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TRIBUNAL MARÍTIMO

AR/FAL PROCESSO Nº 29.483/15


ACÓRDÃO

L/M “CAVALO MARINHO I”. Amputação traumática da falange do 3º


quirodáctilo da mão direita do tripulante João Magno Santos Conceição,
vítima não fatal. Falta do EPI “luvas” para o acidentado, aliado às condições
de mar agitado, quando teve sua mão direita parcialmente prensada entre o
cabo da proa e o cabeço da lancha, durante manobras com cabos de
amarração, na faina de atracação desta embarcação, no Terminal de Mar
Grande, Vera Cruz, BA. Negligência e imprudência. Atenuante. Infrações à
LESTA e ao RLESTA. Condenação.

Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.


Trata-se de analisar o fato da navegação ocorrido cerca das 16h20min, do dia
10 de janeiro de 2013, caracterizado pelo acidente com o tripulante João Magno Santos
Conceição, MAC e MAM – Marinheiro Auxiliar de Convés e Marinheiro Auxiliar de
Máquinas, vítima não fatal, que sofreu amputação traumática em parte do seu dedo médio
da mão direita, durante manobra de atracação da L/M “CAVALO MARINHO I” (nº de
inscrição 281-018236-1, casco de madeira, de 18,64m de comprimento e 5,0m de boca,
de 36 AB, classificada para transporte de passageiros, navegação interior, área 1, ano de
construção 1973, motor de 111,9 HP, com capacidade para 151 passageiros e 4
tripulantes, 17,07 TPB, de propriedade de Cleide Costa dos Santos Galvão, afretada à CL
Empreendimentos Ltda.-ME), sob o comando de Diógenes da Encarnação de Britto,
MOC – Moço de Convés, no Terminal de Mar Grande, Vera Cruz, BA, mas sem registro
de poluição ao meio ambiente.
No Inquérito instaurado pela Capitania dos Portos da Bahia foram ouvidas
três testemunhas e anexados os documentos de praxe.
Nas fl. 4 consta a Comunicação do fato em pauta, datada de 22 de março de
2013, do vitimado, João Magno Santos Conceição, para fins de ressarcimento por parte
do Seguro Obrigatório, informando que sofreu amputação do quirodáctilo direito (dedo
médio) da mão direita, quando embarcado na lancha “CAVALO MARINHO I”, no
momento da atracação no Terminal hidroviário de Mar Grande, estando na proa, quando
o cabo “mordeu”, devido ao estado do mar; na fl. 5 consta a Certidão de Registros de
Comunicação, na Delegacia da 24ª Circunscrição Policial, na fl. 7 consta o CAT –

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Comunicação de Acidente do Trabalho, na fl. 8 consta o Relatório médico, datado de 31
de janeiro de 2013; e na fl. 9 consta o Relatório de Alta, referente ao caso em tela.
Nas fls. 27 a 31 constam cópias de folhas da CIR – Caderneta de Inscrição e
Registro do vitimado, João Magno Santos Conceição, Marinheiro Auxiliar de Convés,
emitida em 04/03/2004 e atualizada em 17/03/2009, com Certificado à fl. 31, pela CPBA,
aprovado no exame para condução de motores do CFAQ-E (MAM) realizado na CPBA
em 03/03/2004 e qualificado para exercer as funções de Marinheiro Auxiliar de Convés e
de Máquinas.
Na fl. 43 consta cópia do Registro de Comunicação na Delegacia da 24ª
Circunscrição Policial; nas fls. 44 e 45 consta cópia do Laudo de Exame de Lesões
Corporais e nas fls. 46 e 47 consta cópia do Laudo de Exame Complementar de Lesões
Corporais, ambos do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues, referente ao fato em pauta.
No Laudo de Exame Pericial, fls. 51 a 55, elaborado em 28 de março de
2013, com fotografia do vitimado à fl. 64, consta que a embarcação se encontrava em
bom estado de conservação e apta a navegar.
Os Peritos apresentaram a seguinte sequência de acontecimentos: no dia 10
de janeiro de 2013, cerca das 15h30min, a L/M “CAVALO MARINHO I” suspendeu do
Terminal Turístico e Náutico da Bahia – TTNB, com destino a Mar Grande, ilha de Vera
Cruz, BA, estando embarcados o MAM João Magno (tripulante vitimado), o MOC
Diógenes (condutor) e o MAC Alberto Martins; cerca das 17h15min, ao chegar ao
Terminal de acesso de Mar Grande, o condutor manobrou a lancha para atracação; pouco
tempo depois, o marinheiro Magno lançou uma espia para o pessoal em terra colocar no
cabeço da ponte; a outra extremidade estava a bordo no cabeço da lancha, mas, devido ao
estado do mar, em um momento de caturro (“levadia”), teve seu dedo preso entre o
cabeço e a espia, ocasionando a lesão; logo em seguida o acidentado foi socorrido pelo
condutor e retirado de bordo com o auxílio do pessoal de terra, colocado em um táxi e
conduzido para o hospital de Itaparica.
Os Peritos consideraram que o fator operacional contribuiu, pela imprudência
no desempenho de suas respectivas atividades de operação, devido ao fato da não
utilização do EPI (luvas) e concluíram que a causa determinante do fato em pauta foi a
exposição (prensa) acidental do dedo médio no cabo de proa da lancha “CAVALO
MARINHO I”, quando da atracação no píer de Mar Grande, BA, bem como a não
utilização do EPI (luva).
No Relatório, fls. 69 a 74, o Encarregado do IAFN, depois de resumir o

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Laudo de Exame Pericial, e os depoimentos, acompanhando os Peritos, apontou como
possível responsável o próprio vitimado, João Magno Santos Conceição, por imprudência
por não estar utilizando o EPI (luvas).
A Douta Procuradoria, fls. 82 a 85, em sua primeira vista dos autos, depois de
resumir os principais pontos apurados nos autos, concordando em parte com o
Encarregado do IAFN, representou em face de Cleide Costa dos Santos Galvão, na
qualidade de proprietária da embarcação “CAVALO MARINHO I”, Diógenes da
Encarnação de Britto, na condição de comandante desta embarcação e de João Magno
Santos Conceição, tripulante, todos com fulcro no art. 15, letra “e” (exposição a risco),
fundamentando.
João Magno Santos Conceição, fls. 87 a 91, com procuração à fl. 92, com
fulcro no art. 41, inciso II e seguintes, da Lei nº 2.180/54, apresentou Representação de
Parte em face de CL Empreendimentos Ltda.-ME.
Em anexo às fls. 93 a 168, juntou cópias das folhas do IAFN referentes ao
fato em pauta.
Alegou a tempestividade da Representação e a Legitimidade Passiva da
Representada de Parte, que explorava suas atividades comerciais na travessia de
passageiros no transporte hidroviário intermunicipal, entre o Terminal Turístico Náutico
da Bahia e o Terminal Marítimo de Mar Grande, tendo o autor desta Representação de
Parte como seu funcionário, fazendo prova com a cópia de sua CTPS.
Alegou estar provado que a Representada de Parte não disponibilizou as
luvas de couro, conforme consta nos depoimentos.
Citou o art. 166, da CLT, com as alterações inseridas pela Lei nº 6.514 de
22/12/1977: “Art. 166 A empresa é obrigada a fornecer aos empregados, gratuitamente,
equipamento de proteção individual adequado o risco e em perfeito estado de
conservação e funcionamento...”; que este E. Tribunal Marítimo “tem decidido no sentido
de responsabilizar o empregador – responsável pela embarcação – pela falta de
fornecimento de EPI, o que não poderia ser diferente, sob pena de transferir para o
empregado responsabilidade que a lei atribuiu à empresa, a qual assume os riscos do
empreendimento”.
Alegou que as conclusões do IAFN estão equivocadas e não encontram
sustento nos autos, pois apontou como possível responsável a vítima, pela falta de
utilização do EPI, mas a causa foi o não fornecimento pelo proprietário da embarcação
deste EPI – luvas, não podendo ser atribuído à vítima a responsabilidade pela falta da

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utilização do EPI que não recebe, transcrevendo trechos de depoimentos.
Finalizou requerendo o recebimento desta Representação de Parte,
responsabilizando a empresa CL Empreendimentos Ltda. – ME, e a aplicação das penas
cominadas na Lei nº 2.180/54.
João Magno Santos Conceição, fls. 176 a 179, com semelhantes argumentos
da Representação de Parte, apresentou Defesa Prévia (referente ao IAFN 12/2013).
A D. Procuradoria, chamada a conhecer da Representação de Parte e dos
demais documentos juntados depois de sua primeira manifestação, fl. 181, requereu
diligências complementares, fls. 184 e 185, deferidas à fl. 186.
A Capitania dos Portos da Bahia, respondeu às diligências deferidas às fls.
194 a 260, incluindo o depoimento de Cleide Costa dos Santos Galvão, fl. 196, o
Contrato de Locação de Embarcação, fls. 208 a 211, no qual Cleide Costa dos Santos
Galvão, como LOCADORA, e CL Empreendimentos Ltda., como LOCATÁRIA, no
prazo de locação de 01 de janeiro de 2012 até o dia 31 de dezembro de 2014, pelo valor
mensal de R$ 5.000,00 (cinco mil reais). No parágrafo segundo, do “item 2)” consta “O
valor do aluguel acima estipulado se refere à simples locação do Barco CAVALO
MARINHO I com motor, equipamentos e instalações relacionadas, conforme Termo de
Vistoria particular, que é parte integrante deste contrato” e no “item 3)” consta que as
demais despesas correrão por conta do LOCATÁRIO; o depoimento de Lívio Garcia
Galvão Junior, fl. 223, de 48 anos de idade, engenheiro, que declarou que utilizava a
embarcação “CAVALO MARINHO I” comercialmente e que era o responsável pelo
fornecimento do EPI e que a empresa cumpria o que estava previsto no PPRA –
Programa de Prevenção de Riscos Ambientais, sendo apresentado cópia do PPRA (fls.
232 a 260), Ficha de Controle de Equipamento de Proteção Individual (fl. 227) e
contracheque do Sr. João Magno Santos Conceição (empregador CL Empreendimentos
Ltda.).
A D. Procuradoria, fls. 264 a 267, depois de resumir os principais fatos
apresentados nos autos, apresentou Representação em face de CL Empreendimentos
Ltda., na qualidade de locatária da embarcação “CAVALO MARINHO I” e empregadora
da vítima, de Diógenes da Encarnação de Britto, na condição de Comandante desta
embarcação, e de João Magno Santos Conceição, tripulante desta embarcação, todos com
fulcro no art. 15, letra “e”, da Lei nº 2.180/54.
Em síntese, alegou ser da 1ª Representada, locatária da embarcação
“CAVALO MARINHO I” a obrigatoriedade de fornecimento do EPI necessário e

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adequado aos tripulantes, de acordo com o Contrato de Locação às fls. 208/210 e
consoante depoimentos pessoais da proprietária da embarcação e do representante legal
da pessoa jurídica, fls. 196 e 223.
Verificou que na Ficha de Controle de Equipamento de Proteção Individual,
anexada aos autos pela 1ª Representada e assinada pela vítima, fl. 227, não consta o
fornecimento de luvas para uso da vítima, embora no Programa de Prevenção de Riscos
Ambientais, fl. 258, conste que para as medidas de proteção individual o EPI a ser
utilizado deve ser composto de: botinas, capacete, luvas e óculos.
Concluindo, que a 1ª Representada foi negligente por não disponibilizar para
uso o EPI necessário, expondo a risco a incolumidade física dos tripulantes, que
culminou no incidente em pauta.
Quanto ao 2º Representado, na qualidade de Comandante da embarcação,
também lhe cabe responsabilidade eis que agiu com omissão ao consentir a realização da
faina sem o devido uso do EPI (luvas), o que poderia interferir no resultado drástico em
apreço.
Quanto ao 3º Representado, vitimado, também cabe reprimenda deste E.
Tribunal por sua negligência e imperícia ao realizar faina sem o devido EPI, colocando
sua integridade pessoal em risco.
Requereu a condenação dos três Representados e, diante do resultado,
requereu, também, a aplicação do art. 143, da Lei nº 2.180/54, em relação ao 3º
Representado.
Na Sessão Ordinária nº 7.099ª, do dia 20 de setembro de 2016, as duas
representações, da PEM e de Parte, foram recebidas por unanimidade.
Os Representados, que não constam do rol de culpados neste E. Tribunal
foram regularmente citados.
CL Empreendimentos Ltda., locatária da embarcação “CAVALO MARINHO
I” e empregadora da vítima, fls. 318 a 328, com anexos, fls. 329 a 343, apresentou Defesa
em relação à Representação da PEM e, fls. 357 a 367, com anexos, fls. 368 e 369,
apresentou Defesa em relação à Representação de Parte, ambas defesas, em síntese, com
a tese de culpa exclusiva da própria vítima e de não fornecimento obrigatório do EPI luva
para o exercício da função de auxiliar de máquinas.
Alegou ausência de responsabilidade da Representada, tendo em vista a fiel
observância do PPRA – Programa de Prevenção a Riscos Ambientais; que a vítima estava
embarcada na função de “auxiliar de máquinas”, havendo necessidade de correta relação

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entre a função que exercia e os equipamentos que deveria utilizar.
Na Representação da PEM, fl. 258, consta que o EPI a ser utilizado pela
vítima deveria ser composto de: botinas, capacete, luvas e óculos, mas a luva de raspa
não é EPI exigido para a função de auxiliar de máquinas; que a PEM se baseou no
conteúdo geral da empresa, em cronograma universal dos equipamentos que devem ser
fornecidos pela empresa, sem, contudo, analisar o EPI indicado no cronograma
correspondente à específica função do marinheiro auxiliar de máquinas.
Fez referência a um Parecer juntado aos autos, para alegar que “A
recomendação de uso de luvas previsto na NR 6, item F do Anexo I, não contempla o
risco que provocou o acidente ocorrido”; que o Laudo de Exame Pericial, realizado antes
das oitivas das testemunhas, sequer teve acesso ao PPRA, pois foi juntado
posteriormente, constando como causa determinante a “exposição acidental do dedo
médio no cabo da proa da lancha”, o que indagou se essa “exposição acidental” decorreu
de falta do EPI, não exigido, ou de conduta imprudente/negligente do tripulante.
Afora a culpa exclusiva da vítima, apresentou a excludente de
responsabilidade, a ocorrência de fenômenos meteorológicos, que foram determinantes,
transcrevendo trecho do depoimento da vítima, João Magno, não havendo como a
Representada prever tais fenômenos (movimento das ondas, conhecido como
“LEVADIA”, quando seu dedo ficou preso no cabo que já estava passado no cabeço da
embarcação).
Na certeza de que seria exculpada, haja vista não ter cometido qualquer ato
ilícito, a Representada, em caso de entendimento diverso, o que admite apenas por
argumentação, requereu aplicação de pena mais branda, por não ser reincidente, por se
portar sempre com zelo em relação ao atendimento aos seus funcionários e em relação ao
serviço prestado, sem qualquer circunstância agravante, pugnando pela aplicação do art.
121, inciso I da Lei nº 2.180/54.
Finalizou requerendo a improcedência da Representação, com o
arquivamento dos autos, ou, alternativamente, a aplicação de pena branda e requereu a
produção de provas.
Em anexo, fl. 335, consta o “Parecer” assinado por Reinaldo da Silva Fraga,
Tec. Seg. Trabalho MTb 51/10321-7, com base nas recomendações da NR 6, item F, do
Anexo I, que não contempla o risco que provocou o acidente ocorrido, concluindo: “Não
está previsto nenhuma ação preventiva específica por parte da empresa para essa
situação, foi um esmagamento da falange do dedo, o uso de luvas não evitaria, se ao

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invés da luva de vaqueta, raspa ou malha, fosse uma proteção rígida que envolvesse o
dedo, ai sim o esmagamento não ocorreria. A operação de atracação requer experiência,
atenção e foco na tarefa por parte do profissional, o trabalhador acidentado, não era
inexperiente, já havia realizado essa operação inúmeras vezes sem registrar qualquer
incidente”.
Diógenes da Encarnação de Britto, Comandante da embarcação “CAVALO
MARINHO I”, fls. 290 a 300, com anexos, fls. 301 a 317, defendido pelo mesmo Ilustre
Patrono da empresa, com similares argumentos, em síntese, apresentou a tese de culpa
exclusiva da própria vítima e de não fornecimento obrigatório do EPI luva para o
exercício da função de auxiliar de máquinas.
João Magno Santos Conceição, tripulante desta embarcação, vítima, citado à
fl. 281, não apresentou Defesa e foi declarado revel, fl. 353 (publicado no e-DTM nº 123,
de 1/09/17), notificado de sua revelia, via Capitania, fl. 382.
Aberta a Instrução, fl. 375 (publicado no e-DTM nº 141, de 28/09/17), a PEM
declarou que se louvava nas provas dos autos e o autor da Representação de Parte não se
manifestou, conforme Certidão de fl. 378.
Em Provas para os representados da PEM e de Parte, fls. 384 (publicado no
e-DTM nº 164, de 08/11/17), CL Empreendimentos EIRELI, referente à Representação
de Parte de João Magno Santos Conceição, fl. 388, e Diógenes da Encarnação de Brito,
fl. 389, apresentaram uma mesma relação de três testemunhas para serem ouvidas.
Por não constar a relação das perguntas iniciais, em cumprimento ao art. 110,
do RIPTM, e da não apresentação do respectivo comprovante de pagamento do preparo,
foi dado prazo para os dois Representados cumprirem o determinado, em despacho de fl.
390 (publicado no e-DTM nº 188, de 19/12/17), mas os Representados deixaram decorrer
o prazo sem cumprir o determinado, conforme Certidão de fl. 392.
Encerrada a Instrução e aberto para Alegações Finais para os autores da
Representação da PEM e de Parte, fl. 392 (publicado no e-DTM nº 23, de 15/03/18), a
PEM, fl. 393 verso, reiterou os termos de sua Inicial e o autor da Representação de Parte
não se manifestou, conforme certidão de fl. 395.
Em Alegações Finais para os Representados da PEM e da Representação de
Parte, fl. 395 (publicado no e-DTM nº 66, de 29/05/18), CL Empreendimentos EIRELI,
em relação à Representação da PEM e da Representação de Parte, fls. 398 a 408, e
Diógenes da Encarnação de Brito, fls. 409 a 419, reforçaram os argumentos de suas
Defesas, de culpa exclusiva da vítima e de não fornecimento obrigatório do EPI luva para

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o exercício da função de auxiliar de máquinas, conforme fl. 246 dos autos, referente ao
PPRA juntado pelos Representados.
João Magno Santos Conceição deixou decorrer o prazo sem se manifestar em
Alegações Finais, conforme Certidão de fl. 397.
É o Relatório.
Decide-se:
De tudo o que consta dos presentes autos, temos que João Magno Santos
Conceição apresentou Representação de Parte em face de CL Empreendimentos Ltda.-
ME, por que esta empresa não lhe ter disponibilizado o EPI “luvas” (o Autor foi
indiciado no IAFN por não estar fazendo uso do EPI “luvas”, na manobra de atracação,
operando com cabos), com fulcro no art. 15, letra “e”, da Lei nº 2.180/54.
A D. Procuradoria representou em face de CL Empreendimentos Ltda., na
qualidade de locatária da embarcação “CAVALO MARINHO I” e empregadora da
vítima, por não ter disponibilizado o EPI “luvas”, inclusive trazendo prova desse não
fornecimento à vítima; que este EPI consta no Programa de Prevenção de Riscos
Ambientais, fl. 258, “botinas, capacete, luvas e óculos”, mas não foi disponibilizado para
a vítima; Diógenes da Encarnação de Britto, na condição de Comandante desta
embarcação, por consentir a realização da faina sem o devido uso do EPI (luvas), e de
João Magno Santos Conceição, tripulante desta embarcação, vítima não fatal, ao realizar
faina sem o devido EPI, colocando sua integridade pessoal em risco, todos com fulcro no
art. 15, letra “e”, da Lei nº 2.180/54.
Os Representados não constam do rol de culpados neste E. Tribunal.
CL Empreendimentos Ltda., locatária da embarcação “CAVALO MARINHO
I” e empregadora da vítima, e Diógenes da Encarnação de Britto, Comandante desta
embarcação, apresentaram Defesa com a tese de culpa exclusiva da própria vítima e de
não obrigatoriedade do fornecimento obrigatório do EPI “luva” para o exercício da
função de auxiliar de máquinas; que a PEM se baseou no conteúdo geral da empresa, em
cronograma universal dos equipamentos que devem ser fornecidos pela empresa, sem,
contudo, analisar o EPI indicado no cronograma correspondente à específica função do
marinheiro auxiliar de máquinas, com base na NR 6, item F, do Anexo I, além de,
alternativamente, a tese de ocorrência de fenômenos meteorológicos que contribuíram
para o fato da navegação em pauta, excludente de responsabilidade.
João Magno Santos Conceição, regularmente citado, não apresentou Defesa e
foi declarado revel, atraindo para si os efeitos da revelia.

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Não podem ser aceitas as teses das defesas.
O Representado de Parte e 1º Representado da PEM, assim como o 2º
representado da PEM trouxeram teses que não se sustentam, para os exculpar.
Trata-se de uma embarcação utilizada para transporte de passageiros, com
capacidade para 4 tripulantes e 151 passageiros, com 18,64m de comprimento e 5,0m de
boca (TIE fl. 60).
João Magno Santos Conceição, fls. 22 e 23, declarou que estava embarcado
na função de Marinheiro Auxiliar de Máquinas, que teve seu dedo prensado pelo cabo
que estava passado no cabeço da embarcação, durante manobra de atracação no Terminal
de Mar Grande, BA, ao realizar uma manobra de cabo na proa, devido ao movimento das
ondas conhecido como “LEVADIA”, sob condições de mar agitado.
Na carteira de Trabalho e Previdência Social, fls. 25 e 26, consta a
contratação de João Magno Santos Conceição como MAC em 01 de agosto de 2005,
empregador Antônio Garrido Teixeira Poceiro e, em 01 de junho de 2010, como
Marinheiro Auxiliar de Máquinas, tendo como empregador CL Empreendimentos Ltda.
A vítima é habilitada como Marinheiro Auxiliar de Convés, desde 16 de
outubro de 1998, CIR à fl. 27, e estava embarcado, na CIR, como MAC nas
“embarcações de Antônio Garrido Teixeira Poceiro L. CAVALO MARINHO I – II – III
– V”, por prazo indeterminado, fl. 29, (página 14 da CIR do vitimado, João Magno
Santos Conceição), não havendo desembarque e embarque em outra função. Na fl. 31, na
CIR de João Magno Santos Conceição consta que este foi aprovado no exame para
condução de motores do CFAQ-E (MAM), realizado na CPBA em 03/03/2004.
Na fl. 64 constam fotos da vítima com seu 3º quirodáctilo da mão direita
parcialmente amputado (falange).
Dos depoimentos consta que João Magno Santos Conceição estava
embarcado na função de Marinheiro Auxiliar de Máquinas, mas que rotineiramente
participava das manobras de cabos, nas atracações e desatracações, faina típica de
Marinho Auxiliar de Convés.
Os Peritos, em Laudo de Exame Pericial, fls. 51 a 55, no fator operacional,
considerou que o acidente ocorreu devido a vítima não estar utilizando o EPI (luvas).
O Encarregado do IAFN, fls. 69 a 74, apontou a própria vítima como a
responsável por seu infortúnio, tendo em vista “não encontra-se utilizando o EPI (luvas)”.
Na sua Defesa Prévia, João Magno Santos Conceição, fls. 176 a 179, atribui a
responsabilidade ao seu empregador, CL Empreendimentos Ltda. – ME, por não fornecer

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o EPI “luvas”, citando o art. 166, da CLT, obrigatoriedade da empresa de fornecer aos
empregados, gratuitamente, o EPI adequado ao risco.
A PEM, fls. 184 e 185, requereu diligências, atendidas pela CPBA, fls. 143 a
260, que incluiu, na fl. 227, a “FICHA DE CONTROLE DE EQUIPAMENTOS DE
PROTEÇÃO INDIVIDUAL – EPI”, referente ao material recebido por João Magno
Santos Conceição (bermudas jeans, camisa, par de botina, protetor auditivo e capacete)
com as respectivas datas e quantidades e “rubrica” do empregado, sem qualquer registro
de fornecimento do EPI “luvas”; nas fls. 232 a 260, consta o PROGRAMA DE
PREVENÇÃO DE RISCOS AMBIENTAIS – PPRA NR-09 Análise global, “Período:
abril/2015 à março/2016, da CL Transporte Marítimo – posterior ao fato da navegação
em pauta, mas que, na fl. 258 prevê, nas Medidas de Proteção Individual: Risco físico
(ruídos) – “UTILIZAR EPI (Protetor Auditivo)” e, em Equipamento de Proteção
Individual “BOTINAS, CAPACETE, LUVAS E ÓCULOS”.
Nas Defesas foi alegado que a função de Marinheiro Auxiliar de Máquinas
não contempla o uso de “luvas” e foi juntado um “Parecer” em ambas as Defesas, que
concluiu que não estaria previsto nenhuma ação preventiva específica por parte da
empresa para essa situação e que o uso de luvas não evitaria o resultado. No item F - EPI
PARA PROTEÇÃO DOS MEMBROS SUPERIORES F.1 – Luvas. No item a) luvas
para proteção das mãos contra agentes abrasivos e escoriantes; o parecista citou como
exemplo contato com chapas metálicas.
Conclusão:
Das provas dos autos, em especial as acima citadas, ficou provado que a 1ª
Representada da PEM e Representada de Parte não forneceu o EPI “luvas” para o 3º
Representado, vítima não fatal, João Magno Santos Conceição, como assumido em suas
Defesas, com a frágil alegação que não seria item obrigatório para a função de
Marinheiro Auxiliar de Máquinas, o que não se sustenta, pois contato com produtos
abrasivos e escoriantes a bordo ocorrem tanto na seção de convés quando na seção de
máquinas, mesmo em embarcações deste porte e estava previsto no PROGRAMA DE
PREVENÇÃO DE RISCOS AMBIENTAIS – PPRA desta empresa (com data posterior
ao fato da navegação em pauta), mas que não foi cumprido.
O tripulante João Magno Santos Conceição estava em faina de rotina nesta
embarcação, de atracação, manuseando cabos de amarração, o que exige o uso de luvas
apropriadas, o que afastaria qualquer sustentação da Defesa em face do que foi acusada,
devendo ser responsabilizada pelo fato da navegação, tipificado no art. 15, letra “e”

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(exposição a risco), da Lei nº 2.180/54.
O 2º Representado, Comandante do barco, também deve ser responsabilizado
por permitir a faina ser executada por tripulante sem utilizar o EPI necessário (luvas).
O 3º Representado, tripulante, vítima não fatal, também contribuiu para o
resultado pois sabia ou deveria saber que o EPI “luvas” é necessário para manobras de
cabos, em faina de amarração do barco, entretanto, como requerido pela D. Procuradoria,
por já ter sofrido o resultado de sua infração, deve ser aplicado o previsto no art. 143, da
Lei nº 2.180/54, não lhe aplicando as penas previstas no art. 121, da citada lei.
Por oportuno, deve ser oficiado à Capitania dos Portos da Bahia, agente da
Autoridade Marítima as infrações à LESTA, Lei nº 9.537/97 e ao RLESTA, Decreto nº
2.596/98 apontadas nos autos do IAFN: da responsabilidade da armadora da L/M
“CAVALO MARINHO I”, CL Empreendimentos Ltda.: art. 28, inciso I, do RLESTA
(falta de registro do embarque na CIR e no rol de equipagem/rol portuário do tripulante
João Magno Santos Conceição); e da responsabilidade da armadora CL
Empreendimentos Ltda. e do Mestre, Diógenes da Encarnação de Britto: art. 24, do
RLESTA, c/c a letra “b”, do inciso V, do art. 8º, da LESTA, c/c o art. 34, inciso I,
também da LESTA (não comunicação do fato da navegação à Autoridade Marítima).
Assim,
ACORDAM os Juízes do Tribunal Marítimo, por unanimidade: a) quanto à
natureza e extensão do fato da navegação: amputação traumática da falange do 3º
quirodáctilo da mão direita do tripulante João Magno Santos Conceição, vítima não fatal,
a bordo da L/M “CAVALO MARINHO I”, em manobras com cabos de amarração, na
faina de atracação desta embarcação, no Terminal de Mar Grande, Vera Cruz, BA, sem
registro de danos ambientais; b) quanto à causa determinante: falta do EPI “luvas” pelo
acidentado, aliado às condições de mar agitado, quando teve sua mão direita parcialmente
prensada entre o cabo da proa e o cabeço da lancha; c) decisão: julgar o fato da
navegação, tipificado no art. 15, letra “e” (exposição a risco), da Lei nº 2.180/54, como
decorrente da negligência da Representada de Parte e 1ª Representada da Representação
da D. Procuradoria Especial da Marinha, PEM, locatária e armadora da L/M “CAVALO
MARINHO I” e empregadora da vítima, e do 2º Representado, Comandante desta
embarcação, e, ainda de imprudência do 3º Representado, tripulante, vítima não fatal,
acolhendo a Representação da D. Procuradoria Especial da Marinha e, em parte, a
Representação de Parte de autoria de João Magno Santos Conceição, e, considerando as
circunstâncias, atenuante e consequências, com fulcro nos artigos 121, incisos I e VII,

11/12
(Continuação do Acórdão referente ao Processo nº 29.483/2015........................................)
===============================================================
124, inciso IX, 127 e 139, inciso IV, letra “d”, este para o 2º Representado, todos os
artigos da Lei nº 2.180/54, aplicar a pena de multa de R$ 3.000,00 (três mil reais) para a
Representada de Parte e 1ª Representada da PEM, CL Empreendimentos Ltda. – ME,
armadora e empregadora da vítima, e a pena de multa de R$ 300,00 (trezentos reais) para
o 2º Representado, Diógenes da Encarnação de Britto, Comandante da L/M “CAVALO
MARINHO I”, cumulativamente com a pena de repreensão para ambos. Custas
processuais para a 1ª Representada. Não aplicar pena ao 3º Representado, João Magno
Santos Conceição, MAC e MAM, tripulante, vítima não fatal, com fulcro no art. 143, da
Lei nº 2.180/54, como requerido pela PEM; e d) medidas preventivas e de segurança:
oficiar à Capitania dos Portos da Bahia, agente da Autoridade Marítima, as infrações à
LESTA, Lei nº 9.537/97 e ao RLESTA, Decreto nº 2.596/98 apontadas nos autos do
IAFN. Da responsabilidade da armadora da L/M “CAVALO MARINHO I”, CL
Empreendimentos Ltda.: art. 28, inciso I, do RLESTA (falta de registro do embarque na
CIR e no rol de equipagem/rol portuário do tripulante João Magno Santos Conceição); e
da responsabilidade da armadora CL Empreendimentos Ltda. e do Mestre, Diógenes da
Encarnação de Britto: art. 24, do RLESTA, c/c a letra “b”, do inciso V, do art. 8º, da
LESTA, c/c o art. 34, inciso I, também da LESTA (não comunicação do fato da
navegação à Autoridade Marítima).
Publique-se. Comunique-se. Registre-se.
Rio de Janeiro, RJ, em 14 de maio de 2019.

FERNANDO ALVES LADEIRAS


Juiz Relator

Cumpra-se o Acórdão, após o trânsito em julgado.


Rio de Janeiro, RJ, em 12 de julho de 2019.

WILSON PEREIRA DE LIMA FILHO


Vice-Almirante (RM1)
Juiz-Presidente
PEDRO COSTA MENEZES JUNIOR
Capitão-Tenente (T)
Diretor da Divisão Judiciária
AUTENTICADO DIGITALMENTE

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Assinado de forma digital por COMANDO DA MARINHA
DN: c=BR, st=RJ, l=RIO DE JANEIRO, o=ICP-Brasil, ou=Pessoa Juridica A3, ou=ARSERPRO, ou=Autoridade Certificadora SERPROACF, cn=COMANDO DA MARINHA
Dados: 2019.08.05 10:17:47 -03'00'

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