e VI ( Da Tributação e do Orçamento);

b) elementos limitativos, que se manifestam nas normas que consagram o elenco dos direitos e garan-
tias fundamentais (do Título II da Constituição- Dos Direitos e Garantias Fundamentais), excetuando-se
os Direitos Sociais, que entram na categoria seguinte;

c) elementos sócio-ideológicos, consubstanciados nas normas que revelam o caráter de compromisso


das Constituições modernas entre o Estado individualista e o Estado Social, intervencionista, como as do
Capítulo II do Título II (Direitos Sociais) e as dos Títulos VII (Da Ordem Econômica e Financeira) e VIII
(Da Ordem Social);

d) elementos de estabilização constitucional, consagrados nas normas destinadas a assegurar a so-


lução de conflitos constitucionais, a defesa da Constituição, do Estado e das instituições democráticas,
como os encontrados nos arts. 34 a 36, CF, os arts. 59, I e 60 (processo de emendas à Constituição), art.
102, I. "a" (controle de constitucionalidade);

e) elementos formais de aplicabilidade, que são os que se acham consubstanciados nas normas que
estabelecem regras de aplicação das normas constitucionais, assim, o preâmbulo, o dispositivo que con-
tém as cláusulas de promulgação, as disposições constitucionais transitórias e o § 1°, art. 5°, que deter-
mina que as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicabilidade imediata.

Fonte: http://www.lfg.com.br/public_html/article.php?story=20080729091428424

5. SIMULADOS

5.1. Acerca da classificação das constituições, assinale a opção correta.

a) Constituições históricas são aquelas concisas, veiculadoras apenas dos princípios fundamentais e estru-
turais do Estado, sem estabelecer muitos detalhes.
b) Constituição analítica é aquela constituição fruto do trabalho de uma assembléia nacional constituinte
eleita diretamente pelo povo, para, em nome dele, atuar.
c) Constituições semi-rígidas (ou semiflexíveis) são as que exigem, para a sua alteração, um processo
legislativo mais árduo, mais solene, mais dificultoso que o processo de alteração das normas não-
constitucionais.
d) Classificam-se como consuetudinárias as constituições formadas por um conjunto de regras sistemati-
zadas e organizadas em um único documento, estabelecendo as normas fundamentais de um Estado.
e) Constituições outorgadas são constituições impostas, de maneira unilateral, pelo agente revolucionário
(grupo ou governante), que não recebeu do povo a legitimidade para atuar em nome dele.

5.2. O princípio da supremacia da Constituição em face das demais normas que compõem o ordenamento
jurídico estatal, é característico das Constituições

a) sintéticas.
b) rígidas.
c) flexíveis.
d) costumeiras.
e) analíticas.

Delegado da PF – Direito Constitucional – Flávio Martins - Aula n. 01


5.3. A Constituição que é votada por uma Assembléia composta de representantes do povo e que admite
ser modificada, exigindo porém um processo legislativo mais solene e dificultoso do que aquele seguido
para a edição de leis ordinárias é chamada de:

a) Constituição promulgada e rígida.


b) Constituição flexível e dogmática.
c) Constituição dogmática e semi-rígida.
d) Constituição promulgada e semi-rígida.
e) Constituição outorgada e rígida.

GABARITO

5.1. E
5.2. B
5.3. A

Delegado da PF – Direito Constitucional – Flávio Martins - Aula n. 01

Vous aimerez peut-être aussi