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INSTITUTO DE QUÍMICA
Goiânia
2016
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
INSTITUTO DE QUÍMICA
Goiânia
2016
AGRADECIMENTOS
RESUMO .............................................................................................. vi
i
Figura 8. Quantidade de RNA purificado em função do tempo de
agitação das partículas magnéticas na etapa de adsorção (n=5) ......... 43
ii
LISTA DE TABELAS
iii
LISTA DE ABREVIAÇÕES
DTT – Ditiotreitol
IgG – Imunoglobulina G
IgM – Imunoglobulina M
iv
MgCl2 – Cloreto de magnésio
pb – Pares de bases
PDMS – Poli(dimetilsiloxano)
PEG – Polietilenoglicol
PeT – Poliéster-toner
PET – Polietilenotereftalato
PMMA – Poli(metilmetacrilato)
PVP – Polivinilpirrolidona
TE – Tris-EDTA
TEB – Tris-EDTA-Borato
Tris – Tris(hidroximetil)aminometano
UV – Ultravioleta
v
RESUMO
vi
ABSTRACT
vii
CAPÍTULO 1
APRESENTAÇÃO DA DISSERTAÇÃO E
INTRODUÇÃO GERAL
1
1.1 INTRODUÇÃO
2
aplicações no point-of-care ou laboratórios com poucos recursos financeiros
(ASIELLO; BAEUMNER, 2011).
Nesse contexto, a microfluídica é uma tecnologia que tem
demonstrado muitas aplicações para diagnósticos clínicos, incluindo os
diagnósticos moleculares para identificação de patógenos. A microfluídica
pode proporcionar o desenvolvimento de dispositivos portáteis, de baixo
custo, capazes de realizar protocolos completos de biologia molecular
(MAIRHOFER; ROPPERT; ERTL, 2009).
Esta dissertação apresenta o desenvolvimento de metodologias
analíticas associadas ao RNA do vírus dengue em microdispositivos de
poliéster-toner (PeT). Dispositivos descartáveis, de fácil operação, que
proporcionem diagnósticos sensíveis e precisos para doenças com grandes
riscos epidêmicos como a dengue, podem contribuir para o tratamento e
controle dessas doenças, além de auxiliar na vigilância epidemiológica. Um
diagnóstico molecular completo envolve a realização de três etapas básicas:
extração do ácido nucleico, amplificação do ácido nucleico e detecção dos
produtos de amplificação. Neste trabalho, serão apresentados os resultados
referentes à extração do RNA do vírus da dengue (DENV) e à amplificação
pós transcrição reversa via RT-LAMP em dispositivos microfluídicos de PeT.
Nesse sentido, a dissertação está dividida em três capítulos. Este
primeiro capítulo (Capítulo 1) faz uma apresentação do tema da dissertação
e uma introdução geral a respeito do estado da arte da microfluídica e dos
microdispositivos de PeT, além de apresentar informações a respeito da
dengue. O Capítulo 2 apresenta o desenvolvimento de uma metodologia
para extração em fase sólida de RNA do DENV com a utilização de
partículas magnéticas de sílica em microchips de PeT. Finalmente, o
Capítulo 3 apresenta o uso dos microchips de PeT para a amplificação
isotérmica do ácido nucleico por RT-LAMP.
3
potencial para miniaturizar procedimentos complexos de laboratório em um
único microchip (CHIN; LINDER; SIA, 2012). No início da década de 1990,
Manz e colaboradores (MANZ; GRABER; WIDMER, 1990) propuseram o
conceito de microssistemas para análises totais, µTAS (do inglês micro total
analysis systems). Desde então, estes microssistemas, também chamados
lab-on-a-chip (laboratório em um chip) ou sistemas analíticos microfluídicos,
entraram em um processo de rápido desenvolvimento (DITTRICH;
TASHIKAWA; MANZ, 2006). Idealmente, um sistema desse tipo é capaz de
realizar todas as etapas de uma análise química completa (pré-tratamento
de amostra, reações químicas, separações analíticas, detecção, etc.) em um
único dispositivo de maneira integrada e automatizada (RÍOS; ZOUGAGH;
AVILA, 2012). Um dos maiores potenciais dos µTAS é a integração de
múltiplos elementos para a produção de sistemas completos do tipo sample-
in/answer-out. Embora a maioria desses dispositivos ainda não seja
completamente do tipo sample-in/answer-out, muitos µTAS já são bastante
sofisticados, com muitas etapas de manipulação e processamento de
amostra altamente integradas e automatizadas (WU et al., 2011,
CULBERTSON et al., 2013, GAN et al., 2014, SHIH et al., 2015).
As principais vantagens associadas aos sistemas analíticos
miniaturizados incluem o uso de pequenas quantidades de amostras e
reagentes, detecção de espécies químicas com alta resolução e
sensibilidade, diminuição dos custos e tempo das análises, bem como a
possibilidade do desenvolvimento de dispositivos portáteis que ocupem
pouco espaço em um laboratório e possam ser utilizados na realização de
análises químicas nos locais de origem onde se encontram as amostras
(WHITESIDES, 2006).
Os sistemas analíticos miniaturizados possuem uma ampla gama de
aplicações, mas têm encontrado um nicho principal nas áreas de análises
biológicas e biomédicas, especialmente para diagnósticos clínicos, análise
celular e de ácidos nucléicos (CULBERTSON et al., 2013). Nessas áreas, as
aplicações incluem a síntese de fármacos em microrreatores (THIELE et al.,
2011), a purificação de proteínas (MILLET et al., 2015), o cultivo de células
(LEE et al., 2011), a purificação de DNA (DUARTE et al., 2010, GAN et al.,
4
2014), a purificação de RNA (ROOT et al., 2011), a amplificação de DNA via
PCR para caracterização de amostras genéticas para análises forenses e
diagnósticos clínicos (DUARTE et al., 2011, LE ROUX et al., 2014), a RT-
LAMP para detecção de patógenos (WANG et al., 2011), entre outras.
5
fabricação de microchips devido, principalmente, ao baixo custo e facilidade
na fabricação dos dispositivos (CULBERTSON et al., 2013).
Microchips de PDMS são tradicionalmente fabricados por processos
de litografia suave, técnica baseada na fabricação de um molde. Uma vez
que o molde é feito, o mesmo pode ser utilizado várias vezes para produzir
inúmeros dispositivos através de processos simples de estampagem. Um
aspecto negativo dessa técnica é que a produção dos moldes necessita do
uso de litografia, o que acaba aumentando os custos e limitando as
aplicações (QIN; XIA; WHITESIDES, 2010). Visando contornar este
problema, Tan e colaboradores (TAN et al., 2001) desenvolveram uma
metodologia para produzir os moldes através da deposição de toner em uma
folha de poliéster (transparência para impressão), com auxílio de uma
fotocopiadora. Esse método pode facilitar a produção de moldes, gerando
benefícios como redução do tempo e custo para produção dos mesmos.
Do Lago e colaboradores (DO LAGO et al., 2003) exploraram a ideia
de Tan et al. e fabricaram microchips de poliéster-toner (PeT) usando uma
metodologia de impressão direta. Uma camada de toner, com um layout
previamente desenhado, foi depositada em uma folha de poliéster usando
uma impressora a laser, criando canais microfluídicos nas regiões onde a
impressora não depositava a camada de toner. Uma etapa de laminação,
contra uma folha de poliéster simples ou contra uma imagem especular da
folha de poliéster com toner, promovia a selagem dos canais. Se o
dispositivo impresso é laminado contra um filme de poliéster branco (sem
toner), o microchip produzido contém uma camada de toner simples (CTS).
Se o dispositivo impresso for laminado contra sua imagem especular, o
microchip contém uma camada de toner dupla (CTD). Os canais nesses
microchips possuem 6 µm ou 12 µm de profundidade, respectivamente. A
Figura 1 apresenta as etapas de fabricação de microdispositivos de PeT
propostas por Do Lago et al.. O toner é constituído por uma mistura de um
material polimérico (majoritariamente poliestireno) e óxido de ferro, enquanto
os filmes de poliéster são constituídos principalmente por
polietilenotereftalato (PET) revestidos com sílica (DO LAGO et al., 2003).
6
Figura 1. Etapas do processo de fabricação de microdispositivos de poliéster-toner por
impressão direta com camada de toner simples. I) Folha de poliéster perfurada (topo); II)
Folha de poliéster com toner (base); III) Alinhamento e laminação da base e topo; IV)
Criação de reservatórios para amostras e reagentes. Adaptado de DO LAGO et al., 2003.
7
inflamações e é utilizada para diagnóstico de estado inflamatório, em
trabalhado desenvolvido por KIM et al. (2013). Duarte e colaboradores
(DUARTE et al., 2012) separaram, nos microdispositivos de PeT, fragmentos
de DNA por eletroforese em gel através da utilização de detecção por
fluorescência induzida a laser.
As aplicações dos dispositivos de PeT não estão restritas às
separações eletroforéticas. Oliveira e colaboradores (OLIVEIRA et al., 2013),
por exemplo, fabricaram microplacas com 96 poços utilizando deposição de
toner sobre folhas de poliéster. Esses dispositivos foram utilizados para
ensaios enzimáticos para detecção de anticorpos imunoglobulina G (IgG) e
imunoglobulina M (IgM) para diagnóstico da dengue pelo ensaio conhecido
como ELISA (do inglês enzyme-linked immunosorbent assay). Nesses
dispositivos, as camadas de toner depositadas funcionavam como barreiras
hidrofóbicas para o confinamento das soluções e amostras para a realização
dos ensaios.
Em 2011, Duarte e colaboradores (DUARTE et al., 2011) modificaram
o processo de fabricação proposto por Do Lago et al., de modo a produzir
dispositivos com canais mais profundos utilizando múltiplas camadas de
PeT. Nesse processo de fabricação, filmes de poliéster foram revestidos
com três camadas de toner de ambos os lados com o auxílio de uma
impressora a laser. Microcanais foram criados com a utilização de uma
cortadora a laser de dióxido de carbono, que foi programada para cortar
seletivamente pedaços do poliéster recoberto com toner. Dois filmes de PeT
com canais recortados foram alinhados com duas folhas de poliéster sem
toner, as quais serviram como base e topo do dispositivo. Furos para acesso
de reagentes foram criados na camada superior (topo) e os quatro filmes
foram laminados. Os microchips fabricados através dessa metodologia
possuíam canais com 272 µm de altura. Isso possibilitou a introdução de
partículas magnéticas de sílica nos canais para a purificação de DNA a partir
de amostras de sangue através de uma metodologia de extração dinâmica
em fase sólida (dSPE - do inglês dynamic solid phase extraction).
O uso da cortadora a laser para fabricar microchips de PeT
proporcionou a criação de estruturas mais complexas nas plataformas
8
microfluídicas de PeT. Ouyang et al. criaram válvulas hidrofóbicas em
dispositivos de PeT fabricados através do uso de uma cortadora a laser
(OUYANG et al., 2013). Em outro trabalho mais recente, Ouyang e
colaboradores (OUYANG et al., 2015) amplificaram fragmentos de DNA
humano e da bactéria azospirillum brasilense via PCR em dispositivos de
PeT, utilizando um sistema de ciclagem térmica home-made, fabricado com
lâmpada de tungstênio e um mini ventilador. Recentemente, o grupo do
professor James P. Landers, em colaboração com pesquisadores brasileiros,
descreveu um protocolo para fabricação de microchips de PeT com
estruturas complexas, envolvendo o uso de válvulas e diferentes domínios.
Neste trabalho, demonstraram diversas aplicações para os dispositivos,
como amplificação de DNA, detecção de pequenas moléculas, quantificação
de proteínas e quantificação de células brancas em sangue (THOMPSON et
al., 2015).
Neste contexto, a simplicidade de produção dos dispositivos, o baixo
custo dos materiais e equipamentos necessários para fabricação e a
possibilidade de integrar diferentes domínios nos dispositivos, com a criação
de válvulas e outros elementos, fazem com que os microchips de PeT
apresentem grande potencial para o desenvolvimento de dispositivos
microfluídicos integrados para análises químicas e biológicas.
Os microchips de PeT já demonstraram ser biocompatíveis e capazes
de realizar etapas de análises genéticas envolvendo DNA (DUARTE et al.,
2011, DUARTE et al., 2012, OUYANG et al., 2015). O desafio agora é utilizá-
los para análises envolvendo RNA, uma vez que diversas doenças são
causadas por organismos que têm RNA como material genético. A
necessidade de diagnósticos para RNA no point-of-care tem se intensificado
nos últimos anos após a pandemia de Influenza em 2009, o recente avanço
no número de casos de zika, e os graves casos de dengue recorrentes no
Brasil (IOOS et al., 2014, SCHULER-FACCINI et al., 2016).
9
1.1.3 Dengue
Figura 2. Distribuição global do risco de infecção pelo vírus dengue. Adaptado de WHO,
2012.
10
sintomas aparentes, enquanto duzentos e noventa e quatro milhões (294 ±
87) são assintomáticos. Esses valores são mais de três vezes superiores
aos anteriormente estipulados pela Organização Mundial da Saúde (WHO,
2009).
No Brasil, a dengue se tornou motivo de preocupação a partir de
1986, após epidemia provocada pela introdução do sorotipo 1 (DENV-1) no
estado do Rio de Janeiro (SCHATZMAYR; NOGUEIRA; DA ROSA, 1986). O
vírus se espalhou rapidamente para áreas próximas e, na sequência, por
todo o país. Os sorotipos 2 (DENV-2) e 3 (DENV-3) também foram
introduzidos no Brasil no estado do Rio de Janeiro, em 1990 e 2000,
respectivamente (NOGUEIRA et al., 1990, NOGUEIRA et al., 2001).
Finalmente, o sorotipo 4 apareceu no ano de 2008, na região de Manaus, no
estado do Amazonas (FIGUEIREDO et al., 2008).
Segundo levantamento feito pelo Ministério da Saúde, os quatro
sorotipos circulam pelo país e, em 2015, provocaram a ocorrência de
1.280.445 casos de dengue, sendo que 710 pessoas vieram a óbito
(BRASIL, 2016). O estado com maior número de casos foi São Paulo,
seguido por Minas Gerais e Goiás. Comparando o número total de casos
com o tamanho da população de cada estado, Goiás foi o estado que
apresentou maior incidência de dengue (1.879,5 casos por 100.000
habitantes).
Muitas infecções pelo DENV são assintomáticas, enquanto algumas
apresentam um amplo espectro de manifestações clínicas, como náuseas,
vômitos, erupções cutâneas, dores abdominais, sangramento da mucosa,
letargia, entre outros sintomas. Os sintomas normalmente duram de dois a
sete dias e têm início após um período de incubação que dura de quatro a
dez dias após a picada do mosquito infectado. Uma pequena fração dos
pacientes infectados evolui para um quadro severo da doença, caracterizado
por sintomas mais graves, como extravasamento plasmático, hemorragias,
comprometimento de órgãos e angústia respiratória (WHO, 2009). Estima-se
que cerca de quinhentas mil pessoas são hospitalizadas com dengue severa
anualmente, e aproximadamente 2,5% dessas pessoas vêm a óbito (WHO,
2016).
11
A prevenção ou redução da transmissão do vírus dengue tem como
base principal o combate ao vetor ou a interrupção do contato entre os
mosquitos e seres humanos (GUZMAN et al., 2010). Assim, a principal
estratégia para controle da doença consiste na eliminação do Aedes aegypti
através do uso de substâncias químicas e na eliminação de locais possíveis
de serem utilizados como habitat pelos mosquitos. Todavia, o
desenvolvimento de vacinas eficazes contra os quatro sorotipos do vírus
dengue é uma prioridade a nível mundial, devido à importância global da
doença (HOMBACH, 2007).
O desenvolvimento de vacinas vem sendo um desafio há mais de
trinta anos e, recentemente, alguns estudos em estágios avançados têm
demonstrado resultados promissores (SABCHAREON et al., 2012, DAYAN
et al., 2013, HUANG et al., 2013, VILLAR et al., 2015). A vacina em estágio
mais avançado é a vacina tetravalente (CYD-TDV), que tem tido sucesso em
estudos realizados na ásia e na américa latina (SABCHAREON et al., 2012,
DAYAN et al., 2013, VILLAR et al., 2015). A vacina, que já está na fase 3 de
desenvolvimento, demonstrou ser segura e eficaz na proteção contra os
quatro sorotipos, diminuído as taxas de hospitalização e ocorrência de casos
de dengue severa (VILLAR et al., 2015).
12
e polaridade positiva (+ssRNA), de aproximadamente 11 quilobases (kb)
(HENCHAL; PUTNAK, 1990).
O genoma viral apresenta uma região de leitura aberta (ORF – Open
Reading frame), codificante, que está localizada entre as regiões não
codificantes (UTR – Untranslated region) 5’UTR e 3’UTR (Figura 3). A ORF
codifica uma poliproteína de aproximadamente 3400 aminoácidos, a qual
sofre clivagens sucessivas e dá origem a três proteínas estruturais (C, E e
prM – precursora da proteína M) e sete proteínas não estruturais (NS – non
structural – NS1, NS2A, NS2B, NS3, NS4A, NS4B e NS5) (CHAMBERS et
al., 1990, HENCHAL; PUTNAK, 1990). As proteínas não estruturais atuam
em diversas etapas da replicação viral (LINDENBACH; RICE, 2003).
13
Após esse período os métodos sorológicos, capazes de identificar os
anticorpos específicos, são os mais indicados (WHO, 2009).
O isolamento do vírus pode ser realizado a partir da inoculação das
amostras para diagnóstico (soro, sangue ou plasma) em mosquitos, em
culturas de células, ou em camundongos. Para a identificação do sorotipo
são realizados ensaios de imunofluorescência usando anticorpos específicos
(HENCHAL; PUTNAK, 1990). Apesar de propiciarem a diferenciação dos
sorotipos e serem sensíveis e específicos, esses métodos consomem muito
tempo.
A detecção de antígenos, através de ensaios imunoenzimáticos
(ELISA) ou por imunocromatografia, pode ser utilizada para quantificar a
proteína NS1, uma proteína não estrutural altamente conservada (ALCON et
al., 2002). Esses métodos são simples, baratos, já são comercializados na
forma de kits, apresentam bons resultados, mas não diferenciam os
sorotipos (PEELING et al., 2010).
Os métodos sorológicos, por sua vez, baseiam-se no fato de que a
resposta imune adquirida à infecção pelo DENV consiste na produção de
imunoglobulinas (IgM e IgG) que são específicas para a proteína E do vírus.
A resposta da IgM é geralmente maior quando a infecção é primária,
enquanto a resposta da IgG é maior quando a infecção é secundária (WHO,
2009, PEELING et al., 2010). A detecção das imunoglobulinas é realizada
através de ensaios ELISA e por testes rápidos de imunocromatografia por
captura de anticorpos (VAUGHN et al., 1998). Essas técnicas são simples e
baratas, porém não permitem identificação do sorotipo.
Os métodos moleculares permitem a detecção do genoma viral e
baseiam-se na realização de três etapas: extração do ácido nucléico (RNA),
amplificação pós transcrição reversa, e detecção e caracterização do
produto de amplificação. O método mais comum para amplificação do RNA é
a RT-PCR, mas outros métodos, como RT-LAMP, também estão
disponíveis. Várias padronizações de RT-PCR e algumas de RT-LAMP para
amplificação do DENV podem ser encontradas na literatura (MORITA;
TANAKA; IGARASHI, 1991, LANCIOTTI et al., 1992, PARIDA et al., 2005,
BHATNAGAR et al., 2012, WAGGONER et al., 2013), havendo variações
14
com relação aos reagentes utilizados, concentrações dos reagentes,
métodos de detecção e região do genoma a ser amplificado. A metodologia
proposta por Lanciotti et al. (1992), por exemplo, permite a identificação do
sorotipo viral através de reações de amplificação de fragmentos a partir da
região de junção C/prM, ao passo que a metodologia proposta por Parida et
al. (2005) também permite a identificação do sorotipo, mas a amplificação
dos fragmentos acontece na região 3’UTR.
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22
CAPÍTULO 2
23
2.1 INTRODUÇÃO
24
O segundo método envolve a utilização de uma fase sólida, como
sílica, partículas de vidro, matriz trocadora de íons, entre outras. Sob
condições específicas de pH e concentrações apropriadas de sais, ocorre
interação entre as moléculas de RNA e a matriz sólida (TAN; YIAP, 2009).
Na sequência, a fase sólida é lavada com um solvente (ou mistura de
solventes), normalmente um álcool, e o RNA puro é dessorvido e eluído com
água ou tampão de baixa força iônica. A extração em fase sólida (SPE – do
inglês solid phase extraction) é muito utilizada na confecção de kits
comerciais para a purificação de ácidos nucléicos (QIAGEN, 2015 a,
QIAGEN, 2015 b, LGC BIOTECNOLOGIA, 2016) e permite uma purificação
mais rápida e eficiente que a extração em fase líquida, além de geralmente
necessitar de quantidades menores de amostras e reagentes (TAN; YIAP,
2009).
25
diminuição dos custos, também são obtidas através da extração de RNA em
microdispositivos.
Diversos trabalhos podem ser encontrados na literatura em que os
autores propuseram metodologias de extração de RNA de variados tipos de
amostras biológicas, utilizando-se diferentes matrizes como fase sólida e
microchips fabricados com diferentes materiais. Reinholt e colaboradores
(REINHOLT et al., 2013) fabricaram um microdispositivo com o polímero
poli(metilmetacrilato), PMMA, e modificaram a superfície do polímero dentro
dos microcanais para a purificação de RNA do protozoário Cryptosporidium
parvum. O microchip foi fabricado a partir de um processo de estampagem a
quente e a superfície interna dos canais foi modificada com a ação de
radiação ultravioleta, seguida da imobilização de poliamidoamina e
oligonucleotídeo timidino, oligo(dT)25. Shaw et al. fabricaram um microchip
de vidro através de processos fotolitográficos e revestiram a superfície do
canal com sílica ativada termicamente para a extração de RNA de tecidos de
fígado e hepatócitos de ratos (SHAW et al., 2013). Vaghi e colaboradores
(VAGHI et al., 2016) purificaram RNA do vírus da hepatite C a partir de
amostras de plasma de pacientes infectados utilizando dispositivos de
PDMS, cujos canais tiveram a superfície modificada a partir da incorporação
de moléculas funcionais contendo grupos silanóis. Park e colaboradores
(PARK et al., 2012), por sua vez, utilizaram microchips de PDMS para
purificar RNA do vírus influenza H1N1 utilizando como fase sólida uma
matriz de sílica sol-gel.
fase sólida
26
purificação de ácidos nucleicos a partir de amostras clínicas. Sais
caotrópicos são sais capazes de modificar as estruturas secundária, terciária
e/ou quaternária de proteínas e ácidos nucleicos, sem alterar a estrutura
primária (BOOM et al., 1993, KUROITA et al., 1999). Sais caotrópicos
desidratam a superfície da sílica e o ácido nucleico, o que promove a
interação entre as moléculas de ácido nucleico e os grupos silanóis
protonados através de ligação de hidrogênio (BREADMORE et al., 2003).
Boom e colaboradores (BOOM et al., 1990) avaliaram a utilização de outros
sais caotrópicos, como tiocianato e hidrocloreto de guanidina, e purificaram
ácidos nucleicos através de SPE usando sílica como fase sólida a partir de
amostras clínicas como urina e soro. Estes sais podem ser utilizados tanto
para purificação de DNA quanto de RNA, uma vez que apresentam potencial
para a realização de lise celular e inativação de enzimas ribonucleases e
desoxirribonucleases. Os métodos de extração envolvem a realização de
três etapas: (1) lise célular (e/ou rompimento de envelope e capsídeo, no
caso de vírus) e adsorção do ácido nucléico na superfície das partículas de
sílica em um meio contendo um sal caotrópico com alta força iônica; (2)
lavagem das partículas para remoção de contaminantes, como proteínas e
resíduos celulares e; (3) dessorção e eluição do ácido nucléico em uma
solução salina de baixa força iônica ou em água (PRICE; LESLIE;
LANDERS, 2009).
Nas extrações realizadas em microdispositivos, as partículas de sílica
são convencionalmente empacotadas dentro dos microcanais. As amostras
e reagentes são levados aos canais através de bombas operando a uma
determinada velocidade, e fluem pelos canais para entrar em contato com a
matriz sólida (REINHOLT; BAEUMNER, 2014). Breadmore e colaboradores
(BREADMORE et al., 2003), por exemplo, extraíram DNA genômico de
sangue humano e de culturas de células da bactéria Salmonella typhimurium
usando microchips de vidro e partículas de sílica empacotadas nos
microcanais como fase sólida. Seguindo a mesma ideia, HAGAN et al.
fabricaram microchips de vidro e utilizaram partículas de sílica e partículas
de sílica revestidas com quitosana, empacotadas nos canais microfluídicos,
27
para purificar RNA a partir de sêmen e células bucais (HAGAN et al., 2008,
HAGAN et al., 2009).
Recentemente, partículas magnéticas de sílica começaram a ser
utilizadas para purificação de ácidos nucléicos em microdispositivos
(DUARTE et al., 2010, DUARTE et al., 2011). O uso de partículas
magnéticas, no lugar de partículas empacotadas nos canais, oferece
algumas vantagens nos processos de extração. Essas vantagens estão
relacionadas ao fato de as partículas magnéticas ficarem livres dentro dos
canais microfluídicos e serem manipuladas através da aplicação de campos
magnéticos externos. O fato delas se movimentarem durante o processo de
extração proporciona maior interação entre a fase sólida e as amostras e,
por não haver necessidade de empacotamento no canal microfluídico,
dispensa o uso de bombas (REINHOLT; BAEUMNER, 2014).
Nesse contexto, Duarte e colaboradores (DUARTE et al., 2011)
demonstraram que microchips de PeT podem ser utilizados para purificação
de DNA genômico a partir de amostras de sangue humano, utilizando
partículas magnéticas de sílica como fase sólida. Nesse método de extração,
um campo magnético proveniente de um agitador magnético promove a
movimentação das partículas magnéticas por todo o microcanal,
aumentando a capacidade de interação entre a fase sólida e a amostra.
Após a adsorção do DNA na superfície das partículas e lavagem para
remoção de impurezas, as partículas são novamente movimentadas para
promover a dessorção e eluição do DNA em tampão tris-EDTA (TE). A esse
processo de purificação de espécies químicas utilizando fase sólida em
constante movimento é dado o nome de extração dinâmica em fase sólida
(dSPE).
Neste trabalho, partículas magnéticas de sílica foram utilizadas, pela
primeira vez, para extrair RNA em dispositivos microfluídicos de PeT.
28
2.2 OBJETIVOS
29
As partículas magnéticas de sílica (Magnesil®) foram obtidas junto à
Promega (Madison, WI), assim como a GoTaq® Green Master Mix, contendo
a enzima Taq DNA polimerase, cloreto de magnésio (MgCl2),
desoxirribonucleotídeos fosfatados (dNTP’s) e tampão para PCR. O
reagente ditiotreitol (DTT), as enzimas SuperScriptTM III Reverse
Transcriptase e RNase Out, e o padrão de tamanhos de DNA 100 bp DNA
ladder foram obtidos junto à Invitrogen/Life Technologies (Foster City, CA).
Proteinase K (20 mg mL-1) foi adquirida junto à Qiagen (Valência, CA).
Hidrocloreto de Guanidina (GuHCl), ácido 2-(N-morpholino) etanosulfônico
(MES), etanol, betaína e água grau biologia molecular foram obtidos junto à
Sigma-Aldrich (St Louis, MO). RNAse Zap foi adquirido junto à Ambion/Life
Technologies (Foster City, CA). Os reagentes Tris(hidroximetil)aminometano
(Tris) e etilenodiaminotetracético (EDTA) foram obtidos junto à Vetec/Sigma-
Aldrich (St Louis, MO). Triton X-100 foi adquirido junto à Usb Corporation
(Cleveland, OH). Albumina de soro bovina (BSA) foi obtida junto à
Amersham/GE Healthcare e dNTP’s foram adquiridos junto à Ludwig Biotech
(Alvorada, RS). A enzima Bst DNA polimerase e sulfato de magnésio
(MgSO4) foram adquiridos junto à New Engalnd Biolabs (Ipswich, MA). As
soluções de MES 100 mM, etanol 75 % e Tris-EDTA (TE) 0,1X foram
preparadas em água ultrapura. GuHCl 6 mol L-1 pH 6 foi preparado em
tampão TE e o pH foi ajustado através da adição de MES 100 mM. A água
utilizada no preparo das soluções foi água ultrapura de condutividade 0,055
µS cm-1 (Progard®2 Millipore).
30
2.3.3 Lise e rompimento de envelope e capsídeo
31
transferida para outro microtubo e avaliada quanto à pureza e qualidade do
RNA extraído.
32
(desnaturação), 57 ºC por 45 segundos (anelamento) e 72 ºC por 2 minutos
(extensão); e extensão final de 7 minutos a 72 ºC. As reações foram
realizadas em termociclador Mastercycler Nexus (EppendorfAG, Hamburgo).
F3 GAGGCTGCAAACCATGGAA
B3 CAGCAGGATCTCTGGTCTCT
FIP GCTGCGTTGTGTCTTGGGAGGTTTTCTGTACGCATGGGGTAGC
RT-LAMP
BIP CCCAACACCAGGGGAAGCTGTTTTTTTGTTGTTGTGCGGGGG
FLP CTCCTCTAACCACTAGTC
BLP GGTGGTAAGGACTAGAGG
33
misturas reacionais de 5 µL com a seguinte composição de reagentes: 0,2
µM dos iniciadores F3 e B3; 1,6 µM dos iniciadores FIP e BIP; 0,8 µM dos
iniciadores FLP e BLP; 2 mM de DTT; 1,6 unidades/µL da enzima
SuperScriptTM III Reverse Transcriptase; 0,32 unidades/µL da enzima RNase
Out; 0,96 unidades/µL da enzima Bst DNA polimerase; 0,24 mg mL-1 de
BSA; 8 mM de sulfato de magnésio (MgSO4); 0,9 µM de betaína; 1,4 mM de
cada um dos quatro dNTP’s, e 1 ng µL-1 de RNA. Foram feitos controles
negativos, em que RNA foi substituído por água ultrapura. Os microtubos
foram então colocados em um termobloco (Major Science, Saratoga, CA) na
temperatura de 65 ºC. O tempo de reação foi de 60 minutos. Após a reação,
a temperatura foi aumentada para 80 ºC e mantida por dois minutos, para a
inativação da enzima Bst polimerase. Os produtos da RT-LAMP foram
analisados em gel de agarose a 2 % em tampão TEB. Para a correta
identificação dos fragmentos amplificados, foi utilizado um padrão de
tamanhos de DNA 100 bp DNA ladder.
34
Figura 4. Representação das etapas de fabricação dos microchips de poliéster-toner para
extração de RNA. (I) filme de poliéster; (II) filme de poliéster revestido com camadas de
toner em ambos os lados; (III) layout do canal recortado em uma cortadora a laser; (IV)
alinhamento das quatro folhas de poliéster. Adaptado de Duarte et al., 2011.
35
microfluídico, o qual foi completado com solução de lise ou amostra de RNA
pré-purificado de concentração igual a 1,6 ng µL -1. O microchip foi colocado
em um agitador magnético operando em velocidade máxima e as partículas
foram colocadas em movimento a partir da ação do campo magnético
proveniente do agitador magnético e do campo proveniente de um ímã
posicionado no topo do microchip. A agitação foi mantida por cinco minutos.
Cessada a agitação, as partículas foram lavadas com cinco frações de 2 µL
de etanol 75 %, agitadas por um minuto e novamente lavadas com cinco
frações de 2 µL de etanol 75 %. Em seguida, foram feitas lavagens com seis
frações de 2 µL de água ultrapura sem agitação das partículas magnéticas,
a fim de remover o etanol e não eluir o RNA. Com o canal completamente
preenchido com água, o microchip foi colocado no agitador magnético e as
partículas foram mantidas em movimento por cinco minutos. Após os cinco
minutos de agitação, a solução aquosa contendo RNA purificado foi eluída
com auxílio de uma micropipeta e transferida para um microtubo. A pureza e
qualidade do RNA extraído foram avaliadas conforme procedimento descrito
na seção 2.3.5.
36
experimentos eram verificar a compatibilidade do RNA com relação aos
reagentes utilizados, avaliar a adsorção do RNA na fase sólida nas
condições de concentração e pH da solução de GuHCl, avaliar a dessorção
do RNA em água e a pureza e qualidade do RNA purificado segundo essa
metodologia.
A Tabela 2 apresenta as razões A260/280 para RNA purificado a
partir de amostra de soro utilizando duas metodologias diferentes: a
metodologia de dSPE desenvolvida neste trabalho e uma metodologia de
extração em fase líquida adaptada do método proposto por Chomczynski e
Sacchi (1987), que utiliza tiocianato de guanidina, fenol e clorofórmio para
purificar RNA. RNA puro deve ter valores de A260/280 próximos a 2,0
quando dissolvido em tampão TE (pH 8,0), mas pode apresentar valores
entre 1,5 e 1,8 quando dissolvido em água ultrapura (GENOME CENTER
MASSTRICH, 2014). Além disso, o parâmetro A260/280 depende da
concentração do RNA, de forma que uma determinada amostra de RNA
pode ter um valor alto de A260/280 quando a concentração do ácido
nucleico for alta, mas esse valor pode ser reduzido ao realizar diluições
dessa mesma amostra. Assim, de acordo com os dados que constam na
Tabela 2, é possível obter RNA suficientemente puro para as reações
subsequentes a partir da dSPE, sendo a pureza equivalente à obtida a partir
de metodologias convencionais de extração.
Tabela 2. Valores das razões entre as absorbâncias em 260 e 280 nm de RNA purificado a
partir de amostra de soro de pacientes infectados pelo DENV pelos métodos de extração
dinâmica em fase sólida e extração em fase líquida, ambas em microtubos de polipropileno.
Amostra A 260/280
RNA purificado por extração em fase líquida 1,62 ± 0,15
RNA purificado por dSPE 1,55 ± 0,27
37
pureza pode não ter qualidade suficiente para ser detectável por RT-PCR,
devido à degradação do ácido nucleico. A qualidade do RNA deve, portanto,
ser avaliada a partir de reações como a RT-PCR.
Após a realização das reações de amplificação (RT-PCR e semi-
nested-PCR) de um fragmento específico do sorotipo 1 do DENV, o produto
de amplificação de 482 pares de base (pb) foi separado por eletroforese em
gel de agarose e detectado através de incidência de radiação UV. O
resultado encontra-se na Figura 5. O sucesso da reação de detecção de
RNA mostra que é possível extrair RNA viral de qualidade (amplificável) a
partir de amostras complexas como o soro através da dSPE, utilizando as
partículas magnéticas de sílica. Pode-se afirmar que: (1) as moléculas de
RNA adsorvem na superfície das partículas de sílica em um meio contendo
solução de GuHCl 6 mol L-1 pH 6,0; (2) as lavagens com etanol 75%
eliminam suficientemente as substâncias indesejadas que podem também
interagir com a sílica, como proteínas; e (3) RNA de alta qualidade é eluído
em água ultrapura, livre de enzimas ribonucleases. O RNA purificado por
este método tem pureza e qualidade adequadas para a realização das
etapas subsequentes de um teste molecular para a dengue.
Figura 5. Gel de agarose mostrando em (3) o produto de 482 pb obtido após amplificação
via RT-PCR e semi-nested-PCR a partir de RNA do DENV-1 extraído a partir de soro por
extração dinâmica em fase sólida em microtubo; (1) marcador de tamanhos de DNA; (2)
controle negativo.
38
2.4.2 Extração dinâmica em fase sólida de RNA em
microchips de poliéster-toner
Figura 6. Gel de agarose mostrando em (2) o produto de 482 pb obtido após amplificação
via RT-PCR e semi-nested-PCR a partir de RNA do DENV-1 extraído a partir de amostra
pré-purificada em microchip de poliéster-toner, através da extração dinâmica em fase sólida;
(1) marcador de tamanhos de DNA; (3) controle negativo.
39
Após a realização dos experimentos de extração de RNA a partir de
amostra de soro em microtubos e a partir de amostra pré-purificada em
microdispositivos de PeT, foram realizados experimentos de extração de
RNA a partir de soro em microchips de PeT.
A Tabela 3 apresenta as razões A260/280 para RNA purificado a
partir de amostra de soro utilizando a metodologia de dSPE desenvolvida
neste trabalho em microtubos e em microchips de PeT, e uma metodologia
de extração em fase líquida adaptada do método proposto por Chomczynski
e Sacchi (1987).
Tabela 3. Valores das razões entre as absorbâncias em 260 e 280 nm de RNA purificado a
partir de amostra de soro pelos métodos de extração em fase líquida em microtubos de
polipropileno e extração dinâmica em fase sólida em microtubos e em microchips de
poliéster-toner.
Amostra A 260/280
RNA purificado por extração em fase líquida 1,62 ± 0,15
RNA purificado por dSPE em microtubo 1,55 ± 0,27
RNA purificado por dSPE em microchip de PeT 1,71 ± 0,29
40
metodologia desenvolvida neste trabalho com outras metodologias de
extração de RNA em microchips. Um exemplo encontrado é o trabalho
desenvolvido por Kim e colaboradores (KIM et al., 2012), que purificaram
RNA de E. coli em sangue humano através da SPE com a utilização de sílica
em microchips de PDMS, e obtiveram o valor médio de A260/280 igual a
2,02 ± 0,22. Apesar do valor obtido nos experimentos de dSPE em
microchips de PeT ter sido menor, ainda assim apresentou-se adequado
para que o RNA pudesse ser utilizado em reações subsequentes, como a
RT-PCR e a RT-LAMP.
Figura 7. Géis de agarose mostrando o sucesso das reações de amplificação por (a) RT-
PCR e (b) RT-LAMP utilizando RNA do DENV-1 extraídos a partir de soro em microchips de
poliéster-toner, através da extração dinâmica em fase sólida. (1) marcador de tamanhos de
DNA; (2) controle negativo; (3) Produto de amplificação de RNA extraído a partir de amostra
de soro em microchip.
41
A extração de RNA de alta qualidade e integridade, ou seja, RNA que
possa ser detectado, é uma etapa crucial para qualquer teste baseado em
técnicas moleculares. Os resultados apresentados na Figura 7 indicam que a
metodologia de dSPE desenvolvida neste trabalho pode ser utilizada para
purificação de RNA do vírus DENV em microdispositivos de PeT a partir de
amostras complexas, como amostra de soro de pacientes infectados pelo
vírus. Isso significa que esta metodologia de extração de RNA pode ser
integrada com outras etapas analíticas como a RT-PCR ou a RT-LAMP e a
separação eletroforética de DNA, produzindo futuramente um microssistema
completamente integrado para o diagnóstico molecular da dengue.
42
Figura 8. Quantidade de RNA purificado em função do tempo de agitação das partículas
magnéticas na etapa de adsorção (n=5).
43
Figura 9. Quantidade de RNA purificado em função do tempo de agitação das partículas
magnéticas na etapa de eluição (n=5).
44
utilização da solução de GuHCl pH 6,0, este pH foi mantido para a
realização da última série de experimentos.
45
um volume de aproximadamente 5 µL, e as frações foram quantificadas com
a utilização do espectrofotômetro NanoDrop 2000. A Figura 12 apresenta o
perfil de eluição de RNA extraído em microchips de PeT.
Figura 12. Perfil de eluição de RNA extraído a partir de amostra de soro em microchips de
poliéster-toner, com frações eluídas contendo 5 µL de solução (n=3).
46
2.5 CONCLUSÃO
47
2.6 REFERÊNCIAS
KIM, J.; JOHNSON, M.; HILL, P.; SONKUL, R. S.; KIM, J.; GALE, B. K.
Automated microfluidic DNA/RNA extraction with both disposable and
reusable components. Journal of Micromechanics and Microengineering,
22, 2012.
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microsystem for simple, rapid and automatic RNA purification. Lab on a
Chip, 12, p. 3875-3881, 2012.
49
QIAGEN, 2015 a. Disponível em http://www.qiagen.com/br/shop/sample-
technologies/rna/rna-preparation/qiaamp-viral-rna-mini-kit. Acessado dia
31/12/2015.
TAN, S. C.; YIAP, B. C. DNA, RNA, and protein extraction: the past and the
present. Journal of Biomedicine and Biotechnology, vol. 2009, 2009.
VAGHI, V.; POTRICH, C.; PASQUARDINI, L.; LUNELLI, L.; VANZETTI, L.;
EBRANATI, E.; LAI, A.; ZEHENDER, G.; MOMBELLO, D.; COCUZZA, M.;
PIRRI, C. F.; PEDERZOLLI, C. On-chip purification and detection of hepatitis
C virus RNA from human plasma. Biophysical Chemistry, 208, p. 54-61,
2016.
50
VOLGELSTEIN, B.; GILLESPIE, D. Preparative and analytical purification of
DNA from agarose. Proc. Natl. Acad. Sci. U. S. A., 76, p. 615-619, 1979.
WANG, C.; LIEN, K.; WANG, T.; CHEN, T.; LEE, G. An integrated
microfluidic loop-mediated-isothermal-amplification system for rapid sample
pre-treatment and detection of viruses. Biosensors and Bioelectronics, 26,
p. 2045-2052, 2011.
51
CAPÍTULO 3
AMPLIFICAÇÃO ISOTÉRMICA
MEDIADA POR LOOP PÓS
TRANSCRIÇÃO REVERSA (RT-LAMP)
EM MICROCHIPS DE POLIÉSTER-
TONER
52
3.1 INTRODUÇÃO
53
de produtos de amplificação para análises posteriores (AMC TECHNICAL
BRIEFS, 2014). Existem algumas variações da PCR, como a PCR pós
transcrição reversa (RT-PCR). Nesse caso, ocorre a formação de DNA
complementar (cDNA) a partir de RNA por uma enzima transcriptase
reversa, e na sequência ocorre a amplificação via PCR (DE LADEIRA;
ISAAC; FERREIRA, 2011).
Após a amplificação do ácido nucleico é necessário ainda uma etapa
de separação e detecção dos fragmentos amplificados para confirmar a
presença do alvo. Todos esses passos exigem, frequentemente, a utilização
de instrumentos complexos de laboratório e pessoal capacitado, além de
apresentarem um custo elevado. Essa combinação de fatores representa
obstáculos para que os diagnósticos moleculares movam-se das bancadas
de laboratório para aplicações no point-of-care, necessários na maioria dos
monitoramentos de saúde pública.
A PCR é atualmente a técnica mais utilizada para amplificação de
ácidos nucleicos tanto no formato convencional, utilizando microtubos e
termocicladores de bancada, como no formato miniaturizado (OBEID;
CHRISTOPOULOS, 2003, KUMARIA; CHAKRAVARTI, 2005, JHA et al.,
2011, LIN et al., 2013). Todavia, devido ao elevado custo da instrumentação
para PCR, métodos isotérmicos de amplificação têm sido recentemente
desenvolvidos e vêm sendo utilizados para a detecção de doenças
infecciosas. Sem a necessidade de ciclos térmicos, os métodos isotérmicos
podem ser projetados para serem de baixo consumo de energia e, portanto,
podem ser facilmente adaptáveis para o desenvolvimento de sistemas
portáteis. Dentre as técnicas de amplificação isotérmica, a amplificação
isotérmica mediada por loop (LAMP) tem recebido grande destaque. A
técnica foi desenvolvida em 2000 por Notomi e colaboradores, que
propuseram um método de amplificação de DNA capaz de produzir um
aumento na quantidade de uma sequência específica de DNA por um fator
de 109 em menos de uma hora de reação sob condições de temperatura
constante (NOTOMI et al., 2000), o que dispensa o uso de termocicladores e
torna mais fácil a integração com outras etapas analíticas para o
desenvolvimento de dispositivos de diagnóstico mais acessíveis.
54
A LAMP emprega a enzima Bst DNA polimerase, com atividade de
deslocamento de fita, e dois pares de iniciadores, um par de iniciadores
internos (FIP – Forward inner primer e BIP – Backward inner primer) e um
par de iniciadores externos (F3 e B3), que são desenhados para reconhecer
seis regiões do DNA alvo (NOTOMI et al., 2000). Além dos iniciadores FIP,
BIP, F3 e B3, podem também ser utilizados dois iniciadores adicionais, LF e
LB, que podem se anelar às estruturas de loop formadas, diminuindo o
tempo e aumentando a sensibilidade da reação (NAGAMINE; HASE;
NOTOMI, 2002). A reação acontece em duas etapas, uma etapa inicial não
cíclica e uma etapa final cíclica. A Figura 13 apresenta o mecanismo da
etapa não cíclica.
Figura 13. Mecanismo da etapa não cíclica da LAMP. a) Regiões do DNA alvo: F3, F2, F1,
B1c, B2c e B3c; e iniciadores: FIP, BIP, F3 e B3. b) (1) O iniciador FIP se anela à região
F2c e ocorre a síntese da fita complementar; (2) O iniciador F3 se anela à região F3c e a fita
é deslocada. (3) A fita liberada na etapa anterior forma uma estrutura de loop (laço),
gerando a estrutura 4. (4) O iniciador BIP se anela à região B2c e ocorre a síntese da fita
complementar, eliminando o loop da outra extremidade; o iniciador B3 se anela à região B3c
e a fita é deslocada. A fita liberada na etapa anterior forma duas estruturas de loop (laço),
gerando a estrutura 5. Fonte: Tomita et al. (2008).
55
Figura 14. Na etapa não cíclica os quatro iniciadores, FIB, BIP, F3 e B3
atuam na formação dos loops. Na etapa cíclica atuam apenas os iniciadores
internos, FIP e BIP, podendo também haver a participação dos iniciadores
LF e LB, que podem diminuir o tempo de reação e aumentar a sensibilidade.
A utilização dos iniciadores LF e LB não está demonstrada na Figura 14.
Figura 14. Mecanismo da etapa cíclica da LAMP. Partindo da estrutura (5), ocorre
anelamento do iniciador FIP à região F2c na extremidade do loop formado por F1 e F1c.
Após uma série de etapas, obtém-se a estrutura 7, que é complementar à estrutura 5. A
estrutura 7 dá origem à estrutura 8, a partir do anelamento do iniciador BIP na região B2c do
loop formado por B1c e B1, na extremidade direita da fita. A estrutura 5 pode ser novamente
produzida após uma série de etapas. Estruturas mais alongadas, como a 11 e 12, podem
também ser obtidas. Fonte: Tomita et al. (2008).
56
Como pode ser observado na Figura 14, a LAMP produz uma mistura
de fragmentos amplificados com vários tamanhos e estruturas diferentes,
diferentemente da PCR que, usualmente, leva à amplificação de apenas um
fragmento de tamanho específico.
A principal vantagem da LAMP em relação à PCR é o fato da reação
acontecer em temperatura constante, entre 60 e 66 ºC, o que dispensa o uso
de equipamentos caros como termocicladores, ou seja, as reações podem
ser realizadas em termobloco ou banho-maria. A LAMP também é muito
específica, uma vez que são utilizados quatro ou seis iniciadores para
reconhecer seis sequências diferentes do DNA alvo (DRAPALA;
KORDALEWSKA, 2013). A alta sensibilidade também é uma característica
muito importante dessa técnica; a LAMP é capaz de amplificar uma amostra
contendo apenas uma cópia de DNA até a obtenção de uma quantidade de
produto detectável (CONNELLY; ROLLAND; WHITESIDES, 2015). Além
disso, a adição de uma enzima transcriptase reversa à mistura reacional
torna possível a amplificação de DNA a partir de RNA, em uma reação
chamada RT-LAMP (MORI; NOTOMI, 2009).
Além das vantagens citadas anteriormente, a LAMP apresenta mais
uma importante característica: os produtos de amplificação podem ser
detectados visualmente sem a necessidade da realização de uma etapa
adicional de separação eletroforética (DRAPALA; KORDALEWSKA, 2013).
Esse fato faz da LAMP uma técnica muito poderosa para o desenvolvimento
de dispositivos portáteis para análises no point-of-care (DHAMA et al., 2014).
A detecção visual pode ser feita por turbidimetria ou por fluorescência
gerada após a adição de um intercalador (PARIDA et al., 2008). A
turbidimetria se baseia no fato de que durante a amplificação do DNA uma
grande quantidade de íons pirofosfato são formados a partir dos dNTP’s
(TOMITA et al., 2008). Esses íons podem se combinar com íons magnésio
presentes na mistura reacional (provenientes do MgSO4) e formar um sal
insolúvel de coloração branca (MORI et al., 2001). Essa coloração, todavia,
não é muito intensa para a detecção visual precisa (TOMITA et al., 2008).
Dessa forma, os produtos de amplificação podem ser visualizados por
fluorescência com a utilização de uma substância intercalante, como
57
brometo de etídeo e SYBR Green, com posterior submissão dos produtos à
radiação UV (PARIDA et al., 2008).
58
fluorescência em um único microchip de vidro, fabricado por fotolitografia. Os
produtos de amplificação foram analisados por detecção visual com a
utilização do corante SYBR Green.
3.2 OBJETIVOS
59
(Alvorada, RS). A enzima Bst DNA polimerase e sulfato de magnésio
(MgSO4) foram adquiridos junto à New Engalnd Biolabs (Ipswich, MA).
60
cada um dos quatro dNTP’s, e 1 ng µL-1 de RNA. Foram feitos controles
negativos, em que RNA foi substituído por água ultrapura. 5,0 µL da mistura
reacional foram introduzidos no canal microfluídico e os reservatórios foram
cobertos com óleo mineral, para impedir a evaporação da solução. Os
microdispostivos foram então colocados em um termobloco (Major Science,
Saratoga, CA) na temperatura de 65 ºC. O tempo de reação foi de 60
minutos. Após a reação, a temperatura foi aumentada para 80 ºC e mantida
por dois minutos, para a inativação da enzima Bst polimerase.
Os produtos da RT-LAMP foram analisados em gel de agarose a 2 %
em tampão TEB. Para a correta identificação dos fragmentos amplificados,
foi utilizado um padrão de tamanhos de DNA 100 bp DNA ladder. Os
produtos também foram visualizados a olhu nu, através da retirada da
solução do microchip e transferência para um microtubo, seguida da adição
do intercalador fluorescente BoboTM.
61
Outro aspecto importante no que diz respeito à realização de reações
de amplificação em microdispostivos é a razão área/volume (A/V) dos
canais. Tradicionalmente, as reações de amplificação são realizadas em
microtubos de polipropileno que apresentam uma razão área/volume de
apenas 1,6 mm2 µL-1 para 25 µL de solução (OUYANG et al., 2015). Nos
microdispositivos a razão A/V tende a ser bem superior. A grande razão A/V
dos canais microfluídicos tende a diminuir a eficiência da reação porque,
mesmo passivada, a superfície ainda pode interagir, em menor proporção,
com os reagentes da mistura reacional.
Experimentos iniciais de RT-LAMP foram feitos em microchips com
duas camadas intermediárias de PeT, obtendo-se microcanais com razão
A/V igual a 8,0 mm2 µL-1 (Resultados não mostrados). Devido ao insucesso
das reações, foi adicionada uma terceira camada intermediária de poliéster
com toner, aumentando o volume dos microcanais e diminuindo a razão A/V
para 6,4 mm2 µL-1. Com isso, as reações de amplificação passaram a ser
bem sucedidas, como mostra a Figura 15.
Após o estudo desses fatores realizou-se a RT-LAMP de um
fragmento específico do sorotipo 1 do DENV e os produtos de amplificação
foram separados por eletroforese em gel de agarose (Figura 15 a) ou
detectados visualmente através da adição do intercalador Bobo TM após o
final da reação (Figura 15 b). O microtubo da direita contém os produtos de
amplificação (apresenta fluorescência sob ação da luz UV) e o microtubo da
esquerda é o controle negativo, sem a presença de RNA.
O sucesso da reação de amplificação de RNA apresentado na Figura
15 mostra que os dispositivos de poliéster-toner são compatíveis com os
reagentes utilizados na reação e podem ser utilizados para a realização de
RT-LAMP a partir de amostras de RNA. Esses primeiros resultados são
ilustrativos para demonstrar o potencial dos microchips de PeT para serem
usados em reações de amplificação de RNA através de uma metodologia
simples e rápida como a RT-LAMP. Em próximas etapas serão
desenvolvidas metodologias para amplificação de RNA diretamente da
amostra de soro intacta, além de diferenciação dos diferentes sorotipos do
vírus dengue.
62
Figura 15. (a) Gel de agarose mostrando os produtos de amplificação de amostra de RNA
do DENV-1 obtidos através da amplificação isotérmica mediada por loop pós transcrição
reversa (RT-LAMP) em microdispositivos de poliéster-toner; (1) produtos de amplificação;
(2) controle negativo; (3) marcador de tamanhos de DNA. (b) Detecção visual da
TM
amplificação do vírus da dengue através da adição de Bobo .
3.5 CONCLUSÃO
63
de dispositivos de PeT para análises totais. Dispositivos com capacidade
sample-in-answer-out terão grande potencial para serem extensivamente
utilizados em diagnósticos de infecções causadas por vírus que possuem
RNA genômico, como a dengue.
3.6 REFERÊNCIAS
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67
CURRICULUM VITAE
1. Informações pessoais
2. Formação acadêmica
Bacharel em Química
Universidade Estadual de Maringá (UEM)
Maringá – Paraná (PR)
2009 – 2013
3. Atividades
68
microchip. 21st Latin-American Symposium on Biotechnology,
Biomedical, Biopharmaceutical, and Industrial Applications of Capillary
Electrophoresis and Microchip Technologies, 2015, Cartagena –
Colômbia.
69