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como também relações antagônicas e subordinadas não-capitalistas, como afirma Martins. Para ele, o
capital, incorporando áreas e populações às relações comerciais, desenvolve, numa unidade contraditória,
as condições de sua expansão e simultaneamente os entraves a essa expansão. Quer dizer, como o capital não se
expande mercantilizando todos os setores envolvidos nessa expansão (não implanta a um só tempo trabalho
assalariado em todos os setores e lugares), ele tende, particularmente onde e quando a vanguarda dessa
expansão capitalista está apenas no comércio, a desenvolver, em parte contraditoriamente, o mesmo
processo que se deu em sua acumulação primitiva. O capital lança mão da criação e recriação das
relações não-capitalistas de produção para realizar a produção não-capitalista do capital.
O que se pode deduzir dessas colocações é que a primeira etapa do desenvolvimento do
capitalismo não foi necessariamente uma etapa em que predominaram as relações especificamente
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capitalistas de produção, mas sim uma etapa principalmente de produção de mercadorias. Com a
mercadoria, o capitalismo ganha dimensão mundial, ou seja, dissemina-se por lugares diferentes,
momentos distintos (mas articulados) de um processo único: o processo contraditório de sua expansão.
Desse modo, a formação econômico-social capitalista é fruto desse processo único. É fruto dos
seguintes momentos diferentes, contraditórios, mas articulados: em uma ou mais fração do território
capitalista tem-se a forma especificamente capitalista de produção (produção da mercadoria e produção
da mais-valia), em outros, ora a circulação da mercadoria está subordinada à produção, ora a
produção está subordinada à circulação. Esse é o princípio teórico que permite entender o
desenvolvimento do capitalismo e particularmente a agricultura.
4.1.1.2. Na África
No caso africano, a transformação da economia comunitária primitiva de subsistência fez-se
também pelo processo de aceleração da mercantilização. Da mesma forma que no caso asiático e no
dos indígenas americanos, na África negra foi também o poder político (local e depois colonial) que se
incumbiu da tarefa de compelir, por meio da violência, as comunidades à monetarização da economia
primitiva. Os meios mais utilizados foram: a obrigação de pagar impostos (mais corrente); as
"culturas obrigatórias" (os "campos do comandante" com a obrigação de escolher culturas de
exportação) etc.
A sociedade nativa foi sofrendo distorções que a desfiguraram. Os chamados "bens de
prestígio", nos quais estava incorporado o excedente de modo tradicional, passaram a ser comprados. O
processo de mercantilização aprofundou-se, obrigando os membros da comunidade a irem a busca do
dinheiro, quer tornando-se produtores mercantis, quer "oferecendo" sua força de trabalho, ou ainda
vendendo diretamente os trabalhadores, o tráfico de escravos.
O período mercantilista foi marcado pelo tráfico de escravos, que ocorreu, sobretudo, do século
Ariovaldo Umbelino de Oliveira
4.1.1.3. Na América
O grande desenvolvimento da produção comunitária entre as populações indígenas na América
levou esses povos a conhecer o chamado comunismo primitivo, uma forma de produção baseada numa
estrutura comunitária praticamente auto-suficiente.
Os incas, por exemplo, realizavam o comércio na base de trocas simples, pois
desconheciam a moeda. A única contribuição ao Estado era a mita ou o cuatequil, trabalho cedido
para quantos afazeres e obras existissem no império, tanto para serviço e utilidade do imperador,
como da nação; por exemplo, os trabalhos destinados às coisas da guerra, serviços para a nobreza,
cuidados dos templos e o trabalho nas minas por conta do imperador.
Todo o excedente econômico era depositado nos armazéns do Estado com o objetivo de
suprir as eventuais necessidades da comunidade e também para o consumo das camadas improdutivas (os
nobres, os militares e os sacerdotes). Toda essa organização estava submetida ao imperador Inca.
Com o desenvolvimento do capitalismo na Europa e com a colonização, toda essa estrutura
foi submetida à economia colonial; logo, ao capital. Assassinado o imperador, todo o império
submeteu-se aos colonizadores espanhóis. Cabe ressaltar que o mesmo ocorreu com os astecas no
México, pois os maias, na América Central, foram praticamente arrasados pelos espanhóis.
O processo de dominação dos povos indígenas se deu através da manutenção da estrutura
comunitária, destinando-se os excedentes aos espanhóis. Foi assim que estes submeteram os curacas e
instituíram as encomiendas. Através delas, cada colono (encomendero) recebia certo número de índios que,
sob sua tutela e sob o pretexto de que era preciso cristianizá-los, eram explorados no trabalho comum
dirigido que já praticavam. Os encomenderos aproveitaram o instituto da mita ou do cuatequil para colocar os
índios continuamente trabalhando nas minas, ou seja, regularmente de tempos em tempos as tribos
forneciam certo número de índios para trabalhar para os espanhóis.
séculos. E a mesma Inglaterra que fizera do tráfico uma fonte de renda lutou mais depois para impor a
sua extinção.
haciendas (fazendas) e depois até nas minas, o sistema de peonagem. Este consistia na presença do
trabalhador dito "assalariado", mas que, no entanto, só recebia em troca pagamento em espécie (carne,
aguardente, roupas e utensílios). Esses produtos eram adquiridos no armazém da hacienda e mais tarde também nas
minas, e seus preços eram muito altos, tornando o trabalhador permanentemente endividado.
Tratava-se, portanto, de uma relação não-capitalista de produção, uma vez que o sistema não se
configurava em um salário em dinheiro e nem na liberdade de o trabalhador ir e vir, comprar e vender sua
força de trabalho.
Com os movimentos de independência, das relações de produção dominantes, apenas a
encomienda desaparecera, enquanto que as demais, tais como a peonagem, generalizavam-se, ao mesmo
tempo em que a produção indígena resistia onde a terra comunal (ejidos no México) ainda não havia
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sido expropriada pelos espanhóis ou criollos. Esse processo de redução das terras da comunidade
indígena, a par da exploração secular que os indígenas da América espanhola sofreram, estava na base
das revoltas e revoluções que tiveram lugar em vários países do continente americano. Os Estados
nacionais passaram a exigir documentos que comprovassem as propriedades das terras, e quem não os
apresentasse tinha as terras confiscadas e entregues a capitalistas estrangeiros e/ou latifundiários. O
desenrolar desse processo fez com que o México, por exemplo, chegasse ainda no início do século XX,
com cerca de 90% da população indígena camponesa sem terra e trabalhando no sistema de
peonagem.
1881; nos Estados do centro eles caíram também de US$ 30,07 em 1866 para US$ 22,24 em 1881;
já com relação às áreas de expansão, onde a mão-de-obra era escassa, devido à disponibilidade de
terras esse movimento era inverso, ou seja, os salários subiam inicialmente para depois cair, como no
exemplo da Califórnia, onde eles eram de US$ 35,75 em 1866, depois chegaram a US$ 44,50 em
1875 e caíram para US$ 38,25 em 1881; nos Estados do sul a situação era pior para os trabalhadores
agrícolas, pois os salários eram bem inferiores e passaram de US$ 16 em 1866 para US$ 15,30 em 1881.
Essa agricultura competitiva dos EUA no mercado internacional foi possível, portanto, em
função basicamente da abolição paulatina da escravidão (Massachusetts, 1774; Connecticut, 1784, por
exemplo; todo o país a partir de 1863) e pela abertura do acesso à terra para os camponeses. Esse
processo de abertura do acesso à terra teve início com uma lei de 1820 que permitia a venda de terras
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do Estado em pequenas parcelas de 80 acres (32,3736 hectares) ao preço de US$ 1,25 por acre (4
047 m 2 ). Em 1832, o Estado autorizou a venda de propriedades de até 40 acres (16,1868 ha). Por fim,
em 1862, foi assinado o Homestead Act, ou a lei da colonização americana, que permitia a concessão
gratuita de terra para propriedades de 160 acres (64,7472 ha). Na origem, estas foram as condições
concretas para o nascimento dos farmers americanos, camponeses produtores de mercadorias.
Foi, portanto, essa produção em massa da agricultura americana a baixo custo e a produção com
preços igualmente reduzidos dos vários países coloniais, que contribuíram para pressionar a agricultura da
Europa industrial, particularmente na Inglaterra.
Tabela 02
EUA: estrutura fundiária - 1978
Estratos de área (ha) Número % Área ocupada %
(ha)
menos de 4,0 215.674 8,70 445.137 0,11
4,0 a 19,9 475.815 19,19 5.786.781 1,39
20,0 a 72,7 814.371 32,84 37.917.579 9,09
72,8 a 201,9 596.482 24,05 82.067.076 19,67
202,0 a 404,2 215.150 8,67 65.313.738 15,67
404, 3 a 808,9 98.602 3,98 59.850.693 14,34
809,0 ou mais 63.772 2,57 165.874.423 39,75
TOTAL 2.479.866 100,0 417.255.523 100,0
Tabela 03
EUA: Distribuição da produção agropecuária – 1983
Grupo em US$/ano No. de % dos % da
estabelecimentos estabelecimentos produção
Mais de 100.000 284.000 11,5 66,8
40.000 a 100.000 381.000 15,4 20,0
Menos de 40.000 1.815.000 73,1 13,2
Comparando-se a estrutura fundiária dos Estados Unidos com aquelas dos países da
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Europa Ocidental, se verá que a realidade é um pouco diferente; com menor intensidade, embora o processo
geral seja o mesmo, há certa tendência à concentração da propriedade camponesa familiar. O caso
francês presente na Tabela 04, segundo Vergopoulos, é exemplar:
Tabela 04
França: distribuição das propriedades com menos de 100 ha
Estratos (ha) 1892 1924 1963 1970
% % % %
5 a 20 21,3 22,75 47,0 34,1
21 a 50 5,8 9,60 20,6 25,4
51 a 100 0,9 2,05 4,4 6,5