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O homem se cria no mundo como um ser conceituador. Mas, acima de tudo, conforme
nos mostra a ciência da Antropologia, como um ser adaptado “aos padrões e critérios
tradicionalmente transmitidos de uma geração para outra na sua comunidade. Desde o
nascimento do indivíduo, os costumes da sociedade em que ele nasce moldam sua experiência
e seu comportamento.” Nesse sentido, até mesmo conceituar faz parte de sua lógica
estruturada.
A cultura que referimos ser humana não tem características próprias, a não ser em uma
comunidade específica. Apesar de sua incrível adaptabilidade a todas as culturas, essa não é
uma característica biológica, nem hereditária. “A cultura não é um conjunto que se transmita
biologicamente”, como diria Benedict. Para a antropologia, além dos aspectos biológicos, o
homem é reconhecido por sua cultura e por seus costumes.
Para os antigos alquimistas esse encontro com a potencialidade somente seria possível
através da etapa conhecida como separatio, o princípio de logos, a separação, a distinção.
Separar para integrar é um princípio da natureza, incluindo a natureza do homem. Marie Louise
Von Franz lembra que o começo da criação de todas as coisas inicia com a separação entre o céu
e a terra. Jung no Sétimo Sermão aos Mortos destaca:
“A nossa própria natureza é distinção.
O efetivo do inefetivo.
Plenitude e o vácuo.
Vivo e morto.”
É a semente. E o método. O rabino kabbalista Isaac Halevi Luria usa a simbologia das
letras aramaicas Zayin Chet Vav como código representativo para equilíbrio e diz a sua célebre
frase: “como eu planto a semente, assim será a árvore.” É preciso a semente
e também a compreensão do plantio. Pois, como explicaria o Dr. Frankl, a
intensão excessiva impossibilita o que é desejado, pois a atenção se volta
para a tarefa e não para o objetivo em si. O remédio é o próprio sintoma.
Mas, para o homem deixar seus padrões e voltar a ser ele mesmo, para que toda essa
transformação de fato aconteça, é preciso muito mais do que apenas a noção da mudança e a
vontade comum. É preciso que se descubra uma força motriz que impulsione a mudança, seu
lado espiritual. Viktor Frankl chamará de Vontade de Sentido.
O Rabino Luria explica que “quando o mais oculto desejado se revelar a Si-mesmo, El (a
expressão representativa de Deus) faz um ponto que ascende e se
converte em um pensamento.” Isso é chamado de “tzim-tzum”, e,
segundo este princípio, “El” forma todas as imagens e desenhos
dessa forma, como se fosse um arquiteto.
A não invenção de si mesmo, a aceitação plena dos costumes, é o gerador das neuroses,
ou seja, o conflito entre o que “sou” e o que “devo ser”, uma força “incongruente” e
tendenciosa. Ao contrário, a pessoa auto-realizada, espiritual, descobre sua capacidade de
crescer de “uma entidade simples” para uma “entidade complexa”, como o “tzim-tzum”.
Dessa forma, o homem espiritual, não mais o homem dos costumes, realiza o
“aperfeiçoamento de sua sabedoria através da pesquisa de todas as coisas” (chih-chih re-wu),
pois, “o universo é a minha mente e minha mente é o universo. Nos quatro mares aparecem
sábios e compartilham esta mente, compartilham este Princípio”, segundo Lu Xiang-shan.
Experimentar possibilita conhecer a si mesmo. Poelman também diz nesse sentido que
“conviver com a dimensão divina natural... é minha essência. No fundo, no mais interior da
minha pessoa encontro meu fundamento que é Deus. Existo por que Deus existe, sou por que
Ele é. Não devo olhar para Ele como se fosse um outro que encontro ai e com quem me uno,
mas como um ‘Eu mesmo’, de que participo.” Experimentar é ser diferente do que se é.
Algo muito diferente para o ser humano é o silêncio. Muitas vezes quando minha mente
pede essa experiência, sou confundido pelos conceitos da tristeza. Não aprendemos a permitir
criar um espaço interno. Não somos permitidos “não buscar”, pois não é o costume.