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para que ele possa nascer de um espaço e valorizar novos conceitos estéticos
contribuindo para a interacção de novos públicos no espaço com os públicos já
existentes promovendo assim, e mais uma vez a verdadeira inclusão social, sem
lamechices, mas com sentimento, estética e cruzamentos sensoriais humanos entre
todos.
Queremos que com esta Quase Galeria o Espaço t abra as portas ainda mais para a
cidade como ponto de partida para criar sinergias de conceitos, opiniões e
interacções entre humanos com o objectivo com que todos sonhamos – A
Felicidade.
Jorge Oliveira
O Presidente do Espaço t
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Por (de)Trás da Aparência, o quê?
Viajante Inesperado
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Jan Fabre - Umbraculum, Paris, Actes du Sud, 2001
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e mestre da expressão simples e prática,
mais uma vez acertaste:
a duração tem que ver com os anos,
com as décadas, com o nosso tempo de vida; (…)”2
As estruturas que Luís Nobre tem concebido, para os seus projectos mais
recentes, inscrevem-se (em consentaneidade), pautam-se por uma
relacionalidade afirmativa face aos espaços arquitectónicos em causa. Refiram-
se dois: a intervenção que alastrou pela Casa-Museu Anastácio Gonçalves e
no Museu de São Roque (ambos em Lisboa). Num e outro caso,
salvaguardando as tipologias – quer arquitecturais, quer funcionais – as suas
obras expandiram-se pelas inúmeras salas e quartos (CMAG) e numa das
salas magnas do Museu. Isto, para além das incursões de pequenas esculturas
em bronze intituladas (curiosamente) Contra-campo.
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Peter Handke - Poema à duração, Lisboa, Assírio & Alvim, 2002, p. 27
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Também aqui cabe a noção de “aparência”: perante a extensão do antigo
Palácio, o artista coloca as esculturas em locais que carecem ser desvelados,
situando-os dentro da aparência, plasmando-as perante o que o público sabe
visitar. As esculturas configuram-se enquanto viajantes inesperados, esses que
não decidem antecipadamente o detalhismo da viagem antes de a iniciarem,
nem tampouco previnem os demais da sua iniciativa – contrariando, quiçá,
Michel Onfroy na sua Teoria da Viagem…
O viajante na actualidade assume proporções banalizadoras, longe estando –
na maioria dos casos – a “pseudo-excentricidade” daqueles que encetavam o
Grand Tour! Os artistas, os poetas viajantes destinavam-se uma formação,
uma educação estética conclusiva que culminava no fascínio italiano, entre
ruínas, perfumes e paisagens.
3
Xavier de Meistre - Viagem à roda do meu quarto, Lisboa, & etc, 2002, p.32
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Deambulares baudelairianos, benjaminianos entre outros, tantos os seguidores
cujas identidades se achavam em territórios alheios, fora a ambição de
desterrados intelectuais, exilados ideológicos ou políticos ao longo de quase 2
séculos. O flâneur, o Wanderer e, vulgo, o passeante, configuraram, bem
solidamente, espíritos criadores que, através de desideratos múltiplos,
convergiam na urgência de definição identitária.
Os poetas, os pintores, os músicos viajantes ensinaram visões do mundo em
panorâmicas e em ricas detalhistas peculiaridades. Desde as cartografias
expostas em imagens a partir de relatos de outrem até aos testemunhos
diarísticos dos cadernos de viagens, os humanos deixaram-se seduzir pela
angústia e fruição da viagem, registando elementos (por vezes quase
imperceptíveis) … detalhes que glosavam espécies da flora e fauna, quanto
das diversidades culturais que os surpreendiam.
Talvez, hoje – em certa perspectiva – se queira mais e mais ver o que haja a
ver no mundo, “o que [ainda] resta do mundo/ o que deitaram fora” como
lembrou Susan Sontag em O Amante do Vulcão. Uns cumprem o registo
através de uma escrita poética, ensaística ou ficcional, outros externalizam em
imagens e objectos o que seja vivido, imaginado nessas jornadas factuais ou
imaginadas mas todas elas – sem dúvida – garantidas pela simbologia e
mitologização estruturantes. Em territórios de proximidade ou de afastamento,
as jornadas dos artistas percorrem caminhos exteriores ou internos que,
porventura, se sobrepõem, isolando elementos visuais e/ou conceptuais que
conformam em obra. A tradição da literatura de viagens (em diferentes sub-
tipologias) quanto Cadernos, livros de notas & etc, que diferentes gerações de
artistas nos legaram, demonstram continuidade na contemporaneidade e no
presente. Esquiços, esboços, aguarelas, pinturas e fotografias organizam um
saber de lugares transcorridos, onde a permanência se demora ou reduz. A
duração da viagem subsiste na decisão do sujeito que a decide e tem
continuidade na recepção de quem a ela acede através da experiência estética
– ou seja, qualquer um de nós enquanto espectador, ouvinte, enfim: público.
De algum modo, somos sujeitos que – se assim estivermos disponíveis, nos
convertemos (também) em viajantes inesperados naquilo que seja a visita a
uma exposição ou a presença participadora numa performance. Assim, atrás
da aparência das obras, entra-se no mundo mais intimista do autor e viaja-se
insuspeitadamente…
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Rainer Maria Rilke – Da Natureza, da Arte e da Paisagem, Lisboa, Largebooks, 2009, p.15
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Por outro lado, o conjunto de peças que se encontram reunidas na exposição
de Luís Nobre, evocam uma atitude de recolha e salvaguarda de sinais e
elementos visuais que reconcebe e inventa, a partir de uma iconografia directa
ou indirecta. Isto é, nalguns casos, depara-se com fragmentos iconográficos de
valência pictogramática, noutras ideogramática e, mesmo, psicogramática
(seguindo a nomenclatura de Emmanuel Anati). Se tivesse vivido alguns
séculos atrás, provavelmente ter-nos-ia legado álbuns enorme, recheados de
exotismos estéticos e congruências artísticas, talvez pontuados por reflexões
de ordem narrativa ou descritiva acopladas…Lembro Jean Debret que, no
século XIX, gerou um manancial de desenhos que são caso paradigmático dos
recintos interiores de viagem (no Brasil) assumidos através do rigor da
externalidade dos factos, situações…Mesmo não sendo pródigas as viagens
em lugares tão exóticos quanto o foram, existem denominadores comuns:
qualquer um de nós, selecciona os mínimos exotismos entre o que outrem
queira sejam banalidades. Pombos, vitrais, escamas, metamorfoses “d’aprés
Bosch”…enfim, eis uma panóplia infindável de pretextos, de impulsos ou de
ancoradouros que avançam sobre labirintos de madeira estabilizados. Por trás
da aparência, os viajantes ludibriam-nos em suposto hieratismo e pertença.
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Está-se perante segmentos da contemplação criadora de Luís Nobre, quanto
se podem estabelecer diagonais e vértices, inclinações (sempre o movimento
no estático “aparente”) e decorrências que sejam pertença de cada um dos
espectadores, dos visitantes. O espaço da galeria é pontuado, estabelecendo-
se uma espécie de partitura, cumprida através de uma “notação” peculiar que
também se poderia subsumar enquanto cartográfica. Expandindo a ideia um
pouco mais, seria algo próximo a um “Atlas de Emoções” (vide Giuliana Bruno),
alguns ou tantos mapeamentos individuais a serem inventadas pelo público
para seu bel-prazer.
Talvez e ainda, a sua maneira, Luís Nobre tenha providenciado algo com
afinidade à intenção considerada no livro Fra Mauro na Corte de Veneza do
séc. XVI:
“Ocorreu-me a ideia de fazer um mapa que desafiasse qualquer
categoria e género. Esse mapa conteria todos os mapas, um mapa
difícil de ser definido; devido a essa falta de definição, no entanto, esse
mapa seria em si uma definição mais precisa.” 5
5
James Cowan – O Sonho do Cartógrafo, Meditações de Fra Mauro na Corte de Veneza do séc. XVI,
Lisboa, Rocco, 2000
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É uma “substância uniforme, um magma de interiores”, no dizer de John
Ashbery.6 Que encontre sua razão agregadora no desenho. Afinal, é através do
traço que se pode fisicalizar em pintura ou corporalizar em escultura, uma
pessoalidade que se exacerbasse até desígnios supremos ou primordiais.
Assim, preside na sua instalação um espírito unificador e divergente ad
simultaneum, que ascende ao conceito de desenhos que, assim entendido
desde Francisco de Holanda, encontrou reflexo, séculos após, na acepção
conceptualizadora e experiencial das afirmações de Jan Fabre, quando este
assinala que:
J’ai découvert beaucoup de choses et j’ai pu
inculquer un peu de l’alchimie du dessin à mon
corps.
Où l’on voit que le dessin est un processus
physique.
Car on ne commence à le comprendre que
quand on l’a beaucoup pratiqué.7
6
Vide John Ashbery, Auto-retrato num espelho convexo e outros poemas, Lisboa, Relógio d’Água, 1995,
pp.167/171
7
Jan Fabre, Op.Cit.
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Ossip Mandelstam, Op.Cit., p.107
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Peças no Museu Soares dos Reis
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LUÍS NOBRE
Nasceu em Lisboa onde trabalha.
FORMAÇÃO ACADÉMICA:
1999 / 01- Licenciatura em Artes Plásticas, E.S.A.D.
1990 / 94- Bacharelato em artes Plásticas, ESAD. (Escola Superior De Arte e Design), Caldas
da Rainha
1994 - Frequência do curso de Formação Artística Avançada,
Aula do Risco, Lisboa.
EXPOSIÇÕES INDIVIDUAIS:
2010- Causa-Efeito, Museu de São Roque, Lisboa.
2008- Hold It! (com Eric Siu). Location 1, Nova York, EUA
2004 - Através da Distancia que Nos Separa, Pavilhão Branco. Museu da Cidade Lisboa
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EXPOSIÇÕES COLECTIVAS (Selecção):
2010- Artisterium, History Museu, Tbilissi, Georgia
Processo e Transfiguração, Casa da Cerca, Almada.
2008- Ponto de Vista, Fundação P.L.M.J. Lisboa
What Goes Up Must Come Down, Madam Lillies, Londres
Laboratorio III (Afectos), Quinta das Lágrimas, Coimbra
Laboratório II (Ocupação), Ministério das Finanças, Lisboa
Finisterra / Allgarve, Centro Cultural de S.Lourenço
Location 1 at Monkeytown, Monkeytown, Brooklyn. E.U.A.
2007- Fazer Falar O Desenho, Museu de Arte Contemporânea do Funchal
1st. International Biennial of Contemporary Art, Thessalonic. Grécia
The Uninterrupted Line, The Basement, Viena, Áustria
Disco Baroque, UTS Gallery. Sydney, Australia
Objecto Simulacro, Hospital Júlio de Matos, Lisboa
Cut and Past, Peloton Gallery, Sidney Australia
Debaixo do Tapete, Plataforma Revolver, Lisboa
2006- Urbanismo, Linhas e Contornos, Galeria 24B, Oeiras
- Laboratório I ( Terra), Tapada da Ajuda, Lisboa
- Year of the Dog, Ale & Porter Arts, Bradford. Reino Unido
-Ohh! Naturel. Madam Lillies, Londres. Reino Unido
-Natureza Morta. Galeria 7 /, Coimbra
-O Manicómio Dr. Heribaldo Raposo. Museu da Cidade, Lisboa
th
-5 International Biennial of Contemporary Art 2006, Gyumri. Arménia.
2005 –Cem Desenhos, Maus Hábitos, Porto
-Blue Screen, The Cube, Bristol. Inglaterra
-E=mc2, Museu da Ciência, Colégio das Artes. Coimbra
-A Extensão do Olhar, Centro de Artes de Coimbra
-O Contrato Social, Museu Bordalo Pinheiro, Lisboa
2004 - Oh Dear! Galeria Z.D.B. Lisboa
- Movimentos Perpétuos, Arte Para Carlos Paredes. Cordoaria Nacional, Lisboa
2003 - Prémio CELPA, (seleccionado) Museu Arpad Szenes-Vieira da Silva
Lisboa.
- Os Meus Cromos da Arte Contemporânea, Galeria ZDB,
Torre de Moncorvo, Câmara Municipal de Moncorvo.
2001- De Outros Espaços, Sala do Veado, Museu Nacional de
História Natural, Lisboa.
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- Paisagem? Armazém 7, Lisboa
- Free Ingress, Establishing a Scenario , Galeria Municipal
de Budapeste, Hungria.
2000 - Sister Spaces, Southern Exposure., S. Francisco, E.U.A.
- Emergências, Fábrica da Pólvora – Lugar Comum, Oeiras.
- Caldas da Rainha Arte Contemporânea, Pavilhões do Parque
D. Carlos I, Caldas da Rainha.
- Alquimias, Convento de S. Francisco. Coimbra.
1999 - V Bienal de Jovens Criadores (Clube Português de Artes e Ideias)
Tribunal de Braga.
- Nonstopopenning, Galeria Z.D.B. Lisboa.
1998 - Art Attack, Galeria Z.D.B. Lisboa.
1996 - Sete Artistas ao Décimo Mês, Fundação Calouste Gulbenkian
Lisboa.
RESIDÉNCIAS E WORKSHOPS
2008- Location 1, Nova York, EUA
2007- Hweilan International Artists Workshop, Taiwan
2006- Dreams or Ilusions, V Biennial of Contemporary Art, Gyumry, Armenia.
2005- Spike Island, Bristol. Reino Unido
2001- Establishing a Scenario, (Germination XIII) Budapest Gallery. Hungria
COLECÇÕES (Selecção):
Museu José Malhoa; PCR; P.L.M.J.; Fundação Ilídio Pinho ; Budapest Gallery;
Caixa Geral de Depósitos e em várias colecções privadas.
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4050-625 Porto
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