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DO ESTADO LIBERAL
4
<lCf. , Rogério Ehrhardt Soares, Direito Público e Sociedade Técnica, Coimbra, Ed. Biblio-
teca Jurídica, 1969, pp. 39 e ss.
<51 Cf
., Manuel Afonso Vaz D1re1to
. . Ec , . ª .
l 998, pp. 42 e ss. ' onomtco, 4. edição, Coimbra, Coimbra Editora.
( 61 Cf R , ·
·, ogeno Ehrhardt Soares o· · , .
(7J Atribuída a N ··b . .' ire1to Publico e Sociedade Técnica, ibidem.
Et d ·. or erto Bobb10 St t G . ,
°
essp:cf;~~:;eª' ~isb~a, JNCM (trad. p:~~) 1i~~no, 8 cieta, Enclopédia Ejnaudi, vol., ~4,
da organiza ã cdara~sobre o modo como a dicoto' ~p. 1,78 . e ss., corresponde a uma analise
O O st
ç E ado liberal, despoletou todo'~: pub~ico-privado, característica nuclear
18 conJunto de outras dicotomias.
[G ULAÇAÓ
• DA ECONOMIA
. .. -
-=--~- - - ----
niFHr! O PAR .
m os seus negócios à
rivados regulare . ia da vontade, an11nados pela
dos princi--lu~
.· ,·,1 paraos p daautonom ·
~x~cI~tH.: h d ontratar e .
l,; 1·b rdade e e
·Pios' dad 1 ·onsenso.
e . Estado ahst1n· l1a-se · de qua lquer
h11scu O e ão hbera 1o , • ·
·· t lrno na concepç . agente cconon11co, seJa enquan-
Por seu L , , · seJa con1O . " .
. . , ,;-- na esfera econo~ica, . te' conio garante da concorrencla.
,nttJ vença 0 . ivada seJa a . ., E
· . 1,1dor da economia pr ' bsoluta scparaçao entre o stado
to rcgu t de facto, a a · · ·, . ,
( P) rincipal mandamento era_, . Ad Smith "o Estado era. por natureza
. · como d1z1a am '
~ a cconom ,a, po1s, , . " (9)
, ~ ões econom1cas . . .
inadequado as unç d' nto O liberahsmo pronunciava-se
este enten 1me , .
Coerentemente com , . de funções produt1vas pelo Estado,
. · contra O exerc1c1O .. .
decidida e com vigor .. d qualquer participação na actlvtdade
enas dem1ttr-se e , .
quê dcv1d nao ª~ · _
•r ,.,
m>ct , António L. de Sousa Franco, Finanças Públicas e Direito Financeiro vol 1 Coimbra
Alrnedma, 1992, p. 58. ' ·· , ·· - '
. 11·bera1s . con. dendssc ' ' . . lll VC CllH: nlb,t! JlH.: lll C. não"' N.Ó H
. . •to económico, ost diam
c1rcu1 . con10 um 1l1 ''ll, mas. tam cir1~n. <:111prc~tllnq (:J •.
d a públ ica que en en d. t' rido na (orn1u laçau '
.- e
1 J,1lt:ard1)
espes .' um imposto I e , l ,
, blico entendido como,.. . . . ~ :> .ciona1 de ~ncargos, segun, _o urnc
pu '- . ferenc1a mterge1 a . , .
ou uma forma de tians . . d" ssinrihr qu e a dcs p~sa publica era
d t0 d'lVÍ'l dc1xa1 ea,, , ,. l d I'
Não se po e, ' , .' ' ld ~ limitados, fí cando o pape o ·.stad. o
sana em mo cs • · .•
encarada corno neces ' ,. . t :.ressavani aos parllcularcs ou aquclc~
circunscrito aos sectores q~e naod~n t;; assegurar cin virtude da cx1sW11cía
fi 1. ,.. 1 s nao po t an1 .
que, por de n.çao, e e . . lassificado de cxtcmal idadcs .
· 1O e mais tarde ve10 a sei e . . .
aqui D0qu O modo a ex1s . t"enc1a . de uma · idênti ca rcJ c1çã.o no . que loca .a
· ~ d 1110 eda e a 'de.eI esa da sua neutralidade ' a fi1n de evitar a cclosao
rnesm
cnaçao
de movimentos e . .
mflac1omstas.. Tam be,m a cobcitura . .das despesas
. púbJ
. . Íca.. ~
por v13 · de adrnntamen
· . tos dos bancos centrais era vista con10 lHn 11nposto
injusto e dissimulado. . .
Por fi rn , qua nto ao papel dos sistemas .fiscais do ltbcrali sn10, , . rcc.:onhc~
cidos Oimposto enquanto a sua receita típica e_as _fin anças e 1ass1cas con1O
0
tempo das fina nças tributárias, os impostos atingiam so_br~tudr~ as classes
agrárias tradicionai s e os consumidores, corneçando a assistir-se a expansão
da tributação de formas mais "capitalistas" de riqueza à medida que se
aprofundou o processo de consolidação do modelo de sociedade industrial.
Nesta senda, o liberalismo, apesar de rejeitar a utilização do imposto
como instrumento de realização da justiça e de redistrib uição da riqueza,
defendia uma tributação justa para garantir a igualdade formal perante a lei
e manter um nível moderado de tributação, no cumprimento do princípio
da legalidade que se traduzia, desde logo, na aprovação parlamentar dos
impostos.
(I~•Cf., José Figueiredo Dias e Fernanda Paul.a Oliveira, Direito Administrativo, Coimbra.
CEFA , 2003 , pp. 18 e ss.
4
º >Cf, João Pinto da Costa Leite (Lumbrales), A Economia de Guerra. Porto. 1943, pp. J5 e ss.
copyright
·
©Q .
· Utd Jur!s? - sociedade editora 25
ES TADO REGULADOR E DE GARANTIA.
ÃN~ITO PARA O - --------
1. ECONOMIA -- O TR ~ -_
DIREITO OA REGULAÇ,h.l ) [ A '
, ·w de superar as di sfunçõe s do
. . 101 o firm e propos1 - ..
da rcrartiçãri dos bens. u
men:ado . . dr n cnto e aprovisionamento obriga,
. e ann,1 1
; . TlS . d
Por seu tunio. as ex1_gen~ e: ,. • d .1· as tendo o clima e guerra tornado
. . f ·oes pro u tVc.,. , . .
rarn O Estado a assumn un<r ~ . 'iblico cfect1vo da economia. Uma
1o pt
marn.testa
- a neccss1
. ·d·~1 d- e. de um contro . ,. . .
. .J • - só a uma expenencia concreta de
0
.
. corresponoe1 na . .
situação que aca bou por , delo de futUfas medidas autoritárias
discip lina pública . mas tambcm ao mo
de política económica. atriotismo tornaram poss1ve , 1o aumento da
. Acr~sce que os ape 1o;b~~; mostrando-se tal incremento, mesmo após
tn butaçao e da despesa P ' " · da guena na demonstração de
o reoresso à nonnalidade, uma consequencia .d d~
e k w· ,s1 tomando inenos dificil levar os c1 a aos a esquecer
1
Peacoc · e 1seman ' ·. d nflito.
a reivindicação do seu abaixamento com o tem10 o co , .
Tratava-se de proble1nas candentes que in~erpelava~ os pa1ses capita-
listas da Europa ocidental e não dispensavam a mtervenç~o do Estado. Uma
problemática à qual se juntou o impacto do grande conflito no despe~~r da
consciência de classe das massas operárias, que viram o seu peso pohtico e
força organizativa aumentar, colocando-as em posição de exigir do Estado
atenção às áreas sociais.
Assim, assistiu-se ao despontar de uma nova função e actividade do Estado
ligada ao alargamento do conceito de necessidade pública e à afinnação do risco
social como aspecto nuclear, destacando-se a ampla difusão e densificação
do sistema instituído pelo modelo "bismarckiano" baseado em seguros
sociais obrigatórios de doença, acidentes de invalidez e, ainda, de velhice.
Entretanto o primeiro após-guerra, marcado por factores como 0
eclodir do proteccionismo, a instabilidade suscitada pelo agravamento do
ní~e! de vida dos operários industriais e da situação delicada das classes
me?ias urbanas e ~amponesas, a dependência da Europa face aos Estados
Umdos e, bem assim, a emergência de revoltas colectivistas e anarquistas
26
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---- --- ....
. DO_ESTADO INTERVENCIONISTA
C< f"Yll\lh1 ©
1
0\Jld Juris? ... soeittclacht editora
29
<, 6> também se conclui que" .
Deste modo acon1panhan do De lorm e , . . . ao
. .' . · 1· d
Estado circunscnto do hbera ismo suce e . u o Estado 1nsendo da 1ntervença""'
. o,
nurna relação de i1nbricação de duplo sentido, em que avultava Estado O
30
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DO ESTADO INTERVENCIONISTA
m)Neste sentido, cf. , por exemplo, Vital Moreira, Servi~o ~úblico e_Con?orrência. A_Rei~-
lação do Sector Eléctrico, in: Boletim da Faculdade de D1re1to da Untvers1dade de Coun '
Coimbra Editora, 200 l, p. 224.
. . ,nodo em que dominou a cre110
. _ . _ _ Jêncta de un1 pc · __. _ , . ra
Por consegu inte, na seqt. · . vantagens de sectores publico
. ... . . . ão pública e na5 - . d D .. &
na excelência da tnte~en~. ·. as olíticas económ1c~ e a epressao rn~
robustos. o balanço n_egatt \.O d P. _ nça e giaant1smo estadual, comoa·
, .. d - t à o1nn1prese . b
tÍ\'OU cnt1cas pesa as tan o 1· . - pu' blicas.
. .. d s po 1ttcas
rigidez e 1nadequaçao ª _ 0 da intervenção económica estadua\
Neste quadro, o desencanto _com_o ~putar ao Estado a responsabilidade
. .. . , bt"cas nac1ona1s a li . . . ... .
levou as op1moes P~ 1 l 'f 5 anti-cíclicas. Foi uma pos1çao que
1
pela inoperacionalidade das P~ ica O crescimento do sector público era
culminou no reconhecimento e quel ançar O equilíbrio macroeconómico
urn factor que, em lugar de permitirª e obsta'culo real à sua realização
.
e o crescimento, represen tava antes um d p . .· . . ·.
. l às rim eiras dúvidas sobre o Esta o rov 1denc1a~
Correspondia, a~n~ ' P . cialistas e social da Igreja Ca-
.d b usp1c1os das doutnnas so
nasci o so os a . _ , bl • _na economia, que acusava um
tólica e defensoras da 1ntervençao pu ica_ . ._ , ,
. , . b assim ao questionamento dos elev ados uiveis
1nexoravel co 1apso, e em , .
de despesa associados à actuação publica. " . . _
, ·to dignas também de referencia as constnçoes orça-
A es te propos1 , - . . b . . ... d E
mentais como um outro factor 1ncenttvador da su stI~içao o ~ta.do
intervencionista uma situação decorrente quer da reduçao ~ capacidade
tributária dos E;tados, inibidos tanto pela competição fiscal internacional.
como pela existência de jurisdições fiscais ma}s ~avoráveis, quer de um
aumento assinalável e persistente da despesa pubhca.
Ao mesmo tempo, começava a fazer o seu caminho a noção de -'falhas··
de Estado, numa alusão directa à incapacidade pública em gerar com
efic iência os resultados económicos e sociais pretendidos ou prometidos.
Igualmente, a contestação do modelo de desenvolvimento macroeconón1ico
dominante durante décadas nos países industrializados, resultado da co1n-
binação da receita keynesiana de fomento da despesa pública para estímulo da
procura com a influência da ideologia socialista favorável ao sector público.
que se mostrava incapaz de gerar soluções adequadas à modernização e
adaptaçã~ estrutural requeridas pela exigência de aumento de produtividade
e melhona de competitividade tt 8).
f w lt'
18
' Cf., N. Gilbert Tansformat' .
<
, . ,
°
sabi lity Oxford ox'fo d U . · 1? n e are State, The S1lent Surrender of Public Respon-
r mvers1ty Press, 2004' PP- 86 e ss.
32
E nulo. ns nrgtnncntos de ordcn1 id co) l) .. • b'
\. . 1· ·tt , · . · · e gica co1n 1navam-se com a
rt·:H:'\'fü.l ~,s u ,1as oc tntcrvcnt;ão de urr1 Fstado . ,. .." , . . . : ..'
. . ~
• , , , ••
1
•_
• •f · • • · ~. cspcc1a1mente activo na área
l'l''t).th)lllH.:,1 .e so.\, t,1 • o1n pcb.l part1c1pução dirccta naprod.n"ãot : . t~('l'."',,,..d·
t · .. ·crvt\."Os ·1trnv \ i .......,, · pres~c:w e
'll,'t~~ . ·1'· l . _e} e e cnlpresas públicas, ora pela orientação, controlo
l:_ ~
1
t,' d1st·1p 1na ln uct1v1C1adc cconón1ica privada.
9
0 J A estepropósito, entre uma vasta bibliografia, cite-se, em especi~l, Pa~l~ ':rigo. ~ereira2
A Teoria da escolha públ ica ("publíc choice"); uma abor~as,em neo•hbe~al? m. ~abse _So
cial, voL XXXII, n.º 141, 1997, pp. 419 e ss.; Joseph E. St1ghtz, Econom1cs of Pubhc Sector,
Singapura, W.W.Norton & Company, 3.ª edição, 2000, PP· 5 e ss.
33
atitude de cooperação e acção concertada, expressa através de variados
e complexos processos de integração e osmose e _de um novo modelo de
relaciona1nento simbiótico entre o Estado e a Sociedade.
Mas, a crise do Estado de Bem-Estar acab~u _por ~equerer un: com ..
bate finne aos excessos do Estado Social Adm~n1str~t1vo no se~ttdo de
uma contracção quantitativa da intervenção púbhca duecta, dep~1s de um
primeiro esforço corporizado na alteração da~ f~rma~ de conc~et1z~ção da
intervenção pública, com o Estado a compnm1r a intervençao. d1recta e
centrar-se de forma predominante na definição dos quadros gerais em que
se desenvolvia a actividade económica.
Na verdade, tratou-se de uma tendência contractiva de vocação universal
e capacidade de expansão para todas as áreas da intervenção pública,
cuja afirmação mais natural e radical surgiu, naturalmente, no âmbito dos
sectores económicos.
Ora, desenhada a evolução do esquema intervencionista e antecipando
o seu ocaso, importa reconhecer que em finais da década de 80 o Estado
se debatia já entre a vontade conservadora de retomo ao liberalismo, por
um lado, e a incapacidade de pensar a sua própria transformação de modo
efectivo, por outro.
Um ambiente em que o desvanecimento do mito do intervencionismo
estadual foi acompanhado da criação de condições propícias ao prenúncio
de um novo paradigma, incondicional da reconfiguração do papel do Estado
e ,do_ aumento da ~ontribu~ção dos agentes privados para a governação
publ,i~a, e, be~ assim, manifestamente propenso à assimilação dos valores
e praticas do new public management".
34
copyright © Quld Juris? - sociedade editOl'8
CAPÍTULO IH
DO ESTADO REGULADOR E DE GARANTIA
. , Cz 111 aI S a g .
novo cenári o volto_u ' ~-111~ v" . .,scolha entre os sectore~ ~u i~o ~ P:IVado,
f )ntciras e dos cntct tos de e . --ação infra-estrutu1 a i e I ed1stnbutiv
rl . ·1 ão de u1na voe a
prevalecendo a ace1 ~ç . do
• · ~ • dut1va do scgun · . , ·
do pn n1c1ro e P10 . forain seguidas por vanos governos
. ,.. 1· . . ~ ., do monetansmo . . Th t h . ,
Entao, as içoes E tados Unidos, e a e . er, no Re1no
Reagan nos s . ,, . .
non1eadan1ente por ' dO " . pply-side econom1cs que pnv1legiou
Unido. na origen1 da c?rrente bsu a oferta pública global. Experiências
~ de impostos so re . d
o efeito dared uçao d .· ti·var O investimento pn va o e, desse
or u1n la o incen
que procurara111, P · . ' . ·ciativa privadas e, por outro, travar ou
.dade produti va e a 1111 .
1110 dº: a capaci . . úblico, acabando por dominar, poucos anos
reduzir o aumento do sectot P d do Atlântico.
depois, a agenda po1ítica de ambos os a os 1 . ~
mercado significou a 1mplantaçao dos novos
Na Europa, o regresso ao . ~ ~
·
conceitos de · pn·vat·1zaça~0 , liberahzaçao e desregu .
1amentaçao, em 1ugar
·
de direcçao,~ 1 ificação e estatização, que rapidamente se tomaram nas
p an , • d . d t · ..
pa1avras-c have do léxico da nova
. ordem
, . econom1ca
~ os tempos
, a
, . rans1çao .
do século e do milénio, associadas a introduçao de.MTM s na propna Adm1-
ni stração Pública por razões de eficiência acrescida.
Para uma apreciação breve, confere-se prioridade ao movimento das
privatizações, subordinadas ao lema "Menos Estado, Melhor Estado'', .
que preconizavam no essencial a alienação pelo Estado do sector público
empresarial sob a forma de venda de empresas ou participações sociais.
Então, o movimento privatizador justificava-se, sobretudo, por preocu-
pações de eficiência e garantia de uma melhor satisfação das necessidades
públicas, mediante a redefinição das áreas em que a iniciativa privada pode
actuar de forma mais vantajosa e aquelas que se mostram mais adequadas
ao sector público, posicionando-se claramente como um elemento nuclear
da nova ortodoxia de mercado.
Ne~tes termos, as privatizações, ao serviço da definição de regimes
menos intervencionista e di · · t · · d
ng1s as, conJugavam não apenas o propósito e
-- --------..,.._.,__,______ _
CO)Cf E . -- - - -
1() ., . conom1cs of the Public Sector S., . ..
... 00, PP-93 e ss. · ' mgapore, W. W. Norton & Con1pany, 3rd. Ed1tion,
36
copyriqht © Ouio . l11ri, ? - .;nriPfiilrlf' f'l.~ (;\".l
contribuírem para. o reforço · ência cm va'r1·08 se· e t ores, fl ex1·b·1·
. da efici 1 tzan d o
a fon~a ?e
sat~ sfa~ãordas ?ccessida~cs públicas por via da acção de enti-
dades
. .pri vadas,
~ · mas tambcm , contrariavam
· · O mov1·mento de eresc1men · to e
d1vers1ficaçao do sector publico.
_De, t~cto, as privatíz~ções, para 1á de corresponderem à alienação do
p~tnmo~10 _do Esta~o, C~Jo pro?u~o e_ra por norma consignado à redução do
defice pubh~o, _faziam ainda d~1nu1r de fonna substancial a participação
do sector pubh~o na economia, operando o aligeiramento do peso do
Estado, a ~~nstnção da área do púb]ico e a atenuação das incumbências e
responsab1hdadcs da Administração, cada vez mais circunscrita ao dever
de garantir as prestações. ·
Reflexo desta tendência, a anterior responsabilidade máxima do Estado
desdobrou-se em responsabilidade pela execução, transferida para a ini-
ciativa privada, e responsabilidade de garantia da prossecução dos fins
públicos, mantida na órbita do sector público.
Ao mesmo tempo, com a privatização das empresas públicas ficou
sem suporte o serviço público por elas prestado, tendo o Estado, em sua
substituição, passado a impor aos operadores privados prestadores um certo
conjunto de "obrigações de serviço público", da mesma forma que o ser-
viço público deixava de se definir pela natureza pública do prestador, mas
antes pela natureza das prestações e pelo seu destino ao público em geral.
À guisa de síntese, recorda-se que, enquanto o antigo Estado social
se ocupava, por norma, da provisão de serviços públicos através de em-
presas públicas ou da concessão de serviços públicos, com o Estado pós-
-liberalização a prestação dos serviços públicos, entretanto sob uma nova
nomenclatura - serviços de interesse económico geral -, incorporavam
"obrigações de serviço público" contratualizadas com operadores privados
e cuja fiscalização requeria dispositivos regulatórios.
De seguida, faz-se idêntico foco nos restantes objectivos estratégicos
da nova economia pública.
Em primeiro lugar, a Iiberalização, como um processo virtuoso_, trouxe
a abertura à concorrência de actividades anteriormente desenvolvidas em
regime de exclusivo público, permitindo e fomentando o aparecim~nt? ~e
empresas privadas a par de empresas públicas, então já de base soc1etana.
37
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1
- TRANb l l v ' ·, ,r ..r, - • - -
-- - · - - - - - - - - -- -- -·
' •••11,,
~Ao DA fCO NOMIA O -
DIREITO DA REG ULA<; .
39
COpyright © Quid Juris? - socíedade editora
. 2, estava em causa a génese tk.
. d . franz1us 0 , .d . ~
ente que, seguin o . . . . e . ública traduzi o num 00-Vo ar-
Natu~alm ,dio de responsab11Idad ~-s entre o Estado e a Socieda_áe
um _grau m~e~eç.ão e coordenaçã~ de pape~º 0 "Mínimalstaat" da é])<x..;
ranJOde art1cu Garantia nao co . ..
mostrando-se o Esta~o d:imalstaat" do século XX. . ... ,
1·beral nen1 como o Ma . . 1do Estado de Garantia surge con,,r
t , 1 . st1tuc1ona . . , . . d . ..
Deste modo, o mode o m 1· ção do bem comum, s1tua o a mei,:
tu a de rea iza ·. . . d . . . . .
um sistema ou uma e_stru r, . entre dois modelos_extrema os - o 1:11-~ kj
caminho num ponto 1ntenned10, t do a doutnna proposto des1grta..ki
· ' d 1O de Estado - , en · . . . . . · .-
de mercado e o mo e d lo que se apresenta como resulta<h
- _ um novo mo e · · · ·b 't·,dad ·
de regu~açao. T~ata seª. tirnizada de tarefas~ re~ponsa 11 . esentre
de uma mteracçao e pa~il_ha op as tendências totahtán as e excludentes err 1
122
-------
icr -------- ..
., C. Franzi us D G .
-' er ewahrleitstungsstaat"
· , Overarc h 2008 p 1 ,.::;
40 ' ~ ...J..J ..J .
~ .._, ....::0 1 M LA.J "u:..,ULAUuK 1:: üi:: GARANTIA
r]~JCf G ·
. E Ferrari L' ente ubbJ ·
·, ·1 • ..
Tormo, 1994, pp. 24 e'ss. p ico nel drntto comparato, in: Cerulli Jrelli, Giappichelli,
M .
<26J Cf G
a1one&A I s ·
Stato M
·, 1 · .
· -ª
pma, Deregu1 t · p· • .
e ercato, n.º 35, 1992, pp. 24 9 e ss. ª ion e nvatizzaz10ne: Differenze_e Convergenze,
·rátíco h ierárq uico, unitário e centra lizado _ para um E· ·t d
roe ' . r • • , .. , , •s a o regulador
·
43
COll'!rjghj ~ Ould Jurís? - sociedade editora
- -- . ·-
-·-------~~--· --~--··-- ·•-- ----~------------
b tudo quando é generalizada a ideia d
da co locaçüo do problen1~,. so dre " ~ e de dupla face" isto é a ..e que
N l" tano (~ 7 designa e cns ' ' crise n~
o que _apo 1 , .
>
. . foi no essencial consequência do E "4
economia e das d1v1das soberanas, ~ , bl . fi . . stad()
, _1.0. s "gaps'' da regulaçao pu 1ca . nancetra.
reou 1a d or e de vai · .
::, A . , ·to na 11·nha de Stiglitz<2s) e Waxman <29), recorda-se a Versà
este pt opos1 , · . , ú Ih d l ~ o
an1ericana da crise, geralmente associada as ª as ª regu açao,_ mas que
não se afigura, etn rigor, radicar no Estado regulador~ antes 1:1uma ~deologia
ultraliber;l que propagou as virtude~ da des~~gulaçao, da hberaltzação do
n1ercado e do abrandamento normativo e pratico dos poderes regulatórios.
Nessa medida, a falha terá sido não da regulação, m~s da ideologia que
a con1andava. De igual forma, também as respoS t as do sis~ei_na, em lugar de
tomarem possível percepcionar claramente qualquer espe~ie de retrocesso
do novo modelo, permitem pelo contrário antever a continuação de urna
regulação, porventura diferente, mas com instrumentos mais efectivos.
Em consequência, a alusão à Grande Recessão de finais da primeira
década do século XXI, de que fala Stiglitz <3º), parece não ter provocado
uma alteração significativa nem da dimensão, nem das dinâmicas próprias
do Estado regulador, embora se mostrem visíveis alguns afinamentos que
não descaracterizam, porém, a sua estrutura fundamental.
~al não obsta, porém, a que, na esteira de Ladeur <31 ) , se deixe de ver
na cnse um "tuming-point", que motivou o aparecimento de uma maior
21
Nest; sentido, cf.,G.N~politano, Crisi económica e ruolo del diritto amministativo http·//
us~~~ u.es ,:age~/co~gresos/ttalo-espanol_docs/ponencias/Napolitano.pdf, 2012. ' .
- Cf , a pnmetra razão para a falha do (d . ~ .
mercados não falham" J Stiglitz R . gove;o a regulaçao) foi a crença de que os
1
f ail ure, http ://www2 ' sb columb . egu atwn an . t~e _Theory of Market and Govemment
tíon_Theory_Failure.p!f · ia.edu/facultylJShghtz/download/papers/2009 _Regula-
(29>0 P .d
;'esi ente da comissão da Câmara dos R .
mou que a confiança dos reguladores b depresentantes, que ouviu Alan Greenspan, afir-
;i!ulação má
P~blica é e O mercado é i~~:i~v:f,, 0 ~ m~rcados era infinita. O mantra tomou-~e: a
depresswn and administrative law in· F d' cit.açao em M. Aronson, The great depress1on,
1
no,
· cf .
· ., J. St1gJitz, FreefaIJ (A . . , . e era Law Revie w, vo l. 37 , n. º 2, 2009, p. 180 .
New York W W N . . menca, free markets d h . .
são e . ' · · 0 rton & Company 201 0 an t · e smktng of the world economy),
239
' m contraponto com a Grande Dep ' PP·d e ss., ao referir-se à actual Grande Reces-
<31 1 Cf. K -H ressao e 1929.
fi nanc1al . ' · • Ladeur Th fi .
crisis in . . ' . e .nanc1al markets cri . - . .
constitutiona] perspective O D ;1s a case of network fa1lure?,. m: The
44 ' x or ~ Hart Publishing, 2011, pp. 63 e ss. ·
DO E STADO R EG ULADOR E DE GARANTIA