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ISSN: 2527-1288

Recebido em: 20/02/2018 Aceito em: 07/05/2018


Autor para contato: rafaeldetilio.uftm@gmail.com doi: 10.17058/psiunisc.v2i2.11671

Análise do Processo Discursivo das Produções Artísticas de um Movimento Estudantil


Análisis del Proceso Discursivo de las Producciones Artísticas de un Movimiento Estudiantil
Analysis of the Discursive Process of a Student Movement Artistic Production

Rafael De Tilio
ORCID: http://orcid.org/0000-0002-4240-9707
Universidade Federal do Triângulo Mineiro - Minas Gerais/Brasil

Resumo
Discursos produzidos pelos movimentos estudantis universitários circunscrevem reivindicações
políticas, éticas e estéticas não limitadas às demandas da educação. Essa pesquisa teve como objetivo
compreender o processo discursivo (o estabelecimento de efeitos de sentidos) das produções artísticas
de membros de um movimento estudantil numa universidade pública em 2014. O arquivo de análise
possui 482 imagens (desenhadas no espaço físico da universidade) fotografadas e analisadas a partir
da Análise de Discurso de Pêcheux. A análise visou: (1) a constituição do objeto discursivo, e (2) a
elucidação do processo discursivo, sendo este enfatizado. Os discursos apontam para a constituição de
um efeito de sentido de universalização (o movimento estudantil composto por todos os universitários)
das reivindicações para redistribuir as relações de poder naquele cenário. Para tanto, aqueles discursos
estão apoiados em referenciais (interdiscursivos) disponíveis na cultura considerada ilustrada e não-
alienada e na ideologia, fomentando a luta política como estratégias de transformação social
daquele/naquele contexto.
Palavras-chave: Arte; Discurso; Políticas de educação superior; Linguagem.
Resumen
Discursos producidos por los movimientos estudiantiles universitarios circunscriben reivindicaciones
políticas, éticas y estéticas no limitadas a las demandas de la educación. Esta investigación tuvo como
objetivo comprender el proceso discursivo (el establecimiento de efectos de sentidos) de las
producciones artísticas de miembros de un movimiento estudiantil en una universidad pública en 2014.
El archivo de análisis posee 482 imágenes (dibujadas en el espacio físico de la universidad)
fotografiadas y analizadas a partir del Análisis de Discurso de Pêcheux. El análisis dirigido a: (1) la
constitución del objeto discursivo, y (2) la elucidación del proceso discursivo, que se enfatiza. Los
discursos apuntan a la constitución de un efecto de sentido de universalización (el movimiento
estudiantil compuesto por todos los universitarios) de las reivindicaciones para redistribuir las
relaciones de poder en aquel escenario. Para ello, esos discursos están apoyados en referenciales
(interdiscursivos) disponibles en la cultura considerada ilustrada y no alienada y en la ideología,
fomentando la lucha política como estrategias de transformación social de aquel / en ese contexto.
Palabras clave: Arte; El habla; Políticas de educación superior; Idioma.
Abstract
The discourses produced by university student are circumscribing for political, ethical, and aesthetic
claims, but they are not limited to educational demands. This research aimed to understand the student
movement artistic productions speeches (senses effects) in a public university in 2014. 482 images

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(drawn in that university) were photographed and analyzed from Pêcheux Analysis of Discourse. Thus,
this corpus was treated aiming at the constitution of the discursive object and the discursive process.
The discourses reflects (despite the diversities actors gathered in the student movement) an attempt to
universalize the struggle to promote innovates power relations in that scenario. Besides, these
discourses are influenced by interdiscourse and ideology, supported by (interdiscursive) references
available in the illustrated culture (literature, music, and art), fostering the establishment and
maintenance of militancy and political struggle as strategies of social transformation in that context.
Keywords: Art; Speech; Higher education policy; Language.
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Introdução seja, o estranhamento, o desconforto e a


necessidade de refletir sobre ela para poder
A arte pode ser compreendida como a apreciá-la. Ainda para Coli (2015), a função
tradução, mediante adequação ou precípua da arte é promover o incômodo
questionamento, da cultura, tradição e visando à produção da reflexão (a
identidade de uma sociedade. Isso estabelece transformação da experiência do observador), e
uma relação entre a produção cultural de um não sua pacificação. É assim que ela se desloca
grupo social e o meio (sociedade) em que se da mera representação da realidade para a
encontra (Gianvecchio, 2008). Ainda para intencionalidade em provocar efeitos
Gianvecchio (2008), em diversos momentos na subversivos nos espectadores de forma que não
história, a arte assumiu a função de retratar os é apenas consumida como apreciação estética,
acontecimentos da realidade e refletir sobre mas imbuída da pretensão em estabelecer
eles. Nessa trajetória, podemos ver exemplos de relações éticas e/ou políticas transformadoras
diversificadas formas de violências sofridas (Benjamin, 2014).
pela sociedade, tais como violações no corpo,
na escrita, no pensamento e na organização Assim, para Coli (2015), desde a
social dentre outros. modernidade, a arte (e de maneira mais
evidente na arte pós-moderna) o campo da
Mas o que define uma obra de arte? Para estética não pode ser pensado
Benjamin (2011), ela pode ser definida como independentemente do ético e do político
um objeto resultado da criação humana que (relações de poder): se a arte não pode
expressa um conceito ou representação de desconsiderar seus efeitos nos desdobramentos
elevado valor simbólico e social. Mais da estetização do político (adequação ou
precisamente, para Coli (2015), o que questionamento do status quo), por outro lado
considerado uma obra de arte não seria definida a recusa da ética e da política da representação
por suas qualidades técnicas e/ou materiais, artística (quando adequada à realidade
mas sim pelo campo das convicções, ou seja, representada) é também um fato político.
pela crença de que aquele objeto representa Portanto, as diversas modalidades de arte não
aspectos considerados relevantes e podem ser qualificadas a partir dos critérios da
significativos para um agrupamento social num adequação ao que se representa, mas sim a
momento histórico específico. partir dos impactos e consequências políticas
que gera (Gianvecchio, 2008).
Para Moscheta (2014), é arriscado e
complexo definir a arte e mais ainda a arte pós- Para Giordani (2011), ao considerar a
moderna, pois uma das marcas principais desse arte como uma das manifestações da linguagem
movimento artístico e suas produções é a recusa pode-se entendê-la a partir de sua função na
às explicações e definições totalizantes. A sociedade, pois ela não se limita a ser um mero
potência dessa arte não se restringe apenas ao meio de comunicação, mas sim seria reflexo da
que é retratado (causa), mas se relaciona própria sociedade e de seus modos de
principalmente ao que é produzido (efeitos), ou funcionamento. A arte configuraria uma

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construção simbólica da realidade de forma que não opera somente nas proibições,
reflete e constitui a percepção que os atores cerceamentos e obrigações, mas funciona,
sociais possuem do mundo e como se sobretudo, nas incitações, na criação de
relacionam com ele. Dessa forma as diversas desejos, expectativas, antecipações e projetos
manifestações artísticas seriam instrumentos de que cooperam na criação de um modo esperado
conhecimentos, comunicações e expressões dos de viver.
plurais atores sociais (Giordani, 2011).
Diante do exposto, as produções
Ainda para Giordani (2011) a principal (desenhos, textos, grafismos etc.), doravante
função da arte pós-moderna é ser uma política denominadas de produções artísticas, de autoria
contestatória das normalizações, isto é, ser do movimento estudantil de uma universidade
instrumento de crítica e questionamento; pública realizadas em 2014 nas suas paredes,
consequentemente, disso decorre numa portas e vidros podem ser compreendidas como
impossibilidade de neutralidade na transmissão discursos (efeitos de sentidos) tal como
da mensagem, e o objetivo artístico sempre definido por Pêcheux (2009). Mais
traduziria a posição (social e política) do(s) precisamente, as produções artísticas naquele
seu(s) autor(es). Portanto, as diversas espaço que envolve objetos reais e simbólicos
manifestações artísticas travam disputas de produzidos pela e na ação humana (Costa,
sentidos e de ideologias (visões de mundo) e 2014) podem ser conceituadas de discursos por
relações de poder e, assim, longe de serem produzirem (efeitos de) sentidos dentre os
representações da realidade, são práticas interlocutores daquela universidade e, assim,
sociais. para sua plena compreensão necessitam ser
situados em relação as suas filiações
Assim, o potencial de poder da arte pós- discursivas e ideológicas (Pêcheux, 2009).
moderna não estaria no objeto resultado
produzido, mas sim na legitimidade que lhe é Essa pesquisa se justifica tanto pela
conferida pelos que a produzem e pelos que a necessidade de contextualizar a produção de
recebem (o já referido campo das convicções), sentidos como realizar o registro histórico das
e a arte pode ser entendida como um discurso estratégias de reivindicação do movimento
(definido como efeitos de sentidos – Pêcheux, estudantil de uma universidade pública, o que
2009) e, portanto, como um mecanismo de pode contribuir para com a discussão e acerca
poder de constituição da significação da das formas de reivindicação e participação
realidade. política nas universidades públicas. Assim, o
presente artigo tem como objetivo compreender
O discurso, portanto, produz sentidos de o processo discursivo (o estabelecimento de
uma determinada maneira e circunscreve um efeitos de sentidos) das produções artísticas de
conjunto de relações possíveis com e entre eles. um movimento estudantil de uma universidade
Nesse sentido, na medida em que o discurso pública em 2014.
regula e dá forma as possibilidades de viver (e
de relações de poder), ele sustenta as práticas Aspectos metodológicos: constituição do
sociais por meio das quais o poder opera. corpus e procedimentos de análise
(Moscheta, 2014). A inovação da ideia de
(relações de) poder em Foucault (2010), ao Trata-se de uma pesquisa descritiva e
contrário dos sociólogos clássicos, está em exploratória, de caráter qualitativo, de corte
descrevê-lo não apenas em seus aspectos transversal e com utilização de imagens das
repressivos (negatividade do poder), mas produções artísticas produzidas em 2014 por
também em seus aspectos organizativos que um movimento estudantil de universidade
estruturam e organizam as relações entre os pública. A pesquisa qualitativa pretende
indivíduos (positividade do poder) – o que não compreender aspectos da realidade e da
significa que as relações de poder sejam dinâmica das relações sociais a partir do
igualitárias ou equânimes. Para o autor, o poder universo dos significados, crenças, valores,

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motivos e atitudes que permeiam relações, conceituados como conteúdos neutros


processos e fenômenos (Richardson, 2015). delimitados a priori nem como elementos de
transmissão de informações; na AD o discurso
Em relação à constituição do corpus por é o espaço no qual decorrem processos de
tratar-se de produções artísticas materializadas interpelação, identificação e posicionamento
no formato de imagens, textos (trechos de dos sujeitos – ou seja, são processos de
músicas e de livros e palavras de ordem) e subjetivação, argumentação, produções de
grafismos pintados no espaço de numa sentidos e construções sociais (Orlandi, 2013).
universidade federal pelo movimento estudantil
em 2014 todas as imagens produzidas foram Segundo Pêcheux (2009) e Orlandi
fotografadas (em quatro ocasiões durante o mês (2013), podem ser distinguidos duas formas de
de maio de 2015), constituindo um vasto esquecimentos que estruturam e possibilitam
arquivo de imagens de referência. o(s) (efeitos de sentidos dos e nos) discurso(s).
O Esquecimento Número 1 refere-se à ilusão
Para isso foi utilizada uma câmera ideológica: a crença de que o sujeito é a origem
fotográfica do aparelho Ipod5 de uso pessoal do do que é dito quando, na realidade, o que é dito
pesquisador. No total foram é resultado dos posicionamentos históricos,
registradas/fotografadas 496 imagens que sociais, ideológicos e situacionais dos falantes,
foram arquivadas no Dropbox (um dispositivo isto é, em outras palavras, o discurso é
de armazenamento e partilha de arquivos resultante da interpelação ideológica
online; o álbum dessas imagens está promovida pela linguagem (Pêcheux, 2009).
publicamente acessível e pode ser visualizado Não há, portanto, sujeito sem (interpelação da)
por qualquer pessoa a qualquer momento em ideologia e não há ideologia sem sujeito.
https://www.dropbox.com/sh/cwql5xu561b76
wm/AAAbuTrSPhgUIIsHMXf5jQtAa?dl=0) e Por sua vez, o Esquecimento Número 2
também em CD-ROOM. faz menção à suposição de que quando
determinado discurso é produzido há ilusão de
É significativo destacar que, desde o que a única maneira de exprimi-lo é por meio
momento da sua produção, parte dessas das exatas palavras que foram utilizadas, não
produções artísticas foi e tem sido apagada havendo outras possibilidades. Desta maneira,
tanto por intervenções dos funcionários da para a AD o modo de dizer também significa.
universidade como pela ação do tempo, O Esquecimento Número 2 diz respeito às
enquanto outras surgiram produzidas por relações entre fala e interdiscurso (o que foi dito
autores desconhecidos e após o ano de 2014. e o que não foi dito [não-dito]); em suma, outras
Portanto, o corpus de imagens (arquivo de maneiras de dizer, os não-ditos e os
referência) utilizado nesta investigação não é, silenciamentos, poderiam fazer parte do que foi
necessariamente, o original – e tampouco dito mas não o foram devido às Formações
necessitaria ser, haja vista que o propósito da Discursivas (situacionalidades delimitadas pela
Análise de Discurso é mostrar como um ideologia que interpela o sujeito) as quais
discurso funciona produzindo (efeitos de) pertencem os falantes (Pêcheux, 2009).
sentidos, o que não condiz com a suposição de
uma verdade imanente a ser desvelada, porém Para a AD, esses dois esquecimentos
sim à constituição de um regime de são inconscientes, e a função do analista do
verossimilhança possível (Orlandi, 2013). discurso é compreender de que maneira eles
afetam produção de sentidos dos interlocutores
O arquivo de referência foi analisado (Orlandi, 2013). Assim, em termos de
segundo os pressupostos da Análise do procedimentos metodológicos de análise a AD
Discurso (AD) proposto por Pêcheux (2009). parte de um material linguístico qualquer (o
Assim, parte-se do pressuposto de que o corpus, no caso, o arquivo de referência) e o
discurso é o lugar no qual ocorre a relação entre transforma em objeto discursivo (desvelamento
a linguagem e a Ideologia. Os discursos não são das relações do corpus com o interdiscurso,

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desfazendo o funcionamento do Esquecimento destinados aos discentes), e a plataforma de luta


Número 2) e, depois, o transpõe para o estatuto era pressionar a reitoria local para aumentar do
de processo discursivo (desvelando as número de vagas de docentes efetivos daquela
formações ideológicas específicas do contexto universidade.
de produção do objeto discursivo, revelando os
esquemas de funcionamento do Esquecimento Todavia, segundo Mesquita (2003), o
Número 1) (Pêcheux, 2009; Orlandi, 2013). movimento estudantil (incluindo o
universitário) é, antes de tudo, um movimento
Por isso, na AD os procedimentos de plural que não se restringe nem às demandas
análise dos dados são indissociáveis do específicas concernentes às políticas
referencial teórico. Para Orlandi (2013) a AD educacionais nem às organizações discentes
não trata da língua ou da gramática, embora formais, congregando demandas e atores de
essas lhe interessem: ela trata do discurso outros movimentos sociais que porventura
(como, por quem e em quais condições os circulam naquele espaço universitário. Assim,
sentidos entre interlocutores são produzidos e mesmo que se pretendesse universalizante (ser
significam). Procura-se, assim, compreender a reconhecido como o movimento estudantil), ele
linguagem produzindo sentidos, enquanto estava composto por diversos segmentos
campo simbólico e constitutivo do homem e da (movimentos estudantis e sociais) ao mesmo
sua história. O discurso é um objeto sócio- tempo em que não abrangia e representava
histórico, por isso de elevado interesse para a todos os discentes daquela universidade.
Psicologia Social. Todavia, segundo Orlandi (2013), um dos
principais efeitos do discurso-universal é o de
Resultados e discussão pretender fazer-se reconhecido pela ilusão de
não haver dissonâncias e questionamentos
Em primeiro lugar serão relatados internos na tentativa de estabelecer relações de
exemplos das produções artísticas produzidas força para com seus externos/opositores.
por integrantes do (denominado) movimento
estudantil em 2014, no espaço de uma Em outras palavras, as produções
universidade federal (Universidade Federal do artísticas daquele espaço universitário não
Triângulo Mineiro) e suas relações com o estão compostas somente pelas demandas
interdiscurso; depois serão abordadas as acadêmicas e educacionais dos discentes (ou
condições ideológicas que permitem seja, um interesse voltado unicamente para as
compreender tal produção naquele cenário e políticas universitárias e educacionais), mas
contexto específicos enfatizando o processo incluía demandas diversas que perpassam as
discursivo. vivências dos estudantes (num exemplo do
funcionamento do interdiscurso), tais como
A produção artística no espaço daquela discursos de minorias étnico-raciais
universidade – o objeto discursivo (nominalmente, as dos afrodescendentes e de
refugiados) e de gênero (mulheres e trans).
É importante precisar que as produções
artísticas daquele movimento estudantil Portanto, é significativo compreender
naquele espaço fizeram parte de uma série de quais discursos circulavam naquela
estratégias e instrumentos que pretendiam a diversidade, e isso pode ser realizado por meio
visibilidade das suas demandas. A demanda da escansão das produções artísticas produzidas
prioritária daquele movimento estudantil por integrantes do movimento estudantil
universitário era a efetivação da qualidade da naquele momento – cuja totalidade pode ser
educação no ensino superior (incluindo o visualizada no arquivo online do Dropbox
aumento da qualidade do processo de ensino e anteriormente citado. A opção por não enfatizar
aprendizagem, a transparência orçamentária, a uma imagem ou categoria de imagens
melhora das condições físicas da universidade específicas, mas sim seu conjunto, se justifica
e da distribuição de auxílios e benefícios sociais

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por ser ênfase, nesta pesquisa, a compreensão Bong, Paulo Vanglorini, Criolo, Gabriel, O
do processo discursivo. Pensador, Tom Zé, Lulu Santos, Raul Seixas,
Nando Reis, Dorival Caymmi, Oriente,
As produções artísticas representavam Gonzaguinha, Milton Nascimento, João
um leque diverso de sentidos não Nogueira, Sabotage, Pink Floyd, Candeia,
necessariamente relacionados ao campo Novos Baianos, Maria Rita). Também há
(discursivo) específico da educação, tais como referências aos desenhos animados (Simpons,
imagens e frases de personalidades políticas de Batman, Pink e Cérebro, Watchman), pintores
resistência e de orientação doutrinária de (Pablo Picasso e Tarsila do Amaral) e outras
esquerda (exemplos: José Martí, Mandela, produções que são apenas grafismos e/ou
Marx, Engels, Mariguella, Che Guevara, Pepe desenhos (flores, pés, árvores, astronauta,
Mujica, José Paulo Neto, Lênin, Luís Carlos desenhos geométricos, portas pintadas).
Prestes, Salvador Allende, Antônio Gramsci,
Olga Binário, István Mészarós), de acadêmicos Parte dessa variedade de produções
e escritores brasileiros (exemplos: Sérgio artísticas deve ser compreendida como
Buarque de Hollanda, Paulo Freire, Moacir representações do ideário político daquele
Gadotti, Mauro Iasi, Carlos Latuff, Aziz movimento estudantil que pretende se reafirmar
Ab’Saber, Florestan Frenandes, Caio Prado da pelo conteúdo que estão propostos a encampar,
Silva Junior) e não brasileiros (Nietzsche, essencialmente os relacionados ao
Guatarri, Foucault, Voltaire, Dostoiévski, questionamento da ordem vigente na
Sartre, Hobsbawn, Hanna Arendt, Descartes, universidade e tocante à qualidade do ensino;
Martin Lutherking Saussure, Tolstói). As mas, a própria diversidade de representações e
produções artísticas também contemplavam demandas denuncia a impossibilidade da
expressões de grupos políticos específicos universalização e revela as relações
como negros e afrodescendentes (exemplos: interdiscusivas daquelas produções.
Panteras Negras, Abdias Nascimento, Malcoln
X) e feministas e/ou trans (Frida Kahlo, Pagu). Para Orlandi (2013), o interdiscurso tem
relação com a memória discursiva (o já-dito) de
Além disso, as produções artísticas uma sociedade, grupo ou espaço social. Para a
também manifestam temas amplos mesclando autora, a memória faz parte do discurso e dele
referências nacionais e internacionais no participa como interdiscurso (o que está nos
âmbito da cultura e dos direitos sociais entremeios do discurso, quase nunca evidente,
(exemplos são as palavras de ordem a favor da mas importante para o estabelecimento dos
cultura popular e contra o elitismo sentidos). Conceitualmente, o interdiscurso ou
evidenciando a desigualdade social), da memória discursiva são definidos como o
literatura (Carolina Maria de Jesus, Guimarães conjunto de significados e significações que
Rosa, João Cabral de Neto, Fernando Pessoa, antecipam e possibilitam os dizeres do sujeito e
Clarice Lispector, Machado de Assis, Thiago dos interlocutores (Pêcheux, 2009); portanto, o
de Mello, Paulo Leminsk, Vinícius de Moraes, interdiscurso é algo que já foi dito (podendo ser
Bertold Brechet, Mário Benedetti, Neusa redito ou não) numa sociedade e que causa
Doretto, Cora Coralina, Pablo Neruda, Antonin efeito no que se está sendo dito, revelando seus
Artaud, Maria Firmina dos Reis, Zé Geraldo, compromissos políticos e ideológicos (Orlandi,
José Saramago, Manoel de Barros, Virgínia 2013).
Woolf, Carlos Drummond de Andrade, Samuel
Bekett, Florbela Espanca, Manuel Bandeira, Exemplo disso são as produções
Ágatha Cristie, Franz Kafka, Edgar Allan Poe) artísticas daquele contexto que foram já-ditas
e da música (Cazuza, Cássia Eller, Nação em outros contextos, mas que causam efeitos de
Zumbi, Mano Brown, Bob Marley, Chico sentidos também naquele espaço universitário.
Science, Adoniran Barbosa, Chico Buarque, Segundo a AD, o interdiscurso/memória
Clara Nunes, Elis Regina, Cartola, Planet discursiva possibilitam o resgate de uma ampla
Hemp, Belchior, Caetano Veloso, Macaco gama de sentidos disponíveis aos

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interlocutores, mas cuja escolha não se dá nem Não há, portanto, como pensar a
por acaso nem por domínio consciente das sociedade sem manifestações adversas ao
possibilidades, mas sim ocorre mediante o status quo ante já que elas surgem da
disponibilizado pela Formação Ideológica (a insatisfação por parte de determinada classe ou
série de representações e sentidos considerados grupo social e esbarram em interesses de
verdadeiros e estruturantes para uma sociedade classes antagônicas que tentam abafar os
e/ou grupo) e pela Formação Discursiva (o que desejos de reformas. Por isso, os efeitos de
pode e deve ser dito) as quais os falantes estão sentido produzidos pelos discursos inerentes às
filiados (Orlandi, 2013; Pêcheux, 2009). produções artísticas daquele movimento
estudantil também geraram resistências: num
A partir disso, é possível considerar que primeiro momento aquelas produções artísticas
as escolhas (das produções artísticas efetivadas foram consideradas crimes (depredação do
naquele espaço por aquela população espaço público) pelos gestores institucionais –
diversificada) respondem às condições o que culminou numa denúncia, porém
discursivas específicas que determinam efeitos rejeitada, da reitoria local ao Ministério Público
de sentidos específicos (questionamentos; Federal contra os líderes do movimento
manutenção de tensões nas relações de poder; estudantil (Movimento Estudantil, 2016) – e,
representação das suas crenças e expectativas, mais recentemente, elas tem sido progressiva e
dentre outros), não sendo resultantes de furtivamente cobertas por tinta branca pelos
aleatoriedades. E é dessa maneira que o gestores universitários.
interdiscurso se relaciona com o Esquecimento
Número 2 (ilusão que o único modo de O contexto local e as condições ideológicas –
dizer/significar algo é justamente pelo modo o processo discursivo
pelo qual foi feito, quando na verdade o que e
como se diz/significa algo responde às filiações Para Lopes (2003), na década de 1950 a
discursivas e ideológicas). elite da sociedade na qual a universidade em
apreço se situa estava descontente com a
Mesmo que não universal (o movimento política tributária estadual, e considerando os
estudantil) essas práticas de produções impactos negativos disso o governador na
artísticas como estratégia política se gesta e se época intencionou conhecer quais eram os
fortalece como um modo inovador de fazer anseios da população naquele momento.
política (relações de poder) naquele contexto Assim, em 1953, reuniram-se o governador e as
burocratizado e hierarquizado – cujas paredes, principais lideranças políticas municipais que
destaca-se, eram totalmente brancas ou vazias), revelaram seus anseios pela criação de um
resultando em novos tensionamentos, curso de medicina que poderia auxiliar no
questionamento e lutas. Para Rancière (2009), desenvolvimento da cidade. Dessa forma,
política e arte têm uma origem comum. A foram concretizadas ações visando à criação de
política, para o autor, é essencialmente estética, uma faculdade de medicina (Lopes, 2015).
ou seja, está fundada sobre o mundo sensível,
assim como a expressão artística. Por isso, um A partir disso, pode-se perceber a
regime político democrático como o desejado relevância dos aspectos políticos e econômicos
por aquele movimento estudantil naquele na constituição histórica de criação daquela
contexto só pode ser consolidado caso haja universidade, já que os médicos estavam
efetiva multiplicidade de manifestações dentro alinhados com as principais lideranças dos
da comunidade (Volanin, s.d.) – por isso a segmentos políticos e educacionais municipais.
importância da diversidade das produções A forte presença da categoria profissional dos
artísticas como forma de denúncia e de médicos e suas concepções sobre política
produção de sentidos outros dos problemas (elitismo), educação (pragmatismo) e saúde
sociais. (curativismo biológico) são marcas e resquícios
interdiscursivos importantes na identidade
institucional daquela universidade.

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No contexto nacional entre as décadas prejudicavam não apenas os discentes, mas


de 1960 e 2000, houve um aumento toda a comunidade acadêmica.
significativo do número de matrículas no
ensino superior, especialmente no âmbito das Foi diante desta realidade de expansão
instituições privadas. Nesse cenário, foi descontrolada das universidades federais que
proposto dentre outras políticas públicas de foi reorganizado o movimento estudantil
educação o Programa de Apoio aos Planos de daquela universidade. Aquele movimento
Reestruturação e Expansão das Universidades estudantil teve como propósito principal
Públicas Federais (REUNI), cujo propósito era: questionar a atuação dos gestores institucionais
diante daquelas circunstâncias prejudiciais.
Dotar as Universidades Federais das Naquele cenário, foi fundamental o papel do
condições necessárias para ampliação movimento estudantil tanto visando à
do acesso e permanência na educação conscientização política (sobre a necessária
superior, e também como forma de qualidade da educação) como a premente
congregar esforços para a atuação para o enfrentamento das adversidades
consolidação de uma política nacional (visando o direito ao ensino público de
de expansão da educação superior qualidade e socialmente orientado).
pública brasileira (Brasil, 2007, p.10).
Naquele momento, as crescentes
Naquele contexto específico, em 2007, insatisfações do movimento estudantil foram
aquela instituição de ensino superior (que tinha motivadas pelas respostas (paliativas) por parte
cursos nas áreas de saúde) foi transformada em da reitoria local apresentadas para suas
universidade federal e passou a receber cursos demandas, culminando em fevereiro de 2014
nas áreas de humanidades, licenciaturas e em ações políticas não usuais naquele contexto,
engenharias (UFTM, 2007). A universidade tais como a ocupação física (os integrantes do
passou por uma expansão significativa, movimento estudantil em esquema de
triplicando o número de cursos de graduação e revezamento passaram a dormir nas
quadriplicando a oferta de vagas discentes entre dependências da universidade) e simbólica (as
2006 e 2010. produções artísticas) do prédio central daquela
universidade, além do panelaço (utilização de
Entretanto, o crescimento de cursos de panelas e outros instrumentos para produzir
matrículas daquela universidade não foi barulho visando impedir a realização das aulas)
acompanhado da proporcional implementação e do cadeiraço (empilhamento de cadeiras para
de condições adequadas para esse objetivo, impedir a circulação no espaço físico da
tendo em vista que a quantidade de docentes, universidade).
servidores técnicos administrativos e espaço
físico não tiveram expansão em igual escala. Para Hamann, Tedesco e Maracci-
Além disso, também não houve adequada Cardoso e Viscardi (2013) esses atos de
expansão dos espaços físicos que protesto político pretendem uma interpelação
proporcionassem aos estudantes uma formação real e simbólica do espaço (físico, social e
acadêmica e cidadã de qualidade (UFTM, afetivo) que promova uma nova significação e
2007; 2012). Disso decorreu, segundo aquele apropriação do mesmo, permitindo novas
movimento estudantil (2014), uma identidades e relações sociais. Exemplo disso é
precarização das condições de trabalho e de que o espaço físico da universidade, antes todo
ensino-aprendizagem (materializado na falta de branco tal como um hospital (bem ao gosto da
professores, insuficiência e ineficiência de história e da reitoria local), passou a ser
políticas de permanência estudantil, de colorido pelas produções artísticas; também
infraestrutura adequada para consolidação dos houve alterações na circulação e permanência
cursos abertos pelo REUNI, na falta de das pessoas naquele cenário, haja vista que os
transparência orçamentária etc.) que estudantes que ali ficavam apenas para
frequentar aulas (decorrente das condições

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arquitetônicas e urbanísticas daquela própria constituição, estabelecendo a sensação


universidade) passaram a habitar (jogar de que o mundo (as relações, os sentidos) são
baralho, tocar violão, promover rodas de daquela maneira porque é natural e óbvio que
debates nos corredores etc.) efetivamente a assim sejam.
universidade. Em suma, o movimento
estudantil passou a reivindicar para si a Portanto, como não há discurso sem
universidade, o que implicava numa ideologia (conjunto de representações), pois
redistribuição das relações de poder. qualquer discurso é interpelado pelo processo
ideológico (Ideologia), o que determina o que
Assim, ao questionarem, exigirem e pode ou não ser dito por determinado sujeito
partirem para uma ação concreta para objetivar (individual ou coletivo) em determinado
suas demandas, os estudantes estabeleceram contexto e em determinado momento histórico,
práticas e relações de poder não usuais (em é o que se denomina de Formação Ideológica
outros termos, outros discursos) naquele (Orlandi, 2013).
espaço, questionando o status quo ante
(Foucault, 2010). De um não-lugar (para os A Formação Ideológica está articulada
estudantes), a proposta do movimento ao funcionamento do Esquecimento Número 1
estudantil era tornar aquele ambiente proposto por Pêcheux (2009) justamente por
universitário rico em presença e em debates. referir-se à ilusão ideológica, ou seja, a crença
de que o sujeito (individual ou coletivo) é o
Ristoff (2014) evidencia que as políticas único e exato ponto de partida e de formulação
públicas mais recentes de inclusão dos grupos daquilo que é dito, quando na verdade ela (a
historicamente excluídos do ensino superior Formação Ideológica) remete a formações
começaram a alterar significativamente o perfil discursivas que oferecem possibilidades
típico do estudante de graduação das específicas de dizer e de posicionamentos
universidades públicas. Dessa forma, infere-se delimitados a um e num discurso.
uma transformação do tecido social e, por
extensão, dos discursos que compunham aquela Diante dessa ilusão de autoria, a
(e outras) universidade(s). Para a AD, portanto, produção artística do movimento estudantil
o resgate e a explicitação da história (que naquele espaço não deve ser compreendida
compreende o interdiscurso, a memória como uma produção separada ou autônoma do
discursiva, as formações discursivas e a contexto social mais amplo (as lutas políticas e
ideologia) e as condições históricas de sociais), mas sim como uma manifestação das
produção são fundamentais para a compreensão diferentes formações ideológicas e do
dos fenômenos discursivos que, conforme já interdiscurso diante de uma história local (que
apresentado, são atingidos pelos esquecimentos não se separa da nacional), já que faz uso de
próprios ao funcionamento da linguagem referências dispersas que expressam
(Pêcheux, 2009). determinadas ideologias – a pluralidade das
demandas e das formas de posicionamento
Compreender a interpelação ideológica político. Isso apenas reforça a dependência das
(isto é, as condições materiais de produção dos demandas daquele movimento estudantil ao
discursos) é fundamental para desvelar as contexto social e histórico.
próprias condições pelas quais os discursos
podem ser formulados – essa é outra maneira de Dessa forma, as produções artísticas do
definir a etapa de análise do processo movimento estudantil daquela universidade
discursivo (Orlandi, 2013). Por Ideologia, devem ser compreendidas como um dos
segundo Pêcheux (2009) e Orlandi (2013), processos possíveis de manifestação da
devem ser compreendidos os processos de Ideologia e, mais precisamente, como uma
funcionamento do discurso (nominalmente o Formação Ideológica específica que atribui
Esquecimento Número 1) que apagam (e elevado valor a educação como instrumento de
impede o acesso consciente a) os traços da sua bem-viver e de conhecimento crítico da

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realidade. Por isso, é necessário compreender existem dessa forma porque recusam
como a organização social, o tempo e a própria explicações e definições totalizantes, servindo
história foi significada durante o processo de à apreciação estética também como ética e
formação daquela universidade até culminar política. Essa postura pretende produzir não
com os processos reativos (produções conclusões e sedimentações, mas
artísticas) historicamente localizados (2014) ao prioritariamente compreender de que modos os
status quo ante. sentidos se produzem. Dessa forma, aqui foi
apresentado apenas uma das possíveis
Pensar o funcionamento do discurso e, perspectivas de análise desse amplo cenário. A
consequentemente, a história e a ideologia Análise do Discurso também permite
como materialidades (por exemplo, as desnivelar possíveis sentidos e, assim, afirmar
produções artísticas) é igualmente pressupor apenas um modo de interpretação e dizer
que ambas não são transparentes, nem naturais, (considerados mais verdadeiros ou corretos)
nem neutras, sendo a partir delas que se pode seria um equívoco.
notar o funcionamento da ideologia no discurso
(Orlandi, 2013). Tecendo uma relação com a política
atual brasileira, nos últimos meses de 2016
Considerações finais ocorreram ocupações de escolas públicas por
estudantes secundaristas. Os estudantes estão
A Análise do Discurso das produções ocupando seus locais de estudo como forma de
artísticas daquela universidade federal está protesto diante do sucateamento da educação
intimamente ligada ao contexto sócio histórico pública de qualidade. Ademais, no primeiro
da universidade e do movimento estudantil. Por semestre de 2017 foram amplamente noticiados
meio do material mobilizado (corpus) e do questionamentos de alguns segmentos
estudo da história da universidade pode-se populacionais (tradicionais) junto à algumas
refletir a transformação do histórico da exposições e museus que pretendiam
universidade e quais elementos o compõem na problematizar questões de sexualidade e
atualidade, perpassados por discursos e gênero, sendo por eles considerados ultrajantes.
ideologias que agregam a militância e a luta O que fica da observação da militância nestes
política visando à reorganização das políticas diferentes espaços é que a juventude tenta
públicas em educação. Dessa forma, o objetivo romper com estruturas dominadoras e torna-se,
dessa pesquisa (compreender o processo das mais diferentes formas possíveis e com suas
discursivo dos efeitos de sentidos [os discursos] mais variadas práticas, um ator coletivo que
das produções artísticas) foi cumprido. protagoniza desejos de transformação social.
É importante ressaltar que assim como Diante do exposto, pode-se considerar
tratado ao longo do texto, as produções do que a produção artística questionadora dos
movimento estudantil foram consideradas padrões tradicionais pode possibilitar discutir
como manifestações artísticas, e mais formas de reivindicação e participação políticas
precisamente como modalidades da arte pós- não reconhecidas pelos discursos oficiais,
moderna – mais importam seus efeitos do que destacando o papel deste e de outros
seus materiais. Sendo assim, é de interesse dos movimentos sociais que militam dentro (e fora)
analistas do discurso não reproduzirem sentidos das universidades públicas.
cristalizados sobre essas produções. Elas

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Dados sobre o autor:


- Rafael De Tilio: Graduação (2002) e Pós-graduação (Mestrado/2005; Doutorado/2009) em
Ciências, na área de Psicologia, pela USP. Desenvolve pesquisas referentes à área de violência,
sexualidade, gênero e ideologia. É líder do HUBRIS/Laboratório de Estudos e Pesquisa em
Sexualidade e Violência de Gênero e coordenador da LIS/UFTM - Liga de Sexualidade.
Atualmente é Professor no Curso de Graduação e no Programa de Pós-graduação em Psicologia
da UFTM

Agradecimentos:
Agradeço à Roberta Nunino Ribeiro pelo auxílio na fase de coleta de dados (realização das
fotografias e organização do arquivo online das imagens).

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