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Acontece que, na última semana, mais de cento e cinquenta anos depois da morte
do poderoso lorde britânico, sua frase reapareceu com cintilante atualidade nas
cogitações dos economistas do sistema sobre estranhos movimentos ocorridos na
variação dos “preços do dinheiro” (juros) na maior economia do planeta.
Mesmo assim assistiram atônitos, no decorrer desta nesta semana, nos noticiários
de televisão do horário nobre, os apresentadores informarem em tom grave de
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voz e testas franzidas de preocupação que estava ocorrendo uma inversão na
curva de rendimentos dos títulos de 10 anos e de 2 anos do tesouro dos EUA !!!
De todo modo, o mundo não para. Às vezes até acelera. Como nesta semana,
quando aconteceu uma sucessão de fatos incríveis no processo de circulação do
dinheiro-capital para a definição da data e da profundidade da explosão da
próxima crise de superprodução do capital global.
Não é nem um pouco natural que os capitalistas passem a ser mais bem
remunerados por emprestar ao governo dos EUA pelo prazo de 2 anos do que
pelo prazo de 10 anos.
Além das peripécias dos títulos de 10 e de 2 anos, pela primeira vez na história os
títulos de 30 anos do Tesouro dos EUA estavam pagando um rendimento abaixo
de 2,0%, cravando 1,961%, após cair para até 1,941%. Veja no gráfico abaixo a
evolução de longo prazo deste rendimento dos títulos de 30 anos.
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Em 1989, os títulos de 30 anos do tesouro dos EUA pagava 10%. Na semana
passada estava pagando menos de 2%. Essa queda histórica nos rendimentos dos
títulos de longo prazo dos EUA é observada com muita preocupação pelos
capitalistas. Por duas razões principais.
Essa história de juros negativos é muito menos normal do que aquela inversão da
curva de rendimentos entre títulos de longo e de curto prazo observada acima.
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Mesmo alguns bancos privados europeus já oferecem empréstimos aos seus
fregueses com juros negativos. Você toma emprestado 10 euros agora e paga 9
euros daqui 10 anos. Dá para acreditar? Mesmo assim, pouca gente aparece para
aproveitar essa “generosidade”.
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rendimentos negativos inicia-se mundialmente no mês de agosto de 2014.
Timidamente, até o início de 2016, acelerando-se nos anos seguintes. Finalmente,
como já observado acima, o volume deste entesouramento é triplicado desde
outubro do ano passado.
Deve ser devidamente registrado o seguinte: o fato de este fenômeno ser inédito
nos últimos setenta e cinco anos ter ocorrido apenas recentemente, a partir de
2014, é muito importante para a análise da forma e magnitude específicas da
iminente crise global.
Os bancos centrais globais têm afrouxado sua política monetária em níveis sem
precedentes nos últimos setenta anos, com a dívida pública se expandindo
descontroladamente na Europa e no Japão com taxas de juros zero ou negativas.
Uma superprodução de moeda e de crédito para segurar os preços de produção
das mercadorias-capital.
Agora, com a mais do que provável entrada dos títulos públicos estadunidenses
nesta contabilidade da massa de títulos negociados com taxas de juros negativas,
pode-se imaginar que essa bastarda massa de capital passaria a representar
instantaneamente não mais apenas 25%, mas de 50 a 70% do total deste títulos
públicos em todo o mundo.
Uma crise catastrófica da economia mundial também seria inédita no período pós
guerra dos últimos 75 anos. O mundo viraria de ponta-cabeça. Tudo se tornaria
possível.
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No mês passado, o presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi botou
mais lenha na fogueira. Sinalizou, do mesmo modo que o Fed vem sinalizando
nas duas últimas semanas, que o BCE reduzirá ainda mais as taxas de juros antes
do final do ano, já que “um grau significativo de estímulo monetário continua
sendo necessário para garantir condições financeiras favoráveis e apoiar a
expansão da zona do euro”.
É por isso que todas as crises periódicas de superprodução de capital são abertas
por uma crise financeira, antes mesmo de alcançar a esfera produtiva e comercial.
Este roteiro da realização da crise mistifica ainda mais as suas causas. Para os
economistas em geral a crise econômica será sempre apenas mais uma crise
meramente financeira ou de crédito.
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Antecipa-se assim, na forma de uma crise de crédito e de uma gigantesca queima
de capital, que ora se avizinha, a paralização da produção e a depressão
econômica propriamente dita.