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13 DE MAIO - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO POPULAR

CRÍTICA DA ECONOMIA 18/Agosto/2019

Alucinações circulatórias da moeda e


do capital no encerramento do ciclo
econômico .

por JOSÉ MARTINS, da redação.

Marx lembrava com satisfação, na Introdução à Crítica da Economia Política, a


inspiradíssima frase de lorde Gladstone – o mais poderoso político e primeiro-
ministro inglês da imperialista era vitoriana: “... nem mesmo o amor levou tanta
gente à loucura como as cogitações sobre a essência da moeda...”

Acontece que, na última semana, mais de cento e cinquenta anos depois da morte
do poderoso lorde britânico, sua frase reapareceu com cintilante atualidade nas
cogitações dos economistas do sistema sobre estranhos movimentos ocorridos na
variação dos “preços do dinheiro” (juros) na maior economia do planeta.

O foco do mercado saiu momentaneamente da política monetária e da popular


taxa básica de juros do Federal Reserve Bank (Fed, banco central dos EUA). Ou
mesmo das oscilações das principais moedas globais, do preço do ouro, etc.

Nesta semana aconteceram coisas mais preocupantes para a ordem e o progresso


capitalista em todo o mundo. De repente, todas as atenções dos homens do
mercado deslocaram-se para as curvas de juros (yelds) dos títulos de dívida dos
governos nas principais economias do mundo; dos EUA, principalmente.

Da moeda para a quase-moeda. Ora, trata-se aqui justamente de um território da


acumulação do capital como um todo (produção e circulação) em que a essência
da moeda está mais longe do entendimento dos capitalistas e seus limitados
economistas que em todas suas outras formas de aparecimento.

Muito mais distante ainda do entendimento das pessoas comuns em todo o


mundo, que não têm a menor ideia nem do que sejam essas quase-moedas dos
governos e outras misteriosas formas do valor.

Mesmo assim assistiram atônitos, no decorrer desta nesta semana, nos noticiários
de televisão do horário nobre, os apresentadores informarem em tom grave de

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voz e testas franzidas de preocupação que estava ocorrendo uma inversão na
curva de rendimentos dos títulos de 10 anos e de 2 anos do tesouro dos EUA !!!

Infelizmente, para o grande público da cidade global os movimentos materiais


envelopados em categorias da economia política são muito mais difíceis de serem
didaticamente esclarecidos que as encenações da política e de outras formas
religiosas da civilização.

De todo modo, o mundo não para. Às vezes até acelera. Como nesta semana,
quando aconteceu uma sucessão de fatos incríveis no processo de circulação do
dinheiro-capital para a definição da data e da profundidade da explosão da
próxima crise de superprodução do capital global.

Observemos inicialmente a superficialidade dos fenômenos. Por volta das 14


horas de quinta feira (15) o rendimento da nota de 10 anos do Tesouro, que se
move inversamente ao seu preço de venda, atingiu uma baixa de três anos na
marca de 1,467%, abaixo do rendimento dos títulos a 2 anos de 1,475%, seu
nível mais baixo desde outubro de 2017.

Ocorria então aquela incomum e perigosa inversão da curva de rendimentos de


um título de longo prazo (10 anos) e de um de curto prazo ( 2 anos). Isto
representa no fechado mundo da economia um paradoxo no fluxo natural do
capital produtor de juros e, claro, uma grande preocupação no mercado.

Não é nem um pouco natural que os capitalistas passem a ser mais bem
remunerados por emprestar ao governo dos EUA pelo prazo de 2 anos do que
pelo prazo de 10 anos.

Essa inversão da curva de rendimentos não foi um fato isolado. Ocorreu


simultaneamente a outra sinalização também muito importante para a definição
do próximo choque periódico e crise do capital.

Além das peripécias dos títulos de 10 e de 2 anos, pela primeira vez na história os
títulos de 30 anos do Tesouro dos EUA estavam pagando um rendimento abaixo
de 2,0%, cravando 1,961%, após cair para até 1,941%. Veja no gráfico abaixo a
evolução de longo prazo deste rendimento dos títulos de 30 anos.

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Em 1989, os títulos de 30 anos do tesouro dos EUA pagava 10%. Na semana
passada estava pagando menos de 2%. Essa queda histórica nos rendimentos dos
títulos de longo prazo dos EUA é observada com muita preocupação pelos
capitalistas. Por duas razões principais.

A primeira, porque a inversão dessa parte-chave da curva de juros tem sido


historicamente um indicador que se repetiu e que antecipou a aproximação de
todos (absolutamente todos) os choques cíclicos do pós- guerra, chamados de
“recessão” pelos economistas vulgares.

A segunda preocupação é com o fato de que crescentes pressões cíclicas sobre o


processo de produção e acumulação mundial levaram os capitalistas a tanto medo
do seu futuro, no curto-prazo, que o estoque mundial dos títulos dos governos
negociados a taxas negativas de rendimentos elevou-se exponencialmente em
todo o mundo para um novo recorde dos últimos setenta anos.

O normal do mercado é que os capitalistas emprestem seu dinheiro ao governo


com a promessa de ser pago de volta, acrescidos com juros, na data do
vencimento. Juros positivos, portanto. Mas agora, à medida que os capitalistas se
tornam cada vez mais desesperadas por um “porto seguro” para sua propriedade
privada ameaçada pela próxima crise são os governos de grandes economias que
são remunerados ao tomar dinheiro emprestado. Com juros negativos!

Essa história de juros negativos é muito menos normal do que aquela inversão da
curva de rendimentos entre títulos de longo e de curto prazo observada acima.

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Mesmo alguns bancos privados europeus já oferecem empréstimos aos seus
fregueses com juros negativos. Você toma emprestado 10 euros agora e paga 9
euros daqui 10 anos. Dá para acreditar? Mesmo assim, pouca gente aparece para
aproveitar essa “generosidade”.

Assim, se aprofunda velozmente e se amplia neste final de ciclo econômico a


clássica armadilha da liquidez , na qual as taxas de juros cada vez mais baixas
tornam-se, ao mesmo tempo, as maiores do mundo. O sistema de crédito
desaparece.

Esse bizarro fenômeno ocorre na medida em que as pressões deflacionárias nos


preços e lucros mundiais das mercadorias-capital dão o sinal de alerta aos
capitalistas sobre uma nova e iminente interrupção da acumulação em todas as
esferas da circulação capitalista.

A armadilha da liquidez, o desaparecimento do crédito e, finalmente, o


derretimento da moeda, é um resultado de um processo deflacionário de preços
que se alastra por todo o mercado mundial.

Cerca de US$ 15 trilhões de títulos do governo em todo o mundo, ou 25% do


mercado, já são negociados a taxas negativas, segundo o Deutsche Bank. Este
número quase triplicou desde outubro do ano passado.

Acontece, neste exato momento, um processo inédito de armadilha da liquidez e


deflação global no período pós-guerra. Nota-se no gráfico acima o importante
fato que esse processo de entrada do capital produtor de juros no território dos

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rendimentos negativos inicia-se mundialmente no mês de agosto de 2014.
Timidamente, até o início de 2016, acelerando-se nos anos seguintes. Finalmente,
como já observado acima, o volume deste entesouramento é triplicado desde
outubro do ano passado.

Deve ser devidamente registrado o seguinte: o fato de este fenômeno ser inédito
nos últimos setenta e cinco anos ter ocorrido apenas recentemente, a partir de
2014, é muito importante para a análise da forma e magnitude específicas da
iminente crise global.

Os bancos centrais globais têm afrouxado sua política monetária em níveis sem
precedentes nos últimos setenta anos, com a dívida pública se expandindo
descontroladamente na Europa e no Japão com taxas de juros zero ou negativas.
Uma superprodução de moeda e de crédito para segurar os preços de produção
das mercadorias-capital.

O montante da dívida global com rendimentos negativos continua a crescer e, à


medida que os bancos centrais tentam reagir e se proteger da grande crise global
que se aproxima eles contribuem para um declínio ainda maior nos rendimentos
dos títulos.

Na Alemanha e sua poderosa economia industrial os títulos do governo de 30


anos foram negativos pela primeira vez na semana passada.

Agora, com a mais do que provável entrada dos títulos públicos estadunidenses
nesta contabilidade da massa de títulos negociados com taxas de juros negativas,
pode-se imaginar que essa bastarda massa de capital passaria a representar
instantaneamente não mais apenas 25%, mas de 50 a 70% do total deste títulos
públicos em todo o mundo.

Além desta gigantesca e inédita migração de massas de capital com taxas de


juros negativas para os títulos públicos de longo prazo das principais economias
vislumbra-se também a extensão e a violência da destruição de capital que deve
ocorrer no período de crise que se aproxima. Uma massa de capital de
aproximadamente US$ 30 trilhões a ponto de ser instantaneamente incinerada.

Em outras palavras, é bastante elevada a probabilidade da próxima reversão do


período atual de expansão do ciclo para o próximo período de crise desembocar
diretamente em uma crise geral ou catastrófica, como descrita por Rosa de
Luxemburgo.

Uma crise catastrófica da economia mundial também seria inédita no período pós
guerra dos últimos 75 anos. O mundo viraria de ponta-cabeça. Tudo se tornaria
possível.
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No mês passado, o presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi botou
mais lenha na fogueira. Sinalizou, do mesmo modo que o Fed vem sinalizando
nas duas últimas semanas, que o BCE reduzirá ainda mais as taxas de juros antes
do final do ano, já que “um grau significativo de estímulo monetário continua
sendo necessário para garantir condições financeiras favoráveis e apoiar a
expansão da zona do euro”.

Ao tentar salvar as condições financeiras do sistema ameaçadas pela derrocada


econômica na produção de valor e de mais-valia os capitalistas destroem antes o
seu sistema monetário e de crédito público.

É por isso que todas as crises periódicas de superprodução de capital são abertas
por uma crise financeira, antes mesmo de alcançar a esfera produtiva e comercial.
Este roteiro da realização da crise mistifica ainda mais as suas causas. Para os
economistas em geral a crise econômica será sempre apenas mais uma crise
meramente financeira ou de crédito.

Na maneira mais sofisticada desta mistificação, no caso dos marxistas


keynesianos, será sempre uma crise de sobre-acumulação, não de superprodução
de capital. Tudo é um problema circulatório. Relembrando mais uma vez Rosa de
Luxemburgo, estes “epígonos de Marx” estacionaram no livro 2 de O Capital (o
Processo de Circulação do Capital) e esqueceram de ler a sequência no Livro 3
(Processo de Conjunto da Produção e Circulação do Capital).

Na raiz destas dificuldades teóricas (com danosas consequências práticas)


encontra-se a confusão que todos esses economistas vulgares fazem da relação
orgânica entre dinheiro-capital, de um lado, e, de outro lado, capital-dinheiro. O
primeiro é capital produtor de juro, o segundo é capital produtor de lucro. Daí
todos esses revisionismos teóricos dos marxistas do século 21 como
“financeirização do capital” e outras asneiras.

Acontece que na dinâmica econômica, estritamente delimitada pelo ciclo


periódico de superprodução e crise do capital, a lei da gravidade (ou do valor) da
economia sempre se impõe sobre a desmesurada superprodução de juros ocorrida
no período de expansão. Como deflação dos preços mundiais e abrupta redução
da autonomia relativa da esfera financeira, além da sagrada autonomia
igualmente relativa da política econômica dos governos.

Em um ciclo econômico completo, a grande massa da superprodução de capital


criada no período expansivo consiste deste dinheiro-capital ou (capital-fictício)
que, nas fases finais de encerramento do ciclo, como agora, perde
progressivamente sua autonomia relativa frente à produção de valor e de mais-
valia e se desvaloriza abruptamente.

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Antecipa-se assim, na forma de uma crise de crédito e de uma gigantesca queima
de capital, que ora se avizinha, a paralização da produção e a depressão
econômica propriamente dita.

A maior parte deste entesouramento de mais de US$ 15 trilhões detectado pelo


Deutsche Bank é de dinheiro-capital, capital produtor de juros, que migra em
quase sua totalidade de uma infinidade de ativos financeiros do mercado de
capitais e de dinheiro para o “porto seguro” dos títulos públicos.

Neste mês de agosto de 2019, este corrosivo processo de superprodução do


conjunto do capital se aproxima de seu desenlace na medida exata em que os
rendimentos ainda positivos dos títulos públicos dos EUA também se
aproximam, como vimos acima, das taxas negativas que já toma conta das
principais economias mundiais.

Anuncia-se inédita e planetária queima de capital. É exatamente nesta tão


esperada revelação que reside a grande importância dos fatos ocorridos nesta
semana com os enlouquecedores e essenciais movimentos da moeda na maior
potência econômica do planeta e no resto do mundo.

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