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Porto - Portugal
(Aprov ado pelo Decreto-Lei n.º 63/85, de 14 de Março, e alterado pelas Leis n.ºs 45/85, de 17 de Setembro, e 114/91, de 3 de Setembro,
e Decretos-Leis n.ºs 332/97 e 334/97, ambos de 27 de Nov embro, pela Lei n.º 50/2004, de 24 de Agosto, pela Lei n.º 24/2006 de 30 de
Junho e pela Lei n.º 16/2008, de 1 de Abril).
Esta súmula de hipnose faz parte integrante do Manual de Hipnose Clínica ®. Alberto Lopes, Copyright.2015
Poder-se-á dizer que toda a gente ouviu falar já de Hipnotismo ou de Hipnose, bem
como de estados e manifestações que lhes são afins. Contudo Hipnotismo e Hipnose são
termos que para a maior parte das pessoas, incluindo profissionais de saúde, com
frequência representam ainda concepções erradas. Assim, o principal objetivo desta
pequena resenha será o de esclarecer os respectivos conceitos, desmistificando alguns
pressupostos numa abordagem breve precisamente a partir dos estados e
manifestações advindos da Hipnose, ou seja, da fenomenologia hipnótica.
Apresentaremos o Hipnose como a ciência que estuda estes estados e manifestações e
preferencialmente a própria Hipnose e particularmente os métodos e processos de a
conseguir. A “Indução de Transe Hipnótico” torna-se assim um dos temas mais
importantes dentro do Hipnotismo, sendo a sua principal finalidade conseguir que o
sujeito entre no “estado de hipnose”. Se a indução é feita no domínio da Hipnoterapia,
veremos que normalmente ela tem como principal objectivo a descoberta das principais
“motivações” do paciente, a sua “semântica chave”, propiciando o planeamento
hipnoterapêutico mais adequado.
A concepção teórica da hipnose tem muito a ver com o pragmatismo da sua
aplicação. Assim, encontraremos conceitos vários, desde os de Coleman, T.R. (1976) e
Edmonston Jr. (1981) que dizem que “a única diferença entre os resultados decorrentes
de processos de Relaxamento e de Indução Hipnótica, é o nome que se lhes dá”, aos de
Spiegal (2010), que vê a hipnose em si “não como um tratamento, mas antes como um
estado mental que pode facilitar uma variedade de estratégias de tratamento”. Como
diz Marta Matos em suma, o campo da Hipnose subverte as clássicas fronteiras entre
“saúde física” e “saúde mental” ; neste sentido poderemos dizer (neste campo
precisamaos, ainda, das metáforas...) que é uma disciplina dos “interlúdios”... (Matos,
M. 2014). Assim une a Hipnose o que o Homem separou?
(Renato Morais. UFP, 2014. Congresso Nacional de Psicologia da Saúde Tendências em
Psicologia da Saúde: Contextos e Interdisciplinaridades.
I. História da Hipnose
V. Quais são as áreas da medicina onde ela pode ser utilizada a hipnose?
Além da sua eficácia no controlo da dor, a hipnose permite diminuir o receio dos
tratamentos oncológicos, assim com enfrentar eficazmente as perturbações
psicológicas. Tais como os principais medos e fobias, assim como, tratar a tão
famigerada depressão. Além disso, está a ser usada com eficácia para diminuir o
sofrimento de pacientes com neoplasias, doenças neurodegenerativas e
psicossomáticas. Refiro algumas áreas médicas onde a hipnose tem contribuído com
óptimos resultados: Psicologia e Psiquiatria: perturbações psicológicas, adições, os
distúrbios de comportamento: alimentar, anorexia, bulimia, alcoolismo, toxicomania,
etc.; Anestesia: ansiedade pré e pós-operatória; permite efectuar operações cirúrgicas;
Dermatologia: Eczemas, psoríase, urticária, verrugas, prurido e todas as afecções
psicossomáticas; Sexologia: disfunções sexuais, parafilias e outras; Patologia vascular:
hipertensões arteriais, vasodilatação e vasoconstrição; Na Pneumologia: no controlo da
asma e alergia; Queimados: sugestão frio, no início, reacções e reflexos associados,
funcionando como analgésico e estimulante; Gastrenterologia: Refluxo esofágico,
irritação do cólon, distúrbios somáticos e funcionamento gastrointestinal, Colite
ulcerosa, a doença de Crohn. Obstetrícia: efeito analgésico, facilita a dilatação e dores
parto; ritmo contracções uterinas; Estomatologia/oncologia: controlo dor,
sangramento, salivação, reflexos deglutição Reumatologia/traumatologia: conforto
sobre a dor e mobilidade, recuperação óssea acelerada; Neurologia: Enxaquecas,
insónias, stress, ansiedade, medo, fobias, agressividade, e tratamento da dor crónica.
(Fonte: American Journal of Clinical Hypnosis, 2003).
este tipo de sintomatologia não devem recorrer à hipnose pois poderia exacerbar os
seus sintomas. Todos os outros casos são passíveis de recorrerem à ajuda hipnótica.
Importa recordar que os recentes estudos provam que o estado hipnótico é uma
condição mental em que o cérebro apresenta alta actividade psíquica e uma maior
irrigação cortical e subcortical, que desencadeia importantes reacções cerebrais.
Qualquer procedimento em hipnoterapia pode passar por vários estádios de transe,
nomeadamente o transe leve, médio e transe profundo:
I. Transe leve: sendo o primeiro passo do transe hipnótico, o estádio leve é
caraterizado pela focalização num objeto, pensamento ou ideia é usada para
focalizar e absorver a atenção do paciente. Neste estádio o sujeito deixa de
prestar atenção à consciência periférica e centra o seu pensamento nos
construtos e dinâmicas internas;
II. Transe médio: o segundo passo do setting hipnótico é o transe médio, onde
geralmente ocorrem dois fenómenos interessantes: o primeiro, o cérebro
apresenta uma desativação do Giro Frontal superior esquerdo, o que possibilita
estimular a capacidade dedutiva e um aumento da resistência, nomeadamente
à dor (o interessante é que qualquer sugestão dada neste estado de transe
hipnótico é assimilada com mais facilidade, potenciando recursos internos e
promove a mudança); o segundo fenómeno é a activação dos lobos occipitais
bilateralmente, fomentando o aparecimento de imagens oníricas (Scaer R.,
2001) - esta estimulação dos lobos occipitais, área cerebral responsável pela
visão, estimula uma maior imaginação, aumentando a capacidade de
visualização, provocando maior criatividade e potencializando o assimilar de
informações. Os especialistas são unânimes a afirmar que é o melhor transe para
uso psicoterapêutico;
„Qualquer pessoa que olha para a doença como uma expressão vital do
organismo para atingir o equilíbrio deixa-a de a ver como um inimigo.“ (Oliver
Sachs)
Marianne Williamson referiu: "Nada te deixa cego, exceto os teus pensamentos. Nada
te limita excepto os teus medos; e nada te controla, excepto as tuas crenças." Será que
não estamos todos de acordo com isto?
Mas como influenciar os outros de forma eficaz? A psicologia diz-nos que somos seres
de relação e que este é o grande desafio da criatividade no contexto dos nossos
relacionamentos. No que diz respeito ao contexto de uma doença, tenho para mim que,
não podemos criar uma “resposta influente - neste caso de cura” se o nosso pensamento
está em negação. Ou se a nossa a energia está presa num estado de resistência ao
fenômeno que está a passar-se no nosso corpo.
Pare, escuta e sinta, é isso que nos pede a doença. Quando deslocamos a energia da
resistência à aceitação, damos início ao processo para a resolução de conflitos internos.
Esta mudança permite acima de tudo escutar as dinâmicas do nosso corpo, abrimos ao
outro ou à situação que está latente e naturalmente podemos relaxar. Condição “si non
qua non” para que o organismo inicie o processo natural de cura.
vividas no passado, sendo que elas afetam de forma benéfica e/ou patologicamente a
vida do desse ser. Esta pesquisa transderivacional ficou vulgarmente conhecida como
“hipnose de regressão” ou hipnoanálise.
entendível, tudo o que se está a passar nos seus órgãos e corpos, em relação a um
determinado momento, problema ou situação.
Consequentemente, podem intuir de forma mais coerente e ampla sobre o que
necessitavam fazer para as coisas seguirem o seu curso correto, quer dizer, atingir o
equilíbrio emocional e pessoal. Pois tenho para mim que não faz sentido supor que a
psicoterapia no estado de vigília, que se dirige essencialmente à racionalização
consciente, seja mais eficaz que a hipnoanálise, que se dirige diretamente ao
subconsciente e inconsciente, onde reside a causa do mal. Concluindo, esta abordagem
hipnoanalítica é base de quase todos os tratamentos hipnoterapêuticos e é o cerne da
nossa formação em hipnose clínica e hipnoanálise.
Abstract
Estudo realizado no âmbito das XXIV Jornadas de Terapêutica ICBAS. Procurou-s e
quantificar e comparar o efeito analgésico da hipnose e do Remifentanil, em resposta a
estímulos dolorosos, utilizando uma escala numérica da dor (END) e potenciais evocados
(PE). Doze voluntários, criteriosamente seleccionados, foram submetidos a estimulação
eléctrica dolorosa no nervo mediano com intensidade variável, quantificando a dor
através de END e PE. Repetiu-se o procedimento submetendo os voluntários a doses
variáveis de Remifentanil e a duas técnicas de analgesia hipnótica.
Introdução
Segundo a IASP (International Association for the Study of Pain), a dor é definida como
uma experiência subjectiva, desagradável, sensitiva e emocional, associada a lesão real
ou potencial dos tecidos ou descrita em termos dessa lesão, sendo vivenciada por quase
todas as pessoas. É, com frequência, o motivo que leva a procurar os serviços de
saúde.1,2.
Os Estágios de Hipnose
Podem ser induzidos diferentes estados de hipnose, desde os mais leves aos mais
profundos: estado leve, médio, profundo e sonambúlico. [7]
A hipnose, além de ser utilizada como uma técnica cognitivo-comportamental, capaz de
influenciar as condições psíquicas, somáticas e viscerais do indivíduo, tem vindo a ser
utilizada como um meio de modulação da dor crónica e aguda, ao interferir com a
percepção desse mesmo estímulo, fazendo com que a sua intensidade percebida seja
menor. Acredita-se, assim, que o processo de redução da dor actue num nível
consciente, enquanto o estímulo doloroso é registado no sistema nervoso. [7,8]
A hipnose tem vindo a ser utilizada na odontologia, dermatologia, tratamentos
estéticos, cirurgia restauradora, obstetrícia e no tratamento da dor crónica. Existem
várias técnicas analgésicas em hipnoterapia, tendo sido utilizadas, neste estudo, as
técnicas de dissociação+luva e técnica de luva isolada.[9,10]
A utilização de escalas de susceptibilidade hipnótica é uma das características -chave da
investigação actual em hipnose. A Escala de Susceptibilidade Hipnótica de Stanford,
Forma C (SHSS:C; Weitzenhoffer y Hilgard, 1962) é considerada, por muitos
Existem alguns estudos que demonstram o efeito da hipnose na dor e na diminuição dos
potenciais somatossensoriais e o seu efeito cerebral, utilizando fRMI. No entanto, na
pesquisa bibliográfica realizada, não foram encontrados estudos que correlacionem o
poder analgésico da hipnose com o de um analgésico opióide. Deste modo, os principais
objectivos do presente estudo são: i) quantificar o efeito analgésico da hipnose e do
Remifentanil, em resposta a estímulos dolorosos, utilizando uma escala numérica e
potenciais evocados; ii) comparar o efeito analgésico entre hipnose e Remifentanil,
utilizando uma escala numérica e potenciais evocados.
Materiais e Métodos
O estudo decorreu com o conhecimento e aprovação do protocolo pelo Conselho de
Administração e Comissão de Ética do HGSA, bem como do Director de Serviço de
Anestesiologia e do Director do Bloco Operatório. Foram estudados voluntários
recrutados através de anúncios afixados em locais frequentados por alunos e
seleccionados através de critérios de idade (20 a 30 anos), IMC (18,5 a 24 Kg/m2), perfil
psicológico (pela escala de auto-avaliação de ansiedade e depressão de Zung) e
sensibilidade hipnótica (avaliada pela escala de Stanford validada para a população
portuguesa). Foi efectuada uma power analysis para determinar a dimensão da amostra,
a qual indicou a necessidade de estudar 12 indivíduos, 6 de cada sexo.
A selecção dos voluntários foi realizada de entre um total de 22 indivíduos que aceitaram
efectuar as avaliações referidas, tendo sido seleccionados os seis de cada sexo que
apresentavam maior susceptibilidade à hipnose. No dia do estudo, os voluntários
puderam levar consigo uma pessoa para assistir ao procedimento, sendo este filmado
para possível visualização posterior por parte do voluntário e dos investigadores. Todos
os voluntários foram devidamente esclarecidos dos procedimentos a realizar e riscos
associados, dando o seu consentimento informado. À chegada foi efectuada uma check
list de segurança do bloco e verificados a assinatura do consentimento informado e o
jejum. O protocolo experimental decorreu no bloco operatório de neurocirurgia, com
À presente data ainda não foi realizada a análise estatística completa dos dados obtidos.
Pelo que será aprofundada a existência de diferença significativa na resposta ao
estímulo doloroso sob o efeito de Remifentanil ou hipnose de homens e mulheres,
usando o teste de Qui quadrado ou equivalente não paramétrico. Se houver diferença
estatística os dados serão analisados em separado. Posteriormente, será verificada a
significância do poder analgésico da hipnose (teste t de Student), comparando o valor
médio da END e PEs para 1,3LD e 1,3LD com hipnose. Se significativo, determinar-se-á
qual a concentração de Remifentanil a que corresponde esse valor de END e PEs usando
uma recta de tendência para a relação entre as doses de Remifentanil e a END ou PEs.
De seguida, será determinada a correlação entre as curvas [Remifentanil] x END e
[Remifentanil] x PEs, usando o teste do Qui quadrado. Os potenciais evocados serão
analisados de acordo com a sua amplitude e latência.
Os dados são expressos como média ± desvio padrão, sendo a análise estatística
efectuada utilizando o programa SPSS 17.0. A homogeneidade da variância será
confirmada pelo teste de Levene previamente à análise paramétrica. A significância
estatística é assumida para valores de p ≤ 0.05.
[Remifentanil] ng/mL
12 Voluntários 0 1 2 3 4 5 6
[Remifentanil] ng/mL
12 Voluntários 0 1 2 3 4 5 6
Quanto à hipnose, esta revelou-se claramente mais eficaz na redução da dor provocada
pela estimulação de menor intensidade, aproximando-se dos 50%. Para a estimulação
de maior intensidade, a atenuação da dor foi de 19,4% com a técnica de dissociação
mais luva e de 16,4% com a técnica da luva, (p<0,05) (Tabela III e Gráfico 2).
Tabela III – Valores médios de Escala Numérica da Dor (END) para ambos os estímulos
dolorosos (0,7 e 1,3LD) em função da técnica de Hipnose aplicada. LD = Limiar de Dor.
Hipnose – Dissociação +
Luva Hipnose luva
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