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Trinta anos depois: realidade e

pesquisa das religiões afro-brasileiras


do centenário da Abolição aos dias
de hoje (1988-2018)

Reginaldo Prandi

E
Luiz Jácomo
Teresinha Bernardo

m 1991, um dos autores do presente traba-


lho publicou Os candomblés de São Paulo:
a velha magia na metrópole nova (Prandi,
1991), livro que trata dos resultados de pes-
quisa realizada entre 1986 e 1988, sobre a

REGINALDO PRANDI é Professor Emérito


da Universidade de São Paulo (USP),
pesquisador do CNPq e membro do
grupo de pesquisa Diversidade Religiosa
na Sociedade Secularizada do CNPq.

LUIZ JÁCOMO é doutorando no Programa


de Pós-Graduação em Sociologia da USP e
membro do grupo de pesquisa Diversidade
Religiosa na Sociedade Secularizada do CNPq.

TERESINHA BERNARDO é professora da


PUC-SP e coordenadora do grupo de
pesquisa Relações Raciais: Memória,
Identidade e Imaginário do CNPq.

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chegada, instalação e expansão do candomblé e apesar de se acreditar que a umbanda,


em São Paulo a partir da década de 1960, no conjunto das tradições afro-brasileiras,
pesquisa cujos resultados foram inicialmente era a expressão religiosa mais propriamente
apresentados à Universidade de São Paulo adequada e coerente com a sociedade in-
como tese de livre-docência em sociologia. dustrial da grande metrópole do Sudeste,
Já nessa época, a umbanda estava definitiva- o candomblé viria a se mostrar como uma
mente enraizada na cidade, como de resto em alternativa importante no quadro das reli-
todo o país (Camargo, 1961; Concone, 1987; giões populares que disputavam o mercado
Negrão, 1996). Sua presença bem consolida- religioso brasileiro (Camargo et al., 1973).
da, porém, nunca escondeu a grande proxi- Mercado esse que se expandia, em conse-
midade doutrinária que a umbanda mantém quência do avanço do processo de secula-
com valores reconhecidamente católicos e rização que desqualificava definitivamente
orientação de conduta marcada pela visão o catolicismo como a única religião capaz
tradicional cristã de que tudo neste mundo de servir de esteio à sociedade brasileira,
se resume à eterna luta do bem contra o mal, ela mesma cada vez mais desinteressada da
maniqueísmo ausente do corpo doutrinário religião (Pierucci, 2004).
originariamente africano conservado nos ter- Tendo deixado de ser uma religião prati-
reiros de candomblé, nos quais a presença camente exclusiva de grupos negros – como
sincrética do catolicismo sempre foi mais foi em suas origens e ainda o é em certas
uma questão de forma do que de conteúdo. cidades do Nordeste, sobretudo –, o candom-
Sem se comprometer necessariamente com blé em São Paulo arrebanhava adeptos de
o bem ou com o mal, o candomblé é capaz todas as origens étnicas e raciais, prolife-
de enxergar os problemas humanos indepen- rava sobremaneira entre os pobres, como o
dentemente de qualquer restrição moral que pentecostalismo e a umbanda, oferecendo-se
possa implicar uma ideia de pecado. Emo- inclusive como agência religiosa especializa-
ções, experiências, sensações, expectativas, da de serviços mágicos para uma demanda
tudo isso, antes de mais nada, é constitutivo de clientes de qualquer classe social não
do que possa ser a vida humana, espelhada comprometidos religiosamente.
nos mitos dos orixás que os homens e mu- Sua presença em São Paulo, já definida,
lheres reproduzem no seu dia a dia. Com o naquele período, nos termos de uma reli-
candomblé, finalmente, uma pessoa religiosa gião competitiva capaz de se afirmar como
poderia ser e se sentir aquilo que de fato é. religião de caráter universal, isto é, aberta
Os candomblés de São Paulo procurou a todos, representava uma terceira etapa de
traçar as origens dos terreiros instalados na um processo iniciado com a introdução do
região metropolitana da capital, identificar kardecismo na sociedade brasileira, na virada
suas diferentes nações étnicas e variantes do século XIX para o XX, e redireciona-
rituais e doutrinárias e, sobretudo, entender do com a consolidação da umbanda, numa
o sentido de sua presença na cidade. A des- segunda etapa, a partir dos anos 1950. A
peito de o candomblé nunca ter, antes dos pesquisa de então mostrava o candomblé
anos 1960, se constituído significativamen- como religião capaz de atender a demandas
te como religião organizada em São Paulo, muito características de uma sociedade que

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experimentava o gosto pelo individualismo, em número de convertidos, duas alternativas
que nutria a ampliação da diversidade e da viáveis para diferentes subjetividades dos
diferença na construção da identidade de candidatos à conversão (Fry, 1975).
cada um e que aprendia a aceitar a esco- O candomblé simplesmente não chegou e
lha religiosa como um valor para todos e se instalou por aqui. Ele passou por muitas
um direito da pessoa, independentemente de adaptações e foi objeto de diferentes movi-
tradições familiares e inserção social. Tudo mentos e iniciativas. Os candomblés de São
muito diferente do que se podia observar Paulo mostrou a grande preocupação recente
nas religiões evangélicas, com as quais o dos novos seguidores dos orixás em recuperar
candomblé e a umbanda competiam como para sua religião muitos elementos e aspectos
alternativas religiosas aos que se afastavam esquecidos ou deixados de lado por força do
ou se sentiam afastados do catolicismo. Aliás, processo histórico, opressivo e violento que
é bom que se diga, nessa época havia pouca marcou a reconstituição das religiões dos
informação censitária sobre os números de orixás no Brasil: primeiro, durante o escra-
seguidores das religiões afro-brasileiras e das vismo, o apagamento da identidade familiar,
denominações pentecostais, o que levava os da religião e de valores africanos, embasan-
estudiosos das religiões a crer que essas du- do o trabalho compulsório mantido a ferro
as vertentes competiam em pé de igualdade em brasa e chibata sanguinolenta; depois,
Reginaldo Prandi

Tocadores de atabaques, Candomblé Casa das Águas, 2012

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com o racismo que se segue à Abolição, a Amado, Roquette-Pinto, Edison Carneiro, Ar-
incompreensão, o não reconhecimento e a thur Ramos, Ulisses Pernambucano, Luís da
perseguição sem trégua por parte de muitas Câmara Cascudo e o antropólogo americano
instituições da sociedade brasileira branca e Melville Herskovits (Freyre, 1935, 1937).
católica, que viram na religião afro-brasileira Já o II Congresso Afro-Brasileiro foi
durante muito tempo – e de certa forma realizado em 1937, em Salvador, tendo à
continuam vendo – uma via de manifesta- frente Edison Carneiro, que procurava dar
ção demoníaca, do mal. Muito se perdeu continuidade, ainda que de forma crítica, à
por conta disso tudo, e era preciso repor pesquisa pioneira de Raimundo Nina Ro-
as coisas no lugar: reaprender as línguas drigues, que inaugurou no Brasil os estudos
africanas usadas nos rituais, recuperar os sobre o candomblé e tratou longamente, à
mitos esquecidos, livrar-se do peso morto do moda racista de seu tempo, de questões re-
sincretismo católico, encontrar mecanismos ferentes à população negra. Retornaram ao
de legitimidade social e garantir um lugar debate Herskovits, Edison Carneiro, Arthur
cidadão para a religião numa sociedade que, Ramos e Jorge Amado, aos quais se junta-
ela também, tentava se refazer na luta pela ram muitos outros, além do sociólogo ame-
reconquista de seus direitos violados (Prandi, ricano e Professor Emérito da USP, Donald
2005). De todo modo, estamos muito longe Pierson, que conduziu seus estudos sobre o
dessa travessia ter se completado. negro preocupado com os conceitos de cul-
tura e classe social; o babalaô Martiniano
2 do Bonfim, figura lendária do candomblé; e
a igualmente famosa ialorixá Ana Eugênia
Em 1988, por ocasião do centenário da Obabií dos Santos, Mãe Aninha, fundadora
Abolição legal da escravidão no Brasil, rea- do Axé Opô Afonjá. Também esteve presente
lizou-se na Universidade de São Paulo, de 7 o africano Ladipô Sôlankê, que apresentou
a 11 de junho, o evento “Escravidão – Con- uma comunicação sobre a concepção de Deus
gresso Internacional”. A rigor, tratou-se do entre os iorubás (Carneiro, 1940).
IV Congresso Afro-Brasileiro. O primeiro, Passados 45 anos, por ocasião das co-
datado de 1934, foi realizado em Recife por memorações do cinquentenário da publica-
iniciativa de Gilberto Freyre, que no ano ção de Casa-grande & senzala, realizou-se,
anterior publicara Casa-grande & senzala. novamente no Recife, em 1982, com a pre-
Pretendia-se tratar de inúmeras questões re- sença de Gilberto Freyre, o III Congresso
ferentes à população negra brasileira suscita- Afro-Brasileiro, sob os auspícios do Instituto
das pelo livro. Foram reunidos no congresso Joaquim Nabuco e com organização de Ro-
importantes autores, antropólogos, psiquia- berto Motta. Ao lado de consagrados autores
tras, escritores, advogados, historiadores, brasileiros e estrangeiros, o evento trouxe
folcloristas, músicos e também sacerdotes, uma nova geração de pesquisadores das po-
caso de Pai Adão, babalorixá do Terreiro pulações negras, assim como novos temas.
de Iemanjá, dos mais antigos do país. En- Entre os presentes, destacaram-se Raimundo
tre nomes famosos, se destacaram o próprio de Souza Dantas, que foi o primeiro embai-
Gilberto Freyre, Mário de Andrade, Jorge xador negro brasileiro, Manuela Carneiro

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da Cunha, Carlos Hasenbalg, Paulo Viana, de número nove, intitulado “Cultura reli-
Thales de Azevedo, João Baptista Borges giosa afro-americana”, que contou com 74
Pereira, Clovis Moura, entre outros, além expositores (Escravidão, 1988). Esse módulo
de especialistas em religiões afro-brasileiras aconteceu no prédio de Filosofia e Ciências
que ocupam lugar importante na produção Sociais da FFLCH. Além das apresentações
científica sobre essa herança africana: Jua- orais, mesas e discussões, várias exposições
na Elbein dos Santos, René Ribeiro, Marco foram montadas: um terreiro de umbanda;
Aurélio Luz, Yeda Castro, Peter Fry, Walde- um terreiro de candomblé; um espaço de
mar Valente e o coordenador do congresso, santeria cubana; uma mostra de trabalhos do
Roberto Motta (Motta, 1985). Babalorixás artista Mestre Didi; uma mostra de objetos
importantes como Manoel do Nascimento rituais do tambor de mina; uma exposição
Costa, mais conhecido como Papai, neto de sobre o uso das cores nas religiões dos ori-
Pai Adão, também apresentaram suas contri- xás; um herbário de folhas sagradas e uma
buições. Entre os temas candentes, tratou-se mostra de instrumentos musicais do batuque
criticamente das condições do negro no con- gaúcho. O módulo reuniu importantes pes-
texto das classes sociais e do modo como o quisadores das religiões afro-brasileiras do
processo brasileiro de abolição foi conduzido. país, além de sacerdotes de respeitados ter-
Transcorridos seis anos, em 1988, a re- reiros das diferentes modalidades religiosas
alização do evento Escravidão – Congres- de origem africana. Também estiveram pre-
so Internacional ganhou enorme amplitude, sentes pesquisadores e sacerdotes de outros
envolvendo diferentes unidades da USP a países. O Quadro 1 traz a lista completa dos
partir da organização da Faculdade de Filo- pesquisadores, artistas e sacerdotes que se
sofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), apresentaram no módulo “Cultura religiosa
sob a coordenação geral de José Jobson de afro-americana”.
Andrade Arruda, tendo como presidente de O Brasil vivia um período de otimismo e
honra João Baptista Borges Pereira. Foram esperança política. O flagelo da ditadura mi-
reunidos pesquisadores, músicos, sacerdotes, litar parecia superado, e a Assembleia Cons-
artistas, políticos, etc. de todo o Brasil e de tituinte escrevia uma nova Carta Magna, a
22 outros países, num total de 377 participan- chamada Constituição Cidadã, que viria a
tes que apresentaram um ou mais trabalhos. ser promulgada nesse mesmo ano de 1988.
Coube a Fernando Henrique Cardoso, então Interessante notar que, no catálogo do con-
senador, proferir a conferência de abertura. gresso Escravidão, chamava-se a atenção para
O encontro foi organizado em 17 módulos, alguns nomes que constavam da programação
cada um deles cobrindo uma das grandes e que deveriam ser oportunamente confirma-
linhas do temário proposto, como, por exem- dos, uma vez que se ocupavam em Brasília
plo: memória e iconografia; historiografia da das atividades constituintes. Pela primeira
escravidão; literatura; escravidão, liberdade vez se viam circulando pela USP pais, mães
e direitos; tráfico de escravos, etc. e filhos de santos com suas roupas rituais,
No que diz respeito às religiões afro- podendo-se apreciar objetos e imagens ce-
-brasileiras, assunto do presente trabalho, rimoniais, instrumentos musicais típicos dos
as atividades foram agrupadas no módulo terreiros, participar de oficinas de música

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QUADRO 1

Pesquisadores, artistas e sacerdotes que se apresentaram no módulo “Cultura religiosa


afro-americana” do Congresso Internacional Escravidão e Suas Instituições.
São Paulo, USP, 1988

Alberto Cunha (USP) Kabengele Munanga (USP)


Anaíza Vergolino Henry (UFPB) Liana Trindade (USP)
André de Souza (USP) Lísias Nogueira Negrão (USP)
Angelina Pollak-Elts (Universidade Católica Luiz Carlos Guelo (Conjunto Alayandê)
Andres Bello, Venezuela) Manuel Papai Nascimento Costa, Pai (Sítio
Antonio A. Silva (Arquidiocese de São Paulo) do Pai Adão, Recife)
Antônio O. Santos (Igreja Metodista, São Paulo) Marco Antonio da Silveira, Pai (Ilê Axé Ewe
Argeliers León (Casa das Américas, Cuba) Fun Mi, São Paulo)
Armando Vallado, Pai (Ilê Axé Ogum ati Oxum, Maria do Carmo Brandão (UFPE)
São Paulo) Maria Helena Concone (PUC-SP)
Aulo Barretti-Filho, Pai (Fundação de Apoio ao Maria Laura Cavalcanti (Instituto Nacional
Culto e Tradição Yorùbá no Brasil) do Folclore, Rio de Janeiro)
Babatundê Lawall (Universidade Ilê-Ifé, Nigéria) Maria Stella de Oxóssi A. Santos, Mãe (Axé Opô
Beatriz Góis Dantas (UFSE) Afonjá, Salvador)
Benito Juarez (USP) Maria Thereza Lemos de Arruda Camargo
Carlos Eugênio Marcondes de Moura (USP) (Centro de Estudos da Religião)
Claudia Mola-Fernandez (Casa de África, Cuba) Marlene de Oliveira Cunha (USP)
Damiano Cozzella (USP) Marta Heloísa Leuba Salum (USP)
Deoscóredes M. dos Santos – Mestre Didi (SECNEB) Mauro Batista (Arquidiocese de São Paulo)
Dilma de Melo Silva (USP) Monique Augras (FGV-RJ)
Eduardo Contrera (Conjunto Alayandê) Mundicarmo Ferretti (UFMA)
Evandro Bonfim Paraná (Conjunto Alayandê) Napoleão Figueiredo (Museu Paraense
Fabio Leite (USP) Emilio Goeldi, Belém)
Francelino de Xapanã, Pai (Casa das Minas de Norberto Dias-Ugarte (Conjunto Folclórico
Toia Jarina) de Havana, Cuba)
Francisco M. Dias (Grupo de Consciência Negra Norton F. Correa (UFRGS)
da USP) Patrícia Birman (ISER)
Gilberto de Exu Ferreira, Ogã (Afoxé Filhos da Paulo de Carvalho Neto (Instituto Brasileiro
Coroa de Dadá, São Paulo) de Educação, Ciência e Cultura)
Guillermo Cue-Hernandes (Cubanacan, Cuba) Paulo Dias (USP)
Guillermo Montanes-Bel (Conjunto Folclórico Raquel Trindade (Teatro Popular Solano
de Santiago, Cuba) Trindade, Embu das Artes)
Helena Starzynski (USP) Raul Lody (Instituto Nacional do Folclore, Brasil)
Helmy Mansor Manzochi (USP) Reginaldo Prandi (USP)
João Baptista Borges Pereira (USP) Renato Cruz, Pai (Olê Axé Ogum ati Oxum,
Jocélio Teles dos Santos (USP) São Paulo)
Jorge Itaci de Oliveira, Pai (Terreiro de Iemanjá, Rita de Cássia Amaral (USP)
São Luís) Rita Laura Segato Carvalho (UnB)
José Carlos Carvalho (USP) Roberto Motta (UFPE)
José Flavio Pessoa de Barros (UFF) Rogelio M. Furé (Conjunto Folclórico
José Guilherme Cantor Magnani (USP) Nacional de Cuba)
José Jorge Carvalho (UnB) Rosa Maria Costa Bernardo (USP)
José Luis Hernandes (Museu de Guanabacoa, Cuba) Ruth Simms Hamilton (Universidade de
Josildeth Gomes Consorte (PUC-SP) Columbia, EUA)
Juana Elbein dos Santos (SECNEB) Sérgio Figueiredo Ferretti (USP)
Juberli Varela, Pai (Templo Espírita de Umbanda Vagner Gonçalves da Silva (USP)
Mestre Tupinambá, São Paulo) Vivaldo da Costa Lima (UFBA)
Júlio Santana Braga (UFBA) Yvonne Maggie (UFRJ)

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e dança, e provar da comida votiva. Foi a próprio sentido da palavra “abolição” (ter-
semana da USP com dendê. O clima era de mo intencionalmente não incluído no título
euforia: as religiões afro-brasileiras se espa- do congresso que comemorava seu cente-
lhavam pelo país e marcavam presença nos nário), uma vez que, no Brasil, a abolição
mais diversos espaços sociais e expressões da escravidão também implicou a margi-
culturais. Parecia não haver barreira para nalização, no âmbito da economia e dos
conter seu avanço. direitos individuais, dos negros libertados.
O clima de otimismo parecia igualmente Não é demais lembrar que, embora as reli-
se refletir no teor dos trabalhos apresenta- giões afro-brasileiras estivessem ganhando
dos no módulo de religião. Dava-se mui- espaço, seguidores, visibilidade e prestígio,
ta importância ao fato de que as religiões elas ainda carregavam consigo o peso do
afro-brasileiras continuavam se expandin- preconceito racial, como carregam até hoje.
do rapidamente por todo o país, ampliando Mas tudo indicava que os velhos tempos em
sua contribuição aos mais diversos setores que foram duramente perseguidas por órgãos
da cultura não religiosa. Variantes étnicas governamentais e por parte da mídia haviam
dessas religiões, as chamadas nações, não ficado no passado. Sociólogos e antropólo-
estavam mais restritas a seus locais de ori- gos que à época se ocupavam do estudo da
gem, enclausuradas, mas se espalhavam e repressão contra os terreiros e seus devotos
se encontravam por toda parte do país. O ainda se reportavam a esse passado que
congresso era apenas uma pequena amostra, se supunha superado (Braga, 1995; Lüh-
uma espécie de miniatura desse bom encon- ning, 1995). Nenhum entre as dezenas de
tro em que as diferenças congraçavam e se textos discutidos nas sessões do congresso
enxergavam como parte de um Brasil único tratou de algo que se assemelhasse à anti-
e fraterno. As religiões se apresentavam em ga perseguição sofrida pela religião negra
seus conteúdos míticos, ritualísticos e inici- em tempos anteriores. Afinal, o Brasil se
áticos. Cada paper mostrava como o culto redemocratizava e em breve daria à luz a
em cada lugar era conduzido, como os ter- Constituição que deveria enterrar de vez os
reiros se organizavam, o que se oferecia às horrores da ditadura militar e garantir de-
divindades, como se cantava e se dançava finitivamente as liberdades civis, incluindo
para os orixás, os voduns, os inquices e os a liberdade de crença.
encantados. Os músicos presentes animavam Uma análise do conjunto dos resumos
a festa com o ritmo de seus atabaques, e das comunicações contidas no catálogo do
os corais da USP se juntavam numa única congresso permite sumariar os temas apre-
e grande voz para oferecer a todos, no en- sentados no módulo de religião: tradição e
cerramento, a música sacra há tanto tempo modernização; artefatos religiosos; nações;
circunscrita ao espaço dos terreiros. Tudo era sincretismo; folhas e ervas rituais; simbolismo
festa. O Brasil era celebrado como o lugar material e cultural; multiplicidade das religi-
privilegiado do pluralismo, inclusive religioso. ões afro-brasileiras; consumo e economia dos
Por outro lado, o esforço de redemocra- terreiros; relações de clientelismo e presta-
tização compartilhado por todos impunha ção de serviços; rituais de cura; identidade;
uma necessária preocupação crítica com o ética; aspectos psíquicos e sociais do transe;

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Reginaldo Prandi

Comidas votivas, Candomblé Casa das Águas

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diversidade religiosa; posição do catolicis- 3
mo da teologia da libertação com respeito
à religião dos orixás; desafios da negritu- Enquanto transcorria o congresso, volta-
de e participação política; visão de mundo mos a lembrar, encontrava-se em fase final
e vivência religiosa; sacrifício ritual; dança, de redação a nova Constituição, que balizou
performance, gestualidade e técnicas corpo- não somente o reingresso formal do país
rais; iniciação, parentesco religioso e filiação; na trilha democrática, mas que também se
arquétipos; mitologia; sociedade de classes; tornou marco histórico importante da partici-
teologia das religiões afro-brasileiras; federa- pação na política partidária de novos atores,
ções e organizações religiosas; magia, oráculo até então mantidos, em sua maioria, fora da
e cura; passado e memória; aspectos domés- vida política: os evangélicos (Pierucci, 1989;
ticos dos cultos e sua organização; mudança Mariano, 2001; Prandi & Santos, 2017). Tal
e expansão das religiões de origem africana; participação não tardou a significar para os
africanização das religiões afro-brasileiras; afro-brasileiros, sem nenhuma representa-
sincretismo católico; e presença e expansão ção no Congresso Nacional, que seu novo
das religiões afro-brasileiras na metrópole. oponente no campo das conversões ficara
À luz do que hoje se pode observar, mais forte, de mãos dadas com o poder do
alguns temas se destacaram notoriamente Estado, tendo na mão a feitura da lei.
pela ausência. Não se tratou de coisas co- Se a grande perseguição sofrida pelas
mo perseguição, preconceito, discriminação religiões afro-brasileiras por parte da polí-
religiosa, agressões a membros dessas re- cia, da imprensa e de outras instituições e
ligiões e invasões de terreiros em tempos agentes fazia praticamente parte do passa-
atuais. O próprio sincretismo católico ficou do, ainda que recente, novos inimigos des-
num plano muito secundário. Nenhum pes- pontavam, mais empenhados e decididos.
quisador ou sacerdote tocou diretamente na Primeiro, as religiões que competiam com
questão do confronto entre as religiões afro- os terreiros, ou seja, as igrejas evangélicas,
-brasileiras e as igrejas evangélicas como mais particularmente as do ramo pentecostal
algo de importância. A expressão “intole- e, muito especialmente, as do ramo neopen-
rância religiosa” não foi pronunciada nesse tecostal. Mas os religiosos não seriam os
grande encontro de 1988, no centenário únicos adversários abertos que os terreiros
da Lei Áurea. Reafirmamos, portanto, que enfrentariam no dia a dia. Tratava-se es-
o clima do congresso era de indisfarçado pecialmente de agentes e organizações que
otimismo e tranquilidade para com os fatos têm se apresentado como defensores do meio
correntes. Aliás, também no livro Os can- ambiente1 e dos animais e que, a despei-
domblés de São Paulo (Prandi, 1991), desse to das liberdades de culto garantidas pela
mesmo período, em nenhum momento se
fala de intolerância religiosa nem se cita
a oposição entre o candomblé e as religi-
1 Vale ressaltar que os tipos de concepção sobre o que
ões evangélicas. Quem dividia a cena com representa uma ameaça ao meio ambiente e aos seres
o candomblé ainda era o catolicismo, sem naturais são extremamente vastos e, em muitos casos,
sua formulação está atrelada a pressupostos morais
agressão e intolerância, contudo. nem sempre percebidos ou explicitados (Santos, 2017).

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textos / Homenagem

Constituição, insistiam e ainda insistem, por dimensões democráticas do conflito religioso


ideologia não religiosa, em criar obstáculos no Brasil”, de Luiz Eduardo Soares (1993);
aos cultos afro-brasileiros por meio de ten- “Reflexões sobre a reação afro-brasileira
tativa de aprovação de leis que impeçam o à Guerra Santa”, de Cecília Loreto Mariz
abate de animais nos terreiros, procurando (1997); “Neopentecostais e afro-brasileiros:
assim inviabilizar o procedimento ritual fun- quem vencerá esta guerra?”, de Ari Pedro
damental em todo o processo de celebração Oro (1997); “Males e malefícios no discurso
dos deuses e entidades afro-brasileiros. neopentecostal”, de Patrícia Birman (1997); e
Vamos por partes, tratando primeiramen- o livro Neopentecostais, de Ricardo Maria-
te da questão religiosa. Passados 30 anos no (1999), que dedica o capítulo “A guerra
do congresso do centenário da Lei Áurea, contra o diabo” especialmente ao assunto
o temário que recobre os estudos sobre as da guerra santa – entre outros.
religiões afro-brasileiras ganhou profunda A importância desse novo tema na déca-
modificação. É muito difícil tratar hoje do da de 1990 fica atestada pela preocupação de
candomblé, da umbanda, do tambor de mina, Cecília Loreto Mariz ao organizar, para a Re-
do batuque, do xangô e outras modalida- vista Brasileira de Informação Bibliográfica
des dessa origem sem ao menos esbarrar em Ciências Sociais – BIB, em 1999, uma
na questão da intolerância religiosa. revisão bibliográfica sobre a teologia da batalha
A década de 1990 é especialmente identi- espiritual que então se travava (Mariz, 1999).
ficada por um conjunto amplo e diversificado Esses diferentes autores, ao tratar da década de
de trabalhos de especialistas das ciências 1990, não somente nos oferecem um quadro
sociais que se ocupam das religiões tratan- detalhado e explicativo dos diferentes embates
do dessa nova temática do confronto entre em suas diferentes formas, como também nos
evangélicos e afro-brasileiros, ou, melhor mostram de que modo muitas das denomi-
dizendo, da agressão aberta, sistemática e de- nações evangélicas reconstroem sua doutrina,
terminada sofrida pelos terreiros de religiões identificando as raízes do mal não na velha
afro-brasileiras por parte de certas igrejas e desgastada figura genérica do diabo cris-
evangélicas. Os termos preferenciais, nesse tão, mas sim no corpo doutrinário-mitológico
período, para descrever essa disputa eram que ilumina a ação de divindades e entidades
“conflito”, “batalha”, “batalha espiritual” e sagradas do candomblé e da umbanda. A re-
“guerra santa”. Todos eles pressupondo dois ligião afro-brasileira transformava-se, assim,
lados medindo suas forças. para um seguidor dessas igrejas, na casa e no
Os principais títulos da década de 1990 coração do mal: o diabo a ser combatido até
que fazem referência a esse cenário podem seu extermínio.
ser facilmente enumerados, a saber, “Guerra Não se tratava de um mero jogo simbó-
santa no país do sincretismo”, de Mariza de lico, de diferentes visões do sagrado. Em
Carvalho Soares (1990); “Deus e nós, o diabo 2001, Ricardo Mariano, analisando o cresci-
e os outros: a construção da identidade reli- mento evangélico em sua tese de doutorado,
giosa da Igreja Universal do Reino de Deus”, descobriu que as religiões afro-brasileiras –
de Airton Luiz Jungblut (1992); “A guerra os demograficamente diminutos candomblé e
dos pentecostais contra o afro-brasileiros: umbanda somados – estavam perdendo fiéis

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Reginaldo Prandi

Ritual de iniciação, Candomblé Casa das Águas

significativamente. Sua investigação aponta carregam consigo uma grande visibilidade,


a causa, talvez a mais decisiva, desse declí- até mesmo desproporcional ao seu tama-
nio: o avanço do neopentecostalismo sobre nho, devido a sua influência cultural para o
os terreiros afro-brasileiros (Mariano, 2001). país. Mais que isso: a corrosão evangélica
O conflito, a guerra religiosa ou qualquer nos meios católicos parece se dar de modo
outro nome que se dê a esse confronto já discreto e silencioso, especialmente a partir
tinha um lado perdedor muito bem deline- da enorme reação midiática e institucional
ado. Ainda que a principal fonte doadora que ocorreu no emblemático episódio do
de convertidos para o pentecostalismo seja, “chute na santa”, quando, em 1995, a rede
de fato, o catolicismo, por evidentes razões Record de televisão mostrou para o Brasil
demográficas, o candomblé, a umbanda e um bispo da Igreja Universal do Reino de
demais denominações afro-brasileiras são Deus agredindo aos chutes e xingamentos
a fonte simbólica por excelência da inves- uma imagem de Nossa Senhora Aparecida, a
tida evangélica. Não são deixados em paz, padroeira do Brasil (Almeida, 2007). Diante
apesar do pequeno resultado numérico que da reação de revolta, o bispo conheceu dias
possam representar, em razão mesmo do de exílio em terras estrangeiras, os santos
sentido religioso que eles oferecem para o católicos foram deixados em paz, e a con-
evangélico na formação de sua identidade versão de católicos, sem alarde, prosseguiu
religiosa – como já dito. exitosamente. Já os orixás não têm quem os
Aliás, essas pequenas religiões de ori- defenda e podem ser chutados à vontade,
gem africana, sempre muito minoritárias, inclusive sob os aplausos de muitos.

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textos / Homenagem

Reginaldo Prandi

Oxum, Candomblé Casa das Águas, 2017

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4 De fato, as disputas e tensões envolvendo
o sacrifício votivo de animais constituíram
De um lado, a ação dos religiosos um novo campo de pesquisa para os estu-
evangélicos se caracteriza por ataques diosos das religiões afro-brasileiras (Oro,
diretos, pessoais, dirigidos a seguidores 2005; Possebon, 2007; Coelho et al., 2016;
dos orixás e aos seus templos, de tal mo- Oro et al., 2017). Alguns líderes evangéli-
do que chegam a parecer atos de iniciativa cos fazem questão de enunciar, sempre que
individual, não orquestrados, que dependem possível, um suposto caráter maligno nas
muito mais de antipatias e inimizades locais tradições afro-brasileiras, associando, entre
e outras formas de desentendimento entre outras práticas, o abate de animais com atra-
pessoas que pensam e creem de modos di- so, magia negra, servidão aos demônios e
ferentes. Por outro, os representantes evan- práticas supostamente maléficas que costu-
gélicos no Congresso Nacional, nas assem- mam ser popularmente referidas pelo termo
bleias legislativas e câmaras de vereadores “macumba”, palavra hoje evitada em razão
mobilizam outro tipo de ataque, tentando de sua explícita conotação preconceituosa.
agora criar obstáculos legais que procuram Muitos políticos, por motivação religiosa
inviabilizar a prática religiosa não de seus ou não, já conseguiram a aprovação de leis
vizinhos, conhecidos e desafetos pessoais, municipais e estaduais proibindo o sacrifício,
mas de toda uma população de seguidores leis que reiteradamente têm sido anuladas
das religiões afro-brasileiras inserida na por tribunais superiores como inconstitucio-
sociedade brasileira. nais, uma vez que a Carta Magna reza, em
A ofensiva não se dá mais somente no seu artigo 5º, inciso VI, que “é inviolável a
varejo, mas também no atacado. Para isso, liberdade de consciência e de crença, sendo
contam com a adesão de legisladores católi- assegurado o livre exercício dos cultos reli-
cos que comungam com evangélicos das mes- giosos e garantida, na forma da lei, a prote-
mas pautas conservadoras. Um outro aliado ção aos locais de culto e a suas liturgias”.
tem sido encontrado em meio daqueles que Os opositores do abate religioso, por sua vez,
se advogam como defensores de controversos valem-se de outra passagem da Constituição,
direitos dos animais. O alvo da ação, nesse o artigo 225º, parágrafo 1º, inciso VII, que
período, é o sacrifício votivo, ou abate ani- regula ser incumbência do poder público
mal, que constitui peça fundamental do ritual “proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma
que parte do princípio segundo o qual as da lei, as práticas que coloquem em risco sua
divindades, entendidas como antepassados, função ecológica, provoquem a extinção de
precisam ser alimentadas – princípio pre- espécies ou submetam os animais a cruelda-
sente em importantes religiões tradicionais, de”. De todo modo, na defesa dos animais,
mesmo quando o gesto sacrificial se realiza certamente seria mais produtivo que esses
por meio de representação simbólica. Sacri- políticos, ativistas ambientais e evangélicos
fício, enfim, que está na raiz e na substância preocupados com o abate religioso fossem
doutrinária e ritualística do judaísmo, do bater às portas dos frigoríficos e dos grandes
cristianismo, do islã e de diversas outras pecuaristas. Aliás, em projetos de lei como
religiões ao redor do mundo. esses, não é raro o preconceito religioso se

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textos / Homenagem

disfarçar de proteção dos animais contra a Embora essas tentativas de impor leis im-
crueldade. Tal dubiedade, porém, parece ter peditivas do sacrifício religioso não tenham
sido definitivamente resolvida pelo Supremo logrado êxito – pelo menos até o momento
Tribunal Federal (STF) na votação do Re- –, em cada proposta de tal tipo de legislação
curso Extraordinário 494601, concluída no são renovados os sentimentos e atos de per-
dia 28 de março de 2019. Garantiu o pleno seguição, preconceito e intolerância contra
do Supremo que a defesa dos direitos dos uma religião que passou grande parte da
animais não pode se sobrepor à liberdade história tendo que se esconder. É o velho
da religião de praticar seus rituais segundo racismo aplicado à religião, tentando usar
suas tradições. A tese produzida pelo Supre- a lei como disfarce.
mo, que garantiu por unanimidade o sacri- Não se pode esquecer que, no candom-
fício votivo pelas religiões afro-brasileiras, blé e em outras religiões afro-brasileiras, a
diz que: “É constitucional a lei de proteção pertença do devoto se efetiva num proces-
animal que, a fim de resguardar a liberda- so iniciático em que diferentes etapas são
de religiosa, permite o sacrifício ritual de marcadas pelo sacrifício votivo de animais
animais em cultos de religiões de matriz (Motta, 1991). As carnes sacrificiais são
africana”2. Por decisão majoritária, o STF consumidas no terreiro da mesma maneira
decidiu também que alegações de crueldade como a maioria não vegetariana da popu-
contra os animais e questionamentos sobre lação se serve diariamente à mesa. Assim
o consumo das carnes não se aplicam no como as receitas domésticas são preparadas
caso do sacrifício votivo. de acordo com o gosto, o costume e as pos-
Vale lembrar que o abate religioso de ses de cada família, a comida votiva segue
animais, segundo a fórmula halal, que só receitas da tradição. Afinal, essas religiões
pode ser praticado por sacerdotes ou espe- reproduzem nada mais nada menos do que a
cialistas iniciados pela religião, da mesma antiga família extensa africana reconstituída
maneira que se faz no candomblé, alimenta no Brasil no plano simbólico (Prandi, 2017).
parcela significativa das exportações de car- Não há nenhum mistério no abate praticado
ne brasileira para os mercados de países de nos terreiros: as divindades são cultuadas
maioria islâmica, sendo também praticado, com a oferenda de comida; essa comida se
em proporção menor, por outras religiões faz com carne e outros ingredientes, e a
tradicionais no Brasil. Em termos compa- carne usada deve ser obtida segundo pre-
rativos, o volume do abate realizado pelo ceitos rituais. Impedir o abate nos terreiros
candomblé é irrisório, além do fato de que significaria impedir a adoração das divinda-
a carne resultante é consumida nos terrei- des, o mesmo que proibir a religião de ser
ros pelos praticantes da religião como ato praticada segundo a tradição.
de comunhão entre humanos e divindades.
5
Os anos recentes foram pródigos em
2 Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/cms/ver-
NoticiaDetalhe.asp?idConteudo=407159. Acesso em:
mostrar que os problemas identificados a
12 de abril de 2019. partir da década de 1990 vêm se tornando

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Reginaldo Prandi

Ervas rituais, Feira de São Joaquim

cada vez mais graves. Multiplicou-se o nú- de culto (Silva Jr., 2007). Assim como uns
mero de estudos que tratam, agora explici- poucos outros, Silva Jr. tem agido no senti-
tamente, do que é chamado de intolerância do de capacitar os seguidores das religiões
religiosa (Silva, 2007). Aos poucos, e com afro-brasileiras em sua luta de defesa da
muitas dificuldades, em consequência de sua religião, promovendo encontros e reuniões,
própria constituição como religião formada publicando cartilhas e folhetos sobre legis-
de pequenos grupos sem nenhuma unidade lação, direitos e modos de agir, conduzindo
formal nem chefia centralizada, os terreiros projetos de pesquisa e atuando judicialmente
vêm tentando reagir, sobretudo, através de nos tribunais. Teve grande visibilidade, em
meios jurídicos, enveredando por processos agosto de 2018, sua participação no já refe-
que se arrastam por anos nos meandros das rido julgamento pelo STF do abate animal
diferentes instâncias do Judiciário. com fins ritualísticos. Na abertura da sessão,
Raras e notórias lideranças surgiram à em resposta às sustentações contra o abate
frente desses movimentos de defesa coletiva animal para fins religiosos proferidas por
das religiões afro-brasileiras, caso de Hé- representantes do Ministério Público do Rio
dio Silva Jr., que tem atuado em processos Grande do Sul e do Fórum Nacional de Pro-
contra abusos sofridos por membros e locais teção e Defesa Animal, disse Hédio Silva Jr.:

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textos / Homenagem

Reginaldo Prandi

Candomblé Ilê Olá Axé Opô Araká, 1984

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“Prestei atenção nas sustentações, não só nas religiões, não havendo informação sobre reli-
narrativas que foram feitas neste microfone, gião para 23% dos casos (Fonseca, 2017, tab.
como também nos sapatos dos narradores, 2). Considerando-se cada religião como um
e por acaso os sapatos dos narradores são grupo em separado, os afro-brasileiros apa-
todos sapatos de couro. [...] Você faz um recem como vítimas em 98% dos casos, os
discurso acalorado, entusiasmado em favor espíritas em 87%, os católicos em 69% e os
dos animais, calçando sapatos de couro!”3. evangélicos em 51% dos casos. E aparecem
Da mesma forma, diferentes autores, ór- como agressores 49% dos evangélicos, 31%
gãos do governo, instâncias do Judiciário e dos católicos, 13% dos espíritas e 2% dos
organizações não governamentais de defesa afro-brasileiros (Fonseca, 2017, gráf. 3). Nem
dos direitos da pessoa têm se mobilizado no sempre foi possível identificar o agressor e
sentido de cadastrar, classificar, dar visibili- muito menos sua religião, mas ao se levar
dade e tomar iniciativas de caráter legal nos em conta os casos em que a religião tanto
casos de ocorrência de agressão a terreiros da vítima como do agressor é conhecida, o
e seus membros por parte de seguidores de quadro vai se tornando mais bem definido:
outras religiões, e mesmo de instituições e em seu conjunto, as vítimas afro-brasileiras
pessoas sem vínculo religioso. são agredidas por evangélicos em 78% dos
Em 2018, a Secretaria Nacional de Cida- casos, por católicos em 16%, por ateus em
dania do Ministério dos Direitos Humanos 4% e por outros afro-brasileiros em 2% dos
publicou o volume Estado laico, intolerância casos. Quando as vítimas são evangélicas,
e diversidade religiosa no Brasil: pesquisas, seus agressores são assim classificados: 70%
reflexões e debates, organizado por Alexan- são outros evangélicos, 15% são católicos,
dre Brasil da Fonseca, que traz o Relatório 10% são espíritas e 5% são ateus. No caso
sobre Intolerância e Violência Religiosa no das vítimas católicas, seus agressores assim
Brasil (Rivir), juntamente com a análise de se classificam: 73% são evangélicos, 20%
pesquisadores a respeito dos dados obtidos são outros católicos e 7% são ateus. Não
e organizados (Fonseca, 2018). Os números há registro de agressores das religiões afro-
trazidos mostram que, de 2011 a 2015, os -brasileiras contra evangélicos, católicos ou
casos de intolerância religiosa registrados espíritas (Fonseca, 2017, gráf. 4)4.
em processos judiciários, canais de denún- Também em 2018 foi publicada a edi-
cias e notícias na imprensa brasileira têm ção bilíngue (português e inglês) do livro
crescido com regularidade. Em 965 casos Intolerância religiosa no Brasil: relatório e
analisados, 35% das vítimas pertencem a balanço, organizado por Ivanir dos Santos e
religiões afro-brasileiras, 19% são evangé- outros, que apresenta um conjunto bastante
licas, 8% são católicas, 4% são espíritas, diversificado de casos de intolerância religio-
2% são muçulmanas e 9% são de outras

4 Os resultados e pressupostos dessa pesquisa são apre-


sentados aqui de modo breve e simplificado. Para uma
3 Discurso completo no STF disponível em: https:// discussão mais acurada, consultar o relatório original
www.youtube.com/watch?v=APCajsEGs_Y. Acessado (Fonseca, 2018) e o artigo do coordenador do relatório
em: 22 de outubro de 2018. (Fonseca, 2017).

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textos / Homenagem

sa, obtidos a partir de mais de uma dezena dência traz para o debate as questões mais
de instituições que registram ocorrências des- sensíveis da sociedade – com os meses de
se tipo no estado do Rio de Janeiro (Santos maio a julho do mesmo ano, observou-se
et al., 2018). Novamente, as religiões afro- um aumento dos casos de intolerância nos
-brasileiras figuram como as mais atingidas diferentes âmbitos considerados: 15% quan-
por esse tipo de violência. Chama a atenção do se tratou de raça ou cor, 75% quando
a pesquisa “Mapeamento de terreiros”, da o motivo identificado foi a homofobia ou
Pontifícia Universidade Católica do Rio de transfobia, 83% para os casos relacionados à
Janeiro, que identificou que quase 70% dos origem geográfica e de nacionalidade e, por
casos de intolerância atingem terreiros pe- fim, 171% de aumento nos casos de intole-
quenos, com até 50 frequentadores – mais rância por motivos religiosos5. Para os que
vulneráveis, portanto. Além disso, apenas não aceitam a diferença, a religião parece
15% dessas agressões levaram a algum tipo ser o alvo preferencial.
de representação na polícia ou em entidades
de denúncias (Santos et al., 2018, pp. 34-6). 6
Os dados de ambos os relatórios sobre
intolerância religiosa apontam que os evangé- Outra mudança importante verificada nos
licos aparecem como os maiores responsáveis últimos 30 anos é o modo como a religião
pelas supostas agressões, enquanto as religi- afro-brasileira muda de lugar na construção
ões afro-brasileiras surgem das estatísticas do objeto de estudo na pesquisa das religi-
como suas vítimas preferenciais. No geral, ões. Muito mais do que explicar a religião,
os afro-brasileiros têm pequena participação trata-se agora de investigar sua relação com
como agressores. Porque são os que mais outros aspectos da realidade. É o que se
sofrem violações de direitos relacionados a observa, por exemplo, quando a pesquisa
sua religiosidade, os afro-brasileiros voltam, procura entender como é que a religião de
como no passado, a ter que se esconder, co- origem negra lida com os problemas da mar-
mo acontece hoje, por exemplo, em escolas ginalidade social, da criminalidade, como
em que crianças iniciadas no candomblé ou elabora identidades não convencionais, como
umbanda são obrigadas a ocultar sua per- aborda questões de gênero e como trabalha
tença religiosa, deixando de usar qualquer situações conflitivas de convivência de negros
símbolo material que denuncie sua identidade e não negros nas escolas e outras institui-
religiosa e se calando diante de colegas e ções não religiosas (Bernardo et al., 2017).
professores sobre a crença que professam É quando a religião não é mais o objeto
(Fonseca, 2017; Bernardo et al., 2017). principal da pesquisa, mas usada para me-
Se esses dados já são sobejamente preo- lhor se entender a construção de concepções
cupantes, o período imediatamente seguinte artísticas, por exemplo, quando se questiona
ao analisado no Rivir apresenta uma situação
bastante piorada. Segundo matéria da Folha
de S. Paulo, comparando-se os meses de 5 Matéria completa disponível em: https://www1.folha.
agosto a outubro de 2018 – época em que uol.com.br/cotidiano/2019/01/registros-de-intoleran-
cia-triplicaram-em-sp-na-ultima-campanha-eleitoral.
a própria campanha eleitoral para a Presi- shtml. Acessado em: 12 de abril de 2019.

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sua importância na estruturação da gestuali- quente aumento de sua presença no poder
dade, na configuração da própria expressão de legislação e de governo, em todos os
corporal, no modo de se apresentar e se níveis. Do lado afro-brasileiro, cresceram
pentear, e assim por diante. Claro que há os relatos, os projetos de defesa, as tenta-
muito isso tudo tem sido investigado, mas tivas jurídicas de proteção da religião, mas
o que muda é que a religião afro-brasileira sua representação nas casas legislativas, por
passa a entrar no esquema explicativo como exemplo, permaneceu ínfima.
uma variável independente, a partir da qual Sob o atual governo federal, o futuro das
as outras variáveis, que compõem o objeto religiões afro-brasileiras não parece exata-
principal, podem ser compreendidas. Trata- mente confortável, sobretudo se levarmos em
-se, enfim, de lançar mão do candomblé, da conta a presença e a influência de represen-
umbanda, do tambor de mina, do batuque, tantes de igrejas evangélicas nos diferentes
do xangô, do catimbó, etc. para explicar as- escalões governamentais. Desde as campa-
pectos do Brasil, inclusive o que ele pode ter nhas das eleições de 2018 até os primeiros
de ruim, como querem os intolerantes detra- atos do governo de Jair Bolsonaro, temas
tores (Prandi, 2005). Estamos aqui, de fato, muito caros ao pensamento democrático
em 2019. Basta consultar a enorme lista de e ao sentimento político pluralista foram
trabalhos publicados nesses anos todos para deixados de lado, quando não rechaçados,
se ter ideia das transformações por que têm e aí se inserem a defesa das minorias, o
passado as religiões afro-brasileiras, tanto respeito pela diferença, a aceitação da di-
em termos de realidade como em termos de versidade de gênero, a valorização das con-
focos a ela dirigidos pelos pesquisadores6. quistas femininas nos planos do trabalho e
Esse sucesso medido pela produção biblio- dos direitos reprodutivos, o apoio a novos
gráfica pertence em grande parte à cultura padrões de casamento e família, o cuidado
não religiosa, ainda que sua fonte originária com a reparação da dívida histórica do pa-
seja o terreiro. ís para com grupos indígenas e negros, o
Se em 1988 a religião de origem afri- cuidado de marginalizados urbanos e des-
cana estava sendo festejada e olhada com validos rurais. A lista certamente é maior,
admiração por pesquisadores, intelectuais mas não se pode deixar de fora dela as re-
e formadores de opinião, hoje a tendência ligiões afro-brasileiras e suas tradições. Se
é enxergá-la como vítima. Quanto mais se tudo isso pode ser resumido numa única
expandiram as religiões evangélicas, mais palavra, “minorias”, as escolhas eleitorais
encurralados se viram o candomblé e a um- que encerraram o ano de 2018 delas têm a
banda, fato que se agravou com o avanço dizer, na voz da maioria vencedora: – As
pentecostal na política eleitoral e o conse- minorias? Ora, elas que se danem!

6 Ver bibliografia sobre as religiões afro-brasileiras


preparada por Reginaldo Prandi e Carlos Eugênio
Marcondes de Moura disponível em: https://socieda-
desecularizada.files.wordpress.com/2019/04/bib-afbr.
docx. Acessado em: 12 de abril de 2019.

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120 Revista USP • São Paulo • n. 122 • p. 99-120 • julho/agosto/setembro 2019

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