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SERVIÇO SOCIAL- CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS - EBSERH

Aula 01 – História e Constituição da Categoria Profissional.

SERVIÇO SOCIAL – CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS – EBSERH

AULA 01

HISTÓRIA E CONSTITUIÇÃO DA CATEGORIA PROFISSIONAL

Professora: Conceição Costa

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SERVIÇO SOCIAL- CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS - EBSERH
Aula 01 – História e Constituição da Categoria Profissional.

SUMÁRIO

1. CONCEPÇÃO, GÊNESE E INSTITUCIONALIZAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL. ..... 3


2. PAPEL E NATUREZA DO SERVIÇO SOCIAL ............................................. 30
3. MOVIMENTO DE RECONCEITUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NA AMÉRICA
LATINA. ................................................................................................. 46
4. CRISE E RENOVAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL. ......................................... 49
5. O MOVIMENTO DE RECONCEITUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO
DE RENOVAÇÃO CRÍTICA DA PROFISSÃO A PARTIR DA DÉCADA DE 1980 NO
BRASIL. ................................................................................................. 51
6. A RENOVAÇÃO PROFISSIONAL: VERTENTE MODERNIZADORA, A VERTENTE
DA REATUALIZAÇÃO DO CONSERVADORISMO E A VERTENTE DA INTENÇÃO DE
RUPTURA. .............................................................................................. 64
7. O SIGNIFICADO SOCIAL DA PROFISSÃO DE SERVIÇO SOCIAL ................. 71
8. O SERVIÇO SOCIAL NA DIVISÃO SÓCIO TÉCNICA DO TRABALHO ............. 77
QUESTÕES DE PROVAS – EBSERH ............................................................ 91
BIBLIOGRAFIA. ...................................................................................... 96

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Aula 01 – História e Constituição da Categoria Profissional.

AULA 01

HISTÓRIA E CONSTITUIÇÃO DA CATEGORIA PROFISSIONAL

O Serviço Social é uma profissão que traz em sua essência muitos significados.
Sua concepção e expansão enquanto profissão, responde a determinações
históricas e sociais. Desta forma, uma breve análise histórica do seu surgimento,
torna-se fundamental para compreendermos o contexto histórico, político e social
do seu surgimento.

1. Concepção, gênese e institucionalização do Serviço Social.

1.1-QUESTÃO SOCIAL NAS DÉCADAS DE 1920 E 1930 E AS BASES PARA


IMPLANTAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL

A Questão Social na Primeira República

A “questão social” relaciona-se à generalização do trabalho livre, numa


sociedade com marcas da escravidão. Destaca-se o longo processo de transição,
através do qual se forma um mercado de trabalho em moldes capitalistas,
em especial ao momento em que a constituição desse mercado está em
amadurecimento nos principais centros urbanos. Momento em que o capital já
“se liberou” do custo de reprodução da força de trabalho, limitando-se a procurar,
no mercado, a força de trabalho tornada mercadoria.

A manutenção e a reprodução dessa força de trabalho estão a cargo do operário


e de sua família, através do salário, advindo da venda da força de trabalho à
classe capitalista e não a um único senhor.

A partir do momento em que a sociedade burguesa vê como ameaça a luta


defensiva do operário à exploração abusiva a que é submetido, há necessidade
que o controle social da exploração da força de trabalho seja feito pelo Estado,
através de uma regulamentação jurídica do mercado de trabalho.

As Leis Sociais aparecem, então, para responder aos movimentos sociais que
lutam por uma cidadania social. Esses movimentos refletem e são elementos
dinâmicos das profundas transformações da sociedade, quando da consolidação

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de um polo industrial, pois colocam os problemas e exigem modificação na


composição de forças dentro do Estado e no relacionamento deste com as classes
sociais.

Portanto, o desdobramento da questão social é também a questão da formação


da classe operária e de sua entrada no cenário político, de seu reconhecimento
em nível de Estado, da implementação de políticas que atendem seus interesses.
Sendo assim, a “questão social” constitui-se, essencialmente, da contradição
entre burguesia e proletariado. Proletariado este em que os laços de solidariedade
política e ideológica perpassam seu conjunto.

A implantação do Serviço Social ocorre no decorrer desse processo histórico,


surgindo da iniciativa particular de grupos e frações de classe, que se manifestam
por intermédio da Igreja Católica. Enquanto que as leis sociais são resultantes da
pressão do operariado pelo reconhecimento de sua cidadania social, a legitimação
do Serviço Social diz respeito a grupos e frações restritos das classes dominantes
e a sua especificidade na ausência quase total de uma demanda a partir das
classes e grupos a que se destina prioritariamente.

A análise do posicionamento e das ações assumidas e desenvolvidas pelos


diferentes grupos e frações dominantes e pelas instituições que mediatizam seus
interesses na sociedade, permite apreender o sentido histórico do Serviço Social.

A crise do comércio internacional de 1929 e o movimento de 1930


aparecem como movimentos centrais de um processo que leva a uma
reorganização das esferas estatal e econômica, apressando o deslocamento do
centro motor da acumulação capitalista das atividades de agro exportação para
outra de realização interna.

O histórico das condições de existência e de trabalho do proletariado


industrial mostra a extrema voracidade do capital por trabalho
excedente:

* A população operária amontoava-se em bairros insalubres junto às


aglomerações industriais, com falta absoluta de água, luz e esgoto;

* as empresas funcionavam em prédios sem condições mínimas de higiene e


segurança; * salários insuficientes para a subsistência;

* o preço da força de trabalho, constantemente pressionada para baixo devido


ao exército industrial de reserva;

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* a pressão salarial força a entrada no mercado de trabalho de mulheres e


crianças;

* a jornada de trabalho, é no início do século de quatorze horas;

* não se tem direito a férias, descanso semanal remunerado, licença para


tratamento de saúde etc.;

* dentro da fábrica está sujeito à autoridade absoluta de patrões e mestres;

* não possui garantia empregatícia ou contrato coletivo;

* com as crises do setor industrial há dispensas maciças e rebaixamentos


salariais.

Frente a estas condições de trabalho e de existência, o operariado se organiza


para se defender. Uma organização diferenciada em seus diversos estágios de
desenvolvimento, desde o caráter assistencial e cooperativo ao de resistência
operária organizada.

A luta reivindicatória está centrada na defesa do poder aquisitivo dos


salários, na duração da jornada de trabalho etc. As duas primeiras décadas
são marcadas pelas greves e manifestações operárias. No período de 1917 a 1920
a densidade e a combatividade das manifestações de inconformismo marcam,
para a sociedade burguesa, a presença ameaçadora de um proletariado à beira
do pauperismo.

O “liberalismo excludente” do Estado e a elite republicana da Primeira República,


dominados pelos setores burgueses ligados a agro exportação, são incapazes de
tomar medidas de peso em prol do proletariado.

Primeiras legislações sociais

Somente em 1919 que é implantada a primeira medida ampla de legislação


social, responsabilizando as empresas pelos acidentes de trabalho, contudo, não
representa mudança substantiva na situação dos trabalhadores.

Na década de 20, são aprovadas leis que abrem caminho à intervenção do Estado
na regulamentação do mercado de trabalho e leis que cobrem uma parcela
chamada “proteção ao trabalho”, férias, acidente de trabalho, código de menores,
seguro-doença etc.

A dominação burguesa implica a organização do proletariado, ao mesmo tempo


em que implica sua desorganização enquanto classe, isto porque ela necessita de
estabelecer mecanismos de integração e controle. Sendo assim, na Velha
República, as medidas parciais que são implantadas visam mais à ampliação de

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sua base de apoio e a atenuação do conflito social, sem implicarem um projeto


mais amplo de canalização das reivindicações operárias.

Por um lado, para o Estado e para setores dominantes ligados a agro exportação,
as relações de produção são um problema de empresa, por outro, o movimento
operário também não consegue estabelecer laços politicamente válidos com
outros segmentos da sociedade que constituem a maioria da população. Assim,
a classe operária, apesar de seu progressivo adensamento, permanece sendo
uma minoria fortemente marcada pela origem europeia, estando social e
politicamente isolada.

A preocupação do empresariado com o social aparece apenas a partir da


desagregação do Estado Novo e término da Segunda Guerra Mundial e
representa uma adaptação a nova fase de aprofundamento do capitalismo. O
patronato, a burguesia industrial, que está solidificando sua organização
enquanto classe está ancorada nos princípios do liberalismo do mercado de
trabalho e no privatismo da relação de compra e venda da força de trabalho,
como pressuposto essencial de sua taxa de lucro e acumulação. A adesão às
novas formas de dominação e controle do movimento operário será dada pelo
populismo e desenvolvimentismo da era Vargas.

Implantação e desenvolvimento do Serviço Social

Dentre os diversos aspectos da prática social do empresariado durante o período


de 1920 a 1930, destacam-se dois elementos relacionados com a implantação e
desenvolvimento do Serviço Social:

1. Crítica do empresariado a inexistência de mecanismos de socialização do


proletariado, ou seja, da inexistência de instituições que tenham por objetivo
produzir trabalhadores integrados física e psiquicamente ao trabalho fabril;
2. O conteúdo diverso da política assistencialista desenvolvida pelo empresariado
no âmbito da empresa.

A negativa constante no reconhecimento das organizações sindicais, a não


aceitação do operariado como capaz de participar das decisões que lhes dizem
respeito, a intransigência para as reivindicações e sua aceitação apenas em
última instância, seu relacionamento com a polícia, a prática normal de usar
repressão etc., aparecem como a face mais evidente do comportamento do
empresariado da Primeira República.

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Ao mesmo tempo, se verifica a existência de uma política assistencialista que


se acelera a partir dos grandes movimentos sociais do primeiro período após a
guerra. A maioria das empresas de maior porte propicia a seus empregados uma
séria de serviços assistenciais como: vilas operárias, assistência médica etc.
Isto significa o controle social aliado ao incremento da produtividade e o aumento
da taxa de exploração.

A Reação Católica

Após os grandes movimentos sociais, a “questão social” fica definitivamente


colocada para a sociedade. Há que analisar a posição da Igreja frente à “questão
social” considerando a Igreja não só como Instituição social de caráter religioso,
mas também o seu engajamento na dinâmica dos antagonismos de classe da
sociedade na qual está inserida.

Após a Contrarreforma, os Estados nacionais europeus são forçados a conceder


aos movimentos políticos e ideológicos burgueses uma parcela do anterior
monopólio mantido pela Igreja. Portanto, a religião católica perde sua ampla
hegemonia enquanto concepção de mundo das classes dominantes.

Para a desagregação da sociedade civil tradicional e para o declínio de sua


influência, a Igreja Católica reage. Essa reação tem por base, através de métodos
organizativos e disciplinares, a constituição de poderosas organizações de massa.

Primeira Fase da Reação Católica

No Brasil, a partir da segunda metade da República Velha, a Igreja inicia o


processo de reformulação de sua atividade política religiosa, a fim de recuperara
os privilégios e as prerrogativas perdidos com o fim do Império. Esse movimento
condensa-se nos primeiros anos da década de 20. O então Bispo, Dom Sebastião
Leme, lança documentos contendo as bases do que seria o programa de
reivindicações católicas, com a finalidade de restabelecer as bases da noção de
Nação Católica.

Alteram, substancialmente, a estrutura e a imagem da Igreja, dois


processos:

 A mudança interna de sua estrutura, com a sua centralização;


 A “romanização” do catolicismo brasileiro, ou seja, a referência em Roma, que
atinge tanto o clero como o movimento leigo. Sendo assim, a mobilização do
laicato, que se fará a partir desse momento, terá por modelo as organizações
que se formaram na Europa, especialmente na Itália e França.

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Na década de 20, a revista “A Ordem” e o Centro Dom Vital serão os principais


aparatos de mobilização do laicato, que procuram recrutar uma “aristocracia
intelectual” capaz de combater política e ideologicamente manifestações que
Igreja considere perigosas para seu domínio. A “questão social” não atrai a
atenção das lideranças católicas. E, ao findar-se a República Velha, é cada vez
maior a identidade entre Igreja e Estado.

Com o movimento de 1930, inicia-se um novo período de mobilização do


movimento católico laico, visto estarem criadas as condições para que a Igreja
seja chamada a intervir nas dinâmicas sociais de forma muito mais ampla. A
hierarquia, explorando a nova situação conjuntural, irá compor com o novo bloco
dominante que emerge. O movimento laico vive uma fase de identificação com
o espírito das Encíclicas Sociais, o sentido do “Aggiornamento”, ou seja, a
Igreja passa a se envolver nas causas sociais emergentes da população.

O Movimento Político-Militar de 1930 e a Implantação do Corporativismo

O desenvolvimento capitalista, tendo por núcleo central da acumulação a


economia cafeeira, traz contraditoriamente o aprofundamento da
industrialização, a urbanização acelerada, com a diferenciação social e
diversificação ocupacional resultantes da emergência do proletariado e da
consolidação dos estratos urbanos médios.

A política de defesa permanente do café permite, ainda no primeiro quinquênio


de 1920, um período de apreender prosperidade. A burguesia ligada ao complexo
cafeeiro, que dirige o Estado, constantemente é ameaçada por outras parcelas
da classe dominante, que procuram redefinir, em proveito de sua própria
expansão, as diretrizes e benesses da política econômica e, pela tensão das
classes dominadas, que pela sua luta em prol da cidadania social abre mais uma
área de contradição entre o setor industrial e a fração hegemônica, isto porque
algumas medidas sociais são implementadas.

Portanto, o fim da década de 20 é marcado pela decadência da economia cafeeira


e pelo amadurecimento das contradições econômicas e complexidade social
advindas do desenvolvimento capitalista baseado na expansão do café.

A crise de 1929 acelera o surgimento das condições que possibilitam o fim da


supremacia da burguesia cafeicultora, porque mantém uma política de equilíbrio
financeiro, abandonando a política de defesa de preços e subsídios aos
produtores. Aglutinam as oligarquias regionais não vinculadas à economia
cafeeira, setores do aparelho do Estado e fração majoritária das classes médias
urbanas que reclamavam o alargamento da base social do regime, a fim de
assegurar área de influência para defesa de seus interesses econômicos. Assim,
forma-se uma coalizão heterogênea sob a bandeira da diversificação do aparato

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produtivo e da reforma política, que desencadeia o movimento político-militar de


1930, pondo fim a Velha República.

Não há uma substituição imediata do bloco hegemônico e nem de uma classe por
outra, em relação ao acesso ao poder. O que ocorre, no processo de transição, é
que a política econômica é orientada para além de preservar a cafeicultura,
favorecer também o sistema produtivo voltado para o mercado interno e para
diversificar a pauta de exportações. Para tanto, estabelece-se um “Estado de
Compromisso”. Só que este está ligado aos interesses mais globais que resultam
do fortalecimento de um novo polo hegemônico e de uma redefinição da inserção
na economia mundial.

Frente à necessidade de redefinição da política econômica, a fim de garantir a


acumulação e, uma conjuntura de acirramento das contradições entre as
oligarquias regionais, que brigam entre si pela supremacia, a mobilização dos
setores urbanos médios e a ascensão da organização política e sindical do
proletariado, o Estado assume paulatinamente uma organização corporativa,
canalizando para sua órbita os interesses divergentes.

A política social do Estado Novo está vinculada a uma estrutura corporativista,


em que reprime e desmantela a organização política e sindical autônoma. As
medidas de legislação social e sindical são relacionadas à crise de poder e a
redefinição das relações do Estado com as diferentes classes sociais,
acompanhadas de mecanismos que visam integrar os interesses do proletariado
através de canais dependentes e controlados, com o objetivo de expandir a
acumulação, intensificando a exploração da força de trabalho.

Em termos ideológicos, isola-se a classe proletária e afirma-se o mito do Estado


acima das classes e representativo dos interesses gerais da sociedade, da
harmonia social, benfeitor, protetor do trabalho.

Pode-se apresentar a criação do Ministério do Trabalho, na década de 30


como uma ação que veio a contribuir para tal imagem do Estado.

Relações Igreja-Estado

A conjuntura política e social (crise de hegemonia entre as frações burguesas


e a movimentação das classes subalternas) abre à Igreja um campo de
intervenção na vida social, visto desempenhar um importante papel para a
estabilidade do novo regime e também por disputar com ele a delimitação das

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áreas e competências de controle social e ideológico, visto ter como objetivo a


conquista de sólidas posições na sociedade civil.

O Estado, necessitando de apoio da força disciplinadora da Igreja, procura atrair


sua solidariedade tomando medidas favoráveis a esta, como a oficialização do
ensino do catolicismo nas escolas. A partir daí, Igreja e Estado se empenham,
através de projetos corporativos, estabelecer mecanismos de influência e de
controle na sociedade civil. A Igreja se lança a mobilização da opinião pública
católica e à reorganização do laicato, por meio de um projeto de cristianização
de ordem burguesa. Valendo-se da adaptação à realidade nacional do espírito
das Encíclicas Sociais Rerum Novarum e do Quadragésimo Anno, de
posições, programas e respostas aos problemas sociais via uma visão cristã
corporativa de harmonia e progresso da sociedade.

Tendo por base as instituições criadas na década de 20, em especial o Centro


Dom Vital e a Confederação Católica, surge a Ação Universitária Católica, a Liga
Eleitoral Católica e outras com o fim de implementar a Ação Católica.

A questão social não é monopólio do Estado. A Igreja tem a tarefa de reunificar


e recristianizar à sociedade burguesa, harmonizando as classes em conflito e
estabelecendo entre elas relações de amizade. Deve prevalecer o comunitarismo
cristão. A sua ação política será conduzida pela mobilização do eleitorado católico
e do apostolado social.

A campanha antipopular e anticomunista, que se desencadeia na segunda


metade da década de 30, estreita ainda mais os laços entre a Igreja e o Estado,
pois os dois se empenham contra o comunismo.

As instituições através das quais é mobilizado o laicato, reproduzem os modelos


europeus do início do século, modelos estes autoritários, elitistas e
cooperativistas, submetidas ao controle da hierarquia católica. Também têm
intima ligação com a Ação Integralista Brasileira (fascismo nacional, ex: TFP –
Tradição Família e Propriedade).

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1.2. PROTOFORMAS DO SERVIÇO SOCIAL

Grupos Pioneiros e as Primeiras Escolas de Serviço Social

As instituições assistenciais que surgem após o fim da Primeira Guerra Mundial


possuem uma diferenciação face às atividades tradicionais de caridade. Contam
com um aporte de recursos e contatos em nível de Estado que lhes permite o
planejamento de obras assistenciais de maior envergadura e eficiência técnica.

A importância dessas instituições consiste no fato de ter sido a partir delas que
se criaram as bases materiais (organizacionais e humanas) para a expansão da
Ação Social e para o surgimento das primeiras escolas de Serviço Social. Assim,
a mescla entre as antigas Obras Sociais e os novos movimentos do apostolado
social permite o surgimento do Serviço Social.

O Centro de Estudos e Ação Social de São Paulo e a Necessidade de uma


Formação Técnica Especializada para a Prestação de Assistência.

O Centro de Estudos e Ação Social (CEAS) de São Paulo surge em 1932, com o
incentivo e sob o controle da Igreja, a partir do “Curso Intensivo de Formação
Social para Moças”, promovido pelas Cônegas de Santo Agostinho, para o qual
foi convidada a Mademoselle Adéle Loneux, da Escola Católica de Serviço social
de Bruxelas. As atividades do CEAS se orientarão para a formação técnica
especializada de quadros para a ação social e para a difusão da doutrina social
da Igreja.

Em 1936, a partir dos esforços desenvolvidos por esse grupo e do apoio da Igreja,
é fundado a Escola de Serviço Social de São Paulo. Além das atividades do CEAS,
começa a aparecer outro tipo de demanda, partindo de certas instituições estatais
e são vistas como conquistas significativas, por exemplo: o trabalho junto à
Diretoria de Terras, Colonização e Imigração.

Em 1938, é organizada a Seção de Assistência Social, com a finalidade de


“realizar o conjunto de trabalhos necessários ao reajustamento de certos
indivíduos ou grupos às condições normais de vida”. Organização parcial: o
Serviço social dos Casos Individuais, a Orientação Técnica das Obras Sociais, o
Setor de Investigação e Estatística e o Fichário Central de Obras e Necessitados.
O método central: Serviço Social de Casos Individuais. Nesse ano passa a
chamar Departamento de Serviço Social.

A criação desta Escola não pode ser considerada apenas como fruto do Movimento
Católico Laico, pois já existe uma demanda do Estado que assimila a formação

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doutrinária própria do apostolado social, que é, inclusive, funcional às


necessidades do Estado e das empresas.

Já em 1935, o Estado cria o Departamento de Assistência Social do


Estado, através da Lei n. 2497, de 24.12.35, onde a maior parte dos artigos é
dedicada à assistência ao menor. Apenas um único artigo se refere ao Serviço de
Proteção ao Trabalhador. Mais tarde, além de sua intervenção na regulamentação
do trabalho e da exploração da força de trabalho, passa à gestão da assistência
social, adotando a formação técnica especializada desenvolvida pelas instituições
particulares. Assim, o Estado regulamenta, incentiva e institucionaliza o trabalho
dos Assistentes Sociais.

A Escola de Serviço Social passa por rápidos processos de adequação para


atender à demanda do Estado. É importante apontar que ocorre um processo de
“mercantilização” dos portadores dessa formação técnica específica. Ou seja, os
assistentes sociais começam a se constituir em uma força de trabalho que pode
ser comprada. Progressivamente, os portados dessa qualificação, se transformam
num componente de Força de Trabalho, englobada na divisão social e técnica do
trabalho.

O Serviço Social no Rio de Janeiro e a Sistematização da Atividade Social.

O Rio de janeiro, além de ser o polo industrial mais antigo da região sudeste, é
também o grande centro de Serviços e onde se centram os principais aparatos
da Igreja Católica. Por isso se desenvolve mais a infraestrutura de Serviços
básicos, inclusive serviços assistenciais, com forte participação do Estado.

A participação das instituições públicas é intensa, na criação do Serviço Social,


além do apoio explícito da alta administração federal, da cúpula da Igreja e do
movimento laico.

Participação das Instituições Públicas:

A Primeira Semana de Ação Social do Rio de Janeiro, em 1936, é


considerada marco para a introdução do Serviço Social, tendo como objetivo
dinamizar a Ação Social e o apostolado laico. Neste encontro aparece claramente
o entendimento de uma política comum entre a Igreja e o Estado, em relação ao
proletariado. A Igreja recomenda a tutela estatal para o operariado e o Estado
reafirma o princípio de cooperação. Esse espírito vai presidir as obras sociais,
com o objetivo de reerguimento das classes trabalhadoras.

Em 1937, surgem o Instituto de Educação Familiar e Social composto das Escolas


de serviço Social e Educação Familiar, por iniciativa do Grupo de Ação Social
(GAS);

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Em 1938 a Escola Técnica de Serviço Social, por iniciativa do Juízo de Menores;

Em 1940 é introduzido o curso de Preparação em Trabalho Social na Escola de


Enfermagem Ana Nery. Este curso dá origem à Escola de Serviço Social da
Universidade do Brasil.

Discute-se também a necessidade de formação técnica especializada para a


prática da assistência, não só restrita ao movimento laico, mas enquanto
necessidade social que também envolve o Estado e o empresariado.

Partem também de um setor específico da Assistência Pública - o Juízo de


Menores - iniciativas tendentes à formação de pessoas especializadas na
assistência, já que necessitava de pessoal para auxiliar os Serviços Sociais do
Juízo de Menores.

Assim, também em 1936, realiza-se o primeiro Curso “Intensivo de serviço


Social”, com ênfase para o problema da “Infância abandonada”. Ao mesmo
tempo, realiza-se um curso prático de Serviço social, com a participação de duas
Assistentes Sociais paulistas, recém-formadas na Bélgica. Em 1938, começa a
funcionar, sob orientação leiga, o Curso regular da Escola Técnica de Serviço
Social.

Campos de Ação e Prática dos Primeiros Assistentes Sociais

A demanda por Assistentes Sociais diplomadas excedia o número de profissionais


disponíveis. Os mecanismos de cursos intensivos para Auxiliares Sociais e as
bolsas de estudos foram à forma encontrada para acelerar a formação de
Assistentes Sociais. Ao mesmo tempo, alargou-se a base de recrutamento,
deixando de ser um privilégio das classes dominantes e da classe média alta,
para abarcar também parcelas da pequena burguesia urbana.

A luta dos Assistentes Sociais é pelo reconhecimento da profissão e pela


exclusividade para Assistentes Sociais diplomados, das vagas no serviço público
e em instituições paraestatais e, não pelo mercado de trabalho.

As atividades desenvolvidas pelos Assistentes Sociais se dedicam através de


inquéritos familiares, pesquisar as condições de moradia, situação sanitária
econômica e moral do proletariado.

 Serviço Social de Empresas:

Em Serviço Social de Empresa, os Assistentes Sociais atuam, em geral, na


racionalização dos Serviços Assistenciais e na sua implantação, assim como em
atividades de cooperativismo, ajuda mútua e organização de lazeres educativos.

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Ao mesmo tempo, interferem nos encaminhamentos necessários à obtenção dos


benefícios da legislação social.

 Serviço Social Médico:

No campo do Serviço Social Médico, as iniciativas estão ligadas à puericultura e


à profilaxia de doenças transmissíveis e hereditárias. As funções se referem à
triagem, à elaboração de fichas informativas sobre o cliente, a conciliação do
tratamento com os deveres profissionais do cliente etc.

Prática profissional do assistente social:

A atuação prática dos Assistentes sociais está voltada para a organização da


assistência, educação popular e pesquisa social. Tendo como alvo preferencial as
famílias operárias.

Elementos do Discurso do Serviço social

As primeiras tentativas de sistematização da prática e do ensino do Serviço Social


foram expostas, principalmente, nos encontros e nas conferências promovidos
pelo movimento católico.

A caridade passa a utilizar os recursos da ciência e da técnica, além dos


sentimentos, inteligência e vontade a serviço da pessoa humana. Isto distingue
o Serviço Social das antigas formas de assistência.

O Serviço Social tem por objetivo remediar as deficiências dos indivíduos e das
coletividades, não afetando os grupos sociais em sua estrutura. Quanto a um
entendimento mais amplo da sociedade, o discurso é essencialmente doutrinário
e apologético, baseado no pensamento católico europeu. Para os Assistentes
Sociais que procuram observar a sociedade, em especial as condições de vida do
proletariado urbano, há uma situação de crise, de anomia, um “estado de pobreza
verdadeiramente calamitoso”. E a melhor forma de enfrentar o problema seria
começar por compreendê-lo.

As péssimas condições de vida do proletariado se devem, segundo a visão que


têm, ao desapego ao lar, a falta de formação doméstica da mulher etc. Logo, é
necessário começar pela reforma do homem, para tanto, a necessidade de
campanhas educativas e do aumento da fiscalização sanitária. A ignorância e a
pobreza são “as duas causas principais da subnutrição no Brasil”. Concluindo, os
diversos problemas sociais são vistos a partir da ótica da “anormalidade social”.

Os Assistentes Sociais criticam a transposição de legislação do exterior, sem a


adaptação local. Mas não veem a legislação social como fruto da luta do
proletariado, mas como outorga paternalista e demagógica do Estado.

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Os Assistentes Sociais reconhecem as condições infra-humanas de trabalho e


atuam, ao mesmo tempo, no sentido de garantir ao trabalhador e a sua família
um nível de vida moral, físico e econômico normal e a correta aplicação das leis
trabalhistas, objetivando combater o absenteísmo, o relaxamento no trabalho,
promoverem a conciliação dos dissídios trabalhistas, adaptar o trabalhador a sua
função na empresa etc. Portanto, as propostas para melhoria das condições do
proletariado são ambíguas. Considera-se também, que os Assistentes Sociais
agem de acordo com a sua própria posição de classe.

Revendo, em sua totalidade, o discurso que os Assistentes Sociais e seus porta-


vozes produzem durante a fase de implantação, verifica-se a existência de um
projeto de intervenção nos diversos aspectos da vida do proletariado, tendo em
vista a reorientação do conjunto da vida social.

Modernos Agentes da Justiça e da Caridade

A implantação do Serviço Social relaciona-se às transformações econômicas e


sociais que a sociedade atravessa e à ação dos grupos, classes e instituições que
interagem com essas transformações. A formação dos agentes sociais
especializados é quase monopólio do bloco católico, por um longo período.

O Serviço Social e Bloco Católico

A reorganização do bloco católico, que cria as bases para o surgimento do Serviço


Social, é influenciada pelo modelo europeu. Isto significa que a transposição e a
reelaboração desses modelos – autoritário, doutrinário, etc. – está condicionada
à existência de uma base social que possa assimilá-los, isto é, que tenha uma
ideologia e interesses de classe semelhantes.

O posicionamento político do movimento católico, seu conservadorismo, sua


proximidade com a Ação Integralista Brasileira, também não podem ser
relacionados apenas à aliança entre o Vaticano e o fascismo italiano e a
orientação da hierarquia católica. Retrata o comportamento de um setor da
sociedade, num momento de grande radicalização e acirramento das tensões
políticas e sociais.

A forma de intervenção do Serviço Social está relacionada também ao tipo de


educação familiar e religiosa a que estavam sujeitas as moças da sociedade. O
discurso das pioneiras demonstra a certeza de estarem investidas de uma
“missão de apostolado”, decorrente não só da adesão aos princípios católicos,
como de sua origem de classe.

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Humanismo Cristão e Vocação

A origem no bloco católico na ação benévola e caridosa de senhoras e moças da


sociedade, embrincamento da teoria e metodologia do Serviço Social com a
doutrina social da Igreja e com o apostolado social, constituem em elementos
centrais de esquema de percepção e formas de comportamento e desempenho
profissional dos Assistentes Sociais.

Após a primeira fase das mobilizações do laicato, as Escolas de Serviço Social


começam a se reorganizar para se se adaptar ao novo tipo de demanda.
Perderam a anterior homogeneidade, devido à ampliação da base de
recrutamento, ou seja, do ingresso de alunos funcionários de grandes instituições
sociais. As formas e métodos de intervenção e enquadramento dos setores
populares transformam-se em matéria de formação escolar.

Sobressai, na produção teórica do Serviço social desta época, a preocupação com


a formação profissional, com influência franco-belga. A formação do Assistente
Social consistia em quatro aspectos principais: científica, técnica, moral e
doutrinária. Quanto ao aspecto científico e técnico, os programas da época
demonstram que havia uma extrema carência de objetividade e coerência.

Devido à origem de formação do corpo docente, percebe-se, no Serviço Social,


além de influência europeia, a norte-americana. Como marco da influência
norte-americana, situa-se o Congresso Interamericano de Serviço Social,
realizado em 1941, em Atlantic City. A partir desse evento se estreitam os laços
entre as principais escolas de Serviço Social brasileiras com as grandes
instituições e escolas norte-americanas e com os programas continentais de bem-
estar-social.

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Origens da profissão de Serviço Social:

 Grupos de classe dominante e da Doutrina Social da Igreja Católica -


(Rerum Novarum (1891) e Quadragésimo Anno (1931));
 Referência/Serviço Social europeu e orientação Franco-Belga;
 Influência americana/Mary Richmond (Serviço Social de Caso);
 1936- Escola de Serviço Social – SP;
 1937- Escola de Serviço Social – RJ;
 1945- Política nacionalista (Industrial e agrícola);
Fundamentos históricos, teóricos e metodológicos na época:
 O Serviço Social aliado ao ideário católico;
 Caráter apostolado;
 Questão Social enfrentado como problema moral e religioso;
 A intervenção priorizava a formação da família e do indivíduo;
 A solução dos problemas e os atendimentos de necessidades materiais,
morais e sociais;
 Tinham como objetivo à integração a sociedade.
Referenciais orientadores do Serviço Social na época foram:
 Doutrina Social da Igreja;
 Ideário franco-belga da ação social;
 Pensamento de São Tomás de Aquino (séc.XII), tomismo e o neotomismo;
Serviço Social e Igreja:
 Objetivos políticos e sociais
 Posicionamento de cunho humanístico conservador contrários aos ideários
liberal e marxista;
 Recuperar hegemonia do pensamento social da Igreja diante da questão
social.

A primeira reorientação da profissão decorre a partir do encontro com os


ideais Norte-Americanos e suas matrizes positivistas.

Esta reorientação acontece para atender às novas configurações do


desenvolvimento capitalista.

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QUESTÃO SOCIAL– INÍCIO DO SECULO XX
* QUESTÃO MORAL
* CONJUNTO DE PROBLEMAS SOB A RESPONSABILIDADE INDIVIDUAL DOS
SUJEITOS
 ENFOQUE:
* CONSERVADOR
* INDIVIDUALISTA
* PSICOLOGIZANTE
* MORALIZADOR

1.3- GENESE E INSTITUCIONALIZAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL

Dando continuidade aos estudos sobre o Serviço Social como profissão,


neste tema iremos abordar a contextualização social, política e
econômica da gênese, ou seja, das origens, do nascimento da profissão
de Serviço Social e sua institucionalização.

INSTITUIÇÕES ASSISTENCIAIS E SERVIÇO SOCIAL

O Estado Novo e o Desenvolvimento das Grandes Instituições Sociais

A partir de 1937, a fase que se abre é marcada pelo aprofundamento do modelo


corporativista e por uma nítida política industrialista. A participação da burguesia
industrial na gestão do Estado aparece no quadro corporativo através de suas
entidades representativas, que indicam delegados para planejar e implementar
as políticas estatais.

A consolidação progressiva da supremacia industrial, baseada numa aliança com


as forças políticas e econômicas ligadas à grande propriedade rural, traduz o
caráter não antagônico de suas contradições ao nível econômico e político. O
afluxo continuado de populações advindas da agricultura altera a composição
política e social da cidade. E a utilização delas é um elemento dinâmico que a
estrutura corporativista canaliza para o fortalecimento de seu projeto,
neutralizando seus componentes autônomos e revolucionários.

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A Legislação Social tem papel essencial nessa integração ao regulamentar e


disciplinar o mercado de trabalho, trazendo o avanço da subordinação do trabalho
ao capital.

A repressão varguista ataca os componentes autônomos e revolucionários do


proletariado e, sobre tudo aquilo que ameace fugir aos canais institucionais
criados para absorver e dissolver esses movimentos dentro da estrutura
corporativa.

O Estado, por sua vez, procura a integração e a mobilização controladas dos


trabalhadores urbanos pela incorporação e falsificação burocrática de suas
reivindicações. A paz social do Estado corporativo pressupõe o surgimento
constante de novas instituições: Seguro Social, salário Mínimo, Assistência Social,
Justiça do Trabalho, dentre outras.

A Legislação Sindical (1939) e o Imposto Sindical estão ligados à preocupação de


impedir o esvaziamento dos sindicatos e de recriar em seu interior condições de
mobilização – controladas pelo Estado. Inclusive, em 1943, é criada a Comissão
de Orientação Sindical a fim de atuar junto à massa não sindicalizada para
esclarecer e aglutiná-la em torno de seus “direitos”. Os sindicatos não podem
organizar e liderar lutas, mas são crescentemente dotados de equipamentos
sociais, sobressaindo os Departamentos Jurídicos.

O surgimento das grandes instituições sociais está relacionado ao


aprofundamento das contradições desencadeadas a partir da Segunda Guerra
Mundial e à crise política e social que precede a desagregação do Estado Novo.
Após 1939, assiste-se a uma retomada do aprofundamento capitalista (expansão
da produção industrial, atividades produtivas e agro exportação), que exige do
Estado maior intervenção no mercado de trabalho. Surge o SENAI para responder
à necessidade básica de qualificação da força de trabalho necessária a expansão
industrial.

A pretexto do engajamento do país na Segunda Guerra surge a primeira


campanha assistencialista de âmbito nacional a partir da criação da Legião
Brasileira de Assistência (LBA).

Apesar da manutenção de aspectos essenciais da estrutura corporativa para a


organização sindical dos trabalhadores urbanos e dos limites impostos à
participação política de sua vanguarda (liderança), a desmoralização e o
desmoronamento de uma série de mecanismo de controle, a atenuação da
repressão, e, principalmente, a necessidade de legitimação do poder junto às
grandes massas, faz com que a redemocratização de 1945 represente um
momento importante da redefinição das formas de dominação política.

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Após a Segunda Guerra, com a tentativa de implantação do Plano Beveridge nos


países capitalistas periféricos, o papel das instituições sociais e assistenciais é
reafirmado a tem importância crescente, numa estratégia do capitalismo no pós-
guerra. Assim, a construção de um novo modelo de dominação política dentro de
uma conjuntura nacional e internacional dinâmica apontam constantemente
pontos críticos que devem ser enfrentados e onde umas das opções será o reforço
ao assistencialismo como instrumento político. Estão postas assim, as bases para
o Welfare State, ou seja, para o Estado de Bem-Estar.

A desmoralização dos círculos operários e de outras formas de intervenção no


movimento operário contribui para o surgimento e para a orientação de
instituições assistenciais, como o SESI. As primeiras experiências de eleições
democráticas – no período de 1945 a 1946 – que dão ao Partido Comunista uma
votação expressiva, contribui para o aparecimento de outras instituições, como a
Fundação Leão XIII.

A implantação e o desenvolvimento das grandes instituições sociais e


assistenciais criam as condições para a existência de um crescente mercado de
trabalho, permitindo um desenvolvimento rápido do ensino de Serviço Social. Ao
mesmo tempo, implica em processo de legitimação e de institucionalização da
profissão e dos profissionais de Serviço Social.

O Conselho Nacional de Serviço Social e a LBA

A primeira referência explícita na legislação federal com respeito a Serviços


Sociais consta na Carta Constitucional de 1934, onde o Estado fica obrigado a
assegurar o amparo aos desvalidos e se fixa a destinação de 1% das rendas
tributárias à maternidade e à infância. A primeira medida legal nesse sentido será
dada em 1938 (Decreto-Lei n. 525, de 01.07.30).

 Conselho Nacional de Serviço Social

Estatui a organização nacional do Serviço Social, enquanto modalidade de serviço


público. Cria-se, também, junto ao Ministério da Educação e Saúde, o Conselho
Nacional de Serviço Social, com as funções de órgão consultivo do governo e das
entidades privadas, e de estudar os problemas do Serviço Social.

 LBA

A Legião Brasileira de Assistência (LBA) é organizada em sequência ao


engajamento do país na Segunda Guerra Mundial. Seu objetivo inicial é dar
assistência “às famílias dos convocados”, passando depois a atuar praticamente
em todas as áreas de assistência social. Nesse sentido, ela se constitui em
mecanismo de grande impacto para a reorganização e incremento do assistencial

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privado e desenvolvimento do Serviço Social. Oferecem um sólido apoio às


escolas especializadas existentes e viabilizando o surgimento de escolas de
Serviço Social nas capitais de diversos estados, atuando, geralmente, em
convênio com os movimentos de ação social católica.

 O SENAI e o Serviço Social

Em 1942, é criado o SENAI, com o objetivo de organizar e administrar


nacionalmente escolas de aprendizagem para industriários. Atribuindo à
Confederação Nacional da Indústria a função de geri-lo. Está entre as primeiras
instituições a incorporar e teorizar o Serviço social, não apenas enquanto serviços
assistenciais corporificados, mas enquanto “processos postos em prática, para a
obtenção de fins determinados”, utilizando para tal as práticas e as técnicas de
Caso e de Grupo.

Sobressaem dois elementos do Serviço Social no SENAI: A ação ideológica


de ajustamento; A coordenação da utilização dos serviços assistenciais
corporificados.

Há uma mudança no comportamento assistencial do Estado e do empresariado,


em relação ao proletariado, de atitudes “paternalistas” a uma política mais global,
representativa de uma nova racionalidade.

Educação e saúde aparecem como consumo produtivo na produção,


conservação e reprodução da força de trabalho.

A adequação da força de trabalho às necessidades do sistema industrial


se reveste de dois aspectos:

 O atendimento objetivo ao mercado de trabalho;


 A produção de uma força de trabalho ajustada psicossocialmente ao estágio
de desenvolvimento capitalista.

O Assistente Social, integrante do quadro de técnicos manipuladores de técnicas


sociais englobadas no processo educacional, aparece também como assalariado,
produtor de serviços necessários à existência e à maior produtividade dos
trabalhos diretamente produtivos.

 O SESI e o Serviço Social

Em 1946 é oficializado o SESI, com a atribuição de estudar, planejar e


executar medidas que contribuam para o bem-estar do trabalhador na indústria.
Tendo por base a experiência do SENAI, o surgimento do SESI faz parte da

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evolução da posição do empresariado em relação à “questão social” que se


aprofunda no pós-guerra.

Apesar da adesão do empresariado à política de controle social, ele


constantemente procura fugir do ônus daí decorrente, reclamando o
financiamento integral por parte do Estado e aceitando apenas em última
instância a participação que lhe é imposta.

O II Congresso Brasileiro de Direito social, em 1946, marca novas posições


de Ação Social Católica. A partir daí o Direito Social tem o papel de articular os
diferentes grupos sociais de forma a que estes se submetam ao bem comum. O
Serviço Social é reafirmado como o elemento essencial para a harmonização
entre capital e trabalho.

Para o funcionamento do SESI o empresariado fica legalmente obrigado a uma


contribuição mensal equivalente a 2% da folha de pagamento que, sob a
intervenção do Estado, estatui a compulsoridade da contribuição, realizando ele
mesmo o recolhimento e a fiscalização do encargo.

O SESI é a primeira instituição com recursos e sob a direção do empresariado


que tem por objetivo a prestação de serviços assistenciais e o desenvolvimento
de relações industriais abrangendo uma parcela da população urbana. O
arcabouço institucional e o trabalho coletivo que se realiza no SESI viabiliza a
passagem das técnicas sociais utilizadas pelos Assistentes Sociais, de forma
dispersa, a mecanismos de controle social e político de uso extensivo. O Serviço
Social deixa de ser ater apenas às atividades de coordenação dos serviços
assistenciais para se vincular mais profundamente ao confronto direto entre o
capital e o trabalho.

O que caracteriza as práticas sociais desenvolvidas no SESI é a radicalização na


sua utilização como instrumento de contraposição à organização autônoma da
classe operária e de luta política anticomunista. A incorporação e a
institucionalização do Serviço Social pela burguesia industrial apontam para um
dos extremos que o compõem: seu funcionamento declarado e explícito como
instrumento político-repressivo.

 Fundação Leão XIII e o Serviço Social

Surge em 1946, oficializada por Decreto-Lei da presidência da República,


a Fundação Leão XIII, como primeira grande instituição assistencial com o
objetivo explícito de atuação ampla sobre os habitantes das grandes favelas do
Rio de Janeiro, principalmente no grande centro urbano, onde o Partido
Comunista se torna força política nas eleições de 1946. Essa instituição conta

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com forte apoio institucional do Estado e da Igreja Católica para coordenar os


serviços assistenciais a serem prestados à população.

Serviço Social tem por responsabilidade todas as atividades fora do


campo médico:
 Serviço Social de Casos Individuais;
 Auxílios;
 Recreação e Jogos;
 Educação Popular.
 Além dessas modalidades, o Serviço Social de Grupo deve ser aplicado a partir
dos Centros de Ação Social (CAS) e de Associação de Moradores.

Educação Popular

A educação popular, como instrumento principal da atuação do Serviço Social,


assume o sentido de levantamento moral das populações faveladas. Este projeto
tem como perspectiva o controle de massas semi-escolarizadas, com vista à
legitimação do poder no processo eleitoral. Ressalta-se também que a vinculação
do poder, ou seja, vinculação deste projeto a lazeres educativos visam o
disciplinamento do tempo livre do proletariado, de forma ajustadora.

O aprofundamento do capitalismo gera a formação de uma grande massa de


marginalizados, cujo crescimento contínuo e o comportamento desviante
aparecem como um desafio, um elemento de anomia dentro da ordem burguesa.
Em face de esta população marginalizada, o Serviço Social da Fundação Leão XIII
se propõe a regenerá-la.

 Previdência Social e Serviço Social

O Seguro Social começa a ser implantado ainda na fase final da República Velha.
Enquadra-se nos marcos da dúbia política social desenvolvida pelos últimos
governos dominados pela “oligarquia cafeeira”. A partir da Lei Eloy Chaves, de
1923, lança-se às bases para a futura política de seguro social, cujos princípios
permanecem até 1966, época da unificação das instituições de previdência.

As primeiras tentativas de introdução do Serviço Social na previdência se dão


num momento de reorganização e reordenação da legislação e mecanismos de
enquadramento e controle do proletariado. Em 1943 surge a Consolidação das
Leis Trabalhistas (CLT). Ano que sob a influência do Plano Beveridge, procura-se
modernizar e ampliar o Seguro Social, criando o Instituto de Serviço Social do

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Brasil (ISSB) que unificaria as diversas instituições previdenciárias. Esse projeto


sofre oposições e é arquivado.

A progressiva incorporação do Serviço Social nos diversos Institutos e Caixas de


Pensões (IAP e CAP) ocorre de forma heterogênea e em ritmo bastante lento.
Este fato está relacionado também à desconfiança dos primeiros Assistentes
Sociais em relação ao Seguro e a Previdência estatal, ao fazer apologia das Caixas
de Auxílio Mútuo e outras iniciativas de tipo corporativista particular. A primeira
experiência oficial de implantação do Serviço Social na estrutura burocrática do
Seguro Social ocorre em 1942, quando é organizada pelo Instituto de Pensões e
Aposentadorias dos Comerciários a Seção de Estudos e Assistência Social
(Portaria 25, de 1943, do Congresso Nacional do Trabalho).

O Serviço Social junto aos departamentos médicos, hospitais, ambulatórios,


atuam sobre os aspectos sociais e morais da doença; na educação social e
principalmente, na readaptação à vida familiar e à produção. Nos conjuntos
residenciais a atuação é relacionada à defesa do patrimônio e ao aconselhamento
dos orçamentos domésticos para que não falhem no pagamento das prestações.
Junto ao setor de pensões e aposentadorias, o Serviço Social atua no sentido de
prolongar a permanência em algum trabalho remunerado, a fim de complementar
às irrisórias pensões.

O processo de inserção do Serviço Social é lento, apesar da possibilidade de


institucionalização do Serviço Social aberta pelo Departamento Nacional do
Trabalho, em 1944. As Seções ou Turmas de Serviço Social apenas começam a
generalizar-se pelas Delegacias Regionais das instituições previdenciárias no
decorrer da década de 50. O início efetivo tem um de seus marcos na Portaria do
Departamento Nacional da Previdência, que em 1945 organiza cursos intensivos
de Serviço Social para os funcionários dos diversos IAP’s e CAP’s. Estes
constituirão a base humana para a generalização das Turmas e Seções de Serviço
social.

O projeto de prática institucional do Serviço Social no âmbito do Seguro Social


tem efeitos econômicos, políticos e ideológicos. A ação ideológica constitui no
elemento de amortecimento de contradições das relações sociais dentro da
própria instituição, e contribui para a eficiência no desempenho e controle social.

Institucionalização da Prática Profissional dos Assistentes Sociais

A partir da década de 30, e especialmente da Segunda Guerra Mundial,


concomitantemente ao aprofundamento do capitalismo, acentuam-se os
mecanismos de disciplinamento e de controle social. O Estado assume as funções
de zelar pelo disciplinamento e pela reprodução da força de trabalho, tarefas
estas que as instituições assistenciais desempenham um papel fundamental.

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Com o aprofundamento cada vez maior do capitalismo há necessidade de uma


nova racionalidade no atendimento da “questão social”. Os servidos assistenciais
e educacionais tornam-se consumo produtivo para o capital e para o Estado.

O processo de surgimento e de desenvolvimento das grandes entidades


assistenciais é também o processo de legitimação e de institucionalização do
Serviço Social, visto que a profissão de Assistente Social apenas pode se
consolidar e romper o estreito quadro de sua origem no bloco católico a partir de
sua inserção no mercado de trabalho, no momento em que seu trabalho passa a
ser solicitado por aquelas instituições.

O Serviço Social deixa de ser uma forma de intervenção política de determinadas


frações de classes para ser uma atividade institucionalizada e legitimada pelo
Estado e pelo conjunto do bloco dominante, constituindo-se numa das
engrenagens de execução das políticas sociais do Estado e de corporações
empresariais. Contudo, o Serviço Social mantém sua ação educativa e doutrinária
de “enquadramento” da população cliente.

Uma das especificidades desses novos agentes institucionais é o da sua


integração ao tipo de equipamento já existente. Contudo, o domínio mais
específico do Serviço Social é uma determinada parcela da população, clientela
das instituições sociais e assistenciais, os segmentos mais carentes, cujo
comportamento se torna mais desviante face ao padrão normal. Já o sentido mais
geral da atuação do Serviço Social é dado essencialmente pelas funções
econômicas, políticas e ideológicas que presidem o surgimento e o
desenvolvimento das instituições às quais é incorporado.

O Serviço Social atua como instrumento de esclarecimento e conscientização dos


direitos, serviços e benefícios proporcionados pelas instituições e, que podem ser
utilizados pela clientela para os quais são orientados. As demandas são vistas
como manifestações de carências e não como direitos.

As práticas de pesquisa e classificação assumem um caráter metódico e


burocrático a partir da institucionalização do Serviço social. O que parece
caracterizar o projeto de prática institucional do Serviço social é a ação de cunho
educativo, ação persuasiva de inculcação.

O processo de institucionalização, as novas e múltiplas atividades que o Serviço


Social passa a desenvolver orientam uma reestruturação profunda em suas
formas de organização e intervenção. O Assistente Social é um agente legitimado

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pelo Estado. A ação isolada é substituída por um trabalho coordenado e metódico,


com o aparecimento de um agente coletivo que favorece a divisão técnica do
trabalho e as especializações. Soma-se a isto o surgimento e a disseminação das
equipes multidisciplinares, como alternativas e solução racionalizadora para o
enfrentamento da “questão social” que se agrava, principalmente em relação às
condições de saúde. A tônica dos programas é dada pelo conteúdo preventivista
e educativo.

O Serviço Social em busca da atualização

A necessidade constante de produzir uma autojustificativa, em relação à definição


de suas funções, a seus mantenedores institucionais e, secundariamente, à
clientela, constitui-se num dos fatores explicativos da importância, para o meio
profissional, de seus grandes encontros e reuniões.

Os Congressos de Serviço Social na década de 40.

Em 1947 realiza-se o I Congresso Brasileiro de Serviço Social, promovido


pelo CEAS, com o tema: “Preparação para o II Congresso Pan-Americano”.

Em 1945, ocorre o I Congresso Pan-Americano de Serviço Social, realizado


no Chile. Esse Congresso é considerado como o marco da influência norte-
americana no Serviço Social Latino-Americano.

O Congresso dividiu-se em três seções:


- Ensino de Serviço social;
- Temas Oficiais;
- Temas Livres.

Em 1949 realiza-se o II Congresso Pan-Americano de Serviço social, no


Rio de Janeiro e tem como tema “O Serviço Social e a Família”.

Esses três Congressos refletem posição de diversos organismos que a nível


internacional constituem as principais agências de divulgação e de incentivo à
utilização dos métodos relacionados ao Desenvolvimento de Comunidade.
Participam deles um grande número de pessoas que não são Assistentes Sociais
e entidades que empregam Assistentes Sociais.

Expansão da Profissão e a Ideologia Desenvolvimentista

Na década de 60 que o Serviço Social sofre acentuadas transformações,


“modernizando-se” tanto o agente como o teórico, métodos e técnicas. Há
também um alargamento das funções do Assistente Social, em direção a tarefas
de coordenação e planejamento, que evidenciam uma evolução no status
técnico da profissão. Assumem relevo os métodos de Serviço Social de Grupo

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e de Comunidade. Estas condições amadurecem dentro de um quadro mais


amplo, de expansão e de afirmação do desenvolvimento como ideologia
dominante. A ideologia desenvolvimentista se define pela busca da expansão
econômica acelerada, no sentido da prosperidade, riqueza, grandeza material,
soberania, ambiente de paz social e política e segurança. Destaca-se, dentre os
diversos motivos do Serviço Social, se mostrar alheio a esta ideologia, até o fim
da década de 50. O desenvolvimentismo juscelista (Juscelino Kubstchek) de
subordinar a resolução da totalidade dos problemas à expansão econômica. Ao
centrar a perspectiva de integração das massas marginalizadas nas virtualidades
da expansão econômica, restringe-se o espaço para um reforço da ação
assistencial e, portanto, a possibilidade de sua incorporação àquelas políticas.

Influência da Psicologia

Aprofunda-se, no plano de ensino, a influência norte-americana, votando-se


o Serviço social ainda mais para o tratamento, nas linhas da psicologia e
psiquiatria, dos desajustamentos psicossociais.

O Serviço Social de Grupo começa a fazer parte dos programas nacionais do


SESI, LBA etc., iniciando uma nova abordagem que relaciona estudos
psicossociais do participante com os problemas da estrutura social e utilização de
dinâmica de grupo.

Desenvolvimento de Comunidade

As atividades vinculadas ao Desenvolvimento de Comunidade apresentam,


nesse período, franco desenvolvimento, com o surgimento de uma série de
organismos – inspirados na experiência norte-americana – e realização de
importantes seminários. Esses organismos estão, essencialmente, baseados em
técnicas de Desenvolvimento de Comunidade e perseguem a modernização da
agricultura brasileira, tendo por estratégia a Educação de Adultos. Os Seminários
desempenham papel importante para o Desenvolvimento de Comunidade se
solidificar como uma nova opção de política social para atuar no meio sociais
marginalizados.

O II Congresso Brasileiro de Serviço Social e a Descoberta do


Desenvolvimentismo

O II Congresso, realizado em 1961, tem como tema central “Desenvolvimento


Nacional para o Bem-Estar Social”. Tem também caráter preparatório para a XI
Conferência Internacional de Serviço Social, marcada para 1962, em
Petrópolis/RJ. Realizado num ano em que a vitória de Jânio Quadros representava
a possibilidade da formação de uma nação forte, com atuação especial no social.
Portanto, numa nova estratégia desenvolvimentista.

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O Congresso se realiza sob o impacto do crédito de confiança dado à instituição


pelo então presidente da República e, também, presidente de honra do
Congresso. O Serviço Social é situado como instrumento de consecução dos
objetivos nacionais e deve trabalhar as diversas modalidades de atuação em
Desenvolvimento de Comunidade. Em face de essa realidade, o Serviço Social
deve readaptar-se, procurando sintonizar seu discurso e métodos com as
preocupações das classes dominantes e do Estado, em relação à “questão social”.
Os métodos e as técnicas ligados ao Desenvolvimento de Comunidade e
Desenvolvimento e Organização de Comunidades são apresentados como formas
de participar das mudanças.

As conclusões e as recomendações desse Congresso permanecem no campo da


modernização – facilitar o movimento do capital e a permanência das relações
capitalistas – da valorização do desenvolvimento com um mínimo de
desestabilização. Situam-se dentro das proposições da Aliança para o Progresso,
da Conferência de Punta Del Este, em 1961.

A partir da impossibilidade, cada vez mais evidente, de se intervir


profissionalmente, de forma objetiva, no saneamento ou na eliminação das
situações de “carências” da população cliente, o Serviço Social refugia-se numa
discussão interna sobre seus elementos técnicos metodológicos.

Outros fatores também contribuem para que a categoria passe a


questionar o conteúdo de sua prática:

 A crise do “milagre”;
 O reaparecimento dos movimentos sociais;
 O surgimento de um sindicalismo operário independente;
 O pensamento e a prática de uma parcela a Igreja;
 Escolas de Serviço Social incorporando, em seus currículos, as Ciências
Sociais;
 A base social do Serviço Social cada vez mais constituída a partir dos estratos
médios da sociedade;
 A adaptação do discurso e do projeto de prática institucional à correlação de
forças presentes nas diversas conjunturas históricas.

Estão postas as bases para o movimento de renovação do Serviço Social.

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No contexto de desenvolvimento do sistema capitalista é que se localizam os


processos de surgimento, institucionalização e expansão do Serviço Social
brasileiro. Na gênese profissional é importante examinar a relação entre a
profissão e o ideário católico, cuja intervenção
(A) focaliza os elementos intersubjetivos inerentes à relação de ajuda social e a
elaboração de projetos de transformação social.
(B) prioriza a formação da família/indivíduo na solução dos problemas e
atendimento das necessidades morais e sociais.
(C) reivindica a responsabilização do Estado na oferta de proteção social e a
garantia dos direitos sociais das classes trabalhadoras.
(D) enfatiza a modernização dos processos e técnicas utilizadas pelos assistentes
sociais e a adequação ao aparato Estatal.
(E) busca a conscientização das classes trabalhadoras acerca da sua posição na
sociedade capitalista e sua organização política

Letra B

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Aula 01 – História e Constituição da Categoria Profissional.

2. Papel e Natureza do Serviço Social

O que é o Serviço Social? Como surgiu? A quem serve? Porque surgiu?


Que forças concorreram no seu surgimento? Qual a função concreta do
Serviço Social? Por ter surgido no seio da Igreja Católica, com as
protoformas neotomistas, não poderíamos considerar que a profissão é
a caridade profissional?

Estas perguntas frequentemente aparecem no meio acadêmico como


também nos diversos campos de atuação profissional.

Carlos Montaño (1998) em seus estudos sobre a natureza do Serviço Social


apresenta duas teses claramente opostas sobre a natureza profissional:
Perspectiva Endógena e Perspectiva Histórico-Crítica.

Neste texto, a partir da reflexão de diversos autores, pretendemos identificar o


papel e a natureza do Serviço Social, tomando como base as duas
perspectivas, levantadas por Montaño, sobre a institucionalização e
legitimação da profissão no Brasil.

Perspectiva Endógena ou Conservadora

Na Perspectiva Endógena ou Conservadora a origem do Serviço Social está


relacionada à evolução, organização e profissionalização da caridade e da
filantropia, das damas de caridade (moças de família rica) emergentes na Igreja
católica, através do humanismo cristão, enfocando, sobretudo, questões de
natureza moral e orientação conservadora baseada no Neotomismo. Dentre seus
principais defensores podemos destacar: Herman Kruse, Ezequiel Ander-Egg,
Natalio Kisnerman, Boris Aléxis Lima, Ana Augusta de Almeida, Balbina Ottoni
Vieira, José Lucena Dantas.

Os autores que defendem essa tese apoiam-se na ideia de evolução das primeiras
formas de ajuda, desde a Antiguidade até a cientificidade da filantropia que dá
origem ao Serviço Social. Esses autores colocam em evidência a história do
Serviço Social, num evoluir nem sempre tranquilo tendo mantido inalterado o
objetivo da coesão social no qual seus conhecimentos e experiências estão a
serviço dos indivíduos, dos grupos, das comunidades e da sociedade cujo objetivo
final é a modelação do comportamento humano.

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Neste contexto a ação profissional está atrelada à resolução dos conflitos


individuais ou coletivos dos trabalhadores, com um propósito de assegurar as
relações de solidariedade que constituem a sociedade. Sendo assim a ação
profissional está integrada a um conjunto de políticas e instituições dedicadas à
promoção da coesão social e na manutenção da realidade dominante.

Balbina Ottoni Vieira

Vieira (1977, p. 13-14) concebe o Serviço Social como ajuda ou auxílio aos
outros, independente das manifestações sociais, sem levar em conta, portanto,
as manifestações dos trabalhadores, muito menos a relação capital/trabalho.

Segundo a autora os dois fatores que contribuíram para a evolução da ajuda e


consequentemente da legitimação do Serviço Social foram:

- a industrialização, que ela chamou de fatores imediatos (sociais, econômicos e


políticos);

- e os fatores técnicos, com a introdução da Ciência.

Vieira conceitua Serviço Social como “um serviço prestado à sociedade e o


Trabalho Social – Social Work – a atividade realizada em benefício da sociedade”
(1977, p. 58). Segundo a autora, com a influência do Serviço Social norte-
americano e europeu, o conceito de Assistência Social evoluiu da assistência
paliativa e curativa, passando a assistência mútua aos programas de bem-estar,
a assistência individualizada e coletiva (comunidade) até a atuação profissional
junto ao Estado “que assume a responsabilidade da cura ou prevenção de
determinados males sociais, soluções de problemas e ação comunitária com
planos de bem-estar, saúde, educação e desenvolvimento” (1977, p. 62).

Perspectiva Histórico-Crítica

A perspectiva histórico-crítica enfoca o trabalho e o modo de produção capitalista,


como o berço da profissão, a profissão é entendida como subproduto da síntese
dos projetos político-econômicos, e está situada na sociedade capitalista como
um elemento que participa da reprodução das relações de classe e da contradição
nelas existente. Dentre seus principais defensores destacamos: José Paulo Netto
e Marilda Vilela Iamamoto, Vicente de Paula Faleiros, Maria Lucia Martinelli,
Manuel Manrique Castro, entre outros.

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José Paulo Netto

Segundo Netto, o surgimento do Serviço Social como profissão, está vinculado à


emergência da “questão social”, esta é conceituada por Netto como o conjunto
de problemas políticos, sociais e econômicos que reclamados pela classe operária
no curso da consolidação do capitalismo; portanto a “questão social” está
atrelada aos conflitos da relação capital/trabalho (Netto, 1992, p.13). Segundo o
autor, sem esse entendimento histórico-social contextualizado, a gênese do
Serviço Social, enquanto profissão pode ser falsamente identificada como
resultado do status “sócio ocupacional das condutas filantrópicas e
assistencialistas que convencionalmente se consideram as suas protoformas”
(Netto, 1992, p.14).

Entretanto Netto ressalta que a gênese do Serviço Social não se esgota apenas
com a emergência da “questão social” se tomada abstratamente, mas
especificamente ao momento histórico do capitalismo: a idade do monopólio, “as
conexões genéticas do Serviço Social profissional não se entretecem com a
‘questão social’, mas com suas peculiaridades no âmbito da sociedade burguesa
fundada na organização monopólica” (Netto, 1992, p.14).

Conforme esse autor:

O processo pelo qual a ordem monopólica instaura o espaço determinado que, na


divisão (e técnica) do trabalho a ela pertinente, propicia a profissionalização do
Serviço Social tem sua base nas modalidades através das quais o Estado burguês
se enfrenta com a questão social, tipificadas nas políticas sociais (1992, p. 70).

Marilda Vilela Iamamoto

No Brasil, segundo Iamamoto, o Serviço Social surge no início da década de


1930 através do movimento de “reação católica”, e “é respaldado em uma vasta
rede de organizações difusoras de um projeto de recristalização da ordem
burguesa, sob o imperativo ético do comunitarismo cristão, exorcizando essa
ordem de seu conteúdo liberal”. (IAMAMOTO, 2004, p. 18).

Observa-se que o Serviço Social surge como uma tentativa de recuperar áreas
de influências e privilégios que a Igreja havia perdido, em face à crescente
secularização da sociedade e das tensões presentes em suas relações com o
Estado e também pela sua legitimação jurídica dentro do aparato estatal.

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Com as mobilizações e reivindicações da classe trabalhadora nas primeiras duas


décadas do século passado, abre-se o debate sobre a “questão social” em toda
sociedade, o que obriga o Estado, a Igreja e a burguesia a se posicionarem diante
dela.

A luta pela vida, pela sobrevivência, pelo trabalho, pela liberdade, levava o
proletariado a avançar em seu processo organizativo, o que era visto com muita
apreensão pela burguesia. Unindo-se ao estado e a Igreja, como poderes
organizados, a classe dominante procurava conceber estratégias, como força
disciplinadora e desmobilizadora do movimento proletário.

Neste contexto, a Igreja através de suas ações em obras assistenciais,


implementadas, com o objetivo de solidificar sua penetração entre os setores
operários, influi na fundação das primeiras escolas de Serviço Social no país,
tendo inicialmente a influência do Serviço Social europeu e mais tarde do Serviço
Social norte-americano com uma base ética filosófica neotomista e princípios
oriundos de uma moral religiosa, particularmente da Ação Católica. Baseados
nestes princípios o Serviço Social surge “da iniciativa de grupos e frações de
classe dominante, que se expressavam através da Igreja, como um dos
desdobramentos do movimento do apostolado leigo” (IAMAMOTO, 2004, p. 19).

Outrossim, é através de um pacto político entre a burguesia, o Estado e a Igreja


que se unem no intuito de coibir as reivindicações dos trabalhadores, e que,
segundo Martinelli, surge o cenário histórico para os assistentes sociais como
agentes executores da prática da assistência social, essa categoria profissional
assalariada passa a operacionar, formular e executar as políticas sociais setoriais.

O Serviço Social tem em sua gênese, “marca profunda do capitalismo e do


conjunto de variáveis: alienação, contradição e antagonismo que buscou afirmar-
se historicamente como uma prática humanitária, sancionada pelo Estado e
protegida pela Igreja, como uma mistificada ilusão de servir”. (Martinelli,
2001:6).

Segundo Iamamoto a Igreja em sua preocupação com a “questão social” se


prontifica em compartilhar da ação do Estado no que concerne às famílias através
de sua ação doutrinaria e organizadora, com o objetivo de “livrar o operariado
das influências da vanguarda socialista do movimento operário e harmonizar as
classes em conflitos a partir do comunitarismo cristão” (2004, p. 19).

A partir desse suporte analítico e dessa estratégia de ação, a Igreja deixa de se


contrapor ao capitalismo, e passa a concebê-lo através da ‘terceira via’, que

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combate veementemente o socialismo e substitui o liberalismo pelo


comunitarismo cristão (IAMAMOTO, 2004, P. 19).

A autora chama atenção que ao contrário da ideia evolucionista da profissão o


Serviço Social não pode ser entendido apenas como nova forma de exercer a
caridade, mas, sobretudo, como forma de intervir ideologicamente na vida dos
trabalhadores, ainda que sua base seja a atividade assistencial; porém seus
efeitos são essencialmente políticos: através do “enquadramento dos
trabalhadores nas relações sociais vigentes, reforçando a mutua colaboração
entre capital e trabalho” (IAMAMOTO, 2004, p. 20).

Conforme Iamamoto (2004, p. 20-21) observa-se que diferentemente da


caridade tradicional, que se limitava à reprodução da pobreza, a profissão
propõe: Uma ação educativa, preventiva e curativa dos problemas sociais através
de sua ação junto às famílias trabalhadoras.

Diferentemente da assistência pública, por desconhecer a singularidade e as


particularidades dos indivíduos, o Serviço Social passa a orientar a
“individualização” da proteção legal, entendida como assistência educativa
adaptada aos problemas individuais; uma ação organizativa entre a população
trabalhadora, dentro da militância católica, em oposição aos movimentos
operários que não aderiram ao associativismo católico.

Mediante esses elementos a autora enfatiza que o “Serviço Social emerge


como uma atividade com bases mais doutrinarias que científica, no bojo
de um movimento de cunho reformista-conservador” (IAMAMOTO, 2004,
p. 21). E mesmo com o processo de secularização e ampliação do suporte técnico-
científico da profissão, com o desenvolvimento das escolas e faculdades de
Serviço Social, sob influência das Ciências Sociais no marco do pensamento
conservador, do Serviço Social americano, não houve ruptura com os paradigmas
da profissão, muito pelo contrário, eles foram reforçados e atualizados.

O Serviço Social mantém seu caráter técnico-instrumental voltado para uma ação
educativa e organizativa entre o proletariado urbano articulado – na justificativa
dessa ação – o discurso humanista, calcado na filosofia aristotélico-tomista, aos
princípios da teoria da modernização presente nas Ciências Sociais. (IAMAMOTO,
2004, p. 21).

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Portanto, nesta perspectiva, o Serviço Social nasce do antagonismo entre


os interesses das classes trabalhadoras assalariadas e da burguesia,
tendo como norteadora as protoformas confessional e laica, que surgem
da aliança entre as forças do Estado, Capital e Igreja, garantindo assim
não só uma abordagem teórica e prática da profissão, como também as
estratégias ideológicas de gestão dos movimentos sociais.

Manoel Manrique Castro

Conforme Castro (2000, p. 17), o Serviço Social surge como “uma resposta
particular do Capitalismo nos países da América Latina, a partir do
desenvolvimento das forças produtivas e das lutas de classes pelo controle do
poder político”.

Diferença entre as duas perspectivas:

Conservadora

Como vimos à diferença básica entre as duas perspectivas é que na Conservadora


a profissão é vista a partir dela mesma, na qual o tratamento teórico conferido
ao Serviço Social lhe permite uma autonomia histórica referente às classes, as
lutas de classes e a sociedade.

Histórico-Crítica

Enquanto que no histórico-crítica a profissão é entendida como subproduto da


síntese dos projetos político-econômicos, e está situada na sociedade capitalista
como um elemento que participa das relações de classes e das contradições nelas
existente.

Assim a partir da reflexão dos diversos autores aqui apresentados,


percebe-se claramente a distinção entre as duas perspectivas: endógena
e histórico-critica, entretanto isso não significa que estas perspectivas estiveram
presentes em momentos distintos na realidade profissional, significa que são
concepções divergentes quanto à legitimação profissional, um exemplo claro
disto é que no processo de reconceituação da profissão atores das duas
perspectivas estiveram unidos contra o conservadorismo do Serviço Social,
marcando assim as divergências de pensamentos no seio da profissão.

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1-2015/FGV/J-SC. A história da inserção do Serviço Social no judiciário


coincide com seu processo de profissionalização e inserção na esfera pública, na
medida em que uma das primeiras instituições que recrutaram assistentes sociais
foi o Juizado de Menores, particularmente no Rio de janeiro, então capital da
República. Fazer essa genealogia, considerando o contexto sociopolítico da época,
implica reconhecer que a prática dos assistentes sociais junto às famílias tinha
por fundamento:

a- uma concepção funcionalista da sociedade, em cuja estratégia da ação


profissional estava a adaptação e o ajustamento dos comportamentos
disfuncionais;

b- uma ideologia segundo a qual as classes populares eram incapazes de cuidar


e criar seus filhos, o que requeria uma intervenção de caráter pedagógico;

c- uma visão higienista que pressupunha em sua dimensão prática a seleção dos
mais capazes, dentre aqueles que compunham seu público-alvo;

d- a razão prática, fundada no Positivismo, segundo a qual a ordem e o controle


social se sobrepõem aos direitos civis e políticos;

e- a concepção das crianças e dos adolescentes, sobretudo pobres, como sujeitos


de direito que demandavam proteção integral por parte do Estado e da sociedade.

Letra a

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2- 2015/FUNRIO/UFRB. O Serviço Social foi implantado no Brasil em 1936


através do Centro de Estudos e Ação Social (CEAS). Seu surgimento não se
baseou, inicialmente, em medidas coercitivas emanadas do Estado, mas
essencialmente da iniciativa de grupos e frações de classe, que se manifestaram
por intermédio da Igreja Católica. A profissão, dentro deste contexto histórico, é
marcada pela ausência de legitimidade junto à “clientela” atendida e a atuação
profissional se caracterizava como imposição. A atuação profissional, se limitava
a uma leitura individual de sociedade. Dentro dente conceito, podemos afirmar
que a profissão se baseava na/no

a- concepção profissional autônoma em relação à sociedade.

b- solução de situações-problema, de casos individuais.

c- compromisso profissional junto a classe trabalhadora.

d- concepção tecnicista que superava a questão histórica.

e- liberdade como valor ético presente na profissão.

Letra b

Comentários: O Serviço Social surge no Brasil na década de 30, estreitamente


ligada à Igreja Católica. O país passava por uma fase turbulenta, onde a
burguesia não estava dando conta das diversas manifestações da classe
trabalhadora, que reivindicava por melhores condições de trabalho e justiça
social. Preocupada com essa situação a fim de manter os seus interesses de
exploração da força de trabalho, a classe dominante, juntamente com o Estado
somaram forças para conter a classe operária, mantendo a harmonia social. A
Igreja passou então a oferecer formação específica para moças de famílias
tradicionais com intuito de exercer ações sociais.

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3-2014/FGV/TJ-RJ. No final dos anos 1930, a primeira iniciativa no âmbito


público de formação técnica especializada na assistência no Rio de Janeiro, que
demandará a formação de assistentes sociais, virá:

a- do Centro de Estudos e Ação Social;

b- dos Centros Operários;

c- da Fundação Leão XIII;

d- do Juízo de Menores;

e- das indústrias do Distrito Federal.

Letra a

Comentários: Centro de Estudos e Ação Social (CEAS): São Paulo – 1932 e Juízo
de Menores: Rio de Janeiro – 1936. Partem de um setor específico da Assistência
Pública - o Juízo de Menores - iniciativas tendentes à formação de pessoas
especializadas na assistência, já que necessitava de pessoal para auxiliar os
Serviços Sociais do Juízo de Menores. Assim, também em 1936, realiza-se o
primeiro Curso “Intensivo de serviço Social”, com ênfase para o problema da
“Infância abandonada”. Ao mesmo tempo, realiza-se um curso prático de Serviço
social, com a participação de duas Assistentes Sociais paulistas, recém-formadas
na Bélgica.

4-2014/CESGRANRIO/CEFET-RJ. No seu surgimento, o serviço social foi


fortemente influenciado pela Ação Católica Brasileira, cuja atuação se inspirava
nas Encíclicas Sociais

a- Rerum Novarum e Quadragésimo Anno

b- Rerum Eclesium e Octagesimo Anno

c- Populorum Progressio e Mater et Magistra

d- Octogesimo Anno e Dignitatis Humanae

e- Dignitate in Veritate e Centesimus Annos

Letra a

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Comentários: O encaminhamento metodológico dado aos artigos publicados na


década de 30 denuncia a vinculação à leitura das encíclicas papais “Rerum
novarum” e “Quadragésimo Anno”, pois o tratamento dado à questão social
baseava-se na ação social, para restaurar a harmonia à sociedade em
desagregação. A encíclica “Rerum Novarum” de Leão XIII (1891) trata das
relações entre patrões e empregados, exortando os patrões a serem bons e os
operários a cumprirem suas obrigações e a afastar-se dos “homens
malvados”(comunistas).

A “Quadragésimo Anno” de Pio XI (1931) convoca os (as) cristãos (ãs) de todo


mundo a se entregarem apaixonadamente a recristianização do mundo, através
das obras sociais - grupos de estudo, associações cristãs, associações
profissionais, fundos de ajuda etc. -, enfatizando a restauração e o
aperfeiçoamento da ordem social, exortando ao equilíbrio entre patrões e
empregados para fazê-los chegar à justiça social.

5- 2014/IADES/UFBA

Aproximadamente entre 1936 e 1945, a formação profissional do (a) assistente


social brasileiro (a) adotou o eixo de formação

a- moral, por meio de disciplinas como sociologia e psicologia.

b- técnica, tendo por base a doutrina religiosa, e não doutrinária.

c- técnica, científica e moral doutrinária.

d- técnica e científica, exclusivamente.

e- moral, ética e doutrinária, exclusivamente.

Letra c

Comentários: A formação do Assistente Social consistia em quatro aspectos


principais: científica, técnica, moral e doutrinária

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6-2014/IADES/METRÔ-DF. De acordo com a história do Serviço Social,


assinale a alternativa correta.

a- O Serviço Social é uma profissão que nasceu de forma articulada com o


projeto hegemônico da classe trabalhadora.

b- Nos primórdios da formação da profissão, o Serviço Social era visto como uma
prática humanitária sancionada pela igreja e rebatida pelo Estado.

c- Não é verdade a afirmação de que o surgimento do Serviço Social foi marcado


como uma criação típica do capitalismo.

d- A afirmação de que o Serviço Social se constituiu como uma importante


estratégia de controle social está correta.

e- O Serviço Social surge como uma estratégia da burguesia de luta contra a


consolidação do sistema capitalista.

Letra d

Comentários: Analisando as questões:

a) nasceu como projeto hegemônico da burguesia;

b) não era rebatida pelo Estado, tinha o aval do próprio;

c) É verdade que o Serviço Social é uma criação do capitalismo;

d) A afirmação de que o Serviço Social se constituiu como uma importante


estratégia de controle social está correta.

e) Foi uma estratégia da burguesia à favor da consolidação capitalista.

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7-2014/FGV/DPE-RJ. No contexto de desenvolvimento do sistema capitalista


é que se localizam os processos de surgimento, institucionalização e expansão
do Serviço Social brasileiro. Na gênese profissional é importante examinar a
relação entre a profissão e o ideário católico, cuja intervenção

a- focaliza os elementos intersubjetivos inerentes à relação de ajuda social e a


elaboração de projetos de transformação social.

b- prioriza a formação da família/indivíduo na solução dos problemas e


atendimento das necessidades morais e sociais.

c- reivindica a responsabilização do Estado na oferta de proteção social e a


garantia dos direitos sociais das classes trabalhadoras.

d- enfatiza a modernização dos processos e técnicas utilizadas pelos assistentes


sociais e a adequação ao aparato Estatal.

e- busca a conscientização das classes trabalhadoras acerca da sua posição na


sociedade capitalista e sua organização política.

Letra b

Comentários: Quanto ao primeiro aspecto, é por demais conhecida a relação


entre a profissão e o ideário católico na gênese do Serviço Social brasileiro, no
contexto de expansão e secularização do mundo capitalista. Relação que vai
imprimir à profissão caráter de apostolado fundado em uma abordagem da
"questão social" como problema moral e religioso e numa intervenção que
prioriza a formação da família e do indivíduo para solução dos problemas e
atendimento de suas necessidades materiais, morais e sociais. O contributo do
Serviço Social neste momento, incidirá sobre valores e comportamentos de seus
"clientes" na perspectiva de sua integração à sociedade, ou melhor nas relações
sociais vigentes.

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8- 2014/FCC/TRF/3ª REGIÃO. Ao abordar o Serviço Social no processo de


reprodução das relações sociais, parte-se da compreensão de que o significado
social da profissão é desvendado por meio de sua inserção na sociedade. Nessa
linha, é correto afirmar:

a- Esta inserção parte de suas demandas, tarefas e atribuições que permitem,


por si mesmas, desvendar a lógica da profissão e que dão sentido ao fazer
profissional.

b- O Serviço Social participa tanto do processo de reprodução dos interesses de


preservação do capital, quanto das respostas às necessidades de sobrevivência
dos que vivem do trabalho. Não se trata de uma dicotomia, mas do fato de que
ele não pode eliminar essa polarização de seu trabalho.

c- A prática do assistente social não pode ser polarizada pelos interesses de


classes sociais, pois no processo de reprodução das relações sociais, ao
profissional cabe dar as respostas adequadas para a preservação do capital, de
modo que este consiga atender as necessidades sociais.

d- A atuação do assistente social deve ser guiada, sobretudo pela dimensão


subjetiva, ou seja, depende do modo como o profissional constrói sua
intervenção, atribui-lhe significado, confere-lhe finalidades e uma direção social.

e- O profissional deve ter consciência que no processo de institucionalização de


legitimação da profissão, não participa do processo de reprodução dos interesses
de preservação do capital e sim, das respostas às necessidades de sobrevivência
dos que vivem do trabalho.

Letra b

Comentários: “Assim, podemos afirmar que o Serviço Social participa tanto do


processo de reprodução dos interesses de preservação do capital, quanto das
respostas às necessidades de sobrevivência dos que vivem do trabalho. Não se
trata de uma dicotomia, mas do fato de que ele não pode eliminar essa
polarização de seu trabalho, uma vez que as classes sociais e seus interesses só
existem em relação."(Yazbek).

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9-2013/FGV/AL-MT. Sobre as relações entre a condição sócio institucional e


a legitimidade profissional no âmbito institucional, assinale a afirmativa
correta.

a- O lugar do Serviço Social nos âmbitos institucional e organizacional


justifica-se pela maturidade científica que a profissão alcançou.

b- O estatuto profissional do Serviço Social decorre do seu adensamento


teórico em detrimento de sua dimensão técnico-interventiva.

c- A incorporação de matrizes teóricas culturais oriundas das ciências sociais


redefiniu o estatuto profissional e deu-lhe legitimidade profissional.

d- O Serviço Social é tanto mais requisitado na estrutura institucional


quanto mais a questão social se torna alvo da administração.

e- O Serviço Social legitima-se no âmbito institucional quando se torna capaz


de definir uma teoria e uma metodologia adequadas aos propósitos
institucionais.

Letra d

Comentários: Do ponto de vista da estrutura institucional o assistente social é


tanto mais requisitado quanto mais as refrações da `questão social’ se tornam
objeto de administração, independentemente da sua modalidade de intervenção.
(NETTO).

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10- 2013/CESPE/MPU. Acerca da institucionalização do serviço social na


América Latina e no Brasil, julgue o item que se segue.

No Brasil, o trabalho do serviço social na área de desenvolvimento de comunidade


ocorreu sob influência de programas da Organização das Nações Unidas (ONU) e
de outros organismos internacionais, cuja estratégia era integrar os esforços da
população aos planos nacionais e regionais de desenvolvimento.

Certo / Errado

Certo

Comentários: O Desenvolvimento de Comunidade foi institucionalizado pela ONU


após a II Guerra Mundial. O governo americano inicia um programa de assistência
aos países pobres especialmente na América Latina, sendo assim em 1945 é
firmado o acordo sobre a educação rural que foi a entrada do Desenvolvimento
de Comunidade - DC no país, mais tarde outro acordo é feito com o Ministério da
Educação que visava à educação industrial. Desta forma garantia-se a ideologia
e os interesses americanos. A estratégia era integrar os esforços da população
aos planos nacionais e regionais de desenvolvimento, com melhorias na condição
de vida econômica e sociais das áreas agrícolas.

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1A 2B 3A 4A 5C

6D 7B 8-B 9D 10
CERTO

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3. Movimento de Reconceituação do Serviço Social na América Latina.

Para ajudar na compreensão deste tema, apresento o contexto histórico e político


na América Latina, na década de 60 a 70. Através de estudo de texto, enfoco os
temas sobre a crise e renovação do serviço social, o movimento de
reconceituação e a renovação profissional, descrevendo características da
vertente modernizadora, reatualização do conservadorismo e a intenção de
ruptura.

3.1. Serviço Social na América Latina.

Resumo do contexto histórico e político

América Latina

1968 - Movimento estudantil na América Latina. Protestos motivados pela luta


contra o subdesenvolvimento econômico e contra a ditadura militar. Grandes
contestações culturais

Argentina (1930 a 1976) - Sete golpes militares. Objetivo era sufocar os


movimentos populares e construir uma sociedade democrática autônoma.
Desenvolvimento social harmônico. Em 1966 - General Juan Carlos Ogaína
destituiu o general Arturo com um golpe militar-“Revolução Argentina”. 1930-
Confederação Geral do Trabalho. Fortaleceu durante o governo de Juan Domingo
Perón. Greves anos 60 atingiu seu ápice em 1969 com o Protesto em Córdoba
(greves eram organizadas pelos sindicalistas). Em 1969, Movimentação na
Argentina marcada pelo Cordobaço;

Bolívia – 1952 e 1964 - Com a existência de sistema multipartidário o partido


de esquerda obteve 90% dos votos dos camponeses. Central Operária Bolivariana
(COB) (Palco político com capacidade de nomear ministros)- Pressionar a
implementação de políticas públicas.

Bolívia – 1964 - Golpe de Estado. Fim a existência pacífica entre partido e


sindicato. Durou até 1982. Esse golpe chefiado por René Barrientos Ortuño.
Durante esse período do governo militar foi descoberto uma organização
guerrilheira liderada por Ernesto Che Guevara. Era uma luta antiditatorial;
manifestações dos índios e camponeses por condições de vida. Che Guevara foi
morto em 9 de outubro de 1967.

Brasil - Maio de 1968 - Ditadura militar instaurada em 1964. Golpe que


destituiu o presidente João Goulart. O movimento estudantil (1966) ganhou força
com a morte do estudante Edson Luis de Lima Souto, no Rio de Janeiro.
Manifestação contra o preço da comida do refeitório do Instituto Coorporativo de

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Ensino. O regime militar deu aos estudantes uma razão a mais para lutar. O
governo militar usou os protestos como forma de justificar a aplicação do Ato
Institucional número cinco, o AL-5 que implantou a censura e enfraqueceu o
movimento estudantil.

Chile 1968- País estava sob o governo da democracia cristã de Eduardo Frei
Montalva. Sofria com dificuldades econômicas e a perda de apoio político tornou
insustentável a continuação do partido democrata cristão no poder. Em1970,
Salvador Allende do partido de esquerda da União Popular é eleito presidente.
Allende teve um clima de rebelião, de busca de uma alternativa socialista que se
distinguia do movimento soviético tradicional. Em1973, militares chilenos
liderados pelo general Augusto Pinochet derrubaram o governo de Allende com
um golpe de Estado.

México - 1968 - Palco de reivindicações de liberdade para os presos políticos e


autonomia universitária. O movimento foi reprimido por centenas de mortos e
militares presos. O país não vivia a ditadura. Presidente Gustavo Días Ordaz
Bolaños não tolerava protestos estudantis. Setembro de 1968 ele ordenou ao
exército que ocupasse o campus da Universidade Autônoma do México (UNAM).
Fim às manifestações. Os protestos foram reprimidos com espancamentos e
detenções. Dia 2 de outubro, depois de nove semanas de greve, 15 mil alunos
protestaram contra a ocupação da UNAM, foi usado o exército para acalmar as
manifestações, muitos morreram. Na época o governo divulgou um total de
quatro mortos e 20 feridos. Fontes não oficiais divulgaram a morte de mais de
200 pessoas.

Colômbia- 1968 Reforma constitucional realizada em 1968 atribuiu ao


presidente Carlos Restrepo importantes funções econômicas como o
planejamento das políticas públicas. Renasceram as lutas reivindicatórias
sindicais com base de promover a Revolução Cubana na Colômbia. A guerra
liberal foi convertida em movimento armado.

Paraguai (1960)- Estrutura estatal era representada pelo presidente general


Alfredo Stroessner. Seu poder era centralizado, reprimia com violência as
organizações ideológicas sociais, as entidades que as representava as forças
socioeconômicas foram excluídas politicamente.

Década de 60: Movimento 14 de Maio e a Frente Unida da Libertação Nacional.


Os jovens dos partidos de oposição não conseguiram transformar a luta em
organização política que impedisse a formação de um governo ditatorial, a
guerrilha foi reprimida e seus representantes foram presos ou mortos.

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Peru – 1968 - Início da ditadura militar que foi realizada para conter a
insurreição camponesa, baseada na revolução de Cuba. O presidente Belaunde
tentou implantar indústrias para contentar a população e segurar as revoltas.

Uruguai Anos 60- País com crise econômica. Industrialização estagnada a


produção agrária, estava em baixa e o comércio defasado. Violência como
instrumento de luta pelo poder. Protestos e problemas de inflação descontrolada.
Fenômenos de corrupção política e protestos foram contidos e seguidos do golpe
militar de 1971.

AMÉRICA LATINA

Décadas de 60-70- Confronto entre militares e terroristas na América Latina,


com isso surgiu Guerra Fria. Estratégias respectivas das duas grandes potências
em disputa: os EUA e a URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas).

A Guerra Fria Estava espalhando o temor pelo rápido avanço do chamado, pela
extrema direita, perigo vermelho. As esquerdas espelhavam-se nos regimes
socialistas implantados em Cuba, China e União Soviética. O temor ao comunismo
influenciou a eclosão de uma série de golpes militares na América Latina,
seguidos por ditaduras militares de orientação ideológica à direita, com o suposto
aval de sucessivos governos dos Estados Unidos da América, que consideravam
a América Latina como sua área de influência.

CUBA E CHINA

Cuba e China passaram financiar grupos de esquerda na América Latina,


iniciando um movimento para implantar o comunismo na região, o que de certa
forma influenciou na eclosão de uma série de golpes militares apoiados e
financiados pelos Estados Unidos, que temiam o avanço comunista no Continente.

Os EUA não admitiam que os movimentos igualitários e de desenvolvimento


regionais fossem contaminados pela doutrina comunista de caráter stalinista ou
maoísta. Com a polarização das ideologias houve a eclosão de inúmeros golpes
de estado financiados pelos governos americanos, soviéticos e chineses.

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ESTUDO DE TEXTO

4. Crise e Renovação do Serviço Social.

Neste texto, vamos analisar a renovação do Serviço Social sob a


autocracia burguesa, enfocando o processo de renovação e a erosão do
Serviço Social tradicional no Brasil.

Devemos compreender que o processo de renovação do Serviço Social se instaura


em fins dos anos 50, até hoje. A década de 1960 foi o período da efervescência
da sociedade civil, em que se instaurou o movimento de reconceituação, na
busca de renovação da profissão com a utilização da teoria social
fenomenológica.

A análise deste tema mostra que nesse período, há perdas para autocracia
burguesa e para a sociedade civil, mas a profissão cresce e se desenvolve. A
profissão passa a relacionar-se com outros aportes teóricos do conhecimento, se
aproximando das Ciências Sociais.

Contexto

Até o final da década de 60, e entrando pelos anos 70, inclusive no discurso e
nas ações governamentais há um claro componente de validação e reforço do
que caracterizamos como Serviço Social “tradicional”.

Com o crescimento do mercado de trabalho para o Assistente Social, coloca-se


para a profissão um novo tipo de padrão de exigências para o seu desempenho
profissional nas agencias estatais e nos espaços privados.

A reorganização do Estado, “racionalizado” para gerenciar o processo de


desenvolvimento em proveito dos monopólios, reconsidera as políticas setoriais
e toda a malha organização encarregada de planejá-las e executá-las

As reformulações:
 Surgem a partir de 1966 – 1967;
 Atinge primeiro o sistema previdenciário, na área organizacional e funcional;
 Implicou complexificação dos amparatos em que se inseriam o Assistente
Social;
 Acarretou uma diferenciação e especialização das atividades dos profissionais
de Serviço Social;
 Surge uma extensão quantitativa da demanda dos quadros técnicos de Serviço
social- (mercado de Trabalho: estatal, privado e filantrópico).

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O novo mercado de trabalho coloca para o Serviço Social um novo padrão de


exigências para o seu desempenho profissional no âmbito das instituições estatais
e privadas.
No curso deste processo, mudou o perfil do profissional demandado pelo mercado
de trabalho que as novas condições novas postas pelo quadro macroscópico da
autocracia burguesa faziam emergir.

A racionalidade burocrática administrativa rebate nos espaços institucionais do


exercício profissional e passa a requisitar do Assistente Social:
 Postura moderna;
 Compatibilidade de desempenho com normas, fluxos, rotinas e finalidades;
 Revestir-se de características formais e processuais.

Neste contexto profissional, de controle e verificação e a crescente interseção


com outros profissionais, gerou-se o vetor de erosão do Serviço Social
tradicional.

Formação do Assistente Social

Produzir um profissional “moderno” implicava uma modificação nos mecanismos


vigentes da formação dos Assistentes Sociais. Surgem as necessidades da
refuncionalização das agências de formação dos Assistentes Social aptas a
romper com o confessionalismo, paroquialismo e provincialismo. Há a expansão
quantitativa das agências formadoras.

A mudança foi gradativa das escolas. O discurso começa a ser modificado. No


final dos anos 60 as mudanças já eram sensíveis. O discurso da renovação do
conservadorismo foi forte.

O impacto operado no ingresso da universidade foi multifacetado e


contraditório:
 Propiciou institucionalmente a interação das preocupações técnicos
profissionais com as disciplinas vinculadas as Ciências Sociais:
 A formação recebe de fato o influxo da sociologia, da psicologia social e
antropologia;
 Viés tecnocrático e asséptico das disciplinas sociais (Universidade da
ditadura);

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 O conjunto de sequelas que o ciclo ditatorial imprimiu ao quadro educacional


e cultural do país rebateu sobre a formação dos Assistentes Sociais.
 Recrutamento do pessoal docente tornou-se contraditório:
 Agregou elementos que vinham da formação anterior e posterior à
implantação da ditadura;
 Componente da docência se desenvolvera desigualmente.

A “modernização conservadora” revela-se inteiramente neste domínio: redefine-


se a base da legitimidade profissional ao se redefinirem as exigências do mercado
de trabalho e o quadro da formação para ele.

5. O MOVIMENTO DE RECONCEITUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL E O


PROCESSO DE RENOVAÇÃO CRÍTICA DA PROFISSÃO A PARTIR DA
DÉCADA DE 1980 NO BRASIL.

O Serviço Social é uma profissão cujo processo de construção não aconteceu de


forma contínua e linear, da sua gênese à sua trajetória sócio histórico, possuem
características complexas, que nem sempre são apreendidas e compreendidas
pela sociedade e até mesmo dentro da própria categoria há apreensões
divergentes quanto ao seu processo de transformação e atuação profissional.

COMO O SERVIÇO SOCIAL TEM HOJE EM SUA FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA


E PRÁTICA O MÉTODO DIALÉTICO DE KARL MARX?

Vamos estudar neste texto como uma profissão que surge no seio da Igreja
Católica, que teve sua base teórica os conceitos morais, confessional do
Neotomismo, em meio a uma conjuntura sócio histórica e contexto institucional,
tem hoje em sua fundamentação teórica e prática o método dialético de Karl
Marx.

De início vamos tentar compreender o processo de renovação crítica do


Serviço Social pontuando a denúncia do conservadorismo profissional, iniciada
ainda na década de 1960 e desenvolvida nas décadas de 1970 a 1980, sob a
influência do Movimento de Reconceituação do Serviço Social Latino
Americano, contextualizando a conjuntura histórica da época e principalmente
na América latina.

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O CONSERVADORISMO PROFISSIONAL

O Serviço Social tem em sua gênese, na sociedade capitalista monopolista,


mediante as necessidades da divisão sócio técnica do trabalho, marcado por um
conjunto de variáveis que vão desde a alienação, a contradição ao antagonismo.

Neste contexto, no Brasil, o Serviço Social buscou afirmar-se historicamente


como uma prática de cunho humanitária, através da legitimação do Estado e da
proteção da Igreja, a partir da década de 1940.

O conservadorismo profissional pode ser identificado na prática profissional desta


época, onde ação profissional consistia em forma de intervir na vida dos
trabalhadores, ainda que sua base fosse à atividade assistencial; porém seus
efeitos eram essencialmente políticos: através do “enquadramento dos
trabalhadores nas relações sociais vigentes, reforçando a mutua colaboração
entre capital e trabalho” (IAMAMOTO, 2004, p. 20).

Conforme Iamamoto (2004, p. 20-21) observa-se que diferentemente da


caridade tradicional, que se limitava à reprodução da pobreza, a profissão
propõe: Uma ação educativa, preventiva e curativa dos problemas sociais
através de sua ação junto às famílias trabalhadoras. Diferentemente da
assistência pública, por desconhecer a singularidade e as particularidades dos
indivíduos, o Serviço Social passa a orientar a “individualização” da proteção
legal, entendida como assistência educativa adaptada aos problemas individuais.
Uma ação organizativa entre a população trabalhadora, dentro da militância
católica, em oposição aos movimentos operários que não aderiram ao
associativismo católico.

CONCEITO - CONSERVADORISMO PROFISSIONAL


Iamamoto e Carvalho conceituam o conservadorismo profissional como:
[...] uma forma de intervenção ideológica que se baseia no assistencialismo
como suporte de uma atuação cujos efeitos são essencialmente políticos: o
enquadramento das populações pobres e carentes, o que engloba o conjunto das
classes exploradas. Não pode também ser desligado do contexto mais amplo em
que se situa a posição política assumida e desenvolvida pelo conjunto do bloco
católico: a estreita aliança com o ‘fascismo nacional’, o constituir-se num
polarizador da opinião de direita através da defesa de um programa
profundamente conservador, a luta constante e encarniçada contra o socialismo,
a defesa intransigente das relações sociais vigentes (CARVALHO, in IAMAMOTO
e CARVALHO, 1988: 221-2).

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Mediante esses elementos a autora enfatiza que o “Serviço Social emerge como
uma atividade com bases mais doutrinarias que científica, no bojo de um
movimento de cunho reformista-conservador” (IAMAMOTO, 2004, p. 21). E
mesmo com o processo de secularização e ampliação do suporte técnico-científico
da profissão, com o desenvolvimento das escolas e faculdades de Serviço Social,
sob influência das Ciências Sociais no marco do pensamento conservador, do
Serviço Social americano.

Com o processo de desenvolvimento econômico no Brasil principalmente o


desenvolvimento da indústria automotiva na década de 1950, as mazelas da
“questão social”, demandaram aos assistentes sociais uma ação profissional,
de abordagem individual, grupal e de comunidade.

ABORDAGEM COMUNITÁRIA

A abordagem comunitária foi definida por Ammam como:

Um processo através do qual os esforços do próprio povo se unem aos das


autoridades governamentais, com o fim de melhorar as condições econômicas,
sociais e culturais das comunidades, integrar essas comunidades na vida nacional
e capacitá-la a contribuir plenamente para o progresso do país (1984, p.32 aput
ONU 1962, p.25).

A partir da incorporação teórica e metodológica da abordagem comunitária no


Serviço Social, conforme Netto (2005) os profissionais passaram a sentir maior
sensibilidade no tocante às questões macrossociais, além disso, o autor
destaca que esta forma de intervenção estava “mais consoante com as
necessidades e as características de uma sociedade como a brasileira – onde a
“questão social” tinha magnitude elementarmente massiva”.

Esta nova realidade profissional vai marcar o início da erosão das bases do
Serviço Social “tradicional”, no qual “o assistente social quer deixar de ser um
‘apostolo’ para investir-se da condição de ‘agente de mudança” (2005, p. 138).

ELEMENTOS PARA DETECTAR A EROSÃO DO SERVIÇO SOCIAL

Neste contexto Netto (2005, p. 139), aponta três elementos relevantes para
a erosão do Serviço Social “tradicional":
1. “O reconhecimento de que a profissão ou se sintoniza com ‘as solicitações de
uma sociedade em mudança e em crescimento’ ou se arrisca a ver seu exercício
profissional ‘relegado a um segundo plano”;

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2. “levanta-se a necessidade ‘de [...] aperfeiçoar o aparelhamento conceitual do


Serviço Social e de [...] elevar o padrão técnico, cientifico e cultural dos
profissionais desse campo de atividade”;
3. “à reivindicação de funções não apenas executivas na programação e
implementação de projetos de desenvolvimento”.

FATORES QUE IDENTICARAM A CRISE DO SERVIÇO SOCIAL


TRADICIONAL:

1. Amadurecimento profissional e a sua relação em equipes multiprofissionais;

2. Desligamento de segmentos da Igreja Católica mais tradicional e a imersão de


grupos católicos mais progressistas;

3. Participação do movimento estudantil nas escolas de Serviço Social;

4. O “referencial próprio de parte significativa das ciências sociais do período,


imantada por dimensões críticas e nacional–populares” (NETTO, 2005, p. 140).

Mediante aos fatores aqui expostos, Miranda e Cavalcanti (2005, p. 7) destacam


que se deu uma “crise ideológica, política e de eficácia” na categoria profissional,
na qual o Serviço Social questionava a sua burocratização, “seu caráter importado
e sua ligação com as classes dominantes”.

CONSEQUÊNCIAS:

TRÊS PROJETOS PARA A PROFISSÃO DE SERVIÇO SOCIAL:

1. A manutenção da matriz conservadora e tradicional;


2. Uma modernização conservadora;
3. E a ruptura com o conservadorismo, projeto este, herdado pelo Movimento de
Reconceituação do Serviço Social na América Latina.

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O MOVIMENTO DE RECONCEITUAÇÃO

O Movimento de Reconceituação foi um movimento que aconteceu nos países


latinos americanos (Chile, Argentina, Peru e Uruguai), segundo Faleiros
(1981), consistiu em um movimento de crítica ao positivismo e ao
funcionalismo e a fundamentação da visão marxista na história e
estrutura do Serviço Social.

Nos anos 60, os movimentos e lutas sociais, o desenvolvimento de


experiências reformistas na América Latina, o surgimento da revolução cubana,
a luta de guerrilhas e a reflexão em torno do processo de dependência
acentuaram a insatisfação de muitos assistentes sociais que se viam como
‘bombeiros’, chamados a apagar pequenos incêndios, a atuar no efeito da
miséria, a estabelecer contatos sem contribuir efetivamente para a melhoria da
vida cotidiana do povo. (FALEIROS, 1981, p.117).

CHILE

No Chile, segundo Faleiros a participação do movimento estudantil no


enfrentamento político global, e especificamente no Serviço Social, é de extrema
relevância, o que acarretou na reorganização da escola de Serviço Social, cujo
objetivo foi de “transformar as práticas do Serviço Social, iniciando,
impulsionando novas práticas a partir dos estágios, e nas instituições num novo
dimensionamento teórico político” (FALEIROS, 1981, p.114).

Este direcionamento profissional não aconteceu alheio às relações sociais, muito


pelo contrário, uma vez que, os estágios curriculares aconteciam dentro das
“indústrias, institutos de reforma agrária, sindicatos, centro sociais urbanos”,
revelando, portanto, um “novo contexto social e político em que as forças
populares dos operários, camponeses e movimentos urbanos estavam
em fase de ascensão” (FALEIROS, 1981, p.114).

Em meio às lutas de classes, e reivindicações dos trabalhadores e


movimentos sociais, a escola de Serviço Social no Chile, “passou a organizar
o ensino do Serviço Social numa nova dinâmica de alianças com as forças de
transformação Social, dentro do projeto popular de construção de uma
sociedade socialista” (FALEIROS, 1981, p.114); para isso foi necessário um
compromisso da profissão com a classe trabalhadora, o que caracterizou segundo
Faleiros “numa ruptura com o Serviço Social paternalista ou meramente
desenvolvimentista” (FALEIROS, 1981, p.115).

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O questionamento social, político, os movimentos sociais e as novas exigências


da acumulação do capital, a partir do pós-guerra, forma colocando o Serviço
Social como profissão numa posição de a - contemporaneidade com o seu
tempo, prestando favores, em vez de serviço, na base do consenso religioso da
colaboração de classes (FALEIROS, 1981, p.115).

O Movimento de Reconceituação trouxe para os assistentes sociais a identificação


político-ideológica da existência de lados antagônicos – duas classes sociais
antagônicas – dominantes e dominados, negando, portanto, a
neutralidade profissional, que historicamente tinha orientado a profissão.

DEBATE – DIMENSÃO POLÍTICA DA PROFISSÃO DE SERVIÇO SOCIAL

Esta revelação abriu na categoria a possibilidade de articulação profissional com


o projeto de uma das classes, dando início ao debate coletivo sobre a dimensão
política da profissão.

Neste contexto podemos afirmar que o Movimento de reconceituação do


Serviço Social na América Latina constituiu-se numa expressão de
ruptura com o Serviço Social tradicional e conservador; e na possibilidade
de uma nova identidade profissional com ações voltadas às demandas da classe
trabalhadora cujo eixo de sua “preocupação da situação particular para a relação
geral – particular”, e passa a ter “uma visão política da interação e da
intervenção” (FALEIROS, 1981, p.133).

Porém o Movimento de Reconceituação do Serviço Social na América


Latina foi interrompido pela repressão da ditadura militar na América
Latina, tornando-se então, conforme Netto (2005) um movimento
inconcluso e contido em sua história, principalmente a academia no
tocante ao ensino, pesquisa e extensão.

Entretanto, apesar da asfixia provocada pela ditadura nos países chaves


da América Latina, Netto destaca que:

[...] esta inconclusividade não fez do movimento algo intransitivo, que não
remeteria mais que a si mesmo. Ao contrário, durante mais de dez anos, na
sequência da década de 1970, a parte mais significativa do espírito renovador da
reconceituação, processado criticamente, alimentou o que houve de mais
avançado no processo profissional latino-americano. (2005, p. 15).

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Este movimento de efervescência política possibilitou a construção de uma


proposta concreta de intervenção definindo objeto e objetivos do Serviço Social
para além do conservadorismo, através da aproximação com o marxismo, até
então.

A reconceituação é sem qualquer dúvida, parte integrante do processo de erosão


do Serviço social “tradicional” e, portanto, nesta medida, partilha de suas
causalidades e características como tal, ela não pode ser pensada sem a
referência ao quadro global (econômico-social, político, cultural e estritamente
profissional) em que aquele se desenvolve.

No entanto, ela se apresenta com nítidas peculiaridades, procedentes das


particularidades latino americanas; nas nossas latitudes, “a ruptura com o
serviço Social tradicional se inscreve na dinâmica de rompimento das
amarras imperialistas, de luta pela libertação nacional e de
transformação da estrutura capitalista excludente, concentradora”
(NETTO, 2005, 146 e apud Faleiros, 1987, p. 51).

O Movimento de Reconceituação do Serviço Social Latino Americano trouxe para


o Serviço Social brasileiro contribuições que foram decisivas no processo de
aceleração da ruptura do Serviço Social tradicional, como podemos observar
adiante.

CONTRIBUIÇÕES DO MOVIMENTO DE RECONCEITUAÇÃO NO SERVIÇO


SOCIAL LATINO AMERICANO

O processo de renovação crítica do Serviço Social tem sua marca atrelada ao


circuito sócio-político e histórico da América Latina anos de 1960. Período
marcado pela efervescência dos movimentos sociais, determinado tanto pela
crise mundial do padrão de acumulação capitalista, gerados após a I Guerra,
como à inserção dos países latinos na nova divisão internacional do trabalho com
a implantação da política econômica desenvolvimentista que veio para ampliar as
contradições e as desigualdades sociais. Em meio a toda essa efervescência
política, destacam-se ainda os impactos da Revolução Cubana e os movimentos
políticos vinculados ao socialismo e ao marxismo como a experiência do Chile.

Todos estes fatores foram decisivos na inquietação dos assistentes sociais quanto
o seu papel profissional mediante as expressões da “questão social”. As ações
profissionais passaram a ser questionadas quanto a sua eficácia mediante a
realidade social brasileira, assim como os fundamentos teóricos e metodológicos
que fundamentavam sua prática.

O que resultou na união de um grande grupo heterogêneo de profissionais


“interessados em promover efetivamente o desenvolvimento econômico e social”,

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marcando assim os primeiros passos para a renovação profissional. (NETTO,


2005, p.10).

Este grupo heterogêneo de assistentes sociais estava composto por dois


segmentos:

• O Primeiro grupo apontava para uma adaptação ou renovação do Serviço


Social frente a uma nova realidade, segundo Netto, este grupo (rigorosamente
desenvolvimentistas) apostava na possibilidade de modernizar o Serviço Social
atrelado aos projetos desenvolvimentistas é o que este mesmo autor chamou de
“aggiornamento do Serviço Social”

• O segundo grupo era formado por jovens radicais que almejavam a “ruptura
com o passado profissional, de modo a sintonizar a profissão com os projetos de
ultrapassagem das estruturas sociais de exploração e dominação” (NETTO, 2005,
p. 10).

Segundo Netto estes segmentos posteriormente dividiram-se em dois


blocos:
 Reformistas-democratas (radicalmente desenvolvimentistas)
 Radical—democratas (para os quais o desenvolvimento supunha a superação
da exploração-dominação nativa e imperialista) (NETTO, 2005, p. 10.

O PROCESSO DE RENOVAÇÃO CRÍTICA DO SERVIÇO SOCIAL BRASILEIRO


A PARTIR DA DECADA DE 1980.

O processo de renovação crítica do Serviço Social é também conhecido


como o processo de ruptura do Serviço Social com o tradicionalismo
profissional. Este processo não aconteceu de imediato, mas iniciou-se a partir
de questionamentos e reflexões críticas acerca do seu conteúdo metodológico e
da sua prática profissional, explicitando assim, os conflitos e contradições
existentes, configurando novas possibilidades de ação voltadas para a classe
trabalhadora.

Entretanto, conforme Netto, a ditadura militar instalada no Brasil em 1964


e posteriormente nos demais países da América - Latina, estagnou o processo
de Reconceituação do Serviço Social na América Latina que já havia 10
anos de efervescência.

Em meados dos anos 1970, a renovação profissional materializada na


reconceituação viu-se congelada: seu processo não decorreu por mais de
uma década. E seu ocaso não se deveu a qualquer esgotamento ou exaurimento

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imanente; antes, foi produto da brutal repressão que então se abateu sobre o
pensamento crítico latino-americano (NETTO, 2005, p. 10).

Porém, essa herança da reconceituação foi à base para a renovação


crítica do Serviço Social brasileiro na década de 1980, conforme Netto
(2005) “mesmo contida e pressionada nos limites de uma década, a
reconceituação marcou o Serviço Social latino-americano”, podendo
apontar pelo menos quatro conquistas decorrentes desta época no
Brasil:

1. Intercambio e interação profissionais com outros países “que


respondessem as problemáticas comuns da América Latina, uma unidade
construída autonomamente, sem as tutelas confessionais ou imperialistas”.

2. A explicitação da dimensão política da ação profissional: até então a


ação profissional tinha uma dimensão “pretensão assepsia ideológica”

3. A interlocução crítica com as ciências sociais: com a reconceituação


incorpora-se a crítica ao tradicionalismo, lançando as bases para “uma nova
interlocução do Serviço Social com as ciências sociais, abrindo-se a novos fluxos
(inclusive da tradição marxista) e sincronizando-se com tendências diversificadas
do pensamento social então contemporâneo”;

4. A inauguração do pluralismo profissional: “a reconceituação concedeu


carta de cidadania a diferentes concepções acerca da natureza, do objeto, das
funções, dos objetivos e das práticas do Serviço Social, inclusive como resultado
do recurso a diversificadas matrizes teórico-metodológicas”. (NETTO, 2005, p. 1-
12).

Conforme Netto a principal conquista do Movimento de Reconceituação


foi à recusa dos assistentes sociais em caracterizar-se exclusivamente
em agentes técnicos executor das políticas sociais. Através do processo de
requalificação principalmente com a introdução destes profissionais no âmbito da
pesquisa acadêmica foi possível romper com a “divisão consagrada de trabalho
entre cientistas sociais (os teóricos) e assistentes sociais (os profissionais da
prática) ” (NETTO, 2005, p. 12).

Entretanto, como não poderia deixar de ser, apesar de todo esforço teórico-
político para sintonizar o Serviço Social com uma racionalidade crítico dialética,
ainda era possível identificar alguns equívocos, limites e contradições da profissão
neste período, conforme Netto (2005, p. 13) “ativismo político que obscureceu
as fronteiras entre a profissão e o militantismo – de onde, por vezes, a hipostasia
das dimensões políticas do exercício profissional, posto então como oficio heroico
e/ou messiânico”; a “recusa às teorias importadas”; e o “Confucionismo

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ideológico” este resultante das leituras das diversas interpretações equivocadas


dos escritos de Marx. Além destes, Silva e Silva (1995, p. 90-91) pontua a
redução da assistência ao assistencialismo e a negação da institucionalização,
etc.

Netto destaca que no Brasil os impactos da Reconceituação foram


peculiares:

[...] o deslocamento do “serviço Social tradicional” por viés desenvolvimentista-


modernizante tornou compatível à renovação do Serviço Social com as exigências
próprias do projeto ditatorial e permitiu a consolidação de um perfil profissional
bastante diverso do tradicionalismo. (2005, p. 16)

Paradoxalmente a ditadura militar que no Brasil proporcionou o fortalecimento


do conservadorismo no interior da profissão, foi também responsável no primeiro
momento a uma renovação modernizadora da profissão ainda que sob uma
direção fascista imposta por esta conjuntura, possibilitou também a emergência
da renovação da categoria profissional, dando início ao processo de ruptura
profissional, em ressonâncias das tendências que, na Reconceituação, apontavam
para uma crítica radical ao tradicionalismo.

A retomada do conservadorismo pode ser percebida nos documentos de Araxá


e Teresópolis - estes marcam essa aproximação estrutural-funcionalista - a
manutenção de valores tradicionalistas, como os neotomistas, associadas aos
procedimentos positivistas, recuperados da influência americana na profissão.
Observa-se a necessidade da combinação entre o conhecimento científico,
através da apreensão das ciências sociais positivistas, para instrumentalização
técnica do fazer profissional, com o resgate do valor da pessoa, da solidariedade,
da comunicação individualizada.

Como destaca Netto:

[...] combinando senso comum, bom senso e conhecimentos extraídos de


contextos teóricos; manipulando variáveis empíricas segundo prioridades
estabelecidas por via de inferência teórica ou de vontade burocrático
administrativa; legitimando a intervenção com um discurso que mescla
valorações das mais diferentes espécies, objetivos políticos e conceitos teóricos;
recorrendo a procedimentos técnicos e a operações ditadas por expedientes
conjunturais; apelando a recursos institucionais e a reservas emergenciais e
episódicas - realizada e pensada a partir desta estrutura heteróclita, a prática
sincrética põe a aparente polivalência (NETTO, 1992p. 103).

Entretanto com a reativação dos movimentos sociais e operário sindical nos


meados dos anos de 1970 a 1980, em meio ao clima político de discussão

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e de luta pela redemocratização do país, a cultura crítica é favorecida e


assumida pelos setores profissionais.

No Serviço Social, este contexto é responsável pelo impulso ao processo de


ruptura com o tradicionalismo, em uma parcela de assistentes sociais, que
passam a investir tanto na organização da categoria profissional como na
formação acadêmica, com a elaboração teórica e metodológica orientada
pelo método dialético marxista.

Netto destaca, [...] o desenvolvimento de uma perspectiva crítica, tanto teórica


quanto prática, que se constituiu a partir do espírito próprio da Reconceituação.
Não se tratou de uma simples continuidade das ideias reconceituadas, [...] antes,
o que se operou foi uma retomada da crítica ao tradicionalismo a partir das
conquistas da reconceituação (2005, p. 17).

O processo de ruptura só foi possível a partir da abertura política, uma


vez que a ditadura militar dos anos anteriores havia imposto inúmeras
dificuldades políticas para que o movimento de ruptura acontecesse.

Vale ressaltar que este pensamento não era hegemônico, uma vez que muitos
profissionais permaneciam atuando sob a égide das orientações modernizadoras
e com a reatualização do conservadorismo cujo referencial teórico - filosófico
predominante era a fenomenologia.

Primeiros passos do processo de ruptura

Importante destacarmos que o processo de ruptura teve seus primeiros


passos através da academia, pois em meio à ditadura militar-fascista, era este
o espaço profissional possível e menos inseguro, para o desenvolvimento do
pensamento crítico marxista, não só em sala de aula, mas também através dos
projetos de pesquisa e extensão, possibilitando assim uma maior aproximação
com a prática profissional.

Neste contexto devemos salientar alguns fatores importantes no


processo de renovação crítica do Serviço Social na década de 1980:

 A aprovação do novo currículo mínimo, pelo Conselho Federal de


Educação em 1982, representou um ganho significativo para a perspectiva de
intenção de ruptura;
 A aproximação do serviço Social “da discussão sobre a vida cotidiana,
através de autores como Lukács e Heller, Goldman, Lefebvre”.

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(BARROCO, 2006, p. 174) e a presença da influência Gramsciana em


várias produções desta época e que possibilitou novas reinterpretasses das
possibilidades de renovação crítica, influenciando assim a elaboração do
Código de ética profissional de 1986 que se configurou como elementos
significativos no processo de ruptura profissional, sobretudo, nos aspectos
político e teórico, expressando a influência do pensamento marxista no Serviço
Social. (BARROCO, 2006, p. 170).

Marco da intenção de ruptura - Método BH

Dentre as primeiras formulações do processo de ruptura que podemos pontuar a


experiência do Método BH, considerada um marco na intenção de ruptura do
Serviço Social brasileiro, na qual é possível identificar uma proposta
profissional alternativa de intervenção as tradicionais práticas, apontando ao
Serviço Social uma abordagem coletiva, mobilizadora, incentivando a
organização social nas reivindicações das necessidades da classe trabalhadora.

Segundo Netto, o método BH configurou-se para, [...] além da crítica


ideológica, da denúncia epistemológica e metodológica e da recusa das práticas
próprias do tradicionalismo; envolvendo todos estes passos, ele coroou a sua
ultrapassagem no desenho de um inteiro projeto profissional abrangente,
oferecendo uma pauta paradigmática dedicada a dar conta inclusive do conjunto
de suporte acadêmicos para a formação dos quadros técnicos e para a
intervenção do Serviço Social (NETTO, 2005, p. 276).

Outra formulação apontada por Netto na construção da intenção de ruptura é a


reflexão produzida por Marilda Villela Iamamoto, publicada em 1983 por ela e
Raul de Carvalho, intitulado: Relações Sociais e Serviço Social no Brasil: esboço
de uma interpretação histórico-metodológica. Sinalizando a “maioridade
intelectual da perspectiva de ruptura – ponto de inflexão no coroamento da
consolidação acadêmica do projeto de ruptura e mediação para o seu
desdobramento para além das fronteiras universitárias” (NETTO, 2005, p. 275).

Todo esse processo ora apresentado vai resultar na construção de um novo


projeto ético – político profissional, vinculado a um projeto societário,
propondo uma nova ordem social, voltado à equidade e a justiça social, numa
perspectiva de universalização dos acessos aos bens e serviços relativos às

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políticas sociais. Neste contexto a profissão busca o compromisso com a classe


trabalhadora, através do aprimoramento intelectual, baseada na qualificação
acadêmica e alicerçada na concepção teórico-metodológicas crítica e sólida.

Enfim, a tradição marxista vinculada ao Serviço Social ocorreu tanto nos países
de capitalismo avançado como na América do Norte e Europa Ocidental, como
nos países em desenvolvimentos da América Latina. Esta relação não aconteceu
por acaso, foi fruto da crise da profissão com a herança conservadora
tradicionalista, da pressão exercida pelos movimentos sociais revolucionários e
ainda pela atuação do movimento estudantil.

Esta relação do Serviço Social com a teoria marxista foi possível para
compreender o significado social da profissão, contribuir na reflexão de
intervenção sócio profissional e, sobretudo para fundamentar a teoria e a prática
profissional. Cuja conquista fundamental foi “a consciência do profissional de sua
condição de trabalhador, que rebate na organização política da categoria e na
reflexão marxista que, gradativamente, se apropria da realidade social,
apreendendo o trabalho como elemento fundante da vida social” (BARROCO,
2006).

Como vimos o Serviço Social no Brasil é caracterizado, pela herança do


Movimento de Reconceituação, pois, como bem afirma Netto (2005), é impossível
imaginar o Serviço Social crítico, sem atrelá-lo a esta herança, mesmo tendo a
convicção de que há uma pluralidade ideológica e teórica, própria da diversidade
que é formada a categoria profissional, ainda que sob a égide de um projeto
ético-político que faz a crítica ao tradicionalismo.

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6. A renovação profissional: vertente modernizadora, a


vertente da reatualização do conservadorismo e a vertente da
intenção de ruptura.

Dando continuidade ao tema da aula - Crise e renovação do Serviço Social,


podemos perceber que o exame do tema estudado permite afirmar que, erodida
a base do Serviço Social “tradicional”, a reflexão profissional se desenvolveu
diferencialmente – quer cronológica, quer teoricamente – em três direções
principais, constitutivas do processo de renovação.

Neste tema, vamos abordar a direção da renovação do Serviço Social.

Segundo José Paulo Netto o processo de renovação do serviço social


constitui em três momentos de ruptura:

A primeira diz respeita a perspectiva modernizadora que encontra a sua


formulação afirmada nos seminários de teorização do serviço social organizado
pelo CBCISS em Araxá (março 1967) e Teresópolis (janeiro 1970) no
sentido de inserir os profissionais num viés moderno de teorias e técnicas para
novos instrumentos que possam responder as demandas da ordem do
desenvolvimento capitalista.

Com o golpe de abril, ocorreu uma ampliação do mercado de trabalho dos


assistentes sociais com criações de instituição e organizações estatais que por
sua vez submetida ao estado ditatorial e sua racionalidade burocrática assim
contribuindo para reduzir as suas expressões na (auto) reapresentação dos
assistentes sociais.

SEMINÁRIO DE ARAXÁ

Outro ponto que teve influência neste conservadorismo do serviço social foi o
Seminário de Araxá que se manifestou de diversas formas, uma delas é a
diferenciação entre níveis de intervenção macrossocial e micros social.

No macrossocial o perfil do profissional do assistente social está voltado para a


formulação de políticas sociais (moderna), e no nível do micro social o papel do
assistente social está na execução terminal das políticas (tradicional), numa
relação direta com o usuário dos serviços.

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Por ter como pano de fundo o positivismo na forma de estrutural-funcionalismo,


trata-se de um princípio de globalidade que sustenta o indivíduo que deve ser
analisado na sociedade para uma análise baseada na cristalização,
desenvolvendo assim um comportamento adaptativo.

SEMINÁRIO DE TERESÓPOLIS

Outro seminário que marcou também foi o de Teresópolis, com o propósito de


analisar a questão da metodologia do serviço social, onde três documentos
constituíram o objetivo desta reflexão são eles: Lucena Dantas, Costa e Soeiro.

Neste sentido as ideias apresentadas por Lucena Dantas são as mais relevantes.
Para Dantas o método do profissional é o método cientifico que opera através de
diagnósticos e a intervenção planejada.

GRUPOS A e B

Outro fator que entra em destaque neste mesmo documento foi o debate de dois
grupos (A e B), onde poderão analisar e colocar suas propostas e conclusões. O
grupo A expressou o alto nível de natalidade, já no grupo B supõe três níveis de
atuação para o serviço social (prestação direta de serviços, administração de
serviços sociais e planejamento) mais tanto o “A” como o “B” procura uma teoria
que esteja relacionada com a pratica do serviço social.

ESTUDOS DE SUMARÉ

Conforme nos escritos de J. P. Netto “depois de Araxá e Teresópolis, vieram na


sua esteira os colóquios realizados nos centros de estudos do Sumaré (da
arquidiocese carioca) e o Alto da Boa Vista (no colégio coração de Jesus)
respectivamente em 1978 e 1984(Netto, 2010 p.1940) ”. Refletindo aí então no
surgimento de novo organismo de expressão e representação, as observações
feitas ao contexto social brasileiro. Onde dois elementos estreitamente conexos
entram em destaque.

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Elementos que se destacam:

1-O primeiro diz respeito ao que se pode aludir como a expectativa das
vanguardas profissionais emergentes na década de setenta em face das
iniciativas que vinham no seguimento de Araxá e Teresópolis. Há fortes indícios
de que a identificação da CBCISS tendia a tornar céticas aquelas vanguardas em
relação às promoções inscritas num veio que estavam colocando em causa

2-O segundo elemento refere-se ás dimensões e direções propriamente


ideopolíticas a que se viam remetidos quer aquela entidade, quer suas iniciativas
anteriores, que experimentavam uma nítida politização na fase em que a
resistência democrática a ditadura empolgava setores sociais cada vez mais
amplos (Netto, 2010p. 195). Ocorrendo assim um deslocamento para o
conservadorismo com aberturas a referências distintas.

O Processo de Renovação que o Serviço Social vivenciou a partir de fins


da década de 1960, não seguiu um mesmo padrão na abordagem e
tratamento do instrumental técnico. Isto se deve justamente por esse
processo ter comportado momentos e direções distintas, as quais foram
captadas por José Paulo Neto sob três grandes perspectivas tendenciais:

PERSPECTIVA MODERNIZADORA,

PERSPECTIVA DE INTENÇÃO DE RUPTURA

PERSPECTIVA DE REATUALIZAÇÃO DE CONSERVADORISMO.

DIREÇÕES DA RENOVAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL

TRÊS MOMENTOS TRÊS DIREÇÕES

 Segunda metade dos anos 60 PERSPECTIVA MODERNIZADORA


 Segunda metade dos anos 70 REATUALIZAÇÃO DO CONSERVADORISMO
 Abertura dos anos 80 INTENÇÃO DE RUPTURA

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PRIMEIRA DIREÇÃO
PERSPECTIVA MODERNIZADORA
A primeira direção conforma uma perspectiva modernizadora para as concepções
profissionais - um esforço no sentido de adequar o Serviço Social, enquanto
instrumento de intervenção inserida no arsenal de técnicas sociais a ser
operacionalizado no marco de estratégias de desenvolvimento capitalista, às
exigências postas pelos processos sociopolíticos emergentes no pós-64.

Trata-se de uma linha de desenvolvimento profissional que, se encontra o auge


da sua formulação nos auges dos anos setenta – seus grandes monumentos
são os textos dos seminários de Araxá e Teresópolis.

O que confere seu tônus peculiar é nova fundamentação de que se socorre para
legitimar o papel e os procedimentos profissionais. Registram-se avanços
inequívocos com aportes extraídos do estrutural-funcionalismo norte-americano.

Caráter modernizador desta perspectiva:

 Aceita como dado inquestionável a ordem sociopolítica derivada de abril, e


procura dotar a profissão de referências e instrumentos capazes de responder
às demandas que se apresentam;
 Reporta-se a valores e concepções mais tradicionais, não para superá-los ou
negá-los, mas para inseri-los numa moldura teórica e metodológica menos
débil;
 Foi a expressão da renovação profissional adequada à autocracia burguesa;
 Terá sua hegemonia posta em questão a partir de meados dos anos 70, com
a crise da autocracia burguesa;
 Conteúdo reformista não atende às expectativas do segmento profissional que
resiste ao movimento de laicização ocorrente e se recusa a romper com o
estatuto e a funcionalidade subalterna historicamente assumida pela
profissão.
 Seu traço conservador e sua colagem à ditadura incompatibilizam-na com os
segmentos profissionais críticos;
 A expressão ideal das concepções teóricas e profissionais destes segmentos
diferenciados, objetivando-se no segundo lustro da década de setenta, plasma
as duas outras direções que compõem o processo de renovação do Serviço
Social no Brasil.

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SEGUNDA DIREÇÃO
PERSPECTIVA DE REATUALIZAÇÃO DO CONSERVADORISMO

Recupera a herança histórica e conservadora da profissão e os repõe sobre uma


base teórico-metodológica que se reclama nova, repudiando, simultaneamente,
os padrões mais nitidamente vinculados à tradição positivista e às referências
conectadas ao pensamento crítico-dialético, de raiz marxiana. Intervenção
microscópica, visão de mundo derivada do pensamento católico tradicional.
Utiliza-se da fenomenologia; beneficia-se de um acúmulo de expectativas,
referentes ao exercício do Serviço Social fundado no circuito da ajuda
psicossocial.

Dado significativo quanto a esta vertente da renovação profissional é a sua


relativa ausência na agenda dos debates que se operam no interior do serviço
Social no Brasil.

Instalada no universo dos assistentes sociais desde meados dos anos


setenta, esta direção do desenvolvimento profissional não registra uma
polêmica acesa em torno das suas proposições, como as duas outras que
constituem o processo de renovação.

TERCEIRA DIREÇÃO
INTENÇÃO DE RUPTURA

Perspectiva que se propõe como INTENÇÃO DE RUPTURA com o Serviço Social


tradicional. Crítica sistemática ao desempenho tradicional e aos seus
suportes teóricos, metodológicos e ideológicos. Resgate crítico de
tendências que supunham rupturas político-sociais de porte para adequar as
respostas profissionais às demandas estruturais do desenvolvimento brasileiro.

Recorre progressivamente à tradição marxista e revela as dificuldades da sua


afirmação no marco sociopolítico da autocracia burguesa. Oposição ao
tradicionalismo do Serviço Social. Flagrante hiato entre a intenção de
romper com o passado conservador do Serviço Social e os indicativos
prático-profissionais para consumá-la.

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Algumas características da PERSPECTIVA MODERNIZADORA:

 Preocupação com a problemática do desenvolvimento


 A relação subdesenvolvimento/desenvolvimento
 Concepção teórica: estrutural-funcionalismo
 Concepção ideológica: reformismo conservador de viés desenvolvimentista
 Seminário de Araxá em 1967
 Seminário de Teresópolis em 1970
 Seminário de Sumaré em 1978

Algumas características da REATUALIZAÇÃO DO CONSERVADORISMO:

 Subordinação às exigências da modernização conservadora


 Valorização da elaboração teórica
 Crítica à herança positivista e utilização da fenomenologia
 Ajuda psicossocial (viés psicologizante) das determinações de classe nos
processos societários
 Centralização nas dinâmicas individuais e recuperação de valores tradicionais
 Duplo combate: tendências da modernização/ incidências da tradição marxista
 Intervenção em nível de micro atuação

Algumas características da INTENÇÃO DE RUPTURA:

 Caráter de oposição ao regime autocrático burguês


 Cresce com a crise da autocracia burguesa
 Depende de liberdades democráticas para avançar no seu processamento.
 Vinculação estreita com Universidades
 Bases sociopolíticas: democratização
 Movimento das classes exploradas
 Elementos fundamentais: método BH e a reflexão de Iamamoto (1982).

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Método BH: proposição global de alternativa ao tradicionalismo inaugurou –


enquanto formulação de um projeto profissional que, respondendo à
particularidade da conjuntura brasileira, estava sintonizado com as
vanguardas renovadoras mais crítico da América Latina – a perspectiva
da intenção de ruptura enfrentando as questões mais candentes da
configuração teórica, ideológica e operativa que constituem uma
profissionalidade como a do Serviço Social.

Reflexão de Iamamoto (1982): compreender o significado social do


exercício profissional em suas conexões com a produção e reprodução das
relações sociais na formação social vigente na sociedade brasileira. Serviço Social
inserido na dinâmica capitalista, à luz de uma inspiração teórico-metodológica
haurida direta e legitimamente na fonte marxista. Com ela, as problemáticas
internas da profissão encontram a base para um equacionamento novo e
concreto; situa histórica e sistematicamente as questões de teoria, método,
objeto e objetivos profissionais no âmbito que lhes é precípuo: o da
profissionalidade que se constrói nos espaços da divisão sócio técnica do
trabalho, tencionados pelo rebatimento das lutas de classes.

Com a elaboração de Iamamoto, a vertente intenção de ruptura se


consolida no plano teórico-crítico.

Para aprofundar seu conhecimento apresento dois temas importantes


que estão inseridos na reflexão de Iamamoto.

 Significado Social da Profissão de Serviço Social


 O Serviço Social na Divisão Sócio Técnica do Trabalho

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7. O Significado Social da Profissão de Serviço Social

Neste tema, sobre significado social da profissão, torna-se importante colocar


anteriormente, o ponto de vista do significado dos serviços sociais para o
trabalhador e para aqueles que administram e controlam o Capital.

SIGNIFICADO DOS SERVIÇOS SOCIAIS X SIGNIFICADO SOCIAL DA PROFISSÃO

No contexto histórico social, político e econômico da sociedade moderna está


inserida a expansão dos serviços sociais que está ligada à noção de cidadania.
No Brasil os direitos sociais se expandem para as classes trabalhadoras à medida
que o Estado passa a assumir os encargos sociais em face da sociedade,
respondendo às lutas da classe operária, no contexto da industrialização.
Devemos lembrar que no contexto social, político e econômico da sociedade
capitalista, o direito social tem por justificativa, a cidadania. Os discursos de
igualdade têm como fundamento, a desigualdade de classe.

O QUE SIGNIFICA OS SERVIÇOS SOCIAIS PARA O TRABALHADOR E PARA


AQUELES QUE CONSTROLAM E ADMINISTRAM O CAPITAL?
Do ponto de vista das classes trabalhadoras:

 Serviços complementares e necessários à sobrevivência;


 São vitais;
 São insuficientes para os alijados do mercado de trabalho ou lançados no
pauperismo absoluto;
 Os serviços sociais escapam ao controle dos trabalhadores, não sendo
facultado intervir no rumo das políticas sociais;
 Suas necessidades da sobrevivência são utilizadas como meio de subordinação
aos padrões vigentes.
Do ponto de vista do Capital:

Meios de socializar os custos de reprodução da força de trabalho, preferível à


elevação do salário real, que afeta a lucratividade da classe capitalista;

Custos dos serviços partilhados pelo conjunto dos capitalistas e pelos usuários,
subsidiados pelo Estado;

Encarados como salário indireto:

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Características do salário indireto:

 Salário rebaixado e ampliação de rede de serviços.

Rede de serviços permite ao capitalista:

 Ampliação de investimentos;
 A qualidade dos serviços subordina-se a rentabilidade das empresas;
 Reforço para garantir elevados níveis de produtividade do trabalho,
pressupondo um mínimo de equilíbrio psicofísico do trabalhador;
 Filantropia é redefinida na perspectiva da classe capitalista.
A “ajuda” passa a ser concebida como investimento;

Não se trata de “distribuir”, mas de construir, de favorecer a acumulação do


capital.

CONSTRUIR E FAVORECER A ACUMULAÇÃO DO CAPITAL

LÓGICA QUE PRESIDE

A ORGANIZAÇÃO DOS SERVIÇOS SOCIAIS

Uma análise teórico-metodológica do Serviço Social no processo de


reprodução das relações sociais

Para uma abordagem do Serviço Social no processo de reprodução das relações


sociais, partimos da posição de que o significado social da profissão só pode
ser desvendado em sua inserção na sociedade, ou seja, a análise da
profissão, de suas demandas, tarefas e atribuições em si mesmas não permitem
desvendar a lógica no interior da qual essas demandas, tarefas e atribuições
ganham sentido.

Assim sendo, é preciso ultrapassar a análise do Serviço Social em si mesmo para


situá-lo no contexto de relações mais amplas que constituem a sociedade
capitalista, particularmente, no âmbito das respostas que esta sociedade e o
Estado constroem, frente à questão social e às suas manifestações, em múltiplas
dimensões. Essas dimensões constituem a sociabilidade humana e estão
presentes no cotidiano da prática profissional, condicionando-a e atribuindo-lhe
características particulares.

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Conceito de reprodução social:

Então, um conceito fundamental para a compreensão da profissão na sociedade


capitalista é o conceito de reprodução social que, na tradição marxista, se
refere ao modo como são produzidas e reproduzidas às relações sociais
nesta sociedade. Nessa perspectiva, a reprodução das relações sociais é
entendida como a reprodução da totalidade da vida social, o que engloba não
apenas a reprodução da vida material e do modo de produção, mas também a
reprodução espiritual da sociedade e das formas de consciência social através das
quais o homem se posiciona na vida social.

Ou seja, a reprodução das relações sociais, “como a reprodução do capital


permeia as várias ‘dimensões’ e expressões da vida em sociedade” (IAMAMOTO;
CARVALHO, 1995, p. 65). Dessa forma, a reprodução das relações sociais é
a reprodução de determinado modo de vida, do cotidiano, de valores, de
práticas culturais e políticas e do modo como se produzem as ideias
nessa sociedade. Ideias que se expressam em práticas sociais, políticas,
culturais, padrões de comportamento e que acabam por permear toda a trama
de relações da sociedade.

A Questão Social é expressão das desigualdades sociais constitutivas do


capitalismo. Suas diversas manifestações são indissociáveis das relações entre
as classes sociais que estruturam esse sistema e nesse sentido a Questão Social
se expressa também na resistência e na disputa política.

O processo de reprodução da totalidade das relações sociais na


sociedade é um processo complexo, que contém a possibilidade do novo, do
diverso, do contraditório, da mudança. Trata-se, pois, de uma totalidade em
permanente reelaboração, na qual o mesmo movimento que cria as condições
para a reprodução da sociedade de classes cria e recria os conflitos resultantes
dessa relação e as possibilidades de sua superação.

Esta concepção de reprodução social fundamenta uma forma de


apreender o Serviço Social como instituição inserida na sociedade.
Inserção que, conforme Iamamoto e Carvalho (1995, p. 73), implica
considerar o Serviço Social a partir de dois ângulos indissociáveis e
interdependentes:

 Como realidade vivida e representada na e pela consciência de seus agentes


profissionais e que se expressa pelo discurso teórico e ideológico sobre o
exercício profissional;

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 Como atividade socialmente determinada pelas circunstâncias sociais


objetivas que imprimem certa direção social ao exercício profissional, que
independem de sua vontade e/ou da consciência de seus agentes individuais.

Cabe assinalar que estes dois ângulos constituem uma unidade


contraditória, podendo ocorrer um desencontro entre as intenções do
profissional, o trabalho que realiza e os resultados que produz. É
importante também ter presente que o “Serviço Social, como instituição
componente da organização da sociedade, não pode fugir a essa
realidade” (IAMAMOTO; CARVALHO, 1995, p. 75).

Analisar o Serviço Social nesta perspectiva permite, em primeiro lugar, apreender


as implicações políticas do exercício profissional que se desenvolve no contexto
de relações entre classes. Ou seja, compreender que a prática profissional do
Serviço Social é necessariamente polarizada pelos interesses de classes sociais
em relação, não podendo ser pensada fora dessa trama.

Permite também apreender as dimensões objetivas e subjetivas do


trabalho do assistente social:

Objetivas: no sentido de considerar o determinante sócio históricos do exercício


profissional em diferentes conjunturas. Subjetivas: no sentido de identificar a
forma como o assistente social incorpora em sua consciência o significado de seu
trabalho e a direção social que imprime ao seu fazer profissional.

Supõe, portanto, também descartar visões unilaterais da vida social e da


profissão, deixando de considerar, por um lado, as determinações históricas,
econômicas, sociais, políticas e culturais sobre o exercício profissional do
assistente social e, por outro, o modo como o profissional constrói sua
intervenção, atribui-lhe significado, confere-lhe finalidades e uma direção social.

Assim, podemos afirmar que o Serviço Social participa tanto do processo de


reprodução dos interesses de preservação do capital, quanto das respostas às
necessidades de sobrevivência dos que vivem do trabalho. Não se trata de uma
dicotomia, mas do fato de que ele não pode eliminar essa polarização de seu
trabalho, uma vez que as classes sociais e seus interesses só existem em relação.
Relação que, como já afirmamos, é essencialmente contraditória e na qual o
mesmo movimento que permite a reprodução e a continuidade da sociedade de
classes cria as possibilidades de sua transformação.

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Questão para reflexão

Como decorrência dessa compreensão da profissão, é possível afirmar o caráter


essencialmente político da prática profissional, uma vez que ela se explica no
âmbito das próprias relações de poder na sociedade.

Caráter que, como vimos, não decorre exclusivamente das intenções do


profissional, pois sua intervenção sofre condicionamentos objetivos dos contextos
onde atua.

No entanto, isso não significa que o assistente social se coloque passivamente


diante das situações sociais e políticas que configuram o cotidiano de sua prática,
mas porque participa da reprodução da própria vida social é que o Serviço Social
pode definir estratégias profissionais e políticas no sentido de reforçar os
interesses da população com a qual trabalha.

Por isso a possibilidade da profissão colocar-se na perspectiva dos interesses de


seus usuários depende da construção de um projeto profissional coletivo que
oriente as ações dos profissionais em seus diversos campos de trabalho.

REPRODUÇÃO DAS RELAÇÕES SOCIAIS:

 Não se reduz à reprodução da força viva de trabalho e dos meios materiais


de produção;
 Não se trata da reprodução material do sentido amplo: produção, consumo,
distribuição e troca de mercadorias.

REPRODUÇÃO DAS RELAÇÕES SOCIAIS

Refere-se:

 À reprodução da própria sociedade, da totalidade, do processo social, da


dinâmica tensa das relações entre as classes. Trata-se da reprodução de um
modo de vida que envolve o cotidiano da vida em sociedade: um modo de
viver e trabalhar de forma socialmente determinada.

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Refere-se:

 A reprodução das forças produtivas e das relações de produção na sua


globalidade envolvendo a reprodução espiritual: das formas de consciência
social, jurídicas, filosóficas, artísticas, religiosas;
 Reprodução das lutas sociais, das relações de poder e dos antagonismos de
classes;

ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL

A atuação do Assistente Social é uma atuação polarizada pelos interesses das


classes sociais coaptada pela classe dominante

O ASSISTENTE SOCIAL

REPRODUZ interesses contrapostos que convivem em tensão;

RESPONDE tanto as demandas do capital como do trabalho;

FORTALECE ou um ou outro, pela mediação de seus opostos;

PARTICIPA tanto dos mecanismos de dominação e exploração como,


ao mesmo tempo e pela mesma atividade, dá resposta às
necessidades de sobrevivência da classe trabalhadora e da
reprodução do antagonismo desses interesses sociais, reforçando as
contradições que constituem o motor básico da história.

A partir desta compreensão pode-se estabelecer:

 Estratégia profissional e política;


 Viabilizar possibilidades de o assistente social posicionar-se no lado
das classes trabalhadoras, a serviço de um projeto de classe
alternativo àquele que é chamado a intervir;
 Fortalecer metas do capital ou do trabalho.

O Serviço Social situa-se no processo das relações Sociais, como uma


atividade auxiliar e subsidiária no exercício de controle social e na
difusão da ideologia de classe dominante entre a classe trabalhadora.

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 De um lado: cria bases políticas para o exercício de poder, intervém através


dos serviços sociais, na criação de condições favoráveis à reprodução da força
de trabalho.

SE SÃO RELAÇÕES ANTAGÔNICAS

 Do outro lado: se apesar das iniciativas do Estado visando ao controle e à


atenuação dos conflitos, esses se reproduzem, o Serviço Social contribui,
ainda, para a reprodução dessas mesmas contradições que caracterizam a
sociedade capitalista.

A profissão de Serviço Social embora constituída para servir ao interesse do


capital, a mesma não reproduz monoliticamente necessidades exclusivas do
capital. A mesma participa também de respostas às necessidades legítimas de
sobrevivência da classe trabalhadora, enfrentadas, seja coletivamente, através
de movimentos sociais, seja na busca de acesso aos recursos sociais existentes,
através dos equipamentos coletivos que fazem face aos direitos sociais do
cidadão.

8. O Serviço Social na Divisão Sócio Técnica do Trabalho

Nas últimas três décadas presenciou‑se um significativo avanço do


Serviço Social brasileiro, de adensamento e renovação teórico‑metodológica e
ético‑política, qualificação da sua produção científica, bem como o fortalecimento
de entidades científicas e de representação política.

É na década de 1980 que se identifica importante inflexão na


interpretação teórica da profissão, com a contribuição de Iamamoto e Carvalho
(1982), que nos brindam, a partir do contributo da teoria social de Marx, com
uma análise inaugural do Serviço Social no processo de produção e reprodução
das relações sociais capitalistas, particularizando sua inserção na divisão
social e técnica do trabalho e reconhecendo o assistente social como
trabalhador assalariado.

É amplamente conhecido o impacto dessa contribuição para a ruptura da


profissão com o legado conservador de sua origem, a partir da qual a análise do
significado social da profissão ganha novos patamares, por meio da ampla

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interlocução com a teoria social crítica e o pensamento social clássico e


contemporâneo.
Contudo, e as recentes produções de Iamamoto (2007, 2009b) chamam a
atenção para isso, não derivamos dessa análise todas as consequências teóricas
e políticas mais profundas relacionadas ao reconhecimento do assistente social
como trabalhador assalariado de instituições públicas e privadas, resultante do
processo de profissionalização e institucionalização da profissão nos marcos do
capitalismo monopolista.

Afirmar que o Serviço Social é uma profissão inscrita na divisão social e


técnica do trabalho como uma especialização do trabalho coletivo, e
identificar o seu sujeito vivo como trabalhador assalariado, implica problematizar
como se dá a relação de compra e venda dessa força de trabalho a empregadores
diversos, como o Estado, as organizações privadas empresariais, não
governamentais ou patronais.
Trata‑se de uma interpretação da profissão que pretende desvendar suas
particularidades como parte do trabalho coletivo, uma vez que o trabalho não
é a ação isolada de um indivíduo, mas é sempre atividade coletiva de caráter
eminentemente social.
O Serviço Social como profissão emerge na sociedade capitalista em
seu estágio monopolista, contexto em que a questão social, pelo seu caráter
de classe, demanda do Estado mecanismos de intervenção não apenas
econômicos, mas também políticos e sociais.
Sua institucionalização relaciona‑se assim à progressiva
intervenção do Estado no processo de regulação social, momento em que
as sequelas e manifestações da questão social se põem como objeto de
políticas sociais, em dupla perspectiva: seja no sentido de garantir condições
adequadas ao pleno desenvolvimento capitalista e seus processos de acumulação
privada em benefício do grande capital monopolista; e, simultânea e
contraditoriamente, no sentido responder, por vezes antecipar‑se, às pressões de
mobilização e organização da classe operária, que exige o atendimento de
necessidades sociais coletivas e individuais derivadas dos processos de produção
e reprodução social (cf. entre outros, Netto, 2005).
Em sua relevante contribuição para a análise do Serviço Social no
capitalismo monopolista, Netto sintetiza esse processo:

O caminho da profissionalização do Serviço Social é, na verdade, o processo


pelo qual seus agentes ainda que desenvolvendo um autor representação

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e um discurso centrados na autonomia dos seus valores e da sua vontade


se inserem em atividades interventivas cuja dinâmica, organização,
recursos e objetivos são determinados para além do seu controle.
[...], o que [esse] deslocamento altera visceralmente, concretizando a
ruptura, é, objetivamente, a condição do agente e o significado social de
sua ação; o agente passa a inscrever‑se numa relação de assalariamento e
a significação social de seu fazer passa a ter um sentido novo na malha da
reprodução das relações sociais. Em síntese: é com esse giro que o Serviço
Social se constitui como profissão, inserindo‑se no mercado de
trabalho, com todas as consequências daí derivadas
(principalmente com o seu agente tornando‑se vendedor da sua
força de trabalho). (Netto, 2005, p. 71‑72; grifos do autor).

A conformação dessa ordem societária cria, assim, um novo espaço sócio


ocupacional para o assistente social (e para um conjunto de outras profissões)
na divisão social e técnica do trabalho, constituindo objetivamente as
condições através das quais a profissão será demandada e legitimada para a
execução de um amplo leque de atribuições profissionais, notadamente no
âmbito das diferentes políticas sociais setoriais.
Contudo, é esse mesmo processo de profissionalização do assistente social
e institucionalização da profissão na divisão social e técnica do trabalho que
circunscreve as condições concretas para que o trabalho do assistente social
ingresse no processo de mercantilização e no universo do valor e da
valorização do capital, móvel principal da sociedade capitalista.
Isto porque, para além da análise do Serviço Social como trabalho concreto
(Marx, 1968), dotado de qualidade específica que atende a necessidades sociais
a partir de suportes intelectuais e materiais para sua realização, o exercício
profissional do assistente social em resposta a demandas sociais passa a ser
mediado pelo mercado, ou seja, pela produção, troca e consumo das
mercadorias (bens e serviços) dentro de uma crescente divisão do trabalho social.
Iamamoto (2007) extrai daí a análise sobre a dupla dimensão do trabalho
do assistente social como um trabalhador assalariado, que vende sua força de
trabalho em troca de um salário.

Afirma a autora:
Em decorrência, o caráter social desse trabalho assume uma dupla
dimensão:
a) enquanto trabalho útil atende a necessidades sociais (que
justificam a reprodução da própria profissão) e efetiva‑se através de

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relações com outros homens, incorporando o legado material e intelectual


de gerações passadas, ao tempo em que se beneficia das conquistas atuais
das ciências sociais e humanas;
b) mas só pode atender às necessidades sociais se seu trabalho puder
ser igualado a qualquer outro enquanto trabalho abstrato — mero
coágulo de tempo do trabalho social médio —, possibilitando que esse
trabalho privado adquira um caráter social. (2007, p. 421)

TRABALHO ABSTRATO
Nos termos de Marx, trabalho humano abstraído de todas as suas qualidades e
características particulares, indiferenciado, indistinto, desaparecendo o caráter
útil dos produtos do trabalho e do trabalho nele corporificado, e, portanto,
também desaparecem as diferentes formas de trabalho concreto, elas não mais
se distinguem uma das outras, mas reduzem‑se, todas, a uma única espécie de
trabalho, o trabalho humano abstrato (1968, p. 44‑45).

TRABALHO SOCIAL MÉDIO


Para Marx (1968, p. 44‑46): “Cada uma dessas forças individuais de trabalho se
equipara às demais, na medida em que possua o caráter de uma força média de
trabalho social, e atue como essa força social média, precisando, portanto,
apenas do tempo de trabalho em média necessário ou socialmente necessário
para a produção de uma mercadoria. Tempo de trabalho socialmente
necessário é o tempo de trabalho requerido para produzir‑se um
valor‑de‑uso qualquer, nas condições de produção socialmente normais,
existentes, e com o grau social médio de destreza e intensidade do
trabalho. ”

Nesses termos, o agente profissional contratado pelas instituições


empregadoras ingressa no mercado de trabalho como proprietário de sua força
de trabalho especializada, conquistada por meio de formação universitária que o
legitima a exercer um trabalho complexo em termos da divisão social do trabalho,
dotado de qualificação específica para o seu desenvolvimento.
Mas essa mercadoria “força de trabalho” só pode entrar em ação se
dispuser de meios e instrumentos de trabalho que, não sendo de propriedade
do assistente social, devem ser colocados a sua disposição pelos empregadores
institucionais: recursos materiais, humanos, financeiros, para o
desenvolvimento de programas, projetos, serviços, benefícios e de um

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conjunto de outras atribuições e competências, de atendimento direto ou


em nível de gestão e gerenciamento institucional.
As implicações desse processo são profundas e incidem na autonomia
relativa desse profissional, que não possui, como vimos, o poder de definir as
prioridades nem o modo pelo qual pretende desenvolver o trabalho socialmente
necessário, coletivo, combinado e cooperado com os demais trabalhadores sociais
nos diferentes espaços sócio ocupacionais que demandam essa capacidade de
trabalho especializada.
Assim, analisar o significado social da profissão significa inscrever o
trabalho do assistente social no âmbito do trabalho social coletivo na sociedade
brasileira atual, não apenas destacando sua utilidade social e diferencialidade
diante de outras especializações do trabalho social, mas também, e
contraditoriamente, sua unidade enquanto parte do trabalho social médio,
comum ao conjunto de trabalhadores assalariados que produzem valor e/ou
mais‑valia (Iamamoto, 2009b, p. 38).
Problematizar o trabalho do assistente social na sociedade contemporânea
supõe pensá‑lo como parte alíquota do trabalho da classe trabalhadora, que
vende sua força de trabalho em troca de um salário, submetido aos dilemas e
constrangimentos comuns a todos os trabalhadores assalariados, o que implica
ultrapassar a visão liberal que apreende a prática do assistente social a partir de
uma relação dual e individual entre o profissional e os sujeitos aos quais presta
serviços.
Esta análise crítica da dupla dimensão do trabalho do assistente social
como trabalho concreto e abstrato e as implicações da mercantilização dessa
força de trabalho especializada na sociedade contemporânea não foram objetos
de problematização aprofundada na literatura profissional, que vem privilegiando
os fundamentos de legitimação social da atividade do assistente social como
trabalho concreto, particularizando sua utilidade social na divisão social e técnica
do trabalho institucional, como revela Iamamoto (2007, 2009b) em suas últimas
produções.
Nesse sentido, a temática da super exploração e do desgaste físico e
mental no trabalho profissional é um tema novo, pouco debatido, pouco
pesquisado, portanto pouco conhecido pelo Serviço Social e seus trabalhadores,
e que não apresenta acúmulo na literatura profissional.
O que se observa com maior frequência certamente em função da
centralidade da classe operária na produção capitalista e dos inúmeros estudos
sobre os impactos da reestruturação produtiva nas relações e condições de
trabalho desta classe é o assistente social analisar (e indignar‑se) frente à
exploração e ao desgaste a que são submetidos os trabalhadores assalariados,
mas estabelecendo com estes uma relação de exterioridade e de não
pertencimento enquanto um segmento desta mesma classe.

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Verifica‑se a mesma tendência no debate sobre a saúde do trabalhador.


De modo geral, as pesquisas e análises sobre trabalho e saúde, ou mais
propriamente sobre o adoecimento dos trabalhadores decorrente das condições
em que realiza seu trabalho, são relações problematizadas a partir da sua
incidência na classe trabalhadora, não incluído aí o assistente social como sujeito
vivo do trabalho social, sendo quase inexistentes estudos e pesquisas que tomam
como objeto os próprios profissionais que sofrem e adoecem a partir do cotidiano
de seu trabalho e da violação de seus direitos.
Então esta é uma primeira pontuação importante e que remete ao
próprio reconhecimento do assistente social como trabalhador assalariado e as
dificuldades para aprofundar a análise do conjunto de implicações decorrentes
dessa relação no estágio atual do capitalismo contemporâneo, diante dos
impactos sobre o trabalho, os trabalhadores e seus direitos.
Portanto, problematizar a violação dos próprios direitos dos assistentes
sociais, na relação com a violação dos direitos dos trabalhadores, requer a
definição de uma agenda de questões específicas conectada às lutas gerais da
classe trabalhadora no tempo presente.
Exige uma pauta mais ampliada, que inclui a organização e as lutas
sindicais e trabalhistas, mas também o enfrentamento das dimensões complexas
envolvidas nos processos e relações de trabalho nos quais os assistentes sociais
estão inseridos.
Os dilemas da alienação são indissociáveis do trabalho assalariado e
incidem no exercício profissional do assistente social de diferentes modos,
dependendo de quem são seus empregadores - o Estado, a empresa privada, as
ONGs, as entidades filantrópicas, os organismos de representação política e da
organização e gestão dos processos e relações de trabalho nos diferentes espaços
sócio ocupacionais onde realizam sua atividade.
Se o Serviço Social foi regulamentado historicamente como profissão
liberal, o seu exercício se realiza mediatizado por instituições públicas e privadas,
tensionado pelas contradições que atravessam as classes sociais na sociedade do
capital e pela condição de trabalhador assalariado, cuja atividade é submetida a
normas próprias que regulam as relações de trabalho.
Portanto, na assertiva reflexão de Iamamoto (2009a), fazer a passagem da
análise da instituição Serviço Social para a problematização do processamento
concreto e cotidiano do trabalho do assistente social, em suas múltiplas
dimensões, agrega um complexo de novas determinações e mediações que põem
em relevo as contradições entre a direção social que o assistente social pretende
imprimir ao seu trabalho e as exigências impostas pelos empregadores aos
trabalhadores assalariados.

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“Em outros termos, estabelece‑se a tensão entre projeto ético‑político e


alienação do trabalho, indissociável do estatuto assalariado” (Iamamoto, 2009a,
p. 39).
Essa é uma segunda questão a ser pontuada e que remete ao debate do
assistente social como trabalhador assalariado e à questão da autonomia relativa
desse profissional.
O trabalho profissional, na perspectiva do projeto ético‑politico, exige
um sujeito profissional qualificado capaz de realizar um trabalho complexo,
social e coletivo, que tenha competência para propor, negociar com os
empregadores privados ou públicos, defender projetos que ampliem direitos das
classes subalternas, seu campo de trabalho e sua autonomia técnica, atribuições
e prerrogativas profissionais.
Isto supõe muito mais do que apenas a realização de rotinas institucionais,
cumprimento de tarefas burocráticas ou a simples reiteração do instituído.
Envolve o assistente social como intelectual capaz de realizar a apreensão
crítica da realidade e do trabalho no contexto dos interesses sociais e da
correlação de forças políticas que o tencionam; a construção de estratégias
coletivas e de alianças políticas que possam reforçar direitos nas diferentes
áreas de atuação (Saúde, Previdência, Assistência Social, Judiciário,
organizações empresariais, ONGs etc.), na perspectiva de ampliar o
protagonismo das classes subalternas na esfera pública.
Exige, portanto, um conhecimento mais amplo sobre os processos de
trabalho, os meios de que dispõem o profissional para realizar sua atividade, a
matéria sobre a qual recai a sua intervenção, e também um conhecimento mais
profundo sobre o sujeito vivo responsável por esse trabalho, que é o próprio
profissional.

Mas quem é o assistente social hoje? Quem é à força de trabalho


em ação, o elemento vivo e subjetivo do processo de trabalho
profissional, nos termos de Marx (1968)?

Como já observado, ainda que o Serviço Social tenha sido reconhecido


como “profissão liberal” nos estatutos legais e éticos que definem a autonomia
teórico‑metodológica, técnica e ético‑política na condução do exercício
profissional, o trabalho do assistente social é tensionado pela relação de
compra e venda da sua força de trabalho especializada.
A condição de trabalhador assalariado - seja nas instituições públicas
ou nos espaços empresariais e privados sem fins lucrativos, faz com que os
profissionais não disponham nem tenham controle sobre todas as condições e os
meios de trabalho postos à sua disposição no espaço institucional.

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São os empregadores que fornecem instrumentos e meios para o


desenvolvimento das tarefas profissionais, são as instituições empregadoras que
têm o poder de definir as demandas e as condições em que deve ser exercida a
atividade profissional: o contrato de trabalho, a jornada, o salário, a intensidade,
as metas de produtividade.
Esses organismos empregadores, estatais ou privados, definem
também a matéria (objeto) sobre a qual recai a ação profissional, ou seja,
as dimensões, expressões ou recortes da questão social a serem trabalhadas, as
funções e atribuições profissionais, além de oferecerem o suporte material para
o desenvolvimento do trabalho — recursos humanos, técnicos, institucionais e
financeiros, decorrendo daí tanto as possibilidades como os limites à
materialização do projeto profissional.
Os demais meios de trabalho - conhecimentos e habilidades profissionais
- são propriedade do assistente social, mas cujas possibilidades de pleno
desenvolvimento também são condicionadas por um conjunto de determinações
que, não sendo externas ao trabalho, incidem diretamente no cotidiano
profissional e na atividade do sujeito vivo, e que vai desde o recorte de classe,
gênero, raça, etnia, passando pelos traços de subalternidade da profissão, sua
herança cultural católica, entre outros.
Ao mesmo tempo, para além das dimensões objetivas que conferem
materialidade ao fazer profissional, é preciso considerar também as dimensões
subjetivas, ou seja, identificar “o modo pelo qual o profissional incorpora na sua
consciência o significado do seu trabalho, as representações que faz da profissão,
as justificativas que elabora para legitimar a sua atividade — que orientam a
direção social que imprime ao seu exercício profissional” (Raichelis, 2010, p.
752).

O trabalho do assistente social é, nesses termos, expressão de um


movimento que articula conhecimentos e luta por espaços no mercado de
trabalho; competências e atribuições privativas que têm reconhecimento legal
nos seus estatutos normativos e reguladores (Lei de Regulamentação
Profissional, Código de Ética, Diretrizes Curriculares da formação
profissional), cujos sujeitos que a exercem, individual e coletivamente, se
subordinam às normas de enquadramento institucional, mas também se
organizam e se mobilizam no interior de um movimento dinâmico e dialético de
trabalhadores que repensam a si mesmos e a sua intervenção no campo da ação
profissional.
É nesse processo tenso que as profissões constroem seus projetos
profissionais coletivos, no nosso caso, o projeto ético‑político profissional que

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há pelo menos três décadas vem sendo posto em marcha coletivamente pelo
Serviço Social brasileiro.
E é esse projeto que entra em permanente tensão e contradição com o
estatuto de trabalhador assalariado do assistente social, especialmente em
tempos de financeirização e de capital fetiche (Iamamoto, 2007).

A própria implementação das políticas sociais também é um jogo


complexo de conflitos e tensões, que envolve diferentes protagonistas,
interesses, projetos e estratégias, onde são requisitadas a presença e a
intervenção de diferentes categorias profissionais, que disputam espaços
de reconhecimento e poder no interior do aparelho institucional. (Raichelis,
2010, p. 755.

Nesses termos, a análise das políticas sociais e dos espaços ocupacionais


nos quais se inserem os assistentes sociais não pode ser apreendida de modo
linear e determinista, ainda mais considerando as formas de enfrentamento do
capital às suas crises de acumulação, que aprofundam e agravam as expressões
da questão social, mas também desencadeiam respostas da sociedade e do
conjunto da classe trabalhadora em seu movimento de resistência e defesa de
direitos conquistados historicamente.

DIVISÃO SÓCIO-TÉCNCA DO TRABALHO


SERVIÇO SOCIAL
O serviço social se gesta e se desenvolve como profissão reconhecida na
divisão sócio e técnica do trabalho, tendo como pano de fundo o
desenvolvimento capitalista industrial e a expansão urbana, processo
aqui apreendido sob o ângulo das novas classes sociais emergentes – a
constituição e expansão do proletariado e a burguesia industrial.
DEMANDADS QUE SE MODIFICAM HISTORICAMENTE
 NOVAS COMPETENCIAS PROFISSSIONAIS
 ATUAÇÃO NAS LACUNAS DEIXADAS PELA RELAÇÃO CAPITAL -
TRABALHO
 INTERVENÇÃO DE UM CONTEXTO DE CRISE DO CAPITALISMO E DOS
SEUS PROJETOS ALTERNATIVOS

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O SERVIÇO SOCIAL É UMA PROFISSÃO INSERIDA NA DIVISÃO SÓCIO


TÉCNICA DE TRABALHO, CARACTERIZANDO POR SUA DIMENSÃO
ESSENCIALMENTE PROPOSITIVA E INVESTIGATIVA, ATENDENDO
DEMANDAS QUE MUDAM HISTÓRICAMENTE, DETERMINANDO-LHES
NOVAS COMPETÊNCIAS.

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1-CESPE/UnB/TJSE/2014. No que tange às áreas e demandas profissionais


do assistente social, julgue os itens subsequentes.
1- Na esfera judiciária, os assistentes sociais são chamados a intervir, de forma
decisiva, no encaminhamento e na definição e aplicação de sentenças relativas à
violação de direitos.
2- O trabalho do assistente social na área sócio jurídico se restringe àquele
desenvolvido no interior das instituições estatais que formam o sistema de
justiça, ou seja, o Ministério da Justiça e as secretarias de justiça dos estados. 3-
A ampliação das possibilidades e demandas de atuação profissional do assistente
social tem ocorrido de forma desordenada e carente de amparo legal que as
legitime.
4- A centralidade da questão social como matéria do serviço social permite que
se considere a inserção profissional do assistente social nos Poderes Legislativo
e Judiciário, haja vista essas esferas não possuírem função executiva das políticas
sociais públicas.

2- CESPE/UnB/TJSE/2014. Com referência às diversas possibilidades, áreas


e demandas profissionais do assistente social, julgue os itens seguintes.
1- Novas possibilidades e demandas profissionais do assistente social estão
relacionadas à reestruturação de processos de trabalho e à tendência de
deslocamento das ações governamentais, o que ocorre devido à descentralização
das políticas sociais.
2- Novas demandas profissionais e dos espaços ocupacionais são determinadas
pelo movimento de reconceituação, o qual é responsável pelo fortalecimento do
serviço social tradicional.
3- Novas possibilidades e demandas de atuação profissional estão diretamente
relacionadas à tomada de posição expressa nos textos do Seminário de Araxá,
que marca o processo de renovação do serviço social.

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3-TRF3R-FCC-2014. Ao abordar o Serviço Social no processo de reprodução das


relações sociais parte-se da compreensão de que o significado social da profissão
é desvendado por meio de sua inserção na sociedade. Nessa linha, é correto
afirmar:
(A) Esta inserção parte de suas demandas, tarefas e atribuições que permitem,
por si mesmas, desvendar a lógica da profissão e que dão sentido ao fazer
profissional.
(B) O Serviço Social participa tanto do processo de reprodução dos interesses de
preservação do capital, quanto das respostas às necessidades de sobrevivência
dos que vivem do trabalho. Não se trata de uma dicotomia, mas do fato de que
ele não pode eliminar essa polarização de seu trabalho.
(C) A prática do assistente social não pode ser polarizada pelos interesses de
classes sociais, pois no processo de reprodução das relações sociais, ao
profissional cabe dar as respostas adequadas para a preservação do capital, de
modo que este consiga atender as necessidades sociais.
(D) A atuação do assistente social deve ser guiada, sobretudo pela dimensão
subjetiva, ou seja, depende do modo como o profissional constrói sua
intervenção, atribui-lhe significado, confere-lhe finalidades e uma direção social.
(E) O profissional deve ter consciência que no processo de institucionalização de
legitimação da profissão, não participa do processo de reprodução dos interesses
de preservação do capital e sim, das respostas às necessidades de sobrevivência
dos que vivem do trabalho.

4. TRF3R-FCC-2014. O conteúdo socioeducativo do Serviço Social relaciona-se


à participação da profissão no processo de reprodução das classes sociais no
interior da divisão social do trabalho. Nessa perspectiva, as ações socioeducativas
junto às famílias, aos indivíduos e aos grupos envolvem
(A) grupalização dos problemas e apoio mútuo.
(B) formulação de estratégias coletivas e ajuste de condutas.
(C) articulação de ações socioassistenciais e socialização de informações.
(D) mediação de conflitos e inserção laboral.
(E) investigação diagnóstica e oferta de serviço.

Letra C

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5- TRF3R-FCC-2014. O Assistente Social precisa romper com a visão endógena,


focalista, uma visão interna do Serviço Social, prisioneira em seus próprios muros
e...................................................................................................
Analise as afirmativas a seguir e assinale a alternativa correta que
preencha a lacuna.
A) Como trabalho não supõe privilegiar a produção e reprodução da vida social,
como determinantes na constituição da materialidade e da subjetividade das
classes que vivem do trabalho.
B) Limita - se as suas qualificações e funções profissionais, dentro das rotinas
institucionais.
C) Não entender a profissão hoje como tipo de trabalho na sociedade, ou melhor,
uma especialização do trabalho, pois não é uma profissão particular inscrita na
divisão social e técnica do trabalho coletivo da sociedade.
D) Olhar para o movimento das classes sociais e do Estado em suas relações com
a sociedade.

Letra D

6-AHS/USCS/AOCP/2013. Em 1965 ocorreu o I Seminário Regional Latino-


Americano de Serviço Social, realizado em Porto Alegre (RS). Sobre o
desencadeamento do evento na profissão é correto afirmar:
A) Desencadeou o Movimento de Araxá na América Latina e no Brasil.
B) Desencadeou o Movimento de Teorização no Brasil.
C) Desencadeou o Movimento Estudantil no Brasil.
D) Desencadeou o Movimento de Reconceituação na América Latina e no Brasil.

7- AHS/USCS/AOCP/2013. O Seminário de Teresópolis realizado em 1970 por


Assistentes Sociais, em Teresópolis (RJ), foi um seminário para estudar a (o)
_______________________. O evento foi idealizado para ser uma continuidade
do histórico "Seminário de Teorização do Serviço Social", realizado em Araxá
(MG), em 1967.
A) Objeto do Serviço Social.
B) Metodologia do Serviço Social.
C) A ética do Serviço Social.
D) Política da prática profissional.

Letra B

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8- CESPE. Acerca da institucionalização do serviço social e do movimento de


reconceituação na América Latina, julgue os itens a seguir.
1. As conquistas do movimento de reconceituação incluem o foco no pluralismo
profissional, conceito que rompeu com a ideia de que a identidade do serviço
social tem como base a homogeneidade das práticas profissionais.
2. A institucionalização do serviço social como profissão foi influenciada pelo
desenvolvimento capitalista e pela expansão urbana, processos marcados pela
constituição e expansão do proletariado e da burguesia industrial na América
Latina.
3. O processo de desgaste das práticas tradicionais do serviço social está
relacionado a particularidades do contexto político-social dos países latino-
americanos, a exemplo do Brasil.
4. Entre as indagações que suscitaram o movimento de reconceituação inclui-se
o questionamento sobre a necessidade de adequação dos procedimentos
realizados pelos profissionais da área às demandas de cada contexto regional e
nacional.
5. O marco da renovação do serviço social brasileiro foi a edição do Código de
Ética da profissão, aprovado no III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais,
que ficou conhecido como o Congresso da Virada.

1 2 3 4
1,2,3 1 B C
ERRADAS CERTA
2,3 ERRADAS

5 6 7 8
D B B 1,2,4
CERTA
3,5
ERRADAS

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Aula 01 – História e Constituição da Categoria Profissional.

QUESTÕES DE PROVAS – EBSERH

1- EBSERH/HU-UFG/AOCP/2015. QUESTÃO 26. Preencha as lacunas e


assinale a alternativa correta. A origem do Serviço Social como profissão tem,
pois, a marca profunda _________________e de seu conjunto de variáveis –
_________________, ________________ e _____________ –,
(A) do capitalismo / a alienação / a contradição / o antagonismo
(B) da democracia / a liberdade / o direito /
(D) do trabalho / o mercado / o capital / a alienação
(E) da corrupção / a mentira / o benefício próprio / o enriquecimento ilícito

Gabarito: letra A

2-EBSERH/HU-UFG/AOCP/2015. QUESTÃO 27 O movimento de


reconceituação do Serviço Social na América Latina teve lugar no período de 1965
a 1975, impulsionado pela intensificação das lutas sociais que se refratavam na
Universidade, nas Ciências Sociais, na Igreja, nos movimentos estudantis, dentre
outras expressões. Sobre esse movimento, assinale a alternativa INCORRETA.
(A) Ele expressa um amplo questionamento da profissão (suas finalidades,
fundamentos, compromissos éticos e políticos, procedimentos operativos e
formação profissional), dotado de uma única vertente – a marxista.
(B) Assentava-se na busca da construção de um Serviço Social latino-americano,
na recusa da importação de teorias e métodos alheios à nossa história.
(C) Era comprometido com as lutas dos “oprimidos” pela “transformação social”
e no propósito de atribuir um caráter científico às atividades profissionais.
(D) Denunciava a pretensa neutralidade político ideológica, a restrição dos efeitos
de suas atividades aprisionadas em micro espaços sociais e a debilidade teórica
no universo profissional.
(E) Os assistentes sociais assumem o desafio de contribuir na organização,
capacitação e conscientização dos diversos segmentos

Gabarito: letra A

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3- EBSERH/HU-UFG/AOCP/2015. QUESTÃO 44. Assinale a alternativa que


apresenta uma das características do positivismo.
(A) Os contrários estão inseparavelmente ligados.
(B) A realidade é concebida em sua totalidade – onde tudo se relaciona com tudo
e se transforma.
(C) A pessoa humana é portadora de valor soberano.
(D) Descobrir as relações entre as coisas, sem julgamentos.
(E) Deus é fonte de todos os seres.

Gabarito: letra D

4- EBSERH/HU/FURG/IBFC. QUESTÃO 40. Paulo Netto (2001) analisa uma


série de eventos que resultaram na constituição do serviço Social. Conforme o
autor, a instituição do Serviço Social no Brasil decorreu de um fato específico
que, está expresso em uma das afirmativas abaixo. Analise as afirmativas e
selecione apenas a que possui correspondência com o pensamento desse autor
no que tange ao surgimento da profissão.
A) O surgimento do Serviço Social como profissão decorreu do estabelecimento
das condições históricas-sociais que demandam pelo Assistente Social,
configuradas na emersão do mercado de trabalho.
B) O surgimento do serviço Social como profissão só foi possível em decorrência
do desenvolvimento e evolução das formas de ajuda constituídas pela caridade
privada no Brasil.
C) No Brasil, o Serviço Social só se constituiu como profissão em virtude do
esforço da Igreja Católica para tal finalidade.
D) Um dos eventos que demarcou a constituição do serviço Social profissional no
Brasil foi a criação da primeira escola em Minas Gerais, no ano de 1936.
E) O surgimento do Serviço Social no Brasil decorreu na necessidade de conferir
um caráter científico a filantropia.

Gabarito: Letra A

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5- EBSERH/HU/FURG/IBFC. QUESTÃO 41.Movimento de Reconceituação do


serviço social no Brasil assumiu, como sabemos três posições distintas sendo
essas: modernizadora, intenção de ruptura e reatualização do conservadorismo.
De acordo com Paulo Netto (2009) cada uma dessas posições possuía
especificidade e particularidades. Com base na análise do autor, avalie as
afirmativas abaixo:
I- A perspectiva modernizadora entendia o Serviço Social como um
instrumento profissional de suporte a políticas de desenvolvimento
executadas no Brasil.
II- Uma das especificidades da perspectiva denominada reatualização do
conservadorismo é a exigência e a valorização enérgicas da elaboração
teórica.
III- A perspectiva de intenção de ruptura, reafirma a necessidade dos
substratos positivistas e neopositivistas comuns a profissão desde suas
protoformas iniciais.
IV- A perspectiva de intenção de ruptura, no momento de sua emersão,
aproxima-se da tradição marxista especialmente pelo viés posto pela
militância política.
V- A basal peculiaridade da perspectiva modernizadora é o estímulo à
militância política dos Assistentes Sociais.
Corresponde ao Pensamento de Paulo Netto (2009):
a) As afirmativas III, IV e V.
b) As afirmativas II, III e IV
c) As afirmativas I, II e IV
d) As afirmativas I, II e V
e) As afirmativas II, III e V

Gabarito: Letra B

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6- EBSERH/HU-FURG/IBFC/2015.QUESTÃO 45. Iamamoto; Carvalho (2001)


realizam uma análise do desenvolvimento histórico do Serviço Social no Brasil e,
nesse estudo abordam ainda o surgimento das primeiras instituições
assistenciais, dentre as quais, a legião Brasileira de Assistência – LBA. De acordo
com os estudos dos autores, avalie as afirmativas abaixo acerca dessa instituição
assistencial.
I. A partir de um acontecimento de grande impacto emocional, a LBA
procurará granjear e canalizar apoio político contrário ao governo,
movimentando assim sua ação assistencialista.
II. A Legião Brasileira de Assistência foi organizada sobre uma estrutura
nacional composta apenas por órgãos centrais estaduais e sem
equipamentos focalizados nos municípios.
III. O objetivo da Legião Brasileira de Assistência era o de prover as
necessidades das famílias cujos chefes haviam sido mobilizados, e, ainda,
prestar decidido concurso público.
IV. A Legião Brasileira de assistência surgiu a partir da iniciativa de particulares
logo emcampada e financiada pelo governo, contando também com o
patrimônio de grandes corporações patronais e o concurso de senhoras da
sociedade.
V. O surgimento da LBA, terá, de imediato, um amplo papel de mobilização
da opinião pública para apoio ao “esforço de guerra” promovido pelo
governo, e consequentemente ao próprio governo ditatorial.
Estão corretas:
A) as afirmativas III, IV e V.
B) as afirmativas I, IV e V
C) as afirmativas I, II e III
D) as afirmativas I, II e V
E) as afirmativas II, III e IV

Gabarito: letra A

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GABARITO - EBSERH
1A 2A 3D

4A 5B 6A

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Bibliografia.

IAMAMOTO, Marilda Vilela e CARVALHO, Raul de. Relações Sociais e Serviço


Social no Brasil: esboço de uma interpretação histórico-metodológica. 2a. Ed.
São Paulo: Cortez, 1983.

IAMAMOTO, Marilda Vilela. CARVALHO, Raul. Relações sociais e serviço social


no Brasil: esboço de uma interpretação histórico-metodológica. 10 ed. São
Paulo: Cortez; CELATS, 1995. pp. 71 a 105. Faça uma leitura completa das
páginas indicadas.

NETTO, J. P. Ditadura e Serviço Social: uma análise do Serviço Social no Brasil


pós - 64. 8ª ed. São Paulo: Cortez, 2005, pp. 113 a 164.

RAUCHELIS, Raquel. O assistente social como trabalhador assalariado: desafios


frente às violações de seus direitos.
Acesse: http://bit.ly/1ZLNL69

SOUSA, Marciela Rocha. SERVIÇO SOCIAL E O EXERCÍCIO PROFISSIONAL:


desafios e perspectivas contemporâneas.
Acesse: http://bit.ly/1ZxYhTQ

VILELA, Marilda. Renovação e conservadorismo no serviço social. Capítulo II. 3ª


ed. São Paulo: Cortez, 1995. pp. 98 a 100. Faça uma leitura das páginas
indicadas.

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Vamos seguir em frente. Até a próxima aula.


Foco, força e fé.

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