Vous êtes sur la page 1sur 5

Feira de Santana, 11 de Agosto de 2017

Queridos,

Escrevo essas traçadas linhas, baseando-se em minha experiência como professor de uma
escola pública. Quando ainda no ensino médio, nascia em mim a vontade de lecionar, até
então, só a vontade mesmo, quando concluí o ensino médio, adentrei na universidade,
cursando filosofia, naquele curso, com as disciplinas iniciais me incentivou a levar a frente
esse “sonho”. Bem, em 2014 comecei a lecionar na escola em que eu havia estudado, achei
um espetáculo, até pensei: “ah, vou ser professor e vou ser diferente dos que já tive”.
No meu primeiro dia de aula, de inicio fui todo municiado contra os alunos, munição essa,
dada pelos professores, dentre algumas: “Aquela sala só tem o que não presta”, “fulano não
vale nada”, dentre outras munições. Então fui para a sala (1° horário), conhecia quase
todos os alunos, não houve problemas para mim com essa turma, como afirmam terem
problemas com eles, apenas conversa que pela idade é algo natural. Detalhe, lecionava
língua portuguesa e filosofia.
Minha segunda sala, “affs”, que tédio, de vinte alunos, apenas dois participavam, odiei
aquela turma, me perguntei: “O que vou fazer com eles?”, no momento, não me veio
respostas... Parti para a terceira sala, 5ª série, a sala era um verdadeiro “brega”, meninos
passando mãos em partes intimas das meninas, e essas por sua vez, sentando em seus
colos, adolescentes de no máximo 15 anos e já estavam “sexualizados” ao extremo, fiquei
abismado com aquela cena, só faltava praticarem sexo na sala, só para deixar claro, a
escola fez um garimpo dos “piores” alunos e colocaram-vos na mesma sala. Mas como
resolvi isso? Tentei adotar um método tradicional, os coloquei em círculos e em ordem
alfabética, deu certo? Lógico que não, percebi que toda e qualquer atividade eles
indagavam se valeria ponto, o interesse deles era apenas ser aprovado, ter nota na matéria e
não aprendizado, quando eu dizia que valeria, todos faziam a atividade, caso contrário, era
um caos aquela sala, chegando ao ponto de eu colocar para fora 21 alunos em uma turma
de 40, então, toda as atividades eu falava valer ponto, mesmo que não pontuasse, afirmava
que valeria para manter a “paz” na sala.
Voltei à sala dos professores e pedi orientação de como agir com a segunda sala, o que
ouvi foi de que não haveria mais jeito aquela turma, como eu não tinha experiência
alguma, deixei-os de mão, mas aquilo ainda não estava claro para mim, como poderia uma
escola “boa” e os alunos mostrarem um desinteresse enorme.
No ano seguinte, fui transferido para ensinar artes a noite, no EJA, apesar desses alunos
serem mais velhos que eu, marginais, usuários de drogas, achei que teria um grande
problema com eles, mas foi tão tranquilo que não queria mais sair da noite, eles produziam
excelentemente, diferente dos anteriores alunos, que para mim, nada queriam.
Porém, depois desses ocorridos, me perguntei se e de que forma a universidade estaria me
ajudando em relação à escola. Adivinha? Não contribui em quase nada, professores
desestimulantes, diminuidores de alunos para inflar seus egos, professores bacharéis e que
tentam levar os alunos também para essa área, o próprio curso que não oferece disciplinas
de educação voltada ao ensino de filosofia, porém, temos alguns ótimos professores, mas
esses vêm do departamento de educação. O que observei também, é que em alguns teóricos
que trabalhamos ou quase todos, é que seus escritos são para um mundo IDEAL e não para
a nossa REALIDADE, no discurso tudo é muito lindo, mas na prática, não é nada do que
vemos na academia.
Deixarei como relato um fato que ocorreu com uma colega minha, também professora, mas
que leciona em outra escola. Escola essa, que aparenta ter peneirado “tudo que não presta”
em sua grande maioria, e “jogaram” em uma mesma escola, neste espaço que era para ser
de aprendizagem, é protagonista de trafico, apreensão de armas, brigas e mais brigas e que
tem que ficar durante todo o dia uma viatura da policia militar, para que possam intervir
em determinados momentos, e os professores nada podem fazer por medo de retaliações
dos alunos, essa colega que eu citei no inicio, “recebeu” uma facada no braço por separar
uma briga.
Em 2016 fui mandado para manhã, peguei uma turma odiada pelos professores e por
influência, achei que os odiaria também, mas acabou que criei um vinculo com essa turma.
Turma essa que era constituída por marginais, moradores de periferia, achava que podiam
tudo, não havendo respeito com professor algum, quando entrei na sala, um grita-grita
infernal, pedi para que eles se calassem e sem êxito esse pedido, então solicitei para que se
retirassem da sala e dei continuidade a aula. No dia seguinte, nesta mesma sala, antes de
iniciar minha aula, o “líder” do grupo (cerca de 10), sentou-se frente a mim e falou que não
bagunçaria mais na minha aula, e que não permitiria que os do grupo fizessem, sim,
cumpriram o que prometeram, deste dia em diante minha relação com eles foi tão boa, que
todos os projetos que havia na escola, me davam aquela turma.
Mesmo com essa boa relação com eles, percebia que havia algo de estranho, com minha
experiência em algumas extensões de psicanálise que fiz, pedi para eles escrevem uma
carta sobre o que eles quisessem e não precisava assinar seus nomes, mesmo não assinando
os nomes, eu sabia a quem cada carta pertencia. Quando comecei a leitura das cartas
“fiquei sem chão”. Em suas cartas, eles relatavam bullying por ser gordo; que era
silenciada pelo namorado; não sabia o que fazer da vida; que era negro, e que por ser negro
não podia entrar em locais sem camisa para não ser confundido com ladrão; vivenciava
violência domestica; influência ao uso de drogas [...] Meu mundo caiu, por um momento
pensei: “Como pude ser tão ruim com eles”, a frase: “A opressão são desejos reprimidos”.
Nunca fez tão sentido para mim, consegui entender o porque o agir deles de determinada
forma, informei o ocorrido a diretora, ela ficou surpresa com o meu trabalho, pedi para que
ela convocasse uma reunião com os demais professores, para que os informassem do
ocorrido, para que mudassem seus olhares para aquela turma, mostrando que não havia a
necessidade de “demonizar” os alunos, que nem tudo é culpa apenas deles, existe todo um
contexto social, econômico, familiar e etc. que em junção, interfere de modo direto na vida
e comportamento desses alunos. Mas também coitados, não culpo em grau maior os
professores, a maioria são magistérios, graduados á 10-20 anos, não deram continuação a
sua formação, baixos salários, cargas horárias excessivas, escolas sem estruturas, falta de
profissionais, estado sucateando escolas...
Voltando as cartas, veio-me a certeza de que o professor não deve apenas ser um educador,
além disso, ele deve ser um estimulador, conselheiro, instrutor, desconstruir preconceitos,
ajudar o aluno a criar um senso crítico, mostrar que é possível, e também, ser um modelo
para o aluno.
Não só de tristeza vive um professor, tive também maravilhosas experiências na escola.
Peguei uma turma e tornamo-nos amigos, eram jovens com ideias surpreendentes,
produzíamos debates para escola, roda de conversa, café filosófico e etc. essa turma fazia
acontecer. Lógico, utilizar só a sala de aula é horrível, como a escola não é muito espaçosa,
eu chegava na sala e dizia: “não estou afim de dá aula hoje”, e eles concordavam, então eu
falava: “Vem aqui para junto de mim que vamos conversar” e perguntava sobre o que eles
queriam conversar, e eles opinavam sobre sexo, negritude, violência e gênero, lgbtq+,
drogas e etc. Não é que eu não querida dá aula, eu dava a aula, mas para eles não era uma
aula pelo fato de eu não está no quadro e dando gritos, eles em filas e escrevendo, e o que
deixava feliz é que eles saiam da sala de aula com novas ideia, eles entendiam o assunto e
sempre pediam para eu “não dar aula”.
Criei uma relação extraclasse com essa turma, convidava-os para vim a minha casa,
fazíamos algo para comer, batíamos papo, víamos filmes, passeios e etc. eles me
chamavam de “pai” [kkkkkk].
Chegamos a uma intimidade tão grande, que eles chegavam a me relatar suas experiências
sexuais, e eu sempre os aconselhando, tirando dúvidas, mas não de forma técnica, era na
linguagem vulgar mesmo. Apesar dessa “descaração”, eles me respeitavam ao extremo, era
só alegria.
Tendo passado por essa dualidade (tristezas e alegrias), cheguei a conclusão de que a
escola não está totalmente fracassada, ela ainda tem salvação, basta haver união da
hierarquia escolar, sociedade, da comunidade em torno da escola, familiares, alunos,
parceria com projetos sociais, atividades que chamem e que os alunos gostem. Quebrar
com a tradição, romper a hierarquia professor-aluno, lembrando que o professor é sempre
um modelo a ser seguido.
Eu espero ser e continuar o mesmo professor que sempre fui, creio eu que sou e fui um
bom professor, talvez, eu não queira dar continuidade a minha carreira, ainda não me
“encontrei”, estou em constante transformação, mas caso eu dê continuidade, espero
continuar sendo o mesmo profissional, amigo, conselheiro, modelo.
Quero terminar minha carta com a seguinte frase: “Nunca diga a um aluno que ele precisa
estudar para ser alguém na vida, pois ele já é alguém!”.

Saudações!

Alisson dos santos Passos


UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA
DCHF- DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOFIA
DISCIPLINA- ESCOLA, DOCÊNCIA E COTIDIANO ESCOLAR
DISCENTE- ALISSON DOS SANTOS PASSOS
DOCENTE- JACKELINE LOPES

CARTA PEDAGÓGICA:
“A ESCOLA QUE QUEREMOS, O PROFESSOR QUE QUEREMOS SER”

2017

Vous aimerez peut-être aussi