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15 DE N0VEMBRO DE 1889

PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA
Suely Reis de Queiroz

dia 15 de novembro de 1889 marca o advento


da República no Brasil, acontecimento que
representou uma mudança política radical,
pois, a partir de então, os governantes
seriam escolhidos em eleições e teriam
mandatos definidos.
Não foi fácil, contudo, a mudança e, para
ela, houve várias interpretações, minuciosa-
mente discutidas pela historiadora Maria de
Lourdes Janotti. Muitos contemporâneos, à semelhança do monar-
quista Eduardo Prado, consideraram-na apenas o "fhito de um levante
de soldados alheio à vontade do povo". Outros viram-na como uma
fatalidadehistórica,argumentandoqueoregimeimperial,enclausurado
em instituições tradicionais, condenara-se à substituição pelo novo: no
caso,aRepública.Outrosaíndaatribuíram-naàperseveranteatuaçãodo
gruporepublicano,quecompensavasuainexi)ressividadenuméricacom
oentusiasmodequempersegueumbeloideal.
Para os historiadores atuais, como Emí]ia Viotti da Costa, por
exemplo, o 15 de novembro está ligado às transformações económico-
sociais ocorridas ao longo do século xix, tendo sido possível devido
à conjugação de três forças: uma parcela do Exército, fazendeiros
do oeste paulista e representantes das camadas médias urbanas que
contaram com o desprestígio da Monarquia e o enfraquecimento das
oligarquias tradicionais.
Realmente, as transformações surgidas no século citado foram de
enorme importância e talvez as grandes responsáveis não só por uma
sociedade brasileira mais diversificada, mas também, indiretamente,
pelo desgaste da Monarquia. Isso porque o advento do capitalismo
industrial provocou mudanças na economia mundial que exigiram a
crescente participação do Brasil como exportador de bens primários.
Na ocasião, o mais importante produto do país era o café, que, a
partir de 1870, alcança as terras do oeste paulista, de alta lucratividade.
A dinamização acelerada dessa região contrasta vivamente com a
situação daquelas em franco declínio, pertencentes às oligarquias
detentoras do poder. Os proprietários das novas áreas adquiriam
riqueza e também novas aspirações: desejavam ter peso político
equivalente à força econômica que haviam adquirido e, desatendidos,
buscavam soluções, pensando até mesmo nas mais radicais.
Nãoeramosúnicos.Outrasforçassurgiamnaarenapolíticatrazidas
pelamodemizaçãoqueocorreapartirde1850.Ainterrupçãodotráfico
escravo liberou vultosos valores, investidos então em outros negócios
e empreendimentos, que, a par de várias inovações, se multiplicaram
continuamente. Criaram-se bancos e companhias de comércio,
estradas de ferro foram construídas, linhas telegráficas inauguradas,
serviços públicos dinamizados. Um surto de modernidade sacudia
então o país.
0 desenvolvimento material seria acompanhado pelo crescimento
das populações citadinas. Em consequência, surgem novas categorias
sociais, entre elas as chamadas camadas médias urbanas. Estas absorviam
rapidamenteasideiasligadasao"progresso"quecirculavamnaEuropa
e os jornais difindíam. Desse modo, abolicionismo, liberal-democracia
e repúzJ/!.cc] tornaram-se palavras de ordem para a parcela descontente
dessas camadas com as instituições monárquicas.
Não é à toa que muitos de seus membros apoiaram o Manifesto
Republicano surgido em 3 de dezembro de 1870 e a fundação do
Partido Republicano do Rio de Janeiro. Não é à toa ainda que os
paulistas, sobretudo os cafeicultores, se entusiasmaram com a
iniciativa, também criando o Partido Republicano Paulista.
Com o decorrer do tempo, um outro importante segmento
penetraria o espaço político, manifestando o seu descontentamento
com a situação vigente: o dos militares. Há longos anos, as forças
de terra, especialmente, acumulavam ressentimentos contra o
regime monárquico. Setores militares desvalorizados profissional e
socialmente culpavam o parlamentarismo e os políticos pela posição
secundária que ocupavam no lmpério. 0 ressentimento aumentou
após terem ganhado a Guerra do Paraguai, pois se queixavam de que
os governantes continuavam a não lhes dar o valor merecido.
A situação, portanto, era propícia a que aceitassem mais facilmente
uma mudança de regime, especialmente a jovem oficialidade, seduzida
pelas ideias positivistas de república.
A chamada "questão militar" - uma série de incidentes e
pronunciamentos através da imprensa de oficiais que reivindicavam
o direito de se manifestar publicamente sobre problemas políticos
e também da corporação, sendo punidos por isso - agrava a
animosidade. Os comandantes, entre os quais o de maior prestígio era
Deodoro da Fonseca, embora leais ao imperador, posicionaram-se a
favor dos "homens de farda". Em meio ao clima contestador, avultava
ainda o movimento abolicionista, que contrariava os interesses das
oligarquias tradicionais,
Enquanto isso, a insatisfação surgia também entre os que
apoiavam o sistema, cuja desintegração era contínua. No entanto,
como lembra o historiador Sérgio Buarque de Holanda, "os estadistas
da monarquia não se apercebiam senão lentamente dessa situação e
quando o fizeram já era tarde".
Tarde, porque os grupos civis republicanos, sem a força e coesão
necessárias para mudar o regime, procuram articular-se com os
militares. Nessa articulação, destacam-se, entre outros, o já então
tenente-coronel Benjamin Constant, Quintino Bocaiuva e Aristides
Lobo, e dela resultaria um encontro com Deodoro da Fonseca no dia 11
de novembro. 0 futuro Marechal sempre fóra fiel ao imperador -mas
também carregava mágoas em relação aos políticos do lmpério - e,
embora esquivo a princípio, acabou por declarar que nada mais se
poderia esperar da Monarquia.
Desse modo, ante os boatos de que ele e Benjamin constant seriam
presos, dirigiu-se no dia 15 à Praça da Aclamação, atual Praça da
República, para depor o ministério Ouro Preto. De tal ação surgiria a
proclamação da República, que, conforme nota a historiadora Wilma
Peres Costa, "marca a emergência das forças armadas como ator
político na história brasileira". Embora tenha tomado a forma de um
golpe de Estado, na verdade, resultou de um longo processo iniciado
na década de 1850 e acelerado a partir dos anos 1870, traduzindo um
descontentamento generalizado.
Éimportantelembrarquanto,atéhoje,ahistoriografia,sobretudo
de divulgação e de caráter didático, tendeu a valorizar um discurso
interessado em afirmar que o novo regime "foi acolhido em clima de
paz e harmonia nacionais".
No entanto, os primeiros dez anos republicanos foram de grande
instabilidade política, pois as forças momentaneamente unidas em
torno do mesmo ideal tinham interesses e projetos diferentes de
República, geradores de conflitos como a Revolução Federalista, por
exemplo, ou a Revolta da Armada.
A verdade é que se cristalizou uma memória dos vencedores,
ou seja, aquela elaborada pelos republicanos civis, notadamente os
cafeicultores paulistas, segundo a qual a paz e o consenso presidiram
o advento da República, memória que é preciso rever.

BIBLIOGRAFIA

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Suely Reis de Queii.oz - Professora dos cursos de


pós-graduação da Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciêncías Humanas da Universidade de São Paulo (usp).

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