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DOI: 10.1590/1413-812320152011.

00592014 3339

Barreiras percebidas à prática de atividades físicas no lazer

artigo article
e fatores associados em adolescentes

Perceived barriers to leisure-time physical activity


and associated factors in adolescents

Douglas Fernando Dias 1


Mathias Roberto Loch 2
Enio Ricardo Vaz Ronque 2

Abstract The objective of this study was to identify Resumo O objetivo deste estudo foi identificar a
the prevalence of perceived barriers to leisure-time prevalência das barreiras percebidas à prática de
physical activity in teenagers and to examine the atividade física no lazer de adolescentes, bem como
possible association of these barriers with lei- analisar a possível associação das mesmas com a
sure-time physical inactivity. This cross-sectional inatividade física no lazer. Este estudo transversal
study was conducted in 2011 and a representative foi conduzido em 2011 e selecionou, por meio de
sample of 1,409 high school students from public múltiplos estágios, uma amostra representativa de
schools in the city of Londrina/Paraná was selected 1.409 estudantes do ensino médio de escolas públi-
through multistage sampling. For data collection, cas do município de Londrina/PR. Os adolescentes
the adolescents completed a questionnaire. The re- responderam um questionário para coleta de da-
lationship between leisure-time physical inactivity dos. A relação entre inatividade física no lazer (<
(<300 minutes/week) and perceived barriers was 300 minutos/semana) e barreiras percebidas foi
analyzed by calculating the prevalence ratio (PR) analisada mediante o cálculo da razão de preva-
in Poisson regression models. “Lack of friends com- lência (RP) em modelos de regressão de Poisson.
pany” was the most prevalent barrier for both girls “Falta de companhia” foi a barreira mais pre-
(75.8%) and boys (58.7%). “Feel lazy” for girls valente para moças (75,8%) e rapazes (58,7%).
(PR: 1.21; CI 95%: 1.08 to 1.36) and “prefer to “Preguiça” para as moças (RP: 1,21; IC95%:
do other things” for the boys (PR: 1.48; CI 95%: 1,08-1,36) e “preferência por outras atividades”
1.01 to 2.15) were the barriers most strongly as- para os rapazes (RP: 1,48; IC95%: 1,01-2,15),
sociated with leisure-time physical inactivity. For foram as barreiras mais fortemente associadas à
both genders, a strong dose-response relationship inatividade física no lazer. Para ambos os gêneros,
was observed between the number of perceived foi observada forte relação de dose-resposta entre
barriers and leisure-time physical inactivity. The número de barreiras percebidas e inatividade físi-
1
Programa de Pós- perception of barriers was associated with a high- ca no lazer. A percepção de barreiras foi associada
Graduação em Saúde er prevalence of leisure-time physical inactivity in à maior prevalência de inatividade física no lazer
Coletiva, Universidade
adolescents and should therefore be considered in em adolescentes e deve, portanto, ser considerada
Estadual de Londrina
(UEL). Av. Robert Koch actions for promoting physical activity in this pop- em ações de promoção de atividade física nessa
60, Vila Operária. 86038- ulation. população.
350 Londrina PR Brasil.
Key words Motor activity, Adolescent health, Risk Palavras-chave Atividade motora, Saúde do
df.dias@yahoo.com.br
2
Departamento de factors adolescente, Fatores de risco
Educação Física, UEL.
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Dias DF et al.

Introdução lazer em adolescentes11-13, portanto quanto maior


o número de barreiras percebidas pelos jovens,
As doenças crônicas não transmissíveis são as menor será a probabilidade de engajamento em
principais causas de morbimortalidade no Brasil níveis adequados de atividade física em tal do-
e tendem a afetar negativamente a qualidade de mínio. Todavia, é importante considerar que
vida da população1. Visando o enfrentamento das a maioria das pesquisas foram conduzidas em
mesmas, o Ministério da Saúde tem implementado países desenvolvidos, as quais podem não ser ge-
algumas políticas, tais como o Plano de Ações Es- neralizáveis para o contexto brasileiro, por conta
tratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crô- das diferenças socioculturais, no ambiente físico,
nicas não Transmissíveis no Brasil 2011-2022, cujo nas políticas públicas, dentre outras.
um dos seus objetivos diz respeito à prevenção e a No Brasil foram encontrados seis estudos ob-
diminuição da inatividade física, que é considera- servacionais do tipo transversal sobre barreiras
da um fator de risco modificável para quatro dos percebidas à prática de atividade física no lazer
principais grupos de doenças (circulatórias, can- em adolescentes14-19. Com relação aos resultados,
cerígenas, respiratórias crônicas e diabetes)2. Essa a prevalência variou amplamente entre essas in-
atenção dada à atividade física por parte do Minis- vestigações, o que dificulta a tentativa de apre-
tério da Saúde é justificável quando se considera sentar uma síntese das barreiras mais prevalentes.
que mais da metade da população brasileira acima Por exemplo, falta de companhia foi reportada
dos 14 anos de idade não realiza tal prática3 que, por 9,4% e 48,7% das moças de São Paulo/SP14
além de estar associada com benefícios à saúde2, e Curitiba/PR16, respectivamente. Desses seis es-
é reconhecida como um direito fundamental de tudos, um investigou a associação das barreiras
todos4, por conta de seu potencial de influenciar percebidas à prática de atividade física no lazer
valores importantes para a vida em sociedade. com a inatividade física habitual16, e outro com a
Apesar das doenças crônicas não transmissí- de lazer17. Em ambos os trabalhos, a presença das
veis associadas à inatividade física normalmente barreiras preguiça, falta de tempo e clima des-
se manifestarem ao longo da vida adulta, o seu favorável foram associadas a maior prevalência
desenvolvimento parece ter início ainda na in- dos desfechos analisados. Embora esses achados
fância e adolescência5. Assim, recomenda-se que possam contribuir para o desenvolvimento de
crianças e adolescentes acumulem diariamente, ações de promoção da atividade física, algumas
pelo menos, 60 minutos de atividade física, pre- considerações devem ser realizadas: a) a evidên-
dominantemente aeróbica, de intensidade mode- cia oriunda de tais estudos ainda pode ser con-
rada a vigorosa6. Contudo, a Pesquisa Nacional siderada incipiente diante da grande diversidade
de Saúde do Escolar (PeNSE) apontou que mais cultural, social e ambiental do Brasil; e b) alguns
de 50% dos adolescentes brasileiros não atingi- trabalhos utilizaram instrumentos que não fo-
ram a quantidade mínima recomendada de ati- ram validados para adolescentes17-19, adaptados a
vidade física7. partir de questionários desenvolvidos para adul-
Diante do elevado número de jovens que não tos17,19 e/ou com pouca representatividade em re-
atendem às recomendações no Brasil, identifi- lação à população geral de adolescentes14,15,18.
car os fatores associados à atividade física pode Considerando o que foi apresentado, identifi-
contribuir para o desenvolvimento de ações que car a magnitude com que certas barreiras perce-
visam reverter esse quadro8. Entre os diversos fa- bidas estão associadas à inatividade física no la-
tores que podem influenciar o melhor entendi- zer em adolescentes brasileiros, contribuirá tanto
mento desta situação está a melhor compreensão para ampliar o conhecimento sobre essa questão
das barreiras percebidas para a prática de ativi- quanto para que ações mais específicas possam
dade física. Este tema vem ganhando atenção nas ser elaboradas, buscando remover ou reduzir as
investigações no contexto dos estudos sobre fato- barreiras identificadas e, por consequência, au-
res determinantes e relacionados a este compor- mentar a efetividade das intervenções e políti-
tamento. A barreira é um constructo derivado do cas públicas de promoção da atividade física de
Modelo de Crença na Saúde e pode ser entendida lazer envolvendo jovens. Assim, este estudo teve
como aspectos que dificultam ou impedem a re- dois objetivos: a) identificar as mais prevalentes
alização de um comportamento que possui rela- barreiras percebidas à prática de atividade física
ção com a saúde, sobretudo, se ela ultrapassa os no lazer entre moças e rapazes de Londrina, Pa-
benefícios percebidos9,10. raná; e b) investigar a possível associação entre
Pesquisas têm apontado que as barreiras pos- tais barreiras e inatividade física no lazer nessa
suem associação inversa com a atividade física de mesma população.
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Métodos Curitiba, Paraná. O instrumento avalia 12 bar-
reiras, a saber: “falta de locais”, “não conheço lu-
Amostra gares”, “amigos moram longe”, “não tem alguém
para levar”, “clima”, “preferência por outras ativi-
Este estudo transversal foi conduzido no pri- dades”, “preguiça”, “falta de motivação”, “muitas
meiro semestre de 2011, com uma amostra re- tarefas”, “falta de tempo”, “falta de companhia” e
presentativa da população de 14.258 adolescentes “em casa ninguém faz”. Cada item do instrumen-
matriculados no ensino médio de escolas públi- to possui quatro opções de resposta: Discordo
cas localizadas no perímetro urbano do municí- muito, Discordo, Concordo e Concordo muito.
pio de Londrina, Paraná. Os adolescentes foram classificados de acordo
Para o cálculo do tamanho da amostra para com a ausência (Discordo muito ou Discordo)
prevalência foi utilizado um tamanho populacio- ou presença (Concordo ou Concordo muito) de
nal de 14.258 estudantes, prevalência estimada de cada barreira.
inatividade física no lazer de 50% e erro amostral A atividade física no lazer foi avaliada pela
tolerável de cinco pontos percentuais. Para o cál- seção quatro do questionário internacional de
culo da associação foi usada uma relação de oito atividade física versão longa21. Esta seção possui
para um entre não expostos e expostos às bar- seis questões que englobam a quantidade de dias,
reiras, o percentual esperado de inatividade físi- bem como o tempo diário gasto em atividades
ca no lazer entre os não expostos foi de 85%, ao físicas de recreação, esporte, exercício e de lazer,
passo que entre os expostos esse valor foi de 95%. realizadas nos prévios sete dias da aplicação do
Tanto para prevalência, quanto para associação, instrumento. As atividades físicas praticadas nas
foi adotado nível de confiança de 95%, poder de aulas de Educação Física foram desconsideradas.
80% e efeito do desenho de 1,5. Os parâmetros O escore de atividade física no lazer foi estabele-
utilizados para o cálculo foram baseados nos re- cido com base no tempo despendido em cami-
sultados de prévios estudos sobre barreiras à ati- nhada e atividades moderadas. Além disso, foi
vidade física em adolescentes brasileiros14,16. adicionado o tempo gasto em atividades vigoras
Para estimar a prevalência das barreiras à multiplicado por dois. Para fins operacionais de
prática de atividade física foram necessários 561 análise, foram considerados inativos no lazer
sujeitos. Entretanto, para examinar a associação aqueles que apresentaram escore < 300 minutos
entre barreiras e inatividade física no lazer foram de atividade física por semana.
necessários 1.323 indivíduos, valor este que foi Além das variáveis perceptivas e comporta-
adotado como referência para o presente estudo. mentais descritas acima, também foram cole-
Para obtenção da amostra foi realizada uma tados os seguintes fatores: a) gênero (feminino;
amostragem por conglomerados em múltiplos masculino); b) idade em anos, que posterior-
estágios. Inicialmente, a unidade amostral adota- mente foi usada para criar a variável faixa etá-
da foi a escola, de modo que entre as 42 da cida- ria (de 14 a 15 anos; de 16 a 17 anos; de 18 a 19
de, foram sorteadas duas de cada uma das cinco anos); c) turno de estudo (matutino; noturno);
regiões geográficas (Centro, Leste, Norte, Oeste d) grau de instrução do responsável pelo adoles-
e Sul), totalizando assim 10 escolas. Em segui- cente que foi usada para criar a escolaridade do
da, dentre as 99 turmas de ensino médio das 10 responsável (fundamental; médio; superior); e)
escolas, foram sorteadas 60, respeitando as pro- cor de pele (amarela; branca; parda/mulata; pre-
porções de alunos por turno de estudo e região ta; indígena); e f) estatura e massa corporal au-
geográfica da cidade. Finalmente, todos os alunos torreferidas, as quais foram usadas para calcular
das 60 turmas sorteadas, na faixa etária dos 14 o índice de massa corporal em kg/m2 segundo os
aos 19 anos, foram convidados a participar do es- valores críticos de referência específicos para sexo
tudo. Todas as informações utilizadas no referido e idade proposto por Cole et al.22 (eutrofia; sobre-
processo de amostragem foram fornecidas pelo peso/obesidade). Em todas as análises, as variá-
Núcleo Regional de Educação de Londrina. veis e suas respetivas categorias, foram tratadas
exatamente como apresentadas neste parágrafo.
Instrumento Com o objetivo de testar a reprodutibilida-
de das questões do instrumento foi realizado
A avaliação das barreiras percebidas à prática um estudo piloto. Participaram 57 adolescentes
de atividade física no lazer foi realizada por meio oriundos de uma turma do período matutino e
de um instrumento desenvolvido e validado por outra do noturno, sendo ambas compostas por
Santos et al.20, com adolescentes da cidade de alunos do primeiro ano do ensino médio de es-
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Dias DF et al.

colas públicas de Londrina, Paraná. A aplicação é viamente elaborado, sendo construído um para
reaplicação do teste, e ocorreu em um intervalo rapazes e outro para moças. O primeiro nível de
de cinco dias. Os resultados da reprodutibilidade influência incluiu escolaridade do responsável,
referente às variáveis categóricas apresentaram faixa etária e cor de pele; o segundo nível incluiu
concordância, variando entre moderada e perfei- índice de massa corporal e turno de estudo; to-
ta, segundo o índice Kappa: falta de locais (0,94), das as barreiras percebidas foram abarcadas no
amigos moram longe (0,90), em casa ninguém faz terceiro nível. As variáveis somente entravam no
(0,88), preferência por outras atividades (0,81), nível seguinte quando tinham p ≤ 0,10 e, além
muitas tarefas (0,81), não conheço lugares (0,78), disso, uma vez atendido tal critério estatístico, a
preguiça (0,77), falta de companhia (0,75), falta variável foi mantida até o último modelo. Dessa
de tempo (0,69), clima (0,67), falta de motivação forma, o modelo final dos rapazes incluiu escola-
(0,64), não tem alguém para levar (0,56), inati- ridade do responsável e as barreiras: falta de lo-
vidade física no lazer (0,75), cor de pele (1,0) e cal, clima, preferência por outras atividades, pre-
escolaridade do responsável (1,0). Com relação guiça, falta de motivação e falta de companhia.
às variáveis numéricas, o Coeficiente de Correla- Já o modelo das moças incluiu escolaridade do
ção Intraclasse encontrou correlações adequadas: responsável, turno de estudo e as barreiras: não
estatura (0,97) e peso (0,99). conheço lugares, amigos moram longe, preferên-
cia por outras atividades, preguiça, falta de mo-
Coleta de dados e questões éticas tivação e muitas tarefas. O nível de significância
adotado para testar a associação entre inativida-
Um profissional de Educação Física, com ex- de física no lazer e barreiras percebidas foi de 5%.
periência em coleta de dados, aplicou o questio- Por conta do delineamento amostral complexo,
nário de maneira dirigida nas salas. A aplicação os comandos de survey (svy) do software Stata
do instrumento ocupou de 20 a 25 minutos da 9.0 foram empregados.
aula. Visando reduzir a quantidade de dados per-
didos por conta do preenchimento equivocado
por parte dos escolares (por exemplo, respostas Resultados
em branco ou questões com duas respostas assi-
naladas), após o término da aplicação o entrevis- Dentre as 60 turmas de ensino médio da rede
tador permanecia o restante da aula na sala con- pública de ensino visitadas, 1.476 estudantes fo-
ferindo as respostas, de modo que os estudantes ram convidados para a pesquisa. Sessenta e sete
que deixaram de responder ou responderam escolares se recusaram a participar do estudo e/
equivocadamente alguma questão eram convida- ou não apresentaram o termo de consentimento.
dos para fazer a correção. Assim, a amostra final foi composta por 1.409 su-
Todos os sujeitos apresentaram o termo de jeitos (taxa de perdas = 4,5%).
consentimento livre e esclarecido assinado pelo Dos 1.409 entrevistados, a maioria foi do
responsável ou pelo próprio estudante quando o gênero feminino (54,9%), a média de idade foi
mesmo possuía 18 anos ou mais de idade. Este de 16,1 ± 0,5 anos, para os rapazes, e 15,9 ± 0,4
estudo é parte de um projeto maior que foi apro- anos, para as moças; 63,4% dos rapazes e 68,9%
vado pelo Comitê de Ética em Pesquisa envolven- das moças estudavam no turno matutino, a
do seres humanos da Universidade Estadual de maior parte foi classificada como eutrófica (ra-
Londrina. pazes: 74,7%, moças: 86,2%); e 79,0% dos rapa-
zes e 80,3% das moças reportaram que o chefe
Tabulação e análise dos dados da família possuía escolaridade inferior a nível
superior completo. Com relação à atividade físi-
Os dados foram digitados usando o progra- ca, a proporção de moças que praticavam menos
ma Epi-Info. Para a análise descritiva foi usada a de 300 minutos de atividade física no lazer por
distribuição de frequências absoluta e relativa, ao semana foi superior a dos rapazes (80,8% contra
passo que para a análise bivariada utilizou-se o 48,9%; p < 0,001).
teste do qui-quadrado para a heterogeneidade ou A Tabela 1 apresenta a prevalência de todas as
tendência linear. As razões de prevalência bruta barreiras percebidas à pratica de atividade física
e multivariável foram obtidas mediante a regres- no lazer segundo o gênero. Exceto para “não co-
são de Poisson, com ajuste robusto de variância. nheço lugares” e “falta de tempo”, houve diferen-
Conforme sugerido pela literatura23, a análise ça estatisticamente significante na proporção de
multivariável seguiu um modelo conceitual pre- todas as barreiras percebidas entre moças e rapa-
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zes, com a prevalência sendo superior no gênero panhia (75,8%) também foi a mais prevalente,
feminino em todas as comparações. Entre os ra- contudo a segunda e a terceira mais reportadas
pazes, somente uma das 12 barreiras investigadas foram: preferência por outras atividades (64,1%)
apresentou prevalência superior a 50%. Entre as e clima (54,9%), respectivamente.
moças, cinco barreiras foram superiores a esse A Tabela 2 apresenta a prevalência das barrei-
mesmo valor. As três barreiras mais prevalentes ras percebidas à prática de atividade física no la-
entre o gênero masculino foram: falta de com- zer, estratificada por faixa etária, estado nutricio-
panhia (58,7%), falta de tempo (43,7%) e muitas nal e escolaridade do responsável. É importante
tarefas (39,8%). Dentre as moças, falta de com- ressaltar que, das doze barreiras investigadas,

Tabela 1. Prevalência das barreiras percebidas à prática de atividade física no lazer de acordo com o gênero.
Londrina, PR, Brasil, 2011.
Barreiras % total % rapazes % moças p
Psicológica, cognitiva e emocional
Preferência por outras atividades 51,3 35,8 64,1 < 0,001
Preguiça 40,9 25,8 53,2 < 0,001
Falta de motivação 33,5 25,1 40,5 0,002
Organização Pessoal
Falta de tempo 46,5 43,7 48,8 0,10
Muitas tarefas 46,0 39,8 51,2 < 0,001
Social e cultural
Falta de companhia 68,1 58,7 75,8 < 0,001
Em casa ninguém faz 34,3 28,8 38,8 0,003
Amigos moram longe 29,3 24,3 33,3 0,003
Não tem alguém para levar 20,2 15,9 23,6 0,01
Ambiente físico
Clima 45,1 33,2 54,9 < 0,001
Falta de locais 39,8 33,5 45,0 0,01
Não conheço lugares 26,3 24,0 28,2 0,11

Tabela 2. Prevalência das barreiras percebidas à prática de atividade física no lazer, segundo faixa etária, estado
nutricional e escolaridade do responsável. Análise estratificada entre gênero masculino (Masc) e Feminino (Fem).
Londrina, PR, Brasil, 2011.

Ambiente físico Social e cultural Organização pessoal


Amigos Em casa
Falta de Não conheço moram ninguém Falta de Muitas
locais (%) lugares (%) longe (%) faz (%) tempo (%) tarefas (%)
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
Faixa etária 0,55 0,09 0,30 0,004 0,04 0,01 0,43 0,09 0,02 0,003 0,21 0,30
De 14 a 15 anos 35,3 40,3 25,4 21,7 21,8 35,3 25,4 38,9 32,5 38,3 34,5 46,5
De 16 a 17 anos 33,7 46,7 24,6 31,4 27,2 30,1 30,1 36,4 46,7 53,3 40,3 54,0
De 18 a 19 anos 28,3 54,6 17,6 35,4 17,8 45,0 31,3 53,4 57,0 65,5 50,3 53,4
Estado nutricional 0,70 0,84 0,65 0,09 0,80 0,77 0,95 0,90 0,68 0,21 0,33 0,02
Sobrepeso/obesidade 31,5 44,4 21,8 24,5 25,5 31,8 29,0 38,5 42,6 56,8 37,9 64,3
Eutrófico 34,2 45,1 24,7 28,8 24,0 33,5 28,8 38,8 44,0 47,5 40,4 49,1
Escolaridade do responsável 0,04 0,04 0,06 0,23 0,15 0,45 0,01 0,01 0,47 0,38 0,31 0,40
Fundamental 36,0 50,6 26,1 31,7 20,7 34,6 37,6 47,0 46,2 51,7 36,7 54,6
Médio 34,3 43,4 25,8 26,4 26,6 30,8 27,8 36,1 41,5 45,1 41,8 48,3
Superior 27,3 37,2 16,5 27,8 26,7 36,0 14,5 28,3 43,1 50,7 41,7 50,4
Nota: os números em itálico são os valores-p.
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seis (Preferência por outras atividades, Pregui- rando os rapazes, observou-se, na análise bruta,
ça, Falta de motivação, Clima, Não tem alguém associação de todas as 12 barreiras com a inativi-
para levar e Falta de companhia) foram retiradas dade física no lazer. Após o ajuste, sete barreiras
unicamente da Tabela 2, por não apresentarem mantiveram-se associadas: preferência por ou-
associação significante com nenhuma das três tras atividades (RP = 1,48), preguiça (RP = 1,42),
variáveis independentes investigadas nessa tabela falta de locais (RP = 1,34), falta de motivação (RP
(Faixa etária, Estado nutricional e Escolaridade = 1,32), muitas tarefas (RP = 1,31), clima (RP =
do responsável). Nas moças, observou-se que a 1,31) e falta de tempo (RP = 1,26). Com relação
faixa etária foi associada às seguintes barreiras: às moças, oito barreiras apresentaram associação
“não conhecer lugares”, “amigos moram longe” na análise bruta. Após o ajuste, seis se mantive-
e “falta de tempo”. Em todos os casos, a maior ram associadas ao desfecho estudado: preguiça
prevalência destas barreiras foi observada entre (RP = 1,21), preferência por outras atividades
o grupo etário mais velho (18-19 anos). Já nos (RP = 1,16), não conheço lugares (RP = 1,14),
rapazes, apenas as barreiras “amigos moram lon- muitas tarefas (RP = 1,12), falta de motivação
ge” e “falta de tempo” estiveram associadas à faixa (RP = 1,09) e amigos moram longe (RP = 1,07).
etária. No caso de “amigos moram longe”, o gru- No Gráfico 1 observa-se que a prevalência de
po da faixa etária intermediária (16-17 anos) foi inatividade física no lazer, em ambos os gêneros,
o com maior prevalência dessa barreira. Já a bar- apresentou relação positiva com o número de
reira “falta de tempo” foi mais prevalente entre os barreiras percebidas. A prevalência de inativida-
mais velhos (18-19 anos). Com relação ao estado de física no lazer entre os que perceberam seis ou
nutricional, nenhuma associação foi encontrada mais barreiras foi 7,83 e 6,53 vezes superior para
com as barreiras entre os rapazes. Entre as mo- rapazes e moças, respectivamente, quando com-
ças, a barreira “muitas tarefas” esteve associada, parados aos seus pares que não referiram nenhu-
sendo que a sua ocorrência foi superior nas es- ma barreira.
colares com excesso de peso. Quanto à escolari-
dade do responsável, observou-se associação em
ambos os gêneros nas variáveis “falta de locais” e Discussão
“em casa ninguém faz”. Nestes casos, adolescentes
cujos responsáveis tinham menor escolaridade Este estudo identificou elevada prevalência de
reportaram maior prevalência destas barreiras. barreiras à prática de atividade física no lazer
As Tabelas 3 e 4 apresentam as razões de pre- em uma amostra representativa de estudantes
valência, brutas e ajustadas, da inatividade física de ensino médio de escolas públicas, sendo “falta
no lazer de acordo com as barreiras percebidas, de companhia” e “não tem alguém para levar” as
respectivamente para rapazes e moças. Conside- barreiras com maior e menor prevalência, respec-

Tabela 3. Razões de prevalência, brutas e ajustadas, de inatividade física no lazer de acordo com as barreiras
percebidas entre os rapazes (n = 624). Londrina, PR, Brasil, 2011.

Bruta Ajustadaa
Barreira
RPb (IC95%)c p RP (IC95%) p
Preferência por outras atividades 2,06 (1,48-2,88) 0,003 1,48 (1,01-2,15) 0,05
Preguiça 2,11 (1,91-2,34) < 0,001 1,42 (1,01-1,98) 0,05
Falta de locais 1,63 (1,24-2,14) 0,01 1,34 (1,06-1,69) 0,02
Falta de motivação 1,93 (1,57-2,38) < 0,001 1,32 (1,02-1,72) 0,04
Muitas tarefas 1,55 (1,18-2,04) 0,01 1,31 (1,01-1,70) 0,05
Clima 1,54 (1,23-1,93) 0,004 1,31 (1,09-1,57) 0,01
Falta de tempo 1,43 (1,18-1,73) 0,01 1,26 (1,04-1,52) 0,03
Não tem alguém para levar 1,48 (1,08-2,01) 0,02 1,22 (0,94-1,58) 0,11
Amigos moram longe 1,46 (1,14-1,88) 0,01 1,14 (0,93-1,40) 0,15
Falta de companhia 1,39 (1,12-1,72) 0,01 1,11 (0,97-1,26) 0,09
Não conheço lugares 1,53 (1,17-2,01) 0,01 1,09 (0,89-1,35) 0,32
Em casa ninguém faz 1,53 (1,24-1,89) 0,003 0,99 (0,83-1,20) 0,95
a
Ajustada para escolaridade do responsável e barreiras. b RP = Razão de prevalência. c IC95% = Intervalo de confiança de 95%.
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Tabela 4. Razões de prevalência, brutas e ajustadas, de inatividade física no lazer de acordo com as barreiras
percebidas entre as moças (n = 785). Londrina, PR, Brasil, 2011.

Bruta Ajustadaa
Barreira
RPb (IC95%)c p RP (IC95%) p
Preguiça 1,30 (1,14-1,47) 0,003 1,21 (1,08-1,36) 0,01
Preferência por outras atividades 1,32 (1,19-1,46) 0,001 1,16 (1,06-1,27) 0,01
Não conheço lugares 1,13 (1,03-1,25) 0,02 1,14 (1,03-1,26) 0,02
Muitas tarefas 1,18 (1,05-1,32) 0,02 1,12 (1,02-1,24) 0,03
Falta de motivação 1,22 (1,12-1,33) 0,002 1,09 (1,00-1,19) 0,05
Amigos moram longe 1,10 (1,03-1,16) 0,01 1,07 (1,03-1,11) 0,01
Em casa ninguém faz 1,15 (1,09-1,22) 0,001 1,06 (0,99-1,13) 0,06
Falta de companhia 1,14 (1,02-1,28) 0,03 1,04 (0,94-1,15) 0,33
Falta de locais 1,07 (0,94-1,22) 0,22 1,03 (0,94-1,11) 0,48
Clima 1,07 (0,96-1,20) 0,17 1,00 (0,91-1,10) 0,95
Não tem alguém para levar 1,03 (0,90-1,19) 0,57 0,99 (0,84-1,16) 0,82
Falta de tempo 1,08 (0,96-1,22) 0,16 0,97 (0,89-1,06) 0,45
a
Ajustada para escolaridade do responsável, turno de estudo e barreiras. b RP = Razão de prevalência. c IC95% = Intervalo de
confiança de 95%.

100%
89%
896
82%
Percentagem de inatividade física no lazer

80% 77%

65%
75%
60% 69%

59%
Rapazes
40%
31% Moças
43%
26%

20%
21% 23%

11%
0%
0 1 2 3 4 5 ≥6
Número de barreiras percebidas

Gráfico 1. Prevalência de inatividade física no lazer segundo o número de barreiras percebidas (n = 1.409).
Londrina, PR, Brasil, 2011.

tivamente, para ambos os gêneros. Além disso, a das ao desfecho investigado em moças e rapazes.
não realização de 300 min/sem de atividade física Na comparação entre os gêneros, o resultado
no lazer esteve associada a barreiras percebidas deste trabalho está de acordo com a literatura16,19,
dos quatro domínios pesquisados, de modo que ao apontar que, de um modo geral, as barreiras
“preferência por outras atividades” e “preguiça” percebidas à prática de atividade física no lazer
foram as duas barreiras mais fortemente associa- são mais prevalentes entre as moças. Essa dife-
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Dias DF et al.

rença de percepção de barreiras entre os gêneros obstáculos para a prática de atividade física no
possui relevância prática por indicar que as ações lazer entre adolescentes. Considerando que esta
de promoção de atividade física no lazer para essa barreira apresentou associação positiva com fai-
população devem considerar que as meninas per- xa etária, é plausível supor que ela esteja relacio-
ceberão mais obstáculos (barreiras). Desse modo, nada com responsabilidades fora do horário es-
o desenvolvimento de estratégias diferenciadas colar, como: trabalho, cuidados despendidos com
entre os gêneros parece ser um caminho neces- atividades domésticas, preparação para a entrada
sário para que uma maior quantidade de ado- na universidade, e entrada no mercado de traba-
lescentes, sobretudo do gênero feminino, inicie a lho, dentre outras.
prática de atividade física em tal domínio. Ainda A “falta de local” foi inversamente associada
com relação à diferença na percepção de bar- com a escolaridade do responsável, indicando
reiras entre moças e rapazes, acredita-se que ela que os adolescentes de baixo nível socioeconômi-
possa ser produzida pela cultura e sociedade, que co podem apresentar mais dificuldade de prati-
criam sistemas simbólicos que naturalizam, des- car atividade física no período de lazer, por conta
de a infância, as atividades domésticas e o tem- da falta de espaços públicos adequados para este
peramento delicado como função e característica fim. Uma possível explicação para este achado é
feminina, enquanto que aos homens é atribuído a de que os jovens de família com maior poder
o papel de provedor da família e a personalidade aquisitivo, diante da insuficiência de locais públi-
agressiva24. Nesse sentido, políticas de igualdade cos, podem optar por espaços privados destina-
de gênero se fazem importantes. dos à prática esportiva/recreacional, ao passo que
Para ambos os gêneros a barreira mais repor- aqueles oriundos de famílias com menor renda
tada foi “falta de companhia”, resultado esse con- têm dificuldade para recorrer a esta segunda op-
dizente com a literatura. Uma investigação con- ção quando não possuem a primeira. Ademais,
duzida com adolescentes do município de Curi- os espaços públicos de maior porte tendem a
tiba, Paraná, apontou essa mesma barreira como estar localizados em regiões onde a população
a mais prevalente tanto para moças quanto para tem maior poder aquisitivo, o que pode inclu-
rapazes16. Além disso, este achado também está de sive indicar equidade inversa28,29. Ou seja, as po-
acordo com pesquisas qualitativas realizadas com líticas públicas, ao invés de focarem o princípio
adolescentes estadunidenses, nas quais os jovens da equidade e favorecerem as pessoas que mais
relataram que a opinião dos amigos possui influ- necessitam, acabam por privilegiar pessoas que
ência sobre a decisão de realizar atividade física teoricamente menos necessitariam dessas ações.
durante o lazer25,26. Dois aspectos merecem desta- Assim, este é um achado que merece atenção,
que neste resultado: o primeiro chama a atenção haja vista que a insuficiência de locais públicos
para a relevância do apoio social proveniente dos seguros, de qualidade e adequados à prática de
amigos sobre a prática de atividade física no lazer atividade física no lazer, pode estar contribuin-
nessa faixa etária. Esse aspecto parece ser justifi- do para o aumento das iniquidades em saúde na
cável, quando se considera que a adolescência é população investigada, por dificultar a prática de
uma fase na qual o jovem começa a ter alguma atividade física no lazer entre os jovens de menor
independência de sua família e passa a fortalecer nível socioeconômico. Adicionalmente, é impor-
o vínculo grupal com os amigos, de modo que a tante salientar que a acessibilidade a locais para
opinião dos integrantes desse novo grupo ganha prática de atividade física é reconhecida pela li-
relevância sobre as tomadas de decisões relacio- teratura com um importante facilitador deste
nadas a comportamentos de saúde27. O segundo comportamento29. Portanto, o fornecimento de
aspecto relevante sobre esse resultado é que ele um ambiente físico favorável para a prática de
indica que, na adolescência, as ações de promo- atividade física deve ser considerado para que o
ção de atividade física podem ser mais efetivas se enfrentamento das doenças crônicas não trans-
abordarem tanto o sujeito quanto a rede social missíveis seja mais efetivo.
em torno do mesmo. Independente do gênero e mesmo após a
“Falta de tempo” para prática de atividade fí- análise ajustada, as duas barreiras mais forte-
sica no lazer foi uma barreira reportada por qua- mente associadas à não realização de, ao menos,
se metade dos entrevistados de ambos os gêneros. 300 min/sem de atividade física no lazer foram
A sua elevada percepção entre adolescentes está “preferência por outras atividades” e “preguiça”.
de acordo com os resultados de pesquisas quan- Com relação à primeira barreira, é possível que
titativas12,16 e qualitativas25,26, nas quais a falta de a associação possa ser melhor explicada pelos re-
tempo foi apontada como um dos principais sultados de pesquisas qualitativas, as quais os en-
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trevistados reportaram que a vontade de praticar desenvolvido mediante grupos focais conduzidos
atividade física durante o lazer é superada pela com adolescentes brasileiros do mesmo Estado
preferência por atividades tecnológicas como: em que foi realizado este estudo20. Outro pon-
assistir televisão, brincar com jogos eletrônicos to positivo a ser destacado do estudo foi a baixa
no computador/videogame, navegar na internet perda amostral, a representatividade e o suficien-
e conversar ao telefone25,26. No que diz respeito à te tamanho da amostra, que permitiram maior
“preguiça”, acredita-se que, em alguma medida, confiança na extrapolação dos resultados para a
ela possa refletir um baixo grau de motivação população investigada.
para a prática de atividade física no lazer. Desta Apesar dos pontos positivos supracitados, al-
maneira, não surpreende a forte associação en- gumas considerações metodológicas devem ser
contrada entre essa barreira e o desfecho inves- realizadas. Primeiro, o delineamento transversal
tigado, uma vez que o modelo teórico proposto não permite estabelecer relação causal entre bar-
por Iso-Ahola e St. Clair30 parte da premissa que a reiras e inatividade física de lazer. Segundo, todas
motivação seja o principal e mais imediato deter- as medidas do estudo foram obtidas por meio de
minante de comportamentos humanos, como o questionário, o qual pode apresentar viés de res-
exercício físico. Do ponto de vista prático, a moti- posta. Todavia, o estudo piloto, conduzido com o
vação parece estar relacionada com prazer, assim, objetivo de testar a reprodutibilidade de todos os
algumas medidas podem ser tomadas para que os itens do instrumento, apresentou resultados com
adolescentes experimentem essa sensação, como, valores adequados para todas as variáveis. E, por
por exemplo, a oferta de uma ampla gama de op- último, este trabalho não avaliou os jovens que
ções de atividades, e que estas tenham significado estão fora do sistema de educação formal, bem
cultural, para que o jovem possa escolher aquela como os escolares da rede privada de ensino,
com a qual ele estabeleça maior afinidade e/ou os quais podem apresentar características dife-
que tenha maior relação com sua cultura. É im- renciadas em relação aos do ensino público. De
portante ter cautela ao examinar estes resultados qualquer modo, há de se considerar que a maior
referentes às barreiras “preguiça” e “preferência parte da população adolescente brasileira está
por outras atividades”, principalmente para não frequentando escolas, sendo que esta proporção
se responsabilizar o indivíduo e ignorar que a vem aumentando nos últimos anos31. Além do
prática ou não prática de atividade física no lazer mais, a quantidade de adolescentes brasileiros
depende de muitos fatores, que vão para além da matriculados na rede privada de ensino é bastan-
força de vontade e preferências dos sujeitos indi- te inferior à da pública31.
vidualmente. Neste estudo, observou-se forte e positiva re-
Mesmo apresentando elevada prevalência, lação de dose-resposta entre o número de barrei-
algumas barreiras não se associaram com o não ras percebidas e a inatividade física no lazer. Na
atendimento de 300min/sem de atividade física análise ajustada, verificou-se que, entre as moças,
no lazer. Essa falta de associação pode ser parcial- barreiras das quatro dimensões estudadas foram
mente explicada pela dificuldade em se detectar a apontadas como fatores associados à inatividade
magnitude com que dois fatores estão associados, física no lazer (psicológica, cognitiva e emocional;
quando a variável independente tem alta preva- social e cultural; ambiente físico; e organização
lência, como foi o caso, por exemplo, da barreira pessoal), ao passo que entre os meninos, barrei-
“falta de companhia”, cuja prevalência geral foi ras das três primeiras dimensões foram identifi-
de 68,1% nesta investigação. De qualquer modo, cadas como fatores associados ao mesmo agravo
faz-se importante considerar tanto a prevalência à saúde. Nessa perspectiva, facilitar a superação
de cada barreira quanto a magnitude da associa- das barreiras pode ser uma estratégia importante,
ção desta com a prática de atividade física. para o enfrentamento da inatividade física no la-
Um problema dos estudos sobre barreiras à zer em adolescentes enquanto problema de saúde
prática de atividade física em adolescentes é que pública. Além disso, ao identificar barreiras de di-
costuma-se avaliar as mesmas por meio de ins- versos domínios, este estudo reforça os modelos/
trumentos adaptados a partir da população adul- teorias32 que partem da premissa de que as ações
ta. Acredita-se que os trabalhos que fazem este de promoção da atividade física são mais efetivas
tipo de seleção correm o risco de avaliar barreiras quando possibilitam alterações em fatores de di-
que não são relevantes para a população estuda- ferentes domínios, tais como: intrapessoal, social,
da. Portanto, um ponto positivo desta pesquisa ambiente físico e políticas públicas. Intervenções
está no instrumento usado para avaliar as barrei- em fatores de múltiplas dimensões possuem alta
ras percebidas, visto que o mesmo foi validado e complexidade e exigem uma articulação multi-
3348
Dias DF et al.

setorial33. Portanto, acredita-se que setores como


o da saúde, educação, dentre outros, necessitam
dialogar, fortalecendo e aprimorando as iniciati-
vas já existentes e criando novas estratégias, no
sentido de promover a prática de atividade física
entre adolescentes. Especificamente com relação
ao setor saúde, ele pode exercer um importante
papel, sobretudo por já possuir algumas iniciati-
vas, tais como o Programa Saúde na Escola cujo
um dos objetivos é articulação entre a escola e a
rede básica de saúde.

Colaboradores

DF Dias trabalhou em todas as etapas da pesqui-


sa e do manuscrito; MR Loch e ERV Ronque tra-
balharam na revisão do manuscrito.
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Artigo apresentado em 09/05/2014


Aprovado em 06/05/2015
Versão final apresentada em 08/05/2015

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