Inicialmente, Roberto Lyra Filho nos leva a desconstrução da ideia errônea de que direito e lei estão ligados um ao outro sem que não seja possível haver o Direito sem a lei. A legislação abrange o Direito propriamente dito, reto e correto, e também um “antidireito”, que seria formado por esses interesses aos quais as leis se submetem. Considerando também que a lei é uma arma que surge do Estado, que está sob o controle de uma classe dominante e que o conceito de direito foi deturpado propositadamente, fazendo com que este se torne subordinado a estas leis, ou seja, acaba institucionalizado pelo grupo dominante, fazendo se pensar em um direito autêntico e global, que esteja além das leis e das dominações sociais. Reforça também a necessidade de reflexão sobre a influência das mutações que o direito sofre com as mudanças de regime no controle do Estado, no qual inclui os ordenamentos em países socialistas. SEGUNDO CAPÍTULO - Ideologias jurídicas Lyra Filho dedica-se a explicar a origem do termo “ideologia” de uma forma cronológica, passando de um significado simples, a um significado negativo atual, de conjunto de ideias que extrapolam da visão humana. Lyra classifica as ideologias em três grandes grupos: Ideologia como crença, ideologia como falsa consciência e ideologia como instituição. A primeira, ao contrário do que parece, não está ligada unicamente a religião, mas sim ao conjunto de ideias que o ser humano adquiriu durante a sua vida, a ideologia como crença representa opiniões pré- fabricadas, que são inconscientes e anteriores aos indivíduos, são ideias silenciosamente adquiridas pelos sujeitos por conta do meio em que habitam que não são pensadas criticamente, apenas absorvidas. A segunda refere-se às evidencias que nos levam a desacreditar no que nos foi dito ou apresentado, esse efeito característicos de certas crenças como uma deformação da realidade. A terceira é aquela estabelecida, por exemplo, pelos estatutos e legislações, onde, por um dito consenso geral, de sua transmissão a grupos e pessoas, já que a ideologia é um fato social antes de se tornar um fato psicológico. Portanto, as ideologias jurídicas são importantes por apontarem os traços da realidade do que é o direito, ainda que a realidade apresentada seja deformada ou distorcida, ou seja, não é uma invenção, ela guarda uma conexão com a real essência do direito. TERCEIRO CAPÍTULO - Principais modelos de ideologia jurídica Neste capítulo, Lyra Filho trata sobre os dois principais grupos, que surgem as ideologias jurídicas fundamentadas no direito natural e no direito positivo, de um lado o direito como o direito legítimo e justo, e de outro a ideia do direito como a ordem estabelecida através das normas vigentes. Ou seja, o Positivismo em contraposição ao jusnaturalismo. O ordenamento surge então de acordo com o direito natural, que é um direito justo e que valida à existência do ordenamento. A ideologia positivista, por outro lado, dá enfoque ao direito ordenado, é o fato do direito ser positivado que o torna justo, não o contrário. Que podem ser classificados em legalista, considerando somente a lei: historicista ou sociologista, originário do “espírito do povo”, resguardado pelos mecanismos de controle e segurança desta ordem já estabelecida; psicologista, que permite aos juízes como construir normas. No âmbito do direito natural, o jusnaturalismo é dividido em cosmológico, ligado ao cosmo, o universo físico, o teológico, volta-se para Deus, e o antropológico, que gira em torno do homem. Ressalta ainda que ambos possuem falhas, mas que um completa o outro. Lyra finaliza este capítulo afirmando que é necessária uma reflexão jurídica, isenta das ideologias que corrompem a essência do direito, conjugando a filosofia e sociologia. QUARTO CAPÍTULO - Sociologia e Direito Neste capítulo, Roberto estabelece uma relação entre a sociologia e o Direito, analisando as ideias de Marx e Engels, fundadores da sociologia histórica. Essa abordagem das relações entre a sociologia e o direito pode ser analisada de duas formas diferentes, a sociologia jurídica e a sociologia do direito. Lyra pontua a existência de duas posições fundamentais: a da “estabilidade, harmonia e consenso”, na qual as normas são baseadas na harmonia das relações sociais e costumes; e a da “mudança, conflito e coação”, em que as relações dos grupos sociais são instáveis e esses grupos questionam as normas estabelecidas. O mesmo expõe que, não há Estado que defenda todas as ideologias ao mesmo tempo, assim tornando um ou outro grupo “fora da lei” já que em nenhum caso os grupos sociais possuem cada um o seu Estado e isso leva as revoltas e revoluções em todas as esferas e tamanhos. QUINTO CAPÍTULO - A dialética social do Direito Ao abordar esse tema, Lyra cita o processo de globalização que se desenvolveu no mundo, após a segunda grande guerra mundial. Que provocou alterações significativas nas sociedades, uma vez que elas se influenciam mutuamente, inclusive de maneira imperialista. Fala também que o papel da mídia passa a ser muito importante nesse novo processo, servindo com uma espécie de vitrine cultural moderna, se manifestando de acordo com as tendências mundiais, que emanam dos grandes centros urbanos. E que o direito é o resultado da dialética social, considerando todos os aspectos, nacionais e internacionais, resultante das mudanças sociais constantes. Neste contexto, a justiça social seria resultante do processo histórico dessa sociedade, o direito considera os princípios básicos da justiça social atualizada pela reorganização da liberdade conquistada nas lutas sociais, com a positivação dessa liberdade conquistada, de um lado restringindo e de outro garantindo a liberdade da sociedade, e jamais deverá ser confundido com as normas jurídicas porque o direito não é uma “coisa” pronta e acabada, mas sim um processo constante que busca uma libertação.
REFERÊNCIAS:
LYRA FILHO, Roberto. O que é Direito. Editora Brasiliense: São Paulo, 1982.
MADEIRA, Lígia Mori e ENGELMANN, Fabiano. Estudos Sociojurídicos - Apontamentos Sobre Teorias e Temáticas de Pesquisa em Sociologia Jurídica No Brasil.