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Aula Compartilhada

Odilon Francisco Gomide Amaral

A globalização dos mercados financeiros cresceu, em parte, pelas mesmas forças que
criaram a interdependência financeira (HART & SPERO, 2013, P. 42). Mesmo o Japão, que
mantinha um rígido controle regulatório doméstico e se era mais fechado do que qualquer outro país
desenvolvido, abriu gradualmente seus mercados. Depois do crescimento da década de 1980, o
boom especulativo, inflação de ativos e empréstimos excessivos por instituições financeiras
japonesas fizeram com que, no início dos anos 90, a bolha imobiliária estourasse e muitas empresas
japonesas protegidas pela regulamentação governamental -e prejudicadas por práticas corporativas
desatualizadas- não conseguissem se ajustar à concorrência global. Os preços dos imóveis e das
ações caíram e muitos setores da economia enfrentaram sérias perdas. As instituições financeiras
japonesas se viram com crescentes empréstimos improdutivos, e várias entraram em falência. O
governo não estava disposto ou não foi capaz de tomar medidas decisivas para lidar com o enorme
excesso de empréstimos podres (IDEM, p.43).
Uma série de grandes crises, na década de 1990 e nos anos 2000, sugeriu que a globalização
poderia ter seus limites, revelando sérios problemas estruturais em relação à segurança e solidez do
sistema financeiro global.
Na Europa, o voto dinamarquês, que rejeitou o Tratado de Maastricht, para determinar se o
país entraria na União Econômica Monetária da Europa, e as mudanças na política monetária alemã
pós-unificação (com pressões inflacionárias que levaram o banco central alemão a aumentar as
taxas de juros, que, por sua vez pressionaram os outros membros do Sistema Monetário Europeu a
aumentar também os juros para impedir uma saída de capital de curto prazo para a Alemanha)
levaram a uma rodada de especulações que afetavam as moedas européias e a uma série de crises
cambiais entre 1992 e1993. Tal fator ilustra os problemas de gerenciar um sistema de câmbio fixo
diante da incerteza política e da alta mobilidade internacional de capital. Mas o compromisso com a
união monetária européia permaneceu forte. A maioria dos estados membros via o processo como
um passo fundamental na integração européia (HART & SPERO, 2013, P. 54)
O pior estava por vir. Do outro lado do Atlântico, antes da crise de 1995, o México passou
por uma fase de acentuado ajustamento fiscal e atraiu um volume crescente de capitais externos,
importantes para o financiamento do déficit em transações correntes. O país parecia ter encontrado
a receita para o desenvolvimento econômico. A desregulamentação e privatização domésticas,
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combinadas com a liberalização do comércio e do investimento, levaram a um crescimento rápido e
a um fluxo maciço de investimentos estrangeiros diretos e de portfólio (HART & SPERO, 2013, P.
55). Mas o aquecimento da demanda doméstica em muitas das economias industrializadas, em
1993, e a deterioração do clima político mexicano durante as eleições presidenciais terminaram por
induzir à fuga de capitais do país. “Entre dezembro de 1994 e janeiro de 1995, em apenas 15 dias, o
peso mexicano desvalorizou-se cerca de 60%, o que acabou desencadeando uma onda de
desconfiança em todos os mercados financeiros dos países em desenvolvimento, o chamado ‘efeito
tequila’” (LENZ NETO, 2006, p. 12). O desemprego aumentou mais de 60% (EXAME, 2010).
Em 1997, foi a vez da Ásia. Uma das manifestações iniciais da crise foi a desvalorização do
Bath -a moeda nacional tailandesa-, em julho. Logo depois, caíram as de Malásia, Indonésia e
Filipinas, repercutindo também em Taiwan, Hong Kong e Coreia do Sul. A partir de então, a crise se
espalhou para diversos outros países da região, afetando também outros emergentes fora da Ásia.
Para os latino-americanos, os efeitos mais violentos do contágio foram sentidos quando a Coreia
desvalorizou a sua moeda, resultando em grande fuga de capitais. O FMI elaborou uma série de
pacotes de resgate para salvar as economias mais atingidas e promoveu várias reformas estruturais.
Entre as causas apontadas para a crise, figuraram: o aquecimento da demanda doméstica (com
crescentes déficits externos e na sobrevalorização do mercado acionário e imobiliário); taxas fixas
de câmbio, que retardaram e aprofundaram as consequências do ajustes necessários; um sistema
financeiro frágil; falta de transparência dos principais mercados recebedores de investimentos
externos, além das dificuldades políticas. A crise teve base no endividamento de curto prazo e nos
“vícios estruturais no sistema bancário, com destaque para a prática usual regional de contratação
de empréstimos sem garantias suficientes ou com base num clientelismo político” (LENZ NETO,
2006, p. 14-5). Mais uma vez, o reflexo nos indicadores de risco fez com que os investidores,
desconfiados, passassem a exigir maior rentabilidade, reduzindo o preço as ações nesses mercados.
Não longe dali, a Rússia enfrentava sérios problemas econômicos na transição do
comunismo para o capitalismo, desde 1989. Dez anos depois, a situação deficitária das finanças
nacionais fez com que se fortalecesse a percepção dos detentores da crescente dívida pública de que
o regime fiscal vigente não permitiria às autoridades honrar o passivo que se acumulava junto aos
investidores nacionais e externos. A crise de desconfiança por parte dos investidores levou os
mercados de câmbio e de ações a uma trajetória de esvaziamento. Em agosto, o rublo foi
desvalorizado, o Governo decretou moratória de três meses e determinou uma reestruturação
compulsória da dívida (interna e externa). Assim como antes, os acontecimentos refletiram-se em
inúmeros países emergentes. Não só o comportamento da dívida pública como, também, o índice da
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bolsa de valores e a taxa de câmbio desse país sinalizavam fragilidades na estrutura econômica
(LENZ NETO, 2006, p.17). O FMI concedeu vários créditos multimilionários para evitar a queda
livre do rublo e que os danos fossem irreparáveis no mercado internacional (EXAME, 2010).
Desde a crise do México, o Brasil já era apontado como uma provável “bola da vez”, por
causa do grande déficit em conta corrente: “[o] regime de câmbio fixo foi mantido durante vários
anos com base em taxas de juros elevadas e um nível de reservas confortável. Contudo, quando se
deflagrou a crise russa, a intensa saída de capitais reduziu rapidamente o que parecia ser um nível
de reservas confortável” (LENZ NETO, 2006, p.18). Nem mesmo um pacote de US$ 41 bilhões do
FMI foi suficiente para acalmar o mercado. A saída para o câmbio flutuante se deu no início de
1999. “O risco-país, um importante indicador de credibilidade dos investidores estrangeiros, que já
havia se estabelecido acima dos 1.000 pontos desde agosto de 1998, no auge da crise, em janeiro de
1999, chegou à cerca de 1.800 pontos” (IDEM, p. 19). O peso do teor especulativo do sistema foi
expresso em 2002, nas eleições presidenciais que levariam Lula (PT) ao poder, quando o índice
chegou em torno de 2.500 pontos. A bolsa (Bovespa) despencou 20% em apenas quatro dias, em
janeiro de 1999. As reservas internacionais também minguaram.
A Argentina sentiu o efeito Orloff (“eu sou você amanhã” - como dizia um comercial de
vodca do final do século XX). Dívida pública e inflação foram os principais fatores (e já o vinham
sendo, desde os anos 1980). Em 1991, o país atrelou sua moeda, o austral, ao dólar, como parte de
um esforço maior e mais bem-sucedido para reduzir a inflação. O austral foi substituído pelo peso
em 1992, mas a moeda permaneceu atrelada ao dólar. Com a desvalorização do real, em 1999, as
exportações do país se tornaram muito caras em relação às brasileiras. O declínio das vendas
externas argentinas restringiu a capacidade do país de obter moeda estrangeira para pagar a dívida
em dólar -que pareava a moeda argentina (LENZ NETO, 2006, p. 21). Para compensar, o governo
fez concessões às indústrias locais, desequilibrando ainda mais o orçamento. Resultado: moratória.
O desemprego cegou a 30%. O risco país ultrapassou a impressionante marca de 7.000 pontos em
2002. Mesmo meses antes de a crise eclodir, outros indicadores, como taxa de câmbio, nível de
reservas internacionais, dívida pública e o Índice Merval (da bolsa do país), já apresentavam um
comportamento suspeitamente atípico (LENZ NETO, 2006, p. 23).
Parênteses podem ser abertos, aqui, para destacar um aspecto importante e bem ilustrativo
dos efeitos dos novos cenários e variáveis marcantes da globalização financeira: a chamada crise
“ponto.com", em 2000, quando “excessos da nova economia deixaram um rastro de quebras,
fechamentos, compras e fusões no mundo da internet e das telecomunicações, e também um grande
buraco nas contas das empresas de capital de risco” (EXAME, 2010). Em três anos, quase cinco mil
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companhias sumiram do mapa, algumas de grande porte. O Federal Reserve respondeu com uma
redução de 0,5 ponto na taxa básica de juros.
Mas a crise que abalaria a maior potência do mundo (e o próprio mundo), trazendo de volta
o termo “Grande Depressão” ao vocabulário do dia-a-dia, foi detonada pela explosão de uma
enorme bolha imobiliária, que revelou que os bancos tinham estendido hipotecas lixo (subprime) a
pessoas sem condições de pagá-las, com a expectativa de que o preço dos imóveis seguisse subindo
(EXAME, 2010). Em 2007 e 2008, o colapso de um mercado massivo de títulos lastreados em
hipotecas levou a uma crise financeira que incluiu o colapso de um venerável banco de
investimentos americano (Bear Stearns), sérias perdas em várias instituições financeiras dos EUA -e
da Europa- e um congelamento global dos mercados de crédito (HART & SPERO, 2013, P. 59). Os
fundos para financiar essas hipotecas foram possibilitados por novos instrumentos de crédito
criados por bancos que empacotaram hipotecas subprime (ou seja, baixa classificação de crédito)
com hipotecas de maior qualidade, que foram vendidas e comercializadas globalmente. Importante
salientar que nenhum dos novos participantes do mercado de hipotecas -os credores não bancários,
os detentores secundários de hipotecas e as empresas que ofereciam títulos lastreados em hipotecas-
estava sujeito à vigilância do Federal Reserve. Transformadas em títulos e vendidas no mercado, as
hipotecas geraram centenas de bilhões de dólares de prejuízo aos investidores. O Governo entrou
em campo para resgatar bancos, seguradoras e montadoras e foi implementada a maior reforma
financeira desde os anos 1930, em nível nacional, ao lado de uma iniciativa para endurecer as
normas bancárias internacionalmente. As consequências foram sistêmicas e globais. Uma crise de
confiança se espalhou pelos mercados financeiros. As instituições financeiras pararam de negociar
entre si e muitos mercados simplesmente paralisaram. A crise ameaçou a economia real, uma vez
que as instituições financeiras frearam os empréstimos a empresas e consumidores. O medo da
recessão levou a um grande declínio nos mercados acionários (IDEM, p.60).
Analisando os casos acima e o estudo feito em Fatores comuns determinantes de crises
cambiais e financeiras (BESSA et al., 2010), é possível destacar alguns indicadores e variáveis que
estão incluídos e podem explicitar tais crises. Nota-se, em grande parte delas, que são levados em
consideração o comportamento dos índices de bolsa de valores, do risco-país, além da taxa de juros
e do nível de reservas em moeda estrangeira (que pode representar a credibilidade com que o país
conta no mercado financeiro internacional). E, principalmente, a taxa de câmbio, fonte e alvo de
especulações. Poderia-se, ainda, acrescentar o déficit na balança de pagamentos, reflexo e causa de
vários desequilíbrios relacionados com as variáveis citadas.

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Bibliografia

BESSA, Cristina Fátima Martins de et al. Fatores comuns determinantes de crises cambiais e
financeiras. Brazilian Journal of Political Economy, v. 30, n. 4, p. 604-624, 2010.

EXAME. Cronologia das crises mais graves desde 1929. 24 jun 2010. Disponível em: https://
exame.abril.com.br/mundo/cronologia-crises-mais-graves-1929-572924/

HART, Jeffrey A.; SPERO, Joan Edelman. The politics of international economic relations. Routledge,
2013.

LENZ NETO, Mathias. Indicadores antecedentes de crises financeiras de soberanos: uma aplicação ao
mercado brasileiro. Universidade de Brsília, 2006. Disponível em: http://repositorio.unb.br/bitstream/
10482/4976/1/2006_Mathias%20Lenz%20Neto.pdf

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