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Analista não é colocado no lugar do Sujeito Suposto Saber podendo então fazer
parte do sintoma permitindo que sua intervenção cause efeitos na subjetividade ao incidir
sobre o gozo.
Este trabalho é fruto de um efeito de uma divisão levada ao cabo no encontro com
uma criança perversa, de 10 anos. Alguns pontos fundamentais balizam este trabalho e sua
ética.: Há uma só psicanálise, o campo lacaniano é o campo do gozo, não há segunda
clínica sem a primeira.
Parto do principio de que há perversão na infância entendida como estrutura.A
perversão é uma estrutura que se distingue dos traços de perversão, estes fenômenos
catalogados com perversos no percurso do tratamento analítico, transitóriamente ocupando
o primeiro plano da cena – uma passagem ao ato homossexual, o surgimento repentino de
uma prática fetichista em que um objeto se destaca como eleito, se constata a presença de
um ato exibicionista ou ato que desvela uma maldade ou mesmo o exercício da pulsão.
Lacan recusa uma idéia desenvolvimentista (regressão a traços psicóticos profundos,
perversão primária) para se ater ao mecanismo estrutural postulando a possibilidade de uma
dimensão perversa nas três estruturas. A estrutura perversa não é redutível, na teoria
freudiana, à criança perverso-polimorfa e nem se explica pela persistência na sexualidade
do adulto de uma pulsão parcial não sublimada,nem integrada á ordem do desejo genital,
não se esgota também na fenomenologia da vida erótica, mas configura uma organização
psíquica singularmente exemplificada pela clínica fetichista.
A primeira problemática que surge nesse campo que pretendemos abordar é portanto
a do diagnóstico, diagnóstico diferencial, situar na relação com o Outro qual a modalidade
particular de gozo de um dado sujeito revela. Para tanto precisamos partir da pergunta “O
que é a perversão no campo lacaniano?”.
As teorizações lacanianas sobre a perversão apresentam três momentos:
Primeiro momento teórico de Lacan Um primeiro período em que a perversão é
situada na dialética do Édipo, 1956-1959, período em que procede a releitura da
problemática da perversão na obra freudiana, utilizando os três registros R/S/I.
Com a teoria dos gozos, a formalização lacaniana sofrerá uma torção e um avance
definitivo que fica marcado no texto Kant com Sade. Um frase citada no texto “Subversão
do sujeito e dialética do desejo” (1960) aponta o caminho que irá ser traçado e que
culminará com o seminário Le sinthome : “ O perverso imagina ser o Outro, para assegurar
seu gozo; e nisto o neurótico se imagina ser o perverso, em termos fantasmáticos”. Aqui se
assinala que perverso, ao seu modo, se defende do desejo; o desejo sendo uma defesa ,
proibição de rebaixar seu limite no gozo. Este formulação vai preparar o caminho para a
formulação da problemática perversa a partir do real, em que situa a perversão através do e
um operador que permite situar o gozo fora do discurso na perversão.
Segundo momento teórico de Lacan: Do fetiche à fantasia (1960-1966)
Segundo Momento: o conceito de vontade de gozo
A psicose se produz se uma criança fica colocada no lugar do objeto @, sem que a
inscrição simbólica se haja produzido, por falta de oportunidade ou porque a inscrição
caducou (VERSÃO QUE NÃO ACREDITO). Depois Lacan agrega a gênese da psicose a
um momento constitutivo originário, prévio a vigência do Nome do Pai; vincula-a a
identificação primária. Haveria aqui uma debilidade de resposta egóica para postular o que
tem a ver com as primeiras fases de agressividade do imaginário; debilidade de resposta
imaginária.. Frente ao real o sujeito não reage, o corpo caído, indiferente ex. Joyce surra e
Lol diante de decepção amorosa; ser agressivo diante do acontecimento evitaria que o real
ficasse sem resposta (Lacan, Duras, 1965/ Joyce 1976.
Identificação primária: ser um corpo com um gozo: eu sou enquanto gozo, enquanto
afirmo o gozo de meu corpo.
Saída: sinthoma = configuração subjetiva atípica, distinta da posição simbólica do
fantasma, que logra a separação do objeto @. Ser autor, posição de distância simbólica,
enquanto corpo gozante, lhe permite fazer laço social e não só estabilizar sua singularidade
em paralelo com o Outro. Joyce logra a subjetividade através do delírio escrito, enquanto o
delírio psicótico é uma criação que não outorga saída. Filha de Joyce fala como ele
escreve.Com sua criação ele retifica o Nome do pai, corrige o fracasso do Nome próprio
outorgado. Joyce descompensa quando não escreve.
Lacan situa: o perverso se faz objeto a serviço do gozo do Outro. Ele se dedica a
tapar esse furo no Outro. Ele se vota e devota ao gozo Outro, para que o Outro exista não
descompletado. Assim segundo as duas pulsões: a escópica e a invocante, o sujeito se faz
objeto a para um mais gozar do Outro segundo 2 modalidades:
Suplemento a: Complemento de:
Sadismo Masoquismo
Voyeurismo Exibicionismo
a criança
Freud ao situar a perversão através do fetichista revela que a experiência da
descoberta da diferença entre os sexos,não foi marcada, não recebeu a marca do recalque
( como no sujeito neurótico) nem produziu em resposta, uma forclusão psicótica.. Freud
descobre a posição subjetiva original do perverso : a Verleugnung – a recusa, opera nas qual
ele reconhece da realidade da diferença entre os sexos mas também mantém sua antiga
crença na existência do falo materno.. Esta coexistência entre a crença e resignação (como
consequência das diferenças sexuais), Freud isola como ICHSPALTUNG, processo de
divisão que extrapola a estrutura perversa pois Lacan reinterpretou-a como base da
elaboração de uma divisão do sujeito. Mannoni exemplifica através da frase “Eu sei mesmo
mesmo assim...”.
O perverso é aquele que viu o que tinha que ver: a ausência do penis materno; mas é
antes de tudo aquele que não integrou essa percepção num discurso onde prevelece o desejo
fálico, o que lhe permite elidir diferença de sexos que, no entanto, ele conheceu. Desse
modo o sujeito perverso não sofre, tendo o em vista o lugar privilegiado que ocupa o seu
gozo, que lhe dá suporte para sua relações com o outro
O verdadeiro gozo do corpo é o gozo do Outro. È pelo gozo do Outro que o
corpo pode ser dito propriamente “substância gozante”. Mas é preciso distinguir o
gozo perverso onde se goza de tal ou tal parte do corpo enquanto fetiche e o gozo do
Outro, que é o gozo do corpo no corpo (ENCORE) e que Lacan caracteriza como gozo
mental.
Estas considerações permitem situar os traços de perversão nas estruturas clínicas, a
partir das pistas freudianas.
Freud no texto de 1919 “Uma criança é espancada” cujo subtítulo “ contribuição
ao estudo da gênese das perversões sexuais” descreve a construção de um fantasma
fundamental.. Aí se organiza uma massa considerável de experiências permitindo isolar um
fantasma de natureza masoquista.
Freud assinala que uma fantasia do tipo “uma criança é batida”, proveniente de
causas acidentais na infância e mantida para o propósito de satisfação erótica pode ser vista
como traço primário de perversão. Em Freud a palavra aparece em traço de percepção,
traço unário. O traço unário é o que apaga A COISA, faz surgir o sujeito como aquele que
conta. Eu ideal se fixa desde o ponto onde o sujeito se detem como ideal do eu. Freud
chama .
Freud chama a fantasia mantida para fins de satisfação autoerótica como um traço
de perversão - um traço único .Na perversão o que se realiza é o efeito inverso do.fantasma.
O que o fantasma realiza? O sonho realiza um desejo. O fantasma realiza a divisão do
sujeito (Lacan, Scilicet n. 1, pág. 58). O fantasma , é para o neurótico, essa montagem onde
o sujeito dividido – sujeito da castração, pode concordar, desacordando –se, com o objeto
do gozo.. O fantasma une e separa o sujeito do inconsciente com o objeto da pulsão.
Considerando os tempos na fantasia: primeiro tempo O pai bate na criança que é
meu rival ; segundo tempo: Uma criança é batida; terceiro tempo: bate-se numa criança
A fantasia tem aspecto imaginário ( imagens) tem uma dimensão simbólica
(variações gramática) e real (resíduo imodificável). A fantasia fundamental é o tipo de
frase que em lógica se chama axioma, que é um princípio. È um começo absoluto, não tem
motivação anterior, o significante surge do nada e cria uma significação absoluta. O
sintoma é dinâmico mas fantasia é estática, inércia,, fixa o sujeito num lugar.
Uma frase única – tem significação absoluta em sua fantasia, significação de
começo absoluto.
No imaginário do falante há uma falta radical, real: falta a inscrição da diferença
sexual, isto indica que não há indicação do parceiro sexual para o falante.A fantasia vem a
constituir para o sujeito falante a representificação dessa falta real através do significante
que permite a indicação de um objeto pelo efeito de imaginarização do simbólico, dando
um pouco de realidade ao sujeito. O objeto a vem a marcar este ponto de não representação,
o real , o sentido em branco, o inassimilável, o trauma. A fantasia tem a função de amor
tecedor do choque evitando o encontro direto do sujeito com o real, mediatizando através
do aparelho de linguagem. Nessa alienação fundamental, S2 é recacado e isolado de S1,
que cai fora da cadeia para ela consistir. Na fantasia se realiza a divisão do sujeito: é uma
montagem em que o sujeito dividido (sujeito da castração) pode concordar, descordando
com o objeto do gozo. Isto é o fantasma une e separa o sujeito do inconsciente do objeto da
pulsão.
A PRIMEIRA POSIÇÃO
A criança como sintoma dos pais se liga ao significante, evidencia a verdade e mostra a
estrutura. A verdade não como o que a estrutura representa, mas como o que a estrutura não
resolve na relação dos pais isto é reflete o inconsciente dos pais.
SEGUNDA POSIÇÃO
A criança como falo implica uma perpetuação em um lugar que devera ser
transitório. A posição do filho como falo que obtura a falta materna é uma momento
narcisizante ou de valorização. Esta posição de privilégio é um lugar transitório que tem
que ser destituído pela operação do Nome do pai, se não ocorrer se dá a perversão. Há um
déficit de destituição da criança desse lugar na instauração do Nome do pai, em grau maior
do que na neurose, onde a fixação a mãe é dominante.
TERCEIRA POSIÇÃO
O filho como objeto @ do fantasma materno: a mãe não localiza o filho nem em
sua estrutura significante, nem no grito de verdade que este ocupa como sintoma, nem
como falo adorado, criança maravilhosa. Aqui a mãe faz do filho objeto da pulsão e não
objeto do desejo. O filho no lugar do objeto a não tem condição de objetivar-se, pois está
do lado da coisa, com o qual perde as chances metafóricas e metonímicas e fica fixado sem
mobilidade ou alternativa simbólica para lograr a subjetivdade.
Em síntese: a 1ª posição propõe o filho desejado dentro do conflito dos pais e o torna
neurótico; a 2ª posição, ligada ao falo, o faz perverso e a 3ª apresenta o filho pulsional que
engendra a psicose.
O sádico faz aparência do objeto @, causante da angustia,nesse sentido está na
mesma posição que o analista: se coloca como semblante do objeto, como agente
angustiante no discurso do analista. O sádico tem uma posição de busca do real. Bater pelo
bater e não está ligado ao desejo. No fantasma bate-se há uma resposta subjetiva da criança,
é uma criação, num contexto de sadismo, como resposta ao acontecimento traumático, o
que pode gerar crueldade.
O falo é um estilo de novela de uma criança, um estilo particular, uma ficção. O falo
simbólico aparece como uma coordenada que permite ao sujeito ter um sexo: identificar-se
aos emblemas e modelos que assinalam o ideal para cada sexo. A partir da diferença
anatômica, corpo que tem ou não tem o órgão peniano, estes dons são subjetivados pelo
sujeito como modalidade do ter e do não ter. Subjetivação que permite uma significação
que substituirá o nome do órgão como significante fálico. Significante que nomeia a mulher
e o homem, mas não diz o que é isto ( impostura masculina e mascarada feminina)
Leonardo contra a representação da falta do pênis materno aparece o abutre materno
com sua cauda.
O sujeito perverso se oferece como objeto provocando a divisão do sujeito, ele visa
extrair um gozo do sujeito, um sujeito bruto do prazer (Kant com Sade)
No seminário 22 R.S.I. Lacan diz “ um pai só tem o direito ao amor e respeito se o
dito amor, dito respeito, estiver père-versement orientado, quer dizer, se ele fizer de uma
mulher o objeto @ causa de seu desejo. Isto é se ele barra a mãe em relação ao filho,
dividindo-a em mãe e mulher.
Que se desenhe, também fica sem dúvida bastante desapercebido por trás do que
está desenhado no que se vê” Chemama, pág. 14, O mundo a gente traça). O que se coloca
para o analista quando a criança desenha não é a significação do desenho mas o ato de
desenhar. O ato de desenhar que produz uma marca, representação do infantil, que poderá
vir a fazer função de traço, inscrição de um sujeito precisa fazer, ao mesmo tempo,
separação em relação ao Outro (pág. 23)
Tanto para a criança como para o adulto, a transferência põe em jogo uma relação
do sujeito ao Outro, um Outro situado além do analista. Mas na criança perfila-se de modo
mais evidente um Outro indestrutível, invasivo.
Perverso infantil apresenta-se como debilitado
Não como produções escassas, pobres ou estéreis de crianças coladas numa
relação ao Outro que o deixa sem a voz, que permanecem num silêncio, estáticas. Desenho
faz marca, a aí a criança corre o risco de ser tragada pelo Outro, porque ela desenha sobre o
olhar do analista , olhar que remete ao Outro indestrutível e do qual a criança está mal
separada. Quando o desenho se constitui para a criança uma passagem ao simbólico, a
produção gráfica se insere num diálogo e vai no sentido através do qual o desenho faz ato
de separação. Ato de separação, sem dúvida no inicio e fim da análise.
No inicio o analista destaca o que num desenho vem a fazer assinatura, trata-se de
uma forma que se repete e que, como por acaso, desenha a letra inicial do nome ou
sobrenome.( dimensão da letra ao nome ou sobrenome) e no fim há a produção de um
universo de novas formas, onde o traço e a letra se encontram enodados de modo
novo.Analista deve privilegiar não a ordem das significações mas o saber onde o desenho
cede à escrita.
Golem faz escritura da letra proibida ao olhar que ele carrega na fronte. È preciso
ouvir no real o que a não leitura da letra deixou fora de simbolização. O gozo da letra
feminina. Ler implica uma perda, como única condição de inscrição na lei simbólica, perda
de vocalização de uma letra.. A leitura da letra Aleph faz cair a voz e olhar do Golem. Não é
o Golem que está em posição de semblante de objeto a, mas a perda de sua voz e olhar.. A
leitura da letra Aleph reduz ao que ele : um dejeto, uma voz que se perde, um olhar que se
vela. O Rabino, como o analista, faz com que no lugar do S1 se produza o significante
Met e no lugar de S2 cenha o significante Emet que, como saber que testemunha o gozo do
Outro, não pode senão se semi-dizer como verdade. O discurso do analista se organiza de
um corte radical entre S1 e S2, permitindo que o sujeito se subverta de des-ser entre a
verdade e a morte.
Neurose : Se a criança vê a letra da sua escritura ele não a lê. Ver a letra, é ficar
alienado ao olhar do Outro. Ler é introduzir o corte necessário, através do qual cai não só a
letra mas o olhar do Outro. Silencio diante dos desenhos, mutismo, porque isso o olha
Presentificação do desejo é o desejo do Outro O Outro terrificante exige que o gozo do
poder da letra lhe seja restituído.
O perverso deixa de lado o próprio desejo e só invoca a referência a lei, que não
é sua. Quando o gozo se petrifica nele, se converte no fetiche negro em que se reconhece
a forma claramente oferecida em tal tempo e em tal lugar ..., para que se adore nela o
deus. : Ele se faz instrumento. (Kant com Sade),não atuando em seu próprio nome, mas
invocando a lei do Outro, que assume por adesão e com devoção. “Não sou mais que
instrumento de sua vontade”. O instrumento assimilado ao objeto a substitui o prazer
indica aquilo pelo qual o perverso pode invocar seu sofrimento na petrificação que é a
sua. E não faz mais que esquivar o reconhecimento de sua divisão pessoal para que ela
seja reenviada desde o Outro. Por isso os perversos são tão pouco acessíveis aos
impedimentos, a perda, as renuncias ou a contenção: fazem passar a divisão ao Outro e
aos outros.
Para Freud a diferença neurose perversão se resolve pela dialética edipiana Lacan a
situa no sentido de dar como resposta o desejo da mãe a identificação com o falo da mãe.
Se identifica ao falo e crê ser o objeto do desejo da mãe (Escritos pa.g554)
DIREÇÃO DA CURA
Só há uma psicanálise. Os conceitos e matemas de Lacan – a estrutura, o
significante e objeto a concernem tanto ao adulto como a criança
A demanda em análise , logicamente, pode ocupar o lugar de uma reorganização
que sucede a disjunção do sintoma e angustia, conduzindo a reformulação do destinatário:
de uma suposição de saber. Trata-se de uma tentativa de anular o indecidível da angustia.
Isto é: dado integrar a um Outro do saber nesta tentativa resolver o indecidível.
O perverso não demanda nada. Se aparecer uma demanda de análise é porque o
sujeito foi afetado pela aparição de uma divisão, trazendo uma queixa cujo objeto recai
sobre o gozo que deixou de adequar-se a sua prática erótica. Isto se dá a partir da posição
do parceiro, cuja demanda formulada põe a descoberto funcionamento regulado da estrutura
perversa: ele busca no Outro o gozo através da angustia e a obtenção do gozo não se faz
sem o acompanhamento do fantasma não, não para estabelecer um saber a seu respeito, mas
para preserva-se dele. O masoquista ignora estar alcançando o gozo, no qual é um crente.
Ele crê na angustia do Outro, na angustia de Deus, e responde a ela mediante um fantasma:
ser um dejeto
Suscitar a angustia do parceiro constitui para o perverso vai mais além do desejo de
fazer surgir um sujeito despojado de sua palavra. A angustia provocada pelo traço de
perversão visa fazer dois como o gozo, , ele visa socializar o gozo. A vítima não está só
frente ao transbordamento do afeto mas frente ao fato de que o perverso quer produzir o
seu pensamento. ( Caso Victor, Alex) (Sem X 6/11/63), isto é ele quer forjar um sujeito,
cujo calculo do gozo seria exato: sua aspiração é definir uma operação sujeito, operação
que é o calculo significante do sujeito, sua programação , mas também sua amputação de
todo o que poderia constituir um resto de gozo não alienado do corpo. O transporte ao
Outro de um gozo desconhecido há que se acrescentar uma função complementar pela qual
o perverso se faz Outro da angustia do parceiro. Ao mesmo tempo ele causa e domestica
seus efeitos. Este pensamento de angustia pode dar valor de sintoma ao traço de perversão,
convertendo-se este, para o parceiro, em uma parte significante separada do corpo próprio.
Esta dicotomia do sintoma a que fica maltratada (acabada) quando o parceiro tem ocasião
de reencontrar, na queixa dirigida ao analista, o meio de nomear seu sintoma. O perverso
passa a ser um Outro abandonado pelo pensamento e sua prática oide ficar com isso
temporariamente desvalorizada.
A dificuldade que caracteriza a relação do perverso com a demanda de análise é
porque para ele o Outro está constituído como um campo diretamente articulado com a lei
do contrato consentido pelo parceiro, o que implica uma exclusão da função do Pai como o
que preside o desejo. A posição de analisante exige na transferência um desprendimento da
causa do desejo afim de que seja confiada ao analista. O perverso goza deste
desprendimento, ele tira proveito de qualquer posição de perda, isto é ele não tem que se
queixar de um desejo defraudado. Lacan aí situa um “gozo analógico ao desejo” (XVI,
22/1/69), o que implica que para o analista a difícil tarefa de sustentar que uma analogia, o
que caracteriza o fetiche cujo principio é a semelhança, não podia ter em nenhum caso
valor de metáfora.
FANTASMA
Não é sem referência ao Pai real, quem produziu a perda, a causa, a hiância do
sujeito em sua divisão. O fantasma Bate-se numa criança é paradigma da função de amor
ao pai ali onde este no mito, se fez impossível, força o gozo a tomar valor de gozo, a
ressarcir o corpo do efeito de despojamento de gozo: gozo como marca dessa perda, confins
do corpo de prazer e buraco do gozo, sem que possa mais que desmentir sua alienação
fundamental , gozo que me priva de meu corpo golpeado pelo Outro. O que goza é o pai e
meu gozo me volta de forma invertida como gozo do Outro. Essa borda de prazer e de gozo
é o buraco onde a morte se perfila na biologia do corpo, no equilíbrio homeostático, no
recorte do corpo que efetuou o significante. O fantasma põe em cena a eleição fundamental
reduplicando-a: o sujeito do desejo ou objeto do gozo, logrando um sujeito como objeto do
Outro. O gozo do pai no fantasma, nele a causa se faz lei da divisão do sujeito. Já o super
eu é presença do mandato que enquanto impossível nos recorda que somos devedores de
um gozo.
SUPER EU
AS PERVERSÕES
Atrás do véu
Véu Sujeito Objeto-Nada
O fetiche como falo imaginário pode ser colocado por um sujeito que identificando-
se com a mãe, apresente a partir desse lugar, o fetiche, situando-o atrás do véu. Situa-se no
lugar da mãe
- Tranvestismo: o sujeito se identifica com uma mulher – que tem o falo, mas o tem
enquanto oculto. A proteção contra a angustia tem êxito pois trata-se de esconder a falta de
objeto. È preciso que sempre seja possível pensarmos que ele está ali precisamente onde ele
não está. Fetiche capa de chuva (mackintosh) acompanhamento necessário da sexualidade
era estimulante do erotismo da pele. Aos 3 anos era forçado usar macaquinho de borracha,
ligado ao exibicionismo, ao espetáculo e medo da castração. A capa protege, ela mascara
como imagem fálica o que ela designa como elemento simbólico, a falta fálica como causa
de angústia no sujeito. Vestindo a capa ele cumpre a operação a renegação.
- Exibicionismo: algo que se abre num momento dado uma calça e que o fecha. É
apresentação da fenda no espaço do desejo do Outro. Ele não espia como o voyeur, ele
entreabre sua tela, como um calça que se abre, para oferecer-se à vista do Outro, toca-lo
para além de seu pudor, e pôr-se à mercê do Outro. (Sem. O desejo 10/6/59). Ele dá a ver
para ver o Outro surpreendido pelo desvelamento. Ele mostra o que ele tem, uma vez que o
Outro não tem. Revela ao Outro o que este é suposto não ter, para mergulha-lo ao mesmo
tempo na vergonha do que lhe falta. Ele presentifica a mãe uma vez que não haveria nela
falta.
Revela a função do olhar fazendo-a aparecer no campo do Outro. A posição de ver é
na verdade dar-se a ver , o gozo que aparece no olhar surpreendido do outro, sacudido em
seu pudor.
O peso do ato recai faz surgir o olhar no campo do Outro dando a ver ao outro o que
a suscita
-Sadismo: O chicote, o porrete, o cetro presentificam a imagem fálica. A
identificação com a mãe que veste calcinha protege da angústia. O sádico faz cócegas ao
Outro, joga com o sujeito de gozo, sem saber que se converte em instrumento de uma
pergunta: Isto do que gozo, goza. Ele realiza a função de a sem sabe-lo.
Sádico ingenuamente se inclui no jogo do masoquista, crendo despojar sua palavra,
impondo-lhe sua voz. Chegando ao limite com o objeto poderá borrar as leis do desejo,
submetendo-as a vontade de gozo. Que não é sua vontade, mas um imperativo do qual fica
escravizado.
Deixa o sujeito sem palavra mas para que escute a voz do Outro. Faz surgir a
angústia no outro como sinal da divisão subjetiva e, com isso, suscita o objeto de goze que
completa ao Outro.
.Tanto no sádico como no masoquista, o esvaziamento da palavra sacrificada à voz
esboça um não há lugar a aparição do malentendido. Com a reposição da voz no Outro seu
buraco fica obturado: O Outro existe sem falha.
Apesar de diferentes cenografias , o perverso é defensor da fé auxiliar, de Deus.
A diferença radical entre a neurose e perversão é que nesta o sujeito tenta manejar,
dominar o pulsional em função de ser ele, o instrumento do gozo do Outro.
Sem XI, Lacan fala que a pulsão não é a perversão ( voyeur, exibicionismo podem
aparecer nas neuroses) então pode –se concluir que a perversão é modo em que o sujeito se
posiciona com respeito a estrutura significante
Sem XVI “ O sujeito na perversão toma ele mesmo o cuidado de suprir esta falha do
Outro, que não é uma noção de acesso a primeira vista, mas que necessita de certa
elaboração da experiência analítica”
Ligação da perversão com o objeto a. Se a experiência analítica mostra o objeto a
como não referenciável , não especularizável, em si mesmo incapturável, o perverso
questiona estes atributos com uma busca contínua que culmina em um instante de aparente
captura em ato.
Aparente captura. O perverso funciona como o a do Outro mas não se pode pensar
este objeto em termos significantes ou de sujeito. Se a é o resto da operação significante o
perverso tenta que ali não haja perda, ou no caso de haver que sta seja controlada pelo
sujeito. Ele é produto da operação significante que o causa como sujeito mas tenta obtura-
la para desaparecer esse resto que a denunciaria, tentando jogar com a imaginário dese os
mais deslumbrantes cenários até os mais torturantes, para que se olhe o que não se pode
ver, para que o mais abjeto não faça sua aparição, para que a castração fique oculta entre as
pernas da mulher.
TRANSFERÊNCIA
Ato Perverso