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Carta on-line
Editor executivo: Miguel Martins
Editores: Dimalice Nunes e Tatiana Merlino
Editor de vídeo: Cauê Gomes
Repórteres: Ana Luiza Rodrigues Basilio (CartaEducação), Carolina Servio
Scorce, Gabriel Bonis e Marina Gama Cubas
Analista de mídias sociais: Julio Simões
Estagiários: Ana Carolina Pinheiro, Giovanna Costanti e Laura Castanho
Cerqueira
Designers: Regina de Assis
CLAU
Site: www.cartacapital.com.br
Publisher: Manuela Carta
Diretor executivo: Sergio Lirio
Diretora de publicidade: Simone Puglisi
Estagiária de publicidade: Leticia Leite Freitas
Gerente de marketing e relacionamento: Leticia Terumi Kita
Estagiária de marketing e relacionamento: Gabriela Lira Bertolo
Coordenador administrativo e financeiro: Mario Yamanaka
Equipe administrativa e financeira: Fabiana Lopes Santos e Rita de Cássia Silva
Paiva
Analista de RH: Claudinéia da Cruz
e-mail: comercial@cartacapital.com.br
ÍNDICE
CLAU
26 de setembro de 2018 - ano XXIII - n° 1022
CLAU
Cartas Capitais
Para algumas, #EleSim
CLAU
Grega
Baleias no caminho
A Semana
Propaganda enganosa
CLAU
Reportagem de capa
Apreensão e medo
CLAU
Marcos Coimbra
Eleitores e candidatos
CLAU
Seu país Entrevista
“Haddad vai ganhar”
Economia Indústria
Um novo ovo de Colombo
Antonio Delfim Netto
Indústria: 13 anos de atraso CLAU
CLAU
Plural Arquitetura
Os edifícios da mente
CLAU
Bravo!
Da oficina de Rafael
QI A História ensina
Getúlio, Perón e Lula
Afonsinho
CLAU
O vexame que faltava
Vara
Por Severo
Desastre golpista
O general Villas Bôas prefere deixar a coisa degringolar e agora diz que,
se Bolsonaro ou qualquer outro candidato afinado com seu chefe (Michel
Temer) não for eleito, os militares vão intervir. As Forças Armadas
perderam a oportunidade e correm o risco de também perderem de vez a
vergonha que ainda lhes resta, se não respeitarem as urnas novamente. As
armas de Bolsonaro são as mesmas de Villas Bôas, que se banha nas
águas de Temer.
Boanerges de Castro
Rio de Janeiro, RJ
(Enviado via carta)
Vésperas do pleito
Pela família não pode ser: o cidadão foi casado três vezes e teve dois
filhos fora do casamento religioso. Cristãos também não, porque estes não
apoiam a tortura.
Fernando Moraes
(Enviado via Facebook)
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Em
um
Para os cachalotes, a morte por colisão é a mais dolorosa, afirma, pois as hélices
muitas vezes deixam o animal ferido com profundos cortes. “Não sabemos como
ocorreu esse incidente”, suspira, descartando relatos de que foi encontrada grande
quantidade de plástico no trato digestivo do animal. “Mas o que sabemos é que ao
menos uma baleia é morta por ano em consequência de choque com algum navio.
É um índice de mortes a que a espécie nesta parte do mundo não pode
sobreviver.”
A Grécia não é a única. A extremidade sul do Sri Lanka, uma das rotas de
navegação mais movimentadas do mundo, representa um perigo semelhante para a
população de baleias-azuis. Os ambientalistas conseguiram o apoio inesperado da
indústria de navegação. A Organização Marítima Internacional, reconhecendo o
problema, traçou diretrizes para melhorar esse quadro. No início deste mês, a
Comissão Internacional da Baleia pediu uma ação urgente do governo grego,
alegando que evidências científicas mostram que os choques de navios precisam
ser abordados.
“Às vezes, baleias são apanhadas na proa de um navio com a metade da cauda
arrancada”, diz Leaper. “Às vezes, você recebe um corpo que não mostra
ferimentos externos, mas os ossos foram esmagados. Em todos os casos, é uma
morte terrível.”
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Embora haja muitas certezas, sustentadas não só pelas pesquisas eleitorais, mas
também por razões políticas, Fernando Haddad tornou-se candidato do Partido dos
Trabalhadores e ultrapassará, mais cedo do que se pensa, o porcentual de intenção
de votos dado a Jair Bolsonaro, o mais direto dos adversários dele.
Silva Jardim, um dos mais importantes políticos durante a luta republicana, sofreu
com isso. Bateu de frente com Quintino Bocaiúva, que armava uma saída
conciliatória do Segundo Reinado para a República. Bobeou e perdeu. Jardim já
alertava para isso. Advertiu: “Você não criará a República, e sim o Terceiro
Reinado”. Perdeu também. Iludido, partiu de navio para a Itália e, dizem, atirou-se
no Vesúvio.
ANDANTE MOSSO
Ela denuncia o horror
Impecável Conceição
Já está pronta para circular, sair do forno, em 2019, a cinebiografia da economista
Maria da Conceição Tavares, 88 anos, dirigida pelo talentoso documentarista José
Mariani.
Eis um: “Uma economia que diz que precisa estabilizar, para depois crescer, para
depois distribuir, é uma falácia, é uma economia que condena os povos a uma
brutal desigualdade de concentração de renda e de riqueza. Isso é coisa de
tecnocrata alucinado, que acha que está tudo ok, e não está tudo ok”.
E outro: “Não tem nada a ver um sujeito ter sido esquerdista na juventude e virar
direitista, uma coisa horrível, uma desgraça, um horror”.
Os caminhos de Mourão
Ele atropelou, por diversas vezes, a democracia e se disse disposto a “botar a casa
em ordem”. Perguntado diretamente sobre a intervenção militar no processo
democrático, explicou que, caso fosse preciso, seria feito na forma de
“aproximações sucessivas”. Orientou: “Não existe forma de bolo”.
Lembrai-vos
Sérgio Cabral, ex-governador, tem o filho Marco Antonio na segunda eleição, assim
como o deputado Leonardo Picciani, filho do poderoso Jorge Picciani, senhor da
Assembleia Legislativa e do ex-PMDB.
Daniela Cunha, filha do astuto Eduardo, preso em Curitiba, vai testar o poder da
herança eleitoral deixada pelo pai, além dos rastros existentes.
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Os anos 2016 e 1964 são dos golpes, mas aquele é diferente deste, embora ambos
sejam vincados pela tradicional hipocrisia brasileira, pelo apoio praticamente maciço
da mídia e pela óbvia presença, por trás de tudo, da casa-grande. Cinquenta e
quatro anos atrás, alegou-se o propósito de “pôr o País em ordem”, estancar a
hemorragia inflacionária e impedir a comunistização do Brasil. O golpe dentro do
golpe de 1968 multiplicou a fúria ditatorial. Manteve cinicamente, porém, a presença
de dois partidos na arena política e um calendário eleitoral para a renovação do
Congresso até uma eleição para o governo dos estados em 1982.
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São Paulo/ Propaganda enganosa
A Justiça Eleitoral proíbe o tucano João Doria de usar imagens de escolas dos
Estados Unidos e da Rússia em material de campanha
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João Doria travestiu-se de gari, pintor de paredes e até mesmo cadeirante em sua
passagem pela prefeitura de São Paulo. Hoje na disputa pelo governo paulista, o
tucano busca desesperadamente preservar a puída fantasia de “gestor”, mas
acabou surpreendido ao recorrer a manjados truques de marketing. Na segunda-
feira 17, o Tribunal Regional Eleitoral proibiu o candidato do PSDB de utilizar
imagens de escolas e clínicas da Rússia e dos Estados Unidos em sua
propaganda.
Para ilustrar alguns de seus feitos, como uma “creche de Primeiro Mundo”, Doria
usou trechos de vídeos comercializados em bancos de imagens estrangeiros,
revelou uma reportagem da Rádio CBN. As cenas usadas no material de campanha
podem ser encontradas em vídeos antigos no YouTube e em canais das redes
norte-americanas NBC e CBS.
CartaCapital é premiada
Na quarta-feira 19, CartaCapital recebeu o prêmio “Destaque Econômico do Ano”,
na categoria mídia, oferecido pelo Conselho Federal de Economia, que representa
mais de 230 mil profissionais da área. Manuela Carta, publisher da Editora
Confiança, recebeu a honraria na noite da quarta-feira 19, durante o 26º Simpósio
Nacional dos Conselhos de Economia, realizado em Porto Velho (RO). Na ocasião,
o economista Ladislau Dowbor também recebeu o prêmio “Personalidade
Econômica do Ano”.
Em
O episódio evidencia a “jurisprudência Lula”
Na
Rodrigo, 26 anos, levou três tiros e morreu. Tiros disparados pela PM, que
confundiu o guarda-chuva com um fuzil. E o “canguru”, com um colete à prova de
balas. No boletim de ocorrência, ainda se anotou: “Agentes foram alertados por
populares que havia criminosos. Chegando ao local, houve troca de tiros e um
breve confronto”. Vai ver o guarda-chuva de Rodrigo era como o de 007. Esta não é
a primeira vez que uma “confusão” da PM carioca mata um inocente. Em 2010, o
Bope eliminou o portador de uma furadeira. Em 2016, um policial militar assassinou
um adolescente com um saco de “drogas”. No caso, pipocas. Aconteceu também
com celulares, chaves de roda e outras ferramentas.
Alemanha/ Deslealdade premiada
Polícia militar confunde guarda-chuva com fuzil e mata um garçom
Maassen desafiou Merkel e saiu ganhando. Sinal de que o poder da chefe está por um fio
No
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Seria apenas mais uma leva de declarações tresloucadas, não fosse por uns
detalhes. Bolsonaro foi abraçado como candidato por uma parcela grande do
Exército, uma eleição em que há um número recorde de candidatos militares a
vários cargos. Em 21 anos no poder, na ditadura de 1964 a 1985, o Exército deixou
um legado de mortes, concentração de renda e, sim, de corrupção, embora hoje
seja visto como a instituição mais confiável (78%), conforme um Datafolha de junho
passado. Um CV suficiente para temer um governo Bolsonaro nascido do voto ou
da porrada. “O Bolsonaro era execrado pelos militares, pelo passado de
insubordinação, hoje a visão sobre ele mudou nas Forças Armadas. Ele penetrou
nos dois setores mais efervescentes do Exército: a reserva, que pode falar o que
quer sem ser punida, e os majores e capitães, que estão em um ponto da carreira
em que olham para o futuro”, diz um general.
Não foi coincidência Bolsonaro ter proposto em 2015, como deputado, uma lei do
voto impresso, derrubada pela Justiça. Nem foi um repente o que ele falou agora
sobre fraude. Heleno foi à convenção do PSL que oficializou a candidatura de
Bolsonaro, mas não pôde ser o vice, pois seu partido, o PRP, não deixou. A vaga
ficou com outro general de pijama respeitado pelos colegas, Antonio Hamilton
Mourão. Nascido em Porto Alegre, Mourão, de 65 anos, entrou para a reserva em
fevereiro. De 2014 a 2015, chefiou o Comando Militar do Sul. Saiu do cargo por
dizer certas coisas durante a agonia de Dilma Rousseff. Em setembro de 2015,
convocou colegas para “o despertar de uma luta patriótica”, ou seja, golpe. No mês
seguinte, permitiu que houvesse em uma unidade sob seu comando uma
homenagem ao coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, torturador de Dilma. Gota
d’água.
Toffoli chama o general Azevedo e Silva ...
Com Michel Temer, mais verborragia. Em setembro de 2017, em uma palestra num
grupo maçônico em Brasília, Mourão falou várias vezes em intervenção militar como
saída para a crise política. “Os Poderes terão que buscar uma solução, se não
conseguirem, chegará a hora em que teremos que impor uma solução.” Em
dezembro, criticou Temer abertamente. “Nosso atual presidente, ele vai aos trancos
e barrancos, buscando se equilibrar, e, mediante um balcão de negócios, chegar ao
final do seu mandato.” Foi afastado das finanças em seguida. Em fevereiro, entrou
para a reserva.
... para se resguardar contra as facções mais reacionárias
Mourão tem dito coisas bizarras como Bolsonaro, reveladoras de uma visão elitista,
preconceituosa. Em agosto, comentou em um almoço em Caxias do Sul que o
brasileiro é indolente por causa dos índios e malandro por causa dos negros. Nos
últimos dias, disse que a política externa “Sul-Sul” dos governos petistas nos
aproximou de uma “mulambada”, os países africanos. Que famílias formadas
apenas por mães e avós, sem pais e avôs, são “fábricas de desajustados”,
declaração comentada da cadeia por Lula: “Eu e sete irmãos fomos criados por uma
mulher analfabeta chamada Dona Lindu e duvido que exista alguém na sociedade
brasileira que educou os filhos melhor do que ela”. A visão de Mourão explica ele ter
defendido nos últimos dias, em Curitiba e São Paulo, que o País tenha uma nova
Constituição, escrita apenas por “notáveis”, não por gente eleita pelo povo.
O
O vice de Bolsonaro propõe um “autogolpe”
Tabaré Vazquez mandou prender o chefe do Exército uruguaio por causa de seus palpites
políticos
Tio Sam está bem informado a respeito da corrupção brasileira, inclusive nas Forças Armadas
O General Villas Bôas, na sua entrevista ao Estadão, atribuiu às forças armadas o papel de
árbitro das próximas eleições
Uruguai teve sua ditadura militar, de 1973 a 1985. A daqui foi mais duradoura. Sua
obra? A tese de doutorado em sociologia vencedora de melhor do ramo no ano
passado faz um apanhado da evolução da concentração de renda no Brasil.
Chama-se “A Desigualdade Vista do Topo: A Concentração de Renda Entre os
Ricos no Brasil, 1926-2013”. Segundo seu autor, Pedro Herculano Guimarães
Ferreira de Souza, pesquisador do Ipea, o Brasil tem uma tradicional concentração
no 1% mais rico em um patamar bem acima de outras nações desiguais. Essa casta
morde por aqui uma média histórica de 23% do PIB. Após o governo autoritário de
Getúlio Vargas, de 1945 em diante, essa fatia caiu. Às vésperas do golpe militar de
1964, que derrubou o presidente João Goulart (1961-1964) e suas reformas de
base, ia de 17% a 19%. Daí os militares tomaram o poder e o naco “aumentou
continuamente até 1971, quando atingiu 26%, maior porcentual desde os anos
1940”.
No
relato da CIA, Geisel discutira o tema com três generais numa reunião em 30 de
março: João Baptista Figueiredo, que seria o próximo ditador e era então chefe do
Serviço Nacional de Informações (SNI), Milton Tavares, chefe do Centro de
Informações do Exército, e Confúcio Danton de Paula Avelino, que assumiria o CIE.
Era sábado. Geisel pediu para pensar no fim de semana. Na segunda-feira, 1o de
abril, aniversário de 10 anos do golpe, veio a decisão. Com a palavra, a CIA: “O
Presidente Geisel disse ao general Figueiredo que a política deveria continuar, mas
que muito cuidado deveria ser tomado para assegurar que apenas subversivos
perigosos fossem executados. O presidente e o general Figueiredo concordaram
que, quando o CIE prender uma pessoa que possa se enquadrar nessa categoria, o
chefe do CIE consultará o general Figueiredo, cuja aprovação deve ser dada antes
que a pessoa seja executada”. Quer dizer, a matança não apenas era uma política
oficial, como o sinal verde vinha bem do alto.
E para quem acha que havia concentração de renda e repressão, mas ao menos
eram tempos éticos, um aviso: não foi nada disso. Em 2015, o Prêmio Jabuti,
“oscar” da literatura nacional, foi dado na categoria “economia” a um livro que
mergulhou na corrupção na ditadura, capítulo “empreiteiras”. A obra, Estranhas
Catedrais, é do historiador Pedro Henrique Campos, da Universidade Federal Rural
do Rio de Janeiro. Dois exemplos foram citados por ele para esta reportagem.
Posto ali pela ditadura em 1971, Haroldo Leon Peres caiu nove meses depois do
cargo de governador do Paraná, pois se soube que cobrara propina de 1 milhão de
dólares da construtora CCR. O outro caso envolve as obras da Hidrelétrica de
Tucuruí, no Pará. A exploração da madeira da área que seria inundada foi dada
pelo governo, na década de 1970, ao fundo de pensão dos militares, a Capemi. O
fundo pegou grana estrangeira, desmatou 10% do combinado e só. Suspeita-se que
faltou grana devido a desvios, motivo de uma CPI nos anos 1980. A usina em si foi
construída pela Camargo Corrêa, empreiteira que recebeu incentivos fiscais
estimados em 5 bilhões de dólares e que arrancou nada menos que 29 adicionais
contratuais encarecedores da obra.
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Em uma semana, o petista cresceu 1,5 ponto porcentual por dia. O deputado, por sua vez,
consolida o voto antilulista
Ciro Gomes tem testado os seus limites. Não deve ser fácil se ver cercado a todo
momento e responder exaustivamente às mesmas perguntas para uma manada de
jornalistas orientados pelos chefes a buscar frases de efeito e não esclarecimentos.
Ossos do ofício, dirão, esforço mínimo para quem se propôs a governar o Brasil.
Diante do enésimo questionamento a respeito do incidente em Roraima, quando
deu uma resposta atravessada a um falso repórter escalado pelo emedebista
Romero Jucá para provocá-lo, Ciro faz uma pausa, respira e esgrime: “Sinto
vergonha de parte da mídia. É uma inversão total dos fatos. Ele estava lá a mando
do Jucá”.
O quebra-queixo dura mais uns cinco minutos e o pedetista ruma ao elevador do
antigo prédio da Faculdade de Filosofia da USP, na famosa Rua Maria Antônia,
Centro de São Paulo, hoje ocupado em parte pela Sociedade Brasileira para o
Progresso da Ciência. A trupe de fotógrafos e cameramen o segue afoita, busca um
instante que não se concretiza. A lente esbarra na orelha do vizinho, a câmera
funga no cangote de um colega mais bem posicionado, uma segurança sai do
caminho antes de ser pisoteada.
Nas três horas seguintes, Ciro falará de suas ideias para um pequeno grupo de
associados da SBPC (“ciência e tecnologia é o novo nome de soberania”, enfatiza),
exibirá seu reconhecido domínio dos problemas centrais do País, e voltará a criticar
os meios de comunicação, que optaram pela “vulgaridade e a omissão”, embora
considere impossível aprovar no Congresso uma lei para regular a mídia. Também
fará piadas de si mesmo e desfiará seu crescente ressentimento com o PT, a quem
acusa de sabotar sua campanha para se apegar à aventura de Fernando Haddad,
um “FHC redivivo”, “garoto de recados de Lula” e “despreparado” para a missão.
“Se não quiserem resolver nada agora, paciência.
Na pista. Enquanto Fernando Haddad é guindado pelo lulismo, Ciro Gomes equilibra-se entre a
crítica ao petismo e o combate à ameaça de Bolsonaro
O QG petista, por sua vez, decidiu reeditar o estilo “paz e amor” de 2002. Evita-se
um confronto não só com Ciro (no caso do pedetista, a ordem é retribuir “balas com
flores”), mas com qualquer outro adversário. As críticas ao mercado financeiro têm
sido atenuadas, apesar de o partido negar a possibilidade de editar uma nova
versão da Carta ao Povo Brasileiro, que, na verdade, refletia um compromisso com
os donos do poder.
“Há uma outra compreensão dos cidadãos sobre o que se passou desde 2016”,
avalia um dirigente. “O impeachment da Dilma não melhorou a situação do País,
como se dizia, e ficou clara a parcialidade da Lava Jato e a perseguição a Lula.”
Haddad vai intensificar as viagens antes do primeiro turno. A agenda prevê visitas a
todas as regiões, embora a campanha escolha, por razões óbvias, priorizar os
estados com maior número de eleitores: São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro,
Bahia, Ceará, Pernambuco e Paraná. Os petistas esperam, até lá, alcançar a
liderança das pesquisas. •
Com José Serra em retiro forçado, Aécio Neves enrolado com a Justiça e Geraldo
Alckmin prestes a colher o pior desempenho da legenda em uma eleição
presidencial desde 1994, o tucanato não é mais capaz de representar o antipetismo.
Acabou engolido pelo monstro que liberou da lâmpada, como lembrou Fernando
Haddad em entrevista a CartaCapital: “Serra e Aécio abriram uma avenida para o
obscurantismo no Brasil”. O PSDB, recordou Haddad, introduziu de forma distorcida
e eleitoreira os debates sobre aborto, gênero e maioridade penal, assuntos que
insuflaram o reacionarismo fascistoide e a candidatura de Jair Bolsonaro.
Atualmente, os tucanos são considerados “frouxos” demais pelo eleitorado que
sonhou controlar.
Alckmin não tem sido abandonado só pelo Centrão, que, como esperado, cada vez
mais se divide entre Bolsonaro e Haddad, em busca de um lugar ao sol no próximo
governo, seja qual for ele. O sofrível desempenho do ex-governador paulista nas
pesquisas e a desoladora perspectiva eleitoral excitam as desavenças internas.
Antigo desafeto da nomenclatura paulista da legenda, o amazonense Arthur Virgílio,
faixa preta de judô, abre mão de qualquer reflexão intelectual e vai direto ao ponto,
quando fala do correligionário que disputa a Presidência: “Não leva o meu apoio,
não leva o meu voto, nem o do Amazonas”.
ÍNDICE
CRÉDITOS DA PÁGINA: Felipe Oliveira/EC Bahia, NELSON ALMEIDA/afp, NELSON ALMEIDA/afp e Fabio
Rodrigues Pozzebom/ABr
De busão com Zé Dirceu
PERFIL Viajando de ônibus pelo Brasil, o controverso ex-ministro é o mercador de
suas memórias e o militante pop star em campanha por Haddad
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Antes e depois. No ônibus alugado para a caravana. E em 1968, ao lado de Antônio Guilherme
Ribeiro Ribas, morto no Araguaia em 73
Embora se erga da plateia uma senhora a afirmar “Zé, você está mais lindo do que
quando foi preso”, Dirceu ainda não alcançou essa plena condição de gato: conta
até agora, segundo o próprio, apenas quatro vidas. Antes do exílio em Cuba, entre
Cuba e a clandestinidade no Brasil, a vida como “Carlos” no interior do Paraná, e,
por fim, a de cassado, condenado e preso depois do mensalão. As três primeiras
encarnações compõem o livro Zé Dirceu – Memórias Volume I (Editora Geração),
495 páginas escritas por ele na cadeia com caneta Bic, sentado na cama porque
não havia mesa nem cadeira em sua cela. É sem dúvida o caso raro e concreto de
uma vida que daria um filme, o que já está em negociação com produtores
estrangeiros. Sua quarta existência, a do presidiário, José Dirceu contará
no Volume II, a ser lançado no primeiro semestre do ano que vem, prudentemente
depois das eleições. Segundo uma fonte, “vai sobrar para Dilma”, assim como no
volume primeiro sobra para Palocci e até Lula, não obstante sobre também para o
próprio Dirceu.
Para o pop star José Dirceu, entrar num aeroporto e subir num avião é mais ou
menos como se Xororó fosse ao palco de um concerto de punks: a vaia seria tão
certa quanto sem dúvida. Motivo pelo qual decidiu embarcar em um busão alugado
e fazer do lançamento de sua biografia uma caravana que já passou por Rio,
Maricá, Vitória, Salvador, Aracaju, Maceió e Recife, e que intenta chegar ainda a
Natal, Fortaleza, São Luiz, Teresina e Belém – e esta é apenas uma de três fases
da peregrinação. A bordo do Volvo nacionalista de cortinas amarelas, cadeiras
verdes e encostos de cabeça azuis, trocando biscoitos de polvilho e esticando os
pés descalços naquela descompostura típica, viajam Dirceu e “a mulher amada”
Simone Patricia Tristão Pereira, 40 anos. Além de uma diminuta equipe de
profissionais da comunicação, entre eles um membro da campanha de Lula, agora
Haddad. Explica-se: disfarçado de mercador de livros, Dirceu é um comprometido
militante em campanha por Haddad. Pairando hoje sobre as variadas tendências do
partido, cumpre a função de aparador de arestas, incentivador da militância,
agregador de sindicalistas, feministas, movimentos diversos, a juventude petista.
Em “showmícios” como aquele de Verdi, em Salvador, ou no famoso palco do Circo
Voador, no Rio de Janeiro, gasta a lábia no discurso tanto ou mais que a Bic com a
qual assina livros a rodo, para tanto recorrendo ao telegráfico “um abraço Zé
Dirceu”.
No ônibus de José Dirceu esteve embarcado este repórter, viajando entre Salvador
e Aracaju. Disposto a entrevistá-lo, fui aconselhado a aguardar uma inevitável sesta
que se seguiria a um almoço no qual, de acordo com o interlocutor, Zé tomara “uns
birinights”. Como a sesta não se verificou, e tampouco os birinights pareciam
impedi-lo de soprar o bafômetro, fui posto em uma mesa aos fundos do coletivo
frente a frente com Dirceu, enquanto o coletivo sacolejava já nos entornos de
Mangue Seco. O ex-ministro, livre desde 26 de julho e no aguardo de dois
julgamentos, no TRF e STJ, não parecia abatido como nas fotografias recentes. Era
um Dirceu gordinho e sem rugas, e eu quis saber se aquilo decorria, quem sabe, da
plástica que fizera em Cuba para voltar clandestino ao Brasil durante a Ditadura.
“Evidente que não.”
CC: Mudou muito? Você ainda parece com suas fotos anteriores à plástica...
JD: As mulheres disseram que fiquei mais feio. Mas eu não ligava. Imagina o que
era uma cirurgia plástica em Cuba em 1970...
CC: Cê é doido...
JD: Doido pra caralho.
JD: Um outro lá escreveu que sou cheio de pavonear minha vida amorosa... Como
posso escrever uma biografia e não falar dos meus namoros, das mulheres que
amei? Quando a Simone leu os originais, me perguntou: “Quer dizer que em Cuba
você passou quatro anos e nunca... Não teve nada?” Tinha alguma coisa errada,
né? Quem aguenta ler apenas análises políticas?
Personagens. O candidato a governador e o candidato a presidente em 1994. Como o clandestino
“Carlos”, com Clara Becker e Zeca, em 79
JD: Dizem que falei mal do Lula, mas falei mal de mim também. Ninguém pode me
acusar de ter mágoa ou ressentimento. Minha lealdade a ele é inquestionável, mas
isso não significa que eu seja lulista no sentido que a palavra ganhou. Devoto só
sou da dona Olga, minha mãe, que já nos deixou.
Volume II. Vem aí a segunda parte de sua biografia, prudentemente depois das eleições. “Vai
sobrar para a Dilma”
CMP de Pinhais abriga 700 presos em seis alas. A primeira e a segunda, uma
espécie de manicômio judicial. A terceira e a quarta, um hospital que trata desde a
tuberculose e a Aids até a perna quebrada. A quinta e a sexta estão reservadas a
funcionários públicos, agentes penitenciários, policiais, empresários do crime
organizado, pedófilos, “uns três ou quatro idosos, e nós, os políticos”. Numa galeria
de 60 metros por 10, 36 celas em cada lado do corredor, Dirceu foi colega de
Marcelo Odebrecht, Márcio Faria, Rogério Araújo, André Vargas, Vaccari, Luiz
Argolo, Renato Duque, Léo Pinheiro e Jorge Zelada, entre outros. Dividiu a cela
com Vaccari, Vargas e Argolo.
JD: São três camas de aço, pra você não quebrar e usar como arma. Aí tem um
murinho que separa a privada e o tanque. Privada turca, né? Pra quem tem
dificuldade por alguma razão, hemorroidas, por exemplo, eles botam uma cadeira
pra ajudar. A privada turca deve ser mais cara do que um vaso normal, com certeza
gasta mais água, mas eles gostam dessas coisas. Você acostuma.
CC: Você pode voltar a ser preso, e desta vez por muito mais tempo. Como se
sente com isso?
JD: Se eu tivesse 40 anos, não tava nem aí. Teria mais 40 pela frente. Em todo
caso, tenho uma vantagem sobre todo mundo: as quatro vezes em que tive de
começar tudo de novo. •
“EU REPILO”
O que diz José Dirceu sobre suas supostas ligações com o enrolado banqueiro
Daniel Dantas
Em outro caso que envolve as telecomunicações, Dirceu foi apontado como lobista
do Grupo Portugal Telecom para negócios no Brasil. “Não tem nada de mais,
apenas incentivei o grupo a investir em mídia no Brasil, porque eram sócios da
maior rede de tevê de Portugal, e seu acionista era casado com uma brasileira e,
portanto, a lei os favorecia. Só isso.”
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Nas análises sobre as pesquisas, muita coisa está equivocada. Quase sempre se
insiste em generalizações que talvez fizessem sentido há algum tempo, mas cuja
validade venceu. Há exceções, interpretações que identificam o que é efetivamente
relevante para explicar como pensa e se comporta o eleitorado. A regra, no entanto,
é outra. Perde-se tempo na descrição de aspectos que, na melhor hipótese, são
secundários.
Os eleitores brasileiros, à medida que lhes foi permitido acostumar-se com eleições
regulares e com regras institucionais razoavelmente estáveis (no fundamental),
deixaram de ser entes cuja natureza podia ser compreendida através da geografia e
da demografia. A cada eleição, em que preferências e escolhas anteriores tiveram
de ser revistas e atualizadas, as pessoas foram adquirindo características novas e
se diferenciando.
Hoje, não há qualquer razão para continuar a pensar dessa maneira. Ao contrário,
persistir nesse simplismo induz a erros e cristaliza estereótipos e preconceitos.
Por razões que não cabe aqui discutir, a linha de clivagem política fundamental em
nossa sociedade é a que separa três grandes grupos: as pessoas que apoiam Lula
e o PT, as antipetistas, contra ambos, e as que se definem como neutras, não
sendo nem a favor nem contra o petismo.
Faz tempo que essa divisão é conhecida e que o tamanho de cada grupo está
dimensionado: em termos amplos, são iguais, cada um englobando cerca de um
terço da opinião pública. Em épocas “normais”, são quase idênticos, mas, conforme
as circunstâncias, um pode crescer em detrimento do outro.
Estão erradas as avaliações que afirmam, por exemplo, que “O Nordeste está
dividido entre Fernando Haddad e Ciro Gomes”. Existe, na região, um tipo de eleitor
que, de fato, se divide entre os dois, mas há também um eleitorado antipetista, que,
como no restante do País, se inclina em direção a Bolsonaro. O peso relativo de
cada segmento é que varia de um lugar para outro. O mesmo vale para
generalizações semelhantes a respeito ”dos jovens”, “das mulheres”, “dos pobres”.
Há pobres com Jair Bolsonaro e não são poucos, como se vê através dos números
que sua candidatura atingiu, embora o que mais chame atenção na estrutura atual
das intenções de voto é a extensão alcançada pelo bolsonarismo nas classes
médias (especialmente de renda mais elevada) e entre pessoas de escolaridade
alta.
Quem acompanha com atenção as pesquisas terá percebido que seu crescimento
recente, depois do episódio da “facada”, se deu através de uma quase unificação do
antipetismo, incluindo o voto feminino antipetista, que relutava em apoiá-lo.
É a disputa do petismo contra o antipetismo por esse voto que vai marcar o
segundo turno. Pouco a ver com gênero, idade, renda, escolaridade e região, as
cinco chaves que antigamente eram consideradas suficientes para analisar as
pesquisas e fazer prognósticos. •
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Após o general Hamilton Mourão, vice de Bolsonaro, afirmar que lares chefiados por
mães e avós são “fábricas de desajustados”, mão de obra do narcotráfico, até
mesmo Sheherazade, que numerosas vezes desrespeitou os direitos humanos nos
telejornais do SBT, aderiu à campanha. “Sou mulher. Crio dois filhos sozinha. Fui
criada por minha mãe e minha avó. Não. Não somos criminosas. Somos heroínas!
#EleNão”, escreveu no Twitter. Atacada por um séquito de bolsonaristas, a
apresentadora não recuou: “Pare de se iludir e tentar encobrir todas as atrocidades
do seu candidato. Faça um exame de consciência e veja se é esse clima de ódio
que você deseja para o nosso país”.
A adesão das celebridades deve fermentar protestos convocados por mulheres para
o sábado 29. Pelo Facebook, mais de 65 mil indivíduos confirmaram presença no
ato do Largo da Batata, em São Paulo. Outros 210 mil manifestaram a intenção de
participar. No Rio de Janeiro, a convocatória para a Cinelândia contava, até a
quarta-feira 19, com 17 mil confirmações e 75 mil interessados. Eventos
semelhantes estão previstos em capitais como Belo Horizonte, Porto Alegre,
Fortaleza e Recife. Na verdade, o número de mulheres dispostas a ocupar as ruas
pode estar subestimado após os ataques cibernéticos promovidos por
bolsonaristas, que roubaram dados pessoais de administradoras do grupo
“Mulheres Unidas Contra Bolsonaro” para ameaçá-las. O caso é investigado pelo
Grupo Especializado de Repressão aos Crimes por Meios Eletrônicos, da Polícia
Civil da Bahia.
Inimigo comum. Mesmo celebridades de perfil mais conservador, como Rachel Sheherazade e
Claudia Raia, uniram-se no repúdio ao presidenciável do PSL
reação truculenta dos partidários de Bolsonaro não chega a surpreender. “O
incômodo é porque eles sabem da potência desse grupo. Mais de 2 milhões de
mulheres organizadas, motivadas e discutindo são capazes de mobilizar suas
mães, filhas e amigas. Imagine o impacto disso”, afirma a antropóloga Rosana
Pinheiro-Machado, docente da Universidade Federal de Santa Maria (RS) e
professora visitante da Universidade de Oxford, no Reino Unido. “Não nos quiseram
nas redes, agora terão de nos aguentar nas ruas”, emenda a pesquisadora.
Desde que foi vítima de um ataque à faca, Bolsonaro tem crescido nas pesquisas.
Dois dias antes do atentado, ele figurava com 22% das intenções de voto, segundo
o Ibope. Na sondagem divulgada na terça-feira 18, tinha 28%. Mas a rejeição ao
capitão da reserva do Exército atinge 42% dos eleitores, a mais elevada entre todos
os postulantes ao Planalto. Seu calcanhar de aquiles é justamente o eleitorado
feminino: 49% das mulheres dizem que não votariam em Bolsonaro de modo algum,
de acordo com o Datafolha de 14 de setembro.
A diretoria do Palmeiras limitou-se a publicar uma lacônica nota, na qual afirma que
o posicionamento do seu jogador foi “uma manifestação particular, e não da
instituição”. O Atlético Mineiro manifestou “repúdio a quaisquer gestos de
preconceito ou de incitação à violência” por parte da sua torcida. A Confederação
Brasileira de Vôlei apagou a polêmica foto em seu perfil no Instagram e disse não
compactuar com manifestações políticas de atletas no momento em que eles
representam a Seleção.
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Situações como as que vivemos podem levar à violência os mais frágeis psiquicamente
Não é nada fácil observar o Brasil hoje. Sobretudo para um estrangeiro que
conhece pouco este país, seus problemas e mesmo os dramas de vários anos, que
se sucedem, principalmente depois de 2016, na história desse quase continente
que nos envolve de admiração e fascinação, por um lado, e de tristeza e até horror,
por outro.
Entre eles, os mais frágeis – aqueles que o discurso comum tenta qualificar de
desequilibrados – são suscetíveis, em tal contexto, de cometer aquilo que a
psiquiatria e a psicanálise chamam de passages à l’acte, isto é, a ação, que se
pode dizer inconsciente, do que era até então um fantasma silencioso. O estado do
País, mas também o do Estado mesmo, é de tal forma fonte de angústia – o Estado
é tido como não protetor, fonte de insegurança – em que pessoas psiquicamente
débeis, fóbicas ou angustiadas podem procurar segurança e até mesmo se dar a
ilusão de existir, de ter um lugar na realidade, cometendo atos violentos em busca
de uma sensação de libertação.
Complô contra a direita fomentado por ela própria, para construir um cenário de
martiriologia e apelar a um “poder forte”, complô organizado pela esquerda para se
ver livre fisicamente de um adversário político considerado uma pessoa que não
deve ter seu lugar na política, complô contra o País inteiro organizado pelo
“estrangeiro” para apoiar um dos lados políticos?
Qualquer uma dessas hipóteses não seria mais que o delírio de uma pessoa, mas
um delírio ou paranoia generalizada, propícia ao desenvolvimento acelerado de
insegurança e violência. As forças de direita são livres para se deleitar com tal
clima, alimentando essa violência, que eles vão tentar justificar se apresentando
como garantidoras de uma ordem militar-fascista. As forças de esquerda devem
unir-se para fazer frente aos delírios e outras fantasmagorias, para tentar manter a
calma, ou melhor, salvar e reconstruir uma democracia, que é “o menos ruim de
todos os regimes. •
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Um novo ovo de Colombo
INDÚSTRIA Em vez de concentrar esforços na busca da alta tecnologia, o Brasil deve
desenvolver setores de média tecnologia, aconselha especialista
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Erra quem vê a indústria 4.0 como atalho. Ter uma base industrial
forte é indispensável
Para elevar padrões de vida, ter crescimento inclusivo e muitos trabalhadores com
salários em alta, salientou Khan, há necessidade de uma ampla base de
produtividade crescente na sociedade e isso requer um setor manufatureiro
globalmente competitivo. Cabe lembrar que há quem defenda, inclusive no Brasil, o
uso da indústria 4.0, aquela que engloba as principais inovações tecnológicas da
automação e do controle e tecnologia da informação aplicadas aos processos de
manufatura, como um atalho para chegar à alta tecnologia, mas isso é um
equívoco, conclui-se desta explicação de Khan: “As pessoas falam de
industrialização 4.0 como se nós pudéssemos saltar por cima da indústria
manufatureira e cair diretamente dentro de serviços de alta qualidade e criação de
tecnologia. Isso não é o que acontece nos países avançados. Se você olha para os
Estados Unidos e a Europa, eles estão trazendo a indústria de volta. E a razão
disso é que inovação de alta tecnologia não pode acontecer sem uma base
industrial forte”, alertou o economista.
Clark. Políticas industriais, em especial as da nova geração, fazem muito sentido e, se tiverem
bons protocolos de aplicação, podem levar um país a se reindustrializar
Os
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A carta propõe ao seu alter ego uma volta ao passado em ambiente social e
econômico adverso interna e externamente. Essa sugestão é um típico autoengano.
Admiro, desde sempre, a sua aguda inteligência, seu carisma e sua imensa
liderança, e tenho Fernando Haddad em alta conta. É um intelectual visionário
(provavelmente, seria um bom prefeito de Amsterdã) que administrou São Paulo
com cuidado. Foi, porém, uma das maiores vítimas da tragédia promovida pelo
próprio Lula: o governo Dilma Rousseff (2011-2016). Nem Lula nem Haddad têm
como fingir que não sabem que se trata do pior quinquênio da história econômica
do último século. Um gráfico vale mais do que mil palavras. Proponho ao leitor que
veja o triste episódio sob a perspectiva de um importante indicador da higidez da
economia: o índice de produção industrial com ajuste sazonal (média 2003 = 100)
desde o início do governo Lula, revelado no gráfico abaixo.
As
coisas caminharam bem até a grande crise de 2008, da qual saímos rapidamente,
mas sem reconhecer que os “bons tempos externos” tinham terminado. A partir daí,
exageramos na dose dos Programas de Aceleração do Crescimento nunca
concluídos, dos subsídios equivocados, dos abusos do BNDES e acumulamos
desequilíbrios que Dilma tentou corrigir em 2011. Entretanto, quando a economia
perdeu o fôlego em 2012 (o crescimento do PIB de 4% em 2011 caiu para 1,9%),
dobrou-se a aventura até entrarmos em recessão no começo de 2014 na “reeleição
a qualquer custo”. Quando Dilma deixou o governo, a produção industrial tinha sido
dizimada e voltou ao nível de 2003. A triste e insuperável verdade é que o PT em
seus 13 anos impôs 13 anos de atraso à indústria nacional. Haddad e o PT
precisam acertar suas contas com o passado e não prometer uma volta a ele. •
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Lido com atenção, o livro O Capital no Século XXI, de Thomas Piketty, investiga a
tendência “natural” do capitalismo à valorização de ativos já existentes sobre as
aventuras do investimento produtivo. “Quando o empresário tende inevitavelmente a
se tornar um ‘rentier’, dominante sobre os que apenas possuem o próprio trabalho,
o capital se reproduz mais velozmente que o aumento da produção e o passado
devora o futuro.”
Não vamos nos iludir com a balela de que a privatização está comprometida com a
melhora das condições de vida do consumidor e do cidadão. Isso pode até ocorrer
em alguns casos. Não tem sido a regra geral e isso é sabido por quem se dedica a
estudar o fenômeno no âmbito da economia global. A celebrada privatização
inglesa, por exemplo, promoveu um salto tão espetacular nas tarifas de água e
esgoto, em determinadas regiões, que o jeito foi mudar de residência para escapar
da fúria dinheirista das empresas privadas. •
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Alvo esquecido. Os protestos do Occupy foram reprimidos e a ira deflagrada pela crise
reorientada contra imigrantes e outros bodes expiatórios
Se ou quando ocorrer uma nova grande crise internacional, haverá menos gastos a
serem cortados e menos espaço para aumento das dívidas públicas. Também
haverá menos disposição dos governos a cooperarem para contê-la. Em 2008,
havia no Ocidente pouca contestação à globalização neoliberal, o que, se, por um
lado, criou condições para a crise ao esvaziar a supervisão de bancos e facilitar a
circulação de fluxos financeiros, também criou um consenso entre os governos
sobre o caminho a seguir. As elites da América do Norte, Europa e Ásia sabiam
estar no mesmo barco e precisar agir em conjunto para evitar seu naufrágio – à
custa da plebe, naturalmente. Dez anos depois, principalmente por causa das
consequências desse resgate sobre o eleitor comum, os egoísmos nacionais e os
movimentos isolacionistas estão em alta e as organizações multilaterais,
desmoralizadas. Comércio e finanças internacionalizados, talvez mais que há dez
anos, combinados com um sistema político cada vez mais fragmentado, é uma
combinação incendiária, principalmente neste momento.
Os
Lição desdenhada. A falência do Lehman abalou o mundo e os governos saíram em socorro dos
demais grandes bancos. Isso não os fez mais prudentes
No ano passado, considerando não haver mais risco de recessão nos EUA, o Fed
começou de novo a aumentar a taxa, de 2% desde junho de 2018. Embora ainda
não supere a inflação do dólar – 2,7% nos 12 meses até agosto, 2,4% esperados
para os próximos 12 –, bastou para atrair de volta aos EUA capitais especulativos
espalhados pelo mundo e pôr em apuros quem aproveitou a era dos juros negativos
para tomar empréstimos.
Outro possível canário é a Turquia. Enquanto Mauricio Macri conta em tese com a
simpatia do governo de Donald Trump e dos economistas ortodoxos por seu rigor
neoliberal e alinhamento incondicional com os Estados Unidos, Recep Tayyip
Erdogan é aluno rebelde de economia e geopolítica, às turras com Washington e
Bruxelas, e um teste da fragmentação do Ocidente, ao qual ainda se supõe
pertencer como integrante da Otan. Até agora, apesar do envolvimento militar na
Síria, Ancara resistiu melhor que Buenos Aires, mas pode desencadear uma crise
financeira mais grave, dado o comprometimento de bancos europeus com
investimentos nesse país, principalmente o espanhol BBVA (também envolvido na
Argentina e outros países latino-americanos), seguido pelo italiano Unicredit, de um
país cujos sistemas financeiro e político foram especialmente fragilizados pela
crise.
Temeridade. Encorajado pelo acordo com o México, Trump pensa ser capaz de dobrar a China à
sua vontade. Isso pode dar muito errado
O governo republicano tem, nesse caso, mais apoio interno. A linha dominante dos
democratas defende o Nafta, visto como uma das realizações de Bill Clinton, mas
se alinha com as queixas das transnacionais dos EUA sobre concorrência desleal e
roubo de propriedade intelectual pelos chineses – e democratas de esquerda como
Bernie Sanders, se são menos simpáticos ao Nafta, são ainda mais hostis ao
comércio com a China. Há hoje consenso nos EUA de que a China é a principal
ameaça à sua hegemonia e precisa ser enquadrada. Como no século XIX, trata-se
de forçar a abertura de seus portos e desarmar sua estratégia protecionista, a
mesma que fez dos EUA, da Alemanha e do Japão países ricos e poderosos.
Por
Temeridade. Encorajado pelo acordo com o México, Trump pensa ser capaz de dobrar a China à
sua vontade. Isso pode dar muito errado
outro lado, a China não está disposta a ceder – e mesmo se lhe faltam mais
importações dos EUA a tarifar, tem outras maneiras de retaliar, incluindo despejar
no mercado trilhões em títulos do Tesouro em suas mãos, sabotar a diplomacia e a
estratégia internacional de Washington e cortar o fornecimento de insumos cruciais
para empresas dos EUA. Para Pequim, não é uma questão de toma-lá-dá-cá, mas
de preservar o desenvolvimento, o prestígio internacional e o próprio regime,
ameaçado tanto pela pressão popular por melhores salários e condições de
trabalho quanto pelo crescente endividamento interno, parte desconhecida do qual
referente a créditos podres de bancos a projetos industriais e de infraestrutura
malsucedidos ou golpeados pela crise internacional.
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Arquitetura como desejo. Mendes da Rocha: “Visão única”, segundo a Bienal de Veneza
Aquilo que o arquiteto nunca materializou como edificação contém uma parte
expressiva da sua imaginação libertária. Um aquário no litoral que acalenta planos
de se estender até o mar; um reservatório de água no interior que sonha ser um
espelho do céu, em vez de alojar-se nos subterrâneos; uma baía recortada que
rejeite os dejetos da cidade; uma piscina pública no centro da metrópole erguida
sobre os pilares dos movimentos da multidão.
No detalhe, “bicicleta a vela”, esboço davinciano que emoldura o território da imaginação
São
Democrático. O Sesc 24 de Maio, obra mais recente do arquiteto, intervenção vigorosa na rotina
do Centro degradado de São Paulo
Museu Brasileiro da Escultura. Gênio brutalista, como definido por colegas, ou simplesmente um
visionário das formas, o arquiteto deixa sua marca inconfundível na paisagem da grande
metrópole
Habitante convicto do Centro da cidade que adotou como sua, São Paulo, no qual
mantém escritório, ele se bate também contra os inimigos invisíveis da metrópole.
Um deles, a neurose, “moléstia mental, a preocupação do paulistano com a
segurança”, que faz com que se coloquem grades até em torno dos monumentos,
como o que ele fez na Praça do Patriarca, marco controverso na paisagem. E o que
o povão achou do monumento, a tal arquitetura com lógica, com discurso? “Eu não
sei o que o povão achou, porque eu não tenho coragem de perguntar”, diz Paulo.
“De repente, o cara fala assim: ‘Eu acho uma porcaria’.”
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A excelência da tela Testa di Madonna, de Rafael Sanzio, e o estilo cristalizado pelo ateliê do
mestre
A maior imagem que ilustra essa página é de uma joia da arte renascentista: Testa
di Madonna (Cabeça da Virgem), que somente em 2010, após um minucioso
restauro, foi atribuída definitivamente por especialistas a Rafael como uma de suas
obras tardias.
Rafael Sanzio de Urbino (1483-1520) foi o mais jovem da tríade fundadora que tinha
ainda Leonardo da Vinci e Michelangelo. “Mais novo, Rafael pisou em ombros de
gigantes e isso permitiu que enxergasse além deles”, diz a curadora, Elisa Byington.
Na exposição, os discípulos mais fiéis ao mestre Rafael, como Gianfrancesco Penni
e Giulio Romano, emparelham-se com as técnicas e os ensaios mais famosos
sobre a produção do ateliê de Rafael e de sua vida. Logo no início da mostra há
uma sequência de duas impressionantes telas de Pietro Vanucci, o Perugino (1450-
1523), grande inspirador de Rafael. Diversas obras da Biblioteca Nacional expostas,
como o livro Divina Proporção, de Luca Pacioli (1445-1517), escrito entre 1494 e
1497, mostram a prodigiosidade do acervo daquela instituição.
LIBERDADE VERSUS
TEATRO
FELICIDADE
Por Eduardo Nunomura
O Grande Inquisidor – Século XXI. De Fiódor Dostoievski. No Ágora Teatro, em São Paulo, aos sábados,
domingos e segundas-feiras, até 29 de outubro. Ingressos a 50 reais.
Saulo Duarte nasceu em Belém (PA), cresceu em Fortaleza (CE) e vive há uma
década em São Paulo. Essa circulação nutriu a sonoridade de três discos gravados
com a banda A Unidade, cujos traços essenciais Saulo conserva na estreia solo
com Avante Delírio. Uma recombinação entre ritmos paraenses, brega nordestino,
jovem guarda, samba-rock e rock paulistano provê a originalidade de sua música
serena (Não Existe Resposta para “Eu Te Amo”), descontraída (Rebuliço),
provocativa (Tropa de Meninxs, Praça de Guerra).
AS LIBÉLULAS ROBÓTICAS DE
EDGAR
Por Pedro Alexandre Sanches
Ultrassom. De Edgar. Deck
Vão distantes os tempos do “rap raiz”. Mais nova revelação do gênero, o paulista
(de Guarulhos) Edgar chega com Ultrassom, desatado dos nós de obrigatoriedades
quaisquer e influenciado por referenciais tão híbridos quanto música eletrônica do
tipo psy trance, videogame, Kraftwerk, poesia concreta, pós-samba de Elza Soares
e robótica. Do plástico que o embala, Edgar tenta se desvencilhar em criações
como Felizes Eram os Golfinhos e Antes Que as Libélulas Entrem em Extinção.
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CRÉDITOS DA PÁGINA: Archivio dell’Arte / Pedicini fotografi, Joao Caldas, Cristiano Prim e Rafael Pereira
Getúlio, Perón e Lula
Coincidências históricas que referendam os líderes populares – aqueles que os
inimigos do povo chamam de “caudilhos” ou “populistas”
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Desterrado em São Borja, ele conseguiu eleger até quem o traiu
Getúlio Vargas, não o revolucionário de 1930, e sim o autocrata do Estado Novo, foi
derrubado por um golpe militar no dia 29 de outubro de 1945, ao fim de um longo
período de turbulência política e social para o qual a derrota das ditaduras do Eixo
na Segunda Guerra serviu de definitivo combustível. O Brasil lutara ao lado dos
Aliados, por conveniências mais pragmáticas do que ideológicas, mas o sentimento
democrático intoxicava a sociedade, os adversários do regime se mobilizavam, a
caserna estava inquieta. O anseio pela redemocratização já motivara, em 1943, a
Carta dos Mineiros, assinada por ilustres liberais de cátedra.
Em abril de 1945, Vargas ensaiara uma abertura por meio da anistia, a qual, entre
outros efeitos, tirava da clandestinidade o Partido Comunista – reconhecendo-se
assim, como acontecia na Europa Ocidental, o papel dos resistentes comunistas
nas nações ocupadas e o da União Soviética na derrota do nazifascismo. Não foi
suficiente para acalmar o mal-estar. O movimento denominado “queremismo”
buscava uma solução à brasileira: Constituinte com Vargas. O estopim da queda foi
a nomeação de Benjamin Vargas, irmão mais novo do presidente, como chefe de
Polícia do Distrito Federal. A oposição divulgou, com “Beijo” Vargas na chefatura,
que as principais lideranças militares seriam encarceradas. Quatro dias depois,
Getúlio estava na rua.
De
O
Dutra elegeu-se com os votos do getulismo, derrotando o Brigadeiro.
A demora não fora só estratégica. Getúlio resistiu porque o general Dutra tinha sido
um dos militares que o apearam do poder. Mas o líder do PTB, Hugo Borghi, insistiu
com Vargas que uma vitória do brigadeiro Eduardo Gomes, candidato da UDN,
seria um mal maior. Certeira profecia: a UDN, assim como futuramente o PSDB,
nunca aceitou pacificamente suas derrotas nas urnas, não trazia o compromisso
democrático no DNA. A carta pró-Dutra enfiou uma estaca no peito da UDN. Dias
antes, Eduardo Gomes, em discurso, dispensou o voto “dessa malta de
desocupados que apoia o ditador”. A versão que se popularizou dizia que o
brigadeiro declinava do voto dos “marmiteiros”. Um desastre.
O
Legado. Enquanto teve Evita, Perón governou com a força dos descamisados; sem ela, morta em
1952, fraquejou.
coronel Juan Domingo Perón fez do quartel um trampolim para a política. Seu
prestígio de pai dos descamisados nasceu quando era secretário do Trabalho e da
Segurança Social, na primeira metade dos anos 40. E, já tendo como companheira
a valente Evita, desagradou aos militares eternamente golpistas, que exigiram sua
cabeça no dia 9 de outubro de 1945 e o colocaram na prisão. Evita mobilizou os
trabalhadores, Perón foi libertado e novas eleições presidenciais foram convocadas.
Perón trinfou com 53% dos votos. Em 1951, seria reeleito com 62%.
Nos
dois
Do exílio, conseguiu eleger o adversário Frondisi, que governou sob tutela militar.
mandatos, fez tudo aquilo que o cânone conservador mais execra. De cara,
nacionalizou os bancos estrangeiros, as ferrovias e as companhias de eletricidade,
estatizou o Banco Central e contemplou os trabalhadores com um arco de
benefícios bem maior do que o que Getúlio Vargas oferecia no Brasil: aumento do
salário mínimo, folgas semanais, redução da jornada de trabalho, 13º salario,
aposentadoria, férias pagas, seguro-saúde e cobertura para acidentes de trabalho.
Figuras disparatadas como Menem e o casal Kirchner atuaram à sombra do peronismo
Nada disso. Arturo Frondisi, o advogado eleito presidente em 1958, era candidato
da União Cívica Radical, mas resolveu firmar um acordo eleitoral com seus
tradicionais adversários do peronismo. O acordo foi subscrito por Perón, lá de
Madri. O caudaloso acervo de votos do peronismo seria transferido, com as
bênçãos de Perón, para Frondisi, o qual, por sua vez, prometia anular as leis que
haviam proscrito o Partido Justicialista. A transfusão de votos funcionou, Frondisi
ganhou e fez um governo progressista. Sobreviveu a seis tentativas de golpe por
parte dos gorilas irrequietos.
Sempre no exílio, Perón estava para a política argentina assim como Gardel estava
para o tango. As sucessivas turbulências não empanavam seu poder virtual. Os
trapaceiros fardados, obstinados desafetos da democracia, subiam ao poder a seu
bel-prazer, mas, felizmente, um substrato de insubmissão política impedia que as
aventuras castrenses fossem longe. Juan Carlos Onganía depôs o presidente eleito
Arturo Illia, em 1966, para ser ele próprio derrubado, em 1971, por outro general,
Alejandro Lanusse, que assumiu o posto prometendo eleições livres.
Perón foi reeleito pela terceira vez, mas, fraco e doente, governou por meros nove
meses. Sem ele, a Argentina iria mergulhar em mais um ciclo de instabilidade e
ingovernabilidade. Assim como no Brasil, na Argentina a direita tem ódio do povo e
descompromisso com a democracia. Não se constrange em promover o caos, com
a eventual ajuda dos militares, do Judiciário e de núcleos religiosos. O contraponto
a isso são os líderes de verdade. A História é construída por eles. •
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Dada a largada na Liga dos Campeões, em termos de futebol destes tempos “cessa
tudo...” – mesmo logo depois de mais uma Copa do Mundo. E olha que a Copa não
foi lá essas coisas, como um sinal dos tempos. Pelo menos talvez possamos falar
mais de outros esportes, o que sempre nos faz falta e aos leitores também, com
certeza.
Pouco se tem a dizer agora sobre o futebol jogado por estes lados. Explica-se: tudo
depende sempre de quem dirige, da cabeça pedida dos dirigentes maiores do
nosso futebol. Assim não se pode ir muito longe. A saúde financeira dos clubes é a
única saída para melhorar o nosso futebol, alguns deles se equilibram, outros têm
se movimentado bem, além de iniciativas como o Profut, visando um alívio ao
governo. A maioria, no entanto, insiste na falsa malandragem de raspar os clubes e
deixar para depois, seguindo o exemplo da política pública.
O Inter gaúcho parte para uma campanha de ampliação do seu quadro de sócios,
pensando em sair de 85 mil para 200 mil associados, caminho louvável do poderoso
Colorado. A mudança maior deve ser no regime político dos clubes, promovendo a
participação ativa dos sócios, sua democratização, fugindo à péssima tendência dos
times com donos espalhados por aí.
Os dois clubes brasileiros que mais investem não possuem sequer um grande ídolo.
Todos sabem, seus dirigentes e, principalmente, a torcida, que, em qualquer
hipótese, são os ídolos que sustentam o clube, o qual vive de jogadores que
simbolizam a sua grandeza. Apesar de todas as contratações, o Palmeiras, por sua
vez, não tem um jogador extraclasse, e o último que cumpriu esse papel foi Gabriel
Jesus, mesmo sendo ainda muito jovem.
A mesma coisa no Flamengo com o nosso Paquetá, que, ao que parece, tem os
dias contados no Rubro-Negro da Gávea. Convocado merecidamente, passou ao
patamar exigido pelos europeus para o nível maior de valorização. A situação é tão
absurda que já estão jogando em suas costas a “culpa” pelos tropeços do time.
Bem verdade que tem dado mostras de deslumbramento, compreensível em sua
juventude e difícil de conter num clube de massa.
A declaração de voto de Felipe Melo, apesar de todas as reações que causou, foi
bastante esclarecedora do instante que vivemos com a proximidade das eleições,
um verdadeiro Fla-Flu, a polarização entre uma campanha movida a ódio e
incitação à violência, que a nada conduz, senão a multiplicar-se, e as propostas de
afirmação do Brasil como país autônomo, livre. Lula Livre! Haddad é Lula lá! •
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