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Piaget e a Epistemologia Genética, ainda hoje é um tema, que à partida, parece ambíguo.
Não é que na verdade o seja, mas o de a Epistemologia genética ser relacionada, por quem
nada ou pouco conhece acerca dela, com a Filosofia. A relação que é "criada" entre elas é
uma relação de pertença, quase com se a Epistemologia fosse um aparte da Filosofia. O
tema torna-se complexo devido a isso.
Piaget estava convencido que era necessária a formação filosófica ao cientista, e por
isso ele afirmava “O homem que não contactou com a filosofia está incuravelmente
incompleto.”[in "Ilusão ou Filosofia", Porto, 1976, pág.65]
A filosofia foi matriz de todas as ciências e continua, sem dúvida, a sê-lo, assim
como de muitas perspectivas que ainda não foram descobertas; mas só na medida em que
não se encerra noutros sistemas e não se considera conhecimento; ela é-o na medida em
que abre novas perspectivas e em que não compete ou é rival da ciência.
O problema de como o sujeito conhece é fundamental em filosofia. Piaget retoma-o,
revendo e discutindo o apriorismo de Kant.
O problema central de epistemologia é, com efeito, estabelecer se o conhecimento
se reduz a um puro registo pelo sujeito de dados já organizados independentemente dele
num mundo exterior (físico ou ideal), ou se o sujeito intervém activamente no
conhecimento e na organização dos objectos, como julgava Kant. Para Kant as relações de
causalidade eram devidas à dedução racional e as relações espacio-temporais à organização
interna das nossas percepções, sem que saibamos o que são os objectos independentemente
de nós.
Kant libertou-se definitivamente do “realismo” das aparências, para situar no
sujeito a fonte, não só da necessidade dedutiva, mas ainda das diversas estruturas (espaço,
tempo, causalidade, etc.) que constituem a objectividade em geral e que tornam, assim a
experiência possível. Descobriu portanto, o papel dos quadros a priori, e a possibilidade de
juízos sintéticos a priori; somando-se às simples ligações lógicas (ou juízos analíticos a
priori ) e susceptíveis de impor à percepção e à experiência, em geral, uma estrutura
compatível com a dedução matemática.
Talvez Kant tenha ido muito longe em tal direcção, talvez as suas estruturas a
priori tenham sido muito rígidas e mesmo a necessidade de a priori não corresponda a
quadros pré-estabelecidos, mas mesmo assim diz Piaget “ Kant inventou uma nova
maneira de pôr os problemas epistemológicos e dotou o sujeito que conhece ( o ipse
intellectus de Leibniz) com uma espessura e dimensões até aí desconhecidas.”["Lóguica et
connaissence seientifique", Paris - Encyclopédie de la Pleiade, 1967, pág.23]
Considerar as estruturas do pensamento como preformadas quer nos objectos
físicos, quer nos a priori do sujeito, a dificuldade reside em que se trata de dois termos
limites, cujas as propriedades se modificam à medida que pensamos atingi-las,
enriquecendo-se as primeiras e empobrecendo as segundas.
Para Kant, a coisa em si é incognoscível. O conhecimento só é possível pela
colaboração de estruturas existentes no sujeito antes da experiência. O objecto conhecido
resulta das estruturas a priori do sujeito envolvido no processo de conhecimento.
Kant cria aquilo a que se chama, um plano transcendental, que corresponde ás
estruturas que condicionam todo o conhecimento. Este plano distingue-se do da
sensibilidade, tentando Kant, com esta oposição, deixar bem claro que os nossos
conhecimentos não ocorrem pura e simplesmente por via sensorial.
Para Piaget, os nossos conhecimentos não provêm nem de sensação, nem de
percepção, isoladas; provêm da acção inteira da qual a percepção constitui somente a
função de sinalização.
Podemos concluir que, para Piaget, conhecer implica transformar. O próprio objecto
é resultado de um problema de conhecimento, não é um dado que existe, mas sim um dado
que se constrói. Tal como em Kant, existia um plano a priori que condiciona a própria
sensibilidade de conhecer o objecto, também em Piaget existe um plano que antecede
logicamente a operação do objecto – o plano motor.
“Sem dúvida que pode haver assimilação sem nova acomodação, quando a situação é a
mesma e quando só há que compreender coisas já conhecidas e imediatamente
assimiláveis e, naturalmente, pode haver assimilação com novas acomodações, em
situações não conhecidas até então.”
Piaget, in Inhelder, Garcia e Vonèche, op.at., pag.67
Conclusão:
Após a realização deste trabalho pode concluir-se, a inegável e importantíssima
contribuição de Piaget no campo da psicologia, todo o séc. XX foi dominado por ela. A
Epistemologia genética levou novas concepções sobre o desenvolvimento. Repudiando
filosofias e racionalistas, Piaget considera o desenvolvimento não como um
desenvolvimento orgânico em si mas como uma construção que depende do equilíbrio
organismo - meio. O desenvolvimento orgânico já não é visto separadamente das
aquisições, isto é, da construção de processos cognitivos.
Pode dizer-se que a teoria de Jean Piaget é estrutural/construtivista, uma vez que
evidencia a construção e organização de estruturas mentais ou processos cognitivos. É
também funcional/psicobiológia, por partir da adaptação orgânica e da adaptação
intelectual ao meio como condições funcionais para que haja uma organização das
estruturas cognitivas. São as estruturas cognitivas que permitem compreender, agir, pensar
e resolver problemas.
Referências