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O PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA E O

ENFRENTAMENTO DAS DESIGUALDADES


DE GÊNERO: O DESAFIO DE PROMOVER
O REORDENAMENTO DO ESPAÇO
DOMÉSTICO E O ACESSO DAS
MULHERES AO ESPAÇO PÚBLICO

FICHA TÉCNICA

Instituição executora: Ações em Gênero, Cidadania e Desenvolvimento


(AGENDE) e Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher da Universidade de
Brasília (NEPEM).

Equipe responsável: Mireya Suárez e Marlene Teixeira (coordenadoras), Marlene


Libardoni, Rosa Helena Stein, Ana Julieta Cleaver, Sandra Teixeira, Simone Garcia,
Paula Foltran, Priscila Maia e Wanderson Chaves.

Equipe SAGI: Daniela Peixoto Ramos e Júnia Quiroga.

Órgão de Cooperação Técnica Internacional: Departamento de Desenvolvimento


Internacional do Reino Unido (DFID).

Período de realização: novembro de 2005 a novembro de 2006.

APRESENTAÇÃO DA PESQUISA

Objetivos

Investigar os efeitos do Programa Bolsa Família sobre a condição social das mulheres
beneficiárias, particularmente no referente às desigualdades de gênero nos espaços
domésticos e públicos com foco nos seguintes aspectos: (i) arranjos domésticos,
em termos da distribuição intradomiciliar de recursos materiais e simbólicos; (ii)
participação das mulheres nos processos de tomada de decisão no âmbito familiar;
(iii) participação das mulheres nas instâncias de representação política e na esfera
pública (conselhos de direitos, estabelecimentos de ensino, entidades educativas,
associativas, comunitárias e/ou religiosas); (iv) escolaridade das mulheres, homens,
crianças e adolescentes; (v) acesso e assiduidade das mulheres aos diferentes serviços
de saúde, em especial àqueles relacionados aos direitos sexuais e reprodutivos; (vi)

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acesso e tipo de inserção das mulheres nos “programas sociais complementares”, em
especial aqueles relacionados à capacitação profissional e à geração de emprego e renda.

A avaliação pretendeu também examinar o modo como o Programa Bolsa Família vem
funcionando a partir das realidades específicas vividas pelas beneficiárias nos espaços
familiares e públicos, recomendando ações para o aperfeiçoamento do programa.

Procedimentos metodológicos

Pesquisa qualitativa caracterizada por um conjunto de estudos de caso realizados em


dez municípios brasileiros, que utilizaram as mesmas técnicas de investigação e análise.

Os dez municípios pesquisados, distribuídos entre estados das Regiões Sudeste,


Norte e Nordeste, foram selecionados com base nos seguintes critérios: (i) IDH;
(ii) alto percentual de não brancos entre a população; (iii) alto percentual de
cobertura do Programa Bolsa Família e (iv) proporção de população urbana e rural.
Quatro deles são capitais de estados (Belo Horizonte, São Luís, Belém e Aracajú),
dois são zonas urbanas de médio porte (Candeias-BA e Floriano-PI), quatro são
predominantemente rurais e situados no litoral (Passo de Camaragibe-AL) ou no
interior (Ecoporanga-ES, Chapada do Norte-MG e Riachão-MA).

As técnicas de investigação incluíram: entrevistas semiestruturadas e em profundidade,


entrevistas abertas e grupos focais. Os informantes foram mulheres beneficiárias e
agentes governamentais ligados direta ou indiretamente à gestão do Programa Bolsa
Família (gestores, secretários/as municipais, funcionárias/os dos Centros de Referência
de Assistência Social e outros servidores públicos).

Resultados

A maior parte das beneficiárias entrevistadas são nativas do município ou aí moram há


mais de 10 anos (84,8%). Outra característica majoritária das beneficiárias entrevistadas
é o fato de serem não brancas (86,9%), definindo-se como negras, pardas ou morenas.
A ausência do cônjuge (marido ou companheiro) verificou-se em 46% do total dos
grupos domésticos, configurando estruturas familiares monoparentais.

A pesquisa constatou que o isolamento social, refletido pelos espaços sociais por onde
circulam as beneficiárias, o baixo tempo de percurso ou deslocamento requerido para
realizar as atividades, é um fato marcante na vida das mulheres pesquisadas. Labores
não remunerados, realizados para o próprio grupo doméstico, são suas atividades
principais. As atividades de lazer, embora frequentemente mencionadas, concentram-
se, pelo relato dessas mulheres, em eventos como ver televisão, dormir ou descansar.

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Há consenso, entre as equipes gestoras, de que a implantação do Bolsa Família, um
programa cuja magnitude não tinha precedentes nos municípios, colocou, como
primeiro desafio, a insuficiência da infraestrutura existente e a necessidade de serem
criadas, com urgência, condições organizacionais para sua execução, tanto no que diz
respeito ao pessoal quanto ao espaço físico e à aquisição de equipamentos.

Nas experiências observadas, a gestão do programa está centrada no Cadastro Único


para Programas Sociais, sendo a atenção das equipes quase que exclusivamente voltada
para o recadastramento das famílias, a identificação e cadastramento das famílias
potencialmente beneficiárias.

A complexidade do Programa Bolsa Família, afirmada por gestores de todos os


municípios visitados, é uma das principais fontes de problemas enfrentados em sua
operacionalização, o que repercute diretamente na comunicação e, consequentemente,
no relacionamento entre as distintas instituições e equipes técnicas envolvidas com a
implementação do programa, e destas com as famílias beneficiárias.

Diante do conjunto de dificuldades que decorrem da dimensão do programa federal e


da complexidade na alimentação do Cadastro Único, as gestões locais nos municípios
visitados têm adotado diferentes estratégias para viabilizar a operacionalização do
programa. As diferenças dizem respeito, principalmente: (i) às estratégias adotadas para
realizar o cadastramento, com relação ao momento da implementação do programa
e (ii) a qual instância compete o acompanhamento das condicionalidades.

Em linhas gerais pode-se afirmar que, no entendimento das beneficiárias, o


programa se restringe ao recebimento de um dinheiro fixo, que possibilita o melhor
cumprimento de sua responsabilidade de cuidar das crianças. Receber o benefício
significa, para essas mulheres, uma possibilidade de expansão da “maternagem”,
entendida como o desempenho do papel de cuidar de crianças, seja na qualidade de
mãe, seja na de mãe substituta, que garante o fortalecimento do seu papel central na
coesão social do grupo doméstico pelo qual são responsáveis.

Por parte dos agentes governamentais, as condicionalidades do programa se


configuram como uma possibilidade de poder exigir das beneficiárias uma
contrapartida pelo recebimento do benefício. Esse controle disciplinar, por parte dos
agentes governamentais, se insere na lógica de uma moralidade burocrática tradicional
impermeável à ideia de que as políticas de transferência de renda expressam um
direito cidadão.

Os principais impactos do programa na condição social das mulheres se refletem: (i) na


visibilidade das beneficiárias como consumidoras, já que o benefício lhes confere maior

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poder de compra; (ii) na afirmação da autoridade dessas mulheres no espaço doméstico,
decorrente muito mais da capacidade de compra suscitada pelo benefício do que,
necessariamente, de uma mudança nas relações de gênero tradicionais e (iii) mudança
na percepção das beneficiárias sobre si próprias como cidadãs, o que se tornou possível,
especialmente, após o momento em que foram obrigadas a lavrarem documentos, tais
como a certidão de nascimento e a carteira de identidade, para o cadastro no programa.

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