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BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 1

Procedimentos Técnicos da Tradução


BARBOSA, Heloísa Gonçalves

Material compilado para a disciplina de Teoria da Tradução I


BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 2

ÍNDICE

Neste docto
1 INTRODUÇÃO 11
2 MODELOS DE TRADUÇÃO 19
2.1 Análise dos Modelos 22
2.1.1 Tradução Direta vs. Tradução Oblíqua: 22
O Modelo de Vinay e Darbelnet (1977)
2.1.2 Equivalência Formal vs. Equivalência Dinâmica: O Modelo de Nida (1964) 32
2.1.3 Os Quatro Modelos de Catford (1965) 35
2.1.4 Tradução Literal vs. Tradução Oblíqua: O Modelo de Vazquez-Ayora (1977) 43
2.1.5 Tradução Semântica vs. Tradução Comunicativa: O Modelo de Newmark (1981) 49
2.2 Resumo dos Modelos 56
3 PROPOSTA DE CARACTERIZAÇÃO DOS PROCEDIMENTOS 63
TÉCNICOS DA TRADUÇÃO
3.1 A Tradução Palavra-por-Palavra 64
3.2 A Tradução Literal 65
3.3 A Transposição 66
3.4 A Modulação 67
3.5 A Equivalência 67
3.6 A Omissão vs. a Explicitação 68
3.7 A Compensação 69
3.8 A Reconstrução de Períodos 70
3.9 As Melhorias 70
3.10 A Transferência 71
3.10.1 O Estrangeirismo 71
3.10.2 A Transliteração 73
3.10.3 A Aclimatação 73
3.10.4 A Transferência com Explicação 74
3.11 A Explicação 75
3.12 O Decalque 76
3.13 A Adaptação 76
4 DUAS PROPOSTAS DE RECATEGORIZAÇÃO DOS 79
PROCEDIMENTOS TÉCNICOS DA TRADUÇÃO
4.1 A Categorização dos Procedimentos Técnicos da Tradução pela Frequência de 83
Ocorrência
4.2 A Categorização dos Procedimentos Técnicos da Tradução pela Convergência ou 91
Divergência Linguística e extralinguística entre a LO e a LT
4.2.1 A Convergência do Sistema Linguístico, do Estilo e da Realidade Extralinguística 92
4.2.2 A Divergência do Sistema Linguístico 95
4.2.3 A Divergência do Estilo 96
4.2.4 A Divergência da Realidade Extralinguística 97
4.3 Resumo da Proposta 100
5 CONCLUSÃO 103
6 BIBLIOGRAFIA 113
7 NOTAS 119
8 POSFÁCIO 121

LISTA DE SÍMBOLOS
LO - Língua original
LT - Língua da tradução
TLO - Texto na língua original
TLT - Texto na língua da tradução
TO - Texto original
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(pág. 11)
1
INTRODUÇÃO

Este trabalho constitui uma pequena tentativa de recaracterização e de recategorização


dos procedimentos técnicos da tradução, inicialmente descritos por Vinay e Darbelnet (1977)1
em 1958.
O exercício da profissão de tradutora bem como, mais tarde, do magistério ligado a esse
mesmo ofício, fez-me sentir a necessidade de efetuar uma reflexão sobre a tradução, assim como
de aprofundar meus conhecimentos a respeito do assunto, através da realização de leituras da
literatura disponível sobre o tema.
Como primeiro passo, através de reflexões sobre meu trabalho e dos subsídios colhidos
na literatura disponível, procurei estabelecer uma definição de tradução. Concluí que esta se trata
de uma atividade humana realizada através de estratégias mentais empregadas na tarefa de
transferir significados de um código linguístico para outro, concordando, portanto com
Bordenave (1987:2).
Foi também possível identificar na literatura as principais áreas de tensão nas diversas
reflexões sobre a tradução. A primeira delas se estabelece em torno da possibilidade ou
impossibilidade da mesma (cf. Mounin, 1955, 1975, 1976a e b e 1980, por exemplo). A segunda
detém-se na divergência entre a tradução livre e a literal, que é também a tensão entre conteúdo e
forma, e vem a ser uma discussão constante na literatura, como será visto adiante. A terceira e
última prende-se à posição entre a tradução técnica e a literária e se reflete tanto na literatura (cf.
Lefevere, 1977; Maillot, 1975; Portinho, 1984; Rocha, 1982; Tate, 1970; Wanderley, 1983, por
exemplo), como nas tabelas de preços cobradas por tradutores juramentados (cf. Associação
(pág. 12→) dos Tradutores Públicos e Intérpretes Comerciais - RJ, 1988) e autônomos (cf.
ABRATES-RJ, 1988).
Uma vez que é inegável o grande volume de traduções realizadas a todo instante, em todo
o mundo, atualmente, abandonei, de imediato, a ideia de efetuar minha reflexão no campo da
primeira área de tensão – a possibilidade ou impossibilidade da tradução – por parecer-me estéril
esta discussão.
A oposição entre tradução livre e literal, por outro lado, pareceu-me uma questão central
para qualquer investigação acerca dessa atividade, pois o que está em jogo aqui é o modo como a
tradução deve ser feita ou não. Além disso, esta questão engloba também a terceira área de
tensão, ou seja, a tensão entre a tradução literária e a técnica, pois esta oposição, tal como a
tensão entre a tradução livre e a literal, é também uma oposição entre dois “modos de traduzir”
(um supostamente adequado ao texto literário, outro ao texto técnico) que é a questão que desejo
tratar, através dos procedimentos técnicos da tradução.
Para deixar mais claro este ponto, é preciso voltar atrás um pouco, tecer algumas
considerações de caráter geral e histórico.
Todos – leigos, clientes, consumidores, críticos e tradutores – têm uma noção instintiva,
uma expectativa, daquilo que uma tradução é ou deve ser: fiel ao original (cf. Aubert, 1983:3).
Para muitos, esta fidelidade é sinônimo de literalidade, como o cliente que deseja a tradução de
um documento e indaga: “Mas essa tradução que a Sra. faz é literal, palavra-por-palavra?” Do
mesmo modo, a fórmula para a juramentação de uma tradução nos Estados Unidos inclui a
garantia de que a mesma foi feita palavra-por-palavra, “implicando simultaneamente em
literalidade e exaustividade” (Aubert, 1987: 17-18).

1 A primeira edição desta obra é de 1958. Para este trabalho foi utilizada a edição revista e aumentada de 1977.
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Chega a tais extremos esta valorização da fidelidade à forma que, assinala Nida (1964),
algumas populações preferem que seja dada ao texto bíblico uma tradução totalmente fiel à
forma, totalmente literal, mesmo que seu resultado seja um texto incompreensível para os
falantes da língua da tradução (doravante LT).
A questão da fidelidade, portanto, remete imediatamente à tensão entre conteúdo e forma:
a tradução deve ser literal, palavra-por-palavra, mantendo estrita fidelidade à forma, ou deve não
se (pág. 13)→ preocupar com a forma e se manter fiel apenas ao conteúdo, ou deve, ainda, ser
alguma outra coisa?
Esta parece ser a indagação mais antiga acerca da tradução. Já na Roma Clássica, Cícero
(55 a.C), autor de uma das primeiras reflexões conhecidas a respeito do assunto, foi pioneiro em
defender a fidelidade ao conteúdo em detrimento da forma (cf. Newmark, 1981:4; Nida,
1964:13).
Mais tarde, no Império Romano cristianizado, em outro dos mais antigos textos
conhecidos sobre a tradução (cf. Newmark, 1981:4; Nida, 1964:13), São Jerônimo (384 d.C), o
tradutor-revisor dos quatro Evangelhos, a denominada Vulgata, em uma carta ao papa Dâmaso,
preocupa-se com aqueles que porventura repudiassem sua tradução, talvez rompendo “em
imediato protesto, gritando que eu, falsário, sou um sacrílego cuja ousadia chega ao ponto de em
livros tradicionais fazer acréscimos, mudanças, correções!?” (São Jerônimo, s/d).
Ao meu ver, aí, na verdade, São Jerônimo enumera os procedimentos, ou modos de
traduzir, que utilizou: acréscimos, mudanças e correções, além da tradução literal, pois,
como aponta Newmark (1981:4), São Jerônimo advogava uma interpretação literal das pa-
lavras, a qual, como mostrei acima, faz parte das expectativas daquele que encomenda a
tradução, nesse caso específico, o papa Dâmaso.
Assim, uma vez que, novamente de acordo com Bordenave (1987), considero a tradução
como “um fazer, um fazer intelectual que requer o domínio de operações mentais” (Bordenave,
1987:2), optei por focalizar minha atenção sobre os procedimentos técnicos da tradução
enquanto desdobramento da questão da oposição entre tradução livre e literal. Pareceu-me que a
definição de procedimentos aplicáveis à prática da tradução serviria de diretriz tanto para o tra-
dutor como para o aluno.
Nesse campo, sobressai o trabalho de Vinay e Darbelnet (1977) por terem sido estes dois
autores os primeiros (em 1958) a descrever os procedimentos técnicos da tradução 2 . Sua
exposição é objeto de cursos, desde os livres até aqueles no nível de pós-graduação, de artigos
publicados (cf. Aubert, 1978, 1981, 1983, 1987 e s/d; Campos, 1986a e b; Dutra, 1983; Paiva,
1981/82; Santos, 1977 e Sousa-Aguiar 1980, por exemplo), (pág. 14)→ de dissertações de
mestrado (Alves, 1983; Coelho, 1988; Queirós Filho, 1976, por exemplo) e de teses de douto-
rado (Fregonezi, 1984, por exemplo) dentro do País, sem falar na atenção que lhe devota a
literatura internacional, onde sua obra é presença quase constante nas listas bibliográficas de
obras publicadas – ou seja, se não é objeto de discussão direta, é, ao menos, parte das leituras
feitas pelos diversos estudiosos da matéria.
Tendo tomado conhecimento dos procedimentos técnicos da tradução através das fontes
mencionadas no parágrafo acima, minhas leituras em torno do assunto visaram responder a uma
série de indagações a respeito dos procedimentos técnicos da tradução tal como expostos por
Vinay e Darbelnet (1977) e tal como discutidos na literatura disponível. Em primeiro lugar,
seriam eles uma chave para a compreensão das operações mentais envolvidas no ato tradutório?
Seriam estes procedimentos apenas uma série de “boas Meias”, de “achados”, sem status de
generalização suficiente para a formulação de teorias? Ou seriam apenas uma tentativa ad hoc de
descrever os vários problemas que encontra o tradutor no exercício de sua profissão? Até que

2 No dizer de Mounin (1975:20), inclusive: 'Pelo que sabemos, J. P. Vinay e J. Darbelnet foram os primeiros a se dispor a escrever um
compêndio de tradução que reivindicasse um status científico.
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ponto as teorias linguísticas mais recentes utilizadas no trabalho de investigação do ato de


traduzir contribuiriam para um entendimento mais esclarecedor da concepção inicial de
Vinay e Darbelnet (1977) sobre os procedimentos técnicos da tradução? Até que ponto a
categorização dos procedimentos técnicos da tradução, proposta por Vinay e Darbelnet (1977) e
reproduzida nas obras que os seguem, é útil para o ato de traduzir e, assim, para o ensino da
tradução?
Visando responder a estas perguntas, iniciei um exame da literatura disponível sobre
tradução, o que logo me deixou claro qual deveria ser o enfoque a dar à minha reflexão: realizar
uma pequena tentativa de recaracterizar e recategorizar os procedimentos técnicos da tradução
descritos por Vinay e Darbelnet (1977) à luz tanto da revisão da literatura disponível, como de
minha experiência como tradutora e professora de tradução.
A prática da tradução e do ensino da matéria já me haviam permitido constatar que a
descrição dos procedimentos tradutórios efetuada por Vinay e Darbelnet (1977) era insatisfatória
e incompleta, embora fosse de relativa simplicidade – pois enumera apenas sete procedimentos,
hierarquizados segundo a dificuldade de realização do tradutor (cf. Vinay e Darbelnet,
1977:46-55).
(pág. 15)→ A experiência de tradutora e professora de tradução e a consequente visão da
tradução como uma atividade humana permitem a atribuição de uma grande importância aos
procedimentos tradutórios, que vejo como uma tentativa de responder à pergunta “como
traduzir?” e de estabelecer o que de fato acontece no ato da tradução.
A fim de responder à pergunta “como traduzir?”, a literatura disponível busca subsídios
em várias áreas do conhecimento – análise do discurso, antropologia ou linguística
antropológica, estética, estilística, filosofia (especificamente a filosofia da linguagem), infor-
mática, inteligência artificial, lexicografia, linguística, lógica, neurofisiologia, psicolinguística,
psicologia cognitiva, semiótica, sociolinguística, teoria da comunicação e teoria literária, por
exemplo (cf. Arrojo, 1988; Bassnett-McGuire, 1978; Bordenave, 1988). Efetua também o exame
de traduções existentes, e de trabalhos de alunos, como método de trabalho para encontrar
soluções para o problema que se propõe resolver. Considero esta metodologia compatível com os
métodos da linguística aplicada, conforme o exposto em Cavalcanti (1986).
Assim sendo, em vista da importância que atribuí aos procedimentos técnicos da
tradução, e havendo detectado falhas na descrição de Vinay e Darbelnet (1977), procurei, em
uma primeira etapa, subsídios teóricos na literatura disponível na área da tradução que abor-
dassem especificamente este assunto, a fim de encontrar soluções para a questão que me propus,
ou seja, responder à pergunta “como traduzir?” através da formulação de procedimentos técnicos
da tradução.
Esta primeira etapa de meu trabalho é apresentada no Capítulo 2 do presente trabalho,
onde faço uma revisão comentada da literatura. Em primeiro lugar, apresento uma breve
descrição desses procedimentos segundo Vinay e Darbelnet (1977), os pioneiros em efetuá-la,
categorizando-os como procedimentos da “tradução direta”, ou da “tradução indireta” (cf.
Vinay e Darbelnet, 1977:46-55). Em seguida, procurando manter uma ordem cronológica,
apresento o modelo de Nida (1964), que se recorta em vista da tensão entre a “equivalência
formal” e a “equivalência dinâmica” (cf. Nida, 1964: 165-175, 225); os quatro modelos de
Catford (1965); o modelo de Vázquez-Ayora (1977), que revê os procedimentos técnicos da tra-
dução segundo a tensão entre a “tradução literal” e a “tradução oblíqua” (cf. Vázquez-Ayora,
1977:257-266); finalizando com o (pág. 16)→ modelo de Newmark (1981), que estabelece a
tensão entre “tradução semântica” e “tradução comunicativa” (cf. Newmark, 1981:38-40).
Em uma outra etapa, utilizei estes procedimentos nas traduções que realizei (como
fizeram Sousa-Aguiar, 1980 e Cubric, 1984) bem como nas traduções efetuadas por meus
alunos, com minha orientação, além de detectá-los em traduções existentes (como fizeram Paiva,
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1981/82; Alves, 1983; Fregonezi, 1984 e Coelho, 1988). Assim, não parti de um corpus
delimitado para efetuar minha reflexão.
Esta etapa de meu trabalho aparece neste livro sob a forma dos exemplos que apresento.
Uma parte deles foi retirada da literatura e inclui exemplos em inglês, francês, espanhol, alemão e hindi.
Ao apresentar minhas formulações, entretanto, procurei apresentar sempre exemplos retirados
diretamente de meu trabalho, a tradução entre o português e o inglês, acrescentando exemplos em francês,
espanhol, italiano, alemão e russo onde se fizeram necessários.
Após percorrer as etapas descritas acima, cheguei à conclusão de que os procedimentos técnicos
da tradução acrescentados por outros autores aos descritos por Vinay e Darbelnet (1977), bem como
diversas modificações que fizeram dessa primeira descrição, pareciam ser úteis no sentido de ampliar o
alcance da descrição e de esclarecer melhor o que é de fato realizado no ato da passagem de uma língua
para outra.
Verifiquei, no entanto, que havia discrepâncias entre as categorizações efetuadas pelos autores
examinados, englobando divergências terminológicas e modos diversos de recortar os procedimentos
descritos.
Por acreditar que uma recaracterização destes procedimentos, que aglutinasse de modo coerente
às descrições dos autores examinados, ao mesmo tempo em que eliminasse as discrepâncias encontradas,
poderia ser útil para o tradutor – que encontraria nesses procedimentos recaracterizados um amplo elenco
de modos de traduzir a seu dispor – para o professor e o aluno de tradução – cuja tarefa seria facilitada
pela disponibilidade desses procedimentos – e para futuras pesquisas na área – que contariam com um
novo ponto de partida – é que me propus a tarefa de efetuar uma recaracterização dos procedimentos
técnicos da tradução, cujo resultado apresento no Capítulo 3 deste livro.
(pág. 17)→ O trabalho que desenvolvi até este ponto permitiu-me também concluir que
as categorizações dos procedimentos técnicos da tradução propostas pelos autores examinados
não refletem o que de fato ocorre no ato da tradução, nem contribuem para um melhor
esclarecimento dos fatores com que se defronta o tradutor em sua tarefa. Isto porque todos os
modelos examinados categorizam os procedimentos técnicos da tradução dispondo-os ao longo
de dois eixos diametralmente opostos: o da tradução literal e o da tradução não literal,
reproduzindo a tensão entre estes dois modos de traduzir, que é a mais antiga controvérsia em
torno da tradução, como foi visto acima.
Diante desta constatação, propus-me também a tarefa de tentar oferecer uma nova
proposta de categorização dos procedimentos técnicos da tradução. Assim sendo, no Capítulo 4
deste livro, discuto duas propostas de recategorização dos procedimentos tradutórios.
Na primeira delas, efetuei uma tentativa de categorizar os procedimentos técnicos da
tradução de acordo com a frequência com que ocorrem na tradução, verificada a partir de
traduções existentes. Fui, todavia, obrigada a abandonar esta proposta, pois não encontrei, na
literatura disponível, subsídios para viabilizá-la.
Na segunda, em lugar de se distribuírem ao longo do eixo divisório entre uma tradução que é
literal e outra que não é literal, os procedimentos tradutórios se categorizam de acordo com o grau de
divergência entre as duas línguas que entram em contato através do ato tradutório. A tradução literal é
vista como uma instância de elevada identidade formal e cultural entre as duas línguas que se confrontam
na tradução. As instâncias de maior divergência entre as línguas são analisadas como sendo de
divergência linguística, ou estilística, ou da realidade extralinguística, dispondo-se os demais
procedimentos tradutórios ao longo desses eixos.
Ao meu ver, esta é a categorização mais adequada dos procedimentos técnicos da
tradução. Como será visto adiante, no corpo do presente trabalho, não encontrei na literatura
disponível qualquer abordagem que caracterizasse ou categorizasse os procedimentos tradutórios
nos modos que expus acima.
No Capítulo 5 apresento uma breve conclusão deste trabalho.
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(pág. 19) 
2
MODELOS DE TRADUÇÃO

Há milênios a tradução está entre nós, chegando alguns até mesmo a recorrer ao mito da
Torre de Babel para explicar a sua origem (cf. Campos, 1986a e b). Há muitas centenas de anos
também que se escreve sobre a tradução, podendo-se citar, entre os que o fizeram, Cícero (cf.
Newmark, 1981:4; Mounin, 1965:31-32), na Antiguidade, ou São Jerônimo (s/d), o santo patrono
dos tradutores, tradutor-revisor dos quatro Evangelhos (a Vulgata). No entanto, o falar sobre a
tradução – viesse este de Dryden, Pope, Arnold, Proust ou Gide (cf. Newmark, 1981; Mounin,
1965; Nida, 1964; Vázquez-Ayora, 1977) – era um falar impressionista, em que
autores-tradutores beletristas discorriam sobre suas experiências e impressões ao traduzir e
recriar o belo, mas se mantinham isolados, muitas vezes ignorando o trabalho uns dos outros,
sem que pudessem formar um corpo teórico.
Mas a tradução não se restringe à da palavra divina, da poesia ou da grande obra
literária. No mundo de hoje, na aldeia global forjada pelos meios de comunicação de massa,
ela se torna corriqueira, cotidiana e fundamental nos mais variados campos do conhe-
cimento e das atividades do homem.
Assim é que, em 1915, durante as Conferências para a Paz, em Paris, que geraram a Liga
das Nações, ficou evidente a necessidade de que fossem treinados intérpretes para atuar nas
assembleias dessa entidade, bem como profissionais que se ocupassem da tradução das enormes
quantidades de documentos por ela elaborados. Para que se treinassem esses profissionais, era
necessário um estudo objetivo daquilo que constitui a tradução e de como esta se realiza (cf. Her-
bert, 1968).
(pág 20)→ Os estudos acerca da tradução tomaram maior impulso a partir dos anos
cinquenta, findo o conflito da Segunda Guerra Mundial e parcialmente superados seus
efeitos, através dos esforços pela paz entre os povos, consubstanciados na formação de
organismos internacionais, como a Organização das Nações Unidas, nos quais o francês se
viu deslocado como a língua-franca da diplomacia, e nos quais foi dado peso igual aos
idiomas das nações fundadoras, originando, assim, a necessidade de grande volume de
traduções (cf. Herbert, 1968).
O impacto dessa quantidade de traduções de aplicação prática imediata fez com que a
tradução deixasse de ser uma preocupação essencialmente de autores-escritores diletantes na
área, para inscrever-se na pauta de estudiosos informados por teorias linguísticas e, mais
especificamente, na pauta de linguistas aplicados, já que a tradução é uma instância de uso da
linguagem, um caso de interação à distância mediada pelo texto (cf. Cavalcanti, 1986:8),
envolvendo duas línguas.
Dentre os linguistas que primeiro se ocuparam da tradução está Mounin (1955, 1975,
1976a e b e 1980), cuja obra se volta consistentemente para o tema e que se tornou clássica e
fundamental para o estudo da matéria. Mounin (1975) apoia-se em vários aspectos da linguística
de seu tempo, funcional e estrutural, inclusive a linguística antropológica, e aborda vários
aspectos da tradução, até mesmo sua possibilidade ou impossibilidade, mas logo se rende à
evidência da produção nesta atividade, e afirma: “... tradutores existem, eles produzem,
recorremos com proveito às suas produções” (Mounin, 1975:19).
Assim, validada pela sua própria existência, e definida por Mounin (1975:22) como uma
operação linguística,
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“pois comporta, basicamente, uma série de análises e de operações


especificamente dependentes da língua e susceptíveis de serem mais e melhor
esclarecidas pela ciência linguística aplicada corretamente do que por qualquer
empirismo artesanal,”
a tradução conquista definitivamente seu espaço como área de reflexão e passa a ser objeto de
estudo de vários outros linguistas após Mounin, muitos deles ativos também como tradutores e
professores de tradução.
(pág 21)→ Sendo, portanto, a tradução vista como uma atividade humana, uma
operação linguística, aqueles que se ocupam dela têm procurado fornecer uma resposta à
pergunta “como traduzir”. No pensamento tradicional sobre a tradução, esta resposta era
simples: literalmente, fielmente, sendo esta literalidade e esta fidelidade vistas como sendo
primordialmente à forma do original, relegando seu conteúdo ao segundo plano.
Desde os primórdios das reflexões sobre a tradução, no entanto, houve aqueles que
advogavam um modo de traduzir que privilegiasse o conteúdo e se afastasse da literalidade pura
e simples.
Não sendo literal, entretanto, como deveria ser a tradução? É como resposta a esta
pergunta, como um modo de justificar a tradução não literal, que, ao meu ver, surgem, no estudo
da tradução, descrições de procedimentos técnicos. Isto porque a necessidade premente, em todo
o mundo, de traduções para aplicação imediata impede que sejam tão literais que se tornem
incompreensíveis para o usuário, ou tão livres que percam seu valor legal ou se efetivem como
um outro texto original (doravante TO), uma recriação ou paráfrase. Assim, torna-se preciso que
haja parâmetros de execução que validem um determinado tipo de tradução como sendo
funcional, operacional, e que sirva de base para o ensino da tradução.
É da descrição de tais procedimentos técnicos da tradução que vão ocupar-se muitos
autores, buscando subsídios na teoria da natureza da linguagem que goza de maior
prestígio em seu tempo, decorrendo dela a visão que têm sobre como deve ser uma
tradução.
A esta visão de como deve ser uma tradução denominei “modelo” (ou paradigma, cf.
Kuhn, 1970), pois é esta concepção que vai determinar o modo como são categorizados os
procedimentos técnicos da tradução, e também os critérios que são apontados para que
sejam selecionados como válidos em um determinado ato tradutório.
Um trabalho que pretende analisar os procedimentos técnicos da tradução a partir da
descrição pioneira de Vinay e Darbelnet (1977) precisa confrontá-los com o tratamento dado a
eles na literatura, por alguns outros autores. Para fazê-lo, é preciso examinar primeiro os
modelos de tradução dos autores selecionados, bem como (pág. 22)→ examinar os subsídios
teóricos que utilizam para defini-lo, o que passo a fazer em seguida.

2.1. ANÁLISE DOS MODELOS


Apresento abaixo uma revisão sucinta dos modelos de alguns autores que selecionei na
literatura disponível para cotejar com o trabalho de Vinay e Darbelnet (1977), com cujos
procedimentos técnicos da tradução inicio minha revisão da literatura, passando, em seguida, a
uma análise dos modelos de Nida (1964; Nida e Taber, 1982), de Catford (1965), de
Vázquez-Ayora (1977), finalizando com Newmark (1981, 1988).

2.1.1. Tradução Direta vs Tradução Obliqua: O Modelo de Vinay e Darbelnet


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Em 1958, Vinay e Darbelnet publicaram a obra Stylistique comparée du français et de


l'anglais: méthode de traduction, como parte da série “Bibliothèque de Stylistique Comparée” –
que inclui a Stylistique comparée du français et de l'allemand, de Malblanc, que é também o
coordenador da série, e Chemins de la traduction: domaine anglais, de Bonnerot – sendo as
obras dessa coleção norteadas pelo trabalho de Bally que, segundo Malblanc (1977:2), “ao
explicitar a teoria linguística de F. de Saussure, criou o estudo da estilística francesa.”
Foi, portanto, na linguística estrutural, saussuriana, e na estilística que Vinay e Darbelnet
(1977) buscaram subsídios teóricos para seu exame da tradução, além de já mencionarem que a
gramática de base gerativa-transformacional poderia ser útil para o tradutor.
Vinay e Darbelnet (1977) trabalham com conceitos saussurianos tais como “signo
linguístico”, “significado” e “significante”, “valor” e “significação” (cf. Saussure, 1972). Estes
conceitos, além da noção de arbitrariedade do signo linguístico (cf. Saussure, 1972), dão-lhes
uma sólida base teórica para justificar sua proposta de afastamento da tradução literal.
No contexto da obra de Vinay e Darbelnet (1977:32), deve-se entender estilística segundo
a visão de Bally, ou seja, como (pág. 23)→ catálogo das formas elegantes e convincentes” (apud
Dubois et al, 1978:243). Vinay e Darbelnet (1977:15) consideram como estilística comparada
aquela “que observa as características de uma língua tais quais se revelam por comparação com
uma outra língua” e relacionam a tradução a “um caso particular, a uma aplicação prática da
estilística comparada” (Vinay e Darbelnet, 1977:20).
Isto fica claro já no prefácio da obra, com o exemplo de traduções encontradas em placas
de sinalização em estradas canadenses, oferecido pelos autores: a placa SLIPPERY WHEN
WET, em língua inglesa, foi traduzida para o francês como GLISSANT SI HUMIDE. Esta
tradução, no entanto, como a de outras placas de sinalização encontradas nessas estradas,
consideram Vinay e Darbelnet (1977:17), “são muito claras, muito correias, mas não é assim que
seriam redigidas em francês”. A forma usada na França para a placa citada é CHAUSSÊE
GLISSANTE (cf. Vinay e Darbelnet, 1977: 17-22), correspondendo-lhe, em português, a forma
PISTA ESCORREGADIA, como se vê nas estradas, no Brasil.
É visando a, na tradução, produzir um texto idêntico ao que “sairia espontaneamente de
um cérebro monolíngue, em resposta a uma situação comparável sob todos os pontos de vista”, o
que implicaria em um afastamento da tradução apenas literal – que nem sempre teria como
resultado a forma mais natural, tal como definida acima – , que Vinay e Darbelnet (1977:46-55)
enumeram os procedimentos técnicos da tradução.
Para Vinay e Darbelnet (1977:46-55), os procedimentos técnicos da tradução
distribuem-se ao longo de dois eixos, o da tradução direta e o da tradução oblíqua como se vê no
quadro abaixo:

EMPRÉSTIMO
TRADUÇÃO DIRETA DECALQUE
TRADUÇÃO LITERAL
TRANSPOSIÇÃO
MODULAÇÃO
TRADUÇÃO OBLÍQUA
EQUIVALÊNCIA
ADAPTAÇÃO

(pág. 24)→ A tradução direta, para Vinay e Darbelnet (1977:46) é o mesmo que
tradução literal, ou palavra-por-palavra, tanto mais possível quanto maior for a semelhança
entre as duas línguas em questão, como no caso de línguas de mesma família, ou seja (Vinay e
Darbelnet, 1917:46):
BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 10

quando a mensagem da LO (língua original) se deixa passar perfeitamente para a


mensagem da LT (língua da tradução), pois repousa seja em categorias paralelas
(paralelismo estrutural), seja sobre concepções paralelas (paralelismo extralinguístico).

A tradução oblíqua, por outro lado, é aquela que não é literal. Isto porque há casos em
que a tradução literal não é possível pois, segundo Vinay e Darbelnet (1977:49), o texto que
produziria na LT poderia:
a) ter significado diverso do original,
b) não ter significado,
c) ser estruturalmente impossível,
d) não ter correspondência no contexto cultural da LT,
e) ter correspondência, mas não no mesmo registro.
Considero possível afirmar que os itens expostos acima constituem um teste de
viabilidade da tradução literal a qual, desta maneira, constituiria um procedimento pré-tradutório:
o tradutor faria a tradução literalmente, aplicaria o teste e, resultando impossível a tradução
literal, passaria a empregar procedimentos mais complexos.
Um exemplo poderá esclarecer melhor. A frase em inglês “Paul kicked the ball” permite
tradução literal, palavra-por-palavra, em português, como se vê abaixo:

Paul kicked the ball.


   
Paulo chutou a bola.

No entanto, a frase inglesa “Paul kicked the bucket” não permite tradução literal,
palavra-por-palavra, pois esta, “Paulo chutou o balde” não corresponde ao significado da LO,
que é “Paulo morreu” (pág. 25)→ ou, para manter o mesmo registro, como recomendam Vinay e
Darbelnet (1977:33-34), “Paulo bateu as botas,” ou “Paulo abotoou o paletó.”
Assim, sendo impossível a tradução literal, será necessário recorrer à tradução
oblíqua, ou seja, àquela que utiliza recursos lexicais ou sintéticos diversos daqueles
empregados no texto da LO (doravante TLO), quer dizer, que altera a forma, mas sem
alterar o conteúdo, ou a mensagem.
E dentro desse contexto, portanto, que Vinay e Darbelnet (1977:46-55) categorizam os
procedimentos técnicos da tradução, ordenando-os segundo a dificuldade de execução pelo
tradutor: quanto mais próximos da LO, mais fácil sua realização, estando, assim, os primeiros – o
empréstimo, o decalque e a tradução literal – no âmbito da tradução direta, e os demais – a
transposição, a modulação, a equivalência e a adaptação – , no âmbito da tradução oblíqua, que é
a que, em busca do sentido, mais se afasta da forma do TLO e, portanto, seria mais difícil para o
tradutor.
O primeiro procedimento da tradução direta, o empréstimo, é o mais fácil de todos,
segundo Vinay e Darbelnet (1977), pois consiste em copiar, ou utilizar a própria palavra da LO
no texto da LT (doravante TLT). Vinay e Darbelnet (1977) afirmam que este procedimento deve
ser usado quando não houver, na LT, um significante que tenha o mesmo significado expresso
pelo significante empregado no TLO, como no exemplo abaixo onde, não tendo a língua
francesa um posto equivalente ao do coroner 3 anglo-saxônico entre seus magistrados, foi

3 “Magistrado encarregado de investigar casos de morte suspeita” (cf. Houaiss e Avery, 1981:159).
BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 11

realizada a tradução através de um empréstimo (cf. Vinay e Darbelnet, 1977:47):

The coroner spoke.



Le coroner prit la parole.

Vinay (1968:737), em um artigo que retoma a discussão sobre os procedimentos técnicos


da tradução, assim define este procedimento:

O texto na LO pode conter um termo novo, para o qual a LT ainda não possui equivalente.
De preferência a recorrer a uma (pág. 26) definição ou explicação, o tradutor pode utilizar
pura e simplesmente o termo da LO, que se torna, daí por diante, um empréstimo.

Deste modo, o empréstimo, segundo a definição de Vinay e Darbelnet (1977) e de Vinay


(1968), não poderia ser classificado entre os procedimentos da tradução direta (q.v. página 24
acima), pois expressa não um paralelismo, mas uma divergência extralinguística entre a LO e a
LT.

Vinay (1968:737) vai mais longe, ao afirmar que “este procedimento é evidentemente a
negação da tradução.”

De fato, de acordo com a definição de Vinay. e Darbelnet (1977), o empréstimo não


constitui uma tradução. Não corresponde à definição de tradução oferecida por Catford (1965:20,
q.v. 2.1.3, p. 35), que é: “substituição de material textual em uma língua (LO) por material
textual equivalente em outra língua (LT).” Na verdade, o empréstimo é a manutenção de material
textual da LO na LT.
Aparentemente, para Sousa-Aguiar (1980:50),: a colocação do empréstimo como
procedimento anterior à tradução literal também pareceu inadequada, pois inicia seu comentário
do modelo de Vinay e Darbelnet (1977) pela descrição da tradução palavra-por-palavra.
Vázquez-Ayora (1977) vai ainda mais longe, eliminando de seu modelo tanto o empréstimo
como o decalque.
Vinay e Darbelnet (1977) consideram o segundo procedimento da tradução direta, o
decalque, como um caso particular do empréstimo. Isto porque o empréstimo refere-se a
palavras isoladas, enquanto o decalque estende-se aos sintagmas.
Para Vinay e Darbelnet (1977), há dois tipos de decalque. O primeiro, chamado decalque
de expressão, utiliza palavras já existentes na língua da tradução, respeitando também sua
estrutura sintética, o que é exemplificado por Vinay e Darbelnet (1977:47) como aparece abaixo:
Season's Greetings.
Compliments de la Saison.

(pág. 27) → Já o segundo tipo, chamado de decalque de estrutura, utiliza as palavras da


LT, embora em construções sintéticas estranhas a ela, como no exemplo abaixo, fornecido por
Vinay e Darbelnet (1977:47):
science-fiction
NOTA DA PROFESSORA:
Show-room, ...-futebol-clube (SPFC,
SFC) notebook, weekend.
BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 12

 
science-fiction

onde a tradução do sintagma inglês em francês é um decalque em que foi desrespeitada a


estrutura sintática da língua francesa que, nesse caso, exigiria a pós-posição de um adjetivo
flexionado, ao passo que, em inglês, o adjetivo é anteposto ao substantivo e invariável.
Existe algum conflito, na literatura disponível» em tomo da definição de decalque
por Vinay e Darbelnet (1977). Em Vinay (1968: 739) e Dutra (1983a: 88), o decalque é
definido como o procedimento através do qual “a palavra ou expressão é adaptada à
ortografia da LT: futebol, líder, buque, uísque, fim-de-semana.” Os quatro primeiros
exemplos citados são, na realidade, casos de aclimatação (q.v. 3.10.3), sendo o último
(fim-de-semana) um caso de decalque tal como definido por Vinay e Darbelnet, mas não
um caso de aclimatação. Esta controvérsia será abordada novamente em 4.1.
Considero também inadequada a colocação do decalque como procedimento da tradução
direta, pois este é usado em consequência de divergências entre as duas línguas em confronto no
ato da tradução. Segundo Vinay e Darbelnet (1977), este procedimento introduz na LT “novos
modos de expressão,” o que está em desacordo com sua definição de tradução direta (q.v. página
24 acima), onde, na verdade, tal procedimento nunca seria necessário.
O terceiro e último procedimento da tradução direta é a tradução literal, ou
palavra-por-palavra. Segundo Vinay e Darbelnet (1977:49), este procedimento deve ser
usado sempre que seu resultado for um texto correto e que respeite as características
formais, estruturais e estilísticas da LT.
Para Vinay e Darbelnet (1977), a tradução literal é, em princípio, uma solução
completa em si mesma, única e reversível, pois a retradução teria como resultado
precisamente o texto original8. Oferecem o seguinte exemplo (cf. Vinay e Darbelnet,
1977:48):

(pág. 28) 
I left my spectacles on the table downstairs.
       
J’ai laissé mes lunettes sur la table en bas.

O primeiro procedimento da tradução obliqua, a transposição, consiste em um


afastamento, no plano sintático, da forma do TLO. Assim, um significado que era expresso
no TLO por um significante de uma determinada categoria gramatical (parte do discurso),
passa a ser expresso, no TLT, por um significante de outra categoria gramatical, sem que,
com isso, fique alterado o conteúdo, ou a mensagem, do TLO.
Vinay e Darbelnet (1977) oferecem vários exemplos de transposição, já que este
procedimento pode envolver vários pares de categorias gramaticais, dentre estes o que se vê
abaixo (cf. Vinay e Darbelnet, 1977:97), tirado de uma manchete de jornal:
Situation still critical (still - advérbio)
La situation reste critique (reste - verbo)
Observe-se que, no exemplo acima, a transposição foi uma escolha do tradutor, já que
haveria outras possibilidades de tradução (por exemplo, La situation est toujours critique), fato
que não é levado em consideração por Vinay e Darbelnet (1977), podendo-se supor que a opção
foi feita em vista de a primeira versão, mais curta, ser mais adequada a uma manchete de jornal.
BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 13

Há casos, porém, em que a transposição 6 obrigatória, como no exemplo da tradução do


francês para o inglês citada por Vinay e Darbelnet (1977:50), uma vez que o inglês não possui
uma outra construção equivalente mais próxima do original em francês:

des son lever (lever - substantivo)


  
as soon as he gets up (gets - verbo)

O segundo procedimento da tradução oblíqua é a modulação. Neste caso, há uma


mudança de ponto de vista, ou de foco, na expressão da mensagem em cada uma das
línguas envolvidas na tradução.
(pág. 29)→ Um dos exemplos oferecidos por Vinay e Darbelnet (1977:89) pode esclarecer
melhor este procedimento:
jusqu'à une heure avancée de la nuit.
until the small hours of the morning.
Neste exemplo, embora os segmentos textuais nas duas línguas estejam-se referindo ao
mesmo espaço de tempo, entre uma e três horas da manhã, pode-se dizer, o francês refere-se ao
período como noite, enquanto o inglês refere-se a ele como manhã, ou seja, cada língua
privilegia um aspecto diferente da mesma realidade. Assim, na tradução, é preciso lidar
satisfatoriamente com este fato, abandonando a tradução literal para preservar o sentido da
mensagem.
O terceiro procedimento da tradução obliqua é a equivalência. Esta é utilizada em
casos onde as duas línguas em confronto dão conta da mesma situação através de meios
estilísticos e estruturais totalmente diversos. Assim sendo, será empregada
primordialmente para a tradução do repertório fraseológico, dos idiotismos, clichés,
provérbios, interjeições e onomatopeias.
Os provérbios em geral constituem exemplos perfeitos da equivalência, pois encerram
uma mensagem total em si mesmos, permitindo uma operação de equivalência, já que os povos
criaram provérbios cujo referencial se encontra em sua realidade extralinguística particular que,
muitas vezes, será incompreensível para falantes de outras línguas, os quais terão gerado seus
provérbios particulares, baseados em sua própria realidade extralinguística.
Vinay e Darbelnet (1977:52) citam vários exemplos de equivalência, dentre eles o
reproduzido abaixo:
too many cooks spoil the broth
deux patrons font chavirer la barque

A mesma ideia é expressa, por equivalência, tradicionalmente, em português, por “panela


que muitos mexem ou sai salgada ou sai sem sal” ou por outras formas aproximadas. É possível,
também, realizar esta equivalência trazendo-a mais para perto de uma realidade brasileira
propriamente dita: “muito cacique para pouco índio.”
(pág. 30)→ A adaptação, o último procedimento da tradução oblíqua, é também o
limite extremo da tradução. Aplica-se em casos onde a situação extralinguística a que se
refere o TLO não existe no universo cultural dos falantes da LT, devendo, portanto, ser
recriada através de uma outra situação, que ç tradutor julgue equivalente, no contexto
extra-linguístico da LT. Trata-se, portanto, de um caso particular da equivalência, uma
equivalência de situação.
Um dos exemplos oferecidos por Vinay e Darbelnet (1977:53) é reproduzido abaixo:
BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 14

he kissed his daughter on the mouth


il serra tendrement sa fille dans ses bras

Neste caso, o anglo-saxônico beijo que o pai dá à filha na boca é substituído por um terno
abraço em francês, já que na cultura dos povos falantes deste segundo idioma não existe o
primeiro comportamento.
Ao descrever estes procedimentos, Vinay e Darbelnet (1977) deixam claro também que,
em um determinado segmento de texto, poderão ser usados, concomitantemente, mais de um
procedimento técnico da tradução, como pode ser visto em um dos exemplos citados acima (q.v.
p. 29):
A B C D E F G
jusqu'à une heure avancée de la nuit
until the small hours of the morning

Onde A e E são traduções literais. B é uma transposição de artigo indefinido para artigo
definido, C é uma tradução literal, mas com um deslocamento obrigatório de posição dentro do
sintagma nominal (pós-posição do adjetivo flexionado em francês e anteposição do adjetivo
invariável no inglês), além de uma modulação de singular para plural. D é uma modulação onde
se encontram também alterações estruturais obrigatórias, ou seja, a pós-posição do adjetivo e sua
concordância em género e número no francês. F é uma tradução ao mesmo tempo literal e que
envolve uma transposição obrigatória do artigo definido de género feminino singular em francês
para o artigo (pág. 31)→ definido invariável em inglês. Em G encontra-se novamente uma mo-
dulação.
Vinay e Darbelnet (1977:54) citam ainda um exemplo onde vários procedimentos
tradutórios se realizam no interior da tradução de um só pequeno segmento textual (que, no caso,
pode ser considerado como um texto completo em si mesmo):

PRIVATE
DEFENSE D’ENTRER

Estas seriam placas encontradas pregadas na porta de um gabinete particular. A tradução


do inglês para o francês é uma transposição, pois o adjetivo se transforma em sintagma nominal;
uma modulação, porque se passa de uma constatação a uma ordem; finalmente, é uma
equivalência pois a tradução é feita tendo-se em vista a situação sem preocupação de manter-se a
estrutura sintética do TLO.
Além desta concomitância de ocorrência de procedimentos, Vinay e Darbelnet (1977)
abordam também outros procedimentos auxiliares, embora discutam-nos fora dó quadro de
procedimentos técnicos da tradução que expõem. Estes procedimentos são analisados de modo
ad hoc quando os autores aplicam os procedimentos técnicos da tradução aos três planos onde
consideram que a tradução se realiza: o lexical, o sintético e o da mensagem.
Estes procedimentos auxiliares não são analisados neste ponto do presente trabalho, pois
foram revisados e expandidos por Vazquez-Ayora (1977), e são examinados quando da revisão
do trabalho deste autor (q.v. 2.1.3).
Através do breve exame dos procedimentos técnicos da tradução, segundo Vinay e
Darbelnet (1977), feito acima, pode-se concluir que, para estes autores, a tradução literal ocupa
uma posição privilegiada, embora sujeita a certos limites: o tradutor deve afastar-se dela quando
este procedimento for invalidado pelo teste apresentado na página 24, onde pode-se dizer que
BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 15

está também implícita a noção de erro na tradução.


(pág. 32)→ Observe-se que, nesse teste, estão colocados, os princípios que norteiam a
tradução para Vinay e Darbelnet (1977). O primeiro deles é a manutenção do significado do
TLO ao passar para a LT. Estaria aí definida sua noção de fidelidade: ao conteúdo, mas também
à forma, já que o tradutor só deve afastar-se da tradução literal quando esta for impossível por ir
contra os princípios e normas que regem a LT, sua estrutura e seus registros, ou quando não
houver correspondência no contexto cultural da LT para o contexto gerado pelo TLO.
Esta atitude diante da tradução deve-se, em parte, à preocupação estilística de Vinay e
Darbelnet (1977). Sua obra é um compêndio de estilística comparada, um cotejamento entre as
formas ideais encontradas em duas línguas. Portanto, em seu ponto de vista, a tradução não pode
ser efetuada de modo que contrarie aquilo que, na sua concepção, é o estilo (q.v. p. 22) da língua
para a qual é feita.

2.1.2. Equivalência Formal vs Equivalência Dinâmica: O Modelo de Nida


Lançando mão de sua grande experiência como tradutor da Bíblia, no âmbito da United
Bible Societies que, até o final de 1968, já havia trabalhado com 1393 línguas (cf. Nida e Taber,
1982:vii), Nida (1964 e 1966) escreve sobre a teoria e a prática da tradução. Busca subsídios
teóricos na gramática de base gerativa-transformacional e, como Chomsky (1957), considera a
língua como “um mecanismo dinâmico capaz de gerar uma série infinita de enunciados diversos”
(cf. Nida, 1964:9). Acredita que esta visão gerativa da língua é fundamental para o tradutor, pois
este, ao traduzir de uma língua para outra, deve ir além da simples comparação das estruturas
correspondentes nas duas línguas – comparação feita por Vinay e Darbelnet (1977, q.v. 2.1.1). O
tradutor deve também procurar descrever os mecanismos por meio dos quais a mensagem total
veiculada através de um texto é decodificada, transferida e transformada nas estruturas de outra
língua (cf. Nida, 1964:9).
Vendo a língua como um “código comunicativo,” Nida (1964:30) procura estabelecer a
natureza do significado. Para isto, busca subsídios na semântica e na pragmática, mais
especificamente no trabalho de Katz e Fodor (1962, 1963), quando explicita o “dicionário” de
(pág. 33)→ que dependem para a descrição dos traços semânticos (cf. Nida, 1964:39), cuja
formulação poderia ser útil para o tradutor no estabelecimento de equivalências lexicais de uma
língua para a outra.
Também as funções da linguagem descritas por Jakobson (1980) são utilizadas por Nida
(1964:45-46) em sua análise, no sentido de determinar quais funções da linguagem estão
presentes no TLO e se são as mesmas existentes no TLT após o processo tradutório.
Desta visão da linguagem resulta o primeiro “modelo operacional” da tradução, segundo
a proposta de Nida (1964:68), dividido em três etapas: 1) redução do texto original a seus
núcleos (kernels, cf. Chomsky, 1957) mais simples e semanticamente mais evidentes. 2)
transferência do significado da LO para a LT em um nível estruturalmente simples e 3) geração
de uma expressão estilística e semanticamente equivalente na língua da tradução (cf. Nida,
1964:68). Afirma ainda que o tradutor realmente competente traduz “unidades de significado”
(cf. Nida, 1964:68), não se ocupando apenas em reproduzir “unidades estruturais.”
Nida (1964) aplica, aqui, à tradução, o modelo da gramática de base
gerativa-transformacional. Trata-se de uma explicitação teórica daquilo que o tradutor faz.
Pode-se dizer mesmo que seria uma visão em câmera-lenta do que se passa na cabeça do tradutor
no ato de traduzir. Não encontrei, no entanto, qualquer subsídio na literatura disponível para
afirmar que esta fosse realmente uma descrição satisfatória dos processos mentais que ocorrem
no ato da tradução.
Segundo o próprio Nida (1964:145), para efetuar tal descrição, seriam necessários
BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 16

subsídios da psicologia e da neurologia, ciências que “não sabem precisamente o que ocorre na
mente do tradutor quando este traduz.”
Retomando sua visão da língua como código comunicativo, Nida (1964:120-144)
volta-se para a teoria da comunicação, na qual o tradutor e o leitor da tradução podem ser
considerados como elementos atuantes em um ato comunicativo (cf. Zagury, 1975:105-106),
bem como a tradução uma etapa dele, como no gráfico apresentado abaixo que elaborei para
ilustrar este ponto:
(pág. 34)
FONTE → MENSAGEM1 → RECEPTOR1 → MENSAGEM2 → RECEPTOR2

FONTE = autor do TLO MENSAGEM2 = TLT (equivalente à MENSAGEM1)


MENSAGEM1 = TLO RECEPTOR2 = o leitor do TLT
RECEPTOR1 = tradutor

Nida (1964:120) considera esta análise como tendo especial importância para a tradução,
pois vê a produção de mensagens equivalentes (a MENSAGEM1 e a MENSAGEM2 não são
iguais, mas equivalentes) como um processo não apenas de encontrar equivalentes para
segmentos de enunciados, mas como um processo de reprodução do caráter dinâmico global da
comunicação.
Assim sendo, Nida (1964:156) considera que há três fatores básicos a serem avaliados
antes de se efetuar uma tradução: 1) a natureza da mensagem, 2) o objetivo ou objetivos do autor
e, consequentemente, do tradutor e 3) o tipo de público visado pelo original e pela tradução.
A partir daí, o que se deve buscar na tradução é a maior equivalência possível entre a
MENSAGEM1 e a MENSAGEM2, afirma Nida (1964:159), mas considerando que há dois tipos
fundamentais diversos de equivalência: uma que pode ser chamada de formal e outra que é
primordialmente dinâmica.
A equivalência formal é centrada no conteúdo e na forma da MENSAGEM1, o texto
original. Neste tipo de tradução, a preocupação está em manter a correspondência estilística, a
correspondência de frase para frase e de conceito para conceito entre o TLO e o TLT. Encarada
com esta orientação formal, a tradução precisa gerar um TLT que corresponda o mais possível
aos diversos elementos linguísticos e extralinguísticos contidos no TLT.
Já a equivalência dinâmica tem como meta atingir uma total naturalidade na expressão da
MENSAGEM1, o TO, na LT e tenta transpor o TLO para a LT de tal modo que o leitor encontre
no TLT modos de comportamento e outros elementos extralinguísticos relevantes em sua própria
cultura; não insiste que ele compreenda padrões culturais do contexto da LO a fim de poder
compreender a mensagem.
(pág. 35)→ Assim, de acordo com este modelo, a tradução deve almejar ao “efeito
equivalente” que, segundo Nida (1964:159), foi enunciado por Rieu e Phillips (1954, apud Nida,
1964:159)8, ou seja, a tradução teria sobre seu leitor o mesmo efeito que teve o TO sobre seu
leitor. Mas isso nem sempre é possível7 ou desejável, como no caso das populações mencionadas
por Nida (1964) que, mesmerizadas pelo TLO, preferem uma tradução totalmente literal, mesmo
que não compreendam seu significado.
Nida (1964, 1966) não enumera procedimentos técnicos da tradução nos moldes do que
fazem Vinay e Darbelnet (1977, q.v. 2.1.1). Nida (1964) discute procedimentos técnicos da
tradução, embora não de modo ordenado, dificultando uma apreciação sucinta dos mesmos,
observação já feita por Vázquez-Ayora (1977:6).
BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 17

Há considerável superposição entre os procedimentos descritos ao longo de sua obra por


Nida (1964, 1966) e por Vinay e Darbelnet (1977) a quem Nida (1964) cita e cujos exemplos
utiliza em seus comentários.
Assim, por causa da dificuldade de elencar os procedimentos abordados por Nida (1964,
1966), estes não são apresentados a esta altura, no presente trabalho, mas serão mencionados
sempre que forem necessários para esclarecer melhor minha proposta.

2.1.3. Os Quatro Modelos de Catford


Catford (1965: vii) considera que, uma vez que a tradução opera com a língua, a análise e
discussão de seus processos deve utilizar categorias estabelecidas para a descrição das línguas.
Em outras palavras, deve recorrer a uma teoria da língua, ou seja, a uma teoria linguística geral.
Afirma Catford (1965:1) que a teoria linguística que utiliza é a desenvolvida, sobretudo por M.
A. K. Halliday4, influenciada pelo trabalho de J. R. Firth (1970, por exemplo).
Sua preocupação expressa não é deter-se em problemas específicos da tradução, mas
antes analisar o que a tradução é (cf. Catford, 1965:vii). Deste modo, logo após sua apresentação
sucinta da teoria linguística de onde tirou subsídios, com a qual inicia seu livro, forma de
apresentação já encontrada em Vinay e Darbelnet (1977, q.v. 2.1.1 e Nida, 1964, q.v. 2.1.2),
encontra-se sua definição de tradução (cf, Catford, 1980: 22): “a substituição de material textual
numa língua (pág. 36)→ (LO) por material textual equivalente noutra língua.” A partir desta
definição, delineia os eixos de tensão ao longo dos quais se colocam os tipos de tradução que
considera existir, que se configuram em quatro modelos de tradução.
Para Catford (1965:23-24), no primeiro modelo, a tradução pode ser plena ou parcial. Na
tradução plena, todo o material textual na LO é substituído por seu equivalente na LT, Já na
tradução parcial há partes (ou uma só parte qualquer) do TO que não são traduzidas, mas que
são simplesmente incorporadas ao TLT, procedimento denominado “transferência” por Catford
(1965:43-48).
Observe-se que esta incorporação de elementos do TLO no TLT corresponde ao
procedimento denominado “empréstimo” por Vinay e Darbelnet (1977, q.v. 2.1.1). Catford
(1965:21) justifica seu emprego do mesmo modo que Vinay e Darbelnet (1977): ou por ser o
item lexical em questão considerado intraduzível, ou pelo objetivo estilístico de dar “cor local”
ao texto traduzido.
Em seguida, Catford (1965:24) explica o conceito de “Ordem” ou “plano” (ranks, cf.
Catford, 1965:24, § 2.4; Catford, 1980:26, § 2.4) linguísticos, os quais considera importantes
para a tradução. As “ordens” ou “planos” são os degraus da hierarquia gramatical ou fonológica
nos quais se estabelece a equivalência da tradução. As “ordens” que considera Catford (1965:24)
são o morfema, a palavra, o grupo, a oração, o período, o parágrafo e o texto, podendo haver
sobreposição, já que, por exemplo, em uma placa de sinalização que contenha a palavra
PERIGO, esta palavra é também um texto completo em si mesma.
O eixo descrito em seguida por Catford (1965:22-24), e que configura seu segundo
modelo da tradução, é o da tradução total vs. a restrita. A tradução total corresponde à definição
de tradução citada acima (p. 42-43). Nesta, todas as “ordens” ou “planos” do léxico, de uma
hierarquia gramatical, fonológica e grafológica do TLO são substituídos por outros da LT. A
tradução restrita limita-se apenas a uma dessas “ordens” ou “planos”, conforme será descrito
abaixo.
A tradução fonológica consiste na substituição da fonologia da LO pela equivalente na

4 Catford (1965:1) remete o leitor para Halliday, M. A. K., "Categories of the theory of grammar," Word, Vol. 17, N°. 3, 1961, pp. 241-92; e
Halliday, M. A. K. et al. The linguistic sciences and language teaching, Longmans, 1964.
BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 18

LT. No exemplo abaixo, organizei um quadro em que apresento dois itens lexicais do inglês com
sua tradução fonológica para o português e o espanhol, segundo a descrição de Catford (1965),
para ilustrar este caso:
(pág. 37)
INGLÊS PORTUGUÊS DO BRASIL ESPANHOL DO URUGUAI
output [autipútí] [aupú]
vickvaporub [viquivaporúbi] [viváporu]

A tradução grafológica consiste na substituição da grafologia da LO pela equivalente na


LT. No exemplo abaixo, citado por Catford (1965:13), aparece uma inscrição inglesa com
grafologia devanagári (hindi):
INDIAN AIRLINES

A tradução gramatical e lexical consistiria respectivamente na substituição da gramática


ou do léxico da LO por uma ou outro da LT. No entanto, por causa das estritas relações entre
gramática e léxico, é muito difícil, se não impossível, que um tipo ocorra independentemente do
outro.
Catford (1965:71) cita o seguinte exemplo de tradução gramatical, onde se substituiu a
gramática da LO pela gramática equivalente da LT, sem efetuar as substituições do léxico:

This is the man (that) I saw.


      
G G L G G GLG
     
Voici le man que j' ai see-é.
G – item gramatical L – item lexical

A tradução lexical do mesmo período produziria:


This is the man I saw.
     
G G G L G LG
     
This is the homme I voi-ed

onde só foram traduzidos os itens lexicais e não os gramaticais.


(pág. 38)→ Como se pode observar através dos dois exemplos acima, nenhum desses
dois tipos de tradução parece ser de utilidade prática isoladamente, a não ser talvez em algum
tipo de texto de função metalinguística, talvez para análise contrastiva.
Este modelo de tradução, que se configura na tensão entre tradução total e tradução
restrita, pode ser resumido graficamente como no quadro abaixo:

tradução fonológica
TRADUÇÃO TOTAL
tradução grafológica
BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 19

tradução gramatical
tradução lexical
tradução fonológica
tradução grafológica
TRADUÇÃO RESTRITA
tradução gramatical
tradução lexical

onde fica claro que a tradução total engloba, simultaneamente, todos os modos de traduzir
listados ao longo de seu eixo, enquanto a tradução restrita seleciona somente um deles de cada
vez.
Trabalhando ainda com o conceito de “ordem”, Catford (1965:24) considera que pode
haver dois outros tipos de tradução, que configuram seu terceiro modelo: a tradução limitada à
ordem, aquela em que se procura encontrar equivalentes da LO na LT apenas em uma das
ordens, por exemplo, a da palavra. A outra, a tradução não limitada, corresponde à tradução
total, ou seja, mais uma vez, à definição de tradução oferecida por Catford (1980:22) citada
acima. Neste caso, as equivalências se deslocam livremente na escala das ordens, conforme as
necessidades geradas pelo confronto entre as duas línguas.
Expondo um quarto modelo de tradução, Catford (1965:25) afirma também que as
noções intuitivas de tradução livre, literal e palavra-por-palavra correspondem em parte às
descrições acima. A tradução livre (pág. 39)→ é não limitada, total; a tradução
palavra-por-palavra é limitada à ordem da palavra e a tradução literal situa-se a meio termo
entre as duas, pois parte de uma tradução palavra-por-palavra, mas efetua as alterações
necessárias, de acordo com as normas de uso da LT, fazendo com que possa ser uma tradução
efetuada na ordem do grupo ou mesmo da oração.
Catford (1965:25-26) oferece um exemplo deste quarto modelo, reproduzido abaixo:
Texto na LO: It’s raining cats and dogs.
Tradução palavra-por-palavra: * Il est pleuvant chats et chiens.
Tradução literal : * Il pleut des chats et des chiens.
Tradução livre : Il pleut à verse.
(* Não aceitável na LT)

Aqui, somente a terceira versão é comutável com o TLO, e portanto, ao meu ver, é a
única que constitui uma tradução aceitável.
Como foi visto acima, na discussão do quarto modelo, há uma certa sobreposição nos
modelos de tradução descritos por Catford (1965), o que poderá ser melhor explicado por meio
de um gráfico, tal como o que elaborei e apresento abaixo:

OS QUATRO MODELOS DE TRADUÇÃO DE CATFORD (1965)

E SUAS SOBREPOSIÇÕES

Tradução
Parcial Tradução Restrita Tradução Tradução
Limitada Palavra-por-palavra
Tradução Tradução Total Tradução Tradução Literal
Plena Não Limitada Tradução Livre
BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 20

(pág. 40) Examinando-se o quadro acima observa-se que: 1) a tradução parcial tem
correspondência na tradução restrita e na tradução limitada, bem como na tradução
palavra-por-palavra, que encontram também correspondências entre si; 2) a tradução literal
corresponde, em parte, à tradução limitada e à tradução restrita, que se correspondem, também,
em parte; 3) & tradução literal corresponde, em parte, à tradução plena, a tradução total e a
tradução não limitada, que se correspondem perfeitamente, assim como correspondem à
tradução livre.
Além destes modelos de tradução, Catford (1965:73-82) fala das transposições5 (shifts)
que ocorrem na tradução. A definição destas •mudanças, oferecida por Catford (1980:82), que é
“perdas de correspondência formal no processo de passagem da LO para LT,” corresponde à
definição de tradução oblíqua de Vinay e. Darbelnet (1977) – cujos exemplos Catford (1965)
cita abundantemente em seu livro – e, mais especificamente, ao procedimento que descrevem
sob o
nome de “transposição.”
É possível dizer, acredito, que as transposições a que se refere Catford (1965) são, na
verdade, procedimentos técnicos da tradução, inclusive pela proximidade com as colocações de
Vinay e Darbelnet (1977, q.v. 2.1.1). Enquanto procedimento técnico da tradução, a transposição
de Catford (1965) estaria dentro dos eixos das traduções plena, total, não limitada, literal e livre.
Para resumir as transposições expostas por Catford (1965:73-82), elaborei o quadro
abaixo, que será explicado em seguida:

TRANSPOSIÇÕES NA TRADUÇÃO
de gramática a léxico
TRANSPOSIÇÃO DE ORDEM
de léxico a gramática
de escritura
de classe
TRANSPOSIÇÃO DE CATEGORIA
de unidade
intra-sistema

(pág. 41) O primeiro tipo de transposição que cita Catford (1980:82) é a transposição
de ordem ou plano. Por exemplo, uma transposição entre a ordem gramatical e a ordem lexical,
como no exemplo abaixo, retirado de Vinay e Darbelnet (1977) por Catford (1965:75):

This text is intended for...


  
Le présent manuel s'adresse à...

Aqui, o dêitico this, da ordem gramatical, foi traduzido por le présent, artigo + adjetivo
lexical, pertencendo parcialmente à ordem lexical (cf. Catford, 1980:85).
O segundo tipo de transposição que enumera Catford (1980:85) corresponde às
transposições de categoria, também definidas como perda de correspondência formal, e
subdivididas em transposições de estrutura, de classe, de unidade e intra-sistema. Abaixo são
examinadas estas transposições, de acordo com Catford (1965:76).

5 O termo "mudanças" foi utilizado na tradução brasileira (cf. Catford, 1980:82) para o termo shift em LO, que vem a ser o mesmo utilizado
por outros autores (por exemplo, Newmark, 1981) para traduzir o termo transposition utilizado por Vinay e Darbelnet (1977).
BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 21

As transposições de estrutura envolvem alterações sintáticas, como no exemplo entre a


tradução do inglês para o francês, citada por Catford (1965:77-78), onde a estrutura sintética do
inglês, modificador + qualificador + núcleo, transforma-se em modificador + núcleo +
qualificador flexionado em francês:
A white house.
Une maison blanche.

A transposição de classe ocorre quando um item da LO é traduzido por um item de


classe diferente na LT. Catford (1965:78-79) define a classe segundo Halliday: “o agrupamento
de membros de determinada unidade que se define pela sua operação na unidade imediatamente
superior.” O exemplo abaixo é citado por Catford (1965:79):
a medical student (medical – adjetivo)
un étudiant en médecine (en médecine – sintagma adverbial)

(pág. 42)→ A transposição de unidade consiste em um afastamento da correspondência


formal em que o equivalente tradutório de uma unidade ou uma ordem no TLO pertence a uma
outra ordem no TLT. Seria o mesmo dizer transposição de ordem, mas, segundo Catford
(1980:89), não é possível empregar este termo aqui, pois criaria uma divergência com a
gramática de Halliday (as transposições de ordem foram discutidas na página anterior e o
exemplo que Catford (1965) oferece para transposição de unidade 6 o mesmo oferecido naquela
altura para transposição de ordem).
A transposição intra-sistema ocorre quando a LO e a LT possuem sistemas de relativa
proximidade formal, mas o tradutor escolhe um termo não correspondente na LT para traduzir o
termo da LO. Para ilustrar este caso, Catford (1965:79) emprega um exemplo retirado de Vinay e
Darbelnet (1977), onde esta transposição ocorre de singular no inglês para plural no francês
(sendo opcional a transposição, pois existe a possibilidade de uso no singular, dentro da língua
francesa):
advice→ des conseils (un conseil)
news → des nouvelles (une nouvelle)
lightning→ des éclairs (un éclair)
Como se pode concluir pelo exposto acima, há muitos pontos de contato entre a visão de
Catford (1965) e a de Vinay e Darbelnet (1977, q.v. 2.1.1) e mesmo entre a de Catford (1965) e a
de Nida (1964, q.v. 2.1.2). O que distingue a visão de Catford (1965) das outras duas é
primordialmente a teoria linguística que utiliza como base para seu modelo da tradução, pois o
que Catford (1965) faz é aplicar à tradução o modelo da gramática de Halliday.
Assim, esclarece melhor as operações linguísticas que ocorrem na tradução do ponto de
vista desse modelo gramatical específico mas, ao meu ver, não lança uma luz maior sobre o ato
tradutório era geral. Além disso, alguns dos tipos de tradução que descreve são de aplicação
prática rara ou até nula (como a tradução gramatical exclusivamente ou a tradução lexical
exclusivamente).
A sobreposição entre os modelos tradutórios que Catford (1965) propõe torna difícil sua
aplicação em trabalhos teóricos, fazendo com (pág. 43) →que fosse rejeitado por Alves (1983)
como base para sua análise estatística, em favor do modelo de Vinay e Darbelnet (1977).

2.1.4. Tradução Literal vs Tradução Oblíqua: O Modelo de Vázquez-Ayora


BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 22

Tal como Vinay e Darbelnet (1977, q.v. 2.1.1), Nida (1964, q.v. 2.1.2) e Catford (1965,
q.v. 2.1.3). Vázquez-Ayora (1977) começa seu livro pela descrição da teoria linguística que serve
de base para seu estudo acerca da tradução, que vem a ser a análise contrastiva de base
gerativa-transformacional e a semântica estrutural ( cf. Vázquez-Ayora, 1977: 1), além da
estilística, a partir de Bally (cf. Vázquez-Ayora, 1977:68-101), tal como Vinay e Darbelnet
(1977, (cf. Vázquez-Ayora, 1977:252), o que tem em comum com Nida (1964, q.v. 2.1.2).
Também como Nida (1964), em que se baseia, Vázquez-Ayora (1977:49) aponta um
modelo transformacional da tradução, que pode ser entendido através do quadro abaixo (cf.
Vázquez-Ayora, 1977: 49), onde se vê o caminho que deve percorrer o tradutor para produzir o
TLT:

língua original língua da tradução


texto1 texto2
 
redução reestruturação
 
 
nível pré-nuclear
nível nuclear
nível conceitual

Esse caminho consiste em 1) reduzir o TO às orações pré-nucleares estruturalmente mais


simples e semanticamente mais evidentes, 2) transferir o sentido da LO para a LT e 3) gerar na
LT a expressão estilística e semanticamente equivalente (cf. Vázquez-Ayora, 1977:49).
Vázquez-Ayora (1977:49) afirma ser este modelo a base do método de tradução oblíqua
(cf. Vinay e Darbelnet, 1977, q.v. 2.1.1), portanto um dos meios mais eficazes de evitar a
tradução literal, que, de acordo com ele, é a fonte da maioria dos erros 6 e, em segundo (pág.
44)→ lugar, de proporcionar os meios para obter o contexto apropriado na LT.'
Apesar de tentar aplicar os parâmetros da gramática de base gerativa-transformacional à
tradução, o modelo que produz é quase idêntico ao de Vinay e Darbelnet (1977, q.v. 2.1.1)
identificando dois macro-eixos – a tradução literal e a oblíqua – ao longo dos quais se
distribuem procedimentos técnicos de execução, ampliados a partir dos descritos por Vinay e
Darbelnet (1977).
Um quadro representativo do modelo de Vázquez-Ayora poderia ser o que elaborei e
apresento abaixo:
TRADUÇÃO LITERAL (Procedimento único)
transposição
Procedimentos modulação
Principais equivalência
TRADUÇÃO OBLIQUA
adaptação
amplificação
Procedimentos explicitação
Complementares omissão
compensação

A definição que oferece Vázquez-Ayora (1977) de tradução literal é a mesma oferecida

6 Na literatura disponível, só encontrei uma tentativa de caracterização do erro tradutório em Gouadec (1974:9), onde estes são classificados
em três tipos: non-sens (não-senso), contresens (contra-senso) e faux-sens (falso-senso).
BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 23

por Vinay e Darbelnet (1977, q.v. 2.1.1), com a diferença que, para estes últimos, a tradução
literal é, ao mesmo tempo, um macro-eixo ao longo do qual se alinham procedimentos
tradutórios (o empréstimo, o decalque e a própria tradução literal) e um procedimento tradutório
por si mesmo, enquanto que para Vázquez-Ayora (1977), a tradução literal se destaca por ser
um eixo e um procedimento ao mesmo tempo, mas sem possuir outros procedimentos que se
alinhem sob ela, pois, como se vê no gráfico acima, Vázquez-Ayora (1977) não inclui em seu
modelo os procedimentos denominados empréstimo e decalque por Vinay e Darbelnet (1977,
q.v. 2.1.1).
Vázquez-Ayora (1977) analisa aquilo que considera um defeito de tradução, o anglicismo
de frequência – anglicismo porque Vázquez-Ayora (1977) trabalha somente com a tradução do
inglês para (pág. 45)→ o espanhol – que guarda alguma semelhança com o decalque descrito por
Vinay e Darbelnet (1977, q.v. 2.1.1).
Para Vázquez-Ayora (1977:120-140), o anglicismo de frequência ocorre quando se
decalca com frequência excessiva um tipo de construção comum no inglês, mas rara no
espanhol, embora não incorreta, como no exemplo de tradução abaixo (cf. Vázquez-Ayora,
1977:107), que foi feita literalmente.
some countries are demanding...
   
algunos países están exigiendo...

O mais comum, aqui, em espanhol, seria: algunos países exigen...


Após a tradução literal, passa-se para a tradução oblíqua, cujos procedimentos
principais, descritos por Vázquez-Ayora (1977:266-334) são exatamente os mesmos descritos
por Vinay e Darbelnet (1977) e discutidos no presente trabalho em 2.1.1.
Quanto aos procedimentos complementares da tradução oblíqua descritos por
Vázquez-Ayora (1977), três deles, a amplificação, a explicitação e a compensação foram
descritos por Vinay e Darbelnet (1977), embora fora dos eixos da tradução direta ou oblíqua, ou
seja, de modo ad hoc, para explicar procedimentos utilizados nos textos que apresentam como
exercícios de tradução.
Como foi visto acima, em 2.1.1, é por este motivo que estes procedimentos não foram
examinados anteriormente neste trabalho, mas reservados para serem analisados dentro do
modelo de Vázquez-Ayora (1977).
Além desses três procedimentos, Vázquez-Ayora (1977) considera um quarto, a omissão,
que não é incluído por Vinay e Darbelnet (1977). Todos esses procedimentos serão examinados
abaixo, na ordem em que são enumerados por Vázquez-Ayora (1977).
A amplificação é utilizada quando é preciso desdobrar uma palavra, por necessidades
sintáticas da LT, como se vê nos exemplos abaixo (cf. Vázquez-Ayora, 1977:334-335):
(pág. 46)
We are working toward a new policy...
  
Nos esforzamos por encontrar una nueva política...

The plant in Bogota...


  
La planta que opera en Bogotá...

No primeiro exemplo, houve uma amplificação de toward para por encontrar. No


BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 24

segundo, uma amplificação de in para que opera en, por necessidades estruturais e estilísticas do
espanhol, a LT.
A explicitação é um caso particular de amplificação, realizada para deixar claro que o
leitor do TLT algo que não lhe é familiar na cultura do TLO, como se vê nos exemplos abaixo
(cf. Vázquez-Ayora, 1977:350):
The Secretary of State testified against the En las audiencias previas el Secretario de Estado
provision that automatically excludes all argumento en contra de la disposición que excluye
OPEC members. ipso facto a los miembros de la OPEP.

If the assistance of the police authorities at the Si el Estado que deporta desea obtener la
place of an intermediate stop is desired... asistencia de las autoridades de policía en el lugar
donde se haga escala...

No primeiro exemplo foi explicitado en las audiências previas para elucidação daqueles
que não conhecem os mecanismos que regem a tramitação de um projeto de lei no Congresso
dos Estados Unidos.
No segundo, foi explicitado el Estado que deporta para auxiliar o leitor do TLT que não
esteja familiarizado com os procedimentos de deportação ou extradição empregados nos Estados
Unidos.
A omissão, procedimento que não é discutido por Vinay e Darbelnet (1977), consiste em
omitir elementos excessivamente repetidos na LO, mas que não sio habitualmente repetidos na
LT, ou elementos que a LT em geral não explicita, como no exemplo abaixo (cf. Vázquez-Ayora,
1977:364):
(pág. 47)→
To speak of a mutual convertibility from Hablar de una convertibilidad reciproca de una
one particular language to another. lengua a otra.

Neste exemplo, foi omitido o adjetivo particular do inglês, por não ser necessário para o
entendimento da frase em espanhol.
A compensação é utilizada para repor as perdas de conteúdo ou de recursos estilísticos do
TLO ao se falar a tradução para a LT (cf. Vázquez-Ayora, 1977:374), Segundo este
procedimento, quando, por exemplo, um trocadilho feito na LO é impossível em um determinado
ponto do TLT, um outro pode ser introduzido em um ponto diverso do texto, para recuperar o
efeito total do mesmo. Este procedimento está, também, inteiramente de acordo com a
formulação do princípio do efeito equivalente, apontado por Nida (1964, q.v. 2.1,2). O exemplo
abaixo é oferecido por Vázquez-Ayora (1977:374).
BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 25

Uma tradução meramente literal deste mesmo segmento de texto produziria:

Como se pode ver, a compensação inclui a aplicação de uma diversidade de


procedimentos técnicos da tradução que, como já foi apontado por Vinay e Darbelnet (1977, q.v.
2.1.1), muitas vezes se sobrepõem.
No primeiro caso há vários casos de tradução literal, além de modulações (green – azul;
water – masa), mudanças de ordem de palavras e diversos ajustes para atender às necessidades
sintáticas e estruturais da LT, o espanhol.
É através da utilização desses vários procedimentos combinados, afirma Vázquez-Ayora
(1977:375), que se consegue obter na tradução o mesmo efeito global do TLO, o que, repete, não
é conseguido com a tradução literal apenas. Como foi mencionado acima, estas considerações
encaixam-se perfeitamente no conceito de princípio do efeito equivalente, exposto por Nida
(1964, q.v. 2.1.2).
Conclui-se, portanto, que o modelo de Vázquez-Ayora (1977) baseia-se no de Vinay e
Darbelnet (1977), o qual expandiu e modificou em alguns aspectos (a retirada do empréstimo e
do decalque, por exemplo). Guarda, também, muitas semelhanças com o modelo de Nida (1964),
especialmente no que diz respeito ao princípio do efeito equivalente.
Uma característica marcante do trabalho de Vázquez-Ayora (1977) é a intensidade da
tensão que apresenta entre a tradução literal e a tradução oblíqua. Em todo o correr da obra (cf.
Vázquez-Ayora, 1977), é ressaltada a superioridade da tradução oblíqua sobre a literal, que é
considerada como fonte de todos os erros e defeitos das traduções.
Um exame do modelo de Vázquez-Ayora não podia deixar de ser incluído no presente
BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 26

trabalho, pois a literatura de língua portuguesa (cf. Campos, 1986a e b; Dutra, 1983 e outros),
bem como Newmark (1981) o citam como o revisor e ampliador do modelo de Vinay e
Darbelnet (1977). Para os fins deste trabalho é relevante o fato de Vázquez-Ayora (1977) ter
incluído no seu modelo procedimentos mencionados por Vinay e Darbelnet (1977) sem que
fossem encaixados no seu modelo. Embora não haja aí uma concepção teórica (pág. 49)→
diferente, existe uma formulação mais completa dos procedimentos técnicos da tradução, o que,
ao meu ver, é útil para o tradutor, o professor e o aluno de tradução, pois fica recoberto de modo
mais abrangente o que o tradutor realiza no ato tradutório.

2.1.5. Tradução Semântica vs Tradução Comunicativa: O Modelo de Newmark


Ao contrário dos demais autores examinados até agora no presente trabalho, Newmark
(1981) começa seu estudo da tradução não com uma revisão da teoria linguística em que apoia
sua reflexão, mas com uma revisão da literatura especificamente sobre tradução, na qual são
estudados, entre outros, os autores cujos modelos foram selecionados para uma apresentação
mais detalhada neste capítulo.
A partir do exame que faz da literatura, Newmark (1981) se detém na grande tensão que
existe no pensamento sobre a tradução, que é a tensão entre a tradução livre e a literal, entre o
foco sobre o autor ou o leitor, a LO ou a LT. Dá especial atenção ao principio do efeito
equivalente (q.v. 2.1.2 e 2.1.4), que considera estar adquirindo predominância na literatura (cf.
Newmark, 1981:38).
O principio do efeito equivalente mantém o foco sobre o leitor, que é privilegiado no ato
comunicativo (q.v. 2.1.2) que se estabelece através da tradução. É em benefício do leitor, para
facilitar sua compreensão e para aproximar afetivamente dele o texto, que a tradução procuraria
aplainar as diferenças estruturais expressas entre a LO e a LT, bem como as expressas no texto
entre a realidade extralinguística da LO e da LT.
Por exemplo, quando traduzi documentos sobre a Lei da Informática (cf.
ABICOMP, 1987/88) para o inglês, para serem examinados pelo Presidente Reagan e a
Comissão de Informática do Congresso Americano, não podia esperar, pelos motivos
amplamente divulgados pela imprensa, que o texto tivesse entre esses leitores o mesmo
efeito que teve entre seus leitores no Brasil, tanto do ponto de vista político, como do ponto
de vista das divergências entre as instituições jurídicas dos dois países.
No caso da Lei da Informática, o princípio do efeito equivalente levaria o tradutor a
tentar criar uma proximidade inexistente entre (pág. 50)→ o sistema jurídico brasileiro,
baseado no Direito Romano, e o sistema jurídico americano, baseado no Direito
Consuetudinário. Isso, porém, não era possível, nesta situação – nem desejável – pois,
enquanto atende a interesses brasileiros, a Lei da Informática contraria os americanos.
Segundo Newmark (1981), o equívoco do princípio do efeito equivalente está em não
levar em consideração as funções da linguagem presentes em um determinado texto, ou a
finalidade desse texto, pois estas sim é que determinariam que tipo de procedimentos utilizar na
tradução.
De modo a poder incluir as funções da linguagem, tipo e finalidade do texto em seu
modelo da tradução, Newmark (1981:12-16) apresenta as adaptações que fez dos modelos
de Buhler11 e de Frege12 acerca das funções da linguagem.
Para ilustrar a aplicação que fez da teoria das funções da linguagem à tradução, Newmark
(1981:15)' apresenta um quadro que resume o modo como o tradutor deve agir diante de cada
tipo de texto, que reproduzo na página seguinte, comentando-o abaixo.
No quadro, A, B e C correspondem a tipos de texto. Nas colunas sob cada uma destas
letras estão listadas as características de cada texto, indicadas pela primeira coluna à esquerda.
BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 27

Para Newmark (1981:14-15) todos os textos têm função informativa e os exemplos em (1)
apenas ilustram a ênfase principal, já que há concomitância nas funções.
Este quadro, acredito, pode servir de orientação para tradutores, professores e alunos de
tradução.
Em seguida, Newmark (1981) conclui que os modos de traduzir podem-se polarizar em
dois extremos, sendo que no primeiro, que denomina tradução semântica, o foco recai sobre a
LO, o autor original e seu público, enquanto, no segundo, que denomina tradução comunicativa,
o foco recai sobre a LT e o leitor.
Para melhor explicar a diferença entre estes dois pólos, será útil o diagrama apresentado
abaixo, reproduzido de Newmark (1981:39):

(pág. 51) FUNÇÕES DA LINGUAGEM E TRADUÇÃO

A B C

Função da linguagem EXPRESSIVA INFORMATIVA VOCATIVA


Obras polêmicas,
Relatórios científicos publicidade, avisos,
Literatura
(1) Exemplos típicos ou técnicos e livros leis e regulamentos,
Textos de autor
didáticos propaganda política,
literatura popular
Persuasivo ou
(2) Estilo “ideal” Individual Neutro, objetivo
imperativo
Língua da tradução Língua da tradução
(3) Ênfase textual Língua original (LO)
(LT) (LT)
(4) Foco Autor (l.a pessoa) Situação (3.a pessoa) Leitor (2.* pessoa)
Princípio do efeito
Principio do efeito
(5) Método Tradução “literal” equivalente -
equivalente - recriação
equivalência
(6) Unidade de tradução Pequena Média Grande
Máxima Grupo (sintagma) Oração Texto
Mínima Palavra Grupo (sintagma) Parágrafo
(7) Tipo de linguagem Figurativa Fatual Convincente
Depende das
(8) Perda de sentido Grande Pequena
divergências culturais
(9) Palavras e Não permitidos a não Sim, exceto nos textos
Obrigatórios no TLO
significados novos ser que justificados formais
(10) Palavras-chaves Leitmotiv
Palavras temáticas Palavras simbólicas
(manter) Marcadores estilísticos
(11) Metáforas
Reproduzir Dar sentido Recriar
incomuns
(12) Comprimento em Aproximadamente o
Um pouco mais longo Não há regra
relação ao original mesmo
Fonte: Newmark, 1981:39
BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 28

(pág. 52)

De acordo com a definição de Newmark (1981:39), a tradução comunicativa é aquela


que visa a produzir em seus leitores um efeito tão próximo quanto possível do efeito produzido
sobre os leitores do original. A tradução semântica, por sua vez, tenta transmitir, com a maior
aproximação permitida pelas estruturas semânticas e sintéticas da LT, o significado contextual
do original.
O exemplo abaixo, a tradução semântica e a comunicativa de um original alemão e outro
francês (Newmark, 1981:39), onde a tradução comunicativa ê a única correta, por ser a única
eficaz e idiomática7, ilustra os dois tipos de tradução.

TLO TRADUÇÃO SEMÂNTICA TRADUÇÃO COMUNICATIVA


Bissiger Hund Dog that bites
Beware of the dog!
Chien méchant Savage dog

Dentro desta polarização, e levando em conta as funções da linguagem, o tipo de texto e a


finalidade da tradução, Newmark (1981, 1988) descreve os procedimentos técnicos da tradução.
Apesar disso, Newmark (1988:81-93) lista os procedimentos técnicos da tradução na
mesma ordem em que são hierarquizados por Vinay e Darbelnet (1977, q.v. 2.1.1), embora não
apresente qualquer justificativa para tal.
Apresento abaixo um quadro que elaborei a fim de demonstrar como se distribuiriam os
procedimentos técnicos da tradução ao longo dos dois eixos descritos por Newmark (1981):
(pág. 53)
transferência (empréstimo)
decalque
TRADUÇÃO tradução um-por-um (literal)
SEMÂNTICA

transposição

modulação
equivalência cultural
omissão
compensação
TRADUÇÃO
sinonímia lexical
COMUNICATIVA
rótulo tradutório
definição
paráfrase
contração

7 Aqui entendido como um adjetivo derivado de idiotismo em sentido lato, "os traços linguísticos de uma língua, que m elhor a caracterizam
em face das outras que lhe são cognatas" (cf. Câmara Júnior, 1977:142).
BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 29

reconstrução de períodos
reorganização, melhorias
dístico tradutório
naturalização

Chama a atenção, neste quadro, em primeiro lugar, a linha pontilhada ao longo da


transposição – procedimento definido por Newmark (1981) de modo idêntico aos autores
anteriormente examinados (q.v. 2.1.1-4) – marcando uma divisão não tão radical entre os dois
eixos do modelo. Isso ocorre porque aquilo que Newmark (1981) define como tradução
semântica equivale quase que exatamente ao que Vinay e Darbelnet (1977, q.v. 2.1.1) e
Vázquez-Ayora (1977, 2.1.4) definem como tradução direta. Apesar disso, tal como Catford,
(1965, q.v. 2.1.3), Newmark (1981) considera que a transposição é um procedimento necessário
mesmo na tradução literal, para acomodar o texto às necessidades estruturais, sintáticas e
semânticas da LT.
Em segundo lugar, observa-se que os primeiros nove procedimentos definidos por
Newmark (1981, 1988) são os mesmos citados por Vinay e Darbelnet (1977) e ampliados por
Vázquez-Ayora (1977), autores que constam da bibliografia de Newmark (1981, 1988), sendo
que Vinay e Darbelnet (1977) são abundantemente citados por Newmark (1931, 1938) que lista
também a terminologia francesa original de Vinay e Darbelnet (1977) ao lado da terminologia
inglesa que propõe. Isto demonstra que Newmark (1981, 1988), apesar de lançar (pág. 54)→
mão de subsídios teóricos diversos dos utilizados por Vinay e Darbelnet (1977) para estabelecer
o foco da tradução, não faz qualquer alteração substancial aos procedimentos técnicos da
tradução descritos por aqueles autores, apenas acrescentando alguns procedimentos novos aos
deles.
Assim sendo, estes primeiros nove procedimentos não serão reexaminados aqui. Abaixo,
descrevo os demais nove procedimentos tradutórios propostos por Newmark (1981, 1988).
A sinonímia lexical consiste na tradução por um equivalente próximo na TL. Deve ser
usada quando uma palavra é definida através de sinônimos inadequados e incorretos tanto nos
dicionários monolíngues como nos bilíngues. Newmark (1981:31) oferece o seguinte exemplo,
do alemão: ein Greis, que vem a ser um homem muito velho, idoso, com o componente
secundário de ser grisalho, digno, frágil, sendo o tradutor forçado a buscar o sinônimo mais
próximo na LT (talvez ancião, em português).
O rótulo tradutório consiste no uso de, um equivalente aproximado, muitas vezes um
sintagma entre, aspas. Os exemplos oferecidos por Newmark (1981:31) são:
promotion sociale → social advancement
autogestion → worker management
self-management
A definição, ou equivalente descritivo, consiste em substituir um item lexical da LO por
sua definição. Em Newmark (1988:83), encontra-se o seguinte exemplo:
machete Latin American broad, heavy instrument
A paráfrase consiste em uma ampliação ou re-escritura livre do significado de um
período. Newmark (1981) considera este o último recurso do tradutor, pois escapa a qualquer
vínculo com o TLO: é preciso lembrar que a tradução não é um TO, sendo o tradutor obrigado a
refletir do TLO todas as características possíveis. Newmark (1981) não oferece exemplo.
A expansão consiste em expandir gramaticalmente um segmento de texto, a fim de
atender às necessidades gramaticais da LT. Por exemplo (Newmark, 1981:31):
(pág. 55)
BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 30

to taste of → avoir le goût de


A contração é o oposto do procedimento descrito acima e consiste na redução gramatical
de um segmento de texto, a fim de atender às necessidades gramaticais da LT. Por exemplo
(Newmark, 1981:31):
science anatomique → anatomy
A reconstrução de períodos consiste em reformular os períodos ou orações do TLO no
TLT. Segundo Newmark (1981:31), os complexos períodos franceses são algumas vezes
reconstruídos como orações coordenadas em inglês.
A reorganização e as melhorias consistem em corrigir no TLT o uso excessivo do jargão,
de erros de sintaxe, erros de imprensa, erros de fato, de um TLO mal escrito. Newmark
(1981:31) considera, porém, que tal procedimento só é válido se o TLO: a) tiver sua preocupação
principal com os fatos reais, ou se b) for mal escrito.
Ê fácil compreender as restrições acima. Em um texto onde os erros estruturais (do ponto
de vista da norma culta) forem um reflexo de uma situação social relevante, ou da personalidade
de um personagem, o tradutor deverá reproduzi-los.
Em um texto cuja finalidade for informativa, ou seja, cujo foco sejam os fatos reais
narrados, os erros do original poderão ser corrigidos, a não ser que reflitam uma situação
específica do autor ou do contexto, por exemplo o sistema ptolemaico em que a Terra era
considerada o centro do universo.
O dístico tradutório consiste em realizar uma tradução literal, ou uma transferência
(empréstimo) e segui-la com uma tradução literal do item lexical em questão. Newrftàrk
(1981:76) fornece os seguintes exemplos:
Literal: Conseil d'Êtat – Council of State
Transferência + tradução literal (ou vice-versa):
Knesset (the Israeli Parliament)
'legists' (hommes de loi)
A naturalização consiste no processo de adaptar à LT os nomes próprios da LO.
Newmark (1981:77) oferece o exemplo abaixo, onde o nome do filósofo grego foi naturalizado
para o inglês:
(pág. 56)→ Aristotle
Para o presente trabalho, é relevante examinar o modelo de Newmark (1981) pela sua
inclusão dos conceitos de função da linguagem, tipo de texto e finalidade da tradução, que me
parecem muito relevantes para a execução de traduções e para uma visão teórica do que é a
tradução. Ê importante também a sua inclusão de procedimentos que não haviam sido
encaixados nos modelos de Vinay e Darbelnet (1977, q.v. 2.1.1) ou de Vázquez-Ayora (1977,
q.v. 2.1.4).

2.2. RESUMO DOS MODELOS


A fim de proporcionar uma visão global dos modelos de tradução examinados e de seus
respectivos procedimentos técnicos de execução, apresento, nas duas páginas que se seguem,
dois quadros sinóticos que elaborei para ilustrá-los.
No primeiro, apresento os autores examinados até aqui com uma listagem dos
procedimentos que descrevem, sob os nomes que os autores lhes dão nas respectivas LOs, com o
objetivo de ressaltar as semelhanças e as diferenças entre des. Note-se que os procedimentos
BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 31

técnicos da tradução são listados com a tradução que dei à nomenclatura, em português, no
quadro seguinte.
Nida (1964, q.v. 2.1.2) está ausente do primeiro quadro porque não faz uma listagem
clara de procedimentos técnicos da tradução, como fazem os outros autores discutidos neste
capítulo.
Através do quadro, podemos observar que a transliteração de Catford (1965) não tem
correspondência em outros autores. Catford (1965:66-70) discute este procedimento fora do
âmbito de seus quatro modelos; por este motivo não foi discutido no presente capítulo. No
entanto, será retomado em 3.10.2 abaixo.
Observa-se também que somente Vázquez-Ayora (1977) não discute o empréstimo (ou
transferência) e nem este autor nem Catford (1965) discutem o decalque.
Fica claro também que a tradução literal de Catford (1965) não encontra
correspondência em outros autores.
(pág. 57)→ PROCEDIMENTOS TÉCNICOS DA TRADUÇÃO
Vinay e Darbelnet (1977) Newmark (1981, 1988) Vázquez-Ayora (1977) Catford (1965)
- - - Transliteration
Emprunt Transference (Transcription) - Transference
Calque Through-translation - -
Traduction Literale One-to-one translation Traducción Literal Word-for-word translation
- - - Literal Translation
Transposition Shift or transposition Transposición Shift
Modulation Modulation Modulación Free Translation
Equivalence Cultural equivalence Equivalencia 
Functional equivalence
Adaptation Adaptación 
Amplificación
Explicitación
Omisión
Compensación
éttofement Compensation 
Lexical synonymy
Translation label
Definition
Paraphrase
Expansion (Éttofement)
Contraction
Recasting Sentences
Rearrangement/Improvements
Translation couplet

(pág. 58)
BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 32

(pág. 59)→ Observa-se também que a equivalência cultural e a equivalência funcional


de Newmark (1981) são desdobramentos da equivalência de Vinay e Darbelnet (1977) e
Vázquez-Ayora (1977).
A ampliação, explicitação, omissão e compensação descritas por Vázquez-Ayora (1977),
embora não estejam presentes na listagem de Vinay e Darbelnet (1977), foram descritas também
por estes autores, fora do modelo de tradução que propõem.
Observa-se que Newmark (1981, 1988) inclui vários novos procedimentos em sua
descrição, alguns retirados dos mencionados por Vinay e Darbelnet (1977) fora de seu modelo da
tradução, como é o caso da expansão (éttofement) que inclui na listagem de Vinay e Darbelnet
(1977) especificamente para demonstrar este fato.
Vê-se, finalmente, que a tradução livre de Catford (1965) pode englobar qualquer
procedimento necessário para sua realização.
No segundo quadro, nota-se, primeiramente, que o modelo de Catford (1965) aparece
quatro vezes. Tal ocorre porque, na realidade, Catford (1965) não apresenta um modelo só, mas
quatro, que foram discutidos em 2.1.3.
Marcante é também o fato de que o quadro é aberto em sua porção inferior. Esta
característica foi empregada para indicar que nenhum dos autores examinados pretende ter
esgotado os procedimentos técnicos da tradução ao descrevê-los. Newmark (1981) afirma que
sempre serão propostos novos procedimentos, à medida que forem aumentando os
conhecimentos acerca da linguagem humana e dos processos mentais envolvidos na tradução.
Observe-se que há uma linha tracejada (- - -) que limita a listagem de procedimentos de
Vinay e Darbelnet (1977), Vázquez-Ayora (1977) e Newmark (1981, 1988). Este recurso foi
utilizado para indicar que há um tipo de limitação aí, no sentido de que é neste ponto que estes
autores encerram sua descrição explícita dos procedimentos técnicos da tradução, mas que
prosseguem mencionando-os, de modo ad hoc, no correr de sua obra. ..
BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 33

Esses procedimentos são complementares a alguns dos anteriores, ou diametralmente


opostos a eles. Por exemplo, é citado o procedimento denominado contração. Haveria um outro,
o contrário dele, (pág. 60) a expansão, que só aparece quando surge um exemplo, no contexto da
obra 'desses autores, que necessita deste procedimento para que a tradução seja possível.
Note-se também a existência de um hachureado (\\\\\\\) no quadro. Este foi colocado para
representar espaços vazios, onde há algo em um modelo que não encontra correspondência em
outro. £ o que acontece com o conceito de tradução palavra-por-palavra de Catford (1965), que
conserva uma fidelidade excessiva à LO, produzindo um TLT que não é aceitável, nem, muitas
vezes, correto, como é o caso do exemplo apresentado em 2.1.3, página 39. Este procedimento
simplesmente não é considerado válido por outros autores, por não respeitar as regras da LT.
No quadro, rotulei este procedimento de “pré-tradução,” pois é assim que seria
considerado por alguns dos autores examinados, por exemplo, Vinay e Darbelnet (1977). Seria
uma tradução preliminar, que não passaria no teste que propõem (q.v. 2.1.1, p. 24) para verificar
a validade da tradução literal, o que apontaria para a necessidade da utilização de outro tipo de
procedimento.
Um outro dado a observar é que os procedimentos técnicos da tradução são listados pelos
autores sempre em determinada ordem, que é a apresentada no quadro.
É importante observar que esta ordem é explicada somente por Vinay e Darbelnet (1977,
q.v. 2.1.1) que a indicam como sendo de acordo com a dificuldade de execução pelo tradutor. No
entanto, ao examinar os modelos dos diversos autores, fica patente que este ordenamento parte
da palavra para segmentos maiores do texto, como se pode ver, pois parte do empréstimo (cf.
Vinay e Darbelnet, 1977), que é a utilização de um elemento lexical no TLT tal e qual aparece
no TLO, e vai até a adaptação, o último procedimento citado por Vinay e Darbelnet (1977), que
envolve o texto global.
Aparentemente, este tipo de abordagem é ainda um reflexo daquela ideia mais antiga a
respeito da tradução, de que esta deve ser feita literalmente, ao pé da letra, ou
palavra-por-palavra. Não leva em consideração a linguística moderna, que abandona o termo
“palavra,” por sua imprecisão (cf. Câmara Júnior, 1977:187; Crystal, 1980: 384-385; Dubois et
ql, 1973:449-450 e Pei, 1966:295), nem tampouco as considerações mais modernas em torno do
que é exatamente um texto (cf. Crystal, 1980:354; Dubois «r ai, 1973:586-587).
(pág. 61) É possível dizer que é a partir deste aspecto falho do pensamento acerca da
tradução, devido a basear-se em um aspecto ainda não definido satisfatoriamente na linguistica,
que surge uma outra área de estudo dentro da teoria da tradução, que é a das unidades de tra-
dução (seriam elas as palavras ou unidades maiores ou menores do que a palavra?). Este aspecto
não será aprofundado aqui por não estar dentro da proposta do presente trabalho.
Uma questão primordial para este trabalho pode ser observada através do aspecto mais
marcante do quadro, que é a coincidência da linha horizontal que separa os dois eixos em, que se
dividem os modelos dos autores examinados, à exceção da linha quebrada (não utilizada para
Catford (1965) e Newmark (1981, 1988). Estes elementos do quadro ilustram muito bem o fato
de que, embora sob rótulos diferentes, o que os autores citados estão discutindo realmente é a
tensão entre tradução livre e literal que, como foi visto no capítulo 1 e em 2 acima, é a
controvérsia mais antiga em torno da tradução,
Catford (1965) e Newmark (1981) não são exceções, mas seu modelo inclui a
transposição como um procedimento técnico da tradução literal, já que, parte daquilo que
constitui a transposição consiste em fazer ajustes à tradução literal para que o texto produzido
na LT seja correio dentro das suas normas. Outros autores, porém, como Vinay e Darbelnet
(1977), por exemplo, só aceitam dentro de sua definição de tradução literal aquela que é
possível sem que sejam necessários quaisquer ajustes. Por isso a linha quebrada (/\y\) foi usada,
demonstrando que a tradução literal pode abranger a transposição.
BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 34

O exposto acima indica que, embora há mais de dois mil anos se escreva sobre a tradução
(q.v. 1), a grande controvérsia em torno do assunto continua a mesma: tradução livre ou literal?
Muitos autores têm procurado afastar-se da tradução literal, dentre eles os examinados
aqui. Em um extremo coloca-se Vázquez-Ayora (1977) que, a todo momento, repete ser a
tradução literal o grande mal da tradução, em outro um autor como Catford (1965) para quem
até mesmo a tradução palavra-por-palavra, sem manter sequer a gramaticalidade da LT, tem seu
lugar.
(pág. 62) Para todos os autores examinados aqui, acredito, o problema está em a tradução
literal ser anteriormente considerada como única possibilidade de tradução. Para afastar-se dela
criaram seus modelos de tradução.
Em minha avaliação, o princípio do efeito equivalente citado por Nida (1964, q.v. 2.1.2,
p. 35) foi a primeira visão da tradução que pareceu efetivamente alcançar a meta do afastamento
da tradução literal, pois propunha que a tradução tivesse sempre o mesmo efeito sobre seu leitor
que tinha o TLO sobre o seu.
No entanto, em minha experiência de tradutora e professora de tradução, logo ficou
aparente que isso nem sempre é possível, nem desejável (q.v. 2.1.2, p. 35 e 2.1.5, p. 49), o que
fez com que eu me voltasse para a proposta de Newmark (1980, 1988, q.v. 2.1.5, p. 50-53) de
incluir a teoria das funções da linguagem no modelo da tradução.
Nesta visão, o tradutor seleciona os procedimentos técnicos da tradução a serem
utilizados em um determinado texto a partir das funções da linguagem que encontra, do tipo de
texto com que está trabalhando e com a finalidade da tradução. Assim, este modelo abre espaço
igual para as traduções desde as muito literais até as muito livres.
Ê este método de trabalho que utilizo quando faço traduções ou dou aulas de tradução.
Embora esteja fora do escopo do presente trabalho aprofundar este aspecto, é na aplicação da
teoria das funções da linguagem à tradução que pretendo desenvolver meu trabalho no futuro.
Nesta dissertação, prossigo formulando uma proposta de caracterização dos
procedimentos técnicos da tradução, tarefa que me propus por achar que poderia eliminar
algumas discrepâncias entre as abordagens de vários autores, assim auxiliando tradutores, alunos
e professores de tradução. Esta proposta é apresentada no Capítulo 3.
Prossigo também apresentando duas propostas de recategorização dos procedimentos
técnicos da tradução, tentando apresentar uma visão que não se prenda apenas à tensão entre
tradução livre e tradução literal. Estas duas propostas são apresentadas no Capítulo 4.
BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 35

(pág. 63)

3
PROPOSTA DE CARACTERIZAÇÃO
DOS PROCEDIMENTOS TÉCNICOS DA TRADUÇÃO

A revisão da literatura efetuada no capítulo anterior (q.v. 2) mostra que os procedimentos


técnicos da tradução são propostos como uma tentativa de responder à pergunta "como
traduzir?". O trabalho pioneiro a enumerar esses procedimentos foi o de Vinay e Darbelnet
(1977), sendo que os trabalhos subsequentes aqui examinados ou se reportam diretamente a esse
trabalho, ou fazem uma reformulação do mesmo.
Constatando que os procedimentos descritos por Vinay e Darbelnet (1977) não eram
suficientes para dar conta de todos os modos de traduzir empregados nas traduções, os autores
examinados (q.v. 2) acrescentaram outros a eles, ou eliminaram alguns que não consideravam
pertinentes.
Existem discrepâncias também no modo como os autores examinados (q.v. 2) descrevem
e recortam os procedimentos técnicos da tradução, sem falar na divergência terminológica entre
eles.
Neste capítulo, apresento uma proposta de caracterização dos procedimentos técnicos da
tradução onde procuro combinar as visões dos autores examinados, acrescentando procedimentos
aos listados por Vinay e Darbelnet (1977) e, ao mesmo tempo, reagrupando e eliminando alguns
dos procedimentos descritos posteriormente, por considerar que estão, na realidade, embutidos
em outros.
Procuro, também, adotar uma terminologia que considero mais adequada, visando a
eliminar algumas das dificuldades ocasionadas por sua variação entre os autores examinados.
(pág. 64) Acredito que, assim, poderá estar facilitada a tarefa do tradutor, que terá à sua
disposição uma série de procedimentos que efetivamente recobrem o que acontece no ato da
tradução.
A clareza terminológica, acredito, poderá também facilitar a tarefa de professores e
alunos de tradução, que não mais se verão diante de uma série de discrepâncias entre diversos
autores.
Espero também que esta recaracterização seja útil em futuros estudos sobre a tradução, já
que os problemas terminológicos podem ter uma influência negativa em alguns trabalhos,
conforme mostro em 4.1.
Além disso, na minha segunda proposta de recategorização dos procedimentos técnicos
da tradução, já utilizo a recaracterização que apresento a seguir, acredito que com resultado
positivo.
Considero, em minha proposta, um total de treze procedimentos, a saber: a tradução
palavra-por-palavra, a tradução literal, a transposição, a modulação, a equivalência, a omissão
vs. a explicitação, a compensação, a reconstrução de períodos, as melhorias, a transferência –
que engloba o estrangeirismo, a transliteração, a aclimatação e a transferência com explicação –
a explicação, o decalque e a adaptação.
Estes procedimentos são descritos abaixo.
BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 36

3.1. A TRADUÇÃO PALAVRA-POR-PALAVRA


A tradução palavra-por-palavra corresponde à expectativa que muitos têm a respeito da
tradução.
Enquanto procedimento tradutório, é definida por Catford (1965), Newmark (1988) e
Aubert (1987). É caracterizada aqui segundo a definição de Aubert (1987:15):

a tradução em que determinado segmento textual (palavra, frase, oração)


é expresso na LT mantendo-se as mesmas categorias numa mesma ordem
sintática, utilizando vocábulos cujo semanticismo seja
(aproximativamente) idêntico ao dos vocábulos correspondentes no TLO,
por exemplo:

(pág. 65)
he wrote a letter to the mayor
      
ele escreveu uma carta para o prefeito

sans retard
 
sem demora

Seu uso é restrito, porém, pois é rara uma convergência tão grande entre as línguas. A
esse respeito, comenta Aubert (1987:16): “É relativamente fácil perceber que, encarado como
um todo, a tradução de um texto de certa extensão (dois ou mais períodos compostos) jamais
poderá ser empreendida palavra-por-palavra.”

3.2. A TRADUÇÃO LITERAL


A tradução literal corresponde à ideia mais difundida a respeito da tradução, e é definida
por todos os autores examinados para o presente trabalho (q.v. 2). É caracterizada aqui tomando
por base as definições de Catford (1965), Newmark (1988) e Aubert (1987).
Aubert (1987:15) considera a tradução literal como "aquela em que se mantém uma
fidelidade semântica estrita, adequando porém a morfo-sintaxe às normas gramaticais da LT".
Cita como exemplos os segmentos textuais abaixo, onde é possível observar as alterações
morfo-sintáticas a que foram submetidos, sendo que essas alterações é que distinguem a
tradução palavra-por-palavra da tradução literal (cf. Aubert, 1987:16).

it is a known fact
    
 é  fato conhecido

It est allé en ville


   
(ele) foi à cidade

Muitos autores, notadamente Vazquez-Ayora (1977), parecem repudiar totalmente a


BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 37

tradução literal como a fonte de todos os erros na tradução. (pág. 66→). No entanto, como
apontam Aubert (1987) e Newmark (1988), ela pode ser necessária, ou até obrigatória. Pode ser
necessária em um tipo de tradução que tem como objetivo a comparação com o texto original,
como em certas edições bilíngues. Pode ser obrigatória na tradução de certos documentos. Nesse
caso, observa Aubert (1977), a tradução literal – ou mesmo palavra-por-palavra – deixa de ser
meramente um reflexo de uma coincidência estrutural e cultural entre duas línguas, para
tornar-se um procedimento tradutório deliberado. Segundo Newmark (1988), é o procedimento
recomendável sempre que for possível.

3.3 A TRANSPOSIÇÃO
A transposição consiste na mudança de categoria gramatical de elementos que
constituem o segmento a traduzir, como se observa nos exemplos abaixo:

she said apologetically. - advérbio


(ela) disse desculpando-se. - verbo reflexivo
(ela) disse como justificativa. - adjunto adverbial

she said reproachfully. - advérbio


(ela) disse censurando. - verbo
(ela) disse em tom de reprovação. - adjunto adverbial

Observa-se que há mais de uma opção de tradução para cada segmento, o que indica que
a transposição não é um procedimento obrigatório. Muitas vezes será possível também uma
tradução literal (tal como definida aqui, q.v. 3.2) do segmento.
No segundo segmento citado acima, por exemplo, existe no português a possibilidade de
se manter um advérbio na tradução, como se vê abaixo, tornando a tradução literal.

she said reproachfully - advérbio


(ela) disse repreensivamente - advérbio
(ela) disse recriminadoramente - advérbio

(pág. 67) Assim sendo, a transposição pode ser obrigatória, quando é imprescindível para que a
tradução se atenha às normas da LT, ou facultativa, quando é realizada por razões de estilo,
como para se evitar o excesso de advérbios com sufixo mente, na tradução do inglês para o
português, considerado deselegante e que, na minha experiência, constitui uma recomendação
expressa de editores brasileiros.
Este procedimento é definido por Vinay e Darbelnet (1977, q.v. 2.1), Vázquez-Ayora
(1977), Newmark (1988) e Catford (1965).

3.4. A MODULAÇÃO
A modulação consiste em reproduzir a mensagem da TLO no TLT, mas sob um ponto de
vista diverso, o que reflete uma diferença no modo como as línguas interpretam a experiência do
real, como nos exemplos abaixo, na tradução entre o inglês e o português.
like the back of my hand → como a palma da minha mão
keyhole → buraco da fechadura
BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 38

Nos casos apresentados acima, a modulação é obrigatória, encontrando-se inclusive


dicionarizado o segundo exemplo (keyhole = buraco da fechadura, cf. Houaiss, 1981:319). Este
procedimento pode também ser facultativo, refletindo então uma diferença de estilo, aspecto
abordado por Vinay e Darbelnet (1977). Vê-se abaixo um exemplo de modulação facultativa:
It is easy to demonstrate.
É fácil demonstrar (tradução literal)
Não é difícil demonstrar (modulação)
Este procedimento é definido por Vinay e Darbelnet (1977, q.v. 2.1, p. 28),
Vázquez-Ayora (1977) e Newmark (1981, 1988).

3.5. A EQUIVALÊNCIA
A equivalência consiste em substituir um segmento de texto da LO por um outro
segmento da LT que não o traduz literalmente, mas que lhe é funcionalmente equivalente.
(pág. 68) Este procedimento é normalmente aplicado a clichés, expressões idiomáticas,
provérbios, ditos populares e outros elementos cristalizados da língua, como nos exemplos
abaixo:

God bless you! Saúde!


Gesundheit! Deus te crie!

It's a piece of cake. sopa.

Truly yours Atenciosamente


Sincerely yours

Este procedimento foi defendido por Vinay e Darbelnet (1977, q.v. 2.1, p. 29),
Vázquez-Ayora (1977:313-322) e Newmark (1988: 90-91).
Newmark (1981, 1988) considera o equivalente cultural, o equivalente funcional e o
equivalente descritivo como procedimentos independentes, mas estes procedimentos estão
englobados aqui sob a equivalência, considerada como um procedimento mais geral.

3.6. A OMISSÃO VS. A EXPLICITAÇÃO


A omissão consiste em omitir elementos do TLO que, do ponto de vista da LT, são
desnecessários ou excessivamente repetitivos.
Na tradução do inglês para o português, este procedimento é usado, por exemplo, em
relação aos pronomes pessoais. Em inglês ocorre aquilo que, em português, seria considerada
uma repetição excessiva deles, já que o português, auxiliado pelas desinências verbais que
deixam claro a que pessoa se refere o verbo, costuma omitir o pronome pessoal na posição de
sujeito, ao contrário do inglês, onde é obrigatória sua presença.
Na tradução do inglês para o português seria usado, para o mesmo caso, o procedimento
inverso, a explicitação do pronome, pois sua presença é obrigatória em inglês.
BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 39

Estes dois procedimentos foram definidos por Vázquez-Ayora (1977, q.v. 2.1.4, p. 46).
(pág. 69)
3.7. A COMPENSAÇÃO
A compensação consiste em deslocar um recurso estilístico, ou seja, quando não é
possível reproduzir no mesmo ponto, no TLT, um recurso estilístico usado no TLO, o tradutor
pode usar um outro, de efeito equivalente, em outro ponto do texto.
Os trocadilhos, por exemplo, quando não podem ser efetuados com um mesmo grupo de
palavras, podem ser feitos em outro ponto do texto onde sejam possíveis, para equilibrar o texto
estilisticamente.
É comum dizer-se, ao criticar as traduções, que "empobreceram" o texto. Este
empobrecimento seria a ausência no TLT dos recursos estilísticos empregados pelo autor no
TLO.
Cito abaixo um trecho de Alice in Wonderland (cf. Carrol, s/d: 53), por Fernando de
Mello (cf. Carrol, 1976:89-90) onde podem-se notar perdas e compensações:

THE RABBIT SENDS IN A LITTLE BILL


It was White Rabbit, trotting slowly back again, and looking anxiously about as it went,
as if it had lost something; and she heard it muttering to itself, "The Duchess! The
Duchess! Oh my dear paws! Oh my fur and whiskers! She'll get me executed, as sure as
ferrets are ferrets! Where can I have dropped them, I wonder?" Alice guessed in a
moment that it was looking for the fan and the pair of white kidgloves, and she very
good-naturedly began hunting about for them, but they were nowhere to be seen –
everything seemed to have changed since her swim in the pool; and the great hall with the
glass table and the little door, had vanished completely.

O COELHO MANDA-LHE O LAGARGO PELA CHAMINÉ


Era o Coelho Branco que lá vinha, aos saltos, devagar e às voltas como quem perdeu
alguma coisa; e Alice ouviu-o murmurar: "A Duquesa! A Duquesa! Ai as minhas
patinhas, ai as minhas suíças e os meus bigodes! Vai mandar-me executar, tão certo como
eu me chamar Coelho! Onde é que eu os teria deixado cair?" Alice adivinhou logo que ele
andava à procura do leque e das luvas brancas de pelica e, como era boa por natureza,
começou (pág 70) também a procurá-los, mas sem os ver em nenhum lado – via-se que
tudo tinha mudado depois que ela tinha começado a nadar no lago: o átrio com a mesa de
vidro e a porta pequena, tudo tinha desaparecido por completo.

Este procedimento é examinado por Nida (1964), Vázquez-Ayora (1977, q.v. 2.1.4, p.
47) e Newmark (1981, 1988).

3.8 A RECONSTRUÇÃO DE PERÍODOS


A reconstrução consiste em redividir ou reagrupar os períodos e orações do original ao
passá-los para a LT.
Na tradução do português para o inglês é muitas vezes necessário distribuir as orações
complexas do português em períodos mais curtos em inglês. Na tradução do inglês para o
português ocorre o inverso.
BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 40

Observo isso com frequência quando traduzo manuais do usuário do inglês para o
português. De modo geral, meus clientes não aceitam os períodos curtos do inglês, achando que
dão ao texto em português um tom excessivamente infantil.
Um exemplo de reconstrução de períodos realizado por mim pode ser visto abaixo em
3.9.
Este procedimento é descrito por Newmark (1981, q.v. 2.1.5, p. 55).

3.9 AS MELHORIAS
As melhorias consistem em não se repetirem na tradução os erros de fato ou outros tipos
de erro cometidos na TLO.
É este o procedimento que utilizo quando traduzo para o inglês os relatórios de bolsistas
de uma instituição beneficente. Alguns deles, ao escreverem seus relatórios, cometem vários
tipos de erro. Como o relatório visa apenas a informar aos supervisores da entidade nos Estados
Unidos acerca do desenvolvimento dos projetos dos bolsistas – e não a refletir seu idioleto – -
corrijo automaticamente tais erros, como no exemplo abaixo (cj. Farias, 1988):
(pág. 71)
O trabalho será desenvolvido em 04 etapas a 1.° etapa do trabalho consta da
sensibilização dos professores, nesta etapa cada grupo apresenta relize de seus trabalho
que serão discutidos em reunião com todas às diretoras e professores de educação artís-
tica, comunicação e expressão e Estudos Sociais, (sic.)
The work will be developed in four stages. The first is to make teachers aware of the
issues. At this stage each group will present an oral summary of their work to be debated
at meetings with the school principals, and art, language, and social studies teachers.

Este procedimento foi definido por Newmark (1981, q.v. 2.1.5, p. 55, 1988).

3.10 A TRANSFERÊNCIA
A transferência consiste em introduzir material textual da LO no TLT. A denominação
"transferência" para este procedimento é a preferida por Newmark (1988:81-82).
A transferência pode assumir as formas abaixo:
1) estrangeirismo
2) estrangeirismo transliterado (transliteração)
3) estrangeirismo aclimatado (aclimatação)
4) estrangeirismo + uma explicação de seu significado, que pode ser:
a) nota de rodapé
b) diluição do texto.

Esses procedimentos serão descritos a seguir.

3.10.1 O Estrangeirismo
O estrangeirismo consiste em transferir (transcrever ou copiar) para o TLT vocábulos ou
BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 41

expressões da LO que se refiram a um conceito, técnica ou objeto mencionado no TLO que seja
desconhecido para os falantes da LT.
(pág. 72) O vocábulo ou expressão aparecerá no TLT entre aspas, em itálico ou
sublinhado marcando o itálico – - isto é, com uma marca gráfica de que se trata de vocábulo
estranho à LT – o que é obrigatório nas normas brasileiras de editoração (cf. Silva, 1984;
Houaiss, 1975).
Este procedimento é definido por Vinay e Darbelnet (1977, q.v. 2.1.1, p. 25). Ao
defini-lo, denominam-no "empréstimo," apropriando à teoria da tradução um termo já utilizado
pela linguística, dando-lhe uma acepção diferente, pois falam de um "empréstimo" tomado no
próprio ato da tradução, e não da utilização de vocábulos já incorporados ao léxico da LT: "o que
interessa ao tradutor são os empréstimos novos e mesmo os empréstimos pessoais" (Vinay e
Darbelnet, 1977:47), observação feita também por Nida (1964:137).
Aquilo que entendem por "empréstimo", portanto, outros autores chamam de
estrangeirismo, como observa Yebra (1984:333). Conceituado pela linguística, o estrangeirismo
vem a ser um empréstimo vocabular não integrado à língua que o toma, conservando da outra os
fonemas, a flexão e a grafia. Com o passar do tempo, sendo o vocábulo da língua estrangeira
amplamente aceito pelos falantes da que o acolheu, tende este a se adaptar à fonologia e à
morfologia desta última, caso em que se transforma em empréstimo (cf. Câmara Júnior,
1977:111), através de um processo denominado aclimatação (cf. Pei, 1966: 3-4).
Exemplos de empréstimos do inglês aclimatados no português são: chulipa, escrete,
nocaute, piquenique, sinuca, time. Suas formas em língua inglesa são: sleeper, scratch, knockout,
pic-nic, snooker e team (cf. Ferreira, s/d, 321, 557, 975, 1091, 1037, 1378).
O empréstimo linguístico, por sua vez, consiste, como foi dito acima, na incorporação de
elementos de uma língua em outra, "tais elementos podendo ser, em princípio, fonemas, afixos
flexionais, afixos derivacionais, vocábulos e tipos frasais"14 (cf. Câmara Júnior, 1977:104).
Embora o termo empregado por Vinay e Darbelnet (1977) não seja estritamente correto,
pelos motivos examinados acima, já adquiriu livre curso entre tradutores, professores e teóricos
da tradução. Ao realizar o presente estudo, senti a necessidade de marcar a distinção entre os
termos "empréstimo" e "estrangeirismo," correntes na (pág. 73) linguística, como foi visto
acima, e o procedimento descrito por Vinay e Darbelnet (1977). Foi encontrada a mesma
preocupação em Newmark (1981:178-179), que sugere o uso dos termos "transcrição,"
"transferência" ou "adoção." Proponho utilizar o termo transferência para o macro-procedimento
que engloba outros que utilizam o elemento lexical do TLO no TLT. Reservei o termo
estrangeirismo para aquilo a que Vinay e Darbelnet (1977) denominam "empréstimo," a fim de
evitar ir de encontro à terminologia tradicional em linguística.

3.10.2 A Transliteração
A transliteração consiste em substituir uma convenção gráfica por outra (cf. Dubois et al.,
1978:601; Pei, 1966:282), como no caso de glasnost, uma transliteração do alfabeto cirílico para
o romano, e que não deve ser confundida com a transcrição fonética (cf. Dubois et al, 1978; Pei,
1966).
Como procedimento de tradução, ocorre em casos de extrema divergência entre duas
línguas, que nem sequer têm um alfabeto comum. Este procedimento é descrito por Catford
(1965:26).
Na tradução entre o inglês e o português normalmente não haverá lugar para este
procedimento, uma vez que as duas línguas utilizam o alfabeto romano. Podem ocorrer, contudo,
elementos já transliterados na LO. Sendo este o caso, é preciso obedecer as normas de
transliteração adequadas para cada língua (cf. Maillot, 1975:147; Associação Brasileira de
BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 42

Normas Técnicas, 1961:1).

3.10.3 A Aclimatação
A aclimatação é o processo através do qual os empréstimos são adaptados à língua que os
toma (cf. Pei, 1966:3-4). Este processo pode também ser denominado "decalque" (cf. Pei,
1966:34; Crystal, 1980:51). Através desse processo, um radical estrangeiro se adapta à fonologia
e à estrutura morfológica da língua que o importa (cf. Câmara Júnior, 1977:105).
Enquanto procedimento tradutório, a aclimatação consistiria em o tradutor realizar, ele
mesmo, essas transformações a que o empréstimo estaria sujeito durante o uso pelos falantes da
língua que o adota.
(pág. 74) Seria, portanto, um passo além do estrangeirismo (q.v. 3.10.1) em que a palavra
estrangeira é simplesmente copiada da LO no TLT. Aqui, o vocábulo já estaria sujeito a alguma
transformação, a ser efetuada pelo tradutor.
Observo que, em meu trabalho de tradutora e de professora de tradução, nunca tive a
oportunidade de realizar este procedimento, de modo que concluo que o tradutor raramente o
realiza: normalmente só depois que uma palavra é tomada de empréstimo pelo conjunto de
falantes de uma língua é que passará pelo processo de aclimatação.
Tal como observa Alves (1983), este procedimento só pode ser detectado em uma
tradução através de uma análise diacrônica, para determinar se já havia sido utilizado
anteriormente ou não.

3.10.4. A Transferência com Explicação


A condição necessária para o emprego da transferência na tradução é que o leitor possa
apreender seu significado através do contexto.
Muitas vezes o TLO não permite esta compreensão, sendo necessário acrescentar ao TLT
procedimentos adicionais à transferência para proporcionar ao leitor um entendimento do
significado do mesmo.
Esses procedimentos adicionais, que se dividem em notas de rodapé e explicações
diluídas no texto, foram examinados em detalhe por Nida (1964) e Newmark (1981, 1988).
Newmark (1988) enumera as três formas que podem tomar as notas do tradutor: 1) notas
de rodapé, 2) notas no final do capitulo e 3) notas ou glossário no final do livro.
Além disso, a explicação da transferência pode ser diluída no texto, assim evitando-se o
emprego da nota de rodapé. Nesse caso, a explicação pode aparecer entre vírgulas, entre
travessões, entre aspas ou entre parênteses, como no exemplo abaixo:

SAT, Scholastic Aptitude Test, exame de avaliação a que se submetem


estudantes norte-americanos ao final do segundo grau como requisito
para a entrada nas universidades...

(pág. 75) A explicação pode também tomar a forma de um "equivalente cultural" (cf.
Newmark, 1988:82-83), por exemplo:
Night School, o Supletivo americano,...
ICM, the Brazilian sales tax. ..
BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 43

Ou pode tomar a forma de um "equivalente funcional" (cf. Newmark, 1988:83), livre de


conotações culturais, como nos exemplos abaixo:
High School (Escola Secundária). . .
Cambono, an acolyte,...
Surgeon General – Ministro da Saúde – ...
Wall Street, o mercado financeiro de Nova Iorque,. . .

3.11. A EXPLICAÇÃO
Havendo a necessidade de eliminar do TLT os estrangeirismos para facilitar a
compreensão, pode-se substituir o estrangeirismo pela sua explicação. Isso pode acontecer em
uma peça de teatro, por exemplo, em que, por uma questão de ritmo cénico, é preciso que o
espectador tenha uma compreensão imediata da situação.
Este procedimento é descrito por Nida (1964), que o recomenda ao invés do
estrangeirismo, particularmente quando comenta a tradução da Bíblia para leitura em voz alta, a
qual geraria a mesma necessidade de compreensão imediata que o teatro.
Os exemplos oferecidos acima (q.v. 3.10.4) podem ser repetidos aqui, omitindo-se o
estrangeirismo:
... exame de avaliação a que se submetem estudantes norte-americanos ao final do
segundo grau como requisito para a entrada nas universidades. . .
... o Supletivo americano. . .
... the Brazilian sales tax. . .
... Escola Secundária. . .
... acolyte
... Ministro da Saúde. . .
... o mercado financeiro de Nova Iorque. . .

(pág. 76)
3.12. O DECALQUE
O decalque consiste em traduzir literalmente sintagmas ou tipos frasais da LO no TLT,
abandonando a confusão que se criou em torno do termo empregado por Vinay e Darbelnet
(1977, q.v. 2.1.1, p. 27), já que, como foi visto, muitos autores interpretam o decalque como
sendo uma aclimatação do empréstimo linguístico.
Tal como o estrangeirismo e a aclimatação, o decalque só pode ser detectado em uma
tradução existente através de uma análise diacrônica, que determine se já havia sido usado ou
não, como observa Alves (1983).
Newmark (1981, 1988) define dois tipos de decalque. Um deles é o empréstimo de tipos
frasais propriamente dito e o segundo é o decalque empregado na tradução de nomes de
instituições, conforme nos exemplos abaixo:
a)decalque de tipos frasais
task force grupo tarefa
textbook livro texto
BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 44

case study estudo de caso


b) decalque de tipos frasais ligados a nomes de instituições
INPS – National Institute for Social Welfare
The People's Republic of China – A República Popular da China

3.13. A ADAPTAÇÃO
A adaptação é o limite extremo da tradução: aplica-se em casos onde a situação toda a
que se refere a TLO não existe na realidade extralinguística dos falantes da LT. Esta situação
pode ser recriada por uma outra equivalente na realidade extralinguística da LT.
Este procedimento foi descrito por Vinay e Darbelnet (1977, q.v. 2.1.1, p. 30) e por
Vázquez-Ayora (1977), além de ser comentado por Newmark (1988).
(pág. 78) Tive a oportunidade de utilizar este procedimento ao traduzir manuais de
treinamento de pessoal americanos para uma firma brasileira. Foi exigência do cliente que os
nomes dos personagens citados nas histórias de caso, das entidades mencionadas (tais como
universidades e firmas), bem como cidades, fossem substituídos por outros bem brasileiros, a fim
de aproximar da realidade dos empregados brasileiros as situações citadas como exemplos, sem,
no entanto, alterar o conteúdo da teoria de trabalho em equipe que desejavam veicular.
O mesmo deu-se em relação a situações tipicamente americanas, tais como horários de
refeições, tipos de alimentos, esportes praticados, que foram substituídos por outros mais comuns
no Brasil.
BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 45

(pág. 79)
4
DUAS PROPOSTAS DE RECATEGORIZAÇÃO
DOS PROCEDIMENTOS TÉCNICOS DA TRADUÇÃO

Como foi visto no capítulo 2, todos os modelos de tradução examinados categorizam os


procedimentos técnicos da tradução ao longo de dois grandes eixos: o da tradução literal e o da
tradução não literal, embora sob rótulos diversos.
Um outro modo de expressar essa dicotomia é dizer que um desses eixos prioriza a forma
do TLO sobre o conteúdo desse texto e a forma e o conteúdo do TLT, e que o outro prioriza o
conteúdo do TLO e do TLT sobre a forma do TLO e do TLT.
Como foi mencionado acima (q.v. 1), essa dicotomia corresponde à controvérsia mais
antiga em torno da tradução, em pauta desde o chamado "período pré-linguístico" (cf. Newmark,
1981), quando a reflexão sobre a tradução era realizada de modo impressionístico e intuitivo,
sem o apoio de outras áreas do conhecimento. A partir da década de cinquenta, porém, como foi
visto (q.v. 2, p. 20), o estudo sobre a tradução tomou grande impulso, passando a buscar
subsídios para seu estudo nessas outras áreas (q.v. 1, p. 15).
Assim, foi possível que essa grande divisão em dois eixos, embora continuasse a existir,
tomasse certas nuances. No quadro da página 58 observa-se, por exemplo, que em Catford
(1965), Newmark (1981) e Nida (1964), a linha que marca a divisão entre os dois eixos já não é
tão rígida.
No caso de Newmark (1981, q.v. 2.5) e de Nida (1964, q.v. 2.2), é a teoria da
comunicação que permite a inclusão de novos elementos (pág 80)→ no modelo, além dos
conceitos de conteúdo (sentido) e forma. Com Nida (1964, q.v. 2.2) o leitor passa a integrar o
modelo, sendo em proveito dele que o modelo passa a admitir o princípio do efeito equivalente
(q.v. 2.1.2, p. 35 e 2.1.5, p. 50), que visa a aproximar ao máximo o TLT do leitor. Levando mais
adiante o pensamento de Nida (1964), Newmark (1981, 1988, q.v. 2.1.5), através do estudo das
funções da linguagem, inclui no modelo dois elementos já citados por Nida (1964, q.v. 2.1.2, p.
34), além do leitor: a natureza da mensagem e o tipo de público visado pelo original e pela
tradução, chamado por Newmark (1981) de finalidade da tradução.
Introduzidos esses elementos, o foco da tradução deixa de incidir apenas sobre o
conteúdo (o sentido) ou a forma, passando a recair também sobre o leitor, a natureza da
mensagem ou a finalidade da tradução.
Assim, uma tradução cuja finalidade seja uma comparação entre duas línguas poderá ser
totalmente literal, sem preocupação com o conteúdo; uma tradução que vise a uma compreensão
total pelo leitor poderá afastar-se muito da literalidade, adaptando o texto para a realidade do
leitor, facilitando-lhe em tudo a compreensão.
No entanto, os estudos acerca da tradução são ainda muito recentes e os novos enfoques
dados à visão tradicional da tradução não foram ainda suficientemente elaborados de modo a
poderem responder satisfatoriamente à pergunta "como traduzir?" levando-se em conta todos os
elementos em jogo em uma tradução.
Na introdução (q.v. 1), foi visto que os procedimentos técnicos da tradução constituem
uma tentativa de responder a essa pergunta. Vários autores vêm tentando respondê-la desse
modo, entre eles os examinados neste livro. Para fazê-lo, lançam mão de subsídios teóricos de
diversas áreas do conhecimento (q.v. 1, p. 15). Apesar disso, o modo como são categorizados os
BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 46

procedimentos técnicos da tradução na literatura disponível parece não levar em conta as


alterações efetuadas nos modelos da tradução.
Isto porque, até hoje, na literatura disponível (por exemplo, Váz-quez-Ayora, 1977;
Newmark, 1981, 1988), os procedimentos técnicos (pág 81) da tradução são apresentados na
ordem em que foram colocados por Vinay e Darbelnet (1977, q.v. 2.1), ou seja, segundo a
facilidade dc execução pelo tradutor, partindo do procedimento mais fácil e indo até o mais
difícil – estando aí implícito que a dificuldade é o afastamento da forma em busca do sentido.
Para Vinay e Darbelnet (1977), portanto, o procedimento mais fácil para o tradutor é o
empréstimo, que consiste na simples cópia de um elemento lexical da LO no TLT. Os
procedimentos que se seguem são mais difíceis porque se afastam mais da LO. Assim,
con-clui-se que, na visão de Vinay e Darbelnet (1977), quanto mais se afasta da LO, mais difícil
é o procedimento, do ponto de vista do tradutor.
Além do critério da dificuldade, pode-se dizer que está embutido na categorização de
Vinay e Darbelnet (1977) um ordenamento que vai de uma unidade menor (a palavra, ou
vocábulo, ou item lexical), envolvida no empréstimo, passando pelo sintagma, envolvido no de-
calque, até atingir uma reformulação total de um segmento de texto, envolvida na adaptação.
Não acredito, no entanto, que o empréstimo seja um procedimento tão fácil assim. Ele é
usado quando há uma divergência tão grande entre as línguas, entre as realidades
extralinguísticas expressas por meio delas, que falta a uma itens lexicais possuídos pela outra
para designar objetos ou exprimir conceitos desconhecidos pela primeira, o que representa
grande dificuldade para o tradutor e obstáculo para a tradução (c/. Alves, 1983) e compreensão
do TLT por seu leitor.
Em lugar de simplesmente copiar o item lexical da LO no TLT, o tradutor deve
assegurar-se primeiro de que o contexto deixa claro para o leitor o significado do empréstimo,
devendo utilizar também procedimentos auxiliares (c/. 3.1.10) quando necessários para garantir a
compreensão do leitor.
O decalque, segundo procedimento na escala de dificuldade de Vinay e Darbelnet (1977),
expressa o mesmo tipo de divergência que o empréstimo, agora ao nível sintagmático, tendo o
mesmo nível de (pág. 82)→dificuldade para o tradutor, embora envolva uma unidade tradutória
maior.
Talvez pelos motivos expostos acima, Souza-Aguiar (1980) comece sua exposição do
modelo de Vinay e Darbelnet (1977) pela tradução palavra-por-palavra (ou tradução literal),
deixando para depois o empréstimo e o decalque, enquanto Vázquez-Ayora (1977) omite
totalmente estes dois procedimentos, começando sua exposição pela tradução literal.
Tampouco acredito que o empréstimo e o decalque possam fazer parte do eixo da
tradução direta, definido por Vinay e Darbelnet (1977) como aquele em que a passagem de uma
língua para a outra se faz com facilidade, sem que se encontrem obstáculos maiores à tradução.
Ora, como foi visto acima, o empréstimo e o decalque constituem meios de se lidar justamente
com grandes divergências entre as línguas, com casos onde não existe equivalência entre elas, o
que constitui um obstáculo para a tradução e uma dificuldade para o tradutor.
Assim sendo, considero que caberia propor uma nova categorização dos procedimentos
técnicos da tradução que eliminasse algumas das inconsistências discutidas acima. Neste livro,
apresento duas propostas de categorização dos procedimentos técnicos da tradução e argumento
em favor de uma delas como será visto abaixo.
A primeira seria uma categorização segundo um critério de frequência, onde os
procedimentos técnicos da tradução seriam ordenados de acordo com a frequência com que são
utilizados. Este ordenamento poderia ser útil para tradutores e alunos de tradução, que teriam à
mão uma lista de procedimentos utilizáveis em tradução, sabendo a quais deles recorrer em
BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 47

primeiro lugar.
A segunda proposta se prende à convergência ou divergência entre as línguas envolvidas
no ato tradutório, bem como entre as culturas ou contextos extralinguísticos a que se referem.
Quanto maior for a convergência entre as línguas, mais simples e mais fáceis os procedimentos
tradutórios necessários para a passagem de uma para outra.
Estas duas propostas são examinadas a seguir.

(pág. 83)
4.1. A CATEGORIZAÇÃO DOS PROCEDIMENTOS TÉCNICOS DA TRADUÇÃO
PELA FREQUÊNCIA DE OCORRÊNCIA

Minha constatação intuitiva e impressionista de tradutora e professora de tradução de que


o empréstimo, o procedimento técnico da tradução citado por Vinay e Darbelnet (1977, q.v.
2.1.1) como o mais fácil e, portanto, colocado por estes autores em primeiro lugar, tem uso
bastante limitado na prática é corroborada por estudos estatísticos em que se medem a frequência
de utilização dos procedimentos, tais como o realizado por Alves (1983).
Neste trabalho, Alves (1983:10) toma por base a escala hierárquica de dificuldade
crescente de emprego dos procedimentos técnicos da tradução proposta por Vinay e Darbelnet
(1977). Alves (1983) efetua uma contagem da frequência de utilização dos procedimentos
técnicos da tradução através do cotej amento entre originais e traduções existentes de alguns
textos na área de ciências sociais, com a finalidade de verificar a possibilidade de assim
selecionar textos de dificuldade gradativa a serem utilizados em cursos de treinamento de
tradução.
A hipótese de Alves (1983:11-12) é de que quanto maior fosse o número de
procedimentos considerados mais fáceis utilizados em um texto, mais fácil seria traduzi-lo.
Como procedimentos que apresentam menor grau de dificuldade, dentre os descritos por Vinay e
Darbelnet (1977), Alves (1983:11) considera a tradução literal e a transposição, "visto
dispensarem uma reflexão semântica e uma análise contrastiva mais profunda" (Alves, 1983:11),
no que diverge de Vinay e Darbelnet (1977), que antepõem o empréstimo e o decalque a estes
dois procedimentos.
É preciso notar que Alves (1983) achou necessário incluir outros procedimentos em seu
trabalho, além de sete básicos enumerados por Vinay e Darbelnet (1977), que, como aponta
também a literatura examinada para o presente trabalho, não são suficientes para a descrição dos
procedimentos técnicos efetivamente empregados em traduções. Assim, Alves (1983), inclui
procedimentos complexos, compostos de mais de um dos descritos por Vinay e Darbelnet
(1977), bem como a omissão e o erro, que Alves (1983) observa não serem descritos por Vinay e
Darbelnet (1977), além da explicação como um apêndice do empréstimo.
(pág 84)→ Para resumir o resultado geral da contagem efetuada por Alves (1983:88),
organizei, sob a forma do quadro abaixo, os dados que apresenta:

Tradução Literal 53,99%


Transposição 39,11%
TOTAL 93,10%

O quadro mostra que houve uma maioria esmagadora de traduções literais e de


transposições, totalizando 93,10% dos procedimentos detectados, contra apenas 6,90% para
BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 48

todos os demais, com 0,10% para o empréstimo (q.v. quadro abaixo).


Para dar uma ideia mais ampla da frequência de utilização dos procedimentos em geral
no corpus analisado por Alves (1983), organizei em ordem decrescente, por frequência e por
número de vezes em que foram utilizados os procedimentos técnicos da tradução, os totais gerais
que apresenta (Alves, 1983:229) em sua tabela de Frequência Absoluta e Relativa dos
Procedimentos de Tradução por Texto, e obtive o quadro abaixo:

% N.°de
Procedimentos
vezes
Tradução Literal 53,99 4.924
Transposição Obrigatória 33,34 3.041
Transposição Facultativa 5,77 526
Omissão 2,92 266
Erro 1,34 122
Empréstimo 0,65 59
Transposição Obrigatória + Modulação Obrigatória 0,64 58
Transcrição 0,53 48
Modulação Facultativa 0,50 46
Modulação Obrigatória 0,11 10
Transposição Obrigatória + Empréstimo 0,10 9
Transposição Facultativa + Transposição Obrigatória + Modulação 0,04 4
Facultativa
Transposição Facultativa + Modulação Facultativa 0,03 3
Tradução Literal + Empréstimo 0,02 2
Transposição Obrigatória + Transcrição 0,01 1
Empréstimo + Explicação 0,01 1
Decalque 0,01 1

(pág. 85)→ Reorganizando este quadro para adequá-lo ao modelo de Vinay e Darbelnet
(1977, q.v. 2.1, p. 23), obtive o quadro que apresento abaixo:
% N.° de vezes
Empréstimo 0,65 59
Tradução Direta Decalque 0,01 1
Tradução Literal 53,99 4.924
Transposição 39,11 3.567
Tradução Indireta Modulação 0,61 56
Equivalência - -
Adaptação - -

Um exame dos dois quadros acima deixa claro que a hierarquização proposta por Vinay e
Darbelnet (1977, q.v. 2.1) para os procedimentos técnicos da tradução não corresponde à
frequência com que são utilizados os procedimentos técnicos da tradução em textos da área de
ciências sociais.
Paiva (1981/92) realizou um trabalho em que efetua uma contagem dos procedimentos
técnicos da tradução descritos por Vinay e Darbelnet (1977, q.v. 2.1) na tradução de sintagmas
nominais característicos de textos de serviço social.
Reordenei o quadro apresentado por Paiva (1981/82:89) de acordo com o número de
vezes que foram utilizados os procedimentos técnicos na tradução de sintagmas nominais em
BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 49

textos da área de serviço social e obtive o quadro abaixo:

Número de vezes
Procedimentos
que foram utilizados
Transposição 730
Modulação com Transposição 160
Tradução Inadequada 64
Transposição com Omissão 46
Transposição com Acréscimo 26
Tradução Incompleta 19
Modulação 11
Equivalência 10
Transposição com Equivalência 9
Equivalência Facultativa 4
Empréstimo 3
Literal 2

(pág. 86)→ Reorganizei, em seguida, o quadro acima para adequá-lo ao modelo de Vinay
e Darbelnet (1977, q.v. 2.1, p. 23) e obtive o quadro abaixo:

Empréstimo 3
Tradução Direta Decalque -
Tradução Literal 2
Transposição 730
Modulação 11
Tradução Indireta
Equivalência 14
Adaptação -

Um exame dos dois quadros acima deixa claro que a hierarquização proposta por Vinay e
Darbelnet (1977, q.v. 2.1) para os procedimentos técnicos da tradução não corresponde à
frequência com que são utilizados na tradução de sintagmas nominais em textos da área de
serviço social.
A combinação dos dois quadros que elaborei, a partir dos trabalhos de Alves (1983) e
Paiva (1981/82), produziu o quadro abaixo:

Vinay e Darbelnet Alves (1983) Paiva (1981/82)


(1977) n.° de vezes no.de vezes

Empréstimo 59 3
Decalque 1 –
Tradução Literal 4.924 2
Transposição 3.567 730
Modulação 56 11
Equivalência – 14
Adaptação – –
BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 50

Um exame desse quadro deixa ver duas coincidências entre os resultados obtidos por
Alves (1983) e Paiva (1981/82): a alta incidência do emprego da transposição, por um lado, e a
baixa incidência do empréstimo, por outro.
(pág. 87)→ Estas duas coincidências parecem confirmar minha intuição de que a
transposição é um dos procedimentos mais utilizados dentre os descritos por Vinay e Darbelnet
(1977, q.v. 2.1), assim como de que o empréstimo é um dos menos utilizados.
O quadro torna aparente também algumas discrepâncias entre os resultados obtidos
respectivamente por Alves (1983) e por Paiva (1981/82). A principal delas é a diferença na
frequência de utilização da tradução literal. Em Alves (1983), esta foi de 4.924 vezes, parecendo
confirmar minha intuição de que seria o procedimento mais utilizado. Em Paiva (1981/82), no
entanto, o número encontrado para este procedimento foi de apenas duas vezes, parecendo con-
trariar minha intuição de que seria o procedimento mais utilizado.
Creio que o principal motivo para esta discrepância é a escolha do corpus. Enquanto
Alves (1983) examinou textos completos, Paiva (1981/82) examinou unidades menores, ou seja,
sintagmas nominais, cujas traduções, segundo o modelo de Vinay e Darbelnet (1977, q.v. 2.1, p.
26-27), deveriam estar classificadas como decalques, como foi visto acima (q.v. 3.12, p. 76).
Ao meu ver, as discrepâncias entre os resultados obtidos não permitem que, a partir deles,
se organizem os procedimentos técnicos da tradução de acordo com a frequência de uso.
Um dos motivos para tal impossibilidade, acredito, reside na própria caracterização dos
procedimentos técnicos da tradução utilizados para as contagens, como será visto abaixo.
Paiva (1981/82) baseou sua análise exclusivamente nos procedimentos descritos por
Vinay e Darbelnet (1977). Alves (1983) fez o mesmo, depois de analisar o modelo de tradução
de Catford (1965) e concluir que este não era adequado para os fins propostos em seu trabalho.
Tanto Paiva (1981/82) como Alves (1983) concluíram que a descrição dos procedimentos
técnicos da tradução feita por Vinay e Darbelnet (1977) não era suficiente para recobrir todos os
procedimentos que encontraram no corpus que examinaram e incluíram em sua análise outros
procedimentos, definidos de modo ad hoc em seu trabalho, para poder descrever as ocorrências
encontradas nas traduções que cotejaram com seus originais.
(pág. 88)→ Um exame dos quadros encontrados nas páginas 84 a 86 acima mostra que
não houve coincidência entre os procedimentos que definiram, além dos descritos por Vinay e
Darbelnet (1977), (e nem mesmo na interpretação que deram a estes), como se pode ver no
quadro que elaborei e apresento abaixo:

Alves (1983) Paiva (1981/82)


Omissão
Erro ............................................................................................. (?) Tradução Inadequada
Transposição Obrigatória + Modulação Obrigatória
Transcrição
Transposição Obrigatória + Empréstimo
Transposição Facultativa + Transposição
Obrigatória + Modulação Facultativa
Transposição Facultativa + Modulação Facultativa
Tradução Literal + Empréstimo
Transposição Obrigatória + Transcrição
Empréstimo + Explicação
Modulação + Transposição
Transposição + Omissão
BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 51

Transposição + Acréscimo
Tradução Incompleta
Transposição + Equivalência

Está fora dos objetivos do presente trabalho analisar a descrição de procedimentos


adicionais feita por Alves (1983) e por Paiva (1981/82). Todavia, é possível apontar uma falha
desses trabalhos na interpretação dos procedimentos técnicos da tradução descritos por Vinay e
Darbelnet (1977) que, no meu entender, pode ter o efeito de invalidar os resultados das
contagens efetuadas.
Na descrição de Vinay e Darbelnet (1977:47-48), o decalque aparece como um tipo
particular de empréstimo: a adoção, no TLT, de sintagmas da língua estrangeira traduzidos
literalmente, respeitando ou não a estrutura sintática da LT. Em qualquer dos casos, segundo
Vinay e Darbelnet (1977:47), é introduzido "um novo modo de expressão na LT."
(pág. 89)→ Apesar disso, tanto Paiva (1981/82) quanto Alves (198:5) interpretam e
descrevem o decalque, enquanto procedimento tradutório, como um empréstimo aclimatado, o
que é uma das definições tradicionais que a linguística dá ao termo "decalque" (c/. Pei, 1966:34),
mas não a de Vinay e Darbelnet (1977), como se viu acima, nem a de outros linguistas (c/.
Crystal, 1980:51; Câmara Júnior, 1977:105), em que o decalque é definido como o empréstimo
de tipos frasais.
O próprio Vinay (1968:739) toma o decalque como sendo um empréstimo aclimatado, e
fornece como exemplo a palavra iglou no francês, empréstimo aclimatado de igloo do inglês.
Este exemplo é citado por Alves (1983), que engloba a tradução de "Epictetus", do inglês, para
"Epicteto", em português, como uma instância de decalque detectada no corpus que examina, o
que está em desacordo com o texto de Vinay e Darbelnet (1977).
Paiva (1981/82:85) cita dois exemplos ilustrativos de decalque – segundo a definição de
Vinay (1968) e, portanto, divergindo de Vinay e Darbelnet (1977) – encontrados no corpus que
examina:
activists – ativistas
interactionist – interacionista
Observe-se que estes exemplos são meramente ilustrativos, já que Paiva (1981/82) não
encontrou nenhum decalque, enquanto decalque de tipos frasais ou de sintagmas, em sua análise
da tradução de sintagmas nominais em textos da área de ciência social, como se vê nos quadros
das páginas 84 a 86.
Como o trabalho de Paiva (1981/82) dedica-se ao exame da tradução de sintagmas
nominais, a expectativa, então, deveria ser de que o trabalho fosse girar especificamente em
torno de uma análise dos tipos de decalque utilizados no corpus, já que, segundo Vinay e
Darbelnet (1977), como foi visto acima, é este o procedimento empregado da tradução de
sintagmas.
Em vista dessas observações a respeito da caracterização do decalque nos dois trabalhos
examinados nesta seção (Alves, 1983 e Paiva, 1981/82), bem como de outros problemas de
caracterização que encontrei nos dois trabalhos, parece-me lícito perguntar: quando examino
(pág. 90)→ o resultado das contagens efetuadas por estes trabalhos, estou falando exatamente de
quais procedimentos técnicos da tradução?
Parece estar claro que a descrição de Vinay e Darbelnet (1977) não é suficiente para
cobrir todos os procedimentos técnicos encontrados em traduções. Como foi visto no presente
trabalho (q.v. 2), outros autores reviram a descrição feita por Vinay e Darbelnet (1977) e
acrescentaram a ela outros procedimentos, tal como fizeram Alves (1983) e Paiva (1981/82).
Assim sendo, acredito que, para que seja possível propor um modelo de tradução, é preciso
BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 52

efetuar também uma recaracterização dos procedimentos técnicos da tradução que elimine
algumas das dificuldades apresentadas pelo modelo de Vinay e Darbelnet (1977), tal como a
caracterização do decalque, e também dê conta dos procedimentos propostos por alguns outros
autores, que parecem contribuir para suprir as insuficiências da descrição de Vinay e Darbelnet
(1977).
Alves (1983) aponta outras limitações em seu trabalho de avaliação estatística. A
primeira delas é a limitação do corpus, sendo que não há na literatura disponível dados que
permitam avaliar que tamanho de corpus seria suficiente para determinar inequivocamente a
hierarquia dos procedimentos técnicos da tradução segundo sua frequência de uso (cf. Alves,
1983:92).
A segunda é quanto ao tipo de texto. Nas duas contagens mencionadas, os textos são da
área de ciências humanas, não havendo contagens disponíveis em outras áreas. Alves (1983:14)
levanta a hipótese de que talvez contagens em outros tipos de textos produzissem resultados
diferentes. Está aí aberta uma área de estudos futuros.
Além do tipo de texto, segundo Alves (1983:95), seria preciso levar em conta as
"peculiaridades estilísticas de cada tradutor," pois estas poderiam estar fazendo com que cada
texto apresentasse resultados diversos. Alves (1983:95) aponta que um estudo para resolver esta
dificuldade pediria que vários tradutores traduzissem o mesmo texto, avaliando em seguida cada
tradução, para poder determinar até que ponto as peculiaridades de cada tradutor interfeririam na
frequência de uso de cada procedimento técnico da tradução.
Em vista dos dados expostos acima, fica aparente que o estado atual dos estudos sobre a
tradução não permitem que os procedimentos (pág. 91) técnicos da tradução sejam
hierarquizados de acordo com a frequência com que são usados.

4.2. A CATEGORIZAÇÃO DOS PROCEDIMENTOS TÉCNICOS DA TRADUÇÃO


PELA CONVERGÊNCIA OU DIVERGÊNCIA LINGUÍSTICA E EXTRALINGUÍSTICA
ENTRE A LO E A LT

Uma outra possibilidade de categorização dos procedimentos técnicos da tradução, que é


a que defendo aqui, no meu entender, rela-ciona-se com o grau de divergência entre a LO e a LT.
Serve de base a esta proposta de categorização a constatação feita por Vinay e Darbelnet
(1977:46-48) de que: 1) a tradução direta (q.v. 2.1, p. 24) é possível quando há paralelismo
estrutural e paralelismo extralingiiístico entre a LO e a LT, e 2) os exemplos mais numerosos de
tradução literal (q.v. 2.1, p. 24) são encontrados entre línguas de mesma família (francês-italiano,
por exemplo) e sobretudo de mesma cultura. Estas duas afirmações permitem concluir que uma
divergência linguística e extralingiiística mínima, que será aqui denominada "convergência",
permitirá o uso mais frequente da tradução literal enquanto procedimento técnico da tradução,
ao passo que uma divergência maior entre esses fatores obrigaria o tradutor a procurar recursos
tradutórios mais complexos.
Outro aspecto que serve de base para esta proposta de categorização são as dificuldades
que se encontram no ato de transpor de uma língua para outra, tal como apresentadas por Mounin
(1963): 1) as diferenças das realidades extralingiiísticas que cercam os povos falantes das várias
línguas; 2) as diversas maneiras como cada sistema linguístico divide e analisa as experiências
da realidade extralingiiística; 3) as organizações diversas dos sistemas linguísticos, seja ao nível
morfológico ou sintático; e 4) as divergências estilísticas, que se podem considerar aqui como
diferenças de registro, da probabilidade de ocorrência de um enunciado e do grau de adequação
de um enunciado a uma situação (cf. Hymes, 1979: 22-23).
A partir do exposto acima, portanto, na minha proposta de categorização, os
BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 53

procedimentos técnicos da tradução se distribuiriam ao longo de quatro eixos, a saber: 1)


convergência do sistema linguístico, da realidade extralingiiística e do estilo; 2) divergência do
sistema (pág. 92) linguístico; 3) divergência do estilo e 4) divergência da realidade
extralingiiística.
Elaborei um quadro sinótico que resume esta proposta e que apresento na página
seguinte. Explico mais detidamente, abaixo, cada um dos eixos, enumerando os procedimentos
(cf. 3) que se dispõem ao longo de cada um deles.

4.2.1. A Convergência do Sistema Linguístico, do Estilo e da Realidade Extralinguística


Haveria convergência da realidade extralinguística quando duas línguas fossem usadas
para expressar duas realidades que tivessem uma diferença mínima entre si.
Acredito que esta seja uma situação ideal para o tradutor, mas não necessariamente real,
já que até uma mesma língua pode ser usada por povos de realidades extralingiiísticas muito
diversas, tal como o português no Brasil, em Portugal e na Africa.
Por outro lado, é possível que dois povos que dividam o mesmo território, mas falem
línguas diferentes, compartilhem a mesma realidade extralinguística.
Mesmo os povos hipotéticos mencionados acima poderiam divergir na maneira como
recortam linguisticamente a realidade que os cerca. Nida e Taber (1982) e Mounin (1963) citam
os já célebres exemplos dos esquimós que possuem vários termos para designar os diversos tipos
de neve, bem como os exemplos dos povos africanos que recortam de modos variados o espectro
cromático.
Na ausência desse tipo de divergência é que haveria convergência do sistema linguístico.
Seria preciso que houvesse também uma divergência mínima ao nível morfológico, sintático e
estrutural, o que, segundo Vinay e Darbelnet (1977), é possível entre línguas de mesma família e
de mesma cultura.
Tomando estilo com a acepção que lhe é dada por Bally (apud Dubois et ai, 1978:237),
como "os fatos de expressão da linguagem organizada do ponto de vista de seu conteúdo afetivo,
isto é, expressão dos fatos da sensibilidade pela linguagem e ação dos fatos de linguagem sobre a
sensibilidade, pode-se considerar a convergência estilística como a convergência desses modos
expressivos.
BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 54

(pág. 94)→ É possível considerar estilo também como estando relacionado ao registro, à
probabilidade de ocorrência de um enunciado e do grau de adequação de um enunciado a uma
situação (cf. Hymes, 1979:22-23), como foi visto acima, sendo a convergência estilística, então,
uma convergência desses fatores.
Mesmo que não haja uma convergência entre o sistema linguístico, o estilo (como
entendido acima) e a realidade extralinguística em todo o espectro recoberto por duas línguas,
elas podem convergir em algumas instâncias ou em segmentos de texto, como, por exemplo, no
período abaixo:

A casa é branca.
   
La casa es blanca.
   
La casa ès bianca.
   
La maison est blanche.

Assim sendo, nos casos em que existe a convergência, tal como descrita acima, são dois,
no meu entender, os procedimentos técnicos da tradução de que o tradutor pode lançar mão: a
tradução palavra-por-palavra e a tradução literal, conforme definidas acima (q.v. 3.1).
Quando esta convergência é máxima, é possível aplicar-se a tradução
palavra-por-palavra, embora mesmo que apenas em pequenos segmentos de texto. Em seguida,
vem a tradução literal, que já não é mais palavra-por-palavra, pois faz todas as alterações
morfo-sintáticas necessárias para produzir um texto aceitável na LT, sem afastar-se dele.
Acredito que este segundo procedimento seja o mais comum nas traduções. No entanto,
para ordenar os procedimentos aqui, foi utilizado um critério de progressivo afastamento da LO
– sem contudo chegar ao exagero de Vinay e Darbelnet (1977), que consideram como tradução
literal até mesmo a inclusão de elementos lexicais da LO no TLT – em que a tradução literal
pode funcionar como uma pré-tradução que permitiria ao tradutor avaliar que procedimentos de-
BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 55

verá empregar em sua tradução.


(pág. 95) 

4.2.2. A Divergência do Sistema Linguístico


Esta divergência é entendida aqui segundo a observação de Mounin (1975), citada acima
(q.v. 4.2), a respeito das dificuldades encontradas pelo tradutor: as organizações diversas dos
sistemas linguísticos, seja ao nível lexical, morfológico ou sintático e as diversas maneiras como
cada sistema linguístico divide e analisa as experiências da realidade extralinguística.
A divergência dos sistemas linguísticos obriga o tradutor a empregar procedimentos
tradutórios mais complexos do que a tradução palavra-por-palavra ou a tradução literal,
conforme definidas aqui (q.v. 3.1 e 3.2). Esses procedimentos mais complexos visariam a
preservar, além do sentido do original, a gramaticalidade (cf. Hymes, 1979:21-22) do TLT.
→ o → gordo (gord+o)
→ a → gorda (gord+a)
the fat
→ os (o+s) → gordos (gord+os)
→ as (a+s) → gordas (gord+as)

(pág. 96)→ Este tipo de procedimento, no entanto, é, no meu entender, realizado


espontaneamente pelo tradutor, podendo ser englobado por aquilo que defino como tradução
literal (q.v. 3.1) e que, portanto, já dá conta de algumas divergências do sistema linguístico.
No caso de divergências maiores entre os sistemas linguísticos, serão necessários
procedimentos proporcionalmente mais complexos, que, ao meu ver, são: a transposição, a
modulação e a equivalência, conforme definidas aqui (q.v. 3.3, 3.4 e 3.5).
A colocação do eixo da "divergência do sistema linguístico" junto do eixo da
"convergência" toma a transposição o terceiro procedimento apresentado. Ao meu ver, esta é
uma vantagem da organização que proponho, já que, de acordo com minha experiência de
trabalho, bem como o resultado da contagem de Alves (1983), é a transposição o segundo
procedimento mais usado, em seguida à tradução literal. Acredito ser coerente esta colocação
também porque a transposição é um desdobramento da tradução literal. Como foi visto acima, a
própria tradução literal já emprega procedimentos (adequações morfo-sintáticas) que têm
afinidade com a transposição, um procedimento realizável no nível sintático.
Como foi visto em 3.3 e 3.4 a transposição e a modulação podem ser obrigatórias ou
facultativas. São obrigatórias quando, se não forem realizadas, prejudicarem o entendimento do
leitor ou produzirem um texto inaceitável na LT. São facultativas quando geradas por uma
divergência de estilo.

4.2.3. A Divergência do Estilo


Como foi visto em 3.2, o estilo é entendido aqui com a acepção que lhe dá Bally (apud
Dubois et ai, 1978:237):
os fatos de expressão da linguagem organizada do ponto de vista de seu conteúdo afetivo,
isto é, expressão dos fatos da sensibilidade pela linguagem e ação dos fatos de linguagem sobre a
sensibilidade.
Em Crystal (1980:337) encontra-se também que a estilística é (pág. 97) → um ramo da
linguística que estuda as características de usos (variedades) da língua e tenta estabelecer
BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 56

princípios capazes de explicar as escolhas efetuadas por indivíduos e grupos sociais no seu uso
da língua.
Uma vez que esses modos expressivos variam de uma língua para outra, assim como
variam as escolhas de uso da língua, o estilo é um aspecto importante a ser considerado ao se
efetuar uma tradução, porque pode tornar impossível a tradução literal (q.v. 3.1.2) que é o
procedimento espontâneo do tradutor diante do TLO.
Todos os autores examinados para o presente trabalho levam em consideração o estilo
nos modelos que propõem (q.v. 2). Em minha proposta de categorização, os procedimentos
técnicos a serem utilizados diante de divergências de estilo são a omissão e seu oposto, a
explicitação, a compensação, a reconstrução de períodos e as melhorias conforme definidos em
3.6, 3.7, 3.8 e 3.9.
Estes processos são listados de acordo com o tamanho do segmento de texto que
envolvem: a omissão e a explicitação podem ser realizadas com os pronomes pessoais, por
exemplo, na tradução entre o português e o inglês, podendo, também, envolver segmentos
maiores. A compensação e a reconstrução geralmente envolvem segmentos maiores, atingindo
até a totalidade do texto a ser traduzido, o que pode acontecer também com as melhorias. Ao
mesmo tempo, acredito, estão listados de acordo com a ordem de frequência com que são
realizados, de acordo com o que pude observar em meu trabalho de tradutora e professora de
tradução.

4.2.4. A Divergência da Realidade Extralinguística


As divergências da realidade extralinguística são um obstáculo à tradução, pois essas
divergências causarão divergências no léxico e até nos modos expressivos.
Em termos de tradução, podem obrigar o tradutor a introduzir no TLT itens lexicais do
TLO, acompanhados ou não de um procedimento tradutório que os explique, ou a utilizar um
desses procedimentos explicativos sem o item lexical da LO.
Qualquer que seja o procedimento adotado, no meu ver é esse tipo de divergência que
mais interfere na leitura do TLT. Acredito (pág. 98) → que, aplicados adequadamente os
procedimentos descritos até aqui para as divergências do sistema linguístico e do estilo, o leitor
do TLT, que não conhece a LO, será exposto a um texto que é acessível a ele, pois teriam sido
aplainadas as divergências entre as duas línguas através da tradução.
Mas o mesmo não acontece em relação às divergências culturais. Se uso um
estrangeirismo em uma tradução, o leitor percebe imediatamente que está diante de um item
lexical que pertence à LO e que expressa uma divergência extralinguística. Mais ainda, acredito
que perceba este fato como um fenómeno tradutório.
A divergência cultural pode ser apresentada de modo diluído dentro do texto, através de
explicações ou definições, mas, acredito, também isto será percebido pelo leitor como expressão
de uma divergência cultural.
Em minha opinião, essas divergências só devem ser totalmente aplainadas, eliminando o
estrangeirismo, em casos muito especiais, ligados à finalidade do texto (cf. Nida, 1964;
Newmark, 1981, 1988), pois acredito que lemos traduções primordialmente com a finalidade de
conhecer outras culturas (tomando-se cultura em seu sentido mais amplo), ainda que à distância,
embora desconheçamos as línguas que as expressam.
Por serem tão perceptíveis ao leitor e por representarem uma grande dificuldade para o
tradutor, ao meu ver, é que os procedimentos tradutórios ligados às divergências
extralingiiísticas são tratadas em grande detalhe pela literatura disponível.
A partir de minha vivência como tradutora e professora de tradução, posso afirmar que
BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 57

são os procedimentos ligados a estas divergências os menos utilizados pelo tradutor, assim como
os que lhe causam maior dificuldade.
O procedimento definido por Vinay e Darbelnet (1977) como empréstimo, por exemplo,
só é usado pelo tradutor quando este: 1) desiste de encontrar um equivalente, ainda que apenas
aproximado, na LT, 2) o empréstimo é de uso consagrado na LT ou 3) considera importante
utilizar o item lexical da LO por algum motivo, em geral ligado ao estilo. Assim sendo, está
longe de ser o procedimento mais (pág. 99) → fácil, como dizem Vinay e Darbelnet (1977), ou
de constituir uma simples cópia, como dizem (cf. Vinay e Darbelnet, 1977), pois envolve muito
mais trabalho – ou operações lógicas – por parte do tradutor.
Além disso, como já foi dito aqui e por Alves (1983), só é possível detectar, em uma
tradução existente, os procedimentos que cito sob transferência e decalque através de uma
análise diacrônica. Em muitos dos casos observados, e utilizados aqui como exemplos desses
procedimentos, o uso dos estrangeirismos já é consagrado na língua, estando esses
dicionarizados, o mesmo acontecendo com alguns tipos frasais. Talvez, nesses casos, fosse mais
correto falar em tradução literal, ou mesmo palavra-por-palavra.
Ainda assim, creio que pode existir um momento em que estes procedimentos estejam
sendo usados pela primeira vez, tal como discutido aqui. Ao traduzir para o inglês "INPS" e
"cambono", como já me aconteceu, não sabia se já haviam sido traduzidos ou não para esta
língua, e acredito ter aí realizado os procedimentos que descrevo.
Na categorização que proponho, são três os tipos de tratamento que podem ser dados aos
itens lexicais, sintagmas e segmentos textuais que reflitam a divergência extralinguística:
1. transferência do elemento lexical da LO para o TLT:
a) tal e qual ocorre na LO (estrangeirismo) (q.v. 3.10.1)
b) transliterado (transliteração) (q.v. 3.10.2)
c) aclimatado (aclimatação) (q.v. 3.10.3)

2. transferência do elemento lexical da LO para o TLT acrescido de explicação (q.v. 3.10.4).


Note-se que, como foi visto acima, estas transferências só poderão ser detectadas em
traduções existentes através de uma análise diacrônica em que seja possível determinar se já
eram utilizadas pela LT anteriormente ou não.
3. o emprego da definição ou explicação do elemento lexical da LO no TLT sem a transferência
do mesmo (q.v. 3.11).
(pág. 100) →
4. decalque de tipos frasais, que também só poderá ser detectado diacronicamente (q.v. 3.12).
5. a adaptação de todo um segmento de texto que contém uma situação completamente
desconhecida para os falantes da LT, ou que lhes dê uma impressão diversa da pretendida no
TLO (q.v. 3.13).
Para expor minha proposta de categorização dos procedimentos técnicos da tradução,
trabalhei com os procedimentos que caracterizei no capítulo 3.

4.3. RESUMO DA PROPOSTA

Na minha proposta, fica aparente que os procedimentos estão categorizados em uma


BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 58

ordem que vai dos mais simples para os mais complexos, dos que envolvem unidades menores
para os que envolvem unidades maiores, e, primordialmente, na ordem dos que minha intuição
revela serem mais usados (mais frequentes) para aqueles que considero menos usados (menos
frequentes), embora eu não tenha encontrado na literatura subsídios para comprovar esta
frequência.
Nesta categorização que proponho para os procedimentos técnicos da tradução, tentei
eliminar a dicotomia entre tradução livre e tradução literal. Assim, distribuí os procedimentos
ao longo de quatro eixos, aqueles onde seria gerada a necessidade de cada procedimento a fim de
preservar o sentido (que priorizo em minha proposta) sem impor uma divisão rígida entre eles.
Em primeiro lugar, uma vez que a tradução opera nas línguas, no fundo todos os
procedimentos são gerados por uma divergência linguística, sendo a divisão em eixos uma
questão de grau, mais do que de separação.
Além disso, um procedimento pode ter a sua necessidade gerada em mais de um eixo
simultaneamente. Por exemplo, o tradutor pode decidir manter um estrangeirismo no TLT
(gerado por uma divergência extralinguística) por motivo de estilo (divergência de estilo),
querendo manter a cor local.
(pág. 101) → Em segundo lugar, a passagem de um eixo para outro se dá de maneira
suave, como a que se realiza entre a tradução literal e a transposição, pois há uma certa
imbricação entre as duas.
Finalmente, considero que a opção por um procedimento ou outro será feita segundo a
teoria das funções da linguagem, o tipo de texto e a finalidade da tradução, nos moldes do que é
descrito no quadro apresentado em 2.1.5 página 51. Nesta visão da tradução todos os
procedimentos são igualmente válidos, independentemente de serem literais ou não.
É esta visão de tradução que se impõe à categorização dos procedimentos técnicos da
tradução que tentei realizar neste trabalho.

(pág. 103)

5
CONCLUSÃO

No presente trabalho, parti do pressuposto de que os procedimentos técnicos da tradução


são um modo de responder à pergunta "como traduzir," e que cada estudioso do assunto a
responde de acordo com sua visão daquilo que deve ser uma tradução.
A fim de realizar um exame do tratamento dado aos procedimentos técnicos da tradução
na literatura disponível, efetuei, em primeiro lugar, uma revisão sucinta de alguns autores que
selecionei (q.v. 2).
Iniciei esta revisão pelo trabalho pioneiro de Vinay e Darbelnet (1977, q.v. 2.1.1). Estes
autores caracterizam sete procedimentos técnicos da tradução, hierarquizando-os segundo a
dificuldade de execução pelo tradutor e categorizando-os sob o eixo da tradução direta ou da
tradução oblíqua, ou seja, uma tradução que é literal e outra que não é literal.
Estando insatisfeita com as colocações de Vinay e Darbelnet (1977), por constatar que os
procedimentos que caracterizam não são suficientes para dar conta do que efetivamente ocorre
BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 59

em uma tradução, e por não concordar com a divisão dicotômica entre tradução literal e não
literal, procurei examinar, cronologicamente, outros autores que tratassem do mesmo assunto.
Em seguida, portanto, examinei o trabalho de Nida (1964, 1966; Nida e Taber, 1982, q.v.
2.1.2). Embora este autor não liste e enumere procedimentos técnicos da tradução, como fazem
Vinay e Darbelnet (1977), (pág. 104)→ ele os comenta brevemente em vários pontos de sua
obra.
A visão de Nida (1964) da tradução é que esta constitui um ato comunicativo. A partir
daí, haveria dois modos de traduzir: a equivalência formal, onde se visa a produzir um TLT que
corresponda o mais possível aos diversos elementos linguísticos e extralingiiísticos do TLT, ou
seja, produz-se uma tradução o mais literal possível, mesmo que isto prejudique a compreensão
do TLT pelo leitor; e a equivalência dinâmica, onde se visa a proporcionar ao leitor um TLT que
lhe seja familiar em termos não só da construção linguística e estilística, como também em
termos dos comportamentos e elementos extralingiiísticos expressos no TLT.
Assim, foi introduzida, por Nida (1964), uma figura importante no modelo da tradução: o
leitor. É em prol dele que Nida (1964) considera válido realizar uma tradução que se distancia
em muito do TLO em termos formais. Neste modelo, entretanto, persiste ainda a oposição entre
tradução literal e não literal.
Passei, em seguida, para um exame de Catford (1965, q.v. 2.1.3), que apresenta quatro
modelos de tradução, utilizando a teoria linguística de Halliday.
Catford (1965) inicia pela tradução plena vs. a tradução parcial. Na primeira, todo o
material textual na LO é substituído por seu equivalente na LT; na segunda, há uma parte, ou
partes, do TLO que são incorporadas ao TLT.
A segunda oposição exposta por Catford (1965) é a da tradução total vs. a tradução
restrita. Na primeira, todas as "ordens" ou "planos" (q.v. 2.1.3, p. 36) do TLO são substituídos
por outros da LT; na segunda, esta substituição limita-se a apenas uma dessas "ordens" ou
"planos."
A terceira oposição é aquela entre a tradução limitada e a não . limitada. A primeira se
realiza em apenas uma das ordens, enquanto, na segunda, as equivalências entre o TLO e o TLT
são buscadas des-locando-se livremente na escala das ordens.
(pág. 105)
Finalmente, Catford (1965) apresenta um modelo tripartido, onde figuram a tradução
livre, a 4tadução literal e a tradução palavra-por-palavra, entendidas de acordo com a visão
intuitiva que se têm destes tipos de tradução.
Alguns dos tipos de tradução descritos por Catford (1965) são equivalentes a
procedimentos tradutórios descritos por Vinay e Darbelnet (1977), mas tampouco me pareceram
suficientes para dar conta do que efetivamente ocorre em uma tradução, ou para um maior es-
clarecimento do processo.
Examinei, em seguida, o trabalho de Vázquez-Ayora (1977, q.v. 2.1.4), que reviu e
ampliou os procedimentos técnicos da tradução descritos por Vinay e Darbelnet (1977), opondo
a tradução literal – como modo de traduzir e procedimento técnico da tradução ao mesmo tempo
– à tradução oblíqua, com os demais procedimentos listados ao longo deste eixo.
Vázquez-Ayora (1977) faz uma tentativa de aplicar à tradução o modelo da linguística de
base gerativa-transformacional. Talvez seja este o modelo que mais se aproxima do que
realmente ocorre na cabeça do tradutor no ato da tradução, que é apresentado nesta visão como
que em câmera-lenta. No entanto, não encontrei evidência empírica na literatura para
comprová-lo.
Terminei minha revisão da literatura com o trabalho de Newmark (1981, 1988, q.v.
BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 60

2.1.5), que dispõe os procedimentos técnicos da tradução ao longo dos eixos opostos da tradução
semântica e da tradução comunicativa. A primeira visa a transmitir, com a maior aproximação
possível, o significado contextual do original. É, portanto, uma tradução fiel e literal. A segunda
visa a produzir em seus leitores um efeito tão próximo quanto possível do efeito produzido sobre
os leitores do original. É, portanto, livre e idiomática.
Newmark (1981, 1988) introduz no modelo da tradução alguns elementos vitais: as
funções da linguagem, o tipo de texto e a finalidade da tradução. São esses elementos que
auxiliarão o tradutor a decidir que tipo de tradução, livre ou literal, deve empregar em um
determinado texto.
Esta última formulação foi a que me pareceu intuitivamente mais adequada, pois reflete o
modo como procedo ao traduzir. Observo, (pág. 106)→ todavia, que Newmark (1981, 1988)
ainda apresenta os procedimentos técnicos da tradução na mesma ordem em que foram
apresentados por Vinay e Darbelnet (1977), embora sem explicitar por que o faz. Além disso,
seu trabalho continua a manter os procedimentos técnicos da tradução divididos ao longo de dois
eixos diametralmente opostos.
O exame que fiz da literatura disponível permitiu-me responder a algumas das perguntas
que me propus ao iniciar este trabalho (q.v. 1).
Em primeiro lugar, nenhum dos autores examinados alega serem os procedimentos
técnicos da tradução que descrevem uma chave para a compreensão das operações mentais
envolvidas no ato tradu-tório. Encontrei, na literatura (cf. Bordenave, 1987; Alves, 1983)
subsídios para afirmar que, até hoje, não foi desvendado o mistério sobre o que se passa na
cabeça do tradutor no ato da tradução.
A fim de compreender as operações mentais envolvidas no ato de traduzir, poderiam ser
úteis as pesquisas de linguística aplicada de natureza qualitativa, que poderiam utilizar a técnica
introspectiva de protocolo verbal ou de protocolo de pausa (cf. Cavalcanti, 1986 15).
Contudo, um outro tipo de análise é possível a partir do coteja-mento entre o TLO e a
TLT (cf. Alves, 1983:9):
Embora seja possível uma preparação preliminar para se traduzir um texto, há um
momento, justamente aquele em que o ato tradutório propriamente dito ocorre, que
é difícil de explicar. O processo parece englobar todo um aspecto
psiconeurológico, sobre o qual seria difícil de se afirmar algo objetivamente
comprovável. Parece ser possível, entretanto, inferir alguma coisa sobre a natureza
propriamente linguística do processo, a partir do confronto entre os textos da
língua original (TLO) e da língua da tradução (TLT).

Os autores examinados trabalharam, na maioria, sobre o cote-jamento de TLO's e TLT's e


as constatações que fazem são ao nível da natureza linguística do processo.
Em segundo lugar, creio ser possível afirmar que os procedimentos técnicos da tradução
não são apenas uma série de "boas (pág. 107)→ ideias," "achados," "trouvailles," ou "macetes"
em termos de tradução.
Os estudos mencionados aqui, realizados por linguistas (cf. Vinay e Darbelnet, 1977;
Catford, 1965), professores de tradução (cf. Vázquez-Ayora, 1977; Newmark, 1981, 1988;
Sousa-Aguiar, 1980; Cubric, 1984) e outros (cf. Alves, 1983; Fregonezi, 1984; Paiva 1981/82)
demonstram que estes procedimentos são verificáveis ao se realizarem cotejamentos entre
traduções existentes e seus originais.
Além disso, nem mesmo os modos diversos de encarar a tradução, informados por bases
teóricas diferentes, negaram estes procedimentos. Ao contrário, preocuparam-se em acrescentar
procedimentos aos sete descritos por Vinay e Darbelnet (1977) e a tornar cada vez mais precisa
BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 61

sua descrição.
Acredito também que os procedimentos técnicos da tradução refletem as operações
linguísticas que o tradutor realiza ao efetuar uma tradução.
Em terceiro lugar, ao meu ver, os procedimentos técnicos da tradução são mais do que
uma mera listagem das dificuldades que o tradutor encontra na realização de uma tradução, ou
uma tentativa ad hoc de descrever os problemas que este encontra.
É verdade que está implícita na descrição dos procedimentos técnicos da tradução
aquelas que seriam as dificuldades encontradas pelo tradutor, já descritas por Mounin (1975). No
entanto, os procedimentos técnicos da tradução constituiriam um elenco abrangente de possíveis
modos de proceder à disposição do tradutor, que os sele-cionaria de acordo com uma visão
ampla (um modelo) daquilo que vem a ser uma tradução e de qual é o papel do tradutor.
O fato de os procedimentos técnicos da tradução poderem ser detectados em traduções
existentes, feitas mesmo por indivíduos que talvez desconhecessem a formulação dos
procedimentos de execução, bem como a variedade de pares de línguas em que são encontrados,
alguns exemplificados no presente trabalho (q.v. 1, p. 16), comprovam a abrangência destes
procedimentos.
Assim, pelos motivos expostos acima, acredito que os procedimentos técnicos da
tradução, tal como abordados na literatura examinada (pág. 108)→, possuem status de
generalização suficiente para a formulação de teorias.
Em quarto lugar, o exame da literatura que realizei permitiu constatar que os autores que
se seguiram a Vinay e Darbelnet (1977, q.v. 2.1.1) procuraram investigar o ato de traduzir à luz
das teorias linguísticas mais atuais em seu tempo. No entanto, conforme pude verificar, pouco
contribuíram para um entendimento mais esclarecedor da concepção inicial de Vinay e Darbelnet
(1977), como será visto abaixo.
Nida (1964, q.v. 2.1.2) fez uma primeira aplicação do modelo da linguística de base
gerativa transformacional à tradução, o que foi feito também, mais tarde, por Vázquez-Ayora
(1977, q.v. 2.1.4). Embora estas duas formulações sejam, na literatura examinada, as que me
parecem mais aproximar-se do que se passa na cabeça do tradutor durante o ato de traduzir, não
me parecem ter logrado contribuir efetivamente para que o tradutor tivesse condições de realizar
melhor a sua tarefa.
Nida (1964) aplicou também o modelo da comunicação à tradução, com maior sucesso,
acredito, pois, em lugar de um confronto entre duas línguas, orquestrado por um autor ausente,
mas plenipotenciário, seu modelo introduz na tradução as figuras do leitor e do próprio tradutor
como intermediário do ato comunicativo.
Assim, são diminuídos os poderes do autor, que passa a se curvar às necessidades do
leitor, o que considero vital, pois elimina a tradução tão fiel ao original que é incompreensível
para o leitor e porque valoriza a figura do tradutor.
Catford (1965, q.v. 2.1.3) aplica o modelo da teoria da linguística geral de Halliday à
tradução mas, ao meu ver, com pouco sucesso, já que explicita em grande detalhe procedimentos
pouco usados – (como a tradução fonológica e a tradução grafológica, q.v. 2.1.3, p. 36-37) ou
impossíveis de utilizar na prática (como a tradução exclusivamente gramatical e a tradução
exclusivamente lexical, q.v. 2.1.3, p. 37), que talvez possam ser úteis em algum tipo de texto
metalingiiístico, com a finalidade de realização de uma análise con-trastiva – deixando de lado
uma série de outros procedimentos de grande utilidade para o tradutor e examinados pelos
demais autores (pág. 109) e que, em sua descrição, ficam englobados indistintamente naquilo
que denomina tradução livre (qj?, 2.1.3, p. 38-39).
Newmark (1981, 1988, q.v. 2.1.5) emprega a teoria das funções da linguagem em seu
modelo, embora sem conseguir alterar a disposição dos procedimentos técnicos da tradução em
BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 62

dois eixos dicotômicos, o da tradução semântica e o da tradução comunicativa (q.v. 2.1.5, p. 52)
como foi visto no presente capítulo, acima, nem a ordem de apresentação, idêntica à de Vinay e
Darbelnet (1977).
No entanto, acredito que é na conceituação da teoria das funções da linguagem, da
tipologia dos textos e da finalidade das traduções que está a chave para a solução da tensão entre
a tradução literal e não literal, que é, ao mesmo tempo, a tensão entre o conteúdo e a forma. Isto
porque é a definição destes fatores que permitirá a decisão de qual modo de traduzir será
adequado em cada caso. Conforme o foco se deslocar ao longo desses elementos será escolhido o
modo de traduzir adequado, não dicotomicamente entre tradução literal e não literal, mas
passando por toda uma gama de modos de traduzir variados que se encontram entre estes dois
pólos: mais literal se o foco recair sobre o autor, menos literal se cair sobre o leitor, e assim por
diante.
Este aspecto não foi tratado exaustivamente no presente trabalho, por estar fora de seus
objetivos. É a este assunto, todavia, que pretendo dedicar minha atenção no futuro.
Finalmente, concluí que a categorização dos procedimentos técnicos da tradução proposta
por Vinay e Darbelnet (1977) e a hierarquização proposta em termos da dificuldade de execução
pelo tradutor deixam a desejar quanto a sua utilidade para o ato de traduzir e o ensino da
tradução.
A categorização dos procedimentos técnicos da tradução ao longo de dois eixos
diametralmente opostos, no meu entender, não reflete o que ocorre na tradução, que, acredito,
deve ser executada em vários graus diferentes de literalidade e não-literalidade, conforme a
situação, o que expus acima. Não refletindo o que de fato ocorre, uma categorização não pode
ser útil para o tradutor ou o aprendiz de tradução.
(pág. 110)→ A ordem em que são expostos os procedimentos técnicos da tradução
tampouco pareceu-me útil para o tradutor ou para o aluno de tradução. Isto porque sua
hierarquização do mais fácil para o mais difícil apenas ilusoriamente atende aos interesses do
tradutor, pois este raramente é o foco da tradução – talvez o seja na tradução recriativa da poesia
onde, acredito, o poema (TLO) é usado quase que apenas como inspiração para o tradutor criar
seu próprio poema (cf. entrevista de Jorge Wanderley em "Sem Censura", TVE, 19/01/89).
Por outro lado, os dois procedimentos colocados por Vinay e Darbelnet (1977) como os
mais fáceis (o empréstimo e o decalque) não são tão fáceis na realidade (q.v. 4.1) e sua
utilização, ao meu ver, é muito restrita na prática.

Constatei também que havia discrepâncias, sobreposições e confusões entre as descrições


dos procedimentos técnicos da tradução efetuadas pelos vários autores examinados.
Assim sendo, procedi, primeiramente, a uma recaracterização dos procedimentos técnicos
da tradução em que procurei sanear as dificuldades que encontrei. O resultado deste
empreendimento foi apresentado no Capítulo 3. Espero que esta parte de meu trabalho seja útil
para tradutores, professores e alunos de tradução e pesquisadores da área, no sentido de ter
deixado mais claro o que são os procedimentos descritos, e de que a descrição seja abrangente
suficiente para recobrir o que de fato ocorre nas traduções.
Em seguida, examinei duas propostas de recategorização dos procedimentos técnicos da
tradução. A primeira delas prendeu-se à frequência de utilização dos mesmos nas traduções,
proposta que me pareceu útil porque refletiria o que realmente acontece nas traduções. No
entanto, verifiquei ser impossível viabilizá-la com o conhecimento atual de que dispomos e da
literatura existente.
A outra proposta gira em torno do grau de divergência entre as línguas em
confronto no ato da tradução. Parece-me ser esta a proposta mais adequada, pois
BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 63

eliminaria a tensão entre tradução livre e literal, proporcionando uma passagem suave de
um eixo para outro, como no caso da tradução literal para a transposição.
(pág. 111) → Além disso, a seleção dos procedimentos técnicos da tradução passaria a
ser informada péla teoria das funções da linguagem, pelo tipo de texto e pela finalidade da
tradução. Sob esta ótica, todos os procedimentos são igualmente válidos, quer sejam
extremamente literais ou totalmente livres, pois já não seriam escolhidos arbitrariamente.

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NOTAS
1. A primeira edição desta obra é de 1958. Para este trabalho foi utilizada a edição revista
e aumentada de 1977.
2. No dizer de Mounin (1975:20), inclusive: 'Pelo que sabemos, J. P. Vinay e J.
Darbelnet foram os primeiros a se dispor a escrever um compêndio de tradução que reivindicasse
um status científico.
3. Algumas obras de Bally: Traité de stylistique française, Paris, Klincksieck, 1909; Le
langage et la v/e, Genebra, Atar, 1913, Linguistique générale et linguisíique française, Paris, E.
Lerous, 1932 (apud Dubois et ai, 1978), além de ter sido um dos organizadores do Curso de
linguística geral, Saus-sure (1972).
4. "Magistrado encarregado de investigar casos de morte suspeita" (cf. Houaiss e Avery,
1981:133).
BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 67

5. Newmark (1981, 1988) refere-se a esta retradução como back translation test, que
demonstraria ser uma tradução a melhor possível, em termos de ser fiel ao mesmo tempo ao
conteúdo e à forma do original.
6. RIEU, E. V. e PHILLIPS, J. B. Translating the Gospels. Concórdia Theol. Monthly
25:754-765. 1954. Apud Nida (1964:159).
7. Segundo Arrojo (1986:22): "...ainda que um tradutor conseguisse chegar a uma
repetição total de um determinado texto, sua tradução não recuperaria nunca a totalidade do
"original"; revelaria, inevitavelmente, uma leitura, uma interpretação desse texto que, por sua
vez, será, sempre, apenas lido e interpretado, e nunca totalmente decifrado ou controlado."
8. Catford (1965:1) remete o leitor para Halliday, M. A. K., "Categories of the theory of
grammar," Word, Vol. 17, N°. 3, 1961, pp. 241-92; e Halliday, M. A. K. et al. The linguistic
sciences and language teaching, Longmans, 1964.
9. O termo "mudanças" foi utilizado na tradução brasileira (cf. Catford, 1980:82) para o
termo shift em LO, que vem a ser o mesmo utilizado por outros autores (por exemplo, Newmark,
1981) para traduzir o termo transposition utilizado por Vinay e Darbelnet (1977).
10. Na literatura disponível, só encontrei uma tentativa de caracterização do erro
tradutório em Gouadec (1974:9), onde estes são classificados em três tipos: non-sens
(não-senso), contresens (contra-senso) e faux-sens (falso-senso).
11. BUHLER, K. Die Sprachtheorie. Fischer, Jena, 1934, apud Newmark (1981).
12. FREGE, G. "Sense and reference." In: GEACH, P. e BLAK, M. Trans-lations from
the philosophical writings of Gottlieb Frege. Blackwell, Oxford, 1960, apud Newmark
(1981:14).
13. Aqui entendido como um adjetivo derivado de idiotismo em sentido lato, "os traços
linguísticos de uma língua, que melhor a caracterizam em face das outras que lhe são cognatas"
(cf. Câmara Júnior, 1977:142).
14. Os empréstimos de tipos frasais são tratados sob a rubrica do decalque, de acordo
com o modelo de Vinay e Darbelnet (1977, q.v. 3.12).
15. De acordo com Cavalcanti (1986:7), na técnica de protocolo verbal, o informante
verbaliza seu pensamento durante a solução de um problema. No protocolo de pausa, a
verbalização só ocorre quando o informante se dá conta do que está fazendo, ou porque
encontrou um problema ou porque achou algo digno de nota. O linguista grava esses protocolos,
ana-lisa-os e interpreta-os qualitativamente.

POSFÁCIO
Os Procedimentos Técnicos da Tradução catorze anos depois

Os dois mil exemplares que compuseram a primeira edição dos Procedimentos técnicos
da tradução, publicada em 1990, esgotaram-se em cerca de quatro a cinco anos. Foi uma boa
carreira para um livro académico no Brasil. Como deixei o País logo após a publicação, para
fazer o doutorado na Inglaterra, na Universidade de Warwick, onde fiquei quatro anos, o livro
ganhou vida própria, sem interferência minha, sem lançamentos, sem propaganda.
Catorze anos se passaram, e parece tratar-se de um livro que fez história, que, acredito,
deixou uma marca nos estudos da tradução do Brasil: é utilizado em cursos de graduação e
pós-graduação de um lado a outro de nosso território– e até em Portugal (cf. MAGALHÃES,
BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 68

1996). O livro figura na bibliografia de inúmeras dissertações, teses e artigos. Mereceu uma
resenha por Pedro de Moraes Garcez (1992) e outra por José Luiz Vila Real Gonçalves (1996).
A recepção do meu trabalho parece demonstrar que o livro veio preencher uma lacuna na
área de treinamento em tradução, uma lacuna que não foi ainda preenchida totalmente, apesar da
rica bibliografia internacional para o ensino da tradução e de uma obra da qualidade de Traduzir
com autonomia (ALVES, MAGALHÃES e PAGANO, 2000) ter sido publicada dez anos mais
tarde, no Brasil.
O germe do livro Procedimentos técnicos da tradução foi minha dissertação de
mestrado8. Pelas mãos da Profa. Dra. Marcella Mortara, encontrei a obra de Jean-Paul Vinay e
Jean Darbelnet, Stylistique comparée du français et de 1'anglais: méthode de traduction, de
1958. Esta obra pareceu-me abordar a tarefa do tradutor de um modo mais claro do que qualquer
outra disponível no Brasil, naquele momento. E tratava da tradução com um forte embasamento
teórico, calcado na estilística, propondo fornecer as bases para desvendar o modo como um
tradutor trabalha para obter os melhores resultados possíveis. Tendo eu migrado, como tantos
outros, do mundo da prática para a teoria, sendo, além de tradutora, professora de tradução, era
necessário que encontrasse uma base teórica sólida que fundamentasse não somente minha
pesquisa como, também, meu exercício da profissão. Por isso, a praticidade da obra de Vinay e
Darbelnet me atraiu tanto.
Naquela época, havia muito poucas publicações sobre tradução no Brasil. Tomando como
base uma bibliografia compilada por Waltensir Dutra, tradutor, presidente do Sintra, consegui
levantar praticamente a totalidade do que havia sido publicado sobre tradução no Brasil até aque-
le momento, desde a obra pioneira de Breno da Silveira (1954) e de Paulo
Rónai(1952,1970,1976, 1981) publicadas originalmente nos anos 1950 - estando as de Rónai
ainda disponíveis no mercado em re-edições -, chegando aos trabalhos mais recentes (naquela
altura), do professor Erwin Theodor Rosenthal (1976), de Agenor Soares dos Santos (1977,
1981) e do Prof. Delton de Mattos (1980, 1981, 1983), passando por algumas das mais recentes
dissertações e teses produzidas no Brasil sobre o tema, por exemplo: Alves (1983), Coelho
(1988), Cubric (1984), Fregonezi (1984), Mendonça (1982), Queirós Filho (1976) e Wanderley
(1983).
Pouquíssimas obras internacionais de peso haviam sido traduzidas para o português até
então. Entre elas estavam A Linguistic Theory of Translation de J. C. Catford, traduzida por um
grupo de alunos da PUC de Campinas, La traduction cientifique et technique, de Jean Maillot,
traduzido por Paulo Rónai, e Les problèmes théoriques de la traduction de Georges Mounin,
traduzido por Heloysa de Lima Dantas.
Havendo-as lido e estudado, cheguei à conclusão de que algumas dessas obras não me
seriam úteis, particularmente as nacionais mais antigas. Essas pertencem a uma tradição que
denomino humanista-beletrista: seus autores são homens (em geral, homens, não mulheres)
extremamen-. te cultos, poliglotas, amantes das belas letras, que relatam sua experiência como
tradutores e tentam ditar normas para a tradução. Mas essas prescrições refletem apenas o seu
gosto pessoal, revela-os como "homens de seu tempo", servindo de muito pouco como
sustentação seja de uma teoria da tradução, seja de uma prática da tradução no dia-a-dia.
Tornava-se necessário encontrar obras que não fossem apenas uma coleção de
impressões, mas que, ao contrário, se respaldassem em um suporte teórico. Ao mesmo tempo,
queria encontrar algo que fosse também ancorado na prática tradutória, ao contrário da obra
teórica de Mounin (1975), por exemplo. Decidi, então, que, dentre as obras disponíveis, a de
Vinay e Darbelnet era a que melhor atendia meus anseios, particularmente ao descrever os
procedimentos técnicos da tradução. Já havia, inclusive, alguns estudos brasileiros do fazer

8 BARBOSA, Heloísa Gonçalves. Os procedimentos técnicos da tradução: uma proposta de recategorização, dissertação de mestrado. Rio
de Janeiro: Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1989. Mimeo.
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tradutório com base nesses autores, destacando-se os estudos do Prof. Francis Aubert e de seus
alunos da USP, continuados até bem recentemente pela professora Diva Camargo (2001 ),9 bem
como artigos seminais das professoras Eliane Zagury e Maria Arminda Sousa-Aguiar
(ZAGURY, 1975; SOUSA-AGUIAR, 1980).
No entanto, alguns conceitos de Vinay e Darbelnet não me deixavam completamente
satisfeita. Tentei achar outras obras que pudessem me servir de balizamento para um estudo
detalhado dos procedimentos técnicos da tradução. Afinal, selecionei o trabalho teórico de
Catford (1965, 1980), já publicado em português, alguns trabalhos dos teóricos de base
linguística, ancorados na prática da tradução da Bíblia, de Eugene Nida (1964, 1975, 1982) e as
obras também teóricas de Peter Newmark (1988, 1981), que já circulavam no Brasil, embora
nunca tenham sido traduzidos para o português. Escolhi usar também o trabalho de
Vázquez-Ayora (1977), que fazia uma revisão da proposta de Vinay e Darbelnet estudando outro
par de línguas, o inglês e o espanhol, calcado em seu trabalho na OEA.
Assim, meu trabalho tomou forma: de início, uma cuidadosa comparação entre os
modelos de tradução propostos pelos quatro autores seleci-onados (Catford, Nida, Newmark e
Vmay e Darbelnet), seguida por uma análise detalhada daquilo que propunham como
procedimentos técnicos da tradução. Finalmente, uma proposta de caracterização de quinze
procedimentos técnicos da tradução, bem como de uma categorização desses procedimentos, ou
seja, de sua distribuição não em uma tensão dicotômica (tal como a que se estabelece entre
conceitos como frio e quente) entre a tradução literal se contrapondo à tradução livre, mas com
uma distribuição ao longo de um fluxo contínuo que abrange desde as mínimas até as máximas
divergências (tal como variações de temperatura) entre dois sistemas linguísticos, dois estilos e
duas realidades extra-lingúísticas.
A grande contribuição de meu trabalho, portanto, é a tentativa de ruptura com a tradição
clássica dos estudos tradutológicos que consideram as traduções e seus procedimentos como
sendo simplesmente "livres" ou "literais" (ou "tradução direta" vs. "tradução indireta", na ex-
pressão de Vinay e Darbelnet). Tentei demonstrar que tal dicotomia não é válida e que os
procedimentos tradutórios podem, na verdade, ser escolhidos de acordo com a proximidade ou
distância entre os sistemas linguísticos envolvidos em um ato tradutório e entre as realidades
extra-lingiiísticas que representam. Assim fazendo, desestruturei a organização dos
procedimentos técnicos da tradução feita por Vinay e Darbelnet.
Esses autores hierarquizam os procedimentos técnicos da tradução de acordo com a
dificuldade de aplicação que representam para o tradutor, colocando o empréstimo em primeiro
lugar, como sendo o procedimento mais fácil. De acordo com os autores, para utilizar o em-
préstimo, tudo o que o tradutor tem a fazer é copiar uma palavra ou expressão. Minha colocação,
ao contrário, é de que este é o mais difícil procedimento de todos, uma vez que parece ser
utilizado quando a distância entre dois sistemas linguísticos e sua realidade extra-lingúística é tão
grande que a comunicação fica prejudicada e o único recurso do tradutor (sem dúvida depois de
muitas tentativas infrutíferas) é copiar um item linguístico que será ininteligível para os leitores
do texto meta. Não se trata portanto, de mera cópia, mas de luta perdida na negociação do
sentido.
Demonstrando isso, retiro o tradutor da posição de mero copista e liberto seus poderes de
seleção e criação. Deste ponto de vista, o tradutor adquire o poder de trabalhar não somente no
enquadre da tradução literal vs tradução livre, mas, também, a possibilidade de mover-se à
vontade ao longo de um eixo onde se dispõem quinze procedimentos tradutórios de igual peso e
relevância.
Desta maneira, parece justificar-se a utilização de Procedimentos técnicos da tradução

9 Observando-se que tais pesquisadores utilizam o termo "modalidades" de tradução ao se referirem aos procedimentos técnicos da
tradução descritos por Vinay e Darbelnet.
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no ensino porque, quando o aluno iniciante defron-ta-se com uma série de procedimentos
tradutórios viáveis e válidos, quer .- dizer, com muitas maneiras possíveis de traduzir, tem-se a
impressão que se abre diante dele um mundo de possibilidades. Isto parece indicar que há, entre
os iniciantes, um certo medo do texto original que os faz pensar que devem traduzi-lo
estritamente palavra por palavra, mesmo que este modo de traduzir produza unj texto
ininteligível em língua meta, como demonstra não só a minha própria prática pedagógica como
também a de muitos docentes que me relatam suas experiências.
Para tais alunos, tomar consciência dos quinze procedimentos técnicos da tradução que
recaracterizei e recategorizei é descobrir que são livres para manipular o texto fonte de várias
maneiras a fim de obter um texto meta que atinja os objetivos almejados - ligados ao registro e
ao estilo adequados em vista do público a que o texto meta se destina. Como afirma Rosemary
Arrojo:
Se o que futuros tradutores devem aprender, em última instância, é como fazer traduções
que sejam aceitáveis e celebradas dentro da comunidade cultural em que desejam atuar e
já que não é humanamente possível ensinar-lhes tudo que há para se saber –
simplesmente porque não existe tal possibilidade de conhecimento - a única abordagem
realista ao ensino de tradução deve se concentrar no esforço de fornecer aos futuros
profissionais um aparato crítico que lhes permita descobrir que tipo de estratégia deve ser
empregada em cada projeto tradutório que decidirem realizar. (Arrojo, 1993: 147-48)
Assim, é importante ressaltar que os procedimentos técnicos da tradução descritos não
constituem um receituário, um livro de receitas para a tradução, como se uma pitada de
equivalência, uma colherzinha de transferência, um raminho de modulação pudessem fazer de
um texto uma tradução "perfeita". Ao contrário, traduzir é uma constante descoberta, um
constante "lidar com o novo" (cf. BARBOSA e CALDAS, 2001) que exige sensibilidade
linguística e capacidade de pesquisa.
Por tal motivo, é importante deixar claro que a palavra "modelo", que emprego no livro,
não deve ser interpretada como "molde", "forma", "padrão", "gabarito". Quando falo em
"modelos da tradução", discuto construtos teóricos que visam tentar circunscrever e definir um
objeto de estudo e fornecer uma base sólida, mesmo que temporária, aos estudiosos de uma
ciência. Um exemplo claro é o modelo do sistema solar que usamos hoje, com o sol no meio e os
planetas em volta. Podemos mesmo construir um modelinho, com bolinhas e arame, que nos
deixe ver como é esse universo - mas, mesmo assim, nossa faculdade de montar um modelo não
nos permite fazer com que modifiquemos o modo como a realidade se comporta: não podemos
dizer ao sol, "Ponha-se no leste". Note-se, também, que um modelo não é uma teoria: a teoria
explica o por quê das coisas. O modelo nada explica, as bolinhas que representam o sol e a lua
podem girar no arame, mas se continua sem saber por quê. A explicação é função da teoria (cf.
BARBOSA, 2001).
A teoria linguística, porém, até hoje, não foi capaz de dar conta do fenómeno da tradução.
Desde Mounin (1975) a Umberto Eco (2004) se manifesta, em um embate entre a teoria e a
prática, a incapacidade de, sequer, decidir se a tradução é possível ou não:
Entre o argumento puramente teórico de que, uma vez que as línguas têm estruturas
diversas, a tradução é impossível, e o reconhecimento do senso comum de que, afinal, as
pessoas, no mundo, realmente traduzem e entendem umas às outras, parece-me que a
ideia de tradução como um processo de negociação (entre autor e texto, entre autor e
leitores, bem como entre a estrutura de duas línguas e as enciclopédias de duas culturas)
é a única que corresponde a nossa experiência. (ECO 2004:12) [minha tradução]
Aqui, Eco caracteriza a tradução como um "processo". Uma visão consistente com a da
vasta maioria dos pesquisadores da área hoje. Para a descrição dos procedimentos técnicos da
tradução os autores analisados por mim, bem como virtualmente a totalidade das pesquisas
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desenvolvidas até o final dos anos 1980, partiam de traduções prontas, quer dizer, de produtos
finais, sem se voltar para o processo da tradução. Quer dizer, até há cerca de catorze anos atrás,
era o cotejamento entre originais e traduções que embasava a pesquisa e permitia inferir o modo
como tradutores trabalhavam. Não se analisavam rascunhos, prefácios, posfácios, anotações; não
se faziam entrevistas; não se tomavam depoimentos; não se registrava o processo tradutório, quer
por meio de gravações de áudio ou vídeo, ou através de programas de computador. Não se
faziam estudos de corpus. Não se utilizava metodologia de pesquisa introspectiva, não se
acessavam os processos mentais dos tradutores por meio de protocolos de relato verbal, como se
faz atualmente (cf. PAGANO, 2001 e ALVES, 2003).
As relevantes questões levantadas por Vinay e Darbelnet e pelos demais autores
estudados neste livro (os procedimentos técnicos da tradução, a unidade de tradução, as
modalidades de tradução adequadas para cada tipo de texto, por exemplo) são ainda questões
primordiais de que se ocupam os pesquisadores da área, havendo mudado somente as
ferramentas de pesquisa. Ainda hoje, minha própria investigação se dedica a um refinamento
desses conceitos. Enfoco todos estes aspectos, agora agrupados sob a perspectiva de estratégias
da tradução, e investigo a tradução como processo (cf.'BARBOSA, 1996,1999,2003, BARBOSA
e CALDAS, 2001, 2002; BARBOSA e NEIVA, 1997, 2003). E, para minhas reflexões, bem
como para tantos que hoje se iniciam na arte, na técnica e na pesquisa do processo tradutório, os
Procedimento técnicos da tradução ainda são um excelente ponto de partida.

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