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Casa das Minas - O Espaço e o Culto

Sergio Ferretti1

A Casa das Minas localiza-se à Rua de São Pantaleão 857, próximo à igreja do
mesmo nome, cuja construção se iniciou em fins do século XVIII e da Santa Casa de
Misericórdia, construída na mesma época (Brasil, 1979).
Em meados do século XIX, foi fundado na mesma área, em 1855, o Cemitério
do Gavião, onde antes ficava a Chácara ou Sítio do Gavião (Marques, 1970), a região
que fica próxima, hoje denominada de Bairro da Madre de Deus, contíguo ao bairro
de São Pantaleão, onde no passado moravam muitos pescadores, estivadores,
operários de fábricas de tecidos e outras camadas populares . É ainda hoje um bairro
de poetas, boêmios, carnavalescos, terreiros e com sede de muitos grupos folclóricos,
mas que aos poucos vai sendo invadido pela especulação imobiliária e por clínicas
médicas.
A planta do prédio em que funciona a Casa. possui semelhanças com a dos
tradicionais “compounds” da Nigéria e da África Ocidental (Cunha, 1985), que
formam as letras “L” ou “U”. O pátio do quintal, que se aproxima da forma de planta
em “U”, é preenchido por densa vegetação local, em que se destacam algumas árvores
sagradas para o culto como, o grande pé de cajazeira2, os pés de ginjas e o pé de
pinhão branco, que se confundem com outras plantas locais, como crótons, pés de
cuinha, de maravilha e com árvores frutíferas, como pé de pitanga, carambola, goiaba
e muitas outras árvores e plantas da vegetação local. Muitas das folhagens destas
plantas possuem efeitos medicinais e são utilizadas nos banhos de cheiro e amansis
que são importantes elementos do culto. Assim o quintal da casa é como que um
pedaço da floresta sagrada, típico da região da África Ocidental de onde procede este
culto. Este pátio é local onde são realizados determinados rituais públicos ou
privados. É aí que, todos os anos em maio ou junho, se ergue o mastro que assinala o
período de realização da Festa do Divino e são realizadas outras festas.

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Dr. em Antropologia, Professor da UFMA, e.mail: ferrettisf@gmail.com
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Dizem as mais velhas que na época da fundação, teriam plantado um pé de gameleira, que durou
pouco e não se adaptou ao clima local. Foi substituído pela cajazeira, mais comum na região, havendo
até hoje, perto de lá a Rua das Cajazeiras, onde, pelo nome deduz-se que haviam no bairro outras
árvores desta espécie, cujas folhas, todo ano caem e renascem.
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Por exigências do culto a Casa possui várias partes com chão em terra batida,
como o “come” ou quarto dos santos, a “guma” ou varanda de danças, a cozinha onde
se acende o fogo para o preparo de alimentos rituais, sempre feito com fogo de lenha
no chão, aceso entre três pedras grandes ou tacurubas. Cada parte da Casa é destinada
a famílias específicas das entidades africanas cultuadas e por isso mesmo a Casa é um
templo sendo todos os seus espaços considerados sagrados pelos membros do grupo
de culto.
Os ritos públicos são realizados sob a forma de festas que ocorrem em
determinados dias do calendário, relacionados com o culto a santos católicos. A
maioria das festas é precedida por uma ladainha cantada em latim diante do altar
católico e seguida de outros cânticos de santos e cânticos africanos. Os toques são
realizados na “guma”, ou varanda e só podem participar das danças os voduns que são
possuídos pelas “vodunsis” ou filhas-de-santo. Anualmente são realizadas cerca de
uma dezena de festas públicas, apesar do número, atualmente reduzido de
participantes do culto. Desde cerca de vinte anos, numa das dependências da Casa,
funciona uma Escolinha de Jardim de Infância.

Bibliografia

BRASIL, Ministério do Interior. Fundação Projeto Rondon.. Monumentos Históricos


do Maranhão. São Luís: SIOGE, 1979.
CUNHA, Mariano Carneiro da. Da Senzala ao Sobrado. Arquitetura. Brasileira na
Nigéria e na República do Benin. Introdução de Manuela Carneiro da Cunha.
São Paulo; NOBEL/EDUSP, 1985.
FERRETTI, Sergio F. Querebentã de Zomadonu. Etnografia da Casa das Minas.
São Luís: EDUFMA, 1996, 2ª Ed. Revista. (Original, 1985).
_________. Repensando o Sincretismo. São Paulo/São Luís: EDUSP/FAPEMA,
1995.
MARQUES, Augusto César. Dicionário Histórico e Geográfico da Província do
Maranhão. Rio de Janeiro: Ed. Fon-Fon e Seleta, 1970, Col. São Luís, 3.
(Original, 1870).

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