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CAPÍTULO I

DO ESTADO LIBERAL

1. O Estado Liberal e o Mercado "Auto-Regulado"

A primeira parte deste capítulo aborda o surgimento e as características


do Estado liberal, iniciando-se com um breve excurso sobre o modo como
este modelo se manifestou.
Nos finais do século XVIII e durante o séc. XIX, nos países que conhe-
ceram a revolução industrial, nasceu o capitalismo liberal que no plano
filosófico-político adoptou a prefiguração Indivíduo - Sociedade - Estado,
como sustenta Rogério Soares <4> , manifestada no pensamento dos enciclo-
pedistas, mais concretamente em Locke, Montesquieu e Rousseau, abrindo
caminho a uma nova ordenação social, e ao nível económico conhecia a
sua primeira teorização com os clássicos ingleses Adam Smith, David
Ricardo e Stuart Mille o francês Jean-Baptiste Say, defendendo a primazia
do mercado e o Estado "mínimo".
Também o jusnaturalismo, a soberania nacional, a ideia de liberdade e o
princípio da igualdade configuram o terreno ideológico sobre que se edificou
o modelo de Estado gerado pelas revoluções liberais, em que as principais
inovações residiam na consagração dos direitos dos cidadãos perante o
poder, bem como na pretensão de os libertar do Estado, colocando-os fora
da sua área de intervenção.

4
<lCf. , Rogério Ehrhardt Soares, Direito Público e Sociedade Técnica, Coimbra, Ed. Biblio-
teca Jurídica, 1969, pp. 39 e ss.

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fonso vaz (5l, assinnla .. sc uinda n rur1turo e
t ·ra de Manue l A . . . í'\: .... 1,n,
Na e_s ~1, • d 1 sse como a pri1nc1ra n1ot1vaçuo cios n1ovitrtrtlt ·.
cer10s pnvil~gios . ~ e ªme' special a e litninaçàú de lintilcs às nctivid,1 }>ffi
· ános muito e ..
revoluc1on . ' . 1 da burguesia. u,na classe c1n a.scensãn c.J ur inv
ct,~"'
·ai e 1ndustna . ~ d . . . · O-
comerei ,., d. •to natural conio sustcntacu 1o as suas prct<;,'t1HOe1
' ' t· , d •1 ·
can do a razao e o htret·mento e a garantH: . 1 dos I) trel os o r · on1cIn .e -,~.
r• ·
- lamava o recon ec1 . . .d d . "' . 'd JO
iec ~ d . d mente a liberdade e a propne a e tnc,1v1 uuL. cx.iuia
Cidadao, es1gna a . ~ · n
participação nos negócios e~tadua1s. . . . . . . -.r
Paralelamente, 0 liberalismo pro1nov1a u111a separação I adrc ..tl cntf'c 0 ~
. , bl ·co e privado realizando entre a1.n bos unu1 fractura rígido
umversos pu 1 . ' · - ~ E· ··· d . . ,· S · -~· .
dentes Desse modo a separaçao entre o .. sta o e a ocJc<.htdc1'•1
3

:::r:~:~:o pilar ·da construçã~ política liberal, ló~ica. ~


assentava numa
confrontação e exclusão no que toca às relações entre an1bas as esferas.
Com Bobbio (7), reconhece-se que o binórnio público-privado arrastava
consigo outras dicotomias, como lei-contrato, sociedade de iguais-sociedade
de desiguais, justiça comutativa-justiça distributiva, enquanto expressão
dos valores e instrumentos ao serviço da sociedade liberal.
Ora, a severa dicotomia liberal correspondia a un, esquen1a rígido de
separação e atribuição de funções, que tinha i1nplícito o monopólio does•
paço público pelo Estado e, com ele, a ideia de que a intervenção estadual
no mundo dos valores políticos e da autoridade constituía scm.prc uma
actuação determinada pelo interesse público.
. Diver~amente, porém: em relação à Sociedade pautada pelo direito
pnvado e liberta de 1ntrom1ssões do poder político, que tinha no mercado o
~spa~o de actuação P?r excelência, orientada para a prossecução de valores
identificados exclusivamente com a satisfação dos interesses privados.
Tratava-se de um modelo em que o equilíbrio da Sociedade decorria da

<51 Cf
., Manuel Afonso Vaz D1re1to
. . Ec , . ª .
l 998, pp. 42 e ss. ' onomtco, 4. edição, Coimbra, Coimbra Editora.
( 61 Cf R , ·
·, ogeno Ehrhardt Soares o· · , .
(7J Atribuída a N ··b . .' ire1to Publico e Sociedade Técnica, ibidem.
Et d ·. or erto Bobb10 St t G . ,
°
essp:cf;~~:;eª' ~isb~a, JNCM (trad. p:~~) 1i~~no, 8 cieta, Enclopédia Ejnaudi, vol., ~4,
da organiza ã cdara~sobre o modo como a dicoto' ~p. 1,78 . e ss., corresponde a uma analise
O O st
ç E ado liberal, despoletou todo'~: pub~ico-privado, característica nuclear
18 conJunto de outras dicotomias.

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man ifestação e do desenvolvimento das potencialidades indi viduais dos
cidadãos.
Dentro desta concepção, e acompan hando BarceHona 00 , observa-se
que o triunfo do ilu1ninismo e a separação entre o público e o pri vado,
sustentados pela nova ordem económica e a ideologia que a promovia,
envol veu un1 sopro emancipatório responsável por uma a1teração profunda
da in1agcn1 do homcrn . Mostrou-o, assi m, senhor do seu destino, sujeito da
liberdade e da propriedade, titular face ao Estado de direitos e interesses
individuais que, e1n concorrência, podia satisfazer por iniciativa própria
no quadro de leis universais.
Daqui o reconhecimento de que o modelo liberal assentava na procla-
mação de mn omnipotente sector privado por contraposição a um diminuto,
quase inexistente, sector público, com uma dimensão que não ultrapassava,
e1n regra, níveis entre IOa 15% do PIB, procurando a ortodoxia económica
do liberalismo moldar rigorosamente as áreas de acção e as funções de cada
qual e condicionando o respectivo papel e articulação.
Por sua vez, o postulado de consolidar o crescimento económico com
base na liberdade de empresas, consumidores e detentores dos factores de
produção, conduziu a um modelo económico inspirado no lema "laissez-
-faire, laissez-passer". Apoiava-se no mercado, na livre concorrência e em
comportamentos individuais ditados exclusivamente pelo interesse pessoal,
mas que pretendiam promover de forma espontânea o equilíbrio geral por
via de mecanismos de "auto-regulação" do mercado.
Este aspecto permite, ainda, conceder um relevo particular ao princípio
de que a regulação era inerente à própria economia, que não carecia de ser
regulada externamente visto o mercado poder por si próprio reagir sobre
os factores de perturbação porventura emergentes, mediante o mecanismo
da "mão invisível". Dominava, aliás, o princípio de que a economia não
devia ser regulada de fora para não se desregular o seu funcionamento.
De igual forma, afirmava-se a posição dos consumidores, como deten-
tores do poder económico, e do mercado, enquanto meio de direcção da
economia, ao mesmo tempo que o contrato constituía o instrumento por

(X~~f., Pietro Barcellona, La metamorfose dei soggetto e il pricipio proprietário, Democrazia


e Dmtto, X.XVI (6 ), 1986, pp. 205 e ss.

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t s1AtJn HLGUl ADOR E OE GARANTIA
TRANSITO PARA O .. -

[G ULAÇAÓ
• DA ECONOMIA
. .. -
-=--~- - - ----
niFHr! O PAR .

m os seus negócios à
rivados regulare . ia da vontade, an11nados pela
dos princi--lu~
.· ,·,1 paraos p daautonom ·
~x~cI~tH.: h d ontratar e .
l,; 1·b rdade e e
·Pios' dad 1 ·onsenso.
e . Estado ahst1n· l1a-se · de qua lquer
h11scu O e ão hbera 1o , • ·
·· t lrno na concepç . agente cconon11co, seJa enquan-
Por seu L , , · seJa con1O . " .
. . , ,;-- na esfera econo~ica, . te' conio garante da concorrencla.
,nttJ vença 0 . ivada seJa a . ., E
· . 1,1dor da economia pr ' bsoluta scparaçao entre o stado
to rcgu t de facto, a a · · ·, . ,
( P) rincipal mandamento era_, . Ad Smith "o Estado era. por natureza
. · como d1z1a am '
~ a cconom ,a, po1s, , . " (9)
, ~ ões econom1cas . . .
inadequado as unç d' nto O liberahsmo pronunciava-se
este enten 1me , .
Coerentemente com , . de funções produt1vas pelo Estado,
. · contra O exerc1c1O .. .
decidida e com vigor .. d qualquer participação na actlvtdade
enas dem1ttr-se e , .
quê dcv1d nao ª~ · _
•r ,.,

f: 1 r as leis do mercado, tnas tamben1 altc-


, · . social para nao a sea .
cconomica e, . . . r ente as forças do rnercado e a
nar o patrimo111O e deixar func1o~ar ivre~ , :, , ,
" . · ,
concorrencia, sem pre en t der modificar o hvre comportamento dos agentes
cconom1cos, . pnva . , dos(I0) •
Também aqui é especialmente importante de~tacar qu~ o bom funcio-
namento do mercado requeria a defesa da propnedade pnvada, da paz e
da estabilidade social para pennitir relações contratuais estáveis e a livre
circulação de pessoas e bens, obrigando-se o Estado oitocentista, além das
funções de soberan ia, a dese1npenhar tan1bém tarefas de polícia adminis-
trativa e garante do respeito dos quadros institucionais da vida económica.
Nesta medida, de sublinhar posições, cotno a de Manuel Afonso Vazrni,
de que o Estado ·•míni1no" estava reduzido a uma dimensão meramente
formal, uma vez que confinado a um modelo teórico, abstracto e utópico,
assente

cm 1Jr ~s ' li t b
· t ~- s pos os que aca aram, contudo, por se revelar falaciosos.

qTLAdam Smith~nd t~~~l -- l _


a.nd J ·r · E .
e r)
k
' ens Y, Dordrecht· Kl . A
. 11 osop 1y of Law and E ..
.
· .
conom1cs. ed1ted bv Robin Paul \ fallov
, , li, · · U\\ er . cadem1c p bl' h ~ ·
. Estas e:-;.igências eram . . . u is ers, 1994. PP. 56 e ss
-' d~:.1\ Jo Estado ,
1 1
· · · · .din_gidas contra o Estado l u · d .·. ·. · ~
t a md1:penct :;, . Jund1co kantiano. ou seJ·a gara t· q e d e\ ia restringir-se a funçües SL' !!.Undj \
t:r ,c 1a. • -.. n 1r a ca a ind· ·'d · • . ..
,· Cf . . . l \ t uo a ltberdad~ . a ,g-u3 \d.11.1 ..,
p . ·· M,lnud Atonso Vaz . · .
ortuguesa, ob. cit p ig , Dtretto Económico 01· . . E .
·• . -t . . , 1e1to cono · .
20 mico - A Ore.km l ; , i·,· .
\ f\ \
-ú0-
c .S 1t-\VV LlbcML
- - - - - - - - -- - - ------

2. A Neutralidade das ·Finanças Públicas

Unia con1preensão adequada do modelo liberal não prescinde da apre-


ciação do campo financeiro, área para que o rico e profundo p~ns~mento
da Escola Clássica defendia uma total autonomia das finanças pu bhcas em
relação à economia.
N·esta perspectiva, relevava o entendin1ento de que o Estado, para
lá de naturalmente improdutivo un1a vez que incapaz de criar utilidades
superiores às que consumia, era também um mau gestor da res publica,
1nostrando-se a actividade finance ira liberal anódina, inspirada no ideal da
neutralidade e reduzida à simples satisfação das necessidades financeiras.
Em qualquer caso, as instituições públicas estavam inibidas de propor-
-se alterar ou comandar, estimular ou dissuadir a actividade económica
privada, devendo, a par de uma estrita neutralidade, rejeitar ainda qualquer
tendência para definir políticas financeiras <12).
Deste modo, a boa gestão da "coisa pública" correspondia a uma exigência
fundamental, sendo o equilíbrio do orçamento uma regra de observância
escrupulosa, alcandorado mesmo à posição de "regra de ouro'' das finanças
clássicas, representando o nivelamento anual entre as receitas normais e
as despesas totais uma condição indispensável de finanças públicas sãs.
Por seu turno, os argumentos económicos invocados eram consequência
da visão estática e pessimista da Escola Clássica inglesa, funcionando o
dogma do equilíbrio do orçamento como uma barreira contra a interferência
do Estado na vida económica.
Acresce que o liberalismo invocava ainda a experiência histórica para
mostrar como os Governos propendiam para a realização de gastos impro-
duti vos, razão pela qual o abuso do défice orçamental reflectia a realização
de despesas desregradas e sumptuárias, de efeitos catastróficos.
Daí que, fiéis à visão axiomática de que o consumo do Estado era ne-
cessariamente menos benéfico do que o dos particulares, e desconhecendo
o efeito indutor da despesa pública para repor os rendimentos obtidos no

m>ct , António L. de Sousa Franco, Finanças Públicas e Direito Financeiro vol 1 Coimbra
Alrnedma, 1992, p. 58. ' ·· , ·· - '

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21
RÂNSITO PAliA O [ ,·
...1
rADO Hi Cil/LAfltll< 1-' DI l;AHAtJ (l1- .
ÇÃ O DA ECON OMIA - -~ ~ - -- .
DIREITO ~A! _~ - - ------ ----- -

. 11·bera1s . con. dendssc ' ' . . lll VC CllH: nlb,t! JlH.: lll C. não"' N.Ó H
. . •to económico, ost diam
c1rcu1 . con10 um 1l1 ''ll, mas. tam cir1~n. <:111prc~tllnq (:J •.
d a públ ica que en en d. t' rido na (orn1u laçau '
.- e
1 J,1lt:ard1)
espes .' um imposto I e , l ,
, blico entendido como,.. . . . ~ :> .ciona1 de ~ncargos, segun, _o urnc
pu '- . ferenc1a mterge1 a . , .
ou uma forma de tians . . d" ssinrihr qu e a dcs p~sa publica era
d t0 d'lVÍ'l dc1xa1 ea,, , ,. l d I'
Não se po e, ' , .' ' ld ~ limitados, fí cando o pape o ·.stad. o
sana em mo cs • · .•
encarada corno neces ' ,. . t :.ressavani aos parllcularcs ou aquclc~
circunscrito aos sectores q~e naod~n t;; assegurar cin virtude da cx1sW11cía
fi 1. ,.. 1 s nao po t an1 .
que, por de n.çao, e e . . lassificado de cxtcmal idadcs .
· 1O e mais tarde ve10 a sei e . . .
aqui D0qu O modo a ex1s . t"enc1a . de uma · idênti ca rcJ c1çã.o no . que loca .a
· ~ d 1110 eda e a 'de.eI esa da sua neutralidade ' a fi1n de evitar a cclosao
rnesm
cnaçao
de movimentos e . .
mflac1omstas.. Tam be,m a cobcitura . .das despesas
. púbJ
. . Íca.. ~
por v13 · de adrnntamen
· . tos dos bancos centrais era vista con10 lHn 11nposto
injusto e dissimulado. . .
Por fi rn , qua nto ao papel dos sistemas .fiscais do ltbcrali sn10, , . rcc.:onhc~
cidos Oimposto enquanto a sua receita típica e_as _fin anças e 1ass1cas con1O
0
tempo das fina nças tributárias, os impostos atingiam so_br~tudr~ as classes
agrárias tradicionai s e os consumidores, corneçando a assistir-se a expansão
da tributação de formas mais "capitalistas" de riqueza à medida que se
aprofundou o processo de consolidação do modelo de sociedade industrial.
Nesta senda, o liberalismo, apesar de rejeitar a utilização do imposto
como instrumento de realização da justiça e de redistrib uição da riqueza,
defendia uma tributação justa para garantir a igualdade formal perante a lei
e manter um nível moderado de tributação, no cumprimento do princípio
da legalidade que se traduzia, desde logo, na aprovação parlamentar dos
impostos.

, _Por sua v~z, a par da_reduzida dimensão do sector público, igualmente


mm imo, tam bem a nnpos1ção do equilíbrio formal do orçamento representava
um pod_eroso argumento dissuasor, porventura um travão, para qualquer
pretensao de aumento do sector público.
Em consequência · •
era assegurad 1 : a supremacia do umverso privado sobre o público
-ang,ular da coanpset o ~1godroso respeito do princípio da legal idade pedra-
ruçao o Estad O 1·b 1 1 d o· · ·. ' .
garante da exist" · d . . era e O ireito Adm1n1strahvo e
, · encia e uma Adm1n1st ~ p ' bl. · •
fragiJ autonomia em 1 - ra?ªº u ica cond1c1onada e com
re açao ao poder legislativo.
22

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Dentro desta lógica, con10 assinala Figueiredo Dias (131 tratava-se de
um Estado n1ínüno e de un1a Sociedade n1áxin1a e entre este~ dois mundos
não podia haver mistura.
Ao n1esmo ten1po, o Estado liberal, confrontado com as inovações
tecnológicas en1 ~esultado da Revolução Industrial e a sua consequente
aplicação en1 equ1pa1nentos de uso colectivo, bem como com a existência
de falhas de rnercado, 1nostrou-se incapaz de promover a provisão de infra-
-estruturas essenciais ao funcionan1ento e desenvolvimento dos mercados,
111 onnente en1 matéria de transportes e comunicações.
Uma situação que correspondia, em bom rigor, a um cúmulo de razões
ideológicas, associadas seja à proibição do envolvimento do poder público
na esfera econó1nica, seja a litnitações de natureza orçamental e disciplina
financeira.
Neste contexto, mostra-se oportuna uma breve evocação dos anos glo-
riosos da concessão administrativa como o instrumento jurídico do capita-
lismo liberal, que permitiu ao Estado "mínimo", manietado pela abstenção
económica e a passividade das finanças públicas, promover a criação de
novas infra-estruturas destinadas à satisfação de necessidades colectivas.
Tratava-se, claramente, do primeiro sinal de fraqueza dos automatismos
equilibrantes da terapia clássica, que abalou o modelo animando um coro
de críticas contra o individualismo liberal e, em sinal contrário, a favor
dos valores sociais.
Este iler analítico permite, ainda,justificar o surgimento e generalização,
a partir de meados do século XIX, das correntes científico-ideológicas que
impugnavam total ou parcialmente a ideologia liberal e questionavam os
mitos em que se fundava a matriz económica clássica.
Então, merece nota o despontar das reacções antiliberais iniciadas
com os economistas alemães que, influenciados pela aspiração à unidade
nacional e por uma filosofia idealista de tipo universalista, se posicionaram
na primeira linha da reacção às teses liberais.
Também os socialistas, rejeitada a ideologia liberal, pretendiam não
apenas fundar um sistema económico-social capaz de reduzir as desigual--

(I~•Cf., José Figueiredo Dias e Fernanda Paul.a Oliveira, Direito Administrativo, Coimbra.
CEFA , 2003 , pp. 18 e ss.

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----
DIREITO DA REGULAÇÃO DA ECONOMIA - O TRÂNSITO PARA O ESTADO REGULADOR E DE GARANTIA

dades resultantes do funcionamento dos princípios do mercado através


do prin1ado de valores sociais sobre os individuais, mas ainda reforçar a
sol.idariedade e a igualdade.
No final, este estado de coisas havia, inevitavelmente, de conduzir à
in1inência de uma revisão do pensamento económico liberal, com uma
projecção inegável nas futuras políticas intervencionistas e socialistas.
Sem embargo, não se ignora como a antinomia clássica, fruto de razões
políticas, económicas e sociais, gozou de uma importância ímpar e marcou
o sistema social e económico dos séculos XVIII e XIX, as suas instituições
e in_s~rumentos: para acabar por se projectar além do seu tempo, ao inspirar,
rev1s1tada, a leitura dos actuais pressupostos e instrumentos económicos.
CAPÍTULO II
DO ESTADO INTERVENCIONISTA

1. A I Grande Guerra Mundial e o Fim da Abstenção Económica


do Estado

A percepção do Estado intervencionista não preclude uma alusão, ainda


que curta, à I Grande Guerra Mundial e ao "seu" modelo económico, res-
ponsável por o Estado, pela primeira vez, ter passado a desempenhar um
papel central na vida da comunidade, agindo sobre a economia e a própria
sociedade, abandonada a crença na mítica "mão invisível" de Adam Smith
e no seu papel de último reduto de uma idealizada pujança auto-suficiente
da correlação de forças entre oferta e procura.
Nesta medida, na linha de Lumbrales c14), afigura-se conveniente uma
referência à forma como os problemas típicos da transição de uma eco-
nomia de paz para uma economia de guerra, por um lado, e um contexto
económico problemático, por outro, levaram a que à I Guerra não tenha
bastado uma estrita intervenção pública.
Tal evocação mostra como a Guerra criou um verdadeiro hiato no
funcionamento do modelo económico dominante, tendo os Governos adop-
tado métodos de actuação autoritária sem qualquer tipo de oposição dada
a situação excepcional que se vivia, passando a economia a funcionar em
regime de controlo directo e até militar.
De facto, a inflação, o desemprego e a carestia da vida impeliram a tomada
de medidas dirigistas, visando a luta contra a alta de preços e a garantia

4
º >Cf, João Pinto da Costa Leite (Lumbrales), A Economia de Guerra. Porto. 1943, pp. J5 e ss.
copyright
·
©Q .
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ES TADO REGULADOR E DE GARANTIA.
ÃN~ITO PARA O - --------
1. ECONOMIA -- O TR ~ -_
DIREITO OA REGULAÇ,h.l ) [ A '

, ·w de superar as di sfunçõe s do
. . 101 o firm e propos1 - ..
da rcrartiçãri dos bens. u
men:ado . . dr n cnto e aprovisionamento obriga,
. e ann,1 1
; . TlS . d
Por seu tunio. as ex1_gen~ e: ,. • d .1· as tendo o clima e guerra tornado
. . f ·oes pro u tVc.,. , . .
rarn O Estado a assumn un<r ~ . 'iblico cfect1vo da economia. Uma
1o pt
marn.testa
- a neccss1
. ·d·~1 d- e. de um contro . ,. . .
. .J • - só a uma expenencia concreta de
0
.
. corresponoe1 na . .
situação que aca bou por , delo de futUfas medidas autoritárias
discip lina pública . mas tambcm ao mo
de política económica. atriotismo tornaram poss1ve , 1o aumento da
. Acr~sce que os ape 1o;b~~; mostrando-se tal incremento, mesmo após
tn butaçao e da despesa P ' " · da guena na demonstração de
o reoresso à nonnalidade, uma consequencia .d d~
e k w· ,s1 tomando inenos dificil levar os c1 a aos a esquecer
1
Peacoc · e 1seman ' ·. d nflito.
a reivindicação do seu abaixamento com o tem10 o co , .
Tratava-se de proble1nas candentes que in~erpelava~ os pa1ses capita-
listas da Europa ocidental e não dispensavam a mtervenç~o do Estado. Uma
problemática à qual se juntou o impacto do grande conflito no despe~~r da
consciência de classe das massas operárias, que viram o seu peso pohtico e
força organizativa aumentar, colocando-as em posição de exigir do Estado
atenção às áreas sociais.
Assim, assistiu-se ao despontar de uma nova função e actividade do Estado
ligada ao alargamento do conceito de necessidade pública e à afinnação do risco
social como aspecto nuclear, destacando-se a ampla difusão e densificação
do sistema instituído pelo modelo "bismarckiano" baseado em seguros
sociais obrigatórios de doença, acidentes de invalidez e, ainda, de velhice.
Entretanto o primeiro após-guerra, marcado por factores como 0
eclodir do proteccionismo, a instabilidade suscitada pelo agravamento do
ní~e! de vida dos operários industriais e da situação delicada das classes
me?ias urbanas e ~amponesas, a dependência da Europa face aos Estados
Umdos e, bem assim, a emergência de revoltas colectivistas e anarquistas

.(1 s1cf., Peacoc k e W1seman,


. The Growth of Publi E ct· . . .
Pnnceton Uni versi ty Press 1961 Sob . , t d pe xpen tt~re m the U mted Kmgdom,
The Peacock-Wi seman H;pothe~is i~~
1
;h11pJ
ese a eacock e !"1seman, Magnus Henrecksin,
Publishin g Lirnited. 1995· Luc W;b . L'i _
ro;th oft~e Pubh~ Sector, Aldershot, UK, Elgar
r~le ?el ' Etat, Pari s', Econ~mica, ;~
19
~j
e ~te_ur Economique, An~lyse économique du
Publicas numa Faculdade de o· •t ,bpp._ s.. Eduardo Paz Ferretra. Ensinar Finanças
irei O, O . Clt. , p. 174. ·

26
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---- --- ....
. DO_ESTADO INTERVENCIONISTA

a par de revoluções de cxtre1na-direita . · . ..


autoridade do Estado sobre . ' continuou ª legitimar o reforço da
.' , . ª economia e os crescentes problemas sociais.
Neste pet 1odo econom1co e socialmente t b d
central a ctise sem precedentes de 1929 tal com conGraur da oº' mere~e um lugar
· l fu d . ' 0 a n . e epressao que se lhe
seguw, pe o a n an1ento provocado no s1·stem· fi · ·
-- . a nance1ro e na economia
em geral. Foram acontecimentos
. que , ao revela rem as 1nsu· fi c1enc1as
. ,. · do
mercado e dos mecarnsmos de defesa da concorrência t . ·d t
"f: lh ,, d dO , ornaram ev1 en es
as ªi. das ~ ~ n:ierca ~ funcionaram como um impulso decisivo para a
conso 1 açAaod ~ •~tervençao do Estado ao nível económico, estando na génese
da futura m1n1stração económica.
Daí que, em virtude do insucesso da aplicação das teses clássicas . a
Grande Depressão haja motivado o desenho de uma forma diferente de
reagir à crise, alicerçada na intervenção do Estado para corrigir "imper-
feições" de mercado . _
Na prática, configurou uma posição que, bebendo da influência do novo
papel do Estado encetado com a revolução bolchevista de 191 7, ganhou
afinnação com a política do "New Deal" que, alicerçada num conjunto de
medidas de intervenção enérgica do Estado na vida económica, apontava
de forma indeclinável para o florescimento do intervencionismo estatal.

2. A "Revolução" Keynesiana e as Finanças Activas

Identificadas as principais causas justificativas de uma mudança de


modelo económico, importa também atentar nas reacções crescentes à te-
rapia clássica e, em consequência, na génese de um clima particularmente
favorável ao acolhimento do esquema económico que Keynes viria a traçar.
Assim, com Keynes surgiu um novo pensamento económico firmado
no pressuposto de que um combate sucedido à depressão passava, necessa-
riamente, pela adopção de políticas económicas públicas para estimular a
procura efectiva global, correspondendo à primeira concepção econón1ica
tecnicamente válida aplicável na era moderna.
Neste contexto, sobressaíam os principais instnunentos preconizados
pela cartilha keynesiana, balizada por un1 importante e inovador kque de
premissas: a introdução da perspectiva 1nacroeconómica en1 contracorrente

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27
1 ,uc tinha até aí ocupado a
. - . " , de incrcaüO. e., - . fi ..
. . ,' " mi(r'-1cconon1tLLl l'. - ... 1t1·c econom ,a e 1nanças, que
l'l,m a , ts,lt · _ -1 • l .,l?:raçan c1 · . . .
.. , ·) tlÚCl • ., dck~n ua tn L._ · fornia de interv ir na act1-
\.'\t'nl'1~, \.'Ll'l1l , . • . , , • l "1s con10 un1 3.
h.1, ,a. a\ià~ . dl' clmdu1tr as ~n.u \:: , ··ítica as finanças inodernas .
. . . . iunndo na pk . . d d fi
, idad~ cc(,1H)tn1ca . mtt ot . . .. 1·dadc e pass1v1da e as nanças
. l, d ) da ncut.r a t . d 'l'b .
•\l't~sl'ia. amda. (.) at",an on_t . , . , , ctivas~ o elog10 do esequ1 1 no
. - " , tuncwnats e a . d . ...
ntit'l .tL" l~ cm fan--,r de hnan~as -
t·· , '" • . d( ..1·elTt11 d"e
oui·o"· e
, ,
ben1 assim, a a m1ssao
on;am~ntnl. cm lugat l l -- - · i 1 respeito a. .
O ·
_,t·:,.·t~ 1nult1phca or, co · d mo .conn
i1 a de
· t- - . . · 'spect1vo t: et l
d'-) cmpr~stimo pu, 1lCL'' L t l'. , . , ib,ite à depressão.
. . · - - públtcos no LOll '- ·
tinannar nwesttml'ntns , . . l er c01no a "revolução"
. . :,oss1vel iecon 1ec .
Uma abordagem qut totna .r . ., doanias clássicos, os contraditava
. ·. . s11nnc1pa1s º
k.~yneswna cont~nt11•1u.11110, - t E~ dO 1·ntervencionista, desencadeando
· · .. ~ . . :,. ns'10 do . sta . .
~ cl1ntnbm~1 pma ª a~ct d - . • o'mica do sistema capita-
. , . f j• na estrutu1 a econ
un1a trJnstonnaçao pt O unL ª . fi.. . . · nte por abrir caminho não só
. Porconst'guu. 1t,L. •"' ·1, .. abou de n1t1va1ne
lt~n
- "· -- · · · · fi nce1ro .
mas tamb'em a' 1n · tegraçao ""
·10 :1eolhim~nto do mtcrYenc10111sn10 na ' f:
• " . fi . . . s conlo un1 eleinento constante, que passou a azer
entre economia e tUn\:a · , . . . ~
parte do Estado e ganhou lugar na oropna constttu1çao. ." .
o noYo paradigma era, pois, clara1nente 1noldado p~l_a consc,•e~crn
do poder organizador e disciplinador do Estad~ em 1natena ec~n01:n1ca,
mostrando-se o alargamento das funções públicas uma decorrenc1a do
cànone de que ao Estado cabia a tarefa de pron1over o bem-estar colectivo.
Como pertinentemente se dá conta, a eclosão do modelo intervencio-
nista leYou à institucionalização de lllTI co1nprometimento real do Estado
com a economia: nun1 pritneiro n1omento para sup1ir as lacunas da iniciativa
pri\·ada: depois para lhe co1Tigir deliberadamente os excessos ou defeitos
de actuaçào: e por fi1n de n1odo a dirigir a econon1ia global.
Entretanto. o abandono do esque1na liberal não deixou também de afectar
? ~o~matis1~10 jurídico, fazendo cair a n1áscara ideológica do idealis1no
JL~nd1co parttll:ª?º tanto pelo jusnaturalismo racionalista, como pelo positi-
\ ~s n:o normat1v1sta, n1ostrando cmno a 1nudança de paradigma económico,
r~ pl_ica das ~ov~s_doutrinas políticas. 1notivava ainda o surgimento de outros
k nomenos Jund1cos.
Prossegui~do O breve excurso histórico, conclui-se que a II Grande
Guerra Mundial renovou 1· d ·.
' bl' . ~' ' anlp ian o, as n1otivações por detrás da acção
Pu ica, v1s1ve 1no lançame11t0 d l ....
· e tm1a p an1ficação económica de guerra, com
28
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o Listado a ocupnr-s~ directmnc~111 , - 11 , ,. O
.- ~•- 1-, . b .. ~ -1 - _, • . · · t "· " ~,u l 1 t'lh.! 1u,u,n,e1lln t"' dn uHIhr.ttcOo
ct,1n1<.1o·l:t' () _~,l t' ltOs 1'Cu11 su s 1u H\ Ntn11tht' llld H >'n l ·.. •\ - .·_· < - ~ . 'f
s•-~ch)rcs 11nc-drnt urnt:mtt~u~ · ) •·, t \ ,
c . ..
li ( U\l3t , p~lott\t l\qs f1us
··', s( l -t,I \ o~ h S tl t'l't'NN idttdo~ h~li(Jf\~
1

11.nln:tnnto ' •.1n no f)ertodo dP M'Hlllll


., - ~
lo pu~•)Hl~l'ru,
· · tJunhóUl de th,tur
11
~'(~ ~_º ª, pro~p~t~ - U i fll' 11•~
tdudc ,upart\'4.~ -li v~ltnõnte ussoolotlu ti ll ijõ~tlu do
0111
Lst,)do <: , ,t ~conon1m, (~UQ J'O~pondm pot' urn ,,r~sehn~nto t:t)fHtidt,t•àv~I
do sector publwo en1 _toc~os ONpaíses, des.il!tHltfon,~nte Otif' viu du t~duçno
de grandes sectores publloos en1r1ro~mriuis.
De assinal~r, igualti-tontc, {l óX puns~o tllltr't' dn prudll\'Õ O ,,lilbliçu dtrtlCÜ:l
d~ b~n~ e scrv u;os, q~1cr de polf tk\ns C·\'onón\it}UNd~ cst.uhiH1:H\'Õ'.tl r retliH~
tn~u, çuo, que se con_ !u~avarn Sl~ju C()lll elovndn~ du~p~sns 111llitm~ijs qut: o
reforço ?º
b,loc~) soctaltsta e n ,. (Juerf'u Friu•' nno per1nii'im11 ruduii1\ N(:ja
com ass111alavc1s despesas de tbn1cnto oc<lnón1it:o. E t,slu flt;)Ctssidado de
políticas do desenvolvimento o 1rnnsforn1nçno t:~ltutural t vidcnt:iava. o
carácter in1pn:sc indivc-l de unta int.orvonçt1u púhlicn pujuntc.
Tarnbém o efeito da vitórin dos .Aliadt)S, que colt)C\)U do lado das
democracias toda uma série de puis~s sociolistus, e con10 n1c~n10 os puíscs
não directan1entc socializados pns~aran1 u ndoptnr 111cdidn~ híbridas, sirnul-
tancan1entc de liberalisn10 e socinlisn10.
Por firn , as áreas sociais continuavtull a rn~rc.ccr do Estudo rnna ut~nçno
muito particular, ora ein resposta aos pr(lhlcn1as de ordcn1 ~ociul ~ ~co11ó111it~u
da reconst n1\~ão do após--guerra, ora durante o J'lcriodo de forte \.! roscirnonlo
e prosperidade dos "anos de ouro-'. pura sutiiirt11çllo das ncco~sidude~ dccor..
rentes da complexidade da civilizução indu~lriul.
Assistiu-se, assin1, ao nascin1cnto do Estudo de 13"-'lll•Estm· n,arcudo
pelo seu activisn10 nas áreas econón1icn e social\ sin,ultnnecimcntc 11ur viu
da participação directa na produçílo e prestação de b'-)rts e serviços e pelo
regulação da actividade econó111ica.
Então, o advento do Estado dcn1ocrático e social trouxe o usbatin,-cnto
das fronteiras entre o Estado e a Sociedade, ben, con10 a substituição da
lógica liberal de confrontação, odvcrsidíldo e cxclusilo por unta atitude de
cooperação e acção concertada, que huvia de se expressar attc·tlvés de va•
riados e complexos processos de intcrpcnc't1·uvilo ~ de un, nov<> n1lldelo de
relacionamento simbiótico entre os uni versus público~ privado.

C< f"Yll\lh1 ©
1
0\Jld Juris? ... soeittclacht editora
29
<, 6> também se conclui que" .
Deste modo acon1panhan do De lorm e , . . . ao
. .' . · 1· d
Estado circunscnto do hbera ismo suce e . u o Estado 1nsendo da 1ntervença""'
. o,
nurna relação de i1nbricação de duplo sentido, em que avultava Estado O

na econon1ia e a econo1nia no Estado"•


Unia conclusão de especial importância para r~al~ar não só.º ~umento
da dirnensão do sector público leg~timado_pe!as ideias de so~iahzação _e
recuperação da econon1ia, que havia de atingi: ~~tre 3~ e 501/o d~ rend1-
111ento nacional 1nas ta1nbé1n a alteração dos cntenos de intervençao como
' ,
as duas características 1narcantes do segundo apos-guerra, com o comando
financeiro a conhecer dimensões e extensão inusitadas, orçamentos signi-
ficativos e níveis de tributação pesados.
No tocante à Administração Pública, mais do que uma simples alte-
ração de carácter quantitativo, verificou-se uma transformação qualitativa
por detrás da evo 1ução de uma Administração de pura execução da lei para
uma Administração de prestações.
Assistiu-se, na verdade, à criação de uma administração económica
específica e à multiplicação de formas organizatórias, em que se inscreviam
os institutos públicos e as empresas públicas, estas últimas como decorrência,
sobretudo, dos processos de nacionalização e de participação directa do
Estado na actividade económica do após II Grande Guerra Mundial. Da
mesma forma, registou-se o surgimento tanto do "Estado económico", com
a economia a fazer parte do Estado, como da "constituição económica'',
com a economia a adquirir um lugar no próprio texto fundamental.
Entretanto, nos sistemas de monopólio público ou, no mínimo, de
pro~u~~o pública de bens e serviços essenciais, o enfoque residia na dis-
ponibilização de bens e serviços a níveis tidos como razoáveis em con-
dições de relativa igualdade para todos os utilizadores e de codtinuidade
dos se~iços, sendo as missões económicas e condições de funcionamento
exaustivamente definidas pelo Estado .
. . :rata:se_de uma _si~ação em ,que, fora do campo das prestações de
serviço publico, a activ1dade economica do Estado evidenciava uma clara

(t ,' ., R . D'el ormc ,r h :; . . .


)Cf
6
( .. ,
pp. 568 e ss. · 1::onc de la regulation : etats des savoirs. Paris, La Découverte, I 995,

30
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DO ESTADO INTERVENCIONISTA

finalidade regulatória <17>. Correspondia d c. .


· . . . , e iacto, a estar na economia para
1ne II1or a onentar ou dingir e neste conte t0 , .
, . . . '· x , a empresa pubhca represen-
tava um ve1cu 1o pnv1leg1ado de regulação.
Mas alén1 da r I ~ · d'
. ,_ , ~gu açao 1n uecta através de empresas públicas a
111tervençao
. . econom1ca
. . do. .Estado de·senvolvi·a-se 1gua
· , 'do
lmente atraves
condicwnam~nto da m1c1ati_va p~ivada, assumindo mesmo a forma de pla-
nea1nento mais ou menos d1rectivo do conjunto da economia.
. _Por outro lado, ~ste quadro económico de forte intervenção estatal coe-
xistia, em alguns pa1ses, com o projecto de economia de mercado suportado
p~r nonnas de defe~a da concorrência, introduzidas pelo Tratado de Roma
cnador da Comunidade Económica Europeia, tornando-se por essa via
num dos traços essenciais do modelo de economia de mercado ordenada
e regulada, que se mostraria predominante na Europa de então em diante.

3. Os Anos 70 e a Crise do Estado Social

As consequências dos choques petrolíferos e das crises monetárias da


década de 70, ao nível da própria falência do modelo europeu de Estado
proprietário e gestor directo de actividades empresariais, é o último aspecto
a considerar, sendo naturalmente de sublinhar o seu impacto decisivo na
mudança para o paradigma intervencionista.
Na realidade, a análise económica não havia conhecido períodos de
crise e indecisão tão prolongados como o que ocorreu desde 1973. De facto,
depois de duas décadas de crescimento económico quase ininterrupto, pas-
sou a observar-se um abrandamento fundamental das taxas de crescimento
ou mesmo fenómenos de estagnação económica. Uma situação combinada
com elevadas taxas de inflação, perda de dinamismo económico, inefi-
ciências e falta de inovação do sector público, endividamento de muitas
empresas públicas em consequência de má gestão ou custo elevado dos
serviços públicos, ficando a maioria dos países industrializados a braços
com défices pesados e duradouros da balança de pagamentos.

m)Neste sentido, cf. , por exemplo, Vital Moreira, Servi~o ~úblico e_Con?orrência. A_Rei~-
lação do Sector Eléctrico, in: Boletim da Faculdade de D1re1to da Untvers1dade de Coun '
Coimbra Editora, 200 l, p. 224.
. . ,nodo em que dominou a cre110
. _ . _ _ Jêncta de un1 pc · __. _ , . ra
Por consegu inte, na seqt. · . vantagens de sectores publico
. ... . . . ão pública e na5 - . d D .. &
na excelência da tnte~en~. ·. as olíticas económ1c~ e a epressao rn~
robustos. o balanço n_egatt \.O d P. _ nça e giaant1smo estadual, comoa·
, .. d - t à o1nn1prese . b
tÍ\'OU cnt1cas pesa as tan o 1· . - pu' blicas.
. .. d s po 1ttcas
rigidez e 1nadequaçao ª _ 0 da intervenção económica estadua\
Neste quadro, o desencanto _com_o ~putar ao Estado a responsabilidade
. .. . , bt"cas nac1ona1s a li . . . ... .
levou as op1moes P~ 1 l 'f 5 anti-cíclicas. Foi uma pos1çao que
1
pela inoperacionalidade das P~ ica O crescimento do sector público era
culminou no reconhecimento e quel ançar O equilíbrio macroeconómico
urn factor que, em lugar de permitirª e obsta'culo real à sua realização
.
e o crescimento, represen tava antes um d p . .· . . ·.
. l às rim eiras dúvidas sobre o Esta o rov 1denc1a~
Correspondia, a~n~ ' P . cialistas e social da Igreja Ca-
.d b usp1c1os das doutnnas so
nasci o so os a . _ , bl • _na economia, que acusava um
tólica e defensoras da 1ntervençao pu ica_ . ._ , ,
. , . b assim ao questionamento dos elev ados uiveis
1nexoravel co 1apso, e em , .
de despesa associados à actuação publica. " . . _
, ·to dignas também de referencia as constnçoes orça-
A es te propos1 , - . . b . . ... d E
mentais como um outro factor 1ncenttvador da su stI~içao o ~ta.do
intervencionista uma situação decorrente quer da reduçao ~ capacidade
tributária dos E;tados, inibidos tanto pela competição fiscal internacional.
como pela existência de jurisdições fiscais ma}s ~avoráveis, quer de um
aumento assinalável e persistente da despesa pubhca.
Ao mesmo tempo, começava a fazer o seu caminho a noção de -'falhas··
de Estado, numa alusão directa à incapacidade pública em gerar com
efic iência os resultados económicos e sociais pretendidos ou prometidos.
Igualmente, a contestação do modelo de desenvolvimento macroeconón1ico
dominante durante décadas nos países industrializados, resultado da co1n-
binação da receita keynesiana de fomento da despesa pública para estímulo da
procura com a influência da ideologia socialista favorável ao sector público.
que se mostrava incapaz de gerar soluções adequadas à modernização e
adaptaçã~ estrutural requeridas pela exigência de aumento de produtividade
e melhona de competitividade tt 8).

f w lt'
18
' Cf., N. Gilbert Tansformat' .
<

, . ,
°
sabi lity Oxford ox'fo d U . · 1? n e are State, The S1lent Surrender of Public Respon-
r mvers1ty Press, 2004' PP- 86 e ss.
32
E nulo. ns nrgtnncntos de ordcn1 id co) l) .. • b'
\. . 1· ·tt , · . · · e gica co1n 1navam-se com a
rt·:H:'\'fü.l ~,s u ,1as oc tntcrvcnt;ão de urr1 Fstado . ,. .." , . . . : ..'
. . ~
• , , , ••
1
•_
• •f · • • · ~. cspcc1a1mente activo na área
l'l''t).th)lllH.:,1 .e so.\, t,1 • o1n pcb.l part1c1pução dirccta naprod.n"ãot : . t~('l'."',,,..d·
t · .. ·crvt\."Os ·1trnv \ i .......,, · pres~c:w e
'll,'t~~ . ·1'· l . _e} e e cnlpresas públicas, ora pela orientação, controlo
l:_ ~
1
t,' d1st·1p 1na ln uct1v1C1adc cconón1ica privada.

No .final\ era evidente não só a alegada ineficácia do Estado. . Providência


para. agir l'Otno gar~·uitc da pron1oção de condições básicas de vida a todos
()~ c1~iadiins. n~a~ ainda a ~ua incapacidade para operar os resultados eco-
non11cos e socuus pretendidos (li1J.
Corrcspond~u, c111 suma, a uma contestação política vigorosa, veiculada
cante~ p,ck~s 1~1ov1n1entos marxistas à esquerda, como pelos grupos ultrali-
bcnus a d1re1ta, a que não era també1n alheio o elevado custo financeiro do
sector público, responsável por défices orçamentais persistentes e aparen-
te1nente incontroláveis que requeriam dos Governos o recurso sistemático
ao en1présti n10 com as repercussões inevitáveis a nível do volume da dívida
e da estrutura da despesa.
Da mesma forma, também dignas de menção quer as razões intrinse-
camente ligadas à dinâmica jurídica e económica da integração europeia,
reflectida na realização do programa do Mercado Interno, quer a globali-
zação económica, pelo reforço das reacções nacionais e do impacto neste
··regresso ao mercado".
Por fim, a intervenção pública em quase todos os domínios da vida
económica e social não só havia inibido a afirmação do mercado e oro-
bustecimento da iniciativa privada, comprometendo as regras de conduta
de uma economia mista, como também contribuíra para distorcer os sinais
transmitidos pelos mecanismos de preços, indispensáveis a um funciona-
mento eficaz dos mercados.
Durante o longo período de responsabilidade máxima do Estado, ~a
vez deixado para trás o verdadeiro "apartheid" entre os sectores púbhco
e privado próprio do liberalismo, assistiu-se à sua substituição por um.a

9
0 J A estepropósito, entre uma vasta bibliografia, cite-se, em especi~l, Pa~l~ ':rigo. ~ereira2
A Teoria da escolha públ ica ("publíc choice"); uma abor~as,em neo•hbe~al? m. ~abse _So
cial, voL XXXII, n.º 141, 1997, pp. 419 e ss.; Joseph E. St1ghtz, Econom1cs of Pubhc Sector,
Singapura, W.W.Norton & Company, 3.ª edição, 2000, PP· 5 e ss.
33
atitude de cooperação e acção concertada, expressa através de variados
e complexos processos de integração e osmose e _de um novo modelo de
relaciona1nento simbiótico entre o Estado e a Sociedade.
Mas, a crise do Estado de Bem-Estar acab~u _por ~equerer un: com ..
bate finne aos excessos do Estado Social Adm~n1str~t1vo no se~ttdo de
uma contracção quantitativa da intervenção púbhca duecta, dep~1s de um
primeiro esforço corporizado na alteração da~ f~rma~ de conc~et1z~ção da
intervenção pública, com o Estado a compnm1r a intervençao. d1recta e
centrar-se de forma predominante na definição dos quadros gerais em que
se desenvolvia a actividade económica.
Na verdade, tratou-se de uma tendência contractiva de vocação universal
e capacidade de expansão para todas as áreas da intervenção pública,
cuja afirmação mais natural e radical surgiu, naturalmente, no âmbito dos
sectores económicos.
Ora, desenhada a evolução do esquema intervencionista e antecipando
o seu ocaso, importa reconhecer que em finais da década de 80 o Estado
se debatia já entre a vontade conservadora de retomo ao liberalismo, por
um lado, e a incapacidade de pensar a sua própria transformação de modo
efectivo, por outro.
Um ambiente em que o desvanecimento do mito do intervencionismo
estadual foi acompanhado da criação de condições propícias ao prenúncio
de um novo paradigma, incondicional da reconfiguração do papel do Estado
e ,do_ aumento da ~ontribu~ção dos agentes privados para a governação
publ,i~a, e, be~ assim, manifestamente propenso à assimilação dos valores
e praticas do new public management".

34
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CAPÍTULO IH
DO ESTADO REGULADOR E DE GARANTIA

t. A Crise do Estado Intervencionista e as Correntes Neo-Liberais

Ao iniciar o capítulo relativo à emergência da Regulação, _mostra-se


adequado começar por recordar que o Estado Gestor entrou em crise com
a "'contra-revolução" neo-liberal e conservadora dos anos 80 fruto do
aparecimento de uma nova filosofia pública contrária ao dirigismo ' econó-
mico e favorável ao livre mercado. Tratou-se, de facto, do florescimento
do neo-liberalismo suportado pelas receitas das correntes monetaristas para
sustentação e defesa da desintervenção do Estado na economia.
Nesta medida, o monetarismo que, coerentemente com os princípios
da teoria monetária perfilhada pela "Escola Austríaca e a "Escola de Chicago",
defendia um conceito de liquidez diverso do de Keynes, propondo uma
concepção que pretendia revitalizar os mecanismos naturais compensa-
tórios, bem como minimizar as decisões discricionárias das autoridades
económicas.
Na convicção da estabilidade da procura de moeda, da falibilidade
e lentidão das políticas estabilizadoras, do valor relativamente baixo do
multiplicador de Keynes e do poder estabilizador das regras monetárias e
bancárias, o novo paradigma económico assentava, ao invés, no Célr~çter
fundamental da estabilidade da velocidade de circulação monetária e na
função decisiva da massa monetária, pressupondo ainda a devolução aos
bancos centrais da condução da política macroeconómica.
Configurou, por isso, uma nova matriz de desenvolvimento que, além de
pressupor a revalorização do mercado e da concorrência, mostrava também

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35
m idamente imprescindível Par
. J forte e assu . l aa
. te nurna ini ciati va pnvac a ~ ·. I' 1 ha de Stigl itz ( 20 ), assina a-se que nest
-. a·ção do bcn1 con1un1 . E na .1~ · anhar cen tralidade a disc ussão d e
l l: a1l Z , br . as
'~ V

. , Cz 111 aI S a g .
novo cenári o volto_u ' ~-111~ v" . .,scolha entre os sectore~ ~u i~o ~ P:IVado,
f )ntciras e dos cntct tos de e . --ação infra-estrutu1 a i e I ed1stnbutiv
rl . ·1 ão de u1na voe a
prevalecendo a ace1 ~ç . do
• · ~ • dut1va do scgun · . , ·
do pn n1c1ro e P10 . forain seguidas por vanos governos
. ,.. 1· . . ~ ., do monetansmo . . Th t h . ,
Entao, as içoes E tados Unidos, e a e . er, no Re1no
Reagan nos s . ,, . .
non1eadan1ente por ' dO " . pply-side econom1cs que pnv1legiou
Unido. na origen1 da c?rrente bsu a oferta pública global. Experiências
~ de impostos so re . d
o efeito dared uçao d .· ti·var O investimento pn va o e, desse
or u1n la o incen
que procurara111, P · . ' . ·ciativa privadas e, por outro, travar ou
.dade produti va e a 1111 .
1110 dº: a capaci . . úblico, acabando por dominar, poucos anos
reduzir o aumento do sectot P d do Atlântico.
depois, a agenda po1ítica de ambos os a os 1 . ~
mercado significou a 1mplantaçao dos novos
Na Europa, o regresso ao . ~ ~
·
conceitos de · pn·vat·1zaça~0 , liberahzaçao e desregu .
1amentaçao, em 1ugar
·
de direcçao,~ 1 ificação e estatização, que rapidamente se tomaram nas
p an , • d . d t · ..
pa1avras-c have do léxico da nova
. ordem
, . econom1ca
~ os tempos
, a
, . rans1çao .
do século e do milénio, associadas a introduçao de.MTM s na propna Adm1-
ni stração Pública por razões de eficiência acrescida.
Para uma apreciação breve, confere-se prioridade ao movimento das
privatizações, subordinadas ao lema "Menos Estado, Melhor Estado'', .
que preconizavam no essencial a alienação pelo Estado do sector público
empresarial sob a forma de venda de empresas ou participações sociais.
Então, o movimento privatizador justificava-se, sobretudo, por preocu-
pações de eficiência e garantia de uma melhor satisfação das necessidades
públicas, mediante a redefinição das áreas em que a iniciativa privada pode
actuar de forma mais vantajosa e aquelas que se mostram mais adequadas
ao sector público, posicionando-se claramente como um elemento nuclear
da nova ortodoxia de mercado.
Ne~tes termos, as privatizações, ao serviço da definição de regimes
menos intervencionista e di · · t · · d
ng1s as, conJugavam não apenas o propósito e
-- --------..,.._.,__,______ _
CO)Cf E . -- - - -
1() ., . conom1cs of the Public Sector S., . ..
... 00, PP-93 e ss. · ' mgapore, W. W. Norton & Con1pany, 3rd. Ed1tion,
36
copyriqht © Ouio . l11ri, ? - .;nriPfiilrlf' f'l.~ (;\".l
contribuírem para. o reforço · ência cm va'r1·08 se· e t ores, fl ex1·b·1·
. da efici 1 tzan d o
a fon~a ?e
sat~ sfa~ãordas ?ccessida~cs públicas por via da acção de enti-
dades
. .pri vadas,
~ · mas tambcm , contrariavam
· · O mov1·mento de eresc1men · to e
d1vers1ficaçao do sector publico.
_De, t~cto, as privatíz~ções, para 1á de corresponderem à alienação do
p~tnmo~10 _do Esta~o, C~Jo pro?u~o e_ra por norma consignado à redução do
defice pubh~o, _faziam ainda d~1nu1r de fonna substancial a participação
do sector pubh~o na economia, operando o aligeiramento do peso do
Estado, a ~~nstnção da área do púb]ico e a atenuação das incumbências e
responsab1hdadcs da Administração, cada vez mais circunscrita ao dever
de garantir as prestações. ·
Reflexo desta tendência, a anterior responsabilidade máxima do Estado
desdobrou-se em responsabilidade pela execução, transferida para a ini-
ciativa privada, e responsabilidade de garantia da prossecução dos fins
públicos, mantida na órbita do sector público.
Ao mesmo tempo, com a privatização das empresas públicas ficou
sem suporte o serviço público por elas prestado, tendo o Estado, em sua
substituição, passado a impor aos operadores privados prestadores um certo
conjunto de "obrigações de serviço público", da mesma forma que o ser-
viço público deixava de se definir pela natureza pública do prestador, mas
antes pela natureza das prestações e pelo seu destino ao público em geral.
À guisa de síntese, recorda-se que, enquanto o antigo Estado social
se ocupava, por norma, da provisão de serviços públicos através de em-
presas públicas ou da concessão de serviços públicos, com o Estado pós-
-liberalização a prestação dos serviços públicos, entretanto sob uma nova
nomenclatura - serviços de interesse económico geral -, incorporavam
"obrigações de serviço público" contratualizadas com operadores privados
e cuja fiscalização requeria dispositivos regulatórios.
De seguida, faz-se idêntico foco nos restantes objectivos estratégicos
da nova economia pública.
Em primeiro lugar, a Iiberalização, como um processo virtuoso_, trouxe
a abertura à concorrência de actividades anteriormente desenvolvidas em
regime de exclusivo público, permitindo e fomentando o aparecim~nt? ~e
empresas privadas a par de empresas públicas, então já de base soc1etana.

37
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1
- TRANb l l v ' ·, ,r ..r, - • - -
-- - · - - - - - - - - -- -- -·
' •••11,,
~Ao DA fCO NOMIA O -
DIREITO DA REG ULA<; .

. . deu a uma política de reduçã


. ·ão corrcspon 1· . d o,
. . d ,srcgul amcntaç ccssariatnente 1m1ta oras da ini
Dcpo1~. a l::- . k normas desnc . . ..
porventura · "'"'liminação, t ... i , cmpres as' 21
, )· ,, .
. .·1ti\·a 1,rivnda ~ da gcstao e.as . ''ncw public ,nanagement , d1furrdido
LI,
. _
·,
. 1 rado ao
11 ·11u1 ·o nbjcct1vo ,g . U 'do US A e ana a em na1s dos
e d, fi .
Pt1tu, . . r. 1· Remo nt ' . . 'd
. ..
na N(n•a ~ ... ' z,--Vindia '
Austn1 ta,
a fiJoso afi adn1ín1strat1va constnn• a .a Partir
. ?l) 1·ct ,11 tificou-sc com wn . adas centrada em obJectivos de
anL1~ • L ,,. 11 presas pnv ' · ~ d ,•
) modelo de gestão das c~ . edin,entos, aval 1açao as pohticas
ej l . - . J'fi --açao de p1 oc
espccialtzaçao. s1111p t . e, ~
publicas e dcsburocrattzaça~. . visava racionalizar e conferir mais
ovnnento que d ~
Correspondeu a um 111 . pi icação do esquema e gestao pri-
eficiência . a, gestao
- pu' blica' medianteªª
. de tipo de merca·do"(MTM) , abran-
- d'Hmccan1s1nos
vada e da ut1·11·zaçao e . . nto de serviços pu' bl.icos contra um
·d - )rrênc1a o fomecime • •
gendo am a a con~t · ' . 1 d organizações púbhcas, a autonomia e
preço. a autonomia cinpresana as r ~ do direito privado mediante o
responsabilidade dos gestor~s e a ap tcaça~ de gestão ..
recurso à sociedade co1nerc1al e ao contra o . ~ , .
, · b auspícios das novas onentaçoes de pohtica
Neste cenano, so os 1 d
, ·
econom1ca o 01 çamen . to voltou a merecer um
'\ lugar centra no qua . rodas
reocupaçoes - ' de on·ge 111 macroeconómica
. . , tendo arrastado o renascimento
.
da importância dos estuos de dtreito orçamen~a~ em particular, a s~a
componente jmídica, pelo que se retomou a tr~di?ªº da sua co~figuraçao
como um ramo jurídico poderoso com tendencia a autonomizar-se do
direito financeiro .
E o orçamento, assim revitalizado, passou a ser perspectivado não
como um instrumento das políticas financeiras, antes como o meio ideal
para assegurar a contenção da despesa pública, uma vez reabilitada a egra
do equilíbrio orçamental, a que os compromissos europeus desenhados
sob a capa da regulamentação da zona Euro, vieram a conferir actualidade.
. Acresce que a nova economia pública não deixou ainda de colher
º.impacto emergente do desmoronar das economias colectivistas e pla-
nificadas na U .... s ·, ·
. _ niao oviet1ca e em outros países do leste europeu pela
dimensao global e hist' · d , . . '
onca empresta o as privatizações e ao movimento
--...._...__
in\ Cf R
------- -
· --
·, · A. Posncr A F·ii lurc of
-
·t I'
PP- 292 e ss. ' ' capi ª ism, Cambridge, Harvard University Press, 2009,
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--- --------. ---- ---- -
- · • "· · ., , , \ 1'411M

de liberalizaçã? da econon1ia, abrindo decisivamente cam 1· h , , , . .,


do novo parad1gn1a. n a a6. rmaçao °
Por seu turno, um outro aspecto · . ·
. · ~ . que perttnentemente cumpre assinalar,
ten1 a ver. com
_ a mteracçao " europeia
. , cuia di'na"mi·ca J·un
. 'd"1ca e econ m1ca
· teve
~ 6
u1na pos_içao nuclear no ambtto deste complexo processo de transformação .
. Entao, ev?~a~se O pap~l da Co1nissão e os esforços envidados pelo exe-
cu~v~ comunita~to no sentido~~ desmantelamento de monopólios públicos
e d1re1tos exclu st vos ou espec1a1s e1n sectores essenciais da economia dos
Estados me1nbro~, ~elo efeito decisivo e indutor da mudança de modelo
de ._Q:ovemo econom1co .
~o conjunto, configurou uma questão associada ao processo da construção
europeia, em especial depois de 1992, no quadro da criação do mercado
único. Na realidade, nenhum outro patamar da arquitectura europeia contri-
buiu tanto para fragilizar as bases do Estado intervencionista nos Estados
membros como o mercado interno, obrigando directamente à liberalização
das "public utilities" e às privatizações.
No mesmo sentido, a eliminação de barreiras entre os mercados na-
cionais, como marco determinante para a supressão não só de obstáculos
fisicos , técnicos e fiscais, mas também de outras vedações às relações eco-
nómicas entre os Estados membros, sob formas muito diversificada como
auxílios de Estado, proteccionismo nas práticas de contratação pública e
outras distorções ao funcionamento do amplo mercado único.
Em termos globais, tratou-se de processos muito complexos, que não
só induziram uma modificação do padrão das relações entre o Estado e
a economia, mas também conduziram ao desenvolvimento de uma nova
dimensão da intervenção do Estado por via da regulação.

2. A Utopia do Novo Estado "Mínimo"

No período posterior à ado~ç~o das ~edidas de privatização d~, eco-


nomia implementadas nas duas ultimas decadas do, s~culo X~ -: no . afte~
privatization" -, assistiu-se, no âmbito da dogmat~c_a admi~is~rativa, ª
emergência de um outro nível ou gr_au de responsabilidade pubhca cons-
truído com base no tópico da garantia.

39
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. 2, estava em causa a génese tk.
. d . franz1us 0 , .d . ~
ente que, seguin o . . . . e . ública traduzi o num 00-Vo ar-
Natu~alm ,dio de responsab11Idad ~-s entre o Estado e a Socieda_áe
um _grau m~e~eç.ão e coordenaçã~ de pape~º 0 "Mínimalstaat" da é])<x..;
ranJOde art1cu Garantia nao co . ..
mostrando-se o Esta~o d:imalstaat" do século XX. . ... ,
1·beral nen1 como o Ma . . 1do Estado de Garantia surge con,,r
t , 1 . st1tuc1ona . . , . . d . ..
Deste modo, o mode o m 1· ção do bem comum, s1tua o a mei,:
tu a de rea iza ·. . . d . . . . .
um sistema ou uma e_stru r, . entre dois modelos_extrema os - o 1:11-~ kj
caminho num ponto 1ntenned10, t do a doutnna proposto des1grta..ki
· ' d 1O de Estado - , en · . . . . . · .-
de mercado e o mo e d lo que se apresenta como resulta<h
- _ um novo mo e · · · ·b 't·,dad ·
de regu~açao. T~ata seª. tirnizada de tarefas~ re~ponsa 11 . esentre
de uma mteracçao e pa~il_ha op as tendências totahtán as e excludentes err 1

as duas polaridades, reJe1tada~ . .ros modelos .


ue se haviam centrado os dois pnme1 . . . ..
q , . ~ d grau ou patamar da responsab1hdade
E visível a intençao o nov O . ., 1 ·b . . . ~
, . . rt·. lação entre os dois po os ou su sistema~ em
publica de promover a a icu .. . . da· E-
. ·d m'·a comunidade poht1camente organ12a · · - o - ~tarlo e a
que se d1v1 e u .. . . · .. • . d .
·dd d odo a preservar a racionalidade inerente a ca a um e., ao
Soc1e a e - , e m . .
mesmo tempo, tirar partido das respectivas s1nerg1as.
Mas a ideia de garantia pressupõe também, em largo espectro~a migração
de tarefas e incumbências de carácter executivo e operacional para a esfera
do mercado e das empresas, cumprindo ao Estado a função de assegurar ou
garantir o funcionamento do mercado e a actuação das empresas em con-
formidade com determinados objectivos e finalidades de interesse público.
Por sua vez, este leque de características corresponde ao desenho de
u?1 novo modo de ass_egurar o interesse público, que minimiza a produção
d1recta de bens e serviços pelo Estado e devolve à iniciativ a privada seme-
lhante tarefa através de concessão ou outras formas de delegação.
Ne st a conformidade, é possível reconhecer a enorme importância
desta mudança sobre as form d d. . . ~ económica envolvendo
, . . . as e a m1n1straçao
quer multiplos s1na1s de uma t ft ~ . ,
modalidades de inte ~ . r~~s. onnaçao profunda da intensidade e das
renovadas soluções ~ et~tuça~ pu . hca no espaço económico e sociaL quer
· .
10 s 1 c1ona1s de real · ·
izar o interesse , . . ,
publico

122
-------
icr -------- ..
., C. Franzi us D G .
-' er ewahrleitstungsstaat"
· , Overarc h 2008 p 1 ,.::;
40 ' ~ ...J..J ..J .
~ .._, ....::0 1 M LA.J "u:..,ULAUuK 1:: üi:: GARANTIA

Convoca, afinal, um novo tipo de relacionamento entre o Estado e a


Sociedade, não a~en~s ~incondicional da retracção do papel do Estado e do
aumento da co~tn~u~çao dos agentes privados para a governação pública,
co1n base num 1deano de "partilha de responsabilidades" e de '"coopera-
ção" ou "coordenação" para a realização dos interesses colectivos m > mas
ta1nbé1n m~nifestamente propenso à assimilação dos valores e prátic~s do
Hnew pubhc management", ao serviço de uma boa governação da Admi-
nistração Pública (24 ) .
Co1neçou, assim, a observar-se uma posição diferente do Estado que,
ao contrário de actuar directamente, passa a mostrar preferência por captar
o potencial da Sociedade com o propósito de extrair o máximo beneficio
das capacidades privadas para atingir objectivos públicos.
Pelo seu lado, do ponto de vista dos institutos jurídicos, assistiu-se à
revisitação do instituto do contrato, ao mesmo tempo que passou de novo
a ser conferida prioridade à vetusta figura da concessão administrativa. No
entanto, no novo cenário os particulares passam a ser envolvidos estrate-
gicamente ou envolvem-se de forma espontânea na realização de tarefas
nucleares do Estado, não assumindo apenas responsabilidades nos domínios
da gestão e exploração de serviços públicos como durante o século XIX e
no período de máxima força do intervencionismo.
Perspectiva-se, afinal, um ambiente em que o particular já não é o
cidadão socialmente descomprometido do Estado liberal, nem o simples
utente de serviços públicos do Estado social, antes desenvolvendo ou sendo
movido a desenvolver um novo papel de agente que partilha com o Estado
a tai~fa de prosseguir o interesse público e os respectivos fins institucionais.
Mas, por mais limitada que se mostre a participação pública directa na
actividade económica em resultado de amplos programas de privatização,
não se reduziu de forma significativa a intervenção do Estado, agora

Sobre a necessidade de uma nova coordenação entre o Estado e a Sociedade no Estado


' 23 )
pós.. modemo, cf., H.-K. Ladeur, Der Staat gegen die Gesellschaft. Tübingen. Siebeck. 2006.
pp. 388 e ss.
( 24>A este propósito, entre um largo espectro bibliográfico, c~te-se em especial, Pedro Gon-
çalves, O Governo da Administração Pública, Coimbra, Almedma, 2? 13 ~ Andreas Vossekuhle.
Neue Verwãtungsrechtswissenschaft, in : Hoffmann-Riem/Schm1dt-Assmann/Vosskuhle,
Grindlagen dês Verwaltungsrec hts, l, Beck, München. 2006, PP· 41 e ss.

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41
ESTADO REGULADOR E DE GAR.A,N
~.11NSITO PARA O -- - - - - - - - ---~ - i'IA,
O NOMIA - O
_Ttv'
_ ----- - - -- -- -'
EC
REGULA ÇÁO DA ___ ----· - --
DIREITO OA . . -- - - - .
· mia privada no interesse ~
~ da econo "'ª
. . funções de regu laçao . .
. .d d .. do merc ado ·
ínvesudo cm
de-se co1n O abandono da . acttv1dacte
esta b1h a e , . . a reter pren .d des privadas, visto que o fin-.
actenst1ca . . de entl a . .fi .. ,
Outra car · d em beneficio , i um reforço s1gn1 cativo d
c_rnpresarial do E,stal. o ter implicado so por s a
clusivos pub icos .
do~ c_x d gulatória pública. , obretudo, toma fo. rmas novas
act1v1da e re d d areas e, s · · .. '
· egulação 1nu a e d políticas de p_n vattzaçoes, con,
De facto, ar . d pape1 as . d' d E
_ d rece. Mais a1n a, 0 . 'd d económica irecta o stado
mas nao esapa ~ da act1v1 a e ~ b d'" '
. , nimo de retracçao nto da regulaçao em o e 1encia
quanto sino , d mobilizar o aume
não deixaram, porem, e re lation ".
à lógica "freer markets, more gu . (25) que se impôs uma regulação mais
É evidente, como aponta Fe1;~n 'duradoura da produção e prestação
. d sistemat1ca e " .
menos
Ou · · ponnenonza a, . d se•ia para estabelecer a concorrenc1a
, · · · t · pnva a 'J '
nas áreas entreg~es a in_1cia i_va de al uns requisitos--de serviço público que
seja para garantlf a sat1sfaçao . g . .d des
o Estado manteve em relação a tais activi a . . ~ ~ .
e-, d Maione (26) que a des1ntervençao nao fo 1
Naturalmente, como de1en e ;J : • l d d E
. , . . . · ~ ausência da act1v1dade regu a ora o stado,
smommo da d1m1nu1çao ou . • fi . .
instrumentos mais eficazes e mais e cientes
antes da procura de ou tros . . . . .
de con troo 1 das actividades pnvat1zadas e hberahzadas ·
e, assim, de uma
l ~
regulação de outro tipo e, por vezes, mesmo de mais regu açao.
Deste modo, a desregulação pública acabou por gerar uma re-regulação
de natureza diferente, tendo o programa regulador dos anos 90 obedecido
mais à formulação de uma nova filosofia reguladora, menos dependente
da propriedade pública e da intervenção económica directa do Estado e,
sobretudo, menos restritiva da concorrência.
Trata-se, no essencial, de uma profunda mudança de atitude, merece-
dora de uma última chamada de atenção para os efeitos que esse percurso
confirmou sob um ponto de v1s· ta organizativo
· · e 1nst1tuc1onal
· • • ressaltando
a passagem de um E t d · · · • '
s a o pos1t1vo, 1ntervenc1onista e gestor directo - bu-

r]~JCf G ·
. E Ferrari L' ente ubbJ ·
·, ·1 • ..
Tormo, 1994, pp. 24 e'ss. p ico nel drntto comparato, in: Cerulli Jrelli, Giappichelli,
M .
<26J Cf G
a1one&A I s ·
Stato M
·, 1 · .
· -ª
pma, Deregu1 t · p· • .
e ercato, n.º 35, 1992, pp. 24 9 e ss. ª ion e nvatizzaz10ne: Differenze_e Convergenze,
·rátíco h ierárq uico, unitário e centra lizado _ para um E· ·t d
roe ' . r • • , .. , , •s a o regulador
·

tccccntrali zado e que acompanha e monitora os processos


L ..., · · • • · d . no mercado _
·uJ·a a<.:tiv idadc su rge cnq ua rada pelos modelos e princípios re d '
e d·~ · , ler·
n a '"bcttcr , · b gu1a ores
cm ohc 1cnc 1a ao govcrnment, etter regulation" .
[)o mesmo modo, reconhecida essa evolução J. ustifica se a ·
. . . .. , · - ssma1ar que
1 .. pois do intervc nc1 omsmo haver provocado a desintegração d b '
,ic , · é · d ct · . . . . o su strato
económi co, po 11~1co e · t1co o . 1re1to c1v1l, o retomo à iniciativa privada e
a.o mercado, assim d
como o desmoronamento das economias colect· · ta
, . 1· IV )S s
,e nl,, anifi cadoras
d · os pa1ses
. socia
. 1stas, foram responsáveis pela ab ertu ra
a um modelo e econo~1a mista assente na colaboração entre os poderes
públi cos e as pessoas privadas.
Para finalizar, acentua-se ainda que a nova matriz, ao envolver
0
qucsti o~arne~to do st~tu ~uo no tocante ao papel do Estado na economia,
conduzindo a revalonzaçao do mercado e da concorrência, apostou numa
iniciativa privada forte e reconhecidamente imprescindível para a realização
do bem comum .
Dentro desta lógica, também não se olvida que a transição gradual de
um Estado Gestor para um Estado Social mínimo se caracterizou por alguma
incerteza relativamente à descarga de bens e tarefas do sector público para
0 sector privado, tornando óbvio que a espontaneidade inerente à lógica
do mercado não era suficiente só por si para actuar adequadamente no
novo uni verso de economia livre que passou a imperar na sociedade, sem
correcção das distorções de mercado.

3. O Impacto da Crise Económico-Financeira de 2008

Vindo sobre a actualidade, nãó se pode prescindir de uma reflexão


sobre o impacto da crise económico-financeir~ de 2008, des~~adam~nte,
ao nível do papel do Estado regulador e do fenomeno regulatono. Po: isso:
ainda que de forma simplificada, invoca-se o argumento de que a cn~e foi
a principal causa da busca de justificações para operar a_transformaçao do
Estado regulador ou, em qualquer caso, a alteração mais ou menos subs-
tancial do seu modo de funcionamento.
Nesta medida, mostra-se importante começar por sublinhar a pertinência

43
COll'!rjghj ~ Ould Jurís? - sociedade editora
- -- . ·-
-·-------~~--· --~--··-- ·•-- ----~------------
b tudo quando é generalizada a ideia d
da co locaçüo do problen1~,. so dre " ~ e de dupla face" isto é a ..e que
N l" tano (~ 7 designa e cns ' ' crise n~
o que _apo 1 , .
>
. . foi no essencial consequência do E "4
economia e das d1v1das soberanas, ~ , bl . fi . . stad()
, _1.0. s "gaps'' da regulaçao pu 1ca . nancetra.
reou 1a d or e de vai · .
::, A . , ·to na 11·nha de Stiglitz<2s) e Waxman <29), recorda-se a Versà
este pt opos1 , · . , ú Ih d l ~ o
an1ericana da crise, geralmente associada as ª as ª regu açao,_ mas que
não se afigura, etn rigor, radicar no Estado regulador~ antes 1:1uma ~deologia
ultraliber;l que propagou as virtude~ da des~~gulaçao, da hberaltzação do
n1ercado e do abrandamento normativo e pratico dos poderes regulatórios.
Nessa medida, a falha terá sido não da regulação, m~s da ideologia que
a con1andava. De igual forma, também as respoS t as do sis~ei_na, em lugar de
tomarem possível percepcionar claramente qualquer espe~ie de retrocesso
do novo modelo, permitem pelo contrário antever a continuação de urna
regulação, porventura diferente, mas com instrumentos mais efectivos.
Em consequência, a alusão à Grande Recessão de finais da primeira
década do século XXI, de que fala Stiglitz <3º), parece não ter provocado
uma alteração significativa nem da dimensão, nem das dinâmicas próprias
do Estado regulador, embora se mostrem visíveis alguns afinamentos que
não descaracterizam, porém, a sua estrutura fundamental.
~al não obsta, porém, a que, na esteira de Ladeur <31 ) , se deixe de ver
na cnse um "tuming-point", que motivou o aparecimento de uma maior

21
Nest; sentido, cf.,G.N~politano, Crisi económica e ruolo del diritto amministativo http·//
us~~~ u.es ,:age~/co~gresos/ttalo-espanol_docs/ponencias/Napolitano.pdf, 2012. ' .
- Cf , a pnmetra razão para a falha do (d . ~ .
mercados não falham" J Stiglitz R . gove;o a regulaçao) foi a crença de que os
1
f ail ure, http ://www2 ' sb columb . egu atwn an . t~e _Theory of Market and Govemment
tíon_Theory_Failure.p!f · ia.edu/facultylJShghtz/download/papers/2009 _Regula-
(29>0 P .d
;'esi ente da comissão da Câmara dos R .
mou que a confiança dos reguladores b depresentantes, que ouviu Alan Greenspan, afir-
;i!ulação má
P~blica é e O mercado é i~~:i~v:f,, 0 ~ m~rcados era infinita. O mantra tomou-~e: a
depresswn and administrative law in· F d' cit.açao em M. Aronson, The great depress1on,
1
no,
· cf .
· ., J. St1gJitz, FreefaIJ (A . . , . e era Law Revie w, vo l. 37 , n. º 2, 2009, p. 180 .
New York W W N . . menca, free markets d h . .
são e . ' · · 0 rton & Company 201 0 an t · e smktng of the world economy),
239
' m contraponto com a Grande Dep ' PP·d e ss., ao referir-se à actual Grande Reces-
<31 1 Cf. K -H ressao e 1929.
fi nanc1al . ' · • Ladeur Th fi .
crisis in . . ' . e .nanc1al markets cri . - . .
constitutiona] perspective O D ;1s a case of network fa1lure?,. m: The
44 ' x or ~ Hart Publishing, 2011, pp. 63 e ss. ·
DO E STADO R EG ULADOR E DE GARANTIA

intervenção do Estado,. ora na Europa, ora nos Estados Unidos da Améric_a,


mormente nos mercados financeiros, sob fonnas e com uma extensao
inusitadas e sen1 precedentes.
Correspondeu, na realidade, a uma intervenção episódica, mas decisiva,
aco,npanhada da passagem de uma lógica de responsabilidade pública de
garantia para uma acção estadual directa no mercado, convocando um
fcnórncno para que a]guma doutrina reserva a designação de "regulação
através de negócios" (compra de empresas e de bancos) .

Todavia, dado o carácter transitório da crise, acompanhando Napoli-
tano m,, não se deixa de considerar pouco provável que a resposta à crise
fo sse no sentido de gerar uma expansão consolidada da esfera pública,
circunstância que representaria, afinal, o "esmagamento" do Estado Regulador.
Tal não impediu, porém, que se reconhecesse a necessidade/premência
de lhe introduzir mudanças e afinamentos, explorando, nomeadamente,
~?1uções_que, en~~etanto, passaram a emergir no terreno e configuram o que
Jª se designa de Nova Agenda da Regulação da Economia".

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