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A RAIZ MITOLÓGICA DOS NOSSOS SISTEMAS CULTURAIS

Felipe Augusto de Luca1


RESUMO

Encontrar sentido na realidade que nos cerca é, talvez, a tarefa mais difícil para nós,
seres humanos. Ao longo de nossa história diversos pensadores elaboraram teorias para
que entendêssemos o funcionamento do universo, do mundo, da sociedade etc.

PALAVRAS-CHAVE: mitologia; imanência; transcendência; liberdade; vontade.

ABSTRACT

Looking for meaning in the reality that arrounds ourselves is, maybe, the most difficulty
work for us, human kind…

KEYWORDS: mitology; imanency; transcendence; freedom; desireness.

INTRODUÇÃO: O PODER DOS MITOS

Entre várias linguagens que podemos utilizar para compreender o universo que
nos rodeia está a linguagem mítica, que longe de ser apenas uma simples elaboração
fictícia ou fantasiosa, contém uma força subjetiva capaz de mobilizar sociedades
inteiras.
Para entender um pouco mais sobre a importância dos mitos, precisamos saber
os motivos de seu surgimento e qual a sua real importância A palavra mito vem do
grego mithós, que quer dizer contar, narrar, falar alguma coisa para os outros. Trata-se
de uma narrativa muito singular criada para explicar os acontecimentos da vida, os
fenômenos naturais, as origens do mundo e do homem por meio de deuses, semideuses,
heróis, animais falantes etc. Surge, então, como uma fonte de explicação racional, mas
não cientifica, para aquilo que se vê mas não se consegue compreender tecnicamente.
Embora o mito seja considerado por alguns como uma explicação atrasada e
rudimentar por não ter uma lógica precisa, para especialistas no assunto, como o
mitólogo americano Joseph Campbell, o mito pode ser considerado como um “embrião

1
Mestre em Filosofia pela Universidade de São Paulo. Contato: luckdelucca@usp.br
da ciência”, pois auxilia a razão humana a estabelecer as primeiras relações, a definir as
primeiras causas e os primeiros significados sobre um fenômeno que se manifesta. Em
suma, auxilia a mente a se abrir ao desconhecido. A facilidade de sua compreensão e o
seu poder de mexer com a imaginação – a tal ponto de nos fazer crer e nos motivar a
agir de uma ou outra forma – mostra que o mito não só está presente em sociedades
mais simples, como tribos e clãs, mas também em todas as sociedades mais complexas,
tais como as que vivemos.
Mas por que podemos afirmar que os mitos estão presentes ainda hoje? Por que
a realidade é complexa e densa demais para ser compreendida totalmente e sob uma só
perspectiva. Em nossa sociedade, por exemplo, criamos, recriamos e damos força a
diferentes mitos desde que nascemos: acreditamos em seres que nos presenteiam
durante a infância, que nos apresentam inocentemente a adolescência e que nos punem
por certos comportamentos; depois criamos para nós mesmos modelos de
revolucionários, de conquistadores e de sábios. Assim, presentes na mente do jovem que
busca mudar o mundo, de uma cientista motivada a encontrar a todo custo a cura de
uma doença, do professor que entra em uma sala com quarenta ou cinquenta alunos,
começa-se a perceber o quanto o funcionamento e a dinâmica da mente humana é
impressionante. E apesar dos mitos parecerem suprimidos pelas grandes camadas de
racionalidade, eles estão lá, sempre influenciando nossos pensamentos, decisões e
comportamentos em intensidades diferentes.

1. Onde estão os mitos antigos?


Comumente, acreditamos que os mitos pertencem à esfera cultural de civilizações
antigas ou atrasadas.

“As pessoas entendem facilmente que os “primitivos” consolidam sua ordem social
acreditando em deuses e espíritos e se reunindo a cada lua cheia para dançar
juntos em volta da fogueira. Mas não conseguimos avaliar que nossas instituições
modernas funcionam exatamente sobre a mesma base”. (SAPIENS, p. 36)

“A Revolução Cognitiva [?] é o ponto em que a história declarou independência da


biologia [...] A partir dela, as narrativas históricas substituem as narrativas
biológicas como nosso principal meio de explicar o desenvolvimento do Homo
Sapiens. (SAPIENS, p. 46)
“a principal diferença entre indivíduos de tenro e gravata e os xamãs tribais é que os
primeiros contam histórias muito mais estranhas”. (SAPIENS, p. 36

Quando dizemos que o mito dos xamãs e os mitos contados pelos indivíduos de terno e
gravata se assemelham, é porque ambos podem ser sustentados como explicações
racionais com pretensão de validade geral. E isso não quer dizer que sejam excludentes:
um mesmo indivíduo ou em seu grupo, se podem encontrar a defesa de uma linguagem
lógica-causal e a prece por “dias melhores de trabalho”. Isso, portanto, não significa que
sejamos hipócritas ou ilógicos, mas apenas que as ideias de “regularidade” e “provas”,
fazem parte mais de nossas percepções de mundo e de nossas teorias do que
propriamente do mundo em que vivemos (Cf. HACKING, p. 57) .

Sociedades tribais (Radcliff-Brown): Potlach, Kula...

2. Onde estão os mitos atuais?

Objetivos comuns
“contar histórias eficazes não é fácil. A dificuldade está não em contar a história,
mas em convencer todos os demais a acreditarem nela. Grande parte de nossa
história gira em torno desta questão: como convencer milhões de pessoas a
acreditarem em histórias específicas sobre deuses, ou nações, ou empresas de
responsabilidade limitada? Mas quando isso funciona, dá aos sapiens poder
imenso, porque possibilita que milhões de estranhos cooperem para objetivos em
comum”. (SAPIENS, p. 40)

O iluminismo também foi um objetivo comum que se pôs no século XVIII. Tratando
pejorativamente dos mitos como escuridão ou infância da mentalidade humana, diversos
intelectuais empunharam a bandeira do esclarecimento, principalmente científico, como
forma de elevar a condição humana para uma civilização cosmopolita. Essa ideia, que
hoje também consideramos como mito do progresso, teve diversos expoentes, como
Kant, Condillac e Condorcet, que se fizeram ecoar posteriormente em Auguste Comte
(Cf. HACKING, p. 65).
Em Kant, encontramos a ideia de progresso da razão (sapere aude)
Em Condillac, encontramos a compilação de enciclopédias e manuais que redefiniram a
agilizaram a forma de aquisição do conheicmento;
Em Condorcet, encontramos o ápice do mito do progresso e da perfectibilidade humana
que permeiam todo o universo semântico jurídico do Ocidente: Direitos Humanos,
Constituições, tratados e acordos se amparam na ideia de cooperação visando o
progresso.
Embora estas ordem imaginadas sejam muito mais complexas e detalhadas dos que os
mitos antigos, não podemos deixar de considerar as críticas que também vieram de
encontro a elas, nos fazendo conhecer as suas entranhas, ocultas a olho nu.
Contra Kant: (Nietzsche/Freud, no século XIX, desmascararam colocando novos mitos,
inclusive de “degeneração” da espécie).
Contra Condillac, hoje percebemos que o excesso de informação também causa entropia
no sistema, atravancando seu funcionamento. (Conceito de Entropia – excesso de
informação e 2ª lei da termodinâmica) Aliás, se desconfia mesmo dos organizadores do
conhecimento, a saber, a Industria Cultural
Contra Condorcet e a ideia de progresso, observamos o impacto da humanidade sobre a
própria humanidade (hoje temos mais livros e filmes sobre o fim do mundo, guerras e
bombas nucleares)...Receios após Revolução Frencesa; Malthus já falava sobre a
insustentabilidade da espécie
Não estamos aqui querendo ser pessimistas. Ressaltamos aqui, que os mitos
“nos ajudam a manter a chama da vida acesa nos momentos em que a
sobrevivência está por um fio”. O doente grave ou terminal que entrega os pontos e
se rende por completo à probabilidade avassaladora da morte iminente está
praticamente morto. Mas o doente que, apesar de toda a evidência em contrário,
sustenta no íntimo de sua alma a convicção cega, firme e inabalável de que vai
conseguir vencer o mal parece aumentar as suas chances objetivas de recuperação.
(GIANNETTI, p . 37).
O relato pungente do químico e escritor italiano Primo Levi, sobre sua
experiência como prisioneiro de guerra dos nazistas no ambiente infernal e
absurdamente degradante de Auschwitz, ressalta o valor de sobrevivência da
cegueira protetora associada a certos tipos de crença não racional:
Os não-agnósticos, os que mantinham alguma forma de crença, qualquer que ela
fosse [...] suportaram melhor as provas do campo de concentração e sobreviveram
em maior número [...] Não importava que fé religiosa ou política fosse. Padres
católicos ou reformados, rabinos de várias ortodoxias, sionistas militantes,
marxistas ingênuos ou sofisticados e testemunhas de Jeová — todos eles tinham em
comum a força salvadora da fé que possuíam. O seu universo era mais vasto que o
nosso, mais extenso no espaço e no tempo e, acima de tudo, mais inteligível [...]
Alguns, nos intervalos dos trabalhos [forçados], tentavam nos catequizar. Mas
como se pode, sendo leigo, fabricar para si mesmo ou aceitar de repente uma fé
“oportuna” só porque ela é oportuna? (GIANNETTI, p . 37).

Estamos tentando mostrar que nossas teorias declaradamente racionais contém


as mesmas pretensões de validade que aquelas dos mitos mais antigos. A diferença é
que a quantidade, o nível de complexidade e a tentativa de impô-los – como mais
“objetivos” e “verdadeiros” – uns aos outros nunca chegou a tanto como nos dias atuais.

3. A sinfonia dos mitos.

Mitos compartilhados (Sapiens)


Como você faz as pessoas acreditarem em uma ordem imaginada como o
cristianismo, a democracia ou o capitalismo? Primeiro, você nunca admite que a
ordem é imaginada. Você sempre insiste que a ordem que sustenta a sociedade é
uma realidade objetiva criada pelos grandes deuses ou pela natureza (SAPIENS, p.
121)

A difusão dos mitos pelos meios de comunicação de massa (luhmann, zizek, Adorno)

Autoilusão em sincronia (Giannetti)


Quando os mitos se entranham e, de forma inconsciente, aquilo que era luxo se torna
necessidade.

O problemas se os mitos acabarem (Sapiens)


“É fácil aceitar o Código de Hamurabi como um mito, mas não queremos ouvir
que os direitos humanos também são um mito”. (SAPIENS, p. 119). E a justificativa
é simples: a sociedade em que vivemos corre o risco de desmoronar, pois as ideias que
lá estão se entrelaçam – não poucas vezes com contradições – constituindo e dando
estabilidade na cultura em que vivemos. Se por um lado a gravidade não irá deixar de
existir se pararmos de pensar nela, por outro lado, qualquer ordem imaginada pode
sofrer um colapso se não tiver condições de dar respostas a novos questionamentos. Por
isso também é que não poucas vezes se fizeram necessários a força e a coerção (Cf.
SAPIENS, p. 119), que apelavam a um forte poder ideológico junto de uma complexa
anatomia política (Cf. FOUCAULT, Vigiar e Punir, p. 122, pdf “cérebros moles”).

Não precisamos ir longe para ver se o poder ideológico de um mito funciona de


verdade. “Biologicamente, os humanos estão divididos entre os sexos masculino e
feminino. O homo sapiens do sexo masculino tem um cromossomo X e um
cromossomo Y ; um individuo do sexo feminino tem dois cromossomo X. Mas
“homem” e “mulher” são categorias sociais, não biológicas. Embora na grande
maioria dos casos, a maior parte das sociedades humanas, homens seja do sexo
masculino e mulheres do sexo feminino, os termos sociais carregam muita
bagagem que tem uma relação apenas tênue, se é que tem alguma, com os termos
biológicos. Dentro dos mitos que têm acompanhado essas culturas, homo sapiens
denominados culturalmente “homens” e homo sapiens denominados culturalmente
“mulheres” são designados a cumprir determinados papeis: os primeiros brincam de
carrinho, devem serviço militar ao seu país e exercer papel de maior autoridade em casa.
Por sua vez, os segundos, devem brincar de boneca, criar os seus filhos, obedecer ao
parceiro “homem”.
Ora, sabendo hoje que estes termos são cunhados e tem relação com a tradição
cultural e não com a estrutura biológica, objetiva e constante destes seres, podemos ver
que seja qual for a cultura ou subcultura em que o homo sapiens esteja vivendo e se
realizando, a intensidade de seu papel como “homem” ou como “mulher” passará por
constantes mudanças. “Nenhuma sociedade coroa automaticamente cada pessoa do
sexo masculino como homem e cada pessoa do sexo feminino como mulher.
Tampouco cada um desses títulos são louros sobre os quais descansar assim que
adquiridos. O indivíduo do sexo masculino que se percebe como “homem” precisa
provar constantemente que aprendeu seu papel, numa série interminável de ritos e
performances, enquanto o indivíduo feminino que se percebe como “mulher” deve,
continuamente, convencer a si mesma e aos outros de que é feminina o bastante.” (Cf.
SAPIENS, p. 158)

O problema de seguir ordens imaginadas em todo o seu rigor, até porque parecem
fundamentadas racionalmente e em alguma medida bem-sucedidas empiricamente, é
que as suas principais consequências só se revelam a posteriori. Neste sentido, um mito
pode, dentro de alguns poucos anos, passar de maneira imperceptível ao grau de
“autoengano coletivo de grandes proporções, sincronizados entre si” (Cf.
GIANNETTI, p. 53)

Ainda que pareçam muito diferentes entre si...

“Talvez devamos afirmar, porém, não existir distinção estrutural entre normas e
fantasias. Não apenas porque fantasias também são modos de se orientar na
conduta a partir de determinações de expectativas de regularidades, mas porque
não há norma social que não tenha alguma força de lei, e essa força nos leva
necessariamente em direção ao núcleo fantasmagórico de toda autoridade. Não há
nenhuma aquiescência à norma sem a necessidade de uma complemento
fantasmático”. (SAFATLE, p. 81).

CONCLUSÃO

REFERÊNCIAS

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