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Então, o que exatamente é o momento de louvor? Deveria ele ser algo intocável
em nossas igrejas?
Assim como uma refeição com entrada, prato principal e sobremesa, o momento
de louvor segue um fio condutor ou roteiro. O momento de louvor pode começar
com uma chamada à adoração ou um cântico de convite. Esse cântico estabelece
um tema específico e convida os adoradores a louvarem a Deus. Em seguida,
alguns outros cânticos desenvolvem o tema, tanto musical quanto poeticamente.
Essa é a porção de “entrada”. Se o primeiro cântico focava no caráter de Deus,
essa sequência pode conduzir a igreja a considerar o nosso pecado e redenção
em Cristo. O último cântico do momento de louvor é o clímax teológico e musical.
Ele pode consistir de uma celebração da ressurreição, ou um chamado a
responder em fé e discipulado, ou simplesmente uma declaração de louvor. Bob
Kauflin defende esse tipo de desenvolvimento temático deliberado em seu
livro Louvor e adoração, e apresenta uma variedade de esboços de momentos
de louvor úteis para serem experimentados.[1]
O momento de louvor pode ser uma abordagem que glorifica a Deus porque
moldar a ordem dos cânticos de uma maneira deliberada ajuda na “edificação da
igreja” que deve caracterizar a nossa adoração corporativa (1Coríntios 14.26).
Ele unifica os cânticos em torno de um conceito central, o que promove
entendimento. Se bem utilizado, o momento de louvor prepara a congregação
para as questões específicas e prioridades que o sermão abordará. Como uma
narrativa com começo, meio e fim, um momento de louvor pode capturar a nossa
imaginação e nos ajudar a sermos atraídos por Deus por meio da história
implicitamente contada na sequência de cânticos.
Então, eu não quero declarar que o momento de louvor seja um conceito de todo
terrível. Mas eu quero tirar aquela escultura de vidro da vovó da prateleira e ver
se ela pode ser melhorada.
Por quê? Embora o momento de louvor tenha muito de elogiável, ele não está
livre de perigos. Aqui estão três potenciais armadilhas que ele apresenta. Para
cada uma delas, eu apontarei algumas maneiras de pensar e ir “além” do
momento de louvor.
Eu temo que, por causa disso, muitos evangélicos tenham uma imagem bifurcada
da adoração pública: a parte musical do culto é apropriada para aqueles que se
relacionam com Deus por meio de experiências emocionais, ao passo que o
sermão existe para envolver os intelectuais, os do “lado esquerdo do cérebro”.
Na pior das hipóteses, essa falsa dicotomia pode também perpetuar o equívoco
comum de que o louvor por meio do canto é o louvor da igreja, o que leva a
comentários do tipo: “O louvor (leia-se: a música) hoje foi incrível, mas o sermão
foi um pouco seco” – como se a pregação não fosse doxológica também.
Independente de como nós estruturamos nossos cultos, precisamos nos esforçar
para transmitir a idéia de que tanto a música quanto a pregação (e os demais
elementos – vide o ponto 2) são propriamente “louvor” a Deus, e que eles são
essenciais para todos os cristãos.
Aqui estão algumas sugestões para evitar esse perigo. Primeiro, se os seus
cultos geralmente caem na fórmula “30 minutos de música e 30 minutos de
pregação”, então mude a sua ordem de culto regularmente. Considere quebrar o
momento de música com oração, leitura bíblica ou reflexão silenciosa. Tente
ocasionalmente colocar o sermão mais próximo do início do culto, deixando a
maior parte do canto para depois da mensagem.
Faça com que outro indivíduo, que não seja o líder de louvor nem o pregador, de
preferência um presbítero, conduza todo o culto. Chame esse homem de
“anfitrião”, “dirigente”, “líder de culto” (este é o termo que usamos na minha
igreja), ou como preferir. Mas assegure que ele não seja o líder de música nem
o pregador. Se esse indivíduo faz a saudação e dá os avisos, introduz as
músicas, dirige o ofertório, conduz as orações, e assim por diante, então ele pode
trazer unidade a todo o culto.
Outro perigo do momento de louvor é que ele pode levar uma igreja a
menosprezar os elementos de culto não musicais. Paulo disse a Timóteo:
“Dedique-se à leitura pública da Escritura” (1Timóteo 4.13, NVI). Ele instruiu o
jovem pastor a conduzir a sua igreja a oferecer “súplicas, orações, intercessões,
ações de graças” (1Timóteo 2.1). A sua expectativa era de que os membros da
igreja de Corinto separassem a sua oferta “no primeiro dia da semana (1Coríntios
16.2), passagem da qual muitos inferem que a oferta era uma parte integral da
adoração pública da igreja do Novo Testamento. Jesus ordenou seus seguidores
a batizarem novos discípulos (Mateus 28.19) e lhes deu a sua Ceia para que eles
pudessem proclamar a sua morte até que ele venha (1Coríntios 11.26). Há muito
mais a fazer na igreja do que cantar e pregar.
O perigo do momento de louvor é que esses outros elementos da adoração
bíblica podem ser deixados em segundo plano. Se a congregação espera (ou até
mesmo exige?) experimentar uma progressão musical criativa e bem ensaiada,
isso pode eliminar essas outras expressões ordenadas de adoração. Decerto, eu
não estou sugerindo que ninguém intencionamente ponha de lado os elementos
bíblicos de culto. Eu apenas desejo enfatizar um padrão que tenho observado:
quando uma igreja privilegia a adoração por meio do canto, dando-lhe a maior
porção de tempo e foco, esses outros elementos de culto tendem a se tornar
fracos e superficiais.
Como os pastores e aqueles que lideram o louvor por meio de canto podem
trabalhar contra essa tendência?
Se você usa o momento de louvor, resista à idéia de que esse momento deva
conter apenas música a fim de ter máximo impacto. Isso não é um show. Intercale
orações e leituras entre os cânticos.
Promova uma cultura de adoração por meio de oração vigorosa em seus cultos.
Se você dedicar tempo significativo à oração durante o culto público, não deve
surpreender que os membros de sua igreja aprendam a priorizar a oração em
suas vidas particulares.
Por fim, promova uma cultura de adoração por meio da leitura bíblica em seus
cultos. Se nós cremos que a Palavra de Deus é “mais cortante do que qualquer
espada de dois gumes” (Hebreus 4.12), vamos tirá-la da bainha e deixá-la fazer
o seu trabalho. Leia de tal modo que as majestosas verdades da Escritura ecoem
nos ouvidos da sua congregação. Considere treinar um número de congregantes
para que leiam bem a Escritura: com significado, ênfase, gravidade e alegria. Nós
distribuímos o excelente artigo de Tim Challies sobre como ler a Escritura em
público a todos aqueles que fazem a leitura em nossa igreja.
Faça tudo o que puder para assegurar que a congregação seja capaz de ouvir o
canto uns dos outros. Esse é um princípio bíblico básico, dado que Paulo exorta
os crentes a falarem “uns aos outros” com salmos, hinos e cânticos espirituais
(Efésios 5.19). Mas também há um longo caminho para cultivar uma atmosfera
de alegria e envolvimento com as letras.
Proporcione uma estrutura que ajude a interpretar o louvor por meio da música.
Por exemplo, em vez de começar o culto com as luzes apagadas e um solo de
guitarra cheio de efeitos (o que soa demais como um show), comece com um
chamado à adoração extraído da Palavra de Deus ou uma breve oração.
Antes de a música começar, faça com que o líder de culto dê algumas palavras
de instrução ou exortação de modo a colocar o(s) cântico(s) em contexto. Essa
interpretação do que está por vir é de grande valor não apenas para os crentes,
mas também para os incrédulos, que podem não saber o que fazer com a música
que estão prestes a escutar. (Veja 1Coríntios 14.24 acerca da prioridade em
tornar o culto compreensível aos visitantes incrédulos). Sim, pode parecer um
pouco travado e estranho ter esses pequenos comentários antes do canto. Mas
até mesmo essa quebra de ritmo no culto é uma coisa boa, porque envolve a
mente da congregação e inibe a passividade que a cultura de entretenimento
promove.
Notas:
[1] Bob Kauflin. Worship Matters: Leading Others to Encounter the Greatness of
God (Wheaton, IL: Crossway Books, 2008), 114. Publicado em português com o
título Louvor e adoração (Curso Vida Nova de teologia básica - Vol. 11. São
Paulo: Edições Vida Nova, 2011).