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Sociedade e Cultura

ISSN: 1415-8566
brmpechincha@hotmail.com
Universidade Federal de Goiás
Brasil

Gomes Lopes, VIictor Hugo


Reseña de "Aspectos do trabalho policial" de Egon Bittner
Sociedade e Cultura, vol. 9, núm. 2, julho-dezembro, 2006, pp. 339-341
Universidade Federal de Goiás
Goiania, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=70390210

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BITTNER, Egon. Aspectos do trabalho policial. Trad. Ana Luísa
Amêndola Pinheiro. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo,
2003.

VICTOR HUGO GOMES LOPES*

A identidade funcional da polícia somente polícia norte-americana, apesar de recorrentes


é de fato conhecida quando focada nos aspectos citações sobre modelos da polícia européia, em
do trabalho policial. A vaga noção de mero especial a inglesa e a irlandesa. Bittner procura
instrumento estatal de coação física, aos moldes alicerçar as bases de uma sociologia da polícia
de Max Weber, não é suficiente para dar-lhe – que se soma aos estudos de outros autores,
identidade específica como agente social. Desde como Eric Monkkonen, Jean-Claude Monet e
a criação da polícia moderna, a partir dos moldes Herman Goldstein, além de criminólogos como
adotados na Inglaterra na metade do século Edwin Sutherland.
XIX, suas atribuições sofreram alterações pro- O autor, em um interessante estudo sobre
fundas; de mecanismo estatal de controle de as skid rows (áreas deterioradas), indica que o
manifestações públicas à atual tentativa em se poder discricionário da polícia na manutenção
construir um modelo de polícia comunitária, a de paz permite uma série de maleabilidades,
instituição passou por mudanças ao longo dos como a opção em prender ou não um indivíduo.
anos, durante os quais uma geração procura O controle policial nessas áreas ocorre devido
aprimorar a atuação da anterior. ao conhecimento que os policiais têm de seus
O livro Aspectos do trabalho policial, do habitantes. Nessa análise, permite apontar que
sociólogo norte-americano Egon Bittner, editado as representações que a polícia faz de tipos so-
no Brasil pela Edusp para a coleção Polícia e ciais – como o preconceito em relação ao jovem
sociedade, reúne quatorze de seus principais negro pobre – são determinadas pela experiência
estudos, divididos entre artigos e ensaios, com profissional e pelos estereótipos socialmente
enfoque sobre as diferentes maneiras de se construídos.
atuar como um policial na sociedade contem- A manutenção da paz nem sempre é feita
porânea. A obra cobre 25 anos de pesquisas com prisão; os policiais valem-se do diálogo e
empíricas de Bittner – algumas inclusive etno- de outros tipos de abordagem. Nas skid rows,
gráficas – e estudos que resultaram em confe- a detenção não é necessariamente um estigma;
rências e workshops. O autor auxiliou na criação portanto, pode ser utilizada como forma de
da Commission on Accreditation for Law Enfor- controle social, especialmente em casos de
cement Agencies (Calea), que instituiu um excesso de bebedeira. Bittner utiliza o conceito
prêmio anual, batizado com seu nome, para weberiano de racionalidade como eficiência; o
chefes de polícia. planejamento de ação, entretanto, não é sufi-
A obra de Bittner auxilia na compreensão ciente para explicar alguns aspectos do trabalho
das alterações pelas quais têm passado o trabalho policial.
da polícia. Os estudos do autor são focados na Essa modificação no modus operandi da
polícia – que se viu obrigada a aperfeiçoar as
* Jornalista e mestrando em Sociologia pela Universidade
técnicas de investigação, a criar mecanismos
Federal de Goiás. especificados que não a subordinem demais ao
LOPES, VICTOR HUGO G. Aspectos do trabalho policial (Egon Bittner)

sistema judiciário e a aprimorar a formação de Bittner traz uma interessante discussão


seus integrantes – apresenta uma evolução sobre como a sociedade representa a polícia e
histórica e deve ser compreendida, de acordo o que essa instituição faz para atender os anseios
com Bittner, conforme as necessidades exigidas da primeira. O autor sustenta que a polícia pode
pela sociedade. Há atualmente uma clara preo- ser vista como uma força corrupta; entretanto,
cupação em estruturar um paradigma comuni- também é encarada como a opção mais recor-
tário-preventivo em substituição ao modelo de rente para sanar diferentes conflitos na socie-
polícia repressora, ao envolver a polícia com a dade. Há nesse paradoxo uma adequação do
comunidade. tratamento que a polícia oferece ao cidadão.
As primeiras experiências com o policia- Nesse ponto, o autor analisa a possibilidade de
mento comunitário – que surge como um tipo um mundo sem força policial ou, em termos
de relações públicas – atestaram o isolamento realistas, uma polícia que seja menos bruta no
da polícia em relação à comunidade. A tentativa tratamento com as pessoas.
de aproximação mostrou essa distância em Para Bittner, a partir da possibilidade citada
todas as camadas e classes sociais; Bittner acima, a polícia deve ser considerada a partir
afirma que a polícia funciona à parte do sistema da possibilidade de relativa independência em
judiciário, apesar de fazer parte desse sistema. sua atuação prática, mas sem romper os limites
O autor sugere que as leis de exclusão (exclu- da legalidade. Bittner escreve que “a indepen-
sionary rules) – em que um juiz é obrigado a dência institucional da polícia em relação ao
não admitir uma acusação criminal baseada em judiciário está baseada na percepção de que os
evidências ilegalmente obtidas – têm sido uma policiais inevitavelmente estão envolvidos em
lição sobre princípios de legalidade para a polícia. atividades que não podem ser totalmente exer-
A obra de Bittner, ao focar a atuação poli- cidas sobre a regra da lei ou estado de direito”.
cial, é estruturada como um grande rede hierar- Apesar dessa observação, a polícia não é
quizada, em que cada policial têm poder – não a “tênue linha azul” (thin blue line) que separa
necessariamente fiscalizado pelo departamento a civilização do caos e da barbárie. Bittner indica
de polícia – de agir ou não, de acordo com as no estudo que a polícia torna o mundo um pouco
circunstâncias, seguindo um tênue princípio de melhor, mas há quem não goste de estar à sua
legalidade. O conceito de microfísica do poder, mercê. O autor discute a pouca valorização do
de Michel Foucault, orienta as análises de trabalho social como um processo historicamente
Bittner e permite uma interessante reconstrução construído e fruto da falta de obrigatoriedade
do trabalho da polícia como uma intrincada rede de formação acadêmica específica ao policial.
de ação, baseada em decisões quase sempre O grau de grosseria no tratamento com o público
individuais, realizadas diretamente pelo policial – apesar de tolerado na origem da instituição –
em questão. não é mais aceito; portanto, se faz ainda mais
Os princípios weberianos de racionalidade necessária uma sólida formação do policial.
e individualismo somam-se à descentralização O livro de Bittner é revestido de conceitos
do poder em uma ampla rede proposta por humanistas que hoje têm se incorporado ao
Foucault na obra de Bittner, que não esquece discurso das academias de polícia. Fala-se em
de citar o conceito de solidariedade orgânica de humanidade e polidez no trato com o público;
Durkheim como importante fator na atuação discute-se o poder discricionário no agir do
policial em relação à divisão social do trabalho. policial, aos moldes da distribuição de poder
Trata-se de uma ampla tentativa em definir o segundo Foucault; apontam-se outras funções
papel da polícia na sociedade a partir de uma da polícia que não a de mero policiamento e
perspectiva evolutiva, histórica. Esse aspecto repressão ao crime. A leveza com que o texto é
leva a uma análise mais detida sobre o estudo escrito permite ao leigo e ao estudioso apro-
mais importante do livro: “As funções da polícia veitar-se do conteúdo bem esclarecido. Os
na sociedade moderna: uma revisão dos fatores exemplos trabalhados aos olhos da etnografia
históricos, das práticas atuais e dos possíveis reforçam o prazer da leitura, ao mesmo tempo
modelos do papel da polícia”. em que discutem situações concretas sobre a
SOCIEDADE E CULTURA, V. 9, N. 2, JUL./DEZ. 2006, P. 339-341

atuação policial. Há uma boa quantidade de estabelecidos pela moral e pela confiança na
notas explicativas, mas sem ocupar muito espaço legalidade”. Ter-se-ia uma polícia mais eficiente
do texto. As referências bibliográficas são claras com um aprimoramento mais elevado do trabalho
e objetivas. Há um único senão: uma maior acui- policial, constando como carreira acadêmica,
dade na revisão ortográfica do texto. com produção científica própria e disciplinas de
Aspectos do trabalho policial permite que formação humanísticas. Trata-se, então, de uma
a leitura de Bittner sobre a polícia norte-ameri- obra instrumental que defende uma posição a
cana possa ser empregada na realidade brasi- favor da formação acadêmica para uma carreira
leira, uma vez que os desafios são semelhantes. que, seja no Brasil ou nos Estados Unidos, não
Bittner sugere que o policial moderno é “um conta com devida valorização, dada a sua
profissional informado, decidido, e tecnicamente importância no cotidiano das pessoas.
eficiente, que sabe como deve operar nos limites

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