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NARRATIVAS E RECONHECIMENTO: OS RELATOS DOS PRIMEIROS

BATISTAS NO RIO GRANDE DO SUL ATRAVÉS DO JORNAL BATISTA


PIONEIRO (1919-1927).

Rogério Saldanha Corrêa


Doutorando em História

Resumo:
O que são métodos biográficos? Coamo interpretar o outro a partir de relatos, narrativas, que
contam sua vida? Franco Ferrarotti é um dos principais atores que tem se empenhado na
averiguação dessas questões. Segundo o autor (2010), o interesse crescente nos últimos anos
pelo debate acerca do método biográfico existe por uma dupla exigência. De um lado, à
necessidade de renovação metodológica, em decorrência de uma crise generalizada dos
instrumentos metodológicos da sociologia. Por outro viés, esse método corresponde à demanda
de uma nova forma de pesquisa, que vem de vários setores para conhecer a vida ordinária, ou
seja, a vida cotidiana, visando compreender de que maneira os sujeitos interpretam a si mesmos
e o outros em suas vidas. Nesse sentido, analisando as publicações inicias de O Jornal Batista
Pioneiro (1919), órgão oficial da Convenção Batista Pioneira, visamos compreender a formação
da religião batista no Rio Grande do Sul, sobretudo, sua luta pelo reconhecimento no campo
religioso.

Palavras-chave: Religião; Mídia Impressa; Reconhecimento; Batistas; Narrativas

DISCUSSÕES INICIAIS

Conforme Ferrarotti (2010) enfatiza, pesquisar a partir de uma biografia tem pontos
subjetivos e que precisam ser interpretados com cuidado, porque através desta metodologia, o
pesquisador lê a realidade de um ponto de vista de um sujeito historicamente determinado,
situado em um momento no tempo e no espaço, ou seja, interpretações pré-determinadas podem
ocorrer se o pesquisador carregar conceitos vividos por ele mesmo ao investigar uma narrativa.
O autor também aponta que as fontes estão, geralmente, sujeitas a inúmeras
“deformações”, como pontua o autor: se for uma fonte escrita, o sujeito que narra sua história
se encontra e desencontra inúmeras vezes no decorrer da narrativa. Nas fontes orais, a relação
entre entrevistador e entrevistado deve ser observada, a influência em um tom de voz de uma
pergunta e até mesmo a relação entre os dois sujeitos. Estes pontos citados não podem ser
metrificados, ou seja, criar um cronograma determinado para agir em determinadas situações,
cada percalço é único de cada pesquisa, cada desafio e narrativa são singulares.
Nesse sentido, o autor supracitado reflete sobre as questões da história social e
individual dizendo que a subjetividade significa admitir que a vida humana está em constante
simbiose com a história social. Uma vez que, de fato, o caráter de síntese da práxis humana
concentra todo um sistema social, ou seja, o social está presente em cada um de nossos atos,
desejos, comportamentos e narrativas. Por isso, utilizaremos as narrativas presentes nas
primeiras edições de O Jornal Pioneiro Batista, afim de compreender os discursos contidos
nesse dispositivo impresso.

NARRATIVAS DE SI E/PARA O OUTRO


Ricoeur (1991) constrói uma teoria afim de entender e refletir sobre uma hermenêutica
do si, onde coloca em xeque uma identidade de si e uma identidade narrativa. Nesse sentido o
autor discorre:
O entendimento do si é um interpretação; tal interpretação se encontra na
narrativa, entre outros símbolos e signos uma mediação privilegiada; esse
último, empréstimo à história tanto quanto à ficção fazendo da história de uma
vida uma história fictícia ou, se preferirmos, uma ficção histórica,
entrecruzando o estilo historiográfico das biografias com o estilo romanesco
das autobiografias imaginarias (RICOEUR, 1991, p. 138).

Como pode ser observado no texto citado acima, a hermenêutica do si, juntamente com
a questão sobre a narrativa do si, por vezes desdobram-se em cruzamentos de conhecimentos
distintos, como historiografia, a autobiografia e a biografia. O autor também enfatiza a relação
entre narrativa e temporalidade: ao narrar uma história os sujeitos estão, inevitavelmente,
fazendo uma reconstrução de suas histórias. Todo sujeito tem uma história, que se pronuncia
com sua narrativa, embasando-a e dando sustentação ao quadro narrativo. Nesse sentido, a
mesmidade e a ipseidade ganham destaque, na tensão do que se é narrado. Segundo o autor: “o
si procura sua identidade: entre as ações curtas, às quais se limitam nossas análises anteriores
sob o constrangimento da gramática das frases de ação, e a conexão de uma vida” (RICOEUR,
1991, p. 139).
Em relação à mesmidade, para o autor, é o idem, não existe sozinha. Somente pode ser
avaliada com sua reação com o tempo, é uma permanência de traços e memórias específicas,
que se mantém como uma recusa das mudanças. São memórias que se conservam com o passar
dos anos, que muitas vezes numa narrativa são trazidas para pontuar questões como o caráter,
por exemplo. Já a ipseidade busca trazer as questões como a manutenção do si pela diferença,
o sujeito busca sua identidade a partir de trocas com outros sujeitos, através da alteridade.
Nessa relação, o autor tem em vista que a ipseidade é um tipo de permanência de si
através das relações interpessoais, ou seja, a relação do sujeito com outros sujeitos mediados
pela alteridade. Onde, nessa relação se mantém a intenção de realizar um diálogo, respeitando
as diferenças e compreendendo-as, para, a partir dessa socialização, alcançar a mudança. A
ipseidade constitui uma identidade deliberadamente articulada pelo diferente, pelo outro, mas
que sempre relaciona o outro para a manutenção do si.
Tratando-se de identidade narrativa, pode-se dizer que a mesma está intimamente ligada
à discussão anterior, do ipse e do idem, segundo o autor, para compreendermos a história de
vida de um sujeito devemos estabelecer uma conexão entra uma teoria narrativa e as relações
de uma identidade pessoal, que juntas, apresentam uma identidade narrativa. As histórias são
narradas pelas pessoas ao seu próprio respeito, nas palavras do autor: “Pareceria, plausível
considerar válida a cadeia seguinte de asserções: a compreensão de si é uma interpretação; a
interpretação de si, por sua vez, encontra na narrativa, uma mediação privilegiada” (RICOEUR,
1991, p. 138).
Nessa perspectiva, O Batista Pioneiro tem seu início em 1919, mas com o nome de
Nachrichtenblatt, editado pelo Pr. Johann Landenberger, secretário da Convenção Pioneira.
Nachrichtenblatt era um folhetim com o intuito de informar aos membros das igrejas no Estado
e no sul do país. O primeiro exemplar informa dados para outras igrejas da mesma congregação,
sendo um dispositivo de comunicação entre elas. O folhetim foi uma prévia do que vinha a
seguir, nascendo então, GrüssGott, criado a partir de uma necessidade de as igrejas trocarem
informações, facilitando a integração entre diferentes locais.
O primeiro exemplar surge em 1919, com oito páginas, contendo notícias e artigos. O
jornal tem seu nome modificado em junho de 1922, e passa a se chamar Der Missionsbote,
trazendo consigo uma alteração entre os editais, passando a também divulgar os números de
fieis e de novas igrejas batistas no Estado. Contudo, o periódico sofre com as mudanças de
cenário político, principalmente com as leis de nacionalização impostas por Getúlio Vargas, no
final da década de 30. Mesmo com algumas alterações nos editais de publicação, como
acréscimo de páginas em português (inicialmente poucas laudas eram destinadas à língua
portuguesa), não foi suficiente para a manutenção da mídia impressa, que em 1948, teve que
encerrar suas atividades, retomadas em 1951.

RECONHECIMENTO
O estudo do reconhecimento, num período moderno, busca a compreensão do
reconhecimento entre sujeitos, tendo como alicerce o poder e o trabalho, é inicialmente
desenvolvido Friedrich Hegel (1770-1831), com sua descrição, em nível especulativo, da
dialética efetiva das relações entre o senhor e o servo, como foi expresso nos textos de juventude
do filósofo. E em sua análise da luta pelo reconhecimento, Honneth começa sua tese a partir
do pensamento de Hegel.
O autor diz que os sujeitos dependem de três formas de reconhecimento mútuo, que
necessitam ser correspondidos: a primeira forma, o amor, depende do reconhecimento afetivo
para que os sujeitos possam desenvolver, através da confiança, laços afetivos. Outro aspecto, o
direito tem como necessário o reconhecimento na jurisprudência para que o indivíduo se
perceba como integrante de um nicho social. Por último a eticidade depende do reconhecimento
social para que o sujeito se ache detentor de habilidades e talentos valiosos para a sociedade.
Nesse viés, O Jornal Batista Pioneiro, buscando um reconhecimento menos conflituoso,
se comparado a outras denominações protestantes no período, procura na esfera política
respaldo para manutenção de seu grupo. Fato que pode ser observado em relato registrado no
Jornal, com publicação em fevereiro de 1925, o Pr. G. Henke, redator da notícia, informou das
dificuldades da passagem de ano novo, devido à revolta da coluna Prestes, nas palavras do
pastor:
Ao final do ano, de forma costumeira nos reunimos na casa de Deus e
passamos ali, como já é tradicional, as últimas horas do ano que está findando.
Como os nossos irmãos de outras igrejas foram impedidos de comparecer
devido aos acontecimentos da revolução, só tivemos um pequeno grupo de
pessoas presentes. (Der Missionsbote, 06, 1925, p. 3). Tradução Pr. Alfredo
Reinke .

De forma geral, as narrativas no jornal impresso apontam para um discurso brando, que
busca a manutenção da religião no Estado. Fato que se explica pelo cenário do campo religioso
do Rio Grande do Sul à época. Em menores números, e com baixa articulação política, pelo
menos no início dos trabalhos, os batistas no Estado são cautelosos em cada palavra publicada,
buscando ao máximo evitar conflitos.

BLIBLIOGRAFIA

FERRAROTTI, Franco. Sobre a autonomia do método biográfico. In: NÓVOA,


António; FINGER, Matthias (Org.). O método (auto)biográfico e a formação. Natal, RN:
EDUFRN; São Paulo: Paulus, 2010.

HONNETH, Axel. Luta por reconhecimento, a gramática moral dos conflitos


sociais. Rio de Janeiro: Editora 34, 2009.

RICOEUR, P. A memória, a história, o esquecimento. Tradução de Alain François.


Campinas: Editora da UNICAMP, 2007.

______. O si-mesmo como um outro. Tradução de Lucy Moreira Cesar. Campinas:


Papirus, 1991.

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