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GRUPO TRANSFORMAÇÕES EM CONVERSAS

Reunião ocorrida em 28 de Setembro de 2012 na SBPRP


Sociedade Brasileira de Psicanálise de Ribeirão Preto

Como entendo o conceito EXPERIÊNCIA EMOCIONAL

Paulo de Moraes M. Ribeiro


Membro Efetivo da SBPSP e Analista Didata da SBPRP

Estimulado pela conversa em torno do complexo material clínico trazido pela colega
Suely Delboni no último encontro do grupo “Transformações em Conversas” ocorrido em
Junho/2012 e no qual emergiram diversas questões sobre o conceito “experiência
emocional” de Bion, resolvi elaborar este estímulo para darmos continuidade ao complexo
tema.

I. “Experiência emocional” (EE) é um conceito que acompanha toda a obra de Bion. Em


“Aprender com a Experiência” (livro que até poderia se chamar de ‘Aprender com a
Experiência Emocional’) e “Elementos da Psicanálise” o conceito é usado de forma
explícita, depois, em “Transformações” e em “Atenção e Interpretação”, ele sofre
modificações significativas para, finalmente, desaparecer como termo explícito nos
artigos publicados entre 1976 e 1979, embora continuasse presente nas supervisões e
seminários dados por Bion nesses mesmos anos sob os nomes coloquiais de “feeling”
e “impression” (Braga, 2012a).
II. Confusões com o termo são frequentes. “Experiência emocional” não é o mesmo que
sentir emoção. Sentir emoção é mais próximo da sensorialidade, são experiências que
mesclam sensações físicas com a consciência psíquica destas sensações, enquanto EEs
são vivências mais próximas da realidade psíquica, fruto de relações
continente↔contido, sejam elas dentro da própria personalidade ou em interações
externas (Braga, 2012b).
III. “Experiência emocional” pode ocorrer na mente do analisando, na mente do analista
e na relação entre ambos. Às vezes simultaneamente, vive-se a mesma experiência
emocional na mesma dimensão, outras vezes analista e analisando experimentam EEs
em dimensões distintas, como é o caso da dimensão do não-conhecer (por ex., o
analisando em transformações projetivas ou em alucinose enquanto a analista tenta
trabalhar em transformações em K).
IV. Em “Aprender com a Experiência” (1962) o sentido considerado por Bion para
“experiência emocional” relaciona-se ao processo de formação de pensamentos por
um pensador. Portanto, faz parte de sua teoria do pensamento e é expressa:

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 como vivência emocional que acompanha a experiência de preenchimento de
uma pré-concepção em sua conjunção com um objeto que a satisfaz adequada
ou inadequadamente (realização positiva ou negativa)1;
 como experiência psíquica de elos no processo de conhecer, ou sejam, vínculos
positivos e negativos de amor (L), ódio(H) e conhecimento(K).
V. Em “Transformações” (1965), Bion expandiu o modelo da mente para além do uso das
“experiências emocionais” do analisando como matéria prima para o desenvolvimento
de pensamentos. A partir desta obra, a apreensão da realidade psíquica passou a ter
como foco principal a mente do analista, o que se passa nesta na relação com seu
analisando; o interesse nas “experiências emocionais” deslocou-se para o
desenvolvimento dos pensamentos no analista (ou, mais especificamente, nas EEs
geradoras de pensamentos na mente do analista). Deste modo, o analista tornou-se
capaz de trazer para a dimensão do conhecer, experiências psíquicas de áreas da
mente do analisando que ainda não dispõem de recursos simbólicos para
representação (não-conhecidas).
VI. Os conceitos “sendo O” ou “tornando-se O” e “intuição”, apresentados em
“Transformações” e “Atenção e Interpretação” (1970), a meu ver, constituem-se na
evolução natural do conceito “experiência emocional”. O conceito EE, ao passar a ser
analisada a partir da observação da mente do analista (ou seja, a EE do analista naquele
momento daquela relação com o analisando e consigo mesmo concomitantemente),
evolui para um conceito mais específico, o “sendo” ou “tornando-se O”, que é a EE
mais específica possível de ser vivida a dois, uma vez que os limites do que se origina
num ou noutro perde nitidez e mesmo importância. Por sua vez, o conceito “intuição”
pode ser pensado como a EE que ocorre na mente do analista em consequência do
“sendo O”.
VII. O “sendo O” mudou o vértice de observação analítica antes focado no conhecer X não-
conhecer, que são dimensões de K. O “ser ou tornar-se a realidade” e sua
consequência, a possibilidade do uso técnico da “intuição”, especificou e ao mesmo
tempo expandiu o conceito de “experiência emocional”; assim, incluiu no arsenal
técnico da Psicanálise a observação de EEs que podem transitar inconscientemente de
uma mente para outra, criando uma espécie de ‘atalho’ nos processos do conhecer.
[Vide fragmento clínico.]
VIII. Pelo exposto, muitos movimentos psíquicos envolvem “experiência emocional”,
motivo pelo qual penso ser este tema gerador de tanta confusão conceitual. Por
exemplo, os psicanalistas falam em ‘trabalhar na experiência emocional, ou com a

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Em “Aprendendo com a Experiência”, Bion propõe: “... vou supor que uma criança tem uma preconcepção inata sobre a existência
de um seio que satisfaz sua natureza incompleta. A “realização” do seio prove uma experiência emocional.” (Bion, 1962, p.69). A
preconcepção é filogeneticamente herdada, mas o seio real realmente existe, é um fato. Winnicott levou uma década para
contemplar o paradoxo: o seio é criado pela criança, mas já esta lá, a sua disposição para ser percebido. Esta experiência adquire
qualidade emocional se, e quando ela se pareia/casa/conjuga com a preconcepção inata que cada bebê possui a respeito de seio.
Podemos pensar que no momento em que o seio preconcebido se realiza, surge o protótipo de todas as “experiências emocionais”
que podem se seguir.
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experiência emocional’, coisificando algo que é um conceito imaterial e dando a
impressão de ser possível possuir (ou não) a capacidade de trabalhar em tal âmbito.2
IX. A partir de “Transformações”, Bion nos apresenta o modelo da mente
multidimensional e neste novo modelo, que o acompanhou até o final de sua obra, o
conceito de vínculos do conhecer e não-conhecer é substituído pelo conceito de
dimensões mentais conhecidas e não-conhecidas. A partir deste vértice, as
“experiências emocionais” do analista passam a indicar a dimensão da vida mental
prevalente em um dado momento da observação. Se trabalhando em condições
mentais suficientemente favoráveis, as EEs do analista podem ser consideradas
invariantes no reconhecimento das possíveis transformações acontecendo na relação.
Mesmo as “transformações autísticas” (Korbivcher, 2010), quando observadas numa
relação, podem gerar EEs no analista, a quem caberá fazer as transformações em
pensamento.
X. Sinteticamente, ao longo da obra de Bion, o conceito “experiência emocional” pode
ser abarcado como:
 vivência emocional geradora de pensamentos (pré-concepção + realização
positiva ou negativa)
 vivência emocional inerente aos vínculos ± L, ± H, ± K
 “sendo O” ou “tornando-se O”
 “intuição”
 “feeling” e “impression”
XI. Sandler (2012) refere que “experiência emocional” é como o ar que nos cerca e está
disponível para respirarmos, ele está sempre ali, à disposição, mas - como Bion deixou
claro - depende sempre de uma relação (♀♂). Os elementos apontados acima, a saber:
vivência emocional geradora de pensamentos, vínculos ± L, ± H, ± K, “sendo ou
tornando-se O”, “intuição”, “feeling” e “impression”, constituem boa parte da matéria-
prima da relação analítica, o que nos leva à indagação: o que numa psicanálise não se
constitui em “experiência emocional”? Fica aberta a questão.
XII. Pensando na complexidade da clínica psicanalítica, que requer apreensão de
dimensões mentais conhecidas e não-conhecidas, e seguindo Sandler (2012) e Bion
(1962), proponho pensarmos num espectro que vai desde a apreensão sensorial
(sensações, percepções oriundas dos nossos órgãos dos sentidos) até as emoções
básicas (expressões dos instintos, conforme conceituação de Freud e Klein, e
entendidas como tendo qualidade sensorial antes de serem transformadas pela função
α)3: Apreensão Sensorial ↔ Emoções Básicas.
Este espectro pode ser comparado ao espectro total da luz, do qual apenas uma
pequena parte recai dentro da capacidade de apreensão do olho humano, a maior

2
Altamente sofisticado, atualmente, é ‘trabalhar na ou com a experiência emocional’, assim como há alguns anos o jargão
sofisticado era ‘trabalhar na ou com a transferência’.

3
Bion: Se a função α estiver perturbada e, portanto, inoperante, as impressões sensoriais das quais o paciente está consciente,
assim como, as emoções que ele está experimentando, permanecem inalteradas. Chamá-las-ei de elementos β. (...) As emoções,
da mesma forma, são objetos dos sentidos. (1962, pág. 6; tradução livre do autor).

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parte de nossas sensações e emoções é como a luz ultravioleta ou a luz infravermelha,
que permanecem fora de nosso alcance perceptivo, portanto, impossibilitadas de uso.

O tempo todo nossa apreensão consciente e inconsciente (ou: finita e infinita)


está oscilando neste espectro Apreensão Sensorial ↔ Emoções Básicas. Uma questão
poderia ser: como tornar isso utilizável ao psiquismo do analista e ao do analisando?
Bion (1962) talvez comece a nos ajudar: “A função alfa desempenha um papel central
ao transformar uma experiência emocional em elementos-alfa, pois um senso de
realidade é tão importante para o individuo quanto comida, bebida, ar e excreção de
produtos inúteis. Impossibilidade de comer, beber ou respirar apropriadamente traz
consequências desastrosas para a própria vida. Não conseguir usar a experiência
emocional produz um desastre comparável para o desenvolvimento da personalidade;
incluo entre esses desastres certos graus de deterioração psicótica que poderiam ser
descritos como morte da personalidade. (...) Não se pode conceber uma experiência
emocional isoladamente de uma relação. (p. 42)

Bibliografia:

1. BION, W. R. (1962) Learning from experience. London: Karnac.


2. ________ (1963) Elements of psycho-analysis. London: Karnac.
3. ________ (1965) Transformations: change from learning to growth. London: Karnac.
4. ________ (1970) Attention and Interpretation. London: Karnac.
5. BRAGA, J. C. (2012a). As Experiências Emocionais do analista como fio condutor nos
labirintos da mente multidimensional. Trabalho apresentado em reunião científica da
SBPSP, em 3/3/2012.
6. _________ (2012b). Afinal, como apreendo o uso por Bion do conceito experiência
emocional?. In Afinal o que é experiência emocional em Psicanálise?. Organizadores:
Cecil Rezze, Evelise de Souza Marra, Marta Petricciani. São Paulo: Primavera Editorial,
2012.
7. SANDLER, P. C. (2005). The Language of Bion. Karnac Ed., 2005.
8. ___________ (2012). Experiência Emocional. In Afinal o que é experiência emocional
em Psicanálise?. Organizadores: Cecil Rezze, Evelise de Souza Marra, Marta Petricciani.
São Paulo: Primavera Editorial, 2012.
9. KORBIVCHER, C. F. (2010). Bion e Tustin. Os fenômenos autísticos e o referencial de
Bion: uma proposta de aproximação. In Transformações autísticas: o referencial de
Bion e os fenômenos autísticos. Rio de Janeiro: Imago, pp.107-32.
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