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O HOMEM, O COSTUME E A CONTEMPLAÇÃO

(Prof. Helio Laureano)


A antropóloga Ruth Benedict comenta sobre “o papel predominante que o costume
desempenha na experiência e na crença, bem como a muito ampla variedade que ele pode
apresentar.” Mas, por que tão importante assim? Por que, como ela mesma responde, “nenhum
ser humano olha para o mundo com olhos puros, mas o vê modificado por um determinado
conjunto de costumes, instituições e maneiras de pensar.”

O homem se cria no mundo como um ser conceituador. Mas, acima de tudo, conforme
nos mostra a ciência da Antropologia, como um ser adaptado “aos padrões e critérios
tradicionalmente transmitidos de uma geração para outra na sua comunidade. Desde o
nascimento do indivíduo, os costumes da sociedade em que ele nasce moldam sua experiência
e seu comportamento.” Nesse sentido, até mesmo conceituar faz parte de sua lógica
estruturada.

A cultura que referimos ser humana não tem características próprias, a não ser em uma
comunidade específica. Apesar de sua incrível adaptabilidade a todas as culturas, essa não é
uma característica biológica, nem hereditária. “A cultura não é um conjunto que se transmita
biologicamente”, como diria Benedict. Para a antropologia, além dos aspectos biológicos, o
homem é reconhecido por sua cultura e por seus costumes.

O homem desenvolveu ao longo de eras uma maneira própria de ver o


mundo. De maneiras diferentes, o homem cria a estética. Ampliando esse
pensamento, Feuerbach destaca que “cada homem cria Deus a sua imagem.”
Percebeu lógica nas coisas e teorizou. A proporção áurea é um dos exemplos
disso. A sequência começa pelo número 0 e 1, sendo que este se repete e,
posteriormente, a soma dos dois últimos numerais forma o próximo: 1 + 1 =
2. Depois continua a somar-se: 1 + 2 = 3; 2 + 3 = 5; 3 + 5 = 8; e assim infinitamente. Esta sequência
de números está, misteriosamente, interligada com
diversos fenômenos da natureza, conforme
constatou-se ao longo dos anos os estudos
matemáticos.

Desenvolveu uma série de metáforas,


posteriormente transformadas

em mitos, refletindo um aspecto intrínseco do ser humano: sua “potencialidade espiritual”,


como diria Campbell.

Assim, definiríamos o homem (reduzindo-o) em três partes: biológica, afetiva e


espiritual. Sendo que todas as características são invenções e adaptações, seu lado espiritual se
torna essencial, porém, livre do reducionismo estético.

Para os antigos alquimistas esse encontro com a potencialidade somente seria possível
através da etapa conhecida como separatio, o princípio de logos, a separação, a distinção.
Separar para integrar é um princípio da natureza, incluindo a natureza do homem. Marie Louise
Von Franz lembra que o começo da criação de todas as coisas inicia com a separação entre o céu
e a terra. Jung no Sétimo Sermão aos Mortos destaca:
“A nossa própria natureza é distinção.

O efetivo do inefetivo.

Plenitude e o vácuo.

Vivo e morto.”

A separação do homem e seus costumes demanda inicialmente o fogo do ferreiro para


depois encontrar o refrescante silêncio da contemplação. Nessa fase não há mais volta. É preciso
forjar, trabalhar o metal incandescente e transformá-lo. O resultado da transformação é a
existência.

Surge nesse caso a necessidade de uma pedagogia da atenção. É preciso consciência da


semente. Esse é o começo da jornada: esquecer, desconstruir, semear e cuidar. É importante
notar que o desejo seria o resultado desse trabalho. Porém, é o trabalho o objetivo final e
primordial. O caminho.

O Dr. Edward Bach explica isso de forma primorosa:

“Quando defeito é descoberto, o remédio não consiste em lutar contra


esse defeito, nem usar de energia e força de vontade para suprimir o
erro, mas no firme desenvolvimento da virtude oposta.”

É a semente. E o método. O rabino kabbalista Isaac Halevi Luria usa a simbologia das
letras aramaicas Zayin Chet Vav como código representativo para equilíbrio e diz a sua célebre
frase: “como eu planto a semente, assim será a árvore.” É preciso a semente
e também a compreensão do plantio. Pois, como explicaria o Dr. Frankl, a
intensão excessiva impossibilita o que é desejado, pois a atenção se volta
para a tarefa e não para o objetivo em si. O remédio é o próprio sintoma.

Mas, para o homem deixar seus padrões e voltar a ser ele mesmo, para que toda essa
transformação de fato aconteça, é preciso muito mais do que apenas a noção da mudança e a
vontade comum. É preciso que se descubra uma força motriz que impulsione a mudança, seu
lado espiritual. Viktor Frankl chamará de Vontade de Sentido.

O Rabino Luria explica que “quando o mais oculto desejado se revelar a Si-mesmo, El (a
expressão representativa de Deus) faz um ponto que ascende e se
converte em um pensamento.” Isso é chamado de “tzim-tzum”, e,
segundo este princípio, “El” forma todas as imagens e desenhos
dessa forma, como se fosse um arquiteto.

No Budismo um dos mais importantes mestres, o Guru


Rinpoche, é também conhecido como “aquele que desenha a si
mesmo”.

A não invenção de si mesmo, a aceitação plena dos costumes, é o gerador das neuroses,
ou seja, o conflito entre o que “sou” e o que “devo ser”, uma força “incongruente” e
tendenciosa. Ao contrário, a pessoa auto-realizada, espiritual, descobre sua capacidade de
crescer de “uma entidade simples” para uma “entidade complexa”, como o “tzim-tzum”.

O Mestre neoconfucionista, Wang Yangming, lembra que precisamos aprender a fazer


isso. A Pedagogia da Atenção lembra que o centro da alma é a consciência e essa se manifesta
através da atenção. Por isso, o Mestre Wang descreve que existem duas formas de pedagogia
(não reduzida a pedagogia como formadora da educação escolar apenas): a empírica, também
chamada de inferior; e a transcendente, descrita como superior.

A Pedagogia Transcendente é voltada para a eliminação dos desejos egoístas, criados


nos costumes, até que a pessoa descubra o Princípio em Si-mesma. É defensor da auto-
educação, pois, o conhecimento é inato a todos os seres humanos. Outro mestre, um
neoconfucionista japonês, Motoori Norinaga, concorda e diz “que o conhecimento é intuitivo e
inato aos homens.”

Dessa forma, o homem espiritual, não mais o homem dos costumes, realiza o
“aperfeiçoamento de sua sabedoria através da pesquisa de todas as coisas” (chih-chih re-wu),
pois, “o universo é a minha mente e minha mente é o universo. Nos quatro mares aparecem
sábios e compartilham esta mente, compartilham este Princípio”, segundo Lu Xiang-shan.

Essa mente espiritual, universal, amplia a visão, permite a “experiência”, corroborando


com o ensinamento de Buda sobre a primeira parte do Nobre Caminho Óctuplo, ou seja, “o
entendimento correto”, que também é dito como a “visão correta”. É preciso experimentar e
não apenas confiar na visão redutora e extática.

Em um de seus textos, Arthur e Joan Kleinman, explicam a importância da experiência,


pois “media e transforma a relação entre o contexto e a pessoa.” Isso é especialmente
importante, pois, como bem explicado pelo Budismo, “a raiz de todo o mal é a ignorância e as
percepções erradas. ... enquanto existir dúvida, indecisão ou hesitação, o progresso não é
possível.”

Experimentar possibilita conhecer a si mesmo. Poelman também diz nesse sentido que
“conviver com a dimensão divina natural... é minha essência. No fundo, no mais interior da
minha pessoa encontro meu fundamento que é Deus. Existo por que Deus existe, sou por que
Ele é. Não devo olhar para Ele como se fosse um outro que encontro ai e com quem me uno,
mas como um ‘Eu mesmo’, de que participo.” Experimentar é ser diferente do que se é.

Algo muito diferente para o ser humano é o silêncio. Muitas vezes quando minha mente
pede essa experiência, sou confundido pelos conceitos da tristeza. Não aprendemos a permitir
criar um espaço interno. Não somos permitidos “não buscar”, pois não é o costume.

Belamente, Poelman diz:

“No fundo não há necessidade de explicitar nada. Expressar o que sou,


para que? O ser em si já não basta? A conscientização não acrescenta
nada ao ser.

‘O que devo, então, procurar? Permanecer em puro silêncio, num puro


ser? Ir além daquela duplicidade tão comum ao homem? Identificar-me
com um puro ser que considero um estado de inconsciência? Ir além
daquilo que é tão próprio da minha humanidade?

‘Esvaziar-me totalmente. Mal sei o que isso significa. Desfazer-me dos


conteúdos costumeiros que passam na minha mente? Das expectativas?
Dos meus projetos? Da minha vontade? Do meu modo de ver a
realidade?

‘A resposta é sempre silêncio. Talvez a resposta esteja no próprio


silêncio. Esvaziar-se é silenciar-se. Não mais pensar, não mais ditar à
mente como é que se faz meditação ou como se faz silêncio. Deixar o
próprio silêncio ditar as regras.

‘E ele dita. Ele se programa, ele se executa.’’’’”

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