Vous êtes sur la page 1sur 45

E S P ECI A L

Educação
Entre o setor público e o privado, descubra
diferentes possibilidades de carreira para atuar
no campo de educação que transforma o Brasil
O
Brasil é o 60º colocado entre os Nem tudo é problema: temos um Plano Nacional de
setenta e seis países que compõem Educação para os próximos dez anos, fruto de uma
o ranking mundial de educação feito ampla participação social e que oferece um mapa
pela Organização para a Cooperação e dos principais problemas. Os eixos desse plano,
Desenvolvimento Econômico, um dos como a defesa do direito de aprender e a busca da
mais completos mapas sobre o cenário educacional qualidade na educação, são fundamentais. Nesse
ao redor do globo. intervalo, os recursos destinados a educação, que
hoje somam 5% do , devem chegar a 10%.
Apesar do mau desempenho, essa mesma
organização vê no país um grande potencial de No entanto, além de investimentos, o setor também
crescimento econômico se houver progressos precisa de gente talentosa. E os talentos que vão
no setor de ensino. Por exemplo: se todos os transformar a educação brasileira, ao contrário
adolescentes de 15 anos tiverem acesso a um nível do que muita gente pensa, podem estar nas mais
básico de educação, o (Produto Interno Bruto) diversas áreas de atuação. Em outras palavras, o
do país poderá crescer mais de sete vezes nas
próximas décadas. todas as pessoas.

Esse dado só reforça o que já não é mais novidade Neste especial, trazemos a história de gente boa
para ninguém: melhorar a educação é essencial
para o Brasil crescer. Da mesma forma, ninguém mais diversas formas, seja trabalhando em escolas
ou grandes empresas, passando por laboratórios,
pelo país neste campo. startups e organizações do terceiro setor, com
assuntos que vão de games a investimentos.
Inovação: o trabalho de
mapear tendências no
mercado de educação

O
s processos de ensino-aprendizagem vêm
demandando grandes mudanças nos últimos
anos. Desafios importantes da á ea da educação
têm sido conseguir engajar os estudantes em
processos educacionais de qualidade, de forma a garantir
que desenvolvam as chamadas competências do século
xxi – uma série de habilidades como saber escutar, analisar,
executar, cooperar e comunicar, que convergem para a
capacidade de aplicar conhecimentos à resolução de novas
situações-problemas e, além disso, são importantes para que
cada pessoa desenvolva autonomia para definir seus p ojetos
de vida.
Inovação: o trabalho de mapear
tendências no mercado de educação

Na busca por atingir esses desafio , recentemente têm sido ensino híbrido
adotados novos princípios, metodologias e ferramentas nos Estudos recentes vêm apontando que uma maneira de
processos de educação. A jornalista Tatiana Klix, editora se promover um ensino mais personalizado e eficiente é
do portal Porvir, dedicado a divulgar estudos e iniciativas combinar os aprendizados online e offline, unindo os benefícios
inovadoras no campo educacional, traçou um panorama dos métodos tradicionais de ensino com os da utilização de
dessas tendências. Abaixo, um resumo dos principais tópicos: ferramentas tecnológicas educacionais. No ensino tradicional,
valoriza-se a interação presencial entre professor, aluno e
personalização colegas. Já os recursos digitais – como games, vídeo-aulas
Há pessoas que aprendem mais facilmente lendo. Outras, e outras ferramentas reunidas em plataformas de ensino
assistindo a vídeos. Algumas, em grupo; as demais, sozinhas. adaptativo – permitem que o aluno avance no aprendizado
Há quem tenha mais facilidade e gosto por Português; e conforme seu ritmo próprio e suas necessidades individuais,
há quem se incline mais à Matemática. Todos aprendem uma vez que essas plataformas inteligentes propõem
com base em seus conhecimentos prévios, interesses, atividades a partir das respostas de cada aluno às tarefas que
habilidades e emoções específico . Portanto, cada um realizou anteriormente.
desenvolve conhecimentos à sua maneira e ao seu ritmo. É
com base nessa premissa que Tatiana afirma: os p ocessos Dessa forma, o professor também se beneficia pois tem
de ensino tradicionais falham ao oferecer o mesmo caminho retornos individualizados sobre o aprendizado de seus alunos,
de aprendizagem para todos. “A gente já personalizou sabendo exatamente em que tópico precisa oferecer mais
inúmeros processos na nossa vida – o Netflix o Facebook, ajuda no caso de cada estudante. A esse respeito, Tatiana
etc. A educação não pode mais insistir num caminho único”, pondera: “Quando o professor aplica a mesma prova para
comenta. O processo de personalização tem sido valorizado todo mundo, avalia uma parte dos conhecimentos que foram
também para as avaliações. trabalhados na sala de aula. Em tese, quem tira 10 aprendeu
Inovação: o trabalho de mapear
tendências no mercado de educação

tudo sobre aqueles assuntos. Quem tira zero, não aprendeu planejamento, execução e apresentação, conteúdos
nada. E quem tira 7? Deixou de aprender várias coisas e vai específico , além de habilidades como raciocínio lógico,
passar de ano sem continuar sabendo. Quando o professor confiança criatividade, pensamento crítico e abertura ao
usa as plataformas adaptativas, como Geekie, Khan Academy feedback são aprendidas.
ou Escola Digital, tem acesso a uma avaliação mais completa,
feita de forma personalizada e contínua, permitindo ao No escopo da experimentação, têm sido úteis os espaços
professor intervenções mais precisas”. makers, como são chamados laboratórios de realização
rápida, com recursos como impressora 3D, peças eletrônicas
experimentação recicladas, Legos e toda a sorte de materiais que permitem
Não é à toa que as aulas expositivas têm estado em tão colocar em prática os projetos planejados pelos estudantes.
baixa conta com os estudantes atualmente. Pesquisas têm
apontado que “fazer” é melhor que simplesmente “ouvir”, big data
quando o que está em jogo é desenvolver aprendizados Assim como as empresas usam um grande volume de dados
de forma profunda. É por isso que tem ganhado força nas para melhorar suas vendas e os governos o fazem para
escolas a chamada educação baseada em projetos, em que planejar suas políticas públicas, os professores e demais
os estudantes se envolvem com tarefas e desafios com o profissionais da educação podem se aler da análise de
objetivo de propor soluções para determinados problemas. informações objetivas diversas para melhorar o processo
No processo, eles precisam identificar os temas necessários de ensino-aprendizagem. As plataformas adaptativas,
de se estudar, em geral de modo interdisciplinar, e depois abordadas em tópico anterior, são aliadas nesse processo, ao
apresentam o resultado de suas pesquisas e realizações rastrear e disponibilizar informações como as habilidades
para professores e colegas. Sempre podendo contar com a e dificuldades de cada aluno e ofe ecer indícios sobre sua
orientação dos docentes. Durante os processos de pesquisa, forma de aprender. Portais como o QEdu, que reúnem uma
Inovação: o trabalho de mapear
tendências no mercado de educação

série de indicadores educacionais sobre os municípios desenvolvimento socioemocional


brasileiros, também são úteis para as secretarias de educação Empatia, liderança, resiliência, dentre outras habilidades
estabelecerem metas e planejarem intervenções que ajudem socioemocionais têm sido cada vez mais valorizadas pelo
a melhorar a qualidade da educação em suas redes. mercado de trabalho. Algumas empresas, inclusive, têm
colocado essas competências acima de alguns conhecimentos
sala de aula invertida específico , na crença de que é mais fácil levar um funcionário
No método de ensino tradicional, o professor ensina a adquirir determinado repertório que esperar que ele adquira
determinado conteúdo na sala de aula e, a partir daí, demanda certas posturas e comportamentos. As escolas, cientes de
tarefas de casa. “Justo no momento em que o aluno vai ter que essas competências não são inatas – ou seja, podem ser
dúvidas, o professor não está”, comenta Tatiana. Por isso, aprendidas e praticadas –, têm se preocupado cada vez mais
o método da “sala de aula invertida”, como sugere o nome, em promover seu ensino intencional.
trabalha no sentido oposto: primeiro os estudantes se iniciam
em determinado assunto sozinhos, em casa, com a ajuda de
textos, vídeos e outros recursos, e fazem o “dever de casa” na
escola, quando podem tirar dúvidas, discutir e aprofundar
determinados aspectos com os professores e colegas.

uso do território
A sala de aula está deixando de ser vista como o único
espaço de aprendizagem utilizado pela escola. A ordem do
dia é aproveitar a comunidade do entorno, teatros, museus e
outros locais como oportunidades de adquirir conhecimento.
“Pesquisas têm apontado
que ‘fazer’ é melhor que
simplesmente ‘ouvir’,
quando o que está em
jogo é desenvolver
aprendizados de forma
profunda.”
tatiana klix portal porvir
Gestão pública:
o trabalho de gerir milhões
em um órgão de educação
do governo

O
carioca Eduardo Pádua graduou-se em
ciências sociais pela UFRJ e, ainda durante a
faculdade, interessou-se pelo tema da
educação, pesquisando desigualdades na
área em sua iniciação científica

Ainda antes de se formar, ingressou no MBA da Universidade


Federal do Rio de Janeiro sobre responsabilidade social
corporativa e foi trabalhar no terceiro setor, em projetos
Gestão pública: o trabalho de gerir milhões
em um órgão de educação do governo

envolvendo tecnologia e educação. Seu mestrado, concluído Nesse primeiro projeto, Eduardo tinha a responsabilidade de
em 2007, tratava de parcerias público-privadas em educação. gerir um investimento de R$300 milhões e de decidir onde
criar as vagas nas creches já existentes e em 128 novas
Nesse tempo, acreditava que atuar em causas sociais via unidades construídas. Tudo isso amparado por uma
iniciativa privada era um bom caminho para transformar a metodologia objetiva, que reunia um estudo de demanda, a
realidade do país. Aos poucos, entendeu que, embora as priorização de áreas mais vulneráveis, dentre outros
empresas estejam criando a cultura da ação social, não têm critérios. “Um desafio muito grande”, comenta.
a escala necessária para sanar problemas do tamanho que o
Brasil apresenta. Depois de chegar a quase 29.000 novas vagas, em 2013,
Eduardo foi convidado a assumir outro projeto na secretaria.
Mais adiante, buscando outros caminhos para o seu propósito Atualmente, dedica-se à missão de planejar e implantar o
de gerar impacto, passou pelo escritório da UNICEF em Madri turno único, de 7 horas diárias, nas escolas da rede municipal
e pela UNESCO, onde prestou consultoria para o Ministério de da cidade – atualmente, apenas 20% estão nessa situação. A
Educação, em Brasília. Nas duas experiências, frustrou-se meta é chegar a 100% em 2020.
com a lentidão dos processos e a dificuldade de visualizar
resultados, pela própria natureza das instituições – distantes Nesse projeto, tudo é superlativo: são 650.000 alunos
da ponta, onde os problemas de fato acontecem. envolvidos, 42.000 professores, 1.500 escolas e um
investimento da ordem de R$1,8 bilhão, dedicado à
Em 2010, encontrou-se. Ingressou na Secretaria Municipal construção de 136 novas unidades educacionais necessárias
de Educação do Rio de Janeiro para gerenciar um projeto ao cumprimento da meta do ano que vem. “É muito dinheiro.
que buscava dobrar o número de vagas em creches da Tem que saber usar bem. A educação no Brasil tem um
cidade, criando 30 mil novas matrículas em três anos. problema grave de gestão”, diz.
Gestão pública: o trabalho de gerir milhões
em um órgão de educação do governo

Paralelamente à implantação do turno único, Eduardo numa empresa privada que investe em projetos de educação
coordena a reorganização de todas as unidades escolares é como navegar numa lancha: é ágil, mas você carrega pouca
da rede municipal em três segmentos – creche e pré-escola, gente. Já o setor público é um transatlântico: a gente é muito
primário e ginásio ­–, substituindo as unidades que reúnem os lento, mas carrega uma enormidade de gente junto”.
alunos da pré-escola ao 9º ano do ensino fundamental.
Com o tempo, ele diz, aprende-se a viver num outro ritmo e
A ideia é que essa reorganização torne as instalações n’outra lógica. “Você entende porque é assim. Como as ações
escolares mais adequadas a cada etapa de desenvolvimento do Estado impactam muita gente, é preciso planejar muito
dos estudantes; facilite a vida do professor, que poderá bem os movimentos. Se fizer uma curva errada, vai demorar
cumprir toda a sua carga horária numa só escola, e não em muito tempo para conseguir corrigir a rota”.
duas ou mais unidades, como ocorre frequentemente hoje;
melhore o trabalho pedagógico e a gestão escolar, ao permitir E, ao contrário do que povoa o imaginário popular acerca
que os profissionais de cada unidade foquem sua atuação do trabalho no setor público, Eduardo diz que sua carga de
num só segmento; e otimize o investimento dos recursos. E, trabalho é pesada.
claro, que a soma de tudo isso resulte no que mais interessa:
os alunos aprendam mais, ao passar mais tempo em escolas Ele conta também que trabalha rodeado de boas cabeças.
mais bem organizadas. Ao que tudo indica, gente jovem e inovadora tem se
interessado pelo setor público. “A imagem do funcionário
Apesar de enfrentar algumas dificuldades de se trabalhar público que faz corpo mole precisa ser rapidamente
no setor público (a burocracia e morosidade amplamente desconstruída. Trabalhar para a nossa sociedade é muito
conhecidas), Eduardo afirma que o trabalho tem sido motivante. Não é um trabalho qualquer”.
“extremamente gratificante”. Ele explica: “Trabalhar
Gestão pública: o trabalho de gerir milhões
em um órgão de educação do governo

Perfis articulado e de liderança são bem-vindos em cargos


de gestão de projetos públicos, como o que Eduardo ocupa.
No dia a dia, ele diz que gasta 10% de seu tempo buscando
soluções técnicas; os outros 90% são dedicados a engajar
pessoas – funcionários da Prefeitura, parceiros do setor
privado, membros de associações de moradores, etc.

É preciso também um bocado de resiliência e


comprometimento para assumir responsabilidades tão
grandes com pouca idade (Eduardo tem apenas 33 anos).
Para saber se está no rumo certo ou se está deixando de ver
algum risco importante, ele procura constantemente o
feedback de pessoas mais experientes e em quem confia.

O salário para a coordenação de projetos prioritários no poder


público é compatível com o do setor privado. A instabilidade
do cargo comissionado – embora tenha contrato de prazo
indeterminado, o vínculo pode ser encerrado a qualquer
momento – para Eduardo, não é uma desvantagem, mas sim
uma mola propulsora. “Quanto mais você entrega resultados,
mais ganha trabalho e maior a chance de permanecer após
transições de governo”, diz.
“Trabalhar para a
sociedade é muito
motivante, não é um
emprego qualquer”

eduardo pádua, secretaria municipal de educação do rio de janeiro


Terceiro setor: o trabalho de
diretor em uma fundação de
fomento à educação
“Trabalhar para a sociedade é muito motivante,
não é um emprego qualquer”

O
engajamento com causas sociais é uma
constante ao longo da carreira de Denis Mizne.
Aos 38 anos, ele acumula vasta experiência
no terceiro setor, com uma breve passagem no
governo federal. Hoje, é considerado referência em uma
das áreas de maior interesse para as políticas públicas
no Brasil: educação.

Advogado formado pela Faculdade de Direito da USP


(Universidade de São Paulo), com mestrado em Gestão
Pública pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), ele é
atualmente diretor executivo da Fundação Lemann e
Terceiro setor: o trabalho de diretor em
uma fundação de fomento à educação

presidente do conselho do Instituto Sou da Paz, do qual foi experimentação maior, de criar coisas que o Estado muitas
fundador. Também é membro do conselho da Fundação vezes está muito engessado para pensar. Mas se você não
Roberto Marinho. imagina como isso pode dialogar com as políticas públicas é
pouco provável que faça alguma diferença”, diz. Para ganhar
No passado, trabalhou no Ministério da Justiça e integrou escala e multiplicar o impacto, o Sou da Paz sempre apostou
uma série de conselhos de política de segurança pública. em parcerias com o governo.
Ainda participou de um programa de desenvolvimento de
lideranças na Universidade de Yale e foi visiting scholar no Do início da campanha Sou da Paz até a consolidação do
Human Rights Advocates Program da Universidade Columbia. instituto, Denis se formou, ganhou uma bolsa para participar
de um programa de direitos humanos para jovens ativistas na
Desde a faculdade, Denis sempre teve envolvimento com Universidade de Columbia, em Nova York, e ainda passou por
questões de interesse público. Foi inclusive presidente do um cargo no governo federal. Sobre a experiência em Brasília,
Centro Acadêmico do seu curso. Organizou com outros ele conta: “Foi muito interessante conhecer um pouco da
estudantes a primeira campanha da sociedade civil pelo magnitude do setor público”.
desarmamento no Brasil. Essa campanha, chamada “Sou da
Paz”, foi o embrião do instituto que ele fundaria em dois anos. Entre 1999 e 2000, Denis foi assessor especial e chefe de
gabinete do Ministro da Justiça. À época, ajudou a aprovar no
O que começou como um projeto universitário ganhou Congresso o Estatuto do Desarmamento. “Era muito jovem
projeção internacional e tem pautado diversas políticas e já tinha uma responsabilidade muito grande lá dentro, me
Brasil afora. Denis esteve à frente do instituto por 12 anos e sentia relevante”, conta. “Existe um mito de que no governo
destaca a liberdade que tinha à frente de uma organização se trabalha pouco ou que quem vai para o setor público é
não governamental. “A gente tinha uma possibilidade de porque não encontrou espaço no setor privado. Não é bem
Terceiro setor: o trabalho de diretor em
uma fundação de fomento à educação

assim. As questões mais complexas estão na esfera pública. É como educação e políticas públicas, fomentando talentos
muito difícil, por exemplo, melhorar a educação de um país. dispostos a transformar a realidade brasileira; apoia
Para trabalhar com isso tem que ser bom.” programas do governo e da inciativa privada que oferecem
ajuda financei a a jovens que querem estudar no exterior;
Para ele, a sociedade só vai resolver seus problemas na incentiva o desenvolvimento de políticas públicas de impacto
medida em que valorizar as pessoas que escolhem dedicar na educação por meio de apoio a pesquisas, plataformas e
suas carreiras às causas públicas. “Se a gente quer enfrentar publicações; também desenvolve projetos para a capacitação
os problemas do Brasil de verdade, precisa trazer as melhores de líderes educacionais e professores por meio de seminários,
cabeças para atuar no setor público ou junto dele. Acho que cursos e programa de talentos. Tudo isso porque acredita que
estamos indo nessa direção”, diz. para haver educação de qualidade no Brasil é preciso ter bons
gestores no setor.
Há três anos à frente da Fundação Lemann, é lá que Denis
investe a maior parte de seu tempo hoje, dividindo os Em cada uma das instituições em que trabalhou, Denis
compromissos de diretor com viagens a diversos países sempre teve momentos de interlocução com o Congresso
pesquisando tecnologias e práticas inovadoras na área da para advogar em defesa das causas da segurança, sempre
educação. A organização sem fins luc ativos, fundada em que circulavam projetos dessa temática.
2002 pelo empresário Jorge Paulo Lemann, tem como objetivo
melhorar a qualidade do aprendizado dos alunos brasileiros e “É impossível que os congressistas tenham conhecimento
formar uma rede de líderes transformadores. aprofundado sobre todas as questões que são discutidas ali,
e a imensa maioria vota contra ou a favor de um projeto sem
Para tanto, ela possui um programa de bolsas de estudos ter informações suficientes sob e o assunto. Mas há muito
– chamado Lemann Fellowship – para áreas estratégicas espaço para quem quer dialogar, construir políticas públicas,
Terceiro setor: o trabalho de diretor em
uma fundação de fomento à educação

contribuir tecnicamente para o debate, seja a partir da


academia, da sociedade civil ou do próprio governo”, diz.

O balanço final de quem t ansitou entre governo e


organizações do terceiro setor é bastante positivo. “Hoje eu
comparo a minha vida com a de muita gente que se formou
comigo e está atuando em outras áreas. Tenho a certeza de
que a satisfação pessoal que tiro do meu trabalho não podia
ser maior.”
“Para fazer a diferença no
é preciso dialogar com as
políticas públicas”

denis mizne fundação lemann


Tecnologia: o trabalho no
laboratório que pesquisa
inovações educacionais

“E
sse ano está sendo e vai continuar o ano
da tecnologia da educação”, defende o
estudante de engenharia Alisson Bezerra,
que atualmente trabalha com esse tema. “A
área de tecnologia aplicada à educação tem sido alvo
de muita pesquisa e discussão no Brasil e no mundo,
precisa de muita gente boa e é um ótimo setor de
atuação para quem quer impactar a sociedade.”
Tecnologia: o trabalho no laboratório
que pesquisa inovações educacionais

O estudante passou grande parte de sua vida inovação. De volta ao Brasil, retomou o vínculo com SAS,
em Fortaleza, apesar de sua cidade natal ser Rio mas dessa vez envolvido em um projeto mais ousado:
Negro, no Paraná. Saiu de lá para cursar Engenharia montar um laboratório de inovação para a empresa, nas
da Computação no ITA (Instituto Tecnológico de imediações do ITA, focado no uso de tecnologia para o
Aeronáutica), em São José dos Campos – a capital setor educacional.
cearense, a quase três mil quilômetros de distância, é
responsável por cerca de um terço dos alunos aprovados “A ideia surgiu inspirada no caso de uma outra empresa
no instituto todo ano. com que tínhamos contato e que tem um escritório no
Vale do Silício. Eles falaram que esse modelo dá muito
Quando surgiu a possibilidade de realizar um summer certo e as pessoas realmente pensam muito fora da
job, que funciona como um estágio de verão durante caixa”, explica Alisson, mencionando o famoso polo
as férias da faculdade, Alisson escolheu uma empresa de tecnologia nos Estados Unidos, e que também fica
em Fortaleza: o Sistema Ari de Sá (SAS), que licencia próximo à Universidade Carnegie Mellon, Stanford e
metodologia de ensino própria para escolas de ensino Universidade da California em Berkeley, entre outras.
fundamental e médio. “Logo de cara eu me identifiquei
muito com aquele ambiente, gostei da cultura e da “Enquanto pesquisávamos sobre o assunto, descobrimos
equipe, que é muito jovem”, conta Alisson. várias outras empresas que levaram escritórios para
esses polos tecnológicos próximos a grandes faculdades,
No ano seguinte, realizou um intercâmbio na para facilitar a proximidade com gente boa e também
Universidade Cornell, nos Estados Unidos. Lá, procurou para estar em um local que respira tecnologia”, ele
uma grade curricular menos tradicional que a do ITA, complementa. No Brasil, temos o exemplo do laboratório
e estudou áreas relacionadas a pesquisa de ponta e de pesquisa e desenvolvimento do Google em Belo
Tecnologia: o trabalho no laboratório
que pesquisa inovações educacionais

Horizonte, próximo à Universidade Federal de Minas Ele próprio sempre foi um entusiasta da área da
Gerais, e os tecnopolos de Campinas e São Carlos. educação: durante três anos atuou como professor
voluntário no cursinho comunitário CASD Vestibulares,
Assim nascia o SAS Labs, um centro de inovação organizado pelos alunos do ITA e do qual chegou
educacional com o objetivo de desenvolver tecnologias inclusive a ser diretor. “Foi muito bom quando eu percebi
para identificar deficiências no prendizado e melhorar que dava para casar atuação profissional com educação”
o resultado dos alunos em sala de aula. “Esse projeto irá ele revela.
desenvolver novos talentos, além de criar tecnologias
voltadas para soluções educacionais. Nós queremos No SAS Labs, o foco está em grandes e novas tecnologias
ter métodos pedagógicos modernos, colaborando com voltadas para educação. “A gente busca várias formas
o desenvolvimento e engajamento do aluno ao longo diferentes de inserir tecnologia no meio educacional, e
do seu aprendizado”, afirma Bruno Veras, gerente de também de medir o impacto de cada uma dessas novas
Operações Internas do Sistema Ari de Sá e responsável tecnologias sobre o aluno”, explica Alisson.
pelo laboratório.
Segundo ele, os projetos realizados no laboratório são
Em outubro de 2014, a equipe começou a ser recrutada. bem diferentes daqueles desenvolvidos pela equipe
Hoje são quatro pessoas no total – todas do ITA, apesar de tecnologia de informação da sede, em Fortaleza. A
deste não ser um requisito para a contratação. “A proposta, no caso, é surgir sempre com novas ideias e
principal coisa que buscamos é aquele brilho no olho, e o novos projetos, mas também validar tecnologias que já
interesse e gosto pela área de educação”, explica Alisson, existem e tentar trazê-las para a empresa.
acrescentando que a expectativa é expandir a equipe nos
próximos meses.
Tecnologia: o trabalho no laboratório
que pesquisa inovações educacionais

É importante, por exemplo, estar sempre ligado nas


notícias sobre educação e inovação. “Sempre que sai
notícia sobre alguma tecnologia nova, alguém testando
tablet em sala de aula, sala de aula invertida [em que
os alunos sentam em grupos], a gente procura ler e
estudar sobre o assunto, ver o que a gente pode tirar de
legal disso e trazer para o Sistema Ari de Sá”, ele conta,
acrescentando que o sistema hoje conta com mais
de 400 escolas conveniadas e de realidades sociais e
geográficas bastante dife entes.

“Uma coisa que é bem legal é que nos sentimos como se


estivéssemos em uma startup, e às vezes temos algumas
ideias até absurdas”, ele conta. “A gente tem projetos
bem fora da caixa mesmo, pensando exclusivamente
em tecnologia focada em educação, é isso que a gente
respira todo dia”, ele comenta, animado.

No entanto, faz questão de lembrar que é um trabalho


bastante sério: “Temos muita liberdade e muita
responsabilidade” – é preciso colocar a mão na massa, já
que a sede em Fortaleza está sempre cobrando resultados.
“Foi muito bom quando
eu percebi que dava
para casar atuação
profissional com
educação”

alisson bezerra, sas labs


Ensino: o trabalho de
professora em uma das
escolas mais inovadoras
do mundo

D
outora em Biologia Molecular pela
Universidade de São Paulo (USP) e pela
Universidade de Brasília (UnB), Célia Maria
Piva Cabral Senna dedicou duas décadas e
meia de sua carreira a ensinar estudantes de graduação
e pós-graduação os assuntos mais cabeludos nas
áreas de Bioquímica e Biofísica. Além disso, formou
professores de biologia, fez pesquisa, foi coordenadora de
curso e assessora da reitoria.
Ensino: o trabalho de professora em uma
das escolas mais inovadoras do mundo

Em 2006, recebeu um inusitado convite profissional: A experiência foi tão boa que, ao longo dos anos, a
a Escola Lumiar, onde estudam crianças de 4 meses cientista foi abrindo mais e mais espaço na agenda para
a 14 anos de idade, na capital paulista, pediu que ela os projetos da escola: de duas horas de trabalho semanal
preparasse um projeto para os estudantes do ensino passou a diretora pedagógica do Instituto Lumiar, que
fundamental. Se os alunos gostassem da proposta de inclui, além da escola particular na capital, outras
Célia, ela colocaria a mão na massa com eles durante duas unidades em Santo Antônio do Pinhal, no interior
dois meses. Sim, só se eles aprovassem. paulista – uma bilíngue e outra pública, constituída
via parceria público-privada. Em 2012, Célia deixou a
Diferente de outras escolas, a Lumiar propõe universidade de vez.
um currículo em mosaico e uma aprendizagem
personalizada. Um dos reflexos dessa abo dagem Atualmente, a professora cuida da gestão da Lumiar,
heterodoxa é que, na escola, os alunos não são separados sem abandonar a sala de aula, “por medo de emburrecer
por série nem sentam em cadeiras enfilei adas. Em vez e envelhecer” ao perder contato com os alunos. “Em
de apenas provas ou testes, as avaliações são feitas geral, as pessoas que pensam e gerenciam a educação
também por meio de observações, interações e diálogos. no Brasil, nunca estiveram na sala de aula ou estiveram
O currículo tampouco segue a divisão tradicional em há muito tempo. Então, tratam de uma educação que
disciplinas, já que o foco está na construção e expansão não conhecem. Com isso, acabam nem conseguindo ter
de competências e habilidades. legitimidade junto aos professores”, analisa.

Instigada pela novidade e desconcertada pela possibilidade Nos últimos 9 anos, Célia já realizou projetos utilizando
de ter seu trabalho rejeitado por crianças, empenhou-se realidade aumentada para desenvolver os conceitos de
em preparar um projeto “maravilhooso sobre reciclagem. duas e três dimensões na Matemática, estudou os ET’s
Ensino: o trabalho de professora em uma
das escolas mais inovadoras do mundo

e diz ter já praticamente um “doutorado em pum” – um Os interessados em experimentar o sabor de trabalhar


assunto pelo qual as crianças são fascinadas e a ajudou na educação básica podem fazer algo semelhante ao
a trabalhar a experimentação em laboratório e a explicar que Célia fez: propor um projeto de dois meses para
o caminho da digestão dos alimentos no corpo, com seus desenvolver com os alunos da Lumiar. Claro, precisa ser
fenômenos químicos e biológicos. algo que o candidato faça bem e, além disso, que passe
pelo crivo da coordenação e das crianças da escola.
A Escola Lumiar foi eleita, em 2007, uma das doze
escolas mais inovadoras do mundo, segundo um ranking
elaborado pela Microsoft, UNESCO e Universidade
Stanford. Célia, que enfrentou muitos questionamentos
ao trocar o ensino superior pela educação básica, no
sentindo de estar regredindo em termos de status, hoje
reafirma o acerto de sua escolha

“Essa ideia da professora de educação para crianças como


‘professorinha’, no sentido de algo menor, é um grande
engano. O ensino nas séries iniciais é muito importante e
requer professores com uma formação sólida”, pondera.
“Na Lumiar, eu me encontrei. Gosto de dar aula de
qualquer maneira, mas a educação básica me dá mais
prazer porque é dela que o país mais precisa”.
“Essa ideia
da professora
de educação para
crianças como
‘professorinha’,
no sentido de algo menor,
é um grande engano”
célia maria piva cabral senna escola lumiar
Gestão empresarial:
o trabalho na maior empresa
privada de educação
do Brasil

F
ormada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP),
a paulistana Camila Cardoso, de 29 anos, sempre
quis atuar na área de consultoria estratégica.
Trabalhou por sete anos na Bain & Company,
uma das líderes mundiais em consultoria de negócios.
Como consultora, atendeu a vários setores (finança ,
varejo, e-commerce, dentre outros), e teve a oportunidade
de morar nos Estados Unidos, Chile e Canadá. A certa
altura da carreira, começou a ficar insatisfeita com a
pura visão de negócios – matéria bruta do trabalho do
consultor. Sentia necessidade de estar mais próxima da
geração de desenvolvimento econômico-social a partir
de sua atuação profissional di eta.
Gestão empresarial: o trabalho na maior
empresa privada de educação do Brasil

Em 2011, ainda na Bain, chegou a experimentar a Conseguiu, então, fazer a transição que tanto buscava,
atuação numa ONG, em Moçambique, durante um oferecendo sua visão de negócios num ramo de atividade
externship de três meses, quando elaborou o plano com impacto social. “Entrei muito empolgada para criar
de negócios para uma associação de avicultores. Mas, os cursos para o Pronatec dentro da Kroton. Eu mesma
mesmo atuando por uma causa, não foi possível tive formação técnica, antes da faculdade, e acredito
vislumbrar os resultados que queria. “Entendi que aquele muito na necessidade do ensino profissionalizant .”
também não era meu caminho quando percebi que
todo o esforço de visitar as granjas, planilhar o quanto Camila conta que programa foi construído do zero e ela
cada frango comia, e montar o business plan não traria se sentiu atuando numa startup, mesmo que dentro de
mudanças concretas porque não existia um foco em um grupo empresarial grandioso. “Entrei para criar um
resultados por parte de toda a equipe”, conta. produto totalmente novo, sem saber que cursos seriam
oferecidos, a que preço, em quais unidades de ensino,
Dois anos depois dessa experiência, numa conversa para quantos alunos e com que material didático”, conta.
informal com um colega, Camila soube que a Kroton
Educacional, uma das maiores instituições de ensino do Recentemente, assumiu a diretoria acadêmica da
mundo e a maior empresa privada de educação no Brasil empresa, tornando-se responsável por gerenciar a
– com clientela de 1 milhão de estudantes – estava com produção de todo o material didático digital e impresso
ambições de oferecer serviços ao Pronatec, programa utilizado pelos alunos da Kroton e fornecer material de
do governo federal de acesso ao ensino técnico e que apoio aos professores da rede. Ela está animada com a
acabara de abrir-se ao ensino superior privado. nova função, cujo desafio maior é colabo ar para tornar
as formas de ensino-aprendizagem mais eficientes e
adequadas aos novos perfis de estudante .
Gestão empresarial: o trabalho na maior
empresa privada de educação do Brasil

“Para quem gosta de inovação, o mundo da educação é


um campo fértil e que está passando por uma mudança
grande. Tenho certeza de que o meu sobrinho de seis
anos da idade não vai aprender como eu aprendi,
essencialmente com aula expositiva dentro de uma
sala. Isso já começa a valer para os estudantes que
atendemos hoje e nos obriga, diariamente, a pensar em
novas formas de ensinar”.

Quando questionada sobre como será a educação no


futuro, Camila responde: “Ninguém sabe. Não existe
um caminho pronto, até porque temos que preparar os
alunos para problemas que ainda não existem. Mas creio
que o modo de ensinar, no futuro, vai estar muito ligado
a questões como interatividade, quebras no tempo de
aprendizagem, espaços fora da sala de aula, recursos do
audiovisual, internet, simuladores e materiais didáticos
que tragam sempre provocações a reflexões”
“Para quem gosta de
inovação, o mundo
da educação é um
campo fértil”

camila cardoso kroton educacional


Games educativos:
o trabalho de desenvolver
jogos para ensinar pessoas

O
baiano Danilo Alencar é gerente de
desenvolvimento e design de produtos na
Pearson, em São Paulo, empresa bastante
conhecida pelos sistemas de ensino COC,
Dom Bosco e Pueri Domus e pelos cursos de inglês
Wizard e Yázigi, mas que também atua no mercado
de ensino superior e profissionalizante

Em seu dia a dia, Danilo gerencia times que desenvolvem


jogos, aplicativos, sites e outros objetos interativos
de educação. Além disso, boa parte de seu tempo é
dedicado à realização de pesquisas sobre os processos
Games educativos: o trabalho de
desenvolver jogos para ensinar pessoas

de aprendizado dos estudantes, com o objetivo de tornar os “Normalmente, eu era o único pensador de produtos no
instrumentos educacionais da Pearson mais eficaze . meio de um monte de gente que só queria programar. Hoje
trabalho sobretudo com a retenção de clientes”, conta.
Formado em design pela Universidade Salvador, com foco
em meios digitais, ele se envolveu ainda na faculdade com Ainda assim, ele acredita que a formação universitária
pesquisa sobre jogos em educação. Após a graduação, teve voltada à parte conceitual do design, e não somente à sua
sua própria empresa na área e atuou em diversas startups que vertente técnica, também foi também um diferencial em sua
tinham em comum o uso da tecnologia – seja voltada para trajetória.
a venda de tickets, sistema de bancos ou o aprendizado de
diversas disciplinas, como inglês e biologia. Na criação de games educacionais, Danilo trabalha com
alguns conceitos-chave: um deles é o de “aprendizado
“Uma das coisas mais legais que eu fiz sem saber, foi colateral”. A ideia é que os estudantes aprendam “sem
trabalhar muito e paralelamente em vários lugares. Isso me querer”, ao jogar. Isso quer dizer que, embora os produtos
levou a estudar coisas que faltavam na minha formação”, sejam desenvolvidos sempre com o apoio de pedagogos e com
avalia Danilo. finalidades educat vas, tentam sempre fugir da linguagem
explicitamente didática da escola e se aproximam das
Nessa trajetória, aprendeu a programar e especializou-se estratégias dos jogos de entretenimento.
em experiência do usuário, ou seja, uma análise estratégica
de todos os fatores envolvidos na interação entre jogador e “A gente brinca que, se a gente colocar o ‘cheirinho do
jogo. Isso o aproximou estrategicamente dos diretores das professor’, o aluno não aprende. Ou seja, se for dito que o
empresas onde atuou. jogo é para o estudante aprender alguma coisa, ele não se
interessa. Vai preferir jogar Carmen Sandiego [em que o jogador
Games educativos: o trabalho de
desenvolver jogos para ensinar pessoas

é um detetive que junta pistas ao redor do mundo para solucionar importância para que ela desenvolva e se aprimore em
um caso], onde acaba inevitavelmente aprendendo geografia determinado conhecimento ou habilidade.
do que jogar qualquer game que tenha o propósito explícito
de fazê-lo aprender a matéria”, analisa. “Acho interessante esse conceito, que se contrapõe à ideia
de talento e genialidade. Quanto mais o sujeito exerce uma
Num dos produtos que mais gostou de desenvolver, por função, com mais agilidade, qualidade e precisão ele irá
exemplo, Danilo aplicou ao ensino de imunologia e de outros exercê-la”, pondera Danilo. Seguindo esse princípio, os jogos
conceitos biológicos o princípio do Tower Defense, presente da memória ou de forca, por exemplo, ajudam muito no
em jogos como o Plants versus Zombies, em que o jogador ganho de vocabulário em inglês.
precisa barrar a invasão de zumbis construindo torres em
posições estratégicas. No game educativo, os zumbis foram A área de desenvolvimento de games educativos demanda
substituídos por vírus e bactérias que invadiam os tecidos profissionais com formações d versas, sobretudo
do corpo humano. E as células de defesa faziam as vezes programadores, roteiristas e designers. Quanto menor
das torres. Para obter a energia necessária à batalha – no a empresa desenvolvedora, mais versátil precisa ser o
vocabulário técnico da biologia, ATP (adenosina trifosfato) – profissional “Existem jogos que foram feitos por apenas uma
os jogadores tinham que obter alimentos gordurosos, fib osos ou duas pessoas e que ganharam prêmios internacionais”,
ou ricos em outros tipos de nutrientes, de acordo com a conta o gerente da Pearson. Em grandes corporações, as
rapidez e a quantidade de energia que precisavam gerar. funções tendem a ser mais especializadas.

Outro conceito que ampara a criação de muitos produtos Danilo comenta que profissionais de quase todas as á eas
educacionais interativos é o de Time on task – o tempo que podem encontrar um espaço no mercado de games, já que o
uma pessoa gasta realizando uma tarefa é fator de grande desenvolvimento desse tipo de produto é bastante complexo
Games educativos: o trabalho de
desenvolver jogos para ensinar pessoas

e demanda habilidades diversas. Ele destaca, contudo, duas


condições que considera fundamentais para atuar nesse
mercado: “Você deve gostar de jogar, ou seja, você precisa ser
um gamer; a segunda é que, como o mercado no Brasil ainda é
bem restrito, as empresas de games brasileiras precisam estar
preparadas para atender outros países”.
“Para quem gosta de
inovação, o mundo
da educação é um
campo fértil”

danilo alencar pearson education


Gestão empresarial:
o trabalho de um economista
que ajuda na formação
de professores

F
ernando Carnaúba, 29 anos, trabalha na Abril
Educação, onde planeja e executa ações voltadas
a vinte e cinco escolas próprias da empresa,
parte dos sistemas de ensino Anglo, Motivo, pH,
Sigma e Maxi.

Apesar de seu dia a dia estar totalmente incorporado


à rotina das escolas, Fernando não teve uma formação
linear em educação. Ele foi se aproximando da área aos
poucos. Na faculdade, ingressou inicialmente no curso
de Engenharia da Escola Politécnica da USP. Dois anos
e meio depois, descobriu que havia paixões maiores
Gestão empresarial: o trabalho de um economista
que ajuda na formação de professores

em sua vida que a matemática – e que havia pessoas mais Essa vontade tomou forma mais definida no período de
apaixonadas que ele pela matéria. cinco meses que passou na Universidade Stanford, como
pesquisador-visitante, durante o mestrado. Lá, teve contato
Migrou, então, para o curso de Economia, na FEA (Faculdade com o programa de formação de professores da universidade,
de Economia e Administração), na mesma universidade, tido como referência internacional, bastante voltado para
depois de se interessar por análises de economistas sobre a prática de sala de aula. Soube, então, que essa era uma
dados educacionais. Em sua iniciação científica e em seu carência da formação de professores no Brasil e ficou
trabalho de conclusão de curso, estudou o impacto das ações fascinado pelo problema. Quando soube que a Abril Educação
afirmat vas na qualidade do ensino superior. Começava a estava interessada em atacar o problema, teve interesse
perceber, a essa altura, que seu interesse pela economia da imediato de ir trabalhar na empresa.
educação talvez se direcionasse mais à parte da educação
que à economia propriamente dita. Sua função é estruturar a formação dos professores nas
escolas, com o foco de disseminar a cultura de trocas de
Durante o mestrado, também na FEA-USP, realizou um experiências da sala de aula entre os docentes – uma cultura
summer job na Geekie, startup que desenvolve plataformas que já existe, de maneira informal, nas conversas de corredor
de ensino adaptativo para o ensino público e privado. Lá, e na sala dos professores, mas que vem gerando melhores
teve a oportunidade de assistir aulas em escolas parceiras resultados ao ser trabalhada de forma sistematizada.
da empresa, com o intuito de entender melhor a realidade
dos clientes. Ficou surpreso com o quanto aprendeu no “Em quase todas as profissõe , as pessoas aprendem muito
pouco tempo em que passou nas escolas. Surgiu aí a vontade sobre como realizar determinadas atividades no convívio com
trabalhar com educação fora das paredes do escritório. seus pares mais experientes – é observando que entendem
como se conduz uma reunião, por exemplo. O professor não
Gestão empresarial: o trabalho de um economista
que ajuda na formação de professores

tem essa oportunidade. Ele sai da universidade com uma de professores. E o contato que estabeleceu com importantes
formação quase totalmente voltada a conceitos e conteúdos atores do cenário educacional brasileiro, durante as pesquisas
e vai sozinho para a prática da sala de aula, sem saber como do mestrado e da graduação, também têm sido fundamentais
definir o tempo da aula ordenar temas ou retomar um para sua atividade atual.
assunto pendente do dia anterior”, explica.

Daí vem o princípio das formações que Fernando organiza:


basicamente, elas consistem em reunir os professores para
discutir suas próprias aulas, gravadas em vídeo por eles
mesmos. Em grupo, eles obtêm feedbacks dos colegas em
questões como adequação da atividade para o engajamento
dos alunos, a organização da lousa, dentre outras.

Cabe a Fernando apresentar a estrutura do programa para


a coordenação pedagógica das escolas e para os professores
que irão conduzir a formação, discutir com eles os ajustes
necessários e definir quais p ofessores têm mais a ganhar
com o trabalho, além de participar dos encontros iniciais.

Fernando acredita que sua formação de economista, na


interseção com os problemas educacionais, tem sido útil
para interpretar os resultados dos programas de formação
“Minha formação em
economia, na interseção
com os problemas
educacionais, tem
sido muito útil para
interpretar resultados”

fernando carnaúba abril educação


Empreendedorismo: o
trabalho de criar uma
startup de educação

C
laudio Sassaki se formou em Arquitetura e
Urbanismo na USP (Universidade de São Paulo).
Trabalhou por dois anos com consultoria na
área e depois foi para Stanford, nos Estados
Unidos, fazer o chamado joint degree – em que o aluno
cursa paralelamente um MBA e um mestrado em
Educação. Após terminar o curso, passou cinco anos
morando em Nova York e trabalhando em instituições
financei as. Voltou para o Brasil em 2007, já como vice-
presidente do banco de investimentos Credit Suisse,
depois assumiu o mesmo cargo no Goldman Sachs.
Também foi diretor financei o da empresa Petra Energia.
Empreendedorismo: o trabalho de criar
uma startup de educação

Mesmo com uma carreira tão promissora no mercado Como foi abrir mão de um bom cargo e salário para apostar
financei o, Claudio decidiu, em 2011, largar tudo e começar num projeto?
um negócio próprio totalmente do zero. Seu objetivo era Não foi uma decisão fácil, pois ela influenciaria todos os
lançar uma startup que customizasse o processo de ensino- aspectos da minha vida. Abriria mão de todas as minhas
aprendizagem por meio de tecnologias inovadoras – a partir conquistas para começar um negócio totalmente do zero,
do diagnóstico de que os estudantes de uma mesma classe com capital próprio, contando com riscos e incertezas. A ideia
não aprendem da mesma forma. precisou passar por um longo processo de amadurecimento.

Ao lado de uma equipe excepcional, fundou então a Geekie, O que te levou finalmente a tomar essa decisão?
empresa que oferece uma plataforma baseada no conceito Foi uma questão de timing. Desde a faculdade eu já me
de aprendizado adaptativo e que rendeu aos seus fundadores envolvia com projetos de educação e tinha vontade de um dia
diversos prêmios de empreendedorismo social. realmente me dedicar a isso. Em 2011, senti que era minha
última chance de tornar esse sonho antigo realidade. Se eu
Através de testes de múltipla escolha e de forma personalizada, não largasse tudo para tocar a Geekie naquele momento, não
o software consegue apontar quais conteúdos um aluno não o faria mais. Além disso, estava muito confiante em elação
aprendeu corretamente e sugerir os tópicos que precisam ser ao conceito de aprendizado adaptativo e completamente
mais bem trabalhados. Assim, é possível identificar os pontos apaixonado pelas possibilidades na área. Também estava
fortes e dificuldades do estudante, e essas informações também cercado por pessoas com valores alinhados aos meus e
são divididas com os professores e as escolas. Isso permite que dispostas a embarcar nesse desafi .
ele aprenda os conteúdos de forma mais eficiente e adequada
às suas características e necessidades.
Empreendedorismo: o trabalho de criar
uma startup de educação

Qual foi o primeiro desafio que enfrentou? quer. E, quanto mais rapidamente a gente consegue se
O primeiro desafio foi definir qual seria o time qu adaptar à sua expectativa, melhor. Também não adianta ter
embarcaria nessa jornada comigo. Precisava atrair pessoas apenas um bom conceito. É na hora de testar o produto que
boas e ao mesmo tempo com um perfil alinhado ao co e o cliente vai decidir se ele é bom ou ruim. A excelência do
business da empresa: a tecnologia. Conseguimos formar um desenvolvimento dos produtos é o que faz a diferença.
grupo diversificado de p ofissionais da á ea de engenharia e
produtos, além de professores e pedagogos. De que forma a pós em Stanford foi importante para
a sua formação?
Como foi o processo de idealização até o lançamento Estudar negócios e educação paralelamente me possibilitou
da Geekie? ter acesso a visões complementares a cada uma das áreas.
Com a equipe formada, começamos a desenvolver os Além disso, o Vale do Silício, onde está localizada a faculdade,
produtos ao mesmo tempo em que fazíamos um diagnóstico tem uma pegada muito forte de tecnologia. Tive a sorte de
das necessidades dos nossos clientes, refletindo sob e como ficar por dent o de tudo o que estava acontecendo de novo
agregar valor a eles. Depois, pensamos nas melhores formas naquele momento. Poucas escolas no mundo possuem uma
de distribuição desses produtos, para entregá-los ao mercado combinação tão forte entre educação e inovação.
o mais rapidamente possível. Claro, sempre avaliando os
feedbacks dos clientes e fazendo as adaptações necessárias. As escolas brasileiras têm se mostrado abertas para receber
os produtos da Geekie?
Vocês precisaram fazer muitos testes e adaptações As instituições estão entendendo aos poucos a nossa
dos produtos? proposta. Não é tão fácil mostrar o valor de um produto
Sim, uma coisa que aprendemos é que os produtos devem ser como o nosso, de inovação. O mercado está num processo
não do jeito que nós achamos, mas do jeito que o mercado de amadurecimento, enxergando cada vez mais a tecnologia
Empreendedorismo: o trabalho de criar
uma startup de educação

como uma ferramenta poderosa para o aluno, o professor e Quais características você diria que são essenciais
o gestor. Mas é um caminho lento. Quem entrar nesse setor em um empreendedor?
achando que vai revolucionar corre o risco de quebrar a cara. É preciso ter resiliência emocional e física para aguentar os
altos e baixos que a vida de empreendedor traz e capacidade
Ainda assim, é possível tornar uma startup de estar cercado por pessoas melhores do que você. Também
de educação sustentável? é necessário ter em mente que, apesar de o seu objetivo ser
Sim, mas para isso é preciso contar com uma equipe muito ter um impacto social, não existe sonho que dure se não for
bem preparada, ser ágil para adaptar seus produtos ao sustentável financei amente.
mercado e ter um plano de negócios consistente. Tudo isso
aumenta suas chances de conseguir o apoio de investidores.
Mesmo a escolha desses investidores precisa ser muito bem
planejada. Eles precisam estar alinhados a seus valores e
estratégias, senão, vocês correm o risco de entrar em conflit .

Quanto tempo pode demorar até a empresa se estabilizar?


Não tem uma regra para isso. Depende muito da empresa,
do tamanho da equipe e do investimento que terá que fazer
em tecnologia. Mas os investidores esperam que você consiga
mostrar que sua empresa tem chances de ter sucesso em
18 ou até 24 meses. Até agora, o faturamento da Geekie está
dentro das nossas expectativas.
“Estudar negócios e
educação paralelamente
me possibilitou
ter acesso a visões
complementares a cada
uma das áreas”

claudio sassaki geekie


texto
Cecília Araújo
Naiara Magalhães
Rafael Carvalho
edição
Rafael Carvalho
design
Danilo de Paulo
fotos
Acervo pessoal
Na Prática
Shutterstock

Vous aimerez peut-être aussi