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ITALO SANTIROCCHI
Matricula: 152774
OS ULTRAMONTANOS NO BRASIL
E O REGALISMO DO SEGUNDO IMPÉRIO (1840-1889)
———————————————————————
OS ULTRAMONTANOS NO BRASIL
E O REGALISMO DO SEGUNDO IMPÉRIO (1840-1889)
Sob a direção:
Professor ALBERTO GUTIÉRREZ
e
Professor DILERMANDO RAMOS VIEIRA
Roma 2010
Agradeço sobretudo a Deus!
DEDICO esta tese aos meus pais:
Francisco Santirocchi (1928-1997)
Wilma Vitória Domingos Santirocchi
Tudo o que consegui devo a vocês!
PRESSUPOSTOS HISTÓRICOS
as terras viciosas/ De África e de Ásia andaram devastando;/ E aqueles, que por obras
valerosa/ Se vão da lei da morte libertando;/ Cantado espalharei por toda parte,/ Se a
tanto me ajudar o engenho e arte. [L. V. CAMÕES, Os Lusíadas, I, 3].
6
O abuso dos direitos de padroado e a invasão do poder secular em esferas
consideradas de jurisdição espiritual, que tanto qualificaram o regalismo, serão
analisados ainda neste capitulo [ndr.].
7
T. AZEVEDO, A religião civil brasileira, 43.
14 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
vigoroso ataque aos jesuítas, seus adversários; mas, isso não impediu que a situação dos
jansenistas se agravasse. Luis XIV viu no jansenismo uma ameaça à unidade do Estado
e ordenou a dissolução da abadia das religiosas de Port-Royal, ordenando que a inteira
construção fosse arrasada em 1709. Enquanto isso, o jansenismo ia assumindo cada vez
mais o comportamento de um partido político-religioso de oposição, sobretudo a partir
de 1684, sob a direção do Oratoriano Pascásio Quesnel. A bula Unigenitus (1713), que
condenou cento e uma proposições extraídas das Reflexiones Morales de Quesnel não
conseguiu abrandar o conflito e numerosos membros do clero pediram ao Papa a
convocação de um concilio geral. Pouco a pouco, o jansenismo, no século XVIII, ligou-
se ao galicanismo, conseguindo penetrar na Itália, na Holanda, e em Portugal. [G.
MARTINA, Storia della Chiesa, II, 209-251.111-113; D. G. VIEIRA, O protestantismo, a
maçonaria e a Questão Religiosa, 29-32; K. SCHATZ, Storia della Chiesa, III, 7-8].
22
Doutrina exposta por Justinus Febronius (pseudônimo de Johann Nikolaus Von
Honthein), prelado católico alemão (Trier 1701 – Luxemburgo 1790). Assessor
concistorial e professor universitário desde 1748, foi também bispo coadjutor de Trier.
Tornou-se conhecido por sua obra de direito eclesiástico De Statu Ecclesiae et de
potestate legitima Romani Pontificis (Sobre o estado da Igreja e o legítimo poder do
Pontífice Romano – 1763), na qual defendia a volta aos princípios do Concílio de
Basiléia (século XV), isto é, a superioridade do concílio geral sobre o Papa. Ou seja,
pregou o episcopalismo, uma maior autonomia das igrejas nacionais, e colocou em
questão a identidade entre primado eclesiástico e bispado romano. Na sua opinião, o
curialismo seria um dos principais obstáculos para a reunião com os protestantes. O
livro mereceu condenação pontifícia por Clemente XIII (1764), mas a retratação só foi
exigida em 1778. Apesar disso, Febronius manteve muitas de suas concepções, fruto do
racionalismo, influenciando a política eclesiástica na Espanha, Portugal, Alemanha,
Veneza, Nápoles e Áustria. Nesta última inspirou a política religiosa de José II, também
conhecida como josefinismo, ou josefismo [G. MARTINA, Storia della Chiesa, II, 268-
270; K. SCHATZ, Storia della Chiesa, III, 10].
23
Política religiosa inaugurada pelo Imperador germânico José II e praticada por
certos príncipes católicos do século XVIII, adeptos do despotismo esclarecido.
Caracterizou-se pela intervenção do príncipe na disciplina interna da Igreja nacional, a
fim de enfraquecer a soberania pontifícia. Seu princípio fundamental era: «A Igreja esta
no Estado, e não o Estado na Igreja – La chiesa è nello stato, non lo stata nella Chiesa».
Ou seja, o Estado buscava uma soberania total não tolerando nenhum poder concorrente
por parte da Igreja ou do clero. Vale dizer: não queria um «Estado dentro do Estado».
[K. SCHATZ, Storia della Chiesa, III, 8-9; G. MARTINA, Storia della Chiesa, II, 193].
24
Doutrina católica francesa caracterizada por um predomínio do Estado sobre a
Igreja Católica, com marcado sentimento nacional, tendo por isso forte repercussão
política. Seus adversários, defensores do primado pontifício, receberam a designação de
«ultramontanos» e sua escola de pensamento, «ultramontanismo». Em Portugal, na
Espanha e no Brasil, os movimentos influenciados pelo galicanismo receberam o nome
de regalismo. Formulado pelos legisladores de Felipe o Belo, o galicanismo
desencadeou, pela primeira vez, um grave conflito entre a França e o Papa Bonifácio
20 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
VIII (1303). Desse conflito, o poder pontifício saiu enfraquecido. A Igreja francesa
proclamou as liberdades galicanas (1407) e reforçou sua autonomia. Pela Pragmática
Sanção de Bourges (1438), Carlos VII tornou-a praticamente independente de Roma.
Luís XI, em 1462, e Luiz XII, em 1510, renovaram o apoio às liberdades galicanas. A
concordata assinada entre Leão X e Francisco I (1516) foi a Carta da Igreja galicana até
1790; o rei detinha a autoridade temporal sobre o clero ao nomear bispos e abades (aos
quais o Papa concedia apenas investidura canônica), e usufruía a seu critério dos
benefícios. Era o galicanismo regalista. A fim de defender sua autonomia, o clero
francês reivindicou as liberdades galicanas, que foram precisadas pelos juristas. Essas
teses terminaram por gerar a Declaração dos quatro artigos sobre o poder eclesiástico e
o poder secular, melhor conhecido como os quatro artigos galicanos, apresentada por
Bossuet na assembléia do clero em 1682. Diante da oposição do Papa, Luís XIV teve de
retirar a Declaração do ensino dos Seminários. O galicanismo posteriormente serviu de
inspiração para a Constituição civil do clero (1790), produto da Revolução Francesa,
verdadeiro estatuto da igreja galicana. A condenação do galicanismo institucional por
Pio VI (1791) terminou pela cisão do clero em jurados (aqueles que juraram a
Constituição Civil do Clero) e refratários (aqueles que não juraram tal constituição), e
pela separação entre o Estado e a Igreja (1794). A concordata de 1801, mesmo impondo
unilateralmente os artigos galicanos por Bonaparte, devolveu ao Papa o controle do
clero, isto levou a um enfraquecimento do galicanismo que agonizou até 1870, ocasião
em que a proclamação da infalibilidade pontifícia assinalou o triunfo do
ultramontanismo. A separação entre a Igreja e o Estado (1905) assegurou a Roma o
controle da Igreja na França [G. MARTINA, Storia della Chiesa, II, 259-275; D. G.
VIEIRA, O protestantismo, a maçonaria e a Questão Religiosa, 28-29; K. SCHATZ,
Storia della Chiesa, III, 9.19-20.74-76].
25
A. WERNET, A Igreja Paulista no século XIX, 31.
26
Antônio Genovesi (1713-1769), conhecido em Portugal e no Brasil como
Genuense, sacerdote italiano, ordenado em 1737, foi desde os começos da década de
1740, professor na Universidade de Nápoles. O Pensamento de Genovesi foi estudado
por G. C. Braga, que procurou mostrar que Genovesi incorporou certas idéias do
CAP. I: PRESSUPOSTOS HISTÓRICOS 21
—————————–
36
O. OLIVEIRA, Os dízimos eclesiásticos do Brasil, 41-42.
37
O Infante D. Henrique (1394-1460), o Navegador, Príncipe português da Dinastia
de Avis, Mestre da Ordem de Cristo e 1º. Duque de Viseu, era filho de D. João I e da
Rainha D. Filipa de Lancastre. Participou da expedição que seu pai empreendeu para a
Conquista de Ceuta (1415), cidade onde foi armado Cavaleiro com dois seus irmãos.
Regressando dessa campanha, estabeleceu-se no extremo sudoeste do continente
europeu, em Sagres, próximo ao Cabo de São Vicente, onde fundou a «Terça Naval»,
reunindo famosos geógrafos, nautas, astrônomos, matemáticos, tendo constituído o que
se convencionou chamar de «Escola de Sagres». Diz-se que aprendeu também o árabe e
adquiriu grande quantidade de cartas, roteiros e livros de valor para a empresa que ia
cometer e que consistia no descobrimento gradativo da costa e do interior da África, não
só para o estabelecimento de relações comerciais úteis a Portugal, como também para a
conversão à fé cristã dos naturais daquele continente. O conhecimento formado na
Escola de Sagres permitiu a Portugal o «descobrimento» do Brasil [NDHB, 329-330].
38
O. OLIVEIRA, Os dízimos eclesiásticos do Brasil, 42.
39
C. M. ALMEIDA, Direito Civil Eclesiástico Brasileiro, I, parte II, 362.
CAP. I: PRESSUPOSTOS HISTÓRICOS 25
9 de janeiro de 1442, pelo Papa Eugênio IV, com a bula Etsi suscepti40. Em
7 de junho de 1454, o rei doou à Ordem de Cristo, para sempre, o domínio
espiritual das terras do Ultramar conquistadas e por conquistar. O termo de
doação, no tocante ao prosseguimento da conquista de algumas regiões da
África, afirmava:
Pareceu-nos a ela [à Ordem de Cristo] pertencer à espiritualidade das terras
conquistadas [...] queremos e outorgamos quanto com direito podemos, que a
dita Ordem de Jesus Cristo, o dito Infante e pelos administradores que depois
dele vierem, para todo sempre haja daquelas próprias costas, ilhas, terras
conquistadas e por conquistar aos Sarracenos [...] a nos praz, porém, de
notificar ao dito Santo Padre este nosso aprazamento e sentimento, e de
suplicar mui humildemente a Sua Santidade, que o queira assim outorgar41.
O Papa Calisto III (1378-1458), em 13 de março de 1455, pela bula Inter
caetera quae42, atendendo aos pedidos feitos pelos reis D. Duarte, D.
Afonso V e pelo Infante D. Henrique, concedeu ao Grão-Mestre jurisdição
ordinária episcopal, como Prelado «nullius dioecesis», com sede no
convento de Tomar, «em todas as terras ultramarinas conquistadas e por
conquistar». Este documento pontifício confirmava a bula de Nicolau V,
Romanus Pontifex43, de 8 de janeiro de 1454, que por sua vez, afirmara o
domínio temporal dos reis portugueses nas terras de conquistas
ultramarinas44.
Após o falecimento do Infante D. Henrique (1394-1460), por meio do
seu testamento publicado em 18 de setembro de 1470, devolveu-se o
domínio temporal à Coroa Portuguesa, de quem havida sido o donatário. O
padroado, ele deixou sob o controle da Ordem de Cristo, pois fora seu
Grão-Mestre por longo tempo. Para isso pediu, como mandava o costume,
o beneplácito à Santa Sé. A jurisdição espiritual da Ordem de Cristo sobre
as terras ultramarinas foi posteriormente confirmada pelo Papa Sisto IV
—————————–
40
C. WITTE, «Les bulles pontificales et l’expansion portugaise», XLVIII, 715-718.
41
«Termo de doação de D. Afonso V» em C. M. ALMEIDA, Direito Civil Eclesiástico
Brasileiro, I, parte II, 362.
42
Bullarium Patronatus Portugalliae Regum, I, 36. Existem divergências entre os
vários autores que analisam as datas das bulas relacionadas ao padroado português. Isso
acontece devido em grande parte às diferenças dos diversos calendários usados nos
períodos em que foram redigidas. As datas aqui apresentadas são aquelas que constam
no Bullarium Romanum ou no Bullarium Patronatus Portugalliae Regum [ndr.].
43
Bullarium Romanum, V, 110-115; Bullarium Patronatus Portigalliae Regum, I,
31-34.
44
O. OLIVEIRA, Os dízimos eclesiásticos do Brasil, 46 nota 8. 47; «Aeterni Regis
Clementia» em C. M. ALMEIDA, Direito Civil Eclesiástico Brasileiro, I, parte II, 401.
26 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
45
Bullarium Patronatus Portugalliae Regum, I, 47-52.
46
O. OLIVEIRA, Os dízimos eclesiásticos do Brasil, 47.
47
Bullarium Patronatus Portugalliae Regum, I, 100-101.
48
P. F. S. CAMARGO, História eclesiástica do Brasil, 268.
49
Bullarium Patronatus Portugalliae Regum, I, 106-107
50
O. OLIVEIRA, Os dízimos eclesiásticos do Brasil, 47 nota 9.
51
Bullarium Romanum, VI, 446-453; Bullarium Patronatus Portugalliae Regum, I,
180-185.
52
C. M. ALMEIDA, Direito Civil Eclesiástico Brasileiro, I, parte I, 253-254.
CAP. I: PRESSUPOSTOS HISTÓRICOS 27
«na mão do Governo menos uma garantia ou defensão [sic.] para a Igreja,
que uma ameaça ou servidão»53.
Cândido Mendes prossegue sua análise, acrescentando que o direito do
padroado régio teve sua origem numa bula de duvidosa existência,
supostamente concedida pelo Papa Alexandre VI, em 23 de agosto de 1495,
autorizando o Rei D. Manuel a apresentar os bispos das dioceses que
fundasse. Essa faculdade foi confirmada pelo Papa Leão X, quando
assegurou ao mesmo soberano o padroado ultramarino em 7 de junho de
1514, com a bula Dum Fidei Constantiam54. Segundo Silveira Camargo,
deve-se ter presente que não houve da parte da Igreja abdicação ao Império,
«apenas concessão», de prover os benefícios eclesiásticos nos respectivos
cargos e, para mantê-los, receber os dízimos55.
É assunto complexo este das delimitações dos poderes do padroado, uma
vez que as bulas deixaram margem a exagerados comentários e
interpretações. Certo é que as diversas concessões pontifícias foram
concentradas nas mãos dos reis portugueses e posteriormente transferidas
aos imperadores brasileiros, que também conseguiram a graça de serem
grão-mestres e perpétuos administradores da Ordem de Cristo. Pelo
padroado régio, os reis tinham direito de apresentar os bispos a serem
confirmados pelos Papas, e, pela Ordem de Cristo, receber os dízimos e
nomear outras autoridades eclesiásticas. Teriam também obrigações, como
manter o culto, expandir e defender a fé, zelar pela observância dos
cânones e construir igrejas. Essa última disposição quase nunca foi
cumprida no Brasil, onde a maioria das igrejas foi construída pelos fieis56.
A confusão sobre até onde se estendia o padroado geraria controvérsias
entre regalistas e curialistas. A bula do Papa Calisto III, Inter caetera
quae57, concedeu aos reis portugueses o direito de apresentar seus
candidatos aos benefícios eclesiásticos. Estes deveriam ser confirmados
pelos bispos, no caso das menores dignidades (párocos, cônegos), e pelo
Papa em caso de maior dignidade (bispo). Júlio III, com a bula Praeclara
Charissimi58, ampliou tal faculdade, concedendo o direito de provê-los in
—————————–
53
C. M. ALMEIDA, Direito Civil Eclesiástico Brasileiro, I, parte I, 239 notas (*) e
(**).240.
54
Bullarium Patronatus Portugalliae Regum, I, 98-99; C. M. ALMEIDA, Direito Civil
Eclesiástico Brasileiro, I, parte II, 379.
55
P. F. S. CAMARGO, História eclesiástica do Brasil, 268-269.
56
P. F. S. CAMARGO, História eclesiástica do Brasil, 269.
57
Bullarium Patronatus Portugalliae Regum, I, 36.
58
Bullarium Romanum, VI, 446-453; Bullarium Patronatus Portugalliae Regum, I,
180-185.
28 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
2. O regalismo português
A discordância interpretativa a respeito do termo «regalismo» se
manifesta até mesmo em obras menores. Quatro dicionários populares
consultados a respeito, publicados em épocas e lugares diversos,
manifestam-no de modo evidente, uma vez que três deles apresentaram
definições coincidentes, ao lado de uma muito distinta. Nas três primeiras,
o termo mencionado era assim descrito: Regalismo «sistema dos regalistas
—————————–
59
P. F. S. CAMARGO, História eclesiástica do Brasil, 271.
60
P. F. S. CAMARGO, História eclesiástica do Brasil, 268-269.
CAP. I: PRESSUPOSTOS HISTÓRICOS 29
—————————–
65
Marcus 12:17.
CAP. I: PRESSUPOSTOS HISTÓRICOS 31
A teoria que consiste em afirmar que a Igreja nada tem de comum com o
Estado, arrasta a Escola revolucionária a proclamar a separação absoluta entre
o Estado e a Igreja, e, como conseqüência forçada, o principio de que a
manutenção do Clero, e a conservação do Culto devem ficar a cargo dos Fieis.
O erro que se estriba na afirmação de que a Igreja não tem na terra utilidade
alguma, sendo a negação da própria Igreja, dá em resultado a supressão
violenta da ordem Sacerdotal por um decreto que acha naturalmente sua
sanção numa perseguição religiosa [grifos do original]66.
Segundo tal raciocínio, o «regalismo moderado» foi aquele que existiu
em Portugal até a ascensão de Pombal, sendo o período regido pelo
Marquês, o maior representante do «regalismo conseqüente» na história
portuguesa. De qualquer modo, existiram alguns pontos comuns em todas
as correntes de «regalismo conseqüente», entre os quais a tendência a
valorizar a autoridade dos Príncipes e restringir a do Romano Pontífice nas
coisas sagradas. Isso se manifestou em fórmulas inspiradas em doutrinas
conciliaristas e episcopalistas, que deram azo a contínuas intervenções do
Estado na ambiência eclesiástica, malgrado a eclesiologia tridentina
concebesse a Igreja como sociedade juridicamente perfeita e independente.
Perfeita por ser divina e independente por ser autônoma em relação a
qualquer poder temporal. Segundo pe. Luiz Talassi, a negação dessa
concepção eclesial foi concebida na Idade Moderna de duas maneiras: a)
diretamente, atribuindo aos príncipes civis o direito nas coisas sagradas ou
a respeito das coisas sagradas, segundo a fórmula clássica Ius in sacra, ius
circa sacra; b) indiretamente, diminuindo o poder nativo da Igreja, o que se
fez, ou limitando a autoridade do Pontífice Romano nos negócios temporais
conexos com os espirituais, ou negando a plenitude do poder dos Papas nos
assuntos eclesiásticos de cada nação, quase como se esta plenitude de poder
lesasse os direitos episcopais. Com efeito, diminuída a autoridade do Sumo
Pontífice, seria mais fácil submeter os Superiores Eclesiásticos, existentes
dentro do território da autoridade civil, aos seus pretendidos direitos. O
alvo a atingir era sempre a supremacia do poder espiritual, que o poder
temporal queria dominar67.
Os defensores do regalismo começaram, então, a atuar minando e
enfraquecendo a autoridade do Papa, por meio da defesa do episcopalismo
e de uma maior autonomia das igrejas nacionais. Uma menor influência
romana, uma menor centralização do poder na Cúria, dava ao Estado um
maior poder sobre a hierarquia eclesiástica nacional, já que na maioria dos
—————————–
66
C. M. ALMEIDA, Direito Civil Eclesiástico Brasileiro, I, parte I, 50-51.
67
L. TALASSI, A Doutrina do Pe. Feijó e suas Relações com a Sede Apostólica, 3-6.
32 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
68
P. F. S. CAMARGO, História eclesiástica do Brasil, 264.
69
P. F. S. CAMARGO, História eclesiástica do Brasil, 263-265.
CAP. I: PRESSUPOSTOS HISTÓRICOS 33
—————————–
73
A respeito dos temas citados, consultar as seguintes obras: A. S. P. CARNAXIDE, O
Brasil na administração pombalina; J. F. CARRATO, Igreja, Iluminismo e Escolas
Mineiras Coloniais, K. MAXWELL, Marquês de Pombal; T. BEAL – M. S. CARDOZO, Os
jesuítas, a Universidade de Coimbra e a Igreja brasileira; V. M. T. VALADARES, Elites
Mineiras Setecentistas.
74
A. S. P. CARNAXIDE, O Brasil na administração pombalina, 18-19. 21-40.
75
T. BEAL – M. S. CARDOZO, Os jesuítas, a Universidade de Coimbra e a Igreja
brasileira, 25.
CAP. I: PRESSUPOSTOS HISTÓRICOS 35
—————————–
79
O assunto é amplamente abordado por A. S. P. CARNAXIDE, O Brasil na
administração pombalina.
80
Sobre isso consultar: S. LEITE, História da Companhia de Jesus no Brasil, VII.
81
T. BEAL – M. S. CARDOZO, Os jesuítas, a Universidade de Coimbra e a Igreja
brasileira, 25-26.
82
Antônio Pereira de Figueiredo, nasceu em Vila do Mação, Comarca de Tomar,
falecendo no Convento de Nossa Senhora das Necessidades, dos oratorianos, onde vivia
como hóspede desde 1785. Entrando na Congregação de São Filipe Néri, empregou seu
talento em favor das reformas do Marquês de Pombal. Tanto se dedicou aos afazeres do
Estado que, a conselho do Marquês, deixou os oratorianos e se secularizou. Exímio
latinista, traduziu os Estatutos da reforma de 1772, e engajou-se em disputas teológicas
com os jesuítas e com eclesiásticos da Espanha e da Itália. Deputado da Real Mesa
Censória, foi um dos seus membros mais ativos, demonstrando vasta erudição. Entre
suas obras destacam-se a Tentativa Theológica (Lisboa, 1766), e a Demonstração
Theológica (Lisboa, 1769), duas verdadeiras colunas do regalismo português, além de
uma famosa tradução da Bíblia Sagrada (Lisboa, 1791-1803). [DBP (1858-1914), I,
223-230].
83
Segundo Inocêncio Francisco da Silva, José Clemente foi «Presbítero da
Congregação do Oratório de Lisboa». E acrescenta: «a ser exato o que se lê em uns
brevíssimos apontamentos manuscritos, que a seu respeito e de outros padres
congregados me foram fornecidos por um deles, ainda vivo, o reverendo Vicente
CAP. I: PRESSUPOSTOS HISTÓRICOS 37
Ferreira, deveria ter entrado na dita Congregação em 26 de julho de 1726: mas tudo
induz a crer que houve engano de algarismo, e que o ano verdadeiro seria 1736. É para
admirar o modo como este padre conseguiu salvar a vida por ocasião do terremoto de
1755, achando-se então morador da casa do Espírito Santo de Lisboa [...] José Clemente
foi por muitos anos mestre de Teologia na Congregação, e teve por aluno entre outros o
celebre P. Antônio Pereira de Figueiredo, ao qual assistiu e confortou no derradeiro
transito, como seu confessor que era desde alguns anos. Pouco tempo sobreviveu à
morte do seu discípulo, falecendo com mais de 80 anos na mesma casa de N. S. das
Necessidades a 19 de fevereiro de 1798» [DBP (1858-1914), III, 290-291].
84
Uma prova desta política foram as «instruções secretas» enviadas ao Governador
do Pará e irmão de Pombal, Francisco Xavier de Mendonça Furtado, logo no segundo
ano do seu governo em 1751. Serafim Leite, no seu livro História da Companhia de
Jesus no Brasil, afirma: «o primeiro ato revelador da futura perseguição religiosa no
Brasil está nas Instruções Públicas e Secretas de 31 de Maio de 1751, assinadas pelo
secretário do Ultramar Diogo de Mendonça Corte Real [...] Junto com as instruções
públicas foram outras secretas». [S. LEITE, História da Companhia de Jesus no Brasil,
VII, 338-339].
85
T. BEAL – M. S. CARDOZO, Os jesuítas, a Universidade de Coimbra e a Igreja
brasileira, 27-28.
86
F. ALMEIDA, História da Igreja em Portugal, IV, 227-228.
38 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
era reduzido. Este foi um dos temas abordados por Pereira de Figueiredo na
sua Tentativa teológica, na qual sustentava que os bispos, reassumindo a
«primitiva autoridade», podiam dispensar dos impedimentos de
consangüinidade e afinidade. Zília Osório de Castro salienta que, na mesma
obra, o autor defendia estarem os prelados diocesanos no poder e dever de
dispensar, coincidindo com a orientação da política do Marquês de Pombal,
porque «as alianças dos grandes do Reino são as que enobrecem o mesmo
Reino, e as que conservam a harmonia pública». Daí se conclui que, na
questão das dispensas, estão imbricados elementos religiosos, civis,
políticos e sociais91.
Padre José Clemente (1720-1789), considerado um dos precursores
teóricos do regalismo de Pombal, não chegou a tais extremos. Na questão
do matrimônio dizia: «se finalmente os senhores bispos não quiserem
dispensar, sem outra razão maior que não quererem. A esta razão que em
todo o sentido é a última, não tenho que responder, porque poderá haver
teologia e direito para convencer entendimentos, mas não sei que os haja
para mudar vontades». Com estas palavras, José Clemente teria, talvez,
afastado irremediavelmente a possibilidade de ser o arauto da política
regalista pombalina. Não por recusar o regalismo, mas por admitir que o
poder dos bispos pudesse desafiar o poder do Estado. E neste ponto Pombal
não admitia hesitações, sob pena de fragilizar todo o edifício que queria
construir. O que estava em causa era a proposta de um sistema que
pretendia o cerceamento da autoridade papal, por nesta ver uma
contraposição ao poder régio, tanto na ordem externa como na interna. Para
o êxito deste último aspecto, o apoio dos bispos era fundamental. Nesta
pequena exposição sobre a questão matrimonial, pode-se perceber que o
que contava era legitimar a autoridade do governante, não deixando
espaços para contestações92.
A teoria de José Clemente pode ser resumida em três pontos
fundamentais: 1º. O Papa não tinha qualquer poder sobre os bens temporais
dos Reinos; 2º. O Papa não tinha poder para depor os reis nem para privá-
los da obediência dos povos; 3º. Os reis podiam castigar os clérigos que
cometessem crimes de lesa-majestade. Neste último ponto, Pereira de
Figueiredo era mais radical e legitimava o Recurso à Coroa, defendendo
que os clérigos podiam recorrer dos tribunais eclesiásticos para os tribunais
régios, sempre que achassem que tinha havido abuso de poder. O padre
José Clemente acabou não respondendo às exigências pombalinas, ao passo
—————————–
91
Z. O. CASTRO, Antecedentes do Regalismo Pombalino, 329-330.
92
Z. O. CASTRO, Antecedentes do Regalismo Pombalino, 329-330.
CAP. I: PRESSUPOSTOS HISTÓRICOS 41
—————————–
93
Z. O. CASTRO, Antecedentes do Regalismo Pombalino, 331.
94
Z. O. CASTRO, Antecedentes do Regalismo Pombalino, 328.
95
Z. O. CASTRO, Antecedentes do regalismo pombalino, 328.
96
P. F. S. CAMARGO, História eclesiástica do Brasil, 265.
42 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
103
T. BEAL – M. S. CARDOZO, Os jesuítas, a Universidade de Coimbra e a Igreja
brasileira, 21-22; C. M. ALMEIDA, Direito Civil Eclesiástico Brasileiro, I, parte I, 57.
104
T. BEAL – M. S. CARDOZO, Os jesuítas, a Universidade de Coimbra e a Igreja
brasileira, 21-22; C. M. ALMEIDA, Direito Civil Eclesiástico Brasileiro, I, parte I, 57.
CAP. I: PRESSUPOSTOS HISTÓRICOS 45
—————————–
105
T. BEAL – M. S. CARDOZO, Os jesuítas, a Universidade de Coimbra e a Igreja
brasileira, 8.
106
A. S. P. CARNAXIDE, O Brasil na administração Pombalina, 31.
107
S. LEITE, História da Companhia de Jesus no Brasil, VII, 338-339.
46 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
alturas, o que movia Pombal não era somente o seu ódio contra os jesuítas,
mas, talvez principalmente, o interesse na expropriação dos seus bens,
como já vinha sendo planejado e executado antes da condenação destes
como instigadores na tentativa de assassinato real e da sua expulsão do
Reino. Por conseqüência, a perseguição à Companhia de Jesus
provavelmente não teve como causa determinante a tentativa de regicidio,
muito embora fosse esse o fundamento com que a justificava Pombal. «A
perseguição à Companhia de Jesus, – pelo menos no tocante aos seus bens
já estava decretada e em parte executada quando se deu o atentado em 3 de
Setembro de 1758». Porém no processo de confisco, «foi ele colher o
amargor duma decepção. Esperava ali achar mundos e fundos. Afinal
rendeu muito pouquinho»118.
Pombal, decidido como estava a suprimir a Companhia de Jesus,
promoveu, então, uma campanha difamatória internacional no intuito de
forçar o Papa a tomar tal decisão. Assim, em 1757, fez redigir na Secretaria
de Estado a obra intitulada Relação Abreviada, em que expôs o rol de
queixas do Governo português contra os jesuítas, traduzindo-a depois em
várias línguas e difundindo-a profusamente pela Europa. Entre as queixas
constava, por exemplo, o fato da Companhia haver tentado invalidar o
Tratado de Madrid, de haver obstado a entrada nas reduções de qualquer
pessoa estranha, inclusive do bispo, do governador, e dos oficiais do Rei;
de haver proibido o uso do português e do espanhol nos limites da referidas
reduções, para assim impedir a comunicação entre índios e brancos; de
haver reduzido os nativos a uma obediência cega aos missionários; de
haver insuflado neles ódio contra os brancos seculares, dizendo que
adoravam o ouro e traziam o demônio no corpo; de haver organizado e
armado um exército para combater as monarquias; de haver desobedecido
às bulas papais e às ordens régias ao praticarem o comércio119.
A Relação Abreviada praticamente reduzia os missionários jesuítas do
Brasil e do Paraguai a atrozes escravistas, e suas missões a algo comparável
a um cenário de horrores:
—————————–
120
Coleção dos Negócios de Roma do reinado de El-Rei Dom José I, I, 22-23.27.
CAP. I: PRESSUPOSTOS HISTÓRICOS 51
—————————–
121
J. S. DA SILVA, Dedução Cronológica e analítica, parte I, 1.5.201.
122
J. B. GAMA, O Uruguai, 100-101.
52 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
137
V. M. T. VALADARES, Elites Mineiras Setecentistas, 72.135.139-140.
138
V. M. T. VALADARES, Elites Mineiras Setecentistas, 138.174.201.206.
139
As faculdades de Matemática e Filosofia eram cursos novos criados com a
reforma, mas praticamente sem a presença de alunos ordinários até ao final do século
XVIII [T. BEAL – M. S. CARDOZO, Os jesuítas, a Universidade de Coimbra e a Igreja
brasileira, 88]
58 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
horária, mas não no que diz respeito ao conteúdo, que sofreu modificações
fundamentais140.
A teologia reformada de Coimbra adotou uma concepção eclesial
regalista que influenciou gerações inteiras. Como recorda Cândido Mendes
de Almeida, duas mudanças resultaram fundamentais: 1 – O desprezo
declarado pelo Concílio de Trento: já presente na Dedução Cronológica, na
qual o Ministro assegurou que o recebimento das decisões tridentinas em
todo Reino fora «obra dos jesuítas», e que, portanto, eram nulas; 2 – A
mudança da concepção eclesiológica vigente: até então se ensinara que a
Igreja era «a sociedade dos fiéis reunida debaixo de um só chefe, que é
Jesus Cristo, pela comunhão de crenças e participação aos sacramentos, sob
direção de seus legítimos pastores, principalmente o Pontífice Romano».
Pois bem, com o pombalismo, o Código de Coimbra para os professores
passou a afirmar o seguinte:
A Igreja é uma congregação de homens unidos em Cristo pelo batismo para
que vivendo todos conformes à norma estabelecida no Evangelho, e
proclamada pelos Apóstolos em todo o mundo, e debaixo da direção e governo
de uma cabeça visível, e de outros pastores legítimos, possam honrar bem o
verdadeiro Deus; e por meio desse culto conseguir a bem-aventurança
eterna141.
Nos Estatutos é fácil perceber as doutrinas regalistas. No volume de
Teologia, defende-se o cristianismo da Igreja primitiva, coisa comum às
teorias regalistas do século XVIII, além de se insistir em uma «sincera»
interpretação da história, perceptível no seguinte aviso aos professores:
Não julgará, porém, nem pretenderá jamais medir, e regular a Disciplina
antiga pela moderna. Não torcerá o verdadeiro sentido dos fatos, sucesso, e
Cânones antigos; para poder acomodá-los, ajustá-los, e concordá-los aos dos
últimos séculos, com o sinistro fim de persuadir, que o que hoje se observa, foi
sempre o mesmo, e para por este meio paliar, defender, e sustentar os abusos,
que tanto tem feito degenerar a mesma Disciplina da sua antiga pureza142.
No segundo volume dos Estatutos, o das Leis e Cânones, as doutrinas
regalistas ganhavam contornos precisos. A intenção de enfraquecer a
autoridade pontifícia por meio da defesa do conciliarismo se tornava
—————————–
140
V. M. T. VALADARES, Elites Mineiras Setecentistas, 137.
141
Estatutos da Universidade de Coimbra, Liv. II, Tit. IV, Cap. 4, parágrafo 6, em C.
M. ALMEIDA, Direito civil e eclesiástico brasileiro, I, parte I, 107.
142
Estatutos da Universidade de Coimbra, Liv. I, Tit. VI, Cap. IV, parágrafos 1-11,
em T. BEAL – M. S. CARDOZO, Os jesuítas, a Universidade de Coimbra e a Igreja
brasileira, 89-93.
CAP. I: PRESSUPOSTOS HISTÓRICOS 59
—————————–
143
Estatutos da Universidade de Coimbra, Liv. II, Tit. IV, Cap. IV, parágrafo 10, em
T. BEAL – M. S. CARDOZO, Os jesuítas, a Universidade de Coimbra e a Igreja
brasileira, 89-93; C. M. ALMEIDA, Direito civil e eclesiástico brasileiro, I, parte I, 108-
109.
144
Estatutos da Universidade de Coimbra, Liv. II, Tit. IV, Cap. II, parágrafo 12 e
parágrafo 18 em T. BEAL – M. S. CARDOZO, Os jesuítas, a Universidade de Coimbra e a
Igreja brasileira, 89-93.
145
Estatutos da Universidade de Coimbra; Liv. II, Tit. IV, Cap. II, parágrafo 13 em
T. BEAL – M. S. CARDOZO, Os jesuítas, a Universidade de Coimbra e a Igreja
brasileira, 89-93.
146
C. M. ALMEIDA, Direito civil e eclesiástico brasileiro, I, parte I, 109.
60 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
147
Estatutos da Universidade de Coimbra; Liv. II, Tit. VIII, Cap. II, parágrafo 26, em
T. BEAL – M. S. CARDOZO, Os jesuítas, a Universidade de Coimbra e a Igreja
brasileira, 89-93.
148
Estatutos da Universidade de Coimbra, Liv. II, Tit. VIII, Cap. II, parágrafo 28 em
T. BEAL – M. S. CARDOZO, Os jesuítas, a Universidade de Coimbra e a Igreja
brasileira, 89-93.
149
Estatutos da Universidade de Coimbra, Liv. II, Tit. VIII, Cap. II, parágrafo 29 em
T. BEAL – M. S. CARDOZO, Os jesuítas, a Universidade de Coimbra e a Igreja
brasileira, 89-93.
150
Estatutos da Universidade de Coimbra, Liv. II, Tit. VIII, Cap. II, parágrafo 30, em
T. BEAL – M. S. CARDOZO, Os jesuítas, a Universidade de Coimbra e a Igreja
brasileira, 89-93.
151
Sobre isso consultar: T. BEAL – M. S. CARDOZO, Os jesuítas, a Universidade de
Coimbra e a Igreja brasileira, 88-100; C. M. ALMEIDA, Direito civil e eclesiástico
brasileiro, I, parte I, 106-147.
152
T. BEAL – M. S. CARDOZO, Os jesuítas, a Universidade de Coimbra e a Igreja
brasileira,100.
CAP. I: PRESSUPOSTOS HISTÓRICOS 61
—————————–
153
P. F. S. CAMARGO, História eclesiástica do Brasil, 266. Maria Graham, preceptora
dos filhos do Imperador Dom Pedro I, deixou um interessante parecer a respeito: «Dos
poucos [brasileiros] que lêem assuntos políticos, a maior parte é discípula de Voltaire e
excede-se nas suas doutrinas sobre política, e igualmente em desrespeito à religião; por
isso, para a gente moderada, que tenha passado pela experiência das revoluções
européias, suas dissertações são às vezes revoltantes» [M. GRAHAM, Diário de uma
viagem ao Brasil, 162].
154
C. M. ALMEIDA, Direito Civil Eclesiástico Brasileiro, I, parte I, 182-183.
62 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
163
J. H. RODRIGUES, A assembléia constituinte de 1823, 17.
164
J. A. DOS SANTOS, Liberalismo eclesiástico e regalista no Brasil, 4-7.
165
J. H. RODRIGUES, A assembléia constituinte de 1823, 16.25.
166
J. H. RODRIGUES, A assembléia constituinte de 1823, 22.28.
66 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
167
«Fala do Imperador na Sessão Imperial da Assembleia Geral do Império», 3 de
maio de 1823, em O Padre Amaro, História, Política e Literatura, VI, 315-316.
168
«Fala do Imperador na Sessão Imperial da Assembléia Geral do Império», 3 de
maio de 1823, em O Padre Amaro, História, Política e Literatura, VI, 317.
169
Para os políticos da época «povo» eram os cidadãos ativos, ou seja, aqueles que
tinham direito ao voto [ndr.].
170
J. H. RODRIGUES, A assembléia constituinte de 1823, 32-33.
171
«Projeto Constitucional de 1823», em F. A. DIAS – al., Constituições do Brasil, I,
43.
172
Discursaram contra: Maciel da Costa, Antônio Carlos, Rodrigues de Carvalho,
Silva Lisboa. A favor: O pe. Muniz Tavares, Francisco Carneiro, Carneiro de Campos,
Vergueiro, Montezuma. [J. H. RODRIGUES, A assembléia constituinte de 1823, p. 140 -
145].
CAP. I: PRESSUPOSTOS HISTÓRICOS 67
religião no recinto destinado para esse fim». A redação da segunda parte foi
suprimida por proposta de Nicolau Pereira de Campos Vergueiro (1778-
1859). O artigo 15 foi também aprovado com a emenda: «As outras
religiões, além da cristã, são apenas toleradas, e só lhes compete o culto
doméstico». Daí em diante foi suprimida. O artigo 16 também foi aprovado
com grande maioria de votos: «A religião Católica, apostólica, romana, é a
religião do Estado e a única por ele mantida; e só a ela compete o culto
externo fora das igrejas». Porém não se concluíram as discussões, pois,
como foi referido, a Assembléia Constituinte terminou dissolvida176.
Mesmo assim, o conteúdo documentado dos debates leva a crer que se
tendia a estabelecer algumas restrições ao culto protestante. O artigo 24 não
foi discutido, tampouco o foram os artigos do Titulo VI, Do poder, regalias
e juramento do Imperador, Capitulo I, Das atribuições, regalias e
juramento do Imperador, cujo artigo 142, §V, dava ao regalismo contornos
precisos:
§ V – Prover os benefícios eclesiásticos e empregos civis, que não forem
eletivos, e bem assim os militares [...]
§ XI – Conceder ou negar o seu beneplácito aos decretos dos concílios, letras
pontifícias e quaisquer outras constituições eclesiásticas, que se não opuserem
à presente constituição177.
As causas da dissolução da Assembléia foram múltiplas: a rivalidade
entre nativos e adotivos178 desde que os Andradas abandonaram o poder; o
fato de D. Pedro ter se cercado de conselheiros portugueses; as críticas na
imprensa ao autoritarismo do Imperador; a independência da Assembléia; a
pressão de portugueses pertencentes aos altos escalões das forças armadas
brasileiras no intuito de reassumir seus poderes totais; o favorecimento e a
pressão dos grupos econômicos portugueses junto ao Imperador; e a contra-
revolução em Portugal, em oposição às Cortes de Lisboa. Para José
Honório Rodrigues, «com a dissolução, reassumia D. Pedro I todos os
poderes absolutos, e perdia o povo a sua tão celebrada soberania». Por
meio do Diário do Governo se sustentou a doutrina oficial, na qual não se
discutia a questão de que a soberania provinha da nação ou não, o que se
—————————–
176
Segundo José Honório Rodrigues «dos 17 padres que participavam da
Assembléia, grande parte tomou iniciativas que não foram bem vistas ou aceitas pelos
grupos mais conservadores», ou seja, eram quase todos de tendências liberais. [J. H.
RODRIGUES, A assembléia constituinte de 1823, 152-158.253].
177
«Projeto Constitucional de 1823», em F. A. DIAS – al., Constituições do Brasil, I,
61.
178
Nativos eram os brasileiros natos enquanto adotivos eram àqueles nascidos em
Portugal mas que aderiram a independência [ndr.].
CAP. I: PRESSUPOSTOS HISTÓRICOS 69
afirmava era que se dela derivou, ela a transferiu ao Imperador, quando lhe
deu o título de protetor e, tendo-a já transferido, era impossível tornar a
transferi-la à Assembléia. Isso porque nenhum «homem sensato aceita a
proposição anárquica de que o povo possa reconhecer e deixar de
reconhecer o poder soberano todas as vezes que quiser. Se assim fosse, o
mundo se tornaria um caos e a palavra governo deixaria de ter
significação»179.
O Imperador D. Pedro I escolheu então uma comissão para elaborar a
Constituição, composta de dez juristas, nove dos quais formados na
Universidade de Coimbra180. A Charta Magna, outorgada em 25 de março
de 1824, oficializou o Catolicismo como religião do Estado, mas fê-lo
dentro dos esquemas ideológicos da tradição lusitana. Tratava-se de um
estranho hibridismo em que, malgrado a tentativa de se dar uma distinção
jurídica mais clara ao caráter específico da Igreja e do Estado, tudo o que se
conseguiu produzir foram fórmulas ambíguas. Daí que o texto
constitucional, apesar das suas pretensões liberais, não se furtou de iniciar-
se com uma invocação à Santíssima Trindade, ao que acrescentou o
reconhecimento da Igreja Católica como religião de Estado, tudo isso,
porém, «enquadrado» no mais tradicional regalismo de inspiração
pombalina. Segundo Thales de Azevedo, «o Catolicismo não tinha como
negar-se à sua antiga função: sob o quase cesaropapismo do padroado». O
arbítrio estatal definiu sua própria ortodoxia declarando o direito de
«filtrar» a doutrina e as relativas pastorais da Santa Sé por meio do placet.
«Esse regime era fortalecido pelas idéias regalistas dos homens públicos e
de certa porção influente do clero, pelo ceticismo e pelo deísmo maçônico,
pelo ecletismo filosófico das camadas intelectuais, do jornalismo, dos
meios políticos»181.
A base da união entre Igreja e Estado está no Título 1º, Do Império do
Brasil, seu Território, Governo, Dinastia, e Religião, no famoso Artigo 5,
que dizia: «A Religião Católica Apostólica Romana continuará a ser a
—————————–
179
J. H. RODRIGUES, A assembléia constituinte de 1823, 199-224.
180
Os redatores da Constituição foram Severiano Maciel da Costa (Marquês de
Queluz), Luis José de Carvalho e Melo (1º. Visconde de Cachoeira), Clemente Ferreira
França (Marquês de Nazaré), Mariano José Pereira da Fonseca (Marquês de Maricá),
João Gomes da Silveira Mendonça (Marquês de Sabará), Francisco Vilela Barbosa
(Marquês de Paranaguá), José Egídio Álvares de Almeida (Marquês de Santo Amaro),
Antonio Luís Pereira da Cunha (Marquês de Inhambupe), Manuel Jacinto Nogueira da
Gama (Marquês de Baependi), e José Joaquim Carneiro de Campos (Marquês de
Caravelas). Todos eles se formaram em Coimbra, com exceção de João Gomes da
Silveira Mendonça [ndr.].
181
T. AZEVEDO, A Religião civil brasileira, 48.
70 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
186
«Constituição Imperial de 1824», em Coleção da Leis do Império do Brasil, 1824,
parte I, 22.
187
«Constituição Imperial de 1824», em Coleção da Leis do Império do Brasil, 1824,
parte I, 27.
188
«Constituição Imperial de 1824», em Coleção da Leis do Império do Brasil, 1824,
parte I, 32.
189
J. DORNAS FILHO, O Padroado e a Igreja brasileira, 53.
72 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
190
Coleção das Decisões do Governo do Império do Brasil, 1824, 14-15.25-26.28.
87.
191
Coleção das Leis do Império do Brasil, 1827, parte II, 197.
192
Coleção das leis do Império do Brasil, 1828, parte I, 45.47-50.
CAP. I: PRESSUPOSTOS HISTÓRICOS 73
—————————–
193
J. DORNAS FILHO, O Padroado e a Igreja brasileira, 42.
194
J. DORNAS FILHO, O Padroado e a Igreja brasileira, 42.
195
J. DORNAS FILHO, O Padroado e a Igreja brasileira, 43.
74 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
196
C. M. ALMEIDA, Direito Civil Eclesiástico Brasileiro, I, parte I, 261.
197
Anais do Parlamento Brasileiro, 1827, III, 29; T. BEAL – M. S. CARDOZO, Os
jesuítas, a Universidade de Coimbra e a Igreja brasileira,148.
198
H. ACCIOLY, Os primeiros núncios no Brasil, 217-225.
199
AES, Br, Parecer das Comissões reunidas de Constituição e Eclesiástica sobre a
Bula Praeclara Portugalliae, Fasc. 171, pos. 108, f.24r.
CAP. I: PRESSUPOSTOS HISTÓRICOS 75
Esta parte final era uma negativa que transcendia o conteúdo da bula em
questão: era também uma defesa da posição da Câmara que colocava em
primeiro plano a soberania que se originava da aclamação da nação,
legitimada pela Constituição. A Câmara dos Deputados questionou pela
decisão n. 103, de 3 de novembro de 1827, se o Imperador teria requerido
em suas instruções dadas a Vidigal uma concessão pontifícia. A pergunta
contida no referido decreto: «se ela [a bula] fora solicitada por ordem do
Governo», recebeu a resposta afirmativa do Ministro Visconde de S.
Leopoldo200.
O parecer da Câmara alegava que o padroado da Ordem de Cristo nunca
existira no Brasil, pois ela «não fundou, não edificou, nem dotou as igrejas
do Brasil. Logo, nunca teve, nem podia ter direito de padroado das mesmas
igrejas» e concluía:
De tudo conclui que as igrejas do Brasil nunca foram do padroado da Ordem
de Cristo e, por conseqüência que os Reis de Portugal nunca exerceram no
Brasil o direito de Padroeiros, como Grãos-Mestres, mas sim como Reis,
sendo então todos os benéficos do Padroado Real, assim como hoje o são do
Padroado Imperial, e essencialmente inerente à Soberania do atual Imperador
do Brasil e Seus Sucessores no Trono, pelo ato da Unânime Aclamação dos
Povos deste Império e Lei Fundamental do mesmo, artigo 1 e 2 §2º. Conclua-
se, portanto, que a bula é ociosa, porque tem por fim confirmar o Imperador
do Brasil no direito que o Mesmo Senhor tem por títulos mais nobres201.
Este documento é essencial para a compreensão do regalismo imperial
brasileiro. Os regalistas europeus justificavam seus atos com base na igreja
primitiva, nos antigos imperadores e costumes, criando uma discussão
sobre quem cedeu a quem tal ou qual privilégio. O Governo imperial
brasileiro, por sua vez, justificava seu regalismo com base na suposta
aclamação popular que cedeu a soberania ao Imperador e na Constituição
imperial. Ou seja, para o «regalismo liberal» brasileiro, o Imperador tinha
direito ao padroado porque foi aclamado pelo povo soberano. Este direito
era inerente à soberania e confirmado pela Constituição do Império.
Portanto, em momento algum, derivava de uma concessão da Igreja ou do
Papa, muito menos da igreja primitiva. Para o Governo a administração
—————————–
200
Coleção das decisões do Governo do Império do Brasil, 1827, 196
201
AES, Br, Parecer das Comissões reunidas de Constituição e Eclesiástica sobre a
Bula Praeclara Portugalliae, Fasc. 171, pos. 108, f. 28v; J. DORNAS FILHO, O
Padroado e a Igreja brasileira, p. 44-48.
76 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
202
AES, Br, Parecer das Comissões reunidas de Constituição e Eclesiástica sobre a
Bula Praeclara Portugalliae, Fasc. 171, pos. 108, f. 24r-28r.
203
Coleção das Decisões do Governo do Império do Brasil, 1827, 204-206.
204
J. C. M. CARNEIRO, O Catolicismo no Brasil, 139.
CAP. I: PRESSUPOSTOS HISTÓRICOS 77
manteve a ordem neste período crítico foi o Ministro da Justiça, pe. Diogo
Antonio Feijó (1784-1843). Seu trabalho não terminou ai, pois, entre 1832
e 1833, novas revoltas foram organizadas pelos Restauradores ou
Caramurus205.
O conflito destes com o Ministro resultou na tentativa, por parte de
Diogo Feijó, de retirar José Bonifácio de Andrada e Silva (1763-1838) da
posição de tutor do Príncipe Imperial, devido ao seu comprometimento
com os Caramurus. No entanto, Feijó não conseguiu no seu intento e teve
de renunciar à pasta da Justiça. Ele tentou, então, um golpe de Estado com
o intuito de transformar a Câmara dos Deputados em Assembléia
Constituinte, mas também esse plano falhou. Naquele momento, o país
estava praticamente em estado de guerra civil, com revoltas e sedições em
várias províncias, muitas das quais terminariam somente no reinado de D.
Pedro II206. Um «detalhe» deve ser ressaltado: em praticamente todos esses
movimentos sediciosos havia padres envolvidos207.
Em 1835, Diogo Feijó foi eleito Regente Único. Segundo José Augusto
dos Santos, ele estava «doente, pessimista, sem vocação parlamentar,
querendo governar unicamente com o partido que o elegera, ocupado pelas
revoluções no Pará e no Rio Grande do Sul, o padre paulista estaria longe
do grande ministro da Justiça de 1831». A sua imagem também se
desgastou com o constante conflito diplomático com a Santa Sé, relativo à
sede vacante do Rio de Janeiro, como ainda será analisado neste capítulo.
Esse conflito deu uma arma a mais aos seus adversários políticos. Diogo
Feijó acabou renunciando com dois anos de antecedência, em 19 de
setembro de 1837, depois de um governo praticamente «infrutífero para o
país». Pedro de Araújo Lima (1793-1870) o sucedeu, primeiro como
regente interino e depois como regente eleito. Ele pertencia ao recém-
formado grupo político denominado Conservador, que contava nas suas
filas Caramurus e Liberais moderados, iniciando um movimento chamado
de Regresso. Araújo Lima procurou resolver a situação com a Santa Sé,
mas não conseguiu pacificar o país, apesar da vitória conservadora nas
eleições de 1837. A insatisfação era geral. Esta situação facilitou aos
liberais organizar o Golpe da Maioridade, que levou D. Pedro II ao trono
com apenas quatorze anos de idade208.
—————————–
205
J. A. DOS SANTOS, Liberalismo eclesiástico e regalista no Brasil, 6.
206
Balaiada (1838-1841) Maranhão; Cabanagem (1835-1840) Pará; Sabinada (1837-
1838) Bahia; Revolta dos Malês (1835) Bahia; Guerra dos Farrapos ou Farroupilha
(1835-1845) Rio Grande do Sul [ndr.].
207
J. A. DOS SANTOS, Liberalismo eclesiástico e regalista no Brasil, 6.
208
J. A. DOS SANTOS, Liberalismo eclesiástico e regalista no Brasil, 8.
78 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
militares, conforme constava no art. 8º e o art. 324. Assim versava o art. 8º:
«Ficam extintas as Ouvidorias de Comarca, Juízes de Fora, e Ordinários, e
a Jurisdição Criminal de qualquer outra Autoridade, exceto o Senado,
Supremo Tribunal de Justiça, Relações, Juízos Militares e Juízos
Eclesiásticos em matérias puramente espirituais»216.
Outro fato relevante ocorrera dois anos antes: em 24 de março de 1830, o
bispo Capelão Mor D. José Caetano da Silva Coutinho, concedeu à cadeia
publica do Rio de Janeiro o direito de uso de todas as casas do Aljube
(prisão eclesiástica) e seu terreno, enquanto o Governo não providenciasse
outro edifício para tal fim. Exigia em troca 400$000 para pagar a residência
do vigário geral, 200$000 para a do capelão e 200$000 para o cartório
eclesiástico e que: «Entre as mais partes dos edifícios do Aljube se reserve
uma casa limpa e separada dos mais presos, em que se possa ter em
custódia algum eclesiástico que for mandado por seus Juízes competentes,
aos quais responderá em tudo e por tudo o Carcereiro Geral da cidade»217.
Com a decisão do Governo n. 91, de 31 de março de 1830, a concessão e
as suas condições foram aceitas218. Em 27 de agosto de 1830, um decreto
extinguiu o Tribunal da Nunciatura, ou seja, o Tribunal eclesiástico de
terceira instância, assim decidiu:
Art. 1º. As causas eclesiásticas, d’ora em diante, serão julgadas em segunda e
última instância na Relação competente.
Art. 2º. As apelações interpostas para o Tribunal da Legacia, atualmente
pendentes, ficam de nenhum efeito; e as sentenças proferidas na Relação
competente terão sua inteira execução219.
Desta maneira, as causas do foro eclesiástico ficaram restritas a duas
instâncias. À Relação Metropolitana ou ao Tribunal do bispo do Rio de
Janeiro caberia apenas a segunda instância. A terceira instância seria
julgada por um tribunal secular, fazendo-se recurso ao Supremo Tribunal
de Justiça220. Em 19 de fevereiro de 1838, o regulamento n.º 10 prescreveu
—————————–
216
Coleção das Leis do Império do Brasil, 1832, parte I, 187.234.
217
Coleção das Decisões do Governo do Império do Brasil, 1830, 72-73. Em 12 de
abril de 1831, foi dada uma ordem do Ministro da Justiça, n. 55, onde se mandava que o
carcereiro da cadeia da Relação cumprisse as ordens do vigário geral a respeito da
prisão ou custódia do pe. Pedro Joaquim, pois este carcereiro também era o responsável
pelo Aljube que estava ao cárcere unido. [Coleção das Decisões do Governo do Império
do Brasil, 1831, 47-48].
218
Coleção das Decisões do Governo do Império do Brasil, 1830, 72.
219
Coleção das Leis do Império do Brasil, 1830, parte I, 19.
220
T. BEAL – M. S. CARDOZO, Os jesuítas, a Universidade de Coimbra e a Igreja
brasileira, 151.
CAP. I: PRESSUPOSTOS HISTÓRICOS 81
—————————–
221
D. R. VIEIRA, O processo de reforma e reorganização da Igreja no Brasil, 98.
222
Coleção das Leis do Império do Brasil, 1838, I, parte II, 102.
223
Coleção das Leis do Império do Brasil, 1838, I, parte I, 15.
224
Coleção das Leis do Império do Brasil, 1834, parte I, 17-18.
82 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
228
J. A. DOS SANTOS, Liberalismo eclesiástico e regalista no Brasil, 2-3.
229
A Mesa da Consciência e Ordens era um órgão do governo português estabelecido
no Regimento de 23 de agosto de 1608 para resolver as matérias que tocassem as
obrigações de consciência das três Ordens militares. Criada no Rio de Janeiro pelo
alvará de 22 de abril de 1808, foi extinta pela lei de 18 de setembro de 1828, passando
seus papéis, autos, livros e funções para o Supremo Tribunal de Justiça [O. OLIVEIRA,
Os dízimos eclesiásticos do Brasil, 75 nota 21].
230
J. A. DOS SANTOS, Liberalismo eclesiástico e regalista no Brasil, 3.
84 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
231
Cf. D. A. FEIJÓ, Demonstração da necessidade da abolição do Celibato Clerical.
232
Anais do Parlamento Brasileiro, Sessão em 10 de outubro de 1827,V, 119.
233
Romualdo Antônio de Seixas nasceu em Cametá, Capitania do Pará, em 1728.
Educado pelo tio, pe. Romualdo de Sousa Coelho, depois bispo do Pará. Mandado
completar os estudos em Portugal por D. Manuel de Almeida Carvalho, que não
querendo ver o rapaz na Universidade de Coimbra, colocou-o na Casa da Congregação
do Oratório em Lisboa. Aos 17 anos, Romualdo deixou o Convento de Oratório e tentou
entrar na Universidade de Coimbra, o que lhe foi terminantemente proibido por seus
protetores. Buscou então instruir-se percorrendo as bibliotecas de Lisboa e, para espanto
dos bibliotecários, lendo toda sorte de autores em francês, latim e italiano, além de
português. De volta ao Pará se tornou professor do Seminário diocesano aos 19 anos,
diácono aos 22 anos e sacerdote em 1810. Posteriormente foi nomeado vigário geral e
capitular do bispado. Eleito deputado suplente às Cortes de Lisboa, ao voltar foi preso
como suspeito de lusofilia. Parlamentar em várias legislaturas, Presidente da Câmara em
1841, mostrou-se incansável defensor dos direitos e prerrogativas da Igreja. Nomeado
Arcebispo da Bahia em 1826 e Marquês de Santa Cruz, foi sagrado em 1828, passando
a dividir suas forças entre a Câmara e o Arcebispado. Em maio de 1839, o Regente
Pedro de Araújo Lima o nomeou Ministro e Secretário dos Negócios Interiores do
Império, mas D. Romualdo recusou o cargo para se dedicar à Arquidiocese. Pastor
zeloso e sacerdote exemplar, orador de grande recurso, julgava ser um dever participar
da Câmara para defender a Igreja. Faleceu a 28 de dezembro de 1860. [R. M. S.
BARROSO em R. A. SEIXAS, Obras Completas do Marques de Santa Cruz, 15-29; DBB,
154-159; A. NOBREGA, «Dioceses e bispos do Brasil», RIHGB, n. 222,181-182].
CAP. I: PRESSUPOSTOS HISTÓRICOS 85
—————————–
241
J. A. DOS SANTOS, Liberalismo eclesiástico e regalista no Brasil, 1.6.
242
O primeiro é a taxa cobrada pela administração dos sacramentos e o segundo era
uma contribuição obrigatória em dinheiro por ocasião da desobriga (confissão e
comunhão pascoal) [ndr.].
243
J. A. DOS SANTOS, Liberalismo eclesiástico e regalista no Brasil, 22.
244
«O projeto da Caixa Eclesiástica», em J. A. DOS SANTOS, Liberalismo eclesiástico
e regalista no Brasil, 19-20.
88 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
As principais críticas a este projeto, feitas pela Santa Sé, informada pelos
seus Internúncios Mons. Pietro Ostini e Mons. Domenico Scipione
Fabbrini, eram que a medida ia contra a tradição de recolhimento e
redistribuição dos dízimos exercida pelos soberanos portugueses e
transferida à casa reinante no Brasil. Extinguia a contribuição voluntária e
era hedionda a obrigação de cada católico maior de sete anos pagar uma
taxa anual. O projeto era contrário à liberdade da Igreja subordinando a
administração dos dízimos ao Tesouro Público e as decisões da Câmara dos
Deputados. Além do fato do poder temporal não ter jurisdição para revogar
«toda Legislação em contrário»245.
b) O Projeto sobre os Cabidos. O desejo de abolir os cabidos já vinha
desde 1827 e se discutia na Câmara se fossem eles realmente necessários.
As críticas se intensificaram a partir de 1828, alimentadas pelo grupo
liderado por Diogo Feijó, que se justificava defendendo que a instituição
decaíra «do antigo esplendor» e fora penetrada pelo espírito mundano246.
O projeto assinado em 17 de maio de 1831 (mesma data do anterior),
definia as figuras canônicas do que chamaram de «Presbitério»: Acipreste,
Arcediago, Penitenciário, Teólogo, Chantre e três Examinadores Sinodais
(art. 1); sendo que este «será consultado pelo bispo em todas as suas
Pastorais, Instruções e Ordenação que fizer» além de levar
«Representações» ao bispo (art. 4); a jurisdição dos cabidos em sé vaga
passa para o Presbítero (art. 9); os prelados que faltarem à «observância da
presente Lei, serão privados da Côngrua de bem um ano pela transgressão
de cada artigo dela» (art. 12); «fica revogado toda legislação em contrário»
(art.14)247.
As críticas feitas pela Santa Sé eram as seguintes: a) a tendência a
diminuir a autoridade, liberdade e direitos dos bispos; b) que tal mudança
era inaceitável por ter vindo de uma autoridade «estranha» e incompetente;
c) a transferência da jurisdição do cabido para os novos presbíteros, «pois
com esse gesto a Assembléia Legislativa política se sentiria investida de
jurisdição espiritual eclesiástica»; d) o rigor do artigo 12; e) não mencionar
um consenso com Roma para aplicar tal projeto. Mons. Fabbrini ainda
chamou a atenção sobre a semelhança que encontrava entre este projeto e a
Constituição Civil do Clero francês e Mons. Ostini chegou a ver, além dos
defeitos apontados, uma possibilidade da Santa Sé tirar vantagem desse
projeto que, se fosse bem modificado, «poderia suprir as deficiências
—————————–
245
Cópia integral do projeto encontra-se em J. A. DOS SANTOS, Liberalismo
eclesiástico e regalista no Brasil, 16-26.
246
J. A. DOS SANTOS, Liberalismo eclesiástico e regalista no Brasil, 30.
247
J. A. DOS SANTOS, Liberalismo eclesiástico e regalista no Brasil, 29.
CAP. I: PRESSUPOSTOS HISTÓRICOS 89
pelo Direito Canônico. Tal fato foi um impedimento a mais apontado por Roma em
relação à sua nomeação como bispo do Rio de Janeiro. A nota redigida a respeito pelo
Cardeal Bernetti, em 3 de fevereiro de 1833, ressaltava também que ele estava
«imputado de outras graves coisas» [ASV, NAB, Copia confidenziale dalle stanze del
Quirinale, fasc. 13, doc. 39, f. 92r].
256
T. BEAL – M. S. CARDOZO, Os jesuítas, a Universidade de Coimbra e a Igreja
brasileira,188-189.
257
ASV, NAB, Breve memória histórica anexa à nota dirigida ao Senhor
Drumonnd, Encarregado dos negócio do Brasil, Cx. 4, fasc. 18, doc. 83, f. 299.
CAP. I: PRESSUPOSTOS HISTÓRICOS 93
o autor, «se tratasse de impostos civis, dir-se-ia que teriam sido concedidos
pelos reis e não pela Santa Sé». Outro documento é as Constituições do
Arcebispado da Bahia, «doutrinando sobre os dízimos, urgindo o
pagamento deles aos reis como Grão-Mestres da Ordem de Cristo»,
referindo-se aos dízimos estritamente eclesiásticos266.
Sempre de acordo com Oscar Oliveira, estes documentos pressupunham
a concessão precedente dos dízimos. A origem de tal concessão é
problemática, pois nem os Estatutos da Ordem de Cristo, que falavam deste
direito, especificam os Papas ou os documentos pontifícios pelos quais
eram concedidos os dízimos. Os reis, ao invés, defendiam que os dízimos
do Brasil foram secularizados e em vários documentos afirmavam que eles
pertenciam à Fazenda Real na conformidade das bulas pontifícias267.
A mais antiga bula que se conhece mencionando os dízimos do Brasil é a
Super specula268, de 25 de fevereiro de 1550, que erigiu a primeira diocese
brasileira, mas esta já «supõe o fato do direito da Ordem». Logo depois, em
30 de dezembro de 1551, o Papa Julio III, pela bula Praeclara
Charissimi269, concedeu hereditariamente aos reis de Portugal os Mestrados
da Ordem de Cristo, Santiago e Avis. Ao mesmo tempo, a Santa Sé,
concedeu aos reis o direto de dispor, para obras públicas, das rendas das
Ordens, naturalmente, depois de satisfeitas as obrigações dos Mestrados.
Então os reis podiam secularizar somente parte das rendas provenientes dos
dízimos, a parte que sobrasse da manutenção do clero e das igrejas270.
Oscar de Oliveira concluiu que não existia nenhuma bula concedendo
explicitamente os dízimos do Ultramar à Ordem de Cristo, mas sim
implicitamente, pela concessão espiritual que lhe fora feita de todas as
—————————–
266
A mais antiga e completa legislação doutrinária e prática dos dízimos do Brasil
foram aquelas emanadas pelas Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia,
promulgadas em 1707, a partir de um Sínodo, organizado por D. Sebastião Monteiro da
Vide, Arcebispo da Bahia. Ele pretendia organizar um Concílio Provincial, mas não
conseguiu reunir todos os bispos, desistindo da idéia e organizando somente o Sínodo
Diocesano. Esta constituição decretou, em 5 livros, 1.318 constituições que
praticamente vigoraram em todas as dioceses do Brasil colonial e imperial [O.
OLIVEIRA, Os dízimos eclesiásticos do Brasil, 25-30.53-54].
267
O. OLIVEIRA, Os dízimos eclesiásticos do Brasil, 54.
268
Bullarium Patronatus Portugalliae Regum, I, 177-179. Muitos autores indicam o
ano de 1551 outros ainda o ano de 1555, a fonte aqui utilizada indica a data de 25 de
fevereiro de 1550 [ndr.].
269
Bullarium Romanum, VI, 446-453; Bullarium Patronatus Portugalliae Regum, I,
180-185.
270
O. OLIVEIRA, Os dízimos eclesiásticos do Brasil, 58.
96 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
271
Bullarium Patronatus Portugalliae Regum, I, 36.
272
Bullarium Patronatus Portugalliae Regum, I, 47-52.
273
O. OLIVEIRA, Os dízimos eclesiásticos do Brasil, 60-64.115.
274
O. OLIVEIRA, Os dízimos eclesiásticos do Brasil, 69-70.
275
O. OLIVEIRA, Os dízimos eclesiásticos do Brasil, 31.
CAP. I: PRESSUPOSTOS HISTÓRICOS 97
§ 15. Será por isso necessário tratar do Grão-Mestrado que se deve verificar
na Augusta Pessoas de S. M. Imperial e seus Descendentes, e para, em virtude
da mesma bula, continuar S. M. Imperial a perceber os Dízimos de Todas as
Igrejas de que esta de posse.
§ 17. Torno a recomendar a V. Ilma. a matéria de percepção dos dízimos por
ser de grande importância, porque V. Ilma. sabe muito bem que todos os
Bispos e párocos do Brasil não recebem dízimos e somente côngruas, e que no
estado atual não pode o estado prescindir de tão grande rendimento276.
O Imperador conseguiu a confirmação destes direitos pela bula
Praeclara Portugalliae, que foi dada por Leão XI em 15 de maio de 1827.
Portanto, desde então, era direito do Imperador arrecadar e administrar os
dízimos eclesiásticos do Brasil, como Grão-Mestre da Ordem de Cristo.
Porém, como se viu, esta bula não recebeu o beneplácito imperial. Poucos
dias antes da abdicação de D. Pedro I, em 31 de março de 1831, o
Presidente do Tribunal do Tesouro Público, Bernardo Pereira de
Vasconcelos, publicou um Regulamento sobre a administração dos
dízimos, constante de 21 artigos, para as províncias de Minas Gerais e São
Paulo, enquanto às demais províncias deixava a faculdade de adotá-lo em
todo ou em parte, desde que participassem a decisão ao Presidente do
Tesouro. O art. 2 definia que os dízimos seriam pagos em gêneros de
cultura e criação, «sendo exemplos dela as hortaliças, verduras, frutas,
aves, ovos, e todos os mais gêneros». Depois que fossem pagos os coletores
e todas as diligências, o restante seria enviado à respectiva Tesouraria
Provincial, como definia o art. 12277.
Na Lei de 24 de outubro de 1832, que orçava a receita e fixava a despesa
para o ano financeiro de 1833-1834, foram enumerados dentre as rendas
públicas que pertenciam a Receita Geral, no §10, «os dízimos de açúcar,
algodão, café, tabaco e fumo, e a contribuição das sacas de algodão» e, no
§11, os «Dízimos do gado vacum e cavalar»278. Segundo Oscar de Oliveira,
estas duas últimas decisões foram o fim do «instituto dos dízimos
eclesiásticos» no Brasil279.
—————————–
276
O. OLIVEIRA, Os dízimos eclesiásticos do Brasil, 118.
277
«Regulamento para cobrança de dízimos», 31 de março de 1831 em Coleção das
Decisões do Governo do Império, 1832, p. 140-143
278
Coleção das Leis do Império do Brasil, 1832, parte I, 169.
279
O. OLIVEIRA, Os dízimos eclesiásticos do Brasil, 119.
98 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
fogos de cada freguesia, já que era ele o responsável por uma espécie de
censo anual da população a ele confiada. Não se pretende analisar aqui a
ascendência moral do pároco em uma eleição, ou seja, a capacidade que
tinha de influir sobre o eleitorado, coisa que possivelmente acontecia,
sobretudo quando ele se envolvia com algum dos grupos políticos. É lícito
intuir que sua presença na mesa eleitoral não fosse despida de ascendência
sobre as intenções de voto, emprestando-lhe importância nas alianças
políticas locais. Mas, isto se devia mais à sua posição na sociedade do que
às leis eleitorais. Esta situação mudaria durante o Império282.
Numa lei eleitoral elaborada durante a Regência Pedrina, promulgada em
19 de junho de 1822, nota-se logo no principio, que a figura do pároco teria
uma participação mais efetiva e significativa no processo eleitoral. Já no
art. 3 do primeiro capítulo do regulamento eleitoral, definia-se que «as
eleições de freguesias [de 1º Grau] serão presididas pelos Presidentes das
Câmaras com assistência dos Párocos» e o art. 6º do mesmo capítulo
definia que «os Párocos farão afixar nas portas das suas Igrejas Editais, por
onde conste o número de seus fogos, e ficam responsáveis pela
exatidão»283.
Nesta lei, a novidade mais importante, foi a possibilidade adquirida pelo
o pároco de interferir nos pleitos, devido a função, a ele dada, de
reconhecimento dos eleitores, como definia o art. 5º do Capítulo II: «Não
havendo, porém, acusação, começará o recebimento das listas. Estas
deverão conter tantos nomes quantos são os Eleitores que tem de dar aquela
Freguesia: são assinadas pelos votantes, e reconhecida a identidade pelo
pároco...»284.
Portanto, o pároco e o presidente da mesa assumiram uma posição
relevante. Isso se tornava ainda mais evidente no caso do pároco, por ser
ele o responsável por indicar qual indivíduo era ou não eleitor. O motivo
era que fazia parte das suas atribuições realizar o «censo», ou seja, o
levantamento das pessoas dotadas da renda mínima estabelecida para
possuir a «capacidade eleitoral». Este fato contribuiu para uma maior
politização da sua figura dentro da sociedade. Além disso, ele passou a
fazer parte efetiva da burocracia civil e a trabalhar diretamente no interesse
do Estado285.
A lei eleitoral, outorgada com a Constituição de 1824, foi muito além da
precedente em relação ao envolvimento do clero e da Igreja no processo
—————————–
282
M. R. FERREIRA, A Evolução do Sistema Eleitoral Brasileiro, 101.
283
Coleção das Decisões do Governo do Império do Brasil, 1822, 43.
284
Coleção das Decisões do Governo do Império do Brasil, 1822, 44.
285
Coleção das Decisões do Governo do Império do Brasil, 1822, 42-49.
100 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
eleitores o pároco tinha duas funções a menos, não era responsável pela
lista dos eleitores e nem pelo reconhecimento deles. Além disso, não
obrigava o uso das igrejas como recinto eleitoral, mas, nem mesmo as
excluíam292.
Tais legislações ficaram em vigor durante todo o Primeiro Império e o
Período Regencial, período em que demonstraram suas falhas, entre elas
um demasiado aumento da politização clerical e da sua atuação na política
partidária, ao lado de continuas profanações das igrejas durante as eleições.
D. Romualdo, Arcebispo da Bahia, não deixou de chamar a atenção sobre
tais fatos. As leis em questão só foram mudadas a partir de 1842, quando se
iniciou uma «secularização do processo eleitoral», e o progressivo
afastamento do clero da política partidária, devido também à reforma
clerical implementada pelos bispos ultramontanos a partir de 1844, como
será visto no próximo capítulo, no qual se entrará diretamente no período
histórico proposto.
—————————–
292
Coleção das Leis do Império do Brasil, 1828, parte I, 74-77; M. R. FERREIRA, A
Evolução do Sistema Eleitoral Brasileiro, 160-161.
CAPÍTULO II
—————————–
1
J. M. CARVALHO, A Construção da Ordem, 25. Sobre a formação dos Estados
modernos consultar as obras de Charles Tilly, Max Weber, Joseph R. Strayer, Robert
Ergang, Otto Hintze, Heinz Lubasz [ndr.].
104 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
8
J. M. CARVALHO, A Construção da Ordem, 47.
9
J. M. CARVALHO, A Construção da Ordem, 48-49. Porém, existe um movimento
político que não se enquadra nessa divisão e é de fundamental importância para se
entender a ascensão do ultramontanisno no episcopado brasileiro: trata-se do «Regresso
Conservador», iniciado em 1837, com a renúncia de Feijó à Regência, cujo término
acontece por volta de 1842. [ndr].
10
Os liberais voltaram ao poder em 1844, porém em 1848 foram substituídos pelos
conservadores, quando o Imperador deu posse ao Gabinete presidido a princípio pelo
ex-Regente Pedro de Araújo, Visconde de Olinda e, depois, por José da Costa Carvalho,
Visconde de Monte Alegre e antigo membro da Regência Trina Permanente. Recebida
com naturalidade no Rio de Janeiro e outras províncias, em Pernambuco, contudo, a
mudança provocou intenso movimento de insatisfação, agravado pela hostilidade contra
comerciantes portugueses da capital e seus compatriotas do interior, latifundiários que
compunham verdadeira oligarquia regional. Seus líderes foram Antônio Borges da
Fonseca, o Repúblico, e o liberal Desembargador e deputado Joaquim Nunes Machado.
A revolta eclodiu em fevereiro de 1849, quando os revoltosos concentrados em Água
Preta partiram para tomar Recife e foram barrados pelo Brigadeiro José Joaquim
Coelho, depois Barão de Vitória. Joaquim Nunes Machado morreu em batalha [NDHB,
519-520].
106 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
1. O Contexto político-social
em que se afirmou o ultramontanismo no Brasil
Uma interessante análise do contexto político em que se desenvolveu o
ultramontanismo no Brasil é aquela apresentada por José Murilo de
Carvalho na obra A construção da Ordem: a elite política imperial. Nela, o
autor argumenta que quase todos os grupos de influência política14
—————————–
11
Rio Branco era um dos jovens políticos chamados ao ministério por Paraná em
1853, e o mais brilhante diplomata do Império, além de ser um típico conservador
modernizante, cujo plano político era esvaziar o programa liberal implementando suas
reformas. De fato, o Gabinete que dirigiu fez aprovar grandes inovações, a maior das
quais, sem dúvida, foi a Lei do Ventre Livre. Além disso, seu governo produziu ainda
transformações mais amplas que vieram na esteira do final da Guerra do Paraguai,
incluindo a formação do Partido Republicano em 1870. Mas, foi durante o seu governo
que a maçonaria ganhou mais força, sendo ele o Grão-Mestre de um dos Orientes do
Brasil. O resultado foi um conflito aberto com a Igreja na Questão Religiosa [J. M.
CARVALHO, A Construção da Ordem, 48].
12
J. M. CARVALHO, A Construção da Ordem, 48-49.
13
J. CASTELLANI, Os maçons que fizeram a história do Brasil, 144-148.
14
Preferiu-se usar o termo «grupo de influência política» para evitar o uso do
conceito «elite», que mesmo tendo nascido como um conceito sociológico para o estudo
das sociedades, no final do século XIX, com Gaetano Mosca e Vilfredo Pareto, logo se
tornou também objeto de críticas e utilizações ligadas a correntes políticas como o
marxismo e o antimarxismo político. Apesar do conceito «elite» estar ligado
diretamente à detenção do poder de decisão política ao interno de um Estado e não
necessariamente ao poder econômico, após a sua inserção no discurso da luta de classes,
muitos pensadores ligaram o conceito de «elite» à idéia de «poder econômico» e
CAP. II: ASCENSÃO DO ULTRAMONTANISMO 107
«riqueza». «Grupo de influência política» permite evitar tal confusão, pois grupos que
na sua maioria não possuíam poder econômico, como era o caso dos párocos, eram
detentores de influência política significativa durante o Período Imperial. Tal influência
se fazia sentir primeiro por pertencerem a uma importante instituição, a Igreja Católica,
depois pelas funções civis e eleitorais que o Estado os obrigou a executar por lei, como
ainda será visto neste capítulo, e igualmente pela ascendência moral que detinham sobre
a consciência da população, devido à função espiritual que exerciam na sociedade
[ndr.].
15
J. M. CARVALHO, A Construção da Ordem, 51.60.
108 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
16
J. M. CARVALHO, A Construção da Ordem, 62.
17
J. M. CARVALHO, A Construção da Ordem, 65-67.
CAP. II: ASCENSÃO DO ULTRAMONTANISMO 109
—————————–
28
O. T. SOUZA, A Maioridade, 450-451.
29
J. M. CARVALHO, D. Pedro II, 36-38.
30
Apêndice: «Histórico da Maioridade», em Anais do Parlamento Brasileiro, 1840,
II, 863-865.
31
Estavam presentes na primeira reunião, além do pe. Alencar, Antônio Carlos,
Martim Francisco, Peixoto de Alencar e José Mariano, deputados, E. Costa Ferreira,
Holanda Cavalcanti e Paula Cavalcanti, senadores. Juntaram-se depois Teófilo Otoni, o
pe. José Antônio Marinho, José Bento Ferreira de Melo, José Feliciano Pinto Coelho,
Montezuma Limpo de Abreu. [O. T. SOUZA, A Maioridade, 460].
CAP. II: ASCENSÃO DO ULTRAMONTANISMO 113
monarca alegando que o povo já conhecia o termo – há muito tempo a população elegia
a cada ano um Imperador do Divino, menino que com sua graça emprestava o nome ao
santo. Entre tantos universos cruzados vemos como a lógica simbólica inscreve-se na
dinâmica do poder» [L. M. SCHWARCZ, O Império em Procissão, 9]. Pesou também
nessa escolha a convenção nobiliárquica internacional existente a respeito do uso dos
termos «rei» e «imperador». Ou seja, como se sabe, «rei» é um príncipe herdeiro, que
recebe a coroa por legítimos direitos de sucessão, transmitidos pela dinastia a que
pertence; «Imperador», ao contrário, é um «general» ou «cavalheiro» vitorioso, que por
qualquer razão assume o trono. Luís XVI era rei e Napoleão Bonaparte imperador. Vale
dizer: D. Pedro I seguiu ao pé da letra dita convenção, motivo pelo qual se declarou
«Imperador» no Brasil – que tornou independente por sua livre iniciativa e contra a
vontade de D. João VI – e mais tarde, após abdicar ao trono brasileiro, se tornaria o
«rei» D. Pedro IV de Portugal, porque lá, na condição de primogênito do soberano
falecido, possuía legítimos direitos de sucessão [ndr.].
36
«Constituição política do Império do Brasil», em Coleção das leis do Império do
Brasil, 1824, parte I, 6.20-21.
37
M. SCHWARCZ, O Império em Procissão, 28.52.
CAP. II: ASCENSÃO DO ULTRAMONTANISMO 115
—————————–
38
Eram os seguintes: Ministro do Império – Antônio Carlos; Fazenda – Martim
Francisco, Justiça – Limpo de Abreu, Marinha – Holanda Cavalcanti; Guerra – Paula
Cavalcanti; Estrangeiros – Aureliano Coutinho.
39
Coleção das leis do Império do Brasil, 1841, IV, parte I, 101-121.
40
Futuro Visconde de Sepetiba, Bacharel em Direito e Magistrado, fez parte do
Gabinete da Maioridade, nasceu em 1800 e faleceu em 1855. Foi deputado nas
legislaturas: 2ª e 4ª. Senador de 1843 a 1855. Ocupou os seguintes cargos executivos:
Presidente de província (Rio de Janeiro 1844-1848, São Paulo 1831), Ministro do
Império (1833), Justiça (1833 e 1833-1835), Estrangeiros (1834-1835, 1840-1841 e
1841-1843) [O. NOGUEIRA, Os parlamentares do Império, 150-151].
41
Futuro Marquês de Olinda, doutor em cânones pela Universidade de Coimbra, e
Conselheiro de Estado. Nasceu em 1793 e faleceu em 1870. Deputado nas Cortes de
Lisboa, na Constituinte e nas legislaturas 2ª e 3ª. Senador de 1837 a 1870. Cargos
executivos: Regente do Império (1837-1840), Presidente do Conselho de Ministros
(1848-1849, 1857-1858, 1862-1864, 1865-1866), Ministro do Império (1823, 1827-
1828, 1837, 1857-1858, 1862-1864, 1865-1866), Justiça (1832), Estrangeiros (1832,
1848-1849), Fazenda (1848-1849). Este personagem histórico ainda será muitas vezes
citado neste estudo [O. NOGUEIRA, Os parlamentares do Império, 236-237].
42
Primeiro Visconde e Marquês de Paranaguá. Oficial do Exercito, Conselheiro de
Estado e Bacharel em Matemática. Nascido em 1769 e falecido em 1846. Deputado às
Cortes de Lisboa. Senador de 1826-1846 e Presidente do Senado de 1840 a 1841.
Cargos executivos: Ministro do Império (1823), Estrangeiros (1823, 1825 e 1830),
Guerra (1823 e 1824), Matinha (1823-1825, 1825-1826, 1827-1827, 1829-1831, 1831,
1841-1842) [O. NOGUEIRA, Os parlamentares do Império, 75-76].
116 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
52
AES, Br., Asserzione e domande sulle istruzioni per Monsignor Nunzio del
Brasile, 5 de Março de 1853; Fasc. 166, pos. 89, f.10r.
53
AES, Br., Oficio, 10 de Janeiro de 1857, Fasc. 176, pos. 123, f. 6r-7r.
120 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
56
A. WERNET, A Igreja paulista no século XIX, 52.
57
A. WERNET, A Igreja paulista no século XIX, 88.
122 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
71
Ao lado direito desta parte do testemunho, encontra-se uma nota a lápis onde se
diz que a testemunha é irmão do vigário M.el (Manuel?) Justiniano da Silva,
conservador e inimigo do pe. Melo Lima. Com a mesma caligrafia se vê na última
página do documento outra nota, datada de «Roma 1922», com uma pequena biografia
do pe. Melo Lima, onde se diz ter sido ele um liberal exaltadíssimo. [«Processo ao
Padre Antônio José de Melo Lima», APM, Subsérie 17: Rebelião de 1842, PP 1/17 Cx.
03, f. 12r.29v.
72
«Processo ao Padre Antônio José de Melo Lima», APM, Subsérie 17: Rebelião de
1842, PP 1/17 Cx. 03, f. 10r-12v.
126 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
também se pôde constatar que o referido padre era uma pessoa «de posses»,
proprietário de terras e escravos em número suficiente para realizarem uma
insurreição contra o seu proprietário. Percebe-se ainda que ocupou vários
cargos políticos e burocráticos, sendo um deles o de Juiz de Paz. Estava
fortemente envolvido com a política partidária, sendo provavelmente um
dos líderes locais dos liberais73.
Os padres que defenderam a ordem e as autoridades constituídas, ou seja,
os padres legalistas, também se destacaram. Após a pacificação da
província, a presidência desta enviou uma circular com quatro quesitos para
serem respondidos pelas câmaras municipais: 1 – informações e cópias das
atas das câmaras que aderiram à rebelião; 2 – relação dos distritos que
aclamaram o presidente intruso, dias e circunstancias; 3 – uma relação dos
distritos e pessoas que mais serviços prestaram à legalidade; 4 – o dia em
que os rebeldes saíram e primeira ata das novas câmaras legalistas74.
Nas várias relações enviadas, vinham indicadas uma série de nomes de
pessoas que ajudaram a legalidade, e em algumas delas, também se
especificava em que modo eles o fizeram. Vários padres estão nestas
relações, mas o que interessa é saber como eles colaboraram, nos casos em
que tal ajuda veio especificada. No distrito de Jacuí, por exemplo, o vigário
Francisco Moreira de Carvalho, «muito concorreu com sua influência a
favor da mesma legalidade»75.
Descrições como esta não esclarecem em que consistia tal influência, se
moral, religiosa, política ou econômica, o que pouco acrescenta à pesquisa.
A relação do Distrito de Formigas (Comarca de Montes Claros), ao
contrário, fornece dados precisos:
O Reverendo Vigário desta Freguesia, Antônio Gonçalves Chaves prestou
relevantes serviços, já na qualidade de Presidente da Câmara proclamando em
geral aos habitantes do Município, em especial dirigido aos influentes do
mesmo apresentando-lhes o horror de uma rebelião, a conveniência de manter-
se a tranqüilidade pública, a exata observância das leis e a obediência as
Autoridades Constituídas, cujas doutrinas corroboraram com a palavra,
exemplo na qualidade de Pároco.
Reverendo Felipe Pereira de Carvalho, atual Juiz Municipal animado pelo
zelo do Bem Público, deu inteira adesão à causa da Legalidade, exercitou
energicamente os atos de sua Jurisdição, prestou-se com pessoas do Povo a
Guarnição do Bonfim (porque então se propalava a falsa noticia de ser a
—————————–
73
«Processo ao Padre Antônio José de Melo Lima», APM, Subsérie 17: Rebelião de
1842, PP 1/17 Cx. 03, f. 27r-29v.
74
APM, Sub-série 17: Rebelião de 1842, PP 1/17 Cx. 04, doc. 03, f. 1r.
75
APM, Sub-série 17: Rebelião de 1842, PP 1/17 Cx. 04, doc. 04, f. 4v.
CAP. II: ASCENSÃO DO ULTRAMONTANISMO 127
—————————–
80
APM, Subsérie 17: Rebelião de 1842, PP 1/17 Cx. 04, doc. 20, f. 5r.
81
S. G. PIMENTA, Vida de D. Antônio Ferreira Viçoso, 47.
82
O interesse e envolvimento do clero brasileiro em questões políticas se
manifestaram ainda antes da independência. O depoimento do francês Louis François
Tollenare a respeito é esclarecedor: «Fui convidado para jantar pelo guardião do
convento de Santa Teresa. [...] Depois do jantar nos estenderam esteiras no chão para
fazermos a sesta; depois disso veio o banho; após, na minha qualidade de estrangeiro,
me foi preciso fazer frente ao guardião e a um outro frade, aos quais nenhuma
circunstância da Revolução Francesa era estranha. As suas infindáveis controvérsias
demonstravam a sua erudição e o desejo de se instruir, mas, não contribuíam a instruir-
me do que um estrangeiro deseja saber do Brasil. A todo momento eu procurava levá-
los a falar do interior do país que tantas vezes têm percorrido, mas, a política européia
era a sua mania» [F. L. TOLLENARE, Notas dominicais, 31-32].
CAP. II: ASCENSÃO DO ULTRAMONTANISMO 129
—————————–
88
A. RUBERT, História da Igreja no Rio Grande do Sul, II, 152-154.
89
A. RUBERT, História da Igreja no Rio Grande do Sul, II, 154-157; Z.
HASTENTEUFEL, Dom Feliciano na Igreja do Rio Grande do Sul, 56-66.
132 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
90
Cf. M. M. R. ARAÚJO, Carta Pastoral contendo as providências acerca do estado
da Igreja do Rio Grande do Sul depois da pacificação da província.
91
A. RUBERT, História da Igreja no Rio Grande do Sul, II, 154-157; Z.
HASTENTEUFEL, Dom Feliciano na Igreja do Rio Grande do Sul, 56-66. Sobre o cisma
na Guerra dos Farrapos ver também A. RUBERT, Um cisma eclesiástico no Rio Grande
do Sul, REB, XII (1962).
92
Anais do Parlamento Brasileiro, Sessão de 29 de março 1845, II, 1ª. Sessão, 308.
CAP. II: ASCENSÃO DO ULTRAMONTANISMO 133
—————————–
93
Esta discussão nasceu provavelmente por influência do bispo do Rio de Janeiro,
mesmo se não foi ele que apresentou esta proposta, pois dito bispo há pouco tivera um
conflito de jurisdição com o Arcebispo da Bahia por ocasião da coroação do Imperador
D. Pedro II. As discussões sobre o projeto se encontram nos Anais do Parlamento
Brasileiro 1845 e 1846.
94
Anais do Parlamento Brasileiro, Sessão em 10 de maio 1845, I, 2ª. Sessão, 50.
134 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
97
Anais do Parlamento Brasileiro, Sessão em 16 de maio de 1845, I, 2ª. Sessão, 94.
98
Anais do Parlamento Brasileiro, Sessão em 16 de maio de 1845, I, 2ª. Sessão, 96.
99
Anais do Parlamento Brasileiro, Sessão em 16 de maio de1845, I, 2ª. Sessão, 95-
96.
100
Anais do Parlamento Brasileiro, Sessão em 10 de julho de 1846, 125.
136 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
101
Anais do Parlamento Brasileiro, Sessão em 22 de maio de 1847, I, 150.
102
Anais do Parlamento Brasileiro, Sessão em 7 de julho de 1847, II, 64.
103
Coleção das Leis do Império do Brasil, 1847, IX, parte I, 42.
104
AES, Br., Lettera di Ruggero Antini Mattei Segretario della Congregazione
Concistoriale a Mons. Santucci Segretario della S. Congregazione degli AES sul
Decreto di erezioni della Diocesi di S. Pietro di Rio Grande do Sul, 5 de abril de 1852,
Fasc. 164, pos. 83, f. 16r-16v.
CAP. II: ASCENSÃO DO ULTRAMONTANISMO 137
—————————–
109
A. RUBERT, Sul Decreto d’erezione della Diocesi di S. Pietro di Rio Grande del
Sud, II, 158.
110
J. M. CARVALHO, A Construção da Ordem, 142.
111
J. M. CARVALHO, A Construção da Ordem, 143.
CAP. II: ASCENSÃO DO ULTRAMONTANISMO 139
Tabela II
Ocupações dos Acusados em Três Rebeliões:1789,1798 e 1817(Números Absolutos)
Ocupação Rebeliões
1789* 1798** 1817***
Padres 5 - 45
Magistrados 1 - 3
Militares
Linha 9 11 45
Milícia 1 3 29
Ordenança 1 - 12
Total 11 14 86
Advogados, médicos, cirurgiões 3 2 -
Artesãos - 6 -
Escravos - 10 -
Outros 4 2 26
Sem informação - - 150
Total 24 34 310
Pardos e Pretos - 24 15
* Inclui só os condenados. Houve 34 indiciados. ** Inclui também os
indiciados. Outros 16 suspeitos não foram a julgamento. *** Inclui
também os indiciados não-condenados. Fonte: J. M. Carvalho, A
Construção da Ordem, 145.
O clero ultramontano quando alcançou o episcopado, em meados do
século XIX, se deparou com uma longa tradição de envolvimento de
religiosos em rebeliões de inspiração liberal. Exceções houve,
naturalmente, como foi o caso da Inconfidência Baiana ou Revolta dos
Alfaiates, iniciada em 1798, em que a participação de sacerdotes foi
excluída, mas casos assim foram exceções. A falta de padres na revolução
baiana é significativa, pois indica não existir no clero local características
predominantemente populares, já que esta revolução foi realizada pelas
classes mais pobres. Nela chegou-se mesmo a existir um certo
anticlericalismo em suas proclamações, ao ameaçar de pena de morte todo
padre, secular ou regular, que pregasse contra a liberdade popular.
Envolveram-se nesta revolta vários escravos e foi proposta à abolição da
escravidão e o fim das discriminações contra pessoas não brancas. O
radicalismo dos padres liberais era de natureza antes política que social, se
mantendo dentro dos limites do liberalismo daquela época, ou seja, se
opunha à concentração de poder112.
—————————–
112
Para aprofundamento sobre a Revolta dos Alfaiates, consultar: I. JANCSÓ, Na
Bahia, contra o Império e L. H. D. TAVARES, História da sedição intentada na Bahia
em 1798.
140 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
113
Continha 270 títulos e mais de 800 volumes, dentre elas a Encyclopedie
Française e autores então «suspeitos» como Diderot, Montesquieu, Condillac, Verney e
Mably. Sobre esta biblioteca consultar: E. FRIEIRO, O diabo na livraria do Cônego.
114
J. M. CARVALHO, A Construção da Ordem, 143-146. Sobre as três revoluções ver:
L. J. SANTOS, A Inconfidência Mineira; F. M. TAVARES, História da Revolução de
Pernambuco em 1817; C. G. MOTA, Nordeste 1817: Estruturas e Argumentos; A. RUY, A
primeira Revolução Social Brasileira; E. FRIEIRO, O diabo na livraria do Cônego; K.
MAXWELL, A devassa da devassa - A Inconfidência Mineira.
115
Os principais estudiosos dos partidos imperiais são Caio Prado Júnior, Nélson
Werneck Sodré, Nestor Duarte, Raymundo Faoro, Azevedo Amaral, Afonso Arinos de
Melo Franco, Fernando de Azevedo e João Camilo de Oliveira, José Murilo de
Carvalho e Ilmar Rodhloff de Mattos [ndr.].
CAP. II: ASCENSÃO DO ULTRAMONTANISMO 141
Esquema I
Evolução do Sistema Partidário do Império, 1831-1889.
1831 1840 1864 1870
Restauradores
P. Conservador P. Conservador
Lib. Monarquistas P. Progressista P. Liberal
P. Liberal P. Republicano
Fonte: J. M. CARVALHO, A Construção da Ordem, 158
Até 1837, não se pode falar em partidos políticos no Brasil, sendo que as
organizações políticas ou parapolíticas eram tipo sociedades secretas e
muitas vezes influenciadas pela maçonaria. Pode-se ver no Esquema I, de
forma simplificada, a evolução partidária no Império. Entretanto, após a
abdicação de D. Pedro I, as medidas descentralizadoras como o Código do
Processo Criminal de 1832 e o Ato Adicional de 1834, juntamente com as
rebeliões do período regencial, possibilitaram a definição e a formação de
basicamente dois grandes partidos que dominaram a vida política do
Império até o final: o Partido Conservador e o Partido Liberal. Estes
partidos se dividiam muito mais pelos diferentes interesses de grupo que
pelas reais divergências ideológicas, que também existiam. O Conservador
nasceu de uma coalizão de moderados e conservadores sob a liderança de
um ex-liberal, Bernardo de Vasconcellos. O seu objetivo era reformar as
leis de descentralização, num movimento de fortalecimento do poder
central, que ele mesmo chamou de Regresso. Enquanto que os defensores
da descentralização se organizaram no Partido Liberal. As únicas mudanças
neste cenário foram os partidos: Progressista116, de curta duração e que
representava uma tendência Liberal dentro da política de Conciliação, que
foi implementada pelos Conservadores; e o Republicano, que surgiu em
1870 criando um tripartite até no final do período imperial117.
Nota-se na página seguinte, Tabela III, que mesmo existindo grande
estabilidade no sistema político houve grande instabilidade de Gabinetes no
Império. Eles foram 36, com duração média de menos de um ano e meio.
Percebe-se também o predomínio dos Gabinetes conservadores, que
duraram em média duas vezes mais que os liberais118.
—————————–
116
O Partido Progressista surgiu da Liga Progressista, em torno de 1864, sendo
ambos produto do movimento de Conciliação iniciado em 1853 pelos conservadores.
Compunha-se de conservadores dissidentes e liberais históricos. O Partido dissolveu-se
em 1868 com a queda do Gabinete Zacarias, com parte de seus membros indo formar o
novo Partido Liberal e outros o Partido Republicano fundado em 1870. [J. M.
CARVALHO, A Construção da Ordem, 158].
117
J. M. CARVALHO, A Construção da Ordem, 158.
118
J. M. CARVALHO, A Construção da Ordem, 163.
142 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
Tabela III
Duração e Filiação Partidária dos Ministérios, 1840-1889.
Partidos N. de Duração Duração Duração Média
Ministérios (em anos) (em meses) (em meses)
Liberal 15 13,4 161 10,3
Conservador 14 (10) 26,0 313 (253) 22,3 (25,3)
Progressista 6 6,1 74 12,3
Conciliação 1 (5) 3,5 (8,5) 43,0 (103) 43,0 (20,6)
Total 36 49,0 591 16,4
Fonte: J. M. CARVALHO, A Construção da Ordem, 163. As frações de anos são meses, as
frações de meses, dias. 119
Tabela IV
Filiação Partidária Total
Conservador 43,89
Liberal 49,64
Sem Partido 6,47
Total 100
Fonte: J. M. CARVALHO, A Construção da Ordem, 164.
Na tabela IV, percebe-se que apesar da maior duração dos ministérios
conservadores existia uma predominância de liberais entre os ministros, o
que surpreende em um sistema, que é considerado por muitos,
—————————–
119
«Há alguma divergência entre os autores em relação ao número de ministérios. O
Ministério Liberal de 1845, por exemplo, é considerado por Manuel Antônio Galão
como simples reorganização do ministério anterior. O Ministério Conservador de 1848
é dividido em dois por Austriciliano de Carvalho por causa da mudança do Presidente
do Conselho em 1849. Seguimos aqui a contagem do Barão de Javari que considera o
ministério de 1845 como novo ministério e não subdivide o ministério de 1848» (Veja
M. A. GALVÃO, Relação dos Cidadãos que tomaram parte no Governo do Brasil no
Período de Março de 1808 a 15 de Novembro de 1889; B. JAVARI, Organizações e
Programas Ministeriais; A. CARVALHO, Brasil Colônia e Brasil Império).
«Divergências mais sérias surgem na classificação dos ministérios de acordo com sua
natureza partidária, principalmente durante o período algo confuso entre 1853 e 1868.
Joaquim Nabuco, por exemplo, não atribui ministério algum ao Partido Progressista, ao
passo que atribui dois ao período da Conciliação. João Camilo considera como
conservadores o Ministério Conciliador de 1853. A maior dificuldade diz respeito aos
ministérios de 1853 a 1861 que podem ser considerados tanto como de Conciliação
como Conservadores». A classificação aqui adotada considerada de Conciliação apenas
o ministério Paraná de 1853. Entre parênteses, na Tabela III se dá a classificação
alternativa que considera todos os ministérios do período como de Conciliação (Veja J.
NABUCO, Um Estadista do Império, IV, 205-217; J. C. O. TORRES, Os Construtores do
Império, 215-221). Informações muito úteis sobre a política da época foram também
fornecidas por um participante ativo – J. M. PEREIRA DA SILVA em Memórias do Meu
Tempo» [J. M. CARVALHO, A Construção da Ordem,162-163 nota 18].
CAP. II: ASCENSÃO DO ULTRAMONTANISMO 143
25,00%
20,00%
15,00%
10,00%
5,00%
0,00%
3
5
4
1
23
85
/3
/4
/5
/7
/4
/4
/6
/6
/8
18
18
30
38
53
72
43
48
61
67
78
18
18
18
18
18
18
18
18
18
Fonte: Tabela V
—————————–
120
J. M. CARVALHO, A Construção da Ordem, 164.
121
A. M. R. BASTOS; Católicos e Cidadãos, 88.
144 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
Tabela V
Clérigos e Deputados, por Posição Hierárquica e Legislatura, 1823-1889 (%).
Cargos Padres Mons. Bispos Arceb. Total Clérigos Total Geral
Legislaturas Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº %
Ass. Const. 1823 17 20,23 1 1,19 2 2,38 - 0,00 20 23,80 84 100
1 ª Leg. 1826-1829 18 18,00 2 2,00 3 3,00 1 1,00 24 24,00 100 100
2 ª Leg. 1830-1833 14 14,00 1 1,00 - 0,00 - 0,00 15 15,00 100 100
3 ª Leg. 1834-1837 21 20,19 1 0,96 1 0,96 1 0,96 24 23,07 104 100
4 ª Leg. 1838-1841 8 7,92 1 0,99 3 2,97 1 0,99 13 12,87 101 100
1842 8 10,81 - 0,00 - 0,00 - 0,00 8 10,81 74 100
5 ª Leg. 1843-1844 7 6,93 - 0,00 2 1,98 1 0,99 10 9,90 101 100
6 ª Leg. 1845-1847 6 5,82 1 0,97 2 1,94 - 0,00 9 8,73 103 100
7 ª Leg. 1848-1849 8 7,54 - 0,00 - 0,00 - 0,00 8 7,54 106 100
8 ª Leg. 1850-1852 5 4,50 2 1,80 1 0,90 - 0,00 8 7,20 111 100
9 ª Leg. 1853-1856 3 2,65 2 1,77 1 0,88 - 0,00 6 5,30 113 100
10 ª Leg. 1857-1860 3 2,54 3 2,54 - 0,00 - 0,00 6 5,08 118 100
11 ª Leg. 1861-1864 1 0,82 1 0,81 - 0,00 - 0,00 2 1,63 122 100
12 ª Leg. 1864-1866 3 2,45 - 0,00 - 0,00 - 0,00 3 2,45 122 100
13 ª Leg. 1867-1868 2 1,72 - 0,00 - 0,00 - 0,00 2 1,72 116 100
14 ª Leg. 1869-1872 3 2,46 1 0,81 - 0,00 - 0,00 4 3,27 122 100
15 ª Leg. 1872-1875 5 4,09 1 0,82 - 0,00 - 0,00 6 4,91 122 100
16 ª Leg. 1878 1 0,82 1 0,81 - 0,00 - 0,00 2 1,63 122 100
17 ª Leg. 1878-1881 - 0,00 - 0,00 - 0,00 - 0,00 - 0,00 122 100
18 ª Leg. 1881-1884 - 0,00 - 0,00 - 0,00 - 0,00 - 0,00 122 100
19 ª Leg. 1885 1 0,80 - 0,00 - 0,00 - 0,00 1 0,80 125 100
20 ª Leg. 1886-1889 5 4,00 - 0,00 - 0,00 - 0,00 5 4,00 125 100
Total 139 5,70 18 0,74 15 0,62 4 0,16 176 7,22 2435 100
122
Fonte: A. M. R. BASTOS, Católicos e Cidadãos, 76 .
Vê-se claramente pela Tabela V e pelo Gráfico I, que se o número de
dioceses era pequeno, a participação de clérigos na política, principalmente
nas três primeiras legislaturas parlamentares, foi significativo. Essa
tendência se manteve até 1837. Desta data até 1860, se registrou uma queda
—————————–
122
Números muito semelhantes são apresentado por Augustin Wernet. Ele também
faz uma análise a respeito da participação de padres paulistas na Câmara dos Deputados
e na Assembléia Legislativa Provincial. Em ambos os casos os números seguem a
tendência daqueles apresentados na Tabela V e no Gráfico I [A. WERNET, A Igreja
paulista no século XIX, 65-75].
CAP. II: ASCENSÃO DO ULTRAMONTANISMO 145
retirou a exclusividade do clero na elaboração das listas dos votantes, cuja atribuição
legal passou aos juízes de paz responsáveis por uma circunscrição às vezes menor do
que a paróquia. Era clara a intenção do legislador de pretender transferir algumas
atribuições do processo eleitoral aos juízes de paz, ainda mais com o decreto de 18 de
setembro de 1829, cujo artigo único estabeleceu que os párocos do Império não
poderiam acumular as funções de juiz de paz [«Lei de 15 de outubro de 1827», em
Coleção das leis do Império do Brasil, parte I, 67-70; «Lei de 1 de outubro de 1828»,
em Coleção das Leis do Império do Brasil, 1828, parte I, 74-77; «Decreto de 18 de
setembro de 1829», em Coleção das leis do Império do Brasil, parte I, 7; M. R.
FERREIRA, A evolução do sistema eleitoral brasileiro, 160-161; A. M. R. BASTOS,
Católicos e Cidadãos, 47-48].
133
A. M. R. BASTOS, Católicos e Cidadãos, introdução, 12-13.
134
«Decreto 157 de 4 de Maio de 1842», em Coleção das Leis do Império do Brasil,
1842, V, parte II, 255-261.
135
Coleção das Leis do Império do Brasil, 1842, V, parte II, 255.
CAP. II: ASCENSÃO DO ULTRAMONTANISMO 149
—————————–
136
Coleção das Leis do Império do Brasil, 1842, V, parte II, 255 e A. M. R. BASTOS,
Católicos e Cidadãos, 55.
137
Coleção das Leis do Império do Brasil, 1842, V, parte II, 257.
138
Coleção das Leis do Império do Brasil, 1842, V, parte II, 256.
150 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
139
Coleção das Leis do Império do Brasil, 1842, V, parte II, 257.
140
Coleção das Leis do Império do Brasil, 1842, V, parte II, 258.
141
M. R. FERREIRA, A Evolução do Sistema Eleitoral Brasileiro, 175.
142
J. ALENCAR, Sistema representativo, 136.
CAP. II: ASCENSÃO DO ULTRAMONTANISMO 151
públicos pela imprensa, onde houver»145. Essa lei foi feita por um gabinete
liberal e dava mais poder ao juiz de paz e as elites locais, ao contrário da de
1842, porém continuava na linha da secularização estatal, o pároco já não
mais possuía influência direta sobre o processo eleitoral146.
Depois da reforma de 1846, faltava somente um reforma para livrar a
Igreja do fardo da responsabilidade eleitoral, acabar com a profanação dos
seus templos, onde eram realizadas as eleições, sendo por muitas vezes
palco de violências, blasfêmias e corrupção. Tal mudança veio com o
decreto 3029, de 9 de janeiro de 1881, que foi regulamentado por outro, o
decreto 8.213, de 13 de agosto de 1881, e ficou conhecido como Lei
Saraiva ou Lei do Censo147.
Esta reforma aboliu o sistema de eleições indiretas. Pode-se notar que os
últimos passos para a total secularização do processo eleitoral já aparecem
no art. 15 §2º: «São dispensadas as cerimônias e a leitura das leis e
regulamentos, que deviam preceder aos trabalhos eleitorais»148. Enquanto
no mesmo artigo §6º deixava somente para o último caso a utilização das
igrejas como locais de eleições: «O Governo, na Corte, e os Presidentes,
nas províncias, designarão com a precisa antecedências os edifícios em que
deverão fazer-se as eleições. Só em falta absoluta de outros edifícios
poderão ser designados para esse fim os templos religiosos»149.
A secularização eleitoral, a mudança nos direitos de elegibilidade e
principalmente a reforma eclesiástica realizada pelos bispos ultramontanos
que predominaram a partir de 1844, foram responsáveis pela diminuição do
número de clérigos no parlamento brasileiro. Porém, como observa Ana
Marta Rodrigues Bastos, no período em que vigoraram decretos eleitorais
que atribuíram grande parte do controle e da responsabilidade das eleições
de primeiro grau ao clero, foi também o período em que, ao nível da
representação política, a presença dos padres no Parlamento foi mais
significativa. Simultaneamente a perda de controle de um setor verificou-se
a mesma tendência no outro150.
—————————–
145
Coleção das Leis do Império do Brasil, 1846, VIII, parte I, 14.
146
A. M. R. BASTOS, Católicos e Cidadãos, 59.
147
Coleção das Leis do Império do Brasil, 1881, XLIV, vol. II, parte II, 854-916.
148
Coleção das Leis do Império do Brasil, 1881, XXVIII, parte I – XLIV, parte II,
vol. I, 14.
149
Coleção das Leis do Império do Brasil, 1881, XXVIII, parte I – XLIV, parte II,
vol. I, 14.
150
A. M. R. BASTOS, Católicos e Cidadãos, 71.
CAP. II: ASCENSÃO DO ULTRAMONTANISMO 153
—————————–
151
«Constituição de 1824», em Coleção das leis do Império do Brasil, 1824, parte I,
19.
152
«Constituição de 1824», em Coleção das leis do Império do Brasil, 1824, parte I,
19.
153
J. C. O. TORRES, A Democracia Coroada, 284.
154
A. M. R. BASTOS, Católicos e Cidadãos, 72.
154 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
155
T. BRUNEAU, O Catolicismo brasileiro em época de transição, 43. Deve-se
salientar que, curiosamente, os praças de pré (militares sem patente), também sujeitos à
obediência, só foram excluídos do voto pela lei de 1846, depois do período das
inúmeras rebeliões regenciais em que a participação da tropa foi bastante significativa.
[A. M. R. BASTOS, Católicos e Cidadãos, 72 nota 3].
156
«Constituição de 1824», em Coleção das leis do Império do Brasil, 1824, parte I,
19.
157
Anais do Parlamento Brasileiro, 1827, IV, Sessão em 8 de agosto de 1827, 74;
ID., V, Sessão de 24 em agosto de 1827, 14.
158
«Constituição de 1824», em Coleção das leis do Império do Brasil, 1824, parte I,
19.
CAP. II: ASCENSÃO DO ULTRAMONTANISMO 155
Todos os que podem ser Eleitores, são hábeis para serem nomeados
deputados. Excetuam-se:
I. Os que não tiverem quatrocentos mil-réis de renda líquida, na forma dos
arts. 92 e 94 [...]
III. Os que não professam a religião do Estado159.
Se a remuneração percebida pelo clero era suficiente para torná-lo eleitor
de primeiro e segundo grau, não bastava para torná-lo apto para exercer o
cargo de deputado, já que a renda mínima para se eleger era de 400 mil-réis
anuais. Porém, ao observar a tabela V se vê que em 1826 o clero elegeu
24% dos deputados da primeira Legislatura, sendo que destes apenas 6%
pertenciam a alta hierarquia eclesiástica, com côngruas superiores a
200$000, o que significa que 18% dos padres não possuíam renda legal e
foram eleitos. A explicação para isso poderia ser que estes 18% possuíam
bens de raiz, de indústria, comércio ou finanças, ou ainda podiam ser filhos
de proprietários, o que leva a crer que os padres deputados deveriam
pertencer a famílias de posses ou estarem envolvidos com a indústria e o
comércio. Isto explicaria o elevado número de clérigos nas primeiras
legislaturas do Império. Outra possibilidade, porém menos plausível, seria
a de declararem as benesses, como por exemplos os emolumentos, como
renda160.
Em 1857, este problema foi resolvido, quando pelo art. 29, §3º, da lei nº
939, de 26 de setembro daquele ano, o Governo autorizou a igualar as
côngruas dos párocos colados (empossados) do Império a 600$000
anual161. Esta medida, no entanto, não aumentou o número de clérigos no
parlamento, muito pelo contrário, a tendência era a diminuição, isto porque
os tempos eram diferentes em relação ao Primeiro Império e a Regência.
As leis eleitorais não mais favoreciam o clero e os bispos começavam a se
opor cada vez mais à participação direta dos padres em política162.
Para ser senador era ainda mais complicado, pois a exigência
constitucional era de 800$000, colocando uma distância muito maior entre
os salários do clero e a possibilidade de elegibilidade. Por todo o Período
Imperial se elegeram 16 clérigos ao Senado, mas somente um pertencia à
alta hierarquia da Igreja, sendo ele o bispo do Rio de Janeiro D. José
Caetano da Silva Coutinho, que recebia uma côngrua maior do que
—————————–
159
«Constituição de 1824», em Coleção das leis do Império do Brasil, 1824, parte I,
20.
160
A. M. R. BASTOS, Católicos e Cidadãos, 75-78.
161
Coleção das Leis do Império do Brasil, 1857, XVIII, parte I, 51.
162
J. M. CARVALHO, A Construção da Ordem, 142-143; A. M. R. BASTOS, Católicos e
Cidadãos, 79.
156 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
163
J. M. CARVALHO, A Construção da Ordem, 142-143; A. M. R. BASTOS, Católicos e
Cidadãos, 79.
164
«Decreto n. 2675 de 20 de Outubro de 1875, Art. 1º, §4º, n. 7», em Coleção das
leis do Império do Brasil, 1875, XXIV, vol. I, parte I, 158.
165
«Lei Saraiva, Decreto n. 3029 de 9 de janeiro de 1881», em Coleção das leis do
Império do Brasil, XVII, vol. I, parte I, 3.
166
A. M. R. BASTOS, Católicos e Cidadãos, 80-81.
167
Coleção das Leis do Império do Brasil, 1875, XXIV, vol. I, parte I, 171.
«Vigários capitulares» eram aqueles sacerdotes que ocupam uma diocese vaga antes da
nomeação do novo bispo, enquanto que «governadores de bispado» são padres
nomeados pelos bispos em caso de impedimento destes. «Vigários gerais» são
auxiliares dos bispos; principais colaboradores da organização diocesana, muitas vezes
dotados do título honorífico de «monsenhores», ao passo que «vigários provisores» são
auxiliares setoriais dos bispos. Por sua vez, «vigários forâneos», também chamados
«vigários episcopais», são os padres que estão incumbidos de coordenar a pastoral de
CAP. II: ASCENSÃO DO ULTRAMONTANISMO 157
aonde outro Calvário, em que se sacrifica todos os dias pela vossa salvação o
Cordeiro imaculado, na presença de Jesus Cristo que de dentro estava vendo
esta cena sanguinária, manchastes com o sangue de vossos Irmãos a terra, que
cobre os ossos de muitos, que ainda se hão de ver vivos e bem-aventurados no
Céu. É preciso ter perdido a fé, e extinto a caridade, para chegar por motivos
tais, a tais excessos, e em tal lugar!172
Esta primeira parte da pastoral é muito interessante por ilustrar a
realidade social das eleições, enriquecendo a análise da situação legislativa
feita precedentemente. D. Viçoso esclarecia que não lhe competia «julgar
da justiça ou injustiça» da fixação das listas eleitorais nas igrejas paroquiais
e condenava categórico os excessos que produziram ódio entre os partidos
envolvidos nas eleições, cuja violência resultara na violação do templo
católico com o derramamento de sangue entre «irmãos» num lugar sagrado.
Com base no ocorrido ele preanunciava crimes ainda mais terríveis nos
pleitos que se realizariam em setembro daquele ano:
Eis ai as funestas e escandalosas conseqüências de partidos exaltados.
Prepondera na mente de cada um o seu parecer; só ele é reto e justo;
infringem-se todas as leis humanas e Divinas; pospõem-se todos os ditames da
razão; a experiência não nos serve de documento; e a religião, que é a âncora
da nossa esperança, está vilipendiada, e espezinhada. Se estas são as vésperas
do próximo Setembro, quantas dessas cenas se repetirão nesse mês, que fará
tristíssima época nos nossos anais, se não abrirmos os olhos à verdade e
desengano! Eis ai pois a Casa de Deus fechada: o Senhor não quer presenciar
tão sacrílegas profanações. Esperavam as leis, que o lugar vos contivesse, e
por isso destinaram as Igrejas para o ato das eleições; mas se o lugar sagrado
vos não contem, nem a presença dos objetos religiosos, qual será o êxito desta
luta!173
D. Viçoso afirmava que a intenção dos legisladores, quando
estabeleceram as Igrejas como locais para a afixação de editais e a
realização das eleições, era conter as violências, mas que a iniciativa não
surtira resultado até aquele momento em vários localidades do Império e
nem o faria em outras eleições posteriores. Continuava sua pastoral
pregando a paz, a concórdia e caridade cristã, além de admoestar que cada
um respeitasse a opinião alheia sem querer impor a própria:
—————————–
172
«Pastoral de 22 de Agosto de 1844», em S. G. PIMENTA, Vida de Antônio Ferreira
Viçoso, 208-209.
173
«Pastoral de 22 de Agosto de 1844», em S. G. PIMENTA, Vida de Antônio Ferreira
Viçoso, 209.
162 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
175
«Pastoral de 22 de Agosto de 1844», em S. G. PIMENTA, Vida de Antônio Ferreira
Viçoso, 210-211.
176
«Pastoral de 22 de Agosto de 1844», em S. G. PIMENTA, Vida de Antônio Ferreira
Viçoso, 211.
177
B. J. SILVA NETO, Dom Viçoso, apóstolo de Minas, 195.
164 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
178
B. J. SILVA NETO, Dom Viçoso, apóstolo de Minas,194.
179
«Regulamento ao Clero», em E. G. FONTOURA, Vida do Exmo. e Rev.mo. senhor
D. Antonio J. de Mello, 74.80.
CAP. II: ASCENSÃO DO ULTRAMONTANISMO 165
—————————–
180
P. F. S. CAMARGO, A Igreja na História de São Paulo, VII, 137.
181
A. J. DE MELLO, «Carta Pastoral em que o exmo bispo avisa seus diocesanos de
sua primeira e próxima visita», em E. G. FONTOURA, Vida do Exmo. e Rev.mo senhor D.
Antonio J. de Mello, 155.
182
A. J. DE MELLO, «Carta Pastoral em que o exmo bispo avisa seus diocesanos de
sua terceira visita do bispado», em E. G. FONTOURA, Vida do Exmo. e Rev.mo senhor D.
Antonio J. de Mello, 262.
166 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
183
E. DE RUMELLY, «Discurso pronunciado por ocasião da abertura solene do
Seminário episcopal de S. Paulo no dia 9 de novembro de 1858», em E. G. FONTOURA,
Vida do Exmo. e Rev.mo senhor D. Antonio J. de Mello, 224-226.
CAP. II: ASCENSÃO DO ULTRAMONTANISMO 167
—————————–
185
A. MACEDO COSTA, Ofício de S. Ex.a Rev.ma, o Sr. Bispo do Pará, ao Ex.mo Sr.
Ministro do Império, indicando várias medidas importantes, 12-19.
186
Coleção das Leis do Império do Brasil, 1881, XXVIII, parte I – XLIV, parte II
vol. I, 14.
170 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
Mapa I
I- Pará
II- Maranhão
III- Ceará
IV- Pernambuco
V- Salvador
VI- Diamantina
VII- Mariana
VIII- Rio de Janeiro
IX- São Paulo
X- Goiás
XI- Cuiabá
XII- Rio Grande do Sul
Convém-lhe adquirir uma freguesia com cujos votos conta, e passar para um
município ou freguesia vizinha, indivíduos com cujo auxílio se avantaja. Se na
nova Assembléia prepondera outra opinião, desfaz ela tudo quanto a outra
fizera [...] As influências eleitorais fazem e desfazem divisões, segundo suas
alianças [...] dividem, subdividem [...] conforme lhes vai melhor seus cálculos
eleitorais195.
A apresentação aos benefícios também era um direito do padroado, ou
seja, o direito de apresentar párocos, cônegos e algumas outras autoridades
eclesiásticas dentro da estrutura hierárquica sob a autoridade episcopal.
Sobre este direito, assim se exprimia Cândido Mendes de Almeida:
A nomeação, ou melhor, a apresentação dos Bispos e Beneplaciados
Eclesiásticos, é um dos privilégios do Padroeiro, o principal fruto do
Padroado, e que muitas vezes existe sem aquele direito. A apresentação não é
uma verdadeira nomeação por quanto o apresentado pode ser recusado pelo
Pontífice e pelo Bispo. É um direito que nunca se poderia chamar de
majestático, visto estar sujeito à fiscalização e exame de outro Poder; nem
podia ser delegado da nação, por quanto ela não possuía tal direito como coisa
própria para transferir ou delegar, segundo a doutrina constitucional vigente
[grifos do original]196.
Esta, porém, era a opinião de um jurisconsulto ultramontano e não
correspondia ao entendimento que o Governo possuía sobre o assunto.
Mais exatamente: a apresentação aos benefícios era outro dos mecanismos
de controle que o Estado exercia sobre a Igreja, interferindo na escolha de
candidatos para privilegiar os que representassem os seus interesses.
Também neste ponto é possível notar algumas incongruências do sistema,
pois muitas vezes influíam em tais escolhas interesses particulares e
favorecimentos alheios ao interesse do bem público. O controle do Estado
sobre o clero se impunha ainda por meio das côngruas, concessões de
licenças, da organização político-eleitoral, da burocracia censitária, com a
elaboração de leis que lhes davam obrigações civis197.
Para a escolha de um beneficiário, a prática comum durante o Segundo
Império era que o bispo propusesse entre os concorrentes os três que
considerasse os mais dignos. Em seguida deveria enviar, junto com uma
descrição dos méritos e deméritos de cada um, os seus nomes ao Imperador
para que este apresentasse um deles ao bispo, que terminaria o processo
com a colação do apresentado, dando-lhe os poderes espirituais. Este
—————————–
195
V. URUGUAI, Ensaio sobre o direito administrativo, 1,58-59.
196
C. M. ALMEIDA, Direito Civil Eclesiástico Brasileiro, I, parte I, 275-276.
197
A. WERNET, A Igreja paulista no século XIX, 68.
174 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
198
«Alvará de 14 de abril de 1781», em C. M. ALMEIDA, Direito civil eclesiástico
brasileiro, I, parte 3, 1181-1187; SENADO FEDERAL, Atas de Consulta do Conselho de
Estado Pleno, Ata 2 de outubro de 1852, CÓDICE – 307 (Atas de 7-11-1850 a 20-2-
1857), 220.226.
199
Coleção das leis do Império do Brasil, 1828, parte I, 46-49.
200
«Carta Régia de 25 de agosto de 1808», Coleção das Leis do Brasil, 1808, 109-
110.
CAP. II: ASCENSÃO DO ULTRAMONTANISMO 175
—————————–
201
SENADO FEDERAL, «Alvará de 14 de abril de 1781 e Resolução Imperial de 6 de
outubro de 1825» em Atas de Consulta do Conselho de Estado Pleno, Ata 2 de outubro
de 1852, CÓDICE – 307 (Atas de 7-11-1850 a 20-2-1857), 226.
202
SENADO FEDERAL, «Alvará de 14 de abril de 1781» em Atas de Consulta do
Conselho de Estado Pleno, Ata 2 de outubro de 1852, CÓDICE – 307 (Atas de 7-11-
1850 a 20-2-1857), 226.
203
Coleção das Leis do Império do Brasil, 1831, parte I, 22.
204
Coleção das Leis do Império do Brasil, 1840, III, parte I, 5-7.
205
ASV, NAB, Carta de D. Manuel de Medeiros ao Internúncio Sanguini, Cx. 42,
fasc. 193, f. 4b.
176 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
206
A. MACEDO COSTA, A residência dos bispos, as suspensões extra-judiciais e os
recursos à Coroa. Questões canônicas do bispo do Pará, 6.11-13.21-22. Ver também:
D. R. VIEIRA, O processo de reforma e reorganização da Igreja no Brasil, 204-206.
207
S. G. PIMENTA, Vida de D. Antônio Ferreira Viçoso, 193.
CAP. II: ASCENSÃO DO ULTRAMONTANISMO 177
—————————–
213
SENADO FEDERAL, Atas de Consulta do Conselho de Estado Pleno, Ata 2 de
outubro de 1852, CÓDICE – 307 (Atas de 7-11-1850 a 20-2-1857), 222-226.234-235.
214
SENADO FEDERAL, Atas de Consulta do Conselho de Estado Pleno, Ata 2 de
outubro de 1852, CÓDICE – 307 (Atas de 7-11-1850 a 20-2-1857), 229.
180 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
não seja a mesma Coroa. Por isso, o recurso neste caso não pode ser senão o
que é conhecido na nossa legislação com o nome de – recurso à Coroa215.
Segundo Olinda, o aviso enviado ao bispo em 1846 e outro no mesmo
sentido enviado ao bispo de São Paulo em 1852, eram equívocos ao se
fundamentarem no alvará de 1781, já que não existia mais no Brasil o
padroado da Ordem de Cristo. Desta maneira a proposta feita por D.
Viçoso dos dois candidatos ficava reduzida a uma simples informação,
sendo a verdadeira proposta somente em relação àqueles que eram julgados
dignos, pois «só a respeito destes é que se verifica o concurso de ambas as
autoridades». O correto, porém, seria não negar aos bispos o direito de
excluir das propostas os concorrentes que julgassem indignos dos
benefícios, mesmo não completando o número de três:
Uma vez que se lhes deixa a faculdade da proposta, é mister se não exija que
infrinjam os mandamentos canônicos. O nexo que deve haver entre os Pastores
da primeira e os da segunda Ordem, a subordinação destes para com aqueles,
exigem esta alta superintendência: sem ela se relaxará cada vez mais a
disciplina no governo da Igreja. Em conclusão: aplicando ao caso presente as
soluções dadas às quatro questões propostas, parece que tem cabimento um
novo concurso para o provimento do benefício. A pertinácia em se apresentar
como opositor não deve servir de título para o gozo das funções eclesiásticas.
Não se estabeleça um aresto que poderá ser fatal para as relações entre os
Bispos, e os Sacerdotes de suas Dioceses. Para o futuro, um procedimento
exemplar poderá trazer a necessária habilitação; que nenhuma autoridade é
mais própria para acolher os arrependidos do que a Igreja216.
O Marquês de Monte Alegre, os Viscondes do Abaeté e de Itaboraí, os
conselheiros Alvim e Queiros aceitaram o parecer da Seção. O Visconde de
Sapucaí aprovou o parecer concordando, porém, com Olinda quanto a não
obrigar os prelados a proporem concorrentes indignos. O Visconde de
Albuquerque concordou em vários pontos com o Marquês de Olinda e
declarou-se contra a doutrina do aviso de 1846, enquanto impunha aos
bispos a obrigação de propor concorrentes indignos, no entanto,
concordava com os princípios da Seção de que o canonicato estava
provido, sendo a posse uma mera formalidade. O Visconde de
Jequitinhonha defendeu a idéia de que não se sabendo precisamente quais
eram os limites entre o poder temporal e espiritual, acreditava que o
—————————–
215
SENADO FEDERAL, Atas de Consulta do Conselho de Estado Pleno, Ata 2 de
outubro de 1852, CÓDICE – 307 (Atas de 7-11-1850 a 20-2-1857), 231.
216
SENADO FEDERAL, Atas de Consulta do Conselho de Estado Pleno, Ata 2 de
outubro de 1852, CÓDICE – 307 (Atas de 7-11-1850 a 20-2-1857), 233.
CAP. II: ASCENSÃO DO ULTRAMONTANISMO 181
circunstâncias análogas, pois que chegadas às coisas a estes termos redire est
nefas [grifos do original]217.
Já estavam germinando as sementes da futura Questão Religiosa. O
Internúncio Vicenzo Massoni, informado sobre o que estava ocorrendo não
deixou de dar sua versão e opinião sobre o caso. Enviou dois ofícios à
Santa Sé, o primeiro datado de 8 de janeiro de 1857, em que relatava o
ocorrido e falava sobre o direito de padroado derivado da Ordem de Cristo
e sobre o alvará de 1781. Esclarecia também que a imprensa tinha se
apoderado do caso e que muitas calunias eram divulgadas contra o bispo.
Relatou a oposição do cabido à apresentação do pe. Roussin, e da carta que
o mesmo havia enviado ao Imperador:
In termini molto animati a S. M. l’Imperatore, in cui allegandosi la notizia
inserita nei fogli pubblici della presentazione fatta del Roussin ad uno dei
Canonicati vacanti della Chiesa, cui i ricorrenti appartenevano, facevano esse
in seno del Capitolo un esempio di malcostume, e con esso l’intrigo ed il
disordine. S. M., dopo aver percorso l’istanza, rispose a chi l’aveva consegnata
nelle proprie sue mani, che l’avrebbe presa nella dovuta considerazione218.
Mons. Massoni afirmava ter dirigido palavras de conforto e apoio ao
bispo para que agisse conforme a sua consciência e informou que, mesmo
sendo o caso levado ao Conselho de Estado, o bispo se demonstrava
determinado a manter sua posição. No segundo oficio, redigido dois dias
depois do primeiro, o Internúncio enviou uma cópia do decreto de
secularização das Ordens Militares e defendeu a posição de que o Governo
não tinha direito ao padroado, baseando-se também no parecer negativo à
bula Praeclara Portugalliae, dado pela Câmara dos Deputados em 1827.
Dessa vez informava que os jornais católicos se utilizavam destes fatos em
favor do bispo219.
O Governo decidiu, então, enviar um novo aviso a D. Viçoso, em 4 de
agosto de 1857220, no qual mandava cumprir a carta de apresentação,
—————————–
217
SENADO FEDERAL, Atas de Consulta do Conselho de Estado Pleno, Ata 2 de
outubro de 1852, CÓDICE – 307 (Atas de 7-11-1850 a 20-2-1857), 233-234.
218
AES, Br., Officio, 8 de janeiro de 1857, Fasc. 176, pos. 123, f. 3v.
219
AES, Br., Officio, 10 de janeiro de 1857, Fasc. 176, pos. 123, f. 6r-9r.
220
Somente em 28 de julho de 1857, quando na Presidência do Conselho já se
achava o marquês de Olinda e no Ministério da Justiça, Francisco Diogo Pereira de
Vasconcelos, é que esta decisão foi proferida. O aviso em que se lhe comunicava esta
resolução, estava datado de 4 de agosto de 1857. [J. A. S. SOUZA, «Cartas de D. Antônio
Ferreira Viçoso, bispo de Mariana ao Visconde do Uruguai», em Revista do Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro, CCXLII, 429-430].
CAP. II: ASCENSÃO DO ULTRAMONTANISMO 183
—————————–
229
P. F. S. CAMARGO, A Igreja na História de São Paulo, VII, 190-192.
230
AES, Br., Lettera di Antonio Vescovo di São Paulo ao Santo Padre, 29 de maio
de 1856, Fasc. 175, pos. 121, f. 41r-18r.
231
AES, Br., Officio, 10 de janeiro de 1855, Fasc. 170, pos. 103, f. 9r-10r; ver
também: D. R. VIEIRA, O processo de reforma e reorganização da Igreja no Brasil, 133.
232
AES, Br., Lettera del Fr. Alfonso da Rumelly, procuratore e Comissário dei
Cappucini al Santo Padre, 1856, Fasc. 175, pos. 121, f. 31r-33r; AES, Br., Lettera del
vescovo Antonio al Santo Padre, 2 de julho de 1856, Fasc. 175, pos. 121, f. 63r-67v.
CAP. II: ASCENSÃO DO ULTRAMONTANISMO 187
—————————–
233
AES, Br., Lettera del vescovo Antonio al Santo Padre, 2 de julho de 1856, Fasc.
175, pos. 121, f. 63r-67v. Nesta carta o bispo informava da participação do pe. Joaquim
de Monte Carmelo na maçonaria, explicando que ele a freqüentava e pronunciava
discursos nas «grandes lojas». Nela também declarou ao Santo Padre que somente nele
podia buscar apoio e conselhos. Foi exatamente isso que o Santo Padre lhe deu por meio
de uma carta que enviou ao bispo em 2 de outubro de 1856, onde também pedia
informações sobre os padres capuchinhos que lhe havia mandado para lecionarem no
Seminário diocesano. [AES, Br., Lettera del Santo Padre ao vescovo di São Paulo, 2 de
outubro de 1856, Fasc. 175, pos. 121, f. 77r-79v].
234
AES, Br., Ministério dos Negócios da Justiça do Conselho d’Estado, 8 de março
de 1856, Fasc. 175, pos. 121, f. 52r, 53r-61v.
188 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
235
AES, Br., Ministério dos Negócios da Justiça do Conselho d’Estado, 8 de março
de 1856, Fasc. 175, pos. 121, f. 53r-53v.
236
AES, Br., Officio, 1857, Fasc. 175, pos. 121, f. 104r-105v;
CAP. II: ASCENSÃO DO ULTRAMONTANISMO 189
—————————–
237
Coleção das leis do Império do Brasil, 1857, XX, parte II, 103.
238
D. R. VIEIRA, O processo de reforma e reorganização da Igreja no Brasil, 200.
239
Coleção das leis do Império do Brasil, 1857, XX, parte II, 103.106.
190 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
legge di stato quella speciale risoluzione, che doveva adottare a riguardo delle
lunghe e scandalose vertenze suscitatesi del proprio Clero. E qui mi è grato
oltremodo di soggiungere a Vostra Eminenza che ciò debbasi esclusivamente
al fermo intendimento manifestato in questo emergente da S. M. l’Imperatore
al Ministero ed al Consiglio di Stato. In virtù di questa importante
disposizione il Giuseppismo introdotto nel Brasile dal Marchese di Pombal di
ben triste celebrità, e che ha posto in queste regioni si profonde radici, ha
ricevuto, non vi é dubbio, un gran colpo, avendo ridonato ai Vescovi nelle loro
Diocesi, e ai Superiori regolari nelle Comunità religiose, la parte più
importante ed efficace dei sacri diritti dell’autorità disciplinare. Voglia
permettere il Sig. Iddio che questo movimento sia precursore di altre
consolanti notizie; cui non mancherò, per quanto da me dipende, di
predisporre il terreno243.
A suspensão ex informata conscientia foi várias vezes questionada por
certos políticos do império, tendo inclusive corrido o risco de ser derrogada
entre 1865-1867. Tudo se iniciou por ocasião da suspensão de quatro
cônegos do cabido da catedral no Rio Grande do Sul, por D. Sebastião Dias
Laranjeiras (1820-1888). Na defesa dos cônegos saiu o senador maçom
gaúcho Gaspar da Silveira Martins (1835-1901), que os aconselhou a
interporem um recurso à Coroa. Na defesa do prelado veio D. Antônio de
Macedo Costa que publicou um opúsculo em 30 de agosto de 1866244.
A petição dos padres apelantes foi parar na Câmara dos Deputados, que
decidiu derrubar a «inovação», levando Brás Florentino Henriques de
Souza (1825-1870) a protestar contra o Governo a quem acusou de
prejudicar a legítima autoridade dos bispos245. Porém, em 1867 o Senado
rejeitou o projeto da Câmara dos Deputados que revogava o artigo 2º do
decreto de 1857, sendo Nabuco Araújo o relator das comissões que
analisaram e rejeitaram o projeto enviado pela Câmara246.
—————————–
251
José Murilo de Carvalho apresenta, separadamente, as despesas dos vários setores
da administração pública. [J. M. CARVALHO, Teatro das Sombras, Apêndice IV, Tabela
XX, 180], ver também A. M. R. BASTOS, Católicos e Cidadãos, 106-107.
CAPÍTULO III
—————————–
3
Tal característica do movimento ultramontano levou alguns estudiosos da história
da Igreja Católica no Brasil, na segunda metade do século XX, a ressuscitarem o termo
«romanização», para descrever o processo de reforma que teve como agentes os
ultramontanos. Este tema será retomado logo a seguir [ndr.].
4
G. MARTINA, Storia della Chiesa, III, 106.
5
De 22 de outubro a 16 de novembro de 1848, foi realizado em Würzburg, uma
conferência dos bispos alemães, com a participação de alguns prelados austríacos, entre
eles o Cardeal de Viena, Joseph John Schwarzenberg (1809-1885). A assembléia foi
realizada sob sugestão do Núncio Apostólico na Áustria, Michele Viale Prelà (1799-
1860), e por iniciativa do engenhoso Joahannes von Geissel (1796-1864), Arcebispo de
Colônia. Duas preocupações dominaram o evento: a reivindicação da libertas Ecclesiae
frente aos velhos e novo regimes e a reorganização da Igreja na Alemanha de acordo
com as diretrizes romanas e as exigências do tempo. Em um amplo memorial que serviu
de base para a discussão, Geissel chamou a atenção sobre as relações entre Estado e
CAP. III: A ATUAÇÃO DOS ULTRAMONTANOS NO SEGUNDO IMPÉRIO 197
Igreja, sobre o problema das escolas, sobre as relações com os acatólicos, sobre os
sínodos diocesanos, sobre a organização dos católicos e sobre a ação social. Geissel
conseguiu, graças à sua crescente influencia, fazer prevalecer os seus pontos de vista,
conseguindo a desaprovação geral do placet e do padroado e a afirmar a necessidade de
organizar um ensino católico livre, tomando como exemplo a Bélgica. Os documentos
produzidos pela conferência dos bispos alemães influenciaram as relações entre Igreja e
Estado tanto na Alemanha quanto no Império Austríaco [Sobre a conferência dos bispos
de Würzburg ver: Atti dei vescovi di Germania congregati in Würzburg l’anno 1848, G.
FELICIANI, Le conferenze episcopali, 17-18; R. AUBERT, Il pontificato di Pio IX, 101-
102].
6
K. SCHATZ, Storia della Chiesa, III,58-69.
7
D. G. VIEIRA, O protestantismo, a maçonaria e a Questão Religiosa, 32-33.
8
K. SCHATZ, Storia della Chiesa, III, 6.
198 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
23
R. BARBOSA, O Papa e o Concílio, 11-12.46.73.76.91.167.
24
L.VIANA FILHO, Rui & Nabuco,133-134.
25
L.VIANA FILHO, Rui & Nabuco, 134. Sobre a divulgação do conceito de
romanização no Brasil por Rui Barbosa e as suas conseqüências políticas para seu
formulador consultar: D. R. VIEIRA, O processo de reforma e reorganização da Igreja
no Brasil, 294-296.
CAP. III: A ATUAÇÃO DOS ULTRAMONTANOS NO SEGUNDO IMPÉRIO 203
—————————–
29
R. DELLA CAVA, Milagre em Joaseiro, 33
30
L. DUTRA NETO, Das terras baixas da Holanda às montanhas de Minas, 31.
31
E. S. RIBEIRO, Igreja Católica e Modernidade no Maranhão, 33.
32
J. COMBLIN, «Situação histórica do catolicismo no Brasil», em REB, XXVI, fasc.
3, 575-601.
33
J. COMBLIN, «Situação histórica do catolicismo no Brasil», em REB, XXVI, fasc.
3, 595.
CAP. III: A ATUAÇÃO DOS ULTRAMONTANOS NO SEGUNDO IMPÉRIO 205
origem, continuando a usá-lo com insólito pouco senso crítico. Foi o que
aconteceu em 1974, quando a Revista Eclesiástica Brasileira (REB),
publicou um artigo de Riolando Azzi intitulado: O movimento brasileiro de
reforma católica durante o século XIX34, em que, sem reserva, dito autor
sustentava que uma das características da reforma realizada pelos bispos
ultramontanos no país era aquela de ser um movimento «romanista». Esta
era a sua definição:
Durante os séculos XVIII e XIX os católicos da Europa se cindiam em dois
grupos: os chamados católicos regalistas, galicanos ou jansenistas, que
defendiam as interesses de uma igreja mais vinculada à sua nação, sob certa
dependência do poder civil e com cunho de ação marcadamente político, e os
designados como católicos «romanos» ou «ultramontanos», que apregoavam
uma adesão incondicional ao Papa, dentro de uma Igreja de caráter universal,
mas sob a orientação exclusiva da Santa Sé35.
Ele explicou o desenvolvimento desse movimento desta maneira:
No Brasil, a vinculação com Roma fora muito débil no período colonial,
pela forma que a Igreja assumiu dentro do regime de padroado. Mas, a partir
do século passado, especialmente por influencia do novo espírito trazido pelos
lazaristas, a Igreja do Brasil passa a proclamar sua adesão total ao Papa,
tentando desvincular-se das poderosas malhas do padroado imperial. Esse
cunho romanista [grifo do autor] que marca a renovação católica, representa
uma opção consciente dos bispos reformadores. É para Roma que D. Viçoso
envia seus melhores alunos e colaboradores, a fim de completar a formação
sacerdotal, capacitando-se para a direção dos seminários [...] É também em
Roma que se forma D. Macedo Costa, o grande líder da Reforma da Igreja no
Brasil36.
Riolando Azzi, por muitas vezes se referiu à ação dos ultramontanos
como um movimento de reforma ou de renovação, também definiu os
bispos que o conduziram como reformadores. Isso porque, ele aceita o fato
que durante quase toda a história religiosa do Brasil, desde a implantação
do primeiro bispado em 1551, até o primeiro concílio plenário brasileiro
em 1939, o episcopado assumiu como ação pastoral prioritária a
implantação da reforma tridentina, com posteriores acréscimos do Concílio
—————————–
34
R. AZZI, «O movimento brasileiro de reforma católica durante o século XIX», em
REB, XXXIV, fasc. 135, 646-662.
35
R. AZZI, «O movimento brasileiro de reforma católica durante o século XIX», em
REB, XXXIV, fasc. 135, 649.
36
R. AZZI, «O movimento brasileiro de reforma católica durante o século XIX», em
REB, XXXIV, fasc. 135, 649.
206 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
37
R. AZZI, O episcopado do Brasil frente ao catolicismo popular, 111-112
38
J. O. BEOZZO, «Irmandades, Santuários, Capelinhas de Beira de Estrada», em REB,
XXXVII, 745.
39
L. DUTRA NETO, Luciano. Das terras baixas da Holanda às montanhas de Minas,
31.
CAP. III: A ATUAÇÃO DOS ULTRAMONTANOS NO SEGUNDO IMPÉRIO 207
—————————–
44
P. R. OLIVEIRA, Religião e dominação de classe, 12.
45
P. R. OLIVEIRA, Religião e dominação de classe, 326-327.
46
L. DUTRA NETO, Das terras baixas da Holanda às montanhas de Minas, 29, 39,
258.
CAP. III: A ATUAÇÃO DOS ULTRAMONTANOS NO SEGUNDO IMPÉRIO 209
deve notar que Lindvaldo coloca o processo, do que ele chama de «romanização», como
sendo de mão única Santa Sé Igrejas locais, o que não condiz com os fatos, que
demonstram uma via de mão dupla. [A. L. SOUSA, «Da História da Igreja à História das
Religiosidades no Brasil: uma reflexão metodológica», em C. C. BEZZERA – al., Temas
de Ciências da Religião, 251-267].
51
Cf. A. WERNET, A Igreja paulista no século XIX.
52
M. C. LIMA, Breve História da Igreja no Brasil, 123; A. L. SOUSA, «Da História da
Igreja à História das Religiosidades no Brasil: uma reflexão metodológica», em C. C.
BEZZERA – al., Temas de Ciências da Religião, 251-267.
CAP. III: A ATUAÇÃO DOS ULTRAMONTANOS NO SEGUNDO IMPÉRIO 211
intervento alle enunciate Camere. Senza dubbio da tale assenza non può non
risentire grave danno al gregge ad essi rispettivamente affidato, quantunque,
come io accennavo poco anzi, non sia d’altronde piccolo il bene da potersi
sperare per la parte che prendono i Prelati medesimi alle Sessioni delle
Camere Legislative. Spetta ai medesimi il conciliare la cosa in modo che
vengano, se non esclusi, almeno diminuiti in gran parte i mali provenienti
dalla Loro assenza dalle proprie Diocesi. Ciò si otterrebbe per quanto mi
sembra colla corrispondente nomina di uno o più Vicari, secondo la vastità
delle stesse Diocesi, presso i quali rimanga l’amministrazione Diocesana
durante l’assenza del rispettivo Pastore. Ella ben concepisca da ciò la sostanza
di quelle pratiche che sull’argomento in discorso Le incombono verso i vari
Vescovi di codesto Impero, ai quali per ultimo non mancherà di far
prudentemente intendere chi essendo il proprio Loro ufficio quello di attendere
allo spirituale governo delle Diocesi cui vennero destinati, come padri e
pastori, sono in coscienza tenuti a non assentarsene, ancorché precariamente,
quando non abbiano i mezzi di lasciarle convenientemente assistite53.
Pode-se notar, deste documento, que o desejo da Santa Sé era que os
bispos continuassem a aproveitar o direito de ocupar cargos eletivos na
Câmara e no Senado, sem, no entanto, deixar de prover adequadamente ao
governo das suas dioceses. Este documento é de 1842, e os bispos que
foram nomeados partir de 1844, renunciariam a participação política,
contrariamente a tais instruções da Santa Sé, o que reflete que este
posicionamento dos prelados brasileiros não foi devido a uma ordem vinda
«de cima», mas de um desejo que nasceu das próprias circunstâncias da
Igreja nacional. O documento citado ajuda a demonstrar quanto seja
inadequado o conceito de romanização, que tende a favorecer a
interpretação de que a reforma católica iniciada no século XIX tenha sido
um movimento de mão única, que partia da Santa Sé e era cumprida pelos
bispos e outros «agentes de Roma»54.
A necessidade de afastar-se a si e a seu clero da política partidária foi
sentida por D. Viçoso bispo de Mariana, de formação lazarista e
ultramontana, mas também pelo bispo de São Paulo, D. Antônio Joaquim
de Mello, simples padre de Itu, que se formou e exercitou seu sacerdócio
dentro do catolicismo «tradicional», sendo ele a maior contradição às
explicações simplistas dos defensores da romanização. Todavia o
documento citado não é o único neste sentido, pois vários outros podem ser
—————————–
53
ASV, NAB, Dispaccio, 22 de março de 1842, Cx. 18, fasc. 76, doc. 78, f. 178r-
178v.
54
ASV, NAB, Dispaccio, 22 de março de 1842, Cx. 18, fasc. 76, doc. 78, f. 178r-
178v.
212 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
64
SAINT-HILAIRE, Viagem pelas províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais, 81-86.
65
R. P. OLIVEIRA, «Estudo Introdutório», em J. S. TRINDADE, Visitas Pastorais
(1821-1825), 27.
66
Esta carta pastoral foi publicada por V. WILLEKE, «Dom Frei José da Santíssima
Trindade», em RIHGMG, XII, 68-69. As principais fontes de informação sobre este
estatuto e suas diferenças com os precedentes são: J. S. TRINDADE, «O Seminário em
1831», em RAPM, IX, n.1-2, 367-377; R. O. TRINDADE, A Arquidiocese de Mariana, II,
771-775.788-807; J. F. CARRATO, Igreja, Iluminismo e escolas mineiras coloniais, 106-
111; R. P. OLIVEIRA, «Estudo Introdutório», em J. S. TRINDADE, Visitas Pastorais (1821-
1825), 27-32.
67
Raimundo Trindade e Venâncio Willeke se detiveram pouco em pesquisar tais
visitas. O primeiro a se dedicar um pouco mais a elas foi Maurílio Camello;
posteriormente o argumento se enriqueceu com a publicação da vasta documentação
sobre elas, em 1998 na Coleção Mineiriana. [Cf. M. J. O. CAMELLO, Dom Antônio
Ferreira Viçoso e a reforma do clero; J. S. TRINDADE, Visitas Pastorais (1821-1825)].
216 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
68
Só para citar duas no caso de Minas Gerais: R. P. OLIVEIRA, «Estudo Introdutório»,
em J. S. TRINDADE, Visitas Pastorais (1821-1825), 21-72; Cf. M. J. O. CAMELLO, Dom
Antônio Ferreira Viçoso e a reforma do clero.
69
R P. OLIVEIRA, «Estudo Introdutório», em J. S. TRINDADE, Visitas Pastorais (1821-
1825), 42-48.
70
V. WILLEKE, «Dom Frei José da Santíssima Trindade», em RIHGMG, XII, 71-81.
71
R. O. TRINDADE, Arquidiocese de Mariana, I, 189.191; R. P. OLIVEIRA, «Estudo
Introdutório», em J. S. TRINDADE, Visitas Pastorais (1821-1825), 35-36.
CAP. III: A ATUAÇÃO DOS ULTRAMONTANOS NO SEGUNDO IMPÉRIO 217
—————————–
76
Esta carta foi publicada em J. S. TRINDADE, Visitas Pastorais, 151-152.
77
R. O. TRINDADE, Arquidiocese de Mariana, I, 192; R. P. OLIVEIRA, «Estudo
Introdutório», em J. S. TRINDADE, Visitas Pastorais (1821-1825), 32-33.
78
R. O. TRINDADE, Arquidiocese de Mariana, I, 193-194.
79
Coleção das Leis do Império do Brasil, 1827, parte I, 83.
CAP. III: A ATUAÇÃO DOS ULTRAMONTANOS NO SEGUNDO IMPÉRIO 219
—————————–
88
R. A. SEIXAS, Obras Completas, tomo I, introdução, 21.
89
C. COSTA E SILVA, «Notícias sobre o primeiro brasileiro na Sé da Bahia», em
Centro de Estudos Baianos, n. 95,12.
90
No discurso em Ação de Graças pela Paz quando ainda era vigário encomendado
de Cametá: «A paz, que celebramos, como um presente, é preciosa à religião
reintegrando a Igreja, e seu Chefe nos seus sagrados direitos; é vantajosa á sociedade,
restabelecendo os governos nas bases primitivas, e no equilíbrio que deve sustentar o
seu poder [...] Do seio da França se eleva, à maneira de negro vapor uma seita orgulhosa
e funestíssima à Religião e à sociedade, que, ousando arrogar-se o nome de filosofia, de
sabedoria, e de razão, não limita já os seus votos a uma simples reforma de opiniões
religiosas, ou a combater um ponto da sua fé ou da sua moral: animada contra o Deus
do Evangelho, cuja santidade, e doutrina condenavam as paixões, e o amor próprio, ela
jura no acesso do seu furor a sua queda, e a sua ruína universal [...] Era natural senhores,
que o plano de extinguir a Religião conduzisse insensivelmente os sofistas da impiedade
à destruição de todos os governos legítimos e de todos os vínculos da ordem social, que
das máximas do cristianismo recebem a consistência mais firme, e o freio mais
poderoso para combater os povos, inculcando altamente o respeito, que merecem as
segundas majestades». [R. A. SEIXAS, Obras Completas, I, 5-19]
222 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
91
«Discurso em ocasião da instalação da Irmandade de S. Francisco Xavier», em 26
de setembro de 1855, em R. A. SEIXAS, Obras Completas, I, 333-334.
92
«Discurso sobre a educação religiosa recitado na posse do cargo de Provedor da
Casa pia dos Órfãos», 1831, em R. A. SEIXAS, Obras Completas, I, 164 nota 1.
CAP. III: A ATUAÇÃO DOS ULTRAMONTANOS NO SEGUNDO IMPÉRIO 223
—————————–
97
Cf. R. A. SEIXAS, Obras Completas; C. COSTA E SILVA, «Notícias sobre o primeiro
brasileiro na Sé da Bahia», além de vários discursos presentes nos Anais do Parlamento
Brasileiro.
98
R. A. SEIXAS, Obras Completas, I, introdução, 23-25.
CAP. III: A ATUAÇÃO DOS ULTRAMONTANOS NO SEGUNDO IMPÉRIO 225
—————————–
101
S. G. PIMENTA, Vida de D. Antônio Ferreira Viçoso,53-55.
102
ASV, NAB, Dispaccio, 24 de agosto de 1843, Cx. 18, fasc. 76, doc. 43, f. 92r.
103
S. G. PIMENTA, Vida de D. Antônio Ferreira Viçoso, 65-66. Enquanto estava no
Rio de Janeiro também foi enviado pelo Internúncio como visitador apostólico aos
carmelitas da Bahia [AES, Br., Atti Del Nunzio Mons. Ambrogio Campodonico per la
riforma dei Carmelitani in Bahia, 10 de maio de 1844, Fasc. 157, pos. 45, f. 28r-29v].
104
AES, Br., Relazione sulla Diocesi – Atto di Giuramento Del Vescovo Mon.
Antônio Ferreira Viçoso, 1844, Fasc. 157, pos. 49, f. 58r-58v, 60r e 60v, 62r-63v.
105
R. O. TRINDADE, Arquidiocese de Mariana, I, 217.
CAP. III: A ATUAÇÃO DOS ULTRAMONTANOS NO SEGUNDO IMPÉRIO 227
Foi neste cenário que D. Viçoso deu início à grande obra reformadora
que iria dar um novo rumo à Igreja Católica no Brasil nos anos vindouros.
A diocese de Mariana estava vacante desde 1835, quando falecera D. fr.
José da Santíssima Trindade. A ação do seu antecessor não impedira que
padres se envolvessem no movimento revolucionário de 1842, ou que
outros, sobretudo após a morte de D. fr. José, esquecidos dos deveres de
seu ministério, tenham tolerado uma religiosidade reduzida a atos externos
de devoção, que dava pouca importância aos sacramentos. Tudo isso,
obviamente, ao lado da excessiva intromissão do poder civil na ambiência
eclesiástica. D. Viçoso, entretanto, antes mesmo de chegar a Mariana,
iniciou sua campanha reformadora por meio da sua primeira carta pastoral,
na qual se dirigiu ao cabido, ao clero, à Congregação de S. Vicente, às
recolhidas de Macaúbas, aos candidatos ao sacerdócio e aos fieis,
exortando-os a auxiliarem a obra reformadora que desejava realizar106.
Na busca do restabelecimento da credibilidade e do fortalecimento da
hierarquia eclesiástica, D. Viçoso instaurou uma escrupulosa escolha dos
membros do cabido, mesmo que para isso tivesse de enfrentar o próprio
Imperador, como se viu no capítulo precedente. Este processo teve início
logo que ele chegou em Mariana. O cabido da catedral, segundo Raimundo
Trindade, com poucas mas honrosas exceções, compunha-se de padres
publicamente amasiados, sendo a mais significativa demonstração da
situação miserável em que se encontravam os costumes eclesiásticos. O
vigário-capitular, João Paulo Barbosa, «era indigno», e «profanava seus
votos e vivia a enxovalhar a magistratura eclesiástica e, mais que isto,
neutralizar a ação moralizadora do seu prelado». O vigário era «tão
impudente e atrevido no seu pecado, que marcava na Sé, lugar honroso, à
sua amásia». Por isso o novo prelado recusou elevá-lo a vigário geral,
como tradicionalmente acontecia107.
Em relação às ordenações, D. Viçoso também foi prudente e rigoroso.
Nem mesmo as dimissórias para se ordenar em outra diocese ele cedia sem
ter certeza da preparação, dignidade e moralidade do candidato. Ele chegou
mesmo a enfrentar as autoridades imperiais na defesa do procedimento que
considerava correto. Certa vez, negou-se a ordenar, ou mesmo dar as
dimissórias, a um candidato ao sacerdócio que era parente e protegido do
Presidente do Conselho de Ministros, Honório Hermeto Carneiro Leão, o
Marquês do Paraná. Houve então uma troca de ofícios em termos ríspidos e
sinceros entre os dois. Primeiro o Marques escreveu ao bispo pedindo as
dimissórias ao seu parente, para que se ordenasse em outro bispado, porém,
—————————–
106
S. G. PIMENTA, Vida de D. Antônio Ferreira Viçoso, 66-67.
107
R. O. TRINDADE, Arquidiocese de Mariana, I, 217-221.
228 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
D. Viçoso respondeu que não podia satisfazer o seu pedido por ser o
candidato indigno. Respondeu-lhe o Marquês que como Ministro podia
«fazer bispos, quanto mais padres» e que «com as dimissórias, ou sem elas,
seu parente havia de ordenar». A resposta de D. Viçoso foi a mesma, uma
negativa, na qual afirmou que mesmo se o protegido do Marquês se
ordenasse não seria por conivência ou anuência sua, pois o prelado não
queria «carregar sua consciência com a tremenda responsabilidade de um
mau padre posto na Igreja». O protegido de Paraná tornou-se sacerdote
forçadamente em São Paulo, mesmo sem as dimissórias. Ele foi um
sacerdote indigno e escandaloso, e acabou morrendo assassinado108.
Outros exemplos do escrúpulo com que agia em relação às ordenações
podem ser encontrados nas suas biografias. O seu modo de proceder «deu
ótimos sacerdotes a Igreja e cinco bispos, «alguns deles dos mais ilustres de
que se ufana a Igreja no Brasil». Foram eles: D. José Afonso de Morais
Torres, bispo do Pará; D. Luís Antônio dos Santos, bispo de Ceará; D. João
Antônio dos Santos, bispo de Diamantina; D. Pedro Maria Lacerda, bispo
do Rio de Janeiro; e D. Silvério Gomes Pimenta, Arcebispo de Mariana.
Todo o escrúpulo e prudência de D. Viçoso levou o Governo a consultá-lo
várias vezes antes de nomear um novo bispo, o que acabou influenciando
diretamente no futuro de outras dioceses109.
Dentro da lógica da formação e escolha de um novo clero, o Seminário
diocesano ocupava um ponto estratégico. A reforma que realizou na casa
de formação marianense foi uma das grandes obras de D. Viçoso. Esta
instituição fora reativada pelo seu antecessor D. José, mas fechou nos
longos anos de vacância, devido aos conflitos armados na província. O
prédio onde funcionava gradualmente se danificou, principalmente ao
tempo da revolução de 1842, quando foi utilizado como quartel pelas
tropas legalistas. Raimundo Trindade, falando sobre a condição em que se
encontrava o Seminário no período da Sé vaga, apresentou a seguinte
anotação que encontrou em um dos cadernos de D. Silvério e que não
apareceu na sua obra sobre D. Viçoso:
O Seminário em Sé vaga estava de tal jeito que os alunos saiam de noite para
as casas de amasias que tinham na cidade, apesar da reclusão em que eram
guardados, dormindo com as portas fechadas. Chegava a ponto que quando
algum seminarista tentava alguma moça, ela lhe prometia para quando fosse
padre, porque então tinha meios de a sustentar110.
—————————–
108
S. G. PIMENTA, Vida de D. Antônio Ferreira Viçoso, 176.
109
R. O. TRINDADE, Arquidiocese de Mariana, I, 224.232.
110
R. O. TRINDADE; Arquidiocese de Mariana, I, 221.
CAP. III: A ATUAÇÃO DOS ULTRAMONTANOS NO SEGUNDO IMPÉRIO 229
—————————–
118
A. J. MELO, Dom Antônio Ferreira Viçoso, 22.
119
R. O. TRINDADE; Arquidiocese de Mariana, I, 223; A. J. MELO, Dom Antônio
Ferreira Viçoso, 24-60.
120
S. G. PIMENTA, Vida de D. Antônio Ferreira Viçoso, 156-162.
232 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
127
S. G. PIMENTA, Vida de D. Antônio Ferreira Viçoso, 214-215.
128
S. G. PIMENTA, Vida de D. Antônio Ferreira Viçoso, 216-218
129
R. O. TRINDADE, Arquidiocese de Mariana, I, 231.
130
R. O. TRINDADE, Arquidiocese de Mariana, I, 234-236.
234 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
poteva la sua morte non esser di afflizione al Santo Padre specialmente per le
difficoltà attuali di trovare buoni Pastori131.
Quando tinha seis anos de idade sua família transferiu-se para Minas Gerais,
acompanhando o capitão Teobaldo que para lá fora transferido. Em 1799, aos 8 anos,
assentou praça no regimento de seu pai e começou a freqüentar as primeiras letras nas
aulas do quartel. Mesmo sem vocação, foi militar até 1810, quando conseguiu baixa e
voltou para Itu. Nesta cidade se convenceu de sua vocação sacerdotal e aos 19 anos,
retomou o estudo da língua latina. Posteriormente se transferiu para São Paulo, junto
com seu primo, Francisco de Paula Sousa e Mello, que o hospedou durante quatro anos.
São Paulo, naqueles anos, estava dominada pela cultura iluminista, e foi nesse ambiente
que Joaquim de Mello se preparou duramente para o sacerdócio. Nos dois primeiros
anos assistiu às aulas de filosofia no curso dado no convento de São Francisco e recebeu
as ordens menores em 1812. Nos outros dois anos passou a estudar teologia e freqüentar
as aulas de moral e dogmática do bispo diocesano D. Mateus de Abreu Pereira. Em
1814, recebeu as ordens maiores, bem como a ordenação sacerdotal, voltando, em
seguida, a sua terra natal. Nos anos de 1823 a 1830, o pe. Antônio Joaquim de Mello se
retirou da vila de Itu para a fazenda de propriedade de Roque Teixeira, e ali abriu um
internato para meninos do curso propedêutico, sendo ele o diretor, o principal professor
e o capelão da fazenda. Voltou para Itu em 1830, e em 1833 se dirigiu a Minas Gerais
intencionado a ingressar na Congregação dos Padres da Missão no colégio do Caraça.
Na primeira parte da viagem chegou até Pouso Alegre, mas não conseguiu ir adiante
devido a uma sedição que ocorreu em Minas em 1833, retornando, então, para Itu. Nesta
cidade o pe. Joaquim Antônio de Mello abriu uma escola de primeiras letras na chácara
onde residia e se afastou quase completamente do convivo social, exceto aos domingos
quando ajudava na Igreja Matriz. Em 1842, diferentemente da maioria do clero paulista,
se opôs aos liberais na Revolução Liberal de 1842. Após a morte de D. Manuel Joaquim
Gonçalves de Andrade, foi nomeado bispo de São Paulo com o decreto de 5 de maio de
1851 [As informações sobre sua vida podem ser encontrados nos principais trabalhos
sobre ele e nas suas biografias: A. WERNET, A Igreja Paulista no século XIX, 26.40-
41.47.50-52.98; E. G. FONTOURA, Vida do Ex.mo e Rev.mo D. Antônio Joaquim de
Mello, 9-47; P. F. S. CAMARGO, A Igreja na História de São Paulo, VII].
135
A. WERNET, A Igreja Paulista no século XIX, 41.
136
E. G. FONTOURA, Vida do Ex.mo e Rev.mo D. Antônio Joaquim de Mello, 20.
236 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
Padres do Patrocínio» em Itu, cujo presidente não era outro senão o pe.
Feijó. Eles se reuniam na Igreja de N. S. do Patrocínio onde discutiam
sobre assuntos teológicos e recitavam o ofício divino, porém, os livros
jansenistas e regalistas muito em voga naqueles tempos, prejudicaram
incontestavelmente os resultados dessa congregação. Entre os padres Feijó
e Mello nasceu uma sincera amizade, mas sem eliminar as divergências que
tinham no tocante a questões filosóficas e teológicas. Outra diferença era
que, enquanto pe. Feijó se sentia atraído pela política partidária, pe. Mello a
abominava. Estas divergências se definiram de vez ao eclodir a Revolução
Liberal em 1842, analisada no segundo capítulo137.
Após a morte de D. Manuel Joaquim Gonçalves de Andrade, D. Antônio
Joaquim de Mello, aos sessenta anos de idade, foi nomeado bispo de São
Paulo com o decreto de 5 de maio de 1851, assinado pelo Conselheiro
Euzébio de Queiros Coutinho Matoso Câmara, então Ministro da Justiça.
Esta nomeação foi devida principalmente à atuação de D. Antônio em favor
das autoridades constituídas em 1842138.
Conhecendo o ambiente clerical paulista, ele inicialmente relutou em
aceitar, mas acabou sendo convencido por seus amigos mais íntimos. Logo
em seguida dirigiu-se para o Rio de Janeiro, onde se apresentou ao
Imperador para agradecê-lo, «declarando-se humildemente o mais obscuro
sacerdote da Diocese». D. Pedro II, assim respondeu ao agradecimento: «O
seu nome é bem conhecido desde 1842, tenho o seu discurso proferido
nesta época revolucionária»139.
Foi confirmado bispo por Pio IX em 14 de março de 1852, e mandou
tomar posse por procuração o pe. Antônio Martiniano de Oliveira,
—————————–
137
E. G. FONTOURA, Vida do Ex.mo e Rev.mo D. Antônio Joaquim de Mello, 31-34.
138
«Teria sido Francisco de Paula Souza e Mello que, ao entregar o seu cargo de
Presidente do Conselho dos Ministros, deixou nos seus documentos o nome de seu
parente para bispo de São Paulo. Este nome foi aproveitado pelo Ex.mo Sr. Conselheiro
Eusébio de Queiroz Matosos Câmara, seu sucessor, sugerindo-o a Dom Pedro II» [P. F.
S. CAMARGO, A Igreja na História de São Paulo, VII, 337]. «Quando faleceu Dom
Antônio Manuel Joaquim de Andrade, em 1847, Dom Pedro II tinha desde 1842 um
nome guardado a Sé Paulipolitana: O Padre Antônio Joaquim de Mello, que pronunciara
um sermão, em plena Revolução Liberal, defendendo o princípio da autoridade. O
médico irlandês Ricardo G. Daunt teria enviado o sermão ao Imperador com os devidos
elogios...» [L. C. ALMEIDA; «A Igreja em São Paulo no período Imperial», em a Igreja
nos quatro séculos de São Paulo, I, 90].
139
E. G. FONTOURA, Vida do Ex.mo e Rev.mo D. Antônio Joaquim de Mello, 50.
CAP. III: A ATUAÇÃO DOS ULTRAMONTANOS NO SEGUNDO IMPÉRIO 237
—————————–
140
E. G. FONTOURA, Vida do Ex.mo e Rev.mo D. Antônio Joaquim de Mello, 47-57;
A. WERNET, A Igreja paulista no século XIX, 98.
141
E. G. FONTOURA, Vida do Ex.mo e Rev.mo D. Antônio Joaquim de Mello, 118.
238 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
142
A. J. DE MELLO, «Primeira Carta Pastoral», em E. G. FONTOURA, Vida do Ex.mo e
Rev.mo D. Antônio Joaquim de Mello, 58-69.
143
Augustin Wernet não considera a terceira parte sobre os emolumentos como parte
do Regulamento, ao contrário de Ezechias que a considera parte dele, porém não faz
referimento e nem mesmo publica a segunda parte [ndr.].
144
AES, Br., Lettera di Antônio vescovo di São Paulo ao Santo Padre, 29 de maio
de 1856, Fasc. 175, pos. 121, f. 41r-48r; E. G. FONTOURA, Vida do Ex.mo e Rev.mo D.
Antônio Joaquim de Mello, 74-75.
145
A. WERNET, A Igreja Paulista no século XIX, 103.
CAP. III: A ATUAÇÃO DOS ULTRAMONTANOS NO SEGUNDO IMPÉRIO 239
ordinário que mais nos dói e mais nos fez ser a fábula do povo e que mais
males tem feito à Igreja146.
Na terceira parte do Regulamento, publicado em 27 de janeiro de 1853,
tratava dos excessos e arbitrariedades na exigência dos emolumentos. Uma
tal regulamentação já tinha sido feita pelos padres de Itu, sob a direção do
pe. Diogo Feijó, e enviada ao antecessor de D. Antônio, que respondera
declarando-se incompetente para decidir sobre isso, endereçando-lhes à
autoridade civil. Nessa pastoral D. Antônio fez questão de criticar seu
antecessor e de defender os direitos que ele considerava pertencer ao
episcopado147.
Em 1852, D. Antônio publicou um regulamento para os ordenandos que
esteve em plena execução até a abertura do Seminário. Nele o prelado
ressaltava e reafirmava a importância da vocação e a necessidade de sua
comprovação para poder ser ordenado, pois era «melhor ter poucos bons,
que muitos maus». Para se confirmar a existência de vocação verdadeira
era necessário ter todas ou algumas das seguintes características: inclinação
ao sacerdócio, pureza de intenções, santidade (principalmente a castidade),
espírito eclesiástico (fidelidade e obediência à Igreja Católica Apostólica
Romana e ao Papa), ciência (formação adequada), chamado do bispo
(quando o bispo considerar o candidato apto), chamado do povo (quando
uma paróquia e seu pároco estimavam o ordenando e confirmavam sua
vocação nata para o sacerdócio). Além disso, se exigia que prestassem um
juramento nas mãos do secretário do bispado de que nunca fizeram parte de
sociedades secretas, e caso tivessem feito, de as terem abandonado148.
Seriam excluídos das ordens os filhos ilegítimos de padres e os filhos de
pessoas cativas. Terminava regulando o vestuário, divertimento e
instituindo algumas últimas exigências como: confissão e comunhão
mensal, atestado de estudo e freqüência dado pelo pároco a cada três
meses, e também sobre a companhia que freqüentavam. Definia quais eram
os livros de leitura obrigatória: Caminho do Santuário, Introdução à vida
devota por São Francisco Sales e Theologia Dogmática e Moral de
Goussete149. Como já foi observado, duas exigências inéditas passaram a
—————————–
146
A. WERNET, A Igreja Paulista no século XIX, 101-102, notas 21 e 23.
147
A. J. DE MELLO, «Regulamento ao Clero coibindo os excessos e arbitrariedade na
exigência dos emolumentos», em E. G. FONTOURA, Vida do Ex.mo e Rev.mo D. Antônio
Joaquim de Mello,129-136.117.
148
A. J. DE MELLO, «Regulamento para os Ordenandos», em E. G. FONTOURA, Vida
do Ex.mo e Rev.mo D. Antônio Joaquim de Mello, 115.120-128.
149
A. J. DE MELLO, «Regulamento para os Ordenandos», em E. G. FONTOURA, Vida
do Ex.mo e Rev.mo D. Antônio Joaquim de Mello, 120-128.
240 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
155
AES, Br., Ofício, 23 de junho de 1854, Fasc. 169, pos. 94, f. 34r-35r; P. F. S.
CAMARGO, A Igreja na História de São Paulo, VII, 115-120.140-141.150-155; A.
WERNET, A Igreja Paulista no século XIX, 106-107.
156
Esta carta encontra-se publicada em E. G. FONTOURA, Vida do Ex.mo e Rev.mo D.
Antônio Joaquim de Mello, 92-93.
157
E. G. FONTOURA, Vida do Ex.mo e Rev.mo D. Antônio Joaquim de Mello, 140.165-
166; A. WERNET, A Igreja paulista no século XIX, 106-108. Entre os principais
opositores estavam os cônegos Ildefonso, Joaquim Anselmo de Oliveira e Joaquim do
Monte Carmelo. Recebendo notícias sobre o comportamento assumido por tais
sacerdotes, e consciente da impossibilidade dos frades de sua ordem de receberem apoio
do bispo que se encontrava em visita pastoral, o fr. Alfonso de Rumelly cogitou em
retirá-los de São Paulo e enviá-los para o Rio de Janeiro onde residiam outros
capuchinhos. Em 2 de julho de 1856, o bispo explicou, numa carta ao Papa, que tudo
não passara de um mal entendido. Dizia que a carta do fr. Alfonso de Rumelly, que
recebera em abril ordenando a transferência dos religiosos, fora como uma facada no
coração. Declarava seu amor e estima por estes dois padres e ameaçava renunciar caso
eles fossem afastados da sua província, pois a sua causa dependia destes dois religiosos,
e terminava garantindo a perfeita harmonia entre ele e os dois capuchinhos [ AES, Br.,
Lettera del Fr. Alfonso da Rumelly al Santo Padre, sd., Fasc. 175, pos. 121, f. 31r-32v;
Lettera di Antônio vescovo di São Paulo ao Santo Padre, 29 de maio de 1856, Fasc.
175, pos. 121, f. 47r; Lettera di Antônio vescovo di São Paulo ao Santo Padre, 2 julho
de 1856, Fasc. 175, pos. 121, f. 63r-67v; Lettera del Santo Padre al vescovo di São
Paulo, 2 de outubro de 1856, Fasc. 175, pos. 121, f. 77r-79v; Lettera di Antônio vescovo
di São Paulo ao Santo Padre 24 de outubro de 1856, Fasc. 175, pos. 121, f.86r-87r;
CAP. III: A ATUAÇÃO DOS ULTRAMONTANOS NO SEGUNDO IMPÉRIO 243
ASV, NAB, Memória, 1856, Cx. 29, fasc. 131, doc. 16, f. 35; Dispaccio, 04 de abril de
1856, Cx. 29, fasc. 121, doc. 59, f. 109r-110r].
158
P. F. S. CAMARGO, A Igreja na História de São Paulo, VII, 212.
159
Na ocasião da inauguração, o reitor do Seminário, fr. Eugênio de Rumelly, fez um
eloqüente discurso que demonstra muito bem a nova mentalidade do governo diocesano
de D. Antônio. O discurso inteiro se encontra em E. G. FONTOURA, Vida do Ex.mo e
Rev.mo D. Antônio Joaquim de Mello, 196-231. Também em AES, Br., Discurso
pronunciado por ocasião da abertura solene do seminário episcopal de S. Paulo, 1856,
Fasc. 175, pos. 121, f. 90r-101r.
160
E. G. FONTOURA, Vida do Ex.mo e Rev.mo D. Antônio Joaquim de Mello, 187-
188,.191; A. WERNET, A Igreja Paulista no século XIX, 109-112.
161
Provavelmente se refere à saída do Gabinete conservador presidido pelo conde de
Caxias em 4 de maio de 1857 e sua substituição por outro Gabinete conservador
presidido pelo Marquês de Olinda. O Ministro da Justiça no primeiro era Nabuco de
Araújo e do segundo Diogo Pereira de Vasconcelos [ndr.].
244 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
168
Estas cartas se encontram publicadas em E. G. FONTOURA, Vida do Ex.mo e
Rev.mo D. Antônio Joaquim de Mello, 142-163.170-175.259-266.272-276.
169
E. G. FONTOURA, Vida do Ex.mo e Rev.mo D. Antônio Joaquim de Mello, 255-257;
A. WERNET, A Igreja paulista no século XIX, 119-131.
170
A. WERNET, A Igreja Paulista no século XIX, 133.
171
A obediência, amor, estima e confiança em Pio IX era tanta que, em meio as suas
aflições, no ano de 1856, chegou a dizer que era somente nele que podia buscar
conselhos e apoio [ AES, Br., Lettera di Antônio Vescovo di São Paulo ao Santo Padre,
6 de agosto de 1856, Fasc. 175, pos. 121, f. 69r-74r].
172
Estas cartas pastorais foram publicas nas seguintes obras: E G. FONTOURA, Vida do
Ex.mo e Rev.mo D. Antônio Joaquim de Mello e P. F. S. CAMARGO, A Igreja na História
de São Paulo, VII.
CAP. III: A ATUAÇÃO DOS ULTRAMONTANOS NO SEGUNDO IMPÉRIO 247
uso na diocese por um novo, que passou a ser o único permitido após a sua
publicação em 20 de julho 1859173.
O bispo defendeu ainda, com todas as suas energias, a liberdade da
Igreja. Isso se refletiu na defesa do Seminário, citada em precedência, e na
insistência da legalidade das suspensões ex informata conscientia. Segundo
Augustin Wernet, D. Antônio chegou mesmo a sugerir ao Imperador,
«como solução para a calamitosa situação religiosa, a separação entre
Igreja e Estado», indo além da posição predominantemente defensiva
adotada pelo seu colega de Mariana, D. Viçoso174.
Dilermando Ramos Vieira também ressalta que, apesar do respeito
recíproco existente entre D. Antônio e o Imperador, o prelado «jamais foi
um aliado do trono, uma vez que se opunha ao liberalismo revolucionário
por razões puramente religiosas» e foram estas mesmas razões que «o
levaram a opor-se igualmente ao intervencionismo de Estado»175.
D. Antônio Joaquim de Mello faleceu em 16 de fevereiro de 1861,
deixando a diocese em perfeitas condições de se continuar à reforma por
ele iniciada. Em seu testamento, feito na cidade de Itu em 1859, dois anos
antes da sua morte, legou todos os seus bens particulares ao Seminário,
com a clausula de ser ele dirigido, econômica e cientificamente, pelos
filhos educados na casa após 25 anos. Enquanto isso deveria ficar sob os
cuidados dos capuchinhos176.
—————————–
173
E. G. FONTOURA, Vida do Ex.mo e Rev.mo D. Antônio Joaquim de Mello, 277-280.
174
A. WERNET, A Igreja Paulista no século XIX, 98.
175
D. R. VIEIRA, O processo de reforma e reorganização da Igreja no Brasil, 134.
176
E. G. FONTOURA, Vida do Ex.mo e Rev.mo D. Antônio Joaquim de Mello, 90.303.
248 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
179
C. A. P. ALENCAR, Roteiro dos bispados do Brasil, 242.
180
AES, Br., Lettera di ringraziamento del nuovo vescovo del Pará, Giuseppe
Alfonso de Moraes Torres al Santo Padre, 26 de abril de 1844, Fasc. 157, pos. 44, f.
22r-22v.
181
C. A. P. ALENCAR, Roteiro dos bispados do Brasil, 242-243; DBB, IV, 266-268.
182
C. A. P. ALENCAR, Roteiro dos bispados do Brasil, 243.
183
E. PAULI, «Primórdios da Escolástica no Brasil», em Estudos, n.1-2, 91.
250 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
184
DBB, IV, 266-268.
185
Filho de Salvador dos Santos Reis e dona Maria Antônio da Conceição, nasceu na
vila da Ilha Grande hoje cidade de Angra dos Reis, em 17 de março de 1817. [DBB, V,
358-359; F. CÂMARA, «Dom Luís Antônio dos Santos – Apóstolo do Ceará», em RIC,
XCV, 52-59].
186
J. LEMOS, D. Pedro Maria de Lacerda, 31-33; F. CÂMARA, «Dom Luís Antônio
dos Santos – Apóstolo do Ceará», em RIC, XCV, 54.
187
L. A. DOS SANTOS, Direitos do padroado no Brasil ou reflexões sabre os
pareceres do procurador da coroa e da sessão do conselho de estado de 18 de janeiro e
de 10 de março de 1856, por um padre da província do Rio de Janeiro.
188
AES, Br., Officio, 23 de julho de 1860, Fasc. 182, pos. 139, f. 54r-55r.
CAP. III: A ATUAÇÃO DOS ULTRAMONTANOS NO SEGUNDO IMPÉRIO 251
—————————–
189
F. CÂMARA, «Dom Luís Antônio dos Santos – Apóstolo do Ceará», em RIC,
XCV, 55.
190
AES, Br., Rapporto sul Vescovo di Ceará, janeiro de 1879, Fasc. 10, pos. 201, f.
30r; F. CÂMARA, «Dom Luís Antônio dos Santos – Apóstolo do Ceará», em RIC, XCV,
1981, 56-57.
191
DBB, V, 358-359; J. LEMOS, D. Pedro Maria de Lacerda, 31-33; F. CÂMARA,
«Dom Luís Antônio dos Santos – Apóstolo do Ceará», em RIC, XCV, 52-59.
192
AES, Br., Officio, 21 de novembro de 1879, Fasc. 10, pos. 201, f. 31r-31v.
252 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
193
AES, Br., Officio, 16 de janeiro de 1880, Fasc. 10, pos. 201, f. 32r-33v.
194
AEC, Br., Officio, 20 de março de 1880, Fasc. 10, pos. 201, f. 34r-35r.
195
AEC, Br., Dispaccio, 18 de maio de 1880, Fasc. 10, pos. 201, f. 35r-36v.
196
AES, Br., Officio, 19 de julho de 1880, Fasc.10, pos. 201, f. 39r-41r.
197
AES, Br., Telegrama, 31 de agosto de 1880, Fasc. 10, pos. 201, f. 44r.
CAP. III: A ATUAÇÃO DOS ULTRAMONTANOS NO SEGUNDO IMPÉRIO 253
São Gregório Magno, concedida por Pio IX, por serviços relevantes prestados à religião
e especialmente à congregação das irmãs Filhas da Caridade, das quais fora entusiástico
defensor. Sua mãe era D. Camila Leonor Pontes de Lacerda. Nasceu na
freguesia da Candelária, no Rio de Janeiro, em 31 de janeiro de 1830, e faleceu no
prédio do Seminário São José, em 12 de novembro de 1890. Foi agraciado com o título
de conselheiro do Imperador, assistente ao sólio pontifício, prelado doméstico de sua
santidade e comendador da ordem de Cristo. [J. LEMOS, D. Pedro Maria de Lacerda,
16-19; DBB, VII, 54; ver também A. A. F. DOS SANTOS, A Arquidiocese de S. Sebastião
do Rio de Janeiro].
208
Pe. Antônio Vieira Borges, substituiu o Internúncio Apostólico Mons. Gaetano
Bedini (1806-1864), Arcebispo titular de Tebas. Pio IX estava resolvido a elevar a
representação da Santa Sé no Brasil ao rol das Nunciaturas Apostólicas, e neste sentido,
designara mais uma vez a Mons. Bedini para ocupar agora este novo e mais elevado
posto, conforme ofício enviado pelo Secretário de Estado Cardeal Antonelli ao
Encarregado de Negócios brasileiro junto à Santa Sé, José Bernardo de Figueiredo,
datado de 13 de março de 1852. Figueiredo, porém, que de secretário de nossa legação
passara a Encarregado naquele mesmo mês, respondeu ser necessária a apresentação da
terna, ao que replicou Antonelli admirado, não ver razões para tal, uma vez que Bedini
já exercera aqui tais funções e sua conduta recebera louvores e, nesse meio tempo, viria
como Encarregado Mons. Marino Marini, Auditor da Delegação Apostólica no México.
Dada a insistência de Figueiredo, Antonelli dá o assunto por encerrado. Bedini foi eleito
Secretário da propaganda (1856-1861) e elevado ao cardinalato (1861), tendo falecido
como Arcebispo de Viterbo. A Mons. Vieira Borges sucedeu como Encarregado Mons.
Matino Marini (25 de dezembro de 1853 a 26 de novembro de 1856), e continuou o
Brasil a ter uma Internunciatura, vindo então como Internúncio Mons. Vicente Massoni
Arcebispo de Edessa [J. LEMOS, D. Pedro Maria de Lacerda, 24-25].
209
J. LEMOS, D. Pedro Maria de Lacerda, 24-25.29.30.
256 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
221
J. LEMOS, D. Pedro Maria de Lacerda, 9.131.142.323-325; DBB, VII, 54.
222
J. LEMOS, D. Pedro Maria de Lacerda, 124-126.
223
J. LEMOS, D. Pedro Maria de Lacerda, 123.128.519; DBB, VII, 54.
260 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
224
Nasceu em São Paulo em 22 de abril de 1836, e faleceu na mesma cidade no dia 1
de abril de 1903. Era filho de Tomé de Alvarenga e de Josefina Maria das Dores de
Alvarenga. Foi um dos meninos do coro da catedral de São Paulo quando, aos doze anos
manifestou sua vocação sacerdotal [F. CÂMARA, «A diocese do Maranhão e seu
Tricentenários», em RIC, XCI, 247-262].
225
AES, Br., Nomina dei vescovi, Officio, 24 de maio de 1877, Fasc, 188, pos. 165, f.
39r-41r.
226
AES, Br., Officio, 26 de maio de 1879, Fasc. 8, pos. 189, f. 20r-20v.
CAP. III: A ATUAÇÃO DOS ULTRAMONTANOS NO SEGUNDO IMPÉRIO 261
Não quero terminar estas palavras e encerrar este encontro sem evocar as
figuras de Bispos, que ao longo de quatro séculos e meio foram neste País os
legítimos sucessores dos Apóstolos e aqui dedicaram toda a vida, todas as
energias à construção do Reino de Deus. Diversas as circunstâncias histórico-
culturais em que foram chamados a exercer sua missão, diversas suas
fisionomias humanas, diversas suas histórias pessoais, todos porém homens
que deixaram marcas de sua passagem, desde aquele Dom Pedro Fernandes
Sardinha que foi o primeiro Bispo a exercer aqui no Brasil seu ministério
episcopal. Qualquer citação de nomes é forçosamente limitada mas como não
evocar figuras como as de Dom Vital de Oliveira e Dom Antônio Macedo
Costa, de Dom Antônio Ferreira Viçoso, dos dois primeiros Cardeais
brasileiros Dom Joaquim Arcoverde e Dom Sebastião Leme da Silveira
Cintra, de Dom Silvério Gomes Pimenta e de Dom José Gaspar de Afonseca e
Silva? Como não evocar aqui em Fortaleza a figura admirável de Dom
Antônio de Almeida Lustosa que repousa nesta Catedral e que deixou nesta
Diocese a imagem luminosa de um sábio e de um santo. Possa a recordação
destes irmãos, e de tantos e tantos outros, que nos precederam com o sinal da
fé, estimular-nos mais e mais no serviço do Senhor255.
—————————–
257
[J. MONTE CARMELO], O Arcipreste da Sé de São Paulo Joaquim Anselmo de
Oliveira e o clero do Brasil, 18.20.25.
258
F. CÂMARA, «A diocese do Maranhão e seu tricentenário», em RIC, XCI, 252.
CAP. III: A ATUAÇÃO DOS ULTRAMONTANOS NO SEGUNDO IMPÉRIO 271
—————————–
259
Filho de José Antônio Saraiva e dona Maria da Silva Mendes Saraiva, nasceu na
freguesia de Bom Jardim, termo de Santo Amaro e província da Bahia, em 23 de
setembro de 1824, e faleceu na mesma província em 26 de abril de 1876. Ingressou,
com 17 anos de idade, no mosteiro de S. Bento da Bahia, e lá cursou humanidades e
teologia. Apenas recebeu as últimas ordens, foi eleito prior do mosteiro do Rio de
Janeiro, no qual lecionou filosofia e, nos impedimentos dos professores, outras matérias.
Fez atos públicos com grande aplauso para obter o grau de mestre. Nessa mesma época
recebeu a nomeação de lente de religião e reitor do colégio Pedro II, cargo de que pediu
exoneração por querer tornar à Bahia. Aí exerceu o ministério de prior, sendo depois
eleito abade do Rio de Janeiro, e reeleito ao cabo de três anos, merecendo em 1860 uma
mensagem honrosa do capítulo pelos serviços prestados a ordem. Nomeado bispo do
Maranhão em 14 de janeiro de 1861, foi preconizado em Roma no consistório de 23 de
julho, sagrado no Rio de Janeiro em 20 de outubro, fazendo sua entrada na diocese em
21 de março do ano seguinte. Na diocese, como na ordem beneditina, realizou muitos
melhoramentos, depois dos quais fez uma viagem a Europa, onde visitou vários lugares
em companhia de seu irmão, o conselheiro José Antônio Saraiva. Era membro do
conselho de Imperador [DBB, V, 383-384; F. CÂMARA, «A diocese do Maranhão e seu
tricentenário», em RIC, XCI, 253].
260
Nasceu em Viana do Minho, Portugal, em 4 de março de 1779, e faleceu em
Pernambuco em 30 de abril de 1864. Foi cônego de Santo Agostinho, tesoureiro da Sé
do Rio de Janeiro, de 1806 a 1809. Após ser nomeado monsenhor, foi apresentado bispo
em 1829, e confirmado pelo Papa Leão XII em 28 de fevereiro de 1831. Era do
conselho do Imperador, dignitário da Ordem da Rosa, comendador da ordem de Cristo,
oficial da do Cruzeiro e cavaleiro da de Nossa Senhora da Conceição da Vila Viçosa, de
Portugal. Morreu paupérrimo, quase na miséria, em que pese sua reconhecida piedade,
dotado, segundo se diz, de um coração excelente e bom. Se não tinha grande ilustração,
sabia atrair a si sacerdotes sábios e virtuosos, como o cônego Francisco José Tavares da
Gama, e assim administrar de modo plausível sua diocese. Foi ainda um bom organista
e grande latinista [DBB, IV, 28].
272 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
Faria ficou tão furioso, que nem mesmo se apresentou para lhe entregar as
chaves do palácio episcopal269.
D. Manuel, mantendo-se sempre impassível, deu início ao seu governo.
Em 16 de maio de 1866, para melhor administrar o imenso território sob
sua jurisdição, reorganizou-o completamente, instituindo um vicariato geral
que compreendia quatro arciprestados, subdivididos por sua vez em 26
vicarias forâneas, além de criar novas paróquias270. Ao mesmo tempo
iniciou a implementação de uma reforma no sentido tridentino, insistindo
na obrigação do utilizo das vestes talares sob pena de suspensão ipso facto
incurrenda271.
Aliás, antes mesmo de deixar Roma, já se preocupara com a reforma que
deveria instaurar na sua diocese e conseguiu com os jesuítas e com as Irmãs
do Instituto de Santa Dorotéia, o envio de membros de ambas as
instituições religiosas. Os jesuítas chegaram em 17 de fevereiro de 1866,
para ajudar na formação do clero e na reforma do Seminário diocesano,
sendo colocados no lugar dos professores de tendências maçônicas e
jansenistas, que foram todos demitidos. Aos padres da Companhia de Jesus
foi também entregue o Colégio São Francisco Xavier em Recife. Já o
convento das Irmãs de Santa Dorotéia foi fundado em 1866272.
D. Manuel enviou doze seminaristas para se formarem em Roma, no
Colégio Pio latino-americano, entre eles estava o futuro primeiro cardeal
brasileiro: Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcante273. Entrementes,
a oposição que sofria, comandada pelo pe. Faria, prosseguia ferrenha. O
deão e seu grupo passaram a publicar uma série de artigos nos jornais – as
anônimas Cartas de Alípio – nos quais faziam pesadas críticas aos novos
rumos que a diocese estava tomando. Assim estava a situação, quando D.
Manuel partiu para Belém, para consagrar, junto com D. Antônio de
Macedo Costa, D. Joaquim Gomes de Azevedo, novo bispo de Goiás, no
dia 1 de julho de 1866. De lá, D. Manuel partiu para o Rio de Janeiro na
companhia do jesuíta pe. Razzini. Ao regressar, foi acometido de um mal
estar muito suspeito, que provocou sua morte. As irmãs Teresa Sommariva
e Maria Marguerite Masyn, escrevendo sobre a fundação do Instituto de
—————————–
269
ASV, NAB, Carta do deão Faria ao Internúncio, 6 de dezembro de 1865, Cx. 42,
fasc. 42, doc. 7, f. 53-54.
270
ASV, NAB, Portaria, Cx. 42, fasc. 193, doc. 3, f. 15-16; FERNANDO CÂMARA, «O
primeiro cearense promovido ao episcopado», em RIC, XCVI (1982), 32.
271
ASV, NAB, Portaria proibindo aos clérigos de apresentarem-se em público
disfarçados de leigos, Cx. 42, fasc. 42, doc. 2, f. 11-12.
272
F. CÂMARA, «O primeiro cearense promovido ao episcopado», em RIC, XCVI,
30-31.
273
J. C. BARATA, História eclesiástica de Pernambuco,100.
CAP. III: A ATUAÇÃO DOS ULTRAMONTANOS NO SEGUNDO IMPÉRIO 275
—————————–
274
T. SOMMARIVA – M. M. MASYN, Memórias a cerca da venerável Serva de Deus
Paula Frassinetti, 178.181-185.
275
F. CÂMARA, «O primeiro cearense promovido ao episcopado», em RIC, XCVI,
32-33.
276
BN, Apontamento biográficos sobre o Padre Manoel do Rego de Medeiros pelo
Dr. Antônio Manoel de Medeiros, em: seção de manuscritos, n. I-31, 24, 14.
277
ASV, NAB, Carta de D. Manoel ao Internúncio, 24 outubro de 1866, Cx. 42,
fasc. 193, doc.16, f.75r.
278
AES, Br., Sull’elezione Del Vicário capitolare contestata, 28 de dezembro de
1866, Fasc. 183, pos. 144, f. 15r-16v; 19r; A. NÓBREGA, «Dioceses e bispos do Brasil»,
em RIHGB, CCXXII, 175; D. R. VIEIRA, O processo de reforma e reorganização da
Igreja no Brasil,141-144.
276 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
novamente indicado por D. Pedro II, em 1867279. Ainda uma vez ele quis
eximir-se, mas, acabou cedendo à vontade do Chefe da Igreja. Assim, foi
sagrado em Roma, em 15 de março de 1868, tomando posse no dia 12 de
julho de 1868. Fez sua entrada solene na diocese em 2 de agosto do mesmo
ano. Ao chegar, a polêmica entre reformadores e regalistas estava em pleno
andamento, suscitada, principalmente, pelo fato de o jornal O Católico
haver reagido contra o notório anticlericalismo que dominava a imprensa
de Recife. Desabituados a um Catolicismo reativo, os anticlericais
revidaram atacando o novo bispo. Aprígio Guimarães (1832-1880) passou
a concitar o bispo a deixar seus «castelos rosminianos»280.
D. Francisco se envolveu em uma grande polêmica ao proibir que fosse
sepultado, em cemitério sagrado, o cadáver do general José Inácio de
Abreu Lima (1796-1869) e por ordenar a todo clero o retiro espiritual no
convento de S. Francisco do Recife, com leitura diária do catecismo,
dirigidos pelos jesuítas. Quando José Abreu, o «general das massas»,
socialista que apostatou a fé Católica281, adoeceu, o bispo D. Cardoso Aires
—————————–
279
Francisco Cardoso Aires, filho de João Cardoso Aires e de dona Maria Cardoso
Aires, nasceu na cidade do Recife, em 18 de dezembro de 1821, e faleceu em 14 de
março de 1870, em Roma. Destinado por seus pais à vida do comércio, apenas
preparado com instrução primária, se estabeleceu numa loja de livros, de propriedade
deles; mas depois começou a dar-se aos estudos superiores e, ao passo que nesses
progredia, sentiu-se atraído pelo estado religioso. Abandonou então a atividade
comercial e foi para Roma, onde matriculou-se na universidade La Sapienza em 1846,
tendo no futuro D. Lacerda, um companheiro de estudos. Fechada, porém, a
universidade, com a revolução de 1848, saiu de Roma com o abade Antônio Rosmini
Serbati, seu amigo e fundador do instituto de Caridade, resolvido a entrar no mesmo
instituto; indo para a cidade de Strezza no Lago-maior, então reino de Piemonte, onde se
fazia o noviciado. Daí partiu para a Inglaterra e, no colégio de Ratcliffe, concluiu o
noviciado e o curso de teologia, recebendo as ordens de diácono das mãos do bispo
diocesano. Passou em seguida à casa de Rugby, na qual recebeu as ordens do
presbiterado, e lecionou uma cadeira. Fez ainda um excursão por alguns lugares da
Europa, visitando o Santo Padre. Tornou-se tão notável por suas raras virtudes e por sua
ilustração. Foi nomeado sub-reitor da casa de Santa Maria de Upton, no condado de
Cork, na Irlanda. Foi-lhe então oferecida pelo Governo imperial uma mitra, de que
pediu que o dispensassem, aceitando posteriormente aquela de Olinda [DBB, II, 421-
422; J. LEMOS, D. Pedro Maria de Lacerda, 136-137].
280
DBB, II, 421-422; J. LEMOS, D. Pedro Maria de Lacerda, 136-137; D. R. VIEIRA,
O processo de reforma e reorganização da Igreja no Brasil, 144-147; Cf. T.
HUCKELMANN, Dom Francisco Cardoso Aires.
281
Filho do pe. Roma, nascido antes que este se tornasse sacerdote, foi forçado a
assistir à execução do seu próprio pai, condenado pelo Conde dos Arcos por haver
participado da revolução de 1817. Os bens da sua família foram todos confiscados.
Juntamente com o seu irmão Luís, decidiu deixar o Brasil e se estabeleceu na
CAP. III: A ATUAÇÃO DOS ULTRAMONTANOS NO SEGUNDO IMPÉRIO 277
—————————–
286
Recebeu todo o carinho de seu amigo Pio IX durante a convalescença e honrosas
exéquias fúnebres após seu falecimento. O celebrante da missa pontifical em sufrágio de
sua alma foi D. Antônio de Macedo Costa, substituindo o Primaz do Brasil, D. Manuel
Joaquim da Silveira. [A. MACEDO COSTA, Notícias biográficas do finado Bispo de
Pernambuco D. Francisco Cardoso Ayres, 103].
287
J. C. BARATA, História eclesiástica de Pernambuco, 103; D. R. VIEIRA, O
processo de reforma e reorganização da Igreja no Brasil, 144-147.
288
Filho de Antônio Gonçalves e dona Antônia Albina de Albuquerque, e chamado
no século Antônio Gonçalves de Oliveira Junior, nasceu na freguesia de Pedras de
Fogo, em província de Pernambuco, em 27 de novembro de 1844, e faleceu no convento
dos capuchinhos de Paris em 4 de julho de 1878. [A. M. REIS, O bispo de Olinda
perante a história, I, 8; DBB, VII, 403].
289
Aviso de 19 de maio de 1855: «Sua Majestade o Imperador há por bem cessar as
licenças concedidas para a entrada de Noviços nessa Ordem religiosa, até que seja
restituída a Concordata que a Santa Sé vai ao Governo Imperial propor-lhe. Deus
Guarde a V. Pat. Rev.ma. – José Thomas Nabuco de Araújo – ao Sr. Provincial dos
Religiosos Franciscanos da Corte». Estes avisos foram enviados a cada uma das ordens
existentes [AES, Br., Circular do Ministério da Justiça, 19 de maio de 1855, Fasc. 172,
pos. 115, f. 69r; J. NABUCO, Um Estadista no Império, I, 306].
CAP. III: A ATUAÇÃO DOS ULTRAMONTANOS NO SEGUNDO IMPÉRIO 279
—————————–
297
DBB, VII, 403; F. CÂMARA, Dom Vital e a Questão Religiosa, em RIC, XCII, 21-
27; A. M. REIS, O bispo de Olinda perante a história; N. PEREIRA, D. Vital e a Questão
Religiosa no Brasil; J. LIMA, D. Vital; F. OLÍVOLA, Um grande brasileiro, o servo de
Deus D. fr. Maria Gonçalves de Oliveira. A bibliografia especifica da Questão
Religiosa será informada no momento que se tratar do tema no quinto capítulo [ndr.].
298
Conde de S. Salvador e Arcebispo da Bahia. Filho de Antônio Joaquim da
Silveira e dona Maria Rosa da Conceição, nasceu na cidade do Rio de Janeiro, em 11 de
abril de 1807, e faleceu na Bahia em 23 de junho de 1874. Teve a honra de ser ministro
celebrante dos consórcios das duas princesas, dona Isabel e dona Leopoldina, sendo
para esse fim nomeado vice-capelão-mor. Era do conselho do Imperador D. Pedro II,
comendador da ordem de Cristo, oficial da do Cruzeiro, sócio do antigo Instituto
Histórico da Bahia e do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro [DBB, VI, 128-130;
C. A. P. ALENCAR, Roteiro dos bispados do Brasil, 226].
299
«Tendo-se distinguido por dois brilhantes exames, um de quarenta pontos, e o
outro mais brilhante ainda, de setenta e um, sendo em ambos os concursos proposto em
primeiro lugar, sofreu a revoltante injustiça, da Regência Trina no primeiro concurso, e
no segundo do regente Feijó, de não ser apresentado, sendo preferidos outros, que
282 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
ficaram muito aquém nos exames, um dos quais fez apenas sete pontos!» [C. A. P.
ALENCAR, Roteiro dos bispados do Brasil, 226-227].
300
C. A. P. ALENCAR, Roteiro dos bispados do Brasil, 81-82.226-228; DBB, VI, 128-
129.
301
DBB, VI, 128-129.
302
C. A. P. ALENCAR, Roteiro dos bispados do Brasil, 228-229.
303
F. CÂMARA, «A diocese do Maranhão e seu tricentenário», em RIC, XCI,152-153.
304
C. A. P. ALENCAR, Roteiro dos bispados do Brasil, 229-232.
CAP. III: A ATUAÇÃO DOS ULTRAMONTANOS NO SEGUNDO IMPÉRIO 283
—————————–
305
DBB, VI, 128-129.
306
C. A. P. ALENCAR, Roteiro dos bispados do Brasil, 82.
307
DBB, VI, 128-129.
308
M. J. SILVEIRA, Pastoral publicando o breve de Pio IX de 29 de maio de 1873,
[ASV, NAB, Cx. 45, fasc. 210, doc. 8, f. 55f -56f].
309
M. J. SILVEIRA, Representação a Sua Majestade o Imperador pelo Arcebispo da
Bahia, Conde de São Salvador [AES, Br, Fasc. 185, pos.156, f. 72f, fascículo inserido].
310
A. M. REIS, O bispo de Olinda perante a história, I, 17.
311
M. J. SILVEIRA, Carta Circular do Arcebispo da Bahia Conde de São Salvador,
Metropolitano e Primaz do Brasil aos Ex.mos. e Rev.mos. Bispos do Império. [AES, Br.,
Fasc. 185, pos.156, f. 72f, fascículo inserido].
284 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
323
R. O. TRINDADE, A Arquidiocese de Mariana, I, 276-278.
324
Tendo assumido em 6 de agosto de 1907, D. Silvério Gomes Pimenta se tornou o
primeiro prelado mulato e também primeiro Arcebispo de Mariana. Nasceu ele na
freguesia de Congonhas do Campo, então município de Ouro Preto, em 12 de janeiro
1840. Filho primogênito de Antônio Alves Pimenta e Porcina Gomes de Araújo, tinha
nove anos quando, morrendo-lhe o pai, a viúva sua mãe e os cinco filhos menores que
tinha, se viram reduzidos à pobreza extrema. Terminados os estudos primários e
trabalhando como praticante em uma casa de comércio, seu tio Manuel Alves Pimenta o
ajudou a ser admitido como externo no colégio de Matosinhos. Ali estudou enfrentando
varias e pesadas dificuldades econômicas. Mas, graças à sua inteligência e dedicação,
concluiu em três anos o estudos. Em 20 de agosto de 1855, escreveu a D. Viçoso
expondo sua vontade de seguir a carreira eclesiástica, sem ocultar, contudo, as
impossibilidades que tinha por motivos de pobreza. Obteve uma resposta positiva em 2
de setembro de 1855. Em 1858, aos 17 anos, encarregou-o, D. Viçoso, do curso final de
Latim no Seminário diocesano, cadeira em que se conservou durante a vida do prelado
mineiro. Após cursar teologia, recebeu a primeira tonsura, em 10 de abril de 1857. Em
20 de fevereiro de 1861, recebeu as ordens menores, seguidas, três dias depois, do
subdiaconato. O diaconato lhe foi dado em 21 de abril do ano seguinte e, finalmente, em
20 de julho de 1862, recebeu a ordenação presbiteral na cidade de Sabará. Com a morte
de D. Viçoso, foi eleito unanimemente vigário capitular, em 12 de julho de 1875. Em
seguida recebeu a nomeação de vigário geral, por D. Benevides, em 19 de novembro de
1977, e cônego honorário da catedral em 5 de dezembro de 1877. Em 26 de julho de
1890, foi eleito bispo de Camaco na Armênia, e auxiliar de Mariana. Com a morte de D.
Benevides, no dia em 19 de julho de 1896 foi de novo eleito vigário capitular. Em 3 de
dezembro daquele ano, foi transferido de Camaco para Mariana, tomando posse em 9 de
maio de 1897 [R. O. TRINDADE, A Arquidiocese de Mariana, II,278-290].
325
Natural de Cuiabá, hoje capital do Mato Grosso, nasceu em 1764 e faleceu em sua
diocese em 12 de agosto de 1854. Era presbítero secular, pregador régio e vigário
colado da freguesia de Santo Antônio de Cassarebú, termo da vila de Macau e província
do Rio de Janeiro (razão, provavelmente, pela qual o general Cunha Mattos o
considerava nascido nesta freguesia). Nomeado bispo de Maliapor em 17 de dezembro
de 1811, não assumiu tal título; mas, sua situação mudou ao ser subdividido o bispado
CAP. III: A ATUAÇÃO DOS ULTRAMONTANOS NO SEGUNDO IMPÉRIO 287
do Rio de Janeiro em três bispados e duas prelazias. Naquela ocasião, foi ele nomeado,
em 18 de outubro de 1818, para a prelazia de Goiás, sendo-lhe conferido o título de
bispo de Castores. Elevada depois dita prelazia a bispado, por bula de 15 de julho de
1827, passou ele a ser o seu primeiro bispo, nomeado por carta de 3 de novembro. D.
Francisco regeu a igreja goiana por 35 anos, mas, logo após ter chegado à sua diocese
contraiu uma moléstia, que foi seguida de completa cegueira [AES, Br., Ofício, 14 de
outubro de 1854, Fasc. 169, pos. 101, f.94r-95r; DBB, II, 442; F. CÂMARA, «O bispo
cego de Goiás», em RIC, CXVIII, 337-339].
326
AES, Br., Informazione sui Vescovi del Brasile, mandata da fr. Affonso de
Rumelly, 15 de novembro de 1854, Fasc. 169, pos. 100, f. 87r-87v.
327
«Aqui existe uma dificuldade particular para extinguir a Maçonaria, e é que o
primeiro bispo desta diocese foi maçom, e muitos de seus membros são pessoas de
posição elevada. Não devemos esquecer que os antigos maçons do Brasil só trataram de
política, e de nenhuma sorte hostilizaram a Igreja. Esperamos com o tempo, e com o
trabalho continuo dos Missionários, acabar com esta terrível praga...» [AES, Br.,
Relação da diocese do Goiás envida pelo seu Bispo, 11 de dezembro de 1882, Fasc. 13,
pos. 224, f. 13f].
328
«Filho de João Querino de Souza e dona Victória Gonçalves Stella, nasceu na
freguesia da Estância, Sergipe, em 2 de outubro de 1815, e faleceu em Goiás, em 12 de
dezembro de 1863. Ao morrer deixou na maior indigência sua família, composta de
quatro senhoras loucas, que eram sua mãe e três irmãs, perdendo uma destas a razão
quando ele faleceu, e as outras, durante a penosa viagem que fizeram com ele para a
diocese. Presbítero secular, residindo em Sergipe, foi preconizado bispo no consistório
secreto de 18 de março de 1861, com o Arcebispo monsenhor Silveira. Aceitando o
báculo pastoral de Goiás, aceitou também o martírio, como se exprime o Dr. Teixeira de
Mello, nas suas Ephemerides Nacionaes. Elevado, pela notoriedade de suas virtudes às
eminências do episcopado, chegou a seu destino pela via-dolorosa, ou seja, pelo
caminho das amarguras. Nunca se lhe ouviu uma queixa; suportava com a mais
evangélica resignação os desatinos de suas infelizes mãe e irmãs; mas seu ar de tristeza
gelador, as palavras raras que pronunciava, deixavam compreender quanto sofrimento
tinha na alma. Nutria a esperança de sanar os males resultantes da ausência de seu
antecessor, motivada pela moléstia que o privara da vista, mas só sete meses penou na
diocese. Era do conselho do Imperador»[DBB, II, 227].
288 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
329
M. C. SILVA, Catolicismo e casamento civil em Goiás, 35-36.
330
Filho de José Gonçalves de Azevedo e Ana Tereza de Jesus Azevedo, nasceu na
vila de Turiassú, na província do Pará, depois incorporada à do Maranhão, em 19 de
fevereiro de 1814, e faleceu na Bahia em 6 de novembro de 1879. Foi do Conselho de
D. Pedro II [DBB, III, 144].
331
A. A. LUSTOSA, Dom Macedo Costa, 29-30.110.112.
332
AES, Br., Nomina dei vescovi, Offcio, 10 de abril de 1876, Fasc. 188, pos. 165, f.
35r-36r.
333
DBB, III, 144; M. C. SILVA, Catolicismo e casamento civil em Goiás, 31.
334
AES, Br., Officio, 16 de outubro de 1879, Fasc. 6, pos. 187, f. 56r-57v.
CAP. III: A ATUAÇÃO DOS ULTRAMONTANOS NO SEGUNDO IMPÉRIO 289
—————————–
355
J. U. LEVA, O clero italiano na reforma da Diocese de São Paulo,
70.103.109.124.
356
AES, Br., Visita Apostolica fatta nel Seminário di São Paulo dal P. Matthieu
della Roche, Cappuccino, 1877, Fasc. 189, pos. 169 [o tema ocupa todo o fascículo e a
posição].
357
Sobre o seminário ele fala na sua carta pastoral de 7 de maio de 1876 [J. U. LEVA,
O clero italiano na reforma da Diocese de São Paulo, 63.95-99].
358
M. A. J. V. GAETA, Os percussores do ultramontanismo em São Paulo, 172-173, J.
U. LEVA, O clero italiano na reforma da Diocese de São Paulo, 63.77.87-91. Um carta
de um padre italiano presente numa colônia do Paraná, envida a Propaganda Fide em
16 de julho de 1889, assim se referia a este Sínodo Diocesano: «Il Vescovo di São
Paulo, per insinuazione della S. Sede, radunò nell’anno passato il Sinodo Diocesano,
cosa che non si era mai fatta. In tre giorni si fece tutto, e che ne risulto? Fu una
semplice formalità che diede occasione a gare di preminenza fra le dignità capitolari,
da derivarne assai polemiche nei giornali, e rinunzie di posti, e pasticci scandalosi. La
diocesi, i popoli di queste due province di S. Paulo e Paraná non ne guadagnò un etto
[sic.]. Si seppe della intimazione del Sinodo, si seppe che ebbe la sua esecuzione, e
poi... niente altro. E tutto è cosi in questi paesi, qualche formalità sterile di qualsiasi
effetto. L’internunzio pontificio ordina a mezzo dei vescovi che i sacerdoti non stiano da
laici [o sentido aqui era o de estar vestido como os leigos]... chi obbedisce?». [AES,
Br., Informazione sulla chiesa del Brasile, 16 de julho de 1889, Fasc. 23, pos. 294, f.
13r-16r].
296 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
Foi eleito primeiro bispo do Rio Grande do Sul, por Carta Imperial de 10
de abril de 1852, e confirmado por Pio IX no Consistório de 27 de
setembro do mesmo ano. Em 29 de maio de 1853, foi sagrado, no Rio de
Janeiro, por D. Manuel do Monte Rodrigues de Araújo. Tomou posse
solene em Porto Alegre, em 3 de julho de 1853368.
Em carta pastoral de 16 de dezembro de 1853, já convidava o clero a
reformar os seus costumes. No entanto, o apoio do Governo à instalação do
novo bispado foi escasso, forçando D. Feliciano a lamentar-se com o
mesmo, já em 17 de julho de 1853. Todavia, reuniu todos os seus esforços
para a instituição de um Seminário, mesmo se modesto. Na sua primeira
Carta Pastoral, de 2 de julho de 1853, argumentava a favor da necessidade
de uma casa formativa de orientamento tridentina na diocese. Sem esperar
pelo Governo, utilizando recursos próprios, doações do clero local e do
povo, ainda em 1853, iniciou, na sua própria residência, aulas para a
formação dos vocacionados. Desta modesta iniciativa pôde D. Feliciano
ordenar em vida sete sacerdotes. O Seminário recebeu o nome de S.
Feliciano369.
virtuoso pe. Tomás Luiz de Sousa. Partiu para o Rio de Janeiro e ingressou no
Seminário de N. S. da Lapa, completando os estudos no Seminário São José. Ordenado
presbítero em 5 de julho de 1804, por D. Joaquim Maria Mascarenhas, bispo de Angola,
no impedimento, por enfermidade, de seu tio D. José Justiniano Mascarenhas Castelo
Branco, bispo do Rio de Janeiro. Voltou ao sul e por sete meses foi cura de S. Nicolau
das Missões, após o que recebeu a nomeação de capelão da cavalaria miliciana de Rio
Pardo. Muitos anos serviu como capelão tenente do Corpo dos Dragões de Rio Pardo,
tomando parte na Guerra de Artigas (1816-1820). Fez toda a campanha e na batalha de
Catalan, tendo sido atacado o hospital de sangue, o denodado capelão, auxiliado pelos
enfermeiros, opôs ao inimigo tenaz resistência, obrigando-o a recuar. Condecorado com
a Medalha do Exército Pacificador, foi também Cavaleiro da Ordem de Cristo e da
Imperial da Rosa. Após muitos anos de serviço religioso no exército pediu demissão,
ficando como oficial reformado. Retirou-se para Capivari, onde numa modesta estância
com casa de moradia e um oratório, passou alguns anos nas lidas do campo e na
lavoura. Quando solicitado, colaborava com o pároco colado de Rio Pardo e com o cura
de Encruzilhada. Eclodindo em 1835 a Revolução Farroupilha, o prudente sacerdote
ficou fiel ao Monarca, embora seus familiares se inclinassem ao novo estado
republicano. Se opôs ao cisma e ao pseudo-Vigário Apostólico da efêmera República. A
partir de 1842, socorreu os fieis de Encruzilhada para que não recorressem a pastores
cismáticos, residindo definitivamente em Encruzilhada na segunda metade desse ano,
pois a paróquia, embora criada em 1837, só foi provida em meados de 1845, quando o
pe. Feliciano tomou posse e a dirigiu até a sua elevação ao episcopado em 1852. [A.
RUBERT, História da Igreja no Rio Grande do Sul, II, 191-194].
368
A. RUBERT, História da Igreja no Rio Grande do Sul, II, 194-195.
369
A. RUBERT, História da Igreja no Rio Grande do Sul, II, 195-196.
CAP. III: A ATUAÇÃO DOS ULTRAMONTANOS NO SEGUNDO IMPÉRIO 299
recebeu em audiência e insistiu que aceitasse. Depois foi recebido por Pio
IX com as seguintes palavras: «Il nostro curato é diventato vescovo,
bravo!»373. Foi confirmado canonicamente no consistório de 23 de
setembro 1860, e sagrado pelo próprio Pio IX, no dia 7 de outubro do
mesmo ano, na capela Sistina374.
Partiu de Roma em 30 de dezembro, e desembarcou no Rio no dia 6 de
janeiro de 1861. Tomou posse por procuração em 16 de fevereiro de 1861,
e chegou em Porto Alegre em 29 de julho de 1861. Distinguiu-se por seu
zelo e, por isso, se tornou visado pela maçonaria, principalmente pela
lealdade que devotava ao Papa. Fundou um jornal diocesano, Estrela do
Sul, cujo primeiro número saiu em 5 de outubro de 1862. Por falta de
padres nacionais, foi obrigado a acolher padres estrangeiros,
principalmente italianos, nomeados geralmente para as paróquias pobres da
zona rural, dos quais alguns lhe deram desgosto e preocupação. Visitou
todas as paróquias do bispado a partir de 1863375.
Em fins de 1863, conseguiu a instalação do cabido da catedral. O cabido
já estava prescrito na bula de criação da diocese Ad Oves Dominicas, mas
precisava de regulamentação e dotação do poder civil. O primeiro bispo
não conseguiu estabelecê-lo, embora tivesse sido aprovado pela
Assembléia Geral em 5 de setembro de 1854376. Após uma decidida pressão
da Santa Sé e dos Internúncios, em 26 de setembro de 1857, pela lei n. 939,
art. 3º, deu-se finalmente a dotação do cabido377. O cabido começou a
funcionar em 1 de janeiro de 1864378.
D. Sebastião, consciente de seus deveres como bispo católico, tratou
logo de combater as ingerências governativas em áreas que considerava de
sua exclusiva competência. Neste sentido, manteve uma assídua
correspondência com o Governo provincial e Imperial, até porque tinha
grandes sentimentos de amizade para com o Imperador. Em 25 de
novembro de 1862, mandou um ofício ao Presidente da província,
reivindicando o direito de nomear os lentes do Seminário. Juntamente com
D. Macedo, fez uma veemente defesa da independência da autoridade dos
—————————–
373
Esta frase é referida por A. RUBERT na obra História da Igreja no Rio Grande do
Sul, II, 200. No entanto, sobre a aprovação do Santo Padre não restam dúvidas [AES,
Br., Officio, 7 de agosto de 1850, Fasc. 182, pos. 137, f. 32r-33v].
374
AES, Br., Nota di Mons. Ruggero Antici Mattei Seg. della S.C. Concistoriale, 31
de agosto de 1860, Fasc. 182, pos. 140, f. 60r; A. RUBERT, História da Igreja no Rio
Grande do Sul, II, 199-202
375
A. RUBERT, História da Igreja no Rio Grande do Sul, vol. II, p. 202.
376
AES, Br., Officio, 13 de setembro de 1854, Fasc. 169, pos. 97, f. 65r.
377
Coleção das Leis do Império do Brasil, 1857, XVIII, parte I, 40.
378
A. RUBERT, História da Igreja no Rio Grande do Sul, II, 202.212.
CAP. III: A ATUAÇÃO DOS ULTRAMONTANOS NO SEGUNDO IMPÉRIO 301
—————————–
383
As Irmãs do Imaculado Coração de Maria foram fundadas em 8 de maio de 1849
no Rio de Janeiro, pela Serva de Deus Madre Bárbara Maix, vinda da Áustria. Em 1855,
se estabeleceram em Pelotas, onde dirigiram o Asilo N. S. da Conceição e, em 1857, o
Asilo S. Leopoldina em Porto Alegre [A. RUBERT, História da Igreja no Rio Grande do
Sul, II, 293-294].
384
A. RUBERT, História da Igreja no Rio Grande do Sul, II, 293-294.
385
A. RUBERT, História da Igreja no Rio Grande do Sul, II, 208; Cf. Z.
HASTENTEUFEL, D. Feliciano na Igreja do rio Grande do Sul.
386
L. FRANÇA, Noções de história da filosofia, 271.
387
F. A. CAMPOS, Tomismo no Brasil, 45-46.
CAP. III: A ATUAÇÃO DOS ULTRAMONTANOS NO SEGUNDO IMPÉRIO 303
—————————–
388
D. G. VIEIRA, O protestantismo, a maçonaria e a Questão Religiosa, 35-36.
389
Filho do tenente de artilharia, ajudante das baterias da Bahia da Traição, na
província da Paraíba, Francisco José de Souza, e irmão de dr. Braz Florentino Henrique
Francisco José de Souza e de Tarquínio Bráulio de Sousa Amaranto. Nasceu na Paraíba,
em 15 de setembro de 1833, e faleceu em Pernambuco em 12 de agosto de 1895 [DBB,
V, 209-211].
390
F. A. CAMPOS, Tomismo no Brasil, 46.
391
F. A. CAMPOS, Tomismo no Brasil, 46-47.
304 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
392
F. A. CAMPOS, Tomismo no Brasil, 47; José Soriano cita sua referências teóricas
no prefácio das Lições [J. S. SOUZA, Lições de filosofia elementar, racional e moral,
prefácio, 8].
393
J. S. SOUZA, Lições de filosofia elementar, racional e moral, prefácio, 10-11.
394
J. S. SOUZA, Elementos de Filosofia do Direito, prefácio, 13.
395
F. A. CAMPOS, Tomismo no Brasil, 48-50.
396
F. A. CAMPOS, Tomismo no Brasil, 48-50.
CAP. III: A ATUAÇÃO DOS ULTRAMONTANOS NO SEGUNDO IMPÉRIO 305
—————————–
397
Cf. J. S. SOUZA, Ensaio de programa para o Partido Católico no Brasil.
398
DBB, V, 209-211.
399
ASV, NAB, Carta de José Soriano de Souza agradecendo o título de cavalheiro
da Ordem de S. Gregório Magno, 25 de abril de 1867, Cx. 44, fasc. 200, doc. 15, f. 15r-
15v.
400
Filho do segundo tenente de artilharia e ajudante das baterias de Baia da Traição
ou Acejutibiró, na província da Paraíba, Francisco José de Souza, aí nasceu em 5 de
janeiro de 1825, e faleceu na capital do Maranhão, em 29 de março de 1870. [DBB, II,
126-128].
306 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
416
Cf. C. M. ALMEIDA, O Discurso pronunciado, na Sessão de 30 de junho de 1873,
pelo Senador Cândido Mendes de Almeida, na discussão do Voto de Graças sobre a
Política Religiosa do Ministério.
417
J. C. O. TORRES, História das Idéias Religiosas no Brasil, 169-173.
418
J. H. RODRIGUES, «Introdução» em C. M. ALMEIDA, Pronunciamentos
parlamentares 1871 a 1873, I, 38-39.
419
ASV, NAB, Despacho, 17 de outubro de 1873, Cx. 39, fasc. 178, doc. 60, f. 46r-
47r.
420
L. ALMEIDA, em C. BEVILÁCQUA, História da Faculdade de Direito de Recife, I,
75-76.
CAP. III: A ATUAÇÃO DOS ULTRAMONTANOS NO SEGUNDO IMPÉRIO 311
—————————–
421
Cf. C. M. ALMEIDA, Atlas do império do Brasil, compreendendo as respectivas
divisões administrativas, eclesiásticas, eleitorais e judiciais, dedicado à S. M. o
Imperador o Sr. Dom Pedro II, e destinado a instrução pública do império, com
especialidade a dos alunos do imperial colégio de Pedro II. Atlas do Império do Brasil.
422
J. H. RODRIGUES, «Introdução» em C. M. ALMEIDA, Pronunciamentos
parlamentares 1871 a 1873, I, 39.41.
423
AES, Br., Officio, 8 de março de 1881, Fasc. 10, pos. 203, f. 55r-56r.
312 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
424
DBB, II, 35-40.
425
Filho de Antônio Bernardo de Vasconcelos, nasceu na cidade de Valença,
província do Rio de Janeiro, em 5 de novembro de 1815, e faleceu no Rio de Janeiro,
em 28 de dezembro de 1877. Foi doutor em direito pela academia de Olinda, professor
jubilado da mesma academia, Senador do Império, membro do conselho do Imperador,
comendador da ordem da Rosa, grão-cruz de 2ª classe da ordem de S. Gregório Magno
de Roma e sócio do antigo Instituto histórico da Bahia [DBB, VII, 407-410].
CAP. III: A ATUAÇÃO DOS ULTRAMONTANOS NO SEGUNDO IMPÉRIO 313
—————————–
431
AES, Br., Officio, 30 de dezembro de 1877, Fasc. 191, pos. 170, f. 68r.
432
Nasceu na povoação Papari em 20 de julho de 1829, sendo seus irmãos Brás
Florentino e José Soriano, ambos professores da Faculdade de Direito de Recife [N.
PEREIRA, Dom Vital e a Questão Religiosa no Brasil, 145-146].
433
O. NOGUEIRA, Parlamentares do Império, 58-59.
434
L. C. CASCUDO, História do Rio Grande do Norte, 520; ID. História da Republica
no Rio Grande do Norte, 62-63; N. PEREIRA, Dom Vital e a Questão Religiosa no
Brasil, 145-146.
435
Anais do Parlamento Brasileiro, Sessão em 1 de agosto de 1874, 22-31.
CAP. III: A ATUAÇÃO DOS ULTRAMONTANOS NO SEGUNDO IMPÉRIO 315
—————————–
436
Anais do Parlamento Brasileiro, Sessão em 1 de agosto de 1874, 30.
437
Nascido na cidade de São Paulo em 1840 [ DBB, I, 252-254].
438
DBB, I, 252-254.
439
Arcádia: revista da Academia de Letras de Brasília, (1994), 369.
440
Era natural da província do Rio Grande do Sul, onde nasceu aos 11 de maio de
1834 [DBB, I, 164-166].
316 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
441
O. NOGUEIRA, Parlamentares do Império, 438; DBB, I, 164-166.
442
Cf. Discursos proferidos no supremo tribunal de justiça na sessão de 1 de junho
de 1874 pelos excelentíssimo senhores Zacarias de Góes e Vasconcellos e doutor
Antônio Ferreira Viana por ocasião do julgamento do senhor D. Antônio de Macedo
Costa, bispo do Pará, procedidos da acusação feita pelo procurador da justiça, d.
Francisco Balthasar da Silveira.
443
AES, Br., Ofício, 14 de fevereiro de 1884, Fasc.14, pos.232, f. 16r; AES, Br.,
Recorte de jornal com a nomeação de Ferreira Viana bibliotecário do Convento de
Santo Antônio, Fasc. 14, pos. 232, f. 28r; AES, Br., Ofício, 28 de fevereiro de 1884,
Fasc.14, pos.232, f. 54r-54v.
444
Samuel Wallace Mac Dowell (3º.), nasceu em Olinda em 26 de maio de 1843, e
faleceu em Paris em 16 de agosto de 1908. Foi um militar, advogado, magistrado,
político e jornalista. Filho de pai homônimo, Samuel Wallace Mac Dowell e de Maria
Vicência Clara de Sá, era neto de um comerciante escocês. Ficou órfão de pai e mãe
com um ano e oito meses de idade, sendo levado ao Pará, para ser criado pela
avó francesa Marie Chebs [A. A. LUSTOSA, Dom Macedo Costa, 141.353-354].
CAP. III: A ATUAÇÃO DOS ULTRAMONTANOS NO SEGUNDO IMPÉRIO 317
—————————–
445
Este jornal, a principio favorável a maçonaria, escrevia sem embargo: «Dói-nos
no fundo da alma ver que chefes eminentes do partido liberal renegam a liberdade dos
cultos, como uma calamidade pública, preferindo-lhe o sistema absurdo de restrições
regalistas que, para sustentar-se, têm necessidade de invocar as mais insustentáveis
doutrinas, como é a do exmo. Marquês de São Vicente, fundada em não ter a Igreja
Católica jurisdição externa própria». Esse periódico se tornou então intrépido defensor
da causa da Igreja Católica em Belém e, a partir de 2 de maio de 1876, passou a
escrever no seu cabeçalho: Órgão destinado à defesa do Partido Católico. [A. A.
LUSTOSA, Dom Macedo Costa, 141.353-354].
446
O artigo de Martinho Nina Ribeiro foi um mero pretexto contra o redator e
proprietário de A Regeneração, apesar do artigo ter sido assinado pelo seu autor sob sua
responsabilidade legal. No entanto, assim não pensou o juiz da primeira instância Dr.
José Quintino de Castro Leão. Dados os precedentes: a prisão de padres por terem
obedecido ao seu bispo (ou por terem trocado o horário da missa!), esperava-se a
condenação do intrépido advogado também no Tribunal da Relação. Apesar de não
muito simpático à causa dos católicos, o Dr. João Florentino Meira de Vasconcelos agiu
com justiça. O redator de A Regeneração foi absolvido. [A. A. LUSTOSA, Dom Macedo
Costa, 323, sobre as perseguições religiosas no Pará ver no mesmo livro, 276-282.378-
486].
318 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
447
A. A. LUSTOSA, Dom Macedo Costa, 279.
CAP. III: A ATUAÇÃO DOS ULTRAMONTANOS NO SEGUNDO IMPÉRIO 319
—————————–
448
A. A.LUSTOSA, Dom Macedo Costa, 350.
449
Anais do Parlamento Brasileiro, Sessão em 21 de abril de 1882, 133.
450
O. NOGUEIRA, Parlamentares do Império, 246.
320 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
451
AES, Br., Officio, 12 de novembro de 1889, Fasc. 23, pos. 296, f. 39v-40r. Essas
assinaturas começaram a chegar em setembro de 1888 [Anais do Parlamento Brasileiro,
1888, V, 2.121-123; VI, 140.221].
CAP. III: A ATUAÇÃO DOS ULTRAMONTANOS NO SEGUNDO IMPÉRIO 321
outras três eram: São Pedro de Alcântara na Bahia, Aldeia de Baixa Verde
em Pernambuco e Albuquerque no Mato Grosso452.
Durante a primeira metade do século XIX, os capuchinhos enfrentaram
grandes dificuldades, derivadas das revoluções européias eivadas de
anticlericalismo que os privavam da chegada de novos confrades, e também
da política xenófoba e anti-regulares implementada pela Regência,
principalmente ao tempo do pe. Feijó. Esta situação mudou somente depois
que Pedro Araújo Lima se tornou regente. No início do ano de 1840, ele fez
um pedido à Santa Sé, por meio do Encarregado brasileiro em Roma e do
Encarregado de Negócios da Santa Sé, Mons. Scipione Fabbrini, no sentido
que fossem enviados novos missionários capuchinhos a cargo do Governo.
Todavia, tudo partiu do bispo do Maranhão, D. Marcos Antônio de Souza,
que, em 26 de agosto de 1839, expediu um ofício ao Ministro da Justiça,
lamentando-se da falta de religiosos para as missões indígenas, dado que os
seculares não eram capazes de desenvolver tal trabalho. Sugeria, então, que
se enviassem dois ou três sacerdotes de São Vicente de Paula de Minas
para catequizar os índios e «ainda com sua doutrina e exemplo curar a
imoralidade, origem de tantas calamidades»453.
No dia 14 de fevereiro de 1840, o Ministro da Justiça, Francisco Ramiro
de Assis Coelho, escreveu um ofício ao Encarregado de Negócios da Santa
Sé, Scipione Fabbrini, pedindo sua intervenção para o envio de oito
missionários capuchinhos:
Tendo o Governo Imperial reconhecido a necessidade urgente de levar a luz
do Cristianismo a muitos milhares de Indígenas errantes pelo interior do
Império, reconheceu também que os religiosos Capuchinhos da Congregação
Propaganda Fide, são os Missionários, que com mais vantagem podem
atualmente encarregar-se de tão edificante, e glorioso Ministério.
Nesta convicção resolveu o mesmo Governo Imperial solicitar, por
intermédio do Encarregado de Negócios do Brasil em Roma, a vinda de oito
Missionários Apostólicos da referida ordem, dos quais dois deverão vir em
direitura ao Rio de Janeiro, e seis ao Maranhão, onde lhes serão designadas as
Missões, em que mais proficuamente evangelizem, providenciando o Governo
desde já pelo que respeita aos meios de sua subsistência, em quanto esse
auxilio lhes seja de mister. Como, porém, para o melhor êxito desse
importantíssimo objeto muito deverão contribuir os bons ofícios, que haja de
interpor o Senhor Cipião Domingos Fabrini, encarregado de Negócios da
Santa Sé, cuja solicitude pelos interesses da Religião, acha-se sobejamente
—————————–
452
R. COSTA – L. A. DE BONI, Os capuchinhos do Rio Grande do Sul, 14.
453
AES, Br., Officio del Vescovo di S. Luigi del Maranhão al Ministro di Giustizia,
26 de agosto de 1839, Fasc. 156, pos. 37, f. 37r-37r.
322 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
454
AES, Br., Officio del Ministro della Giustizia, ed affari ecclesiastici all'Incaricato
pontificio, 5 de fevereiro de 1840, Fasc. 156, pos. 37, f. 31r-3v.
455
AES, Br., Officio del Ministro di Giustizia all'Incaricato del Brasile in Roma, 18
de janeiro de1840, Fasc. 156, pos.37, f. 34r-34v.
456
J. PALAZZOLO, Crônica dos capuchinhos do Rio de Janeiro, 140-142.
457
D. R. VIEIRA, O processo de reforma e reorganização da Igreja no Brasil, p. 159.
458
Anais do Parlamento Brasileiro, Sessão em 2 de março de 1843, p. 31-32,
459
Anais do Parlamento Brasileiro, Sessões de março a maio de 1843.
460
Coleção das Leis do Império do Brasil, 21 de março de 1843, V, parte I, 35-36.
CAP. III: A ATUAÇÃO DOS ULTRAMONTANOS NO SEGUNDO IMPÉRIO 323
—————————–
461
ASV, NAB, Nota dirigida ao Senhor dos Negócios Estrangeiros, julho de 1844,
Cx. 18, fasc. 79, doc 26, n. 3, f. 26v-27v.
462
ASV, NAB, Officio, 17 de agosto de 1844, Cx. 18, fasc. 76, doc. 82, f. 184r-184v.
324 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
463
Coleção das Leis do Império do Brasil, VII, parte II, 163-164.
464
ASV, NAB, Resposta ao protesto de Mons. Campodonico por parte do Ministro
dos Negócios Estrangeiros, 28 de janeiro de 1845, Cx. 18, fasc. 79, doc 33, f. 127r-
143(a)r.
465
ASV, NAB, Dispaccio, 9 de maio de 1846, Cx. 22, fasc. 97, f. 8r-8v.
CAP. III: A ATUAÇÃO DOS ULTRAMONTANOS NO SEGUNDO IMPÉRIO 325
—————————–
466
ASV, NAB, Dispaccio, 9 de maio de 1846, Cx. 22, fasc. 97, f. 8r-8v.
467
ASV, NAB, Comunicação do beneplácito para a troca de prefeitos na prefeitura
do Rio, 28 de setembro de 1846, Cx. 22, fasc. 98, doc 32, f. 56r-56v.
468
ASV, NAB, Resposta do Ministério dos negócios Estrangeiros a nota de Mons.
Bedini de 28 de setembro de 1846, 16 de novembro de 1846, Cx. 22, fasc. 98, doc 33, f.
57r-66r.
469
D. R. VIEIRA, O processo de reforma e reorganização da Igreja no Brasil, 160.
470
Nasceu em 1871, de acordo com uma carta de D. Viçoso, que lhe dá 56 anos em
1837. Seu pai era o «morgado» Belchior Rebello Peixoto e Castro, de uma das
primeiras famílias do Minho, e cuja casa «desfrutava 22 foros». Estudou no Seminário
arquiepiscopal de Braga, e foi aí que conheceu os lazaristas, por ocasião das retiros
espirituais, que estes pregavam durante as ordenações. [E. PASQUIER, Os primórdios da
Congregação da Missão no Brasil, 29 nota 23].
471
E. PASQUIER, Os primórdios da Congregação da Missão no Brasil, 29-31.
326 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
472
O Irmão Lourenço, em seu testamento diz ser «natural da freguesia de Nagozelo,
termo de São João de Pesqueira, bispado de Lamego, Portugal. Filho legítimo de
Antônio Pereira e sua mulher Ama de Figueiredo, ambos já falecidos. Sobre si mesmo
disse: “Vivi sempre solteiro e nunca tive filhos”» [Testamento do Irmão Lourenço,
AECAM, livro H-5, f. 42-43, Freguesia de Nossa Senhora da Conceição das Catas
Altas]. Segundo Trindade foi criado por um colono português e posteriormente se
tornou ermitão do Santuário que erigiu, fazendo-se chamar Irmão Lourenço de Nossa
Senhora. Ele chegou à Serra da Piedade por volta de 1760 e a capela de Nossa Senhora
da Piedade, na freguesia de Caeté, foi erigida por provisão de 30 de setembro de 1767.
Em 1797 recebeu da Santa Sé uma relíquia insigne – o corpo de São Pio Mártir. Por
toda vida requereu ao rei que ali se instalassem missionários que ele mesmo ajudaria no
sustento. Porém, «A 26 de outubro de 1819, contando noventa e cinco anos de idade e
cerca de cinqüenta de residência no Caraça, faleceu piedosamente, legando todos os
seus haveres a Dom João VI, com o ônus de estabelecer na casa de sua fundação os
religiosos com que sonhara» [R. O. TRINDADE; Arquidiocese de Mariana, II, 7-12].
473
Antes de partirem do Rio de Janeiro, os dois lazaritas, como informa D. Silvério,
tiveram ocasião de se encontrarem com D. Fr. José da Santíssima Trindade, novo bispo
de Mariana, que se achava então no Rio para receber a sagração episcopal. Foram
apresenta-se a ele, e só então partiram para o Caraça depois de terem recebido a sua
bênção [E. PASQUIER, Os primórdios da Congregação da Missão no Brasil, 37].
474
E. PASQUIER, Os primórdios da Congregação da Missão no Brasil, 58-59.
475
R. O. TRINDADE; Arquidiocese de Mariana, II, 14.
CAP. III: A ATUAÇÃO DOS ULTRAMONTANOS NO SEGUNDO IMPÉRIO 327
—————————–
479
J. E. SOUZA, Província Mineira da Congregação da Missão, 27.
480
R. O. TRINDADE, Arquidiocese de Mariana, II,14.
481
J. E. SOUZA, Província Mineira da Congregação da Missão, 27.
482
J. E. SOUZA, Província Mineira da Congregação da Missão, 25.
483
E. PASQUIER, Os primórdios da Congregação da Missão no Brasil, 27-28.
CAP. III: A ATUAÇÃO DOS ULTRAMONTANOS NO SEGUNDO IMPÉRIO 329
—————————–
484
R. O. TRINDADE; Arquidiocese de Mariana, II, 16.
485
E. PASQUIER, Os primórdios da Congregação da Missão no Brasil, 120.
486
E. PASQUIER, Os primórdios da Congregação da Missão no Brasil, 123.
487
E. PASQUIER, Os primórdios da Congregação da Missão no Brasil, 98.
330 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
488
E. PASQUIER, Os primórdios da Congregação da Missão no Brasil, 126-127.
489
E. PASQUIER, Os primórdios da Congregação da Missão no Brasil, 151-154.
490
R. O. TRINDADE, Arquidiocese de Mariana, II, 17. Mais informações sobre a
separação de Paris e todas as atas da Assembléia se encontram em: E PASQUIER, Os
primórdios da Congregação da Missão no Brasil, 193-230.
CAP. III: A ATUAÇÃO DOS ULTRAMONTANOS NO SEGUNDO IMPÉRIO 331
—————————–
491
AES, Br., Officio, 8 de janeiro de 1840, Fasc. 155, pos. 35, f. 6r-6v; ASV, AES,
Lettera di Leandro Rabello sulla elezione di Viçosos a superiore, 20 de dezembro de
1839, Fasc. 155, pos. 35, f. 7r-7v.
492
E. PASQUIER, Os primórdios da Congregação da Missão no Brasil, 257-258.
493
E. PASQUIER, Os primórdios da Congregação da Missão no Brasil, 53
494
«Ambrósio Campodonico assumiu seu posto, no Rio de Janeiro, em 1841. Sua
vontade era trazer como secretário um padre jesuíta francês, porque a elite cultural do
Rio de Janeiro, e em geral do Brasil, tinha formação francesa. Para tanto, Campodonico
escreveu uma carta ao pe. Rootham. Foi indicado o pe. Clemente Boulanger, SI. Este,
porém, não pôde vir. Outro padre o Internúncio não conseguiu. A atitude do prelado
demonstra o apreço que tinha pela Companhia de Jesus» [A. BOHMEN – al., A atividade
dos jesuítas de São Leopoldo, 85 nota 2].
332 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
503
J. A. LUTTERBECK, Jesuítas no sul do Brasil, 64-65. Ver também: A. GRÈVE,
Subsídios para a história da Companhia de Jesus, no Brasil.
504
D. R. VIEIRA, O processo de reforma e reorganização da Igreja no Brasil, 168.
Ver também: A. GRÈVE, Subsídios para a história da Companhia de Jesus, no Brasil.
CAPÍTULO IV
—————————–
1
K. SCHATZ, Storia della Chiesa, III, 27.
336 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
11
H. ACCIOLY, Os primeiros Núncios no Brasil, 239-255.298-309.
12
H. ACCIOLY, Os primeiros Núncios no Brasil, 288-309.
13
ASV, NAB, Índice Geral dos Núncios desde 1808 a 1920.
340 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
14
AES, Br., Relatório do Governo a Câmara do Deputados, Ministério do Exterior,
1856, Fasc. 172, pos. 117, f. 154v-155r.
15
AES, Br., Parecer confidencial de Mons. Gaetano Bedini, 16 de maio de 1856,
Fasc. 172, pos. 115, f. 89r-102v.
16
AES, Br., Parecer confidencial de Mons. Gaetano Bedini, 16 de maio de 1856,
Fasc. 172, pos. 115, f.90v-91r.
17
AES, Br., Parecer confidencial de Mons. Gaetano Bedini, 16 de maio de 1856,
Fasc. 172, pos. 115, f. 91r.
CAP. IV: RELAÇÕES ENTRE A SANTA SÉ E O GOVERNO 341
—————————–
18
AES, Br., Parecer confidencial de Mons. Gaetano Bedini, 16 de maio de 1856,
Fasc. 172, pos. 115, f. 93r.
19
AES, Br., Parecer confidencial de Mons. Gaetano Bedini, 16 de maio de 1856,
Fasc. 172, pos. 115, f. 93r.
20
AES, Br., Parecer confidencial de Mons. Gaetano Bedini, 16 de maio de 1856,
Fasc. 172, pos. 115, f. 93r-93v.
342 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
21
No início dos anos de 1840, o Império brasileiro se interessou em trazer da Europa
missionários capuchinhos para empregá-los nas missões indígenas, no entanto, logo
entrou em conflito com os Internúncios e com a Propaganda Fide, devido ao desejo por
parte do Governo de ter controle sobre estes missionários dentro do território nacional
[ver capítulo precedente].
22
AES, Br., Parecer confidencial de Mons. Gaetano Bedini, 16 de maio de 1856,
Fasc. 172, pos. 115, f. 93r- 96v.
23
AES, Br., Parecer confidencial de Mons. Gaetano Bedini, 16 de maio de 1856,
Fasc. 172, pos. 115, f. 96r-96v.
24
AES, Br., Parecer confidencial de Mons. Gaetano Bedini, 16 de maio de 1856,
Fasc. 172, pos. 115, f. 96v.
CAP. IV: RELAÇÕES ENTRE A SANTA SÉ E O GOVERNO 343
—————————–
25
AES, Br., Parecer confidencial de Mons. Gaetano Bedini, 16 de maio de 1856,
Fasc. 172, pos. 115, f. 97r-99r.
344 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
28
AES, Br., Istruzione a Mons. Cesare Roncetti Arcivescovo di Seleucia p. i.
Internunzio Apostolico nell’Impero del Brasile, 1876, Fasc. 188, pos. 164, f. 7r-23r.
29
AES, Br., Istruzione per Mons. Gaetano Bedini Arcivescovo di Tebe p.i. Nunzio
Apostolico nell’Impero del Brasile, 20 de outubro de 1852, Fasc. 166, pos. 89, f.42r-53r.
346 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
30
AES, Br., Istruzioni per Mons. Cesare Roncetti Arcivescovo di Seleucia in p.i.
Internunzio Apostolico nell’Impero del Brasile, 1876, Fasc. 188, pos. 164, f. 7r-7v.
31
AES, Br., Relazione di una Conferenza tenuta col Ministro degli Affari Esteri e
con quello della Giustizia, 12 de fevereiro de 1856, Fasc. 171, pos. 111, f. 60r.
32
AES, Br., Relazione di una Conferenza tenuta col Ministro degli Affari Esteri e
con quello della Giustizia, 12 de fevereiro de 1856, Fasc. 171, pos. 111, f. 69r-60v.
33
AES, Br., Relazione di una Conferenza tenuta col Ministro degli Affari Esteri e
con quello della Giustizia, 12 de fevereiro de 1856, Fasc. 171, pos. 111, f. 60v-62v.
CAP. IV: RELAÇÕES ENTRE A SANTA SÉ E O GOVERNO 347
—————————–
34
AES, Br., Dispaccio, 22 de outubro de 1856, Fasc. 175, pos. 119, f. 2r.
35
AES, Br., Officio, 28 de novembro de 1856, Fasc. 175, pos. 119, f. 6v.
36
AES, Br., Officio, 28 de novembro de 1856, Fasc. 175, pos. 119, f. 6v-7r.
37
AES, Br., Officio, 28 de novembro de 1856, Fasc. 175, pos. 119, f. 8r-8v.
348 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
Santa Sé, o certo é que não foi mais pedido aos Representantes pontifícios
que apresentassem os seus Breves de faculdades38.
Este tema passou a fazer parte das Instruções dadas aos Representantes
pontifícios que eram enviados ao Brasil, aos quais, caso o Governo voltasse
a requerer a apresentação dos Breves, se ordenava:
Rispondere subito di non avere istruzioni in proposito, giacché la S. Sede
non poteva dargliele per essere stato i suoi Rappresentanti ricevuti
costantemente nel Brasile senza tal esigenza, la quale oltre all’essere
ingiuriosa alla S. Sede non servirebbe che ad indurre una pratica abusiva
contro di cui la S. Sede non ha cessato né cesserà giammai di reclamare e
protestare. Farà poi riflettere che la S. Sede non ha mai accordato a nessun
Governo sia europeo, sia americano il preteso privilegio di mettere il placet
nei Brevi e Bolle Apostoliche ed in altri atti della Curia Pontificia, come ne
fanno fede le continue proteste ed i reclami da essa dato solennemente ogni
qualvolta sì è tentato dai Governi di stabilire un simile deplorabile abuso39.
Se mesmo assim, o Governo exigisse a apresentação do Breve, segundo
as Instruções, o representante pontifício, por «estrema condescendência»
poderia enviar uma nota confidencial informando que as suas faculdades
eram iguais àquelas dadas aos Monsenhores Massoni, Falcinelli e Sanguini.
Os Internúncios recebiam a recomendação de procederem com muita
cautela e sigilo, para que «il giornalismo non abbia ad impadronirsene ed a
menarne strepito». No entanto, os Breves de faculdades dos representantes
pontifícios não foram mais pedidos pelo Governo Imperial40.
—————————–
38
AES, Br., Istruzioni per Mons. Cesare Roncetti Arcivescovo di Seleucia in p.i.
Internunzio Apostolico nell’Impero del Brasile, Fasc. 188, pos. 164, f. 8v.
39
AES, Br., Istruzioni per Mons. Cesare Roncetti Arcivescovo di Seleucia in p.i.
Internunzio Apostolico nell’Impero del Brasile, Fasc. 188, pos. 164, f. 9r-9v.
40
AES, Br., Istruzioni per Mons. Cesare Roncetti Arcivescovo di Seleucia in p.i.
Internunzio Apostolico nell’Impero del Brasile, 1876, Fasc. 188, pos. 164, f. 9v.
CAP. IV: RELAÇÕES ENTRE A SANTA SÉ E O GOVERNO 349
—————————–
41
AES, Br., Sulla istruzione a dare a Mons. Marini sull’uso delle facoltà di redigere
i processi canonici dei promovendi al Vescovado, 13 de dezembro de 1854, Fasc. 171,
pos. 108, f. 3r-3v. Essas instruções foram ainda reforçadas em 29 de dezembro de 1854
[AES, Br., Sulla istruzione a dare a Mons. Marini sull’uso delle facoltà di redigere i
processi canonici dei promovendi al Vescovado, 29 de dezembro, Fasc. 171, pos. 108, f.
8r-10v].
42
AES, Br., Istruzione per Mons. Gaetano Bedini Arcivescovo di Tebe Nunzio
Apostolico nell’Impero del Brasile, 20 de outubro de 1852, Fasc. 166, pos. 89, f. 49v.
43
AES, Br., Officio, 14 de outubro de 1854, Fasc. 176, pos. 125, f. 22r-22v.
44
AES, Br., Officio, 13 de junho de 1855, Fasc. 171, pos. 108, f. 12r-13r; Officio
enviando os documento sobre a rejeição da Bula Praeclara Portugalliae de 1827, 14 de
outubro de 1855, Fasc. 171, pos. 108, f. 18v-19r.
350 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
ou adquirissem bens, além de regular a sua posse. Por meio deste artifício,
toda ordem religiosa ou toda comunidade de religiosos, que por qualquer
motivo se extinguisse, teriam os seus haveres imediatamente incorporados
aos bens do Estado51.
Este sistema cerceador se intensificou nos tempos do Marquês de
Pombal, o qual, depois expulsar os jesuítas do Reino português em 1759,
fez com que, no ano seguinte, todos os regulares fossem subtraídos à
autoridade dos seus superiores gerais em Roma, ficando sob estreito
controle da Coroa lusitana. O Brasil independente deu continuidade a essa
política. A falta de uma disciplina clara e de uma resistência eficaz por
parte dos religiosos atingidos, levou as autônomas ordens «brasileiras» a
uma progressiva decadência. O pior foi que o mesmo relaxamento que as
contagiou, serviu de pretexto para que o Governo imperial obstruísse a
entrada de novas congregações de regulares no país, ao mesmo tempo em
que impedia a Santa Sé de proceder à restauração das antigas, além de
buscar que se separassem de seus superiores portugueses. Ou seja,
provocou uma «nacionalização» das ordens religiosas52.
A primeira ordem a se separar foi a dos beneditinos, que solicitou e
conseguiu do Papa a permissão, dada com a bula Inter gravissimas curas,
de 7 de julho de 1826. Entretanto, ao Governo não interessava a expansão
das corporações religiosas e as medidas para coibi-la se fizeram sentir. A
primeira aconteceu em 31 de janeiro de 1824, quando D. Pedro I, com a
decisão 36, enviou uma portaria aos bispos proibindo a admissão de
noviços até novas decisões, que vieram em 5 de fevereiro do mesmo ano,
com a medida imperial n.41, estabelecendo a necessidade de uma licença
governativa para a recepção de candidatos ao noviciado, devendo os bispos
vigiar sobre isso. Continuando a perseguição aos religiosos considerados
«estrangeiros», no dia 11 de março de 1824, o decreto 66 suprimiu as
ordens dos frades Terésios e dos Missionários Apostólicos italianos da
Bahia (agostinianos), considerando-os «inimigos do país, ao qual fizeram
guerra no campo de batalha, no púlpito e no confessionário»53.
As supressões se alargaram a outras ordens, em 9 de dezembro de 1830,
foi atingida a de São Felipe Néri em Pernambuco; em 25 de agosto de
—————————–
51
Ordenações e Leis do Reino de Portugal compiladas por mandado d’El-Rei D.
Filipe I, II, 28-31.
52
Tal tentativa começou já na primeira missão diplomática brasileira a Roma, onde
Vidigal, o enviado imperial, nas suas instruções, recebia ordens nesse sentido. No
entanto, tal idéia foi recusada pela Santa Sé. [J. C. M. CARNEIRO, O Catolicismo no
Brasil, 155].
53
Coleção das Decisões do Governo do Império do Brasil de 1824, 25-26.28.49.
CAP. IV: RELAÇÕES ENTRE A SANTA SÉ E O GOVERNO 353
—————————–
59
Comisso é a perda do domínio útil por inadimplemento das obrigações [ndr.]
60
J. NABUCO, Um estadista do Império, I, 306.
61
J. NABUCO, Um estadista do Império, I, 307-308.
62
J. NABUCO, Um estadista do Império, I, 308-312.
356 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
eles a si, tudo ficaria como antes. Parece, pois, acertado o pensamento de V.
Ex.a., mas por que lhe chamo eu quase impossível? Porque os bispos, em
dioceses tão extensas, têm muito que fazer; nem todos foram noviços de
corporações reformadas; se acham apoio em V. Ex.a., talvez não o acharão em
outros: as astúcias dos relaxados, com a liberdade de imprensa, os recursos ao
governo que não for do mesmo parecer, e mil outras coisas, fazem perder o
ânimo e a esperança. O Sr. Arcebispo me disse que lhe davam mais que fazer
três ou quatro conventos de freiras que todo o resto do bispado. Santa Teresa,
no meio do século XVI, com todo o seu ânimo e prudência mais que varonil
obteve reformar os Carmelitas, mas como? Fundando novas casas e recebendo
novos sujeitos, não tomando dos velhos senão dois que achou dos seus
sentimentos. Lembro-me que se o governo pedisse ao Santo Padre doze
religiosos dos mais reformados da Ordem, que se naturalizassem no Brasil,
que com o seu exemplo e luzes edificassem os nossos, talvez obter-se-ia
alguma vantagem juntamente com o projeto de V. Exa. Outra lembrança: os
Carmelitas e Franciscanos estão divididos no Brasil em diversas províncias
com o seu provincial, mas cada uma com poucos religiosos, uns poucos nas
capitais e o resto dos conventos com um só, que é o prelado dos escravos; que
fará o prior? Anda pelas fazendas governando escravos. E o guardião? Nada,
ou ganhando dinheiro para se secularizar. Isso não é Ordem religiosa, nem
nada. Talvez será melhor juntar todas as províncias de cada Ordem em uma
só, para haver mais sujeitos para escolher prelados e a comunicação é fácil por
mar, junto ao qual quase todos tem seus conventos.
Mas, Ex.mo Sr., tudo isso me parece paliativo. O nó cortava-se de um
golpe, não acabando com estas corporações tão úteis quando reformadas,
como eram em seus melhores dias, mas juntando-as em um ou dois conventos,
com uma total e indispensável proibição de receber noviços, enquanto não
melhorasse a conduta (que, torno a dizer, me parece impossível) e chamar
algumas das corporações que abundam na França, v. g. Ligoristas, Lazaristas,
Trapistas, da Doutrina Cristã. Estes homens edificam e são úteis à França, tão
dedicados ao bem público, civil e religioso, tão estimados como V. Exa. vê
que o são as Irmãs da Caridade no Rio. Que clero não apresenta hoje a França
educada com estes homens! Juntos os nossos religiosos em poucos conventos,
sobejavam belos e espaçosos edifícios para acomodar as novas corporações
que logo, pela admissão de candidatos brasileiros, se tornavam nacionais,
contanto que se lhes desse toda a liberdade de observarem suas regras e a
união com a suas cabeças onde quer que estivessem. [...] Quanto ganhariam
esses pobres índios, se houvesse quem preenchesse o vácuo que deixou aquela
corporação cujos membros eram o padre Nóbrega e Anchieta63.
Pelas respostas que deram os bispos se constata que o Governo colocou
em ação somente os pontos que lhe interessavam. Agindo antes de um
—————————–
63
J. NABUCO, Um estadista do Império, I, 311.
CAP. IV: RELAÇÕES ENTRE A SANTA SÉ E O GOVERNO 357
—————————–
64
Sobre tais tentativas ver M. M. CALAZANS, A Missão de Monsenhor Francesco
Spolverini, 23; D. R. VIEIRA, O processo de reforma e reorganização da Igreja no
Brasil, 154-156.
65
Existe uma carta sem data do fr. João de Santa Gertrudes no AES, Br., mas que
seguramente foi escrita por volta de meados de 1870, devidos as informações que dá.
Ele comunica que acaba de chegar a Roma trazendo três jovens para iniciarem o
noviciado e é informado que ali se encontrava um encarregado do Governo Imperial
para tratar com a Santa Sé a respeito das Ordens Religiosas (se tratava do pe. Pinto de
Campos) com a intenção de converter seus bens em títulos da dívida pública. Nesta
carta ele defendia a sua ordem e pedia a proteção ao Santo Padre [AES, Br., Carta de fr.
João de Santa Gertrudes ao Papa, sem data, Fasc. 1, pos. 171, p. 31r-33r].
66
ASV, NAB, Aviso do Ministério do Império ao Abade Geral da Ordem
Beneditina, 27 de outubro de 1879, Cx. 71, fasc. 345, doc. 8, f. 64.
358 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
dal Decreto di Pio IX del 1859, nel senso di assicurare la loro libertà, e nulla
osta che il Governo Imperiale intraprenda la riforma già consigliata dalla
stessa Consulta.
I servigi dei Cappuccini nel Brasile sono stati di tal valore, che il Governo
non cessa d’instare per la venuta di nuovi Missionari, non esita di fare le spese
necessarie, e di mantenere i rispettivi Ospizi, ed è certo, che senza di codesti
Religiosi sarà impossibile continuare le quasi abbandonate Missioni degli
Indigeni.
Così m’incombe dichiarare a V. P. che nel Brasile non vi è legge che abbia
alterato o revocato il diritto che hanno gli Ordini Religiosi di ammettere
novizi, e questi di professare la Regola per la quale sentano vocazione, e
finalmente che non stia nella competenza del Governo fare alterazione in
questa materia. Dio guarde V.P. – A. Ferreira Viana [todos os grifos são do
original]67.
Na ocasião, o Ministro Antônio Ferreira Viana (1833-1903) esclareceu
que não existia nenhum ato proibitivo no legislativo contra a liberdade das
vocações garantida por lei. Ele argumentava que ao aviso de 1855, devia
antes prevalecer a Consulta da Seção dos Negócios da Justiça do Conselho
de Estado de 18 de setembro de 1857, declarando que se admitissem
noviços em número conveniente, além de se buscar a reforma das mesmas
ordens. Esta interpretação praticamente anulava a proibição anterior.
Porém, de 1855 até 1889, enquanto vigorava a proibição do noviciado, o
Estado fez vários esforços para se apoderar dos bens das corporações
religiosas, dando a entender que a referida proibição era uma tentativa de
esvaziá-las, e assim se apoderar dos seus patrimônios. Tal estratégia
governativa foi chamada por Dilermando Ramos Vieira de: «supressão
branca das antigas ordens religiosas remanescentes», devido aos
mecanismos utilizados para chegar a tal fim68.
O interesse do Estado pelos bens das ordens religiosas tinha suas origens
no Reino português. A primeira medida do Governo brasileiro em relação a
elas veio em 9 de dezembro de 1830, declarando «nulos e de nenhum efeito
os contratos onerosos e alienações feitas pelas Ordens Regulares sem
preceder licença do Governo». A partir desta lei, as congregações religiosas
—————————–
67
AES, Br., Lettera di Fr. Bruno da Vinay, Prov. e Com. Gen. Cap., a Mons. Mario
Mocenni, Sostituto della Segreteria di Ststo, 13 de julho 1889, Fasc. 23, pos. 293, f. 2r-
3v.
68
Título do sub-título referente às medidas governamentais contra as ordens
religiosas no segundo capítulo do seu livro [D. R. VIEIRA, O processo de reforma e
reorganização da Igreja no Brasil, 153].
360 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
75
AES, Br., Relatório do Ministro do Império a Câmara, 1863, Fasc. 182, pos. 143,
f. 107r.
76
AES, Br., Officio, 16 de julho de 1863, Fasc. 182, pos. 143, f. 107r.
77
ASV, NAB, Dispaccio, de 14 de outubro de 1863, Cx. 39, fasc. 174, doc. 26, f.
60r-62r.
CAP. IV: RELAÇÕES ENTRE A SANTA SÉ E O GOVERNO 363
pior das hipóteses, salvar pelo menos uma parte do patrimônio dos
regulares78.
O segundo ponto seria que: o Internúncio escolhesse uma pessoa
influente e confiável, que propusesse ao Governo de pedir à Santa Sé a
substituição das ordens decadentes por outras dedicadas ao ensino e à
assistência aos doentes. Esta pessoa não poderia nunca revelar que agia em
nome da Internunciatura, para não criar nenhum embaraço a Santa Sé, que
ficaria livre para atuar como melhor acreditasse. Se o Governo aceitasse tal
proposta, seria de grande proveito para o Brasil, o qual receberia «bons e
edificantes» religiosos que afastariam a idéia de uma supressão. Para
fortalecer a argumentação do agente da internunciatura, este poderia citar o
caso da França: «La quale, sebbene in altri tempi favorì l’idea che ora
predomina nel Brasile, che cioè la società civile possa far senza delle
corporazioni religiose, col fatto poi si è ampiamente ricreduta agli ordini
religiosi da cui esperimenta ora i più grandi vantaggi»79.
O terceiro ponto era o seguinte: se por algum motivo não fosse possível
realizar nenhuma das duas propostas anteriores, ou caso elas fracassassem,
sendo a abolição das ordens eminente, dever-se-ia empenhar o episcopado
brasileiro a agir de comum acordo, no sentido de que a administração do
patrimônio dos regulares fosse dada aos bispos, para ser utilizado na
reforma do clero, especialmente nos Seminários diocesanos. Porém,
também neste caso, se deveria ocultar que a iniciativa provinha da
Internunciatura, mesmo se esta deveria dirigir a ação dos bispos, podendo
ficar livre para aumentar a pressão junto ao Governo com protestos e
reclamações que poderiam ser enviadas pela Santa Sé. Caso esta estratégia
surtisse efeito, o Internúncio seria munido de todas as faculdades
necessárias para realização de tal intento80.
Enquanto a diplomacia vaticana se movia, o Governo deferiu um outro
duro golpe ao direito de propriedade das ordens regulares. Foi o decreto n.
1.225, de 20 de agosto de 1864. Nele, ao mesmo tempo em que autorizava
o Governo a «conceder as corporações de mão morta licença para
adquirirem ou possuírem por qualquer título terrenos ou propriedades
necessárias para edificação de Igrejas, Capelas, Cemitérios extra-muros,
hospitais, casas de educação e de asilo, e quaisquer outros estabelecimentos
—————————–
78
ASV, NAB, Dispaccio, de 14 de outubro de 1863, Cx. 39, fasc. 174, doc. 26, f.
60r-62r.
79
ASV, NAB, Dispaccio, de 14 de outubro de 1863, Cx. 39, fasc. 174, doc. 26, f.
62r-62v.
80
ASV, NAB, Dispaccio, de 14 de outubro de 1863, Cx. 39, fasc. 174, doc. 26, f.
62v-63v.
364 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
públicos» (art. 1º.), impunha a conversão dos seus bens de raiz, que
tivessem sido adquiridos em conformidade com a Ordenação Liv. 2º, Tit.
18, §1º, em apólices da dívida pública81, como definia o art. 2º:
Os bens de raiz, adquiridos, pelas corporações de mão morta na conformidade
da Ordenação Liv. 2º, Tit. 18, §1º, serão, no prazo de seis meses contados de
sua entrega, alheados, e seu produto convertido em apólices da dívida pública
sob as penas da mesma Ordenação; excetuados os prédios e terrenos
necessários para o serviço das mesmas corporações, e os que até agora tiverem
constituído o seu patrimônio82.
Em 1865, com o início da Guerra do Paraguai, aumentaram as
dificuldades financeiras do Governo, o que correspondeu a um igual
aumento do seu interesse pelos bens eclesiásticos. O representante
pontifício no Brasil não deixou de comunicar tal situação. A resposta da
Santa Sé foi dada em 18 de novembro de 1865, na qual refletia que as
ponderações do Internúncio sobre a grande possibilidade que viesse
proposta a conversão dos bens das corporações religiosas em cartelas da
dívida pública, devido principalmente às despesas do Governo com a
Guerra do Paraguai, eram fundadas. Instruía Mons. Sanguini a procurar
impedir que tal proposta fosse feita, empenhando algum bom deputado para
que defendesse eficazmente os interesses da Santa Sé. Caso isso não
surtisse efeito, deveria agir do seguinte modo:
Sua Santità l’autorizza in tal caso a dichiarare all’Imperiale Governo che la S.
Sede penetrandosi all’aggravio cagionato alle finanze del paese dalle
—————————–
81
Assim versava o Liv. 2º. Tit. 18 §1º: «De muito longo tempo foi ordenado pelos
Reis nosso antecessores que nenhuma Igreja, nem Ordem pudesse comprar, nem haver
em pagamento de suas dívidas bens alguns de raiz, nem por outro título algum os
adquirir, nem possuir, sem especial licença dos ditos Reis, e adquirindo-se contra a dita
defesa, os ditos bens se perdessem para a Coroa. A qual Lei sempre até agora se usou,
praticou, e guardou nestes nossos Reinos sem contradição das Igrejas e Ordens, e Nós
assim mandamos que se guarde e cumpra daqui em diante. E qualquer pessoa secular da
nossa jurisdição, que alguns bens de raiz vender, ou em pagamento der as Igreja e
Ordens, por esse mesmo feito perca o preço, que por ele recebeu, ou a estimação da
dívida, por que os deu em pagamento. E bem assim se percam os ditos bens para nossa
Coroa.
§1 Porém deixando alguma pessoa alguns bens em sua vida, ou por morte a alguma
Igreja, Mosteiro, de qualquer Ordem e Religião que seja, ou havendo-os per sucessão,
podê-los-ão possuir um ano e dia, no qual tempo se tirará deles, não havendo nossa
Provisão para os poder possuir por mais tempo. E não se tirando deles no dito tempo,
nem havendo nossa Provisão, os perderá para Nós» [Ordenações e Leis do Reino de
Portugal compiladas por mandado d’El-Rei D. Filipe I, II,28-29].
82
Coleção das Leis do Império do Brasil, 1864, XXIV, parte I, 51-52.
CAP. IV: RELAÇÕES ENTRE A SANTA SÉ E O GOVERNO 365
—————————–
86
Anais do Parlamento Brasileiro, Sessão de 8 de junho de 1869, II, p. 86.
87
AES, Br., Officio, 20 de junho de 1869, Fasc. 1, pos. 171, f. 3v-4r.
88
AES, Br., Officio, 20 de junho de 1869, Fasc. 1, pos. 171, f. 4v-5v.
89
AES, Br., Officio, 20 de junho de 1869, Fasc. 1, pos. 171, f. 5r.
CAP. IV: RELAÇÕES ENTRE A SANTA SÉ E O GOVERNO 367
Após ter conhecimento das opiniões dos prelados, a Santa Sé deu sua
resposta em um Pró-memória, de 28 de março de 1870, exigindo as
seguintes condições para aceitar o projeto do Governo imperial:
La S. Sede perché possa determinarsi a prendere in considerazione quanto é
richiesto nell’anzidetto Memorandum, ravvisa necessario di essere
preventivamente assicurata:
1°. Che la vendita dei Beni sopraindicati si farà all’asta in nome della Chiesa
da una o più commissioni composte di persone capaci da nominarsi in numero
eguale dall’Internunzio apostolico residente in Rio Janeiro, e dal Governo
Imperiale, le quali commissioni tutte dovranno essere presiedute dallo stesso
Internunzio o da un suo delegato.
2°. Che la conversione del prezzo dei medesimi Beni in polizze del debito
pubblico sarà eseguita dalla Commissione che si formerà in Rio di Janeiro e
che dalla stessa saranno distribuite le polizze ai conventi, che si
conserveranno, in quella quantità che da essa si giudicherà conveniente, ai
Seminari e all’altre ridette pie opere, ponendosi le polizze in loro nome.
3°. Che ai Religiosi i quali verranno secolarizzati, si assegnerà dalla
Commissione una congrua pensione vitalizia a carico dei Seminari o delle
altre summentovate pie opere a giudizio della Commissione medesima.
4°. Che i conventi i quali si conserveranno, saranno assoggettati alla riforma
nella maniera che stabilirà la S. Sede e quindi si riapriranno i noviziati95.
A resposta do Governo veio por meio de uma carta confidencial da
Legação Imperial do Brasil em Roma, ao Cardeal Secretário de Estado
Antonelli, em 7 de junho de 1870, nos seguintes termos:
Bases para um acordo:
1º. Que os Religiosos das Ordens Regulares Carmelita, Beneditina e
Franciscana, cujo irregular procedimento é notório, por não preencherem os
fins de sua Instituição, sejam secularizados.
2º. Que possuindo as Ordens Regulares Carmelita e Beneditina avultados
bens, de que já parte tem sido dissipada, convêm que as propriedades urbanas,
rurais e escravos que elas têm na Capital e nas Províncias sejam vendidas em
hasta pública, e convertido o seu produto em Apólices da Dívida Pública, cujo
rendimento liquido será exclusivamente [grifo do original] aplicado na
manutenção do Culto Católico e sustentação dos Seminários e de
Estabelecimentos Pios.
—————————–
96
AES, Br., Carta da Legação do Brasil, Confidencial, ao Cardeal Antonelli, 7 de
junho de 1870, Fasc. 1, pos. 171, f. 75r-76v.
97
AES, Br., Dispaccio al Sig. Ministro Del Brasile presso la S. Sede, 15 de junho de
1870, Fasc. 1, pos. 171, f. 78r-79r.
98
AES, Br., Dispaccio al Internunzio, 21 de junho de 1870, Fasc. 1, pos. 171, f. 80r-
80v.
CAP. IV: RELAÇÕES ENTRE A SANTA SÉ E O GOVERNO 371
se reclama não tem outro fim, que o de acautelar o futuro desses bens, já são
dissipados, e lhes dar um destino não alheio aos intuitos de seus piedosos
doadores99.
Mons. Sanguini, enviou um Protesto ao Governo, datado de 27 de junho
de 1870, mas obteve como resposta que a instituição governativa estava
agindo de acordo com as decisões do corpo legislativo, na convicção de
que o Estado não estava invadindo as atribuições nem os «pretensos»
direitos da Igreja, razão pela qual não aceitava o referido Protesto. Em 3 de
setembro de 1870, o Internúncio informou a Santa Sé que o regulamento
para a venda dos bens ainda não tinha sido publicado e assegurava que o
Governo nada revelara a ele sobre as negociações e tampouco que enviara
um encarregado a Roma. Informava também que o projeto de conversão
estava caindo no esquecimento e assim ficou até 1883100.
Em 1882, Mons. Di Pietro, ex-Internúncio Apostólico no Brasil,
entregou uma relação sobre a Igreja no Império à Secretaria de Estado. No
item 3º, tratava das condições das ordens religiosas. Começava a relação
fazendo um histórico das medidas do Governo contra as corporações de
regulares e continuava descrevendo o estado de decadência em que estas se
encontravam101.
—————————–
99
Coleção das Leis do Império do Brasil, 1870, XXX, parte I, 15.
100
AES, Br, Officio, 3 de setembro de 1870, Fasc. 1, pos. 171, 81r-82r.
101
Di Pietro assim descrevia a condição dos religiosos no Brasil: «Gli Ordini
Religiosi del Brasile sono quelli dei Mercedari, Francescani, Carmelitani, e
Benedittini. Dei Mercedari già non si parla più esistendone uno soltanto nella diocesi
di S. Luigi del Maragnone, non so se con l’abito della Religione o di Sacerdote
secolare. I Francescani sono divisi in due province colla totale indipendenza dell’una
dall’altra, quella di Rio Janeiro con 13 Conventi e ridotta al cosi detto provinciale,
uomo scaltro e attivo, ad un vecchio più che settuagenario, e ad un altro religioso
infermiccio [sic.]; quella di Bahia con altrettanti conventi conta tuttora una trentina di
frati sparsi qua e la. I Carmelitani parimenti sono divisi in due province indipendenti,
l’una di Rio di Janeiro con vari conventi, di primitivo istituto, e composta di un priore
sordo, di un religioso quasi cieco, e di un terzo di complessione malsana, soggetti ad un
Visitatore Apostolico nominato (se non prendo equivoco) dall’Internunzio Mons.
Sanguini nella persona del Vicario Generale della diocesi di Rio Janeiro Mons. Felice
Freitas de Albuquerque; l’altra di Pernambuco, dell’Istituto Carmelitano riformato, è
ristretta a sette o otto religiosi. I Benedettini finalmente sono circa 30, e i loro
principali monasteri sono quello di Bahia, dove risiede l’Abate Generale, e quello di
Rio di Janeiro. I più giovani di tutti questi Religiosi non hanno meno di 45 o 50 anni;
ma la maggior parte sono di età molto già avanzata. È perciò evidente, che
prescindendo anche da altre eventualità, gli Ordini religiosi scompariranno nel Brasile
in un tempo non troppo lontano. E questo probabilmente aspetta il Governo per
impossessarsi dei loro beni, senza bisogno di eseguire la legge della conversione in
372 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
circostanze critiche dello Stato che vede annualmente aumentare i deficit nei
bilanci, attingendo ora a diecimila conti, e infallantemente dovrà aumentare di
molto per i compromessi con le strade ferrate, sia in ragione
dell’emancipazione degli schiavi, sia per il quasi annichilamento della
produzione del caffè, genere si può dir unico d’esportazione in questo paese.
Pertanto, sotto tutti i rapporti, lo scioglimento critico della questione dei beni
Religiosi nel Brasile si può ritenere come imminente109.
Em resposta a este ofício, a Secretária de Estado pediu que Mons. Felice
se informasse sobre a veracidade das informações e procurasse persuadir o
Governo a entrar em negociações com a Santa Sé. O Encarregado, numa
tentativa de fazer o Governo mudar direção, nomeou dois visitadores
apostólicos, um para os carmelitas, em 5 de outubro de 1883, e outro para
os franciscanos fluminenses, em 5 de novembro, um mês antes da
publicação do Regulamento110.
Os breves de nomeação dos visitadores receberam o beneplácito imperial
e, em 12 de dezembro de 1883, eles receberam a seguinte ordem do
Governo, enviada pelo Ministro Francisco Antunes Maciel:
Ministério dos negócios do Império – 2º Diretoria – Rio de Janeiro, 12 de
Dezembro de 1883.
Precisando o governo conhecer o estado e as condições de administração do
patrimônio das ordens religiosas, sirva-se V.S. de informar com a possível
brevidade:
1º. Quais os bens imóveis pertencentes a essa província, com indicação de sua
situação e todos os esclarecimentos convenientes para julgar-se do seu valor;
2º. Quais os escravos que a província possui, com a declaração do sexo, idade,
cor e lugar de residência; 3º. Quais os contratos, que ainda subsistem de
aforamento e arrendamento de prédios, assim rústicos como urbanos,
vantagem de cada um deles, que escravos compreendem, se foram celebrados
com a necessária licença do governo e se as suas condições tem sido
devidamente cumpridas111.
Aos visitadores apostólicos foi dada a instrução, por parte do
Encarregado Apostólico, de não enviarem tais informações ou de
retardarem seu envio ao máximo possível. Esta atitude levou o Governo a
revogar os breves dos visitadores, com um decreto de 22 de dezembro de
1883. O fato foi comunicado a Santa Sé com um telegrama enviado por
—————————–
109
AES, Br., Memória do informante secreto de Adriano Felice, 1883, Fasc. 14, pos.
232, f. 6v.
110
AES, Br., Officio, 13 de janeiro de 1884, Fasc. 14, pos. 232, f. 38r.
111
AES, Br., Aviso governativo aos Visitadores, 12 de dezembro de 1883, Fasc. 14,
pos. 232, f. 10v.
CAP. IV: RELAÇÕES ENTRE A SANTA SÉ E O GOVERNO 375
—————————–
112
AES, Br., Telegrama, 1 de fevereiro de 1884, Fasc. 14, pos. 232, f. 30r.
113
AES, Br., Officio, 31 de dezembro de 1883, Fasc. 14, pos. 232, f. 9r.
114
AES, Br., Telegrama, 4 de fevereiro de 1884, Fasc. 14, pos. 232, f. 31r.
115
AES, Br., Officio, 31 de dezembro de 1883, Fasc. 14, pos. 232, f. 10r.
376 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
assoluta volontà [grifo do original] che siano convertiti in cartelle del debito
pubblico intrasferibile; aggiunse essere stata questa legge emanata da molti
anni, ed aver Egli tollerato con suo dispiacere che i passati ministri non
l’abbiano eseguita –. Risposi, che tuttavia sperava dalla sua rettitudine e
benevolenza, che avrebbe dato istruzioni al suo Governo di prendere i dovuti
accordi colla Santa Sede. A ciò mi rispose, che non prestassi fede alle
promesse dei ministri; Egli parlami franco e sincero – è mia assoluta volontà
che abbia effetto la legge, non volere però che i compratori avessero a
prendere i beni, come suole dirsi, in regalo, ma si sarebbero fatte le cose
assennatamente116.
A segunda vez foi numa audiência, pelo Encarregado requerida, em 4 de
fevereiro de 1884. Ali, enquanto ele transmitia o pedido de Sua Santidade
para que fosse suspenso o processo de conversão dos bens eclesiásticos, D.
Pedro o interrompeu e disse «No, non posso». O Encarregado, no seu ofício
narrou os fatos usando muitos verbos no infinitivo (como também na
citação precedente), em um texto pouco elaborado, como se tivesse sido
escrito às pressas, talvez, numa tentativa de não perder importantes
detalhes contidos na sua memória:
La conversione dei beni avere Egli ordinato, e volere che si effettui, credere
Egli a tutti i dogmi, non potere però assoggettare le cose civili del suo Impero
(e la conversione dei beni dei religiosi essere una cosa civile) alla disciplina
ecclesiastica. Aggiunse inoltre: io sono cattolico per educazione e per
convinzione, però liberale; e ripete questo concetto per tre volte. Si allargò poi
in altre considerazioni che qui trascrivo: «Sua Santità governa la Chiesa in
un’epoca in cui deve tollerare rivoluzioni provvidenziali; nel Brasile l’è finita
pei monaci; si deve pensare all’educazione dei Seminari, arricchendoli di
buoni gabinetti e di eccellenti professori all’altura dei tempi: il paese ha
bisogno di un clero nazionale, amante della patria, ed affezionato al suo
regime, e non di un clero forestiero e scandaloso, nominando specialmente i
preti portoghesi e italiani che pensano solo a far denari, danno ogni sorta di
scandali; il ministro è delle sue stesse idee: il ministro è responsabile e doveva
io intendermi con esse su tutto». [...] oltre di che lo stesso Imperatore,
m’ingiunse di trasmettere fedelmente a Sua Santità la nostra conversazione,
sicuro che Egli personalmente avesse potuto parlare con Sua Santità l’avrebbe
convinto [grifos do original]117.
O Regulamento, sobre a conversão dos bens das ordens religiosas, foi
publicado com três anos de atraso em relação ao prazo máximo de 10 anos
estipulado pela lei de 1870, que venceu em 1880, já que o seu decreto, n.º
—————————–
116
AES, Br., Officio, 14 de fevereiro de 1884, Fasc. 14, pos. 232, f. 14v.
117
AES, Br., Officio, 14 de fevereiro de 1884, Fasc. 14, pos. 232, f. 14v-15r.
CAP. IV: RELAÇÕES ENTRE A SANTA SÉ E O GOVERNO 377
—————————–
118
Coleção das Leis do Império do Brasil, 1883, XLVI, parte II, vol. II, 504.
119
Coleção das Leis do Império do Brasil, 1883, XLVI, parte II, vol. II, 505.
120
Coleção das Leis do Império do Brasil, 1883, XLVI, parte II, vol. II, 505.
378 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
123
Coleção das Leis do Império do Brasil, 1883, XLVI, parte II, vol. II, 505.508-
511.
124
Coleção das Leis do Império do Brasil, 1883, XLVI, parte II, vol. II, 511.
125
AES, Br., Resposta do Ministro dos Negócios do Império ao Protesto do
Incaricato Adriano Felice, 18 de fevereiro de 1884; Fasc.14, pos. 232, f. 46r-49v.
380 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
126
AES, Br., Officio, 14 de fevereiro de 1884, Fasc. 14, pos. 232, f. 16r.
127
AES, Br., Officio, 30 de janeiro de 1884, Fasc. 14, pos. 232, f. 32v.
128
AES, Br., Segunda Nota do Internúncio, 24 de janeiro de 1884, Fasc. 14, pos.
232, f. 34r.
129
AES, Br., Resposta do Ministério dos Negócios Exteriores as notas do
Internúncio, 29 de janeiro de 1884, Fasc. 14, pos. 232, f. 39r.
130
O Governo foi avisado por seu Encarregado por um telegrama enviado em 13 de
janeiro de 1884 [AES, Br., Nota do Ministério dos Negócios Estrangeiros, 29 de janeiro
de 1884, Fasc. 14, pos. 232, f. 40r]
CAP. IV: RELAÇÕES ENTRE A SANTA SÉ E O GOVERNO 381
—————————–
134
AES, Br., Officio, 30 de janeiro de 1884, Fasc. 14, pos. 232, f. 32v.
135
AES, Br., Oficio, 13 de fevereiro de 1884, Fasc. 14, pos. 232, f. 38r-38v.
136
Os recortes dos dois artigos foram mandados pelo Internúncio à Secretaria de
Estado da Santa Sé, sendo que aquela do jornal O Thabor não continha a data da
CAP. IV: RELAÇÕES ENTRE A SANTA SÉ E O GOVERNO 383
publicação. AES, Br., Oficio do Internúncio, 28 de fevereiro de 1884, Fasc. 14, pos.
232, f. 54r-57v.
137
AES, Br., Officio, 13 de março de 1884, Fasc. 14, pos. 232, f. 59r.
138
AES, Br., Officio, 29 de março de 1884, Fasc. 14, pos. 232, f. 61r.
139
D. R. VIEIRA, O processo de reforma e reorganização da Igreja no Brasil, 157.
Cf. L. LASAGNA, Epistolário, II, 18-19.
384 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
rilasciare alla S. Sede una parte delle rendite provenienti da dette Cartelle per
uso delle Missioni, o per qualche altro fine a cui la S. Sede volesse applicarle;
restando però stabilito che se i religiosi si fossero ricusati alla cessione, e
avessero avanzato reclamo al governo, questo avrebbe sostenuto i religiosi.
Aggiunse inoltre che, con l’estinzione dei Conventi, le cartelle sarebbero di
pieno diritto ricadute al Governo, senza che la S. Sede potesse mai avanzare
pretese sopra le rendite delle medesime. A tanto cinismo risposi, che avendo il
Governo ordinato la conversione senza l’intervento della S. Sede, io non
potevo, ne volevo influire sull’animo dei religiosi, ne ammettere consigli lesivi
ai diritti di proprietà!143
O Gabinete de Lafayette Rodrigues Pereira (1834-1917), provavelmente
influenciado tanto pela forte oposição que sofreu em relação à sua política
eclesiástica, quanto pela derrota na tentativa da conversão dos bens das
ordens religiosas em títulos da dívida pública, caiu em princípios de junho
de 1884. A principal causa da sua queda, contudo, deveu-se a fatores
relacionados à chamada Questão Militar. Mais ou menos um mês antes da
queda do Gabinete Lafayette, Mons. Cocchia, num ofício de 9 de maio de
1884, informou que por ocasião da Fala do Trono na Câmara, não foi
mencionada a conversão dos bens dos religiosos, porém, se falou do
casamento civil. Advertia a Santa Sé, que o Gabinete estava sendo
fortemente atacado por seus opositores, mas que ainda contava com uma
pequena maioria. Informava, ainda, que os religiosos haviam conseguido
uma sentença favorável à manutenção da posse e terminava relatando que
existiam vozes que diziam que: após a saída de Lafayette seria chamado
João Lins Vieira Cansanção de Sinimbu (1810-1907) para compor um novo
Gabinete. No entanto, essa última previsão do Internúncio não se verificou,
pois foi chamado o Liberal Manuel Pinto de Souza Dantas (1831-1894)144.
Na sessão da Câmara dos Deputados de 10 de junho de 1884, Andrade
Figueira apresentou uma interpelação ao novo Ministro do Império,
senador Felipe Franco de Sá (1841-1907), nos seguintes termos: «Mantêm
o gabinete atual todos os atos do seu antecessor sobre a desamortização dos
bens das ordens religiosas, e pretende prosseguir na integral execução do
regulamento expedido para execução da lei de 28 de junho de 1870?»145.
Na sessão do dia 19 do mesmo mês, ele justificou sua interpelação e o
Ministro do Império a respondeu, não apresentando, nenhuma das duas,
argumentos novos. A fala do interpelante foi em favor das ordens e a do
—————————–
143
AES, Br., Officio, 25 de abril de 1884, Fasc. 14, pos. 232, 63r.
144
AES, Br., Officio, 9 de maio de 1884, Fasc. 14, pos. 232, f. 54r-65r.
145
Anais do Parlamento Brasileiro, Histórico 1884, II, 7.
386 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
153
Anais do Paramento Brasileiro, várias sessões de 1853, I, 2ª. Sessão, 49.276-
279.287-292.299-304.318-322.
154
Anais do Parlamento Brasileiro, Sessão de 28 de junho de 1853, I, 2ª. Sessão,
322.
155
Coleção das Leis do Império do Brasil, 1853, XIV, parte I, 37-38.
156
Anais do Paramento Brasileiro, Sessão em 27 de maio de 1853, I, 1ª. Sessão, 297.
157
Anais do Paramento Brasileiro, Sessão em 16 de junho de 1853, I, 2ª. Sessão,
214.
CAP. IV: RELAÇÕES ENTRE A SANTA SÉ E O GOVERNO 389
O nobre deputado pela província de Minas Gerais inquire qual o meu voto a
respeito do projeto que se discute: a criação do cabido da diocese do Rio
Grande do Sul é uma condição imposta pela bula que criou esse bispado, a
qual o governo imperial concedeu o seu beneplácito, e em conseqüência eu
votaria desde já pelo projeto se me não parecesse conveniente que ele fosse
remetido à Comissão de Negócios Eclesiásticos, afim de que a organização do
cabido, que no art. 2º é assemelhada a do cabido de S. Paulo, fosse
estabelecida de conforme com a mesma bula, a qual determina o número de
dignidades que devem compor o mesmo cabido. A apresentação dos cônegos e
dignidades é direito do padroado; pertence também ao poder temporal a
fixação das côngruas, mas a instituição canônica do cabido, isto é, seu número
e dignidades, competem ao poder espiritual; convém, pois, proceder de
conforme com a bula, para esse fim deve o negócio ser remetido à
comissão158.
Em 25 de junho de 1854, foi enviada à Comissão Eclesiástica a bula de
criação do bispado do Rio Grande do Sul159. Em 30 de agosto de 1854, o
projeto foi aprovado em segunda discussão com a seguinte emenda das
Comissões Reunidas de Fazenda e Negócios Eclesiásticos:
O seu pessoal constará de um arcediago e dez cônegos, inclusive o cônego
teólogo e o penitenciário; dez capelães, inclusive o mestre de cerimônias e o
sub-chantre; um sacristão-mór, quatro moços de coro; um porteiro da massa; e
um organista. Sendo os ordenados e gratificações de todas estas dignidades
iguais aos ordenados e gratificações do cabido da Sé de São Paulo160.
Em 5 de setembro de 1854, o projeto foi acolhido favoravelmente, sem
debate, em terceira discussão161. Porém, não foi publicado, indicando que
não havia sido aprovado, ou mandado em discussão no Senado. Somente
em 26 de setembro de 1857, através da lei n. 939, art. 3º, que se deu
finalmente a dotação do cabido no Rio Grande do Sul, depois de muita
pressão por parte do bispo diocesano e da Santa Sé162.
Além dos projetos de criação dos bispados de Diamantina e Ceará, e da
instituição do cabido no Rio Grande do Sul, durante os anos de 1853-55,
—————————–
158
Anais do Parlamento Brasileiro, Sessão em 19 de maio de 1854 , I, 1ª. Sessão,
81-82.
159
Anais do Paramento Brasileiro, Sessão em 25 de junho de 1854, II, 3ª. Sessão,
248.
160
Anais do Paramento Brasileiro, Sessão em 30 de agosto de 1854, II, 4ª. Sessão,
310-311.
161
Anais do Paramento Brasileiro, Sessão em 5 de setembro de 1854, II, 4ª. Sessão,
376.
162
Coleção das Leis do Império do Brasil, 1854, XVIII, parte I, 40.
390 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
2°. Dagli archivi delle diocesi, dalle quali deve dismembrarsi quella di
Diamantina, si estraggano gli strumenti e titoli di cause pie, che dovranno
appartenere alla medesima e si trasportino nell’archivio della nuova Curia;
3°. Si dovrà erigere quanto prima il Capitolo composto della dignità di
arcidiacono e di altri 10 canonici almeno, e di alcuni mansionieri e ministri
inferiori, secondo le opportunità. Dei detti canonici uno dovrà essere il
Teologo l’altro il penitenziere;
4°. Mantenimento e decoro delle nuove sedi;
5°. Si dovrà osservare tutto ciò che è necessario per le dette nuove erezioni in
conformità a quanto fu praticato per gli altri Vescovati esistenti nel Brasile e
specialmente per quello di S. Pietro eretto nel 1848.
6°. Dovrà quanto prima esser pronto l’edificio del Seminario, ed avendo
promesso il Governo di somministrare le sue dotazioni e le altre occorrenti per
l’erezione del nuovo Vescovato a norma di quanto si stabili per la sede
Vescovile di S. Pietro. Si dice ancora che debba esservi la dotazione per la
fabbrica della Chiesa e del culto divino.
L’esecuzione delle bolle venne affidata a Mons. Marini Incaricato Interino
della Santa Sede in quell’Impero171.
A bula Gravissimum sollicitudinis foi publicada e teve o beneplácito
parcial do Governo, que aprovou uma porção do seu conteúdo por meio do
decreto de 18 de agosto de 1854. Sem cumprir as promessas feitas
anteriormente, o Governo placitou a bula:
na parte tão somente em que manda criar na província de Minas Gerais, o
Bispado de Diamantina, em conformidade com a Carta de Lei de dez de
agosto do ano próximo passado, por ficar dependendo da aprovação da
Assembléia Geral o que diz respeito ao estabelecimento de um Cabido com
dignidades, e Cônegos próprios de tais Corporações, e com a declaração
expressa, de que o direito do Padroado, de que trata a referida Bula, é por Mim
exercido sem dependência de Concessão Pontifícia172.
A bula era aprovada somente na parte que estava de acordo com a Carta
de lei de 10 de agosto de 1853, que desconhecia o dever de fundar ou dotar
Seminários e cabidos. O Governo, já tinha agido assim por ocasião da bula
Ad oves dominicas que erigira a diocese do Rio Grande do Sul. Segundo
—————————–
171
Estes pontos foram retirados dos seguintes documentos: Bula Gravissimum
Sollicitudinis, 6 de junho de 1853, Fasc. 176, pos. 125, f. 28r-29r; AES, Br.,
Memorandum – Brasile, vescovadi di Ceará e Diamantina, 1860, Fasc. 182, pos. 138, f.
45r-45v e Condizione Expresse nel Breve, 1855, Fasc. 176, pos. 125, f. 32r-32v;
172
AES, BR., Beneplácito Imperial a Bula Gravissimum sollicitudinis, 18 de agosto
de 1854, Fasc. 176, pos. 125, f. 29v. Eördögh István, na sua nota 16 da p. 14 cita
erroneamente a folha 19v [E. ISTVÁN, A crise religiosa no Brasil no período 1852 –
1861, 14 nota 16].
392 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
István, «vê-se assim, ainda uma vez, o soberano Pontífice iludido na sua
confiança pelo Governo brasileiro e, conseqüentemente, tem inicio uma
crise religiosa entre o Império e a Igreja»173.
Em 28 de junho e 6 de agosto de 1855, Mons. Marini recebeu algumas
instruções do Cardeal Antonelli, Secretario de Estado da Santa Sé. Na
primeira, o Cardeal estava intencionado a evitar uma ruptura com o
Governo brasileiro e convidava Mons. Marini a agir com diplomacia e dar
execução às bulas, depois de haver apresentando ao Governo Imperial uma
nota, a qual deveria conter os seguintes pontos: protesto contra o
Exequator; afirmação que o decreto estava em contradição com a bula
Gravissimum Sollicitudinis; e que o condicionamento da ereção do
Seminário e do cabido pela Assembléia Geral trazia como conseqüência,
por parte da Santa Sé, o condicionamento da execução das bulas174.
As instruções de 6 de agosto de 1855, eram mais exigentes. Para se
executar a bula seria necessário:
allorquando questa le verrà presentata, potrà pure prestarvisi, esigendo peraltro
in antecedenza che sia del Governo chiaramente dimostrato il pieno
adempimento di quanto nella stessa Bolla si prescrive, in cui facendo
menzione del privilegio di nomina imperiale al nuovo Vescovo, non mancherà
di dichiarare espressamente competere esso a Sua Maestà l’Imperatore in forza
della concessione Pontificia fattagli colla ricordata Bolla Gravissimum. Per ciò
che spetta all’exequatur apposto, ed alle condizioni e dichiarazioni in esso
espresse, non se ne avrà da lei per ora alcun riguardo, come se nulla di tutto
ciò avesse avuto luogo, riservandomi qualora occorra a comunicarle in
appresso ulteriori istruzioni [...] La stessa linea di condotta fin qui indicata
potrà ancora da Lei tenersi rispetto all’altra nuova sede vescovile da erigersi in
Ceará, esistendo per essa medesima ragione e circostanza, che per quella di
Diamantina...175
O endurecimento da posição da Santa Sé provinha de várias razões,
algumas delas já vistas, sendo particularmente sentido o envio de alguns
documentos por parte de Mons. Marini à Secretaria de Estado do Vaticano,
em 13 de junho de 1855, em que se demonstrava que a bula Praeclara
Portugalliae não recebera um parecer positivo na Câmara dos Deputados e
que esta posição tinha sido confirmada pelo Imperador em outros
documentos de seu Governo. Tais informações deixaram claro à Santa Sé o
—————————–
173
E. ISTVÁN, A crise religiosa no Brasil no período 1852-1861, 14.
174
AES, Br., Despachos de: 28 de junho e 6 de agosto de 1855, Fasc. 176, pos. 125, f.
30r-31r, 33r-33v.
175
AES, Br., Dispaccio a Mons. Marini, 6 de agosto de 1855, Fasc. 176, pos. 125 f.
33r-33v.
CAP. IV: RELAÇÕES ENTRE A SANTA SÉ E O GOVERNO 393
—————————–
176
Ver Capítulo IV, sub-título 1.2.1.
177
AES, Br., Officio, 13 de março de 1856, Fasc. 176, pos. 125, f. 38r-39r e Cartas
trocadas entre Mons. Marini e o Ministro da Justiça, Fasc. 176, pos. 125, f. 51r-58r.
178
AES, Br., Memorandum apresentado pelo Governo a Santa Sé, 19 de março de
1857, Fasc. 176 pos. 125, f. 65v – 66r.
394 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
179
AES, Br., Requerimentos e comunicações internas, Fasc. 176, pos. 125, f. 40r-
44r; Nestas instruções Mons. Massoni era chamado a seguir a mesma «linea di condotta
tenuta in ciò da Mons. Marini». [AES, Br., Istruzioni per Mons. Vincenzo Massoni
Arcivescovo di Edessa p.i. Internunzio Apostolico nell’Impero del Brasile, 15 de
outubro de 1856, Fasc.174, pos. 118, f. 2r-19r].
180
AES, Br., Carta do Ministro da Justiça ao Mons. Marini, 2 de outubro de 1856,
Fasc. 176, pos. 125, f. 54v-55v.
181
AES, Br., Carta de Mons. Marini ao Ministro da Justiça, 16 de outubro de 1856,
Fasc. 176, pos. 125, f. 56r-57v.
CAP. IV: RELAÇÕES ENTRE A SANTA SÉ E O GOVERNO 395
a ereção daquelas dioceses, ainda não o fez»182. Terminava sua carta com o
mesmo tom direto, afirmando que:
Só é responsável quem é omisso no cumprimento de seus deveres,
podendo-os cumprir. [...] pois, que não tendo eu podido dar a devida execução
as Letras Apostólicas sobre a criação do Bispado de Diamantina, por não ter
ainda o Governo Imperial satisfeito às condições nelas prescritas, fiquei por
conseguinte impedido de concluir o Processo. Mas peço a V. Ex. licença para
observar ainda que no caso de eu ter sido negligente ou desarrazoado em
demorar a conclusão do dito Processo, só a Santa Sé é quem me poderia
chamar a responsabilidade183.
Era clara a crise entre os dois poderes. O Estado brasileiro desejava
manter intactas suas práticas regalistas, enquanto a Santa Sé queria afirmar
sua autoridade junto ao Governo e à Igreja no Brasil. No entanto, era difícil
para a Santa Sé manter tal impasse, pois havia algo mais urgente a ser
resolvido: a questão pastoral. Enquanto a situação estivesse entravada, a
cura das almas e a propagação da fé nas dioceses envolvidas ficavam
praticamente paralisadas. Após a chegada do novo Internúncio Mons.
Vincenzo Massoni, o Governo lhe apresentou, em 19 de março de 1857,
um Memorandum resumindo toda a polêmica que tivera com o Mons.
Marini184.
Mons. Vincenzo Massoni atuou no Brasil de 16 de setembro de 1856 até
3 de junho de 1857, quando morreu de febre amarela. Apesar do pouco
tempo, percebeu a triste situação em que se encontrava a Igreja no Brasil,
optando por privilegiar as razões pastorais e a posicionar-se pela execução
das bulas. Em um ofício enviado à Santa Sé, no dia 1 de abril de 1857, ele
dizia que seguindo as Instruções e a linha de ação do seu antecessor, não
podia deixar de resistir às primeiras investidas do Ministro da Justiça.
Informou que o Governo apresentava tal impasse como uma questão de
desconfiança da Santa Sé para com ele, colocando a autoridade governativa
na posição de ofendida. Mons. Massoni decidiu, então, acreditar no
Governo, que no seu entendimento, desta vez fazia «per scritto promesse
tanto esplicite e solenni, che giammai altra volta». Ressaltava também o
—————————–
182
AES, Br., Carta de Mons. Marini ao Ministro da Justiça, 16 de outubro de 1856,
Fasc. 176, pos. 125, f. 57v.
183
AES, Br., Carta de Mons. Marini ao Ministro da Justiça, 16 de outubro de 1856,
Fasc. 176, pos. 125, f. 57v-58r.
184
O Memorandum é uma narração cronológica da polêmica decorrida entre o
Governo e Mons. Marini e é uma repetição escrita das promessas feitas verbalmente
durante a reunião acima citada. [AES, Br., Memorandum apresentado pelo Governo a
Santa Sé, 19 de março de 1857, Fasc. 176, pos. 125, f. 65r-67v].
396 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
fato que nenhum executor, antes de Mons. Marini, tinha feito presente ao
Governo as exigências da Santa Sé para a execução das bulas. Terminava
seu ofício falando sobre a necessidade de novos bispados para um Império
tão extenso e das dificuldades causadas pelas grandes dimensões das
dioceses e do seu baixo número, sendo até aquele momento somente dez185.
Em 13 de abril de 1857, em outro ofício, Mons. Massoni, ao descrever a
crítica situação das dioceses no Império, informou que o sacerdote Marcos
Cardoso de Paiva recusara a nomeação a bispo de Diamantina, que o bispo
do Pará, José Alfonso de Morais Torres renunciara oficialmente, tendo o
Governo aceitado a renúncia com o decreto imperial de 19 de março de
1857, e que agora pediria o indispensável Beneplácito Pontifício para
efetivar a renúncia. A diocese de Goiás estava vacante desde 12 de agosto
de 1854, e na de Pernambuco, o ancião bispo João Marques Perdigão,
encontrava-se praticamente sem autoridade sobre seu clero e pedia em
continuação a nomeação de um coadjutor. Mons. Massoni tentava, desta
maneira, demonstrar que a situação brasileira era trágica, com três dioceses
paralisadas entre as dez existentes, e as duas últimas instituídas esperando a
execução de suas bulas186.
Após a reabertura das Câmaras, em 3 de maio de 1857, foi formado um
novo Ministério, desta vez do partido conservador, recebendo Vasconcellos
o cargo de Ministro da Justiça e dos Negócios Eclesiásticos e o Sr.
Visconde de Maranguape o dos Negócios Exteriores. A nova situação,
segundo o Internúncio, deveria ser aproveitada «para resolver alguns
problemas mais graves». Mons. Massoni entrou em negociações com o
Presidente do novo Gabinete, o Marquês de Olinda, no entanto, o
Internúncio faleceu antes de concluir qualquer coisa. Em 30 de outubro de
1857, foi feito um novo pedido de execução das bulas ao Cardeal
Antonelli, pelo Enviado brasileiro em Roma, no qual era informado que a
Lei nº 938, de 26 de setembro de 1857, que regulava o Orçamento para o
ano de 1858-1859, havia decretado os fundos para os Seminários em
162.200$000. No entanto, para a Santa Sé, do texto da lei não resultava que
fossem fixadas as somas necessárias para os Seminários de Ceará e de
Diamantina, recebendo o Governo uma resposta negativa, em 21 de
dezembro de 1857: «perché venisse in precedenza destinata la Chiesa
Cattedrale, fissata la residenza del Vescovo, la fabbrica pel Seminario, e
quant’altro potesse occorrere per la normale erezione delle diocesi»187.
—————————–
185
AES, Br., Officio, 1 de abril de 1857, Fasc. 176, pos. 127, f. 63r-69v.
186
AES, Br., Officio, 13 d abril de 1857, Fasc. 176, pos. 127, f. 99r-100r.
187
AES, Br., Brasile, vescovadi di Ceará e Diamantina, Fasc. 182, pos. 138, f. 46r.
CAP. IV: RELAÇÕES ENTRE A SANTA SÉ E O GOVERNO 397
—————————–
188
O opúsculo ao qual se refere o Internúncio é: L. A. DOS SANTOS, Direito do
padroado no Brasil ou reflexões sobre os pareceres do procurador da Coroa e da seção
do Conselho de Estado, de 18 de janeiro e 10 de março de 1856, por um padre da
província do Rio de Janeiro [era carioca]. Publicado em 1858. [Um cópia se encontra
em ASV, SS, 1858, Rub. 251, fascículo único, f. 59]
189
ASV, SS, 1859, Officio, 8 de março de 1859, Rub. 251, fasc. 3, f. 44r-44v.
190
ASV, SS, 1859, «Allegato A – Comunicação Oficial da nomeação de Luís
Antônio dos Santos bispo de Diamantina (18-06-1859)», em Officio, 20 de junho de
1859, Rub. 251, fasc. 3, f. 63r.
398 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
191
Na verdade a crise durou seis anos de 1854 a 1860 [ndr.].
192
AES, Br., Brevi cenni sulla missioni di Mons. Falcinelli Arcivescovo di Attene al
Brasile, 20 de agosto de 1963, Fasc. 182, pos. 142, 73r-73v.
CAP. IV: RELAÇÕES ENTRE A SANTA SÉ E O GOVERNO 399
Provincial do Rio Grande do Sul fora depositado uma soma suficiente para
poder terminar a inacabada construção do Seminário diocesano193.
Na verdade assim definia os §§ 9 e 10 do art. 3º da lei do orçamento:
9º. Bispos, Catedrais, &c., e Párocos incluídos 3:600$000 como côngrua ao
Bispo Resignatário194 do Pará, 10:000$ para reedificação do Palácio episcopal
do Maranhão; e 30:00$ pata a edificação, ou aquisição e preparo de um
Palácio Episcopal na Cidade de Diamantina; 4:000$ para reparos da Sé da
Bahia ............................................................................................ 848:675$500.
10º. Seminários Episcopais, sendo 40:000$ para a edificação do Seminário
Episcopal de Diamantina; 6:000$ para o auxilio do Seminário Episcopal do
Amazonas; 7:500$ para pagamento do aumento de vencimento que tiveram os
Lentes de Liturgia e Canto gregoriano; e 10:000$ para pagamento dos
vencimento dos Lentes do Seminário Episcopal de S. Paulo
....................................................................................................162:200$000195.
Mons. Falcinelli se reuniu com o Ministro da Justiça, Paranaguá, no dia
29 de março de 1860, mandando em seguida um ofício ao Cardeal
Antonelli, no intuito de convencê-lo a permitir a execução das bulas.
Informava, o Internúncio, sobre as boas intenções do Ministro da Justiça,
que prometia a apresentação de três ótimos nomes para as dioceses
vacantes. E para dar mais peso a esta promessa, informava, Mons.
Falcinelli, que: «L’indifferenza dell’Imperatore, sia effetto di legge
Costituzionale, sia di propria incuria per tutto ciò che riguarda le nomine
dei Vescovi; poiché Egli sottoscrive qualunque proposta gli venga fatta,
essendo per legge il Ministro responsabile». Pedia também a concessão das
faculdades necessárias para dar início aos processos de habilitação dos
bispos que seriam apresentados para as três sedes vacantes196.
Pesando fortemente a escolha de candidatos ultramontanos para as novas
dioceses, a promessa de novas nomeações de padres dessa tendência para
as sedes vacantes e a lamentável situação de um considerável número de
sedes ainda sem pastores, o Cardeal Secretário de Estado Antonelli, em
nome do Santo Padre, acabou dando a ordem a Mons. Falcinelli, no dia 24
de maio de 1860, que: tendo ele a garantia moral sobre a realização das
promessas do Ministro da Justiça, desse execução às bulas e nomeações.
Terminou deste modo uma crise aberta havia seis anos e que, apesar de ter
aumentado a autoridade da Santa Sé junto ao Governo e ter garantido a
—————————–
193
AES, Br., Brasile, vescovadi di Ceará e Diamantina, Fasc. 182, pos. 138, f. 47v-
48v.
194
Bispo resignatário: o que renunciou ao governo de uma diocese [ndr.]
195
Coleção das Leis do Império do Brasil, 1859, XX, parte I, 20-21.
196
ASV, SS, 1860, Officio, 1 de abril de 1860, Rub. 251, Fasc. 2, f. 106r-108v.
400 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
207
AES, Br., Segreteria dei Affari Ecclesiastici Straordinari, Brasile-Concessione di
Facoltà di Dispense Matrimoniale ai Vescovi, 1846, Fasc. 160, pos. 68, 47r-60v; ASV,
NAB, Dispaccio, 18 de setembro de 1846, Cx. 22, fasc. 97, f. 24r-28r.
208
AES, Br., Segreteria dei Affari Ecclesiastici Straordinari, Brasile-Concessione di
Facoltà di Dispense Matrimoniale ai Vescovi, 1846, Fasc. 160, pos. 68, 47r-60v; ASV,
NAB, Dispaccio, 18 de setembro de 1846, Cx. 22, fasc. 97, f. 24r-28r.
CAP. IV: RELAÇÕES ENTRE A SANTA SÉ E O GOVERNO 405
—————————–
209
ASV, NAB, Nota della Secretaria di Stato al Sig. Comm. Moutinho, em
Dispaccio, 18 de setembro de 1846, Cx. 22, fasc. 97, f. 26v-28r.
210
AES, Br., Elenco delle facoltà concesse ai Vescovi del Brasile col Breve dei 17
Marzo 1848, Fasc. 168, pos. 91, f. 63r-63v.
211
AES, Br., Carta do Sr. Ludovico Stranazzi, 22 de janeiro de 1850, Fasc. 163, pos.
76, f. 29r.
406 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
212
Relatório da Repartição dos Negócios da Justiça, 56-57. Uma cópia de tal
Relatório encontra-se também em: AES, Br., Fasc. 163, pos. 76, em um envelope na f.
30r.
213
A questão do casamento civil vai ser tratada ainda neste capítulo [ndr.].
214
AES, Br., Relatório da Repartição dos Negócios da Justiça, 1850, Fasc. 172, pos.
115, f. 8r-8v; J. NABUCO, Um Estadista no Império, I, 294.
215
AES, Br., Parere Confidenziale di Mons. Gaetano Bedini, 16 de maio de 1856,
Fasc. 172, pos. 115, f. 100r.
CAP. IV: RELAÇÕES ENTRE A SANTA SÉ E O GOVERNO 407
—————————–
216
Observe-se que neste documento o erro de interpretação contido no Relatório de
1850, já tinha sido corrigido [ndr.].
217
AES, Br., Relatório da Repartição dos Negócios da Justiça, 1850, Fasc. 172, pos.
115, f. 8r.
218
AES, Br., Relatório da Repartição dos Negócios da Justiça, 1850, Fasc. 172, pos.
115, f. 8v.
219
AES, Br., Artigo do Jornal A Semana, 24 de novembro de 1857, Fasc. 178, pos.
131, f. 7v.
408 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
220
AES, Br., Atestado de conversão, nulidade de casamento e casamento Católico
de Margarida Kerth dada pelo Bispo do Rio de Janeiro, 5 de fevereiro de 1857, Fasc.
178, pos. 131, f. 16r.
221
AES, Br., Artigo do Jornal A Semana, 24 de novembro de 1857, Fasc. 178, pos.
131, f. 7v-9r.
222
AES, Br., Officio, 28 de fevereiro de 1857, Fasc. 178, pos. 131, f. 15r-15v.
CAP. IV: RELAÇÕES ENTRE A SANTA SÉ E O GOVERNO 409
—————————–
227
AES, Br., Sacra Congregazione del S. Uffizio, voto con sommario del Rmo P. M.
Antonio Maria Panebianco dell’Ordine dei Minori Conventuali consultore del S.
Uffizio, fevereiro de 1858, Fasc. 179, pos. 133, f. 54r.
CAP. IV: RELAÇÕES ENTRE A SANTA SÉ E O GOVERNO 411
bisogni usare anche nel caso della conversione dell’uno dei coniugi al
cattolicismo228.
Sobre o segundo quesito, Panebianco era do parecer que as condições do
Brasil não possuíam analogias com as das regiões germânicas e acatólicas
(em que haviam sido travadas violentas guerras de religião) ou mesmo à
França, onde os protestantes gozavam dos mesmos direitos dos católicos,
as uniões conjugais mistas eram freqüentes e há tempos fora legitimado o
matrimônio civil. Partindo desse pressuposto, ele apresentava a seguinte
argumentação:
Intorno dunque al secondo Quesito di Monsig. Massoni, di modificare cioè per
l’Impero del Brasile «le clausole e le condizioni solite apporsi nei Rescritti dei
matrimoni misti» opinerei rispondere: Generation non expedire, et ad mentem.
La mente sarebbe di far osservare al novello Monsig. Internunzio la gran
differenza che passa tra lo stato del Brasile e la condizione religiosa delle
provincie germaniche, per le quali, a evitare mali maggiori, furono dati dalla
S. Sede straordinari provvedimenti chiesti concordemente dall’Episcopato di
quelle provincie. Intanto si potrebbe supplicare il S. Padre di autorizzare
Monsig. Internunzio (se non si troverà provveduto di tale facoltà) a poter
dispensare, per un discreto numero, nei matrimoni misti, previa l’esistenza di
giuste cause e l’osservanza delle condizioni prescritte nella formula generale.
Se poi occorresse una qualche cosa di straordinario, potrà Monsig.
Internunzio, potranno i Vescovi, ricorrere alla S. Sede esponendo nei casi
particolari le ragioni del desiderato provimento229.
Em 13 de março de 1858, iniciaram-se as negociações entre Francisco
Ignácio de Carvalho Moreira, Barão de Penedo (1815-1906) e Mons.
Ferrari, Sub-Secretário da Sacra Congregação dos Negócios Eclesiásticos
Extraordinários, com intuito de celebrar uma Concordata entre o Brasil e a
S. Sé. Na segunda reunião entre os dois, em 16 de março, o tema foi o
matrimônio. O Barão de Penedo e o Ministro brasileiro em Roma, Sr.
Figueiredo, queriam que as faculdades para os matrimônios mistos dados
em 1848, por 25 anos, fossem perpétuas e que aquelas referidas à dispensa
do 1º grau misto com 2º de consangüinidade e do 1º de afinidade, não
ficassem limitadas a um número restrito de casos. Desejavam que tudo
fosse feito por meio de uma Concordata. Expressaram, também, que o
—————————–
228
AES, Br., Sacra Congregazione del S. Uffizio, voto con sommario del Rmo P. M.
Antonio Maria Panebianco dell’Ordine dei Minori Conventuali consultore del S.
Uffizio, fevereiro de 1858, Fasc. 179, pos. 133, f. 57v.
229
AES, Br., Sacra Congregazione del S. Uffizio, voto con sommario del Rmo P. M.
Antonio Maria Panebianco dell’Ordine dei Minori Conventuali consultore del S.
Uffizio, fevereiro de 1858, Fasc. 179, pos. 133, f. 74r-64v.
412 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
230
AES, Br., Verbali delle Conferenze, 13 de março de 1858, Fasc. 179, pos. 133, f.
6r.
231
AES, Br., Verbali delle Conferenze, 13 de março de 1858, Fasc. 179, pos. 133,
pos. 133, f. 7r-7v.
232
AES, Br., Verbali delle Conferenze, 13 de março de 1858, Fasc. 179, pos. 133,
pos. 133, f. 7r-7v.
CAP. IV: RELAÇÕES ENTRE A SANTA SÉ E O GOVERNO 413
—————————–
242
AES, Br., Nota sul parere del Rev.mo Inq. Genli, 20 de julho de 1888, Fasc. 22,
pos. 288, f. 14r.
243
AES, Br., Comunicazione al Ministro del Brasile, 21 de junho de 188, Fasc. 22,
pos. 288, f. 15r; AES, Br., Dispaccio, 31 de julho de 1888, Fasc. 22, pos. 288, f. 16r-
16v.
244
AES, Br., Officio, 5 de maio de 1889, Fasc. 22, pos. 288, f. 17r - 18r.
416 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
252
AES, Br., Officio, 5 de maio de 1889, Fasc. 22, pos. 288, f. 22r-22v.
253
AES, Br., Officio, 10 de junho de 1889, Fasc. 22, pos. 288, f. 23r-24r.
254
AES, Br., Officio, 10 de junho de 1889, Fasc. 22, pos. 288, f. 24r.
CAP. IV: RELAÇÕES ENTRE A SANTA SÉ E O GOVERNO 419
—————————–
263
AES, Br., Relatório do Ministro da Justiça, 1855, Fasc. 172, pos. 115, f. 8r-8v; J.
NABUCO, Um Estadista no Império, I, 297-299.
264
AES, Br., Officio, 13 de junho de 1855, Fasc. 172, pos. 115, f. 3v-4r.
CAP. IV: RELAÇÕES ENTRE A SANTA SÉ E O GOVERNO 423
1º. Para organizar e regular o registro dos referidos casamentos, assim como
dos nascimentos que deles provierem.
2º. Para permitir a instituição de consistórios, sínodos, presbitérios e pastores
evangélicos, assim como as regras de fiscalização e inspeção a que ficam
sujeitos265.
O projeto visava à instituição do casamento civil: para o casamento de
católicos com protestantes e de protestantes entre si, além de aumentar a
liberdade dos acatólicos, dando-lhes o direito de instituir consistórios e
sínodos, no entanto, também os sujeitariam a «inspeção» do Governo. No
relatório de 1856, o Ministro informou estar trabalhando em um projeto de
casamento civil, porém, usando de toda cautela e prudência:
Conforme as idéias emitidas no ano passado, organizei um projeto regulando
os casamentos mistos e os das outras Religiões: para proceder, porém, com o
tempo e prudência que esta matéria por sua gravidade exige, consultei sobre
ela a Seção de Justiça do Conselho de Estado, sendo Relator o Conselheiro
Eusébio de Queiroz Coutinho Mattoso Câmara, cujo parecer profundo e
luminoso está pendente do Conselho de Estado. É possível ainda que no
decurso da Sessão, depois de ouvido esse corpo ilustrado e digno de todos os
respeitos e reconhecimento público, alguma medida vos seja presente sobre
este objeto da mais alta importância, atento a colonização e ao principio
constitucional da tolerância Religiosa266.
A Seção de Justiça do Conselho de Estado analisou e discutiu então o
parecer sobre o projeto apresentado por Eusébio de Queiros, que estava
substituindo o Visconde do Uruguai. Após sua apresentação, o Visconde de
Maranguape opôs-lhe um voto em separado. Nas discussões ficou claro que
o Conselho não tinha nada contra a instituição do casamento civil para os
não católicos, não o querendo, porém, para a «massa da população que é
católica». A seção concluiu oferecendo um projeto substitutivo, no qual
estabelecia o casamento civil para todos os que não professassem a religião
católica, além de admitir que o casamento misto continuasse a ter, caso os
noivos o desejassem, a forma exclusivamente religiosa. Nos papeis de
Nabuco de Araújo, segundo Joaquim Nabuco, encontra-se uma cópia de
algumas opiniões do Imperador sobre o caso, nas quais declarava que:
A única doutrina, que me parece lógica em todas as suas partes, é a do
Código civil francês, que só dá efeitos civis ao contrato civil de casamento, e
por conseqüência faz preceder o casamento religioso por aquele, separando
—————————–
265
J. NABUCO, Um Estadista no Império, I, 298.
266
AES, Br., Relatório do Ministro da Justiça, 1856, Fasc. 172, pos. 117, f. 135r.
424 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
267
J. NABUCO, Um Estadista no Império, I, 300.
268
J. NABUCO, Um Estadista no Império, I, 301-302.
269
J. NABUCO, Um Estadista no Império, I, 301-302.
270
J. NABUCO, Um Estadista no Império, I, 303.
CAP. IV: RELAÇÕES ENTRE A SANTA SÉ E O GOVERNO 425
—————————–
280
Anais do Parlamento Brasileiro, Sessão em 2 de julho de 1858, III, 186
281
Magistrado, deputado nas Legislaturas 9ª, 10ª, 11ª, 12ª, [O. NOGUEIRA,
Parlamentares do Império,168].
282
Anais do Parlamento Brasileiro, Sessão em 13 de agosto de 1858, IV, 127.
283
Eclesiástico, nascido em Pernambuco em 4 de abril de 1819 e falecido em 5 de
dezembro de 1887, deputado nas Legislaturas 9ª, 10ª, 11ª, 14ª, 15ª, 16ª.[O. NOGUEIRA,
Parlamentares do Império, 118].
428 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
dizia não querer que «na América se inoculem idéias ultramontanas» como
as de Pinto de Campos. Este respondeu ter muito prazer em sustentá-las284.
A Santa Sé estava sendo informada de tudo pelo Internúncio Mons.
Falcinelli, que substituíra Mons. Massoni. Em 4 de agosto, ele enviou um
ofício ao Secretário de Estado Cardeal Antonelli, informando sobre o
projeto apresentado pelo Ministro da Justiça. Transmitiu uma cópia e a
tradução do mesmo, alguns artigos de jornal, um Protesto que enviou ao
Governo e a Resposta que recebeu. Mons. Falcinelli iniciava o ofício com a
seguinte frase: «La tempesta che da molti anni minacciava comincia a
scoppiare»285.
Neste documento, ele disse erroneamente que o projeto fora apresentado
no dia 19 de julho de 1858, dois dias depois que ele havia apresentado suas
credenciais, e que de nada fora informado. Porém, como se viu, na verdade
o projeto foi apresentado dia 2. Segundo Mons. Facinelli:
L’essersi stata procrastinata la proposta sino al giorno susseguente la
presentazione delle Credenziali, lascia luogo a dedurre o che il Governo voglia
far credere alla popolazione che la S. Sede sia con lui d’accordo nella detta
proposta, ovvero che abbia voluto gettare il guanto per distaccarsi
decisivamente da Roma. Lascio all’E. V. R. decidere su questo, ma Le posso
assicurare essere questa un’interpretazione non solamente mia, ma ancora di
altre persone savie e prudenti286.
Comunicava ainda, que no dia 21 de julho de 1858, havia enviado um
Protesto ao Ministro do Interior e da Justiça, declarando a oposição da
Santa Sé a tal projeto, pois ia contra os Santos Cânones, a Igreja e o desejo
do Santo Padre287. Logo depois escreveu ao Arcebispo da Bahia D.
Romualdo Antônio de Seixas, incentivando-o a protestar e a usar a sua
influência sobre a Câmara dos Deputados para que votassem contra o
projeto, além de incentivar os outros bispos a fazerem o mesmo288.
Mons. Falcinelli informava que tinha dado o mesmo conselho ao prelado
do Rio de Janeiro, mas sem sucesso. Ele também havia entrado em contato
com aqueles que ele chamava de «buoni», sendo estes as pessoas que
apoiavam a causa da Igreja, tanto deputados quanto indivíduos que tinham
influência na Câmara. Alguns deles garantiram ao Internúncio que a lei não
—————————–
284
Anais do Parlamento Brasileiro, Sessão em 15 de agosto de 1858, IV, 129.
285
AES, Br., Officio, 4 de agosto de 1858, Fasc. 181, pos. 134, f. 20r.
286
AES, Br., Officio, 4 de agosto de 1858, Fasc. 181, pos. 134, f. 20r.
287
AES, Br., Protesto, 21 de julho de 1858 Fasc. 181, pos. 134, f. 26r-26v.
288
D. Antônio Joaquim de Mello respondeu a este pedido enviando um protesto ao
Governo em 18 de Novembro de 1858. [Cópia deste documento encontra-se em E. G.
FONTOURA, Vida do Ex.mo. e Rev.mo. Senhor D. Antônio Joaquim de Mello, 292-300].
CAP. IV: RELAÇÕES ENTRE A SANTA SÉ E O GOVERNO 429
invasore dei diritti del potere civile, e perturbatore della pace sociale. Ha
disapprovato francamente il Concordato fatto con l’Austria perché disse, vi
sono degli articoli che favoriscono troppo la Chiesa a scapito del potere civile.
Finalmente conchiuse esser molto tempo che desiderava di far conoscere al
Papa questi suoi sentimenti, e che intanto sperava che il Papa avrebbe
condisceso alla soppressione dei Religiosi, e avrebbe tollerato la legge sui
matrimoni misti [grifo do original]. Merita qualche attenzione la frase ripetuta
più volte nel discorso da S. M. «la troppa durezza di Roma serve talora a
giustificare il governo, che opera da sé»292.
A Santa Sé respondeu por meio de um despacho enviado em 15 de
setembro de 1858, criticando as circunstâncias em que o projeto fora
apresentado. Defendia que mesmo se fosse somente para casamentos
acatólicos e mistos, ele não deixaria de ser «anticatólico», podendo ser o
primeiro passo para se ir mais além no futuro. Continuava afirmando que
pertencia somente à Igreja o direito de regular a validade ou invalidade do
casamento, não sendo o matrimônio civil outra coisa que «rendere
legittimo dinanzi alla legge il concubinato»293.
Instruía Mons. Falcinelli a advertir o clero de se usar muita prudência em
relação aos matrimônios contraídos pelos protestantes, e evitar dar um
parecer sobre a sua validade. Deveria o Internúncio demonstrar o abuso que
se fazia do conceito de liberdade de consciência, indo o Governo contra a
consciência dos católicos, e de mostrar que a Santa Sé condenava a idéia
que separava o contrato do sacramento. Encerrava o despacho,
demonstrando com que surpresa havia recebido, o Santo Padre, a notícia de
tal projeto, logo no momento em que se negociava uma Concordata em
Roma entre os dois poderes e quando o Ministro Plenipotenciário
brasileiro, Barão de Penedo, tinha conseguido que a Santa Sé concedesse a
todos os bispos do Brasil maior número de casos para se dispensar do
impedimento de mista religião294.
Em outro despacho de 22 de maio, a Santa Sé declarou que o que mais
chamou a atenção no discurso do Imperador foi à questão da infalibilidade
e as opiniões de D. Pedro II sobre o casamento civil, que se surpreendeu
em ser acusada de dureza enquanto estava aberta a negociação de uma
Concordata e condescendente aos pedidos de mais concessões aos
matrimônios mistos295.
—————————–
292
AES, Br., Officio, 12 de agosto de 1858, Fasc. 181, pos. 134, f. 47r.
293
AES, Br., Dispaccio, 25 de setembro de 1858, Fasc. 181, pos. 134, f. 38r-43r.
294
AES, Br., Dispaccio, 25 de setembro de 1858, Fasc. 181, pos. 134, f. 38r-43r.
295
AES, Br., Dispaccio, 22 de outubro de 1858, Fasc. 181, pos. 134, f. 49r-52v.
CAP. IV: RELAÇÕES ENTRE A SANTA SÉ E O GOVERNO 431
—————————–
296
AES, Br., Lettera del Consolato Pontifício nel Brasile, 10 de maio de 1859, Fasc.
182, pos. 136.
297
AES, Br., Officio, 2 de agosto de 1859, Fasc. 182, pos. 137, f. 21r-21v.
298
AES, Br., Officio, 2 de agosto de 1859, Fasc. 182, pos. 137, f. 21v.
299
Padre, nascido em Minas Gerais (?) e falecido aos 26 de setembro de 1861,
Deputado na 10ª Legislatura. [O. NOGUEIRA, Parlamentares do Império, 108-109].
432 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
casamentos celebrados na forma das Leis do Império, aos das pessoas que
professassem religião diferente da Católica, dando também condições para
que os pastores de religiões toleradas pudessem praticar atos que
produzissem efeitos civis. Permaneciam os impedimentos, no que fosse
aplicável, os mesmo da religião Católica e ficava a cargo do Governo
regular o registro e as provas dos casamentos, nascimentos e óbitos dos que
não professavam o catolicismo307. Tal regulamento veio com o decreto
número 3.069 de 17 de abril de 1863, ficando responsáveis por eles os
Escrivães e Juízes de Paz308.
A burocracia do Império, porém, não estava preparada para tais registros,
razão pela qual a sua não execução levou a reproposição desses registros na
lei do recenseamento, n. 1829 de 9 de setembro 1870, que no seu art. 2º
incumbia o Governo de organizar o registro dos nascimentos, casamentos e
óbitos por meio de um regulamento sujeito à aprovação da Assembléia
Geral309. O regulamento foi aprovado e publicado com o decreto n. 5604,
de 25 de abril de 1874, que também delegava a execução dos registros civis
aos Juizados de Paz. Tais decretos, entretanto, ficaram sem execução na
maioria do Império até a proclamação da República310.
Em 31 de março de 1866, o Internúncio Mons. Domenico Sanguini,
informou à Santa Sé que a impressa recomeçara o alarde em relação ao
matrimônio civil, influenciada, principalmente, pelas recentes medidas
tomadas em Piemonte e em Portugal, e pela maçonaria brasileira. Na
Câmara também se faziam requerimentos pressionando o Ministro Marquês
de Olinda a retomar a discussão, e este, mesmo tendo prometido a Mons.
Sanguini que não o faria, o fez. Devido à fraqueza política em que se
encontrava, anuiu às pressões e respondeu à Câmara que entendia discutir o
assunto311.
Nabuco de Araújo chegou inclusive a preparar um projeto que anunciou
no plenário da Câmara em 23 de março de 1866. Sua proposta tinha como
idéia base que «o casamento, sendo um dos contraentes católicos e o outro
não, pode ser contraídos por meio de escritura pública». Tratava-se de um
casamento civil misto: o casamento civil do católico com o acatólico. A
intenção era oferecer uma alternativa ao casamento misto religioso, quando
a dificuldade das dispensas da Igreja na disparidade de culto fosse
invencível. O Imperador desejava mais, e algumas notas que ele lançou à
—————————–
307
Coleção das Leis do Império do Brasil, 1861, 21-22.
308
Coleção das Leis do Império do Brasil, 1863, XXVI, parte II, 85-97.
309
Coleção das Leis do Império do Brasil, 1870, XXX, parte I, 89-90.
310
Coleção das Leis do Império do Brasil, 1874, XXXVIII, parte II, 434-449.
311
AES, Br., Officio, 31 de março de 1866, Fasc. 183, pos. 145, f. 26r-29v
CAP. IV: RELAÇÕES ENTRE A SANTA SÉ E O GOVERNO 435
—————————–
312
J. NABUCO, Um Estadista no Império, II, 58-59.
313
J. NABUCO, Um Estadista no Império, I, 303, nota 2 e II, 360-362.
314
Doutor em direito, nascido em Alagoas em 24 de abril de 1839 e falecido em 3 de
dezembro de 1875. Deputado pelas Legislaturas: 11ª, 12ª, 13ª. [O. NOGUEIRA,
Parlamentares do Império, 91].
315
Anais do Parlamento Brasileiro, Sessão em 19 de julho de 1867, III, 284-285.
316
Este projeto foi assinado por L. A. da Silva Nunes, J. M. Pereira da Silva, J. Dias
da Rocha, A. Figueira, Antônio Prado, Diogo Velho, Rodrigo da Silva, L.A. Vieira da
Silva, Mateus de Araújo Lima Arnaud, J. P. de Mendonça, F. Belisário, Barão da Vila
da Barra, José Jansen do Paço, M. P. Ferreira Lage, A.S. Carneiro da Cunha, Leonel M.
436 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
5 º Entre pessoas das quais uma houver atentado contra a vida do cônjuge da
outra.
6 º As pessoas ligadas por qualquer vínculo matrimonial, religioso ou civil,
não dissolvido327.
Enquanto o art. 6º definia:
Os que pretendem contrair casamento farão constar a sua intenção ao oficial
competente por meio de declaração escrita, por ambos assinadas, e que
conterá:
1º Os nomes, idades, profissão e residência dos nubentes;
2º Os nomes, profissão e residência de seus pais;
§ 1º Na mesma ocasião deverão apresentar: certidão de idade dos nubentes;
documento que prove o consentimento paterno, quando algum dos nubentes
for menor, ou o do tutor e a autorização do juiz, se for órfão; certidão de óbito,
quando algum dos nubentes for viúvo.
§ 2º Se os nubentes forem domiciliados em outro lugar, far-se-á igual
declaração, acompanhada dos mesmos documentos, no domicilio de cada um
deles, designando-se o lugar onde terá de celebrar-se o casamento.
§ 3º quando algum ou ambos os nubentes houverem sido domiciliados fora do
Império, ou da província onde pretendem casar, deverá ser exibida justificação
judicial que prove não existir entre eles impedimento matrimonial328.
Os artigos três e seis eram também necessários para a realização do
registro dos casamentos daqueles que professassem a religião Católica, que
teriam os mesmos direitos do matrimônio celebrado em conformidade com
o art. 1º. Era necessário, também, designar ao oficial do registro o local e a
hora em que seria celebrado o matrimônio pelo pároco. Terminado o ato
religioso, o oficial do registro que tivesse assistido à cerimônia, certificaria
a celebração do casamento por meio de um termo que deveria ser assinado
pelo sacerdote celebrante e quatro testemunhas329.
Como havia acontecido em 1858, quando o executivo apresentara um
projeto sobre matrimônio civil, também desta vez tal proposta causou
preocupação ao Encarregado de Negócios da Santa Sé, que em 10 de maio
de 1884, enviou um ofício com uma cópia do projeto ministerial. Neste
documento, Mons. Adriano Felice declarava que o projeto tinha sido
entregue à Câmara por «ordine di Sua Maestà l’Imperatore», e que da
leitura do mesmo se perceberia as «maneiras malignas com que era atacada
—————————–
327
Anais do Parlamento Brasileiro, Sessão em 7 de maio 1884, I, 43.
328
Anais do Parlamento Brasileiro, Sessão em 7 de maio de 1884, I, 43.
329
Anais do Parlamento Brasileiro, Sessão em 7 de maio de 1884, I, 44.
CAP. IV: RELAÇÕES ENTRE A SANTA SÉ E O GOVERNO 439
—————————–
330
AES, Br., Officio, 10 de maio de 1884, Fasc. 15, pos. 238, f 21r-21v.
331
AES, Br., Officio, 10 de maio de 1884, Fasc. 15, pos. 238, f 21r-21v.
332
AES, Br., Officio, 10 de maio de 1884, Fasc. 15, pos. 238, f. 21r.
333
Doutor em medicina e bacharel em humanidades, nascido em Minas Gerais em 14
de novembro de 1850 e morto em 6 de fevereiro de 1901. Deputado pelas legislaturas
18ª e 20ª. Ministro dos Estrangeiros em 1884 [O. NOGUEIRA, Parlamentares do Império,
251].
334
AES, Br., Officio, 14 de junho de 1884, Fasc. 15, pos. 238, f. 24r-25v.
440 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
341
AES, Br., Officio, 30 de maio de 1887, Fasc. 19, pos. 264, f. 20r-21r.
342
Algumas destas questões já foram analisadas, outras ainda o serão. [ndr.]
442 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
343
ASV, NAB, Istruzione per Mons. Vincenzo Massoni Arcivescovo de Edessa
Internunzio Apostólico nell’Impero del Brasile, 15 de outubro de 1856, Cx. 30, fasc.
133, doc. único, f. 17v.
344
ASV, NAB, Istruzione per Mons. Vincenzo Massoni Arcivescovo de Edessa
Internunzio Apostólico nell’Impero del Brasile, 15 de outubro de 1856, Cx. 30, fasc.
133, doc. único, f. 17v.
345
ASV, NAB, Istruzione per Mons. Vincenzo Massoni Arcivescovo de Edessa
Internunzio Apostólico nell’Impero del Brasile, 15 de outubro de 1856, Cx. 30, fasc.
133, doc. único, f. 17v.
346
AES, Br., Istruzione per Mons. Gaetano Bedini Arcivescovo di Tebe Nunzio
Apostolico nell’Impero del Brasile, 20 de outubro de 1852, Fasc. 166, pos. 89, f. 47v.
CAP. IV: RELAÇÕES ENTRE A SANTA SÉ E O GOVERNO 443
—————————–
347
Sobre a Conferência de Würzburg ver Capítulo III, nota 5 na página 196.
348
AES, Br., Istruzione per Mons. Gaetano Bedini Arcivescovo di Tebe Nunzio
Apostolico nell’Impero del Brasile, 20 de outubro de 1852, Fasc. 166, pos. 89, f. 42r-
53r; AES, Br., Istruzioni per Mons. Mario Moceni, Arcivescovo tit. di Eliopoli
Internunzio Apostolico nell’Impero del Brasile, 1882, Fasc. 11, pos. 210, f. 23r-35r.
349
AES, Br., Istruzione per Mons. Gaetano Bedini Arcivescovo di Tebe Nunzio
Apostolico nell’Impero del Brasile, 20 de outubro de 1852, Fasc. 166, pos. 89, f. 42r.
444 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
Una delle principali ragioni per cui deve preferirsi la riunione dei Vescovi in
conferenze alla celebrazione del Sinodo provinciale si è che per togliere molti
degli abusi è necessaria la cooperazione efficace del Governo, la quale
conviene procurare per mezzo di un’ossequiosa, ma insieme energica
rappresentanza del Ven. Ceto Episcopale al trono di Sua Maestà Imperiale.
Ora il prepararne e redigere una ragionata rappresentanza per reclamare alla
Chiesa il libero esercizio dei suoi diritti, e della sua autorità, meglio si addice
ad una adunanza di Vescovi non congregati a forma di Sinodo in cui essi
dovrebbero dettare leggi350.
A reunião dos bispos em conferência daria mais liberdade de ação ao
episcopado, diminuindo a possibilidade de ingerência do Governo, além de
permitir a elaboração de uma representação de protesto contra as condições
da Igreja no Brasil, bem como a defesa da liberdade de ação para exercer
suas funções. Continua o documento, supondo que não se deveriam
encontrar dificuldades materiais insuperáveis em relação às distancias e
estradas ruins, devendo o Internúncio procurar os meios mais adequados
para alcançar o objetivo desejado. Ele deveria ainda organizar tudo, em
modo que parecesse que não fosse preciso a permissão do Governo para
realização da citada conferência. Os parágrafos quarto e quinto regulavam
como o Representante pontifício deveria proceder, caso ela viesse a se
realizar:
4°. Qualora si riesca a riunire in conferenza i Vescovi Brasiliani Mons. Nunzio
non dovrà offrirsi d’intervenire alle loro sessioni per non dar sospetto che
voglia a essi togliere colla sua presenza la necessaria libertà, e quando anche
ne fosse invitato dovrà gentilmente ricusarsi, altrimenti il Governo facilmente
s’indurrebbe a credere che le rimostranze dei Vescovi per rivendicare i diritti e
la libertà della Chiesa fossero suggerite e insinuate da Mons. Nunzio, e in tal
guisa si verrebbe a indebolire l’azione di quei Prelati e s’indisporrebbe il
Governo con pregiudizio alla causa della stessa Chiesa.
5°. Mentre però Mons. Nunzio deve astenersi dal prendere alcuna parte
pubblica e formale alle ridette conferenze dovrà nello stesso tempo con molta
avvedutezza e prudenza dar loro le opportune direzioni. Essendo necessari
molti lavori preparatori dai quali in gran parte dipende il buon risultato delle
conferenze, si procurerà egli destramente il modo per mezzo di qualche
Prelato, o di altra persona di sua fiducia, d’influirvi in guisa da regolare la
—————————–
350
AES, Br., Istruzione per Mons. Gaetano Bedini Arcivescovo di Tebe Nunzio
Apostolico nell’Impero del Brasile, 20 de futuro de 1852, Fasc. 166, pos. 89, f.42v.
CAP. IV: RELAÇÕES ENTRE A SANTA SÉ E O GOVERNO 445
dependiam também deste para terem uma solução e, por último, duas letras
pastorais para exortar o clero e o povo a reformarem seus costumes de
acordo com Evangelho. Quando tratassem da primeira parte, o Internúncio
deveria garantir que alguns pontos entrassem em discussão, eram eles: 1º.
O concubinato; 2º. A ignorância do Clero; 3º. A enorme diferença
disciplinar nas diversas dioceses; 4º. A ignorância do povo nas coisas da
religião católica; 5º. A grande facilidade em conseguir dispensas
matrimoniais, até mesmo nos graus maiores, devido às faculdades
concedidas pela Santa Sé353.
Sobre o concubinato, dizia que seria interessante chamar os padres,
secretamente, a obedecerem às prescrições do Concilio de Trento, Sessão
XXIV, Capítulo VIII e Sessão XXII, Capítulo I, De vita et honestate
spirituali, e especialmente introduzir o louvável costume dos Exercícios
Espirituais de Santo Inácio de Loyola. Contra a ignorância do clero dever-
se-ia erigir bons Seminários, com rigorosos exames para admissão ao
sacerdócio, para acabar com a falta de uniformidade disciplinar e, daí,
procurar prover eficazmente a instrução religiosa do povo. Na concessão de
licenças matrimoniais, os prelados diocesanos deveriam, de comum acordo,
determinar as causas graves, segundo os Sacros Cânones, para serem
uniformes no modo e quando conceder as dispensas matrimoniais, para que
«le facoltà affidate ai Vescovi dalla S. Sede in edificationem non siano
usate in destructionem»[grifos originais]354.
Sobre a licença para a celebração de matrimônios mistos, o Internúncio
foi informado que receberia instruções do Santo Ofício, e que tal tema não
poderia ser matéria da Conferência, a não ser que fosse para promover a
observação das prescrições gerais da Igreja, recordando todas as cautelas
que se deveria ter antes de concedê-la355.
Sobre o clero regular, instruía que os prelados se dirigissem à Santa Sé
pedindo uma Visita Apostólica para reformá-los. Deveriam eles, em
relação aos institutos femininos que normalmente estavam sob sua
jurisdição, ocuparem-se seriamente em acabar com todos os abusos e impor
a observância das respectivas regras monásticas, ressuscitando a verdadeira
vocação. Ordenava ao Internúncio que tivesse todo o cuidado em propor à
—————————–
353
AES, Br., Istruzione per Mons. Gaetano Bedini Arcivescovo di Tebe Nunzio
Apostolico nell’Impero del Brasile, 20 de outubro de 1852, Fasc. 166, pos. 89, f. 44v.
354
AES, Br., Istruzione per Mons. Gaetano Bedini Arcivescovo di Tebe Nunzio
Apostolico nell’Impero del Brasile, 20 de outubro de 1852, Fasc. 166, pos. 89, f. 44v-
45v.
355
AES, Br., Istruzione per Mons. Gaetano Bedini Arcivescovo di Tebe Nunzio
Apostolico nell’Impero del Brasile, 20 de outubro de 1852, Fasc. 166, pos. 89, f. 45v.
CAP. IV: RELAÇÕES ENTRE A SANTA SÉ E O GOVERNO 447
sono state già risolutamente condannate dalla Chiesa, che chi vi si inscrive
commette un grave peccato, e incorre nelle pene comminate dai Sommi
Pontefici, richiamando sommariamente alla memoria le Costituzioni
Apostoliche, e segnatamente quella di Leone XII, Quo Graviora, del 13 marzo
1825 in cui vengono per disteso riportate le precedenti358.
As pastorais deveriam chamar a atenção sobre três aspectos
fundamentais: o celibato clerical, a continência do povo e a proibição ao
católico de participar das sociedades secretas. Em 1852 a Santa Sé já se
preocupava com as referidas sociedades no Brasil e com os católicos que
nelas se inscreviam. Por isso, pedia que na conferência dos bispos, que se
intentava organizar, se tratasse do tema e se fizesse uma pastoral. Foi
exatamente a maçonaria o estopim da Questão Religiosa de 1873359.
O Núncio Mons. Gaetano Bedini, a quem foi redigida estas Instruções,
acabou não sendo enviado ao Brasil, e em seu lugar foi mandado um
Encarregado de Negócios, Mons. Marino Marini. Tais Instruções
permaneceram sem execução até serem enviadas a este último em 3 de
agosto de 1854, junto de uma ordem para que se empenhasse em organizar
a reunião dos bispos em conferência. Mais ou menos um ano antes da sua
chegada, em 31 de março de 1853, o Papa Pio IX já preparava o terreno
enviando uma Encíclica, De universi Dominici gregis, aos prelados
exortando-os a realizarem a reforma geral da Igreja brasileira360.
Em 13 de novembro de 1854, Mons. Marini comunicou a Santa Sé que
havia preparado uma Circular aos prelados, pedindo o parecer deles sobre
a possibilidade de se promover uma reunião nacional. Em 12 de novembro
de 1854, ele a enviou a todos os bispos brasileiros. Mons. Marini,
consciente das dificuldades de conseguir tal intento, não quis comprometer
o Santo Padre, deixando claro no seu ofício que:
Mi è sembrato pure prudente di non dire chiaramente desiderare il S. Padre
che i Vescovi si riuniscano in conferenze, a ciò la sua Suprema autorità non
resti minimamente compromessa, qualora la riunione non si effettuasse. Lo
scopo della Circolare è d’indagare come pensano i Vescovi intorno alla
riunione che viene ad essi suggerita e poter quindi prender norma dalle sue
—————————–
358
AES, Br., Istruzione per Mons. Gaetano Bedini Arcivescovo di Tebe Nunzio
Apostolico nell’Impero del Brasile, 20 de outubro de 1852, Fasc. 166, pos. 89, f. 47v.
359
AES, Br., Istruzione per Mons. Gaetano Bedini Arcivescovo di Tebe Nunzio
Apostolico nell’Impero del Brasile, 20 de outubro de 1852, Fasc. 166, pos. 89, f. 47v.
360
Eördögh István na obra tese A crise religiosa no Brasil no período 1852-1861,
coloca a data de 13 de março, o que não corresponde à data contida no Breve original,
disponível no AES, Br., Encíclica De universi Dominici gregis, 31 de março de 1853,
Fasc. 167, pos. 89, f. 66r-69v.
CAP. IV: RELAÇÕES ENTRE A SANTA SÉ E O GOVERNO 449
risposte per determinare ciò che dovrà farsi in seguito e decidere specialmente
se sarà meglio che essi stessi trattino col Governo della loro riunione o che ne
faccia la proposta la Nunziatura. La quale peraltro è sempre sospetta al
Governo e ora è poco curata. Saranno per molte le difficoltà che
s’incontreranno e non saranno le minor quelle che si opporranno dal Governo,
che fra altre sue stravaganze pretende che i Vescovi non si assentino dalle loro
Diocesi senza il suo permesso...361
Na Circular o Encarregado expunha aos bispos quais eram os objetivos
de tal reunião, os benefícios que dela poderiam resultar, o porque se
preferia uma Conferência a um Concílio Provincial, ao mesmo tempo em
que se esclarecia que a referida conferência não prejudicaria a futura
realização deste, ao contrário, constituiria um precedente muito propício,
além de se realizar trabalhos preparatórios para a subseqüente celebração
conciliar quando se julgasse conveniente362.
No dia 14 de dezembro de 1854, Mons. Marini mandou um relatório
mencionando o colóquio tido com o Ministro da Justiça. Nessa ocasião ele
perguntou se o Governo apoiaria uma reunião dos bispos que teria por
objetivo dar as linhas mestras para a realização de um reforma eclesiástica
no Brasil. O Ministro respondeu que, não só aprovava, como, também, o
Governo coadjuvaria e protegeria tal reunião363.
A Santa Sé, em resposta ao Encarregado, declarou que tais palavras
davam boas esperanças, no entanto, chamava a atenção de Mons. Marini
para prevenir-se de que a proteção que o Governo prometia não
ultrapassasse os «justos confins», podendo ser um pretexto para que o
poder secular interferisse em modo indevido364.
Em 16 de março de 1855, o Encarregado Pontifício informou à
Secretaria de Estado da Santa Sé que ainda não mandara as respostas dos
bispos à Circular, por estarem faltando três, as dos prelados de Cuiabá,
Goiás e Rio de Janeiro. Lamentava-se muito deste último, dizendo não
haver ele motivo para tanta demora, já que residia na mesma cidade onde
se encontrava a Nunciatura. Relatou que este bispo sequer respondera às
exortações que lhe foram enviadas. Em 13 de abril de 1855, finalmente, o
Encarregado Pontifício transmitiu as respostas, mesmo faltando aquelas do
bispo de Cuiabá e do Vigário Geral de Goiás. Mons. Marini iniciava este
ofício lamentando-se novamente do prelado do Rio de Janeiro, D. Manuel
—————————–
361
AES, Br., Officio, 13 novembro 1854, Fasc. 170, pos. 103, f. 31v-32v.
362
AES, Br., Circular aos Bispos brasileiros, 12 novembro 1854, Fasc. 170, pos.
103, f. 34r-34v.
363
AES, Br., Officio, 14 dezembro 1854, Fasc. 170, pos. 103, f. 37r.
364
AES, Br., Dispaccio, 8 fevereiro 1855, Fasc. 170, pos. 103, f. 43r.
450 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
367
AES, Br., Respostas dos Bispos a Circular sobre a Conferencia episcopal, 13 de
abril de 1855, Fasc. 170, pos. 103, f. 53v-54v.
368
AES, Br., Respostas dos Bispos a Circular sobre a Conferencia episcopal, 13 de
abril de 1855, Fasc. 170, pos. 103, f. 55r-55v.
369
AES, Br., Respostas dos Bispos a Circular sobre a Conferencia episcopal, 13 de
abril de 1855, Fasc. 170, pos. 103, f. 55v.
370
AES, Br., Respostas dos Bispos a Circular sobre a Conferencia episcopal, 13 de
abril de 1855, Fasc. 170, pos. 103, f. 55v-56r.
452 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
seu modo de pensar, sendo este o único meio de conseguir, com sucesso, a
reforma dos costumes e o melhoramento do clero371.
– D. Feliciano José Rodrigues Prates, o octogenário bispo do Rio Grande
Do Sul: declarou a sua adesão quanto à utilidade e à necessidade da
conferência, mas pediu compreensão por não ter condições físicas para
poder participar, devido à longa viagem que deveria empreender até o local
da reunião372.
Diante das respostas dadas, em que quase todos os prelados
concordavam com algumas dificuldades que influiriam negativamente na
realização da conferência, tais como: as distâncias, o custo da viagem, a
permissão do Governo para se afastarem das respectivas dioceses, a
indisponibilidade de saúde de alguns deles, percebeu-se que o momento
não era adequado para realização de tal projeto. Em 16 de maio de 1856, o
Mons. Gaetano Bedini, em um Parecer Confidencial, respondendo a alguns
quesitos que lhe foram apresentados pela Secretaria de Estado da Santa Sé,
sobre os negócios eclesiásticos no Brasil, se demonstrou pessimista. Assim
se exprimiu ele sobre as possibilidades de uma conferência:
Il raduno dei Vescovi in conferenze lo credo anch’io troppo difficile per le
enormi distanze, per la scarsezza dei mezzi, pei sospetti del Governo, per lo
scarsissimo numero dei medesimi. D’altronde non vi sono differenze
d’opinioni da conciliare, condizioni diverse da studiare, difficili provvedimenti
da proporre. Tutte le Diocesi somigliano nei terribili loro mali, tutti i Vescovi
fortunatamente hanno uguali opinioni, ed anche ottime volontà, e i
provvedimenti non troveranno ostacoli che nel Governo e nel Clero. Per
imporre all’uno e all’altro poco o nulla farà il raduno di 8 o 10 Vescovi nella
Capitale. L’abilità e l’autorità del Nunzio potranno assai più, e secondo
l’efficacia delle sue premure, e le consulte o i concerti che per scritto avrà
preso coi Vescovi stessi, giunte le cose a maturità sarà bene che li faccia
radunar tutti in vero e solenne Sinodo. Allora l’effetto sarà molto pel popolo,
pel Clero, e pel Governo373.
Nem mesmo um ex-Internúncio como Mons. Gaetano Bedini, com certa
experiência nas questões eclesiásticas brasileiras era otimista em relação à
Conferência dos bispos. Outro ponto que chamava atenção no seu parecer
era a coincidência de opinião com a resposta dada pelo bispo do Rio a
—————————–
371
AES, Br., Respostas dos Bispos a Circular sobre a Conferencia episcopal, 13 de
abril de 1855, Fasc. 170, pos. 103, f. 56r-56v.
372
AES, Br., Respostas dos Bispos a Circular sobre a Conferencia episcopal, 13 de
abril de 1855, Fasc. 170, pos. 103, f. 56v-57r.
373
AES, Br., Parere Confidenziale, 16 de maio de 1858, Faz. 172, pos. 115, f. 99v-
110r.
CAP. IV: RELAÇÕES ENTRE A SANTA SÉ E O GOVERNO 453
—————————–
377
A tradução dos seis pontos aqui utilizada é aquela feita por Mylene Mitaini
Calazans, no seu estudo sobre a Missão de Mons. Fancesco Spolverini (M. M.
CALAZANS, A missão de Monsenhor Francesco Spolverini, p. 48). O original se
encontra no AES, Br., Resumo da Secretaria de Estado da Santa Sé de um Oficio do
Mons. Monsenhor Matera, 22 de novembro de 1878, Fasc. 7, pos. 189, f. 2r-2v.
378
AES, Br., Resumos da Secretaria de Estado da Santa Sé dos Ofícios do Mons.
Monsenhor Matera sobre seus encontros com os Prelados do Brasil, datados: 28 de
Novembro de 1878; 17 de dezembro de 1878; 21 dezembro de 1878; 28 de dezembro de
1878; 23 de janeiro de 1879; 23 de janeiro de 1879; 29 de janeiro 1879; 27 de março de
1879, Fasc. 7, pos. 189, f. 3r-11r; f. 21r-25v; e Officio, 26 de maio de 1879, Fasc. 8,
pos. 189, f. 20r-20v.
379
«Questo Prelato è stato forse l'unico, dopo il vescovo del Pará, che siasi mostrato
fermo e deciso di entrare in campo. Riconobbe le istruzioni giustissime, deplorò la
disunione dell’Episcopato, ed il modo col quale erano state accolte dal Metropolitano e
dai Vescovi di S. Paolo, di Rio Janeiro, e di Ceará le premure e le insistenze di Mons.
Incaricato, e si dichiarò pronto ad eseguire gli ordini del S. Uffizio» [AES, Br., Officio,
26 de maio de 1879, Fasc. 8, pos. 189, f. 20r-20v].
CAP. IV: RELAÇÕES ENTRE A SANTA SÉ E O GOVERNO 455
—————————–
384
AES, Br., Resumo da Secretaria de Estado da Santa Sé de um Oficio do Mons.
Monsenhor Matera, 24 de abril de 1879, Fasc. 7, pos. 189, f. 20r-20v.
385
AES, Br., AES, Br., Resumo da Secretaria de Estado da Santa Sé de um Oficio do
Mons. Monsenhor Matera, 12 de maio de 1879, Fasc. 7, pos. 189, f. 34r.
386
AES, Br., Officio, 27 de maio de 1879, Fasc. 8, pos. 189, f. 24r.
387
AES, Br., Officio, 27 de maio de 1879, Fasc. 8, pos. 189, f. 24r-24v.
388
AES, Br., Sessão 475 da Sacra Congregação dos Negócios Eclesiásticos
Extraordinários, 10 de julho de 1879, Fasc. 8, Pos. 189, f.33r – 38r.
CAP. IV: RELAÇÕES ENTRE A SANTA SÉ E O GOVERNO 457
—————————–
396
AES, Br., Colloqui coll’Imperatore (Confidenziale), 10 de agosto de 1882, Fasc.
12, pos. 216, f. 2r-2v.
CAP. IV: RELAÇÕES ENTRE A SANTA SÉ E O GOVERNO 459
—————————–
400
AES, Br., Appendici all’Istruzione già date al Mons. Vincenzo Massoni di servire
per Mons. Falcinelli per processore nell’Internunziatura Apostolica del Brasile, Fasc.
178, pos. 132, f. 101r-105r.
401
D. R. VIEIRA, O processo de reforma e reorganização da Igreja no Brasil, 117; L.
P. RAJA GABAGLIA, O Cardeal Leme, 16.
402
Os quatro primeiros brasileiros presentes no Pio-latino foram: João Batista Fialho
(Rio Grande do Sul), Francisco Herculano (Bahia, morto de febre antes de concluir os
estudos), Tibério Rio de Contas (Bahia), e José Raimundo da Cunha (Maranhão) [D. R.
VIEIRA, O processo de reforma e reorganização da Igreja no Brasil, 118].
403
D. R. VIEIRA, O processo de reforma e reorganização da Igreja no Brasil, 118.
404
25 de Olinda, 6 de Fortaleza, 6 da Bahia, 3 do Rio Grande do Sul, 3 de São Paulo,
1 de Mariana, 5 do Rio de Janeiro, 1 do Pará e 1 de Goiás. [AES, Br., Exposição do pe.
Tommaso Ghetti S.I. ao Papa Leão XIII – Quadro Sinótico, 1882, Fasc. 13, pos. 225, f.
22r-23r].
CAP. IV: RELAÇÕES ENTRE A SANTA SÉ E O GOVERNO 461
—————————–
407
L. M. ASCENSIO, História del Colégio Pio Latino Americano, 74.81.
CAPÍTULO V
1. Definição de posições:
O fracasso das negociações em vista de uma Concordata
Na década de 1850, houve importantes Concordatas com as quais a
Santa Sé procurou lutar contra a laicização da sociedade do século XIX.
Isso produziu acordos com significativo número de países, tanto na Europa
quanto na América Latina. No Brasil Imperial, porém, tal tentativa foi
infeliz, encontrando grandes diferenças entre os princípios defendidos pela
Cúria romana e as leis do Império, rigidamente regalistas. Neste período, o
Brasil se encontrava em verdadeira crise religiosa, envolvendo questões
várias: que iam dos casamentos mistos à tentativa do Governo de se
apoderar dos bens das ordens religiosas. A isso se somavam problemas
diplomáticos envolvendo os enviados pontifícios, bem como a questão da
execução das bulas de criação dos bispados do Ceará e Diamantina, e a
CAP. V: O DISTANCIAMENTO ENTRE A IGREJA E O IMPÉRIO 465
descoberta, por parte da Santa Sé, que a bula Praeclara Portugalliae nunca
havia recebido o placet no Brasil3.
As tentativas de Concordatas entre o Governo brasileiro e a Santa Sé
antes da década de 1850 foram três, todas sem êxito. Em 1824, por ocasião
da independência, em 1827, por meio de uma proposta de Bernardo Pereira
de Vasconcelos que, porém, foi duramente combatida por D. Romualdo
Antônio de Seixas, devido aos seus princípios fortemente regalistas. Uma
outra tentativa aconteceu em 1837, quando Francisco Gê Acaiaba de
Montezuma (Visconde de Jequitinhonha), Ministro da Justiça e do Exterior,
apresentou ao pe. Scipione Domenico Fabbrini, Encarregado dos Negócios
da Santa Sé, um projeto de Concordata, do qual somente em 1839, foi
mandada uma cópia para Roma, mas que não obteve, porém, nenhum
resultado. O objeto principal deste último projeto era resolver a questão da
confirmação do bispo nomeado para o Rio, pe. Antônio Maria de Moura,
de modo a evitar, no futuro, outras contestações às nomeações imperiais4.
O Governo almejava regulamentar os direitos do Papa quanto à
confirmação dos bispos, definir quais as doutrinas que podiam ser
consideradas impedimento canônico para o candidato e criar três
arquidioceses. O projeto ainda previa que os metropolitanos teriam o
direito de confirmar os bispos quando o Papa, passado um ano, recusasse a
confirmação, e de prover os benefícios quando os bispos, seus sufragâneos,
passados três meses se recusassem a fazê-lo. Já os bispos ficariam
autorizados a dispensar em todos os impedimentos matrimoniais e os
bispos-eleitos teriam o pleno governo do bispado antes de serem
confirmados pelo Romano Pontífice. Para Joaquim Nabuco, esta era uma
Concordata que pretendia «a abolição do Primado do Sumo Pontífice no
Brasil, a pretexto de reconhecê-lo»5.
Segundo Eördögh István, «todos estes projetos nasceram dentro de uma
concepção de josefismo, jansenismo e galicanismo, revelando o espírito
dos principais partidos da época». Por estes motivos, sequer foram tidos em
consideração pela Santa Sé6.
A Cúria romana estava consciente do desejo do Governo imperial de
celebrar uma concordata e esperava conseguir, com isso, alguma vantagem
para a Igreja no Brasil. Em 20 de outubro de 1852, passou precisas
—————————–
3
Sobre a crise religiosa existente no Brasil nos anos cinqüenta consultar os capítulos
precedentes e também: E. ISTVÁN, A crise religiosa no Brasil.
4
J. NABUCO, Um Estadista do Império, I, 317-318; E. ISTVÁN, A crise religiosa no
Brasil no período 1852-1861, 40-41.
5
J. NABUCO, Um Estadista do Império, I, 317-318.
6
E. ISTVÁN, A crise religiosa no Brasil no período 1852-1861, 40-41.
466 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
Instruções a Mons. Gaetano Bedini, que deveria partir como Núncio para o
Brasil. Os motivos de tal desejo foram expressos no parágrafo 18º:
La condizione deplorabile in cui trovansi le cose religiose nell’Imperio del
Brasile, e la necessità del concorso della S. Sede, onde apporvi rimedio, può
far nascere il desiderio di celebrare un Concordato. Quando ciò tornasse utile
alla nostra S. Religione non s’incontrerà difficoltà da parte della medesima S.
Sede. Peraltro bene intende M. Nunzio che non conviene alla stessa S. Sede di
prendere l’iniziativa in quest’affare, che anzi ne deve essere istantemente
pregata. Quindi è che i Vescovi riuniti nelle Conferenze potrebbero [...]
insinuare al governo la necessità di rivolgersi alla Sede Apostolica affinché le
due potestà di comune accordo vengano in soccorso dei bisogni spirituali di
quelle Chiese fissando stabilmente una regolare sistemazione agli Affari
Ecclesiastici di quell’Impero7.
A motivação para a celebração de uma Concordata com o Império do
Brasil era a mesma para a realização de uma assembléia dos bispos, tanto
desejada pela Santa Sé durante todo o Segundo Império e que foi
longamente tratada nessas mesmas Instruções, ou seja, se queria encontrar
a solução para a deplorável condição do clero brasileiro. No entanto, o
representante pontifício tinha de conseguir que a iniciativa partisse do
Governo, mesmo se por meio de uma insinuação feita pelos bispos em
conferência. Neste sentido, se os bispos produzissem uma Memória para
entregar ao Governo, esta seria um bom termômetro para medir as
disposições deste em relação à Igreja, que de algum modo tentaria prever
qual poderia ser o resultado de futuras negociações para a celebração de
uma Concordata. O Internúncio teria de prestar ainda mais cuidado em se
tratando de um governo representativo, com o qual era muito mais difícil
de se chegar a «uma feliz conclusão». A solução melhor seria que o poder
legislativo conferisse a um Ministro Plenipotenciário imperial todas as
faculdades necessárias, o que, porém, não seria de se esperar8.
Nas Instruções recomendava-se que: se o Governo procurasse o
Internúncio para abrir negociações, ele poderia informar que a Santa Sé não
era estranha a este desejo, desde que as propostas fossem moderadas e que
as negociações não encontrassem dificuldades por parte do poder
legislativo. Todavia, o encarregado pontifício deveria ser claro em
demonstrar que as concordatas se negociavam em Roma, onde se deveria
—————————–
7
AES, Br., Istruzione per Mons. Gaetano Bedini Arcivescovo di Tebe Nunzio
Apostolico nell’Impero del Brasile, 20 de outubro de 1852, fasc. 166, pos. 89, f. 48r.
8
AES, Br., Istruzione per Mons. Gaetano Bedini Arcivescovo di Tebe Nunzio
Apostolico nell’Impero del Brasile, 20 de outubro de 1852, fasc. 166, pos. 89, f. 48r-
48v.
CAP. V: O DISTANCIAMENTO ENTRE A IGREJA E O IMPÉRIO 467
—————————–
9
AES, Br., Istruzione per Mons. Gaetano Bedini Arcivescovo di Tebe Nunzio
Apostolico nell’Impero del Brasile, 20 de outubro de 1852, fasc. 166, pos. 89, f. 49r
10
AES, Br., Istruzione per Mons. Gaetano Bedini Arcivescovo di Tebe Nunzio
Apostolico nell’Impero del Brasile, 20 de outubro de 1852, fasc. 166, pos. 89, f. 49v.
468 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
La vendita dei beni dei Conventi da sopprimersi con l’inversione del prezzo in
biglietti di credito sul tesoro; 7°. Un Regolamento per le missioni agli
infedeli13.
Mons. Marini informou ainda que o Ministro prometera aumentar as
côngruas dos bispados; dar uma indenização a Santa Sé se esta cedesse
permanentemente as faculdades de dispensa matrimonial aos bispos; e de
conceder a estes maiores possibilidades de punição sobre os religiosos,
inclusive punições corporais, já que «le pene spirituali al presente siano
poco efficaci». O Encarregado exprimiu a opinião de que o Ministro da
Justiça e o Visconde do Uruguai seriam «regalistas moderados», o que
favoreceria uma negociação14.
Este relatório foi enviado um dia antes da partida do Visconde do
Uruguai que, depois de tratar com o Governo francês, deveria ir tratar com
a Santa Sé. Porém a espera foi em vão. Chegando o Ministro em Roma, não
recebeu ordem do Governo imperial para abrir as negociações, já que o
Ministro da Justiça, Nabuco de Araújo, considerava o momento perigoso e
desvantajoso, tendo a Santa Sé concluído uma vantajosa Concordata com a
Áustria e temendo-se que o mesmo modelo fosse proposto ao Brasil15.
Em outubro de 1856, foram redigidas as Instruções a serem entregues ao
Mons. Vincenzo Massoni. Como as anteriores, nelas se tratava também da
questão de uma possível Concordata com o Governo Imperial, historiando
o que até aquele momento havia ocorrido. Nelas também se davam
algumas explicações sobre as questões que surgiram em torno à execução
das bulas de criação dos novos bispados de Ceará e Diamantina e da
descoberta da rejeição da bula de Leão XII, de 15 de setembro de 182716.
Todavia, dois acontecimentos deixaram a Santa Sé receosa sobre as
verdadeiras intenções do Governo imperial: 1º. A circular do Ministério da
Justiça, de 19 de maio de 1855, proibindo a entrada de noviços nas ordens
regulares sem prévia autorização, até quando fosse celebrada uma
concordata com a Santa Sé; 2º. O projeto de Estatutos para as faculdades de
—————————–
13
AES, Br., Brasile, relazione sullo stato delle cose Religiose, 1857, fasc. 177, pos.
130, f. 79v. Estes mesmos sete pontos e a narração da ida do Visconde do Uruguai a
Roma, se encontram nas Instruções ao Mons. Vincenzo Massoni: ASV, NAB, Cx. 30,
fasc. 133, f. 7r-10r.
14
AES, Br., Officio, 14 de dezembro de 1854, Fasc. 170, pos. 105, f. 64r-65r.
15
«…essendosi concluso il Concordato Austriaco, temé il Ministro di Grazia e
Giustizia che la S. Sede lo proponesse all’Inviato per modello»[AES, Brasile -
relazione sullo stato delle cose Religiose; 1857 Fasc. 177, pos. 130, f. 79r-79v].
16
ASV, NAB, Istruzioni per Mons. Vincenzo Massoni Arcivescovo di Edessa p.i.
Internunzio Apostolico nell’Impero del Brasile, 15 ottobre 1856, Cx. 30, fasc. 133, f.
6v-10r.
470 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
20
AES, Br., Brasile - relazione sullo stato delle cose Religiose; 1857 fasc. 177, pos.
130, f. 78r-107r.
21
AES, Br., Brasile - relazione sullo stato delle cose Religiose, 1857 fasc. 177, pos.
130, f. 99r-99v.
22
AES, Br., Brasile - Progetto di Concordato, 1858, fasc. 180, pos. 133, f. 40r.
23
AES, Br., Memorandum, fasc. 179, pos. 133, f. 103r-107r; Suplemento del
Memorandum,Fasc. 179, pos. 133, f. 109r-120r.
472 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
24
AES, Br., Brasile - Progetto di Concordato, 1858, fasc. 180, pos. 133, f. 40r.
25
AES, Br., Osservazioni al Memorandum, sem data, fasc. 179, pos. 133, f. 122r-
122v.
26
AES, Br., Verbali delle Conferenze, 13 de março de 1858, fasc. 179, pos. 133, f.
6r.
27
AES, Br., Brasile – Progetto di Concordato, 1858, fasc. 180, pos. 133, f. 40v.
CAP. V: O DISTANCIAMENTO ENTRE A IGREJA E O IMPÉRIO 473
Barão de Penedo afirmou que assim que tivesse ordem voltaria a Roma
para concluir a Concordata28.
Uma atenta análise comparativa entre a proposta apresentada por Mons.
Ferrari e o contra-projeto do Barão de Penedo, permite evidenciar a
impossibilidade de se chegar a um consenso. O projeto apresentado por
Mons. Ferrari constava de 24 artigos29, enquanto aquele apresentado pelo
Ministro Moreira continha 26; mas, a verdadeira diferença estava no
conteúdo30.
O artigo primeiro de ambos os projetos abordava a questão do padroado
exercido pelo Imperador do Brasil. O de Mons. Ferrari assim o definia: «La
religione Cattolica Apostolica Romana, continua ad essere la sola
religione dello Stato e della nazione del Brasile, e sarà conservata nei
domini di Sua Maestà con tutte le prerogative, di che deve godere secondo
la legge di Dio ed i sacri Canoni»31.
O enviado brasileiro não quis admitir a expressão «la sola», pois,
segundo ele, ia contra o art. 5 da Constituição, que instituía que todas as
outras religiões eram permitidas com seu culto domestico. Ao invés de
«Stato e nazione del Brasile», ele modificou para «l’Impero del Brasile». O
restante continuou igual, mesmo se nas conferências, o Barão de Penedo
teve dificuldade em aceitar a parte que dizia segundo «i sacri Canoni»32.
—————————–
28
AES, Br., Verbali delle Conferenze, 13 de março a 14 de abril de 1858, fasc. 179,
pos. 133, f. 6r-20r.
29
Na sua tese, Eördögh István faz várias confusões com os documentos do AES, por
exemplo, dizendo que as negociações da concordata iniciam-se somente depois da
entrega das credenciais do enviado brasileiro no dia 16 de abril de 1858, sendo que
nesta ocasião ele as estava entregando para deixar Roma. Mais grave ainda é que ele
coloca as 20 dúvidas apresentadas para serem respondidas pelos Cardeais da Sacra
Congregação dos Negócios Eclesiásticos Extraordinários, em 1857, como sendo o
projeto de Concordata apresentado pela Secretaria de Estado por meio do Mons. Ferrari,
que foi redigido um ano depois! Na verdade o que ele apresenta são quesitos que
deveriam ser respondidos pelos Cardeais indicando às medidas mais adequadas para
reformar a Igreja no Brasil, com intuito de se redigir as Instruções ao Internúncio [E.
ISTVÁN, A crise religiosa no Brasil no período 1852-1861, 45 nota 25].
30
Toda esta analise dos projetos está baseadas nos documentos: Brasile – Progetto di
Concordato, no qual os dois projetos vem colocados lado a lado e analisados pelos
Cardeais, e nos Verbali delle Conferenze [AES, Br., Brasile – Progetto di
Concordato,1858, Fasc. 180, pos. 133, f. 39r-59v; AES, Br., Verbali delle Conferenze,
13 de março a 14 de abril de 1858, Fasc. 179, pos. 133, f. 6r-20r].
31
AES, Br., Brasile – Progetto di Concordato,1858, fasc. 180, pos. 133, f. 41r-41v.
32
AES, Br., Brasile – Progetto di Concordato,1858, fasc. 180, pos. 133, f. 41v; AES,
Br., Verbali delle Conferenze, 27 de março de 1858, fasc. 179, pos. 133, f.14v-15v.
474 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
era o 6º. Dizia ele que os bispos poderiam proibir a leitura desses livros aos
fieis e condená-los segundo as leis canônicas, sendo que a autoridade
responsável tentaria impedir a difusão de tais livros, não podendo, porém, o
Estado colocar «censura previa», já que a Constituição a aboliu, sendo a
impressão e o comercio de qualquer livro livre no Brasil35.
O art. 6º do projeto da Santa Sé não teve correspondente no contra-
projeto do enviado brasileiro, já que ele não o aceitou por ser contrário ao
art. 102 §14 da constituição do Império, na qual vinha sancionado o direto
de placet do Imperador sobre bulas e cartas apostólicas. O art. 6º definia:
Avendo il Romano Pontefice per diritto divino il Primato d’onore e
giurisdizione sulla Chiesa universale, è libera la mutua comunicazione dei
Vescovi, Clero, e Popolo colla S. Sede nelle cose spirituali e negli affari
ecclesiastici: similmente é libera la mutua comunicazione dei Vescovi col
rispettivo Clero e Popolo diocesano36.
Os artigos 7º de ambos os projetos eram referentes ao livre exercício da
autoridade dos bispos e ordinários, dotados de seis letras ou comas: a)
liberdade para constituírem e escolherem vigários gerais e cooperadores; b)
liberdade para assumirem ao estado clerical e promover às Ordens Sacras
aqueles que julgassem necessários ou úteis as suas dioceses; c) que fossem
livres para punir, com as penas estabelecidas pelos Sagrados Cânones, os
clérigos que agissem contra os mesmos (somente nesta letra houve
divergência, Mons. Ferrari incluiu no seu projeto o direito dos bispos de
prenderem os clérigos em conventos e Seminários, o que, segundo o Barão
de Penedo, era contra a liberdade pessoal garantida pela Constituição do
Brasil); d) liberdade para censurarem os fieis transgressores das leis
eclesiásticas e dos Sagrados Cânones; e) com Collatis consiliis com a
autoridade civil, instituírem, dividirem e unirem paróquias; f) convocarem
e celebrarem, a norma dos SS. Cânones, os Conselhos Provinciais e os
Sínodos Diocesanos e publicarem os seus atos37.
O artigo 8º de ambos os projetos se referiam ao dever do Estado e seus
funcionários de impedirem qualquer ofensa, ataque ou desprezo a Igreja, a
seus ministros, à doutrina da fé e à disciplina eclesiástica, devendo dar
apoio às sentenças dos bispos contra os clérigos que se esquecessem dos
seus deveres. Neste ponto, praticamente não existiu divergência entre os
dois projetos38.
—————————–
35
AES, Br., Brasile – Progetto di Concordato, 1858, fasc. 180, pos. 133, f. 42v-43r.
36
AES, Br., Brasile – Progetto di Concordato,1858, fasc. 180, pos. 133, f. 43r-v.
37
AES, Br., Brasile – Progetto di Concordato, 1858, fasc. 180, pos. 133, f. 43v-44v.
38
AES, Br., Brasile – Progetto di Concordato, 1858, fasc. 180, pos. 133, f. 44v-45r.
476 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
39
O Barão de Penedo queria que ao invés de «cause ecclesiastiche» fosse colocado
«cause spirituali», porque assim se exprimia a Constituição. No final ele aceitou os
argumentos de Mons. Ferrari exigindo somente que fosse redigido «cause puramente
ecclesiastiche» [AES, Br., Brasile – Progetto di Concordato, 1858, Fasc. 180, pos. 133,
f. 45r-45v].
40
AES,Br., Brasile – Progetto di Concordato, 1858, fasc. 180, pos. 133, f. 45v-47r;
AES, Br., Verbali delle Conferenze, 31 de março de 1858, Fasc. 179, pos. 133, f. 16v-
17v.
CAP. V: O DISTANCIAMENTO ENTRE A IGREJA E O IMPÉRIO 477
Contra-projeto: Art. II. Sua Santità, in conformità alle concessioni fatte dai
Suoi Predecessori, ed in vista del bene che deriva alla Chiesa dalla presente
convenzione, continua a riconoscere, e conferma il diritto di Patronato nella
Persona di S. M. L’Imperatore, trasmissibile in perpetuo ai suoi eredi e
successori nella Corona del Brasile, di nominare, e presentare, come fin’ora si
è praticato, ai Vescovati, non che di presentare a tutti i Benefici ecclesiastici
dell’Impero, degni, ed idonei Ecclesiastici a forma dei Sacri Canoni, e nel
modo che verrà indicato appresso46.
Art. IV. All’Arcivescovo e vescovi nominati e presentati da S. M. darà S. S.
l’istituzione canonica secondo la forma consueta. Prima però che tali Prelati
non abbiano ottenuto le Lettere Apostoliche della loro canonica istituzione non
potranno né assumere il titolo, né ingerirsi nel regime e nell’amministrazione
delle rispettive Chiese alle quali furono nominati com’è stabilito dai Sacri
Canoni.
Ritiene S. S. che S.M. l’Imperatore, attendendo al bene spirituale dei suoi
sudditi, continuerà come per il passato a nominare e presentare alla S. Sede
per essere confermati nelle Sedi che vacheranno per l’Arcivescovo e Vescovi
con quella brevità che sia compatibile con le circostanze dei luoghi e del
tempo47.
O Barão de Penedo foi a Roma devendo, como um dos objetivos
principais, conseguir um ato solene da Santa Sé confirmando o padroado, já
exercido pelo Imperador e seus antecessores, com todos os seus privilégios
e prerrogativas. Mons. Ferrari respondeu que o Imperador já possuía o
padroado pela bula de 15 de maio de 1827, de Leão XII, Praeclara
Portugalliae, que lhe havia concedido, e a seus descendentes, o Grão
Mestrado da Ordem de Cristo. O Barão de Penedo respondeu que seu
—————————–
45
AES, Br., Brasile – Progetto di Concordato, 1858, fasc. 180, pos. 133, f. 49v.
46
AES, Br., Brasile – Progetto di Concordato, 1858, fasc. 180, pos. 133, f. 49v.
47
AES, Br., Brasile – Progetto di Concordato, 1858, fasc. 180, pos. 133, f. 49v-50r.
CAP. V: O DISTANCIAMENTO ENTRE A IGREJA E O IMPÉRIO 479
—————————–
48
Este voto foi elaborado por Mons. Bellenghi por ocasião do exame do pedido do
padroado feito pelo Imperador D. Pedro I e examinado pelo Sacra Congregação dos
Negócios Eclesiásticos Extraordinários. Depois do exame dos cardeais da referida
Congregação, a bula Praeclara Portugalliae foi concebida em posição contrária ao
parecer de Bellenghi [AES, Br., Brasile – Progetto di Concordato, 1858, fasc. 180, pos.
133, f. 50v].
49
AES, Br., Brasile – Progetto di Concordato, 1858, fasc. 180, pos. 133, f.50r-53r;
AES, Verbali delle Conferenze, 17 de março de 1858, fasc. 179, pos. 133, f. 10r-11v.
50
AES, Br., Brasile – Progetto di Concordato, 1858, fasc. 180, pos. 133, f. 53r.
480 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
Penedo, veio anteposto que elas seriam constituídas «callatis consiliis col
potere civili», ou seja, com prévio acordo com os poderes civis55.
Os artigos 16 e 17 do contra-projeto do Barão de Penedo, não possuíam
correspondentes no projeto apresentado pelo Mons. Ferrari. Propunham:
Art. XVI. Avuto riguardo alle circostanze alla S. Sede di sopra lo stato attuale
di alcuni Conventi d’Ordini religiosi nel Brasile, trovandosi alcuni, o
abbandonati, o senza un numero sufficiente di Religiosi per la dovuta
celebrazione di culto ed osservanza delle rispettive regole, S. S. non si oppone,
anzi desidera che a questo stato di cose si ponga un rimedio, ed a tal fine
procedendo a forma dei S. Canoni, prenderà d’accordo col Governo imperiale
le misure convenienti per la soppressione di quei Conventi che si troveranno in
circostanze di richiederla, applicandosi gli edifici ed i beni dei soppressi in
beneficio dei piccoli seminari, od in altri fini religiosi, o d’istruzione pubblica
generale56.
Art. XVII. Quanto alla riforma e riorganizzazione degli altri Conventi, saranno
prese, d’accordo col Governo, le stesse misure convenienti; e nei luoghi in cui
non vi sarà alcuna persona idonea fra i Regolari a presiedere alle elezioni
Capitolari, il S. Padre autorizzerà i rispettivi Vescovi per un tempo
determinato a presiedere ai menzionati Capitoli57.
A maioria e os principais pontos do Memorandum entregue pelo Barão
de Penedo, antes de iniciarem as negociações, versavam sobre a questão
dos regulares, sendo um dos maiores interesses do Governo brasileiro.
Mons. Ferrari tentou convencer Penedo que este tema não era matéria para
uma concordata, porquanto necessário o envio de visitadores e de religiosos
europeus com espírito de reforma. Questionou também, Mons. Ferrari, que
a dotação dos Seminários era um dever do Governo, que havia assumido
esta obrigação, inerente ao padroado. O Barão contra argumentou que o
Governo estava sem condições financeiras necessárias para tais dotações.
Já o artigo 17º era considerado por Mons. Ferrari próprio de uma
concordata, por não ser uma matéria transitória, porém, não constava de um
artigo correspondente no seu projeto58.
O art. 20 do projeto de Mons. Ferrari era relativo à prerrogativa da Igreja
de adquirir e comprar bens imóveis, possuindo o direito de propriedade
inviolável como os demais cidadãos, não podendo o Governo suprimir ou
unir as antigas e novas fundações eclesiásticas sem a intervenção da Santa
—————————–
55
AES, Br., Brasile – Progetto di Concordato, 1858, fasc. 180, pos. 133, f. 54v-55v.
56
AES, Br., Brasile – Progetto di Concordato, 1858, fasc. 180, pos. 133, f. 55v.
57
AES, Br., Brasile – Progetto di Concordato, 1858, fasc. 180, pos. 133, f. 56r.
58
AES, Br., Brasile – Progetto di Concordato, 1858, fasc. 180, pos. 133, f. 56r-58r.
482 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
59
AES, Br., Brasile – Progetto di Concordato, 1858, fasc. 180, pos. 133, f. 58r-58v.
60
AES, Br., Brasile – Progetto di Concordato, 1858, fasc. 180, pos. 133, f. 59r.
61
AES, Br., Brasile – Progetto di Concordato, 1858, fasc. 180, pos. 133, f. 59r-59v.
62
AES, Br., Brasile – Progetto di Concordato, 1858, fasc. 180, pos. 133, f. 59v.
63
AES, Br., Brasile – Progetto di Concordato, 1858, fasc. 180, pos. 133, f. 59v.
64
AES, Br., Sessione 348 della Sacra Congregazione degli Affari Ecclesiastici
Straordinari, 27 de maio de 1858, fasc. 180, pos. 133, f. 105r-107v.
CAP. V: O DISTANCIAMENTO ENTRE A IGREJA E O IMPÉRIO 483
pelos Cardeais foi entregue ao Encarregado brasileiro junto a Santa Sé, Sr.
Figueiredo, no dia 25 de junho de 1858, sendo esta a última palavra sobre
esse tema. Nela se encontravam todas as incompatibilidades entre a posição
oficial do Governo e os princípios da Santa Sé, que seriam, também, causa
de futuros grandes conflitos durante o Segundo Império:
La S. Sede desiderosa di veder sistemare tutte le cose religiose nell’Impero
del Brasile aveva di buon grado consentito ad iniziare le trattative per un
Concordato. Però, esaminato il contro-progetto colle analoghe osservazioni
presentato dal Sig. Commendatore Moreira, ha appreso con vero dispiacere
che nella legislatura brasiliana esistono alcune leggi, le quali essendo in
opposizione con i principi immutabili della stessa S. Sede, impediscono di
raggiungere il desiderato scopo. Non s’ignora che gli ostacoli non provengono
dagli attuali governanti, i quali, anzi sono animati dallo spirito di promuovere
il bene della nostra Santa Religione, nondimeno sta il fatto che tali ostacoli
non si possono rimuovere da parte della S. Sede. I punti principali sono i
seguenti:
1°. La libera e mutua comunicazione colla S. Sede dei Vescovi, Clero, e
Popolo, la quale nasce da Somma del Primato d’onore e giurisdizione del
Sommo Pontefice sopra tutta la Chiesa; 2°. La piena indipendenza dei
Seminari diocesani, anche per ciò che riguarda la scelta dei libri, la
deputazione dei Maestri e Professori, non che la loro amministrazione a forma
del Sacrosanto Concilio di Trento; 3°. Il libero diritto della Chiesa di
acquistare, possedere ed amministrare i suoi beni, diritto consentito ai giusti
principi di ragione ed inalienabile; 4. L’immunità personale dei Vescovi i
quali nelle cause maggiori non possono essere giudicati secondo il lodato
Concilio di Trento che dal Papa e dai giudici da esso delegati, come pure il
diritto dei Vescovi di conoscere i processi criminali operando essi a forma dei
Sacri Canoni debbano applicare la pena della degradazione la qual cosa è
conforme a tutti i principi di giustizia, non potendosi coscienziosamente
applicare una pena se non a causa cognita. 5°. La libertà delle professioni
religiose, le quali, di loro natura, non possono dipendere dall’autorità laicale.
Peraltro la S. Sede se vede non conciliabili con i suoi principi, le leggi o
disposizioni che vi si oppongono, non per queste intende di essere dalle sue
paterne cure, che anzi desidera vivamente che l’Imperiale Governo dia dal
canto suo la mano per preparare un clero migliore tanto secolare che regolare.
Intorno al primo è indispensabile che in tutte le diocesi siano eretti i Seminari
a forma del Concilio tridentino, e dotati in modo da riunirne un certo numero
d’alunni proporzionato ai bisogni delle rispettive Chiese, sia provveduto ai
buoni studi, e ad una severa disciplina.
In riguardo al secondo, cioè ai Regolari, si rende necessario che la S. Sede
mandi i suoi Visitatori ed anche un numero di religiosi di specchiata condotta
per ristabilire la disciplina regolare, ed affinché i Vescovi abbiano idonei
484 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
1º. Que não ordene de ordens sacras a algum estudante que não tenha ao
menos sido examinado e aprovado publicamente do curso de filosofia na
forma dos estatutos do dito Seminário.
2º. Que não ordene de presbítero algum que não tenha sido examinado e
aprovado publicamente do curso teológico, na forma dos ditos estatutos, sem
que tenha residido ao menos por um ano dentro do dito seminário, para dar
provas de mais perto do seu comportamento.
3º. Que não admita a concurso de benefício, principalmente de cura d’almas a
algum que não tenha sido examinado e aprovado de todas as disciplinas
determinadas nos ditos estatutos73.
Neste aviso aos bispos, o Governo declarava que tomava como base para
fazer tais propostas, «as disposições do Revmo. bispo de Pernambuco D.
José Joaquim da Cunha de Azevedo Coutinho, nos estatutos, que deu, com
aprovação régia, para o seminário de Olinda» e que agora desejava ouvir os
pareceres dos bispos que naquele momento ocupavam as dioceses, pedindo
que enviassem seus pareceres confidencialmente74.
Em 11 de julho de 1863, o Ministro do Império enviou uma circular ao
octogenário bispo de Mariana, pedindo informações sobre os negócios
eclesiásticos de sua diocese, com indicações suas para se promover o bem
espiritual. D. Viçoso respondeu em 8 de setembro do mesmo ano, enviando
também uma cópia ao Internúncio Mons. Sanguini. A resposta do bispo
indicava os meios para se conseguir a reforma do clero. Segundo D.
Viçoso, era indispensável um melhoramento nas fábricas das Igrejas,
responsáveis pela sua manutenção e esplendor. Era fundamental, para ele, o
melhoramento dos Seminários e que fossem dirigidos por ordens religiosas,
como os lazaristas, sulpicianos, maristas e jesuítas, chamando à memória
do Ministro, para dar força as suas argumentações, dois documentos:
a) o Relatório às Câmaras, apresentado por Joaquim Nabuco em 1856,
no qual se propunha que os Seminários fossem dirigidos pelos lazaristas e
que estes internatos se tornassem um «muro de bronze» separando o novo
clero do antigo clero. Defendia ainda a participação de estrangeiros na
reforma dos Seminários: «em toda a parte o ensino e a predica foram
—————————–
73
AES, Br., Aviso Circular de 12 de maio de 1863 acerca das habilitações dos
aspirantes às ordens sacras, e a benefícios eclesiásticos, em aditamento ao que dispôs o
decreto n. 3.073 de 22 de abril de 1863, fasc. 182, pos. 143, f. 135f.
74
AES, Br., Aviso Circular de 12 de maio de 1863 acerca das habilitações dos
aspirantes às ordens sacras, e a benefícios eclesiásticos, em aditamento ao que dispôs o
decreto n. 3.073 de 22 de abril de 1863, fasc. 182, pos. 143, f. 135f.
488 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
75
AES, Br., Resposta a Circular do Ministro do Império de 11 de julho de 1863, 8
de setembro de 1863, fasc. 182, pos. 143, f. 114r-115v.
76
AES, Br., Resposta a Circular do Ministro do Império de 11 de julho de 1863, 8
de setembro de 1863, fasc. 182, pos. 143, f.115v-116r.
77
AES, Br., Resposta a Circular do Ministro do Império de 11 de julho de 1863, 8
de setembro de 1863, fasc. 182, pos. 143, f. 117r.
CAP. V: O DISTANCIAMENTO ENTRE A IGREJA E O IMPÉRIO 489
—————————–
78
AES, Br., Resposta a Circular do Ministro do Império de 11 de julho de 1863, 8
de setembro de 1863, fasc. 182, pos. 143, f. 117r-117v.
79
Este título, como o próprio autor informa, se inspira na Memória dirigida pelo
episcopado francês ao seu rei sobre os Seminários em 1828. A repercussão internacional
resultou do fato do prelado ter escrito a vários bispos estrangeiros para saber que
relações existiam em seus países entre o Governo e a Igreja no tocante aos Seminários,
enviando também uma cópia da sua Memória. Recebeu resposta e aprovação dos bispos
de Orleans, de Arras, de Angers, do canonista Boux, do Marquês do Lavradio, do
literato João de Lemos e do teólogo P. Perrone, disse este: «Eu não sei que governo
algum europeu tenha até o presente levado tão longe suas pretensões a ponto de querer
regular o ensino nos seminários». O Jornal Le Monde, de Paris publicou a Memória e
iniciou uma série de artigos sobre o tema dos Seminários [A. MACEDO COSTA,
«Memória» em A. A. LUSTOSA, Dom Macedo Costa, 53.109].
490 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
respeitado, tanto pela Igreja quanto pelo Estado. Depois fez uma breve
relação de várias decisões do Governo que feriam a liberdade e
independência da Igreja, do placet ilimitado (disciplinar e dogmático), e a
proibição da entrada de noviços nos conventos. Questionou o amplo direito
que se queria dar à inspeção do Estado nos Seminários e, ante a afirmação
que o Governo não queria intrometer-se na administração desses institutos,
ironicamente exclamava:
Como pode o Governo examinar os compêndios teológicos e canônicos dos
Seminários, marcar a maneira de escolher os professores dos Seminários,
julgar da conveniência ou inconveniência das doutrinas ensinadas nos
Seminários, prescrever a duração do tirocínio e os estatutos que para cada uma
das ordens devem fazer os alunos dos Seminários, como pode o governo, digo,
fazer isto e por depois a mão na consciência e dizer muito tranqüilo: Eu não
me intrometo nos Seminários!
Não, Exmo. Sr., não é possível; ou então fora mister renunciar à linguagem
humana; fora mister dizer que os termos têm perdido todo o seu valor lógico e
que não há mais meio de nos entendermos uns aos outros86.
A conclusão de D. Macedo, depois de suas argumentações, não podia ser
outra senão a seguinte: «Esse decreto nos oprime, Sr. Ministro, sim, nos
oprime, porque reduz-nos à necessidade, não de resistir, mas de ficar
inativos e opor a um governo a quem amamos aquela sempre penosa ainda
que muitas vezes necessária palavra dos Apóstolos: Non possumus»87.
Em 27 de janeiro de 1864, D. Macedo Costa escreveu uma carta à Santa
Sé, referindo as intenções do Governo em relação à administração dos
Seminários e informando sobre a Memória, que enviara ao Monarca
defendendo a liberdade episcopal na administração das casas formativas
diocesanas88.
Tal carta levou a Santa Sé a pedir ao Internúncio um relatório completo
sobre a situação, com o envio dos respectivos documentos relevantes89.
Mons. Sanguini cumpriu as ordens e, em 23 de junho de 1863, mandou
cópias do decreto n. 3.073 e da circular do Ministro do Império de 12 de
maio de 186390.
—————————–
86
A. MACEDO COSTA, «Resposta ao Marquês de Olinda», em A. A. LUSTOSA, Dom
Macedo Costa, 88-106.102.
87
A. MACEDO COSTA, «Resposta ao Marquês de Olinda», em A. A. LUSTOSA, Dom
Macedo Costa, 106.
88
AES, Br., Carta de D. Antônio Macedo Costa, 27 de janeiro de 1864, fasc. 182,
pos. 143, f. 125r-126v.
89
AES, Br., Dispaccio, 30 de maio de 1864, fasc. 182, pos. 143, f. 128r-128v.
90
AES, Br., Officio, 23 de julho de 1864, fasc. 182, pos. 143, f. 133r-135r.
CAP. V: O DISTANCIAMENTO ENTRE A IGREJA E O IMPÉRIO 493
—————————–
93
AES, Br., Tradução da Carta de D. Macedo ao Núncio e das Memórias, 12 de
março de 1865, fasc. 182, pos. 143, f. 153v.
94
AES, Br., Tradução da Carta de D. Macedo ao Núncio e das Memórias, 12 de
março de 1865, fasc. 182, pos. 143, f. 153v-154.
95
AES, Br., Cópia da Circular de 23 de novembro de 1877, fasc. 3, pos. 174, f. 12r-
12v.
96
AES, Br., Officio, 13 de março de 1878, fasc. 3, pos. 174, f. 7r-8r.
97
AES, Br., Officio, 13 de março de 1878, fasc. 3, pos. 174, f. 8r-8v.
CAP. V: O DISTANCIAMENTO ENTRE A IGREJA E O IMPÉRIO 495
que o bispo de Cuiabá fez os concursos para as cátedras? Ele agiu mal e
contra os S.S. Cânones?». O Internúncio respondeu que não era sua função
julgar o operato do defunto bispo de Cuiabá, mas sim demonstrar ao
Governo a razão porque o episcopado atual estava se opondo a execução do
decreto. O Ministro, depois de dizer que as observações do Internúncio
eram justas, revelou quem o ministério realmente queria atingir com a
circular de 13 de novembro de 1877107.
O Ministro iniciou a fazer duras críticas à D. Antônio Macedo Costa e a
descrever as «gravíssimas» acusações levadas ao ministério contra referido
prelado, como: excitar o partido conservador contra o liberal; buscar votos
para a cadeira vaga de senador pela província de Amazonas, com o objetivo
de hostilizar o Governo no Senado; dirigir constantemente duras críticas ao
Governo e, especialmente, ao atual Gabinete. Segundo Mons. Aiuti o
Ministro «assicurò che tutto ciò era stata l’unica e vera causa per cui il
Governo fino ad ora aveva insistito nel volere eseguire la Circolare»108.
O ministério queria atingir os bispos que não recuavam na defesa da
liberdade da Igreja perante o Estado. O Ministro pediu ao Internúncio que
alguma autoridade superior a D. Macedo lhe recomendasse calma e
prudência, inclusive para evitar os «molti e gravi mali ai quali va
incontro». O Encarregado defendeu o bispo do Pará e declarou que não
tinha autoridade para escrever-lhe uma carta em tal sentido. No entanto,
preocupado com as acusações contra o prelado paraense, interrogou o
Padre Giuseppe dell’Orto di Dolce Acqua, Comissário da Terra Santa na
capital, que recentemente tinha voltado da província amazônica, onde havia
se encontrado com D. Macedo, empenhado em uma visita pastoral naquela
região. O pe. Giuseppe afirmou que várias das informações eram
verdadeiras e que ele mesmo havia presenciado, ou ouvido de pessoas
«dignas», os fatos relatados pelo Ministro109.
O Internúncio pediu instruções à Santa Sé, indagando se deveria chamar
o bispo à prudência110. Recebeu como resposta que o ministério já mostrava
sinais de abertura, com intenção de resolver a situação. Afirmava que a
Santa Sé teria prazer em resolver esta situação, mas que só pediria aos
bispos para acalmarem a sua oposição ao Governo se a circular fosse
anulada111.
—————————–
107
AES, Br., Officio, 10 de agosto de 1878, fasc. 3, pos. 174, f. 46v-47r.
108
AES, Br., Officio, 10 de agosto de 1878, fasc. 3, pos. 174, f. 46v-47r.
109
AES, Br., Officio, 10 de agosto de 1878, fasc. 3, pos. 174, f. 47v-48v.
110
AES, Br., Officio, 10 de agosto de 1878, fasc. 3, pos. 174, f. 48r.
111
AES, Br., Dispaccio, 16 de setembro de 1878, fasc. 3, pos. 174, f. 50r-51r.
CAP. V: O DISTANCIAMENTO ENTRE A IGREJA E O IMPÉRIO 499
—————————–
114
Cf. A. MACEDO COSTA, A questão religiosa perante a Santa Sé; IDEM, Direito
contra Direito; V. M. G. DE OLIVEIRA, Abrégé historique de la question religieuse du
Brésil; F. GUERRA, A questão religiosa do Segundo Império; J. SALDANHA MARINHO, A
Igreja e o Estado; ID., O julgamento do bispo de Olinda; J. NABUCO, O partido
Ultramontano, suas incursões, seus órgãos e seu futuro; ID., A invasão ultramontana; J.
MONTE CARMELO, O Brasil mistificado na questão religiosa; ID., O Brasil e a Cúria
Romana ou análise e refutação do Direito contra direito; D. G. VIEIRA, O
Protestantismo a Maçonaria e a Questão Religiosa no Brasil; A. M. REIS, O bispo de
Olinda Perante a História, A. A. LUSTOSA, Dom Macedo Costa; J. LEMOS, D. Pedro de
Maria Lacerda; E. V. MORAIS, O Gabinete Caxias e a anistia aos bispos na «questão
religiosa»; A. C. VILLAÇA, História da Questão Religiosa; R. OLIVEIRA, O conflito
maçônico-religioso; J. CASTELLANI, Os maçons e a questão religiosa, N. PEREIRA, Dom
Vital e a questão religiosa no Brasil. Outras indicações bibliográficas serão
apresentadas durante a exposição do tema ou na bibliografia final [ndr].
CAP. V: O DISTANCIAMENTO ENTRE A IGREJA E O IMPÉRIO 501
—————————–
117
M. C. LIMA, Breve História da Igreja no Brasil, 127-128.
118
Cf. Manifesto do G:. O:. B:. a todos os GG:. OO:. GG:. LL:. LL:. RR:. e MM.: de
todo o mundo.
119
Cf. Manifesto que a todos os sap.:. GG:. OO:., AA:. LL:. e Resp:. MM:. dos dois
mundos dirigi o Gr:. Or:. Brasileiro ao Vale do Passeio no Rio de Janeiro.
120
Constituição do Grande oriente do Brasil, 1855, art. 1º.
121
A. M. BARATA, Luzes e Sombras: a ação da maçonaria brasileira, 65-67.
CAP. V: O DISTANCIAMENTO ENTRE A IGREJA E O IMPÉRIO 503
—————————–
129
H. B. ARAÚJO, Pastoral – Centenário do Apostolado da oração, devoção à
Santíssima Virgem, centenário de Dom Vital, 25.
130
ASV, NAB, Dispaccio, 2 de julho de 1865, Cx. 44, fasc. 202, doc. 25, f. 99r.
131
ASV, NAB, Officio, 31 de outubro de 1865, Cx. 44, fasc. 202, doc. 29, f. 105r.
132
ASV, NAB, Officio, 2 de novembro de 1865, Cx. 44, fasc. 202, doc. 30, f. 107r.
506 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
133
ASV, NAB, Officio, 29 de dezembro de 1865, Cx. 44, fasc. 202, doc. 27, f. 103r.
134
ASV, NAB, Officio, 23 de fevereiro de 1866, Cx. 44, fasc. 202, doc. 28, f. 104r-
104v.
135
ASV, NAB, Officio, 16 de abril de 1867, Cx. 44, fasc. 202, doc. 26, f. 101r.
136
ASV, NAB, Officio, 16 de abril de 1867, Cx. 44, fasc. 202, doc. 26, f. 101r.
137
ASV, NAB, Officio, 23 de fevereiro de 1866, Cx. 44, fasc. 202, doc. 28, f. 104r-
104v.
CAP. V: O DISTANCIAMENTO ENTRE A IGREJA E O IMPÉRIO 507
—————————–
140
Para maiores detalhes sobre o Pe. Almeida Martins e sua suspensão de ordens
consultar: J. LEMOS, D. Pedro Maria de Lacerda, 149-159.194-199.
141
J. SALDANHA MARINHO, Discurso proferido na abertura dos trabalhos da
Assembléia Geral do povo maçônico brasileiro em 27 de abril de 1872, 4-6.
142
Cf. S. G. PIMENTA, Resposta ao discurso do Sr. Conselheiro Saldanha Marinho.
143
J. LEMOS, D. Pedro Maria de Lacerda, 194-195.
510 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
Foi em Pernambuco que a crise atingiu o seu ápice e a causa disso está
diretamente relacionada com as associações laicais católicas, popularmente
conhecidas como «irmandades» ou «confrarias». Muitas delas, sobretudo
as que se compunham de membros brancos e de melhor nível social,
haviam se integrado ao jurisdicionalismo institucional, o que não era
conciliável com a proposta reformadora dos novos bispos, desejosos de
recuperar a autoridade clerical e de estreitar os laços com a Santa Sé. Ora,
aproximar-se de Roma implicava adotar suas orientações pastorais e
doutrinárias e, logo, a negligência até então existente em relação aos
maçons infiltrados nas referidas associações foi colocada em cheque. O
parecer de D. Vital, prelado de Olinda, a respeito, ajuda a entender porque
tal postura não foi gratuita ou puramente sentimental:
A direção [das irmandades] é geralmente confiada aos veneráveis das lojas,
ou ao menos a maçons graduados, notórios, e algumas vezes, blasfemadores
públicos. Tudo isso é feito à vista e ao conhecimento de todo mundo.
O venerável (ou o grão-mestre, como sucede no Rio de Janeiro), si faz
eleger presidente da confraria B; o cura ou o capelão sobe à cátedra e o
anuncia ao povo. […] É este presidente que determina quais são as festas que
se devem fazer, por fim, a festa paroquial e a forma desta, e os padres que
devem servir ou pregar, sem nunca fazer caso do cura, o qual é quase sempre
deixado de lado.
Este mesmo presidente muda sem a permissão da autoridade eclesiástica a
destinação das ofertas consagradas às festas e aos sufrágios dos confrades
falecidos, e utiliza o dinheiro em edifícios ou em outras coisas totalmente
estranhas ao objetivo das confrarias.
Sem o consentimento deste presidente, o pároco não pode fazer nada na sua
igreja paroquial; e, se deseja levar o viático aos moribundos, realizar um
batizado, celebrar a Santa Missa necessita ir pedir a chave do tabernáculo, os
paramentos a este presidente, ou a alguém delegado por ele para esta função.
No caso de uma negativa, é obrigado a ir buscar o santo viático à capela
episcopal ou às igrejas dos religiosos150.
Vários interesses cercavam as irmandades, pois, além de associações
pias, o eram também de mútua ajuda, previdenciárias, assistenciais e
organizavam as festas religiosas aos santos patronos. Nessa atividade
recebiam também vários dividendos por meio dos vários comércios que
eram realizados pelas «barraquinhas» e «festeiros» durante as festas, e
também por meio da administração das doações recebidas pelos fieis que
freqüentavam as igrejas que estavam sob a sua responsabilidade. Os
—————————–
150
V. M. G. DE OLIVEIRA, Ábrégé historique de la question religieuse du Brésil, 56-
58.
512 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
154
AES, Br., Brasile – conflitto insorto tra mons. Vescovo di Olinda o Pernambuco e
il Governo Imperiale del Brasile, 1873, Fasc. 185, pos. 156, f. 35v; V. M. G. DE
OLIVEIRA «Carta do Exmo. e Rev.mo. Sr. Bispo de Olinda D. Fr. Vital Maria Gonçalves
de Oliveira ao Exmo. e Rev.mo. Sr. D. Frederico Aneiros Arcebispo de Buenos-Aires»,
2 de agosto de 1874, em A. M. REIS, O Bispo de Olinda perante a História, I, 112-114.
155
AES, Br., Circular do bispo ao pároco da matriz de Santo Antônio de Recife, 28
de dezembro de 1872, Fasc. 184, pos. 156, f. 76r.
156
AES, Br., Oficio do bispo ao pároco da matriz de Santo Antônio de Recife, 13 de
janeiro de 1873, Fasc. 184, pos. 156, f. 77r.
514 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
157
AES, Br., Circular do bispo ao pároco da matriz de Santo Antônio de Recife, 28
de dezembro de 1872, Fasc. 184, pos. 156, f. 76r.
158
AES, Br., Reunião da Confraternidade do S. Sacramento da paróquia de S.
Antônio do Recife, 19 de janeiro 1873, Fasc. 184, pos. 156, f. 78r-79v; AES, Brasile –
conflitto insorto tra monsig. Vescovo di Olinda o Pernambuco e il Governo Imperiale
del Brasile, 1873, Fasc. 185, pos. 156, f. 35v-36r.
159
AES, Br., Sentença de Interdição, 28 de dezembro de 1872, Fasc. 184, pos. 156,
f. 79v, 81r.
160
V. M. G. DE OLIVEIRA, Ábrégé historique de la question religieuse du Brésil,
22.40-41; A. M. REIS, O Bispo de Olinda perante a História, I, 128-131.
CAP. V: O DISTANCIAMENTO ENTRE A IGREJA E O IMPÉRIO 515
—————————–
161
A. MACEDO COSTA, A questão religiosa perante a Santa Sé, 119-121.
162
AES, Br., Carta de D. Vital ao Papa Pio IX, 12 de março de 1873, fasc. 184, pos.
156, f. 92r-97r, 98v.
163
A. A. LUSTOSA, Dom Macedo Costa, 133-138.
516 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
164
AES, Br., Breve Quanquam dolores, (minuta manuscrita) 29 de maio de 187, fasc.
184, pos. 156, f. 100r-104v; AES, «Breve Quanquam Dolores» (stampato) em Brasile –
conflitto insorto tra monsig. Vescovo di Olinda o Pernambuco e il Governo Imperiale
del Brasile, 1873, fasc. 185, pos. 156, f. 52r-53v.
165
V. M. G. DE OLIVEIRA, Ábrégé historique de la question religieuse du Brésil, 46 ;
N. PEREIRA, Dom Vital e a questão religiosa no Brasil, 55-56.
166
P. CALMON, Prefácio as Atas do Conselho de Estado 1868-1873, 2.
167
AES, Br., Brasile – conflitto insorto tra mons. Vescovo di Olinda o Pernambuco e
il Governo Imperiale del Brasile, 1873, fasc. 185, pos. 156, f. 40v.
CAP. V: O DISTANCIAMENTO ENTRE A IGREJA E O IMPÉRIO 517
intuito de obter uma censura papal contra os bispos. Nas suas instruções
estava claramente explicitado que o Governo não cederia em nada para
conseguir seu intento, o que o obrigou a escamotear os fatos e fazer falsas
promessas para conseguir algum documento pontifício no sentido
desejado181.
Assim, com nota oficial de 29 de outubro, Penedo transmitiu um
Memorandum ao Secretário de Estado, Cardeal Giacomo Antonelli. Este
documento foi elaborado para demonstrar que o conflito surgido no Brasil
tinha sido provocado exclusivamente pelo comportamento excessivamente
zeloso de D. Vital, o qual era acusado de ter interditado ilegalmente as
irmandades, de não reconhecer o recurso à Coroa e nem a legitimidade do
placet, de ter respondido com uma desobediência às ordens do Governo e
de ter publicado o breve Quamquam Dolores sem o referido beneplácito.
Pedia, então, a Santa Sé de exprimir suas «verdadeiras intenções» para por
fim ao conflito e evitar que se repetissem no futuro182.
A Secretaria dos Negócios Eclesiásticos Extraordinários reuniu o
Memorandum e vários outros documentos referentes ao caso enviados pelo
Internúncio Mons. Sanguini, os imprimiu juntamente com um resumo do
que se sabia da Questão até aquele momento, e apresentou aos Cardeais da
referida congregação, que se reuniram em 6 de dezembro de 1873. Estavam
presentes: Antonelli, Patrizi, Penebianco, Di Pietro, Berardi e o Mons.
Marini, pró-secretário da congregação. Baseando-se na documentação eles
deveriam responder ao seguinte quesito: «Quale riposta convenga dare alla
domanda del Governo del Brasile espressa nella conclusione del
Memorandum [grifo original] presentato alla S. Sede?»183.
Os Cardeais decidiram que o Secretário de Estado deveria dirigir uma
nota em resposta ao Memorandum, contendo o seguinte:
Mentre si deplorasse il grave conflitto insorto nel Brasile fra i due Poteri
ecclesiastico e civile, i motivi e le circostanze che lo hanno provocato, e le
infauste conseguenze che ne sono derivate e che potrebbero derivarne, si
manifestasse la soddisfazione che il Governo in omaggio al Capo Supremo
della Chiesa ed in prova di attaccamento alla Religione Cattolica si è rivolto
alla S. Sede, invocando la sua autorità per far cessare il lamentato conflitto, e
sicuramente ad un tempo si vuole mantenere tra i due poteri la buona armonia
—————————–
181
Instruções publicadas em: A. MACEDO COSTA, A questão religiosa perante a
Santa Sé, apêndice, 44-47.
182
AES, Br., Brasile – conflitto insorto tra mons. Vescovo di Olinda o Pernambuco e
il Governo Imperiale del Brasile, 1873, fasc. 185, pos. 156, f. 59v-63r.
183
AES, Br., Brasile – conflitto insorto tra mons. Vescovo di Olinda o Pernambuco e
il Governo Imperiale del Brasile, 1873, fasc. 185, pos. 156, f. 35r-63r.
CAP. V: O DISTANCIAMENTO ENTRE A IGREJA E O IMPÉRIO 521
tanto necessaria per la prosperità della Chiesa e dello Stato. Si dicesse più che
in vista di tutto ciò e temendo essere presente la risposta pontificia diretta il 29
maggio del corrente anno a Monsignor Vescovo d’Olinda, il S. Padre è
disposto a giovarsi di quei mezzi che nell’alta sua sapienza e nella paterna sua
benevolenza per i cattolici brasiliani ravviserebbe opportuni, onde porne un
termine al deplorato conflitto, confidando però che il Governo concorrerebbe
dal canto suo a rimuovere tutti gli ostacoli che potrebbero intralciare il pronto
ristabilimento della desiderata concordia, ed a coadiuvare in tal guisa le
benigne disposizioni della S. Sede. Si aggiungesse infine che si crede
superfluo di fare delle osservazioni su quanto si è detto nel Memorandum
intorno al beneplacito, al quale da alcuni Governi sono sottoposti i decreti dei
Concili, le Lettere Apostoliche ed ogni altra Costituzione ecclesiastica, come
anche intorno al ricorso alla Corona, essendo ben noti i principi della S. Sede
sull’uno e l’altro argomento184.
Os Cardeais, porém, também decidiram que o Secretário de Estado
escreveria uma carta ao bispo de Pernambuco, contendo os seguintes
quesitos:
1°. Che il Vescovo senza attendere la risposta del S. Padre ha provveduto ad
atti di eccessiva severità contro le confraternite.
2°. Che dopo aver ricevuto la stessa risposta non si è uniformato ai consigli di
mansuetudine e di clemenza suggeritigli da Sua Santità, continuando a
procedere colla stessa severità contro altre confraternite.
3°. Che ha pubblicato la risposta pontificia senza esserne stato
preventivamente autorizzato, e prima che trascorresse l’anno dopo il quale
soltanto poteva far uso delle concessegli facoltà.
4°. Che avendo il Governo col mezzo d’una speciale missione implorato
l’intervento dalla S. Sede per far cessare un conflitto fecondo di gravi
conseguenze per la Chiesa, in vista di quest’atto di deferenza del Governo
verso la S. Sede e cui vista anche delle anzidette circostanze si esorti il
Vescovo a trovare un mezzo che mentre valga a salvare la sua convenienza,
renda inefficaci le misure prese contro le confraternite185.
A documentação apresentada pela Sacra Congregação dos Negócios
Eclesiásticos Extraordinários aos Cardeais continha informações
suficientemente completas sobre os fatos ocorridos, inclusive sobre as
provocações e ofensas feitas pela maçonaria brasileira, por meio da
imprensa, aos bispos e ao Catolicismo. Todavia, decidiram favorecer, de
—————————–
184
AES, Br., Sessione n. 409 della Congregazione degli Affari Ecclesiastici
Straordinari, 6 de dezembro de 1873, fasc. 185, pos. 156, f. 170r-171v.
185
AES, Br., Sessione n. 409 della Congregazione degli Affari Ecclesiastici
Straordinari, 6 de dezembro de 1873, fasc. 185, pos. 156, f. 170r-171v.
522 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
186
AES, Br., Brasile – conflitto insorto tra mons. Vescovo di Olinda o Pernambuco e
il Governo Imperiale del Brasile, 1873, fasc. 185, pos. 156, f. 41v-43v.
187
A. MACEDO COSTA, A questão religiosa perante a Santa Sé, 154-162.
188
Isso não exclui a possibilidade de Antonelli haver quiçá servido da sua relevância
para influenciar as decisões dos Cardeais. Fá-lo supor o fato que, dentre os documentos
a respeito, disponíveis no AES, referentes a dita reunião dos purpurados, existe um sem
data e sem assinatura, escrito a lápis e intitulado Voto, que pode ter sido o voto de um
dos cardeais apresentado por escrito. Se tal voto pertenceu a Antonelli, poderia ser uma
prova do suposto acima. Cópia do documento em questão se encontra nos anexos deste
estudo [AES, Br., Voto, anônimo e sem data, fasc. 185, pos. 156, f. 64r-66r].
189
AES, Br., Brasile – Quesiti proposti al Santo Padre dal Vescovo di Olinda o
Pernambuco, 1874, fasc. 186, pos. 158, f. 22r.
190
ASV, NAB, Nota colla quelle si rispose al Memoradum del Governo brasiliano e
Lettera dell’Em. Si. Cardinale Segretario di Stato al Vescovo di Pernambuco, 18 de
dezembro de 1873, Cx. 39, fasc. 178, f. 62r-63r, 64r-65r.
CAP. V: O DISTANCIAMENTO ENTRE A IGREJA E O IMPÉRIO 523
—————————–
196
ASV, NAB, Ofício da Sessão Central do Ministério dos Negócios Estrangeiros, 7
de julho de 1872, Cx. 44, fasc. 201, doc. 33, f. 73r.
197
ASV, NAB, Dispaccio, 17 de agosto de 1872, Cx. 39, fasc. 177, doc. 32, f. 184v.
526 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
escreveu uma carta ao Papa Pio IX com alguns quesitos, mesmo diante das
insistências do Internúncio para que cumprisse o mais rápido possível as
ordens expressas na missiva de Antonelli. A preocupação do Internúncio
derivava do fato que começavam a circular rumores, na imprensa, que tal
carta nunca existira, o que comprometeria Mons. Sanguini, já que tinha
garantido ao Governo que a havia entregado a D. Vital198.
Entre os dias 18 e 21 de fevereiro, D. Vital foi levado a julgamento. O
prelado não querendo se defender por considerar o tribunal incompetente
para julgá-lo, teve como defensores espontâneos dois eminentes políticos e
juristas, Zacarias de Góis e Candido Mendes. Mesmo diante da brilhante
defesa apresentada, o bispo foi condenado a quatro anos de prisão com
trabalho forçado. O mesmo ocorreu com D. Macedo Costa, bispo do Pará,
que já se vira condenado antes mesmo de ser julgado, pela Fala do Trono
de 5 de maio de 1874199. Ele foi efetivamente sentenciado a quatro anos de
prisão com trabalhos forçados, no dia 22 de julho de 1874, depois de ser
defendido espontaneamente por Zacarias de Góis e Ferreira Viana. Ambos
prelados foram julgados, por juízes quase todos maçons, e terminaram
condenados com a acusação de «obstar ou impedir o efeito das
determinações do poder Moderador e Executivo, conforme a Constituição e
as leis»200.
A falta de idoneidade do maçom Visconde do Rio Branco para estar a
frente do Governo, em um processo contra bispos que queriam a retirada
dos maçons das irmandades católicas, torna-se mais que evidente numa
carta sua a D. Pedro II, datada de 28 de fevereiro de 1874, em que afirmava
sem pudor: «Da maior importância é para mim [a punição dos bispos], que
aceitarei todas as conseqüências, inclusive a dissolução do ministério»201.
Na Santa Sé, a Sagrada Congregação dos Negócios Eclesiásticos
Extraordinários, reuniu-se, no dia 28 de março de 1874, para responder aos
quesitos enviados por D. Vital e analisar os últimos relatórios enviados
pelo Internúncio. D. Vital, primeiro perguntava se deveria retirar a
interdição mesmo após sua prisão e a violação da imunidade eclesiástica,
em seguida, após expor todas as tentativas que fez para retirar os maçons
das irmandades, perguntava:
—————————–
198
AES, Br., Brasile – Quesiti proposti al Santo Padre dal Vescovo di Olinda o
Pernambuco, 1874, fasc. 186, pos. 158, f. 21r-36v.
199
Anais do Parlamento Brasileiro, Sessão Imperial de abertura da Assembléia Geral
Legislativa, 5 de maio de 1874, I, 7-8.
200
J. NABUCO, Um Estadista do Império, III, 351-352.
201
H. LYRA, História de Dom Pedro II, II, 339.
CAP. V: O DISTANCIAMENTO ENTRE A IGREJA E O IMPÉRIO 527
—————————–
204
AES, Br., Sessione n. 413 della Sagra Congregazione degli Affari Ecclesiastici
Straordinario, 28 de março de 1874, fasc. 186, pos. 158, f. 37r-38v.
205
AES, Br., Brasile – Memoriale Presentato alla S. Sede da Mons. Gonçalves
vescovo di Olinda o Pernambuco sula Questione Religiosa, 1876, fasc. 187, pos. 162, f.
50r-51r.
206
A. MACEDO COSTA, A questão religiosa perante a Santa Sé, 154-162.
207
AES, Br., A sua Maestà Pietro II Imperatore del Brasile, 9 de fevereiro de 1875,
fasc. 186, pos. 158, f. 62r-65v.
208
J. NABUCO, Nabuco de Araújo, um Estadista do Império, III, 356.
CAP. V: O DISTANCIAMENTO ENTRE A IGREJA E O IMPÉRIO 529
O conflito seguiu avante, ainda que de uma forma mais discreta. A Igreja
não recuou e tampouco o fez a maçonaria. Em 1877, esta última recebeu o
apoio de Rui Barbosa, que, após a promessa – não cumprida – de uma
polpuda ajuda da parte de Saldanha Marinho, resolveu publicar a tradução
que fizera da obra de Johann Joseph Ignaz von Döllinger, O Papa e o
Concílio. Acrescentou, porém, como se viu anteriormente, uma enorme
introdução, em que ironizava as mudanças eclesiais acontecidas no Brasil,
cunhando o termo «romanização», com o qual qualificava o que entendia
ser a indevida absorção das distintas igrejas pelo papado214.
Pouco depois, em 14 de julho de 1878, D. Vital faleceu em Paris, e seu
sucessor, D. José Pereira da Silva Barros, sagrado em 1881, logo procurou
resgatar o termo «romano», afirmando que «dizer-se católico, mas não
romano, é rejeitar o centro da unidade e afirmar simplesmente um
absurdo»215. Assim, como as polêmicas apenas mudaram de tom sem se
extinguirem totalmente, colaboraram para o enfraquecimento da já
combalida Coroa. D. Pedro II, apesar de não ser maçom, apoiou as
«grandes lojas» por razões próprias: como se viu, ele sentira que a atitude
dos bispos atentava contra seus «direitos» (padroado, beneplácito). No
entanto, nenhuma gratidão obteve, pois os maçons bandeariam em peso
para a república e, além disso, fez o trono perder o apoio de muitos
católicos. Como diria Pandiá Calógeras, a intransigência do Imperador foi
o «mais grave erro político cometido no segundo reinado»216.
No Pará a interdição das irmandades e o conflito entre o bispo D.
Macedo e os maçons continuaram até os inícios da década de 1880. Após a
anistia, a Questão Religiosa no Pará tomou características provinciais, com
um grande envolvimento das autoridades governamentais locais em apoio e
defesa dos maçons. Houve, inclusive, várias prisões de padres. A situação
se degenerou quando a confraria de Nazaré, desativada a várias décadas, foi
tomada pelos maçons, que ocuparam também a ermida de N. S. de Nazaré.
Para complicar a situação, uma das festas religiosa mais importantes da
província era realizada próprio naquela Igreja e com a imagem ali presente
—————————–
220
AES, Br., Minuta della Lettera Enciclica di Pio IX a tutti i Vescovi del Brasile
sulla massoneria, 29 de abril de 1876, fasc. 187, pos. 162, f. 74r-77v.
221
Tradução da Exorta in ista ditione em A. MACEDO COSTA, A questão religiosa
perante a Santa Sé, 303.
CAP. V: O DISTANCIAMENTO ENTRE A IGREJA E O IMPÉRIO 533
—————————–
229
AES, Br.,Carta ao Ministério sobre a reforma das irmandades, 21 de novembro
de 1877, fasc. 190, pos. 170, f. 78r-79r.
230
AES, Br., Dispaccio, 11 de novembro e 1877, fasc. 190, pos. 170, f. 81r-81v.
231
AES, Br., Reposta do Ministro a carta enviada pelo Internúncio sobre a reforma
das irmandades, 14 de dezembro de 1877, fasc. 191, pos. 170, f. 53r.
536 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
242
AES, Br., Rapporto di Mons. Incaricato d’Affari, 12 maggio 1879, em Brasile –
Conferenza dei Vescovi per eseguire le istruzioni date dalla S. Sede intorno ai
frammassoni, fasc. 8, pos. 189, fascicolo inserito, 59.
243
AES, Br., Rapporto di Mons. Incaricato d’Affari, 12 maggio 1879, em Brasile –
Conferenza dei Vescovi per eseguire le istruzioni date dalla S. Sede intorno ai
frammassoni, fasc. 8, pos. 189, fascicolo inserito, 58-60.
542 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
244
AES, Br., Voto del Rev.mo P. G. M. Granniello de’Barnabiti, em Brasile –
Conferenza dei Vescovi per eseguire le istruzioni date dalla S. Sede intorno ai
frammassoni, fasc. 8, pos. 189, fascicolo inserito, 21-25.
245
AES, Br., Rapporto di Mons. Incaricato d’Affari, 12 maggio 1879, em Brasile –
Conferenza dei Vescovi per eseguire le istruzioni date dalla S. Sede intorno ai
frammassoni, fasc. 8, pos. 189, fascicolo inserito, 59.
246
AES, Br., Voto del Rev.mo P. G. M. Granniello de’Barnabiti, em Brasile –
Conferenza dei Vescovi per eseguire le istruzioni date dalla S. Sede intorno ai
frammassoni, fasc. 8, pos. 189, fascicolo inserito, 25.
CAP. V: O DISTANCIAMENTO ENTRE A IGREJA E O IMPÉRIO 543
piano degli empi, o almeno ridestando lo zelo nel clero e la fede nel popolo,
renderà meno perniciosa l’applicazione pratica di quelle leggi247.
Por esse motivo, concluía Mons. Granniello, era necessário que se
expedisse uma ordem expressa e formal aos bispos de reunirem-se em
congresso, observando às instruções ao pé da letra. Esta ordem poderia ser
feita de duas maneiras, ou por meio de um Breve ou Carta do Papa aos
bispos, ou por meio de uma carta circular enviada pela Nunciatura do Rio
de Janeiro. Para Granniello, a primeira opção parecia ser desnecessária, já
que os bispos disseram que essa poderia vir da Nunciatura, preferindo
conseqüentemente a segunda. Ambas as opções comprometeriam a
Nunciatura e a Santa Sé, ao contrário do que se queria anteriormente,
quando se mandou as Instruções a Mons. Bedini em 1852 para a realização
da conferência, explicando que a participação do enviado pontifício seria
«oculta», parecendo partir a iniciativa dos bispos. No entanto, o que
importava era a união dos prelados, pois segundo Mons. Granniello, o
Governo cederia «all’azione unita dell’Episcopato»248.
Mons. Granniello terminava seu Voto apresentando os seguintes pontos
para discussão:
1º. Conviene che il Santo Padre comandi espressamente e formalmente i
Vescovi del Brasile di tenere un congresso e di eseguire le istruzioni? 2°.
Conviene fare qualche eccezione o temperare maggiormente dette istruzioni?
3°. In qual modo convenga dare questi ordini, se direttamente ai Prelati, o per
mezzo della Nunziatura? 4°. Quali disposizioni bisogna prendere in ordine ad
altre particolarità del congresso? Cioè 1) la segretezza della circolare; 2) il
tempo; 3) le parti di Mons. Incaricato d’Affari, ecc.249
Em 23 de junho de 1879, Mons. Granniello entregou um Appendice ao
seu Voto. Ele foi elaborado depois que lhe foram enviados outros ofícios do
Encarregado de Negócios, datados de 27 de abril e 16 de maio de 1879.
Estes ofícios traziam vários anexos com cartas e recortes de jornais,
referentes, em sua maioria, às desordens ocorridas na diocese do Pará, onde
as autoridades civis estavam afrontando o bispo e realizando cerimônias e
—————————–
247
AES, Br., Voto del Rev.mo P. G. M. Granniello de’Barnabiti, em Brasile –
Conferenza dei Vescovi per eseguire le istruzioni date dalla S. Sede intorno ai
frammassoni, fasc. 8, pos. 189, fascicolo inserito, 26.
248
AES, Br., Voto del Rev.mo P. G. M. Granniello de’Barnabiti, em Brasile –
Conferenza dei Vescovi per eseguire le istruzioni date dalla S. Sede intorno ai
frammassoni, fasc. 8, pos. 189, fascicolo inserito, 26-27.29.31-32.
249
AES, Br., Voto del Rev.mo P. G. M. Granniello de’Barnabiti, em Brasile –
Conferenza dei Vescovi per eseguire le istruzioni date dalla S. Sede intorno ai
frammassoni, fasc. 8, pos. 189, fascicolo inserito, 34.
544 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
«festas civis» dentro das igrejas. Além dos discursos de Saldanha Marinho
e Tito Franco contra D. Macedo e a resposta deste aos ditos deputados.
Outro fato importante foi o apoio do Senado a D. Macedo250, contra ditas
provocações. Estas eram organizadas por autoridades civis em desafio às
autoridades eclesiásticas, conforme denúncia apresentada por meio de uma
carta do diocesano e entregue ao Senado pelo senador Paranaguá251.
A carta citada provocou grande discussão, mesmo se já tinha sido
trocado o Presidente da província e o novo havia sido nomeado com
expressas recomendações de não entrar em conflito com o diocesano. Tais
acontecimentos foram considerados por Mons. Granniello como uma
vitória do Prelado do Pará. Dizia ele: «Le lodi nel Senato e proteste ivi fatte
in favore della Religione non sono né l’unico né il principale dei frutti
raccolti da Mons. Macedo; e di altri egli informò Mons. Incaricato in una
lettera del 25 aprile»252.
Os outros sucessos eram: o aviso que mandava pagar aos professores do
Seminário, mesmo não tendo realizado os concursos; a troca de um redator
do jornal Liberal, que fazia ferrenhas críticas ao bispo e defendia as
«cerimônias civis»; e que as ordens por ele interditadas, em 1873,
começavam a ceder. Mons. Granniello concluía mantendo o seu parecer
anterior, aliás, reforçando-o frente aos acontecimentos do Pará, que para ele
demonstravam: a força que possuía a maçonaria, a força de D. Macedo, a
fraqueza dos outros bispos e o liberalismo da Câmara dos Deputados.
Outro ponto que reforçava sua posição eram as informações dadas pelo
—————————–
250
No ofício de 10 de maio de 1879, o Encarregado informa sobre as diferenças entre
o Senado e a Câmara dos Deputados, reforçando o que se viu no segundo capítulo, ou
seja, a crescente representação dos bacharéis que entravam por meio da Câmara e a
lenta mudança do Senado que permanecia mais conservador. Tal fato assim é narrado
pelo Encarregado: «Una scissione profonda va ogni giorno più dichiarandosi fra la
Camera temporanea composta tutta di liberali e legata nella maggior parte al
gabinetto, e il Senato, quasi interamente conservatore, minacciato anch’egli di
riforma.» [AES, Br., Rapporto di Mons. Incaricato d’affari, 10 Maggio 1879, em
Brasile – Conferenza dei Vescovi per eseguire le istruzioni date dalla S. Sede intorno ai
frammassoni, fasc. 8, pos. 189, fascicolo inserito, 65].
251
AES, Br., Appendice al voto precedente, em Brasile – Conferenza dei Vescovi per
eseguire le istruzioni date dalla S. Sede intorno ai frammassoni, fasc. 8, pos. 189,
fascicolo inserito, 35-39.
252
AES, Br., Appendice al voto precedente, em Brasile – Conferenza dei Vescovi per
eseguire le istruzioni date dalla S. Sede intorno ai frammassoni, fasc. 8, pos. 189,
fascicolo inserito, 40.
CAP. V: O DISTANCIAMENTO ENTRE A IGREJA E O IMPÉRIO 545
—————————–
253
AES, Br., Appendice al voto precedente, em Brasile – Conferenza dei Vescovi per
eseguire le istruzioni date dalla S. Sede intorno ai frammassoni, fasc. 8, pos. 189,
fascicolo inserito, 40-43.
254
AES, Br., Rapporto di Mons. Incaricato d’affari, 10 Maggio 1879, em Brasile –
Conferenza dei Vescovi per eseguire le istruzioni date dalla S. Sede intorno ai
frammassoni, fasc. 8, pos. 189, fascicolo inserito, 67.
546 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
d’accordo nel loro modo di agire. Forse il Sig. Ministro quando parlò con me
ebbe l’intenzione di costringere per tal modo il Vescovo di Parà ad
uniformarsi a ciò che avrebbero stabilito i suoi Colleghi, di non muover cioè
paglia e lasciar correre le cose. Ma io n’ebbi un’altra, che, rimosse le difficoltà
per una riunione, l’episcopato brasiliano aderisse unanime alle istruzioni della
S. Sede; appoggiando così la condotta del Prelato di Parà258.
Depois de incluídas todas as novas informações, os quesitos
apresentados no relatório aos Cardeais da Sacra Congregação dos Negócios
Eclesiásticos foram:
1º. Se ed in qual modo convenga ingiungere ai vescovi del Brasile di adunarsi
in conferenza per intendersi sulla maniera di eseguire le istruzioni della S.
Sede riguardo ai frammassoni?; 2º. Et quatenus affirmative, se sia espediente
di precisare l’epoca in cui detta conferenza debba aver luogo?; 3°. Se e qual
parte vi possa prendere l’Incaricato d’affari della S. Sede?; 4º. Se sia
opportuno di temperare maggiormente le date istruzioni?; 5°. Qual
provvedimento debba adottarsi sulla supplica del Vescovo del Pará [pedindo o
envio de missionários]?259
Em 5 de junho de 1879, foi agregado um resumo dos últimos ofícios
enviados pelo Encarregado para que fossem analisados pelos Cardeais da
Sacra Congregação dos Negócios Eclesiásticos. Propôs-se, então, outra
questão:
Conviene osservare ancora che se l’episcopato si riunisse in conferenza
indipendentemente da qualsiasi intesa col Governo potrebbe risultarne un
conflitto e da questo il grave pericolo d’una rottura di relazioni tra la S. Sede
ed il Governo Imperiale, tanto più che la Nunziatura Apostolica a Rio Janeiro
ha molti nemici potenti che ne vedrebbero con piacere la cessazione. Sono
quindi pregati gli Em. PP. a voler risolvere oltre ai dubbi proposti nella
Relazione a stampa anche il seguente:
Se ed in qual modo convenga alla S. Sede fare delle pratiche presso il
Governo Imperiale per facilitare la conferenza dei Vescovi?260
O Voto de Mons. Granniello e o resumo dos ofícios foram analisados
pelos Cardeais da Sacra Congregação de Negócios Eclesiásticos na sessão
475, de 10 de julho de 1879, que decidiram pelo envio, por parte da
Nunciatura, de uma circular aos bispos do Brasil para que se reunissem em
—————————–
258
AES, Br., Officio, 27 de maio de 1879, fasc. 8, pos. 189, f. 24r-24v.
259
AES, Br., Brasile – Conferenza dei Vescovi per eseguire le istruzioni date dalla S.
Sede intorno ai frammassoni, 1879, fasc. 8, pos. 189, fascicolo inserito, 6-7.
260
AES, Br., Rapporto n.53,55,56, 5 de julho de 1879, fasc. 8, pos. 189, f. 31r.
548 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
261
AES, Br., Sessão 475 da Sacra Congregação dos Negócios Eclesiásticos
Extraordinários, 10 de julho de 1879, fasc. 8, pos. 189, f.33r – 38r.
262
AES, Br., Despacho 36055 a D. Pedro Maria Lacerda, 28 de julho de 1879, fasc.
8, pos. 189, f. 39v-40v.
263
AES, Br., Despacho 36062 a Mons. Angelo Di Pietro, 1 de agosto de 1879, fasc.
8, pos. 189, f. 45r-45v.
CAP. V: O DISTANCIAMENTO ENTRE A IGREJA E O IMPÉRIO 549
—————————–
264
A primeira instrução foi mandada ao bispo do Rio aos 28 de julho de 1879, depois
ao Internúncio que estava sendo mandado a mesma capital, Mons. Angelo Di Pietro, no
dia 1 de agosto, e, somente em 6 de agosto ao Mons. Matera [ndr.].
265
AES, Br., Despacho 356533 a Mons. Luigi Matera, 6 de agosto de 1879, fasc. 8,
pos. 189, f. 47v-48v
266
AES, Br., Officio, 24 de janeiro de 1880, Fasc. 8, pos. 189, f. 50r-50v.
550 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
267
Outra referência a este fato se encontra em um ofício enviado por Mons. Di Pietro
em 9 de fevereiro de 1880, onde ele informava que os jornais estavam divulgando
telegramas, correspondências e artigos de periódicos estrangeiros que diziam que o
Secretário de Estado tinha dado ordens para que o Internúncio chamasse fortemente a
atenção do Governo sobre o estado da Igreja brasileira e, não obtendo resultado
imediato, rompesse relações e voltasse a Roma. Dizia também que após a entrega das
credenciais ao Imperador, tais artigos não foram mais publicados. Porém, ele ainda foi
interrogado sobre tal tema pelo Ministro dos Estrangeiros. Mons. Di Pietro assim narrou
o fato: «Fattasi da lui (o Ministro) allusione ai telegrammi suddetti, mostrai di non
prendere sul serio una cosa, che appariva evidentemente inverosimile. Quindi volendo
tastare il terreno e volgendo a mio vantaggio l’allusione, gli disse “la Santa Sede é ben
lungi dal credere che non possa giungersi ad un accordo col Governo intorno alle cose
religiose dell’Impero: tutto sta a prendere la via diritta”. E noi la prenderemo, mi
rispose il Ministro» [AES, Br., Ofício, 9 de fevereiro de 1880, fasc. 9, pos. 191, f. 4r-
5v].
268
AES, Br., Officio, 24 de janeiro de 1880, fasc. 8, pos. 189, f. 50r-51v.
CAP. V: O DISTANCIAMENTO ENTRE A IGREJA E O IMPÉRIO 551
acontecer até mesmo com ele. Defendeu que a maçonaria era a mesma em
todos os lugares e que era condenada pela Igreja269.
Mons. Di Pietro, em 8 de abril, enviou a Santa Sé seu parecer sobre a
situação. Comunicou que, mesmo com a mudança Ministério, entrando
Saraiva no lugar de Sinimbù, eram os liberais que governavam. Nestas
condições, muito provavelmente o Governo, diretamente ou indiretamente,
impediria a conferência. No entanto, na opinião do Internúncio, existia
ainda um agravante, a pré-disposição contrária do episcopado:
La giudicano per ora inopportuna, obbedirebbero sì ad un comando, ma senza
alacrità, con freddezza, e con poca o niuna fiducia di buon risultato. Colle
quali disposizioni d’animo sarebbe pure a temersi che cedessero e
indietreggiassero facilmente al primo ostacolo per dire poi: vedete, noi lo
dicevamo, non era opportuno, la S. Sede non è bene informata (solito ed
ingiusto lagno in queste contrade) delle cose d’America. Che se di più la stessa
persona dovesse ordinare in nome della S. Sede la riunione e quindi sostenere
le conseguenze in qualunque eventualità, s’intende di leggeri, in quanto
pericolosa condizione si collocherebbe verso il Governo e l’Episcopato,
qualora ambedue, quantunque con mire diverse, seguissero a mostrarsele non
favorevoli270.
Justificava o desencorajamento dos bispos pela deplorável conduta de
parte do clero, sendo que muitos padres poderiam estar inscritos nas seitas
secretas, e pelo poder financeiro das irmandades, que mesmo se perdessem
a permissão eclesiástica, continuariam a ser associações civis reconhecidas
pelo Estado, com posse da sua riqueza e controlando a sua Igreja. O pior,
segundo ele, era que haviam alguns padres «corruptos» prontos a oficiar
naquelas Igrejas desafiando a autoridade dos bispos, protegidos pela
autoridade do Estado. Mons. Di Pietro propôs então: 1º. Não abandonar a
idéia da conferência dos bispos, mas ter paciência; 2º. Tentar entrar em um
acordo com o Governo em pontos precisos que possibilitassem uma
melhoria gradual, e para isso, estar sempre atento em aproveitar as
oportunidades para conseguir tais acordos; 3º. Com tal objetivo seria
necessário incentivar o episcopado a promover a execução das instruções, o
zelo deles na formação de um novo clero nos Seminários, no qual os
mesmos «vanno già mostrando molto impegno»271.
Em julho de 1880, o Internúncio começou a perceber algumas mudanças
positivas. A publicação de dois decretos aprovando a existência legal de
—————————–
269
AES, Br., Officio, 13 de fevereiro de 1880, fasc. 9, pos. 192, f. 8r-9v.
270
AES, Br., Officio, 8 de abril de 1880, fasc. 8, pos. 189, f. 53v-54r.
271
AES, Br., Officio, 8 de abril de 1880, fasc. 8, pos. 189, f. 52r-56v.
552 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
272
AES, Br., Officio, 31 de junho de 1880, fasc. 9, pos. 198, f. 26v-27r.
273
AES, Br., Officio, 20 de janeiro de 1881, fasc. 10, pos. 200, f. 18v. Nas
negociações de Mons. Matera com o Ministro do Exterior em 1877, este informou ao
Encarregado que alguns prelados já vinham colocando tal artigo nos estatutos a serem
aprovados pelo Governo, que os vinha aprovando, mas não especificou quais foram
estes prelados [ndr.].
CAP. V: O DISTANCIAMENTO ENTRE A IGREJA E O IMPÉRIO 553
—————————–
277
N. PEREIRA, Conflitos entre a Igreja e o Estrado no Brasil, 29
278
N. PEREIRA, Conflitos entre a Igreja e o Estrado no Brasil, 30
279
C. M. ALMEIDA, Direito Civil Eclesiástico Brasileiro, I, parte I, 389.
280
C. M. ALMEIDA, Direito Civil Eclesiástico Brasileiro, I, parte I, 421.
CAP. V: O DISTANCIAMENTO ENTRE A IGREJA E O IMPÉRIO 555
—————————–
281
Anais do Parlamento Brasileiro, Sessão em 7 de junho de 1875, II, Apêndice,
229.
282
V. M. G. DE OLIVEIRA, Resposta do Bispo de Olinda ao Aviso de 12 de junho de
1873, 36-37.
283
A. MACEDO COSTA, Direito contra Direito, 87-88.238.
556 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
284
O. F. LUSTOSA, Igreja e Política no Brasil, 10; D. R. VIEIRA, O processo de
Reforma e Reorganização da Igreja no Brasil, 278.
285
O. F. LUSTOSA, Igreja e Política no Brasil, 26-28.
286
O. F. LUSTOSA, Igreja e Política no Brasil, 31-36.
CAP. V: O DISTANCIAMENTO ENTRE A IGREJA E O IMPÉRIO 557
—————————–
287
O. F. LUSTOSA, Igreja e Política no Brasil, 36-40.
288
J. S. SOUZA, Ensaio de Programa para o Partido Católico, 1-4.95-96.
289
O. F. LUSTOSA, Igreja e Política no Brasil, 10-11; D. R. VIEIRA, O processo de
Reforma e Reorganização da Igreja no Brasil, 301-302.
290
AES, Br, Officio, fasc. 15, pos. 236, f. 16r-16v.
291
ASV, NAB, Analise do Pe. João Esberard a cerca do projeto de liberdade de
culto no Império, Cx. 68, fasc. 330, doc. 30, f. 83r; AES, Br, Sulla Libertà dei Culti, 12
de novembro de 1889, fasc. 23, pos. 296, f. 38r-41v.
558 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
292
ASV, NAB, Analise do Pe. João Esberard a cerca do projeto de liberdade de
culto no Império, Cx. 68, fasc. 330, doc. 30, f. 83r; AES, Br, Sulla Libertà dei Culti, 12
de novembro de 1889, fasc. 23, pos. 296, f. 38r-41v.
293
A. MACEDO COSTA, Direito Contra Direito, 185
294
V. M. G. DE OLIVEIRA, Carta Pastoral anunciando o termino da reclusão e a sua
próxima viagem ad limina Apostolorum, 7-8.
295
AES, Br, Ofícios avisando a eminente proclamação da Republica: 11 e 12 de
junho de 1889, fasc. 23, pos. 296, f. 26r-28r; 19 de julho de 1889, fasc. 23, pos. 296, f.
33r-34r.
CAP. V: O DISTANCIAMENTO ENTRE A IGREJA E O IMPÉRIO 559
—————————–
302
Decretos do Governo Provisório da República dos Estados Unidos do Brasil,
1890, I, p. 10.
303
F. MACEDO COSTA, Lutas e Vitórias, 82-83.
CONCLUSÃO
DOC. 14: Voto (escrito a lápis) – Sessione n. 409 della Congregazione degli
Affari Ecclesiastici Straordinari (6-12-1873)
DOC.15: Exorta in ista ditione (29-4-1876)
DOC. 16: Relatório do Bispo de Goiás sobre a sua Diocese (4-9-1881).
APÊNDICES 569
Fonte: ASV, NAB, Índice Geral dos Núncios desde 1808 a 1920.
570 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
1
R. TRINDADE, A Arquidiocese de Mariana, I, 182-183.
572 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
impulerunt, ut tam praefatos reges quam dicti ordinis milites mira liberalitate
prosequerentur.
§2. Sane tempore Dionysii Portugalliae et Algarbiorum regis anno scilicet
millesimo tercentesimo decimo nono cum faeda Saracenorum natio christiano
nomini inimica, hac illac discurrens innumera mala Christifidelibus inferret,
agros eorum vastaret, civitates et oppida incenderet, castra multa teneret, captivos
abduceret ex ipsius Dionysii eiusque sucessorum regum et militum dictae
militiae studio religionis ac virtute factum est, ut caesis fusisque eorum
exercitibus abire ipsi e christianorum locis quae occupaverant et intra fines suos
se recipere coacti fuerint, atque ita pax et securitas Christifidelibus fuerit
restituta. Haec, quae principio a dictis regibus, et militibus tanto cum
emolumento christianae religionis gesta fuerunt, praeclariora, ac utiliora deinceps
consecuta sunt. Nam Joannes Primus in Africam cum exercitu eiusdem militiae
ordinis Iesus Christi trajiciens anno millesimo quadringentesimo decimo sexto
septem civitatem, et multa alia loca e Saracenorum manibus eripuit, deinde
Henricus, Portugalliae infans, vestigiis ingrediens patris sui Joannis, et ab ineunte
aetate, zelo incensus salutis animarum fideique propagandae Saracenos ipsos
multis praeliis vicit, debellavitque eosque intra proprios fines persequutus a suis
locis sedibusque dejecit ac pene exterminavit, sacrilegis eorum fanis ac delubris
solo aequatis, templa vero Deo excitavit, fidemque Catholicam in eorum regiones
inducendam curavit. Neque hic finem fecit rerum pro religione gestarum, sed ad
majora exardescens, quod antea nemo hominum ausus fuerat, ad Oceani maris
meridionales, et occidentales plagas navigare ipse primum aggressus est, in qua
navigatione multis annis versatus nullis nec fractus laboribus, nec territus
periculis, oras, portus, insulas quamplures perlustravit, populos infideles subegit,
qui subinde sacra mysteria cura ejus edocti, et salutari abluti lavacro Catholicam
religionem professi sunt. Postremo pari virtute, et felicitate usus ad Guineam
contendens, eamdem totam a capite de Bojador ad caput usque de Nave
Portugalliae dominationi subegit, magno sane cum religionis christianae
incremento, quae apud illam gentem ipsius studio, et zelo disseminata fuit, ita ut
multi numero Guinei idolis relictis aut feda Mahumeti superstitione ejurata.
Christo nomen dederint.
§3. Quae omnia probe attendentes Romani pontifices eorum temporum,
perpendentesque munus esse apostolatus sui in curam Catholicae veritatis
dilatandae potissimum incumbere catholicis regibus qui vel in conterendis fidei
hostibus, vel in christianis ab infidelium captivitate vindicandis, aut infidelibus
ipsis ad evangelii veritatem adducendis operam, opesque suas impendebant, viam
a se muniendam et congrua auxilia, quibus tam utile ac Deo acceptum opus
prosequi possent addenda duxerunt; piisque tam dictorum Joannis et Henrici,
quam subsequentium Portugalliae regum qui eos imitati pari virtute, et studio
bene de religione merebantur coeptis et conatibus omni ope gratiisque
singularibus adfuerunt. Illos itaque quantum in ipsis fuit temporalibus primum
communiri praesidiis eorumque vires, quas tantis sumptibus, tantisque bellis cum
APÊNDICES 573
suppliciter petiit quarum vi majestas sua Petrus primus tamquam militiae ordinis
Iesu Christi magister omnibus potiri iuribus et privilegiis in Brasiliensibus
regionibus, possit ac valeat quae ad Portugalliae reges ex superius laudatis litteris
apostolicis ut predictorum ordinum sancti Jacobi a Spata, sancti Benedicti ab
Avis, et Iesu Christi magnos magistros pertinebant ipseque imperator in universo
Brasiliensi imperio magnum magisterium obtineat, et dictorum ordinum magister
sit, ac insuper qui in imperio eum substiturus erit, quique substituri erunt in
posterum, ii quoque eiusdem ordinis Iesu Christi Magisterii praerogativas, et iura
semper sint habituri, salvis tamem manentibus iuribus, privilegiisque omnibus
quae Romani pontifices praedecessores Nostri Portugalliae, et Algarbiroum
regibus tamquam ordinis dictae militiae magistris concesserant, intra fines earum
regionum exercendis, quae iisdem regibus subditae sunt.
§8. Nos igitur attendentes quanto dictus imperator, maiorum suorum sequens
exempla, flagret studio non solum conservandae Religionis, sed etiam
propagandae utpote qui idolatras et gentiles qui adhuc magno numero in ea
Regione reliqui sunt, ad Catholicam fidem omni ope adducendos curet
plurimumque confisi fore ut in eo consilio eademque erga hanc apostolicam
Sedem sit devotione perseveraturus supplicationes ipsius peculiari quadam
benevolentia amplectentes, praesentibus perpetuo valituris literis Petrum primum
et pro tempore existentem Brasiliensis regionis imperatorem magnum,
praedictorum ordinum simul unitorum, seu militiae ordinis Iesu Christi
magistrum declaramus, ita ut tam ipse Petrus quam qui in posterum Brasiliense
imperium obtinebunt; tamquam magistri et perpetui eiusdem ordinis
administratores eadem omnia privilegia, iuraque habeant, quae in ea regione
reges Portugalliae tanquam dicti ordinis magistri auctoritate praedecessorum
Nostrorum obtinebant, eaque excercere libere possint et valeant super ecclesiis et
beneficiis ad praedictum ordinem pertinentibus, super quibus praefati reges illa
exercere legitime poterant.
§9. Qua propter et ius praesentandi et nominandi ad episcopatus, et ad caetera
beneficia et praeceptores ad praecepetorias deputandi, et commendatores ad
commendas, et moderatores ad congragationes ordinis dirigendos ministros,
etiam ad rectam redituum procurationem atque erogationem haec aliaque quae
magno militiae ordinis Iesu Christi magistro reliqua fuerunt post editas a Leone
decimo bullas incipientes – Dum fidei constantiam et Pro excellenti – quaeque
post bullam unionis, per quam tres ordines in unum coaluerunt a Iulio tertio
latam incipientem – Praeclara charissimi – in reges Portugalliae transierunt; si
quae aut aliquando horum aut privilegiorum ipsis regibus in dicta Brasiliensi
regione exercita fuere, eadem omnia spectare ad imperatorem Petrum primum
eiusque in imperio successores ab iisdemque exerceri tanquam magnis ordinis
Iesus Christi magistris et perpetuis administratoribus posset declaramus.
§10. Quia vero fieri potest, ut aliqua beneficia, aut ecclesiae in regno
Portugalliae existentes, et ad ordinem Iesu Christi pertinentes ex reditibus dotatae
sint, aut fundis in imperio Brasiliensi existentibus, ne quid prejudicii eisdem per
576 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
Loco † Plumbi2.
—————————–
2
Bullarii Romani, XVII, 56-60
APÊNDICES 577
e Proexellenti – depois pela bula de União de Júlio III, que principia – Praeclara
charissimi – e reunidas em uma passaram para os reis de Portugal; e se estes
direitos ou privilégios foram alguma vez exercidos pelos mesmos reis da região
brasílica, declaramos que todos eles ficam pertencendo ao Imperador Dom Pedro
I, e aos seus sucessores no Império, e podem se exercidos por eles como grãos
mestres da Ordem de Cristo.
Como porém, pode acontecer, que alguns benefícios ou igrejas existentes no
reino de Portugal e pertencentes à Ordem de Cristo, possuam rendimentos ou
fundos do Império do Brasil, para que nenhum prejuízo lhes resulte destas
Nossas presentes Letras, queremos e sancionamos que feita a justa compensação
dos fundos ou rendimentos existentes, o Imperador do Brasil proveja a
indenização das mesmas igrejas e benefícios.
E por quanto muito convém para o bem da Igreja que os benefícios e
dignidades, principalmente com cura d’almas não sejam confiadas senão a
pessoas notáveis pela sua piedade, doutrina e zelo das almas, ao mesmo
Imperador em cuja Religião e piedade confiamos, e aos seus sucessores no
Império, concedemos os referidos direitos, para que, no exercício deles,
sobretudo tratando-se da apresentação dos bispos e párocos, tenham diante dos
olhos as sacratíssimas ordenações da Igreja, e principalmente, aquelas que são
prescritas pelo Sagrado Concílio de Trento, na sessão vigésima quarta, as quais,
pelas presentes, não entendemos derrogar, antes mandamos que se observem
inviolavelmente.
Decretamos que as presentes Letras e o seu conteúdo, sejam sempre válidas e
eficazes, e surtam os seus plenários e inteiros efeitos; e aqueles que tiverem ou
pretendam ter interesse, bem que não tenham sido chamados e ouvidos nem
hajam consentido nas premissas, não possam jamais impugná-las ou tachá-las de
vício de sub-repção ou abrepção ou nulidade ou de intenção Nossa, ou de
qualquer outro defeito substancial, nem convertê-las; e que por todos a quem
pertencer sejam inviolavelmente observadas, não obstante de jure quaesito non
tollendo, e outras Nossas regras Apostólicas e de Chancelaria, ou editos especiais
ou gerais, constituições e ordenações Apostólicas e outras quaisquer disposições
em contrário.
Queremos outrossim, que aos transuntos destas Nossas Letras, bem que
impressos, estando assinados por algum tabelião, e selados por pessoa constituída
em Dignidade Eclesiástica, se lhes dê em toda a parte, a mesma inteira fé que às
Presentes se daria, fossem exibidas ou mostradas.
Portanto, a nenhum homem seja lícito infringir ou temerariamente contrariar
esta Nossa Carta de concessão, declaração, indulto, faculdade, mandado e
vontade. Se alguém presumir fazê-lo, saiba que incorrerá na indignação de Deus
onipotente, e na dos Bem-aventurados Apóstolos Pedro e Paulo.
582 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
—————————–
3
C. M. ALMEIDA, Direito Civil Eclesiástico Brasileiro, I, parte 2, 459-465.
4
Coleção das Leis do Império do Brasil, 1828, parte 1, 45-46.
APÊNDICES 583
- A entrega de bens de órfãs a seus maridos, quando casarem sem licença dos
mesmos juízes;
- A dispensa para os tutores obrigarem seus próprios bens à fiança das tutelas,
para que forem nomeados, ainda que os bens estejam fora do distrito, onde
contraírem a obrigação.
§ 5.º Aos juízes dos órfãos ficam também pertencendo as habilitações dos
herdeiros dos bens dos defuntos e ausentes, que dantes se faziam pelo Juízo de
Índia e Mina, com o recurso ex-ofício para a Mesa de Consciência e Ordens.
§ 6.º Às relações provinciais compete:
- Decidir os conflitos de jurisdição entre as autoridades, nos termos da lei de
20 de outubro de 1823;
- Julgar as questões de jurisdição que houverem com os Prelados e outras
autoridades eclesiásticas, de que até agora conhecia o extinto Tribunal do
Desembargo do Paço, ouvindo o procurador da Coroa e soberania nacional, e
observada a forma estabelecida para os recursos ao Juízo da Coroa, no decreto de
17 de maio de 1821, mandando observar pela lei de 20 de outubro de 1823.
- Prorrogar o tempo das cartas de seguro e das fianças, havendo impedimento
invencível, que inabilitasse os réus a se livrarem dentro dele.
- Conhecer os recursos dos juízes de ausentes, que até agora se interpunham
para a Mesa da Consciência.
- Prorrogar por seis meses o tempo do inventário, havendo impedimento
invencível, pelo qual se não pudesse fazer o termo da lei.
§ 7.º Aos presidentes das relações compete conceder licença para que advogue
homem, que não é formado, nos lugares onde houver falta de bacharéis
formados, que exerçam este ofício, precedendo para isso exame na sua presença.
§ 8.º Ao tesouro e às juntas de fazenda pertence:
- Tomar contas aos oficiais dos juízes ausentes;
- Impor as pensões, que os párocos devem pagar para a capela imperial.
§ 9.º Ao Supremo Tribunal de Justiça pertence:
- Conhecer dos recursos e mais objetos pertencentes ao ofício de Chanceler,
em que intervinha a Mesa do Desembargo do Paço, à exceção das glosas postas
às cartas, provisões e sentenças, que ficam abolidas.
- Os papeis que o Chanceler-mor não pode passar pela Chancelaria, conforme
a Ord. Liv. 1.º, tem. 2º, § 21, serão agora passados pelo Ministro mais antigo do
Supremo Tribunal.
§ 10. Além dos objetos da economia municipal, que até agora se expediam
pelo Tribunal do Desembargo do Paço, e das escusas aos oficiais da governança
nos casos de impedimento legítimo e permanente, que ficam a cargo das
câmaras, pertencerá mais a estas, precedendo as informações necessárias, e
dependendo da confirmação do conselho de governo da província:
- O aforamento dos bens do Conselho;
- Conceder ou aumentar partidos de médicos, cirurgiões, boticários e
contrastes pelos rendimentos do mesmo Conselho;
APÊNDICES 585
—————————–
5
Coleção das Leis do Império do Brasil, 1828, parte 1, 47-51.
586 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
tratam os arts. 14, e 15; e o terceiro para se lançar à receita dos Coletores, e se
cortarem dele as quitações, que hão de dar aos coletores da maneira que se segue:
Art. 17. O livro da receita será formado de cadernos de talões, contendo de
dez, até trinta folhas cada um destes; e cada uma das folhas conterá, pelo menos,
dois recibos, lançados na forma do modelo n.º 5.
Art. 18. Na ocasião do pagamento dos dízimos o Escrivão respectivo encherá
os claros dos dois recibos da mesma folha, e depois de os fazer assinar pelo
Coletor, e pelo contribuinte, cortará o que fica da parte externa, e o entregará ao
mesmo contribuinte, ficando o da parte interna pegado ao livro.
Art. 19. No caso de haver algum erro no encher dos claros, e de ficar anulada
alguma folha dos recibos, o Escrivão não cortará dela algum, e continuará a
escrever na seguinte.
Art. 20. Os cadernos serão mandados fazer, e imprimir pelas Tesourarias das
províncias, e distribuídos pelos Coletores, depois de abertos, rubricados e
numerados na forma disposta no art. 28 do Regulamento de 14 de Janeiro deste
ano, pagando os mesmo Coletores as despesas deles.
Art. 21. O que fica disposto nos arts. 17, e seguintes a respeito da escrituração
da receita dos dízimos, se observará na escrituração da receita dos outros
impostos, em que puder ter aplicação; ficando em tal ficando em tal caso sem
efeito o que de outra maneira se ordena nos regulamentos respectivos.
Rio de Janeiro em 31 de Março de 1832
Bernardo Pereira de Vasconcelos6.
—————————–
6
Coleção das Decisões do Governo do Império do Brasil, 1832, 140-143.
APÊNDICES 589
Art. 13. Cabe nos limites da jurisdição dos Juízes de Direito, o respeito do
cumprimento das sentenças mencionadas, declarar na forma delas, sem algum
efeito as censuras, e penas eclesiásticas que tiverem sido impostas aos
recorrentes providos pelas Relações; proibindo e obstando a que a pretexto delas
se lhes faça qualquer violência, ou cause prejuízo pessoal, ou real; metendo-os de
posse de quaisquer direitos e prerrogativas, ou reditos, de que houvessem sido
privados; e procedendo e responsabilizando na forma da lei os desobedientes, e
que recusarem a execução.
Art. 14. No caso de serem precisas as providências do Juiz de Direito, na
forma do artigo antecedente, além das intimações que se fizerem aos Juízes e
Autoridades Eclesiásticas, se anunciará todos os editais nos lugares públicos da
comarca.
Bernardo Pereira de Vasconcelos, do Conselho de Sua Majestade Imperial,
Ministro e Secretário de Estado dos Negócios da Justiça, assim o tenha
entendido, e faça executar com despachos necessários.
Palácio do Rio de Janeiro, em 19 de fevereiro de 1838, 17.º da Independência
e do Império.
Pedro de Araújo Lima
Bernardo Pereira de Vasconcelos7.
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7
Coleção das Leis do Império do Brasil, 1838, I, parte 2, 100-102.
APÊNDICES 591
§ 4.º Para a prova oral o ponto será dado na véspera, com o intervalo de 24
horas; dando-se meia hora para a preleção. Para a prova escrita o ponto será
tirado na ocasião do ato, tendo o candidato três horas para escrever a dissertação.
§ 5.º Para o concurso de cadeiras de línguas serão tirados os pontos na ocasião
do ato, consistindo a prova escrita em tradução de textos de autores clássicos da
língua nacional na da cadeira que estiver em concurso, e em tradução desta
naquela; e mais em composição, na língua da cadeira, sobre um ponto de
gramática desta mesma língua. A oral consistirá na regência, em todas as suas
partes, de textos de autores clássicos de ambas as línguas.
§ 6.º O presidente da comissão marcará , conforme for o número dos
candidatos, os dias em que deverão ser dadas as provas, submetendo, porém,
previamente à aprovação do bispo a designação que houver feito.
§ 7.º Concluídas todas as provas, a comissão procederá à votação sobre o
merecimento de cada um dos candidatos, e em seguida sobre a ordem que os
deverá propor à nomeação do bispo.
§ 8. A proposta será acompanhada dos requerimentos, dos documentos, que os
candidatos apresentarem das provas escritas, e cópias das atas do concurso,
inclusive a da formação dos pontos da véspera, bem como de informações da
moralidade e serviço dos candidatos.
§ 9.º As regras antecedentes não são aplicáveis aos concursos para as cadeiras
de liturgia e canto gregoriano, para os quais os bispos prescreverão regras
especiais.
§ 10. O bispo dará as necessárias instruções sobre o modo de inscrição, os
prazos para os concursos, a organização dos pontos, formalidades do ato das
provas, e sobre o mais que convier.
§ 11. Os bispos poderão assistir a todos os atos de concurso.
Art. 5.º Se, aberto o concurso duas vezes, não aparecer candidatos às cátedras,
os bispos poderão nomear livremente quem as ocupe.
Do mesmo modo poderão admitir estrangeiros na regência das cadeiras,
mediante contrato; o qual, porém, será previamente submetido à aprovação do
governo.
Art. 6.º Se nenhum dos candidatos for aprovado em concurso, ou se nenhum
deles for nomeado pelo bispo, proceder-se-á a novo concurso.
Art. 7º Os bispos poderão demitir os professores que faltarem aos deveres do
magistério, ou praticarem atos em prejuízo do ensino e educação dos alunos, ou
em desprezo da religião e da moral.
Art. 8.º A disposição do artigo antecedente deixa sempre salva para o governo
a faculdade de declarar aos bispos não ser conveniente a continuação de qualquer
professor no magistério do seminário. E quando o governo assim o tenha
declarado, será logo suspenso o honorário do professor.
Art. 9.º Dada a demissão na conformidade do art. 7.º, ou feita a declaração em
conformidade do art. 8.º, proceder-se-á a novo concurso, para a respectiva
cadeira.
596 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
Art. 10. As licenças dos professores serão concedidas pelos bispos. Para que,
porém, estas licenças sejam acompanhadas da percepção do honorário, deverão
ser apresentadas aos presidentes das províncias, para que estes autorizem o
pagamento.
Art. 11. Fica assignado a cada uma das cadeiras o honorário de um conto de
réis. Quando, porém, a de liturgia for separada da de canto gregoriano, aquela
terá o honorário de 750$000, e esta de 250$000. Para o efeito das licenças, e em
geral de quaisquer faltas, dois terços do honorário serão considerados como
ordenado, e um terço como gratificação. Os honorários serão pagos à vista de
atestados de freqüência, passados pelos reitores dos seminários.
Art. 12 Os presidentes, para autorizarem os pagamentos dos honorários, nos
casos de licença, observarão as regras seguintes:
1.ª As licenças concedidas antes do efetivo exercício não gozarão de honorário
nenhum, ainda verificada a posse da cadeira.
2.ª As que forem concedidas por motivo de moléstia, poderão gozar do
ordenado, não passando de seis meses, e de metade do ordenado, se forem
prorrogadas até outros seis meses; o mesmo se observará se forem concedidas
primitivamente por um ano, ou mais.
3.ª Passado o ano, cessará de todo o ordenado, assim como cessará, se as
licenças forem concedidas por outro qualquer motivo, que não seja o de moléstia.
4.ª Se forem concedidas diversas licenças dentro do mesmo ano, serão todas
reunidas para o efeito de se contar o tempo na forma das regras antecedentes.
5.ª Em qualquer hipótese, cessará a gratificação.
Art. 13. No pagamento dos honorários se observarão as regras seguintes,
quanto às faltas dos professores:
1.ª As faltas que forem justificadas por motivo de serviço público gratuito, e
obrigatório por lei, não privarão do ordenado nem da gratificação.
2.ª As que forem justificadas por motivo de moléstia, farão perder somente a
gratificação.
3.ª As que não forem justificadas, além de dois dias em um mês, farão perder o
ordenado e a gratificação.
4.ª A perda do ordenado ou gratificação, na conformidade das regras 2.ª e 3.ª,
será dos vencimentos correspondentes ao dia ou dias, em que os professores
faltarem às lições, ou qualquer ato próprio do professorado.
Os reitores declararão nos atestados as circunstâncias das faltas.
Art. 14. A adoção dos compêndios, que os professores deverão seguir nas
preleções será de escolha dos bispos, os quais deverão comunicar ao governo os
que houverem adotado.
Art. 15. Os atuais professores, qualquer que seja o tempo de serviço que
tenham, ficam sujeitos as todas as disposições deste decreto.
Art. 16. As disposições deste decreto não compreendem as cadeiras daqueles
seminários que as mantêm com seus patrimônios próprios, ou que para elas
recebem auxílios das assembléias provinciais.
APÊNDICES 597
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10
Coleção das leis do Império do Brasil, 1863, XXVI, parte II, 103-107.
598 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
anos, a suplicas minhas, pelo seu Encarregado de Negócios em Paris, pediu para
o meu Bispado e Seminário os meus Irmãos Lazaritas: estes vieram e me parece
que não podia fazer mais assinalado favor a pobre Igreja Marianense. Não será
necessário o cuidado que se está tendo sobre a escolha dos Mestres, e sobre
concursos; porque é da atribuição dos Prelados maiores daquelas Corporações a
escolha dos Diretores e Mestres, mediante uma soma que o Governo dá aos
Bispos para repartir pelos Professores. Lembre-se o Governo que nenhum país
apresenta um episcopado e um Clero mais ilustrado e respeitável que a França,
pela regularidade de seus Seminários. Se queremos os fins lancemos mão dos
meios.
3 – Um terceiro objeto me faz tomar a confiança de dizer a V. Ex. porque se
há de privar a Igreja da liberdade que lhe deu seu Divino Fundador fazendo-a
inteiramente independente o seu Governo do Governo Secular? Porque se há de
embaraçar que um súdito do Supremo Chefe da Igreja acuda a Ele quando lhe for
necessário ou conveniente? Quando foi crime que um vassalo acudisse ao Chefe
do Império Civil? Que medo é este de Roma? Quando tanto se está escrevendo
pelos canonistas alemães e Franceses sobre a liberdade da Igreja, ainda nós
estamos medrosos das pretensões Romanas, palavra jansenista, com a qual se
pretende por abaixo peremptoriamente todas os argumentos a favor da Igreja de
Jesus Cristo? Será infeliz a Igreja do Império Austríaco pela sua Concordata com
a Santa Sé de 25 de Setembro de 1855? Será infeliz a República do Equador pela
sua de 17 de Abril de 1863? Ambos vão juntas e outra vez oferecidas à
consideração do Governo da Sua Majestade, a quem Deus ilustre e conserve por
dilatados anos.
Deus Guarde a V. Ex.
Mariana ao 8 de Setembro de 1863,
Antônio Bispo de Mariana11.
—————————–
11
AES, Fasc. 182, pos. 143, f. 114r-117v.
600 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
Se este argumento procedesse a respeito das regras dos Seminários, teria igual
força a respeito de todos os outros atos, constituições e leis diocesanas.
Um Bispo pode incontestavelmente em uma pastoral emitir princípios
contrários às leis e à ordem pública, pode-o; os Bispos não são infalíveis. Logo,
devem sujeitar as pastorais ao exame do Governo.
Um Bispo nas constituições e leis que promulga para seu clero e diocese, pode
ofender os direitos e honra da soberania e estabelecer cousas contrárias ao bem
do Estado; logo sujeitam-se ao exame do Governo as leis e constituições
diocesanas.
O mesmo Concílio Provincial, que não goza do privilégio da infalibilidade,
pode cair nos mesmos deploráveis desvios, quem o pode negar? Logo ficam
igualmente sujeitos os decretos do Concílio Provincial ao exame e aprovação do
Governo.
V. Ex.ª vê onde nos leva este princípio. Toda a independência da Igreja
desaparece como ilusão. Tudo cai debaixo do jugo, para nos servir de uma
valente expressão de Bossuet. Parece-me, pois, que o argumento de V. Ex.ª é
desses que provariam de mais, se chegassem a provar alguma coisa. Como, com
efeito, admitir em um ponto um direito que o bom senso proíbe, que se admita
em todos os outros de igual natureza?
Os Bispos podem introduzir abusos e práticas ofensivas às leis nas regras dos
seminários. V. Ex.ª se esforça por me fazer admitir que isto é possível. Sem
dúvida alguma é possível. Mas essa mera possibilidade, que até aqui, mercê de
Deus, não se tem realizado, que é muito provável não se realizará nunca, esta
mera possibilidade é porventura suficiente para autorizar a odiosa medida da
exibição dos estatutos? Não haveria para o Governo meios e facilidades de vir ao
conhecimento desses abusos flagrantes, logo que eles se introduzam nas regras
desses estabelecimentos? Regras que se traduzem na prática diária de uma casa
que pode ser por todos visitada; regras que são promulgadas e explicadas de
contínuo perante cinqüenta e mais alunos; regras que em muitos seminários, se
acham até impressas e nada têm de secretas; poderiam conter princípios opostos
às leis, aos direitos e à honra da soberania, sem que o Governo fosse logo disso
sabedor? Não tem o mesmo Governo, excelentes fiscais nos pais de família, que
estremecidos pela educação de seus filhos, seriam os primeiros a denunciar essas
doutrinas e disposições opostas às leis e à moral? Parece-me, pois, sem suficiente
fundamento as medidas vexatórias tomadas ultimamente pelo Governo. Ah!
Ex.mo Sr., ouso afiançá-lo a V. Ex.ª, não há de ser dos seminários que hão de
partir esses negros atentados contra as leis do país, e os direitos da soberania.
Fique V. Ex.ª descansado por este lado.
V. Ex.ª se vale do mesmo argumento para justificar as prescrições do Decreto
a cerca dos compêndios e a demissão dos professores. É possível que os
compêndios contenham doutrinas que estejam em formal oposição com as leis,
os direitos e a honra da soberania; é possível que o Bispo consinta em seu
seminário um professor relapso que ouse afrontar as regras da decência e do
APÊNDICES 607
dever, como se exprime V. Ex.ª; ora, dada esta hipótese, o direito de inspecionar
e examinar os compêndios, o direito de demitir do magistério os professores se
deduz como conseqüência necessária.
Perdoe-me V. Ex.ª, mas me parece que o que se deduz como conseqüência
necessária da hipótese figurada é que o Governo terá então o direito de fazer que
semelhantes abusos sejam reprimidos pelos meios legítimos. O Bispo tem
superior na hierarquia sagrada. Se apesar das representações justas ao Governo,
ele se obstinasse a fazer ensinar no seu seminário doutrinas peregrinas, princípios
contrários às leis e comprometedoras da ordem pública; se ele persiste em manter
a frente do noviciado sacerdotal um Lente que ousasse afrontar as regras da
decência e do dever; seria logo tudo isto levado ao conhecimento da Sé
Apostólica por intermédio do Metropolita ou do Concílio Provincial, e o Bispo
infiel seria reconduzido ao dever pelos meios canônicos. Tudo isto está, pois,
sabidamente prevenido. Assim, o Governo como protetor dos cânones cumpriria
o seu dever, provocando a reforma dos abusos na ordem espiritual pelos meios
supra-indicados, ficando ao mesmo tempo com o direito salvo de reprimir por si
mesmo os atentados e desordens contra as leis civis. Foi o que eu disse na
Memória.
Tudo está conciliado; o bom senso e a lógica estão igualmente satisfeitos.
Mas, que em vista só da possibilidade de tais abusos, possibilidade que
provavelmente, muito provavelmente, nunca se realizará, que em vista só dessa
mera possibilidade de casos tão extremos, tão repugnantes, tome desde já o
Governo uma medida que sujeita ao seu exame a doutrina dos compêndios e o
torna árbitro do ensino dos professores, doutrina e ensino que, como V. Ex.ª
mesmo confessa, são da exclusiva competência dos Bispos como sucessores dos
Apóstolos, eis o que excede à minha débil compreensão e que me parece que se
conciliará dificilmente com as idéias do mesmo Governo imperial.
Eis aqui, com efeito, o que eu leio em uma decisão do Conselho de Estado de
27 de abril de 1860, que V. Ex.ª mesmo teve a bondade de citar-me. É a
confirmação exata, ponto por ponto, do que acabo de dizer: “Em tais casos (fala
da perturbação da ordem e da introdução dos abusos nos seminários), o Governo
com a dignidade que lhe é própria, saberá chamar a atenção do Prelado. E, se
caso as circunstâncias se tornam graves, o Bispo na ordem eclesiástica tem
superior. E, em casos extremos, o Governo não está nunca inibido de prover
segundo as exigências da ordem pública, ou segundo a ordem particular dos
estabelecimentos constituídos; ordem particular esta que muitas vezes está ligada
com aquela. Mas porque, em princípio, não se pode negar este direito ao
Governo e porque tais casos extremos, que estão fora das regras comuns, podem
aparecer, não deve isto servir de fundamento para estabelecer-se uma legislação
que tem o efeito imediato de coactar a bem entendida autoridade dos Bispos e
com grande quebra de sua dignidade e o de alterar a disciplina eclesiástica
estabelecida pelo Concílio de Trento e recebida em todos os países católicos e
que faz parte de seu direito público sobre este objeto. Em França, onde a
608 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
impô-la. A questão não é saber se as medidas são ou não convenientes em si, mas
se o Governo é ou não competente para tomá-las, limitando os direitos dos
Bispos, como V. Ex.ª confessa que com efeito limitou, no que respeita ao
concurso. Do mesmo modo, não é o poder de demissão em si que humilha o
clero, mas esse poder posto nas mãos dos ministros de Sua Majestade, que assim
são constituídos árbitros do ensino dos seminários, podendo discricionariamente
demitir os lentes, quando as doutrinas destes lhes não agradarem.
Isto é o que fere não já só o pundonor do clero, e os direitos sagrados dos
Bispos, não, mas a liberdade de consciência, a liberdade do ensino católico, que
não pode ficar debaixo desta espada de Dâmocles, em um país em que se goza
das mais amplas garantias constitucionais.
Contente-se o Governo de apoiar francamente a ação do Episcopado, e o bom
ensino e a moralidade se manterão nos noviciados clericais, cessando por este
meio bem simples, muitos dos embaraços de que V. Ex.ª.
A este propósito, talvez eu pudesse mostrar-me um pouco magoado de ter V.
Ex.ª em um documento destinado à publicidade citado o meu ofício reservado de
data de 22 de julho de 1862. Mas, nem me vem isso ao pensamento; porque estou
certo que V. Ex.ª não teve o propósito de faltar à lei inviolável do segredo.
Somente para desvanecer qualquer falsa suposição, devo dizer que eu não pedi ao
Governo imperial que ele demitisse lente algum do meu seminário, mas só
propus que fosse um deles transferido de um seminário para outro, como o exigia
então o maior bem da Igreja, proposta que o Governo em sua sabedoria, creu não
dever dar resposta alguma. Felizmente hoje, graças à Providência, não tenho
quase outros embaraços senão os criados ultimamente pelo Decreto de 22 de
abril.
Quanto à queixa que ousei levar a Sua Majestade o Imperador, a cerca das
lacunas que deixou o mesmo Decreto no ensino dos seminários, felizmente
concorda V. Ex.ª ter ela algum fundamento, mas acrescenta que as condições
financeiras do país não consentem que o Governo faça por ora maior sacrifício
em favor dos seminários. Aguardaremos pois, Ex.mo Sr., tempos mais felizes,
animando-nos desde já a doce confiança que o Governo imperial, que tão
liberalmente tem provido à instrução das outras classes da sociedade, se dignará
fazer um esforço mais em prol dessa pobre classe sacerdotal, que tão desprezada
tem sido entre nós e não pode permanecer mais tempo neste estado de
abatimento, sem comprometer-se seriamente o futuro religioso e moral da nossa
terra. Senti em verdade que o Governo suprimisse cadeiras estabelecidas nos
seminários; senti mesmo que suprimisse a da de língua indígena no seminário do
Pará, pois se pedi em 1862 a supressão dessa cadeira foi só com o intuito de
substituí-la por uma de maior interesse e utilidade como julgava ser a de
matemáticas elementares, e não me lisonjeava com a esperança que se quisesse
fazer uma exceção, criando-se uma nova cadeira só em proveito do meu
seminário. Eis porque recorri ao expediente de sacrificar uma menos útil. Mas
agora, que não só se criou aquela, mas até suprimiu-se esta que o Governo
610 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
declarou então ser conveniente conservar, parece que ficou-me certo direito de
lamentar esta dupla falta, sem fazer contudo por isso recriminações ao Governo.
A dotação dos seminários, Ex.mo Sr., acabará com muitos destes embaraços e
dificuldades. É uma medida há um tempo econômica e do mais alto alcance para
a boa organização destes estabelecimentos. V. Ex.ª pensará nisto, estou certo.
Termino, Ex.mo Sr. Ministro. Julgo ter cumprido um dever de meu ministério
falando com respeitosa franqueza e liberdade ao Governo de meu país. Os
sentimentos que nutro para com ele são os da mais profunda dedicação e perfeita
lealdade. Jamais nos lábios de um Bispo se achará a palavra amarga do ódio ou
da revolta. Nos dias do perigo nós estaremos no nosso posto de honra, fiéis até o
fim ao culto da segunda majestade como ao da primeira.
Sempre obedeceremos aos poderes deste mundo, no que não for contrário à
nossa consciência. Daremos tanto mais fielmente a César o que é de César,
quando começaremos por dar a Deus o que é de Deus. São estes os meus
sentimentos. Por isso levamos humildes súplices e respeitosas reclamações ao pé
do Trono, todas as vezes que uma medida menos pensada do Governo vem pesar
dolorosamente sobre a nossa consciência, pondo-nos a triste alternativa ou de
faltar aos nossos deveres mais sagrados, ou de recusar-lhe nossa fiel cooperação.
Tal é a aflitiva situação em que o Decreto de 22 de abril último tem colocado o
Episcopado do Brasil. Esse decreto nos oprime, Sr. Ministro, sim, nos oprime,
porque reduz-nos à necessidade, não de resistir, mas de ficar inativos e opor a um
Governo a quem amamos, aquela sempre penosa, ainda que muitas vezes
necessária palavra dos Apóstolos: Non Possumus.
Deus guarde V. Ex.ª.
Dom Antônio de Macedo Costa
Paço Episcopal da cidade de Belém12.
stata dannosa al buono spirito che deve sempre regnare nel Seminario. Non
narreremo fatti sopra ogni dire penosissimi. Noi Vescovi conosciamo bene queste
cose, e sappiamo che alcune sono giunte pure alla conoscenza del Governo. In
Bene, Sire, il male deriva da questo. Il magistero esterno è il grande difetto della
organizzazione dei nostri Seminari. Non parliamo di quelli che hanno macchie
nella loro vita- gli stessi Sacerdoti, che sono onesti e che non hanno gravi difetti
poco o niente fanno a riguardo del fine del Seminario. Non basta questo, è
necessario di un’ammirabile dedicazione, di grande amore e pratica delle regole,
di zelo a tutta prova, dell’assistenza continua nel Seminario, ed in queste
condizioni non un uomo soltanto, né due, ma bensì molti, vivendo la vita del
Seminario, frammischiati cogli alunni, ed esercitando sopra di essi in ogni
incontro la salutare influenza della parola e dell’esempio.
Il magistero esterno giammai coopererà fruttuosamente nell’educazione della
gioventù che brama dedicarsi allo stato ecclesiastico. Maestri tali, quando molto,
faranno regolarmente la loro scuola, come buoni impiegati pubblici; ma in ciò
solamente limiteranno i loro sforzi. Con condizione di questa fatta, Sire, il
Seminario è impossibile. V.M. perdonerà questa nostra franchezza: ma tale è il
nostro convincimento profondo; e tradiremmo il nostro dovere, se non lo
manifestassimo chiaramente al Governo di V. M. Sino a tanto che durerà il
sistema del magistero esterno, avremo fantasmi di Seminari, veri Seminari, no
affatto. I Vescovi lotteranno sempre con difficoltà insuperabili. Come potranno
aver Seminari organizzati con un Rettore semplicemente incaricato di tutta
quanta la direzione ed ispezione dello stabilimento? Dato anche che possano i
medesimi Vescovi, a furia di sacrifici, porre dentro del Seminario due o tre buoni
Sacerdoti per la direzione, a che servirà questo, se l’influenza di essi sarà
controbilanciata, e molte volte contrariata da quella dei maestri? Non vi ha
Congregazione Religiosa, né Sacerdoti Secolari che accettino posizione tanto
falsa, e tanto precaria. Possiamo assicurare questo a V. M. che i Vescovi non
potranno procurarsi in Europa buoni Rettori e Direttori per i Seminari, se non a
condizione d’incaricarsi essi delle cattedre che fossero per restare vacanti; e che
non vedranno altro mezzo di riformare i Seminari, se non dando il Governo piena
libertà ai Vescovi per introdurre il miglioramento di cui trattiamo.
Sire, felicemente questa dipende da una misura facilissima. Basterebbe che il
Governo ordinasse con un Decreto che i 9 o 10.000$000 Contos (f. 4.500 o
5.000) che esso attualmente da per il Seminario, fossero direttamente posti a
disposizione dei Vescovi, a titolo di dotazione di questi pii Stabilimenti,
restandosi i medesimi Prelati nell’obbligo di render conto, o i Rettori per essi,
dimostrando annualmente come sia stato impiegato questo denaro.
I Vescovi, nella loro prudenza, dolcemente, e a misura che andassero ad esser
vacanti le cattedre, stabilirebbero maestri interni, e per conseguenze con onorari
minori, dal che ne risulterebbe che, col denaro somministrato attualmente dal
Governo, potrebbero ordinare un sistema di studi, tanto letterari, come filosofici
e teologici; cosa che non è possibile fare con l’organizzazione presente. Però che
APÊNDICES 613
illecti a pessimis viis suis pedem referant, et ad Matrem suam Ecclesiam, a qua
sejuncti vivunt, revertantur.
Itaque memores Nos Eius vice fungi qui non venit vocare iustos sed
peccatores, sequenda censemus vestigia Decessoris Nostri Leonis XII et idcirco
suspendimus ad integrum anni spatium, postquam hae Nostrae Litterae
innotuerint, reservationem censurarum in qua sectis illis nomen dantes
inciderunt, eosque absolvi ab iis censuris posse concedimus a quocumque
confessario, modo sit ex eorum numero, qui a locorum in quibus degunt
Ordinariis approbati sunt. Quod si neque hoc clementiae remedium sontes a
nefario coepto deterreat, et gravissimo suo crimine retrahat, volumus ut dicto
unius anni spatio elapso, illico reviviscat reservatio censurarum, quas Apostolica
Nostra auctoritate denuo confirmamus: diserte declarantes, neminem prorsus ex
harum societatum adeptis immunem esse ab istis poenis spiritualibus,
quocumque obtentu sive assertae suae bonae fidei, sive extrinsecae speciei
probitatis, quam eadem sectae praeferre videantur, ac propterea omnes omnino in
eodem versari aeternae salutis periculo, donec huiusmodi societatibus
adhaereant.
Praeterea vero plenam tibi potestatem facimus procedendi juxta canonicorum
legum severitatem in ea spiritualia sodalitia, quae per hanc impietatem indolem
suam tam foede vitiarunt, illaque prorsus dissolvendi, aliaque consociandi quae
naturae suae institutioni respondeant.
Utinam consideratio perversitatis societatum quibus se adscribere non sunt
veriti tot homines qui christiano nomine decorantur, memoria anathematum
quibus iterum iterumque ipsae confixae fuerunt ab Ecclesiae; notitiaque
clementiae huius Sanctae Sedis erga deceptos, ab hisce Litteris ad errantes
perlata, eos in viam salutis reducat, praevertat plurimarum animarum exitium,
omnemque a te amoliatur severitatis adhibendae necessitatem. Id Nos incensa a
Deo prece poscimus, id ominamur pastorali zelo tuo, id adprecamur deceptis
hisce omnibus filiis Nostris.
Et quoniam eadem vota ad alias quoque istius imperii Dioceses extendimus in
quibus eadem mala grassantur, cupimus hasce Litteras a te communicari cum
Venerabilibus Fratribus tuis, ut unusquisque eorum sibi populoque suo dicta
arbitretur quod tibi scribimus. Dum vero divinam obsecramus clmentiam ut
desiderio Nostro curisque obsecundet, coelestis auxilii supernorumque omnium
munerum auspicem ac simul praecipuae Nostrae benevolentiae pignus tibi,
Venerabilis Frater, universaeque Dioecesi tuae Benedictionem Apostolicam
peramanter impertimus.
Datum Romae apud S. Petrum 29 Maii 1873, Pontificatus Nostri anno
vicesimo octavo. Pius P. P. IX14.
—————————–
14
V. M. G. OLIVEIRA, Carta Pastoral do Bispo de Olinda publicando o Breve de Pio
IX de 29 de maio de 1873, 17-20.
616 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
Santa Sé para com os enganados, chegando por meio destas Letras aos ouvidos
das ovelhas tresmalhadas, reconduza-as ao caminho da salvação, evite a ruína de
tantas almas e vos poupe a necessidade de usar de rigor. É o que Nós, com
fervorosas preces, pedimos a Deus; é o que ardentemente desejamos ao vosso
zelo pastoral; é o que rogamos a todos esses nossos Filhos iludidos.
E, porque os mesmos votos estendemos a todas as demais Dioceses desse
Império, onde grassam os mesmos males, desejamos comuniqueis estas Letras
aos vossos Veneráveis Irmãos, a fim de que cada um deles entenda ser dito a si e
a seu povo tudo quando ora vos escrevemos. E ao mesmo tempo que rogamos à
Divina Clemência digne-se favorecer os nossos desejos e solicitudes, como
presságio do auxílio divino e de todos os dons celestes, e juntamente em penhor
de Nossa Benevolência, vos lançamos com toda efusão de nosso amor a vós,
Venerável Irmão, e a toda vossa Diocese, a Bênção Apostólica.
Dado em Roma, em São Pedro, aos 29 de maio de 1873, vigésimo sétimo ano
de Nosso Pontificado.
Pio PP. IX15
—————————–
15
V. M. G. OLIVEIRA, Carta Pastoral do Bispo de Olinda publicando o Breve de Pio
IX de 29 de maio de 1873, 8-13.
APÊNDICES 619
Dal fin qui detto si vede chiaramente, come il Rndo. Vescovo d’Olinda
eccedette nei limiti della sua giurisdizione, esigendo che la Confraternita
cancellasse dal numero dei suoi membri, quelli che fossero massoni.
Se, di fatto, il Vescovo non poteva alterare il compromesso, anche nella
parte spirituale, molto meno lo poteva in una parte esclusivamente dipendente dal
potere temporale, perché come dicemmo l’ammettersi, o l’escludersi i membri
dalla Confraternita, sono di competenza dell'autorità civile.
Il Rndo. Vescovo non poteva esigere l’espulsione dei massoni dal seno
della Confraternita, perché la qualità di massone, non era considerata nei
compromessi come un’incapacità per appartenervi.
Se una tale incapacità fosse esistita, non era di competenza del potere
ecclesiastico, ma solo dell’autorità civile il farla valere.
L’atto del Rndo. Vescovo oltre che fu illegale fu anche ingiusto, perché con
l’interdire le Confraternite, involse indistintamente innocenti e colpevoli, facendo
a centinaia di persone espiare le colpe di un solo. Di più è da notarsi, che quelli
che puniva trovansi nella morale impossibilita di ubbidire all’Ordine del
Vescovo, senza che in pari tempo facessero un atto illegale.
L’interdetto emesso dal Vescovo privando le Confraternite dell’esercizio
del Culto, venne a scioglierle di fatto. La ragione si è perché oltre all’essere
queste confraternite di natura mista, esse non possono sussistere senza parte
spirituale, poiché i fini dell'associazione, sono tutti fini pii.
Ora è chiaro che il potere spirituale non poteva da per se solo disciogliere
Confraternita alcuna.
Vi è di più, essendo l’Interdetto una pena ecclesiastica, non poteva, e non
doveva aver effetti temporali; ma l’Interdetto, privando le confraternite
dell’esercizio del culto, ordinando la chiusura delle chiese ecc. ecc. offendeva la
personalità civile del cittadino Brasiliano, istituendo una vera persecuzione per
motivo di religione, proibita dalla Costituzione dell’Impero.
Non vi ha dubbio l’essere del diritto del Vescovo, l’usare le pene
ecclesiastiche, impiegandole in cause di competenza della chiesa, ma quello che
non può si è il dare a queste pene effetti temporali che esse non possono avere16.
—————————–
16
AES, Br., Voto, anônimo e sem data, fasc. 185, pos. 156, f. 64r-66r
620 O ULTRAMONTANISMO NO BRASIL E O REGALISMO DO 2° IMPÉRIO
Carta Encíclica
Aos Veneráveis Irmãos Bispos do Império do Brasil
Pio IX, Papa
Veneráveis Irmão, Saúde e Benção Apostólica
As perturbações que nestes últimos anos apareceram nesse Império,
provocadas pelos sectários da maçonaria, que se haviam introduzido nas pias
irmandades cristãs, assim como vos arrastaram, Veneráveis Irmãos, a um grave
conflito, particularmente nas dioceses de Olinda e de Belém do Pará, assim
também, como sabeis, sobremodo Nos magoaram a afligiram o coração. Pois não
era possível víssemos sem dor aquela perniciosa e pestifera seita, corrompendo
as referidas irmandades, de modo que institutos criados para desenvolver o
verdadeiro espírito de fé e piedade, por esta funesta cizânia largamente neles
semeada, caíram em misera condição.
Por isso em desempenho de Nosso Cargo Apostólico e impelidos pelo amor
paternal que votamos a essa porção do rebanho do Senhor, entendemos que sem
demora era mister acudir com o remédio a esse mal, e assim por Nossas Letras de
29 de maio de 1873, dirigidas ao Venerável Irmão Bispo de Olinda, levantamos a
voz profligando tão deplorável perversão nas irmandades cristãs, usando todavia
de tal brandura e clemência para com os membros enganados e iludidos da seita
maçônica, que, por tempo conveniente, suspendemos a reserva das censuras em
que haviam incorrido, e isto afim de que, aproveitando-se eles de nossa
Benignidade, bestassem os seus erros, e abandonassem as condenadas reuniões
de que faziam parte. Demais ordenamos ao Nosso Venerável Irmão Bispos de
Olinda, que se, passado aquele prazo, se não houvessem eles arrependido,
suprimisse e declarasse supressas as referidas irmandades, e as restaurassem
inteiramente conforme ao fim primitivo de sua instituição, admitindo novos,
imunes de todos vírus maçônico.
Além disto tendo Nós, em desempenho de Nosso Cargo, procurado na Carta
Encíclica de 1º de novembro de 1873 dirigidas a todos os Bispos do orbe
católico, premunir todos os fieis contra as artes e insídias dos sectários,
claramente lembramos-lhes, por essa ocasião, as Constituições Pontifícias
publicadas contra as perversas sociedades dos sectários, e então declaramos que
por estas Constituições eram fulminadas não só as associações maçônicas
—————————–
17
A. MACEDO COSTA, A questão religiosa no Brasil perante a Santa Sé, Apêndices,
33-37.
APÊNDICES 623
Além de quanto temos até aqui tratado, somos ainda forçados a deplorar o
abuso de poder da parte daqueles que presidem as referidas irmandades, pois,
como chegou ao Nosso conhecimento, tomando eles tudo a sua conta, atrevem-se
a usurpar um direito indébito sobre as coisas e pessoas sagradas, e sobre o que é
de origem espiritual, de modo que os Sacerdotes e os próprios Párocos, no
exercício de suas funções, ficam totalmente sujeitos aos poder deles. Fato este
que não só se opões às leis eclesiásticas, senão à própria ordem constituída em
sal Igreja por Nosso Senhor Jesus Cristo; pois não foram os leigos postos por
Jesus Cristo para reitores das coisas eclesiásticas, mas devem por sua utilidade e
salvação estar sujeitos a seus legítimos Pastores, lembrando-se cada um,
conforme o seus estado, a coadjuvar o Clero sendo-lhe vedado ingerir-se
naquelas coisas que foram por Jesus Cristo confiados aos sagrados Pastores.
Assim, pois, NADA RECONHECEMOS MAIS NECESSÁRIOS DO QUE
REFORMAREM-SE DEVIDAMENTE OS ESTATUTOS DAS DITAS
IRMANDADES, e que tudo o que nelas há de irregular e incongruente nesta
parte se conforme convenientemente às leis da Igreja e à disciplina canônica.
Para atingir este fim, Veneráveis Irmãos, atendendo Nós as relações que
existem entre as mesmas irmandades e o poder civil relativamente à constituição
e administração delas na parte temporal, havemos oportunamente ordenado ao
Nosso Cardeal Secretário de Estado que se entenda com o governo imperial; e de
acordo com ele se esforce por conseguir os desejados efeitos. Confiamos que
sobre este assunto o poder civil há de unir cuidadosamente os seus esforços aos
Nossos, e com instancias suplicamos a Deus, de quem procedem todos os bens,
se digne promover e auxiliar com sua graça esta obra que interessa a paz da
Religião e da sociedade civil.
A fim de vermos realizados estes votos, juntais a vós também, Veneráveis
Irmãos, as vossas preces as Nossos. E em penhor de Nosso sincero amor recebei
a Benção Apostólica que a vós, ao Clero e fieis confiados a cada um de vós
afetuosamente vos outorgamos no Senhor. Dada em Roma, junto a S. Pedro aos
29 de abril de 1876, ano 30º de Nosso Pontificado.
Pio IX, Papa18.
—————————–
18
A. MACEDO COSTA, A questão religiosa no Brasil perante a Santa Sé, 295-305
APÊNDICES 625
—————————–
19
AES, Br., Carta do bispo de Goiás ao Internúncio, 4 de setembro de 1881, Fasc.
13, pos. 224, f. 3r-5r.
SIGLAS E ABREVIATURAS
1. Fontes Primárias
1.3.2. Manuscritos:
Apontamento biográficos sobre o Padre Manoel do Rego de Medeiros pelo Dr.
Antônio Manoel de Medeiros, N. I-31, 24, 14.
Coleção das Leis do Império do Brasil, 1830, parte I, Tip. Nacional, Rio de
Janeiro 1876.
Coleção das Leis do Império do Brasil, 1832, parte I, Tip. Nacional, Rio de
Janeiro 1874.
Coleção das Leis do Império do Brasil, 1834, parte I, Tip. Nacional, Rio de
Janeiro 1866.
Coleção das Leis do Império do Brasil, 1838, I, parte I, Tip. Nacional, Rio de
Janeiro 1838.
Coleção das Leis do Império do Brasil, 1838, I, parte II, Tip. Nacional, Rio de
Janeiro 1839.
Coleção das Leis do Império do Brasil, 1841, IV, parte I, Tip. Nacional, Rio de
Janeiro 1842.
Coleção das Leis do Império do Brasil, 1842, V, parte II, Tip. Nacional, Rio de
Janeiro 1843.
Coleção das Leis do Império do Brasil, 1843, VI, parte II, Tip. Nacional, Rio de
Janeiro 1868.
Coleção das Leis do Império do Brasil, 1846, VIII, parte I, Tip. Nacional, Rio de
Janeiro 1847.
Coleção das Leis do Império do Brasil, 1847, IX, parte I, Tip. Nacional, Rio de
Janeiro 1847.
Coleção das Leis do Império do Brasil, 1852, XV, parte II, Tip. Nacional, Rio de
Janeiro 1853.
Coleção das Leis do Império do Brasil, 1857, XVIII, parte I, Tip. Nacional, Rio
de Janeiro 1857.
Coleção das Leis do Império do Brasil, 1857, XX, parte II, Tip. Nacional, Rio de
Janeiro 1857.
Coleção das Leis do Império do Brasil, 1859, XX, parte I, Tip. Nacional, Rio de
Janeiro 1859.
Coleção das leis do Império do Brasil de 1860, II, Tipografia Nacional, Rio de
Janeiro 1860.
Coleção das Leis do Império do Brasil, 1861, XXIV, parte I, Tip. Nacional, Rio
de Janeiro 1862.
Coleção das Leis do Império do Brasil, 1863, XXVI, parte II, Tip. Nacional, Rio
de Janeiro, 1863.
Coleção das Leis do Império do Brasil, 1870, XXX, parte I, Tip. Nacional, Rio
de Janeiro 1870.
FONTES 635
Coleção das Leis do Império do Brasil, 1874, XXXVII, parte II, Tip. Nacional,
Rio de Janeiro 1875.
Coleção das Leis do Império do Brasil, 1875, XXIV, parte I e II, Tip. Nacional,
Rio de Janeiro 1876.
Coleção das Leis do Império do Brasil, 1881, XXVIII, parte I, Tip. Nacional, Rio
de Janeiro 1882.
Coleção das Leis do Império do Brasil, 1881, XLIV, parte II, Tip. Nacional, Rio
de Janeiro 1882.
Coleção das Leis do Império do Brasil, 1883, XLVI, parte II, Tip. Nacional, Rio
de Janeiro 1884.
Coleção das Decisões do Governo do Império do Brasil, 1824, Imprensa
Nacional 1886.
Coleção das Decisões do Governo do Império do Brasil, 1827, Tip. Nacional,
Rio de Janeiro 1878.
Coleção das Decisões do Governo do Império do Brasil, 1830, Tip. Nacional,
Rio de Janeiro 1876.
Coleção das Decisões do Governo do Império do Brasil, 1831, Tip. Nacional,
Rio de Janeiro 1876.
Coleção das Decisões do Governo do Império do Brasil, 1851, XIV, Tip.
Nacional, Rio de Janeiro 1852.
Coleção das Decisões do Governo do Império do Brasil, 1852, XV, Tip.
Nacional, Rio de Janeiro 1852.
Coleção das Decisões do Governo do Império do Brasil, 1853, XVI, Tip.
Nacional, Rio de Janeiro 1853.
Decretos do Governo Provisório da República dos Estados Unidos do Brasil, 1º
fascículo, Imprensa Nacional, Rio de Janeiro 1890 – Versão on line:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1851-1899/D119-A.htm,
[Accesso: 25.10.2009]
GRAHAM, MARIA, Diário de uma viagem ao Brasil e de uma estada neste país
durante parte dos anos de 1821,1822,1823, Companhia Editora
Nacional, São Paulo 1956.
JOÃO PAULO II, Discurso do Santo Padre aos bispos do Brasil, Fortaleza, 10 de
julho de 1980,
http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/speeches/1980/july/do
cuments/hf_jp-ii_spe_19800710_vescovi-fortaleza_po.html [Accesso:
3.11.1999].
LASAGNA, LUIGI, Epistolário, Libreria Ateneo Salesiano, Roma 1995.
LEÃO XIII, Immortale Dei – Carta Encíclica Da Constituição cristã dos Estados,
http://damienhighschool.org/holy_father/leo_xiii/encyclicals/documen
ts/hf_l-xiii_enc_01111885_immortale-dei_po.html,[accesso:
25.10.1009].
MACEDO COSTA, ANTÔNIO DE, Carta Pastoral do Ex.mo e Rev.mo Sr. Bispo do
Pará por ocasião da sua entrada na diocese, Tip. de Santos e irmãos,
Belém 1861.
________________________, A questão religiosa do Brasil perante a Santa Sé,
Lallemant Fréres, Lisboa 1886. importantes, Tipografia da Estrela do
Norte, Belém 1864.
________________________, Resposta de S. Ex. Revma. O Sr. Bispos do Pará
ao Exmo Sr. Ministro do Império a cerca da questão dos seminários,
Tip. da Estrela do Norte, Belém 1864.
________________________, A residência dos bispos, as suspensões extra-
judiciais e os recursos à Coroa. Questões canônicas do bispo do
Pará, Tip. da Estrela do Norte, Belém 1866.
________________________, Ofício de S. Ex.a Rev.ma, o Sr. Bispo do Pará, ao
Ex.mo Sr. Ministro do Império, indicando várias medidas, Tip. Estrela
do Norte, Belém 1866.
________________________, Notícias biográficas do finado Bispo de
Pernambuco D. Francisco Cardoso Ayres extraída de vários
documentos pelo Bispo do Pará, Tip. Poliglota da Propaganda, Roma
1870.
_________________________, Instrução pastoral sobre a maçonaria,
considerada sob o aspecto moral, religioso e social, Tip. Boa Nova,
Belém 1873.
_________________________, Instrução Pastoral sobre a maçonaria
considerada sob o aspecto moral religioso e social, Tip. da Boa Nova,
Belém 1873.
FONTES 639
CAMARGO: 22, 23, 26-28, 32, 33, 41, 221, 235, 236, 238, 270, 281,
61, 165, 185, 186, 234-236, 320
242-246 FELICIANI: 197
CAMELLO: 215, 216, 225, 229 FERREIRA: 98-100, 102, 148, 150,
CAMÕES: 12, 13 152
CAMPOS: 302-304 FIGUEIREDO: 36-41, 47, 54
CARDOZO: 21, 34-38, 42-47, 49, 54, E. G. FONTOURA: 185, 235-243, 245-
55, 57-59, 60, 74, 80, 86, 92 247, 428
CARMELO: 185-187, 242, 269, 270, U. A. FONTOURA: 512
500 FRANÇA: 302
CARNAXIDE: 34-36, 45, 47-49, FRIEIRO: 139, 140
CARNEIRO: 76, 352 GAETA: 293-296, 299
CARRATO: 34, 35, 53, 215 GALVÃO: 141
A. CARVALHO: 142 GAMA: 51
J. M. CARVALHO: 103-113, 138-143, GRAHAM: 61
145, 147, 155, 156, 193, 194
GRÈVE: 333
CASCUDO: 314
GUERRA: 500, 510
CASTELLANI: 106, 500
HASTENTEUFEL: 131, 132, 195, 301
CASTRO: 29, 35, 38, 40, 41, 43
DENZINGER: 336
DELLA CAVA: 203, 204, 208, 264
HOORNAERT: 209
COMBLIN: 204
HUCKELMANN: 276
CORREIA: 184
ISTVÁN: 354, 386, 391,392, 448, 464,
COSTA: 320 465, 468, 470, 473
COSTA E SILVA: 220, 221, 223, 224 JANCSÓ: 139
DIAS: 66-68 JAVARI: 141
DOMINGOS: 62 JOÃO PAULO II: 268, 269
DORNAS FILHO: 71, 73, 75, 92, 93 LASAGNA: 383
DUTRA NETO: 203, 204, 206, 207, LEÃO XIII: 254, 260, 262, 263, 264,
208, 212, 213 268, 285, 290, 335, 336, 463
ECKART: 54 LEITE: 36, 37, 45, 46, 199
ELLIS JUNIOR: 46 LEMOS: 250, 251, 253-263, 268, 276,
FEIJÓ: 7, 73, 77, 78, 83-86, 88, 91, 93, 288, 500, 509
109, 11, 120, 121, 192, 200,
ÍNDICE DOS AUTORES CITADOS 657
REIS: 278, 280, 283, 500, 508, 510, SILVA NETO: 163, 164, 1883, 225,
513, 514, 519 229
RIBEIRO: 204, 209 SILVEIRA: 270, 275, 277, 281, 283,
RIO BRANCO: 14, 106, 142, 308, 346, 291, 451, 506
501-504, 508, 517, 524, 526, SMITH: 203
528 SOMMARIVA: 274
ROCHA: 111 A. L. SOUSA: 209, 210
RODRIGUES: 64-69, 307, 308, 310 B. F. H. SOUZA: 191, 305, 306, 313,
RUBERT: 129-132, 137, 298, 299, 314
300, 301, 332 J. A. S. SOUZA: 177, 182, 184
RUY: 140 J. E. SOUZA: 327, 328
SAINT-HILAIRE: 127, 215 J. M. SOUZA: 293-295
SALDANHA MARINHO: 106, 202, J. S. SOUZA: 302-305, 314, 553, 557
232, 311, 315, 382, 436, 437,
456, 499, 500, 501, 503, 504, O. T. SOUZA: 112, 113, 116
509, 512, 530, 544, 549 VON SRBIK: 201
SANTIROCCHI: 212 TALASSI: 31
A. A. F. DOS SANTOS: 255, 263 F. M. TAVARES: 21, 66, 134
J. A. DOS SANTOS: 64, 65, 77, 78, 82, L. H. D. TAVARES: 139
83, 86-91
TOLLENARE: 129
L. A. DOS SANTOS: 203, 231, 247,
248, 250-253, 255, 264, 397, TORRES: 142, 153, 309
454, 559 J. S. TRINDADE: 5, 197, 213-220,
L. J. SANTOS: 140 226, 248
INTRODUÇÃO 5