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O Rito do Túnel do Lobo

Postado em: http://www.kaosphorus.net/5463/le-tunnel-du-loup/ por


Spartakus Freeman, autoria de Nozck´o.
Versão por: Laurent Gabriel

O Rito do Túnel do Lobo.


Quase todos temos a lembrança de um porre homérico... Às vezes, no limite do
coma, acontece de entrarmos em uma fase em que o espírito luta enquanto o
corpo desaba em si mesmo. Nós nos focamos então no nosso eu mais
profundo para resistir à agressão tóxica e nossas energias se concentram
entorno do Guardião da Fortaleza (N.T.: Self) para protegê-lo. Nos tornamos
por algum tempo uma expressão mínima de nós mesmos. Todo desejo
elaborado e reflexão complexa desaparecem. Só persiste uma necessidade
urgente de existir e se manter. Esta força primordial é a essência de toda a
Vida. Ela é encontrada em todo o reino animal (e porque não no vegetal e
mineral?). Na verdade, acho que ela está em tudo que É. Tomando o exemplo
do Homem, poderíamos pensar todo o seu comportamento como faces desta
vontade única: Existir (viver simplificaria demais)
Entretanto, a existência por si só não tem sentido. Que para ir a algum lugar, é
preciso fugir de alguma coisa. A vontade de existir se associa intrinsecamente
ao medo de desaparecer. A união do ser e do vazio dá nascimento ao
movimento: uma fuga perpétua e desembestada à frente.

- O Túnel
Ele corresponde à transição. Todo ser, para viver, deve começar por se extirpar
de sua matriz original pela passagem estreita que o separa do resto do mundo.
Por esta forte origem simbólica , toda transição é por natureza agonizante. A
perspectiva do Túnel é sinônimo de impotência. Somos privados de qualquer
escolha. Só podemos avançar, pois voltar sobre nossos passos é negar ao
mesmo tempo aquele que éramos e aquele que devemos nos tornar. Em
contrapartida, o pressentimento de uma libertação próxima (a luz no fim do
túnel) traz o reconforto e a esperança necessários para o Aventureiro continuar
a avançar.

-O Lobo
Em numerosas culturas, o Lobo é considerado como uma criatura cthônica
(ligado à Terra e ao Mundo Subterrâneo). Como a Terra, a Loba é fecunda
provedora (N.T.: que alimenta), símbolo da maternidade. O Lobo, por sua vez,
assim como o cachorro é considerado como uma entidade psicopompa (N.T.:
um guia). Ele guia a alma dos defuntos até os infernos. Um dos atributos de
Hades é aliás o manto em pele de Lobo. O ir e voltar entre as profundezas e a
superfície (o mundo dos mortos e aquele dos vivos) faz dele um poderoso
iniciador para o Mago. Sua boca feroz e carniceira devora o noviço e regurgita
o iniciado. De um ponto de vista macroscópico, na Mitologia Escandinava, o
lobo Fenrir mata vários deuses e depois engole Midgard (o mundo dos
homens) para que este possa renascer. Sob seus traços cthônicos, o Lobo
representa então ao mesmo tempo a fatalidade (morte inelutável (N.T.:
inevitável)) e o renascimento (a luz iniciática).

- Em direção ao Túnel do Lobo


Em um dia dos Mortos (N.T.: 31 de outubro, halloween) , enquanto várias
pessoas brincam de se assustar, decidi, nem que fosse apenas aquela vez,
fazer o mesmo. Este era o impulso que serviu de base para o meu ritual.
Enquanto eu estava criando ele, não entendia ainda o seu alcance. Agora, sei
que não poderei jamais medi-lo. Aprendi entretando que é bom se deixar levar
por sua intuição sem muito calcular aonde aterrissar. O que é engraçado com a
Magia, é constatar que finalmente obtivemos o que queríamos. O que é ainda
mais engraçado, é observar os mecanismos que o Universo pôs em prática
para nos satisfazer. É na margem, entre a intenção inicial e restrita do mágico e
a realização concreta de sua Vontade que a beleza dos símbolos se manifesta.
Não haveria Alegria, nem Jogo (logo nem Magia) se tivéssemos controle total
sobre as conseqüências de nossos atos. Esta noite, tive Medo de verdade,
então meu Ritual foi um sucesso... Os extras foram o que tornaram este rito tão
querido.

Juntei então meu material: minha varinha, uma vela laranja, uma vela preta,
cinco palitos de fósforo e uma boa dose de cogumelos alucinógenos. Meia
noite, zarpei em direção ao meu Santuário, com um som rolando no walkman.
(Snake in the Grass do grupo The Black Angels, recomendo)

O conceito do ritual era sair para passear nas bordas do Styx na companhia de
Hermes e de Hécate, botar o pé nos Infernos e voltar (só isso...). Chegando no
lugar de meu encontro cósmico, saudei os espíritos do lugar, abri um círculo
(N.T. Banimento da Wicca) e comecei a devorar os encantadores diabinhos de
gosto execrável que permitem aos espíritos noviços captar as mensagens
divinas. Uma vez terminado, comecei a invocação dos Deuses mencionados,
primeiro Hermes (Vela Laranja), depois Hécate (Vela Negra) lendo alguns
versos que eu tinha rabiscado anteriormente em um pedaço de papel (3
fósforos foram sacrificados no processo). Meditei em seguida um tempinho
sobre as correspondências e funções, tentando conceber as duas entidades
nos 3 planos, mental, psíquico e depois físico. Hermes me levará aos Infernos,
Hécate se revezará em seguida. Quando senti que a atenção deles estava
conquistada, apaguei as velas, juntei minhas coisas e, após ter desfeito o
círculo, dei alguns passos para o Oeste antes de desabar, fingindo estar
morto... Eu me divirto às vezes dando aos meus rituais ares de tragédia grega.

Os dez minutos seguintes (talvez menos), permaneci inerte em postura de


morto (entrando no personagem) esperando que Hermes aparecesse e levasse
minha alma aos Infernos (na verdade até eu encher o saco da posição,
particularmente desconfortável, e eu sentir meus neurotransmissores quicando
como adolescentes antes de um show de rock) . Re-acendi a Vela Laranja (1
fósforo a menos) e parti em direção ao Túnel do Lobo.

Na época eu ainda não tinha batizado ele assim. O simbolismo chtôniano me


era desconhecido, e apesar disso, chegando na boca do Túnel, numa vibe
fortíssima de cogumelos, tive a certeza que um Lobo morava nesse Túnel. Este
Portão dos Infernos que entrei várias vezes quando criança, mas nunca
atravessei inteiro. Tínhamos medo demais para isto. Agora que eu estava mais
velho, estava decidido a atravessar a passagem de 1,60 m de largura até o
final. Entretando sozinho, na noite do Dia dos Mortos, somente com a luz de
uma vela e alucinado de cogumelos, o desafio continuava o mesmo. Consegui
levar a vela sem que ela se apagasse até a entrada do Túnel. Hermes agora
deveria entregar a tocha à Hécate; acendo a Vela Negra com a Laranja e
apago a Laranja. Entro no Túnel.

- No Túnel do Lobo –
Após somente alguns metros: uma corrente de ar; minha Vela apaga. Eu tinha
voluntariamente restrito o número de fósforos para adicionar um obstáculo à
minha aventura noturna. Cinco é um bom número, profundamente mercuriano;
tenho fé nele para me levar ao fim do desafio. Risco o último fósforo no escuro
sorrindo: não consigo me impedir de me identificar com Bruce Willis no clássico
de Luc Besson o 5º elemento (Veja! Mais um 5...). Reacendo a Vela preta com
sucesso. Agora, protejo-a fazendo muralha contra meu corpo. Não estou com a
mínima vontade de ficar no breu total. Avanço lentamente. Tomo cuidado para
não pisar nas poças de água estagnada. As sombras dançam nas paredes.
Tenho certeza agora: estou cercado de fantasmas. Sinto a angustia crescer...
Qual o tamanho deste Túnel? Tem realmente uma saída do outro lado? De
repente um “PLUFF’”. Tenho certeza que escutei. O Lobo se aproxima, sinto a
sua presença ameaçadora. No mesmo momento, uma outra corrente de ar.
Estou embaixo de uma boca de aeração. A chama treme, quase me abandona.
Estou realmente com medo. O que é engraçado com os cogumelos é que a
realidade física e aquela do sonho se misturam e parecem... Ou melhor, são
tão verdadeiras uma quanto a outra. Eu me apoio contra a parede, e,
protegendo a minha vela, recito (aproximadamente) a litania contra o medo tão
querida pelos caoístas (aquela do Rito Bene Guesserit de Duna 1). A partir
desse momento, coisa estranha, o resto do percurso ficou meio confuso na
minha memória... A única lembrança que tenho é dessa espécie de galho caído
numa poça no meio do túnel, me lembro de ter me abaixado para ver e ter visto
um cadáver reduzido no interior, uma espécie de múmia em um barco
funerário...

No final, o túnel tinha cerca de 600 metros de comprimento, e quando saí, me


senti profundamente feliz. O Lobo, de sua parte, tinha ficado no Túnel. Mesmo
se me virando, um arrepio me percorresse, a besta já não era ameaçadora, ela
simplesmente estava lá.

- A Deriva que se seguiu –


Eu estava profundamente feliz então eu ria sozinho (um pouco nervosamente,
de repente). A noite estava bonita. A lua quase cheia e minhas pupilas dilatadas
ao extremo pelo psicotrópico me permitiam ver como se fosse de dia. Me
toquei então que a cera negra corria sobre a minha mão e quase tinha coberto
ela. Sua substância quente e tranqüilizadora se misturava à minha, que delícia!
Eu queria dividir este momento de felicidade com X, sem quem eu nunca teria
tido a idéia de fazer tudo isso. Com a ajuda de minha varinha (que não larguei
durante o trajeto) abri então um KIZOAN VOLSTRA, o poderoso sigilo que ele
tinha criado seis meses atrás e que nos reúne até hoje. Depois disso, eu
gargalhei de verdade, gargalhar a dois, é sempre melhor.
Em seguida eu apaguei a vela e retomei meu caminho. Passeei por um bairro
residencial durante quase uma hora, mas o tempo agora não existia. Então,
rindo e falando sozinho como um louco (ou uma criança brincando), segui um
percurso cheio de símbolos que só eu entendia a lógica, pulando de tesouro
em tesouro, de enigma em enigma.

Nesta hora parei em frente ao portão de uma propriedade. Era preciso um


código (N.T. teclado numérico) para entrar. Nada mais simples, digitei 23 e
pulei o muro. A propriedade era grande. Subi a colina na minha frente e recebi
então minha recompensa. Foi Hécate quem ofereceu, me mostrando seu rosto:
uma das mais belas visões que pude ver, sentir, porque com a psilocibina (e
sua irmãzinha psylocina), os sentidos se misturam e se fundem para formar
uma experiência única: lua dourada, o latir de um cachorro distante, o cheiro
dos pinhos e o vento fresco da noite... Tudo parecia se juntar para que, em
uma calma harmonia, abarcando o horizonte, dançasse essa fileira de ciprestes
gigantes, percutindo símbolos de eternidade serena.

Desde o meu começo eu tinha adquirido certa afinidade com Hermes. Por outro
lado, era a primeira vez que eu tratava com Hécate. A minha primeira intenção,
de me causar medo foi a origem do que eu considero ter sido meu Ritual
Iniciático. Fazer o Guardião da Fortaleza atravessar um Túnel, guardando a
chama acesa durante todo o percurso, é o princípio da Iniciação. Existem
métodos mais ou menos extremos para fazê-lo, mas o mais recompensador é
fazer do seu jeito.

Paralelamente, é interessante notar como cada coisa é intrinsecamente ligada


ao seu oposto. Como o ser busca o vazio, e vice-versa, nesta noite, foi
brincando de me fazer medo que consegui atingir a serenidade.

-N o z c K o –
NKoC

1 Litania contra o medo Bene Guesserit: “Eu não conhecerei o Medo, pois o
Medo mata o espírito. O Medo é a pequena morte que conduz a obliteração
(N.T.: esquecimento) total. Eu enfrentarei o Medo. Eu permitirei que ele passe
por mim, através de mim. E quando ele tiver passado, virarei meu olho interno
para frente. E aonde ele tiver passado, não haverá mais nada. Nada além de
mim.

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