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A Importância da Perícia Ambiental no Brasil

Marcelo Manhães de Amorim

Resumo
A legislação ambiental no Brasil é uma das mais completas do mundo. Em
1981, com a aprovação da Política Nacional do Meio Ambiente, o meio
ambiente foi definido como “conjunto de condições, leis, influências, e
interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a
vida em todas as suas formas” (BRASIL, 1981). Posteriormente em 1988, com
a aprovação da Constituição Federal Brasileira um capítulo foi dedicado ao
Meio Ambiente, assim como o estabelecimento de reparação em caso de dano
ambiental, com o objetivo de determinar três tipos de responsabilidade: civil,
penal e administrativa, independentes e autônomas. Somente no final da
década de 90, com a publicação da Lei n.º 9.605 de Crimes Ambientais os
órgãos ambientais e o Ministério Público passaram a contar com um
mecanismo para punição aos infratores do meio ambiente. A Lei de Crimes
ambientais foi um avanço para a legislação ambiental brasileira, ao criar mais
um instrumento para a preservação ambiental, determinando a aplicação de
sanções, penais ou administrativas, aos responsáveis pelos, agora
considerados crimes ambientais (MATTEI, 2006). Diante desse "start
ambiental" surge uma nova modalidade de Perícia, a Perícia Ambiental, peça
indispensável para a sociedade contemporânea, ao buscar entender todo
dinamismo antropocêntrico, a velocidade das mudanças ocorridas na
sociedade, os desequilíbrios e impactos ocasionados pelo processo de
transformação do meio ambiente em decorrência da ação acelerada do homem
que impacta os ecossistemas provocando o desaparecimento de espécies e de
serviços ecossistêmicos essenciais.

PALAVRAS-CHAVE: Meio ambiente; Danos Ambientais; Crimes Ambientais;


Perícia Ambiental.
1. Introdução
A revolução industrial, situada no final do século XVIII, modificou as
formas de produção ao utilizar máquinas a vapor rompendo a necessidade de
força humana ou animal para produção em massa de bens de consumo
(MIRANDA, 2012). As transformações dos sistemas ambientais, bem como o
esgotamento de recursos naturais não renováveis estão diretamente
relacionadas aos padrões de industrialização e ocorrem basicamente por
razões econômicas (FRANCO; DRUCK, 1998; PRIMACK; RODRIGUES, 2001,
p.1).
A proteção ao meio ambiente era considerada alheia à manutenção da
qualidade de vida do ser humano, além disso, a proteção ambiental seria um
empecilho ao progresso econômico (BARROS et al., 2012). Estas ideias
permaneceram vigentes até o final da década de 60 e início de 70, a mudança
no pensamento em relação ao meio ambiente ocorreu após a publicação do
relatório Limits to growth, que colocou em debate o esgotamento de recursos
naturais e o colapso da espécie humana como consequência e a realização da
Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano na qual foi
desenvolvida a Declaração de Estocolmo (MAGRINI; MARCO, 2001;
MIRANDA, 2012).
Enquanto isso, no Brasil em 1981 no art.3, I, lei n° 6.938/81 o meio
ambiente foi definido como “conjunto de condições, leis, influências, e
interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a
vida em todas as suas formas” (BRASIL, 1981). Na qual se entende que a
degradação ambiental trará, quase com certeza, consequências ruins para
espécie humana como prejuízos a saúde, a segurança e ao bem-estar da
população. No entanto, apesar das mudanças ocorridas na percepção da
importância do meio ambiente e do aumento de estudos sobre os impactos da
degradação ambiental, a sustentabilidade ainda não foi capaz de superar a
cultura de desenvolvimento baseada no consumismo (ANDERSON, 2010).
O comportamento de consumo da sociedade contemporânea evidencia
a incompatibilidade entre às demandas por matéria prima, conforto,
conveniência e segurança e a responsabilidade pelas consequências
ecológicas do atendimento ao consumo desenfreado criado pelo capitalismo.
Segundo Anderson (2010), um dos problemas enfrentados pelo ambientalismo
é a desconexão entre o conceito "meio ambiente" e as experiências populares
do cotidiano das pessoas, a partir dessa desconexão o meio ambiente é
concebido como um lugar "lá fora", ao invés de "por aqui"; o que faz com que
os efeitos sobre ele tornem-se abstratos.
A partir deste contexto, a legislação ambiental se faz primordial para
possibilitar à proteção e conservação do meio ambiente necessário a vida
humana. Em resposta a este desafio, a perícia ambiental como meio de prova
integra economia, ciência ambiental e política pública ao exercer o seu papel
de investigar, examinar e verificar fatos no intuito de elucidar crimes ambientais
provocados por pessoas físicas ou jurídicas. É necessário que a perícia
ambiental seja realizada por profissionais habilitados a integrar o conhecimento
de cada ciência, para uma abordagem distinta da análise por ela desenvolvida,
tratando o objeto de estudo, resultante de seu conhecimento, produzindo
saberes devidamente agregados, a fim de produzir provas baseadas em
evidências.
A ciência se comunica com os sistemas do direito por intermédio de
perícias, testemunhas e pareceres, buscando em seu conjunto de dados
fundamentar a ocorrência e a dimensão do dano ambiental. É de extrema
relevância a prova cientifica no âmbito do processo judicial para apurar os
danos ocasionados ao meio ambiente, proporcionando ao julgador informações
que corroborem na execução das penalidades ou sentenças. O objetivo deste
trabalho foi descrever os principais instrumentos da perícia ambiental para a
apuração e valoração dos danos ambientais e destacar a importância da prova
pericial para a apuração e mensuração, bem como valorar os impactos
ambientais a fim de reparar os danos e enquadrar criminalmente as atividades
lesivas ao meio ambiente.
.
2. O dano ambiental
As atividades antrópicas são responsáveis por pressões negativas ao
meio ambienta e a biodiversidade. Os impactos resultantes de tais atividades
podem ser fontes de perturbações toleráveis ou não. Para Primack e Rodrigues
(2001, p. 1),
As atuais ameaças à diversidade biológica não têm
precedentes: nunca, na história natural, tantas espécies
estiveram ameaçadas de extinção em período tão curto. Essas
ameaças à diversidade biológica estão aumentando devido às
demandas de uma população humana que cresce rapidamente
e aos contínuos avanços tecnológicos.
Há pouco mais de quatro décadas, o ser humano começou a
compreender que devido às intervenções erráticas junto à natureza os
recursos obtidos no ambiente natural como ar, água, alimento, matérias
primas, são limitados ao contrário das suas necessidades. A atuação
predatória sobre a natureza se agravou com o crescimento populacional e
desenvolvimento científico e tecnológico, tais fatores permitiram ao homem
ampla dominação e transformação do espaço terrestre. A partir do advento de
novas tecnologias, o homem pondo sempre à frente seus interesses, não
percebeu que estava contribuindo para a destruição da natureza criando risco
ambiental para si próprio.
Segundo Milaré (2001, p.421-422), conforme citado por Colombo (2007),
o dano ambiental é “a lesão aos recursos ambientais, com a consequente
degradação-alteração adversa ou in pejus-do equilíbrio ecológico e da
qualidade ambiental”. Ou, como afirma Sirvinskas (2018, p.157),

O dano ambiental é toda agressão contra o meio ambiente


causada por atividade econômica potencialmente poluidora,
por ato comissivo praticado por qualquer pessoa ou por
omissão voluntária decorrente de negligência.

O dano ambiental diferencia-se do dano tradicional, principalmente


porque o meio ambiente é considerado recurso de propriedade comum
incorpóreo, imaterial, autônomo e insuscetível de apropriação exclusiva
(COLOMBO, 2007). Os recursos naturais como água limpa, qualidade do solo,
espécies raras e até mesmo paisagens pertencem a toda sociedade
(PRIMACK; RODRIGUES, 2001, p.41). Ou seja, todos os indivíduos tem o
direito de usufruir do bem ambiental e também tem o dever de preservá-lo para
as presentes e futuras gerações (COLOMBO, 2007).
Ressalto ainda que o dano ambiental não é o mesmo que impacto
ambiental, sendo este último caracterizado como interferência nos sistemas
socioambientais (LEITE; ALMEIDA, 2005). Os danos ambientais são de difícil
reparação, especialmente em razão de suas características que dificilmente
são encontradas nos danos não ecológicos. Nem sempre o dano ecológico
pode ser reparado, em geral estes são irreparáveis e infungíveis. Conforme
Leite e Almeida (2005),
Em geral, as principais consequências do dano ambiental são a
perda de produção de bens e a perda de serviço ambiental.
Serviço ambiental é todo serviço gerado pelo capital natural
que não corresponde ao uso do recurso natural na forma de
insumo. Podem ser considerados os seguintes serviços
ambientais: controle de distúrbios climáticos; armazenagem de
água em bacias hidrográficas; produção de pescado, caça,
produtos extrativistas; regulação dos níveis de gases
atmosféricos poluentes; regulação de fluxos hidrológicos; fonte
de matérias primas como combustíveis fósseis e minerais;
regulação dos gases que afetam o clima; controle de erosão e
armazenagem de sedimentos; controle biológico; proteção de
habitats; fonte de material genético; e intemperismo de rocha e
formação do solo.
No entanto, as indústrias priorizam o lucro sem dar importância para as
consequências ocasionadas por intervenções na natureza. A destruição de
ecossistemas, o aumento da emissão dos gases de efeito estufa a produção de
lixo, a contaminação das águas com despejos industriais, a devastação de
florestas e reservas biológicas, o uso da energia atômica ou nuclear. Hardin em
1968 descreveu esta situação na revista Science como a tragédia dos comuns,
na qual as indústrias, pessoas e o próprio governo utilizam e danificam os
recursos naturais de bem comum e não pagam mais do que o custo mínimo ou
ainda não pagam absolutamente nada por isto (PRIMACK;RODRIGUES, 2001,
p.41).
O dano ambiental pode afetar o interesse da coletividade, assim como,
seus efeitos podem ter reflexo na esfera individual, o que autoriza o indivíduo a
exigir a reparação do dano, seja ela patrimonial, extra patrimonial ou moral Um
dano é classificado como dano patrimonial quando os bens lesados são
materiais, por conseguinte pode ocorrer exigência de restituição, ao lesar bens
imateriais o dano é extrapatrimonial ou moral (LEITE; ALMEIDA, 2005).
De modo óbvio, a sociedade e o progresso estão profundamente
relacionados ao que a natureza oferece, desse modo percebeu-se a
necessidade de proteção jurídica no âmbito ambiental, na urgência da
preservação ambiental, para resguardar a sobrevivência das gerações futuras
em condições satisfatórias de alimentação, saúde e bem-estar.

2.1. Poluição
A poluição está fortemente ligada as graves alterações físicas, químicas
e biológicas no meio ambiente, prejudicando diretamente à saúde, segurança
o bem-estar da população humana, a flora, a fauna e outros recursos naturais
necessários a atividades sociais e econômicas. Sendo a poluição responsável
em grande parte pelos danos ambientais ocorridos no planeta.
Segundo Chaves (1980), poluição é "a degradação do ar, das águas,
do solo e do ambiente geral, em condições de prejudicar a saúde, a segurança
e o bem-estar do homem, ou causar dano à flora e à fauna".
No art. 3°, III, da Lei n. 6.938/81 a poluição é definida como (BRASIL,
1981),
III - poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante
de atividades que direta ou indiretamente:
a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da
população;
b) criem condições adversas às atividades sociais e
econômicas;
c) afetem desfavoravelmente a biota;
d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio
ambiente;
e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões
ambientais estabelecidos;
A definição de poluição utilizada na Lei da política Nacional do Meio
Ambiente possui ampla abrangência e torna possível a proteção da sociedade,
o patrimônio público e privado, o entretenimento, a flora e a fauna, o patrimônio
cultural, artístico, arqueológico e natural e a qualidade de vida nos centros
urbanos (SIRVINSKAS, 2018).
A poluição pode ser classificada de diversas formas em relação ao tipo
de degradação causada. As classificações comumente utilizadas são: a)
poluição hídrica, resultante de lançamento de resíduos provenientes de
atividades industriais, comerciais ou residenciais, em lagos, rios e mares; b)
poluição sonora, frequente nos centros urbanos devido ao excesso de ruído; c)
poluição atmosférica, resultante da emissão de poluentes despejados
continuamente na atmosfera por chaminés de fábricas, queimadas, usinas
nucleares, termelétricas e veículos automotores; c) poluição
luminosa, provocada por luzes artificiais dos centros urbanos; d) poluição do
solo, resultante da deposição, infiltração e acúmulo de poluentes que alteram
a composição natural do solo como agrotóxicos, esgoto doméstico, resíduos
sólidos, resíduos industriais e fertilizantes (DA SILVA, 2012; SIRVINSKAS,
2018).
De acordo com Da Silva (2012), os efeitos da poluição são cumulativos,
os efeitos dos danos ecológicos provenientes da poluição podem manifestar-
se além das proximidades vizinhas. Portanto, são danos coletivos com
repercussão direta nos direitos coletivos e indiretamente nos individuais.
O maior desastre ambiental da história do Brasil ilustra com clareza os
graves efeitos da poluição e como um tipo de emissão de poluente pode ter
múltiplos efeitos e tornar a situação ainda pior. O colapso de uma barragem e
o vazamento de 40 a 62 milhões de m3 de rejeitos de mineração no rio (Rio
Doce, estado de Minas Gerais), inicialmente uma poluição hídrica, adquiriu
grandes proporções e afetou a biodiversidade ao longo de centenas de
quilômetros de rios, matas ciliares e costa da Mata Atlântica. Importantes
áreas de conservação da biodiversidade no Oceano Atlântico, incluindo o
Parque Nacional de Abrolhos, uma das áreas protegidas mais emblemáticas
do Brasil, e três outras áreas marinhas protegidas (IBAMA 2016; GARCIA et
al., 2017).
O desastre do Rio Doce demonstra os grandes prejuízos ocasionados
por poluição nas dimensões econômica, social e ambiental. Os graves
problemas originados pela poluição servem como um alerta para os governos
se preocuparem com essa questão. Ampliando a urgência e importância da
elaboração e emissão de normas referentes à proteção ambiental, com a
finalidade basilar da preservação do meio ambiente e obtenção de condições
adequadas para que o homem possa ter uma qualidade de vida, zelando por
seu bem-estar e segurança.
Historicamente, após grandes desastres ambientais há um despertar
para a importância das questões ambientais. Segundo Hogan (2007) conforme
citado por Pott e Estrela (2017), em Londres no início da década de 50 a
poluição atmosférica foi responsável por mais de quatro mil mortes, o episódio
ficou conhecido como “A Névoa Matadora”, tal desastre deu início a
movimentação das autoridades de saúde e a atenção quanto à qualidade do
ar. O direito internacional tratou de temas relacionados à poluição ambiental
em convenções internacionais, como a Convenção de Londres em 1954 com o
objetivo de prevenir a contaminação marinha por hidrocarbonetos e
a Convenção de Paris de 1974 sobre a contaminação telúrica do mar
(MARTINS, 2011).
A perícia ambiental é um instrumento fundamental para garantir uma
indenização adequada às pessoas que venham a sofrer danos causados por
poluição e adotar investigação para elucidar os fatores causadores de danos e
garantir em tais ocasiões uma reparação adequada. Como no caso da
condenação da Companhia Siderurgia Nacional (CSN), a qual foi condenada a
reparar os danos ambientais causados no passado pela sua atividade
industrial, responsável pela quase totalidade da poluição do ar e da água, bem
como pela produção de resíduos industriais tóxicos na bacia hidrográfica do
Rio Paraíba do Sul (DANTAS, 2005). Nestes casos, os peritos são
responsáveis por averiguar a magnitude e a gravidade das consequências
ecológicas dos danos causados.

3. A Perícia Ambiental e a Proteção ao Meio Ambiente no Brasil


O Brasil possui grande diversidade biológica com ampla concentração de
florestas tropicais em seu território, recifes de corais, rios tropicais além da
riqueza marinha. As maiorias das espécies existentes ainda não foram
descritas e identificadas, é estimado a existência de 8,7 milhões de espécies, a
catalogação de todas poderia levar mais de mil anos. Muitas dessas espécies
serão extintas antes mesmo de poderem ser estudadas (MORA et al., 2011).
A preservação da diversidade biológica e seus habitats tem conquistado
importância em órgãos no âmbito mundial. A preocupação com a conservação,
preservação e recuperação do meio ambiente tem sido introduzida
significativamente na sociedade civil a partir das últimas décadas, tal
perspectiva teve origem na degradação ambiental, ao qual o planeta vem
sendo submetido praticamente sem controle.
As demandas por soluções para minimizar esse problema não podem
passar despercebidas pelas instituições, públicas ou privadas, uma vez que a
mudança de paradigma deve ser exemplo a ser seguido por toda sociedade,
conciliando o dever do Estado com responsabilidade empresarial de acordo
com as necessidades da sociedade. De acordo com o exposto, concordo com
Chesnais e Serati (2003, p. 42) no sentido que,
Na esfera do ambiente natural. O capital representa uma
barreira ou, mais exatamente, uma ameaça premente para a
humanidade – e, no imediato, para certas parcelas especificas
dessa -, mas não para o capital em si. No plano econômico, o
capital transforma as poluições industriais, bem como a
rarefação e/ou a degradação de recursos, como a água e até o
ar, em “mercados”, isto é, em novos campos de acumulação.
A segurança dos recursos naturais só estará garantida com a aplicação
adequada da legislação ambiental. Em 1998, o Brasil passou a contar com
mais um instrumento para a preservação ambiental por intermédio da
responsabilização e aplicação de sanções, penais ou administrativas aos
responsáveis por crimes ambientais com a publicação da Lei n.º 9.605,
denominada Lei de Crimes Ambientais.
A Lei de Crimes Ambientais, ou Lei da Natureza, é considerada um
grande marco na legislação ambiental brasileira, antes da sua publicação as
agressões ambientais eram considerados contravenções penais e, somente
após a criação desta lei é que o crime ambiental foi tipificado na legislação
brasileira. (MATTEI, 2006; BARROS et al, 2012; CARDOSO, 2017).
As atividades consideradas danosas ao ambiente podem ser punidas de
forma civil, administrativa e criminal. Portanto, os infratores são obrigados a
promover a recuperação pelo dano causado, a pagar multas e são submetidos
a processo criminal Os crimes ambientais são classificados em cinco tipos na
Lei n.° 9.605: a) contra a fauna (art. 29 a 37), cometidos contra animais
silvestres, nativos ou em rota migratória; b) contra a flora (art. 38 a 53),
danificar ou destruir floresta de preservação permanente ou utilizar em
desconformidade com as normas de proteção; c) poluição e outros crimes
ambientais (art. 54 a 61), que possa provocar danos à saúde humana,
mortalidade de animais e significativa destruição da flora; d) contra o
ordenamento urbano e o patrimônio cultural (art. 62 a 65), sonegação ou
omissão de informações e dados técnico-científicos em processos de
licenciamento ou autorização ambiental; e) contra a administração ambiental,
violação de regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação
do meio ambiente (BRASIL, 1998).
Em conformidade com o art.19 da Lei de Crimes Ambientais, os exames
periciais ambientais objetivam comprovar a existência de crimes contra o meio
ambiente e caracterizá-los. Averiguar a extensão, duração e, o valor de
reparação do impacto e dos danos causados, utilizando conhecimentos e
métodos técnico-científicos disponíveis para esclarecer o crime e seus
culpados (CARDOSO, 2017).
De acordo com Ferreira (2015), “perícia é um recurso do judiciário para
interpretar e embasar sua decisão frente ao cenário analisado. É um meio de
prova utilizada em processos judiciais”. No Brasil a perícia ambiental está
submetida ao cumprimento da legislação de proteção ambiental em vigor, que
são: Lei nº 6.938/81 – Política Nacional do Meio Ambiente, Lei nº 4.347/85 –
Ação Civil Pública, a Constituição Federal de 1988, em particular o art. 225; Lei
nº 9.605/98 – Crimes Ambientais (FERREIRA, 2015).
Para Almeida (2006),
A Perícia Ambiental tem como objeto de estudo o meio
ambiente, nos seus aspectos abióticos, bióticos e
socioeconômicos, abrangendo a natureza e as atividades
humanas. Segundo a Lei N.º 9.605/98, o crime ambiental pode
ocorrer, contra a fauna, a flora, a administração ambiental, o
ordenamento urbano e o patrimônio cultural, por ação de
poluentes ou outros casos específicos, configurando dessa
forma uma vasta gama de objetos de estudo.
Segundo Correia (2003), a perícia ambiental é recente no Brasil e a
especialidade evoluiu de acordo com a necessidade humana de proteção e
conservação do meio ambiente. A complexidade da natureza e dos danos
acometidos exige que a perícia seja uma prática multidisciplinar, especialistas
de diversas áreas podem realizar a pericia e elaborar laudos para instruir o
processo judicial, e contribuir para o convencimento e a fundamentação das
decisões judiciais (MATTEI, 2006; VIEIRA, 2010). Os profissionais executores
devem ser altamente qualificados para conduzir estudos e pesquisas que
fundamentem o desenvolvimento de seus aspectos jurídicos, teóricos, técnicos
e metodológicos para dar suporte às decisões do judiciário. (CORREIA, 2003).
Segundo Vieira (2010) há um crescimento na demanda judiciária em
relação às questões ambientais, com o aumento do número de processos que
tem por objetivo combater a degradação do meio ambiente. A autora ressalta
a importância instrumental da perícia ambiental,
Instrumento capaz de expor os conhecimentos, na forma de
dados e informações, de forma a possibilitar ao juiz interpretá-
las, juntamente com outras provas e demais elementos de
convicção presentes no processo, dos quais resultará uma
sentença.
A pressão antrópica produz impactos sobre o sistema natural, colocando
em risco o equilíbrio e a existência dos sistemas naturais, tendo em vista que,
nos últimos dois séculos, o planeta vivenciou acontecimentos que afetaram
profundamente a vida e seus recursos naturais. Dois desastres ambientais de
grandes proporções marcaram o Brasil em menos de cinco anos, o rompimento
de duas barragens provocou uma enxurrada de lama tóxica, com contaminação
da água e do solo, perda de atividades socioeconômicas importantes e perda
de serviços ambientais essenciais.
Garcia et al. (2017) realizaram estimativas da perda de serviços
ambientais regionais, segundo os autores o valor foi obtido a partir de uma
estimativa conservadora, o montante foi fixado em perda de US $ 521 milhões
por ano de serviços ambientais regionais. No entanto, tal valor ainda é seis
vezes superior à multa imposta a empresa pelas autoridades ambientais
brasileiras. Há uma urgência inquestionável em reduzir essas disparidades
entre os danos estimados e as multas aplicadas, os autores salientam a
importância de considerar os riscos potenciais e serviços ambientais que
podem ser impactados por atividades irresponsáveis no caso simbólico da
mineração.
Os crimes ambientais frequentemente permanecem impunes, até
mesmo em casos representativos como o Rio Doce no estado de Minas Gerais.
Apesar da regularidade de grandes operações da Polícia Federal a parcela de
condenações é ínfima, por falta de recursos humanos suficientes para
continuidade dos casos, incluindo análise de provas e realização de perícias
(SOUZA, 2008 apud BARRETO; ARAÚJO; BRITO, 2009.). Barreto, Araújo e
Brito. (2009) ressaltam a necessidade de aperfeiçoar as ações contra crimes
ambientais,
A investigação e a perícia devem atuar juntas na rápida
quantificação do dano ambiental causado e na
responsabilização de seus autores. Enquanto a investigação
identifica a autoria e o tipo de crime praticado, a perícia
fornece as provas da existência e consequências do crime.

A prova pericial é fundamental para o entendimento das consequências


do dano ambiental, assim como da sua extensão. Um dos obstáculos para a
efetividade da pericia é o custeio das provas, que sistematicamente
inviabilizam o resultado final. Sendo assim, é imprescindível que os órgãos
responsáveis pela tutela do meio ambiente sejam aparelhados para possibilitar
a efetiva proteção ao meio ambiente (SILVA, 2012).
Segundo Repetto (1990) conforme citado por Primack & Rodrigues (2001,
p. 41) ao fazer as empresas pagarem por seus atos é provável que parem de
danificar o ambiente, ou que se tornem mais cuidadosas. Sendo assim, é nítida
a importância da perícia ambiental nas causas relativas ao direito ambiental.
O envolvimento dos atores sociais na percepção dos riscos e danos
ambientais é importante para redefinição das suas práticas, por conseguinte
alteram a qualidade do meio ambiente no ponto de vista positivo, favorecendo
a sociedade os custos e os benefícios decorrentes da ação da pericia, já que a
prática pericial será efetiva se realmente servir como melhoria da qualidade de
vida da população.
Portanto, é significativo que haja um envolvimento dos os entes sociais
no desenvolvimento da política ambiental. É primordial a formação de cidadãos
conscientes de sua responsabilidade no processo de preservação do meio
ambiente, através de um conjunto de ações norteadas por princípios e valores
que levem em consideração o desenvolvimento sustentável do planeta. Neste
contexto, para Beck (2006) citado por Assunção e Miziara (2009) há uma perda
do pensamento social das comunidades provocada pelas situações de risco
ambiental,
[...] as pessoas expostas aos riscos parecem perceber que os
danos poderão atingir somente as outras pessoas ou em outros
lugares e, simultaneamente, os mesmos danos podem ter
percepções completamente diferentes de acordo com a idade,
sexo, educação, profissão, hábitos alimentares, moradia, etc.
O desígnio da política ambiental é minimizar os impactos ambientais
causados pelo crescimento das atividades lesivas ao meio ambiente: Portanto
deve contemplar os seguintes aspectos:
a) Integrar meio ambiente, segurança, saúde, ética e responsabilidade
social,
(b) Prevenir, eliminar ou minimizar, na execução das atividades, a
poluição e os riscos ambientais que possam comprometer o bem-estar
individual e social, afetando adversamente as partes interessadas e a
propriedade;
(c) Manter diálogo permanente com as sociedades civil e demais partes
interessadas.
As leis ambientais brasileiras são consideradas modelos por muitos
países. Entretanto, apesar de ser consagrada como uma das melhores leis
ambientais do mundo é essencial à busca continua por melhorias, uma vez que
a legislação não deve ser estática e definitiva e deve funcionar na prática a
contento de questões políticas.

Conclusões
O Brasil é o maior detentor de biodiversidade no planeta. Considerando
a região Sudeste, a Mata Atlântica abriga 60% da população brasileira, os
impactos antrópicos combinados, as desigualdades sociais juntamente com as
alterações climáticas colocam o ambiente em uma situação de vulnerabilidade
(SCARANO; CEOTTO, 2015).
A legislação ambiental brasileira é considerada vanguardista, quando
comparada a legislação de outros países. Devido à existência de instrumentos
jurídicos de proteção ambiental com normas, convênios administrativos,
limitações administrativas ao uso da propriedade privada, controle da poluição
por organismos federais e estaduais e a expropriação por utilidade pública,
tendo por fundamento legal a salubridade pública constituem um excelente
instrumento de conservação e proteção ambiental.
Entretanto, o Brasil falha na execução destas leis, há uma carência de
mecanismos de fiscalização e apuração dos crimes. As leis ambientais são de
excelência, mas nem sempre são aplicadas de forma adequada, por
inexistirem recursos e capacidades técnicas para executar a lei plenamente
em todas as unidades federativas (BRASIL, 2010; BARRETO; ARAÚJO;
BRITO, 2009; SILVA; BERNARD, 2015).
É neste contexto que constatamos a importância da perícia ambiental
do ponto de vista jurídico e ambientalista para constatação do dano ambiental
ou da iminência de sua ocorrência. É fundamental a adoção de critérios
específicos, para apuração de crimes ambientais que comprovem as
alterações e modificações ocorridas no meio ambiente afetado e o não
cumprimento das legislações ambientais. A perícia ambiental deve ser uma
prática interdisciplinar, executada por profissionais capacitados a buscar
elucidação de crimes ambientais, baseados em conhecimentos técnicos
científicos, a fim de fixar condenação ou reparação dos danos. Também é
importante que possam contribuir para o estabelecimento de um diálogo com o
poder público para a formulação e aplicação de políticas ambientais eficazes.

Referências

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