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RAFAEL FALCÓN
Programação do Curso
30 maio 31 maio 1 junho
SEXTA SÁBADO DOMINGO
Aula I: O desenvolvimento da Aula II: Górgias e o fracasso da Aula III: A Oratória Romana
Gramática como disciplina retórica sofística segundo Cícero e Quintiliano
PROTÁGORAS (PLATÃO)
[4] I. Aquele que já dominou a escrita e a leitura deve ritmo; nem entenderá os poetas se ignorar a teoria dos
frequentar, primeiro, o professor de literatura. E não im- astros, sendo tão frequente na poesia o uso das idas e
porta se falamos de grego ou latim (embora seja melhor vindas dos sinais para comunicar as horas. E que não
que o grego venha primeiro), pois o caminho para am- seja ignorante na filosofia; primeiro, por causa dos mui-
bos é o mesmo. II. Esta profissão, embora seja dividida tos tópicos, em quase todos os poemas, que derivaram
em duas partes ‒ o conhecimento da linguagem correta de investigações profundamente sutis da natureza; se-
e a explicação dos poetas, possui mais por trás dela do gundo, principalmente por causa de Empédocles entre
que promete a sua fronte. III. O método de escrever está os gregos e de Varrão e Lucrécio entre os latinos, V. que
unido ao de falar; a explicação é precedida pela leitu- transmitiram ensinamentos de sabedoria em versos. É
ra corrigida; e misturado a todos esses elementos está o necessária também ao professor uma eloquência nada
senso crítico. Os literatos antigos fizeram dele tão severo mediana, para que fale de cada uma dessas coisas que
uso que não apenas se permitiam censurar versos com mencionei com propriedade e abundância.
um risco e taxar como apócrifos livros que parecessem
falsos, como ainda modificavam alguns clássicos, en- Assim, não se deve de modo algum tolerar os que evitam
quanto a outros eles simplesmente baniam da sua lis- esta arte como sendo fraca e magra. Se ela não lançar
ta. IV. Mas não basta ter lido os poetas: todo gênero de corretamente tais fundamentos para o orador futuro, o
escrita deve ser analisado, não só pelo conteúdo, mas que quer que construíres por cima, cairá. É necessária
pelas palavras, que frequentemente tomam sua autori- aos meninos, prazerosa para os velhos, doce companhei-
dade dos clássicos. Tampouco pode ser perfeita a lite- ra dos momentos tranquilos, e acima de tudo a única, em
ratura sem música, já que é preciso falar de métrica e todo gênero de estudos, que produz mais do que mostra.
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SI. interea mulier quaedam abhinc triennium uerisimile unum annum fuisse pudicae parcaeque uitae,
sequentem condicionis acceptae, tertium mortis. pri-
[1] interea mulier interea est, cum habet instantiam mo ergo anno ignorata est Pamphilo domus Chrysidis,
et superiorum actorum. [2] mulier quaedam sic dixit, secundo est Glycerio cognitus, tertio nupsit Glycerium
quasi ignoraret nomen eius paulo post Chrysidem no- Pamphilo et pariter inuenit parentes.
minaturus, sed ideo, ut gratam exspectationem faciat
simulque auidum lectorem nominis audiendi reddat, ut 70
Vergilius paulo post nominaturus ait « ecce manus iuue- ex Andro commigrauit huc uiciniae,
[9] I. Encerramos, pois, as duas partes que promete esta partir da lição, cuja teoria é semelhante para todos os
profissão: a teoria da linguagem e a explicação dos clássi- exercícios, embora a aparência de cada um seja diferen-
cos, que chamamos respectivamente de [gramática] ‘me- te. A máxima, por exemplo, é uma fala geral, enquanto a
tódica’ e ‘histórica’. Acrescentemos, porém, às ocupações etiologia ocorre dentro do âmbito de uma personagem.
do professor, alguns exercícios discursivos introdutórios, IV. Há muitos gêneros de anedota: um, semelhante à má-
por meio dos quais ele eduque os ainda jovens demais xima, que é colocado numa fala simples: “ele disse...” ou
para o rhetor. II. Desde logo, que aprendam a narrar as “costumava dizer...”; outro que consiste numa resposta:
estorinhas de Esopo (que seguem de perto as estórias das “tendo ele sido interrogado...” ou “como isto tivesse sido
babás), numa linguagem pura e não mais elevada que a dito a ele, respondeu...”; um terceiro, não muito diferen-
medida; em seguida, a extrair com o estilete a sua graça te do anterior, seria: “como alguém tivesse dito algo...”
original: primeiro, desfazer o verso, logo interpretá-lo ou “tivesse feito”. V. Considera-se também haver uma
com palavras diferentes, depois vertê-lo numa paráfrase anedota nos atos das personagens, como: “Crates, quan-
mais audaciosa ‒ à qual se permite abreviar e embelezar do viu um menino estúpido, espancou seu pedagogo”, e
alguns trechos, contanto que se mantenha o sentido do outras aproximadas, que não se ousam porém chamar
poeta. III. Quem conseguir lidar adequadamente com pelo mesmo nome (chamam-nas “anedóticas”), como:
esse exercício, que é difícil até para doutores consuma- “Milão, que costumava carregar um bezerro, acabou car-
dos, estará pronto para aprender qualquer coisa. Igual- regando um touro”. Em todos esses exercícios, conduz-
mente, junto aos professores de literatura escrevem-se -se uma declinação pelos mesmos casos e há um método
máximas, anedotas e etiologias, mostrando-se antes tanto para os atos como para os dizeres.
o método para cada uma: pois o exercício é iniciado a
GÓRGIAS (PLATÃO)
Sócrates
Portanto, aquele que não sabe será mais convincente, ele sabe mais do que os que realmente sabem. Ou será
para os que não sabem, do que aquele que sabe; se é que necessário saber e, portanto, qualquer um que pretenda
o orador é mais convincente do que o médico. A conse- aprender retórica deve ter um conhecimento prévio de
quência é essa, ou alguma outra? tais coisas, quando te procura? Caso contrário tu mes-
mo, como professor de retórica, não ensinarias à pessoa
Górgias que te procura coisa alguma a respeito delas ‒ pois não é
No caso, é precisamente essa. ofício teu ‒ e tratarias apenas de como fazer parecer, aos
olhos da multidão, que ele sabe coisas daquele gênero
Sócrates (quando na verdade não sabe), e que ele é bom, quando
E o caso é o mesmo em todas as outras artes, do ponto na verdade não é?
de vista do orador e de sua retórica: não há necessidade
de saber a verdade a respeito de assuntos reais, mas bas- (...)
ta ter descoberto algum mecanismo persuasivo que faça
parecer, aos olhos daqueles que não sabem, que sabemos Górgias
mais do que os que realmente sabem. Ora, Sócrates, suponho que, se ele não sabe tais coisas,
terá de aprendê-las comigo.
Górgias
Bem, e não é bem conveniente, Sócrates, rivalizarmos (...)
com especialistas, tendo aprendido apenas esta arte e
deixando as outras de lado? Socrates
Segue-se de nossas afirmações que o retórico deve ser
Sócrates justo.
Se o orador é ou não um rival dos demais por causa dessa
habilidade, é uma questão que examinaremos em breve, (...)
se nosso debate exigir; no momento, consideremos pri-
meiro se o retórico possui a mesma relação com o que Sócrates
é justo e injusto, baixo e nobre, bom e mau, que ele tem Agora vejamos se posso explicar-me mais claramente.
com as coisas saudáveis e os vários objetos de outras ar- Há dois diferentes ofícios aos quais designo diferentes
tes. Ele não sabe o que é realmente bom ou mau, nobre artes: ao primeiro, que diz respeito à alma, chamo polí-
ou baixo, justo ou injusto; ao invés, arquitetou um meio tica; ao segundo, que se relaciona com o corpo, embora
de persuasão para lidar com esses assuntos, de modo a não possa dar-te um único nome para ele no momento, é
parecer, àqueles que, como ele mesmo, não sabem, que um único ofício, a administração do corpo, que nomeio
A ENEIDA: CANTO I
Crasso
(...) E quanto a mim, não concordava com eles, nem com Porém, quem tiver aprendido tais coisas, sem as quais
o inventor e o príncipe dessas discussões, de longe o es- ninguém pode enxergar corretamente nem mesmo os
critor mais sério e mais eloquente de todos, Platão. En- aspectos mais insignificantes de uma causa judicial, o
quanto estava em Atenas com Cármades, li atentamen- que lhe pode faltar do conhecimento das coisas maiores?
te o seu Górgias; e o que eu mais admirava em Platão, Se queres que nada pertença ao orador, exceto falar de
ao lê-lo, era que ele mesmo me parecia o maior orador, modo ordenado, ornamentado e abundante, pergunto
ao satirizar os oradores. De fato, a controvérsia verbal eu, quem pode chegar mesmo a isso sem esse conheci-
já há muito tempo tortura os homenzinhos gregos, que mento que não lhe concedeis? A força do discurso, se
têm mais desejo de debate do que da verdade. Afinal, aquele que fala não compreende as coisas de que fala,
se alguém afirmar que orador é quem só consegue falar não pode ficar de pé. Por isso, se o filósofo natural De-
abundantemente sobre a lei ou nos tribunais, ou perante mócrito falou ornamentadamente, segundo se diz e me
o povo, ou no senado, será porém necessário conceder- parece, a matéria-prima foi a filosofia natural, sobre a
-lhe e atribuir-lhe muitas qualidades: pois sem grande qual falou; mas o ornamento da linguagem deve ser con-
familiaridade com todos os assuntos públicos, sem co- siderado próprio da retórica. Se Platão falou divinamen-
nhecimento das leis, dos costumes e do direito, desco- te sobre assuntos distantíssimos das controvérsias polí-
nhecida a natureza dos homens e os costumes, não pode ticas ‒ o que eu mesmo concedo ‒ e se do mesmo modo
ser versado com a experiência e a perícia necessárias Aristóteles, Teofrasto e Carnéades foram eloquentes, su-
nem mesmo nessas matérias. aves e ornamentados ao discursar sobre as matérias que
IX. Estamos a formar o orador perfeito, que só pode ser elocutio, duvidar-se-á que, onde quer que se requeira a
um homem nobre; e por isso exigimos dele não apenas força do engenho e a abundância discursiva, ali estarão
uma extraordinária capacidade discursiva, mas todas as importantes elementos da oratória? XIII. E ambas as ar-
virtudes do espírito. X. Não hei de conceder que, como tes, como Cícero demonstrou claramente, foram tão uni-
alguns julgaram, o método para uma vida correta e hon- das na natureza quanto aproximadas na função, ao ponto
rada deva ser relegado aos filósofos, de vez que um tal de sábios e eloquentes serem considerados a mesma coi-
homem político, adaptado à administração das coisas sa. Depois esse estudo se dividiu, e ocorreu por inércia
públicas e privadas, que pode governar cidades com seus que se chegasse a crer que houvesse mais artes: tão logo
conselhos, fundá-las com suas leis, corrigi-las com seus a língua virou objeto de lucro e os dons da eloquência,
julgamentos, não é outro, desde logo, senão o orador. XI. que são bons, passaram a ser mal usados, os homens arti-
Pelo que eu, embora admita que farei uso de ideias que culados, que possuíam a guarda da ética, abandonaram-
estão em obras filosóficas, insistiria que elas pertencem, -na. XIV. Abandonada, no entanto, tornou-se presa para
de direito e de verdade, ao meu estudo, e que dizem res- engenhos mais fracos. E por isso alguns, abandonando a
peito propriamente à arte do orador. XII. Ou será que, se labuta dos nobres discursos, retornaram à formação dos
é preciso discorrer tão frequentemente sobre a justiça, a espíritos e à definição das regras do viver, e mantiveram
fortaleza, a temperança e semelhantes conceitos, de tal para si aquela que, se fosse possível dividi-las, seria sem
modo que dificilmente se encontra uma causa judicial à dúvida a parte preferível das artes. E se arrogaram um
qual alguma dessas questões não diga respeito, e se todas nome insolentíssimo: são os únicos que se chamam de
elas precisam ser desenvolvidas nas fases de inventio e “estudantes da sabedoria”.